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BELÉM - PA
2019
ALEXANDRE PEREIRA SOUSA
BELÉM - PA
2019
253 f. : il. color; 30 cm
BELÉM – PA
2019
DEDICATÓRIA
Em primeiro lugar, dou Graças ao Deus, todo poderoso, que iluminou o meu
caminho e, mesmo com todas as dificuldades que se apresentaram nesse percurso, me deu
energia e me colocou diante de pessoas maravilhosas que me apoiaram até o final desta luta.
A Maria, Mãe de Jesus, a quem recorro em minhas orações para proteção e meu
fortalecimento espiritual.
A todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte desses anos de doutoramento e de
forma especial:
Ao meu orientador Prof. Dr. Renato Borges Guerra, por ter me foi revelado “outro
lado” do ensino da matemática, inspirando-me a construção deste trabalho.
A meu amigo Prof. Dr. Gleison de Jesus Marinho Sodré, pelas aulas e conversas sobre
a TAD e as dúvidas debatidas que me iluminaram por diversas vezes.
A meu amigo Prof. Dr. Denivaldo Pantoja da Silva, pelos nossos encontros na sala do
IEMCI, sempre prazerosos e regados de conversas que beiravam a Transposição
Didática e a TAD.
Ao Prof. Dr. José Messildo Viana Nunes, sempre à disposição, tirando minhas dúvidas
e elevando a qualidade deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Tadeu Oliver Gonçalves, que atendeu prontamente minha solicitação de
participação como membro da minha banca, exigindo, como é do seu perfil, um final
de trabalho mais firme e coeso.
A todos meus colegas da REAMEC, que fizeram dos quatro anos de Doutorado um
prazeroso encontro. Em especial, Lourimara, Jacirene, Adriano, Marcio, Regiana e
Marise.
À minha querida Katiana Carvalho da Silva, pelo carinho, sempre presente, ajudando a
ultrapassar as dificuldades que surgiram no percurso e acreditando no meu potencial
de professor e pesquisador,
A meus colegas de Departamento no IFMA – Campus Monte Castelo, em especial aos
professores Marcos Roberto, Paulo Sergio Aleixo, Fernanda Cristina, Uilbiran Chaves
e Emerson Castelo Branco.
A todos os alunos da Licenciatura em Matemática do IFMA – Campus Monte Castelo,
em especial àqueles que participaram da pesquisa, que contribuíram nas oficinas com
entusiasmo, tornando-as um momento lúdico.
Ao meu querido Francisco das Chagas Lopes Filho (Chicão), pelo socorro e torcida.
Ao meu querido Claudio Leão Torres, Diretor do IFMA - Campus Monte Castelo,
pela amizade e presteza.
À minha querida amiga Liliane Regina Santos Costas, por estar sempre disposta a
ultrapassar barreiras para ajudar um amigo.
À minha querida amiga Tereza Câmara, por estar permanentemente à disposição de
um amigo.
A nossa Técnica em Assuntos Estudantis, Danielle Costa Pinheiro, pela primeira
leitura e organização do primeiro capítulo.
À minha cunhada Rogéria Muniz, pela disponibilidade em escutar minhas inquietudes
sobre o meu trabalho, pelo apoio e incentivos.
À minha sogra Neusa Muniz, pela ajuda.
À minha querida amiga Maria da Conceição Muniz Lobato, por sempre acreditar no
meu potencial e incentivar-me.
A meus irmãos Júlio Cesar, Zé Pereira, Lídio, Ulisses, Marcelo e Neto.
A meu amigo Alexandre Damasceno e família, pelo apoio.
A meu amigo Guilherme, pelas dúvidas elucidadas.
A Renata, Claudia, Maísa e Raquel pela presença.
A Carla Marina, pela ajuda.
A todos o meu muito obrigado! A participação de vocês foi essencial, sem ela,
certamente, teria sido mais difícil a concretização deste trabalho.
IN MEMORIAM
Pretende-se com este trabalho colaborar para inserção do ensino de conteúdo das Geometrias
Não Euclidianas na formação do Professor de Matemática. Nesse contexto, realizou-se
pesquisa bibliográfica sobre a formação do professor e sobre a história da Geometria
Euclidiana, explorando os fatos em torno do Quinto Postulado do Livro I de Os Elementos de
Euclides, até o aparecimento das Geometrias Não Euclidianas, Hiperbólica e Elíptica, em seu
caso particular a Geometria Esférica. Em seguida, apresenta-se uma sequência de conteúdos
vinculados à Geometria Hiperbólica e a Geometria Esférica na qual abordam-se os principais
modelos hiperbólicos, em especial o modelo de Eugenio Beltrami, que confirma a
consistência desta Geometria, como também alguns dos principais tópicos da Geometria
Esférica elencados como estrutura básica na Formação do Professor de Matemática. Na
estrutura do texto, procurou-se mostrar que a teoria euclidiana tinha deficiência em relação ao
cálculo de grandes distâncias, além de não amparar o conhecimento revolucionário como a
Teoria da Relatividade. Tem-se como objetivo propor, na formação de professores, através da
Teoria Antropológica do Didático – TAD, uma sequência didática cujas atividades mostrem a
relação interdisciplinar existente entre as Geometrias Não Euclidianas, Hiperbólica e Esférica,
e a Geometria Euclidiana, bem como a necessidade de inclusão deste conhecimento na
formação do Professor de Matemática. Na Sequência Didática, as Praxeologias constituem-se
a construção de uma base que deve ser entendida como uma proposta através da qual a
Questão Norteadora e o Objetivo da Pesquisa permeiam a inserção desses conteúdos como
modelo atual de formação de professores de Matemática e de Educação Continuada. O
resultado da pesquisa foi estimulado pela realização de Oficinas de Práticas Matemáticas -
OPM, que demonstraram que a hipótese está confirmada.
This work aims to collaborate in the insertion of the teaching of Non-Euclidean Geometries in
the formation of the mathematics teacher. In this context, we carry out bibliographical
research on the teacher formation and on the Euclidean Geometry history, observing the facts
about the fifth postulate, until the appearance of Non-Euclidean, Hyperbolic and Elliptic
Geometries in their particular case of Spherical Geometry. Next, there is a sequence of
contents linked to Hyperbolic Geometry and Spherical Geometry where we approach the
main hyperbolic models, in particular Eugenio Beltrami's model that confirms the consistency
of this Geometry, as well as some of the main topics of Spherical Geometry that we list as the
basic structure in the Mathematics Teacher formation. In the text structure, we try to show
that the Euclidean theory was deficient in relation, for example, to the calculation of great
distances, but also does not support revolutionary knowledge as the theory of relativity. Our
goal is through the Didactics of Anthropological Theory – DAT to build a praxeology that
should be understood as a proposal, through which the Questioning Question and the research
objective, which permeate the insertion of these contents, related to Hyperbolic Geometry and
Spherical Geometry, as Current model of mathematics teacher formation. The result of the
research is stimulated through Mathematical Practice Workshops - MPW, which demonstrate
that our hypothesis is confirmed.
APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 22
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO .............................................................................. 25
1.1 Problematização e Objetivo da Pesquisa ................................................... 25
1.2 Mobilização e Intencionalidades da Pesquisa ............................................ 28
1.3 Da Problematização ao Objeto de Estudo à Luz da TAD ......................... 31
1.4 A construção da questão norteadora e objetivo da pesquisa .................... 37
1.4.1 Preâmbulo sobre o problema primordial ........................................................ 44
1.4.2 Gerar a problemática do problema à luz da teoria (TAD) .............................. 46
1.4.3 Objetivos do Trabalho .................................................................................... 47
CAPÍTULO 2: EPISTEMOLOGIA DA GEOMETRIA EUCLIDIANA E
DOS QUESTIONAMENTOS DO QUINTO POSTULADO ATÉ O
ADVENTO DAS GEOMETRIAS NÃO EUCLIDIANAS, HIPERBÓLICA E
ELÍPTICA (ESFÉRICA)......................................................................................... 48
2.1 Geometria euclidiana: aspectos históricos ...........................................;;..... 48
2.2 Euclides e a Geometria Euclidiana ............................................................ 52
2.3 O Quinto Postulado é um postulado ou uma proposição? ........................ 61
2.4 As Tentativas de Demonstração do Quinto Postulado .............................. 62
2.4.1 Tentativa de demonstração do quinto postulado segundo playfair ................. 66
2.4.2 Alguns registros de tentativas de demonstração do quinto postulado ............. 68
2.4.3 O quinto postulado no mundo árabe ............................................................... 72
2.4.4 O quinto postulado na Europa ........................................................................ 79
2.4.5 A nova geometria de Gauss, Lobachevski, Bolyai e Riemann ....................... 92
2.4.6 A geometria hiperbólica: alguns resultados apresentados aos alunos ............ 105
2.4.9 A Geometria Elíptica em seu caso particular: a Geometria Esférica ............. 120
2.4.9.1 Alguns Introdutórios da Geometria Esférica .................................................. 122
APRESENTAÇÃO
esta pesquisa, a qual tem por objetivo mostrar a necessidade de serem inseridos na proposta
curricular dos Cursos de Formação de Professor de Matemática conteúdos relativos à
Geometria Não Euclidiana, fundamentados pela Negação do Quinto Postulado do Livro I dos
Elementos de Euclides, devido à importante necessidade de contextualizar a Formação do
Professor de Matemática no modelo geométrico, que se aproxima da forma curva do mundo.
Construímos as bases deste trabalho com o apoio do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Maranhão – IFMA, Campus Monte Castelo, locus da pesquisa, no
qual contamos com a colaboração de professores e alunos vinculados ao Departamento
Acadêmico de Matemática – DEMAT, espaço onde realizamos aulas e oficinas com o fim de
aproximar os acadêmicos e professores da realidade não euclidiana.
No contexto da construção e desenvolvimento dos conteúdos da pesquisa, contamos
com o site GEOGEBRA, através do qual foi-nos possível visualizar algumas das construções
geométricas que trabalhamos.
Primeiramente construímos uma pesquisa bibliográfica que versava sobre a História
da Geometria Euclidiana e os problemas relativos à origem da geometria. Nosso principal
foco foi o Quinto Postulado do Livro I de Os Elementos, de Euclides, por meio do qual
realizamos uma verdadeira excursão, explorando os principais fatos que culminaram com o
nascimento da Geometria Não Euclidiana, fruto da Negação do Quinto Postulado.
Aproveitamos para focar as contribuições de matemáticos árabes e europeus, nomes, como
Omar Khayyam, Girolamo Saccheri e Carl Friedrich Gauss, estão presentes na pesquisa. Em
seguida apresentamos uma sequência de conteúdos vinculados à descoberta da Geometria
Hiperbólica e da Geometria Elíptica, em seu caso particular a Geometria Esférica, abordando
tópicos que pudessem viabilizar a construção histórica do raciocínio não euclidiano.
A Estrutura de Pesquisa e Validação ocorreu apoiada na Teoria Antropológica do
Didático – TAD, cuja teoria instrumentou as Oficinas de Práticas Matemática – OPMs (sigla
usada para Talleres de Práticas Matemáticas) que, no final deste trabalho indicaram a
necessidade da implementação dos conteúdos das Geometrias Não Euclidianas no contexto da
Formação do Professor de Matemática.
O trabalho tem a seguinte organização: Introdução, Capítulo 1, no qual delineamos o
porquê da escolha do tema, juntamente com a questão norteadora e o objetivo da pesquisa. No
Capítulo 2, discorremos sobre o contexto epistemológico da pesquisa e descrevemos a
História da Geometria Euclidiana desde Euclides, passando pelas dúvidas suscitadas pelo
Quinto Postulado e o nascimento da Geometria Hiperbólica e da Geometria Elíptica no século
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XIX, bem como apresentamos alguns resultados das geometrias citadas. No Capítulo 3,
trabalhamos a Teoria Antropológica do Didático – TAD, descrevendo suas origens e seus
principais elementos. No Capítulo 4, apresentamos a Empiria das Oficinas de Práticas
Matemáticas - OPMs, destacando a teoria e particularidades que justificaram o objeto de
pesquisa. No Capítulo 5, validamos nossas práticas com alunos e professores, desenvolvidas
ao longo da pesquisa. No processo de validação, consideramos os depoimentos de alguns
alunos e dos professores que participaram da pesquisa. Em seguida apresentamos as
Considerações Finais, Referências, Anexos e Apêndices.
Na organização deste trabalho, enfatizamos, durante toda sua construção, a
importância da disciplina Geometria Não Euclidiana na formação do professor de matemática.
Para tanto, seguimos os passos da USP, UFPR e de outros Centros que já trazem em seus
conteúdos de formação a disciplina Geometria Não Euclidiana.
No exercício de nossa empiria, demonstramos sua importância e acreditamos ter
contribuído com a Ação Continuada da Formação do Professor de Matemática.
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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
São inúmeras as causas, porém duas delas estão atuando forte e diretamente em sala
de aula: a primeira é que muitos professores não detêm os conhecimentos
geométricos necessários para realização de suas práticas pedagógicas. [...]
Considerando que o professor que não conhece Geometria também não conhece o
poder, a beleza e a importância que ela possui para a formação do futuro cidadão,
então, para esses professores, o dilema é tentar ensinar Geometria sem conhecê-la ou
então não ensiná-la. A segunda causa da omissão geométrica deve-se à exagerada
importância que desempenha o livro didático, quer devido à má formação de nossos
professores, quer devido à estafante jornada de trabalho a que estão submetidos. E
como a Geometria neles aparece? Infelizmente em muitos deles, a Geometria é
apresentada apenas como um conjunto de definições, propriedades, nomes e
fórmulas, desligada de quaisquer aplicações de natureza histórica ou lógica; noutros,
a Geometria é reduzida a meia dúzia de formas banais do mundo físico. Como se
isso não bastasse, a Geometria quase sempre é apresentada na última parte do livro,
aumentando a probabilidade de ela não vir a ser estudada por falta de tempo letivo
(LORENZATO, 1995, p.3-4).
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Desse modo, o rumo tomado pela pesquisa apontava numa direção que era necessário
definir um referencial metodológico que se aproximasse do contexto matemático/didático a
ser analisado: a possível inserção de conteúdos da Geometria Não Euclidiana para a formação
do professor de matemática. Neste contexto, a Teoria Antropológica do Didático (TAD),
desenvolvida pelo educador francês Yves Chevallard (1999), teoria que estuda o homem
perante o saber matemático ou perante situações matemáticas, é por onde procuramos propor
organizações matemáticas para o ensino da Geometria Não Euclidiana, cujas conexões sejam
objetivas mesmo quando houver relação com outro saber estudado.
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Na nossa pesquisa, entre outras coisas, contribuímos com perspectivas que amparam
os conhecimentos da Geometria Não Euclidiana com os conhecimentos da Geometria
Euclidiana, devido à base histórica que construiu e que certamente contribuiu para o avanço
da Ciência.
A proposta é formar um docente que traga consigo, além da experiência, o desejo de
participação ativa de seus alunos, perante os desafios, contextualizando estes e, ao mesmo
tempo, convocando-os para participação da construção escolar da trajetória de suas vidas
através de um modelo de ensino que inclua a Geometria Não Euclidiana.
Nesse contexto, o ensino da Matemática, mais precisamente o Ensino da Geometria,
em seus diferentes níveis, deve manter-se atualizado com uma estruturação Não Euclidiana;
como defendida nas dissertações de Ribeiro (RIBEIRO, 2012) e de Carli (CARLI, 2019), que
estimulam em suas pesquisas de mestrado o ensino da Geometria Não Euclidiana já no Ensino
Médio.
Em razão do exposto, acreditamos que podemos melhorar a formação acadêmica dos
professores de Matemática, no sentido de ambientá-los no processo histórico que durou mais
de dois mil e quinhentos anos e que culminou no século XIX com o advento das Geometrias
Não Euclidianas.
Segundo Kaleff (2010, p. 3), foi “através das novas geometrias que os cientistas
iniciaram a busca por explicar o mundo físico dos nossos dias”. Assim, além de professores
bem formados e atualizados, a escola como local de vivências de situações de ensino deve
possibilitar aos educandos estratégias pedagógicas que lhes permitam refletir sobre o contexto
das modificações científicas e tecnológicas proporcionadas desde o século XIX.
Os conhecimentos matemáticos (geométricos) a serem apresentados, alguns de
caráter não euclidianos, devem fazer parte desse ambiente que tem a responsabilidade de
apresentar ao educando desafios, estimulando suas capacidades cognitivas e emocionais, de
forma a permitir-lhe conhecer o novo e, nele, questionar, pesquisar e, em particular, saber
identificar formas que o levem a crer que o mundo onde vive possui características Não
Euclidianas.
Relativo a saberes não euclidianos, algumas de suas práticas serão resolvidas a partir
do saber euclidiano. O que está claro nesse processo de transmissão é que as práticas não
euclidianas se referendam mediante processo dialético da base deste conhecimento, que é
euclidiano.
Ao longo dos anos, os professores formados pelas Licenciaturas em Matemática pelo
IFMA, pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA e pela Universidade Estadual do
Maranhão - UEMA (ANEXOS 3, 4 e 5), não contemplaram no Projeto Pedagógico de seus
Cursos a disciplina Geometria Não Euclidiana ou conteúdo dela. Vale uma reflexão, pois
sabemos que a fascinante História da Matemática e da Ciência é enriquecida com o
nascimento da Geometria Euclidiana e se potencializam com o advento da Geometria Não
Euclidiana no século XIX.
A Geometria Não Euclidiana, desde então, vem mudando a forma de como
enxergamos o mundo que habitamos e, direta ou indiretamente, faz parte de nossas vidas.
Além disso, acreditamos que, sem ela, conhecimentos como a Teoria da Relatividade, que
concebe a existência de um espaço curvo, que é conhecimento cuja base é não euclidiana,
desenvolvido por Albert Einstein2 (1879-1955), não se justificaria ou não haveria
possibilidade de existência. Isso mostra uma revolução que só foi possível a partir da
construção de geometrias que negam o Quinto Postulado.
Convém ressaltar que:
A partir do século XIX, surgiram sistemas geométricos que não eram euclidianos,
como a Geometria Fractal3. A Geometria Projetiva, em particular, desenvolvida a partir do
Renascimento, com os estudos de perspectiva, é anterior ao século XIX. Segundo
(COURANT; ROBBINS, 2000), trata-se de uma Geometria Não Euclidiana, uma vez que no
espaço projetivo o Quinto Postulado de Euclides não se verifica, ou seja, nesse espaço, dadas
2AlbertEinstein físico teórico alemão criador da teoria da relatividade geral, uma das bases da física moderna.
