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CASTELLS, Manuel (1999) A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura -

Volume I: A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, Tradução de Roneide


Venancio Majer.

A ECONOMIA E O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO

Introdução

Uma nova economia, informacional e global, surgiu nas duas últimas décadas. É
informacional, porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes
nessa economia dependem basicamente da sua capacidade de gerar, processar e
aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimentos. É global porque
as principais atividades produtivas estão organizadas em escala global, diretamente ou
mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É informacional e global
porque a produtividade é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de
interação.

Produtividade, competitividade e a economia informal

O enigma da produtividade

Foi por meio do aumento da produção por unidade de insumo no tempo que a raça
humana conseguiu comandar as forças da Natureza. Os caminhos específicos do
aumento da produtividade definem a estrutura e a dinâmica de um determinado
sistema econômico. Se houver uma nova economia informacional, deveremos
identificar as fontes de produtividade que distinguem essa economia.

O aumento da produção por hora de trabalho não era resultado de adição de mão-de-
obra e apenas ligeiramente de adição de capital, mas vinha de outra fonte, expressa
como um residual estatístico em sua equação da função de produção. Economistas,
sociólogos e historiadores econômicos não hesitaram em interpretar o "residual"
como sendo correspondente a transformações tecnológicas. Nas elaborações mais
precisas, "ciência e tecnologia" eram compreendidas em sentido amplo: a tecnologia
voltada para o gerenciamento foi considerada tão importante quanto o gerenciamento
da tecnologia. Afirmar que a produtividade gera crescimento econômico e que ela é
uma função da transformação tecnológica equivale a dizer que as características da
sociedade são os fatores cruciais subjacentes ao crescimento econômico, por seu
impacto na inovação tecnológica.

A produtividade baseada em conhecimentos é específica da economia informacional?

Demonstrou-se o papel fundamental desempenhado pela tecnologia no crescimento


da economia, via aumento da produtividade, durante toda a história e especialmente
na era industrial. A hipótese do papel decisivo da tecnologia como fonte da
produtividade nas economias avançadas também parece conseguir abranger a maior
parte da experiência passada de crescimento econômico, permeando diferentes
tradições intelectuais em teoria econômica.
Houve uma proporção significativa da desaceleração da produtividade, que é resultado
da crescente inadequação de estatísticas econômicas ao captarem os movimentos da
nova economia informacional, exatamente devido ao amplo escopo de suas
transformações sob o impacto da tecnologia da informação e das mudanças
organizacionais conexas.

Pode ser que a produtividade não esteja desaparecendo, e sim aumentando por vias
parcialmente obscuras em círculos em expansão. A tecnologia e o gerenciamento da
tecnologia poderiam estar se difundindo a partir da produção da tecnologia da
informação, telecomunicações e serviços financeiros, alcançando em grande parte a
atividade industrial e depois os serviços empresariais. Mas o quadro ainda é confuso,
pois no momento os dados são insuficientes para estabelecer uma tendência. Estes
podem servir de base para a compreensão da economia informacional, mas não
conseguem informar a história real.

Informacionalismo e capitalismo, produtividade e lucratividade

A longo prazo, a produtividade é a fonte da riqueza das nações. E a tecnologia é o


principal fator que induz a produtividade. Mas esta não é um objeto em si. E o
investimento em tecnologia também não é feito por causa da inovação tecnológica.
Empresas e nações são os verdadeiros agentes do crescimento econômico.
Comportam-se em um determinado contexto histórico, conforme as regras de um
sistema econômico. Assim, as empresas estão motivadas não pela produtividade, e sim
pela lucratividade. E as instituições políticas estarão voltadas para a maximização da
competitividade de suas economias, A lucratividade e a competitividade são os
verdadeiros determinantes da inovação tecnológica e do crescimento da produtividade.

O processo de globalização realimenta o crescimento da produtividade, visto que as


empresas melhoram seu desempenho quando encaram maior concorrência mundial. A
via que conecta a tecnologia da informação, as mudanças organizacionais e o
crescimento da produtividade passa pela concorrência global.

