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Análise Matemática I

e
Cálculo Diferencial e Integral I

Apontamentos teóricos
2019/2020

Ana Cristina Barroso e Ana Rute Domingos

Cursos: Engenharia Biomédica e Biofı́sica


Engenharia Fı́sica
Fı́sica
Matemática
Matemática Aplicada

Conteúdo

Introdução
1. Sucessões e Séries Numéricas
2. Limites e Continuidade
3. Cálculo Diferencial em R
4. Cálculo Integral em R
5. Complementos sobre Séries Numéricas. Séries de Potências

1
2
Introdução
Cálculo é uma palavra que deriva da palavra latina calculus que significa pedra. A ideia de
associar pedras e cálculos tem origem no facto de se terem usado pedras para fazer contagens,
antes de haver sistemas numéricos (ou por desconhecimento dos mesmos). Assim, numa disci-
plina de Cálculo,“calcula-se”. Partindo das ideias da matemática elementar (álgebra, geometria,
trigonometria), o Cálculo Diferencial e Integral, parte integrante e fundamental da Análise Ma-
temática, permite obter extensões a situações mais gerais, algumas das quais associadas a taxas
de variação. O quadro que se segue ilustra algumas comparações entre o que é feito com cálculo
elementar e com o cálculo diferencial e integral.

Cálculo Elementar Cálculo Diferencial e Integral

Comprimento de um segmento de recta Comprimento de uma curva

Área de um polı́gono Área de uma região limitada por uma curva

Volume de sólido rectangular Volume de um sólido de revolução

a1 + a2 + . . . + an a1 + a2 + a3 + . . .
Soma de um número finito de parcelas Soma de um número infinito de parcelas

Introdução Ana Rute Domingos e Ana Cristina Barroso

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A invenção do Cálculo, tal como o conhecemos hoje, é atribuı́da a I. Newton (1642-1727)
e a G. Leibniz (1646-1716), que o terão desenvolvido independentemente. Diz-se que Newton
foi o primeiro a criar e Leibniz o primeiro a publicar as ideias. Muitos outros matemáticos
contribuı́ram para o seu desenvolvimento, tendo adquirido rigor com A-L Cauchy (1789-1857)
que formalizou o conceito fundamental que é a pedra basilar do Cálculo - o conceito de limite.
O Cálculo Diferencial decompõe alguma coisa em peças cada vez mais pequenas, até ao
limite, para perceber como é feita a variação.
O Cálculo Integral junta (integra) pequenas peças de um todo, até ao limite, para medir o
todo.
Para descrever/prever fenómenos que envolvam taxas de variação de grandezas, como na
fı́sica, biologia, economia, entre outras, o Cálculo Diferencial e Integral é uma ferramenta essen-
cial.
Este curso faz a introdução ao chamado Cálculo Diferencial e Integral real e está estruturado
em cinco capı́tulos, cada um dos quais relacionados, respectivamente, com: cálculo de limites de
sucessões e de “somas infinitas”, cálculo de limites de funções, cálculo de derivadas, cálculo de
integrais, cálculo de “somas infinitas” envolvendo polinónimos.

Introdução Ana Rute Domingos e Ana Cristina Barroso

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1 Sucessões e séries numéricas
O nome deste capı́tulo é relativo aos dois tópicos que nele abordamos. O primeiro é introduzido
no ensino secundário, pelo que assumiremos conhecidos os principais conceitos e resultados.
Ainda assim, faremos uma revisão cuidadosa dos mesmos, nas aulas teóricas e/ou nas aulas
teórico-práticas.

Neste curso trabalhamos com números reais e, no que a conjuntos de números diz respeito,
utilizaremos as seguintes notações:
N = {1, 2, 3 . . .} números naturais;

N0 = {0, 1, 2, 3 . . .} números naturais e o zero;

Np = {p, p + 1, p + 2, . . .} números naturais a partir de um dado p ∈ N0 ;

Z = {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, . . .} números inteiros;


n o
p
Q= q : p, q ∈ Z, q 6= 0 números racionais;

R números reais;

R = R ∪ {−∞, +∞} a recta acabada com a ordenação − ∞ < x < +∞, ∀x ∈ R


e lê-se “erre barra”.

Dado x ∈ R, notamos por [x] a parte inteira de x, ou seja, o maior número inteiro menor
ou igual ao número.
Exemplos. [4] = 4, [4, 76] = 4, [−4, 76] = −5, [π] = 3.

1.1 Revisão de alguns conceitos básicos


Dado um número real x, o módulo ou valor absoluto de x é o número real dado por
(
x, se x ≥ 0
|x| =
−x, se x < 0.

Geometricamente, |x| representa a distância de x à origem.


Proposição 1.1 São válidas as seguintes propriedades:
a) |x| ≥ 0, ∀x ∈ R e |x| = 0 ⇔ x = 0;
b) | − x| = |x|, ∀x ∈ R;
c) |x · y| = |x| · |y|, ∀x, y ∈ R;
d) |x + y| ≤ |x| + |y|, ∀x, y ∈ R (desigualdade triangular);
e) | |x| − |y| | ≤ |x − y|, ∀x, y ∈ R;

f) |x| = x2 , ∀x ∈ R.

Para além das desigualdades listadas em d) e e) na proposição anterior, outras duas que são
importantes e que serão usadas algumas vezes no nosso curso são:
1. 2ab ≤ a2 + b2 , ∀a, b ∈ R;
2. Se x ≥ −1, então (1 + x)n ≥ 1 + nx, ∀n ∈ N. (Desigualdade de Bernoulli)
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Um subconjunto I ⊆ R é um intervalo se, e só se, dados a, b ∈ I com a < b, se a < x < b,
então x ∈ I (isto é, se I contém dois números reais a e b também tem que conter todos os
números reais que estão entre a e b). Dados dois números reais a < b, recordamos que

] a, b [ = {x ∈ R : a < x < b} (intervalo aberto);

[ a, b ] = {x ∈ R : a ≤ x ≤ b} (intervalo fechado);

] a, b ] = {x ∈ R : a < x ≤ b} (intervalo semi-aberto);

[ a, b [ = {x ∈ R : a ≤ x < b} (intervalo semi-aberto).

Os intervalos da forma anterior, com a, b ∈ R, dizem-se intervalos limitados.

Exemplos. Consideremos os conjuntos A1 = [1, 67[, A2 = ] − 9, 0], A3 = {2} ∪ [3, 7[ e


A4 = {7, 8, 9}. A1 e A2 são intervalos; A3 e A4 não são intervalos.

Pergunta 1: A união de dois intervalos é um intervalo?

Seja a ∈ R. Também são intervalos os conjuntos que se seguem

] − ∞, a ] = {x ∈ R : x ≤ a} , ] − ∞, a [ = {x ∈ R : x < a} ,

[ a, +∞[ = {x ∈ R : x ≥ a} , ] a, +∞[ = {x ∈ R : x > a}


e o conjunto dos números reais, que é o intervalo ] − ∞, +∞[ = R.
Os (cinco) intervalos da forma anterior, em que, pelo menos, um dos extremos não é um
número real (é infinito), dizem-se intervalos ilimitados ou intervalos não limitados.

Recordamos ainda que

] − a, a [= {x ∈ R : |x| < a} , [−a, a] = {x ∈ R : |x| ≤ a} ,

] − ∞, −a[ ∪ ]a, +∞[ = {x ∈ R : |x| > a} , ] − ∞, −a] ∪ [a, +∞[ = {x ∈ R : |x| ≥ a} .

Definição 1.2 Um conjunto A de números reais diz-se

i) limitado superiormente ou majorado se, e só se, existe M ∈ R tal que x ≤ M ,


∀x ∈ A; M diz-se um majorante de A;

ii) limitado inferiormente ou minorado se, e só se, existe m ∈ R tal que x ≥ m, ∀x ∈ A;
m diz-se um minorante de A;

iii) limitado se, e só se, for majorado e minorado.

Um conjunto que não é limitado diz-se que é ilimitado. Mais especificamente, diz-se que
um conjunto que não é majorado é um conjunto ilimitado superiormente, e que um conjunto
que não é minorado diz-se que é ilimitado inferiormente.

Observações. Se M é majorante de A, então qualquer elemento de [M, +∞[ também é um


majorante de A. Analogamente, se m é minorante de A, então qualquer elemento de ] − ∞, m]
também é um minorante de A. Da definição anterior resulta também que um conjunto é limitado
se, e só se, está contido num intervalo limitado.

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Exemplos. √
1) Sejam A =]1, 3 + 7] e B = {−12, −π} ∪ [−1, +∞[. O conjunto A é limitado; por exemplo,
−2 é um minorante de A e 6 é um majorante de A. O conjunto B é limitado inferiormente e
−12 é um dos seus minorantes; no entanto, B não é majorado.
√ dos minorantes de A é ]−∞, 1] e o de B é ]−∞, −12]. O conjunto dos majorantes
O conjunto
de A é [3 + 7, +∞[.
2) N é um conjunto ilimitado superiormente, mas limitado inferiormente, sendo ] − ∞, 1] o
conjunto dos seus minorantes.
3) O conjunto C =]−∞, 8] é ilimitado inferiormente, mas limitado superiormente, sendo [8, +∞[
o conjunto dos seus majorantes.
4) Z e (] − ∞, −6[ ∪ N) são conjuntos ilimitados.