3 A geometria fractal é uma geometria não euclidiana que desenvolve o estudo dos subconjuntos complexos de
espaços métricos. É a parte da matemática que estuda as propriedades e os comportamentos dos fractais, a qual
descreve situações que a geometria clássica não poderia explicar .
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duas retas paralelas, elas se interceptam intuitivamente, num lugar chamado de ponto no
infinito sobre a reta.
Teceremos um elo entre o professor de Matemática, a História da Matemática
(Geometria), conteúdo e suas práticas na sala de aula, criando um contexto de base
epistemológica e didática a partir de Euclides, como também da construção de uma realidade
nova na formação docente iniciando pela possibilidade de inclusão de conhecimentos da
Geometria Não Euclidiana nos cursos de Licenciatura em Matemática, já citados nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998).
que interligam o meio (processo de ensino) e o fim (a aprendizagem do aluno). Essas ações
educativas buscam construir um polo de constantes debates em torno dos temas, que possuem
em comum a democratização de conceitos e teorias ligadas à Geometria Não Euclidiana,
como ciência, que a consolidam como disciplina, tendo em vista que:
Portanto, melhorar a interação entre o que possa ser euclidiano ou não euclidiano é
idealizado a partir de nossas OPMs, que aproximam alunos e professores de um modelo
epistemológico inovador, que expõe a existência da Geometria Não Euclidiana. Nestas
condições, na formação do Licenciado em Matemática, a ausência desta Organização
Matemática (OM) conduz o ensino à continuidade do currículo atual, que precisa ser debatido.
Uma vez que sabemos que o ensino precisa de formação continuada, politizada e crítica, o
estudo de conteúdos não euclidianos contribui na formação do professor para o entendimento
do avanço científico, da prática matemática, bem como dissemina metodologias inovadoras
voltadas para o ensino desta área da matemática.
Segundo Alarcão (2005), um dos compromissos do educador é ser crítico e
consciente de seu dever.
[...] um processo de aprendizagem pode ser caracterizado de modo geral (se não
determinado) por um conjunto de situações identificáveis (naturais ou didáticas)
reprodutíveis, conduzindo frequentemente à modificação de um conjunto de
comportamentos de alunos, modificação característica da aquisição de um
determinado conjunto de conhecimento (BROUSSEAU, 1986, p.6).
O avanço das relações com esse saber gera naturalmente interdisciplinaridade, pois
problemas relativos à Geometria Esférica, por exemplo, podem ser resolvidos dentro de um
contexto euclidiano. Em geral, essa compreensão se assenta no pressuposto de que nossas
relações com o ambiente ocorrem fundamentadas em ideias euclidianas e não euclidianas.
Um exemplo: se trabalharmos com a construção de casas ou de prédios, a base é
ortogonal, euclidiana, enquanto a localização de um navio no planeta, ou em uma região do
planeta, por exemplo, o Triângulo das Bermudas, a base é não euclidiana.
Nestas condições, os saberes da Geometria Não Euclidiana, construídos a partir das
dúvidas do Quinto Postulado, constroem uma forte ligação entre os conhecimentos
geométricos e o espaço em que habitamos, fundamentando-o e, por conseguinte, sendo base
de novos conhecimentos, por exemplo, a Geometria do Campo Visual que, segundo Luneburg
(1950, p. 631-632), nos revela que enxergamos de forma hiperbólica.
Nessa perspectiva, a formação do professor de Matemática merece algumas
considerações relativas à compreensão do significado do que possa ser não euclidiano, visto a
partir do que é euclidiano, e assim possamos intuir sobre questionamentos não euclidianos por
um referencial Euclidiano.
Com o delineamento do que possa ser Euclidiano ou Não Euclidiano na formação do
professor de Matemática, as Organizações Matemáticas (OMs) possuem conexões com outros
ramos de conhecimento, como a física, por exemplo, credenciando outras práticas. O saber
geométrico cria então condições de existência de uma base de conhecimentos que se justifica
devido ao fato de esta se adequar ao processo de formação continuada.
Em face do exposto, o ensino da geometria traz consigo a responsabilidade de torná-
la significativa, num processo de melhoria da qualidade de ensino. Essa construção que
envolve comportamento do ser humano, credencia ainda mais uma análise vinculada à TAD,
em razão de situar a matemática, ou seja, a Geometria Não Euclidiana, no conjunto das
atividades humanas e das instituições sociais, que reforça o quadro de ferramentas para
desenvolvimento do tema.
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A geometria é uma área da matemática que está muito presente na vida cotidiana.
Basta olharmos ao nosso redor e percebermos que estamos cercados de objetos que
guardam relação com formas geométricas, objetos feitos com retas, curvas ou pela
composição de ambas. Nós mesmos somos “seres geométricos”, dotados de forma
tridimensional. [...] A geometria contempla a investigação das formas e dimensões
presentes nos entes matemáticos (CRESCENTI, 2005, p.28).
Segundo Chevallard (2001, p. 20), “Um conteúdo de saber que tenha sido definido
como saber a ensinar, sofre, a partir de então, um conjunto de transformações adaptativas que
irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino”, de forma que os conteúdos
da Geometria aumentam a possibilidade de entendimento e de interdisciplinaridade. Com base
nessa observação, vemos que a efetivação de tarefas articulam Organizações Matemáticas
(OMs) e Organizações Didáticas (ODs) de forma que juntas contribuam para o ensino ou
melhoria do ensino.
A partir das práticas, procuramos atingir as conexões entre a geometria e outros
ramos do conhecimento matemático. As tarefas relativas às Geometrias Não Euclidianas,
Hiperbólica e Esférica idealizam construtos que viabilizam conscientizar que o mundo não
euclidiano existe e por essa razão, na formação do professor de Matemática, deve ser exposta.
Dessa maneira, entre entrevistas, questionários e tarefas, estamos construindo vínculos entre a
Geometria Euclidiana, a Geometria Não Euclidiana e a formação do Licenciado em
Matemática.
O saber referente à formação de professores deve estar associado a reflexões que
apontem para uma transposição didática, cuja preocupação esteja centrada em como definir os
saberes associados a essa formação, de modo a sugerir questionamentos, e com isso, evitar
limitações. Assim sendo, a formação acadêmica pode conduzir o formando à capacidade de
enfrentamento de problemas referentes a como atingir um modelo de ensino satisfatório, que é
o que esperamos deste profissional como ser humano crítico, politizado, na busca de
cidadania e do desenvolvimento de uma boa prática docente, pois,
Aos professores de matemática compete selecionar entre toda a matemática
existente, a clássica e a moderna, aquela que possa ser útil aos alunos em um dos
diferentes níveis da educação. Para a seleção temos de levar em conta que a
matemática tem um valor formativo, que ajuda a estruturar todo o pensamento e a
agilizar o raciocínio dedutivo, porém que também é uma ferramenta que serve para a
atuação diária e para muitas tarefas específicas de todas as atividades laborais. [...] o
sentido da matemática deve ser um constante equilíbrio entre a matemática
formativa e a informativa. A primeira, mais estável, e a segunda, muito variável
segundo o tempo, o lugar e a finalidade perseguida pelos alunos (PARRA; SAIZ,
1996, p.15).
que existem certas noções que constituem um núcleo comum de instruções da teoria didática
às instituições dessa civilização.
Entendemos que essas noções são culturas que são repassadas e assim constituem
uma fonte de conhecimento que podem ser identificadas como obras.
Segundo Chevallard (2009b), “Primeiramente deve haver a noção de obra. Este
termo não é utilizado com carga axiológica: significa qualquer "objeto" (antropogênico)
resultante da atividade humana finalizado da ação humana para uma finalidade específica
(que pode ser desconhecida), isto é, o produto”.
Nosso produto é fruto de teorias e práticas desenvolvidas que referenciam o saber
fazer através do saber. Em razão desta referência, a noção de estudo está implícita e é
revelada pela estrutura teórica que dá base ao trabalho. Além disso, as respostas das oficinas
foram consideradas como nossas entidades praxeológicas.
Relativo ao estudo da Geometria Não Euclidiana, nossa praxeologia diz respeito a
estudar não apenas algumas questões relativas a essa teoria, mas também exercícios de
conteúdos teóricos e práticos, pois entendemos que o estudo da obra relacionada à teoria da
Geometria Não Euclidiana e a ideia da pesquisa teórica descrevem um sistema didático dentro
de uma instituição que seria o Departamento de Matemática de uma Universidade ou
Instituto.
Desse modo, corraboramos o entendimento dos autores abaixo mencionados, ao
afirmarem que:
Tal sistema é formado dentro de uma instituição necessária, a escola: embora uma
escola, que pode se apresentar de diversas formas, seja uma oferta da instituição
assim declarada habitat para certos tipos de sistemas de didáticos. Este é a quarta
noção do núcleo da teoria que rege a didática. A isso é acresentado um requisito
último: a existência do conceito de uma disciplina da obra, que são um conjunto de
regras segundo as quais uma obra vive, é consumida, reproduzida, "emplementada",
etc. [...] a singularidade do conceito é uma pluralidade de mudanças de disciplinas
"concretas". Esta é a disciplina para obra estudada, como revelado por meio de seu
estudo, que retorna ao nível mais profundo da escala das condições e restrições dos
níveis de co-determinação didática, apresentado como o nível de disciplina.
Naturalmente, o que é considerado como uma obra, como tal inclui o estudo da obra
de acordo com a disciplina da obra, é função de todas as condições e restrições que
exercem os seus efeitos a partir do topo para o fundo da co-determinação didática.
Mas o fato de que existem, na sociedade estudada pelos didáticos, os conceitos
anteriormente invocados, criam as condições e restrições para seus decisivos efeitos
na difusão praxeológica (CHEVALLARD, 2009b, p.15-16).
Dado um projeto de atividade no qual tal instituição ou tal pessoa pensa engajar o
ensino da Geometria Não Euclidiana na formação de professores de Matemática, qual é, para
esta instituição ou esta pessoa, o equipamento praxeológico que pode ser julgado
indispensável ou simplesmente útil na concepção e no cumprimento desse projeto?
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Neste capítulo vamos apresentar aspectos da História da Geometria dando ênfase aos
acontecimentos que contribuíram para o nascimento da Geometria Não Euclidiana. Nosso
foco é a descrição dos fatos que ocorreram em torno das discussões sobre a possiblidade de
ser ou não ser uma proposição o Quinto Postulado do Livro I de Os Elementos, de Euclides.
Apresentamos também as participações de eminentes matemáticos e comentamos suas
contribuições para o surgimento das Geometrias Não Euclidianas. Expomos timidamente a
teoria da Geometria Hiperbólica e da Geometria Esférica e apresentamos alguns resultados
que consideramos importantes para a construção deste conteúdo.
O vocábulo geometria tem origem grega (geo = terra, metrein = medir) “medir a
terra”. Embora seja do nosso conhecimento que povos, como os do Antigo Egito e da
Babilônia, contribuíram com as bases deste conhecimento, não podemos assegurar nada sobre
a civilização que deu o passo inicial para esse conhecimento.
Segundo Boyer (1974, p.4-5), os filósofos e matemáticos Heródoto e Aristóteles
defendiam diferentes teorias, mas concordavam que os fundamentos da geometria tiveram
seus primeiros passos dados no Antigo Egito. Para Heródoto, a geometria estava vinculada a
necessidades de práticas que surgiam no cotidiano, como plantio, construções e astrologia.
Por sua vez, Aristóteles acreditava que o desenvolvimento da geometria estava vinculado ao
lazer de uma classe sacerdotal, como nos relata Boyer no fragmento a seguir.
Heródoto e Aristóteles não quiseram se arriscar a propor origens mais antigas que a
civilização egípcia, mas é claro que a geometria que tinham em mente tinha raízes
mais antigas. Heródoto mantinha que a geometria se originava no Egito, pois
acreditava que tinha surgido da necessidade prática de fazer novas medidas de terras
após cada inundação anual no vale do rio. Aristóteles achava que a existência no
Egito de uma classe sacerdotal com lazeres é que tinha conduzido ao estudo da
geometria. Podemos considerar as ideias de Heródoto e Aristóteles como
representando duas teorias opostas quanto às origens da matemática, um acreditando
que a origem fosse à necessidade prática, outro que a origem estivesse no lazer
sacerdotal e ritual. O fato de os geômetras egípcios serem às vezes chamados
“estiradores de corda” (ou agrimensores) pode ser tomado como apoio de qualquer
das duas teorias, pois cordas eram indubitavelmente usadas tanto para traçar as bases
de templos como para realinhar demarcações apagadas de terras. Não podemos
contradizer com segurança nem Heródoto nem Aristóteles quanto à motivação que
produziu a matemática, mas é claro que ambos subestimaram a idade do assunto. O
homem neolítico pode ter tido pouco lazer e pouca necessidade de medir terras,
porém seus desenhos e figuras sugerem uma preocupação com relações espaciais
que abriu caminho para a geometria. Seus potes, tecidos e cestas mostram exemplos
de congruência e simetria, que são partes da geometria elementar (BOYER, 1983,
p.4−5).
Para construirmos melhor esta narrativa, vamos voltar um pouco mais atrás, para
compreendermos a sequência de acontecimentos que culminaram nessa fantástica história. O
início da história é o séc. IV a. C., período chamado de Pré-Helênico, etapa Clássica da
História da Civilização Grega (séc. VI-IV a. C.). Foi o período caracterizado pelo
desenvolvimento do imperialismo das duas maiores e rivais cidades gregas, Atenas e Esparta.
Essas rivalidades políticas e econômicas, conduziram ao início de um conflito chamado de
Guerra do Peloponeso (431-403 a.C.) e, polarizado entre essas cidades. Essa guerra trouxe em
seu bojo destruição, conflitos sociais e empobrecimento dessas cidades, e com o seu
prolongamento, em Atenas, por exemplo, seus camponeses empobrecidos, abandonaram suas
terras criando um êxodo para as áreas urbanas, o que culminou com a vitória da cidade de
Esparta e, desta forma, deu-se início na Grécia ao período das oligarquias.
O período que se seguiu à guerra do Peloponeso foi marcado pela desunião política
entre os Estados gregos; assim, tornaram-se presa fácil do então forte reino da
Macedônia, situado ao norte. O clamor das admoestações de Demóstenes foi
ignorado e o rei Felipe da Macedônia foi gradualmente estendendo seu poder para o
sul. Os gregos reagruparam-se muito tarde para tentar, com possibilidade de êxito,
defender-se e, com a derrota em Querónea (338 a.C.), a Grécia tornou-se parte do
império macedônio (EVES.2005, p.166).
Alexandre, seu filho, de apenas 20 anos de idade, assumiu seu lugar continuando as
campanhas do pai e estendendo seu vasto reino desde o Mar Adriático (parte do mar
Mediterrâneo) até o rio Indo (localizado na região sul da Ásia), fundando cidades por onde
passava.
Segundo Eves (2005, p.166), “Na trilha de suas tropas vitoriosas, Alexandre foi
fundando um cordão de novas cidades, sempre em locais bem escolhidos. Foi assim que se
deu a fundação de Alexandria, no Egito, em 332 a.C.”.
Alexandria foi então capital do Egito por aproximadamente mil anos, constituindo-
se no maior centro de cultura do mundo conhecido. Na Antiguidade, seu porto era um dos
principais do Mediterrâneo.
Alexandre, denominado “o Grande”, devido aos seus grandes feitos militares, ao
conquistar grande parte do mundo antigo, se constituiu em um dos grandes difusores do
conhecimento grego pelo mundo, não excluindo o conhecimento da Geometria. Entretanto, a
sua morte precoce, aos 32 anos de idade, sem deixar herdeiro direto ou sucessor, conduziu o
império à divisão entre os generais do exército grego que se destacavam nas campanhas e
disputavam diferentes partes do império conquistado. Para o General Ptolomeu, depois
Ptolomeu I, coube a parte egípcia e as regiões adjacentes do Império recém-fragmentado
(BOYER, 1974).
Segundo Eves (2005, p.166), este fato conduziu a difusão da cultura grega como
também das culturas do Oriente, dando início ao período Helênico. A cultura no período
helênico resultou da fusão da cultura grega com a cultura oriental, promovida pela expansão
do império Macedônico com Alexandre (ver Figura 1).
Segundo Boyer (1974, p.74), em 306 a. C., Ptolomeu I já tinha o controle da parte
egípcia do império firmemente em suas mãos, e foi nesse período que o Egito passou por uma
fase de construção e inovação que culminou com a criação, em Alexandria, da famosa escola
conhecida por MUSEU.
Com o limiar desses acontecimentos, a Grécia já não era mais o centro cultural do
mundo. Várias foram as transformações que ocorreram e que contribuíram para a formação do
mundo ocidental, dentre elas, destacam-se os aprimoramentos dos conhecimentos científicos,
principalmente no tocante à astronomia e à matemática. O resultado destes fatos, durante
vários séculos, conduziu as ciências helenísticas a atingir o maior desenvolvimento da
História, visto que grandes nomes nas ciências foram atraídos para o Egito por Ptolomeu I.
Euclides estava entre esses nomes, como também diferentes tipos de pessoas, nestas
condições. Iniciou-se então um período extraordinário de desenvolvimento em vários campos
do conhecimento, em particular no campo da geometria, pois,
Segundo Eves (2005, p.167), no que diz respeito a Euclides, pelos comentários de
Proclus (410 a. C. – 485 a. C.), setecentos anos depois, sabemos pouco. Sequer podemos
precisar o local do seu nascimento. Embora denominado Euclides de Alexandria, mas, em
razão de ter sido convidado por Ptolomeu I para ensinar matemática nessa cidade. Pela forma
53
singular de organização e da natureza de seu trabalho, que, segundo Boyer (1974, p.74),
possivelmente teria sido educado em Atenas no advento da cultura Helênica, período
caracterizado pelo domínio da cultura grega, pelo advento da civilização romana e pela
ascensão da ciência e do conhecimento. Frequentou a própria academia de Platão (427-428
a.C), podendo ter sido aluno deste filósofo, ou aluno dos seus discípulos, que defendiam uma
sólida formação básica, para que pudessem evoluir até elevados estudos filosóficos,
considerando que só indivíduos especialmente dotados poderiam chegar à filosofia. Segundo
Greenberg (1994, p.8), para Platão, “o estudo da matemática desenvolve e define em operação
um organismo mental mais valioso do que mil olhos, porque só através dele a verdade pode
ser apreendida” (tradução nossa).
