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Leitura do Texto: Sl 126

Oração:
Introdução: Você sabe o que é a incredulidade alegre?
Talvez nesses termos você não saiba ao certo ao que me
refiro, mas talvez já tenha passado pela experiência de desejar
muito determinada coisa, ou alguém, e após concretizado, ou
obtido o desejo, não acreditar que isso realmente aconteceu,
ou está acontecendo. Imagine as seguintes situações: a)
Aquele devedor, que tinha um débito de anos com você, que
nem satisfação mais lhe dava, que não atendia as suas
ligações, de maneira inesperada vem a quitar o débito, ou
então; b) aquela causa na justiça que você esperava a
resolução a anos, que já não tinha mais nenhuma esperança,
de forma inesperada é resolvida, lhe trazendo alegria, ou
então c) a situação do jovem garoto que nutre um amor
platônico por uma bela moça, e ao se declarar para ela
inesperadamente recebe reciprocamente o seu amor, d) o
sonho da casa própria, aos mais humildes, ou no caso das
crianças do passado e dos dias de hoje, a aquisição daquele
brinquedo, ou videogame de última geração...
O vocabulário da incredulidade alegre é: “eu não acredito”,
“será isso mesmo que os meus olhos estão vendo?”, “eu acho
que estou sonhando”, “não, isso não pode ser verdade”, “isso
só pode ser um sonho”. Essas palavras traduzem o que é ficar
como quem sonha, diante de algo que trouxe uma inesperada
alegria ao coração. Porém, depois de passada a alegria pelo
objeto desejado, a vida torna-se rotineira, facilmente nos
esquecemos, que conseguimos aquilo tanto almejávamos, e a
alegria já não é mais a mesma do passado, ou pelo menos não
é mais vista com a mesma intensidade.
Isso traduz perfeitamente o sentimento do povo de Deus ao
ser libertado do cativeiro babilônico, eles ficaram sem
acreditar na restauração operada pelo Senhor, no entanto, após
o retorno às atividades normais da vida, após o retorno do
cativeiro, a alegria não era mais a mesma, a vida voltara ao
normal, e a restauração do cativeiro não era mais motivo para
ficar como quem sonha.

Elucidação:
 Não pode haver dúvida de que a experiência no exílio foi
algo amargo para o povo de Deus (cf. SI 137). Mas a
restauração à pátria trouxe intensa alegria. Embora o
povo não pudesse cantar em Babilônia (SI 137.1-6),
quando foram trazidos de volta a Judá entoaram
"cânticos de alegria" (v. 2). Este salmo de romagem
(salmo de peregrinação) expressa a maravilha do que
Deus fizera por seu povo. Essa coletânea de 15 salmos
antecipa vividamente o movimento do povo de Deus em
direção ao foco permanentemente estabelecido de seu
culto no Monte Sião, em cumprimento da promessa
pactual de Deus a Davi sobre uma morada permanente
para a casa de Deus. Cada um desses salmos é intitulado
“salmo de romagem. A frase foi interpretada como se
referindo aos 15 degraus que levavam ao templo em
Jerusalém, a uma conexão literária que se move passo a
passo pelos 15 salmos ou à subida dos peregrinos a
Jerusalém.

 O pano de fundo do texto é a história da redenção,


operada por Deus, em favor do seu povo. O Senhor
criou todas as coisas, para o seu próprio louvor e glória,
no entanto a coroa da sua criação, o homem, se rebelou
contra ele, e decidiu deliberadamente desobedecer à sua
ordem; a isso chamamos de QUEDA. Mas para resolver
o problema do pecado, o Senhor, escolhe um homem, e
decide dele criar um povo para si, para que esse povo
viva como uma comunidade de contraste. Após a criação
do seu povo, Deus estabelece a forma de relacionamento
entre ele e os seus eleitos, a isso chamamos
ALIANÇA/PACTO.

 Esse povo seria abençoado se o obedecesse em amor,


mas também seria disciplinado caso decidisse
deliberadamente desobedecer aos termos da aliança.
Apesar do Senhor ser um Deus gracioso, e
misericordioso, ainda sim o seu povo decidiu
desobedece-lo, e foi escravizado, levado cativo pelo
próprio Deus para uma terra estranha (EGITO). Mas, o
próprio Deus, o legislador da aliança, decide ter
misericórdia do povo do pacto, e os tira do cativeiro do
Egito, levando-os para uma terra abençoada e prometida
por ele. A promessa era de que o Senhor os abençoaria
naquela terra, se eles permanecessem em obediência aos
mandamentos do Pacto. No entanto esse povo
constantemente se rebelava contra o Senhor; foi assim
no período dos juízes, quando o povo vivia ciclos de
renovação e apostasia, vivendo em idolatria, e em
associação com os povos pagãos. Foi também assim
após a instituição de ISRAEL como uma nação cívica
(isso só se deu por insistência do povo de buscarem ter
reis, e rejeitarem o reinado do próprio Deus). A dureza
do coração do povo de Deus era tamanha, que o Senhor
permitiu a divisão da nação, em reino do norte e reino do
sul. O reino do sul (Judá) fica com a capital, com o
templo, já o Reino do norte (Israel) com os outros
territórios. A narrativa bíblica nos mostra que a dureza
do coração dos filhos do reino do norte era tão grande
que o Senhor levanta os pagãos para destruírem o seu
próprio povo. Em 722 AC os assírios enviados pelo
Senhor dizimam o reino do norte. A tática era espalhar o
povo de Deus, para que eles fossem enfraquecidos
culturalmente e politicamente, em não tivessem mais
força de se unirem como uma nação organizada para
lutarem contra os opressores. Mas à 30 Km dali o
Senhor continuará a preservar o remanescente fiel, o
reino do Sul, Judá.

