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lógica

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AGRADECIMENTOS

Os autores reconhecem. agradecidos., a generosa assis-


tência que receberam do Prof. John C. Cooley da Columbia
University. Ele leu criticamente um primeiro esboço do ma-
nuscrito e ajudou a esclarecer a estrutura do argumento e a
aperfeiçoar a exposição na lógica de alguns pontos. Quere-
mos agradecer ao Scientific A11zerican a permissão para re-
produzir vários dos diagramas do texto que apareceram em
um artigo sobre a prova de Gõdel no número de junho de
1956 desta revista. Somos gratos ao Prof. Morris K\ine da
New York University pelas proveitosas sugestões referentes
ao manuscrito.
1. INTRODUÇÃO

areceu em um periódico científico alemão um


E m 193 l , ap b · "Uber for
artigo relativamente curto com o título ~e~ar ativo: . -
.1 t heidbare Satze der Princ1p1a Mathematlca und
ma unen se ·d, · d
verwandter Systeme" ("Sobre as Proposições Indec1 1ve1s os
Principia Mathematica e Sistemas Correlatosn). Seu autor er_a
Kurt Gõdel, então um jovem matemático de 25 anos., da Uni-
versidade de Viena e, a partir de 1938., membro permanente
do Institute for Advanced Study em Princeton. O artigo é um
marco na história da lógica e da matemática. Quando a Uni-
versidade de Harvard concedeu a Gõdel um título honorífico
em 1952, a citação descrevia o trabalho como um dos mais
importantes progressos da lógica nos tempos modernos.
Na época em que apareceu., contudo, nem o título do arti-
go de Godel nem o conteúdo eram inteligíveis à maior1 a dos
matemáticos. Os Principia Matltenzatica mencionados no tí-
tulo são o monumental tratado em 3 volumes de Alfred North
Whitehead e Bertrand Russell sobre lógica matemática e fun-
damentos da matemática; e a familiaridade com esta obra não

13
. • --s. -.r1uisito para a pesquisa bem-sucedida na
consntu1 um en"· •..., . .
. . d _...,
ma.tona os._..05 da matemática. Além do mais, o an1go
. de
.
Gõdel trata de um conjunto de questões que nunca_ atraiu mais
do que um grupo relativamente pequeno de estudiosos: O r~-
ciocfnio da prova era tão novo na época de ~~a ~ubhcaçao
que apenas os que estivessem intimamente fam1113:1z~dos com
a literatura t6cnica de um campo altamente especializado po-
deriam acompanhar o argumento com pronta compreensão.
Não obstante. as conclusões que Gõdel estabeleceu são hoje
amplamente reconhecidas como sendo revolucionárias em sua
larga significação filosófica. É o objetivo do presente ensaio
tomar a substãncia dos achados de Gõdel e o caráter geral de
sua prova acessíveis ao não-especialista.
O famoso artigo de Gõdel atacava um problema central
nos fundamentos da matemática. Será útil dar um breve apa-
nhado preliminar do contexto em que o problema ocorre.
Qualquer pessoa que se defrontou com a geometria elemen-
tar lembrará, sem dúvida, que ela é ensinada como disciplina
dedutiva. Não é apresentada como uma ciência experimental
cujos teoremas devem ser acolhidos porque concordam com
a observação. Esta noção. de que uma proposição pode ser
estabelecida como a conclusão de uma prova lógica explícita,
remonta aos antigos gregos que descobriram o que é conhe-
cido como "o método axiomático.. e usaram-no para desen-
volver a geometria de uma maneira sistemática. O método
axiomático consiste em aceitar sem prova certas proposi-
ções como axiomas ou postulados (e.g .• o axioma de que por
dois pontos podemos traçar uma e uma só reta) e depois
derivar dos axiomas todas as proposições do sistema como
teoremas. Os axiomas constituem os '~fundamentos., do sis-
tema~ os teoremas são a "superestruturaº e são obtidos a
partir dos axiomas com a ajuda exclusiva dos princípios da
lógica.
O desenvolvimento axiomático da geometria causou po-
deroso impacto sobre os pensadores no curso dos tempos. pois
0
n~mcro relati vamen1e pequeno de axiomas carrega todo peso
das mcsgotavclmente numerosas proposições deles deriváveis.
Além dºasso, se de algum modo a verdade dos axiomas pode
ser estabclecida - e de fato durante uns dois mil anos a maio-
'"'
ria dos estudiosos acreditou sem qualquer dúvida que são a
verdade do espaço - tanto a verdade quanto a consistência
mútua de todos os teoremas estão automaticamente garanti-
das. Por esta razão, a forma axiomática da geometria se afigu-
rou a muitas gerações de notáveis pensadores como o modelo
do conhecimento científico no que ele tem de melhor. Era
natural. pois, perguntar se outros ramos do pensamento, afora
a geometrja, podem ser situados sobre um fundamento
axiomático seguro. Contudo, embora certas partes da física
recebessem uma formulação axiomática na antiguidade (e.g.1
por Arquimedes), até a época moderna a geometria era o úni-
co ramo da matemática que dispunha daquilo que a maioria
dos estudiosos considerava uma sadia base axiomática.
Mas nos últimos dois séculos o método axiomático veio
a ser explorado com poder e vigor crescentes. Novos ramos
da matemática assim como velhos. inclusive a familiar arit-
mética dos números cardinais (ou "inteiros ..), foram dotados
com o que pareciam ser conjuntos adequados de axiomas.
Gerou-se assim uma opinião em que era tacitamente pressu-
posto que todo o setor do pensamento matemático pode ser
dotado de um conjun10 de axiomas suficiente para desenvol-
ver _si~tcmaticamente a totalidade infinita de verdadeiras pro-
pos1çoes ~cerca da área dada de investigação.
O ~nigo de Gõdel mostrou que tal pressuposição é in-
sustentavel. E!e. colocou os matemáticos diante da espan-
tosa e mclancohca conclusão de que o método axiomát·
tem t· . ]' . - . ICO
ceras im1taçocs inerentes que eliminam a possibilida-
de de q~c mesmo_a aritmética comum dos inteiros possa
:er pJe~amente ax.10matizada. Mais ainda1 ele provou que é
arnp~~st~·el estabelecer a consistência lógica interna de uma.
m:p/ss,ma classe de sistemas dedutivos - aritmética ele-
n ar, por exemplo - a me
raciocínio tão co l nos que ado_temos princípios de
tão aberta à d, .;P exos que sua consistência interna fica
destas conclus~:~ a ~ua~to ~ dos próprios sistemas. À luz
nal de num 'é mat_ingtvel qualquer sistematização fi-
erosas áreas 1mport· t d
possível d . an es ª matemática e~ im-
n,u·t ar g.arantta absolutamente impecável de que
... 1 os ramos sig "f ·
te· . . ni tcat1vos do pensamento matemático es-
~am mte1rament r1 d . .
e vres e contradição 1n1crna.
IC
As descoberw de Gõdel minaram assim pré-concepções
profundamente arraigadas e demoliram an~gas esperanças que
eram novamente ahmentadas pela pcsqwsa sobre os funda-
mentos da matemática. Mas seu artigo não era inteiramente
negativo. Introduzia no estudo das questões de fundamento
uma nova tttnica de análise comparável por sua natureza e
fertilidade ao m&odo algébrico que René Descartes introdu-
ziu na geometria. Esta técnica sugeriu e iniciou novos proble-
mas para a investigaçio matemática e lógica. Provocou uma
reavaliação ainda cm curso de filosofias da matemática
mantid&S em amplos círculos e de filosofias do conhecimento
em geral.
Os pormenores das provas de Gõdcl, em seu artigo que
marcou tpoca. são demasiado difíceis para que possam ser
acompanhados sem considerável tr~ino matemático Mas a
estrutura bisica de sua.s demonstrações e o cerne de suas con-
clusõe, podem tomar-se inteligíveis a leitores com reduzi-
díssimo preparo matemático e lógico. A fim de alcançar um
tal entendimento. talvez seja útil ao leitor um breve apanhado
de certos desenvolvimentos imporuntcs na história da mate-
mática e da moderna lógica formal. Os próximos quatro capí-
tulos deste ensaio serão dedicados a isto.

16
2. O PROBLEMA DA CONSISTÊNCIA

­
O século XIX assistiu a uma tremenda expansão e inten
sificação da pesquisa matemática. Muitos problemas funda­
mentais que haviam resistido longamente aos melhores esfor­
ços de pensadores antigos foram resolvidos� novos setores de
estudos matemáticos foram criados; e em vários ramos desta
disciplina foram assentados novos alicerces ou velhos funda­
mentos foram inteiramente reformulados com a ajuda de téc­
nicas mais precisas de análise. Para ilustrar o fato: os gregos
haviam proposto três problemas em geometria elementar: a
trissecção, com régua e compasso de qualquer ângulo. a cons­
trução de um cubo de volume igual ao dobro do volume de
um cubo qualquer e a construção de um quadrado de área
igual à área de um círculo qualquer.
Por mais de dois mil anos sucederam-se tentativas malo­
gradas de resolver tais problemas 4 Por fim, no século XIX.
provou-se que as construções almejadas eram logicamente
impossíveis .. Além disso ,. estes esforços produziram um valio­
so subproduto. Como as soluções dependiam essencialmente
17
da determinação dos tipos de raízes que satisfaz~am cenas
equações, a preocupação com os fa':"osos_exc~cfc10s formu-
lados na antigüidade estimularam mvestJgaçoes profundas
sobre I naturc:za do número e a estrutura do continuum numé-
rico. Definições rigorosas foram finalmente dadas para nú-
meros negativos, complexos e irracionais; construiu-se uma
base lógica para o sistema de números reais; e foi fundado um
novo ramo da matemática, a teoria dos números infinitos.
Mas talvez o desenvolvimento mais significativo. pelos
seus efeitos de grande alcance sobre a subseqüente história da
matemática, foi a solução de outro problema que os gregos
levantaram sem responder. Um dos axiomas que Euclides usou
na sistematização da geometria cstã relacionado às paralelas.
O axioma que adotou equivale logicamente (embora não seja
idêntico) à hipótese de que, por um ponto fora de uma dada
reta. pode-se traçar uma e uma só paraJela à reta dada. Por
várias razões, este axioma não pareceu "auto-evidente" aos
antigos. Eles procuraram. portanto, deduzi-lo de outros axio-
mas euclidianos que lhes pareciam claramente auto-eviden-
tes1. Será possível fornecer uma tal prova do axioma das pa•
raleias? Gerações de matemáticos lutaram com a questão.
sem resultado. Mas os repetidos malogros em construir uma
prova não signifíca que não seja possível descobrir uma. as-
sim como repetidos fracassos em achar a cura para o resfria-
do comum não firma, fora de dú\lida. de que a humanidade
sofrerá para sempre de corizas. Foi somente no século XIX
que se demonstrou, principalmente pelo trabalho de Gauss,

J. A principal razão para esta alegada fali.a de auto-evidência parece


~, sido o fato de que o Hioma das paralelas faz. uma afirmação sobre re-
&iõcs inteiramente remolaS do espaço. Euclides. define as linhas paralelas
como retas cm um plano que. "sendo esteruüdas indefinidameote cm ambas
u direções", nlo se encontram. Consequentemente. afirmar ~ue duas linhas
são panlelas , pretender que as duas linhas não se encontrarão sequer " no
infinito". Mas os anügo.s estavam familiariudos com linhas que:, embora
não se cortem wna.s às outras cm qualquer região finita do plano, se cncon-
ll'am "no infinito". Tais linhas são denominadas "as5intótitas". Assim, um.t
hip&bole' assiDtótica aos seus eixos. Não era portanto intuitivamente evi•
dcotc para os ant.igos geômetras que de um ponto fora de uma reta dada,
apenas uma reta pudesse ser nçada que não fosse encontrar a reta dada.
mesmo no iafinito.

18
Bolyai, Lobachcwsky e Riemann, a impossibilidade de dedu-
zir Oaxioma das paralelas de outros. Este resultado foi da
máxima imponância intelectual. Em primeiro lugar. chamava
atenção da maneira mais impressionante para o fato de que se
ode dar uma prova da impossibilidade de provar certas pro-
p e
posições dentro de um dado siste~~-- omo veremos, o artigo
.
de Gõdel é uma prova da imposs1b1hdade de demonstrar cer-
tas proposições importantes na aritmética. Em segundo lugar.
a resolução do problema do axioma das paralelas forçou a
percepção de que Euclides não é a ~ltima palavra em m~téria
de geometria, uma vez que novos s1sle~as de geo~etna sã~
construtíveis mediante o uso de certo numero de axiomas di-
ferentes dos adotados por Euclides e incompatíveis com eles.
Em particular. como bem se sabe, resultados fecundos e de
imenso interesse são obtidos quando o axioma das paralelas
de Eudides é substituído pela pressuposição de que é possí-
vel traçar por um ponto dado mais de uma paralela a uma reta
dada ou. ai temati vamente, pela pressuposição de que não se
pode traçar paralelas. A crença tradicional de que os axiomas
da geometria (ou para este caso os aKiomas de qualquer disci-
plina) podem ser estabelecidos por sua aparente auto-evidên-
cia foi assim radicalmente solapada. Além disso. pouco a pou-
co. tornou-se claro que o negócio mesmo do matemático puro
~ den·..-ar teoremas de lzipóteses postuladas e que não lhe com-
pele. ~orno matemático, decidir se os axiomas que pressupõe
são realmente verdadeiros. E, por fim, estas bem-sucedidas
modi fie ações da geometria ortodoxa incitaram a revisão e o
completamento das bases axiomáticas de muitos outros siste-
mas matemáticos. Campos de indagação até aí cultivados de
maneira mais ou menos intuitiva foram finalmente dotados de
fundamentos axiomáticos (ver Apêndice n. 1).
A conclusão geral que emerge desses estudos críticos
dos fundamentos da matemática é que a vetusta concepção
da matemática como a "ciência da quantidade" é tanto inade-
quada como desencaminhadora. Pois, evidencia-se que a ma-
temática é simplesmente a disciplina por excelê11cia que tira
co~clusões logicamente implicadas em qualquer conjunto de
ax,?mas ou postulados. De fato, veio a ser reconhecido que a
validade de uma inferência matemática não depende em scn-
tido algum de qualquer significado especial que se possa as-
sociar aos tennos ou expressões contidos nos postulados. A
matemática foi assim reconhecida como sendo muito mais
abstrata e fonnal do que se suponha tradicionalmente: mais
abstrata porque enunciados matemáticos podem ser estabele-
cidos cm princípio sobre o que quer que seja mais do que
sobre algum conjunto de objetos ou traços de objetos ineren-
temente circunscrito; e mais formalmente. porque a validade
das demonstrações matemáticas se estriba na estrutura de enun-
ciados, mais do que na natureza de um tema particular. Os
posnalados de qualquer ramo da matemática demonstrativa
não se referem inerentcmentc a espaço, quantidade. maçãs,
ângulos ou orçamentos; e qualquer significado especial que
pode estar associado com os termos (ou "predicados descriti-
vos.. ) nos postulados não desempenha papel essencial no pro-
cesso da derivação de teoremas. Repetimos que o problema
com o qual o matemático puro se defronta (diferentemente do
cientista que emprega a matemática ao investigar um assunto
espe.cial) não é se os postulados por ele assumidos ou as con-
clusões que deles deduz são verdadeiros, mas se as alegadas
conclusões são de fato conseqüências lógicas necessárias das
pressuposições iniciais.
Tomem este exemplo. Entre os termos indefinidos (ou
ºprimitivos..) empregados pelo influcnle matemático alemão
David Hilbert em sua famosa axiomatização da geometria
(publicada pela primeira vez em 1899) constam .. ponto''.
"rela". "está em" e ·•entre". Podemos conceder que os signifi-
cados costumeiros ligados a tais expressões desempenham
certo papel no processo de descoberta e aprendizado de
teoremas. Desde que os significados se tornem familiares,
sentimos que entendemos suas várias inter-relações e elas le-
vam à fonnulacão e à seleção de axiomas; além disso, suge-
rem e facilitam a formulação de enunciados que desejamos
estabelecer como teoremas. Todavia, como Hilbert afirma
taxativamente, na medida em que estamos interessados na ta-
refa matemática primordial de explorar as puras relações ló-
gicas de dependência entre enuciados, devemos ignorar as
conotações familiares dos termos primitivos e os únicos ..sig-
nificados,. que é preciso associar-lhes são os atribuídos pelos
20
axiomas em que entram2 • Tal é o sentido do famoso epigrama
de Russell: a matemática pura é o assunto em que não sabe-
mos acerca do que estamos falando e se o que estamos dizen-
do é verdadeiro.
Um domínio de rigorosa abstração, despido de todos os
marcos familiares, certamente não é fácil de penetrar. Mas
oferece compensações sob a fonna de uma nova liberdade de
movimento e vistas inusitadas. A intensa fonnalização da ma-
temática emancipou a mente humana das restrições que a in-
terpretação habitual de expressões colocava na construção de
novos sistemas de postulados. Foram desenvolvidas novas
espécies de álgebras e geometrias que assinal~vam afastamen-
tos importantes da matemática tradicional. A medida que a
significação de certos termos veio a ser mais geral. seu uso
tornou-se mais amplo e as inferências que se poderiam deri-
var deles, menos restritas. A formalização levou a uma gran-
de variedade de sistemas de considerá veJ interesse e vaJor
matemáticos. Alguns desses sistemas, cumpre admitir, não se
prestavam a interpretações tão obviamente intuitivas (isto é,
do senso comum) quanto as da geometria euclidiana ou arit-
mética. mas este fato não causou alanne. A intuição é, em
primeiro Jugar, uma faculdade elástica: nossos filhos não te-
rão provavelmente dificuldade em aceitar como intuitivamente
óbvios os paradoxos da relatividade. assim como nós não nos
assustamos com idéias que eram tidas totalmente como não
intuitivas há um par de gerações. Demais. como sabemos to-
dos. a intuicão não é um guia seguro; não se pode usá-la pro•
priamente como critério de verdade ou de fecundidade nas
indagações científicas.
Contudo. a crescente abstração da matemática suscitou
um problema ainda mais sério. Resuhou na questão de saber
se um dado conjunto de postulados utilizados como funda-
~ento _de um sistema é internamente consistente de modo que
nao SeJam dedutíveis dos postulados quaisquer teoremas mu-
tuamente contraditórios. O problema não parece urgente quan-

2. Em linguagem mais técnica. os termos prirruli\'os sJo ..implicita-


mencc"
. de fim1'd os pelos axiomas
· e o que quer que nãc esteja coberto pelas
definições implícitas é irrelevante para a demonstração dt teoremas.

21
do um conjunto de a,r.iomas é referido a um domínio definido e
familiar de objetos; pois então não é apenas importante per-
guntar, mas deve ser possível verificar se os axiomas são de
fato verdadeiros para estes objetos. Como os axiomas de
Euclides foram geralmente tomados como enunciados verda-
deiros acerca do espaço (ou objetos no espaço), nenhum ma-
temático antes do século XIX jamais considerou a questão de
saber se um par de teoremas contraditórios poderia algum dia
ser deduzido dos axiomas. A base para esta confiança na con-
sistência da geometria euclidiana é o sólido princípio de que
enunciados logicamente incompativeis não podem ser simul-
taneamente verazes; conseqüentemente. se um conjunlo de
enunciados é verdadeiro (e isto estava pressuposto quanto aos
axiomas de Euclides). tais enunciados são mutuamente con-
sistentes.
As geometrias não-euclidianas pertenciam de modo claro
a uma categoria diferenle. Seus axiomas foram, de início, con-
siderados evidentemente falsos com respeito ao espaço e,
por esta razão, de uma verdade duvidosa no tocante a qual-
quer coisa; assim, reconheceu-se que o problema de estabele-
cer a consistência interna de sistemas não-euclidianos era tre-
mendo e crítico. Na geometria riemanniana. por exemplo. o
postulado das paralelas de Euclides é substituído pela suposi-
ção de que por um ponto dado fora de uma reta não se pode
traçar nenhuma paralela à reta dada. Agora admitam a per-
gunta. É o conjunto de postulados riemannianos consistente?
Os postulados aparentemente não são verdadeiros no tocante
ao espaço da experiência comum. Como pois mostrar a sua
consistência? Como provar que não conduzem a teoremas
contraditórios. É óbvio que a questão não fica resolvida pelo
fato de os teoremas já deduzidos não contradizerem uns aos
outros - pois subsiste a possi bi Iidade de que o próximo teorema
a ser deduzido venha transtornar os planos. Mas até que o
problema seja resolvido, não se pode estar certo de que a geo-
metria de Riemann seja uma alternativa verdadeira para o sis-
tema euc_lidiano; isto é igualmente válido do ponto de vista
:at~~ático. A própria possibilidade de geometrias não-
uchdianas se tornou assim dependente da resolução deste
problema.
2,
Imaginou-se um método geral para resolve-lo. A idéia
subjacente é a de descobrir um "modelo'' (ou ºinterprctaçãoH)
para os postulados abstratos de um sistema, de modo que cada
postulado é convertido em um verdadeiro cnuncíado sobre o
modelo. No caso da geometria euclidiana, como notamos, o
modelo era o espaço comum. O método foi empregado para
achar outros modelos cujos elementos pudessem servir como
muJetas para determinar a consistência de postulados abstra-
tos. A coisa se processa mais ou menos assim: entendamos
pela palavra ''classe•• uma coleção ou agregado de elementos
distingüívcis. sendo cada qual denominado um membro da
classe. Assim, a classe dos números primos menores do que
10 é a coleção cujos membros são 2. 3, 5 e 7. Suponhamos o
seguinte conjunto de postulados relativos a duas classes K e
L. cuja natureza especial fica indeterminada, exceto como"im-
p1icitamente'· definida pelos postulados:

1. Quaisquer dois membros de K estão contidos em apenas um membro de L.


:! N~nhum membro de K está contido cm mais do que dois membros de L.
3. Os membros de K não estão todos contidos em um único membro de L.
4. Quaisquer dois membros de L contêm apenas um membro de K.
5. Nenhum membro de L contém mais do que dois membros de K.

Deste pequeno conjunto podemos derivar, por meio de


regras habituais de inferência. ceno número de teoremas. Por
exemplo: pode-se demonstrar que K contém apenas três mem-
bros. Mas será o conjunto de tal modo consistente que teoremas
mutuamente contraditórios jamais possam ser derivados dele?
A pergunta é passível de pronta resposta com a ajuda do se-
guinte modelo.

Seja K a classe de pontos que consiste dos vértices de um triângulo e L


~~lasse das rclaS composta ~or seus lados~ e agora entendamos a sentença
m membro de K está conudo em um membro de L", significando que um
ponto que é um vénicc se encontra sobre uma reta que é um lado. üda um
dos cinco postulados abstratos fica então convertido em um enamciado ver-
dadeiro. Por exemplo, o primeiro postulado afirma que dois pontos quais-
~ucr que sã~ véniccs do triângulo se acham sobre uma única reta, que é o
ado._ (Ver Fig. l ). Dcstarte, fica provado que o conjunto de postulados é
consistente.

23
1(

ac~------------ 1.

