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Ayanne Christine Vieira dos Santos

Projeto Interventivo de Serviço de Orientação Educacional:


Cineclube como mediação no contexto escolar para o diálogo e
visibilidade das experiências da diversidade sexual

Brasília, março de 2022.


A) INTRODUÇÃO

→ APRESENTAÇÃO DO TEMA: educação sexual; orientação e sexualidade;


cineclube e mediação; educação para os Direitos Humanos.

→ JUSTIFICATIVA:

A Orientação Educacional promove espaços e abre pontes para


fortalecer o diálogo entre todos os agentes que constituem a comunidade escolar,
age como um instrumento para a humanização do processo de ensino e
aprendizagem e proporciona melhores condições ao educando para desenvolver-se
integralmente (GRINSPUN, 2001). Dados do Fundo das Nações Unidas para a
Infância - Unicef e Parceiros, mostra que a dificuldade ao acesso e a permanência
na escola são, principalmente, consequências da discriminação racial, da
discriminação sexual, da pobreza, da violência e perspectiva da função da escola
como agente de mudanças de vida.
Estas questões potencializa diversos problemas na vida dos educandos,
têm reflexos negativos na qualidade do ensino da escola pública e merece atenção
da escola e das estâncias educacionais. Portanto, na contemporaneidade, o Serviço
de Orientação Educacional/SOE está comprometido com a mediação, transformação
e organização de um currículo crítico e que atenda as demandas de sua época e, na
qual, o estudante possa usar este espaço como caminho para a construção da sua
identidade e o estimule pelo reconhecimento crítico e de sua importância no espaço
no qual estabelece suas relações sociais.
A escola tem o papel de mediar e auxiliar o estudante a refletir
criticamente e a contribuir com a construção deste indivíduo ativo em seu grupo
social. Para tanto, é necessário que a escola promova e desenvolva ações que
possibilite, dentro do processo de aprendizagem, almejar uma sociedade plural e
com educação para garantia dos Direitos Humanos à todos.
Os cineclubes, portanto, podem ser espaços que promovam diálogos
democráticos e de essência educativa que contribuem na formação crítica porque
podem estimular a partir de obras audiovisuais discussões e diálogos aos agentes
envolvidos neste espaço de convivência (ALVES, 2011). As produções audiovisuais
exibidas provocam o espectador ter contato com diferentes cinematografias,
narrativas, estéticas e culturas diferentes de sua realidade.
O cineclube tem como potencialidade como ferramenta educativa e de
reflexão sobre a sociedade a partir da linguagem cinematográfica provocada pela
experiência fílmica que promove um pensamento crítico e viabilizar ações concretas
de intercâmbio entre a escola e a sociedade.
A proposta de cineclube agrega para o ambiente escolar o prazer, a
reflexão através, construção de novas linguagens através do filme e o espaço de
debate entre os pares envolvidos. Ele traz a exibição do filme como suporte de
intercâmbio cultural, proporciona um espaço de convívio e diálogo entre o cinema e
as vivências do educando, constituído de suas experiências.
Dentro do contexto do cineclube, o tema “experiências da sexualidade”
pode facilitar o diálogo com um tema cheio de tabus na nossa sociedade. Falar
sobre sexualidades na escola costuma promover discussões instigantes. Contudo
existe existe um vazio na escola ao falar sobre o assunto, que por ser considerado
polêmico (LOURO, 2000) reflete o medo que os professores sentem ao se falar de
sexualidade. E portanto, o cineclube pode facilitar a abertura deste espaço no
ambiente escolar.

→ OBJETIVOS:

 Objetivo principal: dialogar com os jovens sobre sexualidade e suas


manifestações para que uma melhorar o bem-estar do jovem e para maior
consciência para a vida de uma sociedade plural e diversificada.

 Objetivos secundários:

→ Aumentar o repertório de conhecimento dos jovens sobre


autores, artistas e outros importantes para o pensamento
contemporâneo.
→ Provocar os jovens sobre a linguagem e a estética do
cinema.
→ Promover diálogos e mediações sobre a sociedade e
contextos nos quais os jovens estão inseridos.
→ Instigar o protagonismo dos jovens sobre pautas relevantes.
Promover uma educação emancipatória e democrática.
→ Promover inclusão, tolerância e respeito com as diferenças.

B) FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Se as portas da percepção se abrissem


Tudo apareceria aos homens tal como realmente é, infinito.

William Blake, Uma visão memorável, 1794.

