Você está na página 1de 18

Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Conjuntos na recta numérica. Conjuntos limitados. Supremo, ínfimo,


máximo e mínimo de um conjunto numérico.

O conjunto dos números reais, R , é um conceito primitivo na Análise


Matemática, que aparece como um desenvolvimento do conjunto dos números naturais,
resultando das necessidades de efectuar operações de adição, subtracção, multiplicação,
divisão, cálculo das raizes e dos logaritmos, e também das necessidades de efectuar
medições. Desde modo foram introduzidos os conceitos dos seguintes conjuntos:
N - o conjunto dos números naturais; N = { 1 , 2 , 3 , L , n , n + 1 , L }.
N 0 = { 0, 1, 2 , 3 , L , n , n + 1, L }
Z - o conjunto dos números inteiros;
Z = { L , − (n + 1), − n, L , − 3 , − 2 , − 1 , 0 , 1 , 2 , 3 , L , n , n + 1 , L } .

Z − = { L, − (n + 1) , − n , L , − 3 , − 2 , − 1, } (o conjunto dos números inteiros


negativos);

Z 0− = { L , − (n + 1) , − n , L , − 3 , − 2 , − 1 , 0 };

Z + = { 1, 2 , 3 , L , n , n + 1, L }; (o conjunto dos números inteiros positivos);


Z+ = N .
Z 0+ = { 0 , 1, 2 , 3 , L , n , n + 1, L } ; Z 0+ = N 0 ;

m 
Q - o conjunto dos números racionais; Q =  : m, n ∈ Z ∧ n ≠ 0  .
 n 
Ir - o conjunto de números irracionais é constituído pelos números reais que não
podem ser obtidos pela divisão de alguns dois números inteiros (na representação
decimal são fracções decimais infinitas não periódicas).
R - o conjunto dos números reais. Ir = R \ Q
São óbvias as inclusões N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R e ainda tem-se
Ir = R \ Q ⇔ R = Q U Ir .

Também vamos usar os conjuntos: R + = { x ∈ R : x > 0 }, R 0+ = { x ∈ R : x ≥ 0 },

R − = { x ∈ R : x < 0 }, R 0− = { x ∈ R : x ≤ 0 }.

1
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Sabe-se que entre os números reais R e os pontos duma recta r , em qual são fixados
dois pontos O e M ( O corresponde ao número 0 e M corresponde ao número 1) se
define uma aplicação bijectiva entre os números reais e os pontos da recta.

Com a, b ∈ R , a < b , costuma-se designar por:


► [ a, b ] = { x ∈ R : a ≤ x ≤ b } - segmento (intervalo fechado) com as extremidades
a, b ; a, b ∈ [ a, b ] .

► ] a, b [ = ( a, b ) = { x ∈ R : a < x < b } - intervalo aberto com as extremidades a, b ;


a, b ∉ [ a, b ] .

► [ a, b [ = [ a, b ) = { x ∈ R : a ≤ x < b } - intervalo semi-aberto (semi-fechado) com as


extremidades a, b ; a ∈ [ a, b [ , b ∉ [ a, b [ .

► ] a, b ] = ( a, b ] = { x ∈ R : a < x ≤ b } - intervalo semi-aberto (semi-fechado) com as


extremidades a, b ; a ∉ ] a, b ], b ∈ ] a, b ] .

► ] − ∞, a ] = ( − ∞, a ] = { x ∈ R : x ≤ a } - intervalo de origem a ilimitado à esquerda


(indicado pelo símbolo − ∞ ); a ∈ ] − ∞, a ] .
► [ b , + ∞ [ = [ b , + ∞ ) = { x ∈ R : x ≥ b } - intervalo de origem b ilimitado à direita
(indicado pelo símbolo + ∞ ); b ∈ [ b , + ∞ [ .

2
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

► ] − ∞, a [ = ( − ∞, a ) = { x ∈ R : x<a } - intervalo de origem a ilimitado à esquerda


(indicado pelo símbolo − ∞ ); a ∉ ] − ∞, a [ .
► ] b , + ∞ [ = ( b , + ∞ ) = { x ∈ R : x > b } - intervalo de origem b ilimitado à direita

(indicado pelo símbolo + ∞ ); b ∉ ] b , + ∞ [ .

