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UAb 2A2S

omunicaçao G,

Nos dias de hoje, a Comunicação é uma necessidade e uma inevitabilidade de qual­


quer empresa, sendo transversal a todos os seus setores, quer a nível interno quer
externo. Torna-se, portanto, imprescindível que os gestores modernos compreendam
as suas engrenagens, a sua arquitetura e o funcionamento e interligação das diversas
áreas que a compõem. 3947

Esta obra foi pensada justamente para os gestores que, não tendo de ser peritos nesta
matéria, precisam porém de possuir algumas noções do vasto espetro da Comunica­

CAÇAO para GESTORES


ção, bem como de conhecer as últimas tendências desta atividade, cada vez mais
sofisticada e em permanente evolução Assim, Ferramentas de Comunicação para
Gestores abrange, de um modo simples e com uma linguagem acessível, os mais
diversos domínios da Comunicação, desde a Comunicação Interpessoal à Empresa­
rial, já para não falar de áreas específicas, onde se espera da parte de qualquer líder J. Martins Lampreia
uma intervenção de primeira linha, por exemplo no que respeita à Gestão de Crises
e às relações com os poderes políticos, vulgo Relações Institucionais/Lóbi.

Este livro dá-nos respostas gerais, globais, práticas e acessíveis a estes desafios
tão simples, e simultaneamente tão importantes na nossa afirmação pessoal
e profissional.
A cada vez maior obra bibliográfica de Martins Lampreia (...) é, por si só, o
garante de que o livro que agora tem nas mãos corresponde a mais um pouco
da valiosa expertise que, desde há muito, este grande profissional da Comuni­
cação, nos disponibiliza.
Pedro Luiz de Castro, in Prefácio: Acha Mesmo que Sabe Comunicar?

9789727579846
Ferramentas
de Comunicação
para Gestores
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BIBLIOTECA INDÚSTRIA & SERVIÇOS GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS


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ÍNDICE

Acha Mesmo Que Sabe Comunicar?


Sobre o Livro.......................................

Parte I
Edição e distribuição
Comunicação Interpessoal

1. Proxémica: a Linguagem Oculta do Espaço....................

M COJO WO JNJi D MO ^ Ps l WH C r i M
2. Cronémica: a Linguagem Oculta do Tempo....................
Lidei - edições técnicas, Ida.
3. Comunicação Corporal: a Linguagem Oculta do Corpo
4. Falar em Público................................................................
SEDE
Rua D. Estefânia, 183, r/c Dto - 1049-057 Lisboa 5. Comunicação no Neuromarketing...................................
Internet: 21 354 14 18 - livraria@lidel.pt 6. A Praga das Reuniões Inúteis............................................
Revenda: 21 351 14 43 - revenda@lidel.pt
Formação/Marketing: 21 351 14 48-formacao@iidel.pt / marketing@lidel.pt
7. Networking na Gestão.......................................................
Ens. Línguas/Exportação: 21 351 14 42-depinternational@lidel.pt
8. Negociar Também é Comunicar......................................
Fax: 21 352 26 84
9. Como Escolher uma Empresa de Consultoria...............
Linha de Autores: 21 317 32 55 - editec@lidel.pt
Fax: 21 317 32 59

LIVRARIA Parte II
Av. Praia da Vitória, 14- 1000-247 Lisboa
Tel.: 21 354 14 18 - Fax: 21 317 32 59 - livraria@lidel.pt Comunicação Empresarial
Copyright © novembro de 2013
LIDEL - Edições Técnicas, Lda. 10. Comunicação Institucional...................................

iUD i iPP Oc Oo oN oJ vO i sO j AN Pj c On Oc nl /cl Mn ul Di u Oi L l nW L On


ISBN: 978-972-757-984-6 11. A Importância da Estrutura Corporativa.............
Livro segundo o Novo Acordo Ortográfico. 12. Imprensa e Imagem Empresarial.........................
13. Da Comunicação Interna para o Endomarketing
Pré-impressão: Allzone Management Solutions
Impressão e acabamento: Tipografia Lousanense, Lda. - Lousã 14. A Presença nas Redes Sociais...............................
Dep. Legal: 366326/13 15. Responsabilidade Social.......................................
16. Inteligência Competitiva.......................................
Capa: José Manuel Reis
17. Protocolo e Imagem..............................................
Imagem de capa: © Evgeny Kootav
Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto aconselhamos a consulta periódica
18. Tributo a McLuhan................................................
do nosso site (www.lidel.pt) para fazer o download de eventuais correções.
19. Good-by Gutenberg...............................................
20. Newsletter Back to Basics....................................
© L ID E L -E d iç õ e s Técnicas

Os nomes comerciais referenciados neste livro têm patente registada.


21. O Teorema de Thomas na Comunicação............
22. Imagem de Marca de um País.............................
Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no 23. Marketing Político.................................................
“i ~]
SEJA ORKMNAU, todo ou em parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, digitalização, gravação,
DIGA NAO sistema de armazenamento e disponibilização de informação, sítio Web, blogue ou outros,
À CÓPIA i sem prévia autorização escrita da Editora, exceto o permitido pelo CDADC, em termos de cópia
privada pela AGECOP - Associação para a Gestão da Cópia Privada, através do pagamento das

respetivas taxas.

V
Ferramentas de Comunicação para Gestores

Parte III Acha Mesmo Que Sabe Comunicar?


Gestão de Crise
Prefácio por: Pedro Luiz de Castro'
24. Anatomia de uma Crise.................................................................................... 100
25. Comunicação em Situação de Crise................................................................. 106
26. Os Meios.............................................................................................................. 111
27. O Perigo das Minicrises.................................................................................... 115 Esta pergunta, como título do meu prefácio, vai certamente parecer
28. Quando uma Crise Passa Despercebida......................................................... 119 provocatória a muitos leitores que folheiam ou adquiriram esta
29. Marketing de Crise - Uma Nova Ferramenta de Gestão.............................. 122
obra.

Algo que considero perfeitamente natural, sabendo que o ser


Parte IV humano sempre teve a tendência, um pouco ingénua, de acreditar
Relações Institucionais e Lóbi
que se comunica diariamente desde a sua nascença sem problemas
130 de maior, para quê agora confrontar-se com tanto alarido à volta
30. Gestor e Lobista............................................
31. O Lóbi como Indutor de Competitividade 133 deste tema...?
136
32. Relações Institucionais e Lóbi....................
141
33. Gestão de Coalições................................... Na linha desta argumentação pensa-se, tanto em termos pessoais
148
34. Lóbi - como Pedir uma Audiência............
155 como empresariais, que a Comunicação não deverá ter assim tantos
35. Lóbi em Portugal.........................................
segredos, como por vezes nos tentam fazer crer alguns "iluminados".

co
»

cn cn
i i—
Epílogo.................................................................. Para estas pessoas é comum acharem que a Comunicação é algo

i—
Bibliografia..........................................................
de inato, e ou se nasce com algum jeito para isso ou, então, pouco
haverá a fazer.

Escusado será dizer que isto é um erro crasso!

Esta forma de ver as coisas é justamente o "pecado" de muitos


gestores e decisores, ao assumirem, com alguma arrogância e sobran­
ceria, que a Comunicação não passa de uma disciplina menor, no
vasto universo empresarial, institucional ou até político.

Não será pois de admirar que, em Portugal, grande parte dos pro­
blemas e dificuldades que as empresas enfrentam, tenham a sua
Edições Técnicas

origem numa má Comunicação, ou na falta dela.

A Comunicação Empresarial situa-se na confluência da ciência, da téc­


nica e da arte, com maior ou menor preponderância de um destes três
-
LIDEL

0 1 Jornalista e Professor universitário.

VI VII
Ferramentas de Comunicação para Gestores Acha Mesmo Que Sabe Comunicar?

eixos, consoante se trate da área de Publicidade, de Relações Públicas, Mais recentemente, o Martins Lampreia envolveu-se pessoal e profis­
de Jornalismo, de Vendas, de Design, etc.... A Comunicação pouco ou sionalmente na campanha relativa à normalização e, sobretudo,
nada tem de inato e engloba um vasto conjunto de matérias que se têm regulamentação das atividades de lobbying (ou Lóbi) em Portugal.
de aprender e aplicar. Se possuir uma tendência natural para comunicar Acompanho a sua dedicação à causa da transparência das atividades
ajuda muito, contudo só isso não faz um bom comunicador, se não hou­ lobistas entre nós, para o que, muito justamente, entendeu ser a
ver um correto diagnóstico, estratégia, e depois uma boa execução. sua obrigação, ter o dever ético de se acreditar oficialmente em
Bruxelas como lobista junto da Comissão Europeia e do Parlamento
A Comunicação deve ser, hoje em dia, uma atividade transversal a toda Europeu.
a empresa, com presença na Comunicação Interna como Externa, na
ascendente, na descendente e na horizontal, a nível da cúpula ou das Desta vida profissional de mais de 30 anos, recheada de múltiplas
bases, em suma, a Comunicação está presente em todos os estádios situações marcantes e sempre riquíssimas do ponto de vista viven-
e em todos os momentos da vida de uma empresa. cial e de experiências, retirou o Martins Lampreia um conjunto de
princípios, de regras, e de valores. Em vez de os guardar para si e
Penso não ser necessário dizer muito mais sobre a importância da para a sua febril atividade profissional..., resolveu pô-los à disposição
Comunicação para uma gestão empresarial eficaz. Por isso achei este de todos os empresários e empreendedores que falam e comunicam
último livro do Martins Lampreia simplesmente genial, por tê-los em português.
escrito a pensar, não só nos profissionais do setor, como sucedeu
nas suas obras anteriores, mas também nos gestores e nos que, de Ao percorrer o índice da obra que agora tem nas mãos, é fácil veri­
um modo geral, detêm o poder de decisão, dentro de uma estrutura ficar que, desde os princípios básicos da Comunicação Interpes­
institucional, sem serem profissionais da Comunicação. soal até à sofisticação das atividades do Lóbi, é longo o caminho
que os gestores têm que percorrer na busca de uma melhor
E devo dizer que, vindo dele, esta iniciativa mais do que oportuna, Comunicação para si e para as suas organizações. Embora seja
já não me admira. óbvio que melhorar toda a Comunicação entre nós, nas empresas
e nos negócios, é determinante para o nosso sucesso pessoal e
Ao longo dos mais de vinte anos que conheço e me relaciono empresarial.
amiúde com o Martins Lampreia, e sempre me impressionou a sua
capacidade para estar à frente de tempo, nos terrenos da inovação Nos tempos de crise que atualmente se vivem, e que não sabemos
e da descoberta. Como se, a exemplo dos exploradores, a sua mis­ quando acabarão, o conjunto de regras e conselhos ministrados
são fosse desbravar terrenos, e disponibilizá-los, para serem, quiçá, nesta obra está alinhado com os grandes princípios da gestão. Com
aproveitados por outros. efeito, "é nas alturas de crise que mais se deve apostar na imagem
e Comunicação; é nas alturas de crises que mais se deve investir no
Edições Técnicas

Foi assim nos longínquos anos oitenta, na Hill & Knowlton que na altura melhoramento das nossas competências comunicacionais, tanto
dirigia em Portugal, onde foi o pioneiro dos primeiros cursos de Media pessoais como corporativas".
Training, hoje popularizados por muitas empresas. Dez anos depois foi
a Gestão de Crise & Controlo de Danos (Crisis Management & Damage Enquanto empreendedor ou gestor alguma vez já se perguntou:
-
© LIDEL

Control), uma pedrada no charco na gestão das empresas, que partiam "Como comunica a minha empresa?", ou "Como poderei melhorar
sempre do princípio que as crises acontecem apenas às outras.

VIII IX
Ferramentas de Comunicação para Gestores

a Comunicação (interna e/ou externa) da minha organização?" ou


ainda "Como poderei influenciar os decisores?". Sobre o Livro

Comunicar com estratégia, com substância e com estilo são, portanto,


os "surplus" que qualquer gestor deve saber acrescentar à sua política
comunicacional, com um mínimo de garantia de sucesso. As últimas três décadas viram a tendência para a especialização
instalar-se de forma galopante em todos os setores da atividade
Este livro dá-nos respostas gerais, globais, práticas e acessíveis a estes empresarial.
desafios tão simples, e simultaneamente tão importantes na nossa
afirmação pessoal e profissional. 0 setor da Comunicação não foi exceção - a compartimentação
entre a Publicidade e as Relações Públicas (RP) e entre estas e o
A cada vez maior obra bibliográfica do Martins Lampreia - cujas jornalismo tornou-se cada vez mais evidente. 0 Publicitário que
obras vão desde a pesquisa, cultura e coordenação científica (ver em simultâneo tratava da assessoria mediática, enviando os press
www.martinslampreia.com) - é, por si só, o garante de que o livro releoses dos seus clientes ou organizando-lhes entrevistas, nos
que agora tem nas mãos corresponde a mais um pouco da valiosa meios onde colocava os seus anúncios, acabou. 0 mesmo se pas­
expertise que, desde há muito, este grande profissional da Comuni­ sou com o jornalista que, depois de sair da redação, ia fazer umas
cação, nos disponibiliza. horas extras numa agência de RP.

Certamente que quando acabar de ler esta obra, estranhará o que per­ A tendência natural, agravada pelas redes sociais, foi de exercer em
guntei no título deste prefácio "Acha mesmo que sabe comunicar?". exclusivo a sua atividade de base e apenas essa, de forma cada vez
mais aprofundada e restrita.

Na União Europeia (UE), esta tendência acentuou-se ainda mais nesta


última dúzia de anos, criando-se subsetores de especializações dentro
de cada área de atividade.

0 profissional especializado em Comunicação na Internet "deu à


luz" a mais recente profissão de técnico de redes sociais, tal como
no Lóbi, onde o Ciber-Lobbying (ou e-Lobbying) já constitui uma área
específica na atividade das Relações Governamentais. Quem trata de
conteúdos de televisão, deixou de se preocupar com o design gráfico,
Edições Técnicas

um responsável pela Comunicação Institucional já não tem mais que


ver com a Comunicação de Marketing, e por aí fora...

Pode-se dizer que, individualmente, o generalista tem vindo a dar o


-
© LIDEL

lugar ao especialista. Vivemos numa era em constante aceleração,


em que os especialistas restringem cada vez mais o âmbito da sua

X XI

d
Ferramentas de Comunicação para Gestores Sobre o Livro

atividade, tornando-se peritos "hiperespecializados", em qualquer exemplo, Belmiro de Azevedo foi durante muitos anos a imagem
dos subsetores que todos os anos se vão criando. da Sonae® assim como Ricardo Salgado a do BES® ou Bill Gates a
da Microsoft®, ou pode-se ainda referir o caso do falecido Steve
Não deixa por isso de ser curioso constatar que, a nível de adminis­ Jobs em relação à Apple®. Tudo o que disserem ou fizerem em
tração, a tendência tenha sido justamente oposta no que respeita à público repercute-se na imagem da sua empresa, e vice-versa.
Comunicação Empresarial. 4. De referir o aspeto não menos importante da rápida evolução
dos meios de Comunicação, nomeadamente da Internet e,
Os detentores do poder de decisão dentro de uma empresa ou de mais recentemente, das redes sociais, onde todos os públicos
um grupo, sejam eles CEO (chief executive officer), Administradores da empresa (funcionários, clientes, fornecedores, etc.) podem
ou Diretores-Gerais, sentem cada vez mais necessidade em saber um
agora exprimir as suas opiniões e mesmo discutir em público
pouco mais acerca de cada uma das áreas da Comunicação. assuntos internos da empresa, coisa que dantes era impensável.
E, claro, o responsável máximo, não pode estar arredado desta
Estes responsáveis empresariais, a que passarei a chamar gestores para tendência, sendo mesmo "obrigado" a nela participar.
abreviar, necessitam de se tornar uns generalistas neste setor, para
O gestor moderno vê-se assim confrontando com a necessidade de
poderem gerir com sucesso os destinos das respetivas empresas.
perceber um pouco de todas as áreas da Comunicação, a fim de não
Com a globalização, entrámos, assim, numa nova era: a dos gestores- perder o controlo da sua empresa.

-comunicadores.
É também por essa razão que a Equipa de Gestão de Crise (Crisis

Esta tendência inversa à do mercado pode ter a sua explicação em Management Team) tem habitualmente o responsável máximo como
Team Leader. É obvio que não precisará de saber a fundo da maté­
quatro fatores principais.
ria, para isso terá ao dispor o seu pessoal devidamente treinado e o
1. O facto de ser possível contratar funcionários altamente recurso aos consultores externos especializados.
especializados para qualquer das funções no âmbito da
Comunicação. Se, por um lado, alivia a carga de trabalho das Contudo, em última instância, terá de ser ele a dar a cara pela sua
direções e acaba com as acumulações de funções, obriga, por empresa, e, para determinar se o que se está a discutir no seio da
outro lado, o gestor a ter um conhecimento básico da matéria, sua Equipa de Gestão de Crise é adequado, relevante e coerente, tem
a fim de assegurar um certo controlo de todo o processo. de possuir uns requisitos técnicos mínimos para não serem tomadas
2. O facto de a Comunicação ter passado a ser transversal a decisões irrefletidas e erradas que no, futuro, lhe sairão muito caras.
toda a estrutura empresarial, independentemente do seu
setor de atuação, obrigando a uma responsabilização e, Também na área do Lóbi poderá dispor internamente de um especia­
LI D E L - Edições Técnicas

sobretudo, a um envolvimento cada vez maior por parte do lista em Public Affairs (Relações Institucionais) e recorrer em simultâ­
gestor. neo a uma agência especializada. Mas se não tiver noções mínimas
sobre o que é o Lóbi Direto, de Topo ou de Base, por exemplo, corre
3. Pelo facto de o gestor, quer queira quer não, fazer parte
o grande risco de não entender o que os especialistas lhe estão a
integrante da Comunicação e da Imagem Empresarial. Basta
propor como estratégia de atuação junto dos decisores políticos.
referir que a imagem da empresa se tornou cada vez mais
©

indissociável da imagem do seu responsável máximo. A título de

XII Xlil
Ferramentas de Comunicação para Gestores

O mesmo se passará quando tiver de se reunir com as suas equipas


para falar sobre Comunicação Interna, Comunicação de Marketing,
B2B (business-to-business), Responsabilidade Social, e por aí fora...

