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A PROVA D� GÕDEL
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13
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consntu1 um en"· •..., . .
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ma.tona os._..05 da matemática. Além do mais, o an1go
. de
.
Gõdel trata de um conjunto de questões que nunca_ atraiu mais
do que um grupo relativamente pequeno de estudiosos: O r~-
ciocfnio da prova era tão novo na época de ~~a ~ubhcaçao
que apenas os que estivessem intimamente fam1113:1z~dos com
a literatura t6cnica de um campo altamente especializado po-
deriam acompanhar o argumento com pronta compreensão.
Não obstante. as conclusões que Gõdel estabeleceu são hoje
amplamente reconhecidas como sendo revolucionárias em sua
larga significação filosófica. É o objetivo do presente ensaio
tomar a substãncia dos achados de Gõdel e o caráter geral de
sua prova acessíveis ao não-especialista.
O famoso artigo de Gõdel atacava um problema central
nos fundamentos da matemática. Será útil dar um breve apa-
nhado preliminar do contexto em que o problema ocorre.
Qualquer pessoa que se defrontou com a geometria elemen-
tar lembrará, sem dúvida, que ela é ensinada como disciplina
dedutiva. Não é apresentada como uma ciência experimental
cujos teoremas devem ser acolhidos porque concordam com
a observação. Esta noção. de que uma proposição pode ser
estabelecida como a conclusão de uma prova lógica explícita,
remonta aos antigos gregos que descobriram o que é conhe-
cido como "o método axiomático.. e usaram-no para desen-
volver a geometria de uma maneira sistemática. O método
axiomático consiste em aceitar sem prova certas proposi-
ções como axiomas ou postulados (e.g .• o axioma de que por
dois pontos podemos traçar uma e uma só reta) e depois
derivar dos axiomas todas as proposições do sistema como
teoremas. Os axiomas constituem os '~fundamentos., do sis-
tema~ os teoremas são a "superestruturaº e são obtidos a
partir dos axiomas com a ajuda exclusiva dos princípios da
lógica.
O desenvolvimento axiomático da geometria causou po-
deroso impacto sobre os pensadores no curso dos tempos. pois
0
n~mcro relati vamen1e pequeno de axiomas carrega todo peso
das mcsgotavclmente numerosas proposições deles deriváveis.
Além dºasso, se de algum modo a verdade dos axiomas pode
ser estabclecida - e de fato durante uns dois mil anos a maio-
'"'
ria dos estudiosos acreditou sem qualquer dúvida que são a
verdade do espaço - tanto a verdade quanto a consistência
mútua de todos os teoremas estão automaticamente garanti-
das. Por esta razão, a forma axiomática da geometria se afigu-
rou a muitas gerações de notáveis pensadores como o modelo
do conhecimento científico no que ele tem de melhor. Era
natural. pois, perguntar se outros ramos do pensamento, afora
a geometrja, podem ser situados sobre um fundamento
axiomático seguro. Contudo, embora certas partes da física
recebessem uma formulação axiomática na antiguidade (e.g.1
por Arquimedes), até a época moderna a geometria era o úni-
co ramo da matemática que dispunha daquilo que a maioria
dos estudiosos considerava uma sadia base axiomática.
Mas nos últimos dois séculos o método axiomático veio
a ser explorado com poder e vigor crescentes. Novos ramos
da matemática assim como velhos. inclusive a familiar arit-
mética dos números cardinais (ou "inteiros ..), foram dotados
com o que pareciam ser conjuntos adequados de axiomas.
Gerou-se assim uma opinião em que era tacitamente pressu-
posto que todo o setor do pensamento matemático pode ser
dotado de um conjun10 de axiomas suficiente para desenvol-
ver _si~tcmaticamente a totalidade infinita de verdadeiras pro-
pos1çoes ~cerca da área dada de investigação.
O ~nigo de Gõdel mostrou que tal pressuposição é in-
sustentavel. E!e. colocou os matemáticos diante da espan-
tosa e mclancohca conclusão de que o método axiomát·
tem t· . ]' . - . ICO
ceras im1taçocs inerentes que eliminam a possibilida-
de de q~c mesmo_a aritmética comum dos inteiros possa
:er pJe~amente ax.10matizada. Mais ainda1 ele provou que é
arnp~~st~·el estabelecer a consistência lógica interna de uma.
m:p/ss,ma classe de sistemas dedutivos - aritmética ele-
n ar, por exemplo - a me
raciocínio tão co l nos que ado_temos princípios de
tão aberta à d, .;P exos que sua consistência interna fica
destas conclus~:~ a ~ua~to ~ dos próprios sistemas. À luz
nal de num 'é mat_ingtvel qualquer sistematização fi-
erosas áreas 1mport· t d
possível d . an es ª matemática e~ im-
n,u·t ar g.arantta absolutamente impecável de que
... 1 os ramos sig "f ·
te· . . ni tcat1vos do pensamento matemático es-
~am mte1rament r1 d . .
e vres e contradição 1n1crna.
IC
As descoberw de Gõdel minaram assim pré-concepções
profundamente arraigadas e demoliram an~gas esperanças que
eram novamente ahmentadas pela pcsqwsa sobre os funda-
mentos da matemática. Mas seu artigo não era inteiramente
negativo. Introduzia no estudo das questões de fundamento
uma nova tttnica de análise comparável por sua natureza e
fertilidade ao m&odo algébrico que René Descartes introdu-
ziu na geometria. Esta técnica sugeriu e iniciou novos proble-
mas para a investigaçio matemática e lógica. Provocou uma
reavaliação ainda cm curso de filosofias da matemática
mantid&S em amplos círculos e de filosofias do conhecimento
em geral.
Os pormenores das provas de Gõdcl, em seu artigo que
marcou tpoca. são demasiado difíceis para que possam ser
acompanhados sem considerável tr~ino matemático Mas a
estrutura bisica de sua.s demonstrações e o cerne de suas con-
clusõe, podem tomar-se inteligíveis a leitores com reduzi-
díssimo preparo matemático e lógico. A fim de alcançar um
tal entendimento. talvez seja útil ao leitor um breve apanhado
de certos desenvolvimentos imporuntcs na história da mate-
mática e da moderna lógica formal. Os próximos quatro capí-
tulos deste ensaio serão dedicados a isto.
16
2. O PROBLEMA DA CONSISTÊNCIA
O século XIX assistiu a uma tremenda expansão e inten
sificação da pesquisa matemática. Muitos problemas funda
mentais que haviam resistido longamente aos melhores esfor
ços de pensadores antigos foram resolvidos� novos setores de
estudos matemáticos foram criados; e em vários ramos desta
disciplina foram assentados novos alicerces ou velhos funda
mentos foram inteiramente reformulados com a ajuda de téc
nicas mais precisas de análise. Para ilustrar o fato: os gregos
haviam proposto três problemas em geometria elementar: a
trissecção, com régua e compasso de qualquer ângulo. a cons
trução de um cubo de volume igual ao dobro do volume de
um cubo qualquer e a construção de um quadrado de área
igual à área de um círculo qualquer.
Por mais de dois mil anos sucederam-se tentativas malo
gradas de resolver tais problemas 4 Por fim, no século XIX.
provou-se que as construções almejadas eram logicamente
impossíveis .. Além disso ,. estes esforços produziram um valio
so subproduto. Como as soluções dependiam essencialmente
17
da determinação dos tipos de raízes que satisfaz~am cenas
equações, a preocupação com os fa':"osos_exc~cfc10s formu-
lados na antigüidade estimularam mvestJgaçoes profundas
sobre I naturc:za do número e a estrutura do continuum numé-
rico. Definições rigorosas foram finalmente dadas para nú-
meros negativos, complexos e irracionais; construiu-se uma
base lógica para o sistema de números reais; e foi fundado um
novo ramo da matemática, a teoria dos números infinitos.
Mas talvez o desenvolvimento mais significativo. pelos
seus efeitos de grande alcance sobre a subseqüente história da
matemática, foi a solução de outro problema que os gregos
levantaram sem responder. Um dos axiomas que Euclides usou
na sistematização da geometria cstã relacionado às paralelas.
O axioma que adotou equivale logicamente (embora não seja
idêntico) à hipótese de que, por um ponto fora de uma dada
reta. pode-se traçar uma e uma só paraJela à reta dada. Por
várias razões, este axioma não pareceu "auto-evidente" aos
antigos. Eles procuraram. portanto, deduzi-lo de outros axio-
mas euclidianos que lhes pareciam claramente auto-eviden-
tes1. Será possível fornecer uma tal prova do axioma das pa•
raleias? Gerações de matemáticos lutaram com a questão.
sem resultado. Mas os repetidos malogros em construir uma
prova não signifíca que não seja possível descobrir uma. as-
sim como repetidos fracassos em achar a cura para o resfria-
do comum não firma, fora de dú\lida. de que a humanidade
sofrerá para sempre de corizas. Foi somente no século XIX
que se demonstrou, principalmente pelo trabalho de Gauss,
18
Bolyai, Lobachcwsky e Riemann, a impossibilidade de dedu-
zir Oaxioma das paralelas de outros. Este resultado foi da
máxima imponância intelectual. Em primeiro lugar. chamava
atenção da maneira mais impressionante para o fato de que se
ode dar uma prova da impossibilidade de provar certas pro-
p e
posições dentro de um dado siste~~-- omo veremos, o artigo
.
de Gõdel é uma prova da imposs1b1hdade de demonstrar cer-
tas proposições importantes na aritmética. Em segundo lugar.
a resolução do problema do axioma das paralelas forçou a
percepção de que Euclides não é a ~ltima palavra em m~téria
de geometria, uma vez que novos s1sle~as de geo~etna sã~
construtíveis mediante o uso de certo numero de axiomas di-
ferentes dos adotados por Euclides e incompatíveis com eles.
