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Área Conhecimento em Algoritmos e Teoria DCC/UFMG Fundamentos de Teoria da

Computação 2021/1

SOLUÇÃO DE LISTA DE EXERCÍCIOS


Lista 0 - Parte 1
(Conceitos Fundamentais: Terminologia, Técnicas de Demonstração, Enumerabilidade)

Leitura necessária:
• Introdução à Teoria da Computação, 2a Edição (Michael Sipser):
– Capı́tulo 0.1: Autômatos, Computabilidade e Complexidade
– Capı́tulo 0.2: Noções e Terminologia Matemáticas
– Capı́tulo 0.3: Definições, Teoremas e Demonstrações
– Capı́tulo 0.4: Tipos de Demonstrações
• Material suplementar:
– Conjunto de slides: Aula 0.1 - Terminologia, Técnicas de Demonstração, Enumerabilidade.

Revisão.
1. Responda formalmente às seguintes perguntas:

(a) O que é um conjunto enumerável ?

Solução do professor: Um conjunto enumerável é aquele para o qual se pode encontrar uma
bijeção entre seus elementos e o conjunto dos números naturais.

(b) Dê dois exemplos de conjuntos infinitos que sejam enumeráveis, e dois exemplos de conjuntos
infinitos que não sejam enumeráveis.

Solução do professor: O conjunto dos inteiros é infinito e enumerável. O conjunto dos ra-
cionais é infinito e enumerável. O conjunto (0, 1), os reais no intervalo aberto de 0 a 1, é não-
enumerável. O conjunto dos números complexos é não-enumerável.

Exercı́cios.
2. (Sipser 0.7) Para cada item, dê uma relação que satisfaça as seguintes condições.

a) Reflexiva e simétrica, mas não transitiva.

Solução do professor: Considere uma relação R sobre o conjunto de todas as pessoas que já
comeram pizza tal que xRy se, e somente se, x e y já dividiram uma pizza. A relação é reflexiva
(todo mundo que comeu pizza já dividiu uma pizza consigo mesmo), simétrica (se x dividiu uma
pizza com y, então y dividiu uma pizza com x), mas não é transitiva (eu já dividi uma pizza com
minha mãe, e minha mãe já dividiu uma pizza com meu avô, mas eu nunca dividi uma pizza com
meu avô).

b) Reflexiva e transitiva, mas não simétrica.

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Solução do professor: A relação de menor ou igual ≤ sobre os números reais é reflexiva (todo
real é menor ou igual a si mesmo), transitiva (se x ≤ y e y ≤ z, então x ≤ z, para todo x, y, z ∈ R),
mas não é simétrica (tome 3 ≤ 5, mas 5 6≤ 3).

c) Simétrica e transitiva, mas não reflexiva.

Solução do professor: Considere uma relação R sobre os reais tais que xRy se, e somente se,
xy > 0. A relação é simétrica (se xy > 0 então yx > 0), transitiva (se xy > 0 e yz > 0, então
xz > 0, pois x, y e z nesse caso devem ter todos o mesmo sinal), mas não é reflexiva (o número 0
não se relaciona a si mesmo).

3. Use uma demonstração direta para mostrar que o produto de dois números ı́mpares é ı́mpar.

Solução do professor: Sejam m e n dois inteiros ı́mpares. Então existem inteiros k e k 0 tais
que m = 2k + 1 e n = 2k 0 + 1. Assim, podemos calcular o produto mn = (2k + 1)(2k 0 + 1) =
4kk 0 + 2k + 2k 0 + 1 = 2(2kk 0 + k + k 0 ) + 1. Como 2kk 0 + k + k 0 é também um número inteiro, podemos
concluir que mn é ı́mpar, pois trata-se do dobro de um inteiro mais um.

4. Use uma demonstração por contradição para mostrar que a soma de um número irracional e um
número racional é irracional.

Solução do professor: Seja i um número irracional e r um número racional. Como r é racional,


existem inteiros p e q tais que r = p/q.
Por contradição, assuma que a soma i + r é racional. Neste caso, existiriam inteiros x e y tais que
i + r = x/y, ou seja, i = x/y − r. Mas como r = p/q, terı́amos i = x/y − p/q = (qx−py)/(qy). Note que
como tanto qx − py quanto qy são inteiros, isso significaria que i = (qx−py)/qy seria racional. Mas
isto contradiz a nossa hipótese de que i é irracional. Como chegamos a uma contradição, devemos
concluir que a hipótese de que a soma i + r é racional está errada, e, portanto, a soma deve sempre
ser irracional.

5. Demonstre que 1 · 1! + 2 · 2! + · · · + n · n! = (n + 1)! − 1, para n ≥ 1. Use indução matemática.

Solução do professor: Por indução.

Passo base.

1 · 1! = (1 + 1)! − 1

Passo indutivo.