Euclides teria sido convidado por Ptolomeu I a compor a casta de renomados sábios,
cujos conhecimentos seriam os alicerces da famosa Academia, conhecida por MUSEU,
fundada na cidade de Alexandria, capital egípcia, cosmopolita, localizada no litoral
mediterrâneo e centro econômico da época. Euclides foi então responsável por fundar a
Biblioteca de Alexandria, que segundo Eves (2005, p.167), chegou a ter 600.000 rolos,
infelizmente destruídos por um incêndio, mas que em sua época lhe conferia o status de Meca
do conhecimento.
Na Figura 3 vemos um mapa da cidade de Alexandria na Antiguidade e na Figura 4,
um afresco representando a Biblioteca de Alexandria. Euclides aparece ensinando nesta obra-
54
prima do pintor renascentista italiano Rafael Sânzio (1483-1520), conhecido como “A Escola
de Atenas”.
Euclides é autor de várias obras, porém a maioria foi perdida. Dentre elas, uma
célebre, conhecida por Porismas, que segundo Boyer (1983, p.128), pode ter representado
uma antiga aproximação à Geometria Analítica. Já Pappus de Alexandria, egípcio nascido em
Alexandria, filósofo, historiador e geômetra, que viveu aproximadamente no ano 320 a.C.,
contestou esse argumento, afirmando que Porismas é algo intermediário entre um teorema, em
que alguma coisa é proposta para a demonstração, e um problema em que alguma coisa é
55
proposta para construção. Para outros estudiosos, Porisma pode ser compreendida como uma
proposição em que é determinada a relação entre quantidades conhecidas e variadas ou
indeterminadas, que é uma aproximação do que viria a ser uma função. E assim foram várias
as interpretações do que seria o Porisma de Euclides.
Boyer (1974, p.75) cita ainda o matemático e historiador da geometria, o francês
Michel Chesles (1793 - 1880), que “sugeriu porisma como sendo a determinação do lugar
geométrico de um ponto para o qual a soma dos quadrados das distâncias a dois pontos fixos é
constante.” Mas, infelizmente, nunca se chegou a um consenso, acerca do que ao certo esse
trabalho versava.
Através de Boyer (1974, p.75), sabe-se que apenas cinco obras de Euclides
sobreviveram: Divisão de Figuras, Os Fenômenos, Os Elementos, Os Dados e Óptica.
Óptica foi um dos primeiros trabalhos sobre a geometria da visão direta ou
perspectiva; Era dividida em três partes:
a. Óptica - a geometria da visão;
b. Catóptrica - a geometria dos raios refletidos;
c. Dióptrica - a geometria dos raios refratados.
Os Fenômenos desenvolviam um conteúdo de Geometria Esférica,
consequentemente, era usado pelos astrônomos. Divisão de Figuras é uma obra que chegou ao
conhecimento de todos por ter sido traduzida para o árabe; contém trinta e seis proposições
que discriminam a divisão de figuras plana, e Dados, obra que servia como guia para análise
de problemas sobre geometria; usada como complemento dos seis primeiros livros de “Os
Elementos”.
O mais famoso, o monumental livro de Euclides, é sem sombra de dúvida Os
Elementos, 300 a. C., em grego, Stoichia. Esta obra escrita em grego apresentava a aritmética,
a álgebra e a geometria conhecidas até então. Os Elementos é um trabalho composto por 13
livros que não apresentavam somente os trabalhos desenvolvidos por Euclides, que
sobreviveram total ou parcialmente. Segundo Boyer (1974, p.74), depois de A Esfera de
Autólico, ou A Esfera em Movimento4, os trabalhos de Euclides que sobreviveram são os
mais antigos tratados científicos gregos existentes.
Embora tenha havido versões anteriores dos Elementos antes de Euclides, a sua é a
única a ter sobrevivido, talvez porque foi a primeira a ser escrita após os
fundamentos, tanto da teoria das proporções como da dos irracionais, terem sido
4Grego, nascido na c idade de Pitane, localizada na Região Antiga chamada de Eólia, na Anatólia central, autor
da obra mais antiga matemática da Grécia Antiga.
56
forma, iniciou um universo de desafios revolucionários, em que as peças usadas para sua
construção se encaixam. Euclides construiu assim, a base de todo o método dedutivo.
Convém ressaltar que:
Figura 5: Página de rosto da tradução para o inglês de Os Elementos (Apresenta Euclides de Megara como autor
o que se constitui um erro já corrigido pela história).
Fonte: EVES (2005, p.172)
22. E das figuras quadriláteras, por um lado, quadrado é aquela que é tanto equilátera
quanto retangular, e, por outro lado, oblongo, a que, por um lado, é retangular, e, por outro
lado, não é equilátera, enquanto losango, a que, por um lado, é equilátera, e, por outro lado,
não é retangular; romboide, a que tem tanto os lados opostos quanto os ângulos opostos iguais
entre si, a qual não é equilátera nem retangular; e as quadriláteras, além dessas, são chamadas
trapézios.
23. Paralelas são retas que, estando no mesmo plano, e sendo prolongadas
ilimitadamente em cada um dos lados, em nenhum se encontram.
o Postulados
1º. Fique postulado traçar uma reta a partir de todo ponto até todo ponto.
2º. Também prolongar uma reta limitada, continuamente, sobre uma reta.
3º. E, com todo centro e distância, descrever um círculo.
4º. E serem iguais entre si todos os ângulos retos.
5º. E, caso uma reta, caindo sobre duas retas, faça os ângulos interiores e do mesmo
lado menores do que dois retos, sendo prolongadas as duas retas, ilimitadamente,
encontrarem-se no lado no qual estão os menores do que dois retos.
o Noções Comuns
1. As coisas iguais à mesma coisa são também iguais entre si.
2. E, caso sejam adicionadas coisas iguais a coisas iguais, os todos são iguais.
3. E, caso de iguais sejam subtraídas iguais, as restantes são iguais.
4. E, caso iguais sejam adicionadas a desiguais, os todos são desiguais.
5. E os dobros da mesma coisa são iguais entre si.
6. E as metades da mesma coisa são iguais entre si.
7. E as coisas que se ajustam uma à outra são iguais entre si.
8. E o todo [é] maior do que a parte.
9. E duas retas não contêm uma área.
Os Elementos, de Euclides, é uma obra considerada como um sistema lógico
rigoroso em que toda sua fundamentação se baseia em dados iniciais que são cinco axiomas,
cinco postulados que, tomados como verdades, dão sustentação a 465 proposições e
descrevem um método dedutivo.
É uma obra vultosa e valiosa para a História da Ciência, da Matemática e da
Humanidade. É um texto cuja influência transformou a história em todos os tempos. Os
Elementos se constituem fonte de pesquisa inesgotável; é nele, mais precisamente no Livro I,
61
que a Geometria Euclidiana é inserida. O que a torna mais espetacular é que de apenas cinco
Postulados e cinco Noções Comuns juntamente com algumas definições foi construído um
universo. Porém, surgiram indagações, perguntas não respondidas em torno de um dos
maiores mistérios que desafiou a humanidade: O Quinto Postulado.
A exposição que segue intenciona observar as construções teóricas efetuadas até o
século XIX período em que foram construídas as Geometrias fruto da negação do Quinto
Postulado ou Postulado Paralelo.
O Quinto Postulado era equivalente à Proposição 17: “Os dois ângulos de todo
triângulo, sendo tomados juntos de toda maneira, são menores do que dois retos”, do livro I, e
tanto para os gregos antigos quanto para muitos matemáticos, de forma secular, parecia mais
uma proposição.
Segundo Próclus (411 - 485), “Este postulado deve ser riscado da lista, pois é uma
proposição com muitas dificuldades que Ptolomeu, em certo livro, se propôs
resolver... A asserção de que duas linhas retas, por convergirem mais e mais à
medida que forem sendo prolongadas, acabam por se encontrar, é plausível, mas não
necessária. [...] É claro, portanto, que devemos procurar uma demonstração do
presente teorema, e que este é estranho ao carácter especial dos postulados”
(GREENBERG, 1994, p.149, tradução nossa).
[...] o próprio Euclides não confiava muito nesse postulado ser demonstrado pelo
fato de ele ter adiado usá-lo em uma prova pelo maior tempo possível - até sua 29ª
proposição. [...] Deve-se enfatizar que a maioria dessas tentativas foram feitas por
matemáticos proeminentes, não por incompetentes. E até mesmo, embora cada
tentativa tenha sido falha, o esforço não era geralmente desperdiçado, pois, supondo
que todos, exceto um passo, pudessem ser justificados, quando detectamos o passo
defeituoso, encontramos outra afirmação que, para nossa surpresa, é equivalente
para o postulado das paralelas (GREENBERG, 1994, p.148-149, tradução nossa).
Segundo Rosenfeld (1988, p. 41), o grego Possidônio (135 a.C. – 51 a.C.), no século
I a.C., assim definiu paralelas: “Linhas paralelas são linhas num único plano que não
convergem nem divergem, mas tem todas as perpendiculares, desenhadas dos pontos de uma
para os da outra, iguais”. Ou seja, duas retas são paralelas se forem equidistantes, ou ainda, se
a distância medida entre elas, relativa a toda reta que as corta perpendicularmente, for sempre
igual, independentemente da perpendicular.
Esta definição de paralelismo entre duas retas, aparentemente não apresenta nada de
errado. No tocante a Euclides, para que duas retas não se interceptem, elas devem manter a
mesma distância. Porém, no caso da definição citada, se não for tomado por base o Quinto
Postulado, essa definição perde totalmente o sentido, uma vez que é conhecida a existência de
retas que não se interceptam, as quais, muito embora se aproximem cada vez mais uma da
63
outra, não chegam a se interceptar. A exemplo, temos a hipérbole com suas assíntotas. Nestas
condições, recorrer a esta definição para demonstrar o Quinto Postulado, é afirmar que retas
paralelas são equidistantes, que é equivalente a afirmar o próprio Quinto Postulado.
Isto deve ser tirado dos postulados por completo; pois é um teorema que envolve
muitas dificuldades, que Ptolomeu, em um determinado livro, se propôs a resolver...
A afirmação de que, uma vez que [as duas linhas] convergem mais e mais à medida
que são produzidas, elas às vezes se encontrarão plausíveis, mas não necessárias.
[...] "Proclus oferece o exemplo de uma hipérbole que se aproxima de suas assíntotas
tanto quanto você queira, sem nunca encontrá-las”. Esse exemplo mostra que o
oposto das conclusões de Euclides pode, pelo menos, ser imaginado. Proclus diz: "É
então claro a partir disso que devemos buscar uma prova do teorema presente, e que
isso é estranho ao caráter especial dos postulados" (GREENBERG, 1994, p.148-149,
tradução nossa).
As tentativas de provar o postulado das paralelas como teorema a partir dos restantes
nove “axiomas” e “postulados” ocuparam os geômetras por mais de 2000 anos e
culminaram em alguns dos desenvolvimentos de maior alcance da matemática
moderna. Foram das muitas “demonstrações” do postulado mais, cedo ou tarde,
mostrou-se que cada uma baseava-se numa suposição tácita equivalente (EVES,
2005, p.540).
E mesmo que cada tentativa fosse falha, o esforço geralmente não foi desperdiçado;
pois, assumindo que todos, exceto um passo, podem ser justificados, quando
detectam o passo defeituoso, encontramos outra afirmação que, para nossa surpresa,
é equivalente! ao postulado paralelo. (GREENBERG, 1994, p. 148-149, tradução
nossa).
(ii)
Sejam e duas retas cortadas por uma reta transversal , nos pontos e , onde
e , de modo que os ângulos colaterais internos e possuam
soma menor que dois retos (Ver figura 10).
Consideremos uma reta passando pelo ponto de tal modo que os ângulos
colaterais internos e somem dois retos (Ver figura 11).
68
O mundo árabe, segundo Bonola (1912, p.12), sucessores dos gregos no princípio da
matemática, também foi tocado pelo mistério do Quinto Postulado de Euclides e teve
iminentes matemáticos que se envolveram e deram grandiosas contribuições no campo da
Álgebra, como também para a Geometria.
O problema clássico envolvendo o Quinto Postulado também chamou a atenção dos
ilustres matemáticos árabes. De contribuição significativa, pois, a partir de suas ideias, as
mudanças relativas ao avanço dos estudos para a resolução do misterioso problema
avançaram.
Dentre aqueles que contribuíram significativamente para o avanço das pesquisas do
Quinto Postulado, de Euclides, citamos os matemáticos: Al – Abbas Ibn Said Al – Jawhari
(800 - 860), Thabit Ibn Qurra (826 - 901), Abu Ali Al-Hasan Ibn Al-Haitham - Alhazen (965
- 1040), Omar Al-Khayyam (1048-1131) e Nasir Al-Din Al-Tusi (Nasiredim) (1201 - 1274).
a) Al – Abbas Ibn Said Al – Jawhari (800 - 860)
Segundo Rosenfeld (1988, p. 49 - 56), Thabit Ibn Qurra nasceu em Bagdá, Iraque, foi
matemático, astrônomo, mágico, físico, médico e filósofo. Traduziu para o idioma árabe obras
de Arquimedes, Apolônio de Perga, Euclides, entre tantos outros. Sua história, no que
concerne à matemática é notável; trabalhou em diversas frentes de pesquisa incluindo a
generalização do teorema de Pitágoras, quadrados mágicos, teoria dos números, aritmética e,
como não poderia deixar de ser, o Quinto Postulado do Livro I de Os Elementos, de Euclides.
Relativo ao seu segundo tratado sobre a geometria de Euclides, Thabit ibn Qurra
afirma inicialmente que um segmento de linha poderia se mover sem ter seu comprimento
alterado, em razão de considerar que a ausência de deformação das figuras geométricas
quando existe movimento não é óbvia GRAY (1987, p. 43).
Ainda conforme Rosenfeld (1988, p. 52), a introdução do movimento para a medição
da magnitude era uma ideia que havia sido contestada por Aristóteles, sobre a qual Ibn Qurra
argumentou que o próprio Euclides o havia utilizado ao demonstrar a Proposição 48 do Livro
I de Os Elementos, de Euclides.
Por estas duas citações, vemos que o ambiente estava sendo preparado para o
surgimento de uma ideia que revolucionária a pesquisa de tentativa de demonstração do
Quinto Postulado.
Ibn Qurra introduziu uma figura que será muito utilizada nas tentativas de
demonstração do quinto postulado: trata-se de um quadrilátero de vértices , com dois
lados iguais e opostos e e os ângulos da base ̂ e ̂ também são iguais (ver
Figura 16 e Figura 17). Segundo essa hipótese, em um quadrilátero no qual os ângulos da base
são ângulos retos, e considerando igual a , essa linha seria o deslocamento da base
e consequentemente manteria o comprimento, o que implicaria o quarto ângulo ser
também reto. Usando essa hipótese, Ibn Qurra tentou demonstrar o Quinto Postulado,
tomando como base as Figura 16 e a Figura 17.
Figura 16: Quadrilátero de Ibn Qurra Figura 17: Quadrilátero onde os ângulos da
Fonte: Silva (2006). base são retos e
Fonte: Silva (2006).
74
Segundo Gray (1987, p. 44) a tentativa de demonstração de Ibn Qurra é feita usando
a hipótese mencionada acima, e a Figura 18.
De acordo com Silva (2006, p.8), na Figura 18, as linhas e cortam uma terceira
linha , sendo que e são perpendiculares que tomamos como hipótese. Ibn Qurra tomou
um ponto sobre e traçou a perpendicular até . Se é menor que , então algum
múltiplo dele, excede , e pode formar o triângulo retângulo , no qual está
sobre . Segundo a hipótese do quadrilátero, não encontra , pois se encontrasse não
formaria o quadrilátero que ele introduziu inicialmente (Figura 18). Então deve encontrar
e o Quinto Postulado está provado, ou seja, as linhas e se encontram do lado em que a
soma dos ângulos (os ângulos e ) somam menor que dois ângulos retos.
No entanto, nessa tentativa de prova do Quinto Postulado por Ibn Qurra, ele assumiu
o Quinto Postulado como recorrência, o que invalidou a prova.
descobrindo assim que a luz viaja em linha reta. Seus trabalhos abrangeram os temas como
Óptica, e nele encontramos a teoria da luz e a teoria da visão. Entre outros, inclusive os
trabalhos que envolveram a matemática, onde destacamos a geometria e a teoria de números,
o que é corroborado no texto a seguir
[...] Alhazen propôs a construção de um quadrilátero com três ângulos retos e achou
ser possível provar que o quarto ângulo também deveria ser reto. Dessa construção,
o quinto postulado seguiria como corolário. Alhazen assumiu que o lugar dos pontos
equidistantes a uma dada reta deveria ser paralelo à reta dada, fato que é equivalente
ao postulado de Euclides. [...] Uma segunda tentativa foi feita por Omar Khayyam,
que partiu de um quadrilátero possuindo dois lados opostos iguais e perpendiculares
à base - esse quadrilátero ficaria conhecido como quadrilátero de Saccheri, em
reconhecimento aos estudos sobre o postulado das paralelas no século XVIII. Omar
Khayyam sabia que os dois ângulos superiores do quadrilátero eram iguais e
concluiu que ambos deveriam ser retos. No entanto, partiu de pressupostos
equivalentes ao postulado de Euclides. [...] Al-Tusi foi o terceiro matemático
islâmico que se envolveu com o problema das paralelas. A prova de al-Tusi
dependia da seguinte hipótese: se uma reta u é perpendicular a uma reta w no ponto
A e se uma reta v é oblíqua a w no ponto B, então as perpendiculares traçadas a
partir de pontos de u à reta v são menores que AB no lado em que v faz um ângulo
agudo com w e maiores que AB no lado em que v faz um ângulo obtuso com w. A
hipótese se al-Tusi também era equivalente ao postulado das paralelas: [...] (MOL,
2013, p.73).
76
Os árabes claramente se sentiam mais atraídos pela álgebra e pela trigonometria que
pela geometria. Mas um aspecto da geometria tinha um fascínio especial para eles -
a prova ao quinto postulado de Euclides. Mesmo entre os gregos a tentativa de
provar o postulado tinha-se transformado virtualmente num “quarto famoso
problema de geometria”, e vários matemáticos muçulmanos continuaram o esforço.
