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UM BREVE HISTÓRICO DA

PROFISSÃO
•O Feirante é o profissional responsável por trabalhar nas feiras
livres, comercializando produtos alimentícios e afins.
•Um Feirante tem a responsabilidade de levar às suas barracas
somente produtos de boa qualidade e procedência, além de sempre
oferecer à sua clientela bons preços e ótimo atendimento. Tudo
inicia lá atrás, quando da formação das primeiras cidades do
mundo, na Grécia Antiga. Lá pelas voltas de 3000 anos a.C, as
trocas comerciais entre as pessoas começaram a ser feitas em
locais específicos.
•Ali, elas estavam concentradas necessariamente para comprar e
vender o que lhes era interessante. O conceito foi evoluindo ao
longo dos séculos chegando até o séc. XI, quando a feira livre se
torna o modelo mais usado, assim como conhecemos atualmente.
•O 25 de agosto marca o Dia do Feirante em alusão à data em que
ocorreu a primeira feira livre moderna, em São Paulo, em 1941, a
partir da regulamentação dos antigos “mercados francos” em
homenagem a todos os profissionais espalhados pelo País.
ATIVIDADES DO FEIRANTE
(FEIRANTE [5242-05]), SEGUNDO A CBO

Atividades realizadas pelo Feirante segundo CBO


▪ administrar o negócio
▪ comprar mercadorias
▪ organizar o local de trabalho
▪ preparar produtos para venda
▪ vender mercadorias e serviços
▪ promover a venda de mercadorias
▪ comunicar-se
▪ trabalhar com segurança
▪ demonstrar competências pessoais
OBJETIVO
Identificar as vivências de prazer e
sofrimento no trabalho de feirante
__________________________________
e estabelecer suas relações com
qualidade de vida e fatores patogênicos
desta atividade.
JUSTIFICATIVA
Os feirantes são profissionais de suma importância
para o desenvolvimento econômico e social,
fornecendo alimentos frescos, de qualidade,
saudáveis, e na maioria das vezes, com o preço mais
acessível do que os que vendem no supermercado.

Apesar de estarem a serviço do povo, com simpatia


e ânimo nos atendimentos, eles acabam vivenciando
árduas jornadas de trabalho, mas ainda assim, são
profissionais invisibilizados e discriminados,
sofrendo preconceito, humilhações, desprezo e sem
ter direitos e apoios garantidos, dificultando
melhores condições de trabalho.
MÉTODO
A pesquisa é de natureza QUALITATIVA e
aprofunda-se na compreensão e análise dos
discursos dos sujeitos.

Foram realizadas 4 entrevistas, roteirizadas


por um instrumento semiestruturado
contendo 10 perguntas-estímulo, objetivando
apreender vivências laborais, organização,
condições, cargas de trabalho, estratégias de
enfrentamento, bem como suas repercussões
na saúde dos(as) trabalhadores(as).
DESCRIÇÃO DOS SUJEITOS
A amostra da pesquisa envolveu os seguintes sujeitos:

M.B - 39 anos,4ª série, atua há 15 anos


nesta profissão;
ML - 71 anos, ensino médio, atua há 4
anos nesta profissão;
MC - 42 anos, ensino médio, atua há 3
anos nesta profissão;
RG – 48 anos, ensino médio, atua há 30
anos nesta profissão.
MARCO TEÓRICO
Descrever aqui, sinteticamente, o marco
teórico que está pautado na teoria da
Psicodinâmica do Trabalho.
⮚Quando e como você ingressou neste trabalho ? E
por que escolheu essa profissão?

M.B - 39 anos: Em 2007, ingressei através do meu esposo. Ele já


trabalhava como feirante, e eu não escolhi, ele já trabalhava e assim
comecei a ajudar

M.L-71 Anos: Através da associação de produtores rurais. Eu


gosto de plantar, colher, vender
R.G - 48 Anos: A partir dos 8 anos de idade. Na verdade, é sucessão familiar, né, tá com
meus pais. Olha, nos dias de hoje, mesmo naquela época, a gente sempre teve essa
tradição na verdade, né. Então voltando a mesma resposta, é tradição familiar mesmo,
sucessão familiar. Então hoje a gente tá preocupado inclusive com os nossos filhos e
netos, porque hoje na zona rural, ninguém quer suceder os pais, os mais velhos, né.
Ninguém quer tá sucedendo, ou seja, o campo tá ficando vago, o pessoal não tão
produzindo por conta disso, de não sucessão dos mais novos, né, dos jovens de hoje em
dia. Querem vir prós grandes centros, né, acha que vai ser melhor, que trabalhar
empregado, que não sei o que, mas que na realidade, tem momentos e tem atividades
mesmo que lá na roça a gente ganha até melhor do que na cidade. É só fazer a coisa
certa, correta que lucra mais do que estando com carteira fichada, carteira assinada.