Fi&. ]

O modelo para wn conjunto de postulados relativo a duas classes K


e L f 11m biingulo cujos vbtic:es sio membros de K e cujos lados do
membros de L. O modelo gcom~trico mos11a que os postulados são
consistentes.

É possível também estabelecer aparentemente a consis-


tência da geometria plana riemanniana medíanle um modelo
que corporifique os pü§tulados. Podemos interpretar a expres-
são ·6ptanatl nos axiomas de Riemann como relativa à superfí-
cie de uma esfera euclidiana, a expressão "ponto", como refe-
rente a um ponto sobre esta superfície e a expressão "reta..,
como a wn arco de um círculo máximo dessa superfície e
assim por dianle. Cada postulado de Riemann fica então trans-
formado em um teorema de Euclides. Por exemplo. com base
nesta interpretação, o postulado das paralelas de Riemann reza:
por um ponto sobre a superfície de uma esfera, não se pode
traçar nenhum arco de um círculo máximo paralelo a um dado
arco de um círculo má.xjmo (Ver Fig. 2).
À primeira vista.. esta prova da consistência da geometria
riemanniana pode parecer conclusiva. Mas um olhar mais pró-
ximo torna isto desconcertante. Pois um olho agudo discernirá
que o problema não foi resolvido; foi apenas deslocado para
outro domínio. A prova tenta estabelecer a consistência da
geometria riemanniana apelando para a consistência da geo-
metria euclidiana. O que emerge então é apenas o seguinte: a
geomelria riemanniana é consistente se a geometria de Euclides
o for. A autoridade de Euclides é assim invocada para de-
monstrar a consistência de um sistema que desafia a exclusi-
24
va validez de Euclides. A pergunta ine]udível é: são os próprios
axiomas do sistema euc]idiano consistentes?
Uma resposta à indagação consagrada _c~mo n~tamos
onga rradicão é que os axiomas euchd1anos sao ver-
por uma l - é ·
· e portanto consistentes. Esta resposta nao mais
d ad e1ros , • .
tida por aceitável; voltaremos a isto agora eex~hcaremos por
que é insatisfatório. Outra resposta é que ~s ~x1omas concor-
dam com a nossa experiência real, embora hm1~a~a, do espaç~,
emos J·ustificação para extrapolar do d1mmuto ao unw-
e que t 'd"' · · d ·
mbora se possa aduzir muita ev1 enc1a m uuva
versa 1. M as, e .
em apoio a esta pretensão, nossa melhor prova sena
logicamente incompleta. Pois mesmo q~e todos _os fatos ob-
servados estejam de acordo com os axmmas, f1ca abena a
pos~ibilidade de que um fato até agora inobservado possa
contradizê-los e assim destruir seu direito à universahdade.
Considerações indutivas podem mostrar apenas que os axio-
mas são plausíveis ou provavelmente verdadeiros.
Hilbert tentou no entanto outro caminho para superar
isto. A chave para a sua rota encontra-se na geometria de
coordenadas cartesianas. Em sua interpretação. os axiomas
de Euclides foram simplesmente transformados em verdades
algébricas. Por exemplo, nos axiomas para a geometria plana,
construam a expressão •·ponto''. de modo a significar um par
de números. a expressão ··reta.. , de modo a significar a rela-
ção (linear) entre números expressa por uma equação de prj.
meiro grau a duas incógnitas. a expressão "círculo". de modo
a significar a relação entre números expressa por uma equa-
ção quadrática de uma certa forma, e assim por diante. O enun•
cindo geométrico. de que dois pontos distintos determinam
uma só reta, transforma-se então na verdade algébrica de que
dois pares distintos de números determinam unicamente uma
relação linear; o teorema geométrico de que uma linha reta
co_rta um círculo no máximo cm dois pontos, no teorema algé-
bnco de que um par de equações simultâneas a duas incógni-
tas (uma delas linear e a outra. quadrática de um certo tipo)
determina no máximo dois pares de números reais; e assim
por diante. Em suma, a consistência dos postulados euclidianos
~ estabelecida pela demonstração de que são satisfeitos por
um modelo algébrico. Este método de estabelecer consistên-
25
Fig. 2.
A geometria não-euclidiana de Bemhard Riemann pode ser rcpreseD·
tada por um modelo euclidiano. O p1ano ricrnanniano toma-se a superfície
de uma esfera euclidiana. os ponios sobre o plano convcnem-sc cm pootos
sobre esta superfície e as retas no plano tomam-se círculos máximos. As-
sim, wna porçlo do plano riemanniano, limitado por segmentos de reW, _e
dcscriaa como uma porçlo da csfcn limitada por partes de círculos mb 1-
mos (centro). Dois segmentos de reta no plano riemanniano são dois seg-
mentos de drculos mhimos sobre a esíera euclidiana (embaixo) e estes, se
prolongados, na realidade se interceptam. cootradiundo assim o postulado
das paralelu.
eia é poderoso e eficiente. Todavia é também vulnerável à
objeção já exposta. Pois, mais uma vez resolve-se um proble­
ma em um domínio transferindo-o para outro. O argumento
de Hilbert em favor da consistência de seus postulados ge,o.
métricos mostra que se a álgebra for consistente, tamb6m o
será O seu sistema geométrico. Esta prova diz claramente res­
peito à suposta consistência de outro sistema e não é uma pro-
va ºabsoluta".
Nas várias tentativas de resolver o problema da consis-
tência, temos uma fonte persistente de dificuldade. Ela se en­
contra no fato de que os axiomas são interpretados por mode­
lo� compostos de um infinito número de elementos. Isto toma
impossível abarcar os modelos em um número finito de ob­
servaçôes; daí ser sujeita à dúvida a verdade dos próprios
axiomas. No argumento indutivo em favor da verdade da geo­
metria euclidiana. um número finito de fatos observados acer­
ca do espaço concorda presumivelmente com os axiomas. Mas
a conclusão que o argumento procura firmar envolve uma
extrapolação de um conjunto finito para um conjunto infinito
de dados. Como podemos justificar este salto? De outra pane
a dificuldade é minimizada, senão completamente eliminada,
lá onde é possível imaginar um modelo apropriado que conte­
nha apenas um número finito de elementos. O modelo de triân­
gulo usado para mostrar a consistência dos cinco postulados
abstratos para as classes K e L é finito; e é relativamente
simples determinar por inspeção real se todos os elementos
no modelo satisfazem efetivamente os postulados, e assim se
eles são verdadeiros (e portanto consistentes). Para ilustrar:
examinando cada um por seu turno os vértices do triângulo
modelo podemos saber se dois quaisquer estão de um mesmo
lado - de modo que o primeiro postulado é estabe
lecido como
.
verdadeiro. Uma vez que todos os elementos do modelo as-
'
sim como as relações importantes entre eles, acham-se aber
-
tos à inspeção direta e exaustiva. e uma vez
que a probabili­
dade da ocorrência de enganos ao inspecioná-los é pratica­
mente nula, a consistência dos postulados nesse caso não 6
assunto de dúvida genuína.
lnfclizmcnte, a maioria dos sistemas de postulados que
constitui os fundamentos · ortantes ramos da matem6.ti-
do em modelos finitos. Considerem o
ca não pode serespelha . .
postu1ado da
aritmética elementar que afirma ter
. .
todo 1nte1ro
'med
um sucessor 1 11 · to diferente de qualquer mte1ro prcceden-
te. É evidente que o modelo necessário para testar o conjunto
ao qual este postulado pertence não pode ser finito~ mas deve
conter uma infinidade de elementos. Segue-se que a verdade
(e portanto a consistência) do conjunto não pode ser esta-
belecida por uma inspeção exaustiva de um número limitado
de elementos. Aparentemente chegamos a um impasse. Mo-
delos finitos bastam em princípio para estabelecer a consis-
tência de ccnos conjuntos de postulados; mas estes são de
pequena importância matemática. Modelos não-finitos. neces-
sários à interpretação da maioria dos sistemas de postulados
de importância matemática são descritíveis apenas em termos
gerais; e não podemos concluir como coisa natural que as
descrições estão isentas de contradições ocultas.
É tentador sugerir a esta altura que podemos estar segu-
ros da consistência de formulações em que se descrevem
modelos não-finitos se as noções básicas empregadas forem
transparcntcmcnte ..claras'• e "distintas". Mas a história do
pensamento não tratou carinhosamente da doutrina das idéias
claras e distintas ou da doutrina do conhecimento intuitivo
implícita na sugestão. Em certas áreas da pesquisa matemáti-
ca onde suposições sobre coleções infinitas desempenham
papéis centrais, apareceram contradições radicais. a despeito
da clareza intuitiva das noções implicadas nas pressuposições
e a despeito do caráter aparentemente consistente das cons-
truções intelectuais realizadas. Tais contradições (tecnicamente
consignadas como uantinomias1•) surgiram na teoria dos nú-
meros infinitos desenvolvida por Gcorg Cantor no século XJX;
e a ocorrência destas contradições tomou patente que aclare-
za aparente. mesmo de uma noção tão elementar como a de
classe (ou agregado) não garante a consistência de qualquer
sistema particular erigido com base nele. Uma vez que a teo-
ria matemática das classes que trata das propriedades e rela-
ções de agregados ou coleções de elementos é muitas vezes
adotada como o fundamento de outros ramos da matem~tica,
e, em particular. da aritmética elementar, é perti ncnte pergun-
tar secontradições similares às encontradas na teoria das clas-
28
ses infinitas infectam as formulações de outras panes da ma-
temática.
De fato, Bertrand Russell construiu uma contradição den-
tro da estrutura da própria lógíca elementar que é precisa-
mente análoga à contradição desenvolvida primeiro na teoria
de Cantor das classes infinitas. A antinomia de Russell pode
ser colocada corno segue. As c1asses parecem ser de duas es-
pécies: as que não contêm elas próprias como membros e as
que as contêm. Uma classe chamar-se-á "normal" se e somen-
te se não contiver a si mesma como membro, do contrário
chamar-se-á ..não-normal". Um exemplo de classe normal é a
classe dos matemáticos. pois evidentemente a própria classe
não é um matemático e portanto não é membro de si mesma.
Um exemplo de classe não-normal é a classe de todas as coi-
sas pensáveis~ pois a classe de todas as coisas pensáveis é e1a
própria pensável e é portanto um membro de si mesma. Seja
.. N.. , por definição. o representante da classe de todas as clas-
ses normais. Perguntamos se N mesmo é uma classe normal.
Se N o for. é um membro de si mesma (pois por definição N
contém todas as classes normais); mas. neste caso. N é não-
normal porque. por definição, uma classe que contém a si
mesma como membro é não-normal. De outro lado. se N é
não-nonnal. é membro de si mesma (por definição de não-
normal); mas. neste caso, N é normal porque, por definição,
os membros de N são classes normais. Em síntese, N é nor-
mal se, e apenas se, N for não-normal . Segue-se que o enuncia-
do .. N é normal" é tanto verdadeiro quanto falso. Esta contra-
d~~ão fatal resulta do uso não-crítico da noção aparentemente
diafana de classe. Outros paradoxos foram descobertos mais
tarde, cada qual construído por meio de modos de raciocínio
familiares e aparentemente cogente. Os matemáticos vieram a
c~mpreender que para o desenvolvimento de sistemas con-
sistentes a familian·dade
. e a clareza .mt u1t1va
. . - camços
sao . tira-
cos para servu de apoio.
Vimos a importância do problema da consistência e nos
famili~rizamos com o método classicamente padrão para
r~olve-lo com a ajuda de modelos. Foi moso-ado que na maio-
na dos exemplos o problema requer o uso de modelo não-
finito, cuja descrição pode, por sua vez, ocultar inconsistên-
29
cias. Devemos concluir que. embora o método do modelo seja
um instrumen10 matemático precioso. não proporcionares-
po5t.a final ao problema que pretendia resolver.

JO
"
3. PROVAS ABSOLtrrAS DECONSISI'ENCIA

As limitações inerentes ao uso de modelos para o estabe-


lecimento da consistência e o crescente temor de que as for-
mulações-padrão de muitos sistemas matemáticos possam
abrigar todas as contradições i ntemas, levou a novas aborda-
gens do problema. Urna alternativa para as provas relativas
de consistência foi proposta por Hilbert. Ele procurou cons-
truir provas "absolutas"' mediante as quais seria possfve1 esta-
belecer os sistemas de consistência sem pressupor a consis-
tência de algum outro sistema. Cumpre-nos explicar
abreviadamente este modo de ver como preparação para o
entendjmento da realização de Gõdcl.
O primeiro passo na construção de uma prova absoluta,
tal como Hilbert concebeu a questão, reside na completa
/ormalizacão de um sistema dedutivo. Isto implica drenar as
expressões que ocorrem no interior do sistema de todo signi-
ficado: é preciso considerá-las simplesmente como signos
vazios. Como se deve combinar e manipular tais signos~ ex-
posto cm um conjunto de regras precisamente estabelecidas.
o propósito deste procedimcn,o ~ construir um sistema de
signos (denominado --cilculon) que nada esco~~e e que con-
tém apenas aquilo que nele inttOduzimos exphc1tamcnt~. Os
postulados e teoremas de um sistema totalmente formalizado
são '"cadeias" (ou seqüências finitamente longas) de marcas
sem significado, construídas segundo regras para combinar
os signos elementares do sistema em conjuntos maiores. Além
disso. quando um sistema foi inteiramente formalizado, a de-
rivação de teoremas a partir de postulados não é mais que a
transfonnacão (de acordo com regras) de um conjunto de tais
"'cadeias•• cm outro conjunto de ..cadeias". Desta maneira, fica
eliminado o perigo de empregar-se quaisquer princípios
inconfessados de raciocínio. A fonna1ização é um negócio
dificil e ardiloso e serve a um valioso propósito. Revela estru-
turas e funções cm sua nua clareza, como o faz a secção de
um modelo de mãquina em funcionamento. Uma vez formali-
zado um sistema, as relações lógicas entre proposições mate-
máticas ficam à vista; pode-se ver os padrões estruturais de
várias "cadeias" de signos ••sem significado". como permane-
cem unidost como eslão combinados, como se aninham um
no outro e assim por diante.
Uma página cobena com símbolos "sem significado" de
uma tal matemática formalizada não afirma nada - é simples-
mente um esboço abstrato ou um mosaico dotado de determi-
nada estrutura. Todavia. é possível descrever claramente as
configurações de semelhante sistema e efetuar enunciados
acerca das configurações e de suas várias relações entre si. É
possivcl dizer que uma "cadeia" é bonila ou que se parece
com outra ..cadeia~• ou que uma '"cadeia'• parece constituída
por três outras, e assim por diante. Tais enunciados são evi-
dentemente significativos e podem transmitir importantes in-
formações sobre o sistema formal. Cumpre observar entre-
tanto que tais enunciados significativos sobre um sistema
matemático (ou fonnalizado) sem sjgnificacão evidentemente
não pertencem eles próprios ao referido sistema. Eles perten·
cem ao que Hilbert chamou de "metamaremática", a linguagem
que versa sobre a matemática. Os enunciados metama-
tcmáticos são enunciados acerca dos signos que ocorrem den-
tro de um sistema matemático formalizado (isto é um cálculo)-
32
acerca dos tipos e arranjos de tais signos quando eles se
combinam para formar cadeias mais longas de símbolos deno-
minadas fórmulas ou acerca das relações entre fórmulas
obteníveis como conseqüência das regras de manipulação
especificadas para elas.
Alguns exemplos ajudarão a entender as distinções de
Hilbert entre matemática (isto é. um sistema de signos sem
significação) e metamatemática (enunciados significativos
sobre a matemática, os signos que ocorrem no cálculo, seus
arranjos e relações). Considerem a expressão
2+3=5
Esta expressão pertence à matemática (aritmética) sendo in-
teiramente construída a partir de signos aritméticos elementa-
res. De outro lado. o enunciado:
'"2 + 3 = 5" é uma fórmula aritmética;
afirma algo acerca da expressão exibida. O enunciado não
expressa um fato aritmético e não pertence à linguagem for-
mal da aritmética; pertence à metamatemática. porque carac-
teriza uma certa cadeia de signos aritméticos como sendo uma
fórmula. O seguince enunciado pertence à metamatemática:

Se O si~o ·:=-··. for utiliudo em uma fórmula de antmética. deverá ser


ladeado tanto a direita como à esquerda por c1'.pressõcs oumériças,

Este enunciado assenta uma condição necessária para o


emprego de um certo signo aritmético em fórmulas aritméti~
cas: a estrutura que uma fó rmu la antmet1ca
. - . deve apresentar
se lhe cun_1prc corporificar o referido signo.
Considerem as três fórmulas subseqüentes:
x==x
0=0
O ;tO
Cada uma delas n , .
cada 1 . ~ ence a matemática (aritmética) porque
qua est~ inteiramente construída de signos aritméticos.
Mas o enunciado:
'"x.. ~ uma variável

JJ
~ temática uma vez que caracteriza um certo
pertence
• •
• mdaffl•
.1. ,

omo .-rtenccnte a uma e1asse específi1ca de
signo antm~uco e
.s1gnos e·Isto ç,.1. à classe Y- • .
das variáveis). Mais
.
uma vez, o enun-
ciado seguinte pertence à metamatemática:

A fórmula --o :: (r' é dcririvcl da fórmula "x = .t" pela substiluição


da varih'cl .."" pelo numeral ..O...

Ele especifica de que maneira se pode obter uma fórmula arit-


mética de outra e. destarte, descreve como as duas fórmulas
se relacionam entre si. Similarmente, o enunciado
uo ~ on não é um teorema
pertence à mctamatemáti~ pois afuma a respeito de uma certa
fórmula que ela não é derivável dos axiomas da aritmética, e
assim assevera que uma certa relação não vale entre as fórmu-
las indicadas do sistema. Finalmente, o próximo enunciado
pertence à mctamatemática:
Aritmética é consistente
(isto é. não 6 possível derivar dos axiomas da aritmética duas
fónnulas fonnalmente contraditórias - por exemplo, as fór-
mulas ·-o= O'" e ·-o ~ O"). Isto relaciona-se claramente com a
arihnética e assegura que pares de fórmulas de uma certa es-
pécie não se apresentam cm uma relação específica com as
fónnulas que constituem os axiomas da aritmética 1•
Pode acontecer que o leitor julgue o termo mctamatemático
pesado e o conceito embaraçoso. Não tentataremos argumen-

t. Vale now que os enunciados da metamatemática apresentados no


tellllonão contem. como partes constituintes de si próprios, quaisquer doS
1igrw1 e f6mwlas matcmMÍcas que aparecem nos exemplos. À primeira vis-
ca, cal usercic pareçe sensivelmente faJ~ pois os signos e as fónnulas sio
claramente visíveis. Mas se os enunciados forcm examinados com olhar
aulltieõ ver-sc-i que a questão foi bem apanhada. Os enunciados mcwna·
tc!Úticos contem os l&OlfWS de catas e,i;,pressões aritm~ticas mas nlo as pró·
prias expressões aritméticas. A distinção~ sutil mas ao mesmo tempo válida
e importante. Swge da circunstãncia de que as regras da gramática iog~sa
(por exemplo) exigem que nenhuma sentença contenha literalmente os ob-
jclos aos quais se possam .referir as expressões na 1en1CDça, mas apenas OS
Mm~J de tais objetos. Obviame1u.e. quando falamos de uma cidade ulo cc,.
locunos • própria <:idade na scnknça. mas apenas o nome da cidade; simi-

34
tar que a palavra seja bonita; mas o conceito mesmo não as-
sombrará ninguém se indicarmos que é utilizado em conexão
com um caso especial de urna bem conhecida distinção, ou
seja, entre um tópico em estudo e um discurso acerca do tópi-
co. O enunciado ••entre os faloropes, os machos chocam os
ovosº diz respeito ao tema investigado pelos zoólogos e per-
tence à zoologia; mas se dissermos que esta assertiva dos
faloropes prova que a zoologia é irracional. nosso enunciado
não versa sobre os faloropes, mas sobre a asserção e a disci-
plina em que ela ocorre e é meta.zoologia. Se afirmarmos que o
id é mais poderoso do que o ego estaremos tagarelando sobre
coisas que pertencem à psicanálise ortodoxa; mas se criticar-
mos este enunciado como isento de sentido e improvável, a
nossa crítica pertence à metapsicanálise. E o mesmo ocorre no
caso da matemática e da metarnatemática. Os sistemas formais
que os matemáticos constroem pertencem à pasta denomina-
da "matemática''; a descrição. discussão e teorização acerca
dos sistemas pertencem à pasta denominada ºmetamatemi-
tica".
O reconhecimento para o nosso tema da importância da
diferença entre matemática e mctarnatemática não pode dei-

~n,e. se desejamos afimw algo a respeito de uma palavra (ou ouuo


signo hngüístico). não~ a própria palavra (ou o signo) que pode .aparecer na
scn1cnç:a mas apenas um nome pan a palavra {ou signo). De aco,do oom
~ma ~onvenção padrão. construímos um nome pan uma expresdo linglfs-
tJca dispondo ~pas à sua voha. Nosso texto adere a esta convenç10. É c.or-
n:lo CS~\'Cf":

Chicago ~ wna cidade populosa_


Mas ~ incorreto escrever:

Chicago é bissflaba.
A fim de c,.;prcssa, o que se pretende com esta ~ltima scati:nc11 l ~en
escrever. -r-• r·--
"'Chicago" t lrisillaba.
Do mesmo modo Dio I concto escrever:

x - S ~ wna equaçlo.
De\'anos, ao iav~. formular nosso propó5i&o por:
"..t = , .. ~ uma eqlllÇl.o.