Em particular. como bem se sabe, resultados fecundos e de
imenso interesse são obtidos quando o axioma das paralelas
de Eudides é substituído pela pressuposição de que é possí-
vel traçar por um ponto dado mais de uma paralela a uma reta
dada ou. ai temati vamente, pela pressuposição de que não se
pode traçar paralelas. A crença tradicional de que os axiomas
da geometria (ou para este caso os aKiomas de qualquer disci-
plina) podem ser estabelecidos por sua aparente auto-evidên-
cia foi assim radicalmente solapada. Além disso. pouco a pou-
co. tornou-se claro que o negócio mesmo do matemático puro
~ den·..-ar teoremas de lzipóteses postuladas e que não lhe com-
pele. ~orno matemático, decidir se os axiomas que pressupõe
são realmente verdadeiros. E, por fim, estas bem-sucedidas
modi fie ações da geometria ortodoxa incitaram a revisão e o
completamento das bases axiomáticas de muitos outros siste-
mas matemáticos. Campos de indagação até aí cultivados de
maneira mais ou menos intuitiva foram finalmente dotados de
fundamentos axiomáticos (ver Apêndice n. 1).
A conclusão geral que emerge desses estudos críticos
dos fundamentos da matemática é que a vetusta concepção
da matemática como a "ciência da quantidade" é tanto inade-
quada como desencaminhadora. Pois, evidencia-se que a ma-
temática é simplesmente a disciplina por excelê11cia que tira
co~clusões logicamente implicadas em qualquer conjunto de
ax,?mas ou postulados. De fato, veio a ser reconhecido que a
validade de uma inferência matemática não depende em scn-
tido algum de qualquer significado especial que se possa as-
sociar aos tennos ou expressões contidos nos postulados. A
matemática foi assim reconhecida como sendo muito mais
abstrata e fonnal do que se suponha tradicionalmente: mais
abstrata porque enunciados matemáticos podem ser estabele-
cidos cm princípio sobre o que quer que seja mais do que
sobre algum conjunto de objetos ou traços de objetos ineren-
temente circunscrito; e mais formalmente. porque a validade
das demonstrações matemáticas se estriba na estrutura de enun-
ciados, mais do que na natureza de um tema particular. Os
posnalados de qualquer ramo da matemática demonstrativa
não se referem inerentcmentc a espaço, quantidade. maçãs,
ângulos ou orçamentos; e qualquer significado especial que
pode estar associado com os termos (ou "predicados descriti-
vos.. ) nos postulados não desempenha papel essencial no pro-
cesso da derivação de teoremas. Repetimos que o problema
com o qual o matemático puro se defronta (diferentemente do
cientista que emprega a matemática ao investigar um assunto
espe.cial) não é se os postulados por ele assumidos ou as con-
clusões que deles deduz são verdadeiros, mas se as alegadas
conclusões são de fato conseqüências lógicas necessárias das
pressuposições iniciais.
Tomem este exemplo. Entre os termos indefinidos (ou
ºprimitivos..) empregados pelo influcnle matemático alemão
David Hilbert em sua famosa axiomatização da geometria
(publicada pela primeira vez em 1899) constam .. ponto''.
"rela". "está em" e ·•entre". Podemos conceder que os signifi-
cados costumeiros ligados a tais expressões desempenham
certo papel no processo de descoberta e aprendizado de
teoremas. Desde que os significados se tornem familiares,
sentimos que entendemos suas várias inter-relações e elas le-
vam à fonnulacão e à seleção de axiomas; além disso, suge-
rem e facilitam a formulação de enunciados que desejamos
estabelecer como teoremas. Todavia, como Hilbert afirma
taxativamente, na medida em que estamos interessados na ta-
refa matemática primordial de explorar as puras relações ló-
gicas de dependência entre enuciados, devemos ignorar as
conotações familiares dos termos primitivos e os únicos ..sig-
nificados,. que é preciso associar-lhes são os atribuídos pelos
20
axiomas em que entram2 • Tal é o sentido do famoso epigrama
de Russell: a matemática pura é o assunto em que não sabe-
mos acerca do que estamos falando e se o que estamos dizen-
do é verdadeiro.
Um domínio de rigorosa abstração, despido de todos os
marcos familiares, certamente não é fácil de penetrar. Mas
oferece compensações sob a fonna de uma nova liberdade de
movimento e vistas inusitadas. A intensa fonnalização da ma-
temática emancipou a mente humana das restrições que a in-
terpretação habitual de expressões colocava na construção de
novos sistemas de postulados. Foram desenvolvidas novas
espécies de álgebras e geometrias que assinal~vam afastamen-
tos importantes da matemática tradicional. A medida que a
significação de certos termos veio a ser mais geral. seu uso
tornou-se mais amplo e as inferências que se poderiam deri-
var deles, menos restritas. A formalização levou a uma gran-
de variedade de sistemas de considerá veJ interesse e vaJor
matemáticos. Alguns desses sistemas, cumpre admitir, não se
prestavam a interpretações tão obviamente intuitivas (isto é,
do senso comum) quanto as da geometria euclidiana ou arit-
mética. mas este fato não causou alanne. A intuição é, em
primeiro Jugar, uma faculdade elástica: nossos filhos não te-
rão provavelmente dificuldade em aceitar como intuitivamente
óbvios os paradoxos da relatividade. assim como nós não nos
assustamos com idéias que eram tidas totalmente como não
intuitivas há um par de gerações. Demais. como sabemos to-
dos. a intuicão não é um guia seguro; não se pode usá-la pro•
priamente como critério de verdade ou de fecundidade nas
indagações científicas.
Contudo. a crescente abstração da matemática suscitou
um problema ainda mais sério. Resuhou na questão de saber
se um dado conjunto de postulados utilizados como funda-
~ento _de um sistema é internamente consistente de modo que
nao SeJam dedutíveis dos postulados quaisquer teoremas mu-
tuamente contraditórios. O problema não parece urgente quan-
21
do um conjunto de a,r.iomas é referido a um domínio definido e
familiar de objetos; pois então não é apenas importante per-
guntar, mas deve ser possível verificar se os axiomas são de
fato verdadeiros para estes objetos. Como os axiomas de
Euclides foram geralmente tomados como enunciados verda-
deiros acerca do espaço (ou objetos no espaço), nenhum ma-
temático antes do século XIX jamais considerou a questão de
saber se um par de teoremas contraditórios poderia algum dia
ser deduzido dos axiomas. A base para esta confiança na con-
sistência da geometria euclidiana é o sólido princípio de que
enunciados logicamente incompativeis não podem ser simul-
taneamente verazes; conseqüentemente. se um conjunlo de
enunciados é verdadeiro (e isto estava pressuposto quanto aos
axiomas de Euclides). tais enunciados são mutuamente con-
sistentes.
As geometrias não-euclidianas pertenciam de modo claro
a uma categoria diferenle. Seus axiomas foram, de início, con-
siderados evidentemente falsos com respeito ao espaço e,
por esta razão, de uma verdade duvidosa no tocante a qual-
quer coisa; assim, reconheceu-se que o problema de estabele-
cer a consistência interna de sistemas não-euclidianos era tre-
mendo e crítico. Na geometria riemanniana. por exemplo. o
postulado das paralelas de Euclides é substituído pela suposi-
ção de que por um ponto dado fora de uma reta não se pode
traçar nenhuma paralela à reta dada. Agora admitam a per-
gunta. É o conjunto de postulados riemannianos consistente?
Os postulados aparentemente não são verdadeiros no tocante
ao espaço da experiência comum. Como pois mostrar a sua
consistência? Como provar que não conduzem a teoremas
contraditórios. É óbvio que a questão não fica resolvida pelo
fato de os teoremas já deduzidos não contradizerem uns aos
outros - pois subsiste a possi bi Iidade de que o próximo teorema
a ser deduzido venha transtornar os planos. Mas até que o
problema seja resolvido, não se pode estar certo de que a geo-
metria de Riemann seja uma alternativa verdadeira para o sis-
tema euc_lidiano; isto é igualmente válido do ponto de vista
:at~~ático. A própria possibilidade de geometrias não-
uchdianas se tornou assim dependente da resolução deste
problema.
2,
Imaginou-se um método geral para resolve-lo. A idéia
subjacente é a de descobrir um "modelo'' (ou ºinterprctaçãoH)
para os postulados abstratos de um sistema, de modo que cada
postulado é convertido em um verdadeiro cnuncíado sobre o
modelo. No caso da geometria euclidiana, como notamos, o
modelo era o espaço comum. O método foi empregado para
achar outros modelos cujos elementos pudessem servir como
muJetas para determinar a consistência de postulados abstra-
tos. A coisa se processa mais ou menos assim: entendamos
pela palavra ''classe•• uma coleção ou agregado de elementos
distingüívcis. sendo cada qual denominado um membro da
classe. Assim, a classe dos números primos menores do que
10 é a coleção cujos membros são 2. 3, 5 e 7. Suponhamos o
seguinte conjunto de postulados relativos a duas classes K e
L. cuja natureza especial fica indeterminada, exceto como"im-
p1icitamente'· definida pelos postulados:
23
1(
ac~------------ 1.
Fi&. ]
JO
"
3. PROVAS ABSOLtrrAS DECONSISI'ENCIA
JJ
~ temática uma vez que caracteriza um certo
pertence
• •
• mdaffl•
.1. ,
•
omo .-rtenccnte a uma e1asse específi1ca de
signo antm~uco e
.s1gnos e·Isto ç,.1. à classe Y- • .
das variáveis). Mais
.
uma vez, o enun-
ciado seguinte pertence à metamatemática:
34
tar que a palavra seja bonita; mas o conceito mesmo não as-
sombrará ninguém se indicarmos que é utilizado em conexão
com um caso especial de urna bem conhecida distinção, ou
seja, entre um tópico em estudo e um discurso acerca do tópi-
co. O enunciado ••entre os faloropes, os machos chocam os
ovosº diz respeito ao tema investigado pelos zoólogos e per-
tence à zoologia; mas se dissermos que esta assertiva dos
faloropes prova que a zoologia é irracional. nosso enunciado
não versa sobre os faloropes, mas sobre a asserção e a disci-
plina em que ela ocorre e é meta.zoologia. Se afirmarmos que o
id é mais poderoso do que o ego estaremos tagarelando sobre
coisas que pertencem à psicanálise ortodoxa; mas se criticar-
mos este enunciado como isento de sentido e improvável, a
nossa crítica pertence à metapsicanálise. E o mesmo ocorre no
caso da matemática e da metarnatemática. Os sistemas formais
que os matemáticos constroem pertencem à pasta denomina-
da "matemática''; a descrição. discussão e teorização acerca
dos sistemas pertencem à pasta denominada ºmetamatemi-
tica".