Como seu trabalho é realizado? Descreva um dia de trabalho.

M.B - 39 Anos: Viajamos para Feira de Santana, compramos em grosso(caixas), e


vendemos ao quilo. O dia de trabalho é atendimento ao público, muito movimento, é
bastante agitado o dia. Ficamos das 07:00h até as 14:00h.

M.L - 71 Anos: Eu não fico constante, nem na feira, nem no trabalho também né, só nas minhas
horas de folga que eu planto, que eu colho, que eu vou lá cuidar de minhas plantas. Não só
verduras, essas coisas, como eu também tenho plantas ornamentais. Não tá aqui né, quando eu
comecei aqui eu trazia era mais plantas e mel. Eu ingressei mais na feira através do mel e
plantas ornamentais, depois que eu vim com legumes e verduras.

M.C - 42 Anos: Dia de sexta, levanto, vou em busca das mercadoria, quando os colega não tem pra oferecer
da própria agricultura familiar, como no grupo foi escolhido barracas pra trabalhar também com produtos
convencionais que a gente não produz, eu fui uma das escolhida nesse sorteio, e aí o que eu não consigo com
os colegas da agricultura familiar eu vou até a central de abastecimento, outros lugares que vende, aí compro pra
revender. Aí vai, pega mercadoria, deixa aqui, quando é no sábado de manhã sai 4 da manhã e venho arrumar.

R.G - 48 Anos: Depende da atividade que eu vou fazer nesse dia, né. Por exemplo, eu trabalho com apicultura
também, crio abelhas, né. Então pra criar abelhas, por exemplo na época de colheita, a gente tem que ir cedo mapear
embaixo do sol quente, então. 4 hora da manhã a gente já levanta, já vai já toma um café, o carro já ficou arrumado do dia
anterior, com as meogrelhas (geogrelhas), com os apis, com os apetrechos que envolve a atividade e ali a gente sai vai
fazer colheita, né, vai pro campo colher o mel. E aí chega na casa do mel por volta das 10 horas, 11 horas da manhã, depois
disso a gente vai tomar banho, trocar de roupa, trocar todo o uniforme pra começar o processo de desoperculação, e
depois centrifugação do mel. Então depois disso a gente faz a limpeza da casa, né, porque tem que usar e lavar no mesmo
dia após o uso. Então a rotina é essa. Como feirante, eu mesmo levanto 12:30 da madrugada, pra vir pra aqui, dia de hoje. Aí
venho pra aqui, porque eu venho pra central ali, trago algumas coisas pra deixar lá, pegar outras e chego aqui cinco horas,
nesse ponto aqui. É a nossa rotina, né, estrada ruim, a gente tomando prejuízo de carro dando problema, enfim. Hoje
mesmo, quase eu não chego no horário, alguns problemas que deu ali no reboque, arrebentou o feche de mola. E assim, a
vida é corrida dessa forma.
⮚ Quais os fatores positivos do seu trabalho? É possível relatar exemplos de
experiências positivas no trabalho, quais?

M.B - 39 Anos. : Positivo porque estou ganhando meu dinheiro


próprio e sustentando a minha família. Sim, sempre brinco com
meus clientes, às vezes chegam tristes e eu distraio eles. Sou
muito alegre, extrovertida e conquisto meus clientes assim.