J5
. da As falhas em não respeitá-la produziram
xar de ser enf,anzafusão • ·fitcação per-
• A percepção de sua s1gn1
ruiradoxos e con · . d . ( .
"-:-:-- à clara luz a estrutura l6g1ca o rac,oc n10 matc-
m1bu mostrar . l' .d d
. 0 trito da distinção 6 que 1mp 1ca uma cu1 a osa
m,nco. m f .
codificação dos vmos signos qu~ entram na ettura ~e um
cálculo formal, isenlo de assunçoes ~ultas e associações
irrelevantes de significado. Além do mais. requer definições
exatas das operações e regras lógicas de construção e dedu-
ção matcmtúcas, mujtaS das quais os matemáticos aplicaram
sem consciência ex.plícitJ. do que estavam usando.
Hilbert viu o cerne do assunto e baseou sua tentativa de
erigir provas "absolutas" de consistência na distinção entre
um dlculo formal e a sua descrição. Especificamente, procu-
rou desenvolver um método que produzisse demonstra~õcs
de consistência tão além das genuínas dúvidas lógicas quanto
o uso de modelos finitos para estabelecer a consistência de
ccnos conjuntos de postulados - por uma análise de um nú-
mero finito de traços estrututais de expressões em cálculos
inteiramente fonnalizados. A análise consiste em anotar os
vários. tipos de signos que ocorrem em um cálculo, indicando
o modo de combiná•los em fórmulas. prescrevendo como é
possível obter fórmulas a partir de outras fórmulas, e determi-
nando se as fónnulas de uma dada espécie são deriváveis de
outras por meio de regras de operação explicitamente enuncia-
das. HHbcn acreditava ser possível exibir todo cálculo mate-
mático como um tipo de padrão "geométrico" de fónnulas, em
que as fórmulas mantêm umas para com as outras um número
finito de relações estruturais. Esperava, portanto, mostrar pelo
exame exaustivo dessas propriedades estruturais de expres-
sões dentro de um sistema que não é possível conseguir fór-
mulas fonnaJmentc contraditórias a partir dos axiomas de da-
dos cálculos. Uma exig~ncia especial do programa de Hilbert
e~ ~ua_ concepção original era que as demonstrações de con-
sistcncia envolvessem apenas processos tais como o de não
fazer referência tanto a um número infinito de propriedades
~truturais e fórmulas quanto a um número infinito de opera·
çoes com fórmulas. Tais procedimentos eram denominados
·'finitúios••.• e uma prova de consistência conforme a esta de-
rnanda denomina-se ºabsoluta". Uma prova "'absoluta•' a)can-
Jlí
ça seus objetivos utilizando um mínimo de princípios de
inferência e não pressupõe consistência de algum outro con-
junto de axiomas. Uma prova absoluta da consistência da arit-
m6tica, se é que se poderia construir alguma. demonstraria,
portanto, mediante um procedimento mewnatemático finitário,
duas fónnulas contraditórias tais como "O= O" e sua negação
formal º- (0 = O)" - onde o signo.,._,, significa .. não" - não
podem ser ambas derivadas de regras enunciadas de inferência
2
a partir dos axiomas (fórmulas iniciais) •
Talvez seja útil à guisa de ilustração comparar meta-
matemática, enquanto teoria da prova, com a teoria do xa-
drez. O xadrez é jogado com 32 peças de propósitos especifi-
cados. sobre um tabuleiro dividido em 64 quadrados onde as
peças podem ser movimentadas segundo regras fixadas. O jogo
pode obviamente ser desenvolvido sem que se ab'ibua qual-
quer .. interpreta~ão" às peças ou às várias posições sobre o
tabuleiro. embora uma tal interpretação possa ser fornecida.
caso se deseje. Por exemplo, poderíamos estipular que um
dado peão de representar um certo regimento em um exército,
q_ue uma ~erta casa simboliza uma certa região geográfica as-
s~m por diante. Mas semelhantes estipulações (ou interpreta-
çocs) não são costumeiras; tampouco as peças nem as casas
nem as l_'Osiçõcs das peças sobre o tabuleiro significam alg~
fora do J08~- N e~te -~~ntido. as peças suas configurações so--
bre o tabuleiro sao isentas de significado". Assim o jogo é
análogo a um cálculo matemático fonnalizado. As peças e as
c~as do tabuleiro correspondem aos signos elementares do
e culo; as posições legais das peças sobre o tabuleiro, às fór-
mulas .do cálculo·, as pos'içoes
- 1ruc1a1s
• . . . das peças no tabuleiro
aos a,uomas ou fórmulas iniciais do cálcúlo· as posições su~
seqUentes das peças tab 1 . '
axiomas (1· no u euo, às fórmulas derivadas dos
.e.. aos teoremas)· e as dO .
inferência (ou derivação) ~a ~egras Jogo, à~ regras de
segue Embo P O calculo. O paralehsmo pros-
. ra as configurações de peças sobre o tabuJeim•
2. Hilbert não forneceu uma - . .
ccdirnentos metamatcmáf ruao mteuamentc precisa daqueles pro-
Na Versão Drioinal ,..._ ices que devem ser considerados fioittrios.
- ~ seu programa
de consislfncia eram . • .._ . de wna prova absoJula
. . • as e;ugçcuc1as
çõe, do programa pcl nws restnuvas do que nas subseqUe:ntes explana~
os membros de sua escola.

37
como as fórmulas do c,1cuto sejam "'isentas de sentido.. os
enunciados acerca destas configurações, como enunciados
metamatcmiticos a respeito das fónnulas, são inteiramente
significativos. Um enunciado "mctaxadrez" pode asseverar
que há 20 possíveis jogadas de abertura para as Brancas ou
que, dada uma certa configuração das peças no tabu]eiro, com
o lance para as Brancas, as Pretas receberão mate em três
Janccs. A1ém disso, pode-se estabelecer teoremas de
"metaxadrez'' cuja prova implica apenas um
, número finito de
configurações permissíveis no tabuleiro. E possível estabele-
cer destartc o teorema de ~'metaxadrez"quanto ao número de
possíveis jogadas de abenura para as Brancas. Do mesmo
modo, o teorema de '"mewadrez'" de que, se as Brancas têm
apenas dois cavalos e o rei e as pretas apenas seu rei, é impos-
sível às Brancas imporem um mate às Pretas. Este e oulrOs
lcoremas de "metaxadrez'' podem. em outros tennos. ser pro-
vados por métodos finitários de raciocínio, isto é, pelo exa-
me, um de cada vez, de um número finito de configurações
passíveis de ocorrer cm condições enunciadas. O objetivo da
teoria da prova de Hilbert. simi]armente. destinava-se a de-
monstrar por semelhantes métodos finitários a impossibilida·
de de derivar certas fónnulas contraditórias em um dado c4'J-
culo matemãtico.

38
4. O SISTEMA DE CODIFICAÇÃO DA
LóGICA FORMAL

Há duas pontes ainda a transpor antes de entrar própria


prova de Gõdcl. Cwnpre-nos indicar como e por que surgiram
os Principia Math~matica de Russell e Whitehead; e devemos
dar uma breve ilustração da formalização de um sistema de-
dutivo -tomaremos um fragmento dos Principia - e explicar
como se pode estabelecer a sua consistência absoluta.
Comumente, mesmo quando as provas matemáticas
obedecem aos padrões aceitos do rigor profissional. sofrem
de uma importante omissão. Elas corporificam princípios (ou
regras} de inferência não explicitamente formulados, dos quais
os matemáticos amiúde não tem consciência. Tomem a prova
de Euclides de que não há um número primo maior do que:
todos os primos. (Um número é primo se for divisível sem
resto por nenhum outro número além deJe próprio e da
unidade). O argumento lançado na forma de uma reductio
ad absurdum cone como segue: Admitamos, contrarian-
do o que a prova procura demonstrar. que existe um nú-
39
mero primo maior que todos os primos. Designemo-lo por
"x.,. Então:
1. ..t l o primo maior que todos os números primos.
2. Formem o produto~ todos os ni1meros primos menores ou iguais
a x e sornem 1 ilO produto. ls10 produziri um novo número y onde y =
(2 X J X 5X7 X . .. >C ..t) + 1,
3. Se y for -primo, então .x oão é o maior número primo, pois y é
obviamente maior do que .x.
4. Se y nio for primo (composto), então .x não é o maior primo.
Pois se y for composto, tlc deve ter um divisor primo,~ e z tem de ser
diferente de cada um dos números primos 2, 3. S, 1, . . . x, menores ou
iguais a .r; ponanto 1. tem que ser um número primo maior do que x.
S. Mas y l ou primo ou composto.
6. Portanto x não é o número primo. maior que todos os primos.
1. Nio há número primo maior que todos os primos.

Estabelecemos apenas os principais elos da prova. Pode-


se mostrar, entretanto, que ao forjar a cadeia completa, um
número razoavelmente grande de regras de inferência tacita-
mente admitidas, assim como teoremas de lógica, são essen-
ciais sendo que alguns deles pertencem à parte mais elemen-
tar da lógica formal e outros. aos ramos mais avançados; por
exemplo, são incorporados regras e teoremas que pertencem
à uteoria da quantificação... Esta teoria Hda com relações en-
tre enunciados que contêm panículas ..quantificantes.., tais
como '"todo.., "algum" e seus sinônimos. Apresentaremos um
teorema elementar de lógica e uma regra de inferência, sendo
cada um dos quais um parceiro silencioso. porém necessário
da demonstração.
Observem a linha 5 da prova. De onde ela procede? A
resposta é, do teorema lógico (ou verdade necessária) 'Tanto
p quanto não-p', onde •p· denomina-se sentença variável. Mas
como obtemos a linha 5 a partir deste teorema? A resposta é,
pelo emprego da regra inferência conhecida como a "Regra
de Substituição de Variáveis Sentenciais'\ de acordo com ª
qu.al um enunciado pode ser derivado de outro que contenha
tais variáveis, substituindo qualquer enunciado (neste caso,
·y~ primo') por toda ocorrência de uma variável distinta (n~te
caso. a variável 'p' ). O uso destas regras e teoremas lógicos é
. uitas vezes quase uma ação inconsciente. E
como d1ssemos m . .
. - mesmo em provas relativamente s1m-
a análise que os expoe, . 16 .
d Euclides depende de avanços na teona g1-
ples comdo as..:ã e somente ~o último séculoi . Como M. Jourdain
ca efetua os uaO- • be d·
. í 1 u prosa a vida inteira sem sa r tsso, os
de Molte~e. que .ª o n raciocinando durante pelo menos 2
matemállcos esttvera . ,. .
.,.. . sem que tiv~sem consciência de todos os prmc1p10s
m1 emos - d '"
. e faziam A verdadeira natureza as ,erra-
subJacente ao qu ·
mentas de seu oficio tomou-se evidente apenas em tempos

recentes. . "l' d Ç,6


Por quase 2 mil anos, a codificação anstote 1ca a ,, rmas
válidas de dedução foi tida em amplos círculos como comple-
ta e incapaz de sofrer uma melhoria essencial. Já em 1787 ~ o
filósofo a1emão Emmanuel Kant pode afirmar que desde
Aristóleles a lógica formal ºnão conseguira avançar um passo
sequer e, ao que tudo indica, é um corpo fechado e completo
de doutrina". O fato é que a lógica tradicional é gravemente
incompleta e falha mesmo cm dar conta de muitos princípios
de inferência empregados de maneira muito elementar no racio-
cínio matemático2 . O renascimento dos estudos lógicos na
época moderna começou com a publicação em 1847 de A Aná-
lise Matemática da Lógica de George Boole. A principal preo-
cupação de Boole e de seus sucessores imediatos foi desen-
volver uma álgebra da lógica que fornecesse uma notação
precisa para o tratamento de tipos mais gerais e mais variados
de dedução do que os abrangidos pelos princípios lógicos
tradicionais. Suponham haver-se verificado em certa escola
que aqueles que se formam com louvor se compõem precisa-
mente de rapazes que têm prefcrência pela matemática e mo-
ças sem preferência por esta disciplina. Como é formada a
classe que tem matemática como matéria preferencial cm ter-
mos das outras classes de estudantes mencionados? Ares-
posta não surge prontamente se usarmos apenas o aparelho
da lógica tradicional. Mas com a ajuda da álgebra de Boole
1. Para uma discussão mais pormenorizada das regn.s de inferencia
~enw lógicos ncccsúrios para chega.- is linhas 6 e 7 da prova acima, o
leuor deve recorrer aa Apfndice n. 2.
2. Por c:11.cmplo, dos princfpios envolvidos 111 infen!ada: S ~ ma.ior do
que 3; porlaoto, o quadrado de .5 ~ maior que o quadrado de l.

41
pode-se mostrar facilmente que a classe dos que preferem a
matemirica consiste exatamente de rapazes graduados com
louvor e moças não graduadas com louvor.

TABELA l
Todos os cavalheiros slo educados
Nenhum dos banquciJOs é educado
Nt.llhwn dos cavalheiros~ banqueiro.
CCC
bce
:. e Cb

cc=O
be=O
cb=O

A lógica simbólica foi invenwl.a cm meados do s~culo XlX pelo mate-


mtico inglls George Boole. Na prcsc:a~ ilustrado, um silogismo~ trans-
.posto para a nouçio de Boole. de duas maneiras diferentes. No grupo
superior de fórmulas, o símbolo ..e .. significa ..contido em... Assim "e e
e" significa que a classe dos cavalbeiros cslJ incluída na classe das pesso-
as educadas. No grupo inferior de fórmulas, duas letras juntas significam
a classe de coisas do«adas de ambas as caracterisúcas. Por exemplo, ºf>t"
significa a classe de indivíduos que são 'banqueiros e educados; e a equação
"IH= o•• quer dizer que esta classe aio tem membros. Uma Linha oo alto de
uma letra significa "nlo" ("i", por uemplo, 5ignifica ni~educado).

Outra linha de investigação, intimamente relacionada com


o trabalho dos matemáticos do século XIX sobre os funda-
mentos da análise, veio associar-se ao programa de Boole.
Este novo desenvolvimento procurou apresentar a matcmáti•
ca pura como capítulo da lógica formal e recebeu uma
corporificação clássica nos Principia MaJhematica de White-
head e Russell cm 1910. Os matemáticos do s6culo XIX fo-
ram bem-sucedidos no arabaJho uaritmetizar'" a álgebra e aquilo
que se costumava chamar de "cálculo infinitesimal", provan-
do que as várias noções empregadas na análise matemitica são
cxclusimente definidas em termos aritméticos (i,e., em ter-
mos dos inteiros e das operações aritmfticas a seu re~pei~
Por exemplo, cm vez de aceitar o número imagináno " -l
como uma ..cntidadeu algo misteriosa, esta passou a ser deti-
42
nida como um par ordenado de inteiros (O. 1) sobre os quais se
4

reaJizam certas operaçõeS de "adiçâo'.:_e • multiplicação". Simi-


1 ente, 0 número irracional ✓ 2 foi definido como uma certa
,=e de números racionais - ou seja. a classe dos racionais
cujo quadrado é menor do que 2. O que Russell {e, antes ~ele,
temático alemão Gottlob Frege) tentou mostrar foa que
o ma í . .dé'
todas as noções aritméticas são defin veis em I ias pura-
mente Jógicas e que todos os axiomas da aritmética são
dedutíveis a partir de um pequeno número de proposições
básicas que se podem comprovar como verdades puramente
lógicas. .
A título de ilustração: a nocão de classe pcnence à lógica
geral. Duas classes são definidas como "similaresn se houver
uma correspondência um a um entre seus membros. sendo a
nocão de tal correspondência explicável em termos de outras
idéias lógicas. Uma classe um único membro é chamada ..clas-
se unidade.. (e.g. classe dos satélites do planeta Terra) e o
número cardinal 1 pode ser definido como a classe de todas
as classes similares a uma classe unidade. Podem-se dar defi-
nições, análogas de outros números cardinais; e as várias op-
ções aritméticas, tais como adição e multiplicação são
definíveis nas noções da lógica formal. Um enunciado arit-
mético. e.g .• "1 + 1 = 2•• pode então ser apresentado como
uma transcrição condensada de um enunciado que contém
apenas expressões pertencentés à lógica geral: e é possível
provar que tais enunciados puramente lógicos são dedutíveis
de certos axiomas lógicos.
Assim os Principia Mathematica pareciam adíantar a
solução final do problema da consistência dos sistemas mate-
máticos e, da aritmética em particular, pela redução do pro-
ble_ma ao problema da consistência da própria lógica fonnal.
Pois se os axiomas da aritmética são simplesmente transcri-
ções de teoremas da lógica, a questão de saber se os axiomas
são consistentes
· •
equivale à questão de saber se os axiomas
nd
fu ªmentais da lógica são consistentes.
, A tese de Frege-Russell de que a matemática é apenas um
capitulo da lógica não conquistou. por várias razõe5 de por-
~enor. aceitação universal por parte dos matemáticos. AJ~m
disso, como foi notado. as antinomias da teoria de Cantor dos
43
•,os ~...m ser duplieadas dentro da própria
númeras transfian1 ~·-· _. .
• nos que ~auções cspcc1a1s scJam adotadas a
16g1ca, a me r· -- d'd d
fim de evitar ~te resultado. Mas serio as me 1 as a atadas
nos Principia MatMmatica a ftrn de flanquear as antinomias
adequadas para excJuir todas as formas de construções
autocontr.a.ditórias? Não se pode afumá-lo, natural mente. Por-
tanto, a redução de Frcge-Russell da aritm~tica à lógica não
proporciona resposta final do problema da consist!ncia; na
verdade, o problema simplesmente emerge de urna fonna mais
geral. Mas, sem considerar a validade da tese Frege-RusscU,
dois aspectos dos Principia provaram ser de valor inestimável
ao estudo ulterior da questão da consistência. Os Principia
fornecem um sistema de notação espe.cialmente compreensi-
vo, por meio do quaJ todos os enunciados da matem,tica pura
(e da aritmética em particular) são codificáveis de uma maneira
padrão; e toma explícita a maioria das regras de infcr!ncia
formal utilizadas nas demonstrações matemáticas (eventual-
mente, tais regras foram mais especificadas e completadas).
Os Principia, em suma. criaram o instrumento essencial para
investigar o sistema inteiro da aritmética como um cálculo não
interpretado- isto é, como um sistema de símbolos sem signi-
ficados cujas fórmulas (ou "cadeias") são combinadas e trans-
fonnadas segundo regras estabelecidas de operação.
5. UMEXEMPLODEUMABEM-SUCEDIDA~OVA
ABSOLUTA DECONSISTENCIA

Devemos empreender agora a segunda tarefa menciona-


da no início da seção anterior e familiarizar-nos com um im-
portante. embora facilmente entendível, exemplo de uma pro-
va absoluta de consistência. Domminando a prova, o leitor
estará em melhores condições de avaliar a significação do
artigo de Gõdel de 1931.
Esboçaremos a maneira pela qual se pode formalizar uma
pequena porção dos Principia, a lógica elementar das propo-
sições. Isto implica a conversão do sistema fragmentário cm
um cálculo de signos não-interpretado. Desenvolveremos en-
tão uma prova absoluta de consistência.
A formalização processa-se em quatro etapas. Primeiro,
prepara-se um catálogo completo dos signos a serem usados
no cálculo. Estes são o seu vocabulário. Segundo, assentam-se
as "Regras de Formaçãon. Estas declaram quais das combi-
nações dos signos do vocabulário são aceitáveis como '1'6r-
mulas" (de fato, como sentenças). Podemos considerar as re•
45
tes da gramitica do sistema. Terceiro.
gras como componcn " - ,. El
........ ••Rears~ de Trans1onnaçao . as des-
sio est.abelectu- as r- • d •
nrf'JCisa das fórmulas a partir as qua1s são
crevem a estrutura r--
dcrivjvcis outru fórmul~ de dada estrutura. Estas reg~as são,
& · regras de inferência. Finalmente, sclcc1onam-
com e,e110, 15 • , . .
se certas fórmulas como axiomas (ou como 1'onnulas pnmi-
tivas·1. Elas servem de fundamento para o sistema inteiro.
Utilizaremos a frase ''teorema do sistema'' para denotar qual-
quer fónnula derivável dos axiomas pela aplicação sucessiva
das Regras de Transformação. Designaremos por "prova" (ou
•·demonstração',) fonnal uma seqüência finita de fónnulas,
cada uma das quais é um axioma ou pode ser derivada de
fórmulas anteriores mediante as ..Regras de Transformaçãol.
Para a lógica das proposições (amiúde denominada cál-
culo sentenciai) o vocabulário (ou lista de "signos elementa-
res'') é extremamente simples. Consiste de signos constantes
e de variáveis. As variáveis podem ser substituídas por sen-
tenças e são chamadas portanto ºvariáveis sentenciais". São
as letras
'p', 'q'. "r', etc ...
Os signos constantes são ou uconectivos sentenciais..ou
signos de pontuação. Os conectivos sentenciais são:

·-·que~ a abre-vialW11 de 'não'


(e l chamado dt ºtil'),
'v' que é a aibreviatura de 'ou'
·~· que ~ a abrcviatun de ·sr ... enuo· e
·.'que~ a abrc\'iatura de ·e· .

Os signos de pontuação são os parênteses aberto e·e


fechado')' respectivamente.
As Regras de Fonnação são formadas de tal modo que
c_ombinações de signos elementares, que normalmente dcve-
n~ ter a forma de sentenças, são chamadas fórmulas. Tam-
bém. ~ada variável sentenciai conta como uma fónnu)a. Além
do mais, se a letra 'S• está no lugar de uma fórmula, sua nega·

~ 1• Segue-se imedia•11a1.1,1g1fe
..--- que cumpre contar os axiomas catre -l,0->
mas.
46
çio formal, - (S) i tam~m uma fórmula. Similarmente, se S 1 e
s são fórmulas, tam~m o serão (S 1) v (S2)t (S1) :l (S 2), e (S 1)
. (S ). Cada uma das seguintes é uma fórmula: 'p', •- (pY ..
2
'(p) -:::) (q)\ '((q) v (r)):, (p)'. Mas nem '(p) ( -(q))' nem '((p)::,
(q)) v' são f6nnuJas: a primeira não o é porque, enquanto '(pf
e '(- q) • são ambas fórmulas, não ocorre conectivo sentenciai
entre elas; tampouco a segunda o é, pois o conectivo 'v• não
é. como as Regras exigem. flanqueado tanto à direita como à
esquerda por urna f6rmula 2•
Duas Regras de Transformação são adotadas. Uma Re•
gra de Substituição (para variáveis sentenciais), diz que de
uma fórmula contendo variáveis sentenciais é sempre permis-
sível derivar outra fórmula pela substituição uniforme deva-
riáveis por fórmulas. Compreende-se que, quando se fazem
substituições da variável por uma fórmula, cumpre efetuar a
mesma substituição toda vez que ocorrer a variável. Por exem-
plo. na pressuposição de que 'p => p• já foi estabeJecida, po-
demos substituir a variável 'p' pela fórmula 'q'. a fim conse-
guirmos 'q ::::, q\ ou podemos substituir pela fómula 'p v q'
para ter '(p v q) ~ (,p v q)'. Ora, se substituirmos 'p' por
sentenças efetivas, podemos obter cada uma das seguintes a
partir de ·P :::) p ·: · As rãs são barulhentas => as rãs são baru-
1hentas · ~ ·(os morcegos são cegos v Os morcegos comem
ratos)::) (Os morcegos são cegos v Os morcegos comem ra-
3
tosr • A segunda Regra de Transformação é a Rt!gra de Des-
t~came,uo (ou Modus Ponens). Esta regra afirma que de duas
formulas

tendo a forma s l e s1 => s 2 e' sempre perm·lSSI,ve1 d e-
~1 vara fónnula Sr Por exemplo, das duas fórmulas •p v - p' e

(p v - p) ::::) (p => p)' podemos derivar •p =i p'.

sinais2d?;'!:~~ :ou:cr possibilidade de confusão, podc•sc ab.andonar os


•- (p)' basta- ç
O 151
~ º.é, os parênteses). Assim, cm vez de escrever
--~cn:ver - P · e cm vez d .,,,.) ,
mente 'p ::, q'. ' e V' => (q) , hasta. escrever simples-
). De outro lado supo h ~
estabelecida , . n a que a iórmula "(p => q):) (- q:) - p)' j' foi
por 'p • e_quc se decida substituir a variável 'p' por ·r· e a van,vel 'q'
v r . Nao se pode ,
(p v r))-.. ( • por meio dcs1a substi1uíção, obter a fórmula "(r =>
vez. qu ..,J - q. => - r)• • porque SC d CIXOU
· de íazcr a mesma subsliruirilio toda
e a ~an,vel 'q' . . r
(- (p v r)::, _ r)'. OCOITtu. A subst1tu1çlo correia produz '(r::, (p v r)) =>

,, ...
. ·ornas dos cálculos (essencialmente os
f1 nalmente, os ax1
dos Prillcipia) sJo as s~guintes quatro fórmulas:

l. (p "p)-::::, P 01. em
1. se (ou Hc:miqllc vm era
um mal-educado ou Henrique VUI
liriguagem comum. se ou p
en 111D mal-educado) entlo
oup, endo p.
Henrique vm era um mal-educado

2. p:::::, Cp v q) i,10 f, se p, 2. Se a psicwlise está na moda.


cadooupouq endo (ou a psicanálise esú. na moda
ou pós para dor de cabeça são
veodidos a baixo preço).