O reconhecimento para o nosso tema da importância da
diferença entre matemática e mctarnatemática não pode dei-
Chicago é bissflaba.
A fim de c,.;prcssa, o que se pretende com esta ~ltima scati:nc11 l ~en
escrever. -r-• r·--
"'Chicago" t lrisillaba.
Do mesmo modo Dio I concto escrever:
x - S ~ wna equaçlo.
De\'anos, ao iav~. formular nosso propó5i&o por:
"..t = , .. ~ uma eqlllÇl.o.
J5
. da As falhas em não respeitá-la produziram
xar de ser enf,anzafusão • ·fitcação per-
• A percepção de sua s1gn1
ruiradoxos e con · . d . ( .
"-:-:-- à clara luz a estrutura l6g1ca o rac,oc n10 matc-
m1bu mostrar . l' .d d
. 0 trito da distinção 6 que 1mp 1ca uma cu1 a osa
m,nco. m f .
codificação dos vmos signos qu~ entram na ettura ~e um
cálculo formal, isenlo de assunçoes ~ultas e associações
irrelevantes de significado. Além do mais. requer definições
exatas das operações e regras lógicas de construção e dedu-
ção matcmtúcas, mujtaS das quais os matemáticos aplicaram
sem consciência ex.plícitJ. do que estavam usando.
Hilbert viu o cerne do assunto e baseou sua tentativa de
erigir provas "absolutas" de consistência na distinção entre
um dlculo formal e a sua descrição. Especificamente, procu-
rou desenvolver um método que produzisse demonstra~õcs
de consistência tão além das genuínas dúvidas lógicas quanto
o uso de modelos finitos para estabelecer a consistência de
ccnos conjuntos de postulados - por uma análise de um nú-
mero finito de traços estrututais de expressões em cálculos
inteiramente fonnalizados. A análise consiste em anotar os
vários. tipos de signos que ocorrem em um cálculo, indicando
o modo de combiná•los em fórmulas. prescrevendo como é
possível obter fórmulas a partir de outras fórmulas, e determi-
nando se as fónnulas de uma dada espécie são deriváveis de
outras por meio de regras de operação explicitamente enuncia-
das. HHbcn acreditava ser possível exibir todo cálculo mate-
mático como um tipo de padrão "geométrico" de fónnulas, em
que as fórmulas mantêm umas para com as outras um número
finito de relações estruturais. Esperava, portanto, mostrar pelo
exame exaustivo dessas propriedades estruturais de expres-
sões dentro de um sistema que não é possível conseguir fór-
mulas fonnaJmentc contraditórias a partir dos axiomas de da-
dos cálculos. Uma exig~ncia especial do programa de Hilbert
e~ ~ua_ concepção original era que as demonstrações de con-
sistcncia envolvessem apenas processos tais como o de não
fazer referência tanto a um número infinito de propriedades
~truturais e fórmulas quanto a um número infinito de opera·
çoes com fórmulas. Tais procedimentos eram denominados
·'finitúios••.• e uma prova de consistência conforme a esta de-
rnanda denomina-se ºabsoluta". Uma prova "'absoluta•' a)can-
Jlí
ça seus objetivos utilizando um mínimo de princípios de
inferência e não pressupõe consistência de algum outro con-
junto de axiomas. Uma prova absoluta da consistência da arit-
m6tica, se é que se poderia construir alguma. demonstraria,
portanto, mediante um procedimento mewnatemático finitário,
duas fónnulas contraditórias tais como "O= O" e sua negação
formal º- (0 = O)" - onde o signo.,._,, significa .. não" - não
podem ser ambas derivadas de regras enunciadas de inferência
2
a partir dos axiomas (fórmulas iniciais) •
Talvez seja útil à guisa de ilustração comparar meta-
matemática, enquanto teoria da prova, com a teoria do xa-
drez. O xadrez é jogado com 32 peças de propósitos especifi-
cados. sobre um tabuleiro dividido em 64 quadrados onde as
peças podem ser movimentadas segundo regras fixadas. O jogo
pode obviamente ser desenvolvido sem que se ab'ibua qual-
quer .. interpreta~ão" às peças ou às várias posições sobre o
tabuleiro. embora uma tal interpretação possa ser fornecida.
caso se deseje. Por exemplo, poderíamos estipular que um
dado peão de representar um certo regimento em um exército,
q_ue uma ~erta casa simboliza uma certa região geográfica as-
s~m por diante. Mas semelhantes estipulações (ou interpreta-
çocs) não são costumeiras; tampouco as peças nem as casas
nem as l_'Osiçõcs das peças sobre o tabuleiro significam alg~
fora do J08~- N e~te -~~ntido. as peças suas configurações so--
bre o tabuleiro sao isentas de significado". Assim o jogo é
análogo a um cálculo matemático fonnalizado. As peças e as
c~as do tabuleiro correspondem aos signos elementares do
e culo; as posições legais das peças sobre o tabuleiro, às fór-
mulas .do cálculo·, as pos'içoes
- 1ruc1a1s
• . . . das peças no tabuleiro
aos a,uomas ou fórmulas iniciais do cálcúlo· as posições su~
seqUentes das peças tab 1 . '
axiomas (1· no u euo, às fórmulas derivadas dos
.e.. aos teoremas)· e as dO .
inferência (ou derivação) ~a ~egras Jogo, à~ regras de
segue Embo P O calculo. O paralehsmo pros-
. ra as configurações de peças sobre o tabuJeim•
2. Hilbert não forneceu uma - . .
ccdirnentos metamatcmáf ruao mteuamentc precisa daqueles pro-
Na Versão Drioinal ,..._ ices que devem ser considerados fioittrios.
- ~ seu programa
de consislfncia eram . • .._ . de wna prova absoJula
. . • as e;ugçcuc1as
çõe, do programa pcl nws restnuvas do que nas subseqUe:ntes explana~
os membros de sua escola.
37
como as fórmulas do c,1cuto sejam "'isentas de sentido.. os
enunciados acerca destas configurações, como enunciados
metamatcmiticos a respeito das fónnulas, são inteiramente
significativos. Um enunciado "mctaxadrez" pode asseverar
que há 20 possíveis jogadas de abertura para as Brancas ou
que, dada uma certa configuração das peças no tabu]eiro, com
o lance para as Brancas, as Pretas receberão mate em três
Janccs. A1ém disso, pode-se estabelecer teoremas de
"metaxadrez'' cuja prova implica apenas um
, número finito de
configurações permissíveis no tabuleiro. E possível estabele-
cer destartc o teorema de ~'metaxadrez"quanto ao número de
possíveis jogadas de abenura para as Brancas. Do mesmo
modo, o teorema de '"mewadrez'" de que, se as Brancas têm
apenas dois cavalos e o rei e as pretas apenas seu rei, é impos-
sível às Brancas imporem um mate às Pretas. Este e oulrOs
lcoremas de "metaxadrez'' podem. em outros tennos. ser pro-
vados por métodos finitários de raciocínio, isto é, pelo exa-
me, um de cada vez, de um número finito de configurações
passíveis de ocorrer cm condições enunciadas. O objetivo da
teoria da prova de Hilbert. simi]armente. destinava-se a de-
monstrar por semelhantes métodos finitários a impossibilida·
de de derivar certas fónnulas contraditórias em um dado c4'J-
culo matemãtico.
38
4. O SISTEMA DE CODIFICAÇÃO DA
LóGICA FORMAL
41
pode-se mostrar facilmente que a classe dos que preferem a
matemirica consiste exatamente de rapazes graduados com
louvor e moças não graduadas com louvor.
TABELA l
Todos os cavalheiros slo educados
Nenhum dos banquciJOs é educado
Nt.llhwn dos cavalheiros~ banqueiro.
CCC
bce
:. e Cb
cc=O
be=O
cb=O
~ 1• Segue-se imedia•11a1.1,1g1fe
..--- que cumpre contar os axiomas catre -l,0->
mas.
46
çio formal, - (S) i tam~m uma fórmula. Similarmente, se S 1 e
s são fórmulas, tam~m o serão (S 1) v (S2)t (S1) :l (S 2), e (S 1)
. (S ). Cada uma das seguintes é uma fórmula: 'p', •- (pY ..
