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CASTELLS, Manuel (1999) A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura -

Volume I: A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, Tradução de Roneide


Venancio Majer.

A TRANSFORMAÇÃO DO TRABALHO E DO MERCADO DE TRABALHO:


TRABALHADORES ATIVOS NA REDE, DESEMPREGADOS E TRABALHADORES COM
JORNADA FLEXÍVEL.

A Evolução Histórica Da Estrutura Ocupacional E Do Emprego Nos Países Capitalistas


Avançados O G7 De 1920 A 2005

Para o autor em qualquer processo de transição histórica, uma das expressões de


mudança e a transformação da estrutura ocupacional ou seja a transformação das
categorias ocupacionais e do emprego. O próprio pos-industrialismo detecta o
aparecimento de uma nova estrutura social a partir da mudança de produtos para
serviços, pelo surgimento de profissões administrativas e especializadas, pelo fim do
emprego rural e industrial e pelo aumento do conteúdo de informação no trabalho das
economias mais avançadas. Porem para o autor o problema e que essas formulações
trazem uma espécie de lei natural das economias e sociedades que devem seguir um
único caminho na trajetória da modernidade lideradas pela sociedade norte-
americana. O autor traz uma abordagem diferente já que ele enxerga uma variação
histórica de modelos de mercado de trabalho segundo as instituições, a cultura e os
ambientes políticos específicos de cada pais. Para isto ele examinou a evolução do
mercado de trabalho dos países do G-7 entre 1920 e 1990. Todos eles estão num
estagio avançado de transição a sociedade informacional logo podem ser vistos com o
surgimento de novos modelos de mercado de trabalho; ao mesmo tempo possuem
cultura e sistemas institucionais muito diferentes o que nos permite, segundo o autor,
verificar a dita variação histórica. A partir desta analise o autor conduz a sua pesquisa
no sentido de mostrar que outras sociedades em outros níveis de desenvolvimento
não necessariamente teriam que seguir a trajetória dos países do G-7.

O pos-industrialismo, a economia de serviços e a sociedade informacional

O autor analisa e faz ressalvas a três afirmações da teoria clássica do pos-


industrialismo:

(a) A fonte de produtividade reside na geração de conhecimento mediante o


processamento de informação

(b) A atividade econômica mudaria de produção de bens pra prestação de


serviços. Quanto mais avançada a economia, mais seu mercado de trabalho e
sua produção seriam concentrados em serviços.

(c) A nova economia aumentaria sobremaneira a importância de profissões


com grande conteúdo de informação: Administrativas, especializadas e
técnicas.
Para o autor a distinção entre as economias dentro do processo histórico deve ser
visto não como a distinção entre uma economia industrial e uma pos-industrial, mas
entre duas formas de produção industrial, rural e de serviços baseadas em
conhecimentos. Em outras palavras o conhecimento sempre foi e será imprescíndivel
na evolução das economias o que acontece e que o seu uso em diferentes épocas gera
diferentes processos econômicos.

Ja a segunda afirmação (b), o autor rebate com o fato de que muitos serviços
dependem de conexão direta com a indústria e também com a importância da
atividade industrial no PNB dos países ricos.

Alem disso pra ele o conceito de serviços e ambíguo se não errôneo já que este
conceito abarca tudo o que não é agricultura, mineração, construção, empresas de
serviços publico ou industria. Além do que muitos processos cruciais da era da
informação não permite a distinção entre "bens" e "serviços agregados" como por
exemplo softwares, agropecuária com base em biotecnologia dentre outros.

O terceiro prognostico pos-industrialista requer segundo o livro alguma restrição na


medida em que simultâneo a esta tendência ha também o crescimento das profissões
em serviços mais simples e menos qualificados, profissões que teriam um crescimento
mais lento mas continuo.

Para Manuel Castells e preciso se fazer um exame mais aprofundado no conteúdo real
destas classificações antes de caracterizar o nosso futuro como uma republica da elite
instruída.

No entanto o argumento mais importante contra esta versão simplista do pos-


industrialismo e a critica a suposição de que as tres características examinadas se
unem na evolução histórica e que essa evolução leva a um modelo único da sociedade
informacional. E preciso separar o que pertence à estrutura da sociedade
informacional daquilo que é especifico a trajetória histórica de determinado pais.
Trabalhando nesta direção o autor compila diversos dados do setor de serviços dos
países ricos na tentativa de diferencia-los.