3. (p V q):::) (q \I p) ÍSIO ~. 3. Se (ou Emmauel Kant tra


se oup ou q, eodo ou pontual ou Hollywood ~ corrupta).
qoap mtJo (ou Hollywod ~ corrupta ou
Emmanuel Kant era pontual).

4. (p:> q)::) ((r V p)::::::) 4. Se: (se os palOS andam gingando


((r v p) isto t, se (se p cnlJo q) cotão 5 ~ um número primo)
enllo (lic (ou r ou p) eodo mi.ão (se (OU Cburchill bebe brandy
(OU rou q)) ou os patos andam gingando)
cotão (ou Churcbill bebe brandy
ou S i um oúmao primo)).

Na coluna da esquerda enunciamos os axiomas. cada qual


com uma tradução. Na coluna da direita, demos um exemplo
de cada axioma. A canhestreza das traduções. especialmente
no caso do a~ioma final, talvez ajude o leitor a compreender
as vantagens de usar um simbolismo especial na lógica for-
mal. Importa também observar que as ilustrações sem sentido
utilizadas como exemplos de substituição para os axiomas e o
fato de os consequentes não apresentarem qualquer relação
significativa com os antecedentes nas sentenças condicionais.
de modo algum afeta a validade das conexões lógicas afinna-
das nos exemplos.
Cada um desses axiomas pode parecer "óbvio" e trivial.
Não obstante, é possível derivar deles, por meio das Regras
de Transformação enunciadas, urna cl~ infinitamente grande
de teoremas que estão longe de serem óbvios ou triviais. Por
exemplo, pode-se derivar a fórmula

'((p:::, q)::, ((r ::> s) ::::> t)) :::, ((u:, ((r:, s):, t)):, ((p::, u) ::> (s :::> t )))'

48
como um teorema. Não estamos todavia interessados por ora,
derivar teoremas dos axiomas. Nossa meta é mostrar que
: e conjunto de axiomas não~ contraditório, isto é, provar
••absolutamente" que é impossível usando as Regras de Trans.
formação derivar dos axiomas uma fórmula S juntamente com
a sua negação formal ~ S.
Pois bem. sucede que 'p ~ (- P =:, q)' (em palavras: 'se p.
então se não-p então q') é um teorema no cálculo. (AceitMe-
mos isto como um fato sem apresentar a derivação). Suponham
então que alguma fónnula S bem como sua contrária - S fos-
sem dedutíveis a panir dos axiomas. Substituindo a variável
•p' por S no teorema (como é permitido pela Regra de Subs-
tituição) e aplicando a Regra de Destacamento duas vezes, a
fórmula "q' seria dcdutível 4 • Mas. se a fórmula que consiste
da variável •q· for demonstrável. scgue~se de pronto que subs-
tituindo ·q· por toda e qUlllquer fórmula, todtl e qualquer
fórmula será dedutível a partir dos axiomas. Assim. é claro
que, se alguma fórmula S e sua contrária - S forem dedutíveis
dos axiomas, toda fórmula seria dedutível. Em suma, se o cál-
culo não for consistente, toda fórmula é um teorema, o que
equivale a dizer que se pode derivar qualquer fórmula de um
conjunto contraditório de axiomas. Mas isto possui um inver-
so: ou seja, se nem toda fórmula é um teorema (isto é, se há
pelo menos uma fónnula que não é derivável dos axiomas)
emão o cálculo é consistente. A tarefa, portanlo. é mostrar
qu~ há pelo menos uma fórmula que não se pode derivar dos
axromas.
Isto é feito pelo emprego do raciocínio metamatemático
sobre O sistema à nossa frente. O procedimento real é elegan-
te. Consiste em achar uma característica ou propriedade es-
trutural de fórmulas que satisfaça as seguintes três condições:
(1· A propn'eda d e deve ser comum a todos os quatro axiomas.
uma tal propriedade é a de conter não mais do que 25 signos

di ~- Sub5lituiudo 'p' por S obtemos primeiro: S :::J (- S ::> q). A partir


:sta. Junto
Regra s
de com • que se pressupõe ser demonstóv~I. obtemos alnLv& da
COIII()de Destacamento: - S:::, q. Finalmenr.e, uma vez que - Sé suposto
Obte IIIOnstnvcl. empregando a Regra de Deseacameoto uma vez mais.
lllOs: q.

49
. ·edadc. contudo, não satisfaz a condi-
clementarcs, esta propn .cdade deve ser ..hereditária" sob
çio subseqüente). 2. A propn .
rr. formação_ ou seja. se todos os axiomas
as Regras de .1 rans ·d d ·
·ec1-.1- qualquer fórmula devt amente en-
possuem a propn au,;., _
vada delas, por meio das Regras de Tr~nsfo~açao também
, la Como toda fórmula assim deravada é. por de-
deve possu.1• . ,,. . •
finiçJo, um teorema. esta condição, em cssenc1a, c_supuJa q~e
todo teorema deve ter a propriedade. 3. A propnedade nao
precisa pertencer a toda fónnula que s~ possa ~ons~ir de
acordo com as Regras de Forrnaçio do sistema - isto e, deve-
mos procurar exibir pelo menos uma fórmula que não tenha a
propriedade. Se formos bem-sucedidos nesta tarefa trfpiice,
disporemos de uma prova absoluta de consistência. O racio-
cínio corre um pouco assim: a propriedade hereditária é trans-
mitida dos axiomas a todos os teoremas, mas se pudermos
encontrar numa sucessão de signos que obedeça às exigências
de serem uma fórmula no sistema e que, ainda assim, não pos-
sua a propriedade hereditária especificada, taJ fónnula não
pode ser um teorema.. (Para coJocar o assunto de outro modo,
se uma descendência suspeita (fórmula) carece de um traço
invaria vcJmcntc herdado dos antepassados (axiomas) ela não
pode de fato descender deles (teorema).) Mas. se descobrir-
mos uma fórmuJa que não é um teorema, teremos estabeleci-
do a consistência do sistema; pois, como observamos há pou-
co. se o sistema não fosse consistente, toda e qualquer fórmu-
la seria derivável dos axâomas (isto é, toda e qualquer fórmula,
seria um teorema). Em resumo, a apresentação de urna única
fónnula sem a propriedade hereditária realiza o truque.
Identifiquemos uma propriedade da espécie exigida. Es-
colhemos a propriedade de ser uma "tautologia". Na lingua-
gem comum. diz-se costumeiramente que uma declaração é
Ltutológica se contiver uma redundância e disser a mesma coisa
duas vezes com palavras diferentes - e.g., 'João é o paí de
Carlos e Carlos é o filho de João'. Na lógica, entretanto, defi-
n_c-~~ uma tautologia como um enunciado que não exclui pos-
s,bihdadcs lógicas - e.g., •ou está chovendo ou não está cho-
vendo'• Outra forma de colocar isto é afirmar que uma
tautologia~ "verdadeira em todos os mundos possíveis'\ Nin-
~m duvidari que independente do estado atual do temPo
50
(i.e., sem levar em consideração se o enunciado de que estí
chovendo é verdadeiro ou faJso), o enunciado 'ou está cho-
vendo ou não está chovendo' é necessariamente verdadeiro.
Empregamos esta noção para definir uma tautologia cm
nosso sistema. Observe. primeiro, que toda fórmula é
construída de constituintes elementares 'p'. 'q'. 'r9, etc. Uma
fórmula é uma tautologia se for invariavelmente verdadeira,
sem considerar se seus constituintes elementares são verda-
deiros ou faJsos. Assim, no primeiro axioma '(p v p) ::> p' o
único constituinte elementar é 'p·; mas isso não faz diferença
se ~p· for tomado como sendo verdadeiro ou como faJso - nos
dois caso~ o primeiro axioma é verdadeiro. Isto pode ser tor-
nado mais evidente se substituirmos 'p' pelo enunciado ºO
Monte Ramier tem 20.000 pés de altura..; obtemos então. como
um exempJu do primeiro axioma, a declaração 'Se ou o Monte
Rajnier tem 20.000 pés de altura, ou o Monte Rainier tem 20.<XX>
pés de altura, então o Monte Rainier tem 20.000 pés de aJtura '.
O leitor não terá dificuJdades em reconhecer como verdadeiro
csle longo enunciado. mesmo se acontecesse dele não saber
se o enunciado constituinte ·o Monte Rainier tem 20.000 pés
~e altura· é verdadeiro. Obviamente. então, o primeiro axioma
e ~~a tautologia - "'verdadeira em todos os mundos possí-
veis ~ode ser facilmente demonstrado que cada um dos ou-
uos axiomas é também uma tautologia.
Segue-~ q~ue é possível provar que a propriedade de ser
;;a tau_tologia e hereditária de acordo com as Regras de Trans-
rmaç ao. embora não possamos no d .
monstração (~ A ... . s csv1ar para dar a de-
er pcnd1cc, n 3) s
devidamente den· \'ad d : · egue-se que toda fórmula
ser uma tautologia.
a os axiomas ( ·
,.e., todo teorema) deve
Mostrou-se que a pro . d
duas das três cond1· - pne ade de ser tautológica satisfaz
çoes antes menc· d
tos para o terceiro pa D tona as, e estamos pron-
sso. evemos p
penença ao sistema ( . . rocurar uma fórmula que
· ,.e .. seJa construíd •
c1onados no vocabulário a com os signos men-
ção), e todav1·a p - , de acordo com as Regras de Forma-
ar nao poss · .
tautologia não pod uir a propnedadc de ser uma
da dos axiomas) Nã
e ser um. teorcm ('·e,,
ª · não pode ser deriva-
sentar semclhan~e ri pr~1samos procurar muito; é fácil apre-
rmu a. Por exemplo, 'p v q. se ajusta às
51
. . u...-...de ser um gansinho e~ na realidade um pa-
ex1g~nctas. n~-• I ... "'
tinho; nio pertence à família~~ umaf6mr~ a, mas nao C' um
tmffftftJ. EVidentemcnte não i wna tautologia. Qualquer
• ed,
cxem-
Iode substituição (ou interpretação) mostra-o 1m 1atamcn-
p .,l. • t l l
te. Podemos fazê-lo substituindo as van.veas P v q pe o enun-
ciado •Napoleão morreu de cáncer ou Bismarck apreciou uma
xícara de café'. Isto não ~ uma verdade lógica. porque seria
falsa se as duas cláusulas que aí oco1Tem fossem falsas; e.
ainda que fosse um enunciado verdadeiro, não é verdadeiro
independentemente da verdade ou falsidade de seus enuncia-
dos constituintes. (Ver Apêndice n. 3.)
Atingimos a nossa meta. Achamos pelo menos uma fór-
mula que não é um teorema. Uma tal fórmula não poderia
ocorrer se os axiomas fossem contraditórios. Por conseguin-
te, não é possível derivar dos axiomas do cálculo sentencia]
tanto a fórmula quanto a sua negação. Em suma, apresenta-
mos uma prova abso]uta da consistência do sistema'.
Antes de abandonarmos o cálculo sentencialt devemos
menção a um último ponto. Como todo teorema deste cálculo
i uma tautologi~ urna verdade da lógica, é natural perguntar
se, inversamente, toda verdade lógica exprimível no vocabu-
lário do cilculo (i.e., toda tautologia) é também um teorema
(i.e .• derivável dos axiomas). A resposta é sim, embora a pro-
va seja demasiado longa para ~er aqui estabelecida. A ques-
tão que nos preocupa resolver, entretanto, não depende de
familiaridade com a prova. O problema é que, à luz desta cone
clusâo, os axiomas são suficientes para gerar todas as fórmu-
las tautológicas - todM as verdades Jógicas exprimíveis no
sistema. Tais fórmulas são ditas "completas...

S. Talvez seja útil ao leiEDr I seguinrc recapitulação da seqU!ncia:


1. Todo axioma do sistema t wna tautologia.
2. O carittr tautoJógico ~ uma propriedad( hercdil.iria.
3. Toda fórmula devidamente deri\'Bda dos u.ionw (isto é. rodo reon:ma)
talnb!m é uma tautolopa.
4
· Porunto qualquer fórmula que não seja uma uurologia não t um teorema-
s. .Encontrou-se uma fdrmula (,o. g. 'p v q') que nlo ~ u.ma tautologia.
6. Esra fónnula Dão ~ pois wn kottma.
!·Mas.~ os axi~mas fmsem iocoruistentes. Ioda fórmula seria wn teareml•
. Ponaoto os axaomas sio cmsistenccs.
,2
Pois bem. frequentemente, l de interesse primordial de-
terminar se um sistema axiomatizado é completo. Na verda-
de, um motivo poderoso para a axiomatização de vários ra-
mos da matemática tem sido o desejo de estabelecer um con-
junto de pressuposições iniciais a partir das quais sejam
dedutíveis todos os verdadeiros enunciados em algum campo
de investigação.Quando Euclides axiomatizou a geometria
elementar, aparentemente selecionou os axiomas de tal modo
a tomar possível derivar todas as verdades geométricas; isto
f. aquelas que já haviam sido estabelecidas, bem como quais-
quer outras que pudessem ser descobertas no futuro 6 • At~ há
pouco era tácito que se pode reunir um conjunto completo de
axiomas para qualquer ramo dado da matemática. Em espc-
cjaJ, os matemáticos acreditavam que o conjunto proposto para
a aritmética no passado era realmente completo ou, na pior
das hipóteses, poderia ser completado mediante o simples
acréscimo de um número finito de axiomas à lista original. A
descoberta de que isto não funcionará é uma das principais
realizações de Gõdel.

6. Euclides denotou noUv I di .


axioma das ,.,.,.... ,e•-- e sccrnuncnto ao considerv seu famoso
. . - - uq como uma hiRA-te 1 · ·
ou1ros uio-~• p . r- se og1camcoae independente de seus
. •6-.,. ois. corno foi s i-...
den\"ar cs1c a.xi,...• da u.,~uentcmcn~ provado, nlo i possível
vaua s prcssurwvil'ivoc,
ele o conjunto de . . _.. T - - rcmanes~ates, de modo que sem
ummas f incompleto.

53
6. A IDÉIA DEMAPE~O
E o SEU USO NA MATEMATICA

O cálculo sentenciai é um exemplo de wn sistema ma~má-


tico onde são plenamente efetivados os objetivos da teona da
prova de Hilbert. Para sermos precisos, este cálculo codi~ca
apenas um fragmento da lógica formal, e seu vocabulário . ,,e
aparato formal não bastam para desenvolver sequer a antme-
tica elementar. O programa de Hilbert, todavia, não é tão limita-
do. Pode ser executado com sucesso nos sistemas mais inc) u-
si vos, o que pode ser mostrado pelo raciocínio metamatemático
como sendo tanto consistente quanto completo. À guisa de
exemplo, uma prova absoluta de consistência é disponível
para um sistema de aritmética que permita a adição de núme-
ros cardinais embora não permita a sua multiplicação. Mas
será o método finitário de Hilbert suficientemente poderoso
para provar a consistência de um sistema tal como os Princi-
pia, cujo vocabulário e aparato lógico são adequados para
exprimir toda a aritmética e não apenas um fragmento? Tenta-
tivas repetidas para construir uma tal prova foram mal-succdi-
55
. - do .,
das; e a publ,caça0
.....igo de Gõdel em 1931 provou final-
\-1

m~~q~ todos estes esforços que operavam


.
dentro dos
.
estritos limites do programa original de Hilbert devenarn fa-
lhu.
Como Gõdel estabe1cceu e como ele provou seu, resulta-
dos'? Suas conclusões principais tem duas faces. Em primeiro
lugar (embora esta não seja a ordem do argumento efetivo de
Gõdel) eJe provou que é impossível fornecer uma prova
mewnaterná.tica da consistência de um sistema suficientemente
compre.cnsivo para conter o todo da aritmética a menos que a
própria prova empregue regras de infcrência em certos aspec-
tos essenciais diferentes das Regras de Transformação usadas
na derivação de teoremas dentro do sistema. Uma tal prova
pode. para sermos corretos, possuir grande valor e importân-
cia. Todavia. se o raciocínio aí utilizado basear-se em regras
de inferência muito mais poderosas do que as regras do cálcu-
lo aritmético, de modo que a consistência das hipóteses no
raciocínio esteja tão sujeita à dúvida quanto a consistência da
aritm~tica. a prova conduzirá apenas a uma vitória ilusória:
um dragão morto só para criar outro. Em qualquer evento, se
a prova não for finitíria, ela não realiza os objetivos do pro-
grama original de HíJben; e o argumento de Gõdel torna im·
provável que possa ser dada uma prova finitária da consistên-
cia da aritmética.
A segunda conclusão importante de Godel é ainda mais
surpreendente e revolucionária, pois demonstra uma limita-
ção fundamental no poder do método axiomático. Godel mos·
trou que os Principia, ou qualquer outro sistema dentro do
qual a aritmética pode ser dcsen\lo(vida, é essencialmente in·
compl~to. Em outras palavras. dado qualquer conjunto con·
sistcntc de axiomas aritm~ticos, há enunciados aritméticos
verdadeiros que não podem ser derivados do conjunto. Este
ponto cruciaJ merece ilustração. A matemática~ rica em enun·
ciados gerais para os quais não se encontrou exceções que
têm frustrado em alto grau todas as tentativas de prova. É
conhecida uma clássica ilustração como o ''Teorema de
Goldbach" que estabelece que todo número par é a soma de
dois
' números primos. Não se encontrou até agora nenhum
núniero par que não seja a soma de dois números primos, con·
tudo ninguém foi bem sucedido em encontrar uma prova de
que a conjetura de Goldbach se aplica sem exceção a todos os
números pares. Este então é um exemplo de um enunciado
aritmético que pode ser verdadeiro. mas pode ser não-derivável
dos axiomas da aritmética. Suponha, agora, que a hipótese de
Goldbach seja sem dúvida universalmente verdadeira, embo-
ra não-derivável dos axiomas. E quanto à sugestão de que
nesta eventualidade os axiomas pudessem ser modificados ou
aumentados de modo a tomar os enunciados até agora não
provados (com o de Goldbach em nossa suposição) deriváveis
no sistema aumentado? Os resultados de Gõdcl provam que,
mesmo que tal suposição fosse correta~ a sugestão não pro-
porcionaria ainda uma debelação final da dificuldade. Isto~.
mesmo se os axiomas da aritmética fossem aumentados por
um número indefinido de outros verdadeiros. haverá sempre
ulteriores verdades aritméticas que não são formalmente
deriváveis do conjunto aumentado1•
Como Gôde) provou estas conclusões? Até um certo ponto
a estrutura de seu argumento é modelada. como ele próprio
assinalou, conforme o raciocínio envolvido em uma das
antinomias
. . lógicas conhecida como o "'Paradoxo Richard"
pnme1ramente proposto pelo matemático francês Jules
.
Richard e~ 1905. Daremos um esboço deste paradox~.
Considere uma língua (e.g ..o inglês) na qual as proprieda-
des
fi
puramente aritméticas
.
dos números card.Jna1s. possam ser
ormulad~ e definidas. Examinemos as definições que podem
s~r pr,es~ntas na língua em questão. É claro que sob pena de
c1rcu andadeou de infinit •
às pro . d d . . o regresso, a 1guns termos referentes
finido~~e ª. es ~ntmét1cas não podem ser explicitamente de-
alg I pois nao podemos definir tudo e devemos panir de
um ugar-embora possam ·
endidos de ai um . . 'presum1ve1mente, ser comprc-
g outro Jeito. Para os nossos propósitos não
1· Essas verdades ulteriores ~..
por alguma forma ,1_ • • . ~m. como veremos, ser estabcl«idas
""- raciocan,o mctamatemá .
co. Mas tal procedime _ . oco sobre um sisrcm.t ari~ti-
assim dizer, ser autosu~:;ao satisfaz a cxigtncia de que o dkulo deve, por
sentadas com nte e que as verdades em qucslâo devem s~r apre-
0 n
sistema H"" con~qüf cia.~ formais dos axiomas especificados dentro do
• então uma li
41
• ' ta i ·
meio de . . ' fflJ Ç o mercntc no mltodo aÃiomático como 0
s1stemauzar o lodo da aritm~tica.

