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Agradecimentos

“É hora dos pais e das mães retornarem do seu


exílio – porque se exilaram da educação dos filhos
– e reassumirem plenamente o seu papel
educativo”. Essa fala é do Papa Francisco, em
2015. E eu quero agradecer ao Antonio, ao Tatá e
à Mari por terem, eles próprios, me resgatado do
exílio. Nada na vida faria sentido, se não fosse por
eles. Mas este livro, em especial, ainda mais. Eu
espero conseguir retribuir, também através da
educação empreendedora, um pouquinho do amor
diário que recebo de vocês. Que vocês possam
sempre seguir o caminho que vocês escolherem
para vocês, com intencionalidade, ousadia e
atrevimento.

Quero também agradecer à Bia, a melhor


companheira de jornada que um dia eu poderia
imaginar ter. Meu equilíbrio e porto seguro. Eu sou
cabeça nas estrelas, ela é o pé no chão que eu
preciso ter. Incentivadora quando os momentos
difíceis se apresentam e presente na primeira fileira
para comemorar junto quando conseguimos
alcançar nossos objetivos. Minha sócia em
negócios de tijolo e cimento, mas, principalmente,
no maior empreendimento que poderíamos, um
dia, sonhar encarar: a educação de três crianças
maravilhosas. Obrigado por tudo!

Meus pais também são fundamentais para que


este livro existisse. Tive a sorte e o privilégio de tê-
los presentes ao longo de toda a minha vida. Eu
não devo ter sido um filho fácil. Sempre fui
questionador, ousado e atrevido. Hoje, como pai,
imagino o quão desafiador deve ter sido a minha
educação, equilibrando liberdade com
responsabilidade, e sempre envolto por presença e
amor. Obrigado - e desculpem a bagunça!

Minha avó Sonia, mãe do meu pai, também


merece um agradecimento especial, mesmo que
post-mortem. Eu lembro, até hoje, da situação de
tentar explicar para ela que eu faria faculdade de
Publicidade e ela não entender absolutamente
nada. Para ela, carreira de verdade era medicina,
engenharia e direito, afinal. Publi-o-quê? Mais de
20 anos depois dessa conversa, lembro deste
momento com muito carinho, porque foi ali que a
ficha de que poder criar o meu trabalho seria mais
importante - e legal, claro, do que (apenas)
conseguir um emprego. E foi isso que fui fazendo
na minha carreira, degrau a degrau. Espero que
você esteja me vendo aí de cima orgulhosa, vó!

Meus amigos, pais de amigos dos nossos filhos,


também me incentivaram muito a escrever este
livro. Dar uma pausa em uma carreira corporativa
de relativo sucesso não foi uma decisão fácil, mas
era o que eu precisava fazer, e tê-los por perto
para poder conversar, passar o tempo e,
principalmente pegar feedbacks do que eu tinha
em mente como próximos passos, foi fundamental
para que eu pudesse avançar, um impossível por
vez, para que este livro saísse. Eu já disse para
vocês oralmente, mas vou deixar aqui registrado
por escrito: vocês não tem ideia do valor e da
importância de comentários como “poxa, falei com
meu irmão sobre o que você tem ensinado aos
seus filhos e ele falou que quer mandar meu
sobrinho para cá”, “nossa, eu quero que meu filho
passe um tempo aqui aprendendo sobre negócios
com os seus filhos”, “caramba, cria um curso sobre
isso que eu compro”. Esse foi, muitas vezes,
exatamente o incentivo que eu precisava receber,
mesmo que vocês não soubessem. Obrigado,
amigos Iza e Fabrizio, Analu e Fernando e Vini e
Elaine.
Tendo trabalhado em empresas multi-bilionárias
ao longo da minha trajetória corporativa, fui
desenvolvendo o vício de imaginar o
empreendedor como aquele sujeito,
invariavelmente homem, cercado por equipes
gigantescas em escritórios desenhados pelos
arquitetos mais premiados do país. Recentemente,
recuperei algo que estava guardado há muito
tempo. Talvez, desde os tempos de quando vendia
cerveja e pude conhecer centenas de donos de
bares e restaurantes do Rio de Janeiro. O
empreendedor é aquele que acredita que pode
questionar a forma como as coisas estão
estabelecidas hoje ou também aquele que percebe
uma oportunidade de ganhar dinheiro oferecendo
um produto a alguém disposto a pagar por ele.
Neste sentido, três pessoas me inspiraram muito a
recuperar a minha visão de empreendedorismo: a
Ana, o Rogerio e o Vitor.