M.L - 71 Anos : Ô minha fia, aqui tem muito fator positivo, amizades muito boas. A
vivência que a gente tem aqui, isso aqui é uma escola, a gente ensina, a gente
aprende, é uma escola. Eu não estou aqui na feira por questão financeira não, é
pelas boas amizades que a gente tem aqui. É bom demais. Sim! O fator positivo é
assim, eu não tô aqui me gabando não, mas eu sempre trato bem meus fregueses,
um freguês chega aqui e diz assim: “quanto é esse coco?” Pode ser dois reais,
“mas você pode fazer um real, fazer um e cinquenta?” Aí eu não deixo aquele
freguês sair porque ele não tem aquele dinheiro, ele leva. “Pode me vender pra
trazer outro dia?” – Pode sim! Eu sempre acolho meus fregueses dessa maneira,
né. São esses pontos positivos que a gente tem, que o vendedor tem que ser
acolhedor também, né, se não souber acolher os fregueses não vai ter uma boa
venda não.
M.C - 42 Anos: É uma forma de complementar a renda da gente, né,
não tem tanto lucro, mas já ajuda a complementar, porque no momento a
pessoa tá vivendo mesmo só de auxílio sem emprego, cinco pessoas em
casa, né. Dos cinco só um tá trabalhando no momento. Aí o ponto positivo
é esse, que já ajuda a gente tanto ao convívio em sociedade, o contato
com outras pessoas, quanto à renda. Experiências positivas é assim, que
eu não preciso tá dependendo de tudo do meu marido, né, eu consigo
pagar algumas contas minhas, eu consigo entender mais sobre a produção
dos alimentos, essas coisas.

R.G - 48 Anos: Pra mim é a gratificação de tá trabalhando pra mim mesmo, não
tá ouvindo de ninguém, na verdade. Tá com os meus clientes pra mim é um motivo
muito grande de alegria, respeito muito, agradeço muito pela confiança que tem em
mim, e de mim também pra eles, né. Sinto isso, o carinho que a gente tem, às vezes a
gente percebe até que somos igual uma família, né. Tanto os colegas barraqueiros, de
barraca, como os próprios clientes. Se preocupa com nosso estar de saúde, né, nossa
situação do dia a dia, na verdade. Então pra mim é muito prazeroso trabalhar aqui na
feira. Sim, aí como eu tava falando, a gente sempre implanta, a gente sempre adota
assistência técnica né, então a gente sempre vem inovando, né, a gente sempre tá
participando de cursos, treinamento, seminários, palestras. Então isso a gente tem
que sempre tá acompanhando e sempre tá implantando na propriedade então aquilo
que a gente percebe que está sendo mais vantajoso pra lidar a gente tá implantando,
então não tem bicho de sete cabeças pra gente não querer fazer uma coisa que você
vai produzir mais, investindo menos inclusive. Então isso é vantagem pra produção.
⮚Você se sente reconhecido neste trabalho? Quais os tipos de reconhecimento em sua
atividade ?

M.B - 39 Anos: Sim, demais. Já virei celebridade (risos). As


pessoas falam que gostam de comprar na minha mão, porque sou
extrovertida, porque sou legal. Isso é fato, isso é nítido.

M.L - 71 Anos: Sim. Olha aqui é assim, por exemplo, eu tenho uma médica que
sempre compra aqui, quando ela chega aqui ela não me chama pelo nome, ela me chama
de minha véia. Quando ela chegar aqui hoje tem novidade que eu tomei uma queda essa
semana e tô com o olho... aí eu tive um problema, uma doença rara que chama miastenia,
fiquei um tempo com o olho fechado porque teve um bloqueio no nervo ocular e relaxou as
pálpebras do olho. Aí até que eu começasse o tratamento com o neuro eu fiquei assim,
fiquei bem uns 17 dias. Quando ela chegou aqui que viu, ficou doida, "Ô meu deus, não
pode acontecer isso” aí ela: " como é que está? Tá fazendo o que?" Aí eu comecei a dizer:
"tô com neuro e tudo". Aí todo dia que ela chega aqui, ave Maria, misericórdia, é aquele
cuidado enorme comigo. Se tiver com uma dor de barriga ela vai em casa, ela traz um
remédio pra dor de barriga. Assim, ela se preocupa muito com os feirantes aqui dessa
parte. De profissional, como médica ela é ginecologista, apesar de que ela é ginecologista
sempre tem o conhecimento, né. Eu que sou leiga.
M.C - 42 Anos: Completamente não, em alguns fatores sim, outros não. Pela questão dos
clientes né, que tem cliente que ainda não valoriza o produto da agricultura familiar, acha que é
pq é da agricultura familiar pode pagar qualquer valor. Outros também querem botar preço na
mercadoria, né, não entende o esforço que a gente faz de acordar cedo e chegar até aqui, o
gasto que a gente tem com a produção, essas coisas. O reconhecimento é de alguns clientes,
que realmente chega, elogia o produto, fala da durabilidade do produto que não é o mesma
daquele do povo que produz com agrotóxicos, essas coisas.
 

