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INFLUÊNCIA DA ADIÇÃO DE QUITOSANA NA RELAÇÃO ÁGUA/CIMENTO DE

ARGAMASSAS

Jéssica Caroline Zanette Barbieri (PG), Márcia Teresinha Veit (PQ), Carlos Eduardo Tino
Balestra (PQ), Soraya Moreno Palácio (PQ)
e-mail: jessica.barbieri@unioeste.br
Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Engenharias e Ciências Exatas/Toledo,
PR.
EIXO TEMÁTICO: Inovação tecnológica para questões ambientais

PALAVRAS-CHAVE: consumo de água; cimento; quitosana.

INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil está entre os setores-alvo da agenda global de
sustentabilidade lançados pela ONU em 2015, dentre os objetivos dessa agenda estão:
construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e
fomentar a inovação; e assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis (AJAYI et
al., 2017). A procura por materiais que tornem as estruturas mais resistentes e duráveis, a
gestão ecológica da água e a sustentabilidade em obras são importantes em todas as etapas da
concepção de um empreendimento. Entre os materiais utilizados como adições para reforço
do concreto estão os polímeros (LIU et al., 2015). Dentre os polímeros utilizados na
fortificação do concreto e argamassas, pode-se citar a quitosana, um biopolímero abundante
que é conhecido por melhorar algumas propriedades do material cimentício como o aumento
da viscosidade, redução da porosidade e melhora da resistência à compressão (OLIVIA et al.,
2018). Lasheras-Zubiate et al., (2012) verificaram que a adição de quitosana em argamassas
promoveu um aumento da viscosidade, diminuindo o tempo de trabalhabilidade da argamassa
fresca, além disso, a adição de quitosana nas argamassas causou uma diminuição das taxas de
hidratação do cimento em 50%. Além de atentar-se às alterações das propriedades que as
adições promovem às pastas cimentícias, argamassas ou concreto, é importante verificar como
essas adições impactam nos fatores ambientais, tal como o consumo de água na construção

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civil, neste sentido, ainda faltam estudos sobre os efeitos da adição de quitosana em
argamassas.
Diante do exposto, o objetivo deste artigo é apresentar uma análise do consumo de
água na produção de argamassas utilizando diferentes cimentos, traços e a adição de quitosana
em pó, demonstrando como essas variáveis afetam a relação água/cimento (a/c). Busca-se, a
partir deste estudo, aprofundar as discussões acerca do consumo de água na construção civil
quando utilizado adições.

MATERIAL E MÉTODOS

A influência da adição de quitosana no consumo de água para a fabricação de


argamassas foi avaliado utilizando a metodologia da determinação do Índice de consistência
de Argamassas conforme descreve a NBR 13276 de 2016. Para isso foram utilizado três tipos
de Cimento Portland (CP IV-RS e CP V- ARI da Marca Itambé e CP V-ARI-RS da Votoran),
quitosana em pó (da marca Polymar), areia previamente seca em estufa com dimensão
máxima característica de 1,19 mm e Cal Hidratada (Tancal). Para cada tipo de cimento, foram
avaliados dois diferentes traços, 1:3 (cimento : areia) e 1:2:6 (cimento : cal hidratada : areia),
v:v. Para cada traço foram avaliadas as concentração de quitosana de 0%, 1%, 2% e 3%
([massa de quitosana / massa de cimento]·100%). O índice de consistência da argamassa
corresponde à média das três medidas de diâmetro do espalhamento do molde tronco-cônico
original de argamassa obtida na mesa para índice de consistência, expressa em milímetros e
arredondada ao número inteiro mais próximo. Atingido o índice desejado de 255 ± 10 mm
para melhor trabalhabilidade da argamassa, anotou-se a quantidade de água utilizada e
calculou-se a razão de água e cimento (a/c) conforme a equação 1.

a massa de água ( g ) (1)


=
c massa de cimento ( g )

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Os resultados apresentados na Tabela 1 em conjunto com a Tabela 2 mostram que o
Tipo de cimento, os diferentes traços e a concentração de quitosana (%) influenciam na
quantidade de água utilizada na obtenção das argamassas a um nível de significância de 0,05.
Tabela 1 – Relações a/c obtidas para os diferentes traços para um índice de consistência de
255 ± 10 mm.
Cimento Traço Quitosana (%) Índice de a/c
Consistência
(mm)
0 256 ± 6 1,05
1 258 ± 2 1,12
CP IV-RS
2 256 ± 6 1,13
3 252 ± 3 1,15
0 257 ± 4 0,978
1:3 1 256 ± 1 1,05
CP VARI
2 251 ± 2 1,08
3 252 ± 3 1,18
0 260 ± 3 1,23
CP V-ARI- 1 254 ± 5 1,28
RS 2 252 ± 6 1,28
3 256 ± 1 1,27
0 257 ± 3 1,99
1 256 ± 6 2,35
CP IV-RS
2 250 ± 1 2,39
3 253 ± 4 2,45
0 260 ± 1 2,35
1 251 ± 3 2,30
CP V-ARI 1:2:6
2 247 ± 5 2,43
3 250 ± 3 2,40
0 257 ± 6 2,54
CP V-ARI- 1 251 ± 6 2,54
RS 2 248 ± 5 2,52
3 252 ± 4 2,60

Tabela 2 – ANOVA do efeito das variáveis Tipos de cimento, Traço e Quitosana (%) na
relação a/c.
SQ g.l QM Fcalc Ftab p
Intercepto 75,82 1 75,82 11580,98 4,45 <<0,05*
Tipo de Cimento 0,204 2 0,102 15,60 3,59 0,0001*