A Ana é dona de um estúdio que faz


sobrancelhas. A da Bia, minha esposa, inclusive.
Ela é ótima no que faz, está sempre buscando
novos cursos e treinamentos para aprimorar ainda
mais a sua oferta de serviços e é super envolvida
com a comunidade local. Já o Rogerio trabalhava
com câmbio e foi fortemente impactado pela
pandemia. Neste instante, percebeu que havia uma
oportunidade de vender chopp artesanal, vindo de
Minas Gerais, para vizinhos que seguiam fazendo
seus churrascos e tinham chopeira em casa, na
Granja Viana, em São Paulo. Hoje, o negócio
cresceu e ele é bastante onipresente na região.
Frequentemente, o vejo em sua loja, dirigindo sua
Kombi de chope pelo bairro ou servindo chope em
algum evento. Sempre animado, apaixonado e
orgulhoso com o que faz. Por fim, o Vitor é o
melhor DJ que eu conheço, o DJ Vitonez, e
também foi, obviamente, impactado com o
cancelamento das agendas de festas da cidade por
conta da pandemia. Neste momento, criou e seguiu
disciplinadamente o hábito de fazer lives aos
domingos pela manhã, a fim de manter sua
audiência engajada. Foram muitos os cafés da
manhã na minha casa em que ele esteve presente,
através do seu trabalho, alegrando o ambiente.
Hoje, o Vitor é o DJ das melhores casas e festas
da cidade, tendo demonstrado incríveis resiliência
e criatividade.

Por fim, quero agradecer ao Arnaldo Neto, meu


mentor de escrita. Esse livro não seria possível
sem que ele me ensinasse a escrever, sem que ele
fosse um mentor presente e sem que ele me
ensinasse a metodologia correta para que o livro
chegasse às mãos de mais e mais gente. Esse
cara fez uma palestra no TED que tinha como
primeiro slide uma mensagem de obrigado e ele
me encorajou a começar o livro por aqui, pelos
agradecimentos. Então, fica aqui meu muito
obrigado por ter me guiado nestes primeiros
passos como autor de livro. Espero que seja o
primeiro de muitos!
Apresentação

As Raízes do Empreendedorismo Infantil:


Compreendendo a influência do ambiente familiar e
educacional na formação de traços
empreendedores.

Identificando comportamentos e sinais precoces


que indicam uma mentalidade voltada para a
iniciativa e a inovação.

Desenvolvendo a Criatividade e a Curiosidade

Explorando métodos para nutrir a curiosidade


natural das crianças e promover a busca por
soluções únicas.
Introduzindo práticas que incentivam a exploração,
o questionamento e a experimentação.

Fomentando a Resiliência e a Adaptação

Abordando a importância de lidar com fracassos e


desafios como oportunidades de aprendizado.
Ensinando crianças a abraçar a mudança e a se
adaptar às circunstâncias.

Valores Éticos e Sociais no Empreendedorismo


Infantil
Destacando a responsabilidade e o impacto social
como componentes essenciais do
empreendedorismo.

Transmitindo valores como honestidade, empatia e


colaboração, fundamentais para uma abordagem
sustentável.

O Papel dos Mentores

Identificando figuras inspiradoras que podem


moldar a visão das crianças sobre o
empreendedorismo.
Explorando como a orientação de mentores pode
catalisar o desenvolvimento de habilidades
empreendedoras.

O Futuro do Empreendedorismo Infantil

Considerando como as crianças empreendedoras


podem impactar a sociedade e a economia no
futuro.

Projetando um cenário em que a postura


empreendedora seja uma competência
fundamental para o sucesso.

Conclusão: Semeando Sonhos, Colhendo Inovação


Introdução

Antes que você comece a ler esta obra, eu


quero me apresentar a você, meu querido leitor ou
leitora. Afinal, este é meu primeiro livro e você,
muito provavelmente, não me conhece.

Eu sou publicitário de formação, pós-graduado


em Marketing e tive a sorte e o privilégio de ter
uma carreira corporativa de sucesso em empresas
de Tecnologia. Não tenho a menor dúvida de que
isso se deu por ter excelentes líderes contribuindo
para o meu desenvolvimento e pelas brilhantes
culturas corporativas que encontrei ao longo da
minha caminhada. Todas essas variáveis me
permitiram aplicar boas doses de ousadia e
atrevimento, valores que carrego comigo, propondo
e executando iniciativas que resolvessem
determinado problema da empresa. Sou muito
grato por isso.