2
'(p) -:::) (q)\ '((q) v (r)):, (p)'. Mas nem '(p) ( -(q))' nem '((p)::,
(q)) v' são f6nnuJas: a primeira não o é porque, enquanto '(pf
e '(- q) • são ambas fórmulas, não ocorre conectivo sentenciai
entre elas; tampouco a segunda o é, pois o conectivo 'v• não
é. como as Regras exigem. flanqueado tanto à direita como à
esquerda por urna f6rmula 2•
Duas Regras de Transformação são adotadas. Uma Re•
gra de Substituição (para variáveis sentenciais), diz que de
uma fórmula contendo variáveis sentenciais é sempre permis-
sível derivar outra fórmula pela substituição uniforme deva-
riáveis por fórmulas. Compreende-se que, quando se fazem
substituições da variável por uma fórmula, cumpre efetuar a
mesma substituição toda vez que ocorrer a variável. Por exem-
plo. na pressuposição de que 'p => p• já foi estabeJecida, po-
demos substituir a variável 'p' pela fórmula 'q'. a fim conse-
guirmos 'q ::::, q\ ou podemos substituir pela fómula 'p v q'
para ter '(p v q) ~ (,p v q)'. Ora, se substituirmos 'p' por
sentenças efetivas, podemos obter cada uma das seguintes a
partir de ·P :::) p ·: · As rãs são barulhentas => as rãs são baru-
1hentas · ~ ·(os morcegos são cegos v Os morcegos comem
ratos)::) (Os morcegos são cegos v Os morcegos comem ra-
3
tosr • A segunda Regra de Transformação é a Rt!gra de Des-
t~came,uo (ou Modus Ponens). Esta regra afirma que de duas
formulas
•
tendo a forma s l e s1 => s 2 e' sempre perm·lSSI,ve1 d e-
~1 vara fónnula Sr Por exemplo, das duas fórmulas •p v - p' e
,, ...
. ·ornas dos cálculos (essencialmente os
f1 nalmente, os ax1
dos Prillcipia) sJo as s~guintes quatro fórmulas:
l. (p "p)-::::, P 01. em
1. se (ou Hc:miqllc vm era
um mal-educado ou Henrique VUI
liriguagem comum. se ou p
en 111D mal-educado) entlo
oup, endo p.
Henrique vm era um mal-educado
'((p:::, q)::, ((r ::> s) ::::> t)) :::, ((u:, ((r:, s):, t)):, ((p::, u) ::> (s :::> t )))'
48
como um teorema. Não estamos todavia interessados por ora,
derivar teoremas dos axiomas. Nossa meta é mostrar que
: e conjunto de axiomas não~ contraditório, isto é, provar
••absolutamente" que é impossível usando as Regras de Trans.
formação derivar dos axiomas uma fórmula S juntamente com
a sua negação formal ~ S.
Pois bem. sucede que 'p ~ (- P =:, q)' (em palavras: 'se p.
então se não-p então q') é um teorema no cálculo. (AceitMe-
mos isto como um fato sem apresentar a derivação). Suponham
então que alguma fónnula S bem como sua contrária - S fos-
sem dedutíveis a panir dos axiomas. Substituindo a variável
•p' por S no teorema (como é permitido pela Regra de Subs-
tituição) e aplicando a Regra de Destacamento duas vezes, a
fórmula "q' seria dcdutível 4 • Mas. se a fórmula que consiste
da variável •q· for demonstrável. scgue~se de pronto que subs-
tituindo ·q· por toda e qUlllquer fórmula, todtl e qualquer
fórmula será dedutível a partir dos axiomas. Assim. é claro
que, se alguma fórmula S e sua contrária - S forem dedutíveis
dos axiomas, toda fórmula seria dedutível. Em suma, se o cál-
culo não for consistente, toda fórmula é um teorema, o que
equivale a dizer que se pode derivar qualquer fórmula de um
conjunto contraditório de axiomas. Mas isto possui um inver-
so: ou seja, se nem toda fórmula é um teorema (isto é, se há
pelo menos uma fónnula que não é derivável dos axiomas)
emão o cálculo é consistente. A tarefa, portanlo. é mostrar
qu~ há pelo menos uma fórmula que não se pode derivar dos
axromas.
Isto é feito pelo emprego do raciocínio metamatemático
sobre O sistema à nossa frente. O procedimento real é elegan-
te. Consiste em achar uma característica ou propriedade es-
trutural de fórmulas que satisfaça as seguintes três condições:
(1· A propn'eda d e deve ser comum a todos os quatro axiomas.
uma tal propriedade é a de conter não mais do que 25 signos
49
. ·edadc. contudo, não satisfaz a condi-
clementarcs, esta propn .cdade deve ser ..hereditária" sob
çio subseqüente). 2. A propn .
rr. formação_ ou seja. se todos os axiomas
as Regras de .1 rans ·d d ·
·ec1-.1- qualquer fórmula devt amente en-
possuem a propn au,;., _
vada delas, por meio das Regras de Tr~nsfo~açao também
, la Como toda fórmula assim deravada é. por de-
deve possu.1• . ,,. . •
finiçJo, um teorema. esta condição, em cssenc1a, c_supuJa q~e
todo teorema deve ter a propriedade. 3. A propnedade nao
precisa pertencer a toda fónnula que s~ possa ~ons~ir de
acordo com as Regras de Forrnaçio do sistema - isto e, deve-
mos procurar exibir pelo menos uma fórmula que não tenha a
propriedade. Se formos bem-sucedidos nesta tarefa trfpiice,
disporemos de uma prova absoluta de consistência. O racio-
cínio corre um pouco assim: a propriedade hereditária é trans-
mitida dos axiomas a todos os teoremas, mas se pudermos
encontrar numa sucessão de signos que obedeça às exigências
de serem uma fórmula no sistema e que, ainda assim, não pos-
sua a propriedade hereditária especificada, taJ fónnula não
pode ser um teorema.. (Para coJocar o assunto de outro modo,
se uma descendência suspeita (fórmula) carece de um traço
invaria vcJmcntc herdado dos antepassados (axiomas) ela não
pode de fato descender deles (teorema).) Mas. se descobrir-
mos uma fórmuJa que não é um teorema, teremos estabeleci-
do a consistência do sistema; pois, como observamos há pou-
co. se o sistema não fosse consistente, toda e qualquer fórmu-
la seria derivável dos axâomas (isto é, toda e qualquer fórmula,
seria um teorema). Em resumo, a apresentação de urna única
fónnula sem a propriedade hereditária realiza o truque.
Identifiquemos uma propriedade da espécie exigida. Es-
colhemos a propriedade de ser uma "tautologia". Na lingua-
gem comum. diz-se costumeiramente que uma declaração é
Ltutológica se contiver uma redundância e disser a mesma coisa
duas vezes com palavras diferentes - e.g., 'João é o paí de
Carlos e Carlos é o filho de João'. Na lógica, entretanto, defi-
n_c-~~ uma tautologia como um enunciado que não exclui pos-
s,bihdadcs lógicas - e.g., •ou está chovendo ou não está cho-
vendo'• Outra forma de colocar isto é afirmar que uma
tautologia~ "verdadeira em todos os mundos possíveis'\ Nin-
~m duvidari que independente do estado atual do temPo
50
(i.e., sem levar em consideração se o enunciado de que estí
chovendo é verdadeiro ou faJso), o enunciado 'ou está cho-
vendo ou não está chovendo' é necessariamente verdadeiro.
Empregamos esta noção para definir uma tautologia cm
nosso sistema. Observe. primeiro, que toda fórmula é
construída de constituintes elementares 'p'. 'q'. 'r9, etc. Uma
fórmula é uma tautologia se for invariavelmente verdadeira,
sem considerar se seus constituintes elementares são verda-
deiros ou faJsos. Assim, no primeiro axioma '(p v p) ::> p' o
único constituinte elementar é 'p·; mas isso não faz diferença
se ~p· for tomado como sendo verdadeiro ou como faJso - nos
dois caso~ o primeiro axioma é verdadeiro. Isto pode ser tor-
nado mais evidente se substituirmos 'p' pelo enunciado ºO
Monte Ramier tem 20.000 pés de altura..; obtemos então. como
um exempJu do primeiro axioma, a declaração 'Se ou o Monte
Rajnier tem 20.000 pés de altura, ou o Monte Rainier tem 20.<XX>
pés de altura, então o Monte Rainier tem 20.000 pés de aJtura '.
O leitor não terá dificuJdades em reconhecer como verdadeiro
csle longo enunciado. mesmo se acontecesse dele não saber
se o enunciado constituinte ·o Monte Rainier tem 20.000 pés
~e altura· é verdadeiro. Obviamente. então, o primeiro axioma
e ~~a tautologia - "'verdadeira em todos os mundos possí-
veis ~ode ser facilmente demonstrado que cada um dos ou-
uos axiomas é também uma tautologia.
Segue-~ q~ue é possível provar que a propriedade de ser
;;a tau_tologia e hereditária de acordo com as Regras de Trans-
rmaç ao. embora não possamos no d .
monstração (~ A ... . s csv1ar para dar a de-
er pcnd1cc, n 3) s
devidamente den· \'ad d : · egue-se que toda fórmula
ser uma tautologia.
a os axiomas ( ·
,.e., todo teorema) deve
Mostrou-se que a pro . d
duas das três cond1· - pne ade de ser tautológica satisfaz
çoes antes menc· d
tos para o terceiro pa D tona as, e estamos pron-
sso. evemos p
penença ao sistema ( . . rocurar uma fórmula que
· ,.e .. seJa construíd •
c1onados no vocabulário a com os signos men-
ção), e todav1·a p - , de acordo com as Regras de Forma-
ar nao poss · .
tautologia não pod uir a propnedadc de ser uma
da dos axiomas) Nã
e ser um. teorcm ('·e,,
ª · não pode ser deriva-
sentar semclhan~e ri pr~1samos procurar muito; é fácil apre-
rmu a. Por exemplo, 'p v q. se ajusta às
51
. . u...-...de ser um gansinho e~ na realidade um pa-
ex1g~nctas. n~-• I ... "'
tinho; nio pertence à família~~ umaf6mr~ a, mas nao C' um
tmffftftJ. EVidentemcnte não i wna tautologia. Qualquer
• ed,
cxem-
Iode substituição (ou interpretação) mostra-o 1m 1atamcn-
p .,l. • t l l
te. Podemos fazê-lo substituindo as van.veas P v q pe o enun-
ciado •Napoleão morreu de cáncer ou Bismarck apreciou uma
xícara de café'. Isto não ~ uma verdade lógica. porque seria
falsa se as duas cláusulas que aí oco1Tem fossem falsas; e.
ainda que fosse um enunciado verdadeiro, não é verdadeiro
independentemente da verdade ou falsidade de seus enuncia-
dos constituintes. (Ver Apêndice n. 3.)