Isto para não falar de outros tipos de Comunicação mais individual e


interventiva, como saber falar em público, dar entrevistas aos meios de
comunicação social, ter presença constante nas redes sociais, etc.

O paradigma do moderno responsável empresarial é, pois, o de


gestor-comunicador, capaz de intervir mais ativamente, e com
conhecimento de causa em qualquer dos domínios da Comunicação
e da Imagem.
Parte I-------- --------------------
m
Por essa razão este livro aborda de forma abrangente e despreten­
siosa diversos subsetores da Comunicação e da Gestão de Crise ao Comunicação
Lóbi, passando pela Comunicação Institucional, Individual, e pela
Imagem Empresarial. Trata, por outro lado, de um conjunto de Interpessoal
assuntos que permitem entender a interação entre estes subsetores
e familiarizar-se com aspetos básicos, com regras e com códigos.
Colige, para tal, um conjunto de textos, com vista a permitir uma visão
generalista e global desta matéria tão multifacetada, que é a Comu­
nicação Empresarial. Pela sua atualidade, não resisti à tentação de
"repescar" três artigos meus, inicialmente publicados no interessante
blogue sobre Comunicação "Código Fonte" (http://fontecodigofonte.
wordpress.com), de Alda Telles, minha colega de profissão.

Acredito que este livro poderá revelar-se de grande utilidade para


qualquer gestor, consciente da importância que terão os seus
conhecimentos de Comunicação no desempenho da sua atividade, pois,
mais que nunca, na nossa sociedade moderna, um líder precisa de ser
também um bom comunicador. E, de facto, a máxima "liderar é comuni­
car", atribuída a McLuhan2 as na década de 60, nunca esteve tão atual.

2 Marshall McLuhan (1911-1980) - canadiano, teórico da Comunicação, profes­


sor, pesquisador e autor de várias obras sobre esta temática (ver página 75).

XIV
Comunicação Interpessoal

Hall definiu quatro tipos de distâncias, que descreveu de forma muito


Proxémíca: a Linguagem Oculta sucinta e ajudou a visualizar através de círculos concêntricos:
do Espaço 1. Distância íntima: reservada apenas para os que nos são
próximos (família, amigos), e que nos permite tocar, abraçar,
e falar baixo, em sussurros, com os outros. Esta distância vai
Traduzido do inglês Proxemics, o termo designa o estudo das diversas
de 0 a 45 cêntimetros na cultura ocidental.
distâncias físicas entre os indivíduos, enquanto estes interagem,
numa determinada envolvente social. Ou, por palavras mais simples, 2. Distância Pessoal: espaço de 45 a 120 cêntimetros que se
é a gestão da distância física entre as pessoas. guarda em relação aos outros. É a distância habitual na
conversação a dois, em público ou com um grupo restrito,
Segundo Edward Hall3, que introduziu o termo em 1966, as várias e que pode ter lugar em pé ou sentado. Esta distância
distâncias físicas entre as pessoas são definidas pelo seu espaço pes­ ainda permite o aperto de mão ou o fugaz toque no braço,
soal, que poderemos designar como zona de conforto ou territórios, nunca indo muito além disso.
e que é variável consoante as circunstâncias. Essas distâncias entre 3. Distância Social: de 1,20 metros até 3 metros. A esta dis­
pessoas são mensuráveis em função da interação destas (apesar de tância os indivíduos não se tocam, sendo adotada quando
não serem intencionais), e variam em função das culturas, da situa­ as pessoas dividem o mesmo espaço de trabalho, ou em
ção social da hierarquia e dos diferentes padrões de espaço pessoal reuniões profissionais mais formais.
de cada um.
4. Distância Pública: para além dos 3 metros. É utilizada para falar
Todos nós sentimos uma certa sensação de desconforto sempre em público, por exemplo, e onde a possibilidade de estabelecer
que estranhos estão fisicamente demasiado próximos de nós: num um contacto mais informal com alguém é praticamente nula.
elevador, num transporte público ou num café, por exemplo. Isso Esta distância permite à pessoa isolar-se propositadamente
acontece porque a nossa zona de conforto foi invadida e, automati­ do resto do grupo, como no caso de um orador, por exemplo,
camente, gera-se uma reação de defesa inconsciente que põe os que não está interessado em conviver de muito perto com a
sua audiência.
nossos sentidos em alerta.
Estas distâncias, são observadas com um certo rigor em todas as
Se um desconhecido estiver sentado as nas pontas de um banco de sociedades, e constituem uma regra básica das relações humanas,
jardim, experimentem sentar-se ao lado dele, em vez de ocupar a outra funcionando como uma espécie de linguagem complementar à
ponta. Verificarão de imediato uma série de sinais de nervosismo... nossa forma de Comunicação. Sempre que essa regra é quebrada
gera-se, de imediato, um certo desconforto nas outras pessoas.
Imagine que utilizava com desconhecidos a Distância íntima, num
Edições Técnicas

determinado evento onde deveria aplicar uma Distância Social...


é fácil de imaginar o provável desastre que se seguiria.
3 Edward T. Hall (1914-2009) - antropólogo americano, doutorado pela Columbia
University, introduziu novos conceitos através das suas pesquisas, como a É claro que quem dominar a Comunicação no seu todo pode, muito
-
DEL

Proxémica, a noção do tempo monocrónica e policrónica. Foi colega e amigo de


bem, alterar propositadamente essas regras com uma finalidade

Marshall McLuhan.
© muito específica. Numa reunião mais formal, que exigiria uma

2 3
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

Distância Social de cerca de 3 metros, pode, por exemplo, passar Alguns estudos, posteriores aos de Hall, redefiniriam as distâncias,
para uma Distância Pessoal (que é cerca de metade), a fim de tentar conforme as culturas.
"quebrar o gelo" e induzir o outro a uma maior interação. Desde que
se saiba perfeitamente como fazê-lo, não haverá problema de maior, Exemplo _ -................... ....................
e os resultados obtidos com essa tática podem ser relevantes. I Assim, por exemplo, a distância pessoal, de 45 a 120 centímetros,
que Hall atribuiu aos norte-americanos, teria de ser revista para
as outras zonas do globo da seguinte forma:
Exemplo----------------------------------------------------------------------------------------
■ Europa do Norte: 50 a 120 centímetros (semelhante aos
Veja-se a este propósito os bons vendedores de carros, que
EUA);
tentam a todo o custo reduzir as distâncias entre eles e os poten­
ciais compradores, a fim de serem mais persuasivos. Isso passa ■ Europa do Sul: 35 a 80 centímetros;
por tratar de imediato a pessoa pelo nome, dar-lhe palmadas a América do Sul: 30 a 60 centímetros;
nas costas, tocar-lhe no braço, falar num tom de voz mais baixo ■ Médio Oriente: 20 a 35 centímetros;
como se estivesse a confidenciar qualquer informação, destinada
■ Japão: > 1 metro.
exclusivamente ao interlocutor.

Para quem trabalha, ou se movimenta, num ambiente multicultural,


Para o gestor moderno é importante que tenha umas noções mínimas estes são aspetos a tomar em conta, e que vão certamente interferir
sobre Proxémica, a fim de saber tirar partido das variadas situações com a hierarquia, 0 protocolo, as formas de negociação, etc.
em que estiver envolvido na sua vida profissional.
O estudo da Proxémica está normalmente incluído na Comunicação
Será importante referir que estes padrões de espaço pessoal variam Corporal (ou não verbal), fazendo também parte da aprendizagem
muito em função das culturas, da situação social, da hierarquia e, das técnicas de negociação, e o seu domínio revela-se de grande
claro, da personalidade de cada um, já que os extrovertidos terão utilidade, em tudo 0 que diga respeito às relações humanas.
tendência a reduzir as distâncias, ao contrário dos introvertidos que
tentarão inconscientemente aumentá-las.

Por outro lado, o homem urbano, acostumado a viver em grandes


cidades onde as pessoas passam mais tempo em ajuntamentos e a
acotovelar-se, tolera melhor a aproximação forçada do que o homem
do campo. Já terão reparado, com certeza, como as pessoas das
zonas agrícolas são muito ciosas das distâncias, ao ponto de terem
© LID E L-E dições Técnicas

de se inclinar para a frente sempre que têm de apertar a mão a um


recém-conhecido.

Nas culturas latinas, as distâncias referidas são menores, pois as


pessoas não se sentem tão desconfortáveis quando estão próximas
de outras, ao contrário do que acontece nas culturas nórdicas.

4 5
Comunicação Interpessoal

2 os prazos, considerando que qualquer tarefa é parte integrante de um


Cronémica: a Linguagem Oculta objetivo global. Dado que, no geral, são bastante criativos, mudam
do Tempo com frequência os seus planos iniciais, sempre que lhes surge uma
ideia nova. Como o tempo de trabalho tende a confluir com o seu
tempo pessoal, não veem qualquer problema em tratar de assuntos
Sabe se é uma pessoa monocrónica ou policrónica? particulares durante o desempenho de uma tarefa, nem se importam
se forem interrompidos.
Como gestor, provavelmente, nunca se colocou a si próprio esta
questão. E no entanto alguns conhecimentos sobre esta matéria Estas duas perceções de tempo formatam a personalidade de cada
poderão fazer toda a diferença na sua Comunicação Interpessoal, um, refletindo-se nas suas maneiras de ser, de estar, e em particular
tanto a nível interno como externo, nomeadamente com interlocu­ na sua Comunicação não verbal.
tores de outas nacionalidades e culturas.
Por exemplo, enquanto um monocrónico é por natureza pontual,
Estes termos encaixam nos estudos sobre Cronémica (em língua considerando qualquer atraso à hora marcada para um encontro uma
inglesa "chronemics"), levados a cabo pelo antropólogo Americano falta de consideração e de respeito, para um policrónico não existe
Edward Hall, em finais dos anos 50, e designam a nossa perceção a noção de tempo exato, mas apenas uma aproximação à hora que
do tempo e o uso que dele fazemos diariamente, tanto no campo foi marcada. Por isso, chegar atrasado é para ele perfeitamente nor­
profissional como social. mal. Tão pouco o incomoda muito ter de esperar por outra pessoa,
imaginando que, se esta não compareceu à hora indicada, é porque
Das suas pesquisas sobre Cronémica (do grego "chronos" = "tempo"), outro assunto imprevisto a reteve, não sendo caso para dramatizar
Hall concluiu que as culturas e as sociedades se dividem em essa questão.
monocrónicas e policrónicas. E, por influência destas, também os
indivíduos obedecem a esta divisão. Em termos culturais, essas diferentes perceções do tempo sobres­
saem ainda mais, quando se comparam sociedades tipicamente
As pessoas monocrónicas têm tendência para fazer uma coisa de cada monocrónicas e policrónicas.
vez, sequencialmente, respeitando os planos e os prazos estabeleci­
dos. Orientam-se segundo uma linha de tempo segmentada e pouco A Alemanha, a Suíça, o Reino Unido, a Escandinávia (de um modo geral,
flexível, onde as tarefas são medidas conforme o tempo que demoram, todos os países do norte da Europa), os EUA e o Canadá, por exemplo,
sejam horas, dias ou semanas; totalmente focadas e concentradas na são consideradas sociedades monocrónicas, onde prevalece a noção
tarefa que estão a desempenhar, não gostam de interrupções, nem de que o tempo é um bem tangível e precioso, que tem de ser muito
deixam nada ao acaso. O seu tempo no trabalho está totalmente com­ bem gerido, programado, e que não deve ser desperdiçado. Por isso,
Edições Técnicas

partimentado e separado do seu universo familiar e social. a sua orientação natural é sempre para o futuro e não tanto para o
momento presente, e muito menos para o passado.
No extremo oposto, os policrónicos conseguem desempenhar várias
tarefas em simultâneo, saltando displicentemente de uma atividade Já nas culturas ditas policrónicas, como são todos os países de
-
LIDEL

para outra, sem precisar de ter uma linha de atuação bem definida. África, da América do Sul e Central, ou os países árabes, o conceito
Para eles o tempo é flexível e fluido, por isso não se preocupam com @ de tempo é muito mais fluido e menos formal. Não é tanto o relógio

6 7
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

ou o calendário a ditar as tarefas a executar mas mais as relações regras estabelecidas nem horários para nada, e onde um programa
interpessoais, a vida comunitária, os hábitos ou as tradições. Para inicialmente delineado pode ser alterado em qualquer altura sem
eles, o que conta é o presente, que valorizam por todos os meios em aviso prévio. É que, apesar de sermos ainda uma sociedade poli­
detrimento do futuro, o Carpe Diem4 aplica-se-lhes perfeitamente. crónica, estamos já muito longe do policronismo clássico dos países
africanos ou da América Latina. Entender estas diferentes realidades,
Quando é mesmo necessário planear algo, raramente vão além do já é, só por si, meio caminho andado para o estabelecimento de
curto prazo, considerando que o médio e, sobretudo, o longo prazo, relações profícuas nas negociações com esses países.
são incógnitas que ''estão nas mãos de Deus". Nestas culturas, o
passado tem um valor enorme, sendo referido amiúde e servindo Não vale a pena analisar aqui se uma sociedade monocrónica é
muitas vezes de exemplo para as ações no presente (veja-se o nosso superior a uma sociedade policrónica. Ambas têm as suas virtudes e
caso com os descobrimentos). defeitos. Poderemos sempre constatar que as sociedades monocróni-
cas eram, até agora, mais produtivas e evoluídas em termos mate­
No que respeita a Portugal, e à semelhança dos outros países do riais; mas pode-se sempre contrapor com uma maior qualidade de
sul da Europa, apesar de ainda predominar a noção de tempo vida verificada nas sociedades policrónicas, onde há menos stress,
policrónica, a nossa entrada para a UE, a globalização acelerada do o tempo de lazer é maior, e as pessoas são mais afáveis e comuni­
mundo ocidental, e a maior abertura ao exterior, verificada após a cativas.
revolução de 1974, vieram alterar um pouco essa perceção. Nota-se
isso sobretudo nas novas gerações que entraram há poucos anos no Note-se que escrevi "eram até agora", pois com a globalização
mercado de trabalho, e cuja formação foi influenciada pelos parâme­ galopante, a aceleração da história e os progressos em todas as
tros das sociedades monocrómicas; já as gerações mais velhas, con­ áreas técnico-científicas é muito possível que este paradigma sofra
tinuam arreigadas aos aspetos culturais nacionais e tentam resistir à uma mudança radical. Para além das economias emergentes, os
mudança. Isto é, continuamos a ser uma sociedade policrónica, mas chamados BRICS5, que se prevê serem as potências economicamente
já algo matizada, devido sobretudo à presença de multinacionais no dominantes dentro de poucas décadas, já se perfilam no horizonte
nosso mercado, ao estabelecimento de relações com países tipica­ os MIKT (neologismo referente a México, Indonésia, Coreia do Sul e
mente monocrónicos, e, naturalmente, devido à crise que atualmente Turquia) para muito rapidamente lhes seguirem as pisadas.
atravessamos, à necessidade crescente de maior competitividade.
Se considerarmos que todos estes países são, na sua essência,
Compreenderemos, assim, melhor a angústia dos gestores portu­ policrónicos, a nossa atual tendência de ligar a monocronia com o
gueses, quando têm de tratar de negócios, por exemplo em Angola desenvolvimento é capaz de cair por terra muito em breve...
ou no Brasil, onde ficam com a sensação de que não existem
Este mesmo tipo de análise é válida também para as pessoas enquanto
© L ID E L -E d iç õ e s Técnicas

indivíduos. Um monocrónico não é em nada superior a um policrónico,


4 Carpe Diem - do latim "colhe o dia" ou "aproveita o momento", deve-se ao poeta
e vice-versa; nem em inteligência, empenho, educação, esperteza ou
romano Horácio (65 a.C. a 8 a.C.) no seu livro Odes. O termo é hoje usado com
alguma frequência, tendo sido retirado da frase "... Carpe Diem, quam minimum qualquer outra característica humana. Apenas possui uma forma
crédula postero...", que significa "... Aproveita o dia de hoje e confia o mínimo no diferente de compreender o tempo e de com ele interagir.
amanhã...", convidando para se aproveitar e desfrutar do tempo presente, sem
se preocupar com o que o futuro nos reserva. 5 BRICS - acrónimo para Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul.