Mas, nada mais importante do que dizer a você


que sou casado com a Bia e o pai orgulhoso do
Antonio, nascido em 2015, do Gustavo, nascido em
2016, e da Mariana, nascida em 2021. Eles são,
desde que nasceram, minha maior motivação,
fonte inesgotável de alegria e amor - mas também
de medo. Que pai ou mãe não tem medo do que o
futuro reserva para seus filhos, afinal? Vivemos em
um mundo VUCA1 e a tendência é que as
mudanças se intensifiquem cada vez mais com o
fenômeno que é a Inteligência Artificial. Pois bem:
como será o futuro para eles, essas crianças lindas
e adoráveis?

Isso me fez pensar muito em de onde eu vim:


sou filho de Denise e Antonio. Ambos engenheiros
que trabalharam a vida inteira nas mesmas
empresas. Motivo de orgulho incentivado
justamente pelos seus empregadores, que
pagavam aos seus colaboradores uma espécie de
gratificação chamada anuênio a cada ano de
trabalho dedicado à companhia.

Eu também me lembro que, na época da escola,


se eu tirasse uma nota boa em Matemática isso me
garantiria alguma tranquilidade ao apresentar meu
boletim com notas ruins nas demais disciplinas. O
contrário também era tão verdadeiro quanto: ir bem
em todas as matérias e mal em Matemática
certamente me deixaria em maus lençóis. E é
verdade: apesar de nunca ter repetido de ano, eu
nunca fui da turma dos melhores alunos da classe.
Até hoje me lembro de “Vamos todos juntos,
caderno na mão, recuperação!”, uma música que
cantávamos, os que tinham ficado em recuperação,
ao ver os amigos que haviam passado de ano

1 VUCA é um acrônimo que representa um mundo volátil,


incerto, complexo e ambíguo: https://hbr.org/2014/01/what-
vuca-really-means-for-you
direto indo para a praia no delicioso calor
escaldante do verão carioca.

Por outro lado, eu sempre fui questionador. Em


alguns momentos, reconheço, até demais. Como,
por exemplo, na ocasião em que deixei de treinar
jiu-jitsu por ter brigado com o professor -
definitivamente, essa não é uma boa ideia - porque
ele não autorizava a minha mudança de faixa
somente por conta da minha idade, inferior ao
exigido pelas regras. Até hoje, não me conformo
com a decisão. Mas algumas regras precisam ser
cumpridas, afinal.

Esse perfil questionador, muito provavelmente,


foi estimulado pelos meus pais, que sempre
estiveram muito presentes ao longo de toda a
minha vida e, ainda bem!, são até hoje. Eu os
consulto em todas as decisões importantes da vida:
mudança de emprego, cidade, casamento e filhos.
Eles sempre tiveram muito a contribuir, até hoje -
mas, ao mesmo tempo, sempre deixaram espaço
para que a decisão, e a responsabilidade por ela,
fossem minhas.

Uma, em especial, vale destacar. Ao chegar à


idade do vestibular houve, inegavelmente (viu,
pai?!), um certo incentivo (pressão?) para que eu
fizesse faculdade de Engenharia. Certamente por
pura rebeldia, decidi que faria Publicidade. E a
conversa mais emblemática que tive sobre isso foi
com a minha querida avó Sônia, pai do meu pai.
Tentei, com afinco, explicar a ela quê-diabos era
isso de publicidade. Não consegui. Morreu sem
entender a decisão do neto. Carreira, para ela, era
Medicina, Engenharia ou Direito.

Mas foi ali que eu comecei a entender que eu


precisaria pensar diferente. Mais do que ter um
emprego, eu criaria o meu. Para começar, deixei a
minha matrícula para o segundo semestre, para
desespero dos meus pais, que me mandaram para
um intercâmbio de 3 meses na Inglaterra. Melhor
coisa que poderia ter feito. Se você tiver a
oportunidade e o privilégio de mandar seu filho
para uma viagem como essa, mande. Meu pai
costuma dizer que viajei um menino e voltei um
homem. Porque foi, ali, do outro lado do oceano,
que comecei a entender que eu tinha, de fato,
autonomia para tomar decisões e seria
integralmente responsável por elas.

Mas, voltando à Publicidade: este é um curso


que, tipicamente, leva 4 anos para ser concluído.
Eu levei 5 anos e meio, porque comecei a estagiar
logo no primeiro semestre, o que impedia que eu
completasse a carga horária prevista pela
universidade para o período. Não foi, nem de
longe, uma decisão ruim. Ao contrário, ter a
oportunidade de aplicar os conceitos aprendidos
logo no comecinho do curso me ajudou a entender
melhor como a teoria e a prática se conectam.
No entanto, salvo um período breve de estágio
em uma agência, eu nunca trabalhei, de fato, com
a Publicidade em si. Universidade, empresa de
call-center, indústria de bebidas, franquias no
segmento de alimentação que Bia e eu tivemos,
empresas de internet e start-ups foram os espaços
onde construí minha carreira até chegar a posição
de CEO do iFood na Colômbia, posição que ocupei
até o final de 2022.

