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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – UEM

CURSO DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO


EPISTEMOLOGIA DA ADMINISTRAÇÃO – TURMA 2019
PROFESSOR: Dr. João Marcelo Crubellate

ALUNO: Felipe Violi Monteiro

TEMA: Distinções e aproximações entre os modelos dedutivo-nomológico, hipotético-


dedutivo e indutivo de ciência.

Apesar da discussão sobre os modos de explanação datar de um período muito antigo,


visto nas discussões filosóficas entre o racionalismo dedutivista e a lógica indutiva, bem como
o empiricismo problematizado por Hume. Alguns filósofos da ciência foram responsáveis por
reacender o debate no século XX, produzindo suas teses a partir de três principais modelos de
explanação, sendo eles: a) o modelo Dedutivo-Nomológico; b) o modelo Indutivo e; c) o
modelo Hipotético-Dedutivo, de ciência.
Deste modo, o presente ensaio objetiva apresentar, brevemente, os argumentos a
respeito da descrição e justificação de cada modelo, bem como discutir as distinções e
aproximações entre estes.
Como mais antigo dos três, o modelo indutivo de ciência carrega maiores controvérsias
a respeito de sua descrição e justificação. De acordo com Curd e Cover (1998) talvez a única
concepção relacionada à indução que os filósofos da ciência concordem é a de que todos
argumentos indutivos não são dedutivamente válidos.
Assumindo a concepção de Curd e Cover (1998) compreendemos o indutivismo como
um modelo ingênuo de ciência cujo conhecimento científico se acumula usando
generalizações indutivas para inferir leis e teorias a partir de eventos observados
empiricamente. Este longo debate à cerca do modelo indutivo e suas refutações teve seu início
com os questionamentos de David Hume, no qual argumentou ser impossível justificar que
argumentos indutivos levem a proposições verdadeiras, uma vez que toda inferência é de
caráter psicológico, não lógico.
Contudo, na tentativa de responder ao problema da indução de Hume, filósofos da
ciência têm se divido em quatro principais categorias. Os filósofos que se apoiam na
linguística para ressignificar a noção de racionalidade e justificação, e assim defender a
indução. Àqueles que, a partir de argumentos indutivos, apoiam a indução e evitam o problema
da linguagem. Uma terceira classe que justifica a indução a partir de sua pragmática,
apresentando-o como uma ferramenta útil e confiável para nos aproximar da verdade. Por fim,
apoiados em Popper, os que pensam na indução como não justificada e vindicada, por
acreditar que a lógica científica não visa a confirmação de hipóteses, mas sua falsificação
(CURD, COVER, 1998).
A ideia de falsificação é central no modelo hipotético-dedutivo de Popper (1972), uma
vez que o autor defende o avanço da ciência a partir de hipóteses, ou conjecturas, cada vez
mais arrojadas colocadas à prova empírica, isto é, a comparação das consequências dedutivas
conjecturadas às observações empíricas experimentadas. Contudo, Popper (1972) ainda
defende a critica da indução de Hume, ao fazer sua distinção entre confirmação e
corroboração, para o autor, uma teoria nunca é confirmada, apenas corroborada, isto quer dizer
que teorias não são prováveis porque a probabilidade indutiva e a confirmação são mitos, com
isso, a corroboração é, de certo modo, o “resistir” de uma teoria ao teste empírico possível
naquele contexto histórico.
Em suma, a lógica do modelo hipotético-dedutivo deve avançar a partir de conjecturas
e refutações, pelos quais as proposições ou sistemas de proposições necessitam abarcar
falseadores potenciais. Toda teoria deve ser uma proibição, ao passo que quanto maior o grau
desta, maior seu caráter científico, a proibição reside no conteúdo empírico no qual
determinada teoria abrange, e os graus variam entre proposições tautológicas e contraditórias,
permitindo situar quais enunciados tem mais características científicas (POPPER, 1972).
Para Curd e Cover (1998), a importância que Popper (1972) atribuiu ao
falsificacionismo foi criticada de muitos lados, dentre eles Carl Hempel que afirmava que o
autor não conseguiu fornecer um modelo completo e adequado da lógica científica.
Embora o modelo dedutivo-nomológico de Hempel (1998) acredite que a
falseabilidade desempenha importante papel na ciência, é necessário atribuir também
importância à confirmação, onde reside sua maior crítica ao modelo hipotético-dedutivo de
Popper (1972). Para Hempel (1998) a lógica H-D de corroboração é ingênua, uma vez que
não é possível afirmar que proposições menos proibitivas são automaticamente corroboradas
(ou dedutivamente consequentes) a partir da corroboração de proposições mais proibitivas.
Para o autor, apenas as consequências dedutivas de uma própria teoria e que são exemplos
dessa teoria têm o poder de confirmá-la.
Neste sentido, há uma dupla crítica feita por Hempel, ao modelo hipotético-dedutivo
com base na crítica à especificidade dedutiva de cada teoria e ao modelo indutivista de
generalização empírica. Para Hempel (1998) o modelo dedutivo-nomológico (D-N) baseia-se
no modelo de cobertura de leis, porque considera em suas premissas pelo menos uma lei
empírica, mas também acredita ser possível explanar cientificamente a partir de argumentos
dedutivamente válidos. Para o autor, um evento empírico (ou explicativo) pode ser explicado
dedutivamente a partir de certos princípios explicativos divididos em dois grupos: a) fatos
particulares e; b) uniformidades expressas por leis gerais. Com estes princípios o autor
argumenta que a ocorrência de determinados fenômenos pode ser esperada e explicada.
Por fim, Hempel (1998) busca aproximar o modelo dedutivo-nomológico ao indutivo,
de ciência, ao considerar o modelo Indutivo Estatístico (I-S) como àqueles com alta
probabilidade ou forte indução, aplicando os mesmos princípios de coberturas de leis
utilizados no D-N e atribuindo sua tese da identidade estrutural, cuja defende que todas as
explicações adequadas são potencialmente previsões e que todas as previsões adequadas são
potencialmente explicações, argumentando contra a distinção formal e objetiva entre
explanação e predição.

REFERÊNCIAS

CURD, M; COVER, J. Induction, Prediction, and Evidence. In: CURD; COVER, J.


Philosophy of science – the central issues. New York: Norton & Company, 1998.

HEMPEL, C. G. Two Basic Types of Scientific Explanation. In: CURD, M. & COVER, J.
Philosophy of science – the central issues. New York: Norton & Company, 1998a.

HEMPEL, C. G. Criteria of Confirmation and Acceptability. In: CURD, M. & COVER, J.


Philosophy of science – the central issues. New York: Norton & Company, 1998b.

POPPER, K. Science: Conjectures and Refutations. In: CURD, M. & COVER, J. Philosophy
of science – the central issues. New York: Norton & Company, 1998.

POPPER, K. The logic of scientific discovery. London: Hutchinson & Co., 1972.

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