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Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

Um bom gestor será capaz de entender rapidamente as potenciali­ pretende é que lhe apresentem ideias novas, então é provável que
dades de cada um deles, e pedir-lhes para desempenharem funções obtenha melhores resultados por parte dos policrónicos, capazes
ou tratar de tarefas que possam condizer o mais possível com as de deixar vaguear o espírito enquanto trabalham simultaneamente
respetivas características. Por outro lado, terá compreendido que em vários assuntos, ao mesmo tempo que ouvem música, telefonam
comunicar com um policrónico não é o mesmo que fazê-lo com um para casa, navegam nas redes sociais, ou enviam emails para os
monocrónico, e saberá escolher a melhor altura e a melhor forma amigos.
para fazer passar a sua mensagem junto de cada um deles.
A terceira questão tem a ver com o contexto em que se movimenta,
Chegados a este ponto, é altura de tentar perceber em que categoria tanto na ótica da sua empresa como do país onde trabalha. No que
se encaixa. Considera-se um gestor monocrónico ou policrónico? Ou respeita à empresa, deverá questionar-se se é nacional ou estrangeira
acha que se situa numa linha intermédia e indefinida, consciente e, neste último caso, de que nacionalidade? Trabalha para uma
de que faz um certo esforço para se sentir monocrónico no local de empresa alemã, suíça ou norte-americana? Ou para uma empresa
trabalho e policrónico fora das horas de serviço? brasileira, italiana ou marroquina?

Esta é a primeira questão que deverá colocar honestamente a si Como já percebeu certamente, o facto de estar em Portugal (país
mesmo, a fim de se poder posicionar corretamente neste contexto. moderadamente policrónico) pouco conta para empresas oriundas de
países monocrónicos, onde a mesma cultura empresarial predomina
A segunda questão tem a ver com as pessoas com quem habitual­ sobre as culturas locais, em todos os países onde estão instaladas.
mente lida mais de perto, seja interna ou externamente, e tentar
catalogá-las uma a uma. Numa fase seguinte, haverá que adaptar a Como gestor, o que lhe vai ser exigido (com algumas adaptações
sua Comunicação e a gestão de expectativas a cada caso específico. locais evidentemente) é que se comporte, atue e comunique de
Assim, no que respeita aos seus colaboradores ou parceiros de negó­ acordo com a cultura empresarial, que, por sua vez, estará forte­
cio, já sabe, por exemplo, que não poderá confiar mais do que uma mente condicionada com a cultura do país de origem.
tarefa de cada vez a um monocrónico.
O mesmo se passa com as empresas originárias de sociedades poli-
Por outro lado, não deverá contar que um policrónico lhe entregue crónicas.
um trabalho dentro do prazo combinado; não é que ele não seja capaz
de cumprir um prazo, mas para o conseguir este terá de fazer um No que respeita ao país em que exerce a sua profissão, seja em Por­
esforço tremendo, enquanto que para o monocrónico, isso não pas­ tugal ou (se for um expatriado) no estrangeiro, as mesmas questões
saria de uma tarefa óbvia, fácil e natural. Numa situação deste tipo, se irão colocar podendo dar-se o caso de ser um policrónico a tra­
a única solução para o gestor é certificar-se amiúde do andamento balhar num país Monocrónico, um Policrónico num país também
Edições Técnicas

dos trabalhos e, se for caso disso, insistir ou chamar a atenção do policrónico ou o inverso destes dois casos. E, claro, adicionar a cada
colaborador, para os atrasos que já se começam a vislumbrar. caso a nacionalidade da empresa para a qual trabalha.

Tão pouco valeria a pena discutir os pormenores dos objetivos da Em qualquer destas situações relacionadas com o contexto, a única
-
LI DEL

empresa a médio ou a longo prazo com um policrónico, que está forma de sobreviver e triunfar é adaptando-se rapidamente ao
totalmente focado no presente ou no curto prazo. Mas se o que o ambiente cultural que o rodeia e aprender a atuar e a comunicar em

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Ferramentas de Comunicação para Gestores

conformidade. Diga-se de passagem, que neste aspeto, esta tarefa é


3
relativamente fácil para qualquer português, dado o grande poder Comunicação Corporal: a Linguagem

de adaptação próprio do nosso povo. Oculta do Corpo

O binómio Cronémica-Proxémica, conjuntamente com a linguagem


corporal (que abordaremos no capítulo seguinte), constituem uma Não creio estar a exagerar ao afirmar que todos, ou quase todos, tive­
poderosa ferramenta de Comunicação ao serviço do gestor. Entender mos na nossa adolescência o sonho secreto de conseguir ler os pen­
a linguagem oculta do tempo, do espaço e do corpo, é possuir o samentos dos outros. Saber o que a outra pessoa estava realmente a
segredo de base para ser um bom comunicador. pensar, independentemente daquilo que nos estava a dizer naquele
momento, constituía como que o dom supremo (porém inatingível),
idêntico aos superpoderes dos super-heróis da nossa juventude.

Mas, na verdade, essa possibilidade é menos remota do que poderia


parecer.

Através da linguagem Corporal (ou não verbal), é possível aperceber­


mo-nos dos estados de espírito, atitudes e pensamentos das outras
pessoas que, em muitas ocasiões, pouco ou nada têm a ver (e até
podem estar em contradição) com as palavras que estão a proferir
em dado momento.

Não se trata obviamente de “ler" os pensamentos, no sentido literal


do termo, mas não andará muito afastado dessa realidade.

A Linguagem Corporal, a que eu prefiro chamar Comunicação Cor­


poral devido à sua complexidade (e que não deve ser confundida
com a Comunicação Gestual, utilizada, por exemplo, pelos surdos e
mudos), foi a primeira forma de Comunicação do ser humano. Com o
aparecimento da palavra falada, os gestos assumiram aparentemente
uma posição secundária, como complementos da expressão oral.

Mas, no nosso inconsciente, os gestos básicos ligados a determina­


Edições Técnicas

dos estados de espírito próprios da humanidade (medo, ansiedade,


alegria, expectativa, etc.) mantiveram-se perfeitamente vivos e
intactos. Ocultos numa das zonas mais obscuras da nossa perso­
nalidade, vivendo uma espécie de semiclandestinidade, emergem de
-
© LIDEL

surpresa à luz do dia, sempre que uma pessoa é confrontada com


uma situação mais "stressante".

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Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

E são esses gestos inconscientes que revelam genuinamente o que a nas entrevistas para um emprego. Pois tanto os administradores,
pessoa está a pensar naquele instante, independentemente daquilo gestores, executivos como os líderes, de um modo geral, não
que estiver a dizer ou que se estiver a esforçar por parecer. podem ficar alheios a este tipo de Comunicação.

Para os mais atentos, a Linguagem Corporal é capaz de revelar tudo O mesmo se passa com quem tem de negociar por razões profis­
sobre um indivíduo, até aos mais pequenos detalhes. sionais. Seja um político, empresário ou um simples vendedor, saber
ler os gestos e expressões dos seus parceiros será "meio caminho
É desto modo que a correta leitura corporal permite às pessoas que andado" para conseguir alcançar com sucesso os seus objetivos.
dominam a técnica aperceberem-se dos estados de espírito dos seus
interlocutores. Em determinadas situações, como numa reunião de Convirá, porém, ressaltar que a Linguagem Corporal é influenciada
negociações, esta é uma mais-valia inestimável. por três fatores:

■ A cultura nacional (ou local);


■ A classe social;
■ O nível cultural individual.
O ditado “Uma imagem vale mil palavras” aplica-se perfeitamente
Os gestos e os movimentos involuntários que qualquer de nós faz,
à linguagem corporal.
estarão em grande parte condicionadas por estes três fatores, o que
E para quem ainda tivesse dúvidas da importância desta forma pode, por vezes, levar a interpretações erradas. Nomeadamente a
básica de comunicar, basta relembrar um estudo científico, nível de cultura nacional, onde em determinado país um gesto pode
feito pela Universidade da Califórnia há já umas boas décadas,
ter um significado totalmente diferente do país vizinho; e o mesmo
que concluía o seguinte, a propósito do impacto da nossa
se passa em certas classes sociais.
comunicação pessoal sobre as outras pessoas. Em termos de
importância:
Este tipo de livro não permite textos muito longos, pois muito mais
■ 7% do que se diz (o conteúdo, as palavras); haveria para dizer sobre esta interessante ferramenta de Comunica­
■ 38% da maneira como se diz (inflexão, tom de voz, etc.); ção, que não só nos permite fazer passar melhor a nossa mensagem,
■ 33% a expressão e os gestos (postura, olhar, etc.). como também entender melhor o que os outros nos estão a tentar
dizer, ou a esconder.

Recomendaria a quem tenha de fazer uso das relações humanas


Dito de outro modo, mais de metade do impacto da nossa Comuni­ (tanto na sua vida profissional como pessoal) que aprofundasse este
cação reside na nossa Linguagem Corporal, e se o nosso interlocutor tema através da leitura de algum livro sobre a matéria, ou mesmo
Edições Técnicas

estiver preparado para ler a nossa expressão e os nossos gestos, frequentando um curso ou seminário.
devemos estar em alerta para não dizer por palavras o oposto do
que lhe estamos a comunicar com o corpo.
-
LI DEL

E não se pense que a Linguagem Corporal só poderá interessar


aos diretores de Recursos Humanos, na seleção de candidatos
©

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Ferramentas de Comunicação para Gestores

A fim de ilustrar um pouco melhor o que acabei de escrever (e Falar em Público


também para não tentar inventar a roda), aproveito para repro­
duzir com o devido reconhecimento uma página da Internet de um
interessante site brasileiro: www.linguagemcorporal.net.br, onde
estão reproduzidos alguns exemplos de Linguagem Corporal e o Segundo Michael Motley, catedrático do departamento de Comu­
seu significado, com base num estudo efetuado pela Universidade
nicação e Retórica da Universidade da Califórnia, ter medo de falar
da Califórnia no início dos anos 70. em público é a coisa mais natural do mundo, e ocupa os primeiros
lugares entre os tipos de receios que qualquer ser humano sente.
Possíveis Interpretações | Segundo ele, essa ansiedade é natural, e talvez nos sirva de consolo
1 Comportamento Não Verbal
Movimentação rápida, andar Confiança saber que cerca de 85% dos mortais.
direito
Incompreensão, agressividade Por outras palavras, a grande maioria das pessoas sente receio de falar
Mãos na cintura
em público, daí que não haja problema algum em senti-lo, o que é
Sentar com as pernas cruzadas, Cansaço, aborrecimento preciso é saber controlá-lo e regulá-lo. E é para isso que existe todo o
e pés a balançar
Abertura, relaxamento
tipo de formação, de treino e de aperfeiçoamento nesta matéria.
Sentar com as pernas abertas
Sentar com as mãos atrás da Confiança, superioridade Se é um gestor em início de carreira, sabe que, mais cedo ou
cabeça e pernas esticadas
mais tarde, terá forçosamente que se dirigir a uma plateia de pessoas
Braços cruzados no peito Defesa
mais ou menos numerosa, e em circunstâncias e contextos dos mais
Andar com as mãos nos bolsos, Falta de entusiasmo,
diversos. Por isso convém estar devidamente mentalizado para tal
olhando para baixo desmotivação
situação, sem receios ou nervosismos de qualquer espécie, bastando
Avaliação, estado pensativo
Mãos nas maçãs do rosto preparar-se antecipadamente, para que o ato de falar em público não
—----------------- ---------------------:—'
Coçar o nariz, tocar no nariz ao Dúvida, mentira se transforme numa tarefa enfadonha (ou, em casos extremos, num
falar suplício), mas que, pelo contrário, considere gratificante poder discur­
Esfregar os olhos Descrença, dúvida sar perante uma plateia. Se pensar bem, não são muitas as pessoas
Mãos fechadas atrás das costas Frustração, ódio que têm oportunidades e condições para falar em público, por este
Sinceridade, abertura motivo pode começar por considerar que isso é um privilégio, e iniciar
Mãos abertas, palmas para cima
desde já a sua formação e treino, a partir da leitura deste capítulo.
Apoiar a cabeça nas mãos e olhar Aborrecimento
para baixo
Como tive a oportunidade de referir numa obra anterior6, um
Antecipação
© L ID E L -E d içõ es Técnicas

Esfregaras mãos
auditório espera sempre de um orador que este seja claro, direto,
Desviar o olhar Desconfiança
sincero e, acima de tudo, convincente.
Ansiedade, insegurança
Roer unhas
Indecisão 6 LAMPREIA, J. M. (1998) - Comunicação Empresarial, Texto Editora, Colecção Tex­
Tocar ou coçar a orelha
tos de Gestão, Lisboa. Para mais informações sobre este tema, poderá consultar
Estalar os dedos Autoridade
também o livro: PINA, João Aragão e (2011), Apresentações que falam por si,
Olhar para o relógio repetidamente Impaciência Lidei - Edições Técnicas, Lda., Lisboa.

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16
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação interpessoal

Aparentemente, não há nada mais fácil, especialmente, quando se Uma boa intervenção de improviso - a mais difícil para quem não
está perfeitamente familiarizado com o tema do discurso. No entanto, tenha o dom da palavra - é, sem dúvida, a que mais prende qualquer
são muito poucas as pessoas que conseguem "agarrar um auditório auditório e produz mais resultados. É também a que assusta mais
pelos colarinhos" logo desde o início, mantê-lo interessado ao longo qualquer orador, pois a capacidade de uma pessoa mobilizar os seus
do discurso, e conseguir fazer passar a sua mensagem no tempo que pensamentos e verbalizá-los com fluência no momento preciso não
lhes foi atribuído. está (pelo menos de início) ao alcance de todos mas também não é um
obstáculo intransponível. Uma pessoa de inteligência e cultura médias,
A grande maioria, mesmo com o dom da palavra e um perfeito à-von- que possua uma boa dose de autodomínio e que tenha praticado
tade perante uma sala repleta de pessoas, não consegue transmitir a minimamente, pode fazer uma aceitável, senão brilhante, alocução
essência da sua Comunicação - porque divagaram sobre aspetos de de improviso.
importância secundária, porque utilizaram termos demasiado téc­
nicos, ou porque a sua linguagem era demasiado floreada, ou, pelo A primeira coisa a fazer é exercitar-se ao longo de alguns dias a falar
contrário, era muito terra a terra para as pessoas a quem se dirigia. de forma espontânea, durante um a dois minutos, a respeito dos
mais variados temas que primeiro lhe venham à cabeça. Convirá, num
Situações destas são normalmente o resultado de dois erros que primeiro tempo, escolher temas com os quais esteja minimamente
muitos bons oradores cometem, às vezes por excesso de confiança familiarizado, a fim de não dificultar em demasia a experiência. Os
em si próprios. Um deles é o desconhecimento do tipo de público a bons resultados, que certamente irá constatar de imediato, servirão
quem se dirigem; o outro é o objetivo final em vista. para incutir uma primeira dose de autoconfiança, antes de passar à
fase seguinte.
No primeiro caso é por demais evidente que há que adaptar a lingua­
gem ao tipo de público que se tem pela frente. O desconhecimento Após alguns exercícios deste tipo, poderá, então, numa fase pos­
deste não permite que essa adaptação seja feita, obtendo-se resul­ terior, selecionar temas que lhe sejam totalmente estranhos e
tados, por vezes, catastróficos. que não estejam relacionados nem com a sua área de atividade
nem com o seu passatempo preferido, para não falsear todo o
O segundo lapso surge quando uma pessoa vai falar em público sem processo.
ter noção do objetivo da sua intervenção. Este pode ser transmitir
uma simples informação, mas também pode ser o de instruir, de Nesta fase, um gravador poderá revelar-se um precioso auxiliar para
influenciar, de persuadir ou de apenas distrair. Nada pior do que poder comparar os progressos feitos dia após dia.
uma intervenção em público repleta de números, gráficos e de dados
estatísticos quando a finalidade não é persuadir mas apenas informar; Ao fim de uma semana irá certamente verificar que já está apto a
ou, num campo oposto, dar uma agradável palestra bem-humorada e alongar o improviso para cinco minutos ou até mais.
Edições Técnicas

repleta de casos anedóticos que dificilmente irá persuadir e mobilizar


a assistência em relação a determinado argumento. Este método básico já foi testado em todos os países, ao longo de
muitos anos e sempre com resultados surpreendentes.
Existem duas situações em que qualquer gestor pode vir a ter de falar
-
© LIDEL

em público: de improviso ou com um discurso preparado.

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Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

Para quem tiver dúvidas, bastará comparar as gravações iniciais às do próprios retirar ideias para um improviso. Como recomendava
último dia para comprovar que nem parece tratar-se da mesma pessoa. Dale Carnegie7 "fale acerca dos seus ouvintes, quem eles são e
o que estão fazendo, sobretudo o que de especificamente bom
A segunda recomendação é estar mentalmente preparado para eles realizaram para a comunidade ou para a humanidade, e
falar de improviso a qualquer momento e em qualquer situação. verá como todos vão ficar presos às suas palavras".
Numa reunião, por exemplo, poderemos sempre treinar para prever
5. Uma outra fonte é a ocasião em si própria - quer se trate
aquilo que diríamos se, de repente, fôssemos interpelados para nos
de um aniversário, um encontro anual de vendas, uma festa
pronunciarmos sobre o tema em discussão naquele momento. O
de Natal ou um momento político -, o que lhe permitirá
mesmo para, num qualquer ato social, se alguém nos pedir para dizer
aproveitar as circunstâncias para falar dos motivos que
espontaneamente umas palavras de ocasião.
levaram as pessoas a estar ali reunidas.