R.G - 48 Anos: Às vezes sim, às vezes não. Porque tem


momento que tem cliente que me tira do sério, que até lhe diminuir
enfim, mas pela minha consciência, pelo meu conhecimento eu ergo a
cabeça e sigo em frente porque eu sei do que é certo. E faço e prático
o que é certo, então se alguém tem dúvida ou quer simplesmente lhe
menosprezar, lhe desfazer, aí fica Deus é quem vai julgar, mas eu
tenho minha consciência limpa e tranquila que eu procuro fazer sempre
o melhor com produtos livres de agrotóxicos, com manejo adequado de
produção, então minha consciência é tranquila. Olha, o
reconhecimento é quando você investe ou quando você planta, faz
algo que você vê o retorno, né. Então você vê aquilo prosperar, sair
bonito, risçoso, e você chega e você tem uma boa aceitação pelos
clientes, então isso é uma satisfação muito grande que a gente tem.
⮚ Há fatores negativos nesse trabalho? Cite exemplos
de experiências negativas.
M.B- 39 Anos: Existe sim. Tem pessoas que chegam e nos tratam mal, mesmo atendendo bem,
brincando. Esses nem olham para a gente. Mas, sempre mantive a postura. Outra experiência
negativa, são os gestores que nos perseguem, querendo nos tirar daqui, ficamos a semana toda aqui.
Somos bastante humilhados, mas, continuamos firmes.

M.L - 71 Anos: Bom, eu acho o mínimo, existe né, porque sabe que num grupo tem que ter né, tem que
ter os fatores positivos e os fatores negativos, mas assim né, é mais fatores positivos do que negativos.
Porque aqui é assim, nós somos assim um grupo de pessoas aqui, aqui a gente se considera como irmão, aqui
todo mundo cuida de si e cuida também dos amigos, dos colegas, né. Aqui a gente não desconfia de nenhum
desses agricultores que a gente tem aqui. A gente não tem desconfiança de nenhum deles. Eu, por exemplo,
não tenho né, eu acho muito legal o nosso grupo, isso daqui é uma família. É um por todos e todos por um.
Rapaz, eu acho que sinceramente eu não tenho nem assim uma experiência de negatividade dentro desse
grupo não. Eu tenho cooperativas de apicultores, que é outra coisa diferente, né, aí sim, eu sei que tem né, que
é um grupo maior, e a gente sempre encontra aquelas pessoas, assim, que só pensa em si, né, apesar de ser
uma cooperativa, o grupo se diz uma cooperativa, eles não usam o cooperativismo. Sempre só quer pra si, né.
Aí encontra esse tipo de coisa, eu costumo dizer assim, se as pessoas se espelhassem nas próprias abelhas, a
coisa era diferente. Porque se você observar as abelhas trabalham em grupo e elas são unidas. Todo mundo
tem a sua distribuição, suas tarefas ali, mas também tão juntas. Se um enxame, por exemplo, que Deus te livre
tu sofrer um ataque de um enxame de abelha, vem um enxame né, quando eles tão procurando abrigo,
habitação, saí aquele enxame, aí o que que acontece, se você ficar neutra, você não se mexer, elas passam se
bate em você e vai embora, não te ferroa. Mas se você machucar uma abelha, que o cheiro do feromônio dela,
que o pessoal chama de veneno, na linguagem popular é o veneno, todo o enxame que tá ali volta pra lhe
atacar. Você vê a união delas como é.
M.C - 42 Anos: Fatores negativos sempre existe, né, porque às vezes a gente
produz com uma expectativa e não consegue alcançar, né, que por algum
motivo a gente não consegue o que imaginava o que ia ter, essas coisas assim.
Falta de incentivo também, né, dos poderes públicos, às vezes do estadual,
municipal. O municipal até que dá um apoiozinho, mas ainda existe esses
fatores.