Alhazen tinha começado por um quadrilátero tri-retângulo (às vezes conhecido
como “quadrilátero de Lambert” em homenagem aos esforços deste no século
dezoito) e julgava ter provado que o quarto ângulo também tinha que ser reto. Desse
“teorema” sobre o quadrilátero resulta facilmente o quinto postulado. Em sua
“prova” Alhazen assumia que o lugar de um ponto que se move de modo a
permanecer equidistante de uma reta dada é necessariamente uma reta paralela à reta
dada - mas isso, como se provou no período moderno é equivalente ao quinto
postulado de Euclides. Omar Khayyam criticou a prova de Alhazen com o
argumento de que Aristóteles tinha condenado o uso do movimento em geometria.
Omar Khayyam partiu então de um quadrilátero com dois lados iguais, ambos
perpendiculares à base (usualmente chamado “quadrilátero de Saccheri”, novamente
em reconhecimento de esforços no século dezoito) e perguntou como seriam os
outros ângulos (os superiores) do quadrilátero, que são necessariamente iguais um
ao outro. Há, é claro, três possibilidades. Os ângulos podem ser (1) agudos, (2) retos,
ou em um Principio, que atribuiu a Aristóteles, que diz que duas retas convergentes
devem cortar-se – novamente um enunciado equivalente ao postulado das paralelas
de Euclides (BOYER, 2001, p.176).
Al-Khayyam acreditava que o Quinto Postulado ainda não estava provado por dois
motivos: os antigos o consideravam tão evidentes que acharam melhor omitir sua
demonstração, e os modernos tentaram demonstrar, mas não conseguiram devido a não levar
em conta premissas fundamentais (SACHS 2016).
Diante disso, resolveu partir em busca da demonstração. Ele então criou oito
proposições que possivelmente dariam sustentabilidade para provar o Quinto Postulado. Uma
77
dessas proposições dizia: “Se um quadrilátero simétrico possui dois ângulos retos, então os
outros dois são também ângulos retos”.
Omar Khayyam em sua tentativa de prova considera uma reta e duas linhas
iguais que são perpendiculares a , de modo que possa produzir uma figura de quatro lados.
Desse modo, refuta a possibilidade de que os ângulos ̂ e /ou ̂ são agudo ou obtuso,
respectivamente, mas, ângulos retos. Com esse raciocínio ele acredita ter provado o Quinto
Postulado. O que foi um engano, pois, o que ele fez foi apenas afirmá-lo.
O interessante é que a partir das ideias de Khayyam, descritas na Figura 20, o
caminho dos que buscavam demonstrar o Quinto Postulado ficou um pouco mais adiantado,
embora sua impossibilidade tenha ficado evidente.
Figura 22: Apoio para a tentativa de demonstração do Quinto Postulado por Nasiredim
Fonte: Arcari. 2008, p.35.
Temos então:
o Se ̂ teremos que
o Se ̂ teremos que
o Se ̂ teremos que
79
As primeiras versões dos Elementos feitas nos séculos XII e XIII, baseadas em
textos árabes, e as elaboradas no século XV e início do século XVI, com base nos
textos gregos, não continham qualquer nota crítica relativa ao quinto postulado. Tais
críticas aparecem somente depois do ano 1550, principalmente sob a influência dos
Comentários de Proclus. Nos séculos XVI e XVII, entre os que escreveram trabalhos
80
críticos sobre o quinto postulado, e que tentaram prova-lo, deve-se citar como F.
COMANDINO (1509 - 1575), C. S. CLAVIO (1537-1612), P. A. CATALDI (1548-
1626), G. A. BORELLI (1608-1679) e G. VITALE (1633-1711) E J. WALLIS
(1616 - 1703). Todos eles, excetuando Wallis, trabalharam a ideia de retas
equidistantes (BARBOSA, 2002, p.27).
John Wallis, matemático inglês, deu grandes contribuições para a matemática. Seus
trabalhos foram de grande relevância para a história da matemática e contribuíram para a
origem do Cálculo. É considerado o matemático que antecedeu Isaac Newton (1643-1727),
como cita GREENBERG (1994):
Wallis foi o principal matemático inglês antes de Isaac Newton. Em seu tratado
Arithmetica infinitorum (que Newton estudou), Wallis introduziu o símbolo para
"infinito", desenvolveu fórmulas para certas integrais e apresentou sua famosa
fórmula infinita de produtos (GREENBERG, 1994, p.152, tradução
nossa).
Na sua época, o problema do Quinto Postulado era atual. Wallis foi um dos grandes
da história da matemática que tentou demonstra-lo. Segundo Greenberg (1994, p.152), Wallis
tomou conhecimento e despertou o interesse pelo Quinto Postulado através do trabalho de
Nasiraddin, e em 1651 organizou e descreveu as demonstrações de Nasiraddin em uma
palestra na Universidade de Oxford. Como era de se esperar, em 1663 apresentou uma
tentativa própria da demonstração do Quinto Postulado. Segundo Greenberg (1994, p.152),
Wallis desistiu de tentar provar o postulado das paralelas na geometria neutra7. Em vez disso,
propôs um novo axioma: “Dado qualquer triângulo ∆ABC e dado qualquer segmento .
Existe um triângulo ∆DEF (tendo como um dos seus lados) que é semelhante ao ∆ABC,
denotado ∆DEF~ ∆ABC”, por achar ser mais plausível que o postulado das paralelas.
O novo postulado proposto por Wallis parecia apenas mais viável para o objetivo de
demonstrar o Quinto Postulado de Euclides, mas, como era de se esperar, cometeu o erro já
cometido em tentativas anteriores. Para a sua infelicidade, esse é mais um argumento
equivalente ao Quinto Postulado, CHABERT (1997).
Apresentamos com elementos de transposição didática essa tentativa de
demonstração que pode ser encontrada em Greenberg (1994, p.153-154).
Tentativa de demonstração de Wallis:
Dada uma reta e um ponto , , seja uma reta paralela a passando por
.
Seja uma reta qualquer passando por . Queremos mostrar que tende a cortar
.
82
na Idade Moderna, o padre italiano jesuíta Giovanni Girolamo Saccheri (1667 - 1733),
filósofo, teólogo e matemático, defendendo o que acreditava e o que considerava dogma,
tentou viabilizar uma demonstração para o Quinto Postulado, a fim de provar a consistência
da Geometria Euclidiana.
Em sua pesquisa, Saccheri considera outras hipóteses que não apareciam no trabalho
desenvolvido por Euclides e pesquisou suas consequências. Saccheri acabou por fazer uma
importante tentativa de provar o Quinto Postulado, que mais tarde, gerou outros rumos, e
consequentemente outro resultado.
Saccheri inicialmente criticou a prova de Wallis para o Quinto Postulado, bem como
a prova atribuída a Nasiraddin. Em sua própria tentativa de prova, Saccheri considerou o
quadrilátero isósceles com dois ângulos retos como o fizeram Omar Al-Khayyam e
Nasiraddin.
Assim,
Saccheri supôs Falsa a afirmação do Quinto Postulado e desenvolveu seu estudo com
a intenção de alcançar uma contradição. O enunciado do Quinto Postulado de Euclides é
equivalente à seguinte afirmação: Há pelos menos um triângulo cuja soma dos ângulos
internos é igual a um ângulo raso, ou seja, a soma dos ângulos internos de um triângulo é
igual a 180°.
Saccheri desenvolveu seu trabalho sobre o Quinto Postulado aceitando as vinte oito
proposições iniciais do Livro I de Os Elementos, de Euclides, que, como já foi citado
anteriormente, as provas destas proposições não dependem desse Postulado.
Em seus estudos admitiu que os quatro primeiros postulados do Livro I de Os
Elementos, de Euclides, são válidos, e que o outro, o Quinto Postulado, é falso.
A partir dessas considerações, começa a estudar o quadrilátero ABCD, considerando
que os ângulos ̂ e ̂ são retos, os lados e iguais, os lados e
denominados de BASE e TOPO respectivamente, e os ângulos ̂ e ̂
denominados ângulos de topo. O Quadrilátero , assim formado, é chamado de
quadrilátero de Saccheri. Seu trabalho consistia em três passos:
85
Figura 34: Hipótese do Ângulo Figura 35: Hipótese do Ângulo Figura 36: Hipótese do Ângulo
Reto - HAR Obtuso - HAO Agudo - HAA
Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor Fonte: Elaboração do autor
adaptado de VELOSO 1998. adaptado de VELOSO 1998. adaptado de VELOSO 1998.
86
Figura 37: Quadrilátero de Saccheri para comprovação dos ângulos dos tipos iguais
Fonte: Elaboração do autor (2018).
Proposição 2:
Se em um quadrilátero os lados e forem de medidas diferentes, então
entre os dois ângulos ̂ e ̂ , será maior o que for adjacente ao menor lado e vice-versa.
Demonstração:
Consideremos o quadrilátero em que e possuem medidas diferentes.
Ver Figura 38.
87
Por transitividade ̂ ̂ .
O que conclui a demonstração.
Observação:
Se tomarmos , análogo ao raciocínio anterior, temos ̂ ̂ .
Saccheri refuta a hipótese do ângulo obtuso mostrando que, sob esta hipótese, bem
como a hipótese do ângulo reto, o postulado paralelo mantém. A partir disso ele faz
a dedução que sob a hipótese do ângulo obtuso devemos ter a geometria usual na
qual, "como é claro para todos os geômetras" a hipótese do ângulo reto é válida.
Sendo assim, a hipótese do ângulo obtuso é completamente falsa, porque se destrói
em si própria (ROSENFELD, 1988, p.98, tradução nossa).
Saccheri não percebeu que não havia contradição alguma. Se tivesse visto isso teria
assegurado a descoberta da nova geometria quase um século antes do ocorrido. Saccheri
mostrou domínio dos conhecimentos de lógica e Geometria Euclidiana, no entanto, mesmo
com todos os resultados vislumbrados em sua pesquisa, foi também vítima de uma época cuja
influência político-religiosa da igreja católica tinha supremacia. Apesar disso, contribuiu de
forma significativa para o desenvolvimento da Geometria Não Euclidiana.
Desse modo,
[...] após obter muitos dos teoremas agora clássicos da chamada geometria não-
euclidiana, Saccheri, de maneira insatisfatória e inconvincente, forçou uma
contradição no desenvolvimento de suas ideias através de noções nebulosas sobre
elementos finitos. Não tivesse ele se mostrado tão ávido de exibir uma contradição
e, em vez disso, tivesse admitido sua incapacidade de alcançá-la e, sem dúvida, os
méritos da descoberta da geometria não-euclidiana caberiam a ele (EVES, 2005,
p.540).
Euclidiana como perfeita, chegou ao pressuposto de que sem o postulado das paralelas
teríamos que a soma dos ângulos internos de um triângulo é menor que 180° ou maior que
180°; caso em que as retas podem ser finitas, fato que desconsiderou, mas que curiosamente
ampararam as descobertas da Geometria Não Euclidiana.
O trabalho de Saccheri relativo às hipóteses do ângulo agudo e obtuso pode ser
encontrado em Brito; Moraes (1998, p.105-114), Bonola (1912, p.22-44) e Rosenfeld (1988,
p.98-99).
Segundo Veloso (1998, p.348) o suíço Johann Heinrich Lambert era Cartógrafo,
linguista, investigador do calor, do magnetismo e da óptica, filósofo, astrônomo e matemático
autodidata “foi um dos primeiros a perceber que a Via Láctea era a galáxia a que pertencia o
sistema solar e o primeiro a demonstrar que o número é irracional”. E, segundo EVES
(2005, p. 541), apenas trinta e três anos após a morte de Saccheri escreveu um livro cujo título
é Die Theorie der Parallelliníen (A Teoria das Paralelas), escrito em 1766, o qual só foi
publicado após a sua morte. Neste trabalho, Lambert dá continuidade aos trabalhos de
Saccheri, que visava encontrar contradição na hipótese do ângulo agudo.
A ideia de Lambert gira em torno de um quadrilátero que contém fixados três
ângulos retos, o que faz lembrar o quadrilátero de Alhazen. Ele então considera que o outro
ângulo possa ser agudo, reto ou então obtuso.
Segundo Veloso (1998, p.348), o problema das paralelas chama atenção de Lambert
a partir do trabalho de tese de Georg Klügel (1739 – 1812), que tinha estudado vinte e cinco
tentativas de provas do Quinto Postulado, e em todas, tinha encontrado contradições.
90
[...] como Saccheri, ele mostrou que para as três hipóteses a soma dos ângulos de um
triângulo é menor que, igual a ou maior que dois ângulos retos, respectivamente, e
então, indo além, que a deficiência abaixo de dois ângulos retos, na hipótese do
ângulo agudo, ou o excesso de dois ângulos retos, na hipótese do ângulo obtuso, é
proporcional à área do triângulo. Observou a semelhança entre a geometria
decorrente da hipótese do ângulo obtuso e a geometria esférica, na qual a área de um
triângulo e proporcional a seu excesso esférico e conjeturou que a geometria
decorrente da hipótese do ângulo agudo poderia talvez se verificar numa esfera de
raio imaginário. A hipótese do ângulo obtuso foi eliminada, fazendo a mesma
suposição tácita de Saccheri, mas suas conclusões com respeito à hipótese do ângulo
agudo foram imprecisas e insatisfatórias (EVES, 2005, p.541).
Lambert, assim como Saccheri, não observou que a falsidade relativa à hipótese
HAA ocorreu por ter tomado como base particularidades que contradiziam nossas ideias
91
intuitivas sobre as propriedades das retas euclidianas. Mas, “O que é importante notar, nos
resultados de Lambert, é a aceitação que pouco a pouco ia ganhando peso, no espírito dos
matemáticos, da possibilidade de uma geometria diferente” (VELOSO, 1998).
de Euclides. Até o meio ou fim do século dezenove, o mito reinava sem desafios.
Todos acreditavam nele (DAVIS; HERSH, 1985, p.366).
De todo modo, graças a essa inquietação, entre aceitar como postulado ou como uma
proposição, foi que matemáticos, como: Carl Friedrich Gauss (1777-1855) (Ver Figura 44);
Janos Bolyai (1802-1860) (Ver Figura 45); Nikolai I. Lobachevsky (1792-1856) (Ver Figura
46); o matemático alemão George F. B. Riemann (1826 -1866) (Ver Figura 68) construíram
universos Não Euclidianos tão consistentes quanto o universo Euclidiano.
Figura 44: Carl Friedrich Gauss Figura 45: Janos Bolyai Figura 46: Nikolai I. Lobatchevsky
Fonte: (EVES, 2005, p.561). Fonte: (Novasti, 2013, p.1). Fonte: (EVES, 2005, p.568).
Portanto,
Os primeiros a suspeitarem desse fato foram o alemão Carl Gauss, o húngaro Janos
Bolyai (1802-1860) e o russo Nicolai Ivanovitch Lobachevsky (1793-1856). Esses
homens abordaram a questão através do postulado das paralelas na forma de
Playfair, considerando as três possibilidades seguintes: Por um ponto dado pode-se
traçar mais do que uma, exatamente uma ou nenhuma paralela a uma reta dada.
Essas situações equivalem, respectivamente, às hipóteses do ângulo agudo, reto e
obtuso. Novamente, assumindo a infinitude da reta, elimina-se o terceiro caso
facilmente. Suspeitando, a tempo, que sob a primeira hipótese abrigava-se uma
geometria consistente, cada um deles independentemente levou a termo
desenvolvimentos geométricos e trigonométricos amplos a partir dessa hipótese
(ângulo agudo) (EVES, 2004, p.541-542).
geometria que não dependeria do Quinto Postulado. Gauss trabalhou com a hipótese do
ângulo agudo (HAA) de Saccheri, em que a soma dos ângulos internos de triângulo é menor
que . Esse fato o conduziu a uma geometria diferente, como também consistente, em que
o problema maior consistia na determinação de uma constante que quanto maior o valor
atribuído, mais próximo da Geometria Euclidiana estava.
Segundo Veloso (1998, p.349), em 1813 percebeu a possibilidade da existência de
uma geometria em que o Quinto Postulado poderia ser substituído por sua negação, o que
chamou de Não Euclidiano. Mas, devido ao momento histórico, por medo de ir contra a
Igreja Católica, não publicou seus resultados. Além disso, Gauss acreditava que suas
descobertas provocariam algumas contestações furiosas, uma vez que não acreditava que
haveria alguém com a capacidade de avaliar suas descobertas.
Em 1817, Gauss, em correspondência ao amigo Wilhelm Olbers (1758-1840), um
renomado astrônomo da época, relatou que ainda não havia atingido a comprovação sobre a
verdade da geometria e ressaltou:
Durante a primeira década do século XIX, o problema das paralelas ainda era
buscado por Gauss. Ou seja,
Gauss ainda estava tentando provar o quinto postulado pelo método de redução a um
absurdo. Este havia sido o processo tentado por Saccheri e Lambert no passado e
cujas obras lhe eram familiar. Mas também está comprovado que ele conhecia, mais
do que qualquer outro no passado, a profundidade do problema. Foi durante a
segunda década daquele século que ele começou a desenvolver as ideias da nova
Geometria, formulando seus teoremas. (BARBOSA, 2002, p.44).
Segundo Bonola (1912, p.98), “Janos Bolyai se propõe então construir uma Teoria
Absoluta do Espaço, seguindo o método clássico dos Gregos, isto é, aplicar o método
dedutivo, sem decidir a priori sobre a validade do quinto postulado”.
Segundo Bonola (1912, p.98), “somente em 1823 Janos Bolyai ingressa na
Quando Farkas tomou conhecimento das intenções do filho, tentou orientá-lo para
desistir da ideia. Eis aqui um trecho de uma das cartas de Farkas para Janos, tentando
dissuadi-lo de continuar a pesquisar o problema do Quinto Postulado.
[...] não deves tentar abordar o problema das paralelas. Conheço esse caminho até ao
fim. Atravessei essa noite sem fim, que extinguiu toda a luz e alegria na minha vida.
Peço-te encarecidamente que abandones a ciência das paralelas... Pensei que me
sacrificaria em nome da verdade. Estava pronto para me tornar um mártir que
removeria o erro da geometria e a restituiria sem mácula à humanidade. Empreendi
trabalhos enormes e monstruosos; as minhas descobertas são muito melhores que as
dos outros e mesmo assim não atingi a satisfação completa. [...] Voltei para trás
quando compreendi que nenhum homem podia chegar ao fim dessa noite. Regressei
inconsolável, chorando por mim e por toda a humanidade. (VELOSO, 1998, p.349).