Quanto à forma e conteúdo, os peritos costumam fazer as seguintes 6. Sempre que lhe for possível, não deixe de aproveitar alguma
recomendações: coisa específica que o orador anterior tenha dito, expressando
a sua concordância com a ideia, ampliando-a e reforçando-a.
1. Não tenha pressa em começar a falar- espere uns segundos
pelo silêncio da sua plateia, antes de iniciar. 7. Mantenha um contacto visual permanente com toda a
audiência, olhando especialmente para os que estiverem
2. Tenha especial atenção ao início da sua intervenção - nos pontos mais afastados da sala, em vez de olhar apenas
escolha muito bem as primeiras frases, pois o primeiro para as pessoas mais próximas.
impacto é o que marca mais. Inicie introduzindo um exemplo
vivido, presenciado ou contado, pois é a forma mais segura 8. Tente ser breve, não há nada mais desagradável do que uma
para captar de imediato a atenção. Pode também dar intervenção que por ser improvisada todos esperam que seja
um exemplo de um incidente pessoal que esteja, como é curta, e que acaba por se prolongar por uma dezena de minutos,
evidente, minimamente correlacionado com o que a seguir obrigando o auditório a ter de fazer um esforço de atenção.
se disser. 9. Adote uma linguagem positiva e clara, optando por frases
Em ambiente informais ou festivos, iniciar com uma anedota curtas, vocabulário adequado ao auditório, com palavras
fortes e emocionais.
apropriada também é uma boa forma de captar a atenção,
para além de ajudar a descontrair o ambiente e, sobretudo, 10. Utilize a respiração abdominal e respire fundo para sincronizar
o orador. o fôlego e controlar a ansiedade.
3. Esforce-se por falar de forma assertiva, com entusiasmo e 11. Não se esqueça de que o sorriso causará uma reação positiva
energia, mesmo que os assuntos em questão sejam dos mais e imediata em quem estiver a olhar para si. Por isso sorria
Edições Técnicas

banais. Lembre-se de que a entoação com que comunica é sempre que puder.
tão importante como aquilo que comunica.
7 Dale Carnegie (1888-1955) - escritor e orador americano, autor de vários best-
4. Habitue-se a utilizar o princípio do "Aqui e Agora". Sabendo-
-sellers sobre as regras de um bom relacionamento humano, que, apesar de
-se que os auditórios se interessam por eles mesmos e pelo
-

publicadas nas décadas de 40 e 50, ainda hoje são atuais (por exemplo, Como
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que fazem, estes constituem como que uma fonte, para deles fazer Amigos e Influenciar Pessoas, 2011, Lua de Papel). Foi consultor de grandes
empresas americanas e conselheiro de vários líderes mundiais.

20 21
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

12. Sempre que possível fale de pé, além de demonstrar um saber qual o objetivo da intervenção e para que público é que se vai
maior à-vontade, pode respirar melhor e abranger com o falar-e que são:
olhar toda a plateia.
B Estudar o tema, recolhendo os elementos necessários,
A segunda situação prende-se com o facto de saber com antece­ com vista a encarar as eventuais diferentes opiniões que o
dência que irá ter de falar em público, o que lhe permitirá preparar assunto suscitar. É importante coligir argumentos e factos
algumas notas ou apontamentos. mensuráveis, verificáveis e irrefutáveis, sobretudo quando o
tema a tratar possa revelar-se polémico;
É perfeitamente aceite, hoje em dia, que um orador leia os seus B A escolha dos meios auxiliares de apresentação adequados,
apontamentos, seja em palestras, em conferências ou em seminários. como quadros, gráficos e vídeos, deve ser encarada logo de
Aliás, nenhuma plateia estará à espera que alguém fale durante uma início, e a sua apresentação cronometrada (sobretudo os
ou duas horas, sem quaisquer notas ou textos de apoio. vídeos), para não ultrapassar o tempo que lhe foi concedido
para a sua intervenção;
Convirá, no entanto, referir que mesmo a ser lido, um discurso tem
a Depois de selecionar e delimitar o assunto da exposição,
de ser minimamente preparado e ensaiado primeiro. Causa sempre
terá de fazer um esboço sumário de plano. Neste esboço
uma péssima impressão um orador que se limita apenas a ler os
são anotadas as ideias principais que pretender abordar,
seus apontamentos do princípio ao fim, sem nunca levantar os olhos
e, seguidamente, estas são classificadas por ordem de
do papel, num tom monocórdico. Não se deve perder de vista que,
importância. As ideias secundárias serão introduzidas no
pelo facto de haver apontamentos, não se trata de uma leitura em
seguimento de cada ideia principal, e para cada ideia serão
voz alta, mas sim de falar para um determinado público, utilizando
anotados todos os elementos que possam servir para ilustrar,
a ajuda de uns textos de apoio.
provar e explicar cada afirmação (como recortes de jornais,
diapositivos, gráficos, etc.);
A dezena de dicas anteriormente citadas para uma intervenção de
B A partir do esboço é elaborado o texto definitivo, dividido
improviso, podem também aplicar-se ao discurso preparado.
em três partes: uma introdução, um desenvolvimento e uma
conclusão. É recomendável que escolha um título apropriado,
Também aqui há que manter um contacto visual com a audiência,
levantando os olhos do papel tanto tempo quanto possível, aprovei­ curto e sugestivo, que deverá resumir a ideia principal que se
pretenda inculcar no auditório.
tando, para tal, a pontuação do texto.
A introdução deve prender logo a atenção e despertar a curiosidade,
Haverá também que dar uma ênfase e uma entoação entusiástica ao ou, como disse no início deste capítulo "agarrar o auditório pelos
que se está a dizer, justamente para tentar evitar que se assemelhe colarinhos". É esta a altura ideal para se contar uma história vivida,
a uma leitura em voz alta. Só assim conseguirá captar e manter a relatar um facto chocante, fazer uma citação impressionante ou,
Edições Técnicas

atenção do seu auditório até ao final da sua intervenção. simplesmente, fazer uma pergunta sem esperar resposta.

Para o discurso preparado existem igualmente umas preciosas reco­ Pode-se fazer tudo isso, mas com a devida rapidez para que o público fique
mendações básicas, adaptáveis a qualquer situação - depois de se
-

preso o mais depressa possível, pois não há nada que desmotive mais
LI DEL

22 23
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

do que um orador que, ao fim de uma dezena de minutos, ainda está na após a qual a sessão é dada por terminada com as habituais frases
introdução e não deu a entender para onde quer levar o seu auditório. de fecho e de agradecimentos.

Outra coisa a evitar a todo o custo é o pedido de desculpas gratuito, Uma última recomendação: a menos que estejam previstos outros
quer para invocar o desconhecimento da matéria ou os escassos oradores depois de si, não abandone apressadamente o palco no
dotes oratórios, ou ainda o facto de não dominar bem uma língua fim da sua intervenção, como quem está a fugir do auditório com
estrangeira, caso esteja a falar noutro idioma para pessoas de outras medo que lhe façam perguntas. Deixe as pessoas começarem a
nacionalidades. No primeiro caso porque, quem não tem uns bons levantar-se, e, se necessário, demore-se um pouco mais, fingindo,
conhecimentos do assunto não deve fazer palestras ou discursos; no por exemplo, que está a arrumar os seus papéis. É muito natural que
segundo e no terceiro, a ser verdade, o público depressa o notará alguns dos seus ouvintes venham abordá-lo nessa altura, quer seja
por si mesmo. Se for inexato, o orador fará prova de falsa modéstia, para lhe dar em os parabéns, ou para lhe colocarem alguma dúvida
o que em qualquer dos casos será sempre desvantajoso. ou simplesmente para se apresentarem e deixarem-lhe o seu cartão
de visita. Este é normalmente um bom momento para aproveitar
No desenvolvimento, que constitui a parte essencial da interven­ e fazer networking, conforme se poderá verificar mais adiante no
ção, devem-se colocar as ideias-força de forma clara e ordenada, Capítulo 7.
ilustrando-as nos momentos apropriados com exemplos e, se
necessário, com ajudas visuais ou audiovisuais. Devemos ter em
mente que o público gosta de intervenções dinâmicas e de fácil
compreensão, por mais complexo que seja o assunto.

Por outro lado, é preciso humanizar uma palestra, personalizá-la


citando nomes, empregar palavras familiares, concretas, que criem
imagens. Só assim se conseguirá que um auditório fique "hipnotizado"
e seduzido.

A conclusão é uma parte importante, que tendemos muitas vezes a


descuidar, apesar de ser ela quem normalmente fica mais tempo na
cabeça dos ouvintes. Deve resumir os pontos principais do discurso,
repetindo em poucas palavras o que já foi dito e terminar anunciando
o fim da sua alocução. Tal como na introdução, é conveniente prender
de imediato a atenção, sendo imprescindível ter uma boa frase de
- Edições Técnicas

fecho, que tanto pode ser um provérbio, uma citação ou uma per­
gunta polémica que se deixará propositadamente em aberto,

Na reta final de uma palestra, de um seminário ou de uma confe­


© LIDEL

rência, segue-se normalmente uma fase de perguntas e respostas,

24 25
Co rn u n: ca ção i n 1:e r pessoa!

O cérebro primitivo atribui uma maior importância ao início e ao fim


Comunicação no Neuromarketing de qualquer forma de Comunicação, seja um telefonema, um e-mail,
uma apresentação pública, um discurso, etc.... São as duas alturas
em que está mais alerta, num processo de Comunicação, relegando
para um segundo plano o estádio intermédio. Se quisermos influ­
A recente técnica do Neuromarketing assenta basicamente nas enciar o cérebro primitivo, devemos dar mais atenção ao início e
decisões do "cérebro primitivo". Em todas as obras e estudos exis­ ao fim das nossas diversas formas de comunicar, e colocar aí toda a
tentes, podemos confirmar os últimos avanços das neurociências, ênfase possível. Constatamos que, no nosso dia a dia, sucede muitas
que mostram que o nosso cérebro, para além de se dividir nos vezes o contrário quando, por exemplo, um vendedor nos faz uma
hemisférios esquerdo e direito, subdivide-se em três partes ou apresentação de serviços onde descurou a introdução e a conclusão,
>
camadas. ou quando frequentamos um curso ou seminário em que o orador
coloca o assunto mais importante no meio da sua palestra e termina
Cada uma destas partes funciona como um órgão autónomo, com de maneira muito "pobre". Não só, não retivemos grande parte da
funções distintas, embora comunique permanentemente com as mensagem, como, normalmente, perdemos o interesse logo após
outras partes. Um pouco como se fossem três computadores sobre­ os minutos iniciais.
postos, com funções distintas, mas interligados.
Não me recordo de quem é a frase, mas vem a propósito, acerca da
É assim que no Neuromarketing se considera: regra de ouro a regra de ouro do discurso, onde se faz referência ao
princípio, meio e fim, relativamente à forma clássica de Introdução,
■ O cérebro racional (ou superior), que pensa e processa os
Desenvolvimento e Conclusão: "Diz o que vais dizer, di-lo, diz que
dados racionais;
o disseste, pois só assim as pessoas se manterão atentas e com­
M O cérebro intuitivo (ou intermediário), que sente e coordena
preenderão mais facilmente o que lhes estás a transmitir".
as emoções e os sentimentos;
m E o cérebro primitivo (ou reptiliano), que é o que decide com Relativamente à "visão de conjunto", trata-se de um outro elemento
base nos instintos e na informação proveniente dos outros que deve ser potenciado para estimular o cérebro primitivo.
dois tipos de cérebro.

Em resumo, a tomada das nossas decisões é totalmente controlada O cérebro primitivo possui a capacidade inata de abarcar, por si só,
pelo nosso cérebro primitivo. Em consequência, e no que respeita todo um contexto.
à Comunicação, é ao cérebro primitivo que a mensagem tem de se
dirigir em primeiro lugar. O bom comunicador só terá de saber facilitar essa visão de conjunto,
para conseguir o impacto pretendido na parte específica e mais
- Edições Técnicas

De entre os diversos estímulos que produzem um impacto muito importante da sua mensagem.
forte no cérebro primitivo citarei apenas os dois que me parecem,
mais importantes, devido à limitação de espaço destes capítulos. São Na Publicidade, há muito que são utilizados, por exemplo, os anúncios
eles o par "início/fim" e "visão de conjunto". "antes e depois" ou "com ou sem" um determinado produto, e que
LIDEL

de imediato dão essa visão alargada das vantagens do dito produto,


© seja para perder peso, contra a calvície, antirrugas, etc. ...

26 27
Ferramentas de Comunicação para Gestores

A 'Visão de conjunto" atua no cérebro primitivo em perfeita sintonia


com o estímulo "início/fim" e complementam-se totalmente. A Praga das Reuniões Inúteis

No Neuromarketing, a par de outros elementos também eles impor­


tantes, estes dois estímulos conjugados permitem alcançar metas
até aqui inimagináveis. É um dado adquirido que, no universo empresarial, passamos cada
vez mais tempo em reuniões. Sejam elas frente a frente, sentados
ü a uma mesa, ao telefone em conference call ou através de video­
-------------------------------------------------------------------------------------------------------- - ■ ■ conferência, a verdade é que o tempo que passamos a negociar, a
Voltando ao ditado de que “uma imagem vale por mil palavras”, informar, a planear ou a discutir determinados assuntos, tem vindo
deixo-vos com este pequeno texto, que exemplifica e permite a aumentar de ano para ano no mundo inteiro.
visualizar melhor a conjugação destes dois estímulos.
De aorcdo com a peqsiusa Ora, em termos de valor-tempo, uma reunião de grupo pode sair
cara à empresa. E quanto maior for a sua duração e o número de
De uma uinrvesriddae ignlsea,
participantes, mais elevado será o seu custo.
não ipomtra qaul a odrem em que as
Iteras de uma plravaa etãso. Basta, para tal, fazer as contas ao vencimento médio por hora de cada
participante, multiplicar pelo número de participantes e pelo tempo
A úncia csioa iprotmatne é que
gasto na reunião para se ter uma ideia aproximada. E isto sem con­
a piremria e útmlia Iteras etejasm tar com o tempo passado a preparar a própria intervenção nessa
no Igaur crteo. O rseto pdoe ser reunião.
uma msiruta ttaol, que pdoe ler sem pobrlmea.
E se multiplicar esse valor pelo número de reuniões mensais que
Itso é poqrue o nsoso crébero efetuar, verificará que esses custos podem, por vezes, revelar-se
pirtimivo tem uma vsião de cjontuno e não lê astronómicos.
cdaa Itera isladoa, mas a plravaa
Não quero dizer com isto que as reuniões não são necessárias ou
cmoo um tdoo.
que devam ser banidas do nosso quotidiano. Antes pelo contrário, até
hoje o ser humano ainda não encontrou melhor forma de comunicar
e de trocar informações com os seus pares, que não seja reunindo
todos os interessados à volta de uma mesa. Neste capítulo pretendo
Edições Técnicas

apenas alertar para os dois principais aspetos negativos ligados a este


assunto: o excesso e a impreparação.

