Você está na página 1de 2

1

A violência na escola: a identificação com o agressor

A violência na escola reflete, em larga medida, o que se passa em nossa


sociedade. Crianças e adolescentes criados em um mundo violento terão a
tendência em replicar o que observam ao seu redor e, mais do que isto, a se
“identificar com o agressor”.

Dois pioneiros da Psicanálise, Sandor Ferenczi e Anna Freud, descreveram


um mecanismo psíquico descrito como a identificação com o agressor que
nos permite entender um aspecto – dos vários - envolvido nas atuações
violentas.

Anna Freud, a filha do criador da Psicanálise e ela também psicanalista,


recebeu, na década de trinta do século passado, em Viena, um adolescente
para avaliação e que apresentava tiques muitos curiosos na face e
ansiedade. A história da situação não revelava nenhum elemento que
permitisse uma compreensão da situação. Anna Freud se viu frente a um
enigma: o que estaria acontecendo?

Este adolescente vivia em um internato cujo diretor, um “bom professor”,


mas com fama de ser “exageradamente rigoroso”, era o responsável pelo
jovem e o acompanhava à consulta. Após avaliar o paciente, e sem ainda
entender a origem dos tiques, ela pediu ao professor que entrasse na sala.

Qual não foi a surpresa de Anna Freud quando ela pode perceber que os
tiques faciais do adolescente eram exatamente os mesmos que o “rigoroso
professor” apresentava! Ele havia se identificado (não esqueçamos que os
processos de identificação, tanto os positivos como os patológicos, são
extremamente importantes na adolescência) com os tiques do professor.

A partir de então e na observação de outros pacientes, retomando a idéia


original de Sandor Ferenczi, ela formulou o conceito de identificação com
o agressor. Este mecanismo se estabelece quando alguém se vê submetido
à violência (em suas diferentes formas) de outro e termina por se identificar
com aquele que exerce a violência, agindo como ele. Esta pode ser
considerada uma forma de defesa, transformando o que é vivido
“passivamente” em “ativo”: “...agora não sou eu a criança abusada, mas o
adulto que abusa!”. É reconhecido na clínica e na teoria como os pais de
crianças abusadas e ou negligenciadas em sua absoluta maioria foram
crianças que sofreram maus-tratos por parte de seus pais. É criada, desta
forma, uma transgeneracionalidade que se não tiver seus elos cortados
tenderá a se perpetuar através de gerações, tanto na família como na
cultura.
2

Uma criança violenta na escola, que com quatro ou cinco anos morde, por
exemplo, seus colegas, poderá levar os educadores a supor, com grande
margem de acerto, que esta criança sofre ou assiste a atos violentos (entre
os pais, na televisão, etc.).

Quando estamos em grupo somos capazes de revelar e exercer atitudes que


isoladamente não faríamos, como praticar a violência. Identificamo-nos
com situações familiares, da sociedade, ou de um líder negativo, e atuamos
coletivamente, sem pensar muito, imitando comportamentos inadequados.
Isto pode acontecer na escola? Neste caso é extremamente importante que
os adultos intervenham antes que os fatos se tornem mais graves e, por
conseqüência, mais difíceis de resolver. Quando escrevo “adultos” me
refiro aos professores e aos pais que são capazes de manter suas
identidades de “adultos”, sem se identificar, também, com estes
movimentos que acontecem com seus alunos...colocando limites, forma de
proteção das crianças e adolescentes.

Você também pode gostar