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POR UMA LONGA IDADE MÉDIA

— Jacques Le Goff —

● “Idade Média” → conceito criado na metade do século XV pelos Renascentistas para opor os
“antigos” aos “modernos” → esta oposição, porém, já era antiga, tendo surgido na Alta Idade
Média → inicialmente era uma oposição neutra, mas se tornou cada vez mais valorizada → a
partir do fim do século XII, “moderno” ganhou a conotação de progresso e “combate ao
passado”.
● Século XVIII → periodização tripartida → “idade das trevas” → o Romantismo tenta
“reabilitar” a Idade Média e o positivismo ver nela um período como qualquer outro, mas os
estereótipos pejorativos prevalecem.
● “De início, e sempre no fundo do conceito de Idade Média, há pois o corte introduzido pelo
Renascimento.” (p. 36)
● “Os Renascimentos” → para Le Goff há vários renascimentos ao longo da história e estes
seriam característicos do período que vai da Antiguidade até quando a modernidade fora
plenamente assumida (século XIX) → Renascimento Carolíngio (VIII-IX), Renascimento do
século XII, o “grande” Renascimento italiano (XII-XIV) — que irá triunfar no resto da Europa
nos séculos XV-XVI —, os Renascimentos dos séculos XVIII-XIX. → O(s) Renascimento(s),
portanto, não assinalaria o fim da Idade Média, mas sim seria um fenômeno característico de
um longo período medieval.
● “Mas, de um modo mais geral, persistem na sociedade europeia, do século IV até o século
XIX, estruturas fundamentais que nos permitem captar a coerência desses quinze séculos.” (p.
38)
● “Nesta perspectiva, a Idade Média, assimilada ao feudalismo, desdobra-se entre a
Antiguidade, caracterizada pelo modo de produção escravista, e uns Tempos Modernos
definidos pelo modo de produção capitalista. Uma idade Média entre o fim do Império
Romano e a revolução industrial.” (p. 38)
● “Mas igualmente uma Idade Média marcada pela sua ideologia dominante, que não é
nem o reflexo de uma infra-estrutura material nem o motor idealista da sua história mas
sim uma das peças essenciais do seu funcionamento. Esta longa Idade Média é a do
cristianismo dominador, um cristianismo que é simultaneamente uma religião e uma
ideologia e que mantém, portanto, uma relação muito complexa com o mundo feudal
contestando-o e justificando-o ao mesmo tempo.” (p. 38)
● Reaparecimento, no Ocidente, do esquema trifuncional (Georges Dumézil) → oratores,
bellatores, laboratores (os que rezam, os que combatem e os que trabalham) → perdura até os
Três Estados da Revolução Francesa → após a Revolução Industrial se instala outra
trifuncionalidade: atividades primárias, secundárias e terciárias.
● Ponto de vista cultural → período entre o fim das escolas antigas e a escolarização geral do
século XIX → “(...) O tempo de uma lenta alfabetização, o período da crença no milagre, a era
do longo diálogo, entrecortado de lutas e de empréstimos, entre a cultura erudita e a cultura
popular.” (p. 39)
● A longa Idade Média pode ser dividida em períodos intermediários.
● Witold Kula → “(...) Cada época apresenta uma ‘coexistência de assincronismos’ porque as
diversas séries de fenômenos históricos estão sempre defasadas umas em relação às outras
(...).” (p. 40)
● Krzystof Pomian → sugere rejeitar toda e qualquer tentativa de periodização e usá-las como
suportes da explicação histórica.
● A longa Idade Média “faz com que se dissolva a oposição entre duas imagens, igualmente
falsas, da Idade Média restrita: uma imagem negra, que a identifica com a ‘idade das
trevas’, e uma imagem dourada, que faz dela um período idílico de fé religiosa, de
harmonia do corpo social, moldado nas corporações, e de florescimento de uma arte
maravilhosa nascida do povo.” (p. 40)
● “Esta longa Idade Média permite-nos captar melhor a ambição de uma época que foi, ao
mesmo tempo, a da fome, a das grandes epidemias, a dos pobres e a das fogueiras, mas
também a das catedrais e dos castelos, a que inventou a cidade, a universidade, o
trabalho, o garfo, os abafos de peles, o sistema solar, a circulação do sangue, a tolerância,
etc.” (p. 40)
● Uma história mais lenta, na qual a evolução das estruturas profundas conta mais do que a dos
acontecimentos.
● “Esta longa Idade Média permite-nos, enfim, responder melhor à expectativa de todos os que
hoje em dia mostram gosto pela Idade Média — na qual estão, a um tempo, as nossas raízes, o
nosso nascimento, a nossa infância mas que é também um sonho de vida primitiva e feliz de
que ainda mal saímos.” (p. 41)

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