 No entanto o remanescente, seguindo o mesmo padrão


do reino do norte, se desvia dos caminhos do Senhor,
caindo nas mesmas práticas daqueles que foram
aniquilados pelo Senhor. Nem mesmo a mensagem de
juízo dos profetas, fora suficiente para trazer todo o povo
ao arrependimento, e assim o próprio Deus, aplica a
disciplina da ALIANÇA, ENTREGANDO O SEU
POVO aos pagãos (BABILÔNIA) como cativos. Mas o
próprio Deus, por intermédio dos profetas, anuncia QUE
CHEGARIA O DIA DA RESTAURAÇÃO DO SEU
POVO. Após 70 anos de cativeiro o PRÓPRIO DEUS
INICIA A EXPATRIAÇÃO DO SEU POVO, pois Judá
não tinha líderes políticos influentes, nem mesmo
exército capaz de iniciar uma luta contra o povo que os
oprimia. Então o próprio Deus utiliza do rei CIRO, como
instrumento seu para iniciar a RESTAURAÇÃO do seu
povo, o retorno do exílio para a terra do povo de Deus. A
tática política dos medos e persas era outra, eles
achavam que se os povos que estavam sobre o seu
domínio voltassem para as suas terras eles seriam mais
felizes, e consequentemente mais produtivos, logo o seu
Reino arrecadaria mais, e seria mais forte. Assim, em sua
soberania Deus utiliza os povos pagãos para
disciplinarem as nações que assolaram o povo de Deus,
e para iniciarem a restauração e a volta do seu povo à
Jerusalém. A verdade central diante de tudo isso é que
só o próprio DEUS RESTAUROU, E continua a
RESTAURAR O SEU POVO. Ele utiliza dos meios que
ele quer para fazer o seu povo entender que o melhor é
viver debaixo da ALIANÇA.

 Proposição: O Deus do PACTO/ALIANÇA restaura


o seu povo.
 Pergunta de Transição: Qual é o tipo de restauração
que Deus opera pelo seu povo? Esse Salmo nos ensina
a partir de dois movimentos, pelo menos duas
maneiras de como o Senhor opera na restauração do
seu povo. São Elas:

1. Ele opera restaurando completamente o seu


povo da escravidão/do cativeiro. (1-3)
 Seguindo o decreto de Ciro em 537 a.e, alguns dos
exilados em Babilônia voltaram a Jerusalém. O
fundamento do segundo templo fora lançado com uma
mistura de pranto e alegria (Ed 3 .13). Deus havia
escolhido a Ciro para este exato propósito (ver Is 44.24,
45.7), e através dele efetuou o regresso do povo.

 A referência a ficar como quem sonha descreve o êxtase


do povo no que acontecera, ou, mais provavelmente, à
sua condição enquanto ainda em Babilônia. Eles
sonhavam com o regresso, estimulados pelas profecias
relativas à sua redenção; (Ez 36.24; 37.1-14). O efeito
foi que a tristeza e as sombras do exílio foram
substituídas por riso e cânticos. Isto está em
conformidade com as descrições proféticas de como a
restauração ocorreria (ver Is 49.8-13; 52.8-10).

 Além do efeito sobre o povo de Deus, o regresso


também teve o efeito sobre as nações vizinhas. Isaías
falara do povo de Deus como suas testemunhas (ls 43. l
0-13; 44.8). Agora se proclamava às nações o que
acontecera. A explicação era: "O SENHOR os tem
tratado magnificamente." Esta mesma confissão foi feita
pelos que regressavam, que com base na experiência
pessoal testificavam do poder redentor de Deus. A
manifestação do poder salvífico de Deus no êxodo
egípcio e regresso do exílio babilônico foi preparatória
de uma exibição ainda maior na vinda e obra de Jesus.