R.G - 48 Anos: Existe sim, com certeza! Em todo setor existe fatores negativos, no
nosso caso, na época que tem muita praga, então isso é um fator muito negativo que a gente
às vezes se preocupa muito, a gente combate com Defensivos orgânico, mas é um momento
de preocupação, porque você vai na roça, cê vê tudo bonitinho, tudo fluindo. Quando é no dia
seguinte ou dois dias seguinte, você vê que tem uma devastação muito grande. Então aquilo
pra gente, além do prejuízo, é uma preocupação muito grande, mas a gente como já tem um
controle do manejo, já tem o conhecimento de que produto aplicar, aí a gente, as vez fica mais
sossegado, mas com certeza tem momentos desagradáveis. Foi o que eu falei em relação aos
clientes, que muitas vez não reconhece, você tá oferecendo um produto livre de agrotóxicos,
cem porcento natural e muitas das vezes o cliente não lhe dá aquela credibilidade, não
acredita no que você tá falando, aí acaba pegando um produto com produtos químicos e
perigoso. Então isso é um fator negativo e que deixa a gente um pouco constrangido, na
verdade, porque a gente fala a verdade pras pessoas, tenta explicar, orientar, mas tem
momentos que eles, por as vezes achar um produto com uma qualidade melhor, mas
qualidade no sentido de se desenvolveu melhor, né, tá maior, tá mais bonito, mas até no
processo de maturação não tem vantagem nenhuma, né. Se você for colocar questão de
sabor, piorou ainda. Então isso que às vezes nos deixa chateado, na verdade.
⮚Você já sofreu situações de humilhação no trabalho?
Como ocorreu?
M.B - 39 Anos: Já sim. Os gestores da cidade já me humilhou e às
vezes clientes mal-humorados. Às vezes tratamos bem, mas chegam
assim e afeta nosso dia.

M.L - 71 Anos: Rapaz, aqui não, agora assim, por fora como eu tô lhe
dizendo, cooperativa, associações, essas coisas, sim. Porque você sabe
que lidar com pessoas diferente é difícil, muito difícil, e um quer de um jeito,
outro quer de outro, e principalmente essas pessoas que são unidas,
desses grupos, dessas coisas, não presta, porque nunca pode atender todo
mundo igual, ele nunca satisfaz a todos. Aí tem esses tipos de humilhação,
né, que a pessoa passa por pessoas que às vezes nem entende, né, o
papel de cada um. Mas não é muito desagradável não.
M.C - 42 Anos: Graças a Deus não.

R.G - 48 Anos: Olha, sim. Inclusive eu tenho aqui uma


freguesa que toda semana que ela chega na minha barraca ela
fica humilhando na verdade, é humilhação dizer que você é o
mais careiro da feira, que é pra tomarem cuidado, que eu sou
muito sabido e não sei o que. Então isso é um constrangimento
muito grande e que na verdade não existe, isso não existe. Não
é verdade, né. Então a gente fica decepcionado com pessoas
que têm esse tipo de mentalidade. Não tem maturidade pra se
tiver alguma dúvida, tirar dúvida, perguntar com decência,
conversar com decência, pra tentar compreender alguma coisa
que ela porventura achar que não esteja dentro da normalidade.
Mas isso aí a gente chama por Deus, e segue em frente.
⮚Como é a relação com os superiores? Suas
necessidades são atendidas pela chefia?
M.B - 39 Anos: Não tenho superiores. Trabalho para mim mesma e
temos os colaboradores..

M.L - 71 Anos: Bom, eu acho bom. Não tenho dificuldade de


relacionamento com superiores não, porque sempre eu procuro fazer,
sempre de dar o melhor, né, o que eu posso fazer de melhor, se eu
não puder ajudar, eu não ajudo. Sim, sim, são!

M.C - 42 Anos: A gente aqui todo mundo é dono de sua barraca, agora a gente faz parte
de uma associação que a gente paga uma taxa todo mês, mas os diretores da associação,
inclusive eu sou uma delas, são bem tranquilos, a gente recebe bastante incentivo, graças a
Deus. São, a gente combina em reunião. Porque, na verdade, não é assim, uma pessoa toma a
decisão por todos, a gente toma a decisão sempre no grupo. Porque tem uma diretoria, né,
tem um presidente, tem uma secretária, uma tesoureira, tem os fiscais