57
importa quais siO os termos não definidos ou ~'primitivos'"~
podemos supor. por exemplo, que entendemo~, o ~ue ~ p~e-
tcndc di7.er com "um inteiro é divisível por outro , e wn mtelJ'O
i o produto de dois inteiros.., e assim por diante. A ~roprie-
dade de ser um número primo pode então ser defimda por:
"nlo divisível por qualquer outro inteiro senão o 1 e ele pró-
prio"; a propriedade de ser um quadrado perfeito pode ser
definida por: ··ser o produto de algum inteiro por ele próprio";
e assim por diante.
Podemos ver prontamente que cada uma destas defini-
ções contém apenas um número finito de palavras e. portanto.
apenas um número finito de letras do alfabeto. Sendo este o
caso, as definições podem ser colocadas em ordem seriada:
uma definição precederá outra se o número de letras da pri-
meira for menor do que o número de letras da segunda; e. se
duas definições possuírem o mesmo número de letras, uma
delas precederá a outra com base na ordem alfabética das le-
tras em cada uma das definições. Com base nesta ordem. um
único inteiro cOrTcsponderi a cada definição e representará o
número do lugar que a definição ocupa na série. Por exemplo,
a definição com o menor número de letras corresponderá ao
número 1. a próxima definição na série corresponderá ao 2, e
assim por diante.
Como cada definição está associada com um único intei•
ro. pode acontecer em certos casos que um inteiro possuirá a
propriedade genuína designada pela definição à qual o inteiro
está rclacionado 2• Suponha. por exemplo, que a expressão
definidora '"não-divisível por qualquer outro inleiro senão 1 e
ele próprio... estivesse relacionada ao número de ordem J7;
obviamente o próprio 17 possui a propriedade designada pela
expressão. Por outro lado, suponha que a expressão definidora
- ºser o produto de algum inteiro por si próprio" - estivesse
re~aciona~ ao número de ordem 15; ~ claro que 15 não pos-
sui a propnedade designada pela expressão. Descreveremos

2· Este t O
mesmo tipo de coisa que aconteceria se a palavra inglesa
short [curto.] •~sse DWh& Wta de palavras e cuacterizanamos cada
~!:~ ~~losta pelo ~o short ou long (comprido). A palavra short teril
'"'-" o '"'u shorr ligado I ela.
58
· ação do segundo exemplo, afirmando que o número 15
a~U 1 ..
possui a propriedade ser richardianos e, no pn_me1ro cxem•
dizendo que o número 17 não tem a propnedade de ser
P1o, . J d r· . ~ H
· hardiano. De um modo mais gera , e 1n1mos x e
rlC . ,- J u u -
richardiano, com o modo abreviado de 1ormu ar x nao pos-
sui a propriedade desígnada pel_a expres~ão definidora com a
qual x está relacionado no conJunto senadamente ordenado
de definições... .
Chegamos agora a um giro curioso mas caracterísuco no
enunciado do Paradoxo de Richard. A expressão definidora
da propriedade de ser richardiano descreve ostensivamente
uma propriedade numérica dos inteiros. A própria expressão
pertence, portanto, às séries de definições acima propostas.
Segue-se que a expressão está relacionada com um inteiro
fixador de posi(jãO ou número. Suponha ser n este número.
Colocamos agora a questão que lembra a antinomia de Russell:
É n richardiano? O leitor pode sem dúvida antecipar a contra•
dição fatal que agora ameaça. Pois n é ríchardiano se, e so-
mente se, 11 não possuir a propriedade designada pela
expressão definidora à qual n se relacionaciona (i.e .• não tem a
propriedade de ser richardiano). Em resumo, n é richardiano
se, e somente se, n for não-richardiano; Jogo o enunciado •n é
richardiano · é tanto verdadeiro como falso.
Devemos assinalar agora que a contradição é, em certo
sentido, um embuste produzido por não se jogar a partida de
modo inteiramente honesto. Uma hipótese essencial mas táci-
ta subjacente à ordenação seriada de definições foi devida-
mente abandonada ao longo do caminho. Anuiu-se em consi-
derar as definições das propriedades puramente aritméticas
d . .
~s Inteiros - propriedades que podem ser fonnuladas com a
ªJuda de noções tais como a adição, multiplicação, aritméti•
case coisas semelhantes. Mas então sem adven~ncia fomos
solicitados a aceitar uma definição ~as s~rics que env~Jve re-
fe~nci~ à notação utilizada na formulação de propriedades
intrnét1cas. De modo mais específico, a definição da proprie-
dade de ser richardiano, não pertence às séries a que foi inicial-
mente destinada.. porque tal definição implica noções meta-
matcntáticas tais como o número de letras {ou signos) que
OCone nas expressões. Podemos ladear o Paradoxo de Richard,
59
distinguindo cuidadosamente entre enunciados dentro da arit-
~tica (que não fazem referência a qualquer sistema de nota-
ção) e enunciados acerca de alguns sistemas de notação em
que a aritmética é codificada.
O raciocínio na construção do Paradoxo de Richard 6
claramente falacioso. A construção. não obstante. sugere que
talvez seja possível ºmapear.. ou "espelhar" enunciados
metarnatemãticos sobre um sistema fonnal suficientemente
compreensivo no próprio sistema. A idéia de ..mapear" é bem
conhecida e desempenha papel fundamental em muitos ra-
mos da matemática. É utilizada, naturalmente, na construção
de mapas comuns onde formas situadas sobre a superficie de
uma esfera são projetadas sobre um plano, de modo que as
relações entre~ figuras planas espelham as relações entre as
figuras situadas sobre a superfície esférica. É usada em geo-
metria com coordenadas. que traduz geometria em álgebra,
de forma que relações geométricas são mapeadas por outras,
algébricas. (O leitor há de lembrar a discussão no Cap. II.
que explica como Hilbert empregou a álgebra para estabele-
cer a consistência de seus axiomas da geometria. O que Hilbert
fez. com efeito, foi mapear a geometria sobre a álgebra.) O
mapeamento também desempenha um pape) na física mate-
mática onde. por exemplo. relações entre propriedades de
correntes elétricas são representadas na linguagem da
hidrodinâmica. Também ocorre mapeamento quando se cons-
trói um protótipo antes de lidar com uma máquina cm iama•
nho normal, quando uma pequena superfície de asa é obser·
vada em suas propriedades aerodinâmicas num túnel de ven·
to. ou quando um equipamento de laboratório composto de
circuitos elttricos é aplicado ao estudo das relações enue
grandes massas em movimento. Um notório exemplo visual
aparece na Fig. 3. que. ilustra uma espécie de mapeamento
que ocorre no ramo da matcm~tica, conhecido como geome-
tria projetiva.
A feição básica do mapeamento é que se pode provar que
u~a estrutura abstrata de relações incorporadas em um domí·
ruo de "objetos" também vale entre "objetos" (em geral de
u~ cs~ie diferente do primeiro conjunto) de outr~ dornf~
n,o. Foa este aspecto que estimulou Gõdel a constrULI a su
fin
1

(a)

-~-- • --~~--,
e
....
li

UI

I'
Fig. 3

. Figura 3 (a) ilustra o~


quaisquer distintos corcma de Pappus: Se A. 8 . C .slo uts po,uo:r
quaisquer distintos s:,rc uma r~ta r. e A' , B', C' outros trts ponlos
dos pelo par de rtt 50 e outra reta li, os três pontos R. S. T clctamiDl-
tc. são colincarcs ~~ AB· e A'B, BC' e B'C, CA' e C' A, rcspectivamco-
Figu.ra J(b) . ' -~ ··'stão sobre a reta Ili).
ne tas quaisquer disti•1USlra o º'dua l" do teorema acima: Se-A, 8 . C sio trls
retas distintas equa::tas que passam por um ponto 1, e A', B'. C' outras crb
deter minadas quer que passam por wn ponto li, as ~ ,rt.a.J R. S. T
J)Cctivarncotc ~Ios pares de pontos AB" e A'B, BC'e e·c. CA•e C'A. tn•
As duas• ..fiaouras
COpont uaas
· (a.e
· .. csrJo sobre o ponto Ili).
1 JJUfntecia se· g aprescnwn a mesma ts'"''"'° ab.Jtratn. embora na
cionada à p· Jarn marcadamente diferentes. A figura J(a) rsd llo rela-
SC&Unda en tgura l{b) que pnnros da pnmeira correspondem a rtUJ$ da
fato, (b) t quanto retas da primcir2 correspondem a pr11ttOS da seguada. De
CSpctula,>• ~mapa de (a): um poolD cm (b) n:prc.seata (ou ~ a ..imqcm
P0nto cm (a;. uma rela cm (a). eaquanco uma tell em (b) represam um
prova. Se complexos enunciados metamatcmáticos sobre um
sistema fonnalizado de aritm~ica pud~sem, como ele espe-
rava se traduzidos (ou espelhados) por enunciados aritméti-
cos dentro do próprio sistema, obter-se-ia um importante lu-
cro faciJitando demonstrações metamatemáticas. Pois assim
como é mais fácil lidar com fórmulas algébricas que repre-
sentam (ou espelham) intricadas relações geométricas, entre
curvas e superfícies no espaço do que com as próprias rela-
ções geom~cas do mesmo modo é mais fáci 1lidar com con-
trapartes aritméticas (ou "imagens especulares") de comple-
xas relações lógicas~ do que com as próprias relaçõe lógicas.
A exploração da noção de mapeamento é a chave do ar-
gumento no famoso anigo de Gõdel. Seguindo o estilo do
Paradoxo de Richard, mas evitando cuidadosamente a falácia
envolvida em sua construção, Gõdcl mostrou que enunciados
mctamatemáticos acerra de un cálcu)o aritmético formaliza-
do podem ser representados sem dúvida~ por fónnulas arit-
m6ticas dentro do cjlcula Como haveremos de explicar mais
pormenorizadamente no próximo capítulo. ele imaginou um
m6todo de representação tal que nem a f6rmula aritmética
correspondente a un certo enunciado metamatemático verda-
deiro acerca da fórmuJa, nem a fórmula aritmética correspon-
dente à ncgaç1o do enunciado, é demonstrável dentro do cál-
culo. Como uma desus fórmulas aritm~ticas deve codificar
uma verdade aritmética., embora nenhuma seja derivável dos
axiomas, os axiomas são incompletos. O método de Goelei de
representação wn~m lhe pennitiu construjr uma fórmula
ariunética correspondente ao enunciado metamatemático ·o
cálculo 6 consistente' e provar que esta fónnuJa não é demons-
tri vel dentro do cálculo. Segue-se que o enunciado metama-
temitico nlo pode ser estabelecido a menos que sejam usadas
regras de inferência que não podem ser representadas dentro
do cálculo, de modo que, ao provar o enunciado, devem ser
empregadas regras cuja própria consistência possa ser tão
questionável quanto a consistência da própria aritmética. Gõdel
estabeleceu estas conclusões maiores usando uma forma no-
tavelmcnte engenhosa de mapeamento.

62
7. APROVADEGÕDEL

O artigo de Gõde] é dificil. É preciso assenhorar-se de 46


definições prévias juntamente com vários importantes teo-
remas preliminares, antes de alcançar os resultados princi-
pais. Tomaremos uma estrada bem mais fácil; ainda assim ela
deverá fornecer ao leitor relances do ascenso e da estrutw-a de
coroamento.

A. A Numeração de Godel

Gôdel descreveu um cálculo fonnalizado dentro do qual


st
pode expressar costumeiras notações aritméticas e estabe-
lecer relações aritméticas familiarcs1• As fórmuJas do cáJculo
são construídas a partir de uma classe de signos clcmenw-es,

1· Ele utilizou uma adaptaMio do sistema desenvolvido nos Principia


!ti~ . r .
· matica. Mas qualquer ctlculo dentro do quaJ seja pos.úvcl CODSlnW' 0
1u1tema de • .
o.wneros cudinais serviria ao seu propósito.

61
que constitui O vocabulirio fundamental. Um conjunto de fór-
mulas primitivas (ou axiomas) constitui o suporte cos teoremas
do ctlculo são fórmulas deriváveis dos axiomas por meio de
um conjunto cuidadosamente enumerado de Regras de Trans-
formação (ou regras de inferência).
Gõdel mostrou primeiro que é possível atribuir um úni-
co número a cada signo elementar, a cada fórmula (ou se-
qüência de signos) e a cada prova (ou seqüência finita de
fórmulas). Este número. que serve de rótulo ou índice distin-
tivo denomina-se ..número de Gõdel" do signo, fórmula ou
provai.
Os signos elementares pertencentes ao vocabulário fun-
damental são de duas espécies: os signos constantes e as va-
riáveis. Admitiremos que há exatamente 1O signos constan-
tes3, aos quais são atribuídos os inteiros de l a l O como
números de Gõdcl. A maioria destes signos já são do conhe-
cimento do leitor ·-· (abreviatura de "não')~ 'v' (abreviatura
de ·ou');·::,• (abreviatura de 'se ...então .. .'),·=• (abreviatura
para 'é igual')~ ·o· (o numeral para o número zero); e três
signos de pontuação, ou seja. o parêntese aberto '(' e opa-
rêntese fechado ·)',e a vírgula ·,'. Em acréscimo. dois outros
signos serão usados: a letra invertida "3', a qual pode ser lida
como 'existe' ('há') e que ocorre em 'quantificadores exis-
tenciais'; e a caixa-baixa 's'. que está ligada a expressões
numéricas para designar o sucessor imediato de um número.
Para ilustrar o caso: a fórmula '(3x) (.x = sO)' pode ser lida
..Existe um x tal que .t é o sucessor imediato de o•·. A tabela
abaixo exibe os JO signos constantes, estabelece o número
de Gõdcl associado a cada um deles e indica os significados
usuais dos signos.

2-. Há muitos modos alternativos de atribuir números de Güdtl e


nJo é importante para o argumento principal qual deles é adotado.
Damo~ um cxe~lo coocr~to de como l possível consignar os nú.meros
para aJudu _o leitor a scguu a di5CUSsão. o m~todo da numeração usado
oo texto foi _empregado por Godcl cm seu anigo de 1931.
3. O numero de signos constantes depende de como i montado o c'1-
culo formal. Gõdel em seu · 10
utiliza 10 fi de . artigo usou apenas 7 signos constantes. O iex
, a lffl CVI~ certas J •
comp ex.dades na exposiçlo.
64
TABELA 2

Signos Constantes Número de Godel Significado


l não
V
2 ou
::, 3 Se ... então...
3 4 Existe um
- 5
6
~
zero
igual
o
s 7 O sucessor imediato
( 8 de marca~ pontuação
) 9 marca de pontuação
10 marca de pontuação

Ao ]ado dos signos constantes elementares, três tipos de


variáveis aparecem no vocabulário fundamental do cálculo: as
variáveis numéricas 'x', 'y', 'z' etc., que podem ser substituí-
das por numerais e expressões numéricas; as variáv~is
sentenciais 'p'. 'q'. •r' etc., que podem ser substituídas por
fórmulas (sentenças); e variáveis predicativas 'P', 'Q'. 'R' etc.,
que podem ser substituídas por predicados tais como "Primo'
ou ·Maior do que,. Às variáveis são atribuídas números de
Gõdel de acordo com as seguintes regras: associem (i) a cada
variável numérica distinta um número primo distinto maior
do que 10; (ii) a cada variável sentenciai distinta, o quadrado
de um número primo maior do que l O e (iii) a cada variável
predicativa, o cubo de um número primo maior do que 10. A
ta
bela que segue exemplifica o uso de tais regras para especifi-
car os números de Gõdel de algumas poucas variáveis.

TABELA 3
Variávtl
N1ímero de Exemplo de Uma
N~mlrica
Godel Pos.sivel Substiluição
~
11 o
)'
IJ sO
z y
17
A Variá.veis numéricas estão associadas a números primos maio-
res do que 10.

65
fvú,Mrod~ E.:c~mplo d~ Uma
\ári.6wl
Gii,del Pouív~I SubJtituiçdo
~nt~ncial
IP 0=0
p
1Jl (3x) (x = sy)
q
r 1T- p-=>q

As varijveis sentenciais estão associadas aos quadrados de nú-


meros primos maiores que 10.

Varióvt"I NúmLrode E.x~mplo de ,vna


Pr"dica1iva Gotkl Possível Subslituição
p IP Primo
Q JJl Composto
R 11' Maior do que

As variAvcis predicativas estão associadas aos cubos de núme-


ros pnmos ma.iorc-s do qur 10.

Considerem em seguida uma fórmula do sistema. por


exemplo, ·(3.J) (x = sy)' (Traduzida literalmente isto quer di-
zer: ··Existe um x tal que x é o sucessor imediato de y", e
afirma. com cfcilo. que lodo número tem um sucessor imccUa•
to}. Os números assodados aos seus dez signos elementares
conslituintcs são, respectivamente 8, 4, J J, 9, 8, J 1, 5. 7. l 3,
9. Mostramos isso esquematicamente abai,m:

(3x) x= s y )
(
J. J. J, J. J. J, J. j, J. J.
8 4 11 9 8 JJ 5 7 13 9

É desejj,•cl. entretanto. atribuir um único número à fór-


mula mais do que um conjunto de números. Isto pode ser feito
facilmente. Concordamos cm associar à fórmula o único nú-
mero que é o produto dos primeiros dez primos em ordem de
grandeza. sendo cada nwnero primo elevado a uma potência
iguaJ ao número de Gõdcl do correspondente signo elemen-
tar. A fónnula acima é de acordo com isso associada ao nú-
mero

21 >< 3• X 5 11 X 711 X 11 1 X )3 11 X 17' X 197 X 23º X 299 ;


66
chamemos este número m. De maneira similar, um único núme-
ro, produto de tantos números primos quantos signos exis-
0
tem (sendo cada número primo elevado a uma potência igual
ao número de Gõdel do signo correspondente). pode ser atri-
buído à toda seqüência finita de signos elementares. e. em
particular, a toda fórmula'.
Considerem, finalmenle, uma seqüência de fórmu1as tais
como pode ocorrer em alguma prova, e.g. a seqüência:
(3x) (x=sy)
(3x) (x == sO)
A segunda fórmula quando traduzida reza: 'O tem um su-
cessor imediato'; é derivável da primeira substituindo-se a
variável numérica pelo numeral 'O·~. Já determinamos o
6
}'•

número de Gõdel da primeira fónnula: é m; e suponhamos que


n seja o número de Gõd~I da segunda fórmula. Como antes,
convém ter um único número como rótulo para a seqüência.
Concordamos portanto em associar a ela o número que é o

. 4 No cákulo podem ocorrer signos que não aparecem no voc:abu-


1.ino fundamental; eles são introduzidos quando os definimos com a
ajuda ~e ~ignos \·ocabulares.. Por c:iii:emplo. o signo ·. •• o conccti't'O
sentenciai usado como abreviatwa de ·e•. pode ser definido no conlcxto
Gõd segue·· 'p : q • é uma a b rev1alura
como • de •- (- p v _ q)'. Que número de
cl está consignado a um signo definido? A resposta é óbvia se .-n:""f'-
bennos que é nncs·
,-- 1vc1 e 1·1mmar
· expressões contendo signos definidos ~---
em
· Jeotes d e fi1n1dores;
favor .de seus equiva . e ~ claro que se pode dclc:nnimr
um numero de Gõdel para expressões transformadas. Por oonsegwnre o
numero, de_Gõdel
. da ,unnu
rA. la ,p q , é o numero de Gõdcl da fórmula ·-•(p
v - q) . S1m1larmente é nnc. 1· 1 - . .
definirõc • . r-s ve mtroduztr viirios numera.is por meio de
• ~ como as segwntes· , 1 , .
abreviatwa de 'ssO' • • · ~omo abrevtatura de ·so•. ·2· e como
fim de obter o mlm. 3 como abrcviarura de ·ssso·
e assim por diantr. A
signos definidos :ro ~ O~el para a fórmula ·- (2 ~ 3}' • eliminamos os
mos o seu D, 1 o dteD o assim a fórmula, ·- (ssO = ss.sor e cktemún.a-
umcm e Gõdcl • d
.5. O leitor há de I segwn º.u rc~ estabelecidas no lCÃlO.
finita de fórmulas cmbrar que ~fimrnos uma prova como uma ~u&da
de fórmulas • cada uma das q~ é ou um v.ioma ou pode w- dcn\lada
çlo. Por c s ~ ' : na seqüf~cia ':°m a ajuda de Regra.s <k Transfonna-
"Primeira fórmu ça • a scq~ênc1a acuna não é uma prova. uma vez que a
cs1' A- la não ~ wn u.ioma e sua derivação a partir dos v.iomu nio
demasiado lo . a seqUl nc1a
~morutrada· · t apeoas um sc-pnroto de uma prova. Seria
prova e ~go _apre~_ntu por extenso um urmplo completo de uma
para •ns llustrauvos a scqU&.cia acima basfad.

67
. •m..;-. números primos em ordem de gran-
produto dos do,spn ~ u - .
....... __ {' ·mos 2 e l), sendo cada pnmo elevado a uma
uÇ,UI I.(!.,. os pn ul d
potência igual ao número de Qõdet da fónn a correspon ente
na sc:qüênci~ Se chanWm~ este número k, poderemos escre-
ver 1: ::; 2• x 3• Aplicando este procedimento compacto, pode-
mos consquir um número para cada scq~ncia ~fórmulas.Em
s ~ a cada expressão no sistema. seJa um signo elcmcnlar,
wna seqüência de signos ou uma sequência de seqüências,
podemos atribuir um único número de Gôdcl.
O que se fez alé agora foi estabelecer um método para a
completa "aritmctiuçã4f' do cálculo formal. O método é es-
sencialmente um conjunto de diretrizes para erigir correspon-
dências um a um entre as expressões no cálculo e um certo
subconjunto dos inteiros6 • Dada uma expressão. pode-se cal-
cular o número de Gõdel que corresponde unicamente a ela.
Mas isto só é a metade da história. Dado um número, pode-
mos determinar se é um número de Gõdel e, se o for, a expres-
são que representa pode ser exatamente analisada ou "recu-
perada'~. Se um dado número é menor ou igual a 10, ele é o
número de Godc:I de um signo constante elementar. O signo é
identificável. Se o número for maior do que l O, pode-se
decompô-lo cm seus fatores primos de uma só maneira (como
sabemos a partir de um famoso teorema da aritmética) 7 . Se
for um primo maior do que l O ou a segunda ou a terceira
potência de um taJ primo, ele é o número de Godcl de uma

6. Nem todo inteiro l um número de Gõdel. Considere, por exem-


plo. o número 100. 100 ~ maior do que 10 e. portanto, não pode ser um
nwnern de Gõdel de l.lffl signo COM\aDte elementar: e uma vez que não 1.
nem um número primo maiot do que dez. nem o quadrado, nem o cubo de
um W primo. n1o pode ser o número de Gódel de uma variável. Dccom·
pondo 100 cm ieUS fatores primos, \'fflficamos que ~ igual a 22 x sz; e o
número primo 3 Dlo aparece como um fator na decomposição, mas t
wladD. De l00ldo com as regras assentadas. IJ()Rm. o númao de Gtide\ de
~ fórmula ~ou de uma seqUlocia de fórmul~) deve !!:er o produto de
pnmos suuss,vos cada qual elevado a alaurna pot!ncia. o número 100
nio satisfaz a csla coadi~. P.m swna. 100 nlo pode ser aoibwdo a si~
00DStanLCs, vwvcis ou fdnnulas; por1anto, D.lo e um número de Gõdcl.
1· Eslc teorema l conhecido como o teorema fundamental da
lri~lica. Ele afirma que se um inteiro i composto (i.t. nio i primo)
ele · .t-• .
possui 1111111 uule& dccompos1çlo cm fatores primos.

68
variãvel identificável. Se for o produto de primos sucessivos.
cada qual elevado a uma certa potencia~ pode ser o nú.mero de
Gõdel quer de uma fórmula, quer de uma seqüência de fór-
mulas. Neste caso. pode-se determinar exatamente a ex.pres-
são à qual corresponde. Seguindo este programa. podemos
pôr de lado qualquer número dado. como se fosse uma mã-
quina. descobrir como é construído, e o que entra nele~ e como
cada um de seus elementos corresponde a um elemento d.a
expressão que representa~ podemos reconsütuir a expressão,
analisar a sua estrutura e coisa similar. A tabcla4 cxcmphfic~
para um dado número, como podemos certificar-nos se é um
número de Gõdel e, neste casoy que e:itpressão simboliza.

TABELA 4

A 243 .000.000

B 64 x 243 x IS.625

e 2' x 3' x 56
6 J 6
D J, J. J,
o-o
E 0=0
243 000A fórmula
Lc aritmética "O = O" lem O seguinte número de Gõdcl
o nllme~ 000
é . nd~ de A até E de cima para baixo, o exemplo mmtra como
cima de E '?duzido na expressão que representa. Lendo de baixo para
. ate A. vemos como da fórmula dcri vamos o número.