Definição 1.3 Se A é um conjunto majorado, ao menor dos majorantes de A, se existir, chama-


se supremo de A, e representa-se por sup A; se o supremo de A for um elemento de A diz-
se máximo de A, e representa-se por max A. Se A é um conjunto minorado, ao maior dos
minorantes de A, se existir, chama-se ı́nfimo de A, e representa-se por inf A; se o ı́nfimo de A
pertencer a A diz-se mı́nimo de A, e representa-se por min A.

Exemplos. Voltando aos√conjuntos dos exemplos anteriores, temos que:


1) sup A = max A = 3 + 7, inf A = 1, A não tem mı́nimo;
inf B = min B = −12, B não é limitado superiormente, logo não tem supremo em R;
2) inf N = min N = 1, N não tem supremo em R;
3) sup C = max C = 8, C não tem ı́nfimo em R.

Proposição 1.4
• (Caracterização do supremo)
Seja A um conjunto de números reais, limitado superiormente. Tem-se:

s = sup A ⇐⇒ 1) ∀x ∈ A x≤s
e
2) ∀y < s, ∃ x ∈ A : x > y

ou equivalentemente

s = sup A ⇐⇒ 1) ∀x ∈ A x≤s
e
20 ) ∀ε > 0, ∃ x ∈ A : s − ε < x.

• (Caracterização do ı́nfimo)
Seja A um conjunto de números reais, limitado inferiormente. Tem-se:

m = inf A ⇐⇒ 1) ∀x ∈ A x≥m
e
2) ∀y > m, ∃ x ∈ A : x < y

ou equivalentemente

m = inf A ⇐⇒ 1) ∀x ∈ A x≥m
e
20 ) ∀ε > 0, ∃ x ∈ A : x < m + ε.

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Princı́pio do supremo - Princı́pio do ı́nfimo
Seja A um subconjunto não vazio de R.

• Se A é majorado, então A tem supremo em R.

• Se A é minorado, então A tem ı́nfimo em R.

O princı́pio do supremo (resp. ı́nfimo) garante a existência de supremo (resp. ı́nfimo) para um
conjunto majorado (resp. minorado) de números reais, e diz-nos que o supremo (resp. ı́nfimo) é
um número real. Observamos que se estivermos a trabalhar num universo menor , os √ princı́pios

anteriores deixam de ser leis gerais. Por exemplo, se o universo for Q, o conjunto ] − 2, 2[ ∩ Q
não tem supremo nem ı́nfimo em Q.
Observação. Seja A ⊂ R. Diz-se que sup A = +∞ se, e só se, A não for majorado em R e que
inf A = −∞ se, e só se, A não for minorado em R.
Seja D um subconjunto de R. Nesta disciplina trabalhamos com funções reais de variável
real, que representamos por f : D ⊆ R → R, que a cada x ∈ D fazem corresponder o número
real y = f (x) que se designa por imagem de x por meio de f . Dizemos que x é a variável
independente e que y é a variável dependente. O conjunto D é o domı́nio da função f . No
caso em que as imagens da função são obtidas por uma expressão da variável independente, então
o domı́nio é o maior conjunto onde a expressão que define f faz sentido (os valores admissı́veis
para a variável independente), a não ser que se explicite uma restrição deste. O contradomı́nio
de f é o conjunto de todas as imagens f (x) para x ∈ D e representa-se por f (D), ou seja,
n o
f (D) = f (x) : x ∈ D .
As primeiras funções com que vamos trabalhar têm domı́nio Np , com p ∈ N0 . Trata-se de funções
reais de variável natural e são as chamadas sucessões de números reais.

1.2 Revisão e complementos sobre sucessões


Definição 1.5 Chama-se sucessão real a uma função real u cujo domı́nio é Np , com p ∈ N0 ,
u : Np → R,
e que notamos por (un )n∈Np ou simplesmente por (un ).
Denotamos por un = u(n) a imagem do valor n, a que chamamos o termo de ordem n ou
enésimo termo (resp. termo de ı́ndice n) da sucessão, se o domı́nio da sucessão é N (resp.
Np , com p 6= 1).
À expressão algébrica, quando existe, da sucessão, chama-se termo geral da sucessão.
Exemplos.

Sucessão Termo geral Conjunto dos termos

(n + 10)n∈N0 un = n + 10 {10, 11, 12, 13, 14, . . .}


  n o
1 1
n−3 n∈N un = n−3 1, 12 , 13 , 14 , 15 , 16 , . . .
4

  n o
1 1
n+1 n∈N un = n+1 1, 12 , 13 , 14 , 15 , 16 , . . .
0

n o
nπ nπ
1, cos π5 , cos 2π 3π 4π
 
cos 5 n∈N0
un = cos 5 5 , cos 5 , cos 5 , −1

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Por uma questão de simplificação de escrita, ao longo do texto, vamos considerar as sucessões
com domı́nio N, observando-se que tudo permanece válido quando se considera uma sucessão
com domı́nio Np , para qualquer p ∈ N0 .

Definição 1.6 Uma sucessão (un ) diz-se limitada (resp. majorada, minorada) se o con-
junto dos seus termos for limitado (resp. majorado, minorado), ou seja, se existirem m, M ∈ R
tais que m ≤ un ≤ M , ∀n ∈ N (resp. se existir M ∈ R tal que un ≤ M , ∀n ∈ N, se existir
m ∈ R tal que m ≤ un , ∀n ∈ N).
Se uma sucessão não for limitada diz-se ilimitada.

Observação. A designação ilimitada para uma sucessão inclui três situações: uma sucessão
majorada mas não minorada, neste caso também dizemos que a sucessão é ilimitada inferior-
mente; uma sucessão minorada mas não majorada, caso em que também dizemos que a sucessão
é ilimitada superiormente; uma sucessão que não é majorada nem minorada. (Cf. Definição
1.2.)

Exemplos.
1. un = 3(−1)n , n ∈ N. Tem-se −3 ≤ un ≤ 3, ∀ n ∈ N, logo (un ) é limitada.
2. un = 4 + cos n, n ∈ N. Tem-se 3 ≤ un ≤ 5, ∀ n ∈ N, logo (un ) é limitada.
3. un = n + 10, n ∈ N. Tem-se 11 ≤ un , ∀ n ∈ N, logo (un ) é limitada inferiormente; (un ) não
é limitada superiormente, pois qualquer que seja M ∈ R, existe n ∈ N tal que n > M − 10,
ou seja, un > M .
4. un = (−2)n , n ∈ N, é ilimitada (superior e inferiormente).
Observação. Segue-se uma outra caracterização de sucessão limitada, equivalente à da de-
finição.
(un ) é limitada se, e só se, existe L tal que |un | ≤ L, ∀n ∈ N.
Prova. Se (un ) é limitada, então existem m, M ∈ R tais que m ≤ un ≤ M , ∀n ∈ N. Seja
L = max{|m|, |M |}, então |un | ≤ L, ∀n ∈ N.
Reciprocamente, se existe L tal que |un | ≤ L, ∀n ∈ N, então basta considerar m = −L e
M = L. 
Verificar se uma sucessão é limitada usando a definição pode ser uma tarefa difı́cil, no entanto,
com a ajuda de outros conceitos e resultados teóricos podemos concluir mais facilmente. O estudo
da monotonia é uma ajuda preciosa nesse sentido.
Definição 1.7 Uma sucessão (un ) diz-se
i) crescente se, e só se, un ≤ un+1 , ∀n ∈ N;
ii) estritamente crescente se, e só se, un < un+1 , ∀n ∈ N;
iii) decrescente se, e só se, un ≥ un+1 , ∀n ∈ N;
iv) estritamente decrescente se, e só se, un > un+1 , ∀n ∈ N.
Em qualquer dos casos anteriores, a sucessão (un ) diz-se monótona.
Para fazer alusão aos casos i) e ii) usamos a escrita abreviada (un ) %, e para os casos iii)
e iv) usamos a simbologia (un ) &.
Exemplos e observações.
 
1
1) Vejamos que a sucessão 4 + 2n+1 n∈N é estritamente decrescente e é limitada.
1 1 1 −2
Seja un = 4 + 2n+1 , então un+1 − un = 4 + 2n+3 −4− 2n+1 = (2n+3)(2n+1) < 0, logo (un ) &.
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Tratando-se de uma sucessão (estritamente) decrescente, o seu primeiro termo é o máximo
do conjunto dos seus termos, assim
1
un ≤ u1 = 4 + , ∀n ∈ N.
3
Por outro lado, é imediato que un > 0, para qualquer n, temos então
1
0 < un ≤ 4 + , ∀n ∈ N,
3
ou seja, a sucessão dada é limitada.
2) Do exemplo anterior é fácil deduzir que, qualquer sucessão decrescente ou estritamente de-
crescente é limitada superiormente, sendo o seu primeiro termo o máximo do conjunto dos seus
termos. Analogamente, podemos concluir também que qualquer sucessão crescente ou estrita-
mente crescente é limitada inferiormente, sendo o seu primeiro termo o mı́nimo do conjunto dos
seus termos.
3) A sucessão (n5 − 7) é estritamente crescente.
Como n < n + 1, então n5 < (n + 1)5 , logo n5 − 7 < (n + 1)5 − 7, ou seja, un < un+1 , para
todo o n.
4) Se uma sucessão (un ) não muda de sinal (a partir de certa ordem), e un 6= 0, para todo o n,
a monotonia pode ser formulada usando a razão entre um termo e o anterior, isto é,
un+1
• se (un ) é uma sucessão de termos positivos e ≥ 1 (resp. > 1), então (un ) é crescente
un
(resp. estritamente crescente);
un+1
• se (un ) é uma sucessão de termos positivos e ≤ 1 (resp. < 1), então (un ) é decrescente
un
(resp. estritamente decrescente).
Pergunta 2. E se (un ) é uma sucessão de termos negativos, como formalizar a monotonia
usando a razão entre um termo e o anterior?
Definição 1.8 (Cauchy, 1821) Dizemos que o limite de uma dada sucessão (un ) é a(∈ R) e
escrevemos lim un = a ou un → a se, e só se,
∀δ > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ |un − a| < δ.
Assim, dizer que lim un = a significa que os termos da sucessão estão tão próximos de a
quanto se queira, desde que se tome n suficientemente grande.
Se o limite de uma sucessão é um número real (limite finito), a sucessão diz-se convergente,
caso contrário diz-se divergente.
Teorema 1.9 (Unicidade de limite) Se lim un = a e lim un = b, então a = b.