R.G - 48 Anos: Os meus superiores aqui na verdade são os organizadores da feira , graças a Deus a
relação é excelente, não tem maiores problemas, tudo a gente consegue discutir e alinhar, na verdade, ajustar
as coisas que tiver e sempre procurando melhorar sempre favorecendo e procurando contemplar os clientes.
Nosso intuito sempre é esse de satisfazer o cliente. Sim! Com certeza todo mês a gente se reúne, reavalia a
situação, se tem problema ali é discutido e colocado em votação, e a gente acaba chegando em um senso
comum.
⮚Como é a relação com outros colegas de trabalho? Há
trabalho em equipe?
M.B - 39 Anos: Assim na frente é bem e por trás um querendo comer o
outro (risos). Não é trabalho em equipe, é individual o trabalho. Eu faço
o meu, e eles os deles (mais risos).
  M.L - 71 Anos: Ah, é boa! Principalmente aqui, é bom demais! Aqui é bom demais! Aliás, em todo
lugar que eu estou, eu sempre procuro fazer amizades com todo mundo, brinco, né, aqui mesmo eu brinco
com todo mundo, nesses grupos de agricultura mesmo que a gente viaja pra congresso, essas coisas, no
transpor. Aí eu tenho facilidade de me relacionar, ter um bom relacionamento com todo mundo. Existe! No
caso, aqui é uma equipe né, é uma associação, na apicultura também é trabalho em equipe, porque o
apicultor não trabalha só de maneira nenhuma, um apicultor não trabalha só, dois é difícil, imagine um, não
por tem como trabalhar sozinho. Porque você ir pra uma comédia, e você ir pro campo, pro mapeario
sozinho você não faz nada. Porque você tem que controlar o megador (fumegador) que é a fumaça que a
gente usa pra abrandar as abelhas, então tem que ter uma pessoa só pra isso. E você que vai abrir, que vai
olhar, tem que ter outra pessoa ajudante pra pegar uma miogueira (melgueira), pra pegar um ninho, um
quadro, uma coisa assim, né. No mínimo, no mínimo, três pessoas. Já é uma equipe.

M.C - 42 Anos: Bem, graças a Deus, tranquilo. Sim, tudo! Todos os


trabalhos aqui são em equipe. Armar a barraca, desarmar, lavar, a fazer
manutenção, tudo em equipe, transporte.
R.G - 48 Anos: Ótima, ótima! A gente se tem e se respeita como uma família porque se
um precisa do outro a gente tá sempre ali cedendo, sempre servindo. Também! Por
exemplo, esses materiais pra desarmar são feitos coletivamente, né, tem um reboque ali
que a gente coloca tudo em cima, arma, desarma, então é feito exatamente nesse
processo.
⮚ O que você faz para suportar as dificuldades do
trabalho? E seus colegas o que fazem?
M.B - 39 Anos: Eu não tenho dificuldades. Eu amo meu trabalho. Quanto mais movimento,
melhor ainda para mim e minha renda. Sinto falta até nos domingos, que é quando não trabalho. Se
for um problema coletivo, nós resolvemos juntos na conversa.

M.L - 71 Anos: Rapaz, assim, a gente procura treinar as pessoas, é porque


principalmente em apicultura nem todo mundo tem coragem de trabalhar, eu tenho
certeza que se você não conhece, pela primeira vez você não vai se sentir bem.
Mesmo você com a roupa toda protegida você vai ter medo. No meu caso eu não né,
porque já tem vinte e tantos anos que trabalho com abelha, eu não tenho mais medo, já
sei né. Já sei o que devo fazer, como eu devo trabalhar, os procedimentos que a gente
tem que fazer pra não estressar as abelhas. A abelha não gosta de perfume, ela não
gosta de zuada, ela não gosta de roupa suja, de cheiro de suor, dessas coisas ela não
gosta, ela ataca. Então você tem que saber tudo isso, né. Você pra ir trabalhar com
abelha, você tem que tomar um banho com sabão neutro, você não pode usar um
desodorante, a sua roupa tem que tá limpinha, lavada, pra elas não cismar com você.
Sempre aqui quando tem qualquer coisa assim anormal existe a reunião com todo
mundo pra citar aquele problema, entendeu? Sempre é corrigido assim, no grupo.
Numa comparação, se acontecer alguma coisa aqui, aí marca uma reunião com todo
mundo.
M.L - 71 Anos: Rapaz, assim, a gente procura treinar as pessoas, é
porque principalmente em apicultura nem todo mundo tem coragem de trabalhar,
eu tenho certeza que se você não conhece, pela primeira vez você não vai se
sentir bem. Mesmo você com a roupa toda protegida você vai ter medo. No meu
caso eu não né, porque já tem vinte e tantos anos que trabalho com abelha, eu
não tenho mais medo, já sei né. Já sei o que devo fazer, como eu devo trabalhar,
os procedimentos que a gente tem que fazer pra não estressar as abelhas. A
abelha não gosta de perfume, ela não gosta de zuada, ela não gosta de roupa
suja, de cheiro de suor, dessas coisas ela não gosta, ela ataca. Então você tem
que saber tudo isso, né. Você pra ir trabalhar com abelha, você tem que tomar um
banho com sabão neutro, você não pode usar um desodorante, a sua roupa tem
que tá limpinha, lavada, pra elas não cismar com você. Sempre aqui quando tem
qualquer coisa assim anormal existe a reunião com todo mundo pra citar aquele
problema, entendeu? Sempre é corrigido assim, no grupo. Numa comparação, se
acontecer alguma coisa aqui, aí marca uma reunião com todo mundo.

