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Fichamento do Texto “Breve reflexão sobre o chamado estado regulador”

AVELÃS NUNES, António José (2007). Breve reflexão sobre o chamado estado
regulador. In Revista Seqüência (Vol. 54). (pg. 9 – 18)

Aluno: Guilherme Ribeiro Oliveira


DRE: 120176212

No texto analisado, António José Avelãs Nunes traz reflexões quanto as mudanças
ocasionadas pela ascensão das ondas de privatização da própria atividade reguladora do
Estado, que passa a renunciar de sua própria função reguladora, deixando-a, a cargo das
empresas reguladoras independentes. Demonstrando conflito visível com o modelo
garantista, intervencionista, na visão de um esvaziamento funcional.

Até a crise estagflacionária da década de 70, o modelo Keynesiano era o vetor


ideológico econômico, postulando o trade-off entre inflação e desemprego. Haveria uma
relação inversamente proporcional, em que no crescimento de um, caía o outro. Com a
eventual ascensão simultânea daqueles, o movimento foi criticado, e perdeu espaço para a
Escola Monetarista.

Apoiados pelos bancos centrais, que almejavam independência:

Reivindicando-se para eles a titularidade da política monetária e


a capacidade de decisão nesta área sem qualquer interferência dos
órgãos políticos legitimados democraticamente e sem qualquer
controlo por parte das instâncias do estado.(NUNES, 2007, p.10)

os monetaristas defendiam esse novo modelo neoliberal, centrado no


“esvaziamento das funções do estado keynesiano e aponta mesmo, nas versões
mais radicais, para a neutralidade da política econômica e, coerentemente, para a
morte da política econômica.”(NUNES, 2007, p.10 ) Este modelo torna-se
dominante, aumentando a rejeição à figura do Estado Interventor, que deixa o
controle da economia à estrutura do “livre mercado”, da “mão invisível”. Instrumento
dessa mudança são as privatizações.
Componentes essenciais dos direitos fundamentais, a garantia dos serviços
públicos gratuitos, prestados pela administração pública, visavam a satisfação das
necessidades coletivas, dando enfoque ao indivíduo, em detrimento do lucro. Logo,
sua função era de fornecer um serviço, que o mercado não conseguia oferecer: “o
acesso generalizado, a certeza da continuidade do seu fornecimento, a
qualidade do serviço, um preço acessível.”(NUNES, 2007, p.11)
Essa visão cede perante a ascensão neoliberal, que enxerga nesses
mercados, alto potencial de ganho econômico, evocando o desejo de privatização
desses serviços públicos. De maneira que, se fala em uma futura comercialização
de bens obrigatórios para a vida, como a água.
A privatização, entretanto não segue uma abordagem totalmente
desvinculada dos direitos dos indivíduos, pois as funções transferidas do Estado
para as empresas privadas, ainda mantêm alto grau de impacto social, devendo
assim, manter um nível de qualidade satisfatória. Dessa forma, como um meio de
“controle” das empresas privadas, surgem as entidades reguladoras independentes.
Segundo o autor, o pretexto de uma “economia de mercado regulada” é usado para
mascarar a evidente queda de influência do Estado Democrático de Direito, que
detêm menos poder político para cumprir com seus objetivos constitucionais, com o
evidente esvaziamento do Estado.
Às agências reguladoras caberiam a regulação do mercado, controle de
concorrência, proteção dos consumidores face a abusos, etc. Aspectos importantes
da atuação de uma empresa que realiza “obrigações de serviço público”.
Essa é a nova identidade do Estado regulador, que ainda se propõe a
delimitar atuação dos agentes econômicos, para proteger o interesse público.
Apesar de que essa identidade mascara uma ramificação da doutrina liberal.
Diminuindo o impacto exercido pela Máquina administrativa estatal na esfera
econômica-social. Essa é a tese defendida pelo autor, tendo em vista o foco na
composição independente das agências reguladoras, que regulam de forma livre,
“apolítica”, “meramente técnica”. Atuando como um foco de regulação essencial
para as empresas privadas, ao não se comprometer com as consequências de seus
atos, perante os efeitos políticos que esses geravam, demonstravam a fragilidade
da nova identidade do Estado “regulador”. Não havia prestação de contas, pilar
basilar da democracia, sendo assim, as próprias funções atribuídas as agências não
se viam balizadas pelos princípios democráticos.
Questiona Avelãs, quanto as implicações, de que o “sistema misto” é
suficiente para resolução dos problemas advindos do Estado Keynesiano. Para
além do elogio a desestatização, a ideologia dominante apontava para um equilíbrio
do mercado. Livre mercado, balanceado com a intervenção de uma entidade mais
capaz que o próprio Estado. Mas como uma entidade, composta por figuras
escolhidas por juízos políticos, sem a devida comprovação de excelência
técnica(Devido à neutralidade técnica ligada a essa função), independente,
soberana em suas funções, desconectada com as suas responsabilidades políticas,
pode corresponder com as pretensões almejadas pela estrutura democrática
garantista, que põem em foco a qualidade dos serviços prestados ao povo,
finalidade da própria constituição?

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