No primeiro caso, é frequente verificar-se que, por tudo e por


-
LI DEL

nada, se convocam desnecessariamente reuniões, quando para o


© assunto a tratar (ou a mensagem a transmitir) se poderia muito

28 29
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação interpessoal

bem ter recorrido a outros meios (uma nota interna, um e-mait, um Na mesma linha, após a reunião, fazer o respetivo follow-up
telefonema, etc. ...). Esta tendência acaba por provocar inevitavel­ com a entrega das atas e distribuição das tarefas;
mente um excesso de reuniões, que, pela sua banalização, se irá refle­ ■ Reduzir o número de participantes ao mínimo necessário,
tir de forma prejudicial no normal funcionamento da empresa. convocando apenas as pessoas que forem consideradas
imprescindíveis para o tema a debater, ou que, pelos cargos
O segundo aspeto tem a ver com a falta de preparação da reunião, que ocupam, têm a obrigação de estar presentes;
em que os participantes desconhecem previamente a agenda, os
■ Reduzir o tempo da reunião, dentro do que for possível, através
objetivos, a duração, quem serão os outros participantes, etc. ... E
de uma maior assertividade e de uma boa gestão do tempo
finda esta, não está claro o tipo defollow-up que se espera de cada
de intervenção de cada participante. Para tal, cada pessoa
um deles, nomeadamente sobre o que tem de ser feito, quem o irá
deverá saber, à partida, as horas de início e de fim, bem como
fazer e de que prazos se dispõe para tal. Escusado será dizer, que
o tempo médio de que cada um poderá dispor para intervir.
uma reunião deste tipo (que em Portugal é mais frequente do que
se pode imaginar) estará, à partida, condenada ao fracasso. Só desta forma se poderá assegurar que as reuniões não sejam uma
perda de tempo, e que sejam sinónimo de criatividade, produtividade
Porque muito se escreveu sobre a forma de organizar reuniões produ­ e de bom trabalho em equipa.
tivas, não me vou alongar sobre esse assunto em particular, pois existe
muita bibliografia, a Internet está repleta de sites e dicas, e o tema é A terminar, e por estar em sintonia com o que anteriormente mencio­
abordado amiúde em todas as revistas de economia e gestão. nei, achei oportuno transcrever parte de um texto, publicado no meu
livro Comunicação Empresarial8, sobre a condução de reuniões.
Vou apenas referir os quatro aspetos principais que qualquer decisor
deverá ter em conta, no que respeita à gestão das reuniões, numa "Ao desejar convocar uma reunião, seja ela qual for, dever-se-ão
ótica de pura rentabilidade empresarial. Não me estou a referir, evi­ previamente ter em mente os seguintes aspetos:
dentemente, às reuniões informais ou restritas a três ou quatro pes­ a) Marcar sempre com bastante antecedência o momento e o local
soas, onde a amostra é, de um modo geral, distendida, mas a outras da reunião, a fim de todos os participantes se poderem "libertar"
de maior relevância (uma negociação importante, uma assembleia de outros afazeres. Excetuando-se, obviamente, os casos das
geral, um encontro anual de vendas, etc.) com um grande número reuniões ad hoc ou de emergência que têm de ser convocadas
de participantes, onde competirá ao gestor assumir a direção e em cima da hora (numa situação de crise, por exemplo);
condução destas.
b) Indicar claramente o tempo previsto de duração, isso evitará
■ Limitar o número de reuniões ao estritamente necessário, que algumas pessoas se alonguem demais durante as suas
ou, por outras palavras, verificar se a reunião é mesmo intervenções, além de permitir programar as agendas a
imprescindível para o assunto a tratar;
Edições Técnicas

partir da hora prevista para fim da sessão;


■ Preparar prévia e atempadamente a reunião, estabelecendo
o objetivo (quais as decisões a tomar), organizando uma
agenda, a ser enviada com antecedência aos participantes
-
LI DEL

com os tópicos a debater, hora de início, duração e local.


8 LAMPREIA, J. Martins (1998) - Comunicação Empresarial, Texto Editora, Colecção
© Textos de Gestão, Lisboa.

31
Ferramentas de Comunicação para Gestores

c) Informar da ordem de trabalhos, circunscrevendo, assim,


reuniões apenas aos assuntos que se pretende que sejam Networking na Gestão
discutidos naquele momento;

d) Indicar quem serão os participantes Nada mais desagradável


do que ir para uma reunião sem saber quem, nem quantos
Em termos de relações humanas, tanto na esfera empresarial como
mais irão estar presentes.
na esfera política, o Networking é, sem dúvida, uma das mais efi­
Desta forma, assegura-se logo à partida que todos os partici­ cientes ferramentas da comunicação informal.
pantes fiquem a saber com antecedência a hora, o local, a
duração, os assuntos que vão ser tratados e as pessoas com Até há umas duas dezenas de anos a esta parte, admirava-me sem­
quem vão ter a reunião, permitindo ao gestor controlar a pre pelo facto de certas figuras públicas - fossem elas CEO (chief
situação desde o início". executive officer), políticos, intelectuais e outras individualidades
e) Cerca de dez minutos antes da hora prevista para o fim da - conseguirem estar presentes em quase todos os acontecimentos
reunião, é recomendável que se faça um pré-aviso, a fim de relevantes do momento. Apesar de terem agendas sobrecarregadas
acelerar eventuais questões pendentes. -arranjavam sempre forma de aparecer em congressos, seminários,
palestras, funerais, casamentos, vernissages, exposições, receções,
f) Durante a reunião, será necessário que algum dos presentes
inaugurações e outros tantos eventos de vária ordem. É facto que
(ou umaassistentejtomenotasafimdesepoderelaboraruma
nunca se demoravam muito tempo por lá, e raramente ficavam
ata que será distribuída posteriormente aos participantes,
até ao fim, mas, mesmo assim, achava curiosa esta permanente
no prazo máximo de 24 horas. Para além dos assuntos que
disponibilidade em pessoas com dias ultrapreenchidos de compro­
foram discutidos, nesse documento deve constar a data, hora
missos profissionais.
de início e de fim, local, nomes dos presentes e ausentes e,
sobretudo, as conclusões a que se chegou e as futuras ações
Cheguei a considerar que se poderia tratar de um fútil desejo de
que se irão desencadear a partir daí.
protagonismo gratuito (sobretudo quando os ditos acontecimentos
Estes aspetos poderão parecer demasiado óbvios, mas não se con­ tinham cobertura mediática), ou que teriam conservado alguma
tabilizam as reuniões (às vezes de extrema importância) em que não remota costela de bon vivants, levando-os a deixar os seus afazeres
foram tomados em conta e que, por isso, tiveram de ser adiadas ou profissionais em troca de uns prazerosos momentos de descontração.
repetidas. Umas porque as pessoas não puderam comparecer por Mas dado conhecer pessoalmente muitos deles, e o facto de não
terem sido avisadas em cima da hora; outras porque não sabiam o encaixarem em nenhuma destas categorias, aumentava ainda mais
que ia ser tratado e não iam devidamente preparadas; outras, ainda, a minha perplexidade.
porque não faziam ideia com quem se iriam reunir, ou porque pen­
Edições Técnicas

savam que se tratava de uma reunião de 15 minutos quando esta Até que ouvi falar pela primeira vez em Networking.
estava prevista para duas horas. Ter em conta estes aspetos básicos
é a forma mais simples e eficaz de evitar os pequenos percalços ini­
ciais, e, como referi no próprio título deste capítulo, não deixar que
-
LI DEL

as reuniões inúteis se tornem uma praga.


©

32 33
Ferramentas de Comunicação para Gestores Co m u f i i ca ç ã o I n t e r p e s s o a I

|ffcX£MPLO--------------------- -------------------- -------------------------------------------------------


rede de conhecimentos e de influências, com vista a poderem ajudar
Fiquei finalmente esclarecido numa das minhas deslocações de os outros e, mutuamente, a pedirem favores para si mesmos.
trabalho a Washington* em que o meu colega americano me
informou de que, no fim desse dia, estávamos convidados para Tom Wolfe referia-se, já nessa altura, a nada mais nada menos do
um cocktail numa embaixada. Pessoalmente sou pouco dado a que ao Networking - só que na época talvez ainda não tivesse sido
receções, festas e cocktails, e, ainda por cima, com o volume de
batizado dessa maneira. E hoje, entendo perfeitamente porque
trabalho que tínhamos de tratar para o dia seguinte. Questionei-o
muitas individualidades, em todos os países ocidentais, largam a sua
timidamente se isso era prioritário, “Claro” retorquiu “temos de
fazer o nosso Networking! Nem que para isso seja preciso atrasar rotina diária para participarem em acontecimentos dos mais diversos,
outras tarefas”. para praticarem assiduamente modalidades como o golfe, o bridge
ou, simplesmente, frequentarem health clubs de renome.
Explicou-me que nestas receções (mesmo tratando-se, como
neste caso, de um obscuro país do terceiro mundo que tive j
Dez recomendações para um Networking efetivo
dificuldade em localizar no mapa) os contactos informais que
se estabelecem são preciosos para, mais tarde, ajudarem a abrir j !. Pratique - Fazer Networking é um pouco como aprender a
portas, podendo assim facilitar muitos dos seus negócios. conduzir. Ao princípio tudo impressiona e parece complicado,
Conforme pude verificar depois no terreno, o meu colega era j mas com a prática as coisas fluem naturalmente e passa a
realmente um mestre na arte do Networking, tendo conseguido j fazê-las de forma relaxada e instintiva. Só mesmo praticando
naquelas duas horas conversar com uma boa dúzia de pessoas, é que conseguirá atuar com naturalidade em qualquer
a maioria, até ali, desconhecidas. No regresso ao escritório ambiente em que se encontre.
explicou-me com ar triunfante, exibindo o monte de cartões
de visita que tinha conseguido obter, que aquele esforço de 2. Vá acompanhado - Na medida do possível, leve sempre uma
nada iria valer, se não fizesse, logo no dia seguinte, o respetivo j companhia (colega, amigo, amiga, namorada ou cônjuge).
follow-up. Referia-se a telefonar, enviar um fax (o e-mail ainda Ajuda a preencher os tempos mortos em que não está a
estava pouco disseminado na altura) ou escrever uma carta, j conversar com outras pessoas, para além de se tornar mais
consoante o tipo de destinatário, a propor uma reunião ou um j fácil iniciar os contactos com desconhecidos.
encontro informal para almoçar ou tomar uma bebida, a fim
de conversar mais em detalhe sobre os assuntos que foram 3. Cartões de visita - Leve-os em quantidade, para os poder
abordados durante a receção. distribuir sem reservas nem constrangimentos. Nada mais
aborrecido do que a situação em que o nosso interlocutor
Fiquei admirado com o seu profissionalismo e, ao mesmo tempo,
nos entrega o seu cartão, e em que temos de responder
esclarecido quanto à importância do Networking na condução
dos negócios. "desculpe mas acabaram-se os meus ..."

4. Memorize os novos contactos - Depois de se ter despedido


do seu interlocutor, anote discretamente no verso do cartão
Edições Técnicas

de visita (se tiver boa memória, o melhor será tratar disso


Lembrei-me, entretanto, que já tinha lido na Fogueira das Vai­
quando chegar a casa) quais os seus interesses, do que
dades, de Tom Wolfe, uma referência ao "Banco dos Favores" (um
falaram, e outros aspetos específicos da pessoa, para além,
conceito retomado mais recentemente por Paulo Coelho, no seu
-

naturalmente, da data do encontro. Se não fizer isso, é bem


LiDEL

livro O Zahir). O trecho retratava as pessoas que, através da sua


provável que daqui a uns três meses já nem se lembre de
participação em eventos diversos, aproveitavam para alargar a sua
quem é essa pessoa, nem quando nem onde a encontrou.

34 35
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

5. Tenha objetivos concretos- Não faça Networking apenas pelo o reiterar do prazer que teve em conhecer a pessoa, fazem
prazer de estar num evento. Tenha sempre como objetivo a normalmente maravilhas e abrem as portas para lhes poder
possível ligação futura dos contactos que faz às estratégias enviar um convite para um evento que esteja a organizar ou
da sua área de negócio. O seu tempo é precioso e limitado, para a marcação de eventuais futuras reuniões.
e terá de ser usado com discernimento, tanto na escolha do
Ultimamente, as redes sociais, nomeadamente o Facebook, o Twitter
evento, como das pessoas com quem decidir conversar.
e o Linkedln, vieram facilitar grandemente tarefa de follow-up, ao
6. Seja pró-ativo-Tome a iniciativa de contactaras pessoas. Não permitir retornar ao contacto com as pessoas num ambiente de
espere que sejam elas a vir ter consigo. Além do mais, tente grande informalidade.
não ficar "ancorado" no mesmo local, percorra a sala (ou as
salas) e não se demore demasiado a falar com uma só pessoa
(15 a 20 minutos é o tempo médio de um primeiro contacto).

7. Não tente vender nada - E este será de certo modo a regra


de ouro. O Networking visa iniciar relações de longo prazo,
baseadas na confiança mútua entre pessoasque se encontra ram
num ambiente informal. Não é certamente o local indicado
para tentar vender, seja o que for, de forma apressada.

8. Mostre disponibilidade para ajudar - Tente ser de utilidade


para os outros, seja através da sua rede pessoal de conheci­
mentos seja através do seu "know-how", aconselhando
sobre um determinado assunto. Não só porque as pessoas
nunca mais se esquecerão de si, mas também porque é
basicamente assim que funciona o "Banco dos Favores"-
ajudar para poder e mais tarde, ser ajudado.

9. Integre-se no ambiente - Isto passa naturalmente por ir


vestido de acordo com a ocasião (nada pior do que ir de
fato escuro quando o evento é para traje de passeio ou
desportivo), comportar-se adequadamente seja através da
boa disposição (numa festa) ou mostrando-se reservado (num
funeral, ou numa cerimónia solene). Em todas as ocasiões, a
boa educação é imprescindível, bem como a conformidade
- Edições Técnicas

com eventuais regras de protocolo (se for o caso).

10. Faça o follow-up - De pouco serve acabar com um monte


de cartões de visita no final do evento, se não for dado
LIDEL

qualquer seguimento a estes novos contactos. Um simples


telefonema, e-mail, ou carta a agradecer, ou, simplesmente, ©

36 37
Comunicação Interpessoal

É o caso, por exemplo, do Lóbi, em que o profissional, que tem


Negociar Também é Comunicar de apresentar aos eleitos (deputados ou governantes) o ponto
de vista do seu cliente sobre um determinado projeto de lei, terá
de saber muito bem quais os argumentos adequados que, em ter­
mos políticos, deverá apresentar, e a forma como deverá tornar-se
Saber negociar é simultaneamente uma arte e uma técnica. E, convincente e negociá-los perante os seus interlocutores. Por isso,
pormenor importante, não se nasce bom negociador, aprende-se. Se uma das atividades próprias da área de Public Affoirs (de que o Lóbi
bem que, como em tudo, certas pessoas tenham mais jeito do que faz parte) é justamente a da estratégia negociai para dirigentes de
outras, e algumas já nascem com uma certa predisposição para tal. topo.

Talvez não nos apercebamos disso, mas a negociação é uma ativi­ Mas a arte da negociação não se esgota aí, pois desde as relações com
dade transversal a todos os setores e áreas das nossas vidas, quer os Jornalistas à Comunicação Interna, passando pela Comunicação
em termos profissionais quer pessoais. de Marketing (Consumer Relotions), é preciso possuir um certo grau
de sensibilidade para saber que argumentos apresentar, a quem, em
Na realidade, a nossa vida é uma negociação permanente. Desde que altura e de que maneira os iremos apresentar, consoante o tipo
jovens em que tentamos "negociar" com os nossos pais uma de interlocutores.
autorização para uma saída noturna, passando pelas negociações
no escritório, com o chefe, a tentar apresentar-lhe argumentos Por isso, para além do maior ou menor grau de aptidões inatas de
convincentes de que merecemos um aumento de salário - tudo cada um de nós é necessário ter formação nesta área e praticar,
assenta nesta arte e técnica de persuadir o nosso interlocutor com praticar, praticar... Há também que conhecer muito bem os princípios
os argumentos certos. básicos e as formas de aplicação destes consoante o tipo de nego­
ciação em que se está envolvido.
Sendo uma atividade tão importante ao longo das nossas vidas, só admira
que não nos seja ensinada desde pequenos, nos bancos da escola. De um modo geral, faz-se a primeira grande distinção entre negocia­
ção distributiva e integrativa. A primeira, que se tentará evitar tanto
O âmbito deste capítulo é, no entanto, menos abrangente e refere-se quanto possível, é a forma mais "básica" de negociação, onde um
apenas às negociações profissionais (entenda-se empresariais), ape­ dos intervenientes ganha proporcionalmente e sempre em função do
sar da base ser comum a qualquer tipo de situação. Qualquer gestor que o outro perde (win-loose). Já a negociação integrativa, prevê a
tem obrigatoriamente que ter algumas noções sobre esta matéria, situação de win-win onde os dois intervenientes saem a ganhar, seja
pois a maior parte do tempo que passa em reuniões, tanto internas porque se conseguiu criar um package à volta do assunto principal da
como externas, é justamente a lidar com esta componente. negociação, seja pela concessão de outros benefícios adicionais que,
Edições Técnicas

de certo modo, servem de compensação pela cedência que foi feita


Para quem, como eu, trabalha na área da Comunicação, desde cedo por entendimento a médio ou longo prazo, relativamente a futuros
aprende que a negociação é um instrumento decisivo para alcan­ negócios em carteira.
çar praticamente todos os objetivos. O sucesso em certas áreas da
-
LI DEL

Comunicação depende diretamente da boa ou má negociação que Para além disso, convém ter uma noção da sua zona própria negociai
for estabelecida. o (até onde pedir), dos pontos de resistência do adversário e conhecer

38 39
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

o ponto de equilíbrio entre ambos. Depois, é só seguir o decálogo 9. Saiba ouvir "ativamente", isto é, demonstrando ao(s) inter-
dos princípios de uma negociação vencedora. locutor(es) que está atento e que entendeu perfeitamente
o que lhe está a ser proposto. Tome sempre apontamentos
1. Prepare-se bem, obtendo o máximo de informação sobre
e, se necessário, peça para repetir o que não ficou claro ou
a outra parte, sobre os seus interesses e sobre o objeto de
que não percebeu.
negociação.
10. No caso da negociação decorrer entre duas equipas, em vez
2. Não tenha pressa, evite ter de negociar a correr por falta
de duas pessoas, deverá prever um conjunto de situações,
de tempo ou devido à agenda, pois é sabido que negociar
como sejam qual é o papel de cada elemento da sua equipa,
à pressa gera ansiedade - um sentimento a evitar a todo o
quem coordena, quem irá falar no início, quem responde aos
custo. Por outro lado, controle bem o tempo de que dispõe,
argumentos, etc. ... Além do mais é sempre bom relembrar
para não ter de apressar na reta finai, obrigando-o a "saltar
que nas negociações em grupo é muito comum recorrer-
por cima" de aspetos que poderão ser relevantes.
-se à tática good cop-bad cop (polícia bom-polícia mau, em
3. Não inicie uma negociação discutindo valores, esses são português), em que um dos elementos se mostra pouco
elementos a apresentar sempre no final, depois de se ter dialogante e frontalmente agressivo, enquanto o segundo
devidamente exposto todos os argumentos que servirão um elemento se apresenta mais aberto ao diálogo, mais
pouco como justificativos do valor que irá ser apresentado. amistoso e compreensivo, emanando dele uma empatia que
4. Por outro lado, evite sempre que possível ter de fazer a se converte em confiança.
primeira oferta, pois, dessa forma, estará a "ancorar" num E, naturalmente, a arte da negociação não se faz apenas com teoria,
determinado valor e com ele toda a sua capacidade negociai. é preciso, como já foi dito, praticar. Nas negociações importantes em
Como dizem meio a brincar os americanos: "He who offers equipa, é corrente os diversos elementos ensaiarem exaustivamente
first, loses". a sua apresentação e argumentação, fazendo o levantamento dos
5. Comece com uma proposta e uma atitude positiva, que pontos críticos e corrigindo-os antes da negociação real. Só assim se
permitam criar um clima de confiança e franqueza entre formam bons negociadores, pois, como referi no início deste texto,
as partes, e facilite a negociação. No caso oposto, evite o não se nasce bom negociador, aprende-se...
"entrar a matar", o que cria de imediato resistência na outra
parte e gera desconfiança.