R.G - 48 Anos: Olha, o que nós fazemos é procurar se estressar menos e se esforçar
menos. É pedindo aos colegas, se aliando aos colegas, unindo forças na verdade , se unindo pra
dividir pesos, inclusive né, o colega chega a gente vai ajudar, é um sempre ajudando o outro a
carregar, descarregar. Até atender cliente a gente vem sempre nessa metodologia de
colaboração. Olha é a mesma situação minha, né. Cada um tem sempre procurado dar o melhor
de si, procurar mecanismos com mais facilidade, na verdade, pra que não o atrapalhe, né, porque
tem situação que às vezes você volta inclusive com muita mercadoria. Se você não souber ali ter
um jogo de cintura, você acaba dando prejuízo muito grande, então a gente sempre tem esse jogo
de cintura, a gente faz promoção, às vezes dá pros colegas as coisas que sobra, enfim, temos
essa concepção de tá servindo também.
⮚Você pretende se aposentar nessa profissão?

M.B - 39 Anos: Sim, pretendo. .

M.L - 71 Anos: Rapaz, eu já sou aposentada, não sei nem se.. quer
dizer, apicultura e tem né, 25 anos em serviço, eu já tenho mais muito,
mas nunca procurei saber sobre feirante.

M.C - 42 Anos: Sim, até porque no momento é o que tem. sim, com certeza,
pretendo. Não só nessa profissão como na área de agricultura, é uns feirantes
que é quase todo mundo na agricultura, alguns produtos que a gente compra
pra revender, mas a maioria é da agricultura.

R.G - 48 Anos: Sim, com certeza!


DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
PRAZER NO TRABALHO:
A satisfação no trabalho é atrelada à autonomia que a atividade laboral
proporciona.
De acordo com os relatos, evidencia-se que a feira livre se estabelece como
como um ambiente de sociabilidade e lazer, onde as relações interpessoais
entre os próprios feirantes e desses com os fregueses são de fundamental
importância para a realização e manutenção do bem estar do grupo.

• “Ah, é boa! Principalmente aqui, é bom demais! Aqui é bom demais! Aliás,
em todo lugar que eu estou, eu sempre procuro fazer amizades com todo
mundo, brinco, né, aqui mesmo eu brinco com todo mundo” (M.L)

• Positivo porque estou ganhando meu dinheiro próprio e sustentando a


minha família. Sim, sempre brinco com meus clientes, às vezes chegam
tristes e eu distraio eles. Sou muito alegre, extrovertida e conquisto meus
clientes assim.(M.B)

• “Porque aqui é assim, nós somos assim um grupo de pessoas aqui, aqui a
gente se considera como irmão, aqui todo mundo cuida de si e cuida
também dos amigos, dos colegas, né.” (M.L)
SOFRIMENTO NO TRABALHO:
• “...Tem cliente que me tira do sério, quer até lhe diminuir enfim...” (R.G)

• “Na época que tem muita praga... Às vezes se preocupa muito... Cê vê tudo
bonitinho, tudo fluindo. Quando é no dia seguinte ou dois dias seguinte, você
vê que tem uma devastação muito grande.” (R.G)