Exemplos.
1
1) Provar, por definição, que lim n+4 = 0.

1
Queremos ver que ∀δ > 0 ∃p ∈ N : n ≥ p =⇒
< δ.
n + 4
1
Fixemos δ > 0. Queremos encontrar uma ordem p, a partir da qual n+4 < δ. Ora


1 1 1
n + 4 < δ ⇔ n + 4 < δ ⇔ n > δ − 4.

Se δ > 14 , a desigualdade anterior verifica-se sempre pois 1δ − 4 < 0 e n é um número natural,


logo é sempre maior do que qualquer número negativo. Se δ ≤ 14 , consideramos p = [ 1δ − 4] + 1
(onde [x] representa a parte inteira do número real x).
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2) As sucessões constantes são convergentes e o seu limite é o valor da constante.
x n
 
3) lim 1 + = ex , com x ∈ R.
n
Proposição 1.10 Sejam (un ) e (vn ) duas sucessões de números reais, a, b, λ ∈ R.

1. Se lim un = a e lim vn = b, então lim(un + vn ) = a + b.

2. Se lim un = a, então lim(λun ) = λa.

O teorema anterior traduz o facto do cálculo de limites ser uma operação linear.

Proposição 1.11 Dizer que lim un = a é equivalente a dizer que lim |un − a| = 0.

Teorema 1.12 Toda a sucessão convergente é limitada.

Do teorema anterior resulta que, se uma sucessão é ilimitada, então não é convergente.
Observe-se que há sucessões limitadas que não são convergentes, por exemplo a sucessão de
termo geral un = (−1)n é limitada e divergente.
Algumas sucessões divergentes destacam-se por apresentarem um comportamento com uma
certa regularidade, a saber, aquelas cujos valores se tornam e se mantêm arbitrariamente gran-
des positivamente ou arbitrariamente grandes negativamente. Estas situações são descritas e
nomeadas na próxima definição.

Definição 1.13

i) Dizemos que uma sucessão (un ) tende para +∞ ou que tem limite +∞, e escrevemos
lim un = +∞ ou un → +∞, se, e só se, ∀M > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ un > M.
Neste caso (un ) diz-se um infinitamente grande positivo.

ii) Dizemos que uma sucessão (un ) tende para −∞ ou que tem limite −∞, e escrevemos
lim un = −∞ ou un → −∞, se, e só se, ∀M > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ un < −M.
Neste caso (un ) diz-se um infinitamente grande negativo.

Em oposição às designações das definições anteriores temos os chamados infinitésimos que
são as sucessões que convergem para zero.

Se uma sucessão é tal que existe lim un = ` ∈ R, dizemos que a sucessão (un ) tende para `.
Assim, a expressão “(un ) converge para” vai sempre referir-se a limites finitos e a expressão
“(un ) tende para” engloba os casos finito e infinito.
Exemplos.
1) Temos que lim n = +∞, ou seja, a sucessão de termo geral un = n é um infinitamente grande
positivo.
2) Vejamos que lim(n2 + 3) = +∞. √
Para cada M > 0, basta tomar k = [ M − 3] + 1, se M ≥ 3, e k = 1 caso contrário. Assim,
para n ≥ k, tem-se
√ √
n ≥ [ M − 3] + 1 =⇒ n > M − 3 ⇔ n2 > M − 3 ⇐⇒ n2 + 3 > M, caso M ≥ 3.

Se M < 3, então M − 3 < 0 e, consequentemente, n2 > M − 3, para todo o n, donde n2 + 3 > M .


Conclui-se assim o pretendido.
3) Se lim un = +∞, então lim(−un ) = −∞.
1 1
4) São infinitésimos as sucessões de termo geral: n , n2 +3 .
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Teorema 1.14 (Teorema da Sucessão Monótona) Toda a sucessão monótona e limitada é
convergente. Mais precisamente, se (un ) é uma sucessão limitada
i) e é uma sucessão crescente, então lim un = sup {un : n ∈ N} ;
ii) e é uma sucessão decrescente, então lim un = inf {un : n ∈ N} .
 n 
Exemplo. A sucessão 1 + n1 é monótona e limitada (cf. exercı́cios complementares refe-
rentes ao capı́tulo 1), logo é uma sucessão convergente.
Observação. Seja (un ) uma sucessão monótona e não limitada. Se (un ) não é limitada su-
periormente, então lim un = +∞ e, se (un ) não é limitada inferiormente, então lim un = −∞
(exercı́cio).
Exemplo. Verdadeiro ou falso?
“Seja (un ) uma sucessão crescente e limitada tal que 3 ≤ un ≤ 10, ∀n ∈ N. Então lim un = 10.”
Falso.
Se (un ) é uma sucessão crescente e limitada, então u1 ≤ un ≤ sup un = lim un .
Dizer que 3 ≤ un ≤ 10, ∀n ∈ N, não é dizer que 10 é o supremo da sucessão. Das desigual-
dades dadas apenas podemos concluir que 10 é um majorante dos termos da sucessão (e que
3 é um minorante).
A sucessão de termo geral un = 5 − n1 , para n ∈ N, satisfaz 3 ≤ un ≤ 10 para todo o n ∈ N
(verifique), é uma sucessão estritamente crescente, pois
1 1 1
un+1 − un = 5 − −5+ = > 0,
n+1 n n(n + 1)
e lim un = 5.

Dizemos que uma sucessão está definida por recorrência quando a determinação do valor
de um termo requer o conhecimento prévio de um ou mais termos anteriores da mesma. Por
exemplo, a sucessão que se segue

u1 = 2, u2 = −1, un+2 = 3un − 2un+1 , n∈N

está definida por recorrência. Se quisermos determinar, por exemplo, u5 precisamos de conhecer
u4 e u3 , já que u5 = 3u3 − 2u4 . Tem-se assim

u3 = 3u1 − 2u2 = 8, u4 = 3u2 − 2u3 = −19 ⇒ u5 = 3u3 − 2u4 = 62.

Para estudar rigorosamente as propriedades de muitas destas sucessões necessitamos do chamado


Princı́pio de Indução Matemática, que enunciamos seguidamente.

Princı́pio de Indução
Seja P (n) uma proposição na variável n ∈ Nm , com m ∈ N0 . Então:
Se
1. P (m) é uma proposição verdadeira
2. P (n) =⇒ P (n + 1),
então a condição P (n) é verdadeira para todo o n ∈ Nm .

Observação. Diz-se que uma proposição P (n), de variável natural, é hereditária, se P (n)
implica P (n + 1), isto é, se o facto de ser verificada por um número natural n implica que
também é verificada por n + 1, qualquer que seja n. O número natural n + 1 diz-se o sucessor
de n.
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12
Proposição 1.15 Seja (un ) uma sucessão tal que lim un = a ∈ R. Dado c ∈ R tal que c < a
(resp. c > a), então existe uma ordem k ∈ N tal que

un > c (resp. un < c), ∀n ≥ k.

Proposição 1.16 (Passagem ao limite das desigualdades) Dadas duas sucessões (un ) e
(vn ), suponha-se que existe uma ordem k ∈ N tal que

un ≤ vn , ∀n ≥ k.

Então, se ambas as sucessões tiverem limite, tem-se

lim un ≤ lim vn .

Corolário 1.17 Seja (un ) uma sucessão e a ∈ R. Se existe uma ordem k ∈ N tal que

un ≤ a (resp. un ≥ a), ∀n ≥ k,

então, se (un ) tiver limite, tem-se

lim un ≤ a (resp. lim un ≥ a).

Teorema 1.18 (Teorema das Sucessões Enquadradas) Dadas três sucessões (un ), (vn ), (wn ),
suponha-se que existe k ∈ N tal que

un ≤ wn ≤ vn , ∀n ≥ k.

Se lim un = a(∈ R) e lim vn = a, então também lim wn = a.

Muitas vezes referenciamos este teorema de forma abreviada, escrevendo simplesmente TSE.

Corolário 1.19 Se lim un = 0 e (vn ) é uma sucessão limitada, então lim(un · vn ) = 0.

Exemplos.
3 + sin n 1
1) Consideremos a sucessão de termo geral an = 2
. Podemos escrever an = 2 (3+sin n);
n n
1
como 2 → 0 e 2 ≤ 3 + sin n ≤ 4, para todo o n ∈ N, então, pelo corolário do TSE, lim an = 0.
n
2) Mostre que a sucessão de termo geral
1 1
+ ... +
n2 (n + n)2

é decrescente e converge para zero.