1 · 1! + · · · + n · n! + (n + 1) · (n + 1)! = (n + 1)! − 1 + (n + 1) · (n + 1)! (pela hipótese de indução)


= (1 + (n + 1))(n + 1)! − 1
= ((n + 1) + 1)! − 1

6. Demonstre que 5 divide n5 − n sempre que n é um inteiro não-negativo. Use indução matemática.

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Solução do professor: Por indução.

Passo base. 5 divide 05 − 0 = 0.

Passo indutivo. Assumimos como hipótese de indução que para um n arbitrário, n5 − n = 5k para
algum k inteiro. Logo, para n + 1 teremos:

(n + 1)5 − (n + 1) = (n5 + 5n4 + 10n3 + 10n2 + 5n + 1) − (n + 1) (produto notável)


= (n5 − n) + (5n4 + 10n3 + 10n2 + 5n) (reagrupando parecelas)
4 3 2
= 5k + 5(n + 2n + 2n + n) (pela hip. de indução)
4 3 2
= 5(k + n + 2n + 2n + n) ,

de onde concluı́mos que (n + 1)5 − (n + 1) também é divisı́vel por 5.

7. Determine se cada um dos conjuntos abaixo é enumerável ou não. Para aqueles enumeráveis, exiba
uma enumeração mostrando os 10 primeiros elementos.

(a) os inteiros maiores do que 10;

Solução do professor: Enumerável: 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, . . .

(b) os inteiros ı́mpares negativos;

Solução do professor: Enumerável: −1, −3, −5, −7, −9, −11, −13, −15, −17, −19, . . .

(c) os números reais entre 0 e 2;

Solução do professor: Não-enumerável: o intervalo não-enumerável (0, 1) está contido neste


conjunto.

(d) os inteiros múltiplos de 10.

Solução do professor: Enumerável: 0, 10, −10, 20, −20, 30, −30, 40, −40, 50, . . .

8. Dê um exemplo de dois conjuntos não-enumeráveis A e B tais que A ∩ B seja:

(a) Finito.
(b) Infinito enumerável.
(c) Não-enumerável.

Solução do professor: Nesta questão, a notação (a, b) indica o intervalo real aberto começando em
a ∈ R e terminando em b ∈ R.

(a) A = (1, 2), B = (3, 4), A ∩ B = ∅ é finito.


(b) A = (1, 2) ∪ Z, B = (3, 4) ∪ Z, A ∩ B = Z é infinito enumerável.
(c) A = (1, 3), B = (2, 4), A ∩ B = (2, 3) é não-enumerável.

9. Mostre que o conjunto Z × Z é enumerável.

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Solução do professor: Podemos enumerar os elementos de Z × Z conforme o quadro abaixo. Cada
linha do quadro corresponde a um elemento de Z, e cada coluna também corresponde a um elemento
de Z, de forma que cada célula do quadro corresponde ao par ordenado formado pela linha e coluna
correspondentes. Os cı́rculos representam uma enumeração possı́vel dos elementos de Z × Z.

Z×Z 0 1 −1 2 −2 3 −3 ...

0 (0, 0) 1 (0, 1) 2 (0, −1) 4 (0, 2) 7 (0, −2) 11 (0, 3) 16 (0, −3) 22 ...
1 (1, 0) 3 (1, 1) 5 (1, −1) 8 (1, 2) 12 (1, −2) 17 (1, 3) 23 (1, −3) . . . ...
−1 (−1, 0) 6 (−1, 1) 9 (−1, −1) 13 (−1, 2) 18 (−1, −2) 24 (−1, 3) . . . (−1, −3) . . . ...
2 (2, 0) 10 (2, 1) 14 (2, −1) 19 (2, 2) 25 (2, −2) . . . (2, 3) . . . (2, −3) . . . ...
−2 (−2, 0) 15 (−2, 1) 20 (−2, −1) 26 (−2, 2) . . . (−2, −2) . . . (−2, 3) . . . (−2, −3) . . . ...
3 (3, 0) 21 (3, 1) 27 (3, −1) . . . (3, 2) . . . (3, −2) . . . (3, 3) . . . (3, −3) . . . ...
−3 (−3, 0) 28 (−3, 1) . . . (−3, −1) . . . (−3, 2) . . . (−3, −2) . . . (−3, 3) . . . (−3, −3) . . . ...

Uma solução alternativa é produzir a seguinte enumeração, em que as tuplas são ordenadas de acordo
com a soma dos módulos de suas coordenadas:

(0, 0),
(0, 1), (0, −1), (1, 0), (−1, 0),
(0, 2), (0, −2), (1, 1), (1, −1), (−1, 1), (−1, −1), (2, 0), (−2, 0),
(0, 3), (0, −3), (1, 2), (1, −2), (−1, 2), (−1, −2), (2, 1), (2, −1), (−2, 1), (−2, −1), (3, 0), (−3, 0),
(0, 4), (0, −4), (1, 3), (1, −3), (−1, 3), (−1, −3), (2, 2), (2, −2), (−2, 2), (−2, −2), (3, 1), (3, −1), . . .

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