B. A Aritmetização de Metamatemáticas

O passo seguinte d e Gõd e l é uma engenhosa aplicação


de rnapea
matemá•; mento. Ele mostrou que todos os enunciados mcta-
1.lcos sobre
no cãlcul d as propn·cdad cs estruturais
. de expressões
Próprio e:. ~ cm ser adequadamente esptlhadas dentro do
~ a scgu· cu 0 · A idéia básica subjacente ao seu procedimento
sociada aante: uma
,. vcz que toda expressão no c'1culo está as-
sobre ex um numero (Godel), um enunciado metamatemitico
ser cons:i~:sõcs e suas relações umas com as outras, pode
0 como um enuncia.do sobre os correspondentes
69
números {Gõdel) e suas relações aritméticas umas com ou- as
tras. Desta maneira, a metamatemática toma-se completamente
"aritmetizada". Para tornar um análogo trivial: os fregueses
de um movimentado supermercado recebem com freqüência,
quando entram, cartões nos quais se acham impressos números
cuja ordem determina a ordem cm que os clientes são espera-
dos no balcão de carne. Jnspecionando os números. é fácil
dizer quantas pessoas foram servidas, quantas estão espe-
rando, quem precede quem. e por quantos fregueses e assim
por diante. Se~ por eJCemplo, a Sra. Smith tem o cartão núme-
ro 37 e a Sra. Brown o de número 53. em vez de explicar à
Sra. Brown que ela tem de esperar a vez, depois da Sra. Smith,
basta indicar que 37 é menor que 53.
O que sucede no supermercado sucede na metamatemática.
Cada enunciado metamatemático é representado por uma úni-
ca f6rmula dentro da aritmética e as relações de dependência
lógica entre enunciados metamatemáticos se refletem plena-
mente nas relações numéricas de dependência entre suas cor·
respondentes f6nnulas aritméticas. Uma vez mais, o mapcamen•
to faciJita a investigação da estrutura. A exploração de questões
metamatcmáticas pode ser desenvolvida mediante a investiga-
ção das propriedades aritméticas e relações de certos inleiros.
Ilustramos estas observações gerais com um exemplo ele-
mentar. Considerem o primeiro axioma do cálculo sentenciai
que é tam~m um axioma no sistema formal em discussão:
'(p v p) :::> p'. Seu número de Gõdel é 2 1 x 3 111 x 5 2 x 7 uz x 11 9
x 133 x 17 11 1, que designaremos com a letra ·a·. Considerem
l
la.m~m a fórmula: '(p v p)'. cujo número de Godel é 21 x 311
x 5 2 x 7111 x 11 9 ; designa-la-emos com a letra "b'. Estabelece-
mos agora o enunciado metamatemálíco de que a fórmula '(p
v p)' fuma parte inicial do axioma. A que fórmula aritmética
no sistema formal corresponde este enunciado? É evidente
que a menor fórmula '(p v p)' pode ser uma parte inicial da
fórmula maior que é o axioma se, e somente. se o número
(Gõdel) b, que representa a primeira, for um fator do número
(Gõdel) a que representa a segunda. Na pressuposição de que
a expressão 'fator de' é adequadamente definida no sistema
aritmético formalizado, a fónnula aritmética que corresponde
unicamente ao enunciado metamatemático acima é: 'b é um
1n
&'. r de a'. Além disso, se a fórmula for verdadeira, i.e., se b
t
18 0 .(p )' é
for um fator de a, então será verdade que vp uma parte
inicial de '(p v p)::, p' · _ _ .
Fixemos a nossa atcnçao no enunciado metamatemát1co:
.. üência de fórmulas com o número Gõdel x é uma prova
da ::!nula com o número Gõdel z". Este enunciado é reprcscn-
ta~o (espelhado) por uma fórmula definida no cálculo aritméti-
co que expressa uma relação puramente aritmética entrex e z.
(Podemos conseguir certa noção da comple"idade desta rela-
ção, relembrando o exemplo usado acima em que o número de
Gõcfcl /e= 2"' x 3". foi atribuído à (ao fragmento de urna) prova
cuja conclusão tem o número de Gõdel ,,_ Uma pequena refle-
xão indica que aqui se apresenta uma relação aritmética defini-
da. embora de maneira aJguma simples, entre k, o número de
Gooel da prova, e n, o número de Gõdel da conclusão.) Escre-
vemos esta relação entre x e z como a f6nnula 'Dcm (x, z;)' a
fim de nos lembrarmos do enunciado mct.amatemático ao qual
corresponde (i.e .• do enunciado mctamatemático ~A seqüência
de fórmulas com o número de Goele) x é uma prova (ou de-
monstração) da fórmula com o número de Gõdel z,)1. Pedimos
agora ao leitor para observar que um enunciado metamatcmático
segundo o qual uma cena seqüência de fórmulas é uma prova
para uma dada fórmula é verdadeiro, se, e somente se, o núme-
ro de Gõdel da pretensa prova eSlá para o número de Gõdel da
conclusão na relação aritmética aqui designada por ·nem'.
Conscqüenteme para finnar a verdade ou falsidade do enuncia-
do metamatemático em discussão, precisamos preocupar-nos
a~enas com a questão de saber se a relação Dcm entre dois
n~meros. Inversamente.. podemos estabelecer que a relação
antmética vale entre um par de números. mostrando que o
enun~iado mctamatemático espelhado por esta relação entre
os numeras é verdadeiro. De modo análogo, o enunciado
mctamatcmático, •A seqüência de fórmulas com o número de

8- O leitor deve ler claramente em mente que embora 'Dcm (.t, z)'
rcrese~ic o enunciado metamatcrmtico. a própria fórmula pertence ao cáJ-
O
cu lril~tico. A fórmula poderia ser escrita cm noraçlo mais habituaJ
C:º 1'_(x. l) =o•. onde a letra 1' denota um conjunto comple:llO de opera-
~ ~trnlticas sobre números. Mas esta notaçlo mais habitual nlo sugere
•mediatamente a intcrpn:taçio me&amatcm!tica da fórmula.

71
Gõdel x 1140 é uma prova para a fónnuJa com o número de Gôdel
z•.~representado por uma fórmula definida no sistema aritm~ti-
co formalizado. Esta fórmula to contraditório fonnal de 'Dcm (x,
zr. ou seja.·- 0cm (x, ~)·.
É necessário um pouco mais de notação especial para
estabelecer o ponto crucial do argumento de GõdcJ. Comece-
mos por um cJ1.emplo. A fórmula "(3.t-) (x = sy)' tem como núme.
ro de Gõdel m (v. pp. 66. 67). enquanto a variável 'y • tem o
número de Gõdcl 13. Substituamos nesta fórmula a variável
(i.~., 'y' ). com o número de Gõdcl 13y pelo numeral correspon-
dente a m. O rcsolwio é a fônnuJa '(3x) (x = sm)', que diz
JiteTalmcntc que há um número x tal que x é o sucessor imedia-
to de m. Esta última fórmula 1cm um número de Gõdel, que
pode ser calculado com muita facilidade. Mas em vez de
efetuar o cákulo, podemos identificar o número por uma
caracterização metamatemática inambígua: trata•se do nú-
mero de Gõdel da fórmula obtida a partir da fórmula com o
número de Gõdel m, substituindo-se a variável com o númeral
de Gõdcl J3 pelo numeral correspondente a m. Esta caracteri•
zação metamatemática somente determina um número defini-
do que é uma certa função aritmética dos números m e 13,
onde a própria função pode ser expressa dentro do sistema
formalizado 9• Pode-se portanto designar o número demro do
cálculo. Escrever-se-á esta designação como ·sub (m. 13. m)\

9. Bu função t posi,h:amentc complexa. Quão compkxa t. eviden-


cia-se se teowmos formulá-la com maior detalhe. Tentemos semelhante for-
mulação sem ln.á-Ja ao amargo fim. Mostramos oas pp. 66 e 67 que m. 0
oúmtro de GõdcJ de '(31) (.1 = sy )'. é
21 X 34 X 511 7" X 11 1 X 13 11 X 175 X (97 X 23" X 299•
X

Para actw- o número de Güdel de '(3x) (.x = sm)' (fórmulól obtida da


an~rior substituindo-se a vwvel )'' na última. pelo numeral conespon•
dente a m) procedemos oomo segue: E,çr.a fórmula con"m o numeral •m',
que é um signo tkfinido, e, de acordo com O teor da nota 4, m deve ser
rrocado por seu definidor eqllivalcntt. Feiro isto, obtemos a fórmula:
(3.t) (x = ssssss ... sO)
ODdc a lcua ·s· ocorre m + l vezes. Esta fórmula confim apenas os signos
elementares pertencentes ao voabulário fundamental, de modo q11e i pOSSI·
vel calcular o seu número de Gõd~I. Para (ad-Jo, obtemos primeiro a série
de números de Gõdcl associada aos signos elementares da fórmula:
8. 4, Jl, 9. 8. 11. s. 7. 7, 7, ..., 7. 6, 9
5
endo O propósito desta forma recordar a caracterização
,amaremática que ela representa, isto é. "o número de Godcl
rne , d r___,,...1_
da fónnula obtida a partir da fórmula com o numero e uuw:l m,
ubstítuindo-se a variável com o número de Gõdel 13 pelo nu•
~eral correspondente a mº. Podemos abandonar agora o cxem-
1 e generalizar. O leitor verá prontamente que a expressão
~~b Ú'• 13, y)' é a imagem especular dentro do cálculo aritméti-
co fonnalizado da caracterização metarnatemática: ºo número de
Gõdel da fórmula que é obtida a partir da fórmula com o número
de Gõdel y, substituindo-se a variável com o número de Gõdel
J3. peJo numeral correspondente a yº. Ele ootará também que
quando 'y' em 'sub (y. 13, y)' for substituído por um numeral
definido - por exemplo, pelo numera] correspondente amou o
numeral correspondente a duzentos e quarenta e três milhões -
a expressão resultante designa um inteiro definido que é o nú-
mero Gõdel de uma certa f6rmula 10•

cm que o número i ocorrem+ J vt:zes . Tomamos em seguida o produto dos


primeiros m + JO primos em ordem de grandeza. sendo cada primo elevado
a uma poléncia igual ao número de Gõdel do corrcspondenre signo elemen-
tar. Designemos este número por r, de modo que
8 4 11
r= 2 x 3 x5 x-P><11 1 >< 13 11X 17~ x 197 x 237 x 297 x 31 1 x ... x p9... ,o
onde?,... w é o (m + IO)-ésimo primo na ordem de grandeza.
Comparemos agora os dois números de Godcl m e r. m contém um
fator primo tl~w1do n potência 13; r contém todos os fatores primos de m e
muitos outros também. mas ntnluun dele I tlevadr, à potincia 13. O núme-
ro r pode ser assim obtido a partir do número m, substituindo-se o fator
primo em m que eslá elcv1do à potêacia 13, por outros primos elevados a
alguma potência diferente de 13. Não 1. possível estabelecer cxatamtnte e
com todo pormenor como r se relaciona a m sem introduzir um bcxado de
notaç~s adicionais. Isto é feito no artigo original de Gõdel. Mas ji foi dilo
0
suficiente para indicar que r t uma função aritmflica definida de me 13.
É 1 Podem ocorrer ao leitor varias que:i;tõcs que necessiwnde resposta.
_º·
P~sívet perguntar por que, oa caracterização metamal~m!tia. M pouco
menetcionada
ti . 7 · di u_mos que é "o numeral corrcspondcnlc a y" que deve s11bs-
. tu~r ~ certa vanávcl e não "o nú~ro y'"_ A resposta depende da diíettnÇI
Ji cbscuuda entre malemática e metamatemática e e){igc uma bttve elucidação
da. distinc-ão
T
entre numcros
· · Um nu11~ra
e numcr.us. ' I é um signo.
· uma ex-
pressão
Urn ,,_, lingª( 1· · ·
\,1 s ica que p~mos grafar, apagar, cop1ílí e assam~
diaote.
Utntro,de outro lado, ~ algo que um nwnmt..l 11MMia ou du,,na e que
:ião ~ ser literalmente grq/ado, apagado, copiMo e assim por diante. As-
an, dii.emos que JO é o número de DOSSOS ded05 e ao fazer esll:' cnuuciado
es1ainos atribuindo uma cena ''propriedade" l classe de nossos dedos; mas

73
e. O Ceme do Argumento de Gõdtl
a seguir as linhas do
Finalmente, estamos equipados par
aremos �r enumerar
argumento principal de Gõdel. Com�
o leitor possa ter
de um modo geral os passos. de maneira que
uma vista da seqüência.
Gõdel mostrou (i) como construir uma fórmula aritmética
G que represente o enunciado metamamático: "A fórmula G
não� demonstrtvel". Esta fórmula G afirma assim ostensiva­
mente por si própria que não� demonstrável. Até certo pon­
to� G é construído de modo an4logo ao Paradoxo de Richard.
No Paradoxo a expressão '�richardiano" está associada a um
certo número n, construindo-se assim a sentença "n é
ricbardianon . No argumento de Gõdel, a fórmula G está tam­
�m associada a um certo número h, e é construída de tal
maneira que corresponda ao enunciado: "A fórmula com o
número �sociado h é não-demonstrávcr,. Mas (ii) Gõdel tam­
bém mostrou que G é demonstrável se, e somente se, sua
negação formal - G for demonstrável. Este passo na argu­
mentação é mais uma vez anáJogo a um passo no Paradoxo
de Richard, no qual se provou que n é richardiano se. e so­
mente se n não for richardiano. Entretanto, se a fórmula e a
sua própria negação forem ambu fonnaJmente demonstráveis,
o cálculo; aritmético não será consistente. Conseqüentemen-

seria evidentemente absurdo dizer que esta propriedade r um numeral.


Mais l1D1I vez, o número l O l denominado pelo o umeral adbico '1 O',
bem como pela letra romana •x·; estes nomes são diferentes embora
nomeiem o mesmo número. Em suma, quando fazemos uma substitui­
ção de uma varihel nwn&!rica (que e uma letra ou signo) estamos colD­
cndo um signo em lugar de outro signo. Não podemos, literalmente,
111bsli1Uir um signo por um número, porque um número i urna proprie�
dadc de classe5 (e diz-se, por vezes, que i um conceito) e oio algo que
possamos põr ao papel. �gue-se que, ao subslituir uma vari,vel nu�·
rica, podemos substituí-la apenas por um numeral (ou alguma outra
cxpress� nu�rica lal t:omo S0' ou •7 + 5'), e nlo por um número,
4

bto explica porque na caracterizaçio rnelamatcmjlica acima. estabele·


cemos que estamos substihlindo a vari,vel lo numtral corresponde
pe D·
te • (ao �úmero) y, e do pelo próprio ninwro y.
O leia IOl'Clria de saber qual� o número designado por ·sub CY, ll,
1)' se I fórmula cujo nómcro de Gadel 6 y sucede não
conter a vaJijvel
7i
e, n G nem - G são formal­
te, se O cálculo for consistent em
da aritmética. Portanto� se a
mente deriváveis dos axiomas
será uma fórmula formalmente
aritmética for consistente, G
não seja
indecidíveJ. Gõdel provou então (iii) que, embora G
uma verda­
formalmente demonstrável, ela é não obstante.
é verdadeira no sentido de que
deira fórmula aritmética. Ela
i uma certa propriedade arit­
assevera que todo inteiro possu
mética, que pode exatamente definida e apresentada porque
não importa qual inteiro seja examinado. (iv) Como G é tan­
to verdadeira como formalmente indecidível, os axiomas da
aritmética são incompletos. Em outros termos, não podemos
deduzir todas as verdades aritméticas a partir dos axiomas.
Além disso, GõdeJ estabeleceu que a aritmética� �ss�ncial­
mente incompleta; mesmo que sejam admitidos axiomas adi­
cionais de modo que a fórmula verdadeira G possa ser for­
malmente der1 vada do conjunto aumentado, poder-se-ia cons­
truir outra fórmula verdadeira porém formalmente inde­
cidível. (v) A seguir, Gõdel descreveu como construir uma
fórmula aritmética A que representasse o enunciado mctama­
temático: ··A aritmética é consistente,.; e ele provou que a
fórmula "A :J G." é formaJmente demonstrável. Finalmente.
provou que a fórmula A é não-demonstrável. Segue-se daí

com número de Godel 13 - isto �, se a fórmula não cootém a vari4vel • ·.


y
A ssim. sub (243.000.000. 13, 243.000.000) e o número de GõdcJ da
fórmula obtida a partir da fórmula com número de Gõdel 243.000.000
s�bSlituindo-se a variável 'y ' peJo numeral '243.000.000'. Mas se o
lcator consultar a Tabela 4 verificará que
t 243.000.000 � o número de
Gõdel da fórmula •o _ - 0, • que nao
- con�m a vanável 'y'. O que �. enfio.
a rónnula que é obtida de 'O
= O', substituindo-se a variivcl 'y' pelo
nurnenl concspondente ao numero 243.000.000
? A simples resposta i
que. como ·o - - o· não contém esta vari�vel. nenhuma substituição pode
ser efi tuada
e - � o que dá no mesmo. que a fónnuJa obtida de •o = O' �
exatamente a melm . a �1ónnula. Cooseq
por • b 243.000 Ucntementc o número designado
� � .000, 13, 243.000.000)' e 243.000.000.
/d 1eiior pode tam�m sentir-se desafiado com 'sub (y, 1 J, y)' ser
uma
excmp 0
i'm�la dentro do sistema ari�lico no mesmo sentido que, por
l nJo • �) (� = .ry)', 'O= o•. e 'Dem (x, x)' slo fórmulas. A resposta
• pela seguinte razão.
P0rquc���Iece a A expressão 'O= O' � chamada uma fórmula
uma relação entre dois números, e assim i c.apaz da

zs
que a oonsis~ncia da aritmética não pode ser estabelecida
por um argumento c:ap,z de ser representado no cálculo arit-
mético formal

Âgora. vamos dar ü modo mais pl~no a substância da


arg~ntação:
(i) A fórmula·- Dem (.r. z)" j' foi identificada. Representa
dcncro da aritméticl fcmwizada o enunciado metamatemático:
..A seqüência de fórmulas com o número de Gõdel x não é uma
prova para a fórmula com o número de Gõdel z'\ O prefixo '(x)'
é agora introduzido dentro da fónnula Dcm. Este prefixo perfaz
a mesma função no sistema formaliz.ado que a sentença 'Para
cada x·. Anc~ando-sc este prefixo. temos uma nova fórmula:
'(z) - Oem (..t, z) ·, que reprc senta dentro da aritmética o enun-
ciado mctamatcmálico: 'Para cada x. a seqüência de fórmulas
com o número de Gõdel x não é uma prova para a fórmula com
o número de Gõdel : •. A nova fórmula é pois a paráfrase formal
(falando cstriwnente, é a única representativa), dentro do cál•
culo, do enunciado mewna.tcmático: ..A fórmula com o núme-
ro de Gõdel z é não-dcmonstr, vcl" - ou colocando-o de outra

a1nbwr. dr modo sipifta11rt. f:abadadc ou vttacid&de a ela. Similannen-


1r. qnaDdo substituímos as vaníYnS de •Dcm (.r. :)' por numcnis defini-
dos, CSII C ~ formwa uma relação CDll't dois numeras, e lOm.&•SC
asSJm um ~nW1a1do que t ou \'trdadciro ou falso Vale o mesmo pan
'(3.r) (.1 = J)f. Pm- Olllro lado, alt quando se substituí 'y' cm ·sub {y, 13,
.,·)' por um aumenl ddinido. a Cllprcssão rcsulWlte nlo a.un•tra n.ada
e. portanto. nio podt ser nem a vcrdade,n nem falsa Ela th.signa ou
IIOIIWia simpksmmtc wn número, desett\'tndo-o como uma certa fwn·
('do de OUb'05 aWDCl'05. A diferença CDR uma /Jmwla (que ooosti1ui dt
fato wn cauac,ado acerca de números, , por isso i ou vtrdadtiro ou
falso) e uma /wtr'o-MIM (que t de fato um nome que identifica um
aómm> e I par iuo 11m1 vadldeira, nem falsa) pode Sff esclarecida por
•taum c1anplos. ·s • l' ~ uma fõrmuJa q~. embora falsa. dtclan que
dois n1lmerol 5 e 3 do iguais; '5 1 • ,tl + f · i lafflbtm uma fórmula que
mt\ffl que ,ut.utr 111111 rrlaçlo definida cacrr 01 ll'ls números S. • e );
, .. de modo mais ,aal 'y • / (1)' , 111111 fórmula que afuma que vale """
cata ttlAçto talft allmcros Dlo rspcaficados .r e y. Por 011tro lado, •
Uprado '2 + )' 'llftSII llffll f'unçto ele cbs awnau l e ), r ix-unlO
nomaa • certo ndmm> (dt falo. o número S); nlo ~ uma fórmula. pois
nlo llria senodo perpaar se 'l + l' e vadadein ou falsa. '(11 5)• I'
t\l'lff1\I nuln Íllnl'lo dP ~ n1\IN'rn( ~ 7 ,. R ,. d4-tiLYna o nllmeso '3. B-
pode ser aduzida para a fórmula
maneira. •Nenhuma prova
com númerodeGõdclz·.
o q� Gõdel provou é que um certo wW> especi�
desta fór-
nstrável. Para constn11r este caso
m ul a não é fonnalmente demo
especa·at • comecemos com a
fórmula apresentada como linha (1)
(x)- Dem (x, sub (y, 13, y))
(1)
mético, mas representa
Esta fórmula pertence ao cálculo arit
stão é, qual deles? O
um enunciado metamatemático. A que
leitor deveria lembrar primeiramente que a expressão sub (y,
6

13. y) • designa um número. Este número é o número de Godél


da fónnula obtida da fórmula com o número de Gõdcl y. subs

tituindo-se a variável com número de Gõdel 13 pelo numeral
correspondente a y • Será então evidente que a fórmula da
11

linha ( l) representa o enunciado metamatemático: • A fórmula


com número de Gõdel sub (y, 13,y) é não-dcmonstrávcl'11 ..
Mas como a fórmula da linha ( l) pcncncc ao cálculo arit­
mético. ela possui um número de Gõdel que pode ser efetiva­
mente calculado Suponhamos que o número seja n. Substituí­
mos agora a variável com número de Godel 13 (i.e., a variável
'y') na fórmula da linha (l) pelo numeral correspondente a n.

de modo nws gcr.ll. :r (x)' cxp�ssa uma função de x e identifica um cato


númc� �uando .r l substilu{do por um numeral definido e quando� dado
um s1gruficado definido à função-signo ·r. Em resumo, enquanto · Dem
(.t. -:r r uma fónnula porque tem a forma d� um �1UU1riado acerca de
mimcros, 'sub (_v. 13, y)' não e uma fórmula porque p(mui apeou afon,,IJ
dt um nomf' pua números.
l \. � da mi,tim:1 importância rccoohcccr que ·sub (y. 1 l, )')._
embora sr1a uma expressão da aritmélica forma\iuda. nlo i
uma fór•
mula mas antes uma ful\çlo ■-nomc para idcntificu
1
1

um naénwro (�ej
nota cxplanAlória 1 O). O númcrn assim
,dcntilicado .. contudo, é o n6
m�ro de Gtkk\ de uma fórmula - da fórmu
la obtida da fórmula e
numero de l"iõdcl �'. substituinJo I vWv
cl ·\�' ptlo numeral cona
dtntr I y.
12. Este enundado l)lldc ser ainda mais ampliado para ser lido.
fórmula \cujo n\lmcro de G�I � o olUnffll da fórm1l11) oNlda da fdrm
com nllmcm dt Gõdcl )•, substituindo-" a �wl t.9\lm n\lmem •
13 pelo aume11l Clflapondealf I v_ t n1o-«muuaivtl 1 1•