Atingimos a nossa meta. Achamos pelo menos uma fór-
mula que não é um teorema. Uma tal fórmula não poderia
ocorrer se os axiomas fossem contraditórios. Por conseguin-
te, não é possível derivar dos axiomas do cálculo sentencia]
tanto a fórmula quanto a sua negação. Em suma, apresenta-
mos uma prova abso]uta da consistência do sistema'.
Antes de abandonarmos o cálculo sentencialt devemos
menção a um último ponto. Como todo teorema deste cálculo
i uma tautologi~ urna verdade da lógica, é natural perguntar
se, inversamente, toda verdade lógica exprimível no vocabu-
lário do cilculo (i.e., toda tautologia) é também um teorema
(i.e .• derivável dos axiomas). A resposta é sim, embora a pro-
va seja demasiado longa para ~er aqui estabelecida. A ques-
tão que nos preocupa resolver, entretanto, não depende de
familiaridade com a prova. O problema é que, à luz desta cone
clusâo, os axiomas são suficientes para gerar todas as fórmu-
las tautológicas - todM as verdades Jógicas exprimíveis no
sistema. Tais fórmulas são ditas "completas...
53
6. A IDÉIA DEMAPE~O
E o SEU USO NA MATEMATICA
57
importa quais siO os termos não definidos ou ~'primitivos'"~
podemos supor. por exemplo, que entendemo~, o ~ue ~ p~e-
tcndc di7.er com "um inteiro é divisível por outro , e wn mtelJ'O
i o produto de dois inteiros.., e assim por diante. A ~roprie-
dade de ser um número primo pode então ser defimda por:
"nlo divisível por qualquer outro inteiro senão o 1 e ele pró-
prio"; a propriedade de ser um quadrado perfeito pode ser
definida por: ··ser o produto de algum inteiro por ele próprio";
e assim por diante.
Podemos ver prontamente que cada uma destas defini-
ções contém apenas um número finito de palavras e. portanto.
apenas um número finito de letras do alfabeto. Sendo este o
caso, as definições podem ser colocadas em ordem seriada:
uma definição precederá outra se o número de letras da pri-
meira for menor do que o número de letras da segunda; e. se
duas definições possuírem o mesmo número de letras, uma
delas precederá a outra com base na ordem alfabética das le-
tras em cada uma das definições. Com base nesta ordem. um
único inteiro cOrTcsponderi a cada definição e representará o
número do lugar que a definição ocupa na série. Por exemplo,
a definição com o menor número de letras corresponderá ao
número 1. a próxima definição na série corresponderá ao 2, e
assim por diante.
Como cada definição está associada com um único intei•
ro. pode acontecer em certos casos que um inteiro possuirá a
propriedade genuína designada pela definição à qual o inteiro
está rclacionado 2• Suponha. por exemplo, que a expressão
definidora '"não-divisível por qualquer outro inleiro senão 1 e
ele próprio... estivesse relacionada ao número de ordem J7;
obviamente o próprio 17 possui a propriedade designada pela
expressão. Por outro lado, suponha que a expressão definidora
- ºser o produto de algum inteiro por si próprio" - estivesse
re~aciona~ ao número de ordem 15; ~ claro que 15 não pos-
sui a propnedade designada pela expressão. Descreveremos
2· Este t O
mesmo tipo de coisa que aconteceria se a palavra inglesa
short [curto.] •~sse DWh& Wta de palavras e cuacterizanamos cada
~!:~ ~~losta pelo ~o short ou long (comprido). A palavra short teril
'"'-" o '"'u shorr ligado I ela.
58
· ação do segundo exemplo, afirmando que o número 15
a~U 1 ..
possui a propriedade ser richardianos e, no pn_me1ro cxem•
dizendo que o número 17 não tem a propnedade de ser
P1o, . J d r· . ~ H
· hardiano. De um modo mais gera , e 1n1mos x e
rlC . ,- J u u -
richardiano, com o modo abreviado de 1ormu ar x nao pos-
sui a propriedade desígnada pel_a expres~ão definidora com a
qual x está relacionado no conJunto senadamente ordenado
de definições... .
Chegamos agora a um giro curioso mas caracterísuco no
enunciado do Paradoxo de Richard. A expressão definidora
da propriedade de ser richardiano descreve ostensivamente
uma propriedade numérica dos inteiros. A própria expressão
pertence, portanto, às séries de definições acima propostas.
Segue-se que a expressão está relacionada com um inteiro
fixador de posi(jãO ou número. Suponha ser n este número.
Colocamos agora a questão que lembra a antinomia de Russell:
É n richardiano? O leitor pode sem dúvida antecipar a contra•
dição fatal que agora ameaça. Pois n é ríchardiano se, e so-
mente se, 11 não possuir a propriedade designada pela
expressão definidora à qual n se relacionaciona (i.e .• não tem a
propriedade de ser richardiano). Em resumo, n é richardiano
se, e somente se, n for não-richardiano; Jogo o enunciado •n é
richardiano · é tanto verdadeiro como falso.
Devemos assinalar agora que a contradição é, em certo
sentido, um embuste produzido por não se jogar a partida de
modo inteiramente honesto. Uma hipótese essencial mas táci-
ta subjacente à ordenação seriada de definições foi devida-
mente abandonada ao longo do caminho. Anuiu-se em consi-
derar as definições das propriedades puramente aritméticas
d . .
~s Inteiros - propriedades que podem ser fonnuladas com a
ªJuda de noções tais como a adição, multiplicação, aritméti•
case coisas semelhantes. Mas então sem adven~ncia fomos
solicitados a aceitar uma definição ~as s~rics que env~Jve re-
fe~nci~ à notação utilizada na formulação de propriedades
intrnét1cas. De modo mais específico, a definição da proprie-
dade de ser richardiano, não pertence às séries a que foi inicial-
mente destinada.. porque tal definição implica noções meta-
matcntáticas tais como o número de letras {ou signos) que
OCone nas expressões. Podemos ladear o Paradoxo de Richard,
59
distinguindo cuidadosamente entre enunciados dentro da arit-
~tica (que não fazem referência a qualquer sistema de nota-
ção) e enunciados acerca de alguns sistemas de notação em
que a aritmética é codificada.
O raciocínio na construção do Paradoxo de Richard 6
claramente falacioso. A construção. não obstante. sugere que
talvez seja possível ºmapear.. ou "espelhar" enunciados
metarnatemãticos sobre um sistema fonnal suficientemente
compreensivo no próprio sistema. A idéia de ..mapear" é bem
conhecida e desempenha papel fundamental em muitos ra-
mos da matemática. É utilizada, naturalmente, na construção
de mapas comuns onde formas situadas sobre a superficie de
uma esfera são projetadas sobre um plano, de modo que as
relações entre~ figuras planas espelham as relações entre as
figuras situadas sobre a superfície esférica. É usada em geo-
metria com coordenadas. que traduz geometria em álgebra,
de forma que relações geométricas são mapeadas por outras,
algébricas. (O leitor há de lembrar a discussão no Cap. II.
que explica como Hilbert empregou a álgebra para estabele-
cer a consistência de seus axiomas da geometria. O que Hilbert
fez. com efeito, foi mapear a geometria sobre a álgebra.) O
mapeamento também desempenha um pape) na física mate-
mática onde. por exemplo. relações entre propriedades de
correntes elétricas são representadas na linguagem da
hidrodinâmica. Também ocorre mapeamento quando se cons-
trói um protótipo antes de lidar com uma máquina cm iama•
nho normal, quando uma pequena superfície de asa é obser·
vada em suas propriedades aerodinâmicas num túnel de ven·
to. ou quando um equipamento de laboratório composto de
circuitos elttricos é aplicado ao estudo das relações enue
grandes massas em movimento. Um notório exemplo visual
aparece na Fig. 3. que. ilustra uma espécie de mapeamento
que ocorre no ramo da matcm~tica, conhecido como geome-
tria projetiva.
A feição básica do mapeamento é que se pode provar que
u~a estrutura abstrata de relações incorporadas em um domí·
ruo de "objetos" também vale entre "objetos" (em geral de
u~ cs~ie diferente do primeiro conjunto) de outr~ dornf~
n,o. Foa este aspecto que estimulou Gõdel a constrULI a su
fin
1
(a)
-~-- • --~~--,
e
....
li
UI
I'
Fig. 3
62
7. APROVADEGÕDEL
A. A Numeração de Godel
61
que constitui O vocabulirio fundamental. Um conjunto de fór-
mulas primitivas (ou axiomas) constitui o suporte cos teoremas
do ctlculo são fórmulas deriváveis dos axiomas por meio de
um conjunto cuidadosamente enumerado de Regras de Trans-
formação (ou regras de inferência).
Gõdel mostrou primeiro que é possível atribuir um úni-
co número a cada signo elementar, a cada fórmula (ou se-
qüência de signos) e a cada prova (ou seqüência finita de
fórmulas). Este número. que serve de rótulo ou índice distin-
tivo denomina-se ..número de Gõdel" do signo, fórmula ou
provai.
Os signos elementares pertencentes ao vocabulário fun-
damental são de duas espécies: os signos constantes e as va-
riáveis. Admitiremos que há exatamente 1O signos constan-
tes3, aos quais são atribuídos os inteiros de l a l O como
números de Gõdcl. A maioria destes signos já são do conhe-
cimento do leitor ·-· (abreviatura de "não')~ 'v' (abreviatura
de ·ou');·::,• (abreviatura de 'se ...então .. .'),·=• (abreviatura
para 'é igual')~ ·o· (o numeral para o número zero); e três
signos de pontuação, ou seja. o parêntese aberto '(' e opa-
rêntese fechado ·)',e a vírgula ·,'. Em acréscimo. dois outros
signos serão usados: a letra invertida "3', a qual pode ser lida
como 'existe' ('há') e que ocorre em 'quantificadores exis-
tenciais'; e a caixa-baixa 's'. que está ligada a expressões
numéricas para designar o sucessor imediato de um número.