Os jovens atualmente convive em um mundo multimídia, onde a


linguagem audiovisual circula tanto quanto a linguagem escrita. No entanto, a escola
normalmente só se preocupa com a formação leitora dos alunos em relação aos
livros, mesmo em épocas como a que vivemos com a pandemia promovida pelo
Coronavírus Sars-cov 2. Duarte (2004) reflete que a escola exige novas abordagens
que difundem novas linguagens compostos com imagem e som.
O filme, de acordo com a Leis de Diretrizes e Base da Educação e com a
BNCC, trazem que o recurso audiovisual se apresente de diversas formas em sala
de aula, o que se critica é o uso tradicional do filme que fica restrito apenas como
um recurso metodológico para facilitar a aprendizagem ou como forma de lazer e
entretenimento, mas que seja um instrumento de reflexão dentro dos processos de
aprendizagem. Afinal, o que um filme apresenta vai além dos assuntos estudados
numa determinado conteúdo ou em uma única disciplina. O cinema, assim como a
literatura, pode ser um meio para refletirmos sobre o mundo a nossa volta, expondo
e questionando a realidade.
Por meio de discursos e práticas é preciso colocar em questão a escola
enquanto espaço de reflexão com o mundo que vivemos, a fragilidade das práticas
pedagógicas ou a falta dela em temas como sexualidades faz domesticar os corpos
em meio a relações de poder e saber. Assim, percebemos que frequentemente a
escola abafa, se silencia sobre as questões que envolvem o corpo e suas
identidades com expressões amplamente culturais. Situações como estas estão
cada vez mais frequentes. Essas violações antes inviabilizadas, atualmente passam
a ser muito questionadas por estudiosos pós- críticos e teóricos e teóricas queers.
Pode-se inferir que uma parte significativa da violência contra dissidentes
sexuais à heteronormatividade que acontece na escola, em meio a insultos e
agressões. Então, ao observar o ambiente escolar, nota-se que o controle e a
vigilância sobre os corpos dissidentes prevalece neste espaço de convivência. Todos
que não se encaixam no padrão heteronormativo no qual entende a
heterossexualidade como norma natural, são tidos como “desviantes”.
Sendo assim, vê-se necessário trazer a reflexão dos estudos sobre
sexualidades e educação em uma abordagem pós- crítica, dando destaque para as
ideias de desnormatizar e desnaturalizar os discursos normativos sobre os corpos
que tanto permeiam a escola.

Muitos consideram que a sexualidade é algo que todos


nós, mulheres e homens, possuímos naturalmente.
Aceitando essa ideia, fica sem sentido argumentar a
respeito de sua dimensão social e política ou a respeito
de seu caráter construído. A sexualidade seria algo
"dado" pela natureza, inerente ao ser humano. Tal
concepção usualmente se ancora no corpo e na
suposição de que todos vivemos nossos corpos,
universalmente, da mesma forma. No entanto,
podemos entender que a sexualidade envolve rituais,
linguagens, fantasias, representações, símbolos,
convenções... (LOURO, 2000, p. 6).

Portanto, Louro (2000) discute que os corpos perpassam por processos


profundamente culturais e plurais. Segundo Louro (2000), estes corpos ganham
sentido quando em contexto social. As possibilidades da sexualidades e suas
diversas expressões dos desejos e prazeres também são sempre estabelecidas pelo
s corpos inseridos socialmente e codificadas em experiencias e convivências em
grupos. As performances de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas
por relações sociais e moldadas pelas redes de poder de uma sociedade.
As relações e experiências das performance de gênero e sexualidades
acaba por privilegiar uns em distinção a outros. Assim, Louro (2000) aborda estas
como construção social e enfatiza as mudanças ocorridas ao longo do tempo,
convidando os profissionais que habitam a escola para que assumam essas
mutações que os confrontam um caminho para discutir ideias como a de tolerância e
aceitação da diferença, com o intuito de (des)naturalizar posturas de exclusão social.
Em crítica:

Se temos um padrão moderno de escola, também


temos padrões de aluno, professor e de formação que
esta instituição espera. Ao se esperar esta
normalidade, tenta-se estabelecer o sentido desse
modelo disciplinar: disciplinarizar o corpo, o
comportamento e atitudes dos envolvidos no ambiente
escolar. (FONSECA, 2011, p. 47).

Como espaço implicada na construção dos educando, a escola também


vai influenciar sobre as subjetividades dos seus envolvidos. Logo, revela a demanda
de uma educação voltada à diversidade que critique e provoque no espaço escolar,
a missão de promover um saber crítico sobre as temáticas das sexualidade, para
assim, operacionalizar transformações sociais. Desse modo, pode-se compreender
a partir da autora Guacira Lopes Louro (2000) que corpo, gênero e sexualidade são
construções sociais que se relacionam com as vivências da sua época e convida ao
confronto com os tabus sociais para discutir ideias como a de tolerância, aceitação
da diferença e para a escola promove reflexões com os currículos, prática
pedagógica e as relações dentro do contexto escolar
Uma educação que provoque a discussão sobre as sexualidades e
diferenças contribui para o desenvolvimento global do educando, tanto intelectual,
cultural, físico, afetivo-emocional e sexual propriamente dito. As famílias acham
constrangedor ou desnecessário conversar sobre sexualidades com os jovens, ora
pela educação recebida de suas famílias, ora pela repressão ou por não saberem
como abordar o tema. Assim, os jovens ficam sem respostas para suas dúvidas, não
compreendem suas vivências e isso pode acarretar conflitos que ultrapassam as
paredes da escola.
Os jovens passam boa parte do seu tempo na escola onde começam a se
sociabilizar, a compreender as dinâmicas sociais e a se estabelecer em quando
sujeito dentro de um grupo. A escola, portanto, torna-se um excelente espaço para
discutir criticamente a sociedade que vivemos e o poder de transformação e
mudanças que os sujeitos em mãos.
O que nos cabe é refletir acerca da importância da uma educação crítica
e acolhedora sobre as diversas sexualidades que estes jovens vivenciam. A escola
serve como espaço de construção para a cidadania, de uma sociedade livre de
falso moralismo e inclusiva. O projeto interventivo aqui proposto visa alcançar
mudanças nos padrões de comportamento, levando-se em conta três aspectos
fundamentais: a transmissão de informações de maneira verdadeira; criar uma
cultura de tolerância e respeito as diversidades; melhorar a saúde afetivo-emocional
dos jovens.