A transformação na estrutura do emprego - 1920-70 e 1970-90

De 1920-70 e 1970-90 podemos ter uma distinçao analitica entre os dois períodos
durante o primeiro período as sociedades em exame tornaram-se pos-rurais, enquanto
no segundo período elas tornaram-se pós-industriais. Ou seja houve queda do
emprego rural no primeiro caso e queda do emprego industrial no segundo.

Em seguida o autor faz uma analise na evolução histórica do setor de serviços nesses
países do G-7, essencial pra entendermos todo este processo.

Serviços relacionados à produção: São considerados estratégicos dentro da nova


economia fornecem informação e suporte para o aumento da produção, portanto, sua
expansão devera seguir de mãos dadas com o aumento da sofisticação e produtividade
da economia. E de fato nos dois períodos (1920-70 e 1970-90), observamos uma
expansão significativa do emprego nestas atividades em todos os países considerados.

Servicos sociais: Além de caracterizar as sociedades pos-industriais representa entre


1/5 e ¼ do total de empregos dos paises do G-7. Mas a sua expansao esta mais
relacionada ao impacto dos movimentos sociais do que ao advento do pos-
industrialismo, principalmente nos anos 60. No geral, podemos dizer que, embora o
alto nível de expansão do emprego em serviços sociais seja uma característica de todas
as sociedades avançadas, o ritmo dessa expansão parece depender mais diretamente
da relação entre o Estado e a sociedade do que do estágio de desenvolvimento da
economia.

Serviços de distribuição: combinam transportes e comunicações - atividades


relacionadas de todas as economias avançadas - com o comercio no atacado e a
varejo, atividades supostamente típicas do setor de serviços das sociedades menos
industrializadas. Igualmente ao serviços sociais, os serviços de distribuição
representam entre 1/5 e ¼ do total de empregos.

Serviços pessoais: Ao enfocar os empregos ligados a "bares, restaurantes e similares",


encontramos uma expansao significativa desses postos de trabalho nos ultimos vinte
anos. A principal observação a ser feita sobre o mercado de trabalho do setor de
servicos pessoais e que esses empregos não estao desaparecendo nas economias
avançadas. Portanto,e possivel afirmar que as mudanças da estrutura
social/economica dizem respeito mais ao tipo de serviços e ao tipo de emprego do que
as atividades em si.

Em resumo, para Manuel Castells, o que acontece com o pos-industrialismo e uma


diversidade cada vez maior de atividades que torna obsoletas as categorias de
emprego. Mas nao parece que grande produtividade, estabilidade social e
competividade internacional estejam diretamente associadas ao mais alto nivel de
emprego em serviços ou processamento de informaçao. Desse modo, quando as
sociedades decretam o fim do emprego industrial ao inves da modernizacao das
industrias, nao e porque necessariamente sao mais avançadas, mas porque seguem
políticas e estratégias específicas baseadas em seu pano de fundo cultural, social e
político.

A nova estrutura ocupacional

O autor ressalta alguns pontos importantes da nova estrutura ocupacional dentre eles
a diversidade do emprego, dentro deste fator uma ressalva importante e a variação da
proporçao da mao-de-obra semiqualificada no setor de serviços principalmente nos
EUA, Canada e na Alemanha, bem menor no Japao, Franca e Italia, países que de certa
forma preservam mais as atividades tradicionais como a rural e comerciais. Isso se
deve ao fato do modelo norte-americano caminhar para o informacionalismo
mediante a substituiçao das antigas profissoes pelas novas. O modelo japones tambem
caminha para o informacionalismo, mas segue um rota diferente: aumenta o número
de novas profissoes mas as antigas são redefinidas; ja os países europeus seguem um
misto das duas tendencias.

Por falar em tendencia uma certa aponta para o aumento do peso relativo das
profissoes mais claramente informacionais (administradores,profissionais
especializados e tecnicos), bem como das profissoes ligadas ligadas a serviços de
escritorio em geral (inclusive funcionários administrativos e de vendas).

Tendo primeiro falado da diversidade, Manuel Castells também aponta uma outra
tendência que é a maior presença de conteúdo informacional na estrutura ocupacional
das sociedades avançadas, apesar de seus sistemas culturais/sociais. Dessa forma o
perfil profissional das sociedades informacionais, de acordo com sua emergencia
historica, sera muito mais diverso que o imaginado pela visão seminaturalista das
teorias pós-industrialistas, direcionadas por um etnocentrismo norte-americano que
nao representa toda a experiencia dos Estados Unidos.