Para ilustrar o caso: a fórmula '(3x) (.x = sO)' pode ser lida
..Existe um x tal que .t é o sucessor imediato de o•·. A tabela
abaixo exibe os JO signos constantes, estabelece o número
de Gõdcl associado a cada um deles e indica os significados
usuais dos signos.
TABELA 3
Variávtl
N1ímero de Exemplo de Uma
N~mlrica
Godel Pos.sivel Substiluição
~
11 o
)'
IJ sO
z y
17
A Variá.veis numéricas estão associadas a números primos maio-
res do que 10.
65
fvú,Mrod~ E.:c~mplo d~ Uma
\ári.6wl
Gii,del Pouív~I SubJtituiçdo
~nt~ncial
IP 0=0
p
1Jl (3x) (x = sy)
q
r 1T- p-=>q
(3x) x= s y )
(
J. J. J, J. J. J, J. j, J. J.
8 4 11 9 8 JJ 5 7 13 9
67
. •m..;-. números primos em ordem de gran-
produto dos do,spn ~ u - .
....... __ {' ·mos 2 e l), sendo cada pnmo elevado a uma
uÇ,UI I.(!.,. os pn ul d
potência igual ao número de Qõdet da fónn a correspon ente
na sc:qüênci~ Se chanWm~ este número k, poderemos escre-
ver 1: ::; 2• x 3• Aplicando este procedimento compacto, pode-
mos consquir um número para cada scq~ncia ~fórmulas.Em
s ~ a cada expressão no sistema. seJa um signo elcmcnlar,
wna seqüência de signos ou uma sequência de seqüências,
podemos atribuir um único número de Gôdcl.
O que se fez alé agora foi estabelecer um método para a
completa "aritmctiuçã4f' do cálculo formal. O método é es-
sencialmente um conjunto de diretrizes para erigir correspon-
dências um a um entre as expressões no cálculo e um certo
subconjunto dos inteiros6 • Dada uma expressão. pode-se cal-
cular o número de Gõdel que corresponde unicamente a ela.
Mas isto só é a metade da história. Dado um número, pode-
mos determinar se é um número de Gõdel e, se o for, a expres-
são que representa pode ser exatamente analisada ou "recu-
perada'~. Se um dado número é menor ou igual a 10, ele é o
número de Godc:I de um signo constante elementar. O signo é
identificável. Se o número for maior do que l O, pode-se
decompô-lo cm seus fatores primos de uma só maneira (como
sabemos a partir de um famoso teorema da aritmética) 7 . Se
for um primo maior do que l O ou a segunda ou a terceira
potência de um taJ primo, ele é o número de Godcl de uma
68
variãvel identificável. Se for o produto de primos sucessivos.
cada qual elevado a uma certa potencia~ pode ser o nú.mero de
Gõdel quer de uma fórmula, quer de uma seqüência de fór-
mulas. Neste caso. pode-se determinar exatamente a ex.pres-
são à qual corresponde. Seguindo este programa. podemos
pôr de lado qualquer número dado. como se fosse uma mã-
quina. descobrir como é construído, e o que entra nele~ e como
cada um de seus elementos corresponde a um elemento d.a
expressão que representa~ podemos reconsütuir a expressão,
analisar a sua estrutura e coisa similar. A tabcla4 cxcmphfic~
para um dado número, como podemos certificar-nos se é um
número de Gõdel e, neste casoy que e:itpressão simboliza.
TABELA 4
A 243 .000.000
B 64 x 243 x IS.625
e 2' x 3' x 56
6 J 6
D J, J. J,
o-o
E 0=0
243 000A fórmula
Lc aritmética "O = O" lem O seguinte número de Gõdcl
o nllme~ 000
é . nd~ de A até E de cima para baixo, o exemplo mmtra como
cima de E '?duzido na expressão que representa. Lendo de baixo para
. ate A. vemos como da fórmula dcri vamos o número.
B. A Aritmetização de Metamatemáticas
8- O leitor deve ler claramente em mente que embora 'Dcm (.t, z)'
rcrese~ic o enunciado metamatcrmtico. a própria fórmula pertence ao cáJ-
O
cu lril~tico. A fórmula poderia ser escrita cm noraçlo mais habituaJ
C:º 1'_(x. l) =o•. onde a letra 1' denota um conjunto comple:llO de opera-
~ ~trnlticas sobre números. Mas esta notaçlo mais habitual nlo sugere
•mediatamente a intcrpn:taçio me&amatcm!tica da fórmula.
71
Gõdel x 1140 é uma prova para a fónnuJa com o número de Gôdel
z•.~representado por uma fórmula definida no sistema aritm~ti-
co formalizado. Esta fórmula to contraditório fonnal de 'Dcm (x,
zr. ou seja.·- 0cm (x, ~)·.
É necessário um pouco mais de notação especial para
estabelecer o ponto crucial do argumento de GõdcJ. Comece-
mos por um cJ1.emplo. A fórmula "(3.t-) (x = sy)' tem como núme.
ro de Gõdel m (v. pp. 66. 67). enquanto a variável 'y • tem o
número de Gõdcl 13. Substituamos nesta fórmula a variável
(i.~., 'y' ). com o número de Gõdcl 13y pelo numeral correspon-
dente a m. O rcsolwio é a fônnuJa '(3x) (x = sm)', que diz
JiteTalmcntc que há um número x tal que x é o sucessor imedia-
to de m. Esta última fórmula 1cm um número de Gõdel, que
pode ser calculado com muita facilidade. Mas em vez de
efetuar o cákulo, podemos identificar o número por uma
caracterização metamatemática inambígua: trata•se do nú-
mero de Gõdel da fórmula obtida a partir da fórmula com o
número de Gõdel m, substituindo-se a variável com o númeral
de Gõdcl J3 pelo numeral correspondente a m. Esta caracteri•
zação metamatemática somente determina um número defini-
do que é uma certa função aritmética dos números m e 13,
onde a própria função pode ser expressa dentro do sistema
formalizado 9• Pode-se portanto designar o número demro do
cálculo. Escrever-se-á esta designação como ·sub (m. 13. m)\
73
e. O Ceme do Argumento de Gõdtl
a seguir as linhas do
Finalmente, estamos equipados par
aremos �r enumerar
argumento principal de Gõdel. Com�
o leitor possa ter
de um modo geral os passos. de maneira que
uma vista da seqüência.
Gõdel mostrou (i) como construir uma fórmula aritmética
G que represente o enunciado metamamático: "A fórmula G
não� demonstrtvel". Esta fórmula G afirma assim ostensiva
mente por si própria que não� demonstrável. Até certo pon
to� G é construído de modo an4logo ao Paradoxo de Richard.
No Paradoxo a expressão '�richardiano" está associada a um
certo número n, construindo-se assim a sentença "n é
ricbardianon . No argumento de Gõdel, a fórmula G está tam
�m associada a um certo número h, e é construída de tal
maneira que corresponda ao enunciado: "A fórmula com o
número �sociado h é não-demonstrávcr,. Mas (ii) Gõdel tam
bém mostrou que G é demonstrável se, e somente se, sua
negação formal - G for demonstrável. Este passo na argu
mentação é mais uma vez anáJogo a um passo no Paradoxo
de Richard, no qual se provou que n é richardiano se. e so
mente se n não for richardiano. Entretanto, se a fórmula e a
sua própria negação forem ambu fonnaJmente demonstráveis,
o cálculo; aritmético não será consistente. Conseqüentemen-
zs
que a oonsis~ncia da aritmética não pode ser estabelecida
por um argumento c:ap,z de ser representado no cálculo arit-
mético formal
um naénwro (�ej
nota cxplanAlória 1 O). O númcrn assim
,dcntilicado .. contudo, é o n6
m�ro de Gtkk\ de uma fórmula - da fórmu
la obtida da fórmula e
numero de l"iõdcl �'. substituinJo I vWv
cl ·\�' ptlo numeral cona
dtntr I y.
12. Este enundado l)lldc ser ainda mais ampliado para ser lido.
fórmula \cujo n\lmcro de G�I � o olUnffll da fórm1l11) oNlda da fdrm
com nllmcm dt Gõdcl )•, substituindo-" a �wl t.9\lm n\lmem •
13 pelo aume11l Clflapondealf I v_ t n1o-«muuaivtl 1 1•
demoaslrbc:1"' , a uprcsslo · swb (y, 13, y)' não aparecer entre aspas.
embora livcsse sido rq,etidamnue afirmado no texto que 'sub (y. 13, y)'
cn uim. fX,,rtSJÕl) . O ponto envolvido depende mais uma vez da dislin-
çlo eatrc usar uma u.p.-esslo pan falar acerca do que expressão designa
(no caso cm que • Cllprcs.slo não é colocada cn1re a..,;pas) e falar acerca
da própria exprcsslo (em cujo caso devemos uur um nome para a
upress1u e. de conformidade com a con\'cnção para construir tais
~mes; deve-se colocar a cxinssio entre aspas). Um exemplo ajudar,.
7 + s. i uma tx~sslo que designa um número~ de outro lado, 7 + S ~
;m iuamero, e n~o uma cxpresslo. Similarmente, 'sub (243.000.000.
3• 243 -000.000) ~ llffll cxpresdo que dcsigu o número de Gõdcl de
™ ~ula {veja Tabela ..)~ mu sub (243.000.000, 13, 243.000.000) t
0 11
de ~ l de wna fórmula. e nlo f uma expressão.
