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5361 18094 1 PB
5361 18094 1 PB
Resumo
introdução de grandes superfícies impermeáveis no meio urbano
No que diz respeito à qualidade da água, observa- Verificando-se a degradação da qualidade da água
se que o aumento do escoamento superficial, ocasionada pelo excesso de escoamento superficial
ocasionado pelo processo de urbanização, provoca que “lava” os meios urbanos, carreando elevada
a sua degradação no meio urbano devido à carga poluidora para os leitos dos rios, nota-se que
lavagem das superfícies. Periago, Delgado e Díaz- a adoção de sistemas de drenagem na fonte em
Fierros (2002) afirmam que, apesar de a qualidade áreas edificadas pode ser uma alternativa para a
da água pluvial apresentar níveis distintos de solução de parte dos problemas existentes. Os
poluentes a cada nova precipitação e localização, poços de infiltração executados em áreas
em muitos casos os índices de contaminação são edificadas, além de contribuírem para a redução de
superiores ao do esgoto doméstico in natura. cheias urbanas, devido à redução do volume de
May e Prado (2004) analisaram durante um ano água descarregada no sistema público de
amostras coletadas de água de chuva precipitada drenagem, também contribuem para a melhora da
sobre o telhado de um dos blocos da Escola qualidade da água urbana, pois o volume infiltrado
Politécnica da Universidade de São Paulo. A geralmente não carrega a mesma carga poluidora
maioria das amostras apresentava elevado grau de das águas que escoam pelas vias urbanas.
contaminação bacteriológica, indicando presença
de coliformes totais em 89% das amostras. As Poços de infiltração de águas
análises bacteriológicas indicaram a presença de pluviais
bactérias como Clostrídium sp., Enterococcus sp. e
Pseudomonas aeruginosas. Essas bactérias podem A Figura 2 ilustra esquematicamente um poço de
colocar em risco a saúde de seres humanos, por infiltração de águas pluviais. O sistema consiste
ocasionar doenças como infecções intestinais e em um poço escavado no solo, revestido por tubos
urinárias, gastroenterites, gangrena gasosa e de concreto perfurados ou tijolos assentados em
enterite necrosante, entre outras. crivo, envoltos por uma manta geotêxtil fazendo a
interface solo/tubo, e fundo revestido por uma
Luca e Vasquez (2000), ao analisarem os padrões camada de agregados graúdos, também envolta por
físico-químicos da água pluvial na região geotêxtil, de forma a permitir a infiltração, para o
metropolitana de Porto Alegre, depararam-se com solo, do volume de água pluvial escoado para o seu
elevados teores de amônia, fosfato, cromo e interior.
mercúrio, que transformam a água pluvial em mais
uma fonte de contaminação dos recursos hídricos.
Nessa solução de drenagem na fonte, toda água de água na superfície do pavimento subsolo ou em
chuva captada pela edificação é lançada caixas de passagens.
inicialmente no poço de infiltração. Somente após
Além da preocupação com a altura de aterro, deve-
a diminuição da capacidade de absorção do solo e
se executar o poço de infiltração de modo que a
total enchimento do poço, a água passa a ser
sua tampa fique sempre abaixo do nível de fundo
lançada no sistema público de drenagem, por meio
das caixas de passagem localizadas no subsolo.
de extravasores do próprio poço de infiltração ou
Essa recomendação deve-se ao fato de a instalação
em uma caixa de passagem anterior ao sistema. A
de poços com tampa acima desse nível poder
Figura 3 ilustra esquematicamente um poço de
ocasionar a inundação das caixas de passagem,
infiltração instalado em uma edificação quando o
devido ao encharcamento do solo da área de
nível de extravasamento do sistema estiver acima
contorno, e propiciar possíveis afloramentos de
do nível da via pública.
água na superfície do subsolo.
Algumas adaptações na configuração do sistema
Os pontos de coleta de água pluvial dos
predial de águas pluviais permitem o emprego dos
pavimentos situados abaixo do nível de
poços de infiltração em subsolos de edifícios
extravasamento para o sistema público de
situados abaixo no nível da via pública, conforme
drenagem e no nível onde forem instalados os
apresentado na Figura 4. Nesse caso, as
poços de infiltração devem ser independentes e,
adequações do sistema devem possibilitar que a
em hipótese alguma, devem ser interligados ao
água pluvial seja conduzida de um nível mais
poço de infiltração. Caso haja interligação desses
baixo que o da via urbana para o nível de
sistemas, durante o enchimento do condutor de
extravasamento mais elevado, após o enchimento
redirecionamento de escoamento, haverá
do(s) poço(s), sem que haja inundação das áreas
transbordamento de água nos pontos de captação
comuns do edifício.
de água, tais como caixas de passagem e ralos, dos
Para isso, o poço de infiltração deve ser enterrado pavimentos situados abaixo do nível de descarga.
a uma profundidade mínima de aterro (solo acima
Outra questão que pode interferir no desempenho
da tampa) que garanta, por meio do seu peso, a
dos poços de infiltração instalados em subsolos de
estanqueidade na tampa do poço de infiltração.
edifícios é a disposição dos tubos e conexões que
Recomenda-se, também, a utilização de argamassa
direcionam a água pluvial captada para dentro do
para assentamento da tampa do poço de infiltração
sistema de infiltração. Dependendo da
para garantir uma melhor vedação. Na cidade de
configuração utilizada, maior ou menor quantidade
Goiânia, GO, onde os poços de infiltração vêm
de água será encaminhada para o poço de
sendo executados em áreas edificadas desde o ano
infiltração ou diretamente para o sistema público.