O amadurecimento da sociedade informacional: projeções de emprego para o seculo


XXI

O autor analisou os EUA e o Japão em termos de suas projeções de emprego e para os


EUA a estrutura futura do mercado de trabalho combina intimamente com o projeto
original da sociedade informacional:

.o emprego rural está sendo eliminado pouco a pouco

.o emprego industial continuara a declinar, embora em ritmo mais lento, sendo


reduzido aos elementos principais da categoria de artíficies e trabalhadores do setor
de engenharia. A maior parte do impacto da produçao industrial sobre o emprego sera
tranferida aos serviços voltados para a industria;

.Os serviços relacionados à produção, bem como à saude e educaçao lideram o


crescimento do emprego em termos percentuais, tambem se tornando cada vez mais
importantes em termos de numeros absolutos;

.os empregos dos setores varejista e de serviços continuam a engrossar as fileiras de


atividades de baixa qualificacao na nova economia.

Ja no caso do Japao, projeta-se um aumento impressionante no setor de serviços,


revelando o crescente papel das atividade que fazem uso intensivo de informaçao na
economia japonesa. Os dados tambem parecem indicar o aumento crescente da
profissionalizaçao dos trabalhadores de nível medio e a especializaçao das tarefas
relativas ao processamento da informaçao e a geraçao de conhecimentos. Pelas
projecoes as categorias de operadores e artíficies declinarão mas ainda representarão
mais de ¼ da forca de trabalho em 2005. Dessa forma as projecoes do mercado de
trabalho nos EUA e no Japão parecem continuar as tendências observadas para o
período de 1970-90. São nitidamente duas diferentes estruturas ocupacionais e do
emprego correspondestes a duas sociedades que podem ser igualmente rotuladas de
informacionais, mas com crescimentos bem distintos no crescimento da
produtividade , na competitividade econômica e na coesão social.

Em termos gerais, a hipotese generica de trajetos diversos para o paradigma


informacional dentro de um padrão comum de mercado de trabalho parece ser
confirmado pelo teste restrito das projeçoes apresentadas.

Ha uma forca de trabalho global?

Para o autor embora o capital flua com liberdade, o mesmo não acontece com a força
de trabalho mesmo havendo um mercado globalizado isto de deve muitas vezes a
fatores como xenofobia, cultura, política, dentre outros aspectos. Afirma ainda que no
ano de 1993 por exemplo apenas 1,5% da força de trabalho global atuou fora de seu
país que deste total, metade estava na Africa subsaariana e no Oriente Medio.

Segundo o livro, há de fato, um mercado global para uma fracao minuscula da forca de
trabalho composta por profissionais com a mais alta especializaçao. No texto o autor
apresenta diversos dados em diferentes paises e épocas mostrando que embora haja
problemas de imigração em diversos paises ricos, não significa que exista uma
globalizaçao da forca de trabalho. Contudo, afirma o autor, há uma tendência histórica
para a crescente interdependencia da forca de trabalho em escala global por
intermedio de tres mecanismos:

1. .emprego global nas empresas multinacionais;


2. .impactos da concorrência tanto no Norte quanto no Sul;
3. .e os efeitos efeitos dessa concorrência global e do novo metodo de
gerenciamento flexivel sobre a força de trabalho de cada pais. 

Em cada caso o papel exercido pela tecnologia da informaçao e o meio indispensavel


para as conexoes entre os diferentes segmentos da forca de trabalho nas fronteiras
nacionais.

Em cada um dos casos acima o autor traça as consequencias sobre a mao-de-obra


global dos investimentos de multinacinais e de capital em outros países. Assim,
embora nao haja um mercado de trabalho global unificado, ha na verdade,
interdependencia global da forca de trabalho na economia informacional.

O processo de trabalho no paradigma informacional

Na decada de 90, vários fatores aceleraram a tranformacao do processo de trabalho: a


tecnologia da computacao e suas aplicacoes, progredindo a passos gigantescos,
tornaram-se cada vez mais dispendiosas e melhores, com isso possibilitando sua
aquisicao e utilizacao em larga escala; 

a concorrencia global promoveu uma corrida tecnologica e administrativa entre as


empresas em todo o mundo; as organizacoes evoluiram e adotaram novas formas
quase sempre baseadas em flexibilidade e atuação em redes; os administradores e
seus consultores finalmente entenderam o potencial da nova tecnologia e como usa-la,
embora, com muita frequencia, restrinjam esse potencial dentro dos limites do antigo
conjunto de objetivos organizacionais (como aumento a curto prazo de lucros
calculados em base trimestral)

Assim, o livro afirma que no novo paradigma informacional de trabalho e mao-de-obra


não é um modelo simples, mas uma colcha confusa, tecida pela iteracao historica
entre tranformaçao tecnologica, política das relaçoes industriais e ação social
conflituosa.