Seja A um subconjunto de R ( A ⊆ R ).

Definição 1. Diz-se que b ∈ R é um majorante do conjunto A , se e só se


qualquer elemento x ∈ A é menor ou igual à b , isto é,

   
 b ∈ R é um majorante do conjunto A  ⇔  x ≤ b, ∀x ∈ A  .
   

Definição 2. Diz-se que a ∈ R é um minorante do conjunto A , se e só se


qualquer elemento x ∈ A é maior ou igual à a , isto é,

   
 a ∈ R é um minorante do conjunto A  ⇔  x ≥ a, ∀x ∈ A  .
   

Nota 1. É óbvio que:


► se b ∈ R é um majorante de A e b ′ ∈ R , b ′ ≥ b , então b ′ também é um
majorante de A ;
► se a ∈ R é um minorante de A e a ′ ∈ R , a ′ ≤ a , então a ′ também é um
minorante de A .
Exemplo 1. Com A = { − 2 }U [ 1 , 4 [ , tem-se que 4 é um majorante de A
(porque x ≤ 4, ∀x ∈ A ) e portanto qualquer número do intervalo

3
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

[ 4, + ∞ [ = { x∈ R: x ≥ 4 } também é um majorante de A . Analogamente, tem-se que


− 2 é um minorante de A (porque x ≥ −2 , ∀x ∈ A ) e portanto qualquer número do

intervalo ] − ∞, − 2 ] = { x ∈ R : x ≤ −2 } também é um minorante de A (figura 1).

+
Aplicando as definições obtemos que qualquer número do conjunto R 0 é um
− −
majorante dos conjuntos R 0− , R e qualquer número do conjunto R 0 é um

minorante dos conjuntos R 0+ , R + .

Definição 3. Diz-se que o subconjunto A ⊆ R é majorado (limitado superiormente)


se e só se tem majorantes.

Definição 4. Diz-se que o subconjunto A ⊆ R é minorado (limitado inferiormente)


se e só se tem minorantes.

Definição 5. Diz-se que o subconjunto A ⊆ R é limitado (limitado inferiormente e


superiormente) se e só se é minorado e majorado
.
Definição 6. Diz-se que o subconjunto A ⊆ R é ilimitado se não é limitado, isto é,
não tem minorantes ou majorantes.
O conjunto A = { − 2 }U [ 1 , 4 [ do exemplo 1 é limitado, porque tem minorantes
e majorantes.

4
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

+ −
R 0 é o conjunto dos majorantes para o conjunto R 0 e porque

R 0− = { x ∈ R : x ≤ 0 } não tem minorantes concluímos que R −


0 é ilimitado (ilimitado à
esquerda).
Num conjunto numérico A ⊆ R pode existir ou não o elemento maior do que
todos os outros, isto é, pode existir ou não um elemento (número real) c que verifica
simultaneamente as condições: c ∈ A e c é majorante de A .

Definição 7. Diz-se que c é o elemento máximo do conjunto numérico A ⊆ R , e


denota-se por m a x ( A) , se e só se c ∈ A e c é majorante de A .

Exemplo 2. Com A = [ 1 , 4 [ U [ 6 , 8 ] , tem-se que 8 é um majorante de A


(porque x ≤ 8 , ∀ x ∈ A ) e porque 8 pertence ao conjunto A concluímos que
m a x ( A) = 8 .

Definição 8. Diz-se que c é o elemento mínimo do conjunto numérico A ⊆ R , e


denota-se por m i n ( A) , se e só se c ∈ A e c é minorante de A .

Exemplo 3. Com A = [ 1 , 4 [ U [ 6 , 8 ] , tem-se que 1 é um minorante de A


(porque x ≥ 1 , ∀ x ∈ A ) e porque 1 pertence ao conjunto A concluímos que
m i n ( A) = 1 .
Notamos que:
► o elemento máximo e o elemento mínimo, caso existem, são únicos ;
► se A = { a } , então m i n ( A) = m a x ( A) = a .

Seja A um subconjunto numérico de R .