78
clha-se ao desenvolvimento do Paradoxo de Richar~ mas
m . , . ~ . 11
está isenta de seu rac1ocm10 1a1acsoso . 0 argumento é relati-
vamente desobstruído. Procede mostr~~ que se a fórmula G
fi se demonstrável, então seu contrad1tóno formal (ou seja. a
f~rmula •- (x)- Dem (x, sub (n, 13, n))") poderia também ser
demonstrável; e~ inversamente. que se o contraditório formal
de G fosse demonstrável, então o próprio G também seria
demonstrável. Assim temos: G é demonstrável se, e somente
se,_ G for demonstrável". Mas como notamos antes, se uma
fórmula e sua negação formal podem ser ambas derivadas de
um conjunto de axiomas, os axiomas não são consistentes.
Donde. se os axiomas do sistema formalizado da aritmética
forem consistentes, nem a fórmula G, nem sua negação serão
demonstráveis. Em suma. se os axiomas são consistentes G é
formalmente indecidível - no sentido técnico preciso de que
79
traditório podem ser formalmente dedu-
nem G. nem o seu con
z i ~ : ~ = ~ pode pam:er. à primeira vista. de capital
• _._...,nr· o que hã de tão notável • pode-se perguntar, no
lfflt"I' - - · · &1:.-uta
. .-ra~r ' ética
ser construída dentro da .antm .
f;ato de uma 1U1 ,.. ~ •
que é indecidível~ Há uma surpresa reservada que tlumma as
profu~ implicações desteresultad~. Pois, embora a ~órmula
G seja indecidível, se os axiomas do sistema forem cons1stcn1es,
pode-se mostrar. não obstante, por um raciocínio metamatemá-
rico q1JC O é \Jerdadeiro. Isto é, p;xte-se mostrar que G formula
uma propriedade: numérica complexa, mas definida que vale ne-
cessariamente para todos os inteiros - cxalalnente como a fór-
mula '(x)-(x + 3 =2)' (que, quando interpretada da maneira usual,
diz que nenhum nwnero cardinal, quando adicionado a 3, produz
uma soma igual a 2) expressa uma outra propriedade igualmente
necessária (embora muito mais simples) de todos os inteiros. O
raciocúúoque valida a veracidade da indecidibilidade fónnula G é
direto. Primeiro. admitindo-se que a aritmética é consistente, o
enunciado meta.matemático '"A fórmula •(x) - Dem (x, sub (n 13,
n))' não é dcmomttável" foi p-ovada como verdadeira. Segundo,
este enunciado é representado dentro da aritmética pela própria
Di li: infinito. de fónnuw •- P(O)" •• _ P{I )' , ._ P( 2). ete . . . (.l.~ .• •'()
CODJunto
0 . m I propnedadt P", .. , nio tem a propriedade P" "2 não tem a
propnedadc P''. e assim por .1=--1c)
ll&illl •
um pouco de rcflexào' mostra que se
um
. dlcuJo ~ 1acoosistentc cn•~
~o 11: tamocm
.1. L.1.
w - inconsistcnle· mas o
lft\'CnO ÜO Yut DCets . . · •
_ . ururnen&c. um Sllilem, pode ser w - ioconsisrcn-
te Sem Kr IDCOOSISlcntc p ' - . .
'( ~-) P( )' - OJS um SISICni, para ser I DCODSIStentc, tanlo
da x como
•;;i.w . '(x) - P( 1 )' d cvcm ser demonuri \'eis Entretanto.
IJD q~ um SISICRY SCji w - ia '
da.1 fónnulu do . . ~ 151COte, tanto (3x) P(x)' e cada uma
P(l)" COGJunto_anfüulo de fórmulas·- P(O)', ·-p(I)', ,_
• etc .• do danobs~veu I fórm 1 ,
nlo ser demoD1tnvcl. de ~ u a. (x) - P(.x)' pode, não obstante.
1:.1.......~--- a pn' . que O sistema n.lo é inconsistente.
~ mc1ra Pll1C do
demoaslrá\'el. eDllo _ G i delJlOBs ugumcnro de Gôdcl de que se G for
dernomtrávrl. De~~ bav- _ trtvcl. Sllponham que a fórmula G fosse
. " 1 Cnlic Uffla 'tf'nH- ' ...1.
an~ca que constitua wna -.,1K~c1a de íónnulas dcnuo u.
proq k.. Coascqüeo1erneu1e prova pua G. SeJa o 11wncro de Gõdcl desta
z)' deve valer eatrc k .~,:~elaçio arilmttica designada por •Dem (..r.
• ' O n11D1Cro d Gõd
llúmcm dt Oõdcl de o O que . . e el d.t prova., e sub(n, 13,n), o
deve ,cr mna íórmula ·lriunl=~ca ~ qu.c '0cm (.t, sub (n, 13, n))'
~ cita rel&çio arir-~:
~cai.ctewnadadc1n. 1 ·
Eotretuto .....,.,._se provar
,.,_..
80 ta lipo que, se valer entre um par
f6rmula mencionada no enunciado. Terceiro., lembramos que enun•
iados rnetamatemáticos foram mapeados sobre o formalismo
~itmético de tal maneira que verdadeiros enunciados meta-
matemáticos correspondem a verdadeiras fórmulas aritméticas.
(Na verdade. o estabelecimento de uma ta] correspondência é a
,aison d'être do mapeamento; como, por exemplo, na geome-
tria analítica onde, em virtude deste processo, verdadeiros enun-
ciados geométricos correspondem sempre a verdadeiros enun-
ciados algébricos). Segue-se que a fórmula G, que corresponde
a um verdadeiro enunciado mctamatemático, deve ser verda-
deira. Cumpre notar, entretanto, que estabelecemos uma verda-
de aritmética, não por dedução fonnal a partir dos axiomas da
aritmética, mas por um argumento metamatemático.
(iv) Lembramos agora o Jeitor da noção de ºcompletude"
introduzida na discussão do cálculo sentenciai. Foi explicado
que os axiomas de um sistema de.dutivo são ...completos" se
cada enunciado verdadeiro que pode ser expresso no sistema
formalmente dedutível dos axiomas. Se não for este o caso f isto
I
definido de n -
Cons ·· umeros, a fórmula q
de· equentcrnentc:, a f6rmula ·o uc cÃpressa esse fato é demonstrável
M':c· mas formalmente dcmonstrca~ <,*•. sub (11, 13. ,a))" não só é vcrda~
0 m a ajud vc ; isto é a íó
demos der· . a das Regras de Transi ' rmuJa é um /eorema.
sub (n I J1var •mediatamente desrc l ormação cm lógica elementar po-
. • , ,i))' Mos eorcma a fórmuJa ' ( )
lrã\ltl &ua · tnunos, portanto - x - Dcm (.t',
u::
fonnat f negação formal sera d
Para P
. que se a fórmula G for dcmons-
consislcmc. a formul:~o:slrávcl . Segue-se que se o sistema
rgumento algo anál nlo demonslrável.
tr~vc1.";;:~ que se - G for dc~~~~=rfm mais compljc.ido ~ necessário
1cotaremos dei·ine á-lo. vel. então O tam~m será demons-
8/
........ • ..ww,i. ampliado~ tal fórmula seria construlível
serconstt'Ulua nc>$IS1,1,1•- 'l' d
_1 . -.-tição ro novo sistema do processo ull 1za o
.,_a s1mp1e.s •~ .
originalmente para especificar uma f~nnula verdadeira, ~as
.ndecidívcl 00 sistema inicial. Esta notável conclusão mantem-
~ não importa quão freqüentemente o sistema inicial _sej_a a~-
pliado. Sentim<rnos ~sim obrigados a reconhecer a hm1taçao
fundamental no poder do método axiomático Contra assunções
prfvías. o vuto continente da verdade ariun~tica não pode ser
levado a uma ordem sistemática. renunciando-se de uma vez
por todas a um conjunto de axiomas do qual todo enunciado
aritmético verdadeiro pode ser fonnalmcnte derivado.
(v) Chegamos à coda da maravilhosa sinfonia intelectual
de Gõdcl. Foram traçados os passos pelos quais ele fundamen-
tou o enunciado mctamalemM.ico: ··Se a aritmética é consistente,
ela f incompleta". M.as t1mbém se pode provar que este enun-
ciado condicional tomado como wn todo é representado por uma
fórmula demonstrável dentro da aritmética formali:zada.
Esta fórmula crucial podesa facilmente construída. Como
explicamos no Cap. V, o enunciado metamatemático ..A arít-
m~lka ~ consistente" é equivalente ao enunciado "Existe ao
menos uma fónnulada aritmética que não é demonstrável'". A
úllima é representada no cilculo fonnal pela seguinte f6nnu-
la, que chamaremos de 'A':
(A) (3x) (x) - Dem (x, y)
Em palavras, ela significa: 'Existe ao menos um número y tal
que, para cada número x • .t não se acha na relação Dem para
co~ y' ._lnterpretada metamatematicamentc a fórmula asseve-
ra:nhExiSle ªº menos uma fónnula de aritmética para a qual
nc uma seq üênc,a - d e fónnulas constitui uma prova•. A fór·
~adula A, portanto, rcprcscn1a a cláusula antecedente do enun-
c1 o mctamatcm,tico· ·s . .
incompleta' De · e ª antm~bca é consistente. ela é
ciado _ isto·~••:i:tro~ado, ~ cláus~la consequente deste enun·
mente de •Existe ( tm~!•ca) é ~ncomplcta' - segue direta-
é formalmente d wn cmmcaado antmético verdadeiro que não
. emonstrivcl na arilméti , ,l .
1eitor reconhecerá. ~ ca ; e a u uma, corno o
um velho amigo àfó rcp~csentada no cálculo aritmético por
do condicional~ tamnnu ªª:Conseqüentemente, o cnuncia-
tc. ela t incomplc~" /temático ºSe a aritmética é consisten..
representado pela fónnula~
82
(3y) (x)- Dem (x,y)::) (x)- Dem (x. sub (n. 13, n))
qoe por razões de brevidade, pode ser simbolizada por~ A::,
G'. '(Esta fórmula pode ser provada que é formalmente
demonstráveJ. mas não empreenderemos esta tarefa nas pági-
nas deste livro).