Janos, ao contrário do que o pai esperava, construiu uma nova geometria, não
tentando provar o Quinto Postulado, mas negando sua validade. Assim, em 1823, em uma
carta anunciou suas descobertas. Eis aqui um trecho de uma carta de Janos para Farkas:
Estou decidido a publicar um trabalho sobre as paralelas assim que possa organizar,
completá-lo e que tenha oportunidade para isso. Ainda não cheguei à descoberta
pretendida, mas o caminho que segui é quase certo que me conduzirá ao meu
objetivo, desde que ele seja possível. Ainda não o atingi, mas descobri coisas tão
fantásticas que fiquei profundamente admirado. Seria uma eterna desgraça se estas
coisas se perdessem, como tu, querido pai, serás forçado a admitir quando as vires.
Tudo o que posso dizer agora é que criei um mundo novo e diferente a partir do
nada. Tudo o que te enviei até agora é como um castelo de cartas comparado com
uma verdadeira torre (VELOSO, 1998, p.350).
Segundo Veloso (1998, p.350), o trabalho de Janos Bolyai, então com 29 anos,
intitulado A Ciência do Espaço Absoluto, cujo título original é: Appendix scientiam spatii
absolute veram exhibens: a veritate aut falsitate Axiomatis XI. Euclidei, a priori haud
unquam decidenda, independentem: adjecta ad casum falsitatis quadratura circuli
geométrica, foi publicado como apêndice de um livro de geometria em dois volumes de seu
pai, Farkas Bolyai, em 1831. Segundo Boyer (1974, p.397), de título original: Tentamen
juventutem in elementa matheseos purae, elemmentaris ac sublimioris, methodo intuitiva,
evidentiaque huic propria, introducendi.
No trabalho, Janos nos abastece de uma nova definição de retas paralelas, que
depende do “ângulo de paralelismo”. De acordo com Bolyai (1832, p.5), “se o raio não é
cortado pelo raio , situado no mesmo plano, mas é cortado por qualquer outro raio
compreendido no ângulo ̂ , diremos que o raio é paralelo ao raio ; cuja notação é
dada por ”. Claramente vemos, na Figura 48, que a definição de paralelas dada por
Janos Bolyai não implica equidistância entre os raios paralelos e, nestas condições, podemos
imaginar o raio como sendo assintótico a , sem deixar de ser paralelo.
97
Segundo Bonola (1912, p.101), tendo como base as propriedades das paralelas
definidas por ele, Bolyai desenvolve uma série de teoremas para a nova geometria, todos
independentes do Quinto Postulado.
A seguir mencionamos os resultados mais importantes relativos ao trabalho de Janos
Bolyai, a saber:
a) Definição de paralelas e suas propriedades, independentes do Quinto Postulado.
b) Círculo e esfera de raio infinito e suas propriedades independentes do postulado
euclidiano.
c) A trigonometria esférica é independente do postulado de Euclides. (demonstração
direta de fórmulas).
d) A trigonometria plana no caso não euclidiano. Aplicações relativas ao cálculo de
áreas e volumes.
e) Problemas que podem ser resolvidos elementarmente. Construção de um
quadrado equivalente a um círculo, na hipótese da falsidade do Quinto Postulado.
Um desses resultados se refere aos lados de um triângulo. BOLYAI (1832, p. 21).
“Em qualquer triângulo esférico, os senos dos lados são como os senos dos ângulos opostos”.
Através da hipótese do ângulo agudo (HAA), Bolyai desenvolve uma teoria que parte
das fórmulas da trigonometria plana para construir outra versão de trigonométrica que
depende de um parâmetro que correspondia a uma geometria imaginária.
98
Uma cópia deste trabalho foi enviada ao eminente matemático Gauss. Eis um trecho
da carta resposta de Gauss para Farkas:
Se eu começar por dizer que sou incapaz de elogiar este trabalho, certamente se
surpreenderá por um momento. Mas não posso dizer outra coisa. Elogiá-lo, seria
elogiar-me a mim próprio. Sem dúvida o conteúdo da obra, o caminho seguido pelo
seu filho, os resultados a que foi conduzido coincidem quase completamente com as
minhas reflexões, que ocuparam em parte o meu espírito durante os últimos trinta ou
trinta cinco anos. Por isso fiquei completamente estupefato. No que diz respeito ao
meu trabalho, do qual pouco até agora escrevi, a minha intenção era não publicar
durante a minha vida. A maioria das pessoas não tem certamente ideias claras sobre
as questões de que estamos falando, e tenho encontrado poucas pessoas que
olhassem com especial interesse o que lhes comuniquei sobre este assunto. Para ser
capaz de ter esse interesse é necessário em primeiro lugar ter pensado
cuidadosamente sobre a natureza do que se pretende e sobre esta matéria quase todos
estão inseguros. Por outro lado era minha ideia escrever tudo isto mais tarde de
modo a que pelo menos não morresse comigo. Por isso é uma agradável surpresa
para mim ter sido libertado dessa preocupação, e estou muito contente que seja o
filho do meu velho amigo que toma precedência sobre mim de modo tão notável
(VELOSO, 1998, p.350).
8Filósofo alemão do século XVIII, pensador do período moderno da filosofia defendia a geometria euclidiana.
99
Segundo Veloso (1998, p.351), em 1823 já via a possiblidade da existência de uma geometria
imaginária. Em 1826 apresentou seu trabalho em uma palestra na Universidade de Kazan.
Entre 1823 e 1825, Lobachevsky havia voltado sua atenção para uma geometria
independente da hipótese de Euclides. O primeiro fruto de seus novos estudos é a
Exposition succincte des príncipes de la géométrie avec une démonstration
rigoureuse du théoreme des paralleles lida em fevereiro de 1826, para a Seção de
Física Matemática da Universidade de Kasan.[...]Lobachevsky explica os princípios
da geometria, em que duas paralelas a uma reta dada podem ser traçadas por um
ponto, e a soma dos ângulos de um triangulo é menor que dois ângulos retos.(a
hipótese do ângulo agudo de Saccheri e Lambert) (BONOLA, 1912, p.85-86.
tradução nossa).
Seu primeiro artigo sobre geometria não euclidiana foi publicado em 1829 e 1830 no
Kasan Bulletin, dois ou três anos antes de o trabalho de Bolyai aparecer impresso.
Essa memória mereceu muito pouca atenção na Rússia e, por ter sido escrita em
russo, praticamente nenhuma em outros lugares (EVES, 2005, p.543).
Entre os anos de 1826 e 1829, já tinha plena convicção de que o Quinto Postulado
não poderia ser deduzido com base nos outros. Segundo Bonola (1912, p.85), a partir de 1829
Lobachevsky publicou uma série de trabalhos que dariam sustentação à sua descoberta,
conforme cronologia observada no Quadro 1, abaixo.
Publicação Período
Sobre os Princípios da Geometria 1829 e 1830
A Geometria Imaginária 1835
Novos Princípios da Geometria 1835-188
As Aplicações da Geometria Imaginária e 1836
Alguns Integrais
Geometria Imaginária 1837
Investigações Geométricas sobre a Teoria das 1840
Paralelas
Quadro 1: Cronologia de trabalhos publicados de Lobachevsky
Fonte: Elaboração do autor.
singularidade do problema das paralelas. Isto é: “Por um ponto fora de uma reta , podem
ser traçadas pelo menos duas retas paralelas à reta ”.
Na geometria, encontro certas imperfeições que considero a razão por que essa
ciência, além da transição para a analítica, ainda pode não avançar do estado em que
nos chegou de Euclides. Como pertencente a essas imperfeições, considero a
obscuridade nos conceitos fundamentais das magnitudes geométricas e na maneira e
método de representar a medição dessas magnitudes e, finalmente, a importante
lacuna na teoria dos paralelos, para preencher todos os esforços dos matemáticos até
agora em vão. Para essa teoria, os esforços de Legendre não fizeram nada, pois ele
foi forçado a deixar a única maneira rígida de se transformar em um caminho lateral
e tomar refúgio em teoremas auxiliares que ele se esforçou ilogicamente para exibir
como axiomas necessários. Meu primeiro ensaio sobre os fundamentos da geometria
publicado no Kasan Messenger para o ano de 1829. Na esperança de satisfazer todos
os requisitos, empreendi um tratamento de toda essa ciência e publiquei meu
trabalho em partes separadas no "Gelehrten Schriften der Universitcet Kasan" para
os anos de 1836, 1837, 1838, sob o título "Novos elementos da geometria, com uma
teoria completa dos paralelos". A extensão desse trabalho talvez tenha impedido os
homens do meu país de seguir esse assunto, que desde Legendre havia perdido o
interesse. No entanto, sou da opinião de que a Teoria dos Paralelos não deve perder
sua reivindicação à atenção dos geômetras, e, portanto, pretendo dar aqui a
substância de minhas investigações, observando de antemão que, ao contrário da
opinião de Legendre, todas as outras imperfeições - por exemplo, a definição de uma
linha reta - mostra-se estranha aqui e sem nenhuma influência real sobre a teoria dos
paralelos. (Lobachevski, 1840, p. 11, tradução nossa).
vez não tocam em [...] Essas linhas retas, que Lobachevski chama de paralelas,
cada uma tem certa direção de paralelismo: a linha da figura corresponde à direção
à direita, a k à direção à esquerda. O ângulo formado por perpendicular com um
dos paralelos é o ângulo de paralelismo correspondente à distância . Lobachevski
usa o símbolo para indicar o ângulo de paralelismo correspondente à distância
a. Na geometria comum, existe constantemente: ; em Lobachevski
é uma função bem definida de , que tende a quando tende a zero, que
tende a zero quando tende ao infinito (Bonola, 1912, p. 87, tradução nossa).
Figura 51: Na definição de paralelas de Lobachevski, AF é secante à linha DC, AG é não secante à linha DC e
AH é paralela à linha DC.
Fonte: Lobačevskiĭ (1840).
Na Figura 51, segundo Lobachevski (1840, p.13), “Todas as linhas retas que em um
plano partem de um ponto podem, com referência a uma determinada linha reta no mesmo
plano, ser dividido em duas classes - em secantes e não secantes” (tradução nossa).
- Em um triângulo retilíneo a soma dos três ângulos não pode ser maior que dois ângulos
retos.
– Se em qualquer triângulo retilíneo a soma dos três ângulos é igual a dois ângulos retos,
o mesmo acontece com todos os outros triângulos.
– A partir de um determinado ponto, sempre podemos traçar uma linha reta que deve
fazer com uma determinada linha reta um ângulo, o menor de nossa escolha.
– Para cada ângulo dado, podemos encontrar uma linha de modo que .
- Quanto mais duas linhas retas paralelas são prolongadas do lado do paralelismo, mais
elas se aproximarão uma da outra.
– Horocírculo (ou Horociclo) é a curva sobre um plano para a qual todas as
perpendiculares erguidas nos pontos médios das cordas são paralelas entre si.
Nesta etapa do trabalho, optamos por fazer uma exposição didática, em que usamos
detalhes de Transposição Didática, para desenvolver alguns resultados da Geometria
Hiperbólica em razão da mesma não ser óbvia. A partir do axioma hiperbólico desenvolvemos
alguns resultados que achamos importantes para uma primeira exposição da teoria desta
Geometria. Tomamos como referência artigos, dissertações e teses, que referenciamos como
apoio à exposição. Os resultados aqui foram apresentados nas oficinas e têm como base os
trabalhos de Terdman (1989), Greenberg (1994), Heim (2013) e Arcari (2008).
106
Fazendo temos:
̂
̂
̂
̂
: ̂ ̂ ̂ ̂
: ̂ ̂ ̂ ̂
⏟ ⏟ ̂ ̂
̂ ̂
Ou seja:
̂ ̂ ̂ ̂
Se esta série for desenvolvida em torno do ponto ela também é conhecida por
serie de Maclaurin.
.......................................................
.......................................................
9
Brook Taylor (1685-1731) matemático inglês.
10
Colin Maclaurin (1698-1746) matemático escocês.
110
Ou seja:
Resolução:
.......................................................
{
.......................................................
Nestas condições, a expansão é dada da seguinte forma:
Resolução:
......................................................................................
Nestas condições, a expansão é dada da seguinte forma:
∑
4) Desenvolva a em torno do ponto .
Resolução:
........................................................................................
Nestas condições, a expansão é dada da seguinte forma:
=∑
112
∑
a)
b)
c)
d) ,
e) ,
f) ,
g) ,
113
h) ,
De fato, introduzindo o número imaginário √ , vemos que:
Demonstração a)
∑ ∑ ∑
∑ =∑ ∑ =
ou .
Demonstração b)
( )
∑ ∑ ∑ ∑
Logo,
Demonstração c)
Segundo Greenberg (1994), o nome "funções hiperbólicas" deriva da identidade que
queremos demonstrar. Por definição sabemos que:
( )
( )
Então,
Demonstração d)
Demonstração e)
( ) ( )
Demonstração f)
Demonstração g)
Demonstração h)
115
As demonstrações de , , e
podem ser encontradas em Arcari (2008), Santos (2014), Nascimento (2015) e Alves (2016).
a contradição de um sistema, ou seja, demonstrar sua não contradição é uma operação muito
mais complicada.
Uma saída possível seria a transformação de um modelo de Geometria Não
Euclidiana em um modelo de Geometria Euclidiana. Ou seja, encontrar uma correspondência
entre as duas geometrias para as quais cada ente hiperbólico corresponde a um ente
euclidiano, isto é, para cada postulado da Geometria Hiperbólica corresponde um verdadeiro
postulado da Geometria Euclidiana, e os teoremas da Geometria Hiperbólica correspondem a
teoremas da Geometria Euclidiana e assim validando a Geometria Hiperbólica.
Nestas condições, a criação de um modelo permitiria, em primeiro lugar, que a
Geometria Hiperbólica fosse enxergada ou representada em um plano euclidiano, como
também no espaço. Permitem-nos relacionar as duas geometrias, demonstrando assim que, se
a Geometria Hiperbólica é contraditória a Geometria Euclidiana também o seria. Vale
observar que, neste sentido, o modelo criado não prova ser absolutamente não contraditório,
mas é amplamente aceita sua natureza não contraditória em relação à Geometria Euclidiana, e
o resultado ainda satisfaz o objetivo esperado.
O mais famoso desses modelos leva o nome de Disco de Poincaré, em homenagem
ao matemático francês e físico teórico Henri Poincaré (1854-1912). O Disco de Poincaré é um
círculo do centro e raio , é considerado no Plano Euclidiano onde o espaço admitido é
aquele definido a partir da região convexa limitada por uma circunferência cuja região
denominamos de Disco. Os pontos internos desta circunferência são denominados pontos do
Plano Hiperbólico; os pontos que pertencem à circunferência denominamos pontos ideais, ou
horizonte hiperbólico. Os arcos de circunferência ortogonais ao Disco são as retas
hiperbólicas ou geodésicas.
Vale observar que a definição de Plano Hiperbólico satisfaz os quatro primeiros
Axiomas de Euclides e contradiz o quinto. Nesse contexto, Poincaré construiu um modelo
geométrico em que por um ponto P do círculo exterior a uma reta passam infinitas retas
paralelas a como também que a soma dos ângulos internos de um triângulo é sempre menor
do que graus.
118
Outro modelo foi proposto por Felix Klein (1849-1925), também conhecido como
Plano de Lobachevsky, que consiste na região limitada por uma circunferência, ou seja, um
círculo do centro e raio . Neste modelo os pontos são aqueles internos à circunferência e
as geodésias ou retas são definidas como cordas da mesma. Claramente temos que dados dois
pontos distintos de um círculo, estes determinam uma única corda, ou reta, e, desta forma,
temos que dois pontos distintos neste plano determinam uma única reta hiperbólica.
Sabemos que duas cordas distintas se interceptam, no máximo, em um ponto interior
do círculo, portanto temos que duas retas hiperbólicas (geodésias) se interceptam no máximo
em um ponto. Neste modelo vemos infinitas retas paralelas a uma dada reta passando por um
dado ponto.
[...] Felix Klein foi um eminente geômetra que publicou em 1871 dois artigos sobre
a chamada Geometria Não Euclidiana, onde introduziu um modelo completo para a
Geometria Hiperbólica (Modelo do Disco de Klein) e dois modelos para a
Geometria Elíptica (Modelo do Disco Fechado e Modelo Duplo da Esfera). Talvez o
trabalho mais conhecido de Klein seja o estudo das propriedades do espaço que são
invariantes por um dado grupo de transformações, trabalho este conhecido como
“Erlanger Programm”, de 1872, e que influenciou profundamente o
desenvolvimento da geometria no século XX. Por fim, cabe ressaltar que os termos
“hiperbólica” e “elíptica” para as duas Geometrias Não Euclidianas homogêneas
foram introduzidos por Klein. [...] (ARCARI, 2012, p.11)
119
Figura 63: O Plano de Klein – As retas e no Plano Figura 64: , e são retas paralelas à reta
de Klein passando pelo ponto no Plano de Klein
Fonte: Elaboração do autor. Fonte: Elaboração do autor.
Figura 65: Curva tractriz - Modelo de Figura 66: Modelo de Beltrami – Figura 67: Pseudoesfera
Beltrami Pseudoesfera Fonte: Arcari (2008, p.45).
Fonte: (SEARADACIENCIA, 2019, Fonte: Geometria Hiperbólica (2016,
p.1). p.1).
120
O matemático alemão George F. B. Riemann (1826 -1866) (Ver Figura 68), segundo
Eves (2004, p. 613-614), nasceu numa aldeia de Hanover na Alemanha no seio de uma
família humilde cujo pai era luterano. De modos tímidos e saúde frágil, recebeu uma boa
educação, tendo estudado na Universidade de Berlim e depois em Göttingen onde obteve o
grau de Doutor. Sua tese abordava o campo da teoria das funções complexas e nela
encontramos as condições de Cauchy-Riemann e o conceito de superfície de Riemann.
Riemann, então, revolucionou, mais uma vez, a concepção de retas, retas paralelas,
planos e triângulos. Para construir sua geometria, fez uso da primeira hipótese, não
122
Definição : Corda é segmento euclidiano que une dois pontos distintos de uma
reta máxima definida sobre uma esfera. E diâmetro é a corda que passa pela origem.
Claramente vemos na Figura 89, que pelo ponto passam tantas retas máximas
quanto se queira e pelos pontos e distintos na Superfície Esférica passa apenas uma
linha reta máxima. A partir das figuras, vemos também que todas as retas máximas sempre se
cruzam em dois pontos, o que indica a inexistência de paralelas. Vemos então que trabalhando
130
a hipótese do ângulo obtuso (HAO), que induz a reta ser finita, Riemann constrói a Geometria
Elíptica, que tem como caso particular a Geometria Esférica.