E foi neste período que algo muito importante


começou a acontecer. Por conta da pandemia, eu
fazia as reuniões de trabalho compartilhando o
espaço de casa com meus filhos. Era eu em vídeo-
chamada com minha equipe e clientes e eles, ao
lado, em vídeo-chamada com os professores.
Naquele célebre discurso que Steve Jobs faz aos
formandos de Stanford em 19952, ele fala que é
impossível conectar os pontos olhando para a
frente. Nós conectamos os pontos olhando para
trás. E esse é exatamente o caso: naquele sufoco
de pandemia, eu jamais imaginei que algo pudesse
estar brotando dali. Mas aconteceu: meus filhos
passaram a ter interesse espontâneo nos assuntos
que eu discutia nas reuniões e me perguntavam
sobre o que tinham escutado: “papai, o que é
market share?”, “papai, o que é Ebitda?”, “papai,
você gostou desse candidato?” e por aí vai.

2 Steve Jobs, 2005: Steve Jobs' 2005 Stanford


Commencement Address
Perceber que eles tinham interesse genuíno em
algo que eu valorizava e estava motivado fazendo
me deixou muito orgulhoso e, com o tempo, eu
passei a incentivá-los ainda mais. Em alguns
casos, eles me ajudaram a aprovar campanhas
publicitárias, inclusive. Afinal, há aquela máxima
que diz que se você não consegue explicar o
conceito de seu produto para seus pais ou filhos,
então está complexo demais e você precisa
simplificar a mensagem a ponto de fazê-los
entender. Eu mostrava as peças que o time de
marketing e a agência de publicidade elaboravam e
pegava os feedbacks mais autênticos que eu
poderia receber.

Essas conversas de Marketing evoluíram de tal


forma que, em um passeio de família pelas
Cataratas do Iguaçu, o Antonio me pergunta
“papai, produto, preço, promoção e está faltando
um P do Marketing - qual é?”. O turista da frente
olhou para trás e, incrédulo, perguntou ao Antonio:
“foi você que perguntou isso?”. No que ele
respondeu que sim, com toda naturalidade. Ah! E
se você estiver em dúvida sobre o P que faltou é o
P de praça, de acordo com os 4 Ps de Marketing,
do Philip Kotler3.

3 Philip Kotler é professor da Kellog School of


Management, mas eu aprendi a chamá-lo de pai do
Marketing e aqui nesse vídeo ele explica o porquê dos 4Ps
do Marketing continuarem atuais: Philip Kotler on why the
four Ps are safe!
Quando decidimos fechar a operação na
Colômbia, eu decidi que ficaria um tempo
dedicando-me a ajudar profissionais em questões
de carreira e fundadores de start-ups em estágio
inicial a progredirem. Nesse meio tempo, meus
filhos decidiram, por vontade própria, abrir uma
confeitaria. Certamente, estavam ávidos por
aplicarem as teorias que tinham aprendido nas
conversas comigo e a prática que treinavam com a
mãe, formada na Le Cordon Bleu e parceira deles
em vários cursos de gastronomia que fizeram
juntos. Nasceu, assim, a Casa 31, sendo 31 o
número da nossa casa.

Não poderia ser diferente: Bia e eu permitimos


que eles estivessem inseridos o máximo que eles
desejassem no negócio. Então, eles foram ao
supermercado, compraram os ingredientes,
pediram pela internet os que não haviam
encontrado, prepararam o brigadeiro e contaram
quantos foram produzidos com aquela quantidade
de ingredientes que haviam comprado. Daí,
aprenderam a fazer uma conta de custo unitário.
Decidiram por quanto venderiam os brigadeiros
fazendo uma pesquisa de campo, visitando
confeitarias da cidade - o que, diga-se, eles
adoram fazer. Definiram o preço e aprenderam o
conceito de margem. Pediram para terem
uniformes e, por isso, customizamos uma camiseta
e um boné com o logotipo que eles próprios
fizeram para a empresa, sob supervisão da mãe.
Agora era, enfim, a hora de sair para vender.
Antonio decidiu que seria o vendedor e Gustavo, “o
que serve o brigadeiro”. Treinaram algumas
continhas de matemática para conseguirem fazer o
troco, vestiram seus uniformes, organizaram os
brigadeiros preparados com amor e foram bater de
porta em porta para oferecer os doces aos vizinhos
de condomínio. Aqui, uma pausa que preciso
confessar a vocês: eu estava transbordando de
orgulho dos meus pequenos, mas, ao mesmo
tempo, com uma espécie de medo de como os
vizinhos veriam este movimento. Por sorte, e
também por ter excelentes vizinhos, correu tudo
bem.