6. Na sua exposição enfatize as soluções satisfatórias para ambas


as partes e procure reforçar os pontos de concordância.

7. Quando tiver de enfrentar uma negociação mais agressiva ou


"musculada", concentre-se nos problemas e não nas pessoas.
Por outras palavras, separe as pessoas dos problemas, sendo
afável com as pessoas e duro com os problemas.

8. Permita que todos falem e possam apresentar as suas ideias


e propostas, mas, por outro lado, não aceite um "não" sem
saber o porquê.

40
Comunicação Interpessoal
9

Se tivessem utilizado alguns dos parâmetros básicos de seleção,


Como Escolher uma Empresa provavelmente muitas situações deste tipo poderiam ter sido evi­
de Consultoria tadas.

Que critérios são então esses que deverão nortear a seleção/con­


Este texto aborda os principais critérios a ter em conta na seleção tratação de consultores externos?
de uma consultora na área da Comunicação, seja de Publicidade, RP,
Public Affairs, Design, etc.... No entanto, estas dicas são extensíveis Partindo do pressuposto de que já definiu o tipo de empresa a sub­
a qualquer outro setor da vida empresarial, podendo ser aplicadas contratar (em função da dimensão, orçamento disponível, etc. ...),
sempre que se pretenda fazer o outsourcing através de uma empresa uma checklist sintética deveria compreender, pelo menos, os pontos
de consultoria especializada em Gestão, Fiscalidade, Recursos Huma­ seguintes:
nos, Ambiente, etc.
■ Experiência:

O recurso à terciarização, isto é, à entrega de uma determinada área - Há quantos anos trabalham neste ramo de negócios?
a uma entidade exterior, é um processo cada vez mais frequente nos - Constituem uma referência na sua área de atividade?
países industrializados. Permite, por um lado, trabalhar com pessoas - Quais são os casos de sucesso que poderão apresentar?
altamente especializadas numa área específica sem os encargos e - Quem são as pessoas que dirigem a empresa?
restrições inerentes ao pessoal efetivo. Por outro lado, e na atual
-Quantos clientes têm? Quem são? Há quanto tempo
conjuntura, é sempre mais fácil mudar de consultores, quando o
trabalham para cada um deles?
trabalho não corresponde ao que era esperado, do que dispensar
colaboradores fixos. ■ Estrutura e Reputação:
-Qual a dimensão da empresa, o seu número de co­
Mas a seleção de uma empresa de consultoria competente, idónea laboradores, a sua faturação?
e que saiba adequar-se à nossa realidade empresarial pode não se - Qual a sua missão, visão e quais os seus valores?
revelar tarefa fácil. Que o digam os responsáveis empresariais que já - Qual a sua imagem e reputação no mercado?
tiveram de passar por essa situação, e que, muitas das vezes, com­
-Que parceiros têm a nível nacional e/ou internacional?
praram de boa fé "gato por lebre".
- A que associações profissionais pertencem?
Isto acontece frequentemente, porque não houve um critério de -Aceitam dar os contactos de alguns clientes para
seleção ajustado, tendo os responsáveis resolvido escolher o con­ referências?
sultor que prometia "mundos e fundos", ou o que lhes pareceu ■ Futura Equipa de Trabalho:
Edições Técnicas

mais simpático durante a reunião de apresentação, ou ainda o que -Quem são as pessoas da equipa que irão trabalhar com a
apresentou a proposta mais barata. Terão verificado posteriormente sua empresa no dia a dia?
o seu erro, mas, entretanto, já era tarde para voltar atrás, e até
-Quem está nesse momento a apresentar os serviços
se iniciar um novo processo de contratação muitos meses foram
-

de consultoria vai integrar essa equipa? (Muitas vezes


LI DEL

passando.
©

42 43
ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

aparecem no início os diretores ou os seniores e, depois da Comunicação, nomeadamente da Publicidade, é costume as


do acordo assinado, a conta é entregue a juniores ou agências fazerem algum alarde dos prémios que ganharam. Pes­
estagiários.); soalmente não dou grande importância a esses factos - quando
-Têm experiência no setor de atividade da sua empresa? se trata de selecionar uma futura consultora é irrelevante saber
se esta foi considerada a agência do ano, a mais criativa, a que
- Há quanto tempo trabalham nessa consultora?
mais cresceu, ou outra distinção qualquer deste tipo, ÍMão que os
- Quem será o responsável dessa equipa? Quem será o elo de prémios alcançados não confiram algum prestígio à consultora em
ligação permanente entre a consultora e a sua empresa? questão, só que destinam-se mais ao seu ego do que propriamente
■ Contratação e Formas de Colaboração: ao benefício do cliente.
-Será assinado um contrato de prestação de serviço ou,
pelo menos, uma carta-acordo com os direitos e deveres É também recomendado que a primeira reunião seja feita na sua
de ambas as partes? empresa (no seu território), o que servirá para observar discreta­
-Haverá algum possível conflito de interesses? (Caso a mente o à-vontade das pessoas em casa alheia. Mas a segunda
consultora trabalhe ou pense vir a trabalhar para um reunião deverá ter lugar nas instalações da consultora, o que per­
concorrente seu.); mitirá ajuizar o ambiente de trabalho, a dimensão, a organização,
etc....
-Como serão medidos os resultados?
- Haverá relatórios periódicos? Com que periodicidade? Com as facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias é
-Como será feita a faturação? Em que base? Com que relativamente fácil, nos dias de hoje, saber alguma coisa mais
periodicidade? sobre a consultora e as pessoas que nela trabalham. Basta
■ Relacionamento Pessoal: "googlar" o nome da empresa em questão e dos seus respon­
-Sente-se confortável a lidar com as pessoas da consultora sáveis, ou procurar nas redes sociais (nomeadamente no Twitter
que estão a apresentar os serviços? e Linkedln) os posts que colocaram, para se definir um perfil dos
elementos em questão.
- Imagina-se a trabalhar com eles a longo prazo?
-As pessoas inspiram confiança? Possuem personalidades
Mas o que é importante realçar é que não bastará olhar apenas
compatíveis com as nossas?
para todos estes indicadores para tomar uma correta decisão final.
Reconheço que estes últimos aspetos são muito subjetivos, mas É preciso usar de um pouco de bom senso e ter também aquela dose
se não se estabelecer à partida um clima de empatia (os ingleses mínima de argúcia para saber ler nas entrelinhas.
falam em "química") logo de início, pode acontecer que as relações
de confiança a estabelecer no futuro sejam algo difíceis. O número de empregados ou o número de clientes podem não
Edições Técnicas

representar dados relevantes quando analisados isoladamente, mas


Estes são, de certo modo, os indicadores "clássicos" que têm há todo um conjunto de rácios que é necessário saber interpretar
servido desde há várias décadas para orientar a contratação de para se fazer uma avaliação mais precisa. Veja-se o exemplo dado
uma empresa de consultoria. É claro que existem outros aspe­ a seguir.
tos que se podem também ter em conta. Por exemplo, na área Q

44
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Interpessoal

:xemplo ----—-------------------------------------------------------------------- tratem de clientes "minúsculos" que ocupam poucas horas mensais
O número de empregados versus o número de clientes de pessoal. Mas será esse o seu futuro caso? Revê a sua empresa
nessa situação? Se a sua resposta for afirmativa, então não haverá
Suponhamos que uma empresa candidata a ser selecionada indica problema; caso contrário será melhor ponderar a sua decisão de
que tem 30 colaboradores efetivos a tempo inteiro (os colabo­ escolha, pois talvez essa empresa de consultoria não seja a mais
radores externos ou em part-time não contam) e apenas cinco adequada para si.
clientes. O que poderia parecer um ótimo negócio a priori - uma
média de seis colaboradores em exclusividade para cada cliente
- pode ser passível de outras leituras menos otimistas: E o mesmo exercício se pode fazer com os rácios dos outros elemen­
tos, até se obter um resultado que não seja incongruente. Se, por
■ Ou esses cinco clientes dispõem de orçamentos tão
avultados que justificam plenamente essa média de exemplo, a consultora estiver no mercado há 20 anos (ou 25 ou 30),
seis para um (o que será relativamente fácil de calcular sem dúvida que esse aspeto constitui um trunfo e uma boa referência
conhecendo a faturação anual). Mas aqui atenção! em termos de experiência. Mas, por outro lado, também pode acon­
Porque se no seu caso não dispuser também de um tecer que tenha "cristalizado" no tempo e não tenha acompanhado
orçamento avultado, arrisca-se a ser tratado como os progressos das últimas décadas. Na área da Comunicação, seria
cliente de segunda classe; aconselhável verificar se oferecem, por exemplo, serviços na área das
■ Ou, então, a empresa de consultoria é muito mal Novas Tecnologias. Se um consultor não acompanhou os progressos
gerida (seis consultores permanentes para um cliente é da Internet, e não souber colocar ao serviço do cliente os websites,
enorme), não é rentável e terá muito em breve alguns os blogues e as redes sociais, então é porque parou no tempo. E,
problemas de tesouraria; provavelmente continua a fazer o mesmo tipo de trabalho como há
■ Ou, em última análise, a empresa candidata está a faltar 20 ou 30 anos atrás, utilizando os mesmos processos, métodos e
à verdade, no número de empregados seja no número
suportes. Nesse caso, a antiguidade no mercado passa a funcionar
de clientes, isto é, na faturação anual, o que, de qualquer
como uma desvantagem, em comparação com uma consultora mais
maneira, não abona muito a seu favor.
jovem que, apesar dos seus poucos anos de experiência, domina
perfeitamente as novas formas de Comunicação.
Já agora, e apenas para servir de bitola ao que foi dito, esclareço que
A limitação de espaço não me permite abordar todas estas possi­
o rácio de um consultor para dois clientes é perfeitamente aceitável,
bilidades exaustivamente, mas o objetivo deste capítulo era apenas
em qualquer das áreas de atividade, em condições normais, mesmo
transmitir a ideia de que não basta seguir uma checklist para fazer um
que trabalhem em equipa, dispensando algumas horas por dia para
outsourcing, é necessário também saber cruzar os dados e... usar a
cada cliente.
cabeça. Isto, para não ter uma surpresa desagradável mais tarde...
No entanto, e pegando no mesmo exemplo, o panorama oposto
Edições Técnicas

também pode ser alvo de variadas interpretações. Imagine


que a empresa candidata anuncia, por exemplo, que tem cinco
colaboradores efetivos e 30 clientes. Aqui a dúvida que deverá
-

colocar a si mesmo, é exatamente a inversa. Como é que cinco


LI D EL

funcionários podem dar atenção a 30 clientes? A menos que se

46 47
Comunicação
Empresarial
Comunicação Empresarial

Mas, por outro lado, de pouco adianta investir em Comunicação,


Comunicação Institucional se o nosso "produto final" (ou seja, a empresa em si mesma), não
for minimamente aceitável. Isto é, se a boa imagem que a empresa
pretender transmitir não corresponder em nada à realidade empre­
sarial, constituirá uma pura perda de tempo, de dinheiro e de ener­
Por ser transversal a toda a estrutura da instituição e abranger todos gia investir neste tipo de Comunicação - o que nos leva a analisar
os seus setores em simultâneo, a Comunicação Institucional também esta questão um pouco a montante, no rácio Imagem/Realidade.
chamada de Comunicação Corporativa ou Empresarial (ou Corporote,
na gíria) constitui uma das mais importantes ferramentas de gestão. Para simplificar, digamos que se podem considerar três situações
de base:
Com a atual crescente tendência generalizada para a globalização, a a Quando a imagem que se pretende veicular é superior à
sua importância aumentou consideravelmente no seio das organiza­ realidade do universo empresarial (l>R);
ções nestas duas últimas décadas.
m Quando essa imagem é idêntica a realidade (l=R);

Na nossa sociedade de consumo, se atentarmos ao facto de que ■ Quando a imagem é inferior à realidade (l<R).
tanto os produtos como os serviços são cada vez mais parecidos, por No primeiro caso (l>R) estaremos perante um problema de orga­
vezes, a melhor forma de uma empresa se poder distinguir dos seus nização, onde a prioridade deverá ir para a resolução das assime­
concorrentes, marcando a diferença, é através da identificação da sua trias e não tanto para a Comunicação. Esta situação é bastante
origem. Adquirimos o produto A ou preferimos o serviço B, porque frequente, e já nos aconteceu a todos ter uma boa imagem de
sabemos que a montante (isto é, na sua origem) está a empresa X uma instituição que, depois de melhor analisada (ao visitá-la, ao
ou Y, na qual depositamos inteira confiança, devido à boa imagem e comprar o seu produto ou a utilizar os seus serviços, etc.), se veri­
reputação que ela nos transmitiu. fica não corresponder em nada à sua verdadeira "personalidade"
empresarial. Tanto a imagem como a reputação, estão, neste caso,
Contudo, uma boa imagem não nasce espontaneamente nem é fruto do muito acima da realidade, e é natural sentirmo-nos por isso como
acaso, tem sempre subjacentes bons programas de Comunicação Insti­ que defraudados.
tucional, através dos quais essa imagem foi devidamente veiculada.
No segundo caso (l=R) estaremos numa situação de equilíbrio,
Apesar de já se tratar de uma tendência atual, posso adiantar sem receio havendo uma certa correspondência (que nunca chega a ser total)
de exageros que, no futuro próximo, o sucesso de qualquer empresa
dependerá exclusivamente da imagem (e, por tabela, da reputação) que
ela souber criar e veicular junto dos seus diferentes públicos-alvo. Ela
terá, portanto, de saber criar aquilo que se denomina por Capital Ima­ Recomendaria aos responsáveis empresariais, que se encontram
gem, e, numa segunda fase, terá de saber divulgá-lo adequadamente. neste tipo de situação, que é fácil de detetar através de
uma auditoria de imagem (ou até, por vezes, de um simples
inquérito), para não desperdiçarem recursos em Comunicação
E esse precioso Capital Imagem só poderá ser acumulado e difundido
Institucional enquanto não conseguirem resolver primeiro esta
através de um adequado investimento em campanhas de Comuni­
discrepância.
cação Institucional.

50
Ferramentas de Comunicação para Gestores

entre a realidade empresarial e a imagem que se está a divulgar. 11 ---------------------------------------------------------------------


A Importância da Estrutura
Numa situação destas, o investimento em Comunicação Empresarial,
se bem que desejável, não precisa de ser reforçado, dado que o que Corporativa
se pretende é tão somente uma campanha de manutenção.

Já no terceiro caso (l<R) estaremos perante um típico problema de Um elemento primário, a que muitas vezes não se dá a devida
falta de Comunicação, visto que a empresa é boa mas a sua imagem atenção quando se planeia uma campanha de imagem, é a Estrutura
é negativa ou inexistente. Também aqui já terá acontecido a todos Corporativa da empresa [corporate structure em inglês).
nós não termos qualquer apreço especial por uma determinada
organização ou empresa, e percebemos mais tarde que esta é uma Ora a Estrutura Corporativa (que faz parte do elemento organizacio­
referência no seu setor de atividade ou até a líder do mercado. Nestas nal na composição da imagem) é determinante tanto para o posicio­
situações justifica-se um reforçado investimento em Comunicação namento da empresa e dos seus produtos no mercado, como para a
Institucional para repor o devido equilíbrio o mais rapidamente pos­ definição das linhas de força da futura campanha, que a ela deverão
sível, e tirar, a partir daí, os respetivos dividendos. estar subordinadas.