O ltilor pôde ficu 1ntria1do com o fato ck no r.nu11c:i1do mt ·


r
matem6hco 'A órm11l1 cum 1ulmcro de OOdcl 1u� h . 13. v\ t
"ª fórmula, que chamaremos 'G' (se.
Ob~m-se entio Uffl&_ no s sob este rótulo
gundo Gõdcl) que disporemo
(G) (x)- Dem (x. sub (n. 13, n))
pecial que prometemos construir.
0
A fórmula O~ caso es âmbito do cálculo aritmE-.
Pois bem. esta fórmula ocorre no ,
um número de Gõdcl. Qual e este nume-
1-
tico e deve portanto - 3
ro1 Uma pequena reflexão mostra que~ sub (11, l • n): Para
nd6-lo devemos lembra que sub (n, 13, n) é o numero
comprcc . . d r-.Jl..,,
deOõdcl obtido a partir da fónnula com o numero e uuuel n
substitui~se a variivcl com número de Gõdcl 13 (i .e., ava-
ri6vcl ·y'). pelo nwnera1 concspondcnte a n. Mas a fórmula G
foi obtida a partir da fórmula com o número de Gõdel n (i.e., a
panir da fórmula apresentada na linha (1)). substituindo-se a
variivel 'y' que nela ocorre pelo numeral correspondente a n.
Portan10, o número de Gõdel de G é, de fato, sub (n, 13. n).
Mas cumpre lembrar também que a fórmula G é a ima-
gem especular dentro do cá1cu1o aritmético do enunciado
metamat.cmitico: ·•A fórmula com o número de Gõdcl sub (n,
13, n) é não-demonstrável". Segue-se que afónnula aritméti-
ca "(.r) - Dem (x, sub (n. 13. n))' representa no cãlculo o
~nunciado ~,amatemático "A fónnula '(x) ~ Dem (x, sub
(n, 13. n)}' t nio-demonstrável". Em certo sentido. portanto.
~ possível construir a fórmula aritmética G como uma fórmu-
la que afirma a seu próprio respeito que é não-demonstrável.
(ji) Chegamos ao passo seguinte, a prova de que G não é
formalmente demonstrável. A demonstração de Godel asse-

demoaslrbc:1"' , a uprcsslo · swb (y, 13, y)' não aparecer entre aspas.
embora livcsse sido rq,etidamnue afirmado no texto que 'sub (y. 13, y)'
cn uim. fX,,rtSJÕl) . O ponto envolvido depende mais uma vez da dislin-
çlo eatrc usar uma u.p.-esslo pan falar acerca do que expressão designa
(no caso cm que • Cllprcs.slo não é colocada cn1re a..,;pas) e falar acerca
da própria exprcsslo (em cujo caso devemos uur um nome para a
upress1u e. de conformidade com a con\'cnção para construir tais
~mes; deve-se colocar a cxinssio entre aspas). Um exemplo ajudar,.
7 + s. i uma tx~sslo que designa um número~ de outro lado, 7 + S ~
;m iuamero, e n~o uma cxpresslo. Similarmente, 'sub (243.000.000.
3• 243 -000.000) ~ llffll cxpresdo que dcsigu o número de Gõdcl de
™ ~ula {veja Tabela ..)~ mu sub (243.000.000, 13, 243.000.000) t
0 11
de ~ l de wna fórmula. e nlo f uma expressão.
78
clha-se ao desenvolvimento do Paradoxo de Richar~ mas
m . , . ~ . 11
está isenta de seu rac1ocm10 1a1acsoso . 0 argumento é relati-
vamente desobstruído. Procede mostr~~ que se a fórmula G
fi se demonstrável, então seu contrad1tóno formal (ou seja. a
f~rmula •- (x)- Dem (x, sub (n, 13, n))") poderia também ser
demonstrável; e~ inversamente. que se o contraditório formal
de G fosse demonstrável, então o próprio G também seria
demonstrável. Assim temos: G é demonstrável se, e somente
se,_ G for demonstrável". Mas como notamos antes, se uma
fórmula e sua negação formal podem ser ambas derivadas de
um conjunto de axiomas, os axiomas não são consistentes.
Donde. se os axiomas do sistema formalizado da aritmética
forem consistentes, nem a fórmula G, nem sua negação serão
demonstráveis. Em suma. se os axiomas são consistentes G é
formalmente indecidível - no sentido técnico preciso de que

13. Talvez seja útil tomar explícita a semelhança bem como a


dissimilaridadc do presente argumento com respeito ao usado no Para-
doxo de Richard. O principal ponto a observar é que a fórmula O nlo l
idêntica ao enunciado mcwnatemático com o qual está associado, mas
apenas r~pru~nta (ou espell1a) este último dentro do cilculo uil~li-
co. No Paradoxo de Richard (tal como explicado na p. 57 acima) o
número n é o número associado a uma cena expressão rMlamat~mdlit'a.
Na cooslnlção de Gõdcl. o número n esti associa.do a uma certa f6mu,'4
ari1ml1;ca peneoccnrc ao cálculo formal. embora esta fórmula arilmé-
tica, na realidade represente um enunciado mctamatcmtico. (A fórmu-
la rcprcscnt.a e~tc enunci.ldo porque a mctamatcmática da ari~tica foi
rm~ada sobre a uitmética). Ao desenvolver o Paradoxo de Richard
surgiu a . questão de s.ibcr se o número " possui a propriedade nula•
mat,.mdnca de s~r richardiano. Na cooslnlÇlo de Gõdel. a que.stào colo-
c~ l ~abcr se o _núm~ro sub (n. t '.3, n) possui uma certa propriedade
:"~IK': - ~u S~J3 , a propriedade aritmética expressa pela fórmula '(x)
. < • z) · Nao há portanto confusão na construrio de O()del entre
enunciados deruro da antméttca • . e cnun,.;ados ac T
oc ... erca da anuaa::Uca
.._.,_ . como
om no Paradoll.o de Richard. •
l4. Não foi isso o q Gõdcl
IO uma a.a-p, .. ~ d uc: realmente provou; e o enunciado do 1.ex-
• \M -çao e um teorema 0 b ·do
utili._.,._ . n por J. Barklc,.. Rosscr em 1936 é
& - , por amor à li · ~ '
mostrou ... Samp cidade na exposição. O que Gõdct efetiva.mente
~ que se G for demo .-
que 1 ..,..,;_..t . nsu.ve 1, ~nlio - G ~ dcmonsriveJ (de ta.J modo
- •u.1111~;tl<:a t cnlão in .
ari~t.ica.,, . . consi5 lcnte); e se - G f01 demonstnvc:I, entlo a
I;;
predi~do ari~. w - lnCOl'lStstente O
~ _ · ~uc ç a w- ancoosist!ncia'? Seja •p• algum
;1. •

possível de nco. c.nLão a antm~:c · • •


ii;u a sena w - 1oconsistente se fosse
um númer:::•r=mtanto a f~nnula '(:ix) P(x)' (i.e., 'Existe ao menos
a propnedadc P') e tam~m que cada uma do

79
traditório podem ser formalmente dedu-
nem G. nem o seu con
z i ~ : ~ = ~ pode pam:er. à primeira vista. de capital
• _._...,nr· o que hã de tão notável • pode-se perguntar, no
lfflt"I' - - · · &1:.-uta
. .-ra~r ' ética
ser construída dentro da .antm .
f;ato de uma 1U1 ,.. ~ •
que é indecidível~ Há uma surpresa reservada que tlumma as
profu~ implicações desteresultad~. Pois, embora a ~órmula
G seja indecidível, se os axiomas do sistema forem cons1stcn1es,
pode-se mostrar. não obstante, por um raciocínio metamatemá-
rico q1JC O é \Jerdadeiro. Isto é, p;xte-se mostrar que G formula
uma propriedade: numérica complexa, mas definida que vale ne-
cessariamente para todos os inteiros - cxalalnente como a fór-
mula '(x)-(x + 3 =2)' (que, quando interpretada da maneira usual,
diz que nenhum nwnero cardinal, quando adicionado a 3, produz
uma soma igual a 2) expressa uma outra propriedade igualmente
necessária (embora muito mais simples) de todos os inteiros. O
raciocúúoque valida a veracidade da indecidibilidade fónnula G é
direto. Primeiro. admitindo-se que a aritmética é consistente, o
enunciado meta.matemático '"A fórmula •(x) - Dem (x, sub (n 13,
n))' não é dcmomttável" foi p-ovada como verdadeira. Segundo,
este enunciado é representado dentro da aritmética pela própria

Di li: infinito. de fónnuw •- P(O)" •• _ P{I )' , ._ P( 2). ete . . . (.l.~ .• •'()
CODJunto
0 . m I propnedadt P", .. , nio tem a propriedade P" "2 não tem a
propnedadc P''. e assim por .1=--1c)
ll&illl •
um pouco de rcflexào' mostra que se
um
. dlcuJo ~ 1acoosistentc cn•~
~o 11: tamocm
.1. L.1.
w - inconsistcnle· mas o
lft\'CnO ÜO Yut DCets . . · •
_ . ururnen&c. um Sllilem, pode ser w - ioconsisrcn-
te Sem Kr IDCOOSISlcntc p ' - . .
'( ~-) P( )' - OJS um SISICni, para ser I DCODSIStentc, tanlo
da x como
•;;i.w . '(x) - P( 1 )' d cvcm ser demonuri \'eis Entretanto.
IJD q~ um SISICRY SCji w - ia '
da.1 fónnulu do . . ~ 151COte, tanto (3x) P(x)' e cada uma
P(l)" COGJunto_anfüulo de fórmulas·- P(O)', ·-p(I)', ,_
• etc .• do danobs~veu I fórm 1 ,
nlo ser demoD1tnvcl. de ~ u a. (x) - P(.x)' pode, não obstante.
1:.1.......~--- a pn' . que O sistema n.lo é inconsistente.
~ mc1ra Pll1C do
demoaslrá\'el. eDllo _ G i delJlOBs ugumcnro de Gôdcl de que se G for
dernomtrávrl. De~~ bav- _ trtvcl. Sllponham que a fórmula G fosse
. " 1 Cnlic Uffla 'tf'nH- ' ...1.
an~ca que constitua wna -.,1K~c1a de íónnulas dcnuo u.
proq k.. Coascqüeo1erneu1e prova pua G. SeJa o 11wncro de Gõdcl desta
z)' deve valer eatrc k .~,:~elaçio arilmttica designada por •Dem (..r.
• ' O n11D1Cro d Gõd
llúmcm dt Oõdcl de o O que . . e el d.t prova., e sub(n, 13,n), o
deve ,cr mna íórmula ·lriunl=~ca ~ qu.c '0cm (.t, sub (n, 13, n))'
~ cita rel&çio arir-~:
~cai.ctewnadadc1n. 1 ·
Eotretuto .....,.,._se provar
,.,_..
80 ta lipo que, se valer entre um par
f6rmula mencionada no enunciado. Terceiro., lembramos que enun•
iados rnetamatemáticos foram mapeados sobre o formalismo
~itmético de tal maneira que verdadeiros enunciados meta-
matemáticos correspondem a verdadeiras fórmulas aritméticas.
(Na verdade. o estabelecimento de uma ta] correspondência é a
,aison d'être do mapeamento; como, por exemplo, na geome-
tria analítica onde, em virtude deste processo, verdadeiros enun-
ciados geométricos correspondem sempre a verdadeiros enun-
ciados algébricos). Segue-se que a fórmula G, que corresponde
a um verdadeiro enunciado mctamatemático, deve ser verda-
deira. Cumpre notar, entretanto, que estabelecemos uma verda-
de aritmética, não por dedução fonnal a partir dos axiomas da
aritmética, mas por um argumento metamatemático.
(iv) Lembramos agora o Jeitor da noção de ºcompletude"
introduzida na discussão do cálculo sentenciai. Foi explicado
que os axiomas de um sistema de.dutivo são ...completos" se
cada enunciado verdadeiro que pode ser expresso no sistema
formalmente dedutível dos axiomas. Se não for este o caso f isto
I

e, se nem todo enunciado verdadeiro expressável no sistema


for dedutível. os axiomas são "incompletos'\ Mas como acaba-
mos ~e estabelecer que G é uma fórmula verdadeira de aritméti-
ca: nao form~men~e dedutível dentro dela, segue-se que os
:uomasdda antm~t1ca são incompletos - na hipótese natural-
ente. e que SeJam consiste t Alé d. -
meme incom n es m isso, sao essencial-
p Ietos: mesmo se G f
axioma ult . . osse acrescentado como um
enor, o conJunto au t d0 . . .
para produz· & men ª conbnuana insuficiente
ir ,ormalment d
se os axiomas 1· • • . ~ e to as as verdades aritméticas. Pois
mc1ais ,ossem d
outra fónnula aritm I • aum_enta os da maneira sugerida.
elJca verdadeira, mas indecidível. poderia

definido de n -
Cons ·· umeros, a fórmula q
de· equentcrnentc:, a f6rmula ·o uc cÃpressa esse fato é demonstrável
M':c· mas formalmente dcmonstrca~ <,*•. sub (11, 13. ,a))" não só é vcrda~
0 m a ajud vc ; isto é a íó
demos der· . a das Regras de Transi ' rmuJa é um /eorema.
sub (n I J1var •mediatamente desrc l ormação cm lógica elementar po-
. • , ,i))' Mos eorcma a fórmuJa ' ( )
lrã\ltl &ua · tnunos, portanto - x - Dcm (.t',

u::
fonnat f negação formal sera d

Para P
. que se a fórmula G for dcmons-
consislcmc. a formul:~o:slrávcl . Segue-se que se o sistema
rgumento algo anál nlo demonslrável.
tr~vc1.";;:~ que se - G for dc~~~~=rfm mais compljc.ido ~ necessário
1cotaremos dei·ine á-lo. vel. então O tam~m será demons-

8/
........ • ..ww,i. ampliado~ tal fórmula seria construlível
serconstt'Ulua nc>$IS1,1,1•- 'l' d
_1 . -.-tição ro novo sistema do processo ull 1za o
.,_a s1mp1e.s •~ .
originalmente para especificar uma f~nnula verdadeira, ~as
.ndecidívcl 00 sistema inicial. Esta notável conclusão mantem-
~ não importa quão freqüentemente o sistema inicial _sej_a a~-
pliado. Sentim<rnos ~sim obrigados a reconhecer a hm1taçao
fundamental no poder do método axiomático Contra assunções
prfvías. o vuto continente da verdade ariun~tica não pode ser
levado a uma ordem sistemática. renunciando-se de uma vez
por todas a um conjunto de axiomas do qual todo enunciado
aritmético verdadeiro pode ser fonnalmcnte derivado.
(v) Chegamos à coda da maravilhosa sinfonia intelectual
de Gõdcl. Foram traçados os passos pelos quais ele fundamen-
tou o enunciado mctamalemM.ico: ··Se a aritmética é consistente,
ela f incompleta". M.as t1mbém se pode provar que este enun-
ciado condicional tomado como wn todo é representado por uma
fórmula demonstrável dentro da aritmética formali:zada.
Esta fórmula crucial podesa facilmente construída. Como
explicamos no Cap. V, o enunciado metamatemático ..A arít-
m~lka ~ consistente" é equivalente ao enunciado "Existe ao
menos uma fónnulada aritmética que não é demonstrável'". A
úllima é representada no cilculo fonnal pela seguinte f6nnu-
la, que chamaremos de 'A':
(A) (3x) (x) - Dem (x, y)
Em palavras, ela significa: 'Existe ao menos um número y tal
que, para cada número x • .t não se acha na relação Dem para
co~ y' ._lnterpretada metamatematicamentc a fórmula asseve-
ra:nhExiSle ªº menos uma fónnula de aritmética para a qual
nc uma seq üênc,a - d e fónnulas constitui uma prova•. A fór·
~adula A, portanto, rcprcscn1a a cláusula antecedente do enun-
c1 o mctamatcm,tico· ·s . .
incompleta' De · e ª antm~bca é consistente. ela é
ciado _ isto·~••:i:tro~ado, ~ cláus~la consequente deste enun·
mente de •Existe ( tm~!•ca) é ~ncomplcta' - segue direta-
é formalmente d wn cmmcaado antmético verdadeiro que não
. emonstrivcl na arilméti , ,l .
1eitor reconhecerá. ~ ca ; e a u uma, corno o
um velho amigo àfó rcp~csentada no cálculo aritmético por
do condicional~ tamnnu ªª:Conseqüentemente, o cnuncia-
tc. ela t incomplc~" /temático ºSe a aritmética é consisten..
representado pela fónnula~
82
(3y) (x)- Dem (x,y)::) (x)- Dem (x. sub (n. 13, n))
qoe por razões de brevidade, pode ser simbolizada por~ A::,
G'. '(Esta fórmula pode ser provada que é formalmente
demonstráveJ. mas não empreenderemos esta tarefa nas pági-
nas deste livro).
Provaremos agora que a fórmula A é não-demonstrável.
Suponha que fosse. Então como A=:) G é demonstrável. usan-
do a Regra de Separação. a fórmula G seria demonstrável.
Mas, a não ser que o cálculo seja inconsistente. G é formal-
mente indecidível. isto é. não-demonstrável. Assim se a arit-
mética for consistente, a fórmula A é não-demonstrável.
O que isto significa? A fórmula A representa o enunciado
mctamatemátíco ..A aritmética é consistente". Se. contudo,
este enunciado pudesse ser estabelecido por qualquer argu-
mento que pudesse ser mapeado sobre uma seqüência de fór-
mulas que fosse uma prova no cálculo aritmético, a fórmula A
seria ela própria demonstrável. Mas isto, como acabamos de
ver. é impossível. se a aritmética é consistente. Está ante nós a
grande etapa final: devemos concluir que se a aritmética é
consistente. sua consistência não pode ser estabelecida por
qualquer raciocínio metamatemático que possa ser represen-
tado dentro do formalismo da aritmética!
E stc: imponente resultado da análise de Gõdel não deve ser
~al.co~pree~dido: não exclui a prova metamatemática da con-
s1stencia da annnéti E 1 . 1.
pod ca. xc ui s m uma prova de consistência que
e ser espelhada pelas deduções formais da aritmética is As
Provas rnetam atemattcas d
> •
- ... · •

,,....,1·~ ...de acons1stenc1ada aritmética foram na


1
''1;41 \W • construídas · •
rnemb ""- • partJcularmente por Gerhard Gentzen wn
ro U4. escola de Hilbert •
~ em 1936, e desde então por outros 16 •

15 . O 1cnor
· poder;,i enco tr .
que, sinularmentc a ~ ar a_iuda sobre este ponto no lembrete ""-
at1>·-..., • prova. da amp .b.li . ~
. , ...,10 com régua e com _oss~ 1. dadc de tnsseccionar um ãngulo
lriSscccionado ,_, p~so rrao s1gn1fica qut wn ângulo nlo pos
biri ......... outros meios q · sa ser
o pode ser trislieccion.a.do u.tasqucr. Pe]o contrário. um ângulo arbi-
nos for permitido empregar use. ~r exe_mplo. além de régua e compasso.
N\.... 16. A pro~a de Gc •---ma d1stlnc13 fiu. usiaa.Jada na régua.
~~ · - n~n depende de ·
O lll~tica cm orde r a.rn.oJar todas as dcmons11a.
•- lrranjo mostra •- m inea.r segundo o seu grau de ..simplici_._... _,.
ullnsfj · " u;;r U,n padr- ~ ~ .
nato . (A teoria d . ao que li de um certo tipo "ordina.J
os numeros ordinais transfinitos foi criada pelo

83
Estas provu sio de grande significação lógica~ entre outras ra-
mes porque propõem novas formas de construções metama-
liclmticas, e porque ajudam por este meio a esclarecer como a
classe de regras de infermcia precisa ser ampliada. se é que se
pretende estabelecer a consistência da aritmética. Mas tais pro-
~ niosãorq,rescnd.veisdentrodocálcuJo ari~co; e, como
nio sio de cmtcr finitista. não atingem os objetivos proclama.
dos pelo programa original de Hilbert.

~lic~ al~mJo Georg ~


COG.siste.aaa aplicado a esta lor. ~ seculo XIX.) Obtcm·sc a prova dt
~ '),riatipfo de iDdUÇloordem hnear uma regra de inferência deP~
: - . ~ lllaptado SObrc fi ~finita".? argumento de GentzeD aio
O

-=:
ti Dlai':1"1 dos estudiosas lllo0rDiali~ di Ulbnttica. Além disso. embor.t
no kutido das tstipu=one·m· a cocrincia da prova. ela não t
de COIUisthcia. ongula.is de Hilbert para uma prova
8. REFLEXÕESFINAIS

A importância das conclusões de Gõdel é de longo alcan-


ce, embora não tenha sido ainda plenamente configurada. Tais
conclusões mostram que a perspectiva de encontrar para todo
sistema dedutivo (e, em particular. para um sistema em que se
possa expressar o conjunto da aritmética) uma prova absoluta
de consistência que satisfaça as exigências finitárias da pro-
posta de Hilbert, embora não seja logicamente impossível é
~lta~ente improvãve11. Mostram também que há um número
infinito de enunciados aritméticos verdadeiros que não se
podem deduzir formalmente de qualquer conjunto dado de

1
. · A possibilidade de construir uma prova absoluta finit.úia de
coru1s1encia para •,-..1. .
Gõd a lfluaK;uca não fica e~c]uída pelos resultados de Gõdcl.
I
rep: dcmonst rou que não é possível qualquer prova desta ordem
dadc :nlâvcl dcnu:c, da aritmética. Seu argumento nlo elimina a possibili-
0
tro da P.' "~ CSlrílarnente finitárias que não possam ser represenradas dcn-
SCria ut~hca. Mas ningu~m puece ter hoje uma idéia clara de como
lritm:u~ prova linilaria que nlo fosse passível de formulação dentro da
ca.