► Denotamos por M (A ) o conjunto dos majorantes, isto é,

M ( A ) = { b ∈ R : x ≤ b, ∀ x ∈ A }.
► Denotamos por m( A ) o conjunto dos minorantes, isto é,
m ( A ) = { a ∈ R : x ≥ a , ∀ x ∈ A }.
Obviamente tem-se: M ( A ) = Ø , se A não é majorado e m( A ) = Ø , se A não é
minorado. Por exemplo temos:

5
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

M ( R ) = Ø , M ( R + ) = Ø , M ( Z ) = Ø , M ( N ) = Ø , M ( Ø) = Ø ;

m( R ) = Ø , m( R − ) = Ø , m ( Z ) = Ø , m ( Ø) = Ø .
Definição 8. Chama-se supremo de A e denota-se por su p ( A) o elemento mínimo do
conjunto dos majorantes de A , isto é, su p ( A) = m i n ( M ( A)) .
Quando o supremo de A existe, é evidente que pode pertencer ou não pertencer
ao conjunto A , mas certamente pertence ao conjunto dos majorantes, M (A ) . Se um
conjunto B ⊂ R tem máximo, m a x (B ) , facilmente concluímos que B tem supremo,
su p (B ) , sendo m a x ( B ) = su p ( B ) . A conversão desta afirmação, isto é, se um
conjunto B ⊂ R tem supremo, su p (B ) , então B tem máximo, m a x (B ) , não é

verdadeira. Por exemplo, com B = ] −1, 1 [ tem-se M ( B) = [ 1 , + ∞ [ , su p ( B ) = 1 ,


mas B = ] −1, 1 [ não tem máximo.

Definição 9. Chama-se ínfimo de A e denota-se por i n f ( A) o elemento máximo do


conjunto dos minorantes de A , isto é, i n f ( A) = m a x (m( A)) .
Quando o ínfimo de A existe, é evidente que pode pertencer ou não pertencer ao
conjunto A , mas certamente pertence ao conjunto dos minorantes, m ( A ) . Se um
conjunto B ⊂ R tem mínimo, m i n (B ) , facilmente concluímos que B tem ínfimo,
i n f (B ) , sendo m i n ( B ) = i n f ( B ) . A conversão desta afirmação, isto é, se um
conjunto B ⊂ R tem ínfimo, i n f (B ) , então B tem mínimo, m i n (B ) , não é
verdadeira. Por exemplo, com B = ] −1, 1 [ tem-se m( B) = ] − ∞ , − 1 ] , i n f ( B ) = −1 ,

mas B = ] −1, 1 [ não tem mínimo.

Exemplo 4. Seja
   
C = [ 2 , 5 [ U  x ∈ R : x = , n ∈ N  = [ 2 , 5 ] U  x ∈ R : x = , n ∈ N, n ≥ 3  =
5 5
 n   n 

5 5 5 
= [ 2 , 5 ]U  ,
5 5 5
, , , , , L .
3 4 5 6 7 8 
Para o conjunto C tem-se:
M (C ) = [ 5 , + ∞ [ ; m (C ) = R0− = ] − ∞ , 0 ] ; m a x (C ) = s u p (C ) = 5 ; i n f (C ) = 0 ;

O conjunto C não tem mínimo.

6
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Noções topológicas no conjunto dos números reais.

Recorda-se que, sendo x um número do conjunto R , chama-se módulo de x e


denota-se por x o número − x , se x < 0 ou o número x , se x ≥ 0 , isto é,
 x, se x ≥ 0,
x =
− x, se x < 0.

O módulo de um número real x na interpretação geométrica exprime a


distância do ponto considerado, x ∈ R , à origem da recta numérica (na unidade de
medida considerada).

Definição 10. Com x , y ∈ R , define-se a distância de x à y e denota-se por d ( x, y )

ao módulo da diferença x − y , isto é, d ( x, y ) = x − y .

Seja a ∈ R e ε ∈ R + .
Definição 11. Chama-se vizinhança ε de a , e denota-se por Vε (a ) ou V (a, ε ) , o

conjunto de números reais cuja distância à a é menor do que ε , isto é,


Vε (a) = { x ∈ R : d ( x, a) < ε } = { x ∈ R: x − a < ε }.