2000, tem-se adotado, empiricamente, uma camada
mínima de aterro (solo acima da tampa) de 1,0 m A Figura 5 ilustra algumas das possíveis
e, até o momento, não foram relatados problemas disposições das conexões do condutor de
de deslocamento dessa tampa ou de afloramento de redirecionamento para o poço de infiltração.
Figura 8 – Instalação dos tubos de concreto sobre a Figura 9 – Interface tubo/manta/solo preenchida
manta geotêxtil com brita no 1
Figura 10 – Detalhe do poço de infiltração de águas Figura 11 – Poço de infiltração acabado (detalhe da
pluviais bóia de leitura de nível)
Apesar de o poço de infiltração estar conectado ao água no poço de infiltração e no poço escavado a
sistema de captação de água pluvial da cobertura trado.
do LSP-UFG, para os ensaios de permeabilidade
Analisando-se os perfis dos coeficientes de
foram utilizados dois reservatórios de 1.000 L cada
permeabilidade (k) obtidos pelos ensaios de
para a descarga de água dentro dos poços, pois não
permeabilidade executados no poço escavado a
havia como prever as chuvas que encheriam
trado, nota-se que os valores possuem ordem de
completamente os poços.
grandezas próximas a 1x10-3 cm/s. Segundo o
A fim de promover o encharcamento (“saturação”) Boletim 04 da ABGE (1996), esses são valores
do solo de contorno do sistema de infiltração, característicos de areias finas siltosas e argilosas.
optou-se por encher e esvaziar os poços por três Por outro lado, a ordem de grandeza apresentada
vezes antes da realização dos ensaios de pelos perfis dos coeficientes de permeabilidade (k)
permeabilidade. Esse procedimento é similar ao do poço de infiltração apresentou-se próximo a
sugerido pela NBR 7229 (ABNT, 1993) nos 1x10-1 cm/s, valor típico de areias grossas.
ensaios de determinação da taxa de infiltração de Como a caracterização do solo local classificou-o
um solo e objetivou submeter o poço sob as como SC – Areia Argilosa –, consideraram-se os
condições mais desfavoráveis de operação, resultados, obtidos pelos ensaios do poço escavado
tentando simular o encharcamento do solo devido a trado, satisfatórios. Em contrapartida, foi
a chuvas consecutivas. decidido empregar uma nova equação para
Para a realização dos ensaios de permeabilidade verificar a veracidade dos valores dos coeficientes
(k) dos poços do sistema de infiltração estudado, de permeabilidade encontrados nos ensaios do
usou-se inicialmente a metodologia empregada por poço de infiltração.
Rodio S.A. (1960), conforme os procedimentos do Segundo o Boletim 04 da ABGE (1996), a nova
Boletim 04 da ABGE (1996). Esse método é equação escolhida para a verificação dos
recomendado para ensaios de permeabilidade por coeficientes “k” do poço de infiltração de água
rebaixamento de nível d’água em furos de pluvial foi desenvolvida para a realização de
sondagem sem revestimento, e seus cálculos são ensaios de permeabilidade em poços situados
feitos conforme o esquema da Figura 16. Para isso, acima do nível d’água, e foi elaborada por
após a realização dos procedimentos de Eletricité de France em 1970 e pode ser conferida
encharcamento do solo de contorno, monitorou-se na Figura 17.
o intervalo de tempo de rebaixamento do nível de
MÉTODO – B
ELETRICITÉ DE FRANCE (1970)
Fonte: ABGE, 1996
Nota: k = coeficiente de permeabilidade (m/s); Q = Vazão de rebaixamento (m³/s); h e L = altura da lâmina d’água (m); r = raio do poço
(m).
Figura 17 – Método de ensaio de permeabilidade realizado no poço de infiltração para a verificação dos
coeficientes de permeabilidade
Em virtude de o primeiro método de ensaio Para efeito de comparação dos perfis referentes aos
empregar a mesma equação para a determinação coeficientes de permeabilidade do poço de
dos coeficientes de permeabilidade e taxas de infiltração, adotou-se para a equação desenvolvida
infiltração do poço de infiltração e do poço por Rodio S.A. (1960) apud ABGE (1996) a
escavado a trado, os perfis para a comparação com nomenclatura “Método – A”, e para a equação
os resultados obtidos pela nova equação foram desenvolvida por Eletricité de France (1970) apud
mantidos. ABGE (1996) a nomenclatura “Método – B”.
