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CUIABÁ - MT
2022
ADAUTO NUNES DA CUNHA
CUIABÁ - MT
2022
FICHA CATALOGRÁFICA
Dedico a meu pai,
João Nunes da Cunha,
A quem devo meu caráter e a persistência diária
para ser um homem cada dia melhor.
AGRADECIMENTOS
Pág
Figura 1 – Análise por Triangulação de Métodos ....................................... 38
Figura 2 – processos - Análise por Triangulação de Métodos .................... 39
Figura 3 – Plano argumentativo da lógica informal ..................................... 81
Figura 4 – Relação entre concepções e crenças ...................................... 100
Figura 5 – Aviso de atendimento ao aluno ................................................ 206
Figura 6 – Cronograma semana 1 ............................................................ 208
Figura 7 – Atividade proposta relação fundamental da trigonometria ....... 209
Figura 8 – Entendendo Radianos dentro de circunferência .................... 210
Figura 9 - Atividade 2 da lista de exercícios da semana 1 ...................... 211
Figura 10 - Cronograma semana 2 ........................................................... 212
Figura 11 – Comprimento da circunferência ............................................. 213
Figura 12 – Atividade proposta associação de ângulos ............................ 213
Figura 13 – Atividade proposta associação ângulo/quadrante ................. 214
Figura 14 – Cálculo de seno e cosseno na circunferência ....................... 215
Figura 15 – Demonstração seno e cosseno de um ângulo sobre a 215
circunferência ............................................................................................
Figura 16 – Atividade proposta ângulos correspondentes ........................ 215
Figura 17 – Simulação Geogebra ângulos correspondentes .................... 216
Figura 18 – Exemplos de conversão de ângulos ...................................... 216
Figura 19 – Resolução de atividades de transformação de ângulos ........ 217
Figura 20 – Equivalência de ângulos em quadrantes ............................... 218
Figura 21 – Demonstração seno e cosseno de sessenta graus ............... 218
Figura 22 – Exemplo 1 Calculando ângulos côngruos .............................. 219
Figura 23 – Exemplo 2 Calculando ângulos côngruos .............................. 219
Figura 24 – Cronograma da semana 3 ..................................................... 220
Figura 25 – Exemplo da soma não direta seno dois de ângulos .............. 220
Figura 26 – Atividade proposta soma de dois ângulos ............................. 221
Figura 27 – Cosseno da soma demonstração 1 ....................................... 221
Figura 28 – Cosseno da soma demonstração 2, parte A .......................... 222
Figura 29 – Cosseno da soma demonstração 2, parte B .......................... 222
Figura 30 – Atividade proposta fórmula do cosseno da soma de dois
ângulos ...................................................................................................... 224
Figura 31 – Cosseno da diferença de dois ângulos ................................. 224
Figura 32 – Dedução fórmula seno da soma de dois ângulos .................. 225
Figura 33 – Atividade proposta seno da soma de dois ângulos ............... 225
Figura 34 - seno da diferença de dois ângulos ......................................... 225
Figura 35 – Atividade proposta seno da subtração de dois ângulos ........ 226
Figura 36 – Resumo soma e subtração de dois ângulos .......................... 227
Figura 37 – Exemplo seno de setenta e cinco graus ................................ 227
Figura 38 – Exemplo cosseno de setenta e cinco graus .......................... 227
Figura 39 – Fórmulas de tangente de some e subtração de dois ângulos 228
Figura 40 – Exemplo tangente de setenta e cinco graus .......................... 228
Figura 41 – Atividade 2 da lista de exercício da semana 3 ....................... 229
Figura 42 – Exemplos arcos côngruos a trinta graus (parte A) ................. 230
Figura 43 – Exemplos arcos côngruos a trinta graus (parte B) ................. 230
Figura 44 – Gráfico da função 𝑠𝑒𝑛(𝑥) ....................................................... 231
Figura 45 – Gráfico da função 𝑐𝑜𝑠(𝑥) ....................................................... 231
Figura 46 – Gráfico da função 𝑓 (𝑥 ) = −1 + 3 cos(𝑥) ............................... 232
Figura 47 – Função trigonométrica 𝑠𝑒𝑛 (𝑥) ............................................... 233
Figura 48 – Cálculo da função trigonométrica 𝑠𝑒𝑛 (𝑥) .............................. 234
Figura 49 – Gráfico da função trigonométrica 𝑠𝑒𝑛 (𝑥) .............................. 235
Figura 50 – Comparação gráfica das função 𝑠𝑒𝑛 (𝑥 ) e cos(𝑥) .................. 236
Figura 51 – Cálculo de valores da função 𝑓(𝑥) = 3 cos(𝑥) ....................... 236
Figura 52 – Comparação gráfica das função 𝑓(𝑥) = 3 cos(𝑥) ................... 237
Figura 53 – Atividade proposta - lista de exercício do aluno semana 4 237
Figura 54 – Lei dos senos e lei dos cossenos .......................................... 239
Figura 55 – Exemplo lei dos senos ........................................................... 239
Figura 56 – Exemplo lei dos cossenos ..................................................... 240
Figura 57 – Atividade 1 da lista de exercícios da semana 5 ..................... 241
Figura 58 – Atividade 2 da lista de exercícios da semana 5 ..................... 241
Figura 59 – Atividade proposta classificação de matrizes ........................ 242
Figura 60 – Atividade proposta reconhecer elementos de uma matriz ..... 243
Figura 61 – Atividade proposta matriz transposta ..................................... 242
Figura 62 – Atividade proposta igualdade de matrizes ............................. 244
Figura 63 – Atividade proposta soma de matrizes .................................... 244
Figura 64 – Atividade proposta subtração de matrizes ............................. 245
Figura 65 – Atividade proposta multiplicação de matrizes ........................ 245
Figura 66 – Atividade proposta matriz inversível ...................................... 246
Figura 67 – Atividade 1 da lista de exercícios da semana 6 ..................... 246
Figura 68 – Atividade 3 da lista de exercícios da semana 6 ..................... 247
Figura 69 – Atividade proposta equação linear ......................................... 247
Figura 70 – Exemplo de sistema linear 2x2 .............................................. 248
Figura 71 – Problema proposto para interpretação geométrica ................ 248
Figura 72 – Problema proposto para interpretação geométrica ................ 249
Figura 73 – Esquema proposto para interpretação geométrica ................ 249
Figura 74 – Atividade proposta casos geométricos de sistemas .............. 250
Figura 75 – Atividade 1 da lista de exercícios da semana 7 ..................... 251
Figura 76 – Atividade 2 e 3 da lista de exercícios da semana 7 ............... 251
Figura 77 – Exemplo matriz associada a um sistema de equações ......... 252
Figura 78 – Exemplo resolução e discussão de sistemas lineares ........... 252
Figura 79 – Exemplo resolução e discussão de sistemas lineares 2x2 .... 253
Figura 80 – Demonstração cálculo determinante 2x2 ............................... 253
Figura 81 – Demonstração cálculo determinante 3x3 ............................... 254
Figura 82 – Atividade 1 da lista de exercícios da semana 8 ..................... 254
LISTA DE QUADROS
1961 - The blue and brown books. Referenciado como (WITTGENSTEIN, 1961)
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 21
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 186
INTRODUÇÃO
compreensão; do outro, professores que afirmam que os alunos não aprendem por
não apresentar motivação própria para aprender esse conteúdo (SILVEIRA, 2014a).
Observa-se que o professor, na busca por melhorar a motivação do aluno, por
vezes recorre à contextualização no cotidiano do aluno e ainda a jogos persuasivos,
acreditando que os estudantes, ao ver uma aplicação direta da matemática,
encontrarão a devida motivação para aprender. No entanto, geralmente, as aplicações
não encontram solo motivacional no aluno e ainda fazem com que este acredite que
a matemática toda pode ser reduzida à aplicação ao cotidiano.
A motivação colocada inicialmente pelo professor em sua prática apresenta
uma imagem que acaba sendo cristalizada no aluno de que toda a matemática tem
compromisso com a realidade nascendo da modelagem de situações concretas, onde
está lhe dá sentido. No Brasil, nas últimas décadas, tem sido comum apontar que a
matemática é útil para vida de cada um dos estudantes, pois “a matemática está em
tudo”. Isso conduz a uma visão agostiniana do processo de significação 1, de forma a 0F
1
De acordo com Silva (2019), a linguagem para Santo Agostinho apresenta duas funções principais:
Primeiramente cada palavra corresponde a um objeto, isto é, o vocabulário sucede o objeto em sua
ausência. Assim, o significado é o objeto que a palavra substitui. A segunda função se refere à mente,
ou seja, o espírito que traz em si a imagem do objeto é o critério para a significação da palavra. Desta
percepção, surgem muitas confusões filosóficas, pois, não se encontrando o objeto do qual a palavra
é sucedânea, “busca-se o seu significado ou na metafísica, ou no mundo espiritual, por exemplo” (p.
11).
23
neste caso, mostra-se como necessária e única para todos nós humanos. Veremos
que Wittgenstein em seu segundo momento filosófico irá se colocar contra esta visão,
por acreditar que mesmo a realidade não mostra única para todos nós humanos, uma
vez que estamos envoltos em diferentes jogos de linguagens e diferentes formas de
vidas.
Desse modo, além de não resolver o problema referente à motivação do aluno,
cria-se a unilateralidade de uma imagem que, quando tomada como necessária,
conduz à incompreensão de conceitos matemáticos que não apresentam relação
direta com a empiria. É importante observar que, se for considerada a perspectiva
wittgensteiniana da linguagem matemática, “as proposições matemáticas não
descrevem nem entidades abstratas, nem a realidade empírica; e, tampouco, refletem
o funcionamento transcendental da mente” (GOTTSCHALK, 2014, p. 80). Essas
proposições variam conforme cada caso, dependendo dos usos que possuem e dos
contextos em que se inserem. Trata-se de um contrato social normativo dado pelo
uso.
Faz-se importante ressaltar que a aplicação dos conteúdos da Matemática às
suas diversas práticas, conduz a percepção de uso em variadas situações vivenciais.
No entanto, faz-se importante compreender que a matemática se constitui enquanto
2
A realidade, neste caso, é vista, como aquilo que está presente no dia a dia de cada um, e ainda
aquilo que se apresenta igualmente a todos da mesma forma. Assim, no sentido aqui colocado: a
realidade é única e invariável, e nela o solo empírico se refere aos entes colocados de um humano para
outro. Faz-se importante ressaltar que, para Wittgenstein em seu segundo momento, “a realidade não
é mais um superconceito fundamentado metafisicamente, mas simplesmente algo dado nas formas de
vida” (Condé, 1998, p. 123).
24
[...] uma persuasão que age sobre a vontade do interlocutor, não para
convencê-lo de algo, mas para aceitar outros modos de ver um fato do
mundo. Em particular, no contexto da escola, esta persuasão se
mostra nas ações do professor que levam os seus alunos a
disponibilizarem a sua vontade para estabelecer relações
inusitadas, a aceitar novas regras de sentido e, deste modo, a
ampliarem sua imagem de mundo. Assim, longe de se constituir em
algum tipo de manipulação, como ocorre com técnicas de retórica que
visam simplesmente persuadir o adversário a mudar de opinião, um
dos efeitos deste processo de persuasão presente na atividade
docente é o de levar os alunos a vivenciarem a experiência de serem
capazes de julgar, escolhendo autonomamente as regras de sentido
que consideram mais pertinentes dentre aquelas que já dominam,
condição para o desenvolvimento de um espírito crítico e ético
(GOTTSCHALK, 2019, p. 157; grifo nosso).
Para tanto, traz-se neste trabalho um estudo de caráter qualitativo, tendo por
base os estudos bibliográficos que clarificam quanto às diferenças entre duas
estratégias, a saber, a do convencimento e a da persuasão. Neste sentido, é realizado
um recorte histórico da persuasão dentro da filosofia para, a partir daí, propor-se a
utilização deste termo para a prática de sala de aula. É importante esclarecer que os
termos citados serão melhor esclarecidos no decorrer deste trabalho.
A busca que orienta este estudo estará direcionada a responder o seguinte
questionamento: Quais movimentos de contextualização persuasivos estão presentes
nas práticas docentes do professor de Matemática, que coopera para que o estudante
atribua sentido aos conceitos matemáticos, trabalhados em sala de aula?
Assim, tem-se como objetivo geral conhecer movimentos de contextualização
persuasivos presentes nas práticas docentes do professor de Matemática, que
25
coopera para que o estudante atribua sentido aos conceitos matemáticos, trabalhados
em sala de aula.
São objetivos específicos a serem alcançados com este trabalho:
1. Esclarecer processos de contextualização que produzem efeitos de persuasão;
2. Descrever a percepção do estudante diante do processo de persuasão pelo uso da
contextualização ocorrida em sala de aula;
3. Examinar os elementos persuasivos presentes na prática do professor em sala de
aula à luz da filosofia da linguagem;
4. Descrever como crenças e concepções podem influenciar a ação do professor
em sala de aula;
Faz-se importante compreender que os questionamentos desta pesquisa
relativos à persuasão não são novos, remontam aos primeiros anos de magistério, da
experiência do autor desta tese como educador com as aulas de matemática, ao final
de década de 1990, quanto teve o primeiro contato como professor da rede estadual
de ensino do estado de São Paulo, em especial na cidade de São José do Rio Preto,
situada à noroeste deste estado, onde ele iniciou sua caminhada como professor de
Matemática.
Esses questionamentos foram fruto da percepção de um distanciamento entre
os conceitos matemáticos ensinados e os efetivamente compreendidos pelo aluno.
Desde 1996, atuando como professor da rede estadual paulista, este autor notou que
a formação acadêmica adquirida não respondia à necessidade do alunado.
Vale frisar que uma excessiva quantidade de atividades de repetição foi
utilizada no início do magistério, porém, sem o devido sucesso. Estas grandes
quantidades de exercícios faziam com que os bons alunos fossem punidos e os que
tinham maior dificuldade continuavam tendo.
Veio então a pergunta de como motivar o aluno, como levá-lo a aprender os
conceitos matemáticos. Em um primeiro momento, notou-se que o conhecimento da
sala de aula teria que ter algo que remetesse à realidade do aluno. Nessa caminhada,
observou-se que a relação de importância que se dá ao conhecimento é suleadora 3 2F
de sua busca, sendo que esta deve possuir componentes de realização pessoal, de
3
Deve-se – ao contrário do que costuma ser ensinado – dirigir o olhar para o Cruzeiro do Sul, o que
significaria SULear-se em vez de NORTEar-se. Dessa referência noturna, também se pode deduzir os
outros pontos cardeais. Para adequar a orientação ao hemisfério em que se vive, a regra prática deve
se inverter (CAMPOS, 2020).
26
respostas a questões internas dos indivíduos e ainda deve ser uma relação de
cumplicidade entre o mundo exterior e o mundo interior.
Percebeu-se ainda que ninguém sabe tudo – existem informações que os
educadores não conhecem, que os alunos traziam um conhecimento sobre sua
realidade que não era valorizado em sala de aula e, dessa forma, ensinar matemática
passava a ser apenas o cumprimento de um currículo oficial que em nada se
relacionava com a vida dos educandos. A pergunta que pairava era porque estes
alunos, muitas vezes, não adquiriam os conceitos matemáticos ensinados por este
docente.
Alunos que, aula após aula, sentavam-se em suas carteiras, observavam as
colocações, mas, ao tentarem fazer seus exercícios, demonstravam ter compreendido
de forma diferente da referida pelo professor. Ou, por vezes, eles sequer conseguiam
dizer o que não compreenderam da explicação. De início, pensou-se que havia
apenas uma falta de interesse da parte deles, entretanto, muitos alunos tinham a
opção de não permanecer na classe (poderiam estar em outro local, ficar no pátio, na
biblioteca ou, até mesmo, rebelar-se e ir para a sala da diretora), mas, ainda assim,
preferiam participar da aula. De alguma forma, sem que houvesse nenhuma
imposição, eles tinham optado por estar ali.
Percebeu-se que buscavam conhecer mais da matemática escolar e que
investiam sua atenção naquilo que era explicado. Apesar de tudo, porém, por várias
vezes, não compreendiam o que havia sido falado. Muitos demonstravam que haviam
se perdido e que aquele conteúdo não fazia sentido. Pairava a pergunta: Por que eles
se perdem? Em que este docente está errando? Que tipo de ação realizar deve ser
realizada para que os alunos comecem a construir esses conceitos que são
importantes?
Este professor procurava entender a forma como os alunos compreendiam sua
fala ou explicação. Assim, de um lado, existia um professor interessado em ensinar e,
de outro lado, alunos que tinham interesse em aprender, mas que, por algum motivo,
não conseguiam compreender.
Parecia haver uma barreira maior, algo que para alguns alunos parecia
intransponível, enquanto, para outros, simplesmente não existia. Dessa angústia
nasceu o desejo de procurar respostas. Assim, este professor se deparava com as
dificuldades dos alunos, entre eles, “Majory”, uma das alunas da oitava série - nono
ano - do Ensino Fundamental durante o ano de 2009. Ela comparecia a todas as aulas
27
seu cotidiano, era intrigante, pois em alguns momentos os alunos com dificuldades
não conseguiam abstrair conceitos e passavam a crer que o conceito era a aplicação
direta do exemplo colocado.
Com estes questionamentos, partiu-se aos estudos de doutorado, com
interesse, inicialmente, nos questionamentos de alunos que constroem outro tipo de
matemática, buscando uma ressignificação dos processos de contar, inferir e medir,
a fim de que a matemática faça e tenha sentido.
Assim, aparece um terceiro incluso no processo de construção do
conhecimento, que revela a nova realidade que está sendo construída, tendo em foco
que:
Pedro Álvares Cabral ou alguma cor, então eu acho um jeito mais fácil
de entender (MARIANA apud CUNHA, 2010, p. 98).