Obviamente, este não será o único aspeto a considerar quando se Por isso, deve ser sempre um elemento a tomar em conta, antes
pensar em investir neste tipo de Comunicação, mas é certamente mesmo de iniciar o planeamento, sob pena de se infringir algumas
um dos primeiros que o gestor deverá ter em conta, sob pena de a regras básicas da Comunicação.
empresa nunca vir a atingir os seus objetivos em termos de imagem
e de reputação. Na engenharia da Comunicação costuma-se dividir a Estrutura Cor­
porativa em três categorias principais (cada uma delas com diversas
A Estrutura Corporativa (desenvolvida no capítulo seguinte) é outro variantes), que, por sua vez, dão origem a três principais tipos de
elemento determinante na definição dos vetores que servirão de identidade empresarial distintos. Assim, temos as estruturas (ou
base à futura estratégia comunicacional. identidades): Monolítica, Acoplada e por Marca.

A não observância destes dois elementos, que muitas vezes não são ■ Estrutura Monolítica: Em que a companhia utiliza um só
tomados em conta pelos próprios consultores da empresa (agên­ nome e um mesmo estilo visual para todas as componentes
cias de Publicidade ou de RP), poderá acartar alguns dissabores aos da sua estrutura. Imaginemos o caso de uma empresa
responsáveis empresariais menos atentos, nomeadamente no que estruturada em três divisões distintas, cada qual fabricando
respeita a enormes desperdícios orçamentais. um produto ou prestando um serviço diferente, mas
que utilize o mesmo nome, as mesmas cores, o mesmo
Edições Técnicas

logótipo em todas elas. Esta empresa transmitirá uma


ideia simples e centralizada de si mesma. Um exemplo de
identidade monolítica é a empresa Mitsubishi, onde por
mais diferenciados que sejam as suas atividades e produtos,
-
LI DEL

todos têm uma mesma identidade: Mitsubishi Motors,


e Mitsubishi Electric, Mitsubshi Banking, etc.

53
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

■ Estrutura Acoplada: Que também se pode designar por a interligação com as suas várias divisões (ou departamentos) será
Endossada (endorsed), verifica-se quando uma instituição, maior quando a estrutura for Monolítica, em comparação com a
possuindo diversas atividades ou divisões, ou produtos Estrutura Endossada, e muito maior ainda quando comparada com
distintos, transfere para estes o nome e a identidade do uma Estrutura por Marca.
grupo. Temos o caso da empresa General Motors, agrupan­
do as marcas Chevrolet, Pontiac, Oldsmobile, Buick, Cadillac, Por fim, nas situações de crise, em relação a um dos produtos, o
etc.; ou ainda o clássico exemplo da maioria dos laboratórios "contágio" será maior ou menor se estivermos a atuar perante uma
farmacêuticos que, de uma maneira geral, endossam sempre Estrutura Monolítica ou por Marca. Por exemplo, se a Procter &
o seu nome para cada um dos seus produtos. Por exemplo, Gamble, tiver um problema com as batatas fritas Pringles, os seus
associamos instintivamente o nome da empresa ao produto, restantes produtos, como o champô Pantene ou o detergente Tide,
como a Aspirina da Bayer, ou, no setor alimentar, o Nestum em nada ficarão afetados em termos de imagem/reputação/vendas
da Nestlé. etc. A situação será diferente com a Mitsubishi, onde, por exemplo,
■ Estrutura por Marca: Quando uma instituição opera no mer­ um defeito de fabrico nos veículos (Mitsubishi Motors) acabaria
cado através de uma série de marcas distintas, sem qualquer sempre, de uma forma ou de outra, por abalar a confiança nos outros
relação aparente entre elas, nem sequer entre estas e a setores, por associação direta com o nome.
empresa-mãe. Poroutras palavras, há umacompartimentação
total entre a empresa-mãe (corporate) e os seus diversos A importância da Estrutura Corporativa deriva do facto de se tratar
produtos/serviços, bem como entre cada um destes. A per­ da "trave mestra" da organização da empresa, com as evidentes
ceção da relação entre as marcas, por parte do público repercussões em todos os setores de atividade, nomeadamente
consumidor/utilizador, é nula. quando se trata da Comunicação.
É o caso da Procter & Gamble com a sua vasta gama de produtos
É por este motivo que, na altura da sua conceção, qualquer campanha
diversificados como o Tide, Vidal Sassoon, Old Spice, Sunny Delight,
de Comunicação Institucional terá de ter em conta a sua própria
Pringles, entre outros; ou ainda da Mars com várias marcas de choco­
estrutura empresarial e o tipo de identidade que dela decorre.
late (Twix, M&M, Bounty, etc.), de comidas para animais domésticos
(Pedigree Pal, etc.) e algumas marcas de alimentação humana como
o arroz Uncle Ben.

Tanto no planeamento de uma campanha de Comunicação Institucio­


nal, ou de Comunicação de Marketing para um dos produtos, como
em situações muito específicas da vida da empresa (numa crise, por
exemplo), estes aspetos têm de ser sempre tomados em conta. Em
- Edições Técnicas

primeiro lugar, porque é completamente distinto fazer a promoção


ou divulgação de um produto/serviço numa empresa de Estrutura por
Marca ou Monolítica, devido às interações que se podem (ou não)
gerar entre as diversas marcas. Por outro lado, quando se trata de
LI DEL

promover a imagem institucional da empresa (a nível corporativo),

54 55
Comunicação Empresarial

Como é sabido, a Imagem Empresarial assenta em vários pilares


Imprensa e Imagem Empresarial (Publicidade, comunicação, identidade visual, etc.), dos quais as
campanhas (ou ações) de imprensa são apenas uma das muitas
vertentes. Quando isoladas deste contexto, as Relações de Imprensa
pouco ou nada poderão fazer. Isto porque, em termos de Comunicação,
As chamadas relações com os Media (assessoria mediática ou, ainda, não há imagem mais volátil do que a de imprensa. É-se notícia hoje, e
relações de imprensa) nunca estiveram tão em voga no nosso país como amanhã já quase ninguém se recorda do que leu (tirando a própria pes­
atualmente, não havendo empresa ou instituição que não sonhe "ser soa ou a empresa que foi notícia). Tentem lembrar-se de meia dúzia de
notícia". A atestá-lo estão as inúmeras agências de Comunicação e RP notícias que leram num jornal, ouviram na rádio ou viram na televisão
que, sabendo aproveitar a tendência do mercado nestes últimos dez no dia anterior, e compreenderão facilmente o que quero dizer.
anos, cresceram e multiplicaram-se de forma exponencial. E também
é hoje rara a empresa ou organização, mesmo de médias dimensões, E tudo isto com a agravante de em jornalismo não se poder utilizar
que não possua na sua estrutura um departamento (ou, pelo menos, a "Lei da Repetição" como em Publicidade. Um anúncio terá nor­
uma pessoa responsável) de RP, de Comunicação, ou de Imagem para malmente menos impacto do que uma notícia, pode ser repetido
tratar especificamente dos contactos com os jornalistas. durante dias ou semanas a fio, utilizando sempre o mesmo suporte
(seja um jornal, uma revista, uma estação de rádio ou de televisão),
Do outro lado, o próprio setor da comunicação social - se bem que e veiculando sempre a mesma mensagem até conseguir chamar a
por vezes conturbado, como é agora o caso devido à crise mundial atenção e despertar o interesse do público-alvo. O mesmo não se
- nunca esteve tão florescente, basta verificar o número de revistas, passa com uma notícia (entrevista ou artigo de opinião), que só será
jornais (pagos, gratuitos e on-line), emissoras de rádio e canais de publicada uma única vez. Se for de muito interesse poder-se-à, even­
televisão que temos atualmente ao dispor, em flagrante despropor­ tualmente, através de uma pequena engenharia da Comunicação,
conseguir um "rescaldo" da notícia no dia seguinte, com algumas
ção com a população do país.
informações complementares, ou uma opinião de terceiros, e pouco
É natural que nesta conjuntura o tecido empresarial tenha apostado mais. Somente quando se tratar de um tema "candente" e de grande
fortemente nas Relações de Imprensa, nestas últimas duas décadas interesse público, que consiga mobilizar simultaneamente todos
com vista a fazer sobressair a sua imagem, num mercado cada vez os tipos de Media como rádios, diários e televisões no mesmo dia
(revistas e semanários noutros dias da semana) é que o efeito poderá
mais globalizado e competitivo.
ter sem dúvida algum impacto. Isto acontece porque neste caso se
Mas convirá não cair em exageros e repor as coisas no seu devido verifica a aplicação da "Lei da Repetição", através da utilização de
lugar porque, em boa verdade, as boas relações com os Media não meios diferenciados.
constituem, si só por, a solução para aumentar a competitividade de
uma empresa. É notória, nestes últimos anos, a tomada de consciên­ Mas convenhamos que estes casos são muito raros no contexto da
cia dos gestores portugueses em relação à importância da Imagem promoção empresarial e constituem uma exceção à regra.
Empresarial na condução dos seus negócios. O único erro que muitas
vezes têm cometido, terá sido o de terem tentado acumular um Por isso, não se devem esperar grandes milagres quando se recorre às
Capital Imagem, baseando-se apenas em campanhas de imprensa, Relações de Imprensa com os Media como única forma de melhorar
a imagem de qualquer instituição.
com o único intuito de "serem notícia".

56 57
Mas, por outro lado, se é verdade que a imprensa só por si não é
Da Comunicação Interna para o
suficiente para construir e manter a boa Imagem Empresarial, sem
Endomarketinc
ela qualquer programa ou campanha estará incompleto, e muitas
vezes votado ao fracasso. Pois, muito para além da notoriedade, o
papel fundamental da imprensa é o da credibilidade, que, melhor
do que qualquer outra técnica de Comunicação, pode conferir (ou A manter-se a atual tendência, é bem possível que a médio prazo as
retirar) a uma empresa. Relações Públicas Internas - a origem de toda a Comunicação dentro
das empresas, venham a desaparecer ou na, melhor das hipóteses, pas­
E é esse, sem dúvida, o seu grande trunfo, em comparação com as sem a fazer parte do triângulo Recursos Humanos/Marketing/RPI.
outras técnicas, nomeadamente a Publicidade, onde um anúncio nunca
conseguirá atingir o mesmo grau de credibilidade de uma notícia. Isto porque a tendência atual é para fazer migrar a Comunicação
Interna para a esfera do Endomarketing.
Não será demais relembrar que cada técnica de Comunicação tem as
suas próprias especificidades, e o segredo do sucesso reside na boa uti­ E o que é o Endomarketing? Nada mais do que uma das recentes
lização da sua complementaridade. Tentar fazer uma campanha de ima­ áreas da Gestão que visa adaptar os elementos e estratégias do
gem utilizando apenas uma das técnicas é o mesmo que um jogador de Marketing tradicional, normalmente utilizadas para a abordagem ao
golfe tentar jogar uma partida usando um só taco do princípio ao fim. mercado, para uso interno. Poderia ter sido chamado de Marketing
Interno, mas, em 1995, Saul Bekin10 cunhou o termo Endomarketing,
De realçar que esta visão do assunto só se aplica aos aspetos ditos que acabou por ser adotado universalmente.
promocionais, isto é quando o objetivo é a publicação de artigos
e notícias favoráveis, que visem a divulgação de uma boa Imagem
Empresarial. Porque num contexto desfavorável (numa situação de
crise, por exemplo), onde a empresa está a ser alvo do "fogo cerrado" O termo Endo vem do grego que significa “movimento para den­
dos Media, o resultado é justamente o oposto. tro”, e o Endomarketing é, portanto, o Marketing dirigido para
dentro da empresa, ou seja, para o seu público interno.
mmmm *- mmamnmmmmmmmm—— —---------------------- ———
Em resumo, e no que respeita à utilização das Relações de Imprensa
numa campanha de Imagem Empresarial, o que se deverá reter, Vai muito mais além do que a Comunicação Interna, cujo objetivo
fazendo aqui uma pequena análise SWOT9, é que o seu ponto fraco é manter os colaboradores informados sobre o que se passa na
é a volatilidade e o seu ponto forte a credibilidade. Termino relem­ empresa. No Endomarketing os objetivos são fortalecer as relações
brando que numa campanha de imagem as relações com os Media internas, motivar as pessoas e, sobretudo, integrar nelas a noção de
não devem ser utilizadas isoladamente, e sim em conjugação com Edições Técnicas cliente, de fornecedor e de mercado. Visa fazer com que todos os
as diferentes técnicas de Comunicação, todas elas subordinadas a funcionários tenham uma visão partilhada sobre o conjunto das áreas
uma mesma estratégia. de negócios da empresa, motivando-os para uma colaboração ativa
e participativa que permita uma maior competitividade.
-
LI DEL

9 Acrónimo composto pelas iniciais das palavras inglesas: strengths, weeknesses, 10 Saul Bekin - consultor, pesquisador e orador brasileiro especialista em Marketing,
opportunities, threats - forças, fraquezas, oportunidades, ameaças em português. criou o conceito de Endomarketing há cerca de duas décadas.

58 59
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

Não se trata propriamente de transformar cada colaborador num E todos sabemos o que acontece quando há duplicação de tarefas
"assistente de vendas" mas incutir neste(s) a noção de mercado, da ou de serviços. Um deles terá de acabar ou integrar-se na nova
posição que a empresa ocupa no mesmo, da situação do empregado estrutura, à qual ficará subordinado. E neste caso, é bem provável
no seio da organização, e do contributo que cada um deles pode dar que na maioria das empresas sejam as RPI a serem integradas no
individualmente para a consecução do objetivo global, em benefício Endomarketing, e não o contrário.
de todos.
Pessoalmente, tenho sido um ferrenho defensor das RPI, sempre
Segundo Bekin, trata-se de um processo que visa, numa ótica endógena, defendi a importância que a Comunicação Interna tem no seio das
adequar a empresa ao atendimento do mercado, tornando-se mais organizações e concordo plenamente com a antiga máxima segundo
competitiva a partir desta integração total dos seus funcionários. a qual "não há boa Comunicação Externa, sem que exista primeiro
uma boa Comunicação Interna".
Isto consegue-se incutindo neles a consciência de que todas as suas
ações, mesmo as mais insignificantes, devem orientar-se para a Mas, neste nosso mundo em acelerada transformação, e num mer­
satisfação das necessidades dos clientes. cado cada vez mais competitivo, devido à globalização, reconheço
que o Endomarketing é capaz de melhor responder aos novos
Apesar de inicialmente ter sido concebido a pensar essencialmente desafios que se colocam a qualquer gestor.
nas empresas de serviços (setor terciário), nestes últimos anos, o
Endomarketing começou a ser aplicado também na indústria (setor Daí a minha convicção do desaparecimento, a breve trecho, da área
secundário) e, pelos vistos, com bons resultados. de atividade de RPI ou, pelo menos, da sua integração e total subor­
dinação à área do Endomarketing.
Para além da área de Marketing, o Endomarketing articula-se em
permanência, como é evidente, com a área de Recursos Humanos. O futuro dirá se estas previsões se irão concretizar.
São estes que lhe fornecem os elementos para a composição das
políticas, estratégias, e planos de atuação, a partir da análise, da
formação, do comportamento e do nível de dedicação e empenho
das pessoas que compõem o público interno.

Por outro lado, serve-se das técnicas da Comunicação Interna como


forma de transmitir as suas orientações. E os meios que utiliza
são justamente os mesmos das RPI, desde as Newsletters, vídeos
institucionais, cartazes motivacionais, palestras internas, reuniões
- Edições Técnicas

periódicas, manuais de acolhimento, Intranet, até aos eventos e à


participação em atividades de Responsabilidade Social.

Porém, o problema que se antevia, e que já se está a constatar no ter­


LI D EL

reno, é o da sobreposição destas duas áreas, originando uma duplicação


dos serviços, em tudo nociva para o bom funcionamento da empresa.
©

60 61
Comunicação Empresarial

14 Passportstamp, para viagens e turismo; o Fotki, o Flickr, para os


A Presença nas Redes Sociais setores ligados à fotografia; e o DeviantArt ou o Myspace para o setor
das artes, por exemplo. Como se pode constatar, o único embaraço
será apenas o da escolha, e convirá não cair na tentação de abrir
contas aleatoriamente no maior número possível, para depois não
Quer esteja à frente duma PME (pequena e média empresa) ou de ter tempo de as "alimentar" diariamente e vê-las definhar ao fim de
um grande grupo, a presença da sua empresa nas redes sociais é, umas semanas.
hoje em dia, incontornável, para não dizer obrigatória.
Além do mais, é sempre bom recordar que a performance de uma
Em menos de uma década, as redes sociais mudaram totalmente a instituição nas redes sociais é medida pela qualidade dos seus
forma de estar no mercado, à exceção talvez (e por enquanto) das conteúdos e não pelo número de contas abertas. Pior do que não
microempresas que ainda se podem dar ao luxo de não participar estar numa das principais redes sociais, é abrir uma conta e não
neste fenómeno. atualizar em permanência os conteúdos, ou ficando longos períodos
sem fazer qualquer post.
A primeira questão que se coloca a um gestor é saber em que redes
sociais convém estar presente. É claro que, quanto maior a dimensão da Dito isto, e para simplificar, deixo dez conselhos básicos para uma
empresa, em maior número de redes sociais convirá aparecer. Relem­ boa presença em qualquer rede social.
bro, no entanto, que existem atualmente perto de umas 200, pelo que
1. Escolha participar apenas nas redes sociais que possam
está fora de questão pretender ter uma presença em todas elas.
trazer algum valor acrescentado à sua empresa.

