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O PAI DO APRIORISMO Kant (1724-1804) é o iniciador desta posição, afirmando que não
há dúvida de que o ponto de partida do conhecimento humano é a experiência. Diz ele: "Mas
se é verdade que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, todos, no
entanto, não procedem dela". Distingue ainda o filósofo entre matéria e forma, sendo matéria
o elemento proveniente da experiência - a posteriori -, e forma, do pensamento - a priori.
EXPLICANDO MAIS...O denominado juízo a priori é aquele que contém um predicado que
faz parte do sujeito, que lhe é inerente, como por exemplo "todo corpo é extenso", e portanto,
todo conhecimento a priori será analítico - basta analisar o sujeito para se chegar ao
predicado. Esta foi a doutrina tradicional até Kant. Este, pelo contrário, proclama que existem
conhecimentos a priori (= independentes da experiência) que não é puramente a priori, e que
não é também puramente experimental. Coisa inédita então. Desta maneira ele se afasta dos
empiristas.
Conforme acima, distingue Kant no conhecimento dois elementos, um que vem do objecto a
ser conhecido, e outro que é inerente à natureza humana. De um lado, portanto, existem os
objectos, e de outro lado, a natureza
Como o nome já diz (inrelligere, deinrus legere, ler dentro), segundo o intelectualismo, a
consciência cognitiva lê na experiência, retira seus conceitos da experiência.
Porém, o empirista quer dizer que no entendimento, no pensamento, não está contido nada
de novo, nada que seja diferente dos dados da experiência. O intelectualismo afirma
exactamente o oposto. Para ele, além das representações intuitivas sensíveis, existem também
conceitos.
Esse ponto de vista foi desenvolvido já na Antiguidade. Seu fundador foi Aristóteles. Com
ele, racionalismo e empirismo chegam, de certo modo, a uma síntese.
Segundo o apriorismo, nosso conhecimento apresenta, como o nome dessa tendência já diz,
elementos que são a priori independentes da experiência. Essa também era decerto a opinião
do racionalismo. Enquanto este, porém, considerava os factores a priori como conteúdos,
como conceitos completos, esses factores são, para o apriorismo, de natureza formal. Eles
não são conteúdos do conhecimento, mas, formas do conhecimento. Essas formas recebem
seu conteúdo da experiência. Aqui, o apriorismo separa-se do racionalismo e aproxima-se
do empirismo.
Os factores apriorísticos assemelham-se, num certo sentido, a recipientes vazios que a
experiência vai enchendo com conteúdos concretos. O princípio que governa o apriorismo
diz o seguinte: “conceitos sem intuições são vazios; intuições sem conceitos são cegas”.
Mas eles determinam as relações entre esses dois factores de maneiras muito diferentes. O
intelectualismo deriva o factor racional do factor empírico. Todos os conceitos provêm,
segundo ele, da experiência.
O apriorismo recusa terminantemente tal derivação. O factor a priori não provém, segundo
ele, da experiência, mas do pensamento, da razão. A razão leva, por assim dizer, as formas a
priori até o material da experiência e determina, dessa forma, os objectos do conhecimento.
O pensamento não se comporta receptiva e passivamente em face da experiência como no
intelectualismo, mas espontânea e activamente.
O fundador desse apriorismo é Kant. Toda sua filosofia foi governada pela tendência a
mediar entre o racionalismo de Leibniz e Wolff e o empirismo de Locke e Hume. E ele o fez
afirmando que o material do conhecimento provém da experiência, enquanto a forma provém
do pensamento.
Mas o racionalismo também não se sustenta no confronto com a Psicologia. Com efeito, a
Psicologia desconhece conceitos inatos ou nascidos de fontes transcendentes. Muito pelo
contrário, ela mostra que a formação de conceitos é condicionada pela experiência e que,
portanto, o surgimento dos conceitos envolve não apenas o pensamento, mas também a
experiência.
A própria história dos dois pontos de vista já nos conduz a tal distinção. Vimos que os
racionalistas provêm, em sua maioria, da Matemática, uma ciência ideal, ao passo que os
empiristas provêm da Ciência da Natureza, uma ciência real. Vimos também que eles
estariam cobertos de razão se restringissem suas doutrinas epistemológicas ao campo do
conhecimento que cada um tem em mente.
O racionalista ensina que nosso conhecimento tem seu fundamento de valor na razão, que a
validade de nossos juízos está assentada no pensamento, ensinamento que se ajusta
perfeitamente às ciências ideais. Quando eu considero uma proposição da Lógica (o
princípio de contradição, por exemplo) ou da Matemática (por exemplo, a proposição “o
todo é maior do que a parte”), não preciso de modo algum consultar a experiência para
conhecer sua verdade. Basta comparar os conceitos contidos em cada uma delas para
reconhecer a verdade dessas proposições. Essas proposições, portanto, têm uma validade
completamente independente da experiência, ou, para utilizar a expressão técnica, são a
priori. Leibniz chama-as de verdades de razão.
As coisas passam-se de modo completamente diverso no domínio das ciências reais, isto é,
as ciências naturais e as ciências do espírito. No interior desse domínio, vale de fato a tese
empirista segundo a qual nosso conhecimento se baseia na experiência, nossos juízos
encontram na experiência seu fundamento de verdade.
Evidências mostram que tanto a experiência quanto o pensamento tomam parte na produção
do conhecimento. Ora, é exatamente essa a doutrina tanto do intelectualismo quanto do
apriorismo. Ambos afirmam que nosso conhecimento apresenta tanto fatores racionais
quanto empíricos.
Para nos posicionarmos criticamente no debate entre realismo e idealismo, o idealismo não
consegue mostrar que o realismo seja contraditório e, em função disso, inadmissível. Por
outro lado, o realismo também não consegue derrotar definitivamente seu adversário. Ele não
pode fazer com que prevaleçam razões logicamente necessárias, mas apenas razões
prováveis.
Parece, portanto, que o conflito mais geral entre idealismo e realismo não tem como ser
resolvido. E é realmente isso o que ocorre se (e na medida em que) lançamos mão apenas de
um método racional.
Nem o realismo nem o idealismo deixam-se provar ou refutar por meios puramente
racionais. Uma decisão só parece ser possível nesse caso por vias irracionais. O realismo
volitivo mostra-nos esta via. Frente ao idealismo, que pretende fazer do homem um ser
puramente intelectual, ele destaca o aspecto volitivo e enfatiza que o homem é, antes de mais
nada, um ser que quer e que age.