85
. umconiWttocerradodc regras de inferência.
_.-,,a.·
axlOfflas rm:utante 'J • d . d
L--...&•gcm axiomática a teona os nume-
#

Scgue-sc que uma lDU1UA , .


não pode esgotar o dom1mo da verdade
ros. por cxemplo•
aritm~rica. Segue-se. também. que_ o ~ue entendemos po~ pr0-
cesso da prova matemática não coincide com a explor~çao de
um método axiomático formalizado. Um procedimento
axiomático formalizado baseia-se cm um conjunto de axiomas
e regras de transformação inicialmente determinado e fixado.
Como o próprio argumento de Gõdel mostra que não se pode
colocar nenhum limite antecedente à inventividade dos ma1e-
máticos imaginando novas regras de prova. Por conseguinte.
não se pode fornecer nenhum apanhado final sobre a f9rma
lógica precisa de demonstrações matemáticas válidas. A luz
desw circunstâncias, se uma definição abrangente da verdade
matemática ou lógica pode ser imaginad~ e se. como o próprio
Gôdcl parece acreditar, apenas um "realismo" filosófico cabal
de antigo llJX) platônico rnie fornecer uma definição adequa-
da. estes são problemas ainda em debaLe e demasiado difíceis
para considerações ulteriores neste contexto2 .
As conclusôc!t de Godcl ver~am sobre o problema de sa-
ber se f possível conMruir uma máquina de calcular compará-
vel ao cérebro humano em inteligência matemática. Hoje, as

2. O r~li~mo plalôni,o assume o poDLo de \· 1s1.a de que a matemá-


tica nlo ena ou m,·cn~ seus ··obJclos" mas de5eobre-os como Colombo
drscobriu a A~nca. Pou bem.~ 1~10 for \'Crdadc, os objelos de,·em. de
alguma forma, "ex1u1r'· ante§ ~ sua descoberta. Segundo a doulrina
plilõnic~. os objelos do csludo malcmático não ~ enconlr.tm na ordem
c1,,paço-1emporal. Eles ~àu dcsencarn.1dos Arquéupos ou formas eternas
que rrsidtm cm um n:íno distmto acessível apenas ao in1electo. Nesta
concepção. H formas triangulares ou cucu.lucs de: ,orpos físicos per•
~púvtis por nossos SC1lbdos não são os pr6pnos obJeLos da matemática.
E.s~ formas aio puwn ~ cmponficaçõcs impttfciw de um indivisível
Trilngulo "perfeito" ou Orc"lo ..perfciri,•·. que não t criado, nem jamais
St ma111 íntou pleoamrnte por meio de coisas materiais. e que pode ser
ap,ceodado apena prla mente expklradon do ma~mático. G(>del parece
susntar um ponto de vista similar quando diz ··ClJ.sscs e conccilOS po·
cima( ... ) ser OOIIOCbidos como objcto5 reais ( ...) que cxistffll índepeodell·
~ de nossas A-4:..; . - -
lais . . _ - • ~ e c:mstruçõcs. Parece-me que a assunção de
e~objccOI.. f 1nteuamm1e rio Jemlima
r a,mc, a au•~ de ..,wnn,c ffsiCOS
- ~ -r--
- P01~bvainmae muita rujo em crer cm sua c~istâlcia... (Kurt Gõdcl,
Russell s Mathematical
(e4. Pa . I nm"'"
~ · no '"- '"~ Phito1oplty o/ B,rtrand Russ1li
w A.. Sc:bilpp, Evanston and Chicago. 1944), p. 131).
86
máquinas de calcular encerram um conjunto fix? de diretivas;
rais diretivas correspondem a regras fixas de inferência. de
procedimento axiomático formalizado. As máquinas fome-
em assim respostas a problemas operando passo a passo,
:endo cada passo controlado pelas diretivas embutidas. Mu.
omo Gõdel mostrou em seu teorema de incompletude, exis-
c . 1
tem numerosos problemas na teona e ementar dos números
que permanecem fora do âm~ito_ de um método axiomático
fixado. e que tais engenhos sao incapazes de responder por
mais intricados e engenhosos que sejam os mecanismos ín~
duzidos e por mais rápidas que sejam suas operações. Dado
um problema definido, pode-se construir uma máquina deste
tipo para resolvê•lo; mas não é possível fazer uma máquina
deste gênero capaz de resolver todo e qualquer problema. O
cérebro humano pode, na verdade, ter limitações próprias ine-
rentes, e talvez existam problemas matemáticos que ele seja
incapaz de resolver. Mas. ainda assim, o cérebro parececo~
rificar uma estn1tura de regras de operação muito mais pode-
rosa do que a estrutura das máquinas artificiais comumentc
concebidas. Não há perspectiva imediata de substituir a men-
te humana por robôs.
A prova de Gõdel não deve ser apresentada com um con-
vite para o desespero ou como uma desculpa para o tráfico de
mistérios. A descoberta da existência de verdades matemáti-
cas formalmente indemonstráveis não significa que existam
verdades destinadas a permanecer para sempre desconheci-
das. ou que uma intuição "místican (radicalmente diferente
cm espécie_e autoridade daquilo que é em geral operativo nos
P~o~ssos intelectuais) deve substituir provas adequadas. Isto
nao s1gnifica e
. • orno pretendeu um autor recente que há "limi·
te tncludíveis p - .. . .
e ara a razao humana . Isto s1gn1fica que os rc-
ursos do intel t O h
rnent i . ec umano não foram e não poder ser plcna-
aguar~ onnahzados. e que novos princípios de demonstração
• - arn eternamente invenção e descoberta. Vimos que pro-
pos1çoes mate , .
dcduç~ i mahcas que não podem ser estabelecidas por
l>Odc.:º ãorrnal a Partir de um dado conjunto de axiomas.
ternáti 'n .~ obstante ser estabelecidas por raciocínio mctama-
co informal., S . . ..
tais verd d · ena 1rresponsab1hdade pretender que
ª es formalmente indcmonstrávei&. firmadas por ar-
87
gumentos metamatemáticos, se baseiam em nada melhor do
que pum, apelos à intuiçlo.
Tampouco as limitações increntes às máquinas de calcu-
lar implicam que nlo podemos aJimentar a esperança de ex-
plicar a matéria viva e a razão humana em termos químicos e
físicos. A possibilidade de tais c,tplicações não foi evitada
nem afirmada pelo teorema da incompletude de Gõdel. O
r.eorema índia que a estrutura e o poder da mente humana são
bem mais complcx.os e sutis que os de qualquer máquina não
viva ati agora considerada. A própria obra de Gõdel é um
exemplo not!vcl de tal complexidade e sutileza. É uma opor-
tunidade. não para desanimar, mas para uma apreciação reno-
vada dos poderes da razão criativa.

88
AP~NDICES

Notas

1. (p. 19). Somente em 1899 foi que a aritmética dos núme-


ros cardinais foi axiomatizada pelo matcmátio italiano Giuseppe
Peano. Seus axiomas são cinco. São fonnuJados por meio de tn!s
termos indefinidos, sendo presumida a familiaridade com estes.
Os tcnnos são ºnúmero.., ..zero" e "sucessor ~dialo de". Os
axiomas de Peano podem ser enunciados como segue:
l. Zero é um número.
2. O sucessor imediato de um número é um número.
3. Zero não é o sucessor imediato de um número.
. 4 . Não há dois números que tenham o mesmo sucessor
imediato.
S. Qualquer propriedade pertencente a zero, e tam~m
ao
d
sucessor.1m~1ato
.....r d e cada número que tenha a propn'eda-
e. pertence a todos os números.
cf último
O iO . ax.ioma ",orm ul a o que muitas
. vezes se e hama u pnn-

p da •nduçio matemática".

89
J. (p. 41). o leitor talvez esteja interessado e~ ter um
apanhado mais completo do que o ~exto ~roporc1ona dos
teoremas lógicos e rcgrílS de inferência. ta~1ramcnte empre.
gados mesmo em demonstrações matemáticas elementares.
Analisaremos primeiro o raciocínio que produz a linha 6 na
prova de Euclides. a partir das linhas 3, 4 e 5.
Designamos as letras •p', •q' e ',· como "variáveis
sentenciais'', porque é ~ível substituí-Jas por sentenças. Tam-
bém, para e.conomiz.ar espaço, escrevemos enunciados condi-
cionais da forma 'se p então q' como 'p :::::> q ·; e denominamos a
cqns.ção à esquerda do signo em ferradura '::>·, ..ante.cedente" e a
cqns.ção à direita ··consequente". SimiJannente, escreveremos p
v q· como amcvian.aa para a forma alternativa 'oup ou q'.
Há um teorema em lógica elementar que reza:
(p ::> r) ::> l(q ::> r) :> ((p v q) ::) r)]

Pode-se provar que este teorema fonnula uma verdade


necessária. O leitor reconhecerá que esta fónnu] a dec Iara mais
com~t.amcntc aquilo que é transmitido pelo seguinte enun-
ciado mais longo;

Se (se P então r), então (se (se q então r) então (se (ou p ou q}
então r)]
Como assinalamos no texto, há uma regra de inferência
na lógica denominada Regra de Substituição Para Variáveis
Senten~iais. De acordo com esta Regra,. uma sentença S2 se-
gue log!c~mente d~ u~a Sentença S I que contém variáveis
sentc~c•_a1_s, se ~ primeira for obtida a partir da segunda pela
substrt~Jçao uniforme das variáveis por quaisquer sentenças
Se a~hc_anno~ ~sta regra ao teorema há pouco mencionado
subshtuando p por 'y ~ primo' • • , "' .. , •
• ... x é . , q por y e composto e r
por x,'40 oma1orpn·mo' b
, o temos o seguinte:
(y ~primo::> x não f o maior primo)
( :::::> ~(y é composto ::J ..t não é o maior primo)
::> (y é pnmo v Y f composto)::> x não é o maior primo)]
O leitor notará imcd · . • 1
dentro d0 . . iatamenre que a sentença cond1c1ona
linhadcstePnmc,ro par de par~ nteses (ela aparece na prime1r
· ·a
exemplo do teorema) simplesmente duplica a linha
90
3 da prova de Euclides. Do mesmo modo, a sentença condi-
cional dentro do primeiro par de par~nteses dentro dos col-
chetes (ela aparece como a segunda Jmha deste exemplo do
teorema) duplica a Jinha 4 da prova. Também, a sentença alter-
nativa dentro do colchete duplica a linha 5 da prova.
faremos agora o uso de outra regra de inferência conhe-
cida como a Regra do Destacamento (ou Modus Pone11s). Esta
regra permite-nos inferir uma sentença S2 de outras duas sen-
tenças, uma das quajs é S 1 e a outra. S 1 ::)S1 . Aplicamos esta
regra crês vezes: primeiro, usando a linha 3 da prova de
Euclides e o exemplo acima do teorema lógico; depois, ore-
sultado obtido por esta aplicação e a linha 4 da prova; e final-
mente. o úlrimo resultado da aplicação e a linha 5 da prova. O
resultado é a finha 6 da prova.
A derivação da linha 6 a partir das linhas 3, 4 e 5 envolve
assim o uso tácito de duas regras de inferência e um teorema
de lógica. O teorema e regras penencem a parte elementar da
teoria lógica. o cálculo sentenciai. Ele lida com as relações
lógicas entre enunciados compostos de outros enunciados com
a ajuda de conectivos sentenciais. dos quais '::J' e •v· consti-
.
tuem exemplos. Outros conectivos deste tipo são a conjunção
,
e • para q uai o ponto ·. · é usado como abreviatura; assim
c?mo o enunciado conectivo 'p e q' é escrito como ·p. q' . O
~igno _"- ' repre~enta a partícula negativa ..não": assim 'não-p'
e escnto como •- p•.
Examinemos a transição na prova de EucJides da Iinha 6
P~ra a linha 7. Este passo não pode ser analisado só com a
~Juda do cálculo sentenciai. É necessária uma regra de
anferência
. . que pertença a uma parte mais avançada da teoria
1og1ca - ou s . l . .
. eJa. aque a que considera a complexidade dos
enunciado ·
•1 , s que incorporam expressões como •tudo'. 'cada',
ª gun, e seu s · ,., ·
dos de _s •nonimos. Estes são tradicionalmente chama-
o se qua,ttificadores e o ramo da teoria Jóaica que discute
u papel , . e
eª teoria da quantificação.
É ncces ,. · ·
setor m . sano explicar algo da notação empregada neste
Para an ª~s avançado da lógica, como um fato preliminar
1
variãv a. isar a tra ns1çao
. - .
em questão. Em adnamento a estas
eis scnt • .
vemos e . encaa, s. que podem substituir sentenças, dc-
onsiderar a categoria de .. variáveis individuais•• tais
91
• , ~ • •~· etc. que podem substituir os nomes dos
como x • Y , "' • · 1
indivídu~. Usando estas variávei~. o en~nc1ado um versa 1

•Todos os primos maiores que dois são 1mpares pode ser


formulado: 'Para cada x, se x for um primo maior do que 2,
então x ~ ímpar'. A expressão 'para cada x' denomina-se
quantifcador 11niv~rsal e em notação lógica corrente, é abre-
viada com o signo '(x)'. Pode-se escrever portanto o enun-
ciado universal.
(x) (.xéum primo maior do que 2 :::::>x é ímpar)
Alim do mais. pode-se traduzir o enunciado "particular"'
(ou ~existencial',...Alguns inteiros são compostos", por "exís-
te ao menos um x tal que x é um inteiro ex é composto". A
e.xprcssão ..existe pelo menos um x' é chamada quantificador
uis1encial, sendo comumente abreviada com o signo '(3x)'.
É possível transcrever o enunciado existencial há pouco men-
cionado por:
(3x) (x é um inteiro• x é composto)
Cumpre agora observar que muitos enunciados usam im-
plicitamente mais do que um quantificador de modo que ao
exibir sua verdadeira estrutura váríos quantificadores devem
aparecer. Antes de ilustrar este ponto. adotemos certas abre-
viaturas para aquilo que em geral se denomina expressões
predicativas ou mais simplesmente, predicados. Utilizaremos
"Pr(x)' como abrevialura de •x é um número primo'; e 'Gr (x, z)'
como abreviatura de 'x é maior do que ,'. Consideremos o
enunciado 'x é o maior número primo'. Pode-se tomar mais
explícito o seu significado através da seguinte locução: 'x é
um primo e, para cada z. primo, mas diferente de x, x é maior
do que z' ·Coma ajuda de nossas várias abreviaturas, pode·
mos escrever o enunciado ·x ~ o maior primo':
Pr(x) •(z) [(Pr(z) • ~(x=z)) ::>Gr(x. z)]

Litera!mente, isto significa: 'xé um primo e, para cadaz, se z for


umpnmo• e l nao - ior
&-. •
igual a x, então x será maior do que z • ·
Re.conhecemos nasequ·enc,a · simbólica
· ·
uma tradução rninuc,o-
Euclides.cxpricita
samentc · e formal do conteúdo da linha 1 da prova de
92
A seguir, consideremos como expressar em nossa nota-
ção O enunciado •x não~ o maior primo' que aparece na linha
6 da prova. Isto pode ser apresentado sob a fonna:
Pr(x) • (3z) fPr(z) •Gr(zx)J

Literalmenlc, reza: "x é um primo e existe pelo menos um z tal


que z 6 um primo e z é maior do que x".
Finalmente , a conclusão da prova de Euclides. linha 7.
que assegura não haver um número prímo maior do que todos
os primos. é simbolicamente transcrito por:
(x) [Pr(x) ::> (3z) (Pr(z) • Gr(z, x))J

que reza~ ~Para cada x, se x for um primo, existe pelo menos um


z. tal que zé um primo e zé maior do qucx'. O leitor observará
que a conclusão de Euclides envolve implicitamente o empre-
go de mais de um quantificador.
Estamos prontos a discutir o passo dado da linha 6 de
Euclides para a 7. Há um teorema da lógica que diz

(p•q) ;J(p=>q)

ou quando traduzido. ·se tanto p como q, então (se p então q) •.


?~ 0
a Regra de Substituição e substituindo 'p· por ·Pr (x)' e
r
q por .(3z) [Pr(z) Gr(z. x) obtemos:

(Pr(.t) :::> (3z) fPr(z) • Gr(z. x)J :J


cPr(.t) => (3z) [Pr(z) • Gr(z • .x) J)
O antecede 1 ( • . . .
n e
PI csrnen te d 1·pnme1ra hnha) deste exemplo do teorema srm-
.
rnos a Rc up tca a lmha 6 da prova de Euclides; se aplicar-
gra de Destacamento, temos

De {Pr(x) => (3z) [Pr(z) • Gr(z,x)j)


acordo com R
quantifica ã ,. uma egra de Inferência na teoria lógica da
do a forrnç ~· e sernprc possível inferir uma sentença S1 ten-
·c.. ..x•••)• :rn (x) (.. .x...)' de uma sentença S1 sob a forma
tificador·4 •outras palavras, a sentença que tem o quan-
niQ conté~ corno prefixo pode ser derivada da sentença que
Pc<:tos. J\prº prefixo, mas é como a primeira, em outros as-
ternos a lin~:;nd0 esta regra à última sentença apresentada,
da prova de EucJides.

93
A moral de nossa história t. que a prova do teorema de
Euclides implica tacitamente o uso não só de te~remas e re-
gras de inferência pertencente.s ao cáJcul? sentencia~, mas!am-
bém de uma regra de inferência na reona da quant1ficaçao.

3. (p. 52). O leitor cuidadoso pode hesitar a esta altura.


Suas objeções podem apresentar-se mais ou menos assim. A
propriedade de ser uma tautologia foi definida em noções de
verdad~ e falsidade. Todavia, tais noções envolvem obviamen-
te uma referência a aJgo fora do cálculo formal . Portanto, o
processo mencionado no texto. na realidade, oferece uma in-
t~rpn!lafão ao cálculo, provendo um modelo para o sistema.
Sendo isto assim, os autores não fizeram o que prometeram. ou
seja. definir uma propriM.ade de fónnulas em termos de traços
puramente estruturais das próprias fórmulas. Parece que a difi-
culdade notada no Cap. 2 do texto - de que provas de consis-
tência baseadas em modelos e que argumentam a partir da ver-
dade de axiomas para a sua consistência apenas deslocam o
problema - não foi no fim de contas tlanqueada com êxito. Por
que então chamar a prova de •'absoluta" e não de relativa?
A objeção cabe muito bem quando dirigida contra a ex-
posição no texto. Mas adotamos esta forma para não sobre-
carreiar o lcitordesaco.stumado a uma apresentação aJtamen-
te abstrata apoiada cm uma prova intuitivamente opaca. Uma
vez que leitores majs temerários podem querer que lhes seja
exposto a coisa real, para ver uma definição inadornada que
não esteja exposta à crílica cm questão. nós a forneceremos.
Cumpre lembrar que uma fórmula do cálculo é ou uma
fónnula das letras usadas como \lariáveís sentenciais (chama-
remos tais fónnulas elementares) ou um composto destas le-
tras, dos signos empregados como conectivos sentenciais e
dos parênteses. Anuímos em colocar cada fórmula elementar
em ~a das duas classes K, e K2 mutuamente exclusivas e
exaustJvas. As fórmulas que não são elementares são coloca•
das nestas classes de acordo com as seguintes convenções:

i) Uma fónnula com a fonna S v S é colocada na


classe ~ s
e am
·-i
ba s •
'S , e S2 estiverem cm
2
de outro
I{ •
modo,~ colocada em K1. ª'2'
94
ii) Uma fórmuJa com a fonnaS 1 => S 2 ~colocadaem
1( ses estiver em K 1 e S 2 em K2 ; de outro modo i
·~· 1
coJocada em K1 •
iii) Uma fórmula com a forma S 1• S 2 é colocada em
v se ambos S e S2 estiverem em K 1; de outro modo, é
"'•' 1
colocada em K2 •
iv) Uma fórmula com a forma - Sé colocada cm~,
ses estiver em K 1; de outro modo. é colocada em K1•

Definimos então a propriedade de ser tautológico: uma


fórmula é uma tautologia se, e somente se, cair na classe K 1,
não importando em quaJ das duas classes estão colocados seus
constituintes elementares. É claro que a propriedade de ser
uma tautologia foi agora descrita sem utilizar qualquer mode-
lo ou interpretação para o sistema. Podemos descobrir se uma
fórmula é ou não é uma tautologia, simplesmente testando
sua estrutura pelas convenções acima expostas.
Um tal exame mostra que cada um dos quatro axiomas é
uma tautologia. Um procedimento conveniente é construir uma
tabela que arrole lodos os possíveis modos pelos quais os cons-
tituintes elementares de uma dada fórmula podem ser coloca-
dos em duas classes. A panir desta lista, podemos determinar
para cada possibilidade a que classe pertencem as fórmulas
componentes não-elementares da fórmula dada e a que classe
pcncnce a fórmula toda. Tomem o primeiro axioma. A sua
~bela consiste de três colunas, cada qual encabeçada pelas
formulas e _
ax.· omponentes elementares ou nao-clementares do
IO~a, bem como pelo próprio axioma. Sob cada rubrica
CStá mdicada
cad ª e 1asse à qual o item particular pertence, para
a uma das atrib . -
tares às d uiçoes possíveis dos constituintes elemen-
uas classes. O quadro é o seguinte:
p (,p V p) (p V p)-::) p
~ K, K,
A . ~ K,
Ptuneira caiu .
car O ún• na menciona as maneiras possfveis de classifi-
1c:o con t· .
lunaabib . . s Jtuinte elementar do axioma. A segunda co-
se, com bui •ndicad o componente não-cJementar a uma elas-
O

ase na convenção (i). A última coluna atribui o pró-


95
prio axioma I uma classe. com base na convenção (ii). A ~oi u-
na final mostra que o primeiro axioma cai na dassc K1• mde-
pcndcntemente da classe cm que seu único constitui~te
elementar ~fj colocado. O axioma ~. porunto. uma tautologia.
Para o segundo axioma o quadro é:
p q (p V q) p~ (p V q)
K• ~ K, K,
K, ~ K. Kl
~ K, K• Kl
~ ~ Kl Kl
As duas primeiras colunas anolam as quatro maneiras possí-
veii de classificar os dois constituintes elementares do axio-
ma A segunda coluna atribui a componente não elementar a
uma classe. com base na convenção (i). A terceira coluna faz
isto com relação ao axioma com base na convenção (ii). A
coluna final volta a mostrar que o segundo axioma cai na classe
K, para cada um dos qua1ro modos possíveis em que se pode
classificar os constituintes elementares. O axioma é. portan-
to, uma tautologia- De manei.ra similar, pode-se mostrar que
os dois axiomas remanescentes são tautologias.
Daremos tambffll a prova de que a propriedade de ser uma
tautologia é herodiwia sob a regra do Destacamento. (A prova
de que~ hcrr.ditária segundo a Regra de Substituição ficará a
cugo do leitor). Presumam que duas fónnulas quaisquer S I e
S1 :> S2 são ambas tautologias; de\lemos mostrar que neste caso
S2 é uma Lautologia Suponham que S2 não fosse uma tautologia.
Entio, pelo menos no tocante a uma classificação de seus cons-
tituintes elementares, S2 cairá em JS. Mas. por hipótese, S 1 é
uma tautologia. de modo que cairá cm K, para todas as classifi-
cações de seus constituintes eJemenwes - e. em particular, para
a classificação que exige a colocação de S 2 em ~. Conseqüen-
temente, no locante a esta última classificação S ::> S deve
• ' • 2
CéUr em ~. por causa da segunda convenção_ Entrelanlo. isso
contradiz a hipótese de que S1 ::, S2 é uma tautologia. Por con-
seguinte, S2 tem de ser uma taulOlogia sob pena desta contradi-
ção. A propriedade de ser uma tautologia é assim transmitida
pela Regra de Destacamento, desde as premissas até a conclu-
do deriv4vel delas por meio desta regra.
96
um comentário fina) sobre a definição de tautologia dada
no texto. As duas classes K 1 e K 2 utilizadas no presente apa­
o
nhado podem ser c nstruídas como as classes de enunciados
falsos e verdadeiros, respectivamente. Mas o apanhado. como
acabamos de ver, de modo algum depende de tal interpreta­
ção, ainda que a exposição seja mais facilmente apreendida
quando as classes são entendidas desta maneira.

97
BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA

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I{}()
ALOSOFJA DA CIÊNCIA NA PERSPECTIVA

Probkmas da Ff.rica Motkma


Max Bom e outros (0009)
Ttoria ~ R~a/idad~
Mario Bunge (D072)
A Prova d~ Gikhl
Emest Nagel e James R. Newman (007S)
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