4
De acordo com Cunha (2010), na transdisciplinaridade temos as disciplinas se unindo num processo
de interação na busca por construir um novo olhar a partir dos olhares distintos trazidos por cada
disciplina. Como resultado, tem-se algo parecido com um tecido no qual estão entrelaçados os olhares
das disciplinas ali presentes, refletindo algo que está entre as disciplinas, através das várias disciplinas
e além das várias disciplinas. Nesse sentido, as pesquisas transdisciplinares são distintas da pesquisa
em disciplinas, podendo-se, ainda, afirmar que são complementares. Enquanto esta tem um caráter
internalista, aquela tem caráter externalista na procura de relações entre as várias disciplinas.
30
conhecimento era, de certa forma, conflitante com a base teórica até então trazida
para os estudos do autor desta tese. No entanto, após direcionamentos e estudos
mais aprofundados, observou-se que a compreensão dos conceitos matemáticos
ocorre mais pela persuasão exercida pelo professor que por criações e
ressignificações da matemática, como havia sido proposto em um primeiro momento.
Assim, voltou-se para o seguinte: quais movimentos de contextualização persuasivos
estão na prática docente do professor de Matemática que cooperam para que o
estudante atribua sentido aos conceitos matemáticos, trabalhados em sala de aula?
Assim, o presente trabalho, em seu segundo momento, confronta a teoria estudada
com a prática, para a apresentação de alguns traços de persuasão ocorridos em sala
de aula.
Com as mudanças ocorridas no sistema escolar devido à pandemia de COVID-
19, foi necessário fazer estas análises a partir do material disponibilizado pela
professora participante desta pesquisa em ambiente virtual, em aulas síncronas e em
momentos comunicativos via chat ou outros meios de comunicação. Ao final do
processo, foram entrevistados a professora e os alunos para saber sua percepção
sobre os fatos observados em campo. A análise emergiu da apreciação do Ambiente
Virtual, das aulas síncronas ministradas pela professora das salas pesquisadas, de
sua entrevista e ainda da entrevista de seis alunos desta sala e de seis professores
de diferentes segmentos de ensino.
A presente pesquisa está devidamente registrada e aprovada junto ao
Conselho e Ética e Pesquisas da Universidade Federal do Mato Grosso sob CAAE nº
32816420.2.0000.5690.
Tendo claros os motivos que levaram a pesquisar a persuasão, nota-se que,
em sala de aula, trabalha-se muito com a adesão do aluno ao estudo, principalmente
da Matemática. Quando um docente observa que muito do que é preciso ensinar aos
alunos não tem, por vezes, correlato com o cotidiano, ele fica perdido quando
interpelado sobre a utilidade do conteúdo. Este caráter utilitário remete ao fato de que
o aluno possui uma imagem cristalizada da matemática, de acordo com Wittgenstein,
isto pois os entes matemáticos não estão fora dela, nem todos os constructos
matemáticos têm um correlato no mundo vivencial.
Assim, nota-se que o olhar do aluno se encontra enviesado pela procura de
algo que se encontra fora da matemática e que irá a justificar, por exemplo, sua
aplicação empírica. No entanto, Wittgenstein (2008, 1999, 1987, 1961) conduz a
31
5
A mesma foi realizada através de pesquisa computacional realizada no link:
https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/, realizada no mês de março do ano de 2021.
32
com o título Persuasão e tipo de argumento: um estudo de caso sobre os tipos de fala,
nas reuniões do Conselho Municipal de Saúde de Pelotas. Em seu trabalho, a autora
chama de “argumento retórico persuasivo” o movimento de procurar a adesão do
auditório. Neste trabalho, optou-se por utilizar a expressão “jogo persuasivo” para
denominar esse mesmo conceito.
Nessa pesquisa, a autora analisou as práticas políticas dos conselheiros de
saúde de Pelotas a partir de reuniões realizadas no ano de 2011. Ela examinou o
argumento retórico persuasivo de 31 encontros realizados em reuniões do conselho e
os descreveu em categorias retóricas: o argumento técnico, o apelo à autoridade, o
argumento ad persona, o apelo ao sentimento, a metáfora, a exemplificação. Como
aporte teórico secundário, a autora fez uso dos conceitos wittgensteinianos de
“iluminação de aspecto” e “mudança de aspecto”. Embora a autora tenha utilizado
todo o aporte teórico que referencia este estudo, as análises por ela evidenciadas não
se referem ao campo educativo, uma vez que os estudos são direcionados ao campo
das ciências políticas. Vale ressaltar que alguns dos argumentos utilizados na
pesquisa da Meira (2016) serão tomados como relevantes para elaboração do
presente trabalho e da análise de campo aqui descrita.
O segundo trabalho elencado tem por título, Os jogos de linguagem e o ensino
de filosofia: uma abordagem wittgensteiniana, datado do ano de 2014, de autoria de
Rafael Pereira, realizado junto ao programa de Educação da Universidade de São
Paulo. Em seu trabalho, o autor apresenta uma análise wittgensteiniana de alguns
problemas ligados ao ensino de filosofia, em que versa sobre as transformações da
filosofia em sua passagem do conhecimento acadêmico para o conhecimento escolar.
Segundo o autor, a vontade do aprendiz deve ser persuadida, de forma a animar a
aprendizagem.
Assim, pela análise das produções referentes à persuasão e à contextualização
de conceitos matemáticos, pode-se verificar que a proposta de pesquisa se apresenta
como inédita dentro da suposição da análise da persuasão em aulas de matemática,
pela proposição de como elas se configuram de modo a dar suporte, motivação e
significação para a aquisição destes conceitos.
A fim de alcançar os objetivos, apresenta-se, no primeiro capítulo, o traçado
metodológico: a presente pesquisa configura-se como qualitativa, baseada no
acompanhamento de oito meses de aulas de Matemática de duas salas de segundo
ano do Ensino Médio do Instituto Federal de São Paulo, Campus Ilha solteira.
34
(1989); Condé (1998); Glock (1996); Grayling (2002); Hebeche (2002); Monk (1995),
que influenciam no ensino e na aprendizagem de Matemática.
O capítulo quatro nasceu da necessidade manifesta em campo de pesquisa de
descrever as crenças e as concepções sobre a Matemática e seu ensino presentes
na prática dos professores. Na prática, esclareceu-se como o professor, na maioria
das vezes, é guiado por suas crenças para exercer a persuasão sobre seus alunos.
Seguiu-se para o capítulo cinco, no qual foi descrita uma visão terapêutica
proposta por Wittgenstein (1999), apresentando os vários usos feitos do contexto e da
contextualização ocorridos em sala de aula. Ainda são tecidas considerações sobre
cotidiano e cotidianidade, tendo por base os escritos de Heller (2014, 1977) e
Giardinetto (1997). Segue-se falando sobre as diferentes associações que podem ser
estabelecidas no contexto da Educação Matemática e sobre a função de das escolas
e de seus processos. No fechamento do capítulo, teceram-se as considerações sobre
como pensar a escola e seus processos.
6
Tendo em vista que a leitura direta dos escritos de Ludwig Wittgenstein não é algo fácil, torna-se
comum recorrer a comentadores de suas obras para seu estudo e melhor compreensão.
35
1. TRAÇADO METODOLÓGICO
Dados
empíricos
Articulação
Diálogo
Análise de
com os
conjuntura
autores
de análise emergidas das narrativas e das produções de informações, tendo como meta “a
busca de sentidos das falas e das ações para alcançar a compreensão ou explicação para
além dos limites do que é descrito e analisado” (GOMES et al., 2010, p. 202).
Durante o terceiro e último processo interpretativo, deve-se realizar uma construção-
síntese mediante o diálogo entre as produções de informações e os autores que tratam da
temática estudada e da análise da conjectura na atualidade.
A Figura 2 apresenta uma síntese dos passos seguidos, nesta pesquisa, na Análise
por Triangulação de Métodos, juntamente com as etapas processuais interpretativas.
7
No caso proposto desta pesquisa foram realizadas via Google Meet.
8
Devido às complicações no campo educacional quanto à pandemia ocorrida mundialmente, causada
pelo vírus SARS-CoV2 (COVID-19), as aulas presenciais foram suspensas e retomadas de forma
remota. Diante das mudanças ocorridas, o desenho desta pesquisa foi refeito para se adaptar a tal
modalidade de ensino.
40
dados da pesquisa deu-se por meio de aulas on-line e análise de material no cenário
proposto para as aulas (AVA Moodle). Os momentos, (observados) e descritos no
diário de campo pelo pesquisador, conduziram a uma proposição hipotética sobre o
uso da linguagem dentro de certa forma de vida e, consequentemente, deram base
para a elaboração da parte escrita do presente estudo. Assim, o trabalho de campo
constitui-se como principal dado para análise.
Para obtenção da evidência de jogos persuasivos de linguagens que
influenciam as aulas de Matemática, optou-se por pesquisar aquelas ministradas em
duas turmas de 2º ano do Ensino Médio integrado a cursos técnicos do Instituto
Federal de São Paulo por um período de oito meses, ocorridos de fevereiro a
novembro de 2021.
Ir a campo envolve a tentativa, por parte do pesquisador, de silenciar-se para
poder descrever tudo o que ocorre naquele ambiente. Embora esse movimento seja
altamente questionável, parece claro que o exercício empreendido é necessário.
É evidente que o pesquisador não consegue ao todo silenciar-se nesse
processo, uma vez que suas suposições, seu modo de observar os fatos ocorridos e
seu modo de percebê-los permanecem.
Com essa pretensão e pelo pautado pelos fundamentos teóricos dos autores
Bogdan e Biklen (1994), Fick (2009), Minayo (2010) e Lüdke e André (2017),
considerou-se observar as relações que sustentam os modos de os professores
persuadirem estudantes nas aulas de Matemática e as ações que podem configurar
informações para melhor delimitar o objeto de pesquisa. Dessa forma, é possível notar
que
virtual que apresenta cada unidade proposta, constituídas a partir da teoria, das listas
de exercícios, dos vídeos explicativos, da metodologia de avaliação e de outros
informes.
Os momentos síncronos, ou seja, as aulas e os plantões de dúvidas, foram
acompanhados pelo pesquisador, sendo gravados em áudio e vídeo e, em seguida,
transcritos para análise e, finalmente, descrição densa dos fatos ocorridos, com
anotações em diário de campo.
A primeira percepção dos dados da pesquisa surgiu do confronto entre os três
momentos analisados, durante os quais procurou-se por movimentos de persuasão
presentes na teoria e na prática das aulas pesquisadas.
9
AVA se refere ao ambiente virtual de aprendizagem e Moodle é a abreviatura de Modular Object
Oriented Dynamic Learning Environment (Ambiente Modular de Aprendizagem Dinâmica Orientada a
Objetos) (LEGOINHA et al., 2006).
42
porte, dado que detém apenas duas salas de cada série/ano letivo, ou seja, uma de
cada um dos cursos. A unidade escolar teve o início de seu funcionamento a partir do
ano de 2015.
As salas de aula pesquisadas contam, juntas, com 75 alunos entre rapazes e
garotas, dos quais 37 são do curso técnico de Edificações e 38 do curso Técnico de
Desenho de Construção Civil.
Quadro 1.
10
As aulas do ano letivo de 2021, do local pesquisado, tiveram início em 12 de abril, quando houve a
entrada das disciplinas dos segundos anos no bloco B.
45
alunos por intermédio de nota. Este tinha a liberdade de avaliar os alunos por vários
instrumentos: questionários, resumos, mapas mentais, fóruns, entre outros.
Para os efeitos deste estudo, foram analisados o ambiente virtual e a forma
como o conteúdo foi apresentado (Apêndice C). O acesso a este ambiente virtual de
11
O ano letivo de 2021 foi organizado em quatro etapas, constando de três unidades/blocos para as
etapas um e três, e duas unidades/blocos para as etapas dois e quatro.
46
Por ser assim, são fundamentais alguns argumentos e figuras de retórica, que
contribuirão para a presente análise. Por definição, a retórica consiste na arte dos
processos e técnicas utilizados com o intuito de persuadir seu auditório 12 1F
12
Perelman e Tyteca (2005, p. 22) definem auditório “como o conjunto daqueles que o orador quer
influenciar com sua argumentação”.
52
figura que desloca o vocabulário comum para uma imagem que ao mesmo tempo atrai
e transporta o auditório para um outro ponto de vista preterido pelo falante” (MEIRA,
2016, p. 98).
A aplicação ao cotidiano ou exemplificação consiste em um tipo de
exemplificação de conceitos matemáticos, cuja base está centrada na experiência
vivencial do aluno e em que, a partir desta, insere-se o conhecimento pretendido como
solução para um problema colocado. “Seja qual for a maneira pela qual o exemplo é
apresentado, em qualquer área que se desenvolva a argumentação, o exemplo
invocado deverá, para ser tomado como tal, usufruir estatuto de fato (PERELMAN;
TYTECA, 2005, p. 402). Com relação a esse tipo de argumento, o professor deve
tomar os devidos cuidados para que os alunos não vejam a aplicação como única e
apenas como um modo de ver.
2. A PERSUASÃO EM WITTGENSTEIN
Dessa forma, Wittgenstein procura delimitar o que poderia ser dito com sentido,
tratando de proposições que poderiam ser admitidas como verdadeiras ou falsas.
Assim, finaliza seu livro afirmando: “O que não se pode falar, deve-se calar”
(WITTGENSTEIN, 2017, p. 261).
Wittgenstein, pensando ter encontrado as estruturas atômicas da linguagem e
a forma lógica do mundo, passa a afirmar que os problemas da filosofia, a esse
respeito, teriam sido resolvidos. Após a publicação de seu Tractatus Lógico-
Philosophicus em 1921 (WITTGENSTEIN, 2017), afasta-se de Cambridge e dos
estudos, aproximadamente por seis anos, e, em parte desse tempo, dedica-se ao
ofício de professor primário em escolas da Áustria.
No entanto, após um período em que lecionou e fez várias outras atividades,
retorna a Cambridge para iniciar uma nova jornada.
Entre o final dos anos 20 e início dos anos 40 [do século XX],
Wittgenstein depara-se com uma nova concepção: a ideia de que a
linguagem deve ser concebida como uma caixa de ferramentas, por
meio da qual as pessoas desenvolvem as mais diversas tarefas e
atividades. Esta nova dinâmica deveria substituir a questão levantada
em sua primeira filosofia, expressa no Tractatus, onde existe um
mundo em si que nos é dado independentemente da linguagem, mas
que a linguagem tem a função de exprimir. Pois, se a tese do
Tractatus era que o significado de uma palavra é o objeto que ela
denota, agora é substituída pela ideia de que o significado de uma
expressão é o uso que se pode fazer dela nos vários jogos de
linguagem que constituem a linguagem. (PERUZZO JÚNIOR, 2011,
p. 74, grifo nosso).
57
primeira filosofia, o autor afirma não existir uma linguagem, mas uma multiplicidade
delas, isto é, o que existe são linguagens, o que evidencia uma variedade de usos,
uma pluralidade de usos e funções, relacionados ao entendimento dos jogos de
linguagem, da mesma forma que não há uma essência para a linguagem, também
não há uma nos jogos de linguagem.
Este é um conceito que visa organizar o conhecimento de forma a se colocar
como referência para a análise de imagens estratificadas, causando problemas ao
modo de ver e compreender como a linguagem opera. Por isso é que se procuram,
nesse caso, formas simples de vislumbrar a finalidade e o funcionamento das
palavras, tornando, assim, clara sua ação prática (MORENO, 1993).
Sob tal perspectiva, surgem novos critérios para a análise da linguagem, sendo
fornecidos pelo uso que se faz dela quando observados os vários jogos de linguagem
e as diversas formas de vida.
Wittgenstein afirma não haver uma única lógica na linguagem, ao contrário,
dado que não se tem uma essência única, como ele já afirmava em seu primeiro
momento. De modo semelhante, as diferentes lógicas se inscrevem em diferentes
práticas da língua, que, naturalmente, apresentam uma lógica própria, em que “o
significado não consiste na relação entre palavras e coisas ou numa relação figurativa
entre proposições e fatos; o significado de uma expressão é, antes, seu uso na
multiplicidade de práticas que vão compor a linguagem” (GRAYLING, 2002, p. 90).
Corroborando com tal pensamento, Peruzzo Júnior evidencia que:
Muito sobre os jogos de linguagem poderia ser dito, embora queira se destacar,
ainda que resumidamente, tratar-se de um conjunto a partir do qual a linguagem se
entrelaça, fazendo referência a quem, quando, onde está sendo dito e ainda sobre as
regras que estão sendo seguidas. É possível ainda mencionar que o jogo de xadrez,
por exemplo, apresenta um jogo de linguagem para ser jogado, no qual, mudando-se
as regras, muda-se também o jogo de linguagem a ser observado.
Ao analisar o uso das palavras, Wittgenstein (1999) observou que uma palavra
tem diferentes aplicações em seu uso, e diferentes usos guardam alguma semelhança
entre si, mesmo que essas semelhanças não sejam fixas. Pode-se observar, por
exemplo, a palavra “jogo” e tentar dizer o que o jogo tem de traço comum: Seria o
60
Esse sentido dado aos jogos de linguagem escolares pode ser compreendido
como um conjunto da linguagem, descrito sobre ela, no qual refletem o ser e o fazer
de cada forma de vida. O próprio Wittgenstein (1999) clarifica tal pensamento dizendo
62
que o “termo ‘jogo de linguagem’ deve aqui salientar que o falar da linguagem é uma
parte de uma atividade ou de uma forma de vida” (WITTGENSTEIN, 1999, p. 35).
Falar das linguagens é compreender que todos que se inscrevem dentro de
certos jogos possuem determinados comportamentos regulares, em que não se
pergunta pelo significado, mas pelo seu uso. Quer-se dizer, então, que palavras
usadas em contextos diferentes, ou mesmo em situações diferenciadas, nas quais as
regras sejam diferentes e consensuais ao grupo, e suas respectivas significações
podem não ser as mesmas, uma vez que as relações pragmático-linguísticas,
desenvolvidas em cada uma dessas circunstâncias, não são iguais. “Em todo o caso,
é somente inserido em um jogo que podemos falar de algo com sentido, nenhum jogo
acontecerá no vácuo ou mesmo terá sentido em si mesmo. São as regras que
determinam o jogo” (ARRUDA JÚNIOR, 2017, p. 88).