Foi desse modo que a busca da lucratividade pelas empresas e a mobilização das
nações a favor da competitividade induziram arranjos variáveis na nova equação
histórica entre a tecnologia e a produtividade. No processo, foi criada e moldada uma
nova economia global que pode ser considerada o traço mais típico e importante do
capitalismo informacional.

A repolitização do capitalismo informacional

Os interesses políticos específicos do Estado ficam diretamente ligados ao destino da


concorrência econômica das empresas. A nova forma de intervenção estatal na
economia une a competitividade, a produtividade e a tecnologia. A política e a
produtividade ficam interligadas, tornando-se instrumentos fundamentais para a
competitividade.
Por causa da interdependência e abertura da economia internacional, os Estados
devem empenhar-se em promover o desenvolvimento de estratégias em nome de seu
empresariado.

A economia informacional global é uma economia muito politizada, e a grande


concorrência de mercado em escala global ocorre sob condições de comércio
administrado. A nova economia, baseada em reestruturação sócio-econômica e
revolução tecnológica será moldada, até certo ponto, de acordo com os processos
políticos desenvolvidos no e pelo Estado.

A economia global: gênese, estrutura e dinâmica

Uma economia global é uma economia com capacidade de funcionar como uma
unidade em tempo real, em escala planetária. No final do século XX a economia
mundial conseguiu tornar-se verdadeiramente global com base na nova infra-
estrutura, propiciada pelas tecnologias da informação e comunicação. Essa globalidade
envolve os principais processos e elementos do sistema econômico.

As novas tecnologias permitem que o capital seja transportado de um lado para o


outro entre economias em curtíssimo prazo, de forma que o capital está
interconectado em todo o mundo. Os fluxos de capital tornam-se globais, e ao mesmo
tempo, cada vez mais autônomos vis-à-vis o desempenho real das economias.

A mais importante transformação subjacente ao surgimento da economia global diz


respeito ao gerenciamento da produção e distribuição e ao próprio processo
produtivo. O que é fundamental nessa estrutura industrial é que ela está disseminada
pelos territórios em todo o globo e sua geometria muda constantemente no todo e em
cada unidade individual. O mais importante elemento para uma estratégia
administrativa bem sucedida é posicionar a empresa na rede, de modo a ganhar
vantagem competitiva para sua posição relativa.

A mais nova divisão internacional do trabalho

A economia global resultante da produção e concorrência com base informacional


caracteriza-se por sua interdependência, assimetria, regionalização, crescente
diversificação dentro de cada região, inclusão seletiva, segmentação excludente e, em
conseqüência de todos esses fatores, por uma geometria extraordinariamente variável
que tende a desintegrar a geografia econômica e histórica.

A arquitetura e a geometria da economia informacional/global

A estrutura dessa economia caracteriza-se pela combinação de uma estrutura


permanente e uma geometria variável. A arquitetura da economia global apresenta
um mundo assimétrico interdependente, organizado em trono de três regiões
econômicas principais (Europa, América do Norte e região do Pacífico asiático) e cada
vez mais polarizado ao longo de um eixo de oposição , entre as áreas prósperas
produtivas e ricas em informação e as áreas empobrecidas, sem valor econômico, e
atingidas pela exclusão social. A interligação dos processos econômicos entre as três
regiões torna seu destino praticamente inseparável.

A mais nova divisão internacional do trabalho está disposta em quatro posições


diferentes na economia informacional/global: produtores de alto valor com base no
trabalho informacional; produtores de grande volume baseado no trabalho de mais
baixo custo; produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e os
produtores redundantes, reduzidos ao trabalho desvalorizado. A questão crucial é que
essas posições diferentes não coincidem com países. São organizadas em redes e
fluxos, utilizando a infra-estrutura tecnológica da economia informacional.

A posição da divisão internacional do trabalho depende das características de sua mão-


de-obra e de sua inserção na economia global. A mais nova divisão internacional do
trabalho está organizada com base em trabalho e tecnologia, mas é implementada e
modificada por governos e empreendedores.

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