A primeira abordagem não teve sucesso.


Ofereceram os brigadeiros aos operários de uma
casa em obra, que recusaram. Gustavo veio até
mim, triste, meio sem saber como seguir em frente
para a próxima casa. Aquela euforia inicial
encontrara, enfim, a dura vida real e eu ganhei a
oportunidade de compartilhar com eles um
aprendizado que tive ao longo da minha carreira
em vendas: são 99 nãos para 1 sim. Mas o sim
sempre está lá e, se você não desistir, você vai
encontrá-lo.

Dito e feito: na segunda casa, conseguiram


vender quatro brigadeiros e, enquanto o Antonio
organizava o troco para seu cliente, o Gustavo
pulava de felicidade. Não é figura de linguagem,
ele literalmente pulava de felicidade. Não sei se
consigo colocar aqui, em palavras, a minha
felicidade ao ver que eles tinham feito a primeira
venda real deles, não para um parente ou amigo,
mas para um cliente, de fato. Eu sou bastante
emotivo e ali eu chorei, lembrando da emoção de
quando Bia e eu abrimos a nossa primeira loja e
emitimos a nossa primeira nota fiscal. Mas,
sobretudo, chorei de orgulho por ver que meus
filhos tinham decidido, por conta própria, abrir uma
empresa, tinham estudado, se preparado, se
esforçado na preparação do produto, superado o
medo, a vergonha e o primeiro não e, então,
conseguido vender. Essa é uma sensação que eu
jamais vou esquecer!

E ela me fez refletir sobre todo este processo.


Percebi que é possível, desde já, estimular
comportamento empreendedor nas crianças.
Acompanho meus filhos a avançarem com o
negócio deles - eles já não fazem mais a venda
porta-a-porta, foram “promovidos” à feirinha
semanal do condomínio. Isso aconteceu depois
que o Antonio escreveu uma cartinha de próprio
punho para o síndico, solicitando autorização para
participação no evento. Incrível!
Estamos, agora, buscando espaço para a
instalação de uma dark kitchen e, como não podia
deixar de ser, Antonio e Gustavo participam de
todas as visitas, fazem as perguntas que entendem
pertinentes às pessoas que nos apresentam os
espaços e depois, em nossa reunião, compartilham
suas avaliações sobre cada lugar. É
impressionante o quanto eles conseguem elaborar!

Ao mesmo tempo, também incentivo que


tenham uma abordagem mais propositiva, otimista
e responsável em relação às atividades do dia-a-
dia. Comportamentos que todo empreendedor
precisa ter, sem dúvida. Ações simples como lavar
a sua própria louça, arrumar suas roupas,
organizar objetos em casa, cuidar da irmã e, vejam
só, levantar para pegar um copo de água, ao invés
de pedir para um adulto, são avanços que tivemos
por aqui.

Um exemplo interessante é perceber a mudança


na linguagem, que é a melhor representação que
podemos ter do pensamento em si4. Vejam só.
Para evitar problemas respiratórios, temos o
costume de lavar o nariz diariamente com soro
fisiológico. Antes, eles me diziam que não lavavam
o nariz porque o soro havia acabado. Assim, meio
4 Steven Pinker é um psicólogo e linguista americano,
professor da Universidade de Harvard e defende que a
linguagem é a expressão do pensamento humano:
https://www.ted.com/talks/steven_pinker_what_our_language
_habits_reveal?language=pt-BR
blasé, algo do tipo: “magicamente, o soro acabou e
eu não tenho nada a ver com isso, então não faço
o que preciso fazer”. Agora, de maneira
espontânea, eles dizem que eles não prepararam o
soro e que, por isso, o tubo estava vazio. Ou seja,
eles reconhecem a responsabilidade e o poder de
mudança que têm.

A auto-responsabilização tem um poder enorme,


inclusive o de permitir a eles tomarem a decisão de
não encherem o tubo, mesmo conhecendo as
razões para encher. E esse é um grande pulo do
gato: dar a eles contexto, permitir que tomem
decisões e que sejam responsáveis por elas. Eu
garanto a você: eles vão aprender muito mais
assim do que com você obrigando-os (“vai lavar o
nariz porque eu estou mandando”) ou
chantageando-os (“só vai na festa do amiguinho se
lavar o nariz”). Pare e pense honestamente
quantas vezes você já não fez algo assim.