Neste sentido, na presente análise, as meias palavras, as reticências, as frases
incompletas, apresentam sentido tanto para o professor quanto para o aluno, dado
que participam do mesmo jogo de linguagem.
Em vista disso, pode-se considerar ainda que a Matemática escolar, por si
mesma, constitui-se uma linguagem com jogos de linguagem próprios e relativamente
rígidos.
Para melhor clarificar, Wittgenstein (1999) afirma que os falantes são regidos
por sua linguagem e que o fazer matemático passa pela validação em uma forma de
vida. Nesse sentido, pode-se pensar que o fazer matemático está preso à linguagem,
sendo que aqueles que criam novos jogos, ou suas próprias formulações matemáticas
que não possuem a mesma lógica, não têm suas proposições aceitas como
63
verdadeiras, de modo que é possível inferir que o valor de verdade está inscrito dentro
da lógica de linguagem.
Moreno (2000, p. 58) afirma ainda que o significado deve ser atribuído “no
conjunto dos usos que fazemos dos enunciados, e cada situação de seu emprego
revela uma parcela, um aspecto, desse conjunto, a ele ligado por semelhança de
família”.
Ao lançar seu olhar sobre a compreensão de jogo, Wittgenstein traz à baila o
domínio de uma técnica (WITTGENSTEIN, 1999). A palavra pode parecer estranha e
remeter a algo fechado, porém, deve-se colocá-la dentro dos jogos de linguagem.
Assim, a técnica é o caminho para a compreensão de como saber fazer, ou fazer
como, ou fazer corretamente. Isso é um fato que, nos escritos do autor, verifica-se que
o domínio da técnica precede a compreensão, de forma que a técnica pode ser
compreendida como o caminho para a compreensão, o caminho tomado para que a
64
certa forma de vida, a manipular objetos dentro de uma nova realidade constituída.
Significa, finalmente, levar à compreensão das regras que regem e governam esse
modo de vida.
Sob tal aspecto, deve-se compreender o que Wittgenstein apresentou, tendo
claro que não existe uma linguagem única, mas vários jogos que compõem a
linguagem de cada povo, cada cultura. E tais jogos perpassam o ambiente escolar, de
forma que não se pode negar sua ocorrência e suas consequências. Estes devem ser
cada vez mais estudados para que se compreenda como se constrói o conhecimento.
A partir do arcabouço teórico proposto por Wittgenstein, passa-se agora a
abordar a persuasão e, para isto optou-se por fazer um resgate a partir de rastros de
sua evidência na História.
13
Maiores esclarecimentos sobre este fato são colocados no item 3.4 deste estudo.
69
14
Perelman e Tyteca (2005, p. 22) definem auditório “como o conjunto daqueles que o orador quer
influenciar com sua argumentação”.
70
A origem dos sofistas remonta à Sicília grega por volta de 465 a.C. De acordo
com Reboul (2004), como não existiam advogados para a defesa das causas públicas,
surge um grupo de pessoas versadas na arte do discurso persuasivo para auxiliar
aqueles que precisavam ter êxito em suas causas. É importante frisar aqui que a
retórica, enquanto a arte de persuadir, já podia ser detectada entre hindus, chineses,
egípcios e hebreus.
Dessa forma, o poder da persuasão sobre os ouvintes passou a ser objeto de
estudos, visto que os oradores procuravam desenvolver métodos de convencimento
de cunho prático, restritos ao âmbito da defesa jurídica das pessoas que os
contratavam.
Assim nasceram os sofistas, os quais levaram adiante o estudo da retórica que
trata dos modos de convencimento e métodos de adesão de seu auditório. Eles
ampliaram os estudos para além da esfera da defesa pública e defendiam certo
relativismo, já que a verdade se referia a um modo de pensar.
71
Assim, quanto à sua forma, pode-se dizer que “o discurso retórico se especifica
por tentar persuadir 15 a respeito de uma questão provável, controversa. A finalidade
14F
15
Persuadir, etimologicamente, advém de persuadere, per + suadere. O prefixo per significa “de modo
completo” e, por sua vez, suadere quer dizer “aconselhar” (“não impor”). As palavras da mesma família
esclarecem o valor da raiz: saudv-, Suavis – suave, savium = beijo terno. Daí vem o sentido geral de
persuadere = aconselhar, levar alguém a aceitar um ponto de vista de modo suave, habilidosamente
(TRINGALI, 1988, p. 20).
72
desse processo será a retórica, ou seja, a arte de bem falar, de utilizar a linguagem
em um discurso persuasivo”.
Dessa forma, ele procurou moralizar a retórica, que deixou de ser vista
como discurso meramente persuasivo para ser produtora de
sabedoria. Em oposição ao mero virtuosismo sofístico, a retórica de
Isócrates comportava um viés educativo – uma eloquência com
alcance cívico e patriótico. Mas essa sabedoria, condição de justiça e
da verdade, dependia, em cada caso, da doxa, sendo assim uma
espécie de bom senso (ALVES, 2005, p. 4).
recebiam uma dura crítica por defenderem certo relativismo. Nesse cenário, surge
Aristóteles, o qual propõe que a retórica vá além de receitas recolhidas da empiria, de
maneira que ele desenvolve uma teoria retórica assentada em princípios
argumentativos, elaborando, assim, os meios de prova, de raciocínio empregado e de
silogismos aproximativos, os quais, até aquele momento, haviam sido negligenciados.
É importante citar que, na época de Aristóteles, a retórica, juntamente com a
gramática e a dialética, compunham o Trivium, o qual era o primeiro ciclo de estudos
universitários.
Tem-se, assim, segundo Reboul (2004), que a retórica é a arte 17 de persuadir
16F
pelo discurso, levando em consideração que nem todos os discursos são persuasivos,
mas somente aqueles que visam a persuadir seu auditório, seus ouvintes.
16
“Comunidade cujo governo era desenvolvido pelos próprios cidadãos (homens livres, em grego:
politikos), separando claramente o espaço público, do privado; regida por normas gerais, preceitos e
um poder por eles guiado, realizava comércio com outras cidades, durante a Antiguidade Grega (século
VIII a.C.): Pólis Grega” (DICIO, dicionário on line de português).
17
O sentido de arte proposto advém do grego techné, que se apresenta tanto como uma habilidade
espontânea quanto como uma competência adquirida por meio do ensino.
74
de persuasão do orador. A persuasão faz uso da lógica informal, assim, “não existe o
verdadeiro ou o falso no plano argumentativo, como ocorre na lógica formal, mas, sim,
a verossimilhança, do plausível, do provável, dado que as opiniões são valorizadas, e
a força delas é que irá conduzir o auditório para uma ou outra tese” (OLIVEIRA;
OLIVEIRA, 2018, p. 205). Nesse percurso, segundo os autores, deve-se levar em
conta o tipo de auditório a que o discurso é dirigido.
Enquanto os métodos aristotélicos fazem uso da lógica formal, os métodos
persuasivos se valem da lógica informal.
como a arte de falar em público de maneira a persuadir seus ouvintes, estava ligada
ao bem falar, ao apelo aos sentimentos com o objetivo de conseguir o efeito esperado,
a retórica proposta na atualidade por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005) mostra
interesse não no discurso enquanto fala, mas em seu aspecto lógico, enfatizando a
troca argumentativa assentada em razões, ou seja, nos elementos que fazem com
que cada um seja persuadido ou convencido.
Para efeitos deste estudo, é importante ressaltar que, para haver
argumentação, é necessária uma espécie de comunhão entre as pessoas, visto que
é imprescindível o contato intelectual, o qual se constitui como condição prévia para a
comunicação, em que o “mínimo indispensável à argumentação parece ser a
existência de uma linguagem em comum, de uma técnica que possibilite a
comunicação” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 17). Os autores deixam
claro, ainda, que os recursos da argumentação devem excluir os casos nos quais o
poder seja exercido por meio de violência.
Passa-se, neste momento, à diferenciação entre argumentação e
demonstração propriamente dita dentro do campo de lógica da forma como ela é
compreendida neste trabalho.
A demonstração se utiliza da lógica formal e tem por base o impessoal e a
independência dos ouvintes, movidos por um tipo de prova impessoal que faz com
que a adesão seja evidente. Partem-se de axiomas, ou postulados, que são tomados
como verdades absolutas. Por meio do cálculo, deduzem-se consequências de certas
premissas que levam à conclusão de verdades absolutas.
Já o método sofístico/argumentativo se dirige a pessoas e auditórios
específicos, ou seja, recorrendo à adesão por assentimento mental da audiência. Pois,
a persuasão é consequência natural de uma ação sobre a vontade, onde o toda a
argumentação deve ser construída a partir do momento em que se conhece o
auditório, onde a identificação psicológica, sociológica ou ideológica do auditório é
essencial. “Essa verossimilhança só será considerada válida se estiver baseada nas
“verdades” daquele auditório” (DAYOUB, 2004, p. 43). O estado de espírito deste terá
que ser considerado, a sua crença terá de ser reforçada ou modificada pela
argumentação. Assim, o discurso deve ser adaptado ao receptor da mensagem.
ser indiferente aos valores destacados por seus interlocutores: é preciso haver certa
congruência com o senso comum de seu auditório. Para isso, é necessário que o
orador se coloque como membro da comunidade linguística e não como alguém
externo a ela.
No momento em que o orador se coloca como participante da comunidade, ao
exercer sua atividade retórica, deve atentar-se para que não haja incompatibilidade
comunicativa, pois a contradição é colocada pela lógica formal como uma falha na
demonstração. Dentro da lógica informal, “a incompatibilidade ocorre em função das
consequências e, uma vez que a argumentação está imersa na língua natural – cujos
signos são ambíguos –, nada é evidentemente absurdo” (ALVES, 2005, p. 44). A
incompatilibidade está vista aqui com o sentido ligado ao de ridículo, já que “uma
opinião é ridícula quando entra em conflito, sem justificação, com uma opinião
admitida”.
Lógica
Informal
Eficácia Opinião
Argumentação
Incompati- Razoabili-
bilidade dade
Imparciali-
dade
que não goza de prestígio com seu auditório encontrará empecilhos para alcançar a
persuasão.
Para o propósisto deste trabalho, será abordada a definição de auditório que
tende a ser o auditório particular 18, descrito por Perelman e Obrecht-Tyteca (2005), o
17F
qual não é universal, uma vez que os itens persuasivos de determinado auditório
podem não ser obtidos com sucesso em um outro. O ponto de partida de sua
argumentação deve ter claro que “aquilo que é aceito nesse auditório não tem validade
exterior, para além dos contornos daquele grupo” (PERELMAN; OBRECHT-TYTECA,
2005, p. 54). Mesmo que seja possível questionar que alguns itens pesuasivos são
universalmente aceitos como importantes, a admissão de um auditório universal é
entre os autores. Há, também, uma idealização do orador, constituída de uma
universalidade de direito. Os autores citam, ainda, que há um conjunto potencialmente
aberto, do qual fazem parte todos os seres humanos.
Para encerrar esta seção, serão abordados dois itens essenciais para a análise
deste trabalho: o fato e as verdades. De acordo com o arcabouço teórico aqui
colocado, para um fato não há uma única definição em todo tempo e lugar, porque
cada grupo cultural vê um fato válido de acordo com seu modo de vida, e deste
dependerá a atitude do auditório, o qual conceberá o fato como válido e verdadeiro,
ou ainda, como inválido e falso. Os autores defendem que os fatos apresentam uma
interface com o modo de vida. Quanto aos conceitos de verdade, eles são de caráter
mais complexo, com escopo mais geral e ligado a vários fatos, pois a verdade se
constitui de ligações entre vários fatos dentro do modo de vida de cada grupo cultural.
18
Para efeitos deste trabalho este tipo de auditório é o conjunto de alunos que o professor quer
influenciar com sua argumentação.
83
A criança aprende essa língua […] sendo treinada para usá-la. Estou
usando a palavra “treinado” de uma forma estritamente análoga
àquela em que falamos de um animal sendo treinado para fazer certas
coisas. Isso é feito por meio de exemplo, recompensa, punição e
coisas semelhantes (WITTGENSTEIN, 1961, p. 77).
Nesse ponto, deve-se ter claro que os conceitos postos por Wittgenstein vão
além da conotação da compreensão de significados que se estendem à quebra da
vontade de um animal. Surgem, então, indagações: quais fatos decorrem dessa
constatação prática? Por que Wittgenstein escolheu um termo considerado tão brutal
para a realidade?
Para Friesen (2016), deve-se reconhecer e observar a estreita conexão de
muitos termos e concepções wittgensteinianas influentes – desde a definição
ostensiva, o cumprimento de regras e as formas de vida até os jogos de linguagem.
Certo é que se pode afirmar, juntamente com Wittgenstein, que as explicações
chegam ao fim em algum lugar (WITTGENSTEIN, 1999) e, em muitos casos
importantes, são, forçosamente, encerradas antes mesmo de começar, pois as
pessoas afirmam ser do modo como agem.
Friesen (2016) evidencia que as tentativas de justificar a escolha de
Wittgenstein pela palavra abrichtung teriam de apontar para o insight sobre a prática
da observação, isto é, sobre o que ocorre na realidade. É preciso ter em vista que a
linguagem deve, simplesmente, ser aprendida como tal, uma vez que não há maneiras
de explicar e fundamentar significados fora da linguagem, pois “Estamos presos em
nossa pele” (Gebauer, 2013, p. 199). É importante compreender que não existe jogo
de linguagem sem o corpo, pois é este que participa das práticas culturais.
Para Wittgenstein, tais significados e regras são constituídos em cada forma de
vida e se relacionam à comunicação entre os pares dentro de uma comunidade de
falantes.
Ao falar sobre a persuasão, Perelman (1987, p. 235) propõe uma prática
argumentativa, que significa reconhecer capacidades e qualidades de um ser, no qual
a comunicação mútua é possível e, “em seguida, renunciar a dar-lhe ordens que
exprimam uma simples relação de força, mas sim procurar ganhar sua adesão
intelectual”.
No cenário apresentado, deve-se admitir que ensinar não se restringe à
transmissão de significados fora da linguagem, extralinguísticos, mas, sim, pensar que
87
se aplica ao extrínseco e ao intrínseco de cada ser humano. Com isto, quer-se dizer
que se relacionam a um saber (intrínseco) que direciona o modo de pensar, por se
acreditar em algo. Por outro lado, relacionam-se a um saber fazer (extrínseco), que
direciona os atos daquilo que se faz, os quais muitas vezes são dados tacitamente.
Nesse sentido, “o conhecimento que os professores têm dos conteúdos
matemáticos interage com suas suposições e crenças sobre ensino e aprendizagem,
alunos, e caminhos para ensiná-los” (BALL, 1991, p. 1), formando um complexo
sistema, cuja análise deve ser realizada com cuidado.
Para tanto, é relevante discorrer sobre a constituição da profissão docente. A
seguir, resgatam-se as concepções presentes na prática do professor de Matemática,
por acreditar que elas direcionam certas escolhas. Após isso, haverá uma incursão no
sentido terapêutico proposto para o que os vários autores assumem como crenças
presentes na prática de sala de aula do professor.
Assim, será mostrado que as crenças se baseiam nas certezas que os
professores trazem para a sala de aula. Na parte final, será realizado um panorama
com autores que discutiam crenças e concepções no mesmo momento em que vivia
Wittgenstein e, além disso, serão tecidas considerações com base em sua filosofia.
Os retalhos, inseridos aqui, cooperam para que se tenha certa clareza sobre as
crenças que acompanham a prática docente, em especial, aquele que ensina
Matemática em sala de aula.
As escolas estão imersas em uma realidade complexa e intrincada, em que
múltiplos atores, processos, ciclos e regularidades operam de modo tácito. Estes, por
sua vez, geram diversas formas de explicar e justificar os significados, as
interpretações e as concepções sobre a realidade escolar.
A análise dessas formas de explicar e justificar o que ocorre em sala de aula
passa pelo momento de refletir, mesmo que, em linhas gerais, sobre como se constitui
um professor e quais modos de compreensão do ato educativo orientam sua prática.
Implica, ainda, descobrir quais conhecimentos ele traz para a sala de aula, os quais
direcionam a ação diária nesse ambiente. Essas observações são importantes porque
trazem luz à pesquisa aqui apresentada.
92
19
O TEDS-M é o primeiro estudo comparativo internacional em grande escala sobre o ensino superior,
com foco na formação inicial de professores de Matemática no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.
O TEDS-M foi dirigido e coordenado pela IEA (Associação Internacional para a Avaliação do
93
Desempenho Educacional). Esse relatório espanhol apresenta os dados mais importantes do relatório
internacional elaborado pela IEA (2012). Para mais detalhes, consultar Tatto et al. (2012).
94
Ainda pode-se fazer a análise das concepções que surgem quanto ao uso do
material curricular em Matemática: livros didáticos, manuais, apostilas e outros
materiais, que apresentam relação com o modelo de ensino e que trazem concepções
da Matemática. Ernest (1989) apresenta três padrões de uso desses materiais:
Nesse sentido, autores como Fiorentini (1995), Félix (2001) e Cury (1999, 2007)
evidenciam que as crenças e a concepção de Matemática, que o professor assume
para si, influem na prática de sala de aula, no tipo de atividades que propõe, na sua
interação com seus alunos, nas avaliações e na forma de abordar o erro cometido
pelo aluno, entre outros fatores. Afirmam ainda que as crenças dos professores que
ensinam Matemática têm, em grande parte, origem nas suas experiências prévias
como alunos de Matemática, embora não somente como alunos, porque formam um
complexo que possui, por vezes, outras influências.
98
Pelas leituras realizadas, pode-se inferir que alguns autores utilizam os termos
“Concepções” e “crenças” como termos correlatos, não havendo distinção clara entre
eles.
É desse complexo de relações que emergem os saberes do professor, e estes
se apresentam como certezas no campo do filosófico – suas bases se mostram
diferentes das crenças confirmadas por práticas em sala de aula que os corrobora e
lhes dá sentido.
Neste sentido, a Matemática tem se configurado como uma disciplina de difícil
compreensão, uma vez que lida com um conjunto de teorias e objetos abstratos. De
acordo com Machado (2009), para alguns professores, o ensino, em razão de sua
dificuldade, reduz-se à memorização de seus aspectos mecânicos e à repetição com
as mudanças de algumas variáveis. Para esse grupo de profissionais que assim
pensam, a matemática resolve problemas.
Para outros professores que ensinam Matemática, esta apresenta sua utilidade
na resolução de problemas surgidos no cotidiano, pois a Matemática está em tudo.
Sob tal viés, a Matemática serve para resolver problemas, sendo vista, ainda, como
uma criação humana necessária para a solução de problemas ligados ao cotidiano
vivencial.
As várias concepções que podem-se assumir para a necessidade ou a
validação da matemática, em conformidade com Ponte (1992), dão origem a crenças
e mitos sobre essa disciplina escolar, relacionados ao ensino do professor e à
aprendizagem do aluno.
99
Fonte: Elaborada pelo autor com base em Hart (1989), Thompson (1992) e Pehkonen (1994).
Cury (1999) afirma existir uma certa vagueza relacionada aos termos “crenças”
e “concepções” e acrescenta que, entre os vários pesquisadores, não há uma
unanimidade sobre sua definição, constatando, ainda, que, por vezes, algumas
definições podem ser conflitantes.
Em conformidade com Shulman L. e Shulman J. (2016), o professor, em sua
prática docente, utiliza visões próprias, motivações e compreensões para
desempenhar seu trabalho. Na visão dos autores, está implícito que a prática docente
se ampara sobre algo que é próprio do professor, ou seja, sobre aquilo que foi
construído em sua jornada até chegar à sala e aula e, ainda, na confrontação entre
esta e seus supostos de certeza. Assim, essa visão própria direciona o fazer em sala
de aula e lhe dá sentido. Acredita-se que tal arcabouço oferece os direcionamentos
101
da ação possível ao ambiente escolar. Vale frisar que este não é estático, pelo
contrário, está em constante mudança quando se confronta a compreensão do
professor com a realidade colocada por cada sala de aula.
Com relação a isso, Zat (2012, p. 56) acredita que a partir da confrontação do
professor com sua prática se “origina a produção de saberes da experiência e por ela
são validados. Geralmente são assimilados pela vivência individual e coletiva sob a
forma de habitus e de habilidades de saber fazer e de saber ser”.
Segundo Gómez-Chacón (2003), as crenças são vistas como parte do
conhecimento do professor, tendo uma natureza cognitiva formada por aspectos
afetivos, avaliativos e sociais. Esses aspectos viabilizam organizar e filtrar
informações obtidas, sobre as quais organizam sua percepção de realidade e sua
visão de mundo. Forma-se, desse modo, um esquema conceitual que filtra novas
informações com o apoio da confrontação das que já foram, antecipadamente,
processadas. Para a autora, nesse processo, são efetivadas ou descartadas crenças
sobre a Matemática e seu ensino e, ainda, sobre o contexto para o qual a matemática
se torna importante.
Martins e Curi (2020) complementam dizendo que:
caracterizam o modo como o professor conduz sua prática, seja em sala de aula, ou
mesmo fora dela, uma vez que a abstração lhe traz um caráter, necessariamente, não
correspondente à realidade dada.
De maneira geral, concorda-se que as crenças se referem a uma forma de
conhecimento pessoal e subjetivo, que apresenta raízes na opinião própria de cada
indivíduo. Vila e Callejo (2006) afirmam que estas são construídas, sobretudo, por
meio da experiência pessoal de cada um, das informações que cada um julga
relevante e de suas percepções. Acerca disso, Ferreira (s.d., p. 399) evidencia que a
crenças são a “forma de assentimento que é objetivamente insuficiente, embora
subjetivamente se imponha com grande evidência”.
Enquanto houver pessoas diferentes, haverá visões diferentes sobre crenças,
atitudes, emoções, significados, imagens mentais, conceitos e assim por diante. A
definição não desempenha um papel importante na pesquisa e, portanto, cada
cientista atribuirá a importância de diferentes aspectos relacionados a investigações
particulares. Isso significa que a definição é afetada pelas questões e pelo motivo da
pesquisa. Logo, não se pode dizer que uma definição esteja errada e outra certa: elas
podem ser consideradas mais ou menos adequadas (BREITEIG et al., 2005, p. 2).
Segundo Thompson (1992), as concepções sobre o ensino e a aprendizagem
de Matemática não estão relacionadas de forma simples a causas e efeitos. Sugere-
se que a relação seja complexa, com várias fontes que exercem influência sobre a
ação em sala de aula. Uma delas é o contexto social em que ocorre o ensino, e ela se
soma às restrições e às oportunidades que lhe trazem e dão sentido. Além disso,
“Embutidos neste contexto estão os valores, crenças e expectativas dos alunos, pais,
colegas professores e administradores; o currículo adotado; as práticas de avaliação;
e os valores e inclinações filosóficas do sistema educacional em geral” (THOMPSON,
1992, p. 138).
A partir das leituras colocadas sobre as crenças e as concepções, para este
trabalho, são tomadas as definições de Scheffler (1965), Thompson (1992, 1984) e
Ernest (1989, 1991). Assim, pode-se afirmar que as crenças são suleadoras de
práticas e ações de cada professor, sendo direcionadas por elas. É importante frisar
que a mudança de uma crença só ocorrerá pelo diálogo entre os pares, de forma a
defrontar o conhecimento construído e a realidade vivenciada. Tal processo não deve
ser imposto: trata-se de uma ação própria de reflexão, a qual vários autores têm
chamado de ação reflexiva do professor.
104
Com essa compreensão, não se buscam fins últimos, mas se tem como objetivo
“buscar compreender quais as regras que orientam o uso do conceito dentro de seu
sistema referencial específico, quais outros conceitos estão ligados a ele etc.”
(MANDELI, 2012, p. 47). Assim, as verdades relacionadas pertencem ao quadro de
referências (Bezzugssystem) (WITTGENSTEIN, 1969, §83, p. 35) e não se baseiam
em evidências assumidas como verdadeiras.
Desta forma, não se considera ser possível a validação total das práticas e
crenças, ao passo que os jogos de linguagem não se encontram encaixados e bem
formatados. Isso porque eixo sobre o qual o sistema opera não está fixo no sentido
de haver algo que o segure e, na verdade, é o movimento em torno dele que determina
a sua mobilidade (WITTGENSTEIN, 1969, § 152, p. 55). Não se parte da verdade já
estabelecida (WITTGENSTEIN, 1969, § 153, p. 55), mas se aprende a agir de certa
forma. Somente depois formulam-se proposições sobre essa prática: “no princípio era
a ação” (WITTGENSTEIN, 1969, § 402, p. 113).
A segunda filosofia de Wittgenstein, considerada a partir da primeira publicação
de suas investigações filosóficas em 1953, passa a considerar um novo quadro
conceitual, em que ideias como certeza e conhecimento, até então ligadas a
Descartes em suas Meditações Metafísicas, passam a estar subordinadas ao
conhecer, assumindo novas configurações na forma de vida. Assim,
Engel e Rorty, em seu livro “Para que serve a verdade” (2005), oferece um
panorama de discussões sobre a verdade e seus fatores. Uma de suas conclusões é
que a verdade nada mais é do que um acordo entre os membros de um grupo ou
comunidade, o quão não possui um fim último, não podendo ser tomado por valor de
verdade. Os autores trazem importante discussão ao tratar a verdade como uma
crença validada por certo grupo, sendo colocada como a efetivação de um tripé que
lhe traz e dá sentido: crença, asserção e verdade.
Para Wittgenstein (1969), na ação cotidiana, as crenças se mostram com certo
conformismo de que as coisas sejam verdadeiras, porque é assim que funciona, é
assim que se age. “Porque é que não verifico se tenho dois pés quando quero
levantar-me da cadeira? Não há porquê. Não o faço, simplesmente. É assim que ajo”.
(WITTGENSTEIN, 1969, § 148, p. 55, sic). Acredita-se ser primordial frisar novamente
que o significado das palavras não deve ser procurado fora de uso. “Basta então que
se seja capaz de usar determinadas palavras no diálogo com outra pessoa e que essa
pessoa as compreenda, para que se saiba jogar o jogo (FURTADO, 2011, p. 20).
De acordo com Wittgenstein (1969, § 509, p. 143), “um jogo de linguagem só é
possível se confiarmos nalguma coisa”. O filósofo parece alertar para o fato de que
não há linguagem sem crenças, já que as duas se justificam mutuamente.
O autor afirma, ainda, que a linguagem se relaciona a um sistema que dá
sentido às crenças dentro de cada forma de vida, visto que linguagem e crenças
107
caminham juntas. Então, pode-se dizer que, de certa forma, essas crenças almejam
a verdade e, em certa medida, tendem a não ser totalmente individuais ou privadas.
Wittgenstein (1969, § 225, p. 71) afirma que “aquilo a que me agarro não é uma
proposição, mas um conjunto de proposições”. Assim, pode-se ver que as crenças,
conforme já foi afirmado anteriormente, não se apresentam sozinhas, mas são
amparadas em outras crenças ou fatos que lhes dão o arcabouço de sentido. “O que
dizemos adquire o seu significado a partir do resto dos nossos procedimentos”
(WITTGENSTEIN, 1969, § 229, p. 71).
A crença é de tal natureza que os fundamentos para tal ação não se mostram
tão seguros quanto as ações do saber sobre a certeza e, desse modo, não se pode
dizer que se acredita naquilo que já se sabe. A crença e o saber têm instâncias e
certezas diferentes: enquanto a crença pode ser subjetiva em certo sentido, o saber é
construído e validado socialmente.
Pela leitura de Engel (2005), é possível inferir que a crença pode ser ainda vista
como uma disposição para agir ou um hábito de ação, ou mesmo como aquilo que
está preparado para agir de determinado modo. Concorda-se com Bain (1859, p. 568)
ao “afirmar que a crença não tem sentido exceto em referência às nossas ações; sua
essência ou importância é tal que a coloca sob a região da vontade”.
Verifica-se, assim, que a crença, desde muito cedo, já era vista como ação e
não sua declaração e, por esse motivo, só se pode confrontar as crenças pelo modo
como se age em certas situações, ou seja, na ação é que a crença se mostra.
Por se tratar de um hábito, a crença não é, necessariamente, consciente,
108
embora, em alguns casos, possa, de fato, ser. Peirce (1966) efetua um refinamento
do pensamento, ao passo que Bain (1859) conecta a crença a um hábito que possui
uma disposição para agir de certas maneiras. Vale lembrar, neste momento, que o
autor segue a linha do pragmatismo 20, à qual, posteriormente, Wittgenstein também
19F
aderiu.
De maneira mais amena, Ryle (1949) afirma que as crenças se apresentam
como disposições em aberto, disposições de “muitos rastros”. Ao fazer essa leitura,
procura lidar com a crença por sua característica holística 21, dada a outras crenças e
20F
a desejos. Os rastros remetem, mais uma vez, ao modo de ação do hábito realizado.
Do exposto, pode-se declarar que as crenças efetivamente existem e que há
diferentes definições sobre elas. Certamente, têm-se que os diferentes usos da
palavra crença mostram que é algo instaurado como dispositivo para a ação
diferentemente da abordagem Wittgenstein que considera que são os jogos de
linguagem das formas de vida que mobilizam crenças, valores segundo a finalidade
desses jogos. Por ser assim, as pessoas são levadas a não proclamar definições
precisas, mas a ver como as crenças se apresentam dentro de cada forma de vida.
Para Wittgenstein, a aprendizagem do significado de uma palavra consiste na
aquisição de uma regra ou de um conjunto de regras que orientam seu uso. Isto é, a
percepção de uma regra está no ver como e não apenas no ver. Aprender, portanto,
não se limita a ver, mas a ver como; não se trata de ver um objeto ou palavra sem
vida, mas sim de ver uma forma de vida com seus aspectos em seu contexto. Ver
como, ver o aspecto, ver, no contexto Wittgenstein, chama-se persuasão.
Com isso, reafirma-se que, dentro de cada forma de vida, as crenças se
mostram em sua ocorrência mundana, nas quais o crente acredita e as quais
considera como verdade. Em vista disso, há aspectos diretos que ligam as interações
das pessoas com o mundo, dentro de sua forma de vida. É possível também concordar
com Monk, para quem a crença “só possui significado na corrente da vida. […]
Compreender um enunciado é estar preparado para um de seus usos. Se não
pudermos imaginar nenhum uso para ele, então não o compreendemos” (MONK,
20
Para efeito deste trabalho, de forma bastante resumida, admite-se a definição dada por James (2010,
p. 32) (1907, ano de primeira publicação): “A atitude de olhar desde as primeiras coisas, princípios,
“categorias” supostas necessidades, e de olhar para as últimas coisas, frutos, consequências, fatos”.
21
De acordo com Weil (1993), a visão holística se refere à metáfora do holograma que consiste em
observar e analisar o todo em suas partes e as suas partes em um todo que lhes dá sustentação,
sentido e coerência. Assim, configura-se uma visão panorâmica das crenças.
109
1995, p. 489).
Diante do exposto, as crenças e concepções do professor sobre a Matemática
apresentam um duplo sentido, uma vez que, primeiramente, apresentam-se como
algo que faz parte da identidade do professor, além de identificar e também direcionar
sua prática.
Assim, assume-se como referência para as análises a perspectiva apresentada
por Bain (1859), a qual compreende a crença como um hábito para agir de certas
maneiras, as quais só terão sentido dentro das ações e encontrarão sua essência
sobre o terreno das vontades.
Assim, compreende-se que o ato persuasivo do professor que ensina
matemática se constitui nos jogos de linguagem que mobiliza com vistas ao
convencimento do aluno a jogar segundo as regras da gramática da Matemática.
Tendo isso claro, passa-se a analisar outro fator que coopera fortemente com o ato
persuasivo para com o ensino: contextualização.
110
5. A CONTEXTUALIZAÇÃO
Verifica-se, ainda, que a busca por respostas, certamente, passa por pensar
sobre o aluno que se tem nas escolas, visto que não é mais possível refletir acerca da
escola sem antes pensar em como se deseja que o aluno esteja ao concluir o processo
de escolarização.
Para tanto, o presente capítulo foi pensado em cinco tópicos, os quais se
relacionam de forma a oferecer uma visão terapêutica 22 sobre os processos de
21F
contextualização.
A terapia operacionaliza-se quando não se apresentam respostas prontas
nem fins últimos colocados como redentores de fórmulas que possam se
apresentar como definitivas. Os processos de contextualização, assim como a
palavra contextualização, remetem a uma polissemia, cujo termo torna-se, de certa
forma, impreciso e carregado de vários sentidos, os quais se mostram em vários
modos de se conceber o ensino e a aprendizagem da Matemática. Assim, “a pretensa
linguagem unitária fragmenta-se então em inúmeros sistemas, os ‘jogos de
linguagem’, enraizados em nossa ‘forma de vida’ (Lebensform)” (CHAUVIRÉ, 1989, p.
89).
Nesse sentido, concorda-se com Chauviré (1989) quando afirma que,
22
De acordo com Moreno (2000), a terapia filosófica, proposta por Wittgenstein, corresponde a quatro
momentos: 1. Verificar como se usa a palavra e como ela é aplicada em várias situações; 2. Colocar a
palavra em seu contexto primitivo de uso; 3. Inventar ou pesquisar usos intermediários, com o objetivo
de apresentar nuances dos jogos de linguagem, ou seja, múltiplas ligações analógicas da palavra; 4.
Comparar os diversos usos em que a palavra pode ser usada.
112
Para ter seu pleno valor, as matemáticas devem ser uma utilização “no
civil”. Segundo esta concepção pragmática (se não instrumentalista)
das matemáticas, todo conteúdo cognitivo reside em sua utilização: 2
+ 2 = 4 não passa “de uma preparação para um certo uso da
linguagem” (CHAUVIRÉ, 1989, p. 102).
Sob tal aspecto, em um primeiro momento, este estudo se baseia nos escritos
de Agnes Heller (1977, 2014) para fazer uma das leituras possíveis sobre o cotidiano
e a cotidianidade – a autora afirma que os processos colocados no viver diário não
são, diretamente, um conhecimento elaborado. Em seguida, segue-se para o segundo
tópico, no qual se discute a questão de uma Matemática única e universal ou muitas
Matemáticas. Estas podem estar presentes no saber e no fazer de cada grupo
culturalmente distinto, e é neste ponto que se discute, brevemente, sobre a
necessidade ou não do conhecimento Matemático acumulado no decorrer dos tempos
pela humanidade.
Segue-se um terceiro momento, em que se pensa a escola, sua função e sua
existência, de modo que se discuta a questão de uma escola que seja emancipadora.
Discute-se, ainda, uma visão da escola com função decolonialista, ao passo que se
traz à baila o que cabe na e à escola nos tempos atuais. Assim, segue-se ao próximo
momento, em que se discute a contextualização, os jogos de linguagem e seu uso.
Neste momento, fala-se sobre as várias trilhas possíveis para esse processo, com
evidência para a polissemia, ou vaguesa, ou seja, sobre os vários significados e usos
de cada jogo de linguagem.
Neste sentido, procura-se uma correspondência do termo “contextualização”
com os momentos do percurso terapêutico proposto por Moreno (2000, p. 73-75):
1. Verificar como se usa a palavra e como ela é aplicada em várias situações;
2. Colocar a palavra em seu contexto primitivo de uso; 3. Inventar ou pesquisar usos
intermediários, com o objetivo de apresentar nuances dos jogos de linguagem, ou
seja, múltiplas ligações analógicas da palavra; 4. Comparar os diversos usos em
que a palavra pode ser usada.
Com relação ao contexto, Valero (2002) coloca como problemáticas as visões
estabelecidas emergentes atualmente na educação matemática, ressaltando o
distanciamento entre estas e a realidade de sala de aula e defendendo-as como
espaços significativos de diferentes situações, arenas e níveis de ação social. A autora
acredita que a matemática coopera para que o aluno se posicione socialmente. Com
113
relação a este aspecto, corrobora-se com a autora por acreditar que é possível e
importante que assim seja concebida a matemática.
Encerra-se colocando o contexto em foco, visto que os processos de
contextualização contribuem com a aprendizagem da Matemática na escola, pois
trazem vida e sentido à aprendizagem matemática, lançando luz e motivações aos
processos de persuasão.
Assim, segue-se apresentando algumas análises que oferecerão base para
tratar do cotidiano e da análise das informações produzidas pela pesquisa.
Por esse seu caráter, as ideias não chegam a ser pensadas ou elevadas ao
seu plano teórico, do mesmo modo que não se trata de práxis. De acordo com a autora
(HELLER, 2014), a atividade humano-genérica só se torna práxis quando se torna
atividade pensada conscientemente em sua complexidade. Por não apresentar esse
caráter, acaba por ser uma atividade absolutamente pragmática. “Nessas atividades,
é mais o gesto mecânico e automatizado que as dirige que a consciência”
(CARVALHO, NETTO, 2007, p. 23).
Dessa forma, diz-se que apresenta juízos ultra generalizadores, os quais são
juízos provisórios e confirmados pela prática, pelo menos por algum tempo, pelos
quais se é capaz de atuar e de se orientar. Assim, pode-se afirmar não haver vida
cotidiana sem imitação, uma vez que
116
A autora afirma, ainda, que a vida cotidiana constitui terreno que se presta mais
à alienação 23.
2F
23
A alienação se configura quando ocorre um abismo entre o desenvolvimento humano e suas
possibilidades de desenvolvimento, entre a produção humana-genérica e a participação consciente do
indivíduo nesta produção (HELLER, 2014, p. 58).
117
Assim, nota-se que um dos objetivos colocados para a escola seria trabalhar
para que os alunos obtenham objetivações para-si, de forma a repensar suas ações
dentro de seu contexto de vida e a se colocar social e politicamente. De acordo com
Giardinetto (1997),
Mediante tal prisma, verifica-se ser necessário pensar além do cotidiano, uma
vez que se concorda com os autores sobre o fato de que o dia a dia não apresenta a
elaboração necessária para que o indivíduo transponha os limites que lhe são
impostos por sua vivência.
5.2 Matemática(s)
Dessa forma, a etnomatemática produz uma visão da escola como local não de
transmissão dos conteúdos dados a priori, mas de um conhecimento construído e
elaborado a partir do comportamento social. Trata-se de um conhecimento fundado
sobre suas bases culturais e vivenciais para que seja efetivo, não havendo o objetivo
único de aprontar os jovens para um bom emprego, mas, na verdade, para “encarar a
Educação Matemática como algo que prepara o indivíduo para cidadania plena, para
o exercício dessa cidadania de uma forma crítica e consciente” (D’AMBROSIO, 1991,
p. 77).
Segundo D’Ambrosio (1991), o papel da escola é direcionar o cidadão de forma
a ser uma pessoa plena de sua consciência sobre o mundo. Assim, a escola não deve
ser manipulada e conduzida por índices de eficiência e aprovações em vestibulares.
Deve, sim, buscar a felicidade e a criatividade para a realização dos seus ideais e a
defesa de seus princípios. Considera-se que “a criança leva consigo toda a sua
história pessoal, suas ridências, seus sucessos e suas frustrações” (D’AMBROSIO,
1991, p. 77) e estes devem ser considerados como o conhecimento pretendido que a
criança tenha ao final do processo de escolarização.
Um professor com atitude etnomatemática, segundo D’Ambrosio (1991),
trabalha a partir de uma concepção libertadora do ensino ao procurar compreender o
processo vivencial do aluno e sua história cultural. É claro que as “historiografias
existentes deixam muito a desejar quando se tenta entender a história da Matemática
no marco referencial da etnomatemática” (D’AMBROSIO, 1991, p. 76).
Pode-se notar que diferentes associações podem ser formadas no contexto de
ensino e aprendizagem de Matemática. Esse fato se configura, pois diferentes modos
de pensar as finalidades do processo de escolarização dão origem a diferentes
perspectivas sobre a função das escolas e seu processo rumo ao cumprimento desse
objetivo.
Wittgenstein, em suas reflexões sobre os fundamentos da Matemática, sugere
que ela esteja atrelada a procedimentos e técnicas de natureza normativa, os quais
são dados em nas formas de vida. Dessa maneira, para o autor, “Compreender uma
linguagem significa dominar uma técnica” (WITTGENSTEIN, 1999, p. 92) seguindo
regras previamente definidas, as quais devem ser socializadas em um grupo cultural.
Pela leitura dos escritos desse autor, pode-se ver e conceber a Matemática como um
jogo de linguagem, que se move dentro de uma cultura, de modo que se pode
perceber diferentes Matemáticas, ou mesmo, modos de matematizar.
121
Nesse sentido, pode-se admitir que existem várias Matemáticas, uma vez que
os usos de cada uma delas, em sua forma de vida e em seu jogo de linguagem,
apresentam-se diferentes enquanto jogo regido por regras. Faz-se necessário ver “as
matemáticas, como parte dos repertórios gramaticais de diferentes comunidades de
prática” (MIGUEL; VILELA, 2008), as quais, pelo seu uso, indicam as condições de
sentido. Desta forma, afirma-se que:
Assim, pensa-se sobre qual dessas Matemáticas cabe aos bancos das escolas? É
no sentido de clarificar a função da escola nos dias atuais que se reflete sobre essa
questão a seguir.
Pode-se dizer que uma das funções da escola é compartilhar o conhecimento
acumulado pela humanidade até o presente momento, de maneira que é possível
24
De acordo com Martins (2019, p. 4), “Diz respeito a um modo único de conceber o conhecimento e
as racionalidades, que advêm somente dos conhecimentos produzidos por homens brancos e
europeus. Logo, esse posicionamento desconsidera a existência de diferentes racionalidades
epistêmicas. Ainda, deve-se considerar neste cenário “a pretensa superioridade do saber europeu nas
mais diversas áreas da vida foi um importante aspecto da colonialidade do poder no sistema-mundo
colonial/moderno. Os saberes subalternos foram excluídos, omitidos, silenciados e/ou ignorados”
(GROSFOGUEL, 2008, p. 136).
123
argumentar que se trata de um direito de todo aluno ter acesso a esse cabedal de
informação para que, a partir dele, coloque-se dentro da sociedade.
A história da humanidade não pode ser separada da história de vida de cada
um, afinal, as pessoas estão imersas na história e fazem parte dela. Nesse sentido,
cabe à escola trazer um ensino que funcione como ponte entre o já conhecido e o
novo conhecimento. Trata-se de fazer com que o aluno não receba o novo como algo
pronto e acabado, de maneira que o professor tenha a função de levar o aluno a se
colocar frente ao novo conhecimento criticamente, de forma que o aluno construa as
pontes para o conhecimento. Para tanto, o ensino, dado no ambiente escolar, precisa
ser emancipador e também deve cooperar para que o aluno tenha uma ótica não
ingênua sobre sua realidade.
Com isso, quer-se dizer que os processos de colonialidade e decolonialidade
devem ser estudados, observados e, sobretudo, trazidos para as discussões de
qualquer disciplina escolar. Mesmo naquelas que se configuram com regras e
procedimentos admitidos como universalmente válidos, como a Matemática, existe o
espaço para a formação do aluno crítico.
Um bom ensino só tem sentido quando feito de humano para humano, quando
há um movimento dialógico nesse processo, visto que “Não temos dúvidas de que a
atividade de educar também é uma questão de tradução” (GOTTSCHALK, 2020, p.
112). Os modos de ver, conceber e atribuir sentido ao mundo devem, nos bancos
escolares, estar interligados a contextos significativos, os quais devem ocorrer
[...] o jogo de linguagem não é como outros jogos, jogado num cenário
ou tendo um contexto de fundo. Nada disso. As palavras não são
126
Por ser assim, verifica-se não ser necessário fechar uma definição precisa
sobre o termo, de maneira que, entre várias formas de contextualizar, notam-se certos
ares de família, em que os contornos não são precisos nem se faz necessário que
sejam.
O que se está tentando afirmar é que, em vez de observar o cenário, deve-se
observar o jogo que foi praticado, o uso que se faz de cada um dos elementos
constitutivos. Por vezes, deve-se observar o espaço que se forma e não o lugar em
que se está visto que, em outros momentos, o lugar se torna importante.
De acordo com Certeau (2014), um lugar é a ordem, seja ela qual for: a cozinha
com o fogão e a mesa, a sala com o sofá, a mesa de centro e a TV. Trata-se da ordem
a partir da qual os elementos se distribuem nas relações e na existência. Já o espaço
existe quando se tomam elementos que se tornam vetores de direção, quantidade,
velocidade e tempo. Para Certeau (2014, p. 184), “O espaço é o lugar praticado”.
Assim, o termo contexto carrega uma polissemia, que lhe é fundante e a qual
se deve ter em conta ao observar as contextualizações em sala de aula. Para tanto,
deve-se ter clareza que elas se configuram no uso que se faz de cada termo em sua
aplicação. Para o caso de sala de aula, consideram-se contextualizações os
processos que aproximam o conteúdo matemático do percurso histórico, seja da
127
refere a algo exato, enquanto outra apresenta certo tipo de não exatidão, sendo ambas
relacionadas a acontecimentos não quantificáveis.
[…] nós sabemos que o ser humano é um ser que tem uma ampla
gama de sentimentos. Bom, como que você enxerga a Matemática de
um sentimento, sei lá, de perda? Uma tristeza de perda de um ente
querido? A Matemática está aí? Na minha opinião, não. […] Agora, o
quanto que um sentimento é matemático? Nada, na minha opinião.
Nada. Pra começar, um sentimento, às vezes, pode não ser
racional e a Matemática é racional por excelência (Prof. Pedro, grifo
nosso).
reino ideal a ser acessado pela rememoração. Esses significados estariam aliados a
uma certeza de que essa seja uma disciplina lógica por excelência. Assim, a visão
wittgensteiniana da Matemática como jogo de Linguagem de uma forma de vida
supera esta visão, ao propor que a Matemática é apenas um dos jogos possíveis, o
qual é adotado como padrão para o comportamento. Gottschalk afirma que, em uma
perspectiva wittgensteiniana, são as práticas e os usos que trazem a significação para
os sentidos produzidos na Matemática. Sob tal aspecto, deve-se compreender que
Não há um limite a priori para suas possíveis aplicações, uma vez que,
conforme aplicamos a uma palavra novas regras de uso, vão sendo
incorporadas a parte post, à medida em que vamos sendo introduzidos
aos sistemas simbólicos de uma determinada forma de vida
(GOTTSCHALK, 2015, p. 310).
25
O termo professor formador se refere ao docente que atua na formação, ou seja, na Graduação e/ou
na Pós-Graduação, mas também na socialização do saber acadêmico, na capacitação para o trabalho
de novos professores, ou na capacitação daqueles que já atuam em sala de aula.
135
Dessa forma, a crença de que a Matemática seja uma área privilegiada que
aguçaria o pensamento em direção à razão é insustentável, visto que outros campos
do conhecimento também o fazem. Ainda assim, verifica-se que essa certeza sobre a
Matemática se apresenta como crença bastante enraizada socialmente
(WITTGENSTEIN, 1987). Tais certezas fazem parte de um arcabouço de atividades
que requerem a utilização de conceitos Matemáticos e se mostram desta forma. A
exemplo disto, têm-se os sistemas de navegação aérea, terrestre e fluvial. Nota-se,
ainda, que tal crença, segundo Izmirli (2014), ecoa nas filosofias absolutistas, que
remontam a Platão, posto que esta afirma que a Matemática é a compilação de
conhecimentos absolutos e certos, e que sua certeza e verdade são dadas
universalmente, encontrando-se livres de cultura e valor. Tanto é assim que seus
conceitos são descobertos por um processo de rememoração e não inventados. Tal
visão se opõe à dos jogos de linguagem propostos por Wittgenstein.
[...] mostrar que as coisas não são tão evidentes quanto se crê; fazer
de forma que isso que se aceita como vigente em si não o seja mais
em si. Fazer a crítica é tornar difíceis os gestos fáceis demais. Nessas
condições, a crítica – e a crítica radical – é absolutamente
indispensável para qualquer transformação (Foucault, 2004, p. 180).
137
Tal fato pode ser verificado, pois “algumas ideias matemáticas são totalmente
abstratas, é quase impossível colocar em prática. […] alguns cálculos que a gente
aprende podem levar você a uma prática, né, mas nem todo o percurso vai ser prático”
(Prof. Hermes).
Acerca de tal constatação, os autores Miguel, Lanner e Vilela (2010) concordam
que a Matemática tem uma função normativa em oposição à função descritiva de fatos
da realidade, na medida em que o emprego vem da norma descrita do jogo de
Matemática para a realidade. Nesse viés, a linguagem normativa fornece condições
de sentido, de modos de ver as proposições da realidade, embora não se confunda
138
com ela. Aqui reside a distinção entre o aspecto abstrato e a necessidade de combiná-
lo com os fatos empíricos: a tentativa constante do ensino escolar. Deve-se ter claro
que
Com relação à Matemática ser uma prática sempre presente no dia a dia, a
professora das salas pesquisadas pontua nem sempre ser possível pensá-la dessa
maneira, posto que “às vezes, é da prática, mas é da prática, sei lá, de um cientista
que faz uma pesquisa sobre a vacina, e aí você vai falar isso pra um aluno, ele vai
olhar e vai falar: ‘Quê? Ham?’”. Ainda de acordo com sua visão, às vezes, tais práticas
não estão presentes e não são aplicáveis no cotidiano do estudante, isso porque
acredita haver uma dicotomia entre a Matemática ter sido criada ou inventada. Sobre
isso, a professora Carmem esclarece que
Têm coisas que foram criadas. Lá atrás o ser humano falou: “Ó, isso
daqui é o número dois”. Foi criado, eles não descobriram: “Olha, esse
símbolo significa dois elementos”. Não, então, isso foi criado, por
exemplo. Agora, têm coisas que foram descobertas, principalmente,
eu acredito na Geometria, relações, métricas e tal, a gente vai
descobrindo, mas, então, têm os dois, foi criada e foi descoberta ao
mesmo tempo. Mas o surgimento dela é sempre muito da necessidade
humana. A gente vai se desenvolvendo em algumas coisas e aí, em
determinado momento, sentiu-se necessidade de contar: “Não, vamos
contar, precisamos contar”. Então, beleza, o que é isso? Contar? “Ah,
é a gente saber quantos elementos tem aqui” “Ah, então tá, então tem
um, dois, três, quatro, cinco…”. Beleza, descobrimos e inventamos
essa parte, aí depende de que momento o ser humano tá da evolução.
Então, acho que é mais assim o surgimento (PROFª. CARMEM,
ENTREVISTA).
A analogia feita pelo Prof. Pedro entre a aprendizagem da norma culta da língua
materna e a aprendizagem da linguagem matemática vem ao encontro daquela feita
pela professora das classes, que diz que deve ser feita a tradução da linguagem
própria da matemática para a linguagem do dia a dia.
142
Não, primeiro faz o negócio informal, deixa o aluno falar o que ele
quiser, passa pra cá, fala também. Ok, depois que ele aprendeu,
entendeu, tá legal, já consolidou: “Olha, tem um jeito melhor de falar
essas coisas, vamos tentar falar melhor?”. Aí você já introduz um novo
nível que tem a ver mais com a notação e com a maneira de você ler
a notação. Com funções, a mesma coisa, você tem toda uma
nomenclatura por trás de funções. Se a primeira vez que o aluno for
aprender funções, você introduzir daquele jeito, o aluno vai achar
aquilo horrível. Não, deixa a linguagem informal, deixa ele entender e
raciocinar o que é, aí depois você fala: “Olha, agora vamos falar
corretamente as coisas, que aí na hora de vocês conversarem com
alguém que já sabe isso, vocês usam a linguagem correta (Prof.
Pedro).
Neste cenário, deve-se ter claro que a Matemática não é uma generalização da
experiência ou da empiria presente nas ações cotidianas. Esta é apenas uma das
possibilidades de uso que se tem para a Matemática. O significado depende do uso
que se faz, de hábitos, de costumes aprendidos e ensinados, isto é, refere-se à
maneira como se convenciona socialmente usá-los.
É meio que um misto, né, meio que um misto, porque assim, não dá
pra abrir… pra se apoiar só em um dos dois, tem que trabalhar os dois,
é bom ter a parte prática, trazer ali pro cotidiano, trazer, exemplificar,
mostrar onde aquilo se aplica, mas com a intenção do aluno chegar
naquele conhecimento abstrato também, chegar naquele
conhecimento, né, Matemática ali pura ali, abstrata, porque um não
anda sem o outro, os dois conhecimentos precisam um do outro pra
caminhar. Sem a Matemática abstrata, você não consegue resolver
problemas do dia a dia. E com os problemas do dia a dia, você
consegue aprender, você consegue dar sentido à Matemática abstrata
que faz você se interessar e aprender aquilo (Prof. Hermes).
Pode-se verificar que há uma diferença sutil, embora importante, entre dizer
que “a matemática tem uma linguagem” e que “a matemática é uma linguagem” ou
um conjunto de jogos de linguagem. A primeira supõe a pré-existência de um ente
matemático à linguagem matemática, sendo esta uma visão metafísica da
matemática, inclusive criticada por Wittgenstein quando, segundo Grayling (2002),
vislumbrou-a na visão de geometria de seu mestre, Bertrand Russell; a segunda
acredita que a matemática é uma atividade na linguagem, e que, portanto, é uma
atividade humana e não um ente que existe independentemente dessa.
[…] a gente meio que traduz: “Ó, isso daqui significa intersecção de
conjuntos, então, eu vou ter esse conjunto e outro conjunto juntos e
tal”. Então, tem essa tradução, só que, ao mesmo tempo, é também
uma linguagem do dia a dia, ela tem a linguagem própria e tem a
linguagem do dia a dia também juntas (PROFª. CARMEM,
ENTREVISTA).
mundo platônico e, na verdade, estes tomam sentido a partir do uso que se faz deles
em certo tipo de aplicação. Há uma diferença entre um erro que tem lugar reservado
no jogo e “uma completa irregularidade que ocorre excepcionalmente”
(WITTGENSTEIN, 1969, p. 181).
A esse respeito, Persichetti (2020, p. 1) afirma que “a persuasão envolve
transmitir a um aluno sobre uma imagem de mundo particular (wiltbild) mostrando ao
invés de explicar”. É nesse sentido que, após mostrar exemplos, aplicações e
cálculos, conclui-se e convertem-se os estudantes ao modo de pensar
matematicamente, visto que, no final do processo, quando as razões acabam, diz-se
ser desse modo que se age.
Izmirli (2014) define a Matemática como uma espécie de jogo de linguagem,
em que a formação do conhecimento matemático depende profunda e organicamente
de um diálogo que reflita a lógica dialética do discurso acadêmico. O autor convida a
verificar que Wittgenstein distingue meros “jogos de signos” de jogos de linguagem
matemática pelo seguinte critério: É essencial para a matemática que seus signos
também sejam empregados em à paisana. É o uso fora da matemática e, portanto, o
significado dos signos, que transforma o jogo de signos em matemática
(WITTGENSTEIN 1987).
Por sua vez, os alunos afirmam compreender que Matemática e vida são
inseparáveis, dado que acreditam que o ensino de Matemática servirá para pensar
logicamente sobre dificuldades e ações ocorridas no dia a dia, sobretudo, para a
aprovação no vestibular e para a continuidade dos estudos.
Um aspecto frequente na literatura que reforça a necessidade do uso da
linguagem do dia a dia na matemática escolar é o da utilidade da matemática e que
também é usado como elemento de persuasão. Pode-se perceber que persuadir
contextualizando a utilidade da matemática, junto a alguns estudantes, atinge o
objetivo, como é o caso de Isac e Júlio.
As falas dos estudantes apontam que eles veem a Matemática como parte de
seu cotidiano, tendo, ainda, uma representação em suas vidas e em seu contexto
social, em que existe a crença de que ela deve ser útil à vida de forma prática na
vivência de cada um.
Ainda assim, é preciso ser cauteloso com esse fato, pois alguns estudantes
parecem ter a crença de que as formas de resolução das atividades, em Matemática,
estão relacionadas à contemplação. Isso, de acordo com Wittgenstein (1999), não
ocorre, já que a mente em si não constrói seu conhecimento do nada, sendo
necessário que haja, no jogo do qual o estudante participou, elementos que embasem
análises e conclusões corretas.
Nesse sentido, considera-se que valorizar as diversas formas de resolução de
um exercício, desde que haja coerência e estejam corretas, ações é uma ação que
pode favorecer o processo de ensino e aprendizagem da Matemática.
Assim, ao se observarem as interações da professora com as turmas, é notável
que ela procura persuadir, quebrar o gelo e aproximar-se de seus estudantes em
diversos momentos das aulas, usando a linguagem deles e perguntando acerca de
assuntos que não se relacionam diretamente com a Matemática. Essa atitude
corrobora com Plantin (2012), para o qual é imprescindível defender um conjunto mais
amplo de atos da fala se a intenção é compreender adequadamente a persuasão e
150
como ela ocorre. Em sua lista, encontram-se termos como: afetar, seduzir, atrair,
influenciar, levar a fazer. Tais componentes apresentam uma argumentação explícita
para convencer pela força retórica, tanto que, nesse sentido, a persuasão parece
abarcar uma família de estratégias para coletar e mostrar aspectos que evidenciem
os eixos das ações humanas.
Mediante tal aspecto, a persuasão “é intrinsecamente dialógica: a criança
aprende interagindo com o educador, e a relação de confiança entre eles torna isso
possível; este último constitui a pré-condição para que este processo possa ter
sucesso (PERSICHETTI, 2020, p. 8).
No discurso persuasivo, as emoções 26 devem ser mobilizadas pelo orador, no
25F
caso, o professor, sobre seu auditório – o qual, no caso da sala de aula, são os
estudantes –, de modo a inspirar determinado estado emocional. “A razão disso é o
fato de que as emoções possuem a capacidade de alterar julgamentos, de modo que
o orador as manipula tendo em vista persuadir a audiência em benefício de seu
argumento (CORDEIRO, 2021, p. 7).
26
“Em geral, entende-se por esse nome [emoção] qualquer estado, movimento ou condição que
provoque no animal ou no homem a percepção do valor (alcance ou importância) que determinada
situação tem para sua vida, suas necessidades e seus interesses” (ABBAGNANO, 2007, p. 311).
151
grande maioria das vezes, mas nem sempre. Então, se não é sempre,
então, também não é exato, né? (PROFª. CARMEM, ENTREVISTA).
[…] a Matemática ela é um… ela é um destino que pra chegar nele
tem muitos caminhos. Então, você pode pegar um caminho e chegar
no mesmo resultado, você pode pegar outro caminho e chegar
naquele mesmo resultado, o importante é você ter o produto final
(Júlio).
Sim, eu acredito que ela tenta relacionar essa parte, tipo, de símbolo
e tal, essa linguagem da Matemática, eu acho que é a… é a parte do
cotidiano, só que passada pelo filtro da Matemática (Elvis).
Acho que o primeiro ponto, você só ensina o que você sabe. […] se
você é professor de Matemática, você tem que saber Matemática,
você tem que ter estudado Matemática. […] O segundo ponto, você
tem que amar o que faz. […] terceiro ponto aí, né, ele já tá totalmente
ligado, né? Motivação. Cara, você tem que motivar, você tem que
passar motivação pros alunos, você tem que mostrar né? (Prof.
Adalberto).
[…] ele deve dominar demais a matéria, eu acredito, assim, que ele
deve trazer também de uma forma inovadora o assunto que ele tá
trazendo, né, e de uma forma mais dinâmica. Porque eu acredito
assim, que cada um, como eu disse, que tem a sua forma de aprender,
né, uns aprendem por meio de teoria, outros aprendem um pouco mais
na prática, uns gostam de ler, outros gostam de ver vídeo. Então,
acredito, assim, que se adaptar e passar isso para os alunos, eu
acredito que seja também um bom… seja um indicativo de você ser
um professor, né? (Júlio, grifo nosso).
153
De certo modo, procura-se a adesão dos estudantes por acreditar que os entes
matemáticos são inatos, ao passo que a verificação dos fatos revela certezas visíveis
para todos os estudantes, de modo que não há um esclarecimento das convenções
Matemáticas. Tal fato é corroborado por Gottschalk (2008) ao afirmar que muitos dos
modelos pedagógicos colocados ao longo de nossa história “estão vinculados a essa
idéia metafísica da matemática, que pressupõe a existência de significados
matemáticos universais e absolutos passíveis de serem descobertos por meio de
algum método” (p. 76).
A professora as coloca da seguinte forma:
[…] lá na frente vocês vão ver uma regrinha quando os dois ângulos
forem complementares, que significa que a soma dos dois é 90°, que
eles têm uma relação aí de seno e cosseno, mas aí é um pouquinho…
(PROFª CARMEM, PLANTÃO DE DÚVIDAS, 20/04).
Então, a gente precisa passar… todos esses “passar” é tudo meio que
entre aspas, tá? Esse ao quadrado pra lá. Operação contrária de
potência é raiz. Então, raiz quadrada de 196 (PROFª CARMEM, AULA
SÍNCRONA, 24/08).
[…] tem esse lado bom das aulas on-line, que a gente consegue usar
recursos. Eu tava dando aula de Física […] estudando sobre as Leis
de Newton e tal, tinha a inércia, e aí tinha um exercício lá do carro que
tentava fazer uma curva, tava a pista molhada e tal e ele seguia reto,
[…] eu lembrei na hora, assim, na hora da aula eu falei: “Nossa, tinha
um filme de desenho que eu vi isso”. Que era aquele filme Carros, que
ele tentava fazer a curva na terra e nunca dava certo e tal, eu abri aqui
o YouTube, […] falei: “Gente, ó, é isso daqui que acontece”. E coloquei
o filme na hora. Se eu tivesse na sala presencial, eu nunca conseguiria
fazer isso, não tem como, assim, não tem recursos na aula presencial
que eu consiga fazer isso. A gente usava lousa, giz e livro, que cada
um tem o seu, então, é completamente diferente a maneira da gente
abordar os assuntos e tudo o mais (PROFª. CARMEM, ENTREVISTA).
o contexto, pois a linguagem vem entrelaçada por uma totalidade de práticas, inclusive
aquelas não-linguísticas” (PERUZZO JÚNIOR, 2011, p. 55).
Entende-se que a educação não pode ser vista como experiência fria, sem
alma, sem sentimentos e emoções (FREIRE, 2010). Neste contexto, deve-se ter claro
que a linguagem funciona como um jogo: as pessoas jogam umas com as outras o
tempo todo, com palavras, gestos e entonações (MIGUEL, 2014, p. 8). A docência é
um trabalho interativo por primazia, constituído por dimensões relacionais, interativas
e capacidades comunicativas (TARDIF, 2016; NÓVOA 2009). Assim, a mudança do
Ensino Presencial para o Ensino Remoto causou profundas mudanças na relação
entre professor e aluno. Neste cenário, mostra-se necessária uma ressignificação do
espaço da sala de aula e das ações para que o estudante aprenda. É preciso repensar
as práticas docentes junto ao processo persuasivo para com o estudante.
mais… quem não está, que ela não tem aquele olho no olho e essas
coisas (Isac, grifo nosso).
Pra mim, eu sou uma pessoa muito artística, então ver e… tipo, ouvir
a pessoa e ver ela fazendo é totalmente diferente de só ouvir ela
explicando e mexendo no computador, entendeu? (Fabiana).
sua forma de ensinar. Para suprir a falta, abandonam a lousa digital por outros meios
que sejam mais próximos de momentos em que o estudante vê e observa o professor
fazendo.
Foram recorrentes os relatos de professores que, abandonando a lousa digital,
optaram por realizar aulas nas quais o estudante tem a imagem do professor fazendo
na lousa conforme o realizado no ensino presencial. Observa-se que os professores
procuram por trazer para o ensino remoto as ferramentas do ensino presencial
adaptadas. Com isso, cria-se um novo jogo dentro do jogo de ensino remoto para
aproximar o aluno do professor. Sob tal aspecto, o Prof. Adalberto afirma ser uma
opção usar uma câmera para gravar a si mesmo e sua explicação em uma lousa, já
que “os alunos, no meio dessa pandemia, eles iam perder o contato com o professor
olho a olho, olhar pro cara: ‘Olha lá, professor, mano’” (Prof. Adalberto).
27
Refere-se a apontar para um objeto e nomeá-lo a fim de conceituar o mesmo (GOTTSCHALK, 2007).
162
dizendo: “tento trazer um pouco mais para o dia a dia deles e tal. […] eu acho que
durante as aulas é um bom recurso pra gente tentar fazer com que eles, pelo menos,
olhem com um pouquinho mais de carinho pra Matemática, né? Colocar situações do
dia deles mesmo dentro dos conteúdos” (PROFª. CARMEM, ENTREVISTA).
Já os estudantes, no que tange ao ato persuasivo, responderam apreciar o
estudo daquilo que é relevante para a vida de cada um deles. Isso porque a atenção
é diferente quando algo se apresenta concretizado dentro de uma prática de vida,
sendo que esse tipo de persuasão os conduz de forma a pensar logicamente nos
efeitos de causa e consequência. À vista disso, acredita-se que os jogos de linguagem
de determinadas formas de vida, como efeito persuasivo, possibilitarão criar situações
que direcionem a aprendizagem a partir de ligações e sentidos vivenciados no
contexto da sala de aula.
Na visão dos estudantes, a inserção da Matemática, no cotidiano, é observada
conforme evidenciam suas falas a seguir:
[…] agora, por exemplo, quando fala do prédio com a sombra que o
prédio faz no chão, eu fico imaginando a situação, aí eu começo a
desenhar, o que me ajuda demais a conseguir resolver (Silvana).
A fala de uma das estudantes demonstra ser bastante coerente para direcionar
o pensamento, à medida que a persuasão sobre o cotidiano é instigante para o
auditório. Assim, as contextualizações devem ser pertinentes e interessantes ao
público para o qual se apresenta.
Com relação à contextualização, o Prof. Pedro afirma que a “contextualização
é muito bem-vinda como motivador”, posto que “você introduzir um assunto dando um
contexto prático ou um problema, mostrando alguma coisa que desperte interesse,
isso ajuda demais”. Conforme sua fala, a Matemática é rica em exemplos, os quais
podem ser utilizados como contextos motivadores para os alunos, pois, quando são
164
Com relação ao uso da palavra, Peruzzo Júnior (2011, p. 53) enfatiza que elas
estão envoltas por uma complexa teia de significados, em que a “aquisição de técnicas
para aprender o uso requer treino, pois, com o conceito Jogos de linguagem, pode-se
referir a todos os tipos de jogos de linguagem, sejam elas linguagens primitivas ou
complexas.
Em sua fala, a professora das salas admitiu não haver um modo único de se
chegar às respostas corretas, a depender do conteúdo, sendo admissíveis outras
formas de resolução que pareçam mais coerentes ao estudante.
Com relação às crenças e às concepções, uma professora entrevistada dá
indícios de outro item persuasivo relevante: a ludicidade no ensino de Matemática.
Embora admita sua relevância e utilidade, mencionou que não se deve apenas ficar
no lúdico: o brincar deve sempre ter um objetivo dentro do processo de ensino de
Matemática, ou seja, um propósito além do jogo pelo jogo, pois um dos componentes
da Matemática escolar é trabalhar com abstração. Para tanto, a mesma professora
afirma:
Então, eu acho que o lúdico é importante, né, talvez pra inserir, mas
você não pode trabalhar só lúdico, lúdico, lúdico, lúdico. Pra inserir,
sim, pra ele entender o conceito daquilo que tá sendo trabalhado
e aguçar aquela curiosidade, mas não ficar só no lúdico, lúdico,
lúdico, porque também nós não vamos conseguir trabalhar a
abstração. Ele nunca vai conseguir pensar no abstrato? Ele sempre
vai ter que ter o palpável ali pra poder entender? Então, eu acho que
o lúdico é válido até certo momento, depois não mais (Profª. Beth, grifo
nosso).
Para tanto, afirmou ainda que, para decorar o cosseno da soma, não havia uma
expressão tão bonita quanto um poema, ou seja, uma forma mais culta. Por esse
motivo, para o cosseno (a + b), utiliza:
você tem que cativar a criança, ela tem que olhar, ela tem que ver o que você tá
fazendo na hora que você tá trabalhando, na hora que você tá explicando, e ela tem
que olhar pra você com interesse”. O essencial, então, é despertar a curiosidade do
estudante para o aprendizado, ou seja, obter sua adesão quanto ao modo de pensar
do professor, uma vez que
Então, eu falo pra eles que a Matemática ela foi… é uma… Como é
que se diz? Uma ciência, uma sabedoria que a gente usa pra ler o
mundo e pra construir também o mundo. E eu tento explicar,
principalmente, nas minhas aulas de… nas minhas aulas, quando eu
preparo o conteúdo, já vou pensando nisso, né, eu vou falar pra que
que serve, porque sempre tem alguém que pergunta, então, eu já levo
vários exemplos: “Olha, isso aqui usa nisso, usa naquilo, usa naquele
outro”. Esses dias eu fui questionado na sala de aula numa… na aula
prática, eu tava ensinando pra eles números binários, porque eles não
estudam números binários, eu acho que é importante, né? E eu fiz
uma aula prática com o jogo Nim, que eles usam os números binários
pra calcular as jogadas e chegar na posição vencedora, e aí teve um
aluno que já veio com a pergunta: “Mas eu vou usar onde isso aí?”.
Falei: “Oh, você já tá usando aí no seu celular, no seu computador”.
Eles têm, eles levam pra sala de aula, eu falei: “Toda a linguagem
computacional é feita com números binários, mas você também pode
usar em outras ocasiões, até no seu trabalho, dependendo da área
que você for estudar” (Prof. Hermes).
Matemática deve ter alguma utilidade, fato que nem sempre ocorre. Sobre tal aspecto,
Chauviré (1989, p. 98) aponta que “não existem objetos nem fatos supra-sensíveis
que preexistem à nossa descoberta a que poderíamos descobrir e explorar”, posto
que as regras da Matemática não têm contas a prestar à realidade, já que sua
necessidade emana do querer e das escolhas individuais.
Chauviré (1989, p. 102) aponta, ainda, que “tudo que se pode encontrar do lado
do real como justificação parcial da escolha das regras são fatos, certamente
objetivos, mas que, no máximo, tornaram a regra possível, sugeriram sua utilidade”.
Para Gottschalk (2004, p. 330-331):
Nessa perspectiva, o Prof. Hermes constata que “tento meio que ser parceria
do meu aluno também, ser amigo deles, acaba fazendo, os motivando a estudar, se
esforçar mais”, induzindo uma procura pela persuasão de seus estudantes,
especialmente, ao usar a mesma linguagem que eles, o mesmo linguajar, ser parceiro
deles de forma a compreendê-los dentro de sua vivência. “Então assim, a parte
pessoal também, né, amizade ali entre o professor e a turma ali influencia muito
também a questão do gostar da Matemática”. Isso demonstra que a crença de que um
dos meios de influenciar os estudantes é mostrar-se compreensivo com relação às
suas dificuldades, o que se apresenta como um item persuasivo importante. Assim, o
professor deve,
[…] eu acho que você entender a história, entender quem estava por
trás, entender como que foi feito, a necessidade que isso se deu, isso
faz a pessoa pensar como que era as pessoas antes daquela teoria,
174
daquela… daquilo que foi criado, aquilo que foi dialogado, isso faz as
pessoas ver como era antes e como isso é fundamental agora, como
que isso mudou. E eu falo isso daí, agora eu falando por mim, agora,
eu não sei, cara, eu acho muito interessante você ver, pô, a história do
cara que está por trás disso, daquele cara que estudou, que dedicou
a vida por isso, eu acho tão interessante, eu gosto, tanto que eu acho
muito legal ver, ler biografia, eu sou fascinado por algumas pessoas,
por algumas… alguns pensadores que você vê a história deles, como
você vê o processo de criação, o processo da criação do… da obra do
Newton, que foi um matemático, físico, do Einstein, do Stephen
Hawking e é muito interessante essas coisas assim, e você entender
o autor que esteve por trás disso, o pensamento que ele teve, ele
explicando e o funcionamento antes e depois daquilo que ele
proporcionou e somou no ramo da exatas (Isac).
[…] eu acho muito legal, eu acho muito legal. […] o mundo, eu acredito
que boa parte do que a gente sabe hoje, ele foi explicado
matematicamente por grandes pensadores. E como que a gente
descobre isso? Olhando pro passado, olhando pra história. Por
exemplo, a gente… a gente tem o Albert Einstein, né, que foi quem
nos ensinou a teoria da relatividade, tem o… se eu não me engano foi
o Isaac Newton também, ele, né, criou o cálculo, tem o que criou a
Geometria e assim vai (Júlio).
Tinha vários jogos, eu não lembro como que era os jogos, mas eu me
lembro que ela… claramente, dela trazendo uns jogos, que era de
Matemática. Por exemplo, era tipo um tabuleiro e aí tinha uns cálculos
e aí você tinha que ir fazendo os cálculos para chegar no seu objetivo
e aí se você errasse, você voltava uma casinha. Era muito divertido,
porque aí você praticava sua Matemática e ainda jogava com seu
colega (Fabiana).
[…] um ponto que eu achei que foi legal, pelo menos, pra mim, eu
estou conseguindo fazer o uso do GeoGebra de maneira bem mais
intensiva do que eu fazia na sala, e têm muitos exercícios dessas
disciplinas iniciais que a gente implementa no GeoGebra, como
construções geométricas dinâmicas. E hoje você falar de Matemática
sem ter um auxílio computacional, como, por exemplo, do GeoGebra
é inadmissível. Hoje o aluno vive com o telefone celular na mão o
tempo todo e você, vamos dizer assim, não vai aproveitar? O
GeoGebra tem pra telefone também, né? Você sabe disso, tem pra
smartphone (Prof. Pedro).
Este trabalho teceu análises das falas dos participantes e das observações das
aulas, efetuou considerações sobre as entrevistas realizadas e os dados obtidos,
analisou informações a partir do campo de pesquisa à luz dos referenciais revisitados
e dos jogos de linguagem da segunda fase de Wittgenstein, da base teórica
apresentada e dos jogos de linguagem propostos por Wittgenstein (1999) em sua fase
tardia. Passa-se, a seguir, a tecer considerações que podem ser abstraídas sobre os
jogos de linguagens persuasivos mobilizados na prática docente acerca dos fatos
apresentados nesta pesquisa.
181
IN-CONCLUSÕES TERAPEUTICAS
se mostrar também inédito, isso porque, tendo em vista a não admissão pelo filósofo
da visão cognitivista, somos impelidos a nos alinharmos a autores que não recorrem
a explicações sobre a construção do conhecimento como próprio e internamente dado
a cada indivíduo. Para o autor, os conceitos matemáticos são adquiridos no uso que
se faz deles em cada forma de vida dentro da linguagem.
O autor impele também ao questionamento sobre o que se aprende, como
acontece a aquisição do conhecimento, dado que ele está posto na linguagem e é
adquirido por meio dela.
Nota-se que, conforme a pesquisa tomava corpo, as ações eram assertivas e
direcionavam para a formação de conceitos matemáticos por meio da persuasão em
sala de aula, de tal modo que se percebeu que a lógica da persuasão deve ser
estudada para responder àquilo que se refere ao que está além do mero convencer.
A pesquisa de campo, proposta à luz da teoria wittgensteiniana, mostrou-se
instrumento valioso de análise, trazendo clareza aos fatos persuasivos observados na
prática da professora com seus alunos.
Assim, mediante as análises realizadas, pode-se inferir que os professores são
guiados por suas crenças e concepções com relação ao ensino e à aprendizagem da
Matemática escolar em sala de aula, uma vez que essas configuram na praticas
docentes do professor.
Verifica-se que a persuasão deve ser exercida de forma que o estudante jogue
o jogo proposto pelo professor e, nesse sentido, não há um caminho único a ser
seguido, embora as ações do professor devam ser pautadas de acordo com o
interesse de seu auditório. As buscas pelos itens persuasivos devem ser sempre
tomadas de modo que haja alguma relação com a forma de vida dos estudantes, ou
seja, com seu vivencial.
Neste contexto, o lúdico pode ser utilizado como elemento de persuasão desde
que não haja a suposição de que o estudante tenha algo a descobrir por si mesmo,
de forma que não se suponha que o pensamento por si só elabora conhecimento sem
relações presentes em sua forma de vida.
Assim, a busca por contextualizações, que cooperam para que o estudante
atribua sentido aos conceitos matemáticos, como foi o caso desta pesquisa, evidencia
fortes relações com a história da Matemática, com o lúdico como elemento de ligação
de saberes e de aproximação do conhecimento ao já conhecido pelo aluno. Além
disso, a pesquisa anuncia, como fortes aliados à persuasão dos estudantes, os
184
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WITTGENSTEIN, Ludwig. The blue and brown books. Oxford: Blackwell, 1961.
A concepção de Matemática
6. Explique como você vê a Matemática e o campo de conhecimento que ela
abarca. O que é a Matemática para você?
7. Conte como você vê as certezas, as incertezas e a exatidão da Matemática.
Como você entende a afirmação de que Matemática é uma ciência exata?
8. Como você percebe a relação entre o surgimento da Matemática e sua
aplicação prática?
9. Você compreende a Matemática como um campo de conhecimento com
linguagem própria?
10. Na sua opinião, que habilidades o professor deve ter para ser um bom
professor de Matemática? O que deve fazer para adquiri-las?
11. Como ensinar Matemática de modo que o aluno perceba que pode contribuir
para sua realização profissional e para enfrentar problemas do dia a dia?
12. Fale como você se sentiu ao ter que mudar a forma como você ensinava
presencialmente para o ensino remoto. Que mudanças teve de fazer e quais
adaptações? Qual diferença você vê entre desenvolver uma atividade de
Matemática presencialmente e a mesma atividade em modo remoto? Dê algum
exemplo. Fale das implicações da pandemia, tanto para o professor quanto
para o aluno, no processo de ensino de Matemática.
13. Qual utilidade você acredita que a Matemática terá para seus alunos? Em que
sentido a matemática ensinada nas escolas será útil aos estudantes?
O aluno e a Matemática
1. Fale um pouco sobre a Matemática que você estuda na escola. Como você vê
e entende essa disciplina? Fale sobre sua relação com a Matemática.
2. Para você, a Matemática ensinada na escola tem utilidade para vida das
pessoas? Fale um pouco sobre isso.
3. Como você vê a linguagem da Matemática (fórmulas, desenhos, simbologia,
regras, gráficos, figuras e convenções)? Ela está no cotidiano? Você enxerga
uma relação dessa linguagem da Matemática com a linguagem usada pelas
pessoas no dia a dia?
4. Na sua opinião, para que serve a Matemática? Como seus últimos professores
de Matemática têm falado sobre isso?
10. Que tipo de atividade sua professora propôs em sala de aula que despertou
seu interesse?
11. Quando a professora propôs exercícios que são aplicados no cotidiano, você
gostou de resolvê-los? Poderia descrever como foi?
12. Quais atividades a professora propôs que você se sentiu interessado em
aprender?
13. Fale um pouco sobre o ensino da Matemática quando o estudante tem de
resolver várias atividades (relação de problemas e atividades que só fazem uso
de fórmulas). Descreva algum exemplo.
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DA APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Cronograma e avisos
Semana 1 (19/04/21) – Trigonometria no triângulo retângulo
Semana 2 (10/05/21) – Circunferência trigonométrica
Semana 3 (31/05/21) – Adição e subtração de arcos
Recuperação Paralela – 1ª etapa
Fonte: AVA/MOODLE
A professora estabelece uma rotina de estudos em que o aluno deve ler a parte
teórica e realizar as questões colocadas. O prosseguimento ocorrerá somente em
caso de acerto, caso contrário, o estudante deverá tentar uma nova solução.
Funciona da seguinte maneira, vocês vão ter uma página de texto seguido de
uma página com uma questão, nessa página da questão sempre vai ser algo
relacionado ao texto anterior. Se você acertar a questão, continua a lição, se
errar, volta na página anterior e da mais uma lida para entender a questão.
(AVA/MOODLE, semana 1)
Fonte: AVA/MODLE
4 exercícios bem completos para que eu possa avaliar onde vocês estão
errando e tendo dúvidas.
Caso você queira fazer mais exercícios para treinar, deixo aqui novamente o
link para o Livro Didático online, o conteúdo dessa semana não tem completa
nesse livro, mas tem bem explicadinho a parte das transformações de
ângulos da página 9 à 15 e lá vocês também conseguem encontrar vários
exercícios, ok?
Bora lá colocar a mão na massa e ver se conseguiram entender o nosso
conteúdo da semana!!
Bons estudos. (AVA/MOODLE, Semana 1)
Fonte: AVA/MODLE
O item lição tem início com a explicação de que o radiano é uma unidade de
medida de ângulo e, então, a professora questiona o aluno: quanto vale um radiano?
Qual a relação entre as medidas em graus e radianos? Segue-se a explicação a
seguir:
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Como podemos observar cada ângulo formado pelos arcos, têm a mesma
medida, e por convenção a medida de cada ângulo do arco R vale 1 radiano.
Ou seja, uma volta completa tem aproximadamente 6,28 radianos e mais
precisamente 2𝜋 𝑟𝑎𝑑𝑖𝑎𝑛𝑜𝑠. (AVA/MOODLE, semana 2)
Como havia uma preocupação da professora que os vídeos não ficassem muito
longos, a primeira parte foi encerrada e ela dividiu em dois vídeos as exemplificações.
O segundo vídeo explicativo continua na direção proposta. No entanto, durante
a resolução, a professora sugere que ao invés de fazer pela regra de três é possível
fazer o exercício substituindo o 𝜋 por 180º. Ainda, afirma que existe um macete para
o trabalho com 𝜋 radianos, porém não iria explicar, pois poderia mais confundir do que
ajudar os estudantes.
Contudo, na sequência, ela explica que os valores em radianos sobre quatro
se referem ao ângulo de 45º, os que possuem valores em radianos sobre 6 se referem
ao ângulo de 30 e, consequentemente, os sobre 3 se referem ao ângulo de 60 graus.
Por fim, a professora opta por explicar os quadrantes e os valores de forma
verbal e não pela forma geométrica.
Figura 23 – Exemplo 2 Calculando ângulos côngruos.
Fonte: AVA/MOODLE
Podemos verificar que a colocação foi eficaz, uma vez que possibilitou a
reflexão do aluno acerca da adição ou subtração de dois ângulos. Posta, então, a
diferença entre a compreensão direta de que: sen (30° + 60°) não seria sen 30° + sen
60°. Seguiu-se o convite para aprender a fazer esses cálculos. A próxima aba
apresentou um teste para verificar se o aluno compreendeu que a transformação não
é imediata:
É possível observar que não são esclarecidos o fato de sen (-b) ser o mesmo
que (-sen b). Na sequência da atividade, foi apresentado outro teste para que o aluno
informe a subtração de cossenos de ângulos. Para a obtenção do seno da soma de
dois ângulos, é apresentado ao aluno o fato dos ângulos serem complementares. Para
encontrar a fórmula do seno da soma e da diferença, deve-se utilizar a fórmula do
cosseno conhecida e o fato de que dois ângulos complementares têm os valores de
seno e cosseno trocados, ou seja:
225
28
Pode ser verificada em: https://www.youtube.com/watch?v=5G1Dq3ng_ls.
227
O passo seguinte foi o uso na prática para o sen (75°), verificando que ele não
é correspondente a nenhum dos ângulos conhecidos, embora seja possível verificar
que 75°= 30° + 45°, assim, deve-se lembrar que seno utiliza o poema.
Afirmou, ainda, que o ângulo de 30° pode ser expresso por várias voltas sobre
a circunferência, isto é, dar voltas no sentido de diminuí-las sobre a circunferência.
função.
232
Utilizou-se da descrição de que, para ser função, o eixo x será sempre “fiel pois
ele terá sempre um companheiro, já o eixo y pode ser que ele seja fiel, pode ser que
não” (AVA/Moodle, semana 4, vídeo 1, minuto 2), mencionando que todo domínio
deve ter um elemento na imagem do conjunto de chegada.
Quanto à trigonometria, tais valores, que foram já calculados, foram vistos em
uma circunferência, para tanto, apresentou o círculo trigonométrico com ângulos
notáveis, conforme apresentado abaixo, pelo qual mostrou que os valores de seno
estão no eixo vertical, mas alertou que, no gráfico da função, não usará os eixos com
seno e cosseno e, sim, os eixos com x e y do plano cartesiano. Aproveitou para
observar: “Olha o tanto de coisas que gente está misturando. A gente está misturando
função, geometria analítica e trigonometria, tudo em uma coisa só. Não se desespera
vai dar tudo certo” (AVA/MOODLE, semana 4, vídeo 1, minuto 4).
No gráfico, foram apresentados apenas os ângulos no sentido positivo, embora
tenha dito que existem também os ângulos negativos, que poderiam ter sido tomados,
e explicou como isso funcionaria, uma vez que os ângulos podem ter mais que uma
volta sobre a circunferência. Apresentamos, a seguir, a figura em que ocorreu a
explicação.
Figura 47 – Função trigonométrica 𝑠𝑒𝑛 (𝑥)
função seno. Depois construiu-se a tabela de ângulo notáveis, os quais ainda serão
usados sempre em radianos.
Feito isso, a professora avisou que seguiria para o GeoGebra 29 e colocaria 28F
29
O software GeoGebra é, mundialmente, conhecido como uma ferramenta de geometria dinâmica,
que pode ser utilizada para o estudo de funções. Com ele, é possível plotar diferentes gráficos no
mesmo plano, analisando suas características e semelhanças. Nas funções trigonométricas, em
específico, é possível analisar, com esse software, a variação de parâmetros distintos e como o gráfico
dessas funções se modifica no plano cartesiano (SILVA, GROENWALD; HOMA, 2017, p. 29).
235
Em sua fala, a docente esclareceu que, embora tenha dado três fórmulas, os
alunos devem conhecer apenas uma delas e que a fórmula dos cossenos deve ser
utilizada sempre que houver três lados e um ângulo, para tanto, apresentou dois
exemplos aos alunos. O primeiro deles, apenas teórico, refere-se à lei dos senos em
que é preciso encontrar o valor de um lado, sendo que foram dados os dois lados e
um dos ângulos, conforme abaixo.
Com o exemplo, afirmou que a “Lei dos senos é isto, se o meu exercício está
envolvendo dois ângulos e dois lados, eu vou usar a lei dos senos. Contanto que esses
dois lados sejam apostos aos ângulos dados, preciso ter essa condição”
(AVA/Moodle, semana 5, vídeo 1, minuto 11).
240
Isto feito, apresentou-se uma atividade em que se utiliza a Lei dos cossenos, a
professora, mesmo antes de iniciar, apontou que o exercício no qual se utilizará a Lei,
sendo teórico, apresentou uma resolução de forma bastante tranquila, frisando que
terá um triângulo não retângulo, nesse caso, se terá três lado e um ângulo dado. Para
os triângulos retângulos, a lei também é válida, mas, nesse caso, utiliza o Teorema
de Pitágoras.
Mesmo tendo abordado, a professora não fez o porquê de triângulo ser
retângulo e de utilizar o Teorema de Pitágoras, posto que, em nenhum momento da
aula, mostrou-se que ambas as utilizações são análogas. Abaixo apresentamos o
exemplo dado.
Notamos que a atividade proposta não se encaixa no que constava nos vídeos,
pois os dois lados e dois ângulos seriam Lei dos senos, no entanto, há o lado oposto
à variável x desconhecida. Já a atividade 2, apresentou dois itens, os quais se referiam
à utilização direta da lei dos cossenos.
O passo seguinte foi mostrar como cada elemento da matriz tem sua
representação e como se deve prosseguir: linha sendo contada de cima para baixo e
as colunas da direita para a esquerda. Depois disso, o aluno deveria resolver um
243
Assim, a docente informou que a primeira parte sobre matrizes chegou ao fim,
seguindo para o vídeo explicativo o qual trata de vídeos retirados da Internet, por esse
motivo não serão aqui analisados. São apresentados, então, quatro vídeos,
abrangendo o conteúdo, nos quais, ainda, expôs-se a construção de uma matriz por
uma fórmula dada, conteúdo que, até o momento, não foi apresentado aos alunos.
Partiu-se para a segunda parte, na qual se abordou a definição de matriz oposta, logo
245
matrizes quadradas, que apresentam um em toda a sua diagonal principal e zero nas
demais posições.
Para terminar, houve o conteúdo sobre matriz inversa, em que é apresentada
a condição de ser inversa. Por conseguinte, foi dado um exemplo de uma matriz dois
por dois e a forma de se calcular sua inversa e a resolução de sistemas, em que o
método utilizado foi o da substituição. Encerrando, foi proposta a atividade dada
abaixo para que o aluno o resolva.
Embora a semana iniciou mostrando que matrizes são tabelas, não há mais
referências a isso, ainda não foram apresentados exercícios aplicados ao cotidiano
vivencial do aluno. A sensação que se tem é de que o estudo de matrizes tenha
justificativa por ela mesma.
A professora iniciou a aula informando que conteúdo está nas páginas 99 a 105
do livro didático, na sequência, definiu de que se trata uma equação linear e solicitou
ao aluno realizar um exercício on-line, o qual apenas quando realizado corretamente,
permite que o aluno progrida na lição, abaixo o apresentamos.
Logo após, o aluno recebeu a informação de que esse tipo de sistema pode ser
resolvido, no Ensino Fundamental, de três formas diferentes, ao passo que a
professora expôs cada um deles: comparação, substituição e adição. Por conseguinte,
o aluno foi direcionado à aba de avaliação para compreender os três métodos, os
quais ele já conhece.