Provaremos agora que a fórmula A é não-demonstrável.
Suponha que fosse. Então como A=:) G é demonstrável. usan-
do a Regra de Separação. a fórmula G seria demonstrável.
Mas, a não ser que o cálculo seja inconsistente. G é formal-
mente indecidível. isto é. não-demonstrável. Assim se a arit-
mética for consistente, a fórmula A é não-demonstrável.
O que isto significa? A fórmula A representa o enunciado
mctamatemátíco ..A aritmética é consistente". Se. contudo,
este enunciado pudesse ser estabelecido por qualquer argu-
mento que pudesse ser mapeado sobre uma seqüência de fór-
mulas que fosse uma prova no cálculo aritmético, a fórmula A
seria ela própria demonstrável. Mas isto, como acabamos de
ver. é impossível. se a aritmética é consistente. Está ante nós a
grande etapa final: devemos concluir que se a aritmética é
consistente. sua consistência não pode ser estabelecida por
qualquer raciocínio metamatemático que possa ser represen-
tado dentro do formalismo da aritmética!
E stc: imponente resultado da análise de Gõdel não deve ser
~al.co~pree~dido: não exclui a prova metamatemática da con-
s1stencia da annnéti E 1 . 1.
pod ca. xc ui s m uma prova de consistência que
e ser espelhada pelas deduções formais da aritmética is As
Provas rnetam atemattcas d
> •
- ... · •
15 . O 1cnor
· poder;,i enco tr .
que, sinularmentc a ~ ar a_iuda sobre este ponto no lembrete ""-
at1>·-..., • prova. da amp .b.li . ~
. , ...,10 com régua e com _oss~ 1. dadc de tnsseccionar um ãngulo
lriSscccionado ,_, p~so rrao s1gn1fica qut wn ângulo nlo pos
biri ......... outros meios q · sa ser
o pode ser trislieccion.a.do u.tasqucr. Pe]o contrário. um ângulo arbi-
nos for permitido empregar use. ~r exe_mplo. além de régua e compasso.
N\.... 16. A pro~a de Gc •---ma d1stlnc13 fiu. usiaa.Jada na régua.
~~ · - n~n depende de ·
O lll~tica cm orde r a.rn.oJar todas as dcmons11a.
•- lrranjo mostra •- m inea.r segundo o seu grau de ..simplici_._... _,.
ullnsfj · " u;;r U,n padr- ~ ~ .
nato . (A teoria d . ao que li de um certo tipo "ordina.J
os numeros ordinais transfinitos foi criada pelo
83
Estas provu sio de grande significação lógica~ entre outras ra-
mes porque propõem novas formas de construções metama-
liclmticas, e porque ajudam por este meio a esclarecer como a
classe de regras de infermcia precisa ser ampliada. se é que se
pretende estabelecer a consistência da aritmética. Mas tais pro-
~ niosãorq,rescnd.veisdentrodocálcuJo ari~co; e, como
nio sio de cmtcr finitista. não atingem os objetivos proclama.
dos pelo programa original de Hilbert.
-=:
ti Dlai':1"1 dos estudiosas lllo0rDiali~ di Ulbnttica. Além disso. embor.t
no kutido das tstipu=one·m· a cocrincia da prova. ela não t
de COIUisthcia. ongula.is de Hilbert para uma prova
8. REFLEXÕESFINAIS
1
. · A possibilidade de construir uma prova absoluta finit.úia de
coru1s1encia para •,-..1. .
Gõd a lfluaK;uca não fica e~c]uída pelos resultados de Gõdcl.
I
rep: dcmonst rou que não é possível qualquer prova desta ordem
dadc :nlâvcl dcnu:c, da aritmética. Seu argumento nlo elimina a possibili-
0
tro da P.' "~ CSlrílarnente finitárias que não possam ser represenradas dcn-
SCria ut~hca. Mas ningu~m puece ter hoje uma idéia clara de como
lritm:u~ prova linilaria que nlo fosse passível de formulação dentro da
ca.
85
. umconiWttocerradodc regras de inferência.
_.-,,a.·
axlOfflas rm:utante 'J • d . d
L--...&•gcm axiomática a teona os nume-
#
88
AP~NDICES
Notas
p da •nduçio matemática".
89
J. (p. 41). o leitor talvez esteja interessado e~ ter um
apanhado mais completo do que o ~exto ~roporc1ona dos
teoremas lógicos e rcgrílS de inferência. ta~1ramcnte empre.
gados mesmo em demonstrações matemáticas elementares.
Analisaremos primeiro o raciocínio que produz a linha 6 na
prova de Euclides. a partir das linhas 3, 4 e 5.
Designamos as letras •p', •q' e ',· como "variáveis
sentenciais'', porque é ~ível substituí-Jas por sentenças. Tam-
bém, para e.conomiz.ar espaço, escrevemos enunciados condi-
cionais da forma 'se p então q' como 'p :::::> q ·; e denominamos a
cqns.ção à esquerda do signo em ferradura '::>·, ..ante.cedente" e a
cqns.ção à direita ··consequente". SimiJannente, escreveremos p
v q· como amcvian.aa para a forma alternativa 'oup ou q'.
Há um teorema em lógica elementar que reza:
(p ::> r) ::> l(q ::> r) :> ((p v q) ::) r)]
Se (se P então r), então (se (se q então r) então (se (ou p ou q}
então r)]
Como assinalamos no texto, há uma regra de inferência
na lógica denominada Regra de Substituição Para Variáveis
Senten~iais. De acordo com esta Regra,. uma sentença S2 se-
gue log!c~mente d~ u~a Sentença S I que contém variáveis
sentc~c•_a1_s, se ~ primeira for obtida a partir da segunda pela
substrt~Jçao uniforme das variáveis por quaisquer sentenças
Se a~hc_anno~ ~sta regra ao teorema há pouco mencionado
subshtuando p por 'y ~ primo' • • , "' .. , •
• ... x é . , q por y e composto e r
por x,'40 oma1orpn·mo' b
, o temos o seguinte:
(y ~primo::> x não f o maior primo)
( :::::> ~(y é composto ::J ..t não é o maior primo)
::> (y é pnmo v Y f composto)::> x não é o maior primo)]
O leitor notará imcd · . • 1
dentro d0 . . iatamenre que a sentença cond1c1ona
linhadcstePnmc,ro par de par~ nteses (ela aparece na prime1r
· ·a
exemplo do teorema) simplesmente duplica a linha
90
3 da prova de Euclides. Do mesmo modo, a sentença condi-
cional dentro do primeiro par de par~nteses dentro dos col-
chetes (ela aparece como a segunda Jmha deste exemplo do
teorema) duplica a Jinha 4 da prova. Também, a sentença alter-
nativa dentro do colchete duplica a linha 5 da prova.
faremos agora o uso de outra regra de inferência conhe-
cida como a Regra do Destacamento (ou Modus Pone11s). Esta
regra permite-nos inferir uma sentença S2 de outras duas sen-
tenças, uma das quajs é S 1 e a outra. S 1 ::)S1 . Aplicamos esta
regra crês vezes: primeiro, usando a linha 3 da prova de
Euclides e o exemplo acima do teorema lógico; depois, ore-
sultado obtido por esta aplicação e a linha 4 da prova; e final-
mente. o úlrimo resultado da aplicação e a linha 5 da prova. O
resultado é a finha 6 da prova.
A derivação da linha 6 a partir das linhas 3, 4 e 5 envolve
assim o uso tácito de duas regras de inferência e um teorema
de lógica. O teorema e regras penencem a parte elementar da
teoria lógica. o cálculo sentenciai. Ele lida com as relações
lógicas entre enunciados compostos de outros enunciados com
a ajuda de conectivos sentenciais. dos quais '::J' e •v· consti-
.
tuem exemplos. Outros conectivos deste tipo são a conjunção
,
e • para q uai o ponto ·. · é usado como abreviatura; assim
c?mo o enunciado conectivo 'p e q' é escrito como ·p. q' . O
~igno _"- ' repre~enta a partícula negativa ..não": assim 'não-p'
e escnto como •- p•.
Examinemos a transição na prova de EucJides da Iinha 6
P~ra a linha 7. Este passo não pode ser analisado só com a
~Juda do cálculo sentenciai. É necessária uma regra de
anferência
. . que pertença a uma parte mais avançada da teoria
1og1ca - ou s . l . .
. eJa. aque a que considera a complexidade dos
enunciado ·
•1 , s que incorporam expressões como •tudo'. 'cada',
ª gun, e seu s · ,., ·
dos de _s •nonimos. Estes são tradicionalmente chama-
o se qua,ttificadores e o ramo da teoria Jóaica que discute
u papel , . e
eª teoria da quantificação.
É ncces ,. · ·
setor m . sano explicar algo da notação empregada neste
Para an ª~s avançado da lógica, como um fato preliminar
1
variãv a. isar a tra ns1çao
. - .
em questão. Em adnamento a estas
eis scnt • .
vemos e . encaa, s. que podem substituir sentenças, dc-
onsiderar a categoria de .. variáveis individuais•• tais
91
• , ~ • •~· etc. que podem substituir os nomes dos
como x • Y , "' • · 1
indivídu~. Usando estas variávei~. o en~nc1ado um versa 1
(p•q) ;J(p=>q)
93
A moral de nossa história t. que a prova do teorema de
Euclides implica tacitamente o uso não só de te~remas e re-
gras de inferência pertencente.s ao cáJcul? sentencia~, mas!am-
bém de uma regra de inferência na reona da quant1ficaçao.
97
BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA
99
Wm., Hermann. Plailosophy o/ Marhemotics and Natural
Sc~nce, Princeton. 1949.
WD..DEJt R. L. /ll110dMction to the Foundalio,u o/Ma1h~matics,
New York, 1952.
I{}()
ALOSOFJA DA CIÊNCIA NA PERSPECTIVA