Tendo dito que estamos avançando por aqui ao


dar-lhes mais autonomia e responsabilidade,
jamais vou dizer que é fácil. É uma missão que
demanda alta dose de comprometimento, meu e da
Bia, ao ensinar desde a enrolar brigadeiros a
conceitos básicos de matemática financeira.
Precisamos ter muita disciplina e resiliência,
porque, sabemos, somos a maior inspiração para
eles, que nos observam o tempo todo e repetem
comportamentos nossos, hoje e no futuro. Não é
difícil imaginar o quanto é frustrante para nós já ter
passado algumas vezes pela situação de preparar
os doces, levá-los até uma feira, criar a expectativa
de vender e não vender nada. Aconteceu algumas
vezes, claro. Mas a forma como nós, os adultos,
reagimos a isso é o maior ensinamento que
podemos dar às crianças.

Também precisamos ter muita paciência, porque


sabemos que eles estão tendo contato com essa
realidade pela primeira vez, já que não é uma
verdade que esse comportamento seja estimulado
pela sociedade, incluindo aí a maioria das escolas.
Alguns amigos nos disseram, inclusive, que
estávamos explorando nossos filhos. Não vou
negar que ouvir isso chega a doer, porque, afinal,
os meninos são envolvidos em todos os processos
na medida do interesse deles e, principalmente,
porque todo o dinheiro arrecadado é destinado
para eles, obviamente.

O Antonio está economizando para comprar


peças para montar um computador com o tio e o
Gustavo decidiu que quer uma impressora 3D. O
grande problema é que ele acaba comprando
todas as bolas de futebol que ele vê pela frente. Ou
seja, nós, pai e mãe, decidimos encarar essa
jornada porque entendemos que é uma excelente
oportunidade de educação e desenvolvimento de
comportamentos que serão importantes para eles
no futuro, independente do que decidam ter como
carreira.
Perguntas frequentes

1) O que é empreendedorismo?

O que vem à sua mente quando você dá de cara


com essa palavra grande e pomposa?
Empreendedorismo. Talvez, venha a imagem do
Bill Gates, Steve Jobs, Elon Musk. Jorge Paulo
Lemann, Luiza Helena Trajano, Fabricio Bloisi ou
Abilio Diniz. Inegavelmente, todos excelentes
empreendedores, que marcaram a nossa geração,
transformando a humanidade. Mas o
empreendedorismo não é, necessariamente, ter
uma empresa. E ter uma empresa não
necessariamente fará de você um empreendedor.

Antes de avançarmos, é importante dividir que o


empreendedorismo não era objeto de estudo das
teorias clássicas da economia, que assumiam que
a informação perfeita seria absorvida pelos atores
racionais do sistema, não deixando nenhum
espaço para o risco ou a descoberta. Joseph
Schumpeter foi quem primeiro notou que
indivíduos, e não somente as empresas, poderiam
ser agentes de geração de valor, separando-os em
dois grupos: os que replicam negócios já existentes
e os que inovam, criando negócios que terão
crescimento acelerado, ambos importantes para a
economia.

Mas foi o economista Jean-Baptiste Say, um


especialista em A Riqueza das Nações, de Adam
Smith, quem primeiro passou a usar a palavra
francesa entreprendre, que poderia ser traduzida
como um aventureiro, uma pessoa que identifica
uso ineficiente dos recursos e buscava soluções
para maximizar produtividade e resultados. Em
adição, Jean-Baptiste, ele próprio um
empreendedor da manufatura do algodão, também
apontava o empreendedor como importante para
evitar monopólios, por estarem sempre propondo
mudanças, criando produtos e reorganizando
indústrias.

Tendo conhecido a origem do termo, busquei a


definição atual da palavra empreendedorismo no
Dicio5, que traz: Capacidade de projetar novos
negócios ou de idealizar transformações
inovadoras ou arriscadas em companhias ou
empresas; vocação, aptidão ou habilidade de
desconstruir, de gerenciar e de desenvolver
projetos, atividades ou negócios; reunião dos
conhecimentos e das aptidões relacionadas com
essa capacidade.