C) METODOLOGIA

 O período de execução do projeto é semestral:


→ março, abril, maio e junho; ou
→ agosto, setembro, outubro e novembro.
 Duas exibições por mês, com palestra.
 O público-alvo são estudantes do Ensino Médio.
 As ações serão ofertadas como parte diversificada do currículo.
 Recursos: auditório; equipamento de som; computador; data show; máquina
fotográfica; smartfone; e outros.
 As ações serão empregadas semanalmente de acordo com a tabela a seguir:
AÇÕES MÊS 1 MÊS 2 MÊS 3 MÊS 4

Contactar palestrantes em:

1) Infâncias, juventudes e gênero;

2) Sexualidades e juventude;

3) Transexualidade e as identidades travestis;

5) Sexualidades negras e suas manifestações; X

6) Feminismos;

7) Teoria Queer e sua relevância social;

8) Amor, sexo, relações sociais em uma


Sociedade Líquida e hiperconectada;

Contactar artistas variados para o encerramento


do ciclo semestral do cineclube e debates. X

Escolha de filmes a ser exibidos com os temas


(sugestões):

1) Infâncias, juventudes e gênero:

Nós, Os Animais

Direção: Jeremiah Zagar


Roteiro: Jeremiah Zagar
Elenco: Raul Castillo, Sheila Vand, Evan Rosado
Gênero: Drama
Ano: 2018/ Estados Unidos
Duração: 1h 34min

2) Sexualidades e juventude;
X
Jongens (Meninos)

Direção:Mischa Kamp
Roteiro: Jaap-Peter Enderle, Chris Westerdorp
Elenco: Gijs Blom, Ko Zandvliet
Gênero: Drama
Ano: 2014/ Noruega
Duração:
3) Transexualidade e as identidades travestis:

Laerte-se

Direção: Lygia Barbosa da Silva, Eliane Brum


Roteiro: Lygia Barbosa da Silva, Eliane Brum
Elenco: Laerte Coutinho
Gênero: Documentário
Ano: 2020/ Brasil
Duração: 1h 40 min

5) Sexualidades negras e suas manifestações;

Antônia

Direção: Tata Amaral


Roteiro: Tata Amaral, Roberto Moreira
Elenco: Negra Li, Leilah Moreno, Quelynah
Gênero: Drama
Ano: 2007/ Brasil
Duração: 1h 30min

6) Feminismos;

Eu Não Sou Um Homem Fácil

Direção: Éléonore Pourriat


Roteiro: Éléonore Pourriat
Elenco: Vincent Elbaz, Pierre Bénézit,
Gênero: Comédia
Ano: 2018/ França
Duração: 1h 38min

7) Teoria Queer, arte e sua relevância social;

Stonewall – Onde o orgulho começou

Direção: Roland Emmerich


Roteiro: John Robin Baitz
Elenco: Jeremy Irvine, Jonny Beauchamp, Caleb
Laundry Jones
Gênero: Comédia
Ano: 2016/Estados Unidos
Duração: 2h 9min

8) Amor, sexo, relações sociais em uma


Sociedade Líquida e hiperconectada;

Medianeras
Direção: Gustavo Taretto
Roteiro: Gustavo Taretto
Elenco: Javier Drolas, Pilar Lopez de Ayala
Gênero: Drama
Ano: 2011/ Argentina
Duração: 1h 35min

Escolha de local de encontro para a realização do X


cineclube.
Levantamento de patrocínios e apoios. X X X X
Avaliação do projeto. X X X X
Divulgação do projeto e registros (redes sociais e
outros). X X X X
Organizar e agendar calendário do projeto. X
Divulgar e incentivar a participação dos
estudantes durante o projeto. x x x x
Avaliação dos estudantes com o projeto e
averiguar se atende as suas demandas:
questionário com método de escala hedônica x x x x
estruturada e questões abertas para críticas,
opiniões e sugestões. Sempre após a exibição do
filme.

D) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, Giovanni. Cineclube. São Paulo: Editora Práxis, 2011.

DUARTE, R. Cinema e educação. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2002.

FONSECA, Thomaz Spartacus Martins. Quem é o professor homem dos anos


iniciais? Discursos, representações e relações de gênero. 2011, 141 f.
Dissertação (Mestrado em Educação)–Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz
de Fora, 2011.

GRINSPUN, Mírian P.S.Z. A Orientação Educacional: conflito de paradigmas e


alternativas para a escola. São Paulo: Cortez, 2001.

LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2.ed.


Tradução dos artigos: Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

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