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13
Designando por an o termo geral da sucessão dada, vem
1 1 1 1
an = 2 + 2
+ ... + 2
+ .
n (n + 1) (n + (n − 1)) (n + n)2
Vejamos que a sucessão é decrescente.
1 1 1 1 1
an+1 − an = 2
+ 2
+ ... + 2
+ 2
+
(n + 1) (n + 2) (n + n) ((n + 1) + n) (n + 1 + n + 1)2
1 1 1 1
− 2− 2
− ... − 2
− ,
n (n + 1) (n + (n − 1)) (n + n)2
donde
1 1 1
an+1 − an = 2
+ 2
− 2.
(2n + 1) (2n + 2) n
1 1 1 1
Observando que 2n + 1 > 2n e que 2n + 2 > 2n, vem < e < ,
(2n + 1)2 4n2 (2n + 2)2 4n2
donde
1 1 1 1 1 1
an+1 − an < 2 + 2 − 2 = 2 − 2 = − 2 < 0.
4n 4n n 2n n 2n
Concluimos assim que (an ) é (estritamente) decrescente.
Temos também
1 1 1 1 1
an = 2 + . . . + 2
≥ 2
+ ... + 2
= (n + 1) (1)
n (n + n) (n + n) (n + n) (n + n)2
| {z }
(n + 1) parcelas
e
1 1 1 1 1
an = 2
+ ... + 2
≤ 2 + . . . + 2 = 2 (n + 1).
n (n + n) |n {z n} n
(n + 1) parcelas
Como
n+1 n+1 n+1 n+1
lim 2
= 0 = lim 2
e 2
≤ an ≤ ,
(n + n) n (n + n) n2
pelo Teorema das Sucessões Enquadradas, concluimos que lim an = 0.
Neste caso, temos uma sucessão de termos positivos, pelo que a minoração an > 0, para todo
o n, é suficiente para obter a conclusão. O procedimento que usámos em (1) visa ilustar uma
técnica menos elementar que usamos muitas vezes.
Teorema 1.20 (Propriedades algébricas dos limites de sucessões) Sejam (un ) e (vn ) duas
sucessões de números reais, a, b, λ ∈ R.
1. Se lim un = a, então lim |un | = |a|.
2. Se lim un = a e lim vn = b, então lim(un + vn ) = a + b.
3. Se lim un = +∞ e (vn ) é minorada, então lim(un + vn ) = +∞.
4. Se lim un = −∞ e (vn ) é majorada, então lim(un + vn ) = −∞.
5. Se lim un = a, então lim(λun ) = λa.
6. Se lim un = a e lim vn = b, então lim(un · vn ) = a · b.
1 1
7. Se lim un = a e a 6= 0, então lim = .
un a
8. Se lim un = ±∞ e lim vn > 0 (resp. < 0), então lim un · vn = ±∞ (resp. ∓∞).
1
9. Se lim |un | = +∞, então lim = 0, e reciprocamente.
un
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14
Observações. 1) As propriedades 2 e 6 anteriores generalizam-se de modo natural à soma e ao
produto de um número finito de sucessões, respectivamente.
2) Observe-se que o caso 3 inclui a situação em que lim vn = +∞ e o caso 4, a situação
lim vn = −∞.
3) A propriedade 8 é válida nos casos lim vn = +∞ e lim vn = −∞, respectivamente. (Verifique.)
4) O teorema anterior não nos dá indicação sobre a existência e o valor do limite (se este existir)
nos casos que se seguem e que são designados por indeterminações:
• ∞ − ∞: quando queremos determinar lim (un + vn ) e
lim un = +∞ e lim vn = −∞;

• 0 × ∞ quando queremos determinar lim (un · vn ) e


lim un = 0 e lim vn = ±∞;

0 un
• quando queremos determinar lim e
0 vn
lim un = 0 = lim vn ;
∞ un
• quando queremos determinar lim e
∞ vn
lim |un | = +∞ = lim |vn |.

Prova do Teorema 1.20. (Prova resumida.)


1. lim un = a ⇔ ∀δ > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ |un − a| < δ.
Ora | |un | − |a| | ≤ |un − a| < δ, logo
∀δ > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ | |un | − |a| | < δ,
donde lim |un | = |a|.
2. Observando que |un + vn − (a + b)| < |(un − a) + (vn − b)| < |un − a| + |vn − b|, a Proposição
1.11 e o TSE permitem tirar a conclusão pretendida.
3. lim un = +∞ ⇔ ∀M > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ un > M . Como (vn ) é minorada, então
existe m ∈ R, tal que vn ≥ m, para todo o n. Fixando M > 0, existe k ∈ N, tal que
un > M > M −m, logo un +vn > M −m+m = M , para n ≥ k, pelo que lim(un +vn ) = +∞.
4. Prova análoga à anterior.
5. Como |λun − λa| = |λ| · |un − a|, o resultado sai pelo Corolário 1.19.
|{z} | {z }
limitada →0

6. |un vn − ab| = |un vn − un b + un b − ab| = |un (vn − b) + (un − a)b| ≤ |un ||vn − b| + |un − a| |b|,
mais uma vez, pelo Teorema 1.12, pelo Corolário 1.19 e pela Proposição 1.11, obtemos o
resultado pretendido.
7. Como lim un = a e a 6= 0, então lim |un | = |a| > 0, donde existe uma ordem k a partir da
qual |un | > |a|
2 . Assim, pela Prop. 1.15, temos, para n ≥ k

1 |a − un |

1 2 1 1

u − = |u | · |a| < |a|2 |un − a| =⇒ u → a .
n a n n
| {z }
→0

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15
8. Vejamos o caso em que lim un = +∞ e lim vn > 0. Seja M > 0, arbitrariamente fixado.
Pela Proposição 1.15 existe uma ordem k1 , tal que, para n ≥ k1 se tem
lim vn
vn > .
2
Como (un ) tende para +∞, dado um número positivo qualquer, existe uma ordem a partir
da qual todos os termos da sucessão são maiores do que esse número. Assim, existe k2 tal
que, para n ≥ k2 , se tem
2
un > M · .
lim vn
Seja k = max{k1 , k2 } e n ≥ k, então
lim vn 2 lim vn
un · vn > un · >M· · = M =⇒ lim un · vn = +∞.
2 lim vn 2
Os restantes casos são análogos.

9.
lim |un | = +∞ ⇐⇒ ∀M > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ |un | > M

1 1
⇐⇒ ∀M > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ <
|un | M

1
⇐⇒ ∀δ > 0 ∃ k ∈ N : n ≥ k ⇒ <δ
u
n

1
⇐⇒ lim = 0.
un
Definição 1.21 Seja (un ) uma sucessão real. Dizemos que (vn ) é uma subsucessão de (un )
se existe uma aplicação ϕ : N → N estritamente crescente tal que vn = uϕ(n) .

Exemplo. Seja un = n, n ∈ N, então vn = 2n, com n ∈ N é uma subsucessão de (un )


(ϕ(n) = 2n, n ∈ N) e wn = n3 + 2, n ∈ N2 é outra subsucessão de (un ) (ϕ(n) = n3 + 2, n ∈ N2 ),

(vn ) : u2 u4 u6 u8 . . .

(wn ) : u10 u29 u66 u127 . . .

Definição 1.22 Seja (un ) uma sucessão real. Chamamos sublimite de (un ) ao limite de uma
qualquer subsucessão convergente de (un ). Ao maior dos sublimites de (un ) chamamos limite
superior de (un ) e ao menor dos sublimites de (un ) chamamos limite inferior de (un ).

Nota. A definição anterior é coerente, pois prova-se que existem sempre, em R, o maior e o
menor dos sublimites de uma sucessão.

Proposição 1.23 Seja (un ) uma sucessão real, tal que lim u2n = a e lim u2n+1 = a, com a ∈ R,
então lim un = a.

Proposição 1.24 Seja (un ) uma sucessão real. Então lim un = a ∈ R se, e só se, qualquer
subsucessão de (un ) tende para a.

Corolário 1.25 lim un = a ∈ R ⇒ lim un+k = a, ∀k ∈ N.

Usando o chamado Princı́pio do Encaixe (ver livro de M. Figueira, referenciado na biblio-


grafia) pode provar-se o seguinte resultado.
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16
Proposição 1.26 (Bolzano-Weierstrass) Se (un ) é uma sucessão limitada, então (un ) ad-
mite uma subsucessão convergente.

Exemplo. A sucessão (un ) = ((−1)n ) é limitada, não é convergente mas admite subsucessões
convergentes, por exemplo, a subsucessão de termo geral u2n = 1 (subsucessão dos termos de
ordem par) e a subsucessão de termo geral u2n−1 = −1 (subsucessão dos termos de ordem
ı́mpar), são convergentes.
Definição 1.27 Sejam (un ), (vn ), (hn ) três sucessões tais que, a partir de uma certa ordem,
se tem un = hn vn e lim hn = 1. Então diz-se que (un ) é assintoticamente igual a (vn ) e
escreve-se un ∼ vn .

O sı́mbolo ∼ diz-se um sı́mbolo de Landau (há outros que teremos oportunidade de ver neste
curso).
Observação. Na definição anterior, se, a partir de certa ordem, (vn ) não se anula, então
un
un ∼ vn equivale a lim = 1.
vn

É fácil ver que, se (un ), (vn ) e (wn ) são três sucessões tais que un ∼ vn e vn ∼ wn , então
un ∼ wn e que se un ∼ vn então também se tem vn ∼ un (exercı́cio).