Porque
x−a <ε ≡ −ε < x − a < ε ≡ a −ε < x < a +ε ≡ x∈] a −ε, a + ε [
temos
Vε (a ) = { x ∈ R : x ∈ ] a − ε , a + ε [ }, Vε (a ) = ] a − ε , a + ε [
isto é, uma vizinhança de um número (ponto) a é um intervalo aberto centrado em a ,
geometricamente é o intervalo ] a − ε , a + ε [ (sem extremos) com centro no número
(ponto) que corresponde à a e comprimento 2 ε .

Por exemplo:
V1 (−2) = ] − 2 − 1, − 2 + 1 [ = ] − 3 , − 1 [ ; V2 (1) = ] 1 − 2, 1 + 2 [ = ] − 1 , 3 [ ;
V1,3 (0) = ] 0 − 1,3 , 0 + 1,3 [ = ] − 1,3 , 1,3 [ ;

Com ε > 0 , Vε (0) = ] 0 − ε , 0 + ε [ = ] − ε , ε [ ;

7
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

É evidente que qualquer número real, a ∈ R , tem uma infinidade de vizinhanças,


cada uma das quais é determinada pelo valor de ε ∈ R + . Com ε 1 ε 2 ∈ R + , ε 1 < ε 2 tem-

se V (a, ε 1 ) ⊂ V (a, ε 2 ) ∀a ∈ R e neste caso V (a, ε 1 ) I V (a, ε 2 ) = V (a, ε 1 ) . Notamos

que a intersecção das todas vizinhanças de um número a ∈ R é o conjunto { a }, isto é,


o próprio ponto a que não é uma vizinhança de a . Notamos ainda que, com
a , b ∈ R , a ≠ b existem sempre duas vizinhanças, V (a , ε 1 ), V (b , ε 2 ) , tais que

V (a , ε 1 ) I V (b , ε 2 ) = Ø , se ε 1 + ε 2 < d ( a, b ) = a − b .

Definição 12. O ponto a ∈ R diz-se ponto interior do conjunto A ⊂ R , se existe uma


vizinhança de a contida em A , isto é,
∃ε > 0 tal que Vε (a ) = ] a − ε , a + ε [ ⊂ A .
Notamos que só os pontos do conjunto podem ser pontos interiores.
Com a = 3 e A = [2 , 4 [ tem-se que ∃ε = 0,2 tal que V0, 2 (3) = ] 2,8 , 3,2 [ ⊂ [2 , 4 [ .

8
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Portanto a = 3 é ponto interior de A = [2 , 4 [ .

O ponto a = 4 não pode ser ponto interior do conjunto A = [2 , 4 [ porque não


pertence ao conjunto.
O ponto a = 2 não é ponto interior do conjunto A = [2 , 4 [ porque não existe

ε > 0 tal que Vε (2) = ] 2 − ε , 2 + ε [ ⊂ [2 , 4 [ . Neste caso o intervalo ] 2−ε , 2 [


está fora de A = [2 , 4 [ .

► O conjunto dos pontos interiores de A chama-se interior de A e denota-se


por i nt ( A) .
Definição 13. O ponto a ∈ R diz-se ponto exterior do conjunto A ⊂ R , se existe uma
vizinhança de a contida em A C (complementar de A ), isto é,
∃ε > 0 tal que Vε (a ) = ] a − ε , a + ε [ ⊂ A C = R \ A .

Notamos que só os pontos do complementar do conjunto podem ser pontos


exteriores.
Com a = 5 e A = [2 , 4 [ tem-se que ∃ε = 0,4 tal que

V0, 4 (5) = ] 4,6 , 5,4 [ ⊂ R \ [2 , 4 [ = ] − ∞ , 2 [ U [4 , + ∞ [ .

Portanto a = 5 é ponto exterior de A = [2 , 4 [ .

O ponto a = 2 não pode ser ponto exterior do conjunto A = [2 , 4 [ porque


pertence ao conjunto e portanto 2 ∉ R \ [2 , 4 [ = ] − ∞ , 2 [ U [4 , + ∞ [ .

9
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

O ponto a = 4 não é ponto exterior do conjunto A = [2 , 4 [ porque não existe

ε > 0 tal que Vε (4) = ] 4 − ε , 4 + ε [ ⊂ R \ [2 , 4 [ . Neste caso o intervalo ] 4 − ε , 4 [


está contido em A = [2 , 4 [ .

