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ENFIA NO MEU CU

Creio que não sei mais viver

A pandemia fez-me desaprender

O que é o certo? O que é o errado?

O que significam os 330 mil coronamortos?

Por que o povo brasileiro está apático?

Por que todo mundo briga por política,

se é uma questão de saúde coletiva?

Por que os ricos querem furar as filas de vacinação

e conseguiram fazer o Congresso dar uma mão

para que vacinas particulares entrassem em distribuição?

Creio que não sei mais no que crer

A pandemia fez-me enxergar o não-viver

O que é quarentena? O que é lockdown?

Por que ninguém respeita e fodem nas praças e no matagal?

Por que minha ex-professora e ex-diretora da escola

diz que não passa de “invenção da mídia para derrubar o ‘mito’”?

Que mito? Genocidas tornam-se mitos nos trópicos

abaixo da Linha do Equador? Ignorância causa-me dor

Os millenials e seus incansáveis memes sobre saúde mental


Que constitui uma das ondas resultado da pandemia

É tudo tão insuportável que eu preferia estar vivendo numa guerra

Ao menos a guerra é objetiva; a pandemia tem negacionistas,

terraplanistas, médicos charlatães, gente sem nenhuma empatia!

Governo de traços neofascistas que esconde sua corrupção

acusando suas práticas nefandas divulgadas pela grande mídia

como tentativas de sua própria desestabilização, mas o quê?

O governo e o presidente desestabilizaram toda a população

Somos vergonha no mundo todo, somos impedidos de viajar,

todas as fronteiras vimo-las para nós se fechar...

O deboche, o escárnio, o desprezo pelos pobres e miseráveis,

a censura, que não parte apenas do Estado, mas das demais instituições:

da família, das igrejas, das escolas, das organizações, dos colunistas e artistas:

eles são censurados pelo Grande Irmão que nos observa e, ao mesmo tempo,

censuram-nos, nós que estamos lúcidos, que estamos com a razão

e que lamentamos os mortos que caíram neste imenso alçapão.

Uma política que não é apenas genocida como projeto de Estado,

mas que apresenta um retrato malévolo de higienismo deplorável

contra os nativos, donos desta terra toda, cada vez mais evangelizados

por bispos ensandecidos e avaros por seus dízimos que os tornam milionários;

contra outras minorias, como a população LGBTQ+, a população negra,

os desfavorecidos, os povos tradicionalmente marginalizados, os mendigos,


tudo o que foge do padrão imaginário de uma “família tradicional brasileira”.

Pois imitemos a França: ponhamos fogo nos carros, enfrentemos a repressão.

Faça-se ouvir nosso “uivo” contra toda a improcedência descabida

Contra esta política neoliberal mais do que ultrapassada

Que carcome nosso custo de vida...todo dia...todos os dias...

O que fazer, o que agir, no que crer em tempos estes?

Senão refugiar-se em microcosmos, em células que são nossos dormitórios

Isolamento não obrigatório, pois nunca o foi no Brasil

Isolamento consciente de quem teme este amontado de gente demente

Isolamento de uma geração conflitiva, ultracapitalista e maledicente

Isolamento de cidades e estados onde não há amor, onde se reina a ineficiente

cobardia de um povo acovardado sem empatia sem caridade sem tolerância

sem liberdade sem acuidade sem garantia de que fará valer sua mera existência.

Dá-me, dá-me: Prozac, clonazepam, ayahuasca, cannabis, LSD, anfetamina, cocaína,

Ritalina, Xanax, anestésico para cavalo, morfina, êcstasi, um garrafão de serotonina

Tudo enfiado no meu cu ao invés de ozônio, cloroquina, ivermectina e vossas merdas


todas sem comprovação científica!

Eu só quero o fim desta pandemia.

G R TISSOT
6, Abr 2021
5:57 pm

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