̂ ̂ ̂ ̂
̂ ̂ ̂ ̂
⏟ ̂ ⏟ ̂
̂ ̂
O que se configura uma contradição, uma vez que, por definição a soma dos ângulos
internos de retângulo é . Logo não existe retângulo na Geometria Esférica.
O que conclui a demonstração.
131
Demonstração:
Consideremos a esfera de centro e raio gerada pela rotação em torno do
da função definida pelo semicírculo √ .
Visualização geométrica do problema:
Nestas condições
Resolvendo a inequação temos:
{ {
Ou seja:
Nestas condições:
∫ ∫ *√ +
∫ ( | )
√ √
∫ √ ∫ √ √
√
∫ √ √ ∫ √
√
∫ ( | )
( )
O que conclui a demonstração.
Caso 1:
.
Caso 2
. Tomemos .
:
∫ √ ∫ √ √
√
∫ √ √ ∫ √
√
∫ ( | )
.
O que conclui a demonstração.
Demonstração:
̂ ̂ ̂
̂ ̂ ̂
isso tomemos os três vértices equidistantes e bem próximos da circunferência máxima que
separa um hemisfério do outro que o contém. Isso implica que a área do triângulo se aproxima
da área do hemisfério, ou seja, tende para , metade da área da superfície esférica,
no entanto a soma tende para 3π, embora não assuma tal valor.
O que conclui a demonstração.
Lado ̂ ̂
Lado ̂ ̂
Se ou o teorema se verifica.
Consideremos o Ângulo Triedro . Seja o maior lado.
Sobre tomemos um ponto , sobre tomemos um ponto e Sobre um ponto
, de modo que . Sobre tome um ponto de modo que .
Unindo e a obtemos o triângulo no qual , uma vez que os
triângulos e , pelo caso LAL, são congruentes.
Pela desigualdade da Geometria Plana, temos:
138
̂ ̂ ̂
As demonstrações de e podem ser encontradas em Silva
(2015).
A construção da estrutura da pesquisa envolvendo as Geometrias Não Euclidianas,
Hiperbólicas e Esféricas é um referencial construído que visa focar e vincular a base teórica
que vai ser engrandecida pela metodologia de pesquisa, a TAD, que dá apoio teórico aos
objetivos desta pesquisa.
139
11A noosfera é o centro operacional do processo de transposição, que se traduzem em fatos a resposta ao
desequilíbrio criado e testado (expressa por matemáticos, os pais, os próprios professores).
143
didático”. O que basicamente representa nosso objetivo neste trabalho, uma vez que, após a
Revolução Não-Euclidiana no século XIX, a visão acerca da Geometria se dinamizou.
Assim, queremos tornar significativo, na formação do professor em Matemática, o
objeto desta pesquisa, que é essencial na formação deste profissional.
A segunda noção fundamental é a noção de Relação Pessoal , que, segundo
Chevallard (1999, p.1), representa todas as interações que o individuo tem com o objeto
. Através da relação , é construído um contexto interativo entre o indivíduo eo
objeto da pesquisa. Neste caso, o indivíduo cria a necessidade de relacionar-se com o
objeto , ou seja, é criado um contexto em que o objeto existe se a relação pessoal entre
o indivíduo e o objeto é não vazia, simbolicamente, .
A terceira noção fundamental é a de Pessoa, que, segundo Chevallard (1999, p.1), é
um par formado pelo indivíduo e o sistema de relações pessoais , indicado por
( ) Nesse contexto, a partir das interações do sujeito com o objeto de
estudo, é alterado o contexto da pessoa que muda à proporção que aprende. O que Chevallard
(1999) comenta nessa citação:
A palavra pessoa, tal como aqui utilizado, não deve nos enganar: todo
mundo é uma pessoa, incluindo uma criança muito jovem, o bebê
(etimologicamente, aquele que não fala). Bem entendido, num pequeno
curso de tempo o sistema de relações pessoais de evolui; um objeto que
não existe para ele passa a existir, enquanto outros deixam de existir; para
outros fins a relação pessoal de muda. Nesta evolução, o invariante é o
indivíduo, o que muda é a pessoa [...] (CHEVALLARD, 1999, p.1).
caso, a instituição é representada pelo MEC, pelas Universidades e pelos Institutos; pelas Pró-
Reitoras de Ensino, Diretorias de Ensino, por Departamentos Acadêmicos e Coordenações
Acadêmicas responsáveis pela estrutura, oferta e execução do Curso de Licenciatura em
Matemática e pelas salas de aula, micro instituições em que professor e aluno são os
elementos indispensáveis.
A estrutura da pesquisa, a partir da TAD, conduz à construção de práticas e
entendimentos que definem uma praxeologia. Nesse contexto, quando uma pessoa entra em
uma instituição , define um processo em que sua relação pessoal com o objeto se existe
em se estabelece, caso não existia para , e se modifica caso ela já exista para .
Nossa investigação visa criar as condições de inserção da Geometria Não Euclidiana
como disciplina na formação do Professor de Matemática. Para atingir nosso objetivo,
procuramos mostrar que, após a Revolução Não Euclidiana proporcionada por Gauss, Bolyai
e Lobachevski no século XIX, a ciência não foi mais a mesma. Se, por um lado, a Geometria
Euclidiana se encaixava perfeitamente na Teoria de Newton, por outro, não satisfazia a Teoria
da Relatividade de Einstein, que defende que o espaço tempo é encurvado pela matéria.
Nesse contexto, o Universo Cognitivo deve ser alterado, uma vez que o futuro
Professor de Matemática, ainda sujeito nesse processo, vem a conhecer a teoria da
Geometria Não Euclidiana, objeto dentro de sua formação acadêmica, criando uma
relação pessoal entre o indivíduo e o objeto . Ou seja, essa relação é fruto de um
assujeitamento do sujeito ao novo conhecimento, que, adequado a esse assujeitamento,
induz o sujeito, após a formação, a tornar-se uma pessoa ( ), o que pode ser
entendido como o Licenciado em Matemática, contemplado com a disciplina cujo conteúdo é
da Geometria Não-Euclidiana adicionada à sua formação.
Pelo que vimos até agora, a TAD é uma teoria que destaca o indivíduo que trabalha
um objeto de estudo, define sua relação pessoal e em seguida uma pessoa como um indivíduo
que adquire algum conhecimento, para então ser transferida para instituições.
Nesse contexto, a partir de um objeto , uma instituição e uma posição em ,
define-se a relação institucional ao objeto na posição , indicada por como
sendo a relação do objeto que deve se alinhar perfeitamente com os sujeitos da instituição na
posição . Nesse contexto, segundo Chevallard (1999, p.2), é um bom sujeito de na
posição , desde que a sua relação pessoal com o objeto esteja em conformidade com a
relação institucional, indicada por em que o símbolo indica essa
145
pessoa. Ou seja, em razão de o sujeito não estar submetido ao processo de ensino, não há
possibilidade de se transformar em uma pessoa. E a esse respeito, Chevallard (1999, p.3)
comenta: “a desintegração da pessoa é o prelúdio para a morte social, e talvez biológica, do
individuo”.
Dentro da estrutura da TAD, o que transforma o sujeito em pessoa em uma
instituição é o conjunto de experiências adquiridas a partir dos primeiros assujeitamentos que
se constituem base para os outros. Esses assujeitamentos avançam com as necessidades que o
indivíduo tem de aprender, ou então de explicar um assunto ou uma técnica. De certo que,
com a continuidade desses assujeitamentos, o sujeito se coloca disponível para o processo de
ensino, e sobre isso Chevallard acrescenta:
Logo,
Desse modo, a relação institucional (essa relação depende da posição que a pessoa
ocupa em I: estudante ou professor – podemos então falar de um bom ou mal sujeito de uma
instituição no que tange a essa restrição), tem como obrigação mostrar o que acontece dentro
de uma instituição com o objeto .
Considerando nosso objeto de estudo, a relação institucional tende a expressar a
necessidade de reconhecermos algum conteúdo, relativo à Geometria Não Euclidiana, na
formação do professor de Matemática, para então propor sua inserção na formação do
licenciado. Nesse contexto, cada um dos sujeitos da instituição em uma determinada posição
possui uma relação institucional com o objeto denotada por .
Em si, a relação institucional é um sistema de significados que abrangem condições e
restrições que evoluem até a relação pessoal de um indivíduo com o objeto , quando
este se torna sujeito da instituição . Convém observar que a relação institucional depende
da posição que a pessoa ocupa em , neste caso, o acadêmico do curso de Licenciatura em
Matemática, o futuro professor. Isso reforça a imposição de definirmos o bom ou o mal
sujeito de uma instituição no que concerne a essa restrição.
A partir de um objeto , objeto institucional de , a relação institucional do objeto
em , dada por é caracterizada pela imposição sobre quando atua sobre
ou então se torna sujeito de . Podemos entender que a aprendizagem é uma mudança da
relação pessoal do indivíduo com determinado objeto CHEVALLARD (1999). Isto é,
a partir do processo de ensino, o sujeito passa a ter intimidade, neste caso, com conteúdo
de saber da Geometria Não Euclidiana.
Segundo Bosch e Chevallard (1999), a preocupação da relação do indivíduo com
o objeto de saber estrutura um planejamento didático para a construção do ensino e,
consequentemente, a obtenção da aprendizagem de um conhecimento. Essa relação do
indivíduo com o objeto estrutura um campo antropológico. Nesse contexto, Bosch e
Chevallard argumentam:
148
A TAD foi inicialmente construída como uma teoria que tem por objetivo trabalhar
os problemas relativos à apresentação de conhecimentos e de saberes matemáticos e suas
especificidades, com o intuito de encontrar a melhor forma de ensiná-los, (CHEVALLARD,
1999).
Essa teoria busca desenvolver a noção de organização praxeológica ou praxeologia e
acrescenta-a às noções de tarefa, técnica, tecnologia e teoria, as quais modelam atividades
matemáticas e, consequentemente buscam associá-las às práticas sociais (CHEVALLARD,
1999).
Segundo Chevallard (1999, p.4-5), a TAD estuda um conjunto de atividades próprias
de uma instituição em que um sujeito vinculado a esta instituição na posição participa
de suas atividades que são reguladas por praxeologias, cujos sujeitos são os implementadores
destas práticas.
Nesse contexto, o conceito de praxeologia é o âmago da TAD. Pois, segundo
Chevallard (1999, p.5), qualquer ação humana pode ser estudada em um sistema de
praxeologia. Dessa forma, constitui-se da generalização das noções do saber e do saber fazer,
uma vez que identifica e diferencia o saber de um saber fazer, sem julgamento a priori ou a
posteriori.
149
Segundo Chevallard, (1998, p.1), “O ponto crucial a esse respeito, cujas implicações
descobrimos gradualmente, é que a TAD situa a atividade matemática e, portanto, a atividade
150
[...] a ecologia das tarefas e técnicas são as condições e necessidades que permitem a
produção e utilização destas nas instituições e a gente supõe que, para poder existir
151
em uma instituição, uma técnica deve ser compreensível, legível e justificada [...]
essa necessidade ecológica implica na existência de um discurso descritivo e
justificado das tarefas e técnicas que a gente chama de tecnologia da técnica. O
postulado anunciado implica também que toda tecnologia tem necessidade de uma
justificativa que a gente chama teoria da técnica e que constitui o fundamento último
[...] (BOSCH; CHEVALLARD, 1999, p. 85-86).
objetivo a construção de uma instituição (classe ou sala de aula) de ensino, cujo intuito é
minimizar ou mesmo eliminar as dificuldades de aprendizagem, principalmente quando o
assunto é o ensino da matemática.
A construção de uma Organização Matemática (OM), sistema educacional, é
inspirada por uma intenção didática. Uma intenção que faz uma pessoa ou uma instituição se
arvorar de seu Equipamento Praxeológico (EP), conjunto de praxeologias que a pessoa
dispõe, para assim buscar evidenciar seu objetivo que é a questão didática de criar
instrumentos para o ensino e assim obter a aprendizagem.
Um exemplo desta ocorrência em nosso trabalho se deu quando em uma de nossas
OPMs apresentamos os modelos Hiperbólicos de Klein e Poincaré. Alguns alunos
apresentaram dificuldades no entendimento desses modelos. Para esses alunos desenvolverem
uma geometria consistente quanto à Geometria Euclidiana, dentro de um círculo, como os
planos propostos por Klein e Poincaré, era difícil de enxergar.
Desse modo, optamos por trabalhar com materiais, como círculos (um bambolê), nos
quais definimos os planos de Klein e Poincaré e suas particularidades e com um barbante
mostramos o que seria entendido como reta em cada um desses planos e os efeitos do Quinto
Postulado, acrescentando essa estrutura ao Equipamento Praxeológico desses alunos. Ou seja,
foi construída uma Organização Matemática (OM), cuja intenção didática foi o ensino da
Geometria Não Euclidiana, e diminuir a distância para a aprendizagem desse conhecimento.
Em seguida, foi mostrado que na Geometria Hiperbólica não existem retângulos e
que a soma dos ângulos internos de um triângulo qualquer é menor que .
Então, a TAD, por considerar a matemática uma atividade humana, que organiza
seres humanos na busca de resultados para efetivar uma organização praxeológica, que
culmina nas organizações de instituições que modelam suas ações através do desenvolvimento
de atividades (praxeologias), cujo objetivo é expressar o resultado de conformidade ou de não
conformidade, relativos ao objeto de pesquisa em uma instituição , se enquadra
perfeitamente na escala de (co)-determinação. É o que confirma Chevallard (1999), ao
explicitar que, “o conceito de praxeologia é o cerne da TAD”.
Esse contexto pode ser aplicado a qualquer tipo de atividade ou grupo de atividades
em que possamos definir uma tarefa ou grupo de tarefas, que possam ser executadas com base
nos conhecimentos que as justificam. Visto que, a TAD admite que toda atividade humana
realizada pode ser descrita por modelo identificado como uma praxeologia.
153
Por conseguinte, temos que em torno de um tipo de tarefa existe uma técnica ,
uma tecnologia e uma teoria , que quando juntas formam uma praxeologia completa
. Tal praxeologia quando é formada a partir de uma única tarefa recebe o nome de
Praxeologia Pontual que raramente encontramos. Ocorre que em uma instituição , uma teoria
dá base a várias tecnologias , e cada uma destas tecnologias justifica e efetiva várias
técnicas , que por sua vez correspondem à base das tarefas .
Sendo assim, a união de praxeologias pontuais formam praxeologias locais
, tomando por base uma determinada tecnologia que é justificada por uma
mesma teoria . Como consequência, quando tomamos por base uma determinada teoria ,
obtemos uma praxeologia regional .
Já uma Praxeologia Global é aquela resultante da composição de vários elementos
praxeológicos , obtidos em uma instituição pela união de várias
praxeologias regionais, correspondendo às diversas teorias . Nestas condições, a tecnologia
é o elemento que se destaca na passagem de uma praxeologia pontual para uma
praxeologia local , assim como a teoria na passagem da praxeologia local para
a regional . Em ambos os casos o bloco saber se destaca, em detrimento do
saber fazer. Possivelmente um desiquilíbrio qualquer não é esperado ou mesmo justificado
devido ao fato de em ambos os casos o tipo de tarefa preceder geneticamente do bloco
, que se constitui num meio de justificar uma técnica apropriada à tarefa , restando
somente estruturar o saber que permite implantar a técnica para a tarefa dada. Por
esta razão, o saber fazer poderá ser classicamente apresentado no texto do saber como
uma simples aplicação do saber . Como declara Chevallard (2002):
então extrair, reconstruindo com a ajuda de seus colegas de estudos sob a orientação
do professor (ou por conta própria), as organizações pontuais sobre as quais seu
domínio será majoritariamente avaliado. O professor, por sua vez, deve gerenciar um
fenômeno análogo, mas em um nível superior: a organização local
correspondente ao tema de estudos deve ser extraída de uma organização mais
vasta, que diremos regional, e que podemos olhar formalmente como o fruto do
amálgama de organizações locais admitindo a mesma teoria ,
. Este nível, o de setor de estudos, não é de modo algum terminal.
Constatamos, de fato, em geral, a existência de níveis superiores de determinação
(de uma organização) matemática: o amálgama de várias organizações regionais
conduz, assim, a uma organização global,
identificável a um domínio de estudos; e o conjunto desses domínios é amalgamado
em uma disciplina comum – para nós “a matemática”. [...] (CHEVALLARD, 2002,
p. 42).
[...] para a Teoria Antropológica do Didático, uma tarefa só tem significado para o
estudo se ela possuir uma legitimidade social, no sentido de se constituir em uma
questão proposta pela sociedade para ser estudada na escola, uma legitimidade
matemática, por demandar questões intra-matemática, isto é, que fazem parte do
programa do conteúdo matemático e, não menos importante, possuir uma
legitimidade funcional que se traduz por questões que levam a algum lugar, isto é, se
a tarefa está conectada com outras questões estudadas na escola. [...] Sob esse olhar,
as praxeologias didáticas ou organizações didáticas são as respostas às questões de
como estudar, ou seja, de como organizar e articular um determinado tema com
outros segundo uma intencionalidade que dê razão ao estudo, portanto, as
praxeologias não são criações da natureza, mas “artefatos”, ou “obras”, construídas
pelo homem para ajuda ao estudo que são corporificadas nos documentos oficiais,
155
nos livros didáticos, em uma sala de aula, nos cadernos dos estudantes, etc.[...]
(ANDRADE; GUERRA, 2014, p.1203)
Tarefas, tipo de tarefas e gênero de tarefas não são dados da natureza: são artefatos,
obras, construções institucionais, cuja reconstrução em tal instituição, por exemplo,
em uma didática[...] (CHEVALLARD, 1999, p.3).
contextualizadas. Ou seja, a teoria absorvida constrói uma base, não só para a disciplina
estudada e seus respectivos exercícios e problemas, como também colabora com a
consolidação da experiência adquirida com a prática, que amplia a visão para outros campos
do conhecimento.
No decorrer da exposição, fica claro que vão existir questões cuja dificuldade
imposta pelo bloco prático-técnico irá superar a experiência adquirida pelo aluno, no que se
refere à exposição da teoria estudada até então, o que seria uma etapa do bloco tecnológico-
teórico. Nestas condições, o dispositivo didático entra com a experiência do professor, o
coordenador da pesquisa, que funciona como um Diretor de Estudo, e seu trabalho é dar
sustentação teórica ao trabalho do aluno, um reforço, que amplie a visão, possibilitando-lhe
dar maior importância ao trabalho da técnica para a criação de novos objetos matemáticos.