► O conjunto dos pontos exteriores de A chama-se exterior de A e denota-


se por ext ( A) .
Definição 14. O ponto a ∈ R diz-se ponto fronteiro do conjunto A ⊂ R , se a não é
ponto interior ( a ∉ i nt ( A) ) nem ponto exterior ( a ∉ ext ( A) ) de A , isto é,

∀ε > 0 ] a − ε, a + ε [ I A ≠ Ø ∧ ] a − ε , a + ε [ I AC ≠ Ø.
Notamos que os pontos fronteiros podem pertencer ou não pertencer ao conjunto
analisado.
► O conjunto dos pontos fronteiros de A denota-se por fr o nt ( A) .

Com A = [2 , 4 [ U { 6 } tem-se:

∀ ε > 0 Vε (2) = ] 2 − ε , 2 + ε [ ∧ ] 2 − ε , 2 + ε [ I A ≠ Ø ∧ ] 2 − ε , 2 + ε [ I A C ≠ Ø ;

∀ ε > 0 Vε ( 4) = ] 4 − ε , 4 + ε [ ∧ ] 4 − ε , 4 + ε [ I A ≠ Ø ∧ ] 4 − ε , 4 + ε [ I A C ≠ Ø ;

∀ ε > 0 Vε (6) = ] 6 − ε , 6 + ε [ ∧ ] 6 − ε , 6 + ε [ I A ≠ Ø ∧ ] 6 − ε , 6 + ε [ I A C ≠ Ø .

10
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Portanto só os pontos do conjunto { 2 , 4 , 6 } não são pontos de i nt ( A) nem de ext ( A)

e então fr ont ( A) = { 2 , 4 , 6 }.

Definição 15. Chama-se aderência ou fecho de um conjunto numérico A ⊂ R e denota-


se por A a reunião do conjunto de pontos interiores e do conjunto dos pontos fronteiros
de A , isto é, A = i nt ( A) U fr o nt ( A) .

Da definição resulta que A é o complementar do exterior de A , isto é, A = R \ ext ( A) .

Os pontos de A dizem-se pontos aderentes de A .


Notamos que
A = R \ ext ( A) ⇔ A U ext ( A) = R ⇔ i nt ( A) U fr o nt ( A) U ext ( A) = R .

Definição 16. Um conjunto A ⊂ R diz-se fechado se A = A e diz-se aberto se


A = i nt ( A) .
Notamos que :
► um conjunto A ⊂ R é aberto se e só se A C é fechado, isto é,
A aberto ⇔ A C fechado ;
► A intersecção de dois conjuntos abertos é um conjunto aberto;
► A intersecção de qualquer família finita de conjuntos abertos é um conjunto aberto;
A intersecção de uma família infinita de conjuntos abertos pode não ser um
conjunto aberto, por exemplo a intersecção da família infinita de intervalos abertos
 1 1 
  − ,  , n ∈ N é o conjunto fechado { 0 }.
 n n 
► A reunião de qualquer família (finita ou infinita) de conjuntos abertos é um
conjunto aberto;
► A reunião de qualquer família finita de conjuntos fechados é um conjunto fechado;
► A intersecção de qualquer família (finita ou infinita) de conjuntos fechados é um
conjunto fechado;
► Seja A ⊂ R, A ≠ Ø e fechado. Então tem-se:
● A majorado ⇒ A tem máximo ;
● A minorado ⇒ A tem mínimo ;
● A limitado ⇒ A tem máximo e mínimo .

11
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Exemplo. Na continuação para os conjuntos dados vamos determinar o conjunto


dos pontos interiores, o conjunto dos pontos exteriores, o conjunto dos pontos
fronteiros e determinar se os conjuntos são fechados ou abertos.

a) B = [ − 1, 4 [ U { 6 }.
Determinamos o conjunto dos pontos interiores de B .
Porque só os pontos do conjunto podem ser pontos interiores e
B = [ − 1, 4 [ U { 6 } = { x ∈ R : − 1 ≤ x < 4 } U { x ∈ R : x = 6 }
concluímos que:
● x0 = −1 não é ponto interior do conjunto porque

∀ ε > 0 Vε (−1) = ] − 1 − ε , − 1 + ε [ ∧ ] − 1 − ε , − 1 + ε [ I B C ≠ Ø ,

neste caso pelo menos ] −1− ε , −1 [ ⊂ BC .