Exemplos. 1) Sejam un = 1
n e vn = 1
n+1 . Temos lim uvnn = 1, donde un ∼ vn .
2n7 + 6n2 − 8 3 4
 
2) Sejam un = 2n7 + 6n2 − 8 e vn = 2n7 . Como lim 7
= lim 1 + 5 − 7 = 1,
2n n n
então un ∼ vn .
3) Dados p, q ∈ N, ai ∈ R, com i = 0, . . . , p e ap 6= 0, temos que
ap np + ap−1 np−1 + . . . + a1 n + a0 ∼ ap np
e q
ap np + ap−1 np−1 + . . . + a1 n + a0 ∼ ap np .
q
p
q

Proposição 1.28 Sejam (un ), (vn ), (an ) e (bn ) sucessões.


1. Seja a ∈ R \ {0}. Se lim un = a, então un ∼ a.
2. Seja a ∈ R. Se un ∼ vn e lim vn = a, então lim un = a.
3. Se un ∼ vn e an ∼ bn , então un an ∼ vn bn e un /an ∼ vn /bn (quando os quocientes fazem
sentido).

−7n5 + 8n2 + 4 −7n5 7


Exemplo. lim 5
= lim 5
=− .
3n + n + 8 3n 3
Observações.
1) A proposição anterior diz-nos que a relação ∼ respeita o produto. O exemplo que se segue
ilustra que a relação ∼ não respeita a soma. Considerem-se as sucessões un = n2 + n, vn = n2 ,
an = bn = −n2 . Tem-se un ∼ vn e an ∼ bn , no entanto un + an = n não é assintoticamente igual
a vn + bn = 0.
2) Se lim un = a ∈ R \ {0}, então é óbvio que un ∼ un+1 . No entanto, se a = 0, o resultado
 n un+1 1
anterior pode não ser válido. Por exemplo, se un = 21 , então = , logo un∼/ un+1 .
un 2
A relação assintoticamente igual permite simplificar o cálculo de limites. A abrangência
deste conceito torna-se-á mais visı́vel após o capı́tulo 2, com o estudo das funções.
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17
1.3 Séries numéricas
1.3.1 Introdução
Sabemos fazer uma soma de duas parcelas de números reais, tal como sabemos somar um qual-
quer número finito de parcelas. Quando o léxico infinito entra no nosso vocabulário somos
naturalmente conduzidos à pergunta Como somar um número infinito de parcelas? Outra per-
gunta que se coloca de imediato é: Faz sentido falar numa soma de infinitas parcelas? Eis
o mote para esta secção - dar significado à expressão soma de infinitas parcelas e estudar as
consequências e propriedades desse significado.
Exemplo. Como somar infinitas parcelas que são alternadamente 1 e −1? Designemos por S o
valor dessa soma.
1 − 1 + 1 − 1 + . . . = S.
Observe-se o seguinte
(1 − 1) + (1 − 1) + . . . = 0,
e também
1 + (−1 + 1) + (−1 + 1) + . . . = 1.
Mas ainda podemos escrever
1 − (1 − 1 + 1 + . . .) = S,
ora o que está dentro de parênteses também vale S, assim
1
1 − S = S ⇐⇒ S = .
2
Neste exemplo temos três formas diferentes de calcular a soma de infinitas parcelas e em cada
uma delas obtivemos um valor diferente, o que não é concordante com a unicidade de valor que
pretendemos naturalmente obter. Assim, este caso ilustra, mais uma vez, que trabalhar com o
infinito requer cuidado e que nem sempre podemos aplicar os procedimentos do caso finito.

1.3.2 Séries numéricas - primeiros conceitos e resultados


Qual é o maior
0, 9999 . . . ou 1?
Considere-se a sucessão definida por recorrência
(
u1 = 0, 9
un+1 = u10n + 0, 9 n ∈ N.

Temos
u1 = 0, 9
u2 = 0, 99
u3 = 0, 999
.. ..
. .
un = 0, 9| .{z
. . 9}
n

Nesta sucessão cada termo acrescenta mais uma casa decimal (igual a 9) ao termo anterior.
Assim, no limite temos
0, 99999 . . .

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18
Por outro lado, sabendo que (un ) é convergente, usando as técnicas de cálculo de limites
para sucessões definidas por recorrência, obtemos lim un = 1 (cf. Exercı́cio 27 da Ficha 1).
Concluı́mos então que
0, 9999 . . . = 1,
ou seja, demos significado à soma de infinitas parcelas

0, 9 + 0, 09 + 0, 009 + 0, 0009 + 0, 00009 + . . .

através do conceito central da análise - o limite!

A ideia expressa no exemplo anterior é a usada para definir somas de infinitas parcelas a que
chamamos Série.
Definição 1.29 Dada uma sucessão de números reais (an ), com n ∈ N, chamamos sucessão
das somas parciais (Sn ) à sucessão cujo termo geral é
n
X
Sn = a1 + a2 + . . . + an = ak .
k=1

Chamamos série numérica ao par de sucessões (an , Sn ) e representamos por



X X
an ou an .
n=1 n≥1

À sucessão (an ) chamamos termo geral da série.

Por vezes a sucessão (an ) está definida em Np , onde p é um número inteiro maior ou igual a

X X
zero e nesses casos a série é representada por an ou por an .
n=p n≥p

Exemplos.

X 1
1) O termo geral da série é an = n21+3 e a sucessão das somas parciais é
n=1
n2
+ 3
1 1 1
Sn = a1 + a2 + . . . + an = + + . . . + 2 .
4 7 n +3

(−1)n n
é an = (−1)
X
2) O termo geral da série n 2n e a sucessão das somas parciais é
n=3
2
1 1 (−1)n
Sn = a3 + a4 + . . . + an = − + + ... + .
8 16 2n
∞ 
1
X 
3) O termo geral da série (−1)n sin(n) + n é an = (−1)n sin(n) + 21n e a sucessão das
n=2
2
1 1 1
somas parciais é Sn = a2 + a3 + . . . + an = sin 2 + − sin 3 + + . . . + (−1)n sin(n) + n .
4 8 2
4) (A subsucessão dos termos de ordem par da sucessão das somas parciais de uma série.)

X
Considere-se a série an . O termo geral da sucessão das somas parciais da série é
n=1

Sn = a1 + a2 + . . . + an .

A sucessão (Sn ) tem os termos: S1 , S2 , S3 , S4 , . . .. A subsucessão dos termos de ordem par


de (Sn ) é a sucessão (S2n ) cujo termo geral é

S2n = a1 + a2 + . . . + a2n ,

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19
cujos termos são: S2 , S4 , S6 , S8 , . . ..

X
Vejamos um exemplo concreto. Consideremos a série (n + 2). O termo geral desta série
n=1
é an = n + 2, e o termo geral da sucessão das somas parciais é
Sn = a1 + a2 + . . . + an = 3 + 4 + 5 + . . . + (n + 2).
Atendendo a que a soma anterior é a soma de n termos de uma progressão aritmética vale
3 + (n + 2) n(n + 5)
Sn = n= .
2 2
Assim, S1 = 3, S2 = 7, S3 = 12, S4 = 18, . . .
Temos também
S2n = a1 + a2 + . . . + an + . . . + a2n = 3 + 4 + 5 + . . . + (n + 2) + . . . + (2n + 2).
Observe-se que para obter o termo geral de (S2n ), somamos todos os termos de (an ), desde
a1 a a2n . Obtemos então
3 + (2n + 2)
S2n = 3 + 4 + 5 + . . . + (2n + 2) = 2n = (2n + 5)n.
2
X
Definição 1.30 Dizemos que uma série numérica an é convergente se a sucessão das
n≥p
somas parciais (Sn ) é convergente. Neste caso, ao valor S = lim Sn chamamos soma da série
e escrevemos ∞ X
an = S.
n=p
Caso contrário a série diz-se divergente.

Indicar a natureza de uma série é indicar se a série é convergente ou divergente.

Exemplos.

X
1) A sucessão das somas parciais da série (4 − 2n) é a soma de n termos de uma progressão
n=1
aritmética,
2 + 4 − 2n
Sn = 2 − 2 − 4 − 6 − 8 − 10 − 12 − . . . + (4 − 2n) = n = 3n − n2 ,
2
então Sn → −∞, logo a série é divergente.

X (−1)n
2) Observamos que a sucessão das somas parciais da série é a soma de (n − 2) termos
n=3
2n
 
de uma progressão geométrica, de razão − 12 , pelo que
 n−2
1
1 1 (−1)n 1 1 − −2
Sn = − + + ... + = − ·   .
8 16 2n 8 1 − − 12
1 1
Assim, Sn → − 12 , logo a série é convergente e a sua soma é − 12 .

X
3) Consideremos a série cujo termo geral é a sucessão constante an = 5, 5. A sucessão das
n=1
somas parciais é
Sn = |5 + 5 +{z. . . + 5} = 5n → +∞.
n parcelas

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20
Assim a série é divergente. Observamos que o termo geral é convergente (pois an → 5), mas a
série é divergente, dado que Sn → +∞.

Da álgebra dos limites estudada, são agora óbvias as propriedades que se seguem.

Proposição 1.31 Seja p ∈ N0 .



X ∞
X ∞
X
• Se an e bn são duas séries convergentes, então a série (an + bn ) também é
n=p n=p n=p
convergente e tem-se

X ∞
X ∞
X
(an + bn ) = an + bn .
n=p n=p n=p


X ∞
X
• Dado λ ∈ R \ {0}, as séries an e λan têm a mesma natureza e tem-se
n=p n=p


X ∞
X
λan = λ an .
n=p n=p

Observação. A soma de duas séries divergentes pode ser uma série convergente.

Decidir se uma série é ou não convergente é decidir se a sucessão das somas parciais é convergente.
De uma forma geral e directamente, esta decisão é muito difı́cil, já que o termo geral de (Sn ) tem
um número de parcelas que depende de n, e que na maioria das vezes não conseguimos reduzir
a uma expressão simples, o que dificulta o cálculo do limite. Em muitos casos recorremos a
resultados teóricos (critérios) que, com base na estrutura da série, nos dizem se estamos perante
uma série convergente ou divergente. Porém, esses critérios não nos dão indicação sobre o valor
da soma da série. Há, no entanto, dois tipos de séries em que usando métodos elementares é
possı́vel calcular o valor da soma. Usando séries de funções, como as que vamos aprender no
capı́tulo 5, e com outras (conteúdos de Análise Matemática III/Cálculo Diferencial e Integral
III) é possı́vel determinar a soma de uma maior diversidade de séries. Vejamos então os dois
casos simples.

X
Chamamos série geométrica de razão r ∈ R a uma série da forma rn .
n=p


X
Proposição 1.32 A série geométrica rn é convergente se, e só se, |r| < 1, tendo-se neste
n=p
caso ∞
X rp
rn = .
n=p 1−r


X
Da proposição anterior sai que, se |r| ≥ 1, a série geométrica rn é divergente.
n=p

Exemplos.
X 1 1
30 3
1. é uma série geométrica de razão 13 , logo convergente, e a sua soma é 1 = .
n≥0
3n 1− 3
2

X 1 1
52 1
2. é uma série geométrica de razão 15 , logo convergente, e a sua soma é 1 = .
n≥2
5n 1− 5
20

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21
3. Escrever a dı́zima infinita periódica 2, (51) na forma de fracção irredutı́vel.
Temos

2, (51) = 2+0, (51) = 2+0, 51+0, 0051+0, 000051+. . . = 2+51(0, 01+0, 0001+0, 000001+. . .)

Podemos ainda escrever


1 1 1 1 1 1 1
0, 01+0, 0001+0, 000001+. . . = + + +. . . = 2 + 4 + 6 +. . .+ 2n +. . .
100 10000 1000000 10 10 10 10

Ora ∞ ∞ n
1 1 1 1 1 1
X X 
2
+ 4
+ 6
+ . . . + 2n
+ . . . = 2n
=
10 10 10 10 n=1
10 n=1
102
∞ 
1 n
X 
1
Como é uma série geométrica de razão 102
, é convergente, e a sua soma é
n=1
102
 1
1
102 1
1 = .
1− 102
99

Assim
1
0, 01 + 0, 0001 + 0, 000001 + . . . = ,
99
donde
1 198 + 51 249 83
2, (51) = 2 + 51(0, 01 + 0, 0001 + 0, 000001 + . . .) = 2 + 51 · = = = .
99 99 99 33


X
Chamamos série telescópica ou série de Mengoli a uma série que tem a forma (un −un+1 ),
n=p
onde (un ) é uma sucessão de números reais.

O termo geral da sucessão das somas parciais (Sn ) das séries de Mengoli é Sn = up − un+1
pelo que a série converge se, e só se, (un ) for convergente, tendo-se, neste caso, que a soma da
série é S = up − lim un .

Exemplos.

!
X 2n5 2(n + 1)5 2n5
1) A série − é uma série de Mengoli com un = ,ea
n=2
n5 + 7n (n + 1)5 + 7n + 7 n5 + 7n
sua soma é
26 2(n + 1)5 26 28 14
S = u2 − lim un+1 = 5
− lim 5
= 5
−2=− =− .
2 + 14 (n + 1) + 7n + 7 2 + 14 46 23

2) O termo geral de uma série de Mengoli nem sempre aparece escrito na forma un −un+1 . Nesses
casos é necessário fazer uma manipulação algébrica, para que o reconhecimento seja feito, e para
que mais facilmente se possa determinar a sua soma. O próximo item exemplifica duas formas
de fazer a manipulação.
1 A B
3) Escrever a expressão racional como soma de fracções da forma e ,
(n + 1)(n + 3) n+1 n+3
onde A e B são números reais.
Queremos então que
1 A B
= + . (2)
(n + 1)(n + 3) n+1 n+3
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22
Reduzindo ao mesmo denominador o lado direito de (2) vem
1 A(n + 3) + B(n + 1) (A + B)n + 3A + B
= = .
(n + 1)(n + 3) (n + 1)(n + 3) (n + 1)(n + 3)
| {z } | {z }
(∗) (∗∗)

Ora, (*) e (**) são duas fracções com o mesmo denominador, logo são iguais se, e só se, os
numeradores forem iguais, ou seja, se
1 = (A + B)n + 3A + B, ∀n. (3)
A identidade anterior é uma igualdade entre duas expressões polinomiais (em n), pelo que é
verificada, se, e só se,
A+B =0 (não há termo em n do lado esquerdo de (3))
e
3A + B = 1 (o termo independente do lado esquerdo de (3) é 1).
Concluimos então que B = −A, logo A = 1/2 e B = −1/2. Podemos então escrever
1 1
1 1 1 1
 
= 2 − 2 = − . (4)
(n + 1)(n + 3) n+1 n+3 2 n+1 n+3
Existem várias técnicas para escrever a expressão racional dada na forma (4). Ao procedimento
anterior chamamos o método dos coeficientes indeterminados. Vejamos agora outra forma de
obter (4). Os factores do denominador da fracção dada são (n + 1) e (n + 3). Temos então que
a sua diferença é dois ((n + 3) − (n + 1) = 2). Assim escrevemos
1 1 2 1 (n + 3) − (n + 1) 1 (n + 3) (n + 1)
 
= = = − .
(n + 1)(n + 3) 2 (n + 1)(n + 3) 2 (n + 1)(n + 3) 2 (n + 1)(n + 3) (n + 1)(n + 3)
Obtemos então
1 1 (n + 3) (n + 1) 1 1 1
   
= − = − .
(n + 1)(n + 3) 2 (n + 1)(n + 3) (n + 1)(n + 3) 2 n+1 n+3
X 1
4) Calcule a soma da série .
n≥1
(3n + 1)(3n + 4)
Temos que (3n+4)−(3n+1) = 3. Aplicando o segundo procedimento descrito no ponto anterior,
vem
1 1 3 1 (3n + 4) − (3n + 1) 1 1 1
 
= = = − .
(3n + 1)(3n + 4) 3 (3n + 1)(3n + 4) 3 (3n + 1)(3n + 4) 3 3n + 1 3n + 4
1 1 1
Seja un = , então un+1 = = . Assim
3n + 1 3(n + 1) + 1 3n + 4
1 1X 1 1 1X
X  
= − = (un − un+1 ).
n≥1
(3n + 1)(3n + 4) 3 n≥1 3n + 1 3n + 4 3 n≥1
X
1
A soma da série de Mengoli (un − un+1 ) é u1 − lim un+1 = 3+1 − 0 = 41 , logo a soma da série
n≥1
dada é
1 1 1
S= · = .
3 4 12

Pergunta 3. Seja (un ) uma sucessão convergente. Dados p, k ∈ N0 , qual é a soma da série

X
(un − un+p )?
n=k
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23

X ∞
X
Proposição 1.33 Seja j um número inteiro positivo. Então an converge se, e só se, an
n=1 n=j

X ∞
X
converge. Tem-se ainda que, no caso em que há convergência, se an = S, então an =
n=1 n=j

X ∞
X
S − (a1 + a2 + . . . + aj−1 ) e se an = M , então an = M + (a1 + a2 + . . . + aj−1 ).
n=j n=1

A propriedade anterior diz-nos que a natureza de uma série não é afectada pelos “primeiros
termos” que se considera da sucessão (an ) e em simultâneo põe em evidência o facto da soma
da série depender de todos os termos, pelo que, quando queremos calcular a soma de uma série
é fundamental indicar onde é que a série começa. Assim, quando estamos apenas a estudar
P
a convergência de uma série, muitas vezes referimo-nos simplesmente à série an , pois a sua
natureza não é afectada pela ordem do termo em que a série começa.
O teorema que se segue dá-nos uma condição necessária (mas não suficiente) para a
convergência de uma série.
Teorema 1.34 (Condição necessária de convergência)

X
Se a série an converge, então lim an = 0 .
n=1

Observações.
1) Do teorema anterior conclui-se que se lim an 6= 0 ou se não existir o limite de (an ), então a

X
série an é divergente.
n=1
2) Se o termo geral de uma série converge para zero, nada se conclui sobre a sua natureza a
X 1
partir apenas desse facto. Por exemplo, a série é uma série divergente e o seu termo geral
n≥1
n
1
an = n converge para zero.
Exemplos.
X
1. 5n , temos an = 5n → +∞, logo a série é divergente (pois o termo geral não converge
n≥1
para zero).
n+5
X 7 
7
n+5
2. 1+ , temos an = 1 + n+5 → e7 6= 0, logo a série é divergente.
n≥6
n+5
(
X 3, se n é par,
3. (2 + cos(nπ)), temos an = então (an ) não é convergente, logo a
1, se n é impar,
n≥2
série é divergente.

X
Definição 1.35 Sendo an uma série convergente, para cada m ≥ p chama-se resto de
n=p
ordem m ao número real rm dado por

X
rm = an .
n=m+1
Tem-se então ∞ m
X X
an = an + rm ,
n=p n=p
o que mostra que rm → 0 e também que rm é o erro cometido ao aproximar a soma da série
pela soma parcial Sm .
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24
1.3.3 Critérios de convergência para séries de termos não negativos
“Divergent series are the invention of the Devil, and it is shameful to base on them any demons-
tration whatsoever.”

N. H. Abel (1802-1829)

Nesta secção vamos apresentar resultados que só se aplicam a séries cujo termo geral é uma
sucessão de números não negativos.

Teorema 1.36 Sejam p ∈ N e n≥p an uma série de termos não negativos. Então a série
P

converge se, e só se, a sucessão das somas parciais é majorada.


P
Prova. Começamos por mostrar que (Sn ), a sucessão das somas parciais de an , é uma
sucessão monótona crescente, já que a série é de termos não negativos. Ora

Sn+1 − Sn = ap + ap+1 + . . . + an+1 − (ap + ap+1 + . . . + an ) = an+1 ≥ 0, ∀n ≥ p.

Concluimos também que


Sp ≤ Sn , ∀n ≥ p. (5)
P
Se an é convergente, então, por definição, (Sn ) é convergente. Como toda a sucessão
convergente é limitada, então, em particular (Sn ) é majorada.
Reciprocamente, suponhamos que (Sn ) é majorada. Atendendo a (5), (Sn ) também é mino-
rada. Assim, a sucessão das somas parciais é monótona e limitada, logo é convergente, pelo que
P
a série an é convergente.

Nota. Observe-se que numa série de termos positivos (não negativos) a sucessão das somas
parciais é estritamente crescente (crescente).
X 1
Prova-se que a série , designada por série harmónica, é divergente. Esta série pertence
n
n≥1
à classe das chamadas séries de Dirichlet, que são séries da forma
X 1
,

sendo válido o resultado que se segue.
X 1
Proposição 1.37 A série de Dirichlet é convergente se, e só se, α > 1.

O conhecimento da natureza das séries de Dirichlet é fundamental no estudo da natureza
das séries numéricas, já que alguns critérios, como vamos ver, decidem a natureza de uma série
por algum tipo de comparação com séries cujo comportamento é conhecido. Assim, estas séries
conjuntamente com as séries geométricas e as séries de Mengoli vão constituir a nossa base de
dados para as comparações que necessitamos fazer.

Notação. Escrevemos abreviadamente an ∼ bn sempre que an e


P P P P
bn forem duas séries
com a mesma natureza.
Por exemplo
X 1 X 87 X 1 X 12
5
∼ 5
e −√
3
∼ −√3
.
n n n n

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25
Teorema 1.38 (1.o Critério de comparação) Sejam an e
P P
bn duas séries de termos não
negativos e suponha-se que a partir de certa ordem se tem

an ≤ bn .

Então
P P
1. se bn converge, então também an converge.
P P
2. se an diverge, então também bn diverge.

Prova. Tratando-se de séries de termos não negativos, as sucessões das somas parciais são
convergentes se, e só se, são majoradas (cf. Teorema 1.36).
P P
Designemos por (An ) e (Bn ) as sucessões das somas parciais de an e bn , respectivamente.
Sem perda de generalidade, suponhamos que an ≤ bn , para todo o n (caso contrário basta
considerar as séries que começam no ı́ndice a partir do qual a desigualdade se verifica). Assim,

An ≤ Bn , ∀n. (6)
P
1. Se bn converge, então, pelo Teorema 1.36, (Bn ) é majorada, ou seja, existe M > 0 tal
que Bn ≤ M , para todo o n, logo, por (6), também (An ) é majorada. Novamente pelo
Teorema 1.36 concluimos que (An ) é convergente, portanto, por definição, também a série
P
an é convergente.
P
2. Suponhamos agora que an é divergente. Então, pelo Teorema 1.36, a sucessão (An ) não
é majorada. Temos que (An ) é uma sucessão monótona crescente (An+1 −An = an+1 ≥ 0),
e como não é majorada, então tende para +∞.
De (6) concluimos que também Bn → +∞ e, consequentemente,
P
bn é divergente. 

O critério anterior permite tirar conclusões sobre a natureza de uma série, através da com-
paração do termo geral da série em estudo, com o termo geral de uma série cuja natureza é
conhecida, desde que esteja estabelecida uma relação de ordem conveniente entre os dois termos
gerais. Nem sempre essas relações são fáceis de obter. Uma forma alternativa de obter as con-
clusões do critério, consiste no cálculo do limite do quociente entre os termos gerais em causa,
como nos diz o próximo resultado.

Corolário 1.39 (2.o Critério de comparação) Sejam


P P
an e bn duas séries de termos
an
não negativos e suponha-se que existe lim = L ∈ R. Então
bn
1. se 0 < L < +∞, (em particular tem-se an ∼ Lbn ), as duas séries são da mesma natureza,
isto é, ambas convergem ou ambas divergem.
P P
2. se L = 0 (em particular, an < bn a partir de certa ordem) e bn converge, então an
converge.
P
3. se L = +∞, (em particular tem-se, an > bn a partir de certa ordem), e bn diverge,
P
então an diverge.
P P
Observe-se que, no teorema anterior, se L = 0 e bn diverge, ou se L = +∞ e bn converge,
P
não se pode concluir nada acerca da natureza de an .
De forma análoga à prova do corolário anterior, prova-se que, dadas sucessões (an ) e (bn ) de
termos não negativos tais que an ∼ Lbn , com L ∈ R+ , então as séries an e bn são da mesma
P P

natureza. Frequentemente as séries que pretendemos estudar estão na situação do 2.o critério
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26
de comparação, mas usamos esta última formulação, por ser mais expedita. Vejamos o exemplo
que se segue. Como
5n2 + n 5n2 5
√ ∼ 4 = 2,
8
n + 4n − 1 n n
X 5n2 + n X 1
então as séries √ e5 são da mesma natureza, como a segunda é convergente
n8 + 4n − 1 n2
(série de Dirichlet com α = 2) a primeira também o é.

1.3.4 Outros critérios de convergência


Nesta secção vamos considerar séries em que o termo geral é uma sucessão que pode ter termos
positivos e termos negativos, sendo o enfoque naquelas em que o termo geral muda de sinal uma
infinidade de vezes.
Observe-se que, se o termo geral de uma série a partir de certa ordem só assume valores
negativos, então estuda-se a série dos termos simétricos (portanto, uma série de termos positivos),
a partir dessa ordem.

|an | converge, então o mesmo sucede com


P P
Teorema 1.40 Dada uma série an , se a série
P
a série an .

|an | é uma série de termos não negativos pelo que a sua natureza pode
P
Observe-se que
eventualmente ser determinada recorrendo a um dos critérios estudados na secção anterior.

Definição 1.41 À série |an | chamamos a série dos módulos da série an .


P P
P
A série an diz-se absolutamente convergente se a série dos módulos for convergente.
Uma série convergente que não seja absolutamente convergente diz-se simplesmente conver-
gente, ou seja, an é simplesmente convergente quando a série |an | diverge e a série an
P P P

converge.

Toda a série absolutamente convergente é convergente, mas o recı́proco não é necessariamente


verdadeiro.
O quadro que se segue resume as definições anteriores.

|an | convergente
P P P
an convergente então an Absolutamente Convergente.

|an | divergente e
P P P
an convergente então an Simplesmente convergente.

P
q da Raiz ou de Cauchy, 1821) Seja
Teorema 1.42 (Critério an uma série e suponha-se
n
que existe o limite lim |an |.
q
n
|an | < 1, então
P
1. Se lim an é absolutamente convergente.
q
n
|an | > 1, então
P
2. Se lim an é divergente.

q
n
Observação. Nas condições do critério anterior, se lim |an | = 1 nada se pode concluir. A
|an | → 1+ , então pode concluir-
P p
n
série an pode ser convergente ou divergente. No entanto, se
se que a série é divergente.

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27
P
Teorema 1.43 (Critério da Razão ou de D’Alembert) Seja an uma série e suponha-se
an+1
que existe o limite lim
.
an

an+1 P
1. Se lim
< 1, então an converge absolutamente.
a n


an+1 P
2. Se lim
> 1, então an diverge.
a n

Observação. 1) À semelhança do critério da raiz,


também o critério da razão é inconclusivo
an+1 an+1 +
se o limite lim a → 1 , pode concluir-se que a série em estudo
= 1. No entanto se
an n
diverge.
an+1 q
2) Pode mostrar-se que se lim = L, então também lim n |an | = L pelo que, se o critério
an P
da razão for inconclusivo para determinar a natureza da série an , o critério da raiz também
o é.

Como aplicação do teorema anterior e da sua prova temos as propriedades que se seguem.

an+1
• Se lim
< 1, então lim an = 0.
a
n

an+1
• Se lim
> 1, então lim |an | = +∞.
a
n
P
Teorema 1.44 (Abel, Dirichlet) Seja bn uma série cuja sucessão das somas parciais é
limitada e seja (an ) uma sucessão decrescente e com lim an = 0. Então an · bn é convergente.
P

Definição 1.45 Chama-se série alternada a uma série da forma (−1)n an onde an ≥ 0,
P

∀n ∈ N. Assim, os termos de uma série deste tipo são alternadamente positivos e negativos.

Corolário 1.46 (Critério de Leibniz, 1682) Seja (an ) uma sucessão decrescente de números
positivos tal que lim an = 0. Então a série (−1)n an é convergente.
P

Observações relativas a séries alternadas.


  n
 1 , se n é par,
 2 n+1
X
1. Considere a série alternada (−1)n an , onde an = Temos
 1 , se n é impar.
n≥1 3
que
 n
1
|an | ≤ , ∀n. (7)
2
X  1 n
Como é uma série geométrica de razão 12 , é convergente. Então, de (7), pelo 1.o
2
critério de comparação, a série dada é absolutamente convergente.