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Traço 9,45 1 9,453 1443,81 4,45 <<0,05*
Quitosana (%) 0,076 3 0,025 3,85 3,20 0,0285*
Erro 0,111 17 0,0065
SQ: Soma dos quadrados; g.l: graus de liberdade; QM: Quadrados médios; * Significativo em um nível de
significância de 0,05.
O Traço é a variável que apresentou um efeito mais significativo (9,45), nitidamente o
traço 1:2:6 demanda de uma maior a/c, mais que o dobro, para a obtenção da consistência
desejada devido à maior quantidade de material o que torna a argamassa mais rentável. A
presença de cal dá a argamassa uma maior trabalhabilidade, contribuindo para a eliminação da
água em excesso, porém, tende a produzir materiais menos resistentes (MENDES, de SOUSA
e BARBOSA, 2019). Foi verificado também que os diferentes tipos de cimento influenciaram
na quantidade de água necessária para a obtenção de um mesmo Índice de consistência da
argamassa, sendo que o CP IV-RS apresentou o menor consumo de água em relação aos CP
Vs. O CPV-ARI RS apresentou o maior consumo de água para os dois traços avaliados. Esse
fato deve-se aos Cimentos do tipo CP IV possuir 45-85% de clínquer+gesso, enquanto o
cimento CP V apresenta de 90 -100% clínquer+gesso (ABNT NBR 14725, 2014), além de o
CP V ser mais fino quando comparado ao CP IV. A finura apresenta relação direta com a
relação a/c, pois quanto menor a partícula, maior é a sua área superficial específica e, logo,
maior é a demanda do cimento por água (BERTIOLI et al., 2020). de Castro et al., 2011
analisaram o consumo de água utilizando diferentes tipos de cimento na fabricação de
concreto, dentre eles o CP V-ARI. Os autores observaram que, o CP V-ARI necessitou de
mais água para obtenção de uma consistência normal. A variável concentração de quitosana
(%), apesar de estatisticamente significativa (Tabela 2) apresentou o menor efeito (0,076) o
que significa que a adição do biopolímero não apresenta um efeito muito impactante no
consumo de água para a produção das argamassas na faixa de concentração até 3%, o que
pode ser verificado na Tabela 1. Lasheras-Zubiate et al., (2012) também verificaram que a
adição de quitosana em argamassas apresenta um efeito de diminuição do slump e um ligeiro
aumento de viscosidade, sendo este efeito dependente da concentração.

CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS


O presente estudo demonstrou que o tipo de cimento, o traço utilizado e a adição de
quitosana em argamassas influenciam no consumo de água na produção da mesma. O traço
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1:2:6 demanda mais que o dobro da água do traço 1:3, porém é mais rentável. A quitosana,
quando adicionada à pastas cimentícias ou concreto é conhecida por promover uma melhora
significativa nas propriedades físicas e mecânicas do material, porém a adição do biopolímero
aumenta a a/c das argamassas, apesar deste aumento não ser muito impactante na faixa de
concentração avaliada.

Agradecimentos: Agradecemos à Capes pelo auxílio financeiro (88887.473845/2020-00), à


Itambé e Votorantim pela doação dos cimentos.

REFERÊNCIAS
ABNT NBR 13276, Agamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos- Preparo
da mistura e determinação do índice de consistência, versão corrigida, 2016.

ABNT NBR 14725, Produtos químicos — Informações sobre segurança, saúde e meio
ambiente. Parte 4: Ficha de informações de segurança de produtos químicos (FISPQ), 2014.

AJAYI, S. O.; OYEDELE, L.; AKINADE, O.; BILAL, M.; ALAKA, H. A.; OWOLABI, H.
Optimising Material Procurement for Construction Waste Minimization: an exploration of
success factors. Sustainable Materials and Technologies, v. 11, p. 38-46, 2017.

BERTIOLI, A. M., FORTUNATO, M., MARTINS, B-H., CASALI, J. M., ROCHA, J. C.,
COLLODETTI, G. Efeito da composição granulométrica e da área superficial específica de
resíduos de polimento de porcelanato em argamassas autoadensáveis. Tecnologia das
Argamassas. Ambiente Construído, v. 20 (3), 2020.

de CASTRO, A. L.; LIBORIO, J. B. L.; PANDOFELLI, V. C. A influência do tipo de


cimento no desempenho de concretos avançados formulados a partir do método de dosagem
computacional. Cerâmica, v. 57, p. 10-21, 2011.

LASHERAS-ZUBIATE, M.; NAVARRO-BLASCO, I.; FERNANDEZ, J. M.; ÁLVAREZ, J.


I. Effect of the addition of chitosan ethers on the fresh state properties of cement mortars.
Cement and Concrete Composites, v.34(8), p. 964-973, 2012

LIU, H.; BU, Y.; SANJAYAN, J. G.; SHEN, Z. Effects of chitosan treatment on strength and
thickening properties of oil well cement. Construction and Building Materials, v. 75, p. 404-
414, 2015.

MENDES, Y. G. B.; de SOUSA, J. M.; BARBOSA, I. L. S. Influência da cal hidratada na


massa de concreto convencional. Journal of Engineering Technology, Innovation and
Sustainability, v. 1 (1), p. 17- 27, 2019.
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OLIVIA, M.; JINGGA, H.; TONIAND, N.; WIBISONO, G. Biopolymers to improve
physical properties and leaching characteristics of mortar and concrete: A review, Materials
Science and Engineering, v. 345, 2018.

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