● ∀ x0 ∈ ] − 1, 4 [ tem-se que

∃ ε > 0 Vε ( x 0 ) = ] x 0 − ε , x 0 + ε [ ∧ ] x 0 − ε , x 0 + ε [ I B ⊂ B .

Neste caso podemos escolher 0 < ε < m i n { x0 − (−1) , x0 − 4 }, isto é, ε é menor

do que a distância mínima de x0 aos pontos − 1 e 4 . Portanto ] − 1, 4 [ ⊂ i nt ( B) .

● x0 = 6 é ponto do conjunto, mas

∀ ε > 0 Vε (6) = ] 6 − ε , 6 + ε [ ∧ ] 6 − ε , 6 + ε [ I B C ≠ Ø ,

12
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

neste caso pelo menos ] 6−ε , 6 + ε [ I B C ≠ Ø . Portanto x0 = 6 ∉ i nt ( B ) .

Finalmente obtemos i nt ( B) = ] − 1, 4 [ .

Determinamos o conjunto dos pontos exteriores de B .


Só os pontos que não pertencem ao conjunto podem ser pontos exteriores, isto é,
só os pontos de B C . Porque
B C = R \ ( [ − 1, 4 [ U { 6 } ) = ] − ∞ , − 1 [ U [ 4 , 6 [ U ] 6 , + ∞ [
concluímos que:
● x0 = −1 não é ponto exterior do conjunto porque não pertence ao conjunto B C . É
óbvio que
∀ ε > 0 Vε ( −1) = ] − 1 − ε , − 1 + ε [ ∧ ] − 1 − ε , − 1 + ε [ I B ≠ Ø ,

neste caso pelo menos [ − 1 , − 1 + ε [ ⊂ B .

● x0 = 4 não é ponto exterior do conjunto. É óbvio que

∀ ε > 0 Vε ( 4) = ] 4 − ε , 4 + ε [ ∧ ] 4 − ε , 4 + ε [ I B ≠ Ø ,

neste caso pelo menos ] 4 − ε , 4 [ ⊂ B .

● x0 = 6 não é ponto exterior do conjunto porque não pertence ao conjunto B C . É


óbvio que
∀ ε > 0 Vε (6) = ] 6 − ε , 6 + ε [ ∧ ] 6 − ε , 6 + ε [ I B ≠ Ø ,

neste caso pelo menos ] 6 − ε , 6 + ε [ I B = { 6 }.

13
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

● ∀ x0 ∈ ] − ∞ , − 1 [ tem-se que

∃ ε > 0 Vε ( x 0 ) = ] x 0 − ε , x 0 + ε [ ∧ ] x 0 − ε , x 0 + ε [ I B C ⊂ B C .

Neste caso podemos escolher 0 < ε < x0 − (−1) , isto é, ε é menor do que a distância

de x0 ao ponto − 1 . Portanto ] − ∞ , − 1 [ ⊂ e xt ( B) .

● ∀ x0 ∈ ] 4 , 6 [ tem-se que

∃ ε > 0 Vε ( x 0 ) = ] x 0 − ε , x 0 + ε [ ∧ ] x 0 − ε , x 0 + ε [ I B C ⊂ B C .

Neste caso podemos escolher 0 < ε < m i n { x 0 − 4 , x0 − 6 }, isto é, ε é menor do

que a distância mínima de x0 aos pontos 4 e 6 .. Portanto ] 4 , 6 [ ⊂ e xt ( B) .

● ∀ x0 ∈ ] 6 , + ∞ [ tem-se que

∃ ε > 0 Vε ( x 0 ) = ] x 0 − ε , x 0 + ε [ ∧ ] x 0 − ε , x 0 + ε [ I B C ⊂ B C .

Neste caso podemos escolher 0 < ε < x0 − 6 , isto é, ε é menor do que a distância de

x0 ao ponto 6 . Portanto ] 6 , + ∞ [ ⊂ e xt ( B) .