Ainda assim, creio ser bem aceite internacionalmente que qualquer 2. Desenvolva uma estratégia de Comunicação para cada uma
média ou grande empresa tenha uma conta aberta em, pelo menos, delas individualmente, mas que, em simultâneo, se possam
três delas. complementar mutuamente.

3. Não duplique ou multiplique o mesmo post nas diversas


Refiro-me concretamente ao Linkedln, por ser a mais profissional em redes sociais; terá de abordar o mesmo assunto sobre
termos de negócios, ao Twitter, por ser a mais rápida e interativa e, ângulos diferentes, com textos diferentes.
naturalmente, ao Facebook, por se tratar da mais popular, com mil
4. Não perca de vista que o mais importante será sempre o
milhões de utilizadores no mundo, o que representa um sétimo da
conteúdo, ou seja, o que irá "postar". Se não tiver tempo para
humanidade através dela conectados.
arranjar diariamente conteúdos de qualidade, partilhe os
É claro que, se a sua empresa estiver sediada ou tiver sucursal no bons conteúdos dos seus outros contactos nas comunidades
on-line os quais até lhe ficarão agradecidos por isso.
- Edições Técnicas

Brasil ou na índia, convém abrir também uma conta adicional no


Orkut; se estiver no Japão no Mixi, e se estiver em Espanha no Tuenti, 5. Não caia em exageros de autopromoção da sua empresa,
e por aí fora... produtos ou serviços, que rapidamente se transformarão em
spam aos olhos dos seus seguidores.
LIDEL

Também o setor de atividade onde atua pode ser propício para


abertura de outras contas, como, por exemplo, o Wayne ou o

62 63
Ferramentas de Comunicação para Gestores

6. Seja interativo e responda às questões que lhe serão colocadas 15--------------------


no prazo máximo de 24 horas e com total assertividade. Se Responsabilidade Social
não tiver uma resposta aceitável para dar, mesmo depois
de ter perguntado aos especialistas, assuma que não sabe
responder, sempre é melhor do que dar respostas evasivas
ou, pior ainda, não dar qualquer resposta. No que respeita ao universo empresarial, a ideia de Responsabili­
7. Tenha cuidado com os assuntos que aborda, para além dos dade Social não será, porventura, uma novidade. Já no início da
habituais tabus sobre política e religião (e, porque não, futebol), década de 70, com a primeira tomada de consciência do conceito de
que irão de imediato criar clivagens. Não fale dos problemas Desenvolvimento Sustentável, algumas grandes empresas europeias
internos da empresa, nem de eventuais dificuldades pelas quais começaram a questionar-se sobre o modelo de gestão que tinham
esteja a passar. Não se esqueça de que o seu público interno, vindo a seguir até então.
isto é, os seus colaboradores também estão nas redes sociais, e
certamente não apreciarão saber em primeira mão, através do Aos poucos, e de forma algo tímida no princípio, a postura dos
Twitter ou Facebook, de qualquer situação que os possa afetar. gestores começou a alterar-se, demonstrando uma preocupação
crescente com a defesa e preservação do meio ambiente e, mais
8. Seja qual for o seu setor de negócios, aproveite para descobrir
tarde, com as grandes causas sociais e humanitárias. Pessoalmente,
e contactar potenciais clientes, através de uma pesquisa
considero que este período poderia muito bem ser considerado como
regular de palavras-chave relativas à sua área de atividade.
a génese da Responsabilidade Social Empresarial, também designada
9. Se tiver também uma conta pessoal em qualquer rede social, por Responsabilidade Social Corporativa.
sintonize os seus posts com os posts oficiais da conta da
empresa, para não entrar em contradições sobre as quais A partir do momento em que uma empresa toma consciência de
poderá vir a ser questionado. que a sua razão de existir e a sua missão não se situam apenas no
10. Aproveite para proceder a ações de Responsabilidade Social, plano económico (isto é, na geração de lucros), mas que tem tam­
e procurar talentos. Quanto mais a sua empresa ajudar bém uma responsabilidade em termos ambientais e sociais, estará
os outros ou oferecer oportunidades, maior o retorno em a dar os primeiros passos para se tornar uma empresa socialmente
responsável.
termos de credibilidade e de boa Imagem Empresarial.

Esta lista não é exaustiva, e em vez dez conselhos poderia conter uma
centena deles. Contudo estes aqui apresentados, baseados apenas
no bom senso, parecem-me prioritários para, como gestor, obter um
estatuto de líder nesta área e conseguir granjear a credibilidade e o Claro que o conceito como o conhecemos atualmente demorou
ainda uns bons 20 anos a amadurecer, pois só em 1995 (na cimeira
Edições Técnicas

respeito da sua comunidade on-line.


de Copenhaga) é que a UE definiu os três pilares do Desenvolvi­
mento Sustentável: económico, ambiental e social.
-
LIDEL

O lançamento do livro verde sobre a responsabilidade social das


empresas, pela Comissão Europeia em julho de 2001, marca, de certa

65
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

maneira, a "oficialização" do conceito, e abre, ao mesmo tempo, até agora, saberão que, por muitas dificuldades que os mercados
a porta de entrada à atividade de RP para este setor da Gestão estejam a atravessar neste momento, nunca deverão cortar
Empresarial. totalmente nesta atividade, mas apenas reduzi-las até aos limites
que forem considerados aceitáveis. Caso contrário, arriscam-se a
A Comissão Europeia adotou por essa altura uma definição muito perder a totalidade do Capital Imagem e goodwill que conseguiram
simples e muito clara de RSE, que considera ser "A integração volun­ acumular até agora, e a ter, um dia mais tarde, quando o ciclo
tária e a sua interação com todas as outras partes interessadas". económico negativo se inverter, que recomeçar do zero.

As RP souberam posicionar-se de imediato como o veículo privile­


giado deste conceito emergente, não tardando em formarem-se
especialistas neste subsetor da Comunicação, em todos os Estados-
-membros da UE.

O recente estudo da Europe Business Monitor, para o qual foram


entrevistados 1450 gestores europeus de topo, revela que 49% dos
entrevistados considera que a RSE é uma das principais alavancas
para melhorar a reputação e a imagem corporativa. Logo a seguir
referem que a RSE, ao solidificar a reputação, contribui também para
uma melhor proteção contra uma crise.

Pode dizer-se que a RSE é um conceito ainda recente na Europa


comunitária, e que está ainda a dar os primeiros passos em Portugal.
Eu próprio, que já estou ligado à Comunicação há mais de 30 anos,
tomei verdadeiramente consciência dele pela primeira vez em 2001,
com a publicação do referido livro verde da Comissão Europeia.

No caso português, a RSE, como tema, é ainda insuficientemente


debatido nos meios académicos e empresariais. Além do mais,
trata-se de uma matéria complexa, sobre a qual, por ser nova, não
abundam tratados, nem estudos, nem obras de especialistas. No
entanto, devemos reconhecer que algumas grandes empresas e gru­
Edições Técnicas

pos nacionais (Delta, PT, Sonae, Central de Cervejas, entre outros) já


praticam, desde há vários anos, a RSE de forma pioneira.

Com a atual crise mundial, as empresas dedicam cada vez menos


-
© LIDEL

fundos à RSE, o que, de um ponto de vista financeiro, até é natural.


Mas os gestores mais avisados, sobretudo os que investiram muito

66 67
Comunicação Empresarial

16 ------------------------------------------------------ A Inteligência Competitiva pode ser, então, definida como o conjunto de


INTELIGÊNCIA COMPETITIVA ações sistematizadas de busca, de análise e de gestão de determinado tipo
de informação, considerado de utilidade estratégica para o seu utilizador.

Em termos empresariais a Inteligência Competitiva é uma atividade


Os recentes acontecimentos do Wikileaks e de Julian Assange, seu men­ normalmente inserida na área das Relações Institucionais (ou Public
tor, vieram trazer para a ribalta os problemas da fuga de informação nas Affairs), a par do Lóbi, do B2B, da gestão das coalições, entre outros.
instituições. Estes problemas e a sua resolução inserem-se na área que
convencionalmente se passou a chamar de Inteligência Competitiva. Atividade legal, distinta da espionagem industrial ou económica, foca
a sua atenção sobre os movimentos da concorrência e as tendên­
Apesar de me considerar um ferrenho defensor da nossa cultura, cias do setor, a fim de obter informações que, utilizadas de forma
concordo que certas palavras e expressões originárias de outras lín­ adequada, produzirão um diferencial estratégico.
guas (nomeadamente do inglês) não deveriam ser traduzidas para
Possui duas vertentes: a defensiva (contra inteligência) e a proativa. A
português.
primeira dessas vertentes destina-se a evitar a fuga de informação e a
O caso da IC, a partir do inglês Competitive Intelligence, é um proteção de dados. A segunda tem por missão justamente o oposto,
isto é, a procura de informação sobre o mercado, a concorrência, os
deles.
aliados, etc., em suma, em todo o lado, ou seja, o universo onde a
Tal como não faria sentido ter-se tentado traduzir termos como empresa ou instituição se insere.
Marketing, website, ou networking, neste caso, dever-se-ia, em
minha opinião, ter mantido o termo no idioma original, a fim de se A atividade teve a sua origem no seio dos serviços de informação dos
evitar as habituais confusões de interpretação. Enquanto para nós a Estados, e transbordou para as empresas nestes últimos 20 anos, adap­
palavra "informação" é generalista, em inglês existem duas palavras tando as técnicas de base ao mercado empresarial.
distintas: Information e Intelligence. A primeira designa a informa­
ção disponível publicamente para qualquer pessoa (nos Media, na Ao inverso do que se passa em Portugal, na maioria dos países da UE,
Internet, etc.), enquanto Intelligence refere-se à procura proativa da praticamente todas as grandes empresas possuem uma unidade de
informação que não foi disseminada, e que, por isso, não está propria­ Inteligência, visando proporcionar aos gestores informação estraté­
mente ao dispor de qualquer um, sem que seja feito um determinado gica "ao minuto" sobre o que está a acontecer ou irá acontecer no
esforço na sua procura. Por outro lado, a graduação maior ou menor seu setor de atividade. Esta informação antecipada constitui para as
desse esforço foi determinante no estabelecimento dos vários níveis administrações um elemento vital, em termos de vantagem competi­
da Intelligence, que pode ir da simples monitorização do mercado tiva e de estratégia de negócios, funcionando um pouco como um
- Edições Técnicas

até à espionagem propriamente dita. A CIA - Central Intelligence radar, que permite tomar as decisões certas no momento exato.
Agency - é um exemplo bem ilustrativo dessa designação.
Para além da busca proativa, a Inteligência Competitiva analisa, avalia
Por este motivo, a tradução da palavra, à letra, para o termo "Inteligên­ e transforma os dados recolhidos em informações e, posteriormente,
LIDEL

cia" não veio facilitar em nada a compreensão do conceito no mercado em previsões e recomendações que permitirão aos responsáveis
português, mas, enfim... é a designação oficial. e empresariais tomar as decisões mais adequadas.

68 69
Ferramentas de Comunicação para Gestores

Para melhor esclarecimento, relembro que;


17 -------------------------------------------------------------

■ Designa-se por dados a informação básica e factual sob a sua Protocolo e Imagem

forma "não tratada";


B Informação é o conteúdo desses dados analisados e catalo­
gados em conhecimento especializado;
Discordo dos que acham que o Protocolo não passa de uma
m Inteligência é a metodologia que, com base na informação atividade menor, imbuída de alguma futilidade e destinada apenas
procurada proativamente, permite detetar factos ou situações a orquestrar cerimónias de algum relevo, ou, então, a ser utilizado
que poderão causar impacto numa organização; no dia a dia somente pelos altos dignitários da Nação ou pelo Corpo
■ Inteligência Competitiva é a função que, no seio das organizações, Diplomático,
permite identificar antecipadamente os riscos e oportunidades
do mercado (antes destes serem do conhecimento público) para, Quem exerce funções no setor da Comunicação sabe muito bem que
a partir daí, o gestor poder tomar as decisões adequadas. tanto a imagem pessoal como a empresarial estão intrinsecamente
ligadas e dependentes dos aspetos protocolares. Mesmo no uni­
Aproveito para acrescentar que, tal como na espionagem há que
verso empresarial (onde o protocolo é, por natureza, mais flexível
contar com a contraespionagem dos adversários, também neste setor
do que o protocolo oficial), existem regras básicas que convém
existe a contrainteligência, que se destina a evitar que a concorrência
conhecer, para nunca as infringir mesmo que involuntariamente.
consiga obter informação sobre a nossa organização.
Dentro da mesma linha de pensamento, o sucesso de muitos even­
tos, sobretudo os que, pela sua natureza ou dimensão, contam
Creio que em Portugal seria uma boa altura para os responsáveis das
com a presença de entidades oficiais ou de altos representantes
empresas e instituições começarem a despertar para esta realidade,
dos vários setores da sociedade, dependem da correta aplicação
a bem da nossa competitividade, e para não corrermos o risco de
ficarmos na "cauda da Europa" também neste domínio. do protocolo.

E este elemento torna-se mesmo uma ferramenta imprescindível


A Inteligência Competitiva é uma ferramenta de gestão moderna, que,
para quem tem como profissão as Relações Institucionais (ou o
nos atuais mercados globalizados, um gestor consciente não se pode
permitir ignorar. Lóbi), em que tem de contactar, reunir amiúde e conviver com os
eleitos de cargos públicos ou individualidades das mais diversas
hierarquias.

A CIW - Competitive Intelligence Worldwide (www.ciworldwide.org)


- e a SCIP - Society of Competitive Intelligence Professionals
Edições Técnicas

(www.scip.org) - são algumas das associações de profissionais de


Inteligência Competitiva, que congregam especialistas desta área,
e a cujos websites recomendo uma visita, a quem deseje saber mais
sobre esta matéria.
-
LI DEL

70 71
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

As regras protocolares são um conjunto de normas que regem Para se ter uma ideia da importância que é dada a este assunto,
a organização de atos públicos e refletem os usos, costumes e refira-se que, em 2003, o Estado chinês gastou cerca de 900
tradições de um país e das suas instituições. Confundem-se muito milhões de dólares em formação sobre etiqueta e protocolo,
apropriadamente com as regras de etiqueta, de cortesia, de boas destinada a todos os altos funcionários do Estado.
maneiras e de educação, de um modo geral. Apesar de ter con­
hecido um certo apogeu com Luís XIV, que definiu as regras de
etiqueta para uso na corte de Versalhes, a importância do proto­
Não admira por isso que, não só na Europa como no resto do mundo
colo tem origens muito mais antigas, que remontam a uns bons
ocidental, existem cursos superiores e várias pós-graduações nesta
milhares de anos. Calcula-se que foi por volta de 2 500 a. C. que
matéria. Logo aqui ao nosso lado, em Madrid, a Escuela Internacional
apareceu no Antigo Egito o primeiro manuscrito sobre etiqueta.
de Protocolo (www.protocolo.com) oferece cursos de graduação e
As instruções de Ptahotep dava os conselhos necessários aos mais pós-graduação em Protocolo e Relações Institucionais, para além de
novos para poderem ter o comportamento adequado no palácio,
cursos práticos de curta duração sobre a mesma matéria.
quando em contacto com outras pessoas: “Quando estiveres
sentando ao lado de um superior, ri-te quando ele se rir” - um
dos conselhos que não perdeu a sua atualidade, e que se pode Desde há uns anos, um pouco por todo o mundo surgiram gabi­
aplicar perfeitamente nos nossos dias. netes de consultores especializados nesta matéria, como www.
protocolconsultants.org; www.etiquette-school.com ou www.
mannersmith.com, não apenas para darem formação, como também
Atualmente, os conhecimentos básicos de Protocolo devem fazer para prestar apoio prático e aconselhamento aos empresários, em
parte do know-how de qualquer gestor, seja qual for o seu setor qualquer situação específica.
de atividade, e com maior acuidade ainda para quem trabalha em
qualquer das áreas da Comunicação.

Desde o saber onde se colocar fisicamente numa cerimónia oficial,


como se vestir adequadamente, como se comportar, do que deve ou Para websites portugueses de interesse recomendaria, entre out­
ros, o www.portugalprotocolo.com/PP_PPROTOCOLO.php.
não deve falar, até ao simples envio de um convite, o gestor moderno
tem obrigação de estar a par de muitas dezenas de aspetos como As regras de etiqueta, e, de um modo geral, as chamadas “boas
estes e de saber aplicá-los. maneiras”, que tinham caído um pouco em desuso desde os anos
60 e 70, voltaram em força no início deste milénio, como forma
de marcar alguma diferença, numa sociedade cada vez mais
E não se pense que 0 protocolo é apanágio apenas das sociedades
globalizada e homogeneizada. E tudo indica que este regresso
ocidentais. Qualquer gestor que viaje muito, ou que participe
Edições Técnicas

aos tradicionais valores sociais, desta vez veio para ficar... e


habitualmente em reuniões internacionais, sabe muito bem que, ainda bem!
por exemplo, nunca deve mostrar a sola do sapato num país árabe,
ou que no Japão os cartões de visita têm de ser entregues com as
-
LIDEL

duas mãos.
©

72 73
Comunicação Empresarial

18 ------------------------------------- também o conceito de "Aldeia Global", que, com o advento das redes
Tributo a McLuhan sociais, não podia estar mais atualizado.

§U

Celebrou-se no ