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Através de outro ser que próximo vivo

Notifico-me que indubitavelmente existo


De outra forma sinto-me fora do ninho
Mas que ninho? O do globo terrestre
Ou – para irmos longe – do multiverso
Qualquer outra elucubração insípida
Insossa insólita descabida e desvairada
Não tem espaço em minha mente sana
Após meses de recuperação ela avança
Ao espaço sideral inimaginário e dual
Donde provêm todas as minhas coisas
Materiais e imateriais – minha emoção
Atrelada ao sentimento de confusão
Não mais mental, nem mesmo vicioso
Apenas no sentido do termo rigoroso
Que termina lá no fundo do poço viçoso
Onde dentro nadam peixes escabrosos
Onde flutuam parábolas desconvexas
Emergidas da própria existência do eu
Que eu? O meu eu – um deles – apenas
Entre tantos pormenores ele sim reina
E destrona todos os demais cavalheiros
Do reino do portuário sapo-caranguejo
Atolado no barro que moldou o homem
Afogado nas mágoas do arrependimento
Do tempo perdido inacabado estirado
No relento onde flores murcharam até
O amanhecer do novo século pandêmico
Renascendo em pedra dura que perfura
O meu dedo e põe um anel no teu seio
Possibilitando a união descarnal do meio
Inexato porém aprofundado quase cheio
O poço secou? As borboletas reinaram
Parou-se de beber a água brilhante e turva
Agora serve para cobri-lo com tábuas
Sentar-se em cima numa linda tarde
Sem mágoas: apenas o domínio do devaneio.

14 Fev 2021
10:42 am

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