Ou seja, o empreendedorismo não é,


necessariamente, ser dono do seu próprio negócio,
trata-se muito mais de uma perspectiva em relação
aos problemas que encontramos em nosso
cotidiano e um estilo de vida que se propõe a
resolvê-los, de fato. Para que um indivíduo seja um
empreendedor é necessário, portanto, que reúna

5 Dicionário Online de Português:


https://www.dicio.com.br/empreendedorismo/
um conjunto de habilidades, como a resiliência, o
conhecimento de finanças, o pensamento crítico, o
trabalho em equipe, a capacidade de liderança, a
comunicação e a oratória, a criatividade e a
coragem. Este conjunto de comportamentos pode
ser aproveitado pela sua própria empresa, mas
também quando a pessoa empreendedora é
empregada em uma outra companhia, incluindo aí
o serviço público, por que não?

Além disso, quero dividir aqui com vocês que,


apesar de adorar as empresas de tecnologia multi-
bilionárias, tenho ainda mais admiração pelo
empreendedor que supera as adversidades do dia-
a-dia na operação do seu restaurante, lojinha do
bairro, salão de beleza ou dando aula particular,
por exemplo. Todo o meu respeito a essa turma
que dá nó em pingo d´água e faz o Brasil andar
para frente - afinal, são mais de 21 milhões de
CNPJs ativos no Brasil, dos quais 19,6 milhões são
de micro e pequenas empresas.6 São esses
empreendedores que geram 83% dos empregos
formais do Brasil, de acordo com estudo do
Sebrae.7

6 De acordo com Mapa de Empresas do Ministério de


Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, disponível
em:
https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2023/maio/br
asil-teve-1-3-milhao-de-empresas-abertas-no-1o-
quadrimestre-de-2023#:~:text=De%20janeiro%20a%20abril
%20deste,1%20dia%20e%20seis%20horas.
7 Disponível em
https://agenciasebrae.com.br/dados/micro-e-pequenas-
Por fim, não tenho a menor dúvida de que o
maior empreendimento na vida de um pai ou uma
mãe é, sem dúvida nenhuma, justamente a
paternidade ou maternidade. Ou seja, se você está
lendo este livro, provavelmente tem filhos e se você
tem filhos e, obviamente, é presente, considere-se
um empreendedor. Veja só: nós acreditamos no
nosso projeto com toda a nossa força, amor e
intensidade. Fazemos por ele, tudo o que for
necessário. Somos resilientes para nos
adaptarmos às mudanças de cada uma das etapas
do ciclo de maturidade do nosso “produto”.
Ajustamos o nosso fluxo de caixa para que todas
as obrigações sejam cumpridas. Trabalhamos em
equipe com pai ou mãe, com a escola e outros
membros da família. Somos criativos para
encontrar soluções para os problemas que se
apresentam quase diariamente e colocamos à
prova toda a nossa capacidade de liderança,
comunicação e oratória. Então, papai ou mamãe
que me acompanham até aqui, sintam-se
empreendedores de sucesso, justamente pelas
crianças lindas que vocês estão educando.

2) Existe uma idade ideal para ensinar


empreendedorismo para crianças?

empresas-criaram-85-das-vagas-de-trabalho-geradas-em-
fevereiro/#:~:text=No%20acumulado%20de%202023%2C
%20dos,de%20pessoas%20e%20suas%20fam%C3%ADlias.
À medida que Antonio e Gustavo vão avançando
com seu empreendimento, seja com as vendas
porta-a-porta, com suas banquinhas nas feiras que
participam ou com a loja física que estamos
abrindo, uma pergunta é feita de forma recorrente a
mim: “você não acha que é muito cedo para
ensiná-los isso? eles são só crianças…”. Existe
também a versão mais dura e ofensiva ao dizer
que estou aproveitando-me de trabalho infantil ao
deixar que meus filhos vendam seus doces. Não
nego que me sinto ofendido com esse comentário,
porque é óbvio que não há nenhuma exploração
dos meus filhos. Meu único objetivo ao estimulá-los
a seguir adiante com o negócio deles é pura e
simplesmente prepará-los para um futuro em que a
segurança de estar empregado em uma grande
corporação, outrora desejada, já não existirá,
dados os avanços da tecnologia, que nos trazem
ciclos de transformações cada vez mais curtos.
Tenho certeza de que não seria necessário dizer,
mas o faço mesmo assim: todo o faturamento
obtido pelas vendas dos meninos é dividido entre
fluxo de caixa e remuneração para eles.