Passou-se, a seguir, para a maneira de que se deve interpretar,
geometricamente, o problema proposto que mostra duas retas concorrentes.
exemplo aos alunos dado pela matriz incompleta e pela matriz completa, relacionada
a um sistema dado.
Partindo para o exemplo dado, seguiu-se para outro para mostrar a forma de
se observar as matrizes a partir de um sistema dado. Na sequência, foi concedida a
definição matricial de um sistema.
Isto posto, partiu-se para a discussão do que seria um sistema de equações
escalonado, apresentando a definição e oferecendo alguns exemplos. Na sequência,
foi dada a maneira de se resolver um sistema quando este já se apresenta
escalonado. Finalizou-se afirmando que, em todo sistema escalonado, no qual o
número de incógnitas e o de equações seja o mesmo, esse sistema é possível e
determinado, de maneira que se expôs uma única solução para o sistema. Na
sequência, foi dado o caso no qual o número de incógnitas é maior que o número de
equações, dizendo que, nesse caso, pode-se atribuir valores a uma incógnita e, assim,
encontrar outros valores a partir o valor dado, sendo oferecido o exemplo a seguir.
Para o mesmo sistema, foi discutido que um valor ∝ pode representar qualquer
valor real e suas soluções em termos de ∝ colocado. Na continuidade, foi oferecida a
maneira de escalonamento de um sistema linear, cuja exposição foi feita através de
253
A partir desse fato, mostrou-se que o número real dado por (𝑎𝑑 − 𝑏𝑐 ) é
chamado de determinante da matriz incompleta dada, vejamos como isso foi
apresentado.
DIÁRIO DE CAMPO
Nesse instante, a professora direcionou sua fala para o atual momento em que
vivenciamos a pandemia COVID-19 e sobre a necessidade de ficar em casa. Percebo,
então, a tentativa de se aproximar, afetivamente, de seus alunos, de sua linguagem,
acredito, portanto, que seja para obter adesão deles. Quando usa termos como cara
para se referir a um aluno fictício e galera para se referir a toda a turma.
Em seguida, a professora questionou quais alunos já fizeram a atividade da
semana e se havia dúvidas. Embora os alunos tenham respondido que só começam
a pensar em matemática após a terça-feira da semana em que é introduzido o
conteúdo.
Na prossecução, a docente mostrou aos alunos o funcionamento das aulas no
ambiente virtual: as tarefas valem 3 pontos, incluindo um resumo sobre cada uma das
semanas de entrada e a prova, valendo 7 pontos a ocorrer no final da etapa,
equivalente ao bimestre. Sendo que, na primeira, foi realizada a avaliação na semana
3.
Durante a aula síncrona, a professora fez a correção das atividades propostas,
com ênfase nas dificuldades encontradas pelos alunos na sua realização.
Momento em que os alunos solicitaram esclarecimentos acerca do resumo que
deve ser feito de cada unidade trabalhada, as quais a professora esclareceu serem
simples e que não seriam considerados trabalhos de cópias da Internet.
Esclarecidas as dúvidas sobre o processo avaliativo, iniciou-se uma revisão
sobre os nomes próprios dos lados de um triângulo retângulo. A professora ressalta a
importância de se tomar o ângulo como referência para a obtenção do cateto oposto
e cateto adjacente.
A aula foi dirigida para as relações sobre os lados um triângulo retângulo e a
obtenção e compreensão do seno, cosseno e tangente, na qual a professora
utilizou um mnemônico (Soh+Ca+Toa), esclarecendo como devemos pensar a partir
dele.
Na continuidade, houve uma das demonstrações da relação fundamental da
Trigonometria, que ocorreu com pouca interação dos alunos.
Em seguida, abordou-se sobre a transformação de graus em radianos. Para
tanto, a professora evidenciou ser um fato histórico, embora não tenha oferecido mais
esclarecimentos. É nesse instante que evidencio que a docente tratou radianos como
se tal conceito fosse conhecido pelo aluno e, em alguns momentos, relacionou-os com
a volta completa sobre a circunferência.
258
Aula síncrona do dia 11/05/2021 (terça-feira das 14h às 15h) referente à Unidade
2
180° 210°
=
𝜋 𝑥
Após analisar o modo de resolução do aluno, a professora informou não haver
problemas em resolver daquela forma. E encerra a correção dos exercícios pelo
método da proporcionalidade, em seguida, a aula foi encerrada.
Aula síncrona do dia 01/06/2021 (terça-feira das 14h às 15h) referente à Unidade
3
Afirmou, ainda, que naquela semana fariam uma avaliação e em razão disso
não haveria tempo na aula para uma revisão, para tanto, propôs que viessem no
próximo dia, quarta-feira às 17h, para uma revisão sobre todo o conteúdo avaliativo.
Isto posto, a professora direcionou a aula para a correção dos exercícios
propostos, antes, contudo, reafirmou a diferença que precisam compreender entre
graus e radianos, mas também que a circunferência trigonométrica possui raio em
(0,0) e raio 1, em que o eixo X é o dos cossenos e o eixo Y o dos senos.
Posteriormente, passou-se para a observação de valores referentes a cada um
dos quadrantes, nos quais, no primeiro, temos seno positivo e cosseno positivo, já no
segundo, teremos seno positivo e cosseno negativo, a seguir, ela abriu o gráfico dado
para afirmar que a tangente como a divisão está entre os valores de seno e cosseno.
Pela observação do gráfico, afirmou não ser possível definir a tangente de 90°
e de 270°, pois se a tangente é a divisão de seno de um ângulo pelo cosseno desse
mesmo ângulo, devemos observar a impossibilidade de dividir por zero uma
expressão.
Seguiu-se a resolução de lista de exercícios propostas para a semana 2, em
que, no primeiro, devem ser observados os valores de seno e cosseno sobre o círculo
com valores positivos e negativos. Já o exercício 2, solicita as definições de
cossecante, secante e cotangente.
263
A professora, nesse instante, afirmou que a raiz de um número não pode ficar
na parte inferior de uma fração, para tanto, instruiu ser necessário racionalizar,
mostrando como deve ser feito.
5𝜋 2
Uma das alunas questionou como se transforma em , solicitando à
4 √2
professora uma explicação do por que isso ocorre, esta afirmou se tratar de um caso,
em que um é o ângulo e o outro refere-se ao valor de seno do ângulo dado.
Seguiram-se as correções com as quais a professora frisou o fato de um ângulo
ser correspondente a outro ângulo dado no primeiro quadrante, neste afirmou que
saber tais correspondências seria importante na prova, que eles iriam realizar naquela
semana, mas também no vestibular.
Prosseguiu-se a correção com pouca interação entre a professora e os alunos,
na qual foi utilizada a tabela de valores notáveis, além da observação sobre o gráfico
de colocado.
mencionou usar os valores em decimais, ao passo que a professora informou não ser
possível, uma vez que, no vestibular, o aluno não pode utilizar uma calculadora para
fazer os cálculos.
Para a resolução do exercício 3, usou-se a composição sobre os valores do
gráfico, além da observação sobre os valores. Nesse instante, os alunos disseram ter
passado nervoso para realizar o exercício, isso porque sentiram que deu bastante
trabalho, ao passo que a professora confirmou ser realmente um pouco trabalhoso,
embora valha a pena.
Aula síncrona do dia 22/06/2021 (terça-feira das 14h às 15h) referente à Unidade
4
A professora aproveitou para reforçar que para lembrar a fórmula do sen (a+b),
para tanto ressaltou ser possível recorrer ao poema, conforme colocado nos vídeos,
e, ainda, sobre a importância de saber as fórmulas do seno e do cosseno da soma,
pois o vestibular exige que o aluno as saiba de cor.
Frisou também que a fórmula para a tangente da soma de dois arcos é um
pouco diferente e que relembra o mnemônico. Seguiu-se a resolução dos exercícios
pela utilização das fórmulas diretamente colocadas. A correção ocorreu sem
dificuldades e sem a interação dos alunos.
Ao passar para exercício 2, a professora informou que muitos alunos tiveram
dificuldade para resolvê-lo, isso porque muitos a procuraram. Abaixo temos a
apresentação do exercício proposto.
funciona no círculo trigonométrico, de modo que se poderia optar por fazer isto de
forma a observar no geogébra, mesmo assim isso não foi realizado. Falou-se,
também, de ângulos positivos de mais de uma volta.
Recapitulou o que seria uma função e sem qualquer interação dos alunos,
aproveitando para mostrar o raciocínio sobre a função seno de adicionar uma unidade,
o que ocorre e temas relacionados.
Isto posto, a docente interrogou os alunos o motivo de não comparecerem ao
momento de atendimento e questionou se uma mudança para o período da tarde
ficaria melhor, e mais uma vez, não há grande interação, ainda assim, alguns alunos
afirmaram que se o atendimento fosse à tarde seria melhor para eles. Prontamente, a
professora disse que começaria os atendimentos de plantão de dúvidas a partir da
próxima semana às quartas-feiras das 17h às 18h, findando-se, desse modo, as
observações sobre a aula síncrona.
Aula síncrona do dia 13/08/2021 (terça-feira das 14h às 15h) referente à Unidade
5
Aula síncrona do dia 24/08/2021 (terça-feira das 14h às 15h) referente à Unidade
6
ano letivo. Ela respondeu que ainda não havia nada efetivo sobre o retorno das aulas
presenciais e acreditava na impossibilidade desse retorno delas.
Em vista disso, uma das alunas evidenciou que outras escolas já retornaram
as aulas presenciais, embora não estejam indo bem, uma vez que ainda estava muito
bagunçado, ao passo que os alunos se sentiam bastante perdidos. A professora
aproveitou para afirmar que o ensino híbrido ainda precisa ser melhorado, pois se trata
de um formato novo e com grandes desafios, tanto para os professores como para os
alunos, ressaltou, também, que tal situação é bastante particular, além de ser nova
para todos, pontuando que aprendeu, com esses dias de pandemia, a não criar
expectativas.
Um dos alunos pediu esclarecimentos do modo como os professores sabem se
um aluno acessou o material da plataforma, a professora, então, esclarece que tem
acesso tanto ao tempo em que o aluno ficou logado na plataforma, como a que
material teve acesso. Aproveitou para dizer que alguns alunos perderam pontos no
bimestre anterior, posto que, embora tivessem entregue a lista de exercícios, não
acessaram, satisfatoriamente, a plataforma e os vídeos explicativos sobre a matéria
de cada semana.
Às 14h10, a gravação da aula foi iniciada com a professora informando que o
conteúdo da aula se referia à semana 5, ou seja, resolução e comentários sobre a
lista de exercícios encerrada antes do início das férias. Reforçou o aviso de que os
alunos que tivessem dúvidas sobre a semana 6, em andamento, deveriam
comparecer ao momento do plantão de dúvidas no dia seguinte (quarta-feira, 25 de
agosto).
A seguir, direciona-se à tela da lista de exercícios com os alunos, dizendo que
a semana tinha poucos para serem resolvidos e entregues.
É nesse momento que a professora afirmou que a lista de exercícios
apresenta o conteúdo essencial para a compreensão dos conteúdos, para tanto,
os alunos encontrariam mais exercícios para treinar no livro didático. Na
sequência, foi realizada a correção do exercício 1 abaixo.
269
Aproveitou para revisar a lei dos senos, afirmando que os ângulos opostos ao
lado são proporcionais a cada lado e que, geralmente, utiliza-se essa lei quando temos
2 lados e 2 ângulos. Revisou, também, a lei dos cossenos, afirmando que esta é usada
quando existem 3 lados e 1 ângulo apenas. Retomando o exercício 1, afirmou ser
possível encontrar, na lei de senos, o ângulo, ou mesmo, o valor de um lado, visto
que, como temos 2 lados e 1 ângulo, podemos encontrar o ângulo oposto ao lado 5.
Percebeu-se, afinal, que o valor normativo da matemática é bastante forte,
posto que a lei dos senos envolve 2 ângulos e 2 lados, a lei dos cossenos 3 lados e 1
ângulo. Mesmo assim, não houve nenhuma discussão sobre outras formas de se
resolver o exercício.
O problema do exercício é que primeiro deve-se encontrar o ângulo M para
que, depois disso, seja possível encontrar o ângulo X. A resolução seguiu
normalmente com os alunos. Ao final, uma das alunas questionou o porquê de a soma
dos ângulos internos de um triângulo ter dado 180°.
Embora fosse possível a colocação de exercícios contextualizados, a
professora optou por dar apenas os de aplicação direta das fórmulas colocadas para
os alunos. Em seguida, foi realizada a correção do exercício 2 item a seguir.
270
Na explicação, disse que não utilizaria a lei dos senos, dado que, nesse caso,
precisaríamos ter 2 lados e 2 ângulos, certamente, seria mais fácil utilizar a lei dos
cossenos, a qual necessita de 3 lados e 1 ângulo. Nesse instante, percebo que os
alunos pouco interagem com a professora, ainda assim, uma das alunas registrou no
chat que pareceu compreender a existência de outra forma de resolver o exercício, ao
passo que a professora disse não acreditar que houvesse.
Diferente do da postura como o aluno Heitor, não houve a solicitação para que
a aluna apresentasse sua linha de raciocínio para verificar sua compreensão sobre o
exercício proposto. O último exercício proposto segue abaixo:
Para esse último exercício, não tivemos nenhuma colocação, uma vez que se
referia à aplicação direta da fórmula. Verificamos existir um direcionamento para
compreender que o essencial se trata de o aluno saber aplicar a fórmula da lei do seno
e a dos cossenos de forma automática. Podemos verificar, ainda, a falta de exercícios
contextualizados que abordem assunto. Embora o livro didático traga aplicações sobre
o tema, a professora optou por não trazer à discussão essas aplicações no cotidiano.
Notamos que, embora a aplicação desse conteúdo seja direta e vivencial, os
alunos não tiveram nenhuma aplicação no cotidiano, parecendo que esse tema se
restringe à aplicação direta de fórmulas resolutivas.
Adentrei na sala virtual cinco minutos antes do início da aula e já havia alguns
alunos, os que chegavam eram recebidos pela professora com um cumprimento de
boa tarde. Após alguns minutos, ela iniciou uma conversa sobre a alta temperatura
271
daqueles dias e em razão disso poderíamos sofre com a falta de água, dado que as
represas estão secando pela longa estiagem.
Percebo que para quebrar o gelo e estabelecer uma boa convivência, a docente
perguntou se os alunos já tomaram a segunda dose da vacina contra a COVID-19.
Alguns deles afirmaram ter tomado apenas a primeira dose, e uma aluna confessou
ter muito medo de tomar a vacina, mesmo assim já havia tomado a primeira dose.
Para iniciar, de fato a aula, um dos alunos solicitou que a professora resolvesse
a última questão da prova, colocada para o final da segunda etapa. A docente ressalta
ser a única questão em que eles deveriam colocar a resposta, pois as demais eram
de múltipla escolha, mencionando, ainda, que deveria usar a lei dos cossenos.
Dado ao pedido do aluno, a professora pontuou que corrigiria os exercícios da
semana anterior (semana 6), sendo apenas três exercícios, e, em seguida, corrigiria
para todos os alunos.
Às 14h07, a aula começou a ser gravada, com a exposição na tela dos
exercícios da semana, começando pelo exercício 1, conforme abaixo, referente ao
cálculo de valores dados por incógnitas.
da lista, o qual a docente menciona ter sido o que os alunos tiveram mais dúvidas,
isso porque muitos perguntaram sobre essa questão pelo WhatsApp. Vale ressaltar,
aqui, que, no plantão de dúvidas da semana 6, houve o comparecimento apenas de
uma aluna no horário estipulado.
Ela relatou que os alunos acreditavam haver alguma pegadinha na questão,
visto que ela se referia à soma direta da diagonal principal de uma matriz dada,
conforme a seguir
A docente informou que a questão deveria ser resolvida pela lei dos cossenos,
frisando que o lado, referente à fórmula, será sempre o lado oposto ao ângulo. Para a
resolução do exercício, deve-se, ao final, calcular uma equação do segundo grau com
respostas -3 e 9, ao que ela avisou que -3 não convém, já que não pode se referir ao
tamanho de um lado do triângulo.
Um dos alunos informou ter encontrado a resposta 3 e 9, tendo feito por soma
e produto de raízes. A professora, então, avisou que, provavelmente, ele não
considerou que fórmula dá o valor do oposto de soma, em virtude dessa resposta,
depois de alguns segundos, o aluno concordou. A resolução do aluno, colocada
abaixo, foi apresentada no chat da aula.
Como ainda faltam alguns minutos para o término da aula, a professora fez
uma rápida revisão do conteúdo da semana 7, mostrando existirem vários métodos
274
de resolução de sistemas com duas incógnitas e que eles já aprenderam tais métodos
no Ensino Fundamental, como: substituição, comparação e adição.
Apresentou, em seguida, para o aluno, um plano cartesiano com duas retas,
afirmando que duas retas podem ser concorrentes, paralelas ou coincidentes,
fazendo, ainda, distinção entre elas. Apontou que as concorrentes se cruzam apenas
em um ponto e, nesse caso, o sistema será possível e determinado, tendo por nome
sistema possível e determinado (S.P.D.). Quanto às paralelas, o sistema terá uma
resposta impossível, ou seja, teremos retas paralelas, chamadas de sistema
impossível (S.I.). O terceiro caso trata-se das retas quando resolvemos zero igual a
zero, nesse caso, as retas são coincidentes e chamam-se sistema possível e
indeterminado (S.P.I), visto que possuem infinitas soluções.
Durante a explanação da professora, foi trabalhado apenas o contexto de duas
variáveis no plano cartesiano, não sendo explicada a resolução de sistemas por
escalonamento.
Aula síncrona do dia 05/10/2021 (terça-feira das 14h às 15h) referente à Unidade
8 – Determinantes
raciocínio, a professora destacou ser importante, nesses casos, uma leitura atenta do
problema.
Feito isso, a aula foi encerrada, finalizando, também, nossa tomada de campo,
em vista disso, direcionamo-nos para as entrevistas a serem realizadas com alunos e
com a professora.
278