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28
2. A sucessão (an ) do exemplo anterior não é uma sucessão monótona, pois

a1 < a2 > a3 < a4 > a5 . . .

(a1 = 19 , a2 = 14 , a3 = 1
81 , a4 = 1
16 , a5 = 1
279 .)
Assim, temos um exemplo de uma série alternada que é convergente e a sucessão (an )
não é decrescente. Esta situação ilustra que há séries alternadas que não estão nas
condições do Critério de Leibniz ( (−1)n an , com an ≥ 0, (an ) & e lim an = 0) e que são
P

convergentes, ou seja, a condição no Corolário 1.46 que pede que sucessão (an ) seja de-
crescente, não é uma condição necessária para a convergência da série, é apenas suficiente.

3. A prova do Critério de Leibniz pode ser feita directamente, sem recorrer ao Teorema de
Abel-Dirichlet, verificado os passos que se seguem. Seja (Sn ) a sucessão das somas parciais
da série do Corolário 1.46, que supomos começar em n = 1.

(a) Calcule S2n+2 − S2n e conclua que (S2n ) é decrescente.


(b) Mostre que −a1 ≤ S2n ≤ 0, para todo o n.
(Sugestão: Observe que ak − ak+1 ≥ 0, para todo o k, e que

S2n + a1 = a2 − a3 + a4 − a5 + . . . + a2n−2 − a2n−1 + a2n .)

(c) De (a) e (b) conclua que (S2n ) é convergente.


(d) Observando que S2n+1 = S2n + (−1)n+1 an+1 , conclua que também (S2n+1 ) é conver-
gente e que lim S2n = lim S2n+1 .
(−1)n an é convergente.
P
(e) Conclua que (Sn ) é convergente, ou seja, que a série

Terminamos esta secção com um resultado que nos permite estimar o erro que se comete
quando numa série alternada convergente, de soma S, se usa a soma parcial de ordem n para
aproximar S.

X
Proposição 1.47 Seja (−1)n an uma série alternada convergente, com (an ) decrescente, e
n=p
seja S a sua soma. Então

|rn | = |Sn − S| ≤ an+1 , ∀n ∈ Np .

A escolha do critério - alguns indicadores


Quando se pretende determinar a natureza de uma série a pergunta que surge naturalmente é
“Que critério usar?”. Nalguns casos a estrutura do termo geral tem indicadores que nos ajudam
nessa escolha e que listamos seguidamente.
1) Se o termo geral (an ) (an ≥ 0) for uma função racional, então devemos usar o corolário 1.39,
escolhendo uma série de Dirichlet cujo termo geral seja assintoticamente igual a (an ).
Exemplo:
4n5 + 7 4
an = 8 ∼ 3.
9n + 2 9n
X 4 4X 1 X 4n5 + 7
Como a série de Dirichlet = é convergente também é convergente.
9n3 9 n3 9n8 + 2
2) Se termo geral for do tipo an = unn , então, em geral o critério da raiz é o mais indicado.
Exemplo: n
2 + sin n 1 √ 2 + sin n 1

an = 2
+ , n an = 2
+ → 0,
n n+4 n n+4
P
logo, pelo critério da raiz a série an é convergente.
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29
3) Se termo geral (an ) envolver produtos, em que o número de factores envolvido varie com n,
como por exemplo, factoriais, ou envolva potências, então a escolha deve recair sobre critério da
razão. Veja-se o exemplo seguinte.

(2n)! an+1 10n (2n + 2)! (2n + 2)(2n + 1)


an = , = = → +∞
10n an 10n+1 (2n)! 10
P
então, pelo critério de D’Alembert, a série an é divergente.
4) Se (an ) não for uma sucessão de termos positivos, começamos por estudar a série dos
módulos. No caso em que esta última é divergente, o critério de Abel-Dirichlet e o de Leibniz
dão resposta a algumas situações. Veja-se o próximo exemplo.
n n 1 X1 X
an = (−1)n 2
, |an | = ∼ e é divergente, então |an | é divergente.
n +1 n2 + 1 n n
Como n2n+1 → 0 e é uma sucessão decrescente, pelo critério de Leibniz, a série
P
an é conver-
gente. Trata-se, portanto, de uma série simplesmente convergente ( |an | divergente e
P P
an
convergente).

Exemplos. Vamos determinar a natureza das séries que se seguem.


X 5 + (−1)n
1. √ .
n7 + 1 + n
5 + (−1)n
Seja an = √ . Temos que
n7 + 1 + n
6 6
0 < an ≤ √ ∼ 7/2 , para todo n ∈ N.
(1) n7 + 1 + n (2) n
X 6 X 1 X 1
Ora = 6 ∼ , e como esta última série é uma série convergente
n7/2 n7/2 n7/2
7
(série de Dirichlet com α = > 1), de (2), pelo 2.o critério de comparação, concluı́mos
2
X 6
que √ é convergente. Atendendo a (1), o 1.o critério de comparação permite
n7 + 1 + n
concluir que a série dada é convergente.
X n4 + 3n2 − 1
2. cos(n6 + 4) .
2n8 + 6n + 4

Como o termo geral muda de sinal uma infinidade de vezes, começamos por estudar a série
dos módulos. Designando por an o termo geral da série vem

n4 + 3n2 − 1 n4 + 3n2 − 1 n4 1
|an | = | cos(n6 + 4)| · 8
≤ 8
∼ 8
= 4. (8)
| {z } 2n + 6n + 4 2n + 6n + 4 2n 2n
≤1

1
é uma série convergente (série de Dirichlet com α = 4 > 1), logo de (8), pelos 1.o
P
Ora n4
o
e 2. critérios de comparação, concluı́mos que |an | é convergente, ou seja, a série an
P P

é absolutamente convergente.

Nota. Quando o termo geral de uma série muda de sinal uma infinidade de vezes e a série
é convergente, devemos indicar qual o tipo de convergência: simples ou absoluta.

Sucessões e séries numéricas Ana Rute Domingos e Ana Cristina Barroso

30
Ainda os restos
O próximo resultado diz-nos como estimar o resto de ordem m de uma série convergente que se
encontre nas condições do critério da razão.
X
Proposição 1.48 Seja an uma série de termos positivos convergente e suponha-se que, dado
n≥p
um inteiro m ≥ p, existe uma constante 0 < λ < 1 tal que
an+1
< λ, ∀n > m.
an
Então o resto rm da série verifica as condições
am+1
am+1 < rm < .
1−λ

Exercı́cio. Estime o erro de ordem m das seguintes séries


+∞
X 2n
1. ;
n=0
n!
+∞
X 3n
2. .
n=0
(n + 1)!

Respostas às perguntas numeradas


√ √ √
Resposta 1. Nem sempre. [1, 7] ∪ [7, 103] é o intervalo [1, 103], mas [1, 7] ∪ [8, 103]
não é um intervalo (7 e 8 pertencem ao conjunto união, mas nenhum número entre 7 e 8 está
no conjunto).

Resposta 2.
un+1
• se (un ) é uma sucessão de termos negativos e ≥ 1 (resp. > 1), então (un ) é decrescente
un
(resp. estritamente decrescente);
un+1
• se (un ) é uma sucessão de termos negativos e ≤ 1 (resp. < 1), então (un ) é crescente
un
(resp. estritamente crescente).

Resposta 3. A soma é S = uk + uk+1 + . . . + uk+p−1 − p lim un .

Sucessões e séries numéricas Ana Rute Domingos e Ana Cristina Barroso

31
Sı́ntese da secção

• converge para S se Sn = ap + ap+1 + . . . + an → S;


P
n≥p an

n P∞ n rp
• Série geométrica: converge sse |r| < 1, tendo-se neste caso
P
n≥p r n=p r = 1−r ;

X
• Série de Mengoli: (un − un+1 ), Sn = up − un+1 ;
n=p

• Condição necessária de convergência: Se


P
n≥p an converge, então lim an = 0;
P 1
• (Séries de Dirichlet) nα é convergente se α > 1, e divergente se α ≤ 1;

• 1.o Critério de comparação: 0 ≤ an ≤ bn


P P
– se bn converge, então an converge;
P P
– se an diverge, então bn diverge;

• 2.o Critério de comparação: lim abnn = L ∈ R

– se 0 < L < +∞ (an ∼ Lbn ),


P P
an e bn são da mesma natureza;
P P
– se L = 0 e bn converge, an converge;
P P
– se L = +∞ e bn diverge, an diverge;

• se |an | converge, então


P P
an converge (série absolutamente convergente);

• se |an | diverge e
P P P
an converge, an diz-se simplesmente convergente;

• Critério da Raiz ou de Cauchy:


p
n
|an | < 1, então
P
– se lim an é absolutamente convergente;
p
n
|an | > 1, então
P
– se lim an é divergente;

• Critério da Razão ou de D’Alembert:



an+1 P
– se lim < 1, então an converge absolutamente;
an

an+1 P
– se lim > 1, então an diverge;
a
n

• Critério de Abel-Dirichlet:
P
bn com as somas parciais limitada, (an ) decrescente e
lim an = 0. Então an · bn é convergente.
P

• Critério de Leibniz: (an ) decrescente, an ≥ 0, lim an = 0, então (−1)n an é conver-


P

gente.
P∞ n
• n=p (−1) an uma série alternada convergente, com (an ) decrescente. Então
|rn | = |Sn − S| ≤ an+1 , ∀n ∈ Np .

Sucessões e séries numéricas Ana Rute Domingos e Ana Cristina Barroso

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