Aplicações
 Assim como o senhor redimiu o seu povo
restaurando-o a sorte, de igual modo fez conosco,
nos libertando da condenação do pecado. Nós já
nascemos escravos da ira dele, mas pela sua graça e
misericórdia ele nos libertou do império das trevas,
nos transportando para o reino do filho do seu amor
(Cl 1.13). Ele enviou o seu filho para salvar o seu
povo dos seus pecados (MT 1.21). Sendo assim só ele
tem poder para libertar os ainda cativos, e os fazer
regressar ao verdadeiro lar.
 Entenda, você é um peregrino no caminho. Viva
como tal. A vida aqui nesse mundo não impede que
compremos terrenos, e que planejemos a nossa vida
neste mundo. No entanto precisamos compreender
que aqui somos estrangeiros. A babilônia poderá nos
trazer inúmeros atrativos (A nossa cultura está
permeada de ídolos), mas nenhum deles satisfará o
anseio que temos pelo nosso lar. Podemos até adotar
uma postura de cooperação (Daniel, sadraque,
mesaque e abdenego), mas entendamos que o nosso
verdadeiro lar é os céus.

 A restauração operada em nós precisa ser um


modelo de vida restaurada aos que estão ao nosso
redor. As nossas vidas precisam necessariamente
refletir o tipo de restauração que Deus pode operar
nos homens. Para que saibam que existe um Deus nos
céus e glorifiquem a Deus. e a glória de Deus sobre
nossas vidas Mt 5.16.

 Pergunta de Transição: Qual é o tipo de


restauração que Deus opera pelo seu povo?

2. Nos fazendo entender a necessidade de


restauração/renovação contínua. (Aspectos do já
e o ainda não) (4-6)

 O salmista roga para que o Senhor continue a restaurar o


povo de Deus, de modo que haja mais um ajuntamento
dos que ainda se encontram dispersos no exílio. A
segunda metade do versículo contém uma imagem da
poesia bíblica, que faz referência a um fenômeno bem
conhecido, as enchentes súbitas no Neguebe (a parte sul
de Israel, onde o deserto seco imprevisivelmente era
inundado por cachoeiras de águas, fazendo de um lugar
árido, um lugar propício para o florescimento). A
imagem das torrentes nos ensina que a restauração do
senhor é :IMPREVISÍVEL; REPENTINA;
INCONTROLÁVEL; SOBERANA. O Salmista está
nos ensinando a clamarmos por renovação contínua
da parte de Deus, e ele certamente ouvirá o nosso
clamor.

 O salmista busca com a imagem da semeadura e da ceifa


mostrar que, os que confiam verdadeiramente no
senhor, mesmo ao semearem em tempos de seca
poderão confiar na ceifa que provém do Senhor. As
lágrimas são uma referência à semeadura em tempos
difíceis, mas mesmo assim o Senhor é quem garante a
ceifa e a alegria vindoura do seu povo. Ele faz um
retrospecto das lágrimas anteriores que foram
substituídas pela alegria.
Aplicações
 Assim como o salmista clamava por restauração
contínua pós exílio, nós também devemos fazer o
mesmo. Apesar de libertos do cativeiro babilônico, nós
ainda temos os resquícios da babilônia. (ídolos da nossa
cultura; pornografia, sexo fora do casamento, ideologias,
falsas promessas da nossa cultura) Devemos clamar ao
senhor para que diariamente converta o nosso coração
dos resquícios da babilônia. Assim como o povo de
Deus ao peregrinar ainda estava sob a ameaça dos povos
pagãos, nós também estamos sob a ameaça dos ídolos e
da cultura da babilônia, que constantemente nos
distancia dos preceitos da aliança.

 O Senhor nos convoca a confiar na sua providência, a


enxergarmos a história do povo de Deus como um
paradigma para todos nós. Como diz Kidner ao
comentar essa passagem, o Senhor convida-nos a tratar
os milagres do passado como medidas do futuro, a
vermos os lugares secos como rios em potencial; a
vermos a semeadura em grande labor, e lágrimas, como
prelúdio certo da ceifa.

Conclusão
 Esses dias li uma matéria da BBC brasil, que relatou que
um colecionador de arte da Espanha ficou surpreso com
a restauração mal feita de uma pintura do artista barroco
Bartolomé Esteban Murillo. O colecionador, que é de
Valência, pagou 1.200 euros para que o quadro fosse
limpo por um restaurador de móveis, segundo o site de
notícias espanhol Europa Press. Mas, apesar de duas
tentativas de consertá-lo, o quadro da Imaculada
Conceição ficou irreconhecível. O incidente fez
surgirem comparações com outras "restaurações"
recentes na Espanha. Em 2012, uma senhora tentou
restaurar um afresco de Jesus Cristo em sua igreja local,
que fica perto de Zaragoza. Ela tinha boas intenções,
mas nenhum conhecimento técnico em restauração.
Assim como as grandes obras de arte apenas podem
ser restauradas por indivíduos com conhecimento
técnico, também o é a nossa vida. Apenas o Senhor,
aquele que sempre promoveu a redenção e restauração
do seu povo, pode promover a verdadeira restauração
do seu povo, trazendo a nós a verdadeira esperança.

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