• “ Foi o que eu falei em relação aos clientes, que muitas vez não reconhece,
você tá oferecendo um produto livre de agrotóxicos, cem porcento natural e
muitas das vezes o cliente não lhe dá aquela credibilidade, não acredita no que
você tá falando”(R.G)

• Querem botar preço na mercadoria, né, não entende o esforço que a gente faz
de acordar cedo e chegar até aqui, o gasto que a gente tem com a produção.”
(M.C)

• “Tem pessoas que chegam e nos tratam mal, mesmo atendendo bem,
brincando. Esses nem olham para a gente” (M.B)

• “Os gestores da cidade já me humilhou e às vezes clientes mal-humorados. Às


vezes tratamos bem, mas chegam assim e afeta nosso dia.” (M.B)
ESTRATÉGIAS COLETIVAS DE
DEFESA:
• “Todos os trabalhos aqui são em equipe. Armar a barraca, desarmar, lavar, a
fazer manutenção, tudo em equipe, transporte.” (M.C)

• “... Mas isso aí a gente clama por Deus, e segue em frente.” (R.G)

• “A gente se tem e se respeita como uma família porque se um precisa do outro


a gente tá sempre ali cedendo, sempre servindo.”(R.G)

• “Quando um tá com bastante dificuldade, na reunião ele expõe, a gente vê de


que forma pode chegar, o que vai falando na feira a gente vai comunicando, aí
aqueles produtos tá faltando, dá um jeito de acrescentar, é bem assim,
resolvido tudo em grupo mesmo” (M.C)

• “Olha, o que nós fazemos é procurar se estressar menos e se esforçar menos.


É pedindo aos colegas, se aliando aos colegas, unindo forças na verdade , se
unindo pra dividir pesos, inclusive né, o colega chega a gente vai ajudar, é um
sempre ajudando o outro a carregar, descarregar. Até atender cliente a gente
vem sempre nessa metodologia de colaboração”(M.C)
As Cargas de Trabalho:
CARGA FÍSICA

• Evidenciou-se fatores ambientais como condições inadequadas de


higiene e poluição sonora.
• No relato os feirantes apontam que no trajeto para o trabalho há
depreciação do veículo por conta da estrada ruim e carga horária
extensa.

• “Levanto 12:30 da madrugada, pra vir pra aqui, dia de hoje. Aí


venho pra aqui, porque eu venho pra central ali, trago algumas
coisas pra deixar lá, pegar outras e chego aqui cinco horas, nesse
ponto aqui. É a nossa rotina, né, estrada ruim, a gente tomando
prejuízo de carro dando problema, enfim. Hoje mesmo, quase eu
não chego no horário.” (R.G)
Carga Psíquica

• Carga psíquica NEGATIVA (Equilibrante)

• Controle sobre a atividade: “aí como eu tava falando, a gente


sempre implanta, a gente sempre adota assistência técnica né, então
a gente sempre vem inovando, né, a gente sempre tá participando de
cursos, treinamento, seminários, palestras.” (R.G)
• Identidade e variedade no trabalho: ”Já virei celebridade (risos). As
pessoas falam que gostam de comprar na minha mão, porque sou
extrovertida, porque sou legal.” (M.B)
• Livre arbítrio: “Pra mim é a gratificação de tá trabalhando pra mim
mesmo, não tá ouvindo de ninguém, na verdade.” (R.G)
• Desejo: Pretende se aposentar nessa profissão?
• “Sim, com certeza!” (R.G)
• “Sim, pretendo.” (M.B)
• ”Eu não estou aqui na feira por questão financeira não, é pelas boas
amizades que a gente tem aqui.” (M.L)
REFERÊNCIAS
DEJOURS, Christophe;DESSORS, Dominique; DESRLAUX, François. Por um trabalho,
fator de equilíbrio. Revista de Administração de Empresas: São Paulo,1993.

DEJOURS, Christophe. Psicodinâmica do Trabalho. Cortez: São Paulo, 1996.

LIMA, Cássia Helena Pereira. Do Sacrifício ao Sacro Ofício: Um Modelo Para a


Compreensão do Significado do Trabalho.Belo Horizonte, Fead-Minas, 2004.

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Classificação Brasileira de Ocupações.


Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf.

VEGA.Curiosidades.Disponível em: http://www.vega.com.br/curiosidades.asp. Acesso


em:28/10/2012.

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