Figura 18 – Esquema de corte da amostra de manta Figura 19 – Delimitação das quatro subdivisões
geotêxtil retirada do poço de infiltração feitas na amostra da manta geotêxtil retirada do
fundo do poço de infiltração
Pode-se dizer que, devido ao “efeito escala”, experimental apresentou um elevado desempenho
enquanto um volume maior de água infiltra-se em de infiltração. Esse resultado foi motivado por uma
uma área proporcionalmente menor no poço de melhora significativa na capacidade de infiltração
infiltração, o mesmo não ocorre no poço escavado do solo natural, promovida pelo arranjo do sistema
a trado, uma vez que um volume menor infiltra-se de infiltração. Entretanto, cada caso deve ser
em uma área proporcionalmente maior. Essa analisado segundo as suas particularidades. No
característica torna este último poço muito mais caso do poço de infiltração estudado, o elevado
sensível às alterações que possam vir a ocorrer na desempenho da capacidade de infiltração pode
área de contorno, como, por exemplo, a influência estar relacionado à presença de uma camada de
do grau de saturação do solo sobre a sua cascalho existente no terreno natural, situada no
capacidade de infiltração. local de instalação do poço de infiltração.
Considerando que, durante a preparação dos Juntamente com o “fator escala”, essa
ensaios de permeabilidade, o procedimento particularidade pode ter proporcionado um melhor
empregado para se elevar o grau de saturação do desempenho de permeabilidade do poço de
solo de contorno dos poços era enchê-los por três infiltração em relação ao poço escavado a trado.
vezes, é possível afirmar que o volume infiltrado Quanto à avaliação do processo de colmatação, por
em relação à área de contorno no poço de meio dos resultados obtidos do ensaio da manta
infiltração foi proporcionalmente bem maior que o geotêxtil de revestimento do fundo do poço de
volume infiltrado pelo poço escavado a trado. infiltração, foi obtida a Tabela 1.
Atribui-se a esse motivo uma maior elevação do
Comparando os resultados das amostras ensaiadas,
grau de “saturação” do solo de contorno do poço
pode-se dizer que a manta geotêxtil utilizada no
de infiltração, que proporcionou uma maior
revestimento da camada de brita do fundo do poço
constância dos valores registrados de “k” e “I”,
de infiltração apresentou, em geral, redução de sua
independentemente da estação do ano.
permeabilidade, confirmando assim a ocorrência
Por outro lado, a proporcionalidade da área de do processo de colmatação do sistema de
contorno do poço escavado a trado em relação ao infiltração.
volume de água infiltrada durante a preparação dos
A vazão obtida nos ensaios da amostra 1 retirada
ensaios de permeabilidade contribuiu para que este
do poço apresentou-se próximo aos resultados
poço apresentasse coeficientes “k” e “I” bem mais
obtidos pelos ensaios das mantas novas 1 e 2.
próximos aos do poço de infiltração, durante o
Sugere-se, assim, a inexistência do processo de
período de estiagem (4º ensaio).
colmatação sobre essa região da manta. O
Apesar de não ser possível estabelecer uma resultado deve-se à proximidade da região de
correlação definitiva entre os coeficientes de retirada da amostra 1 do poço com o ponto de
permeabilidade dos poços ensaiados, que possa ser descarga de água de chuva. Ao colidir com o fundo
utilizada no dimensionamento de outros poços de do poço de infiltração, a água criava um sentido de
infiltração, pode-se dizer que o poço de infiltração escoamento que carregava a sujeira para as regiões
Amostra Volume (litros) 215 210 195 200 190 200 201,67
1 Valor
Vazão (l/s) 1,79 1,75 1,63 1,67 1,58 1,67 1,68 Referência
Nova
1,70 l/s
Média
Amostra Volume (litros) 230 200 200 210 200 200 206,67 aritmética da
2 vazão
Vazão (l/s) 1,92 1,67 1,67 1,75 1,67 1,67 1,72
Nova
Amostra Volume (litros) 200 195 210 215 200 210 205,00 Aumento de
0,59 %
1 Poço Vazão (l/s) 1,67 1,63 1,75 1,79 1,67 1,75 1,71 vazão
Amostra Volume (litros) 145 150 150 150 145 150 148,33 Redução de 27,0
%
2 Poço Vazão (l/s) 1,21 1,25 1,25 1,25 1,21 1,25 1,24 vazão 6
Amostra Volume (litros) 133 125 115 150 160 130 135,50 Redução de 33,5
%
4 Poço Vazão (l/s) 1,11 1,04 0,96 1,25 1,33 1,08 1,13 vazão 3
Amostra Volume (litros) 220 220 210 190 180 195 202,50
3 Redução de
0,59 %
Lavada Vazão (l/s) 1,83 1,83 1,75 1,58 1,50 1,63 1,69 vazão
Poço
Tabela 1 – Resultado dos ensaios de verificação do grau de colmatação da amostra de manta geotêxtil
retirada do poço de infiltração