No nosso trabalho de pesquisa, atuamos de forma a criar condições de ensino para o
tema que desenvolvemos. O conjunto de teorias apresentadas formulam condições de
adaptação às diferentes espécies de problemas e exercícios que se apresentam.
A prática de resolução de exercícios e problemas desenvolvem praxeologias que dão
sustentabilidade e condições de entendimento do contexto teórico. Depois, esperamos que,
por si próprio, o aluno vá mais adiante, com a capacidade de desenvolver outras praxeologias.
Vale ressaltar que
Devemos chamar a atenção que até agora as OPMs possuem a mesma estrutura de
trabalho. Sua organização diz respeito à exposição de teoria, exercícios e problemas
resolvidos cujos temas se interligam, mas mantêm independência em relação à forma da
prática de resolução entre elas. A cada encontro partimos de uma pontual concreta que
tem o objetivo de construir conteúdo a partir do contexto teórico e do trabalho da técnica, em
que os elementos de cada uma das locais a incluem.
As pontuais das diferentes sessões estão relacionadas entre si no sentido de que
podem ser articuladas na mesma local ou regional. A explicação dessa possível
construção mais ampla pode constituir o objetivo final da oficina, ou seja, permanecer
implícita, deixando claro que o objetivo de cada sessão é dar, de início, certa autonomia ao
trabalho, para então posteriormente ser tomada como base em outros processos de estudo.
162
adquiram autonomia e assim possam resolver com facilidade os primeiros problemas que
surgirem. Caso a técnica, até então conhecida, não dê conta de resolver outra situação,
devemos buscar o seu aprimoramento, de forma a seguir na direção da criação de novas
que possibilitem a autonomia. Como mencionado na citação a seguir, que:
A técnica comece a mostrar suas limitações e com isso exige aprimoramentos que
conduzem a adaptação ou variação de acordo coma evolução da teoria e dos
problemas. Os diferentes espécimes de problemas propostos estão, assim, causando
o desenvolvimento da técnica e a incorporação de novos ingredientes técnicos e
tecnológicos a OM inicial. [...] (BOSCH; GASCÓN, 2007, p.24).
Para isso, é importante que os alunos tenham algum meio de validação para o uso da
técnica, isto é, possam avaliar se o problema considerado foi convenientemente resolvido ou
não. Com o passar do tempo ou com as experiências adquiridas, os próprios alunos podem ser
capazes de assumir os vários tipos de técnicas necessárias e, nestas condições, continuar o
estudo a ponto de sugerir maneiras diferentes das iniciais para o uso e, consequentemente,
melhorar seu desempenho.
Em outras ocasiões cabe ao professor sugerir ou apresentar novos elementos
praxeológicos, que devem ser considerados. Assim, a dinâmica de trabalho inserida é
diferenciada da outra ou da inicial e da complexidade da técnica inicial, podendo o
professor assumir diferentes formas de avaliar o progresso dos alunos. Uma delas seria
cronometrar o exercício, estipular um tempo, para verificar a rapidez com que desempenha as
possíveis soluções voltadas ao objeto de estudo. Também o professor pode solicitar um amplo
relatório das atividades da oficina com exemplos das práticas e com isso medir as condições
dos alunos envolvidos, quando explicam o trabalho desenvolvido e os resultados obtidos em
cada sessão, reconstruindo assim uma possível relação entre as diferentes sessões do trabalho
nas oficinas.
Devemos esclarecer que o contexto teórico do trabalho foi apresentado durante os
encontros. Isto está bem documentado desde o Capítulo 1, no qual delineamos a história e
parte da teoria que usamos nas oficinas. As oficinas se registram através de problemas e
exercícios que procuramos organizar em caráter progressivo. Isto é, começamos com
exercícios fáceis e, com o passar do tempo, acrescentamos mais teorias, como também outras
práticas.
Desse modo, destacamos e vivenciamos diferentes tipos de OPM, mesmo assim,
outras variações ocorrem e são fundamentais; podem ser resumidas nas seguintes
observações, enumeradas abaixo, segundo Bosch e Gascón (2010).
164
Nestas condições, temos que o trabalho da OPM estimula e tem a função de tornar
responsável o aluno. Este, por sua vez, torna-se um especialista, devido à técnica usada ou
OM por ele trabalhada. Mas, não devemos esquecer o que está em jogo aqui: a formação do
professor de Matemática, que, a nosso ver, é deficitária, em relação ao contexto não
euclidiano; hiperbólico e esférico. Em particular, a formação do professor está associada à
reflexão e sua tomada de decisão, conforme a consciência, visto que:
(principalmente no trabalho de técnica e avaliação) que, no habitual contrato didático, não são
geridos em sala de aula, ou são da exclusiva responsabilidade do professor.
Podemos, portanto, dizer que a OPM elimina certo grau de "didatismo" no sentido de
direção não funcional do estudo, uma vez que os alunos são guiados mais por necessidades
matemáticas do que por obrigações do contrato pedagógico. Ou seja, os alunos são absorvidos
pelo uso da técnica, embora seja o professor quem escolha o tipo de problema a ser estudado,
os espécimes iniciais a se considerar e aquele que projeta a direção do desenvolvimento das
técnicas que são usadas durante o processo de ensino aprendizagem.
De qualquer forma, é evidente que a mera incorporação das OPMs só pode modificar
a organização de ensino da escola localmente. Nesse sentido, a OPM que projetamos e
experimentamos não questionou ou pretendeu transformar a estrutura clássica do sistema de
ensino de matemática, em particular de Geometria, apenas adicionou um novo "espaço de
trabalho" aos outros dispositivos clássicos que organizam o estudo universitário dessa
disciplina. Dessa forma, as condições que favorecem o desenvolvimento dos diferentes
momentos do estudo são aprimoradas, mas não fica claro até que ponto a gestão de alguns
momentos pode ser influenciada, como o primeiro encontro, o exploratório e a
institucionalização. Além disso, na OPM, apenas o problema da justificativa para as OMs
específicas é abordado de forma muito implícita, e a futura estruturação de Organizações
Matemáticas, além do nível local, não é levada em consideração, pelo menos explicitamente.
No Capítulo 5 apresentamos as práticas desenvolvidas durante a pesquisa, as quais mostram o
resultado alcançado.
167
Foto 2: Primeiro encontro teórico para a OPM - Geometria Euclidiana e Não-Euclidiana – O Quinto
Postulado. Fonte: Elaboração do Autor.
Os alunos apontaram que, caso seja necessário, podem “correr atrás” (entendo que, “correr
atrás”, aqui, significa aprender por eles mesmos).
Grupo 3: Para alguns membros deste grupo, a disciplina Geometria Plana e Espacial,
de 90 horas, sequer deveria estar no quadro das disciplinas do curso. Diante disso,
entendemos que, para este Grupo, a Teoria Euclidiana é de estrutura básica.
A manifestação dos grupos revela que existem satisfações, como também insatisfações
relativas ao ensino de Geometria Euclidiana.
Essa exposição de registros dos grupos, associada à noção de geometria, encaminha
em algum sentido, a partir da TAD, que a noção de relação dos sujeitos com o objeto
geometria, em particular, é referido por eles como noção de Geometria Euclidiana, que é,
inclusive, objeto de estudos da matemática escolar, identificada como Geometria Plana e
Espacial. Desse modo, a relação dos sujeitos com esses objetos expressa uma certa qualidade
de relação (CHEVALLARD, 2005).
Oficina 2:
Oficina3:
Os triângulos da Figura 101 são Euclidianos ou Não Euclidianos?
Oficina 4:
Descreva a Hipótese do Ângulo Agudo (HAA), a Hipóteses do Ângulo Obtuso
(HAO) e a Hipótese do Ângulo Reto (HAR) trabalhada por Saccheri.
Resposta dos Grupos e Análise da oficina 5:
Grupo 1:
171
aprendizagem de uma OM. O saber matemático deve estar associado a uma praxeologia.
Nesse sentido, a ecologia das tarefas permite entender como o saber estar sendo vivenciado
em uma instituição CHEVALLARD (1998).
Oficina 5:
Os universos Hiperbólicos e Elípticos construídos a partir da aceitação de que o
Quinto Postulado de Euclides não era uma proposição criaram a possibilidade da existência de
outros planos que vieram viabilizar caminhos, como o de Albert Einstein, com sua Teoria da
Relatividade.
Segundo Rivieccio (2013), Einstein propõe um exemplo ilustrado na Figura 102 para
explicar o espaço tempo a partir da determinação de um Plano Hiperbólico. Nós o
reproduzimos aos alunos como tarefa.
Figura 102: Experiência proposta por Einstein para ilustrar o espaço tempo
Fonte: Rivieccio (2013, p.64).
A experiência inicial, Figura 102, é montada sobre uma colcha de cama que se
encontra sobre a cama, formalizando um plano euclidiano. Um carrinho percorre as cinco
linhas paralelas desenhadas no tecido da colcha na direção de um peso que influencia o plano
fazendo um buraco onde o carrinho, influenciado pela curvatura produzida pelo peso, cai e se
choca com o peso, que parece perfurar a cama. Se aceitarmos que o peso gire, desta forma o
experimento reproduz a ideia de uma superfície hiperbólica.
Reproduzimos essa experiência. Colocamos um tecido elástico sobre um aro circular
descrevendo um plano euclidiano. Primeiramente usamos um carrinho e depois bolas de cores
diferentes juntamente com um peso mostrados na Foto 5 e na Foto 6. Quando o peso atua
sobre o plano euclidiano este afunda e abre um buraco que atrai o carrinho; o mesmo acontece
quando usamos as bolas. Nas mesmas condições que o experimento de Einstein, admitindo
que o peso gire, o experimento reproduz a ideia de uma Superfície Hiperbólica.
O modelo hiperbólico foi idealizado para definir o espaço-tempo. O universo de
Einstein é de quatro dimensões, pois o espaço-tempo inclui três coordenadas espaciais , e
mais uma quarta, puramente temporal.
Foto 9: Apresentação na OPM do plano de Poincaré Foto 10: Aluna ajudando na OPM na construção do
Fonte: Elaboração do autor 2018 Plano de Poincaré
Fonte: Elaboração do autor 2018
Grupos 1:
Resposta dos Grupos e Análise da Oficina 11
Os alunos que compuseram este Grupo ficaram responsáveis por uma análise
referente ao modelo hiperbólico de Poincaré. Ao manusearem os círculos, ficou claro que
nesse modelo devem ser considerados os pontos internos desta circunferência, denominados
pontos do plano hiperbólico e os pontos que pertencem à circunferência, denominados pontos
176
Foto 11: Apresentação na OPM do Plano de Klein. Foto 12: Construção na OPM do Plano de Klein por
Fonte: Elaboração do autor (2018) alunos
Fonte: Elaboração do autor (2018).
Grupos 3
O modelo de plano de Beltrami, conhecido por pseudoesfera, é um sólido obtido a
partir da rotação da função conhecida por tractriz. Essa atividade foi exposta em sala, na qual
foi apresentado o contexto aos alunos. Vale também observar que foi trazida para a sala de
aula uma superfície em acrílico a qual puderam manusear. Na superfície puderam desenhar
triângulos hiperbólicos, como também verificar que as retas ou geodésias são curvas.
Modelo de Beltrami:
Figura 103: Pseudoesfera e Foto 13: O Plano de Beltrami Foto 14: Apresentação na OPM do
tractriz Fonte: Elaboração do autor plano de Beltrami por aluno
Fonte: ECURED (2019, p.1). (2018). Fonte: Elaboração do autor (2018)
Oficina 7
Esta atividade é relativa ao cálculo da distância entre duas cidades, dadas suas
localizações no Globo. Foram feitos alguns exemplos em sala relativos ao posicionamento no
Globo Terrestre. Seguimos o exemplo de Rivieccio (2013, p.113-115). A ideia é criar
condições de Aplicação da Trigonometria Esférica para os alunos vinculados aos Grupos.
Qual é a menor distância entre as cidades de Barcelona e Tóquio?
Resposta dos Grupos e Análise da Oficina 12
Primeiramente vamos localizar essas cidades no Globo.
Foto 17: OPM do cálculo da distância entre a cidade de Barcelona e a cidade de Tóquio dada pelo comprimento
do arco de circunferência em vermelho
Fonte: Alunos que Participaram da Pesquisa.
Distância entre
Barcelona e polo Norte.
Distância entre Tóquio e
polo Norte.
= Distância entre as cidades
de Barcelona e Tóquio.
Para o cálculo de usamos o teorema do cosseno para triângulos esféricos, dado por:
Aluno 1:
Foto 18: Depoimento dado pelo Aluno 1 que participou das OPM
Fonte: alunos do IFMA envolvidos na pesquisa.
Aluno 2:
Foto 19: Depoimento dado pelo Aluno 2 que participou das OPM
Fonte: alunos do IFMA envolvidos na pesquisa.
Aluno 3:
Aluno 4:
(Depoimento dado durante a pesquisa): Durante a exposição compreendi um pouco mais
sobre a história da geometria. A palestra e as oficinas nos informaram bastante, nos
trouxeram diálogos entre antigos matemáticos e pude compreender uma parte da história e
seus personagens que não conhecia, como Saccheri, Lobachevski e Bolyai. O Riemann já
conhecia, da integral de Riemann, do cálculo de área e comprimento de curva. Achei legal
conhecer os planos hiperbólicos e tive dificuldade na Geometria Hiperbólica. A Geometria
Esférica, trabalhamos pouco, alguma coisa como volume e área, acredito que faltaram. Mas o
que foi legal foi a noção de distância entre cidades. Sou a favor de uma disciplina como a
Geometria Não-Euclidiana.
Professor 2- Depoimento:
(Enviado por e-mail) A inclusão da disciplina de Geometria Não Euclidiana no curso de
Licenciatura em Matemática, a meu ver, apresenta muito mais pontos positivos do que
negativos. Os principais pontos positivos são:
a) Oferecer uma visão mais ampla e consistente dos conceitos geométricos e de como
eles se relacionam.
b) Favorecer o entendimento da estrutura lógico-dedutiva na qual as Geometrias se
apoiam e as consequências quando da ruptura destas estruturas.
c) Permitir o aprendizado de ferramentas para um estudo geométrico do “mundo
concreto”, de forma mais abrangente e precisa, ou seja, superando possíveis “limitações” da
183
Professor 3:
(Enviado por e-mail) Considerando todo o meu trajeto desde estudante, pude observar que
mesmo já tendo trabalhado a Geometria e que ela estava presente em nosso cotidiano, os
conhecimentos eram básicos; apenas nos orientavam sobre mesma.
Lembro que era ensinada a Matemática no Ensino Fundamental somente uma introdução da
geometria, o conteúdo como ponto, reta e plano eram dados de forma superficial, pois
somente alguns professores das séries iniciais se arriscavam em ensinar. E outros, quando
tinham interesse de ensinar, muitas vezes deixavam para o final do ano letivo e nunca dava
tempo para que ele pudesse tratar do assunto, já que a Geometria sempre vinha no final do
livro de Matemática; era norma.
Foi na universidade que tive professores capacitados, onde comecei a ficar fascinada com o
estudo da Geometria Euclidiana, mesmo com muita dificuldade.
Professor 4
(Enviado por e-mail). Na estrutura do conhecimento matemático que adquiri ao longo dos
anos, como aluno do curso de licenciatura em matemática, no mestrado e depois como
professor, eu não tive conhecimento da geometria não euclidiana. Meu foco de estudo
sempre foi outro voltado à matemática aplicada. A meu ver, seria espetacular contar com
esse estudo na minha formação.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta sessão vamos fazer uma reflexão acerca dos estudos desenvolvidos ao longo
deste trabalho de pesquisa e dos momentos que vivemos durante essa caminhada
compartilhada por alunos e professores vinculados ao Departamento Acadêmico de
Matemática do IFMA, Campus Monte Castelo, que durante praticamente os quatro anos da
pesquisa foram por mim procurados e aceitaram, de bom grado, o árduo trabalho.
Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa, ficou claro que através de nossos
questionamentos foi construído um quadro relevante, no qual foi possível evidenciar nossos
experimentos e registrar as nossas práticas docentes.
Ao longo dos anos, os conteúdos de Geometria Não Euclidiana foram distanciados
da formação dos professores de Matemática. E é nesse tocante que buscamos procurar saber a
razão deste desfecho, que parece não ter resposta tendo em vista a importância deste
conteúdo.
No primeiro momento de nossa pesquisa, tínhamos o ensino da geometria nas escolas
de Ensino Fundamental como motivação e conversamos com alguns professores, que
passaram o entendimento de que este ensino precisa melhorar, mas para isso temos que
repensá-lo desde suas cargas horárias, em função de sua interdisciplinaridade.
Estamos cientes de que o trabalho com noções geométricas contribui para a
aprendizagem de assuntos vinculados ao ensino da matemática. Através do ensino da
geometria, percebemos semelhanças e diferenças e aprendemos a identificar regularidades e
irregularidades. Além disso, procuramos explorar objetos, associando-os à teoria estudada e
assim vincular a pesquisa ao mundo físico.
Buscando entender quais seriam as contribuições da Geometria Não Euclidiana para
a formação de professores e para a Educação Matemática, na pesquisa ficou claro a sua
importância, em razão de ser um conhecimento que aproxima o ser humano de outra maneira
de observar o aspecto físico do planeta em que habita e é base de sustentabilidade para a
Teoria Da Relatividade que revolucionou a ciência moderna.
Estamos conscientes de que a partir dos conceitos geométricos trabalhados, existe a
possibilidade de o aluno explorar, representar, construir, discutir, investigar, perceber,
descobrir e descrever as propriedades do que seja fundamental no processo de ensino e de
aprendizagem da matemática. Nestas condições, a geometria passa a contribuir para o
desenvolvimento da capacidade de abstrair.
186
Por sua vez, as práticas não euclidianas desenvolvidas por nossos colaboradores,
alunos que desenvolveram as oficinas, mostraram que podemos explicar ou resolver
problemas não euclidianos através de contextos de aspectos euclidianos. No nosso
entendimento, após as oficinas, o conhecimento das Geometrias Não Euclidianas para a
formação do professor de Matemática pode ser considerado como essencial, em razão de
legitimar o ensino da própria Geometria Euclidiana.
Euclides, ao apresentar Os Elementos, se colocou em evidência na história da
matemática, ao construir um modelo sistemático que introduziu esta como uma Ciência
Dedutiva. Nestas condições, Euclides impõe que toda afirmação deve ser demonstrada
logicamente a partir de conteúdos básicos, que são as definições e os postulados tomados
inicialmente como verdades.