Os efeitos da tecnologia da informaçao sobre o mercado de trabalho: rumo a uma


sociedade sem empregos?

A autor começa questionando a possibilidade de a difusao da tecnologia da informaçao


em fabricas, escritorios e serviços estar substituindo trabalhadores por maquinas.
Durante o capítulo ele mostra diversas pesquisas relatando esta situaçao, no caso
específico do setor automobilistico no Brasil, não foram encontrados efeitos da
tecnologia da informação sob o nível de emprego.

Já nos EUA, Japao e Sudeste Asiatico as pesquisas mostraram a destruiçao de


empregos e a criação de milhares de outros tendo um saldo positivo; enquanto que na
Uniao Europeia a tendendia não seja tao positiva assim, os efeitos varia de país pra
país. No Reino Unido por exemplo o efeito é desprezível.

Em resumo como tendência geral, não há relação estrutural sistematica entre a


difusão das tecnologias da informação e a evolução dos níveis de emprego na
economia como um todo. Empregos estão sendo extintos e novos empregos estão
sendo criados, mas a relação quantitativa entre as perdas e os ganhos varia entre
empresas, indústrias, setores, regiões e países em função da competitividade,
estratégias empresariais, políticas governamentais, ambientes institucionais e posição
relativa na economia global.

Manuel Castells conclui que o resultado específico da interação entre a tecnologia da


informação e o emprego depende amplamente de fatores macroeconômicos,
estratégias econômicas e contextos sociopolíticos.

O trabalho e a divisão informacional: trabalhadores de jornada flexível

As novas tecnologias da informação possibilitaram, ao mesmo tempo, a


descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa de
comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os andares de um
mesmo edifício. O surgimento dos métodos de produção enxuta segue de mãos dadas
com as práticas empresariais reinantes de subcontratação, terceirização,
estabelecimento de negócio no exterior, consultoria, redução do quadro funcional e
produção sob encomenda.
É neste contexto que o autor vê a atual divisão intenacional do trabalho, contexto em
que as intituições e organizações sociais de trabalho parecem desempenhar um papel
mais importante, (apesar de não parecer), que a tecnologia na causação da criação ou
destruição do emprego. 

O autor mostra dados de países do G-7 onde aponta pra uma maior flexibilidade no
atual cenário informacional, flexibilidade em termos de jornada de trabalho,
crescimento do trabalho autônomo, mobilidade geográfica, situação profissional,
segurança contratual e desempenho de tarefas.

E chega a uma conclusão importante que de modo geral há uma transformação do


trabalho, dos trabalhadores e das organizações de nossas sociedades e que
certamente a forma tradicional de trabalho com base em emprego de horário integral,
projetos profissionais bem delineados e um padrão de carreira ao longo da vida estão
extintos de forma lenta, mas indiscutível.

A tecnologia da informação e a reestruturação das relações capital-


trabalho:dualismo social ou sociedades fragmentadas ?

O autor faz uma introdução dizendo que o crescimento dos investimentos globais não
parece ser o causador destruidor de empregos no Norte, ao mesmo tempo em que
contribui para a criação de milhões de empregos nos países recém industrializados.
Todavia, o processo de transição histórica para uma sociedade informacional e uma
economia global é caracterizado pela deterioração generalizada das condições de
trabalho e de vida para os trabalhadores. Essa deterioraçào assume formas diferentes
nos diferentes contextos: aumento do desemprego estrutural na Europa; queda dos
salários reais; aumento da desigualdade, a instabilidade no emprego nos Estados
Unidos; subemprego e maior concentração de força de trabalho no Japão;
"informalização" e desvalorização da mão-de-obra urbana recém-incorporada nos
países em desenvolvimento; e crescente marginalização da força de trabalho rural nas
economias subdesenvolvidas e estagnadas. Para Castells essas tendências são
resultado da reestruturação atual das relações capital-trabalho, com a ajuda das
poderosas ferramentas oferecidas pelas novas tecnologias da informação e facilitadas
por uma nova forma organizacional: a empresa em rede.

E estas mesmas tendências apontam para uma maior desigualdade social onde ricos
ficam mais ricos e os pobres mais pobres assim estamos vivendo numa sociedade
dualizada com uma grande camada superior e também uma grande camada inferior,
crescendo em ambas as extremidades da estrutura ocupacional, portanto encolhendo
no meio, em ritmo e proporção que dependem da posição de cada país na divisão do
trabalho e de seu clima político. Mas, sem dúvida nenhuma - conclui o autor -, o
trabalho informacional desencadeou um processo mais fundamental: a desagregação
do trabalho, introduzindo a sociedade em rede.

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