Sim, remuneração para eles. Houve um tempo


em que os dois ganhavam mesada. Na verdade,
uma semanada, que aumentava R$ 1,00 a cada
aniversário de cada um deles. Hoje, entendemos
que não faz sentido darmos a eles a mesada,
justamente porque queremos que eles percebam
que, na vida, não há nada garantido, mas que, por
outro lado, a recompensa pelo trabalho duro é
muito gratificante. Um fato interessante é que, no
começo, eles se perdiam com o dinheiro que
passaram a ganhar, consideravelmente mais alto
do que a mesada que tinham. Com o bolso cheio,
eles queriam comprar tudo que viam pela frente. E,
óbvio, incluindo aí as maiores besteiras que vocês
podem imaginar: gelecas de slime, cordão de
caveirinha, quinze (esse número não é força de
expressão, é real) bolas e por aí vai. Bia e eu
entendíamos que nossa responsabilidade como pai
e mãe era dizer a eles o que comprar ou não e
ajudá-los a tomarem boas decisões com o dinheiro
que haviam conquistado. Mas logo percebemos
que, na verdade, deveríamos deixá-los sentir a
autonomia que o dinheiro pode oferecer e a
sensação gostosa de poder desfrutar do prêmio
pelo seu trabalho.

Por outro lado, também foi muito valioso permitir


que eles sentissem a falta do dinheiro ao ter muita
vontade de comprar algo que eles tinham o
dinheiro, mas haviam gasto em outra coisa dias
antes. Perceber a finitude do dinheiro faz com que
eles o respeitem muito mais. Eu escrevo este livro
com 39 anos. Minha geração viu nossos pais
fazendo compras com dinheiro em espécie, e isso,
sem dúvida, ajuda a criança a entender que há um
limite: “se tem nota, tem dinheiro; se não tem nota,
acabou o dinheiro”. Mas como isso poderia se dar
com o Antonio e o Gustavo se a Bia e eu
compramos absolutamente tudo no cartão de
crédito? Nossa solução foi abrir uma conta corrente
para eles, com cartão de crédito e tudo!

Hoje, eles sabem o quanto eles têm na conta e


entendem que se passar o cartão de crédito para
comprar alguma coisa tem impacto direto em seus
saldos bancários. Agora, a mágica está em
perceber que ao deixar o dinheiro guardado na
sessão Investimentos do aplicativo do banco, faz
aquele dinheiro inicial crescer. E “cada vez mais
rápido”, como eles dizem, já que os juros são
compostos.

Eu conto tudo isso para dizer a vocês que não


existe uma idade mínima para que você possa
estimular a atitude empreendedora em seus filhos.
Davi Braga escreve categoricamente na primeira
orelha de seu livro Empreender grande, desde
pequeno: “não existe idade para empreender”. Ele
fundou sua primeira start-up aos 13 anos,
participou do Shark Tank Brasil8, vendeu a start-up
aos 18 anos e hoje tem mais de 500 mil
seguidores em seu perfil no Instagram, além de ser
sócio de 16 empresas e autor de 2 livros best-seller
e prova viva de que realmente não há idade para
começar - nem mínima, nem máxima, diga-se. O
importante é sempre ter em mente que se a
inspiração vem de fora, a motivação vem de
dentro. Se a criança ou adolescente tiver a
inspiração correta e a motivação suficiente, não é

8 Disponível em: “Você vai sair daqui com um


investimento e com um genro.” | Shark Tank Brasil
um tema de idade que deveria bloqueá-la,
definitivamente.

Ao contrário, as crianças precisam perceber que


existem outras escolhas e infinitas possibilidades,
além daquelas apontadas pelas convenções
sociais e incentivadas pela inércia e,
provavelmente, por um familiar mais velho que vai
dizer que qualquer coisa diferente de uma carreira
tradicional é muito arriscado, “uma loucura”. Por
que prender as crianças em um aquário, se
podemos apresentar e estimular que elas
conheçam, aproveitem e desfrutem do oceano e
suas infinitas oportunidades? Permitir que as
crianças descubram seus caminhos também
através de experiências e escolhas próprias nos
permitirá ter uma sociedade com menos frustração,
mais propósito e, sem dúvida nenhuma, mais
desenvolvimento econômico nas futuras gerações
de adultos.

3) Quais são os benefícios de incentivar o


desenvolvimento de comportamento
empreendedor para as crianças?
4) Existem referências, nacionais ou
internacionais, de instituições que tenham
resultados relevantes ao ensinar
empreendedorismo para crianças?
5) De maneira prática, o que eu posso fazer
para começar a ensinar comportamento
empreendedor para meus filhos?
6) Devo dar mesada aos meus filhos e abrir
uma conta no banco para eles?
7) Como vai ser o futuro do trabalho e por que
as habilidades de empreendedor serão
importantes?

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