A Geometria Não Euclidiana surgiu da dúvida acerca do Quinto Postulado: se era ou
não um axioma. Dúvida encarada até pelo próprio Euclides. Essa dúvida foi abordada em
nossos encontros, nos quais procuramos conhecer a história de algumas das importantes
tentativas de provar esse Postulado.
Assim, procuramos refletir sobre o papel do ensino da geometria na formação do
professor de Matemática. Afinal, a Geometria é uma disciplina de caráter interdisciplinar.
Sabemos que a física de Newton tem como base a Geometria Euclidiana, modelo que
explicou o mundo físico até o século XIX como verdade absoluta. Somente depois, as
Geometrais Não Euclidianas se constituíram em base para a física de Einstein. E com isso, foi
remodelado o conceito de plano.
Ao desenvolvermos nossas atividades de pesquisa, várias vezes nos deparamos com
realidades que exigiam uma metodologia de pesquisa que se aproximasse da formação
acadêmica dos professores de matemática. Esta dificuldade inicial nos condicionou a
buscarmos uma nova estrutura de conhecimentos, que só foi visualizada a partir de estudos da
Transposição Didática de Yves Chevallard, e do aprofundamento dela, a Teoria
Antropológica do Didático – TAD, proposta pelo mesmo autor.
Nosso referencial teórico possibilitou a análise do saber matemático, mais
precisamente dos conteúdos da Geometria Não Euclidiana advindos da negação do Quinto
Postulado a ser inseridos no sistema didático.
Além disso, por situar o ensino da Geometria Não-Euclidiana na formação do
professor de Matemática diante das problemáticas relativas às atividades matemáticas em uma
187
instituição, levamos em consideração o contexto histórico e a sua (re) produção como uma
atividade humana.
Vale lembrar que, durante o processo de construção deste conhecimento, usamos de
Transposição Didática para explicar ou (re) explicar os processos de demonstração e ensino
que achamos por importante registrar.
A Teoria Antropológica do Didático (TAD), em razão de reconhecer o caráter
humano e social das atividades matemáticas, e por assumir as „instituições‟, onde se dá a (re)
construção do saber matemático, conduz Universidade e Institutos a um quadro que evidencia
que estas são responsáveis pela formação dos professores de Matemática dos diferentes níveis
de ensino.
A Licenciatura em Matemática, hoje em dia, funciona sem um entendimento de
interdisciplinaridade e, consequentemente, da estrutura física do mundo. E sem conhecer a
História da Geometria e os avanços por ela proporcionados no século XIX, constatamos aí a
existência de uma lacuna histórica.
Essa constatação, bastante relevante, conduz à construção e constituição de um
profissional do ensino cujo perfil se caracterize pela competência de refletir sobre os avanços
científicos e também observe o dinamismo que lhe é imposto pelos diversos processos de
ensino em busca da metodologia de ensino-aprendizagem adequada para a prática de ensino
dos diversos tipos de matemática. Ou seja, estamos à procura de novas visões do ensino, as
quais possamos vivenciar, de onde surge a necessidade de criarmos formas de pensar e
encaminhar metodologias de ensino da matemática.
Sabemos que muitos dos problemas do cotidiano e do mundo científico são
resolvidos somente pelas Geometrias Não Euclidianas. A Teoria da Relatividade é um
exemplo desses problemas em que a Geometria do Espaço, tomada como base para Albert
Einstein, é uma Geometria Não Euclidiana, de modo que conceitos que afirmam que a luz se
propaga ao longo de geodésicas e que a curvatura do espaço é determinada pela natureza da
matéria que o preenche, são conceitos fundamentais para a ciência moderna.
Em face do exposto, algumas de nossas Oficinas desenvolvidas fizeram emergir, no
bojo das práticas possíveis relações entre conteúdos euclidianos e não euclidianos.
Mostramos que o não euclidiano é explicado pelo euclidiano.
A Geometria Não Euclidiana, a Esférica, por exemplo, pode ser admitida como o
formato da terra. O professor com esta informação tem condições de ampliar a visão dos
alunos que, por sua vez, ampliam suas experiências. No Capítulo 5, através das Oficinas 7 e 8,
188
o aluno fez contato com o plano esférico não euclidiano, no qual o Quinto Postulado não se
verifica e pôde trabalhar experiências.
No início da pesquisa, as dificuldades surgiram, como era esperado, mas foram
tomadas como incentivo. Estas dificuldades ajudaram na construção de nossas práticas, que
possibilitaram viabilizar na formação do professor de Matemática a efetivação não só do
ensino, mas também da pesquisa, que alicerçou o compromisso com o ensino a partir da
ecologia das tarefas que deram corpo às nossas OPMs.
Alguma insatisfação foi identificada, isso quando os alunos desconheciam o assunto
e havia, a princípio, resistência, devido ao já incorporado universo euclidiano. Mas, após os
primeiros contatos, os erros cometidos nas práticas foram aos poucos desaparecendo, embora
surgissem outros. Ou seja, os alunos compreenderam o trabalho e buscaram melhorar seus
conhecimentos e consequentemente melhorar o entendimento da pesquisa.
Diante disso, com o encaminhamento do trabalho, acreditamos poder contribuir para a
formação de um professor de Matemática contemporâneo, cuja formação oportunize a
interação entre as diferentes metodologias de ensino encontradas nas mais diversas
instituições escolares e a diversidade de conteúdos geométricos.
O ensino da Matemática, mais precisamente o ensino da Geometria Não Euclidiana,
trabalhado em nossas OPMs, é tomado como uma práxis que associa o saber fazer a nossas
práticas; ao saber que o legitima.
Como está exposta, nossa preocupação é o ensino; a aprendizagem é o resultado que
buscamos. O professor de Matemática deve ser moldado não só pelo conteúdo, mas também
pela experiência das práticas que lhe dão respaldo em diferentes contextos teóricos que fazem
parte de sua construção como profissional do ensino. Isso levando em conta os aspectos dos
conhecimentos geométricos, euclidianos e não euclidianos e as dimensões epistemológica e
pedagógica desse conhecimento.
Conforme procuramos mostrar nesta pesquisa, o ensino de geometria pode ser visto
como uma nova concepção de interdisciplinaridade, inclusa no processo de ensinar, ou seja,
um novo princípio norteador da organização de OM e consequentemente de OD, que devem
reformular as estruturas pedagógicas de um saber aplicado a outro saber.
Diante da necessidade do estudo e ensino de geometria, está claro que devemos
ressaltar a necessidade de uma abordagem prática desta temática, por meio da qual podemos
discutir conceitos, propriedades e proposições com base nas possíveis aplicações na vida dos
alunos. Além disso, a geometria possui um caráter interdisciplinar, pois a visão pedagógica
189
que ela imprime possibilita aproximar as áreas de conhecimento uma das outras através do
ensino de conteúdos que são comuns a várias disciplinas.
Na prática, para não fragilizar o saber, buscamos agilizar as atividades que
representam uma possibilidade de negociação de pontos de vista, de diálogo e de liberdade na
ação de interação entre a Geometria e outras disciplinas. Objetivamente, as restrições
impostas à Geometria, que venham se constituir obstáculos, devem ser superadas pelos
professores.
Os professores, associados à pesquisa, deram grande contribuição. Contribuíram
notadamente desde o início até os depoimentos finais e, de modo geral, apoiam uma possível
inclusão de conteúdos não euclidianos na formação do professor de Matemática.
As OPMs conduziram à percepção do desafio e, pelo desafio, desenvolver OM que
em outro momento se transformará em OD. A relevância da temática está evidente e, devido
ao comportamento dos alunos, os futuros professores de Matemática, acreditamos que o tema
os levou a crer que nosso principal objetivo, que é o ensino, pode ter mais um desafio que é
sugerir conteúdos não euclidianos na formação do professor de Matemática.
Para analisar estas ações, nos apropriamos dos conceitos da TAD, em que as relações
aluno, professor e Instituição, no âmbito do saber, foram explicitados por meio das análises
das Oficinas.
Os questionamentos e exercícios geraram a construção de praxeologia que colaboram
com a formação dos futuros professores de Matemática, um anseio pela prática. Isso devido
ao comportamento adotado na realização da pesquisa, ou seja, o dispositivo social
denominado de instituição impõe aos alunos a forma de fazer e pensar, que realmente
influencia na formação dos professores de Matemática e define suas relações com
conhecimentos de geometria.
Através de nossas Oficinas e dos entendimentos alcançados, pudemos perceber a
importância de termos na formação de professores de Matemática, conhecimentos como o da
Geometria Hiperbólica e da Geometria Esférica.
A nossa Questão Norteadora, emergida do Problema Primordial, foi contemplada ao
elaborarmos um conjunto de Oficinas que deram visualidade ao problema, como também
induziram a continuidade da pesquisa. As escolhas das variáveis que estruturaram a
investigação colaboraram para a elaboração de questionários que esquematizaram situações
didáticas, e estas contribuíram para efetivação e utilização de saberes euclidianos e não
euclidianos.
190
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ANEXOS
206
APÊNDICES
214
APÊNDICE 1: PROJETO
Apresentação do Projeto
Ao apresentar o tema da pesquisa aos alunos do Curso de Licenciatura em
Matemática do IFMA - Campus Monte Castelo, ficou claro o entusiasmo deles com a
possibilidade de participarem do projeto.
Descrito, passo a passo, suscitou entusiasmos, principalmente quando o assunto era a
concepção de uma geometria que representasse o espaço onde habitamos. Ao iniciar a
exposição, fiz a seguinte pergunta: A Geometria Euclidiana representa o espaço onde
vivemos? A resposta inicial foi o silêncio; em seguida, um aluno, que identificaremos como o
Aluno 1, disse: Eu nunca tinha me preocupado com isso. Na escola, estudei muito pouco de
geometria, só vim estudar aqui no IFMA. É exatamente isso que esperamos encontrar;
sabemos que nas formações iniciais como no Ensino Fundamental e Médio, ao ensino da
geometria não é dada a devida importância; nos próprios livros didáticos, quando era deixado
para o último momento, o professor já chegava exausto para trabalhar um conhecimento de
constituição axiomática, técnica, momento em que os alunos ansiavam pelo encerramento do
período. Hoje os textos vinculados à Geometria estão colocados no início do livro texto. O
que ocorre em várias ocasiões é a relocação do conteúdo dessa disciplina no seu lugar
anterior, no final dos conteúdos.
Quando enunciei as concepções das Geometrias Não Euclidianas, de forma breve,
devido ao fato de que em uma das atividades eles iriam responder um questionário somente
com as informações que retinham, pude observar o quanto é importante contextualizar
historicamente o assunto descrito em sala de aula. Isso prende os alunos, que de forma clara
anseiam por informações.
O passo seguinte foi a apresentação da transposição didática, que comandou a
pesquisa através do seu aprofundamento a TAD. Iniciei identificando o sociólogo Michel
Verret (1975), que introduziu o termo Transposição Didática e depois apresentei o pensador e
215
educador Yves Chevallard (1988), que aprofundou esta teoria, para então falar o que é, o que
se espera e o que representa a transposição didática no contexto desta pesquisa.
Nesta fase os alunos envolvidos na pesquisa responderam um questionário,
baseando-se somente em suas informações. Não interferi nesse momento.
No referido questionário, ficou claro que os alunos, mesmo já sabendo que, como o
professor coordenador da pesquisa, não podia participar, tentaram a todo momento, forjar
alguma situação para obter ajuda. As questões eram simples, mas o fato de terem de trabalhar
com superfícies não euclidianas, isso induziu-os à insegurança. Isto é, as questões, mesmo
elementares, acabaram consolidando que o conhecimento de Geometria é muito necessário.
Decidi então apresentar o contexto histórico do qual surgiram as geometrias não
euclidianas. Confrontei os alunos a partir dos conhecimentos apresentados. Comecei, baseado
nos livros de história da Matemática do Boyer, Introdução à História da Matemática de
Howard Yves e Euclidean and Non – Euclidean Geometries Development and History de
Marvin Jay Greenberg relatando os primórdios da História da Geometria. Comentei sobre
Euclides e suas obras, incluindo Os Elementos, e a cidade Alexandria, onde foi criado o
Museu, e sua fantástica biblioteca. No primeiro momento, pude notar o fascínio de alguns e a
desconfiança de outros; um desses inquietos, o Aluno 2, digamos, retrucou: “não, isso não é
geometria nem matemática, e sim história”. Refutei, dizendo que todo conhecimento
matemático não é constituído apenas de números ou de operações algébricas; também deve
ser contextualizado no tempo e no espaço. Nesse início fixei a atenção nos axiomas e
postulados, especialmente no Quinto Postulado, razão das dúvidas e inconformidades que
conduziram à descoberta da Geometria Não Euclidiana. Constatei com os alunos, que a cada
aula, teria sido muito produtivo se tivéssemos podido informar e contextualizar o tema
trabalhado. Após apresentar os matemáticos Girolamo Saccheri, Janos Bolyai, Nicolai
Lobatchesky e Georg Riemann e suas contribuições, ficou claro que não os conheciam.
Também fiz uma Oficina na qual descrevi a O plano Elíptico, relativo a seu caso particular a
Geometria Esférica, que não admite a existência paralela, ou que toda reta nesse plano é
máxima e finita. Com o uso de um transferidor esférico, montado a partir de uma tira de
acetato e uma caneta preta, pudemos medir ângulos no quais constatamos que a soma dos
ângulos internos de um triângulo é maior que 180°.
Nestas condições o projeto apresentado, em palestras, seminários e oficina, trabalha a
importância da geometria euclidiana na sala de aula, desde seus pressupostos, suas
concepções axiomáticas, na tentativa de valorizá-la, tornando-a parte de um processo
216
Acredito ter sido suficientemente esclarecido a respeito das informações que foram
apresentadas para mim, descrevendo a pesquisa O PAPEL DAS GEOMETRIAS NÃO
EUCLIDIANAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: o curso de formação de
professores de matemática e o questionamento de certezas.
Ficaram claros para mim quais são os objetivos do estudo, os procedimentos a serem
utilizados, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.
Ficou claro também que a minha participação é isenta de despesas, que tenho
garantia de acesso aos resultados e de esclarecer minhas dúvidas a qualquer tempo. Concordo
voluntariamente com a participação neste estudo e poderei retirar meu consentimento a
qualquer momento, antes ou durante o estudo, sem penalidade ou prejuízo.
.......................................................
Assinatura
___________________________________________________________________
Nome: Alexandre Pereira Sousa
E-mail: alexandresousa@ifa.edu.br
Fone: (98) 98124-9052 (Whatsapp)
....................................................................
Assinatura do pesquisador
VISTO:
Orientador do trabalho
220
Atividade - tarefa1
1) Para você a Geometria Euclidiana é verdadeira? Justifique sua resposta.
( ) Sim
( ) Não
( ) Não opinou
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sabe
( ) Não sabe
10) Na sua concepção, onde você vive é um plano? Justifique sua resposta.
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sabe
226
Nesta etapa, após palestra e oficina, o aluno refaz o questionário 1. Nosso objetivo é
verificar se houve uma interpretação satisfatória após à apresentação do tema.
227
Atividade 2
1) Para você a Geometria Euclidiana é verdadeira? Justifique sua resposta.
( ) Sim
( ) Não
( ) Não opinou
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sabe
( ) Não sabe
10) Na sua concepção, onde você vive é um plano? Justifique sua resposta.
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sabe
231
APÊNDICE 9: FOTOS
Foto 21: Alunos do Curso de Licenciatura em Matemática do IFMA realizando atividade, vista lateral esquerda.
Fonte: Elaboração Própria (2019)
232
Foto 22: Alunos do Curso de Licenciatura em Matemática do IFMA realizando atividade, vista lateral direita.
Fonte: Elaboração Própria (2019)
Foto 23: Início da palestra aos alunos do Curso de Licenciatura em Matemática no IFMA.
Fonte: Elaboração Própria (2019)
233
Foto 34: Reprodução da experiência de Einstein – Professor e alunos que contribuíram para a pesquisa – Oficina.
Foto 35: Reprodução da experiência de Einstein – alunos que contribuíram para a pesquisa – Oficina.
Foto 37: Apresentação de Fuso esférico – Oficina. Figura 116: Ângulo de Fuso – Oficina 1.
Fonte: Elaboração Própria (2019) Fonte: Elaboração Própria (2019)
241
Foto 39: Resolução de problema – oficina. Figura 117: Ângulo de Fuso – Oficina 2
Fonte: Elaboração Própria (2019) Fonte: Elaboração Própria (2019)
Figura 118: Esfera e Superfície . Figura 119: Ângulo de Fuso – Foto 40: Superfície Esférica –
- Oficina Oficina 3 Oficina
Fonte: Elaboração Própria (2019) Fonte: Elaboração Própria Fonte: Elaboração Própria
(2019) (2019)
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12) Dados dois pontos distintos A e B, num plano euclidiano, é possível marcar
uma maior e uma menor distância, entre esses pontos?
( ) Sim
( ) Não
13) Dados dois pontos distintos A e B, numa esfera, é possível marcar uma maior e
uma menor distância, entre esses pontos?
( ) Sim
( ) Não
14) A soma dos ângulos exteriores do triângulo inscrito numa esfera, é maior que
180º?
( ) Sim
( ) Não
15) A soma dos ângulos exteriores do triângulo inscrito numa esfera, é menor que
180º?
( ) Sim
( ) Não
17) Num plano hiperbólico, a soma dos ângulos internos de um triângulo é menor
que 180º?
( ) Sim
( ) Não
18) Num plano hiperbólico, por um ponto P fora de uma reta r dada, passam menos
duas retas paralelas à reta r?
( ) Sim
245
( ) Não
4) Para você, a Geometria que você conhece, representa o espaço que você vive?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
13) Dentre o seu conhecimento de Geometria, você sabe desenhar um plano em que
soma dos ângulos internos de um triângulo é menor que 180º?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
14) Dentre o seu conhecimento de Geometria, você sabe desenhar um plano em que
soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180º?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
15) Dentre o seu conhecimento de Geometria, você sabe desenhar um plano em que
soma dos ângulos internos de um triângulo é maior que 180º?
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
( ) Não
( ) Não sei
19) Em um plano esférico. Dado uma reta e um ponto P fora dela, passam infinitas
retas paralelas à reta dada.
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
20) Em um plano hiperbólico. Dado uma reta e um ponto P fora dela, passam
infinitas retas paralelas à reta dada.
( ) Sim
( ) Não
( ) Não sei
22) Qual é a soma dos ângulos exteriores do triângulo sobre o plano euclidiano?
( ) Menor que 180º ( ) Igual a 180º ( ) Maior que 180º
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