Finalmente obtemos
e xt ( B ) = ] − ∞ , − 1 [ U ] 4, 6 [ U ] 6, + ∞ [.
De i nt ( B ) U fr o nt ( B ) U ext ( B ) = R obtemos

fr ont ( B) = R \ ( i nt ( B) U ext ( B) ) = {− 1 , 4 , 6 } .

Porque B ≠ i nt ( B ) e B ≠ i nt ( B ) U fr o nt ( B ) = B resulta que o conjunto


numérico B é nem aberto nem fechado.

b) C = R0+ = [ 0 , + ∞ [ .

Determinamos o conjunto dos pontos interiores de C = R0+ = [ 0 , + ∞ [ .


Porque só os pontos do conjunto podem ser pontos interiores concluímos que:

14
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

● x0 = 0 não é ponto interior do conjunto porque

∀ ε > 0 Vε (0) = ] − ε , ε [ ∧ ] − ε , ε [ I C C = ] − ε , ε [ I ] − ∞ , 0 [ = ] − ε , 0 [ ,

neste caso ] − ε , 0 [ ⊂ CC .
● ∀ x0 ∈ ] 0 , + ∞ [ tem-se que

∃ ε > 0 Vε ( x 0 ) = ] x 0 − ε , x 0 + ε [ ∧ ] x 0 − ε , x 0 + ε [ I R0+ ⊂ R0+ .

Neste caso podemos escolher 0 < ε < x0 − 0 = x0 , isto é, ε é menor do que a

distância de x0 ao ponto 0 . Portanto i nt (C ) = ] 0 , + ∞ [ = R + .

Determinamos o conjunto dos pontos exteriores de C = R0+ = [ 0 , + ∞ [ .


Porque só os pontos que não pertencem ao conjunto podem ser pontos
exteriores, isto é, só os pontos de C C . Porque
C C = R \ R0+ = R −

e
∀ x0 ∈ ] − ∞ , 0 [ tem-se que

∃ ε > 0 Vε ( x 0 ) = ] x 0 − ε , x 0 + ε [ ∧ ] x 0 − ε , x 0 + ε [ I R − ⊂ R −

concluímos que e xt (C ) = ] − ∞ , 0 [ = R −

Neste caso podemos escolher 0 < ε < x0 − 0 = x0 , isto é, ε é menor do que a

distância de x0 ao ponto 0 .

De i nt ( R0+ ) U fr o nt ( R0+ ) U ext ( R0+ ) = R obtemos

( )
fr o nt ( R0+ ) = R \ i nt ( R0+ ) U ext ( R0+ ) = {0 }

15
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

.
Porque R0+ ≠ i nt ( R0+ ) = R + resulta que o conjunto numérico R0+ não é aberto e

porque i nt ( R0+ ) U fr o nt ( R0+ ) = R0+ U { 0 } = R0+ resulta que o conjunto numérico R0+ é

fechado.

Definição 17. O ponto a ∈ R (ou número real a ∈ R ) diz-se ponto de acumulação do


conjunto A ⊂ R se em qualquer vizinhança de a , Vε (a ) , existe pelo menos um ponto

de A distinto de a , isto é,
∀ ε > 0, ( Vε (a) I A ) \ { a } ≠ ∅ .

O conjunto dos pontos de acumulação de um conjunto A ⊂ R chama-se


conjunto derivado de A e denota-se por A′ .

Definição 18. O ponto a ∈ R (ou número real a ∈ R ) diz-se ponto isolado do conjunto
A ⊂ R se a ∈ R não é ponto de acumulação do conjunto A ⊂ R , isto é,
∃ε > 0, Vε (a ) I A = { a }.

Notamos que:
● os pontos de acumulação de um conjunto podem pertencer ou podem não
pertencer ao conjunto;
● os pontos isolados de um conjunto sempre são elementos do conjunto.

Para o conjunto
B = [ − 1, 4 [ U { 6 } = { x ∈ R : − 1 ≤ x < 4 } U { x ∈ R : x = 6 }
tem-se que:
● B′ = [ − 1 , 4 ] porque ∀x0 ∈ [ − 1, 4 ] ∧ ∀ ε > 0, ( Vε ( x0 ) I B ) \ { x0 } ≠ ∅ .
● x1 = 6 é ponto isolado de B = [ − 1, 4 [ U { 6 } porque ∃ε > 0, Vε (6) I B = { 6 } ,

neste caso basta escolher 0 < ε < 6 − 4 = 2 , isto é, ε menor do que a distância de x1 = 6

até ao outro ponto do conjunto que é mais próximo de x1 = 6 (neste exemplo é o ponto
x = 4 ).

16
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Definição 19. Um conjunto A ⊂ R diz-se compacto se é limitado e fechado, isto é,


1) ∃ a, b ∈ R : ∀x ∈ A tem − se a ≤ x ≤ b ;

2) A = A = i n t ( A) U front ( A) .

Nota.
Geralmente a definição 19 é uma sequência do teorema de Bolzano-Weierstrass:
Um conjunto do A ⊂ R é sequencialmente compacto se e só se e fechado e limitado.
Por conjunto sequencialmente compacto, entende-se que toda a sequência extraída do
conjunto possui uma subsequência convergente.

Exemplos:
● O conjunto A = [ 1, 5 ] é limitado e fechado e portanto é compacto.

● O conjunto R0+ é fechado mas não é limitado e portanto não é compacto.

● O conjunto B = [ − 1, 4 [ U { 6 } é limitado mas não é fechado e portanto não é


compacto.

Definição 20. Dois conjuntos A, B ⊂ R dizem-se separados se cada um deles esta


contido no exterior do outro, isto é, A ⊂ ext ( B ) ∧ B ⊂ ext ( A) .
Notamos que:
A ⊂ ext ( B) ∧ B ⊂ ext ( A) ⇔ AI B = ∅ ∧ BI A = ∅:

Definição 21. Um conjunto A ⊂ R diz-se conexo se não é reunião de dois conjuntos


separados e diz-se desconexo se pode ser representado como reunião de dois conjuntos
separados.

17
Matemática 1 Anatolie Sochirca ACM DEETC ISEL

Exemplos:
1) Seja A = [ 1, 5 ] e B = [ 7 , 15 ] .
Neste exemplo facilmente obtemos que
A = [ 1, 5 ] ⊂ ext ( B ) = ] − ∞ , 7 [ U ]15 , + ∞ [ ∧
B = [ 7 , 15 ] ⊂ ext ( A) = ] − ∞ , 1 [ U ] 5 , + ∞ [.

Ou porque A = [ 1, 5 ] , B = [ 7 , 15 ] e A = A, B = B temos

AI B = ∅ ∧ B I A = ∅.
Portanto neste exemplo A = [ 1, 5 ] e B = [ 7 , 15 ] são separados e o conjunto
C = A U B é desconexo.

2) Seja A = [ 1, 5 ] e B = ] 5 , 15 ] .
Neste exemplo facilmente obtemos que
A = [ 1, 5 ] ⊄ ext ( B ) = ] − ∞ , 5 [ U ]15 , + ∞ [ ∧
B = ] 5 , 15 ] ⊄ ext ( A) = ] − ∞ , 1 [ U ] 5 , + ∞ [.

Ou porque A = [ 1, 5 ] , B = ] 5 , 15 ] e A = A, B = [ 5 , 15 ] temos

A I B = { 5 }∧ B I A = ∅ .

Portanto neste exemplo A = [ 1, 5 ] e B = ] 5 , 15 ] não são separados e o conjunto

C = A U B = [ 1, 15 ] é conexo.

3) Seja A = [ 1, 5 [ e B = ] 5 , 15 ] .
Neste exemplo facilmente obtemos que
A = [ 1, 5 [ ⊂ ext ( B ) = ] − ∞ , 5 [ U ]15 , + ∞ [ ∧
B = ] 5 , 15 ] ⊂ ext ( A) = ] − ∞ , 1 [ U ] 5 , + ∞ [.

Ou porque A = [ 1, 5 [ , B = ] 5 , 15 ] e A = [ 1, 5 ], B = [ 5 , 15 ] temos

AI B = ∅ ∧ B I A = ∅.

Portanto neste exemplo A = [ 1, 5 [ e B = ] 5 , 15 ] são separados e o conjunto

C = A U B = [1, 5 [ U ] 5 , 15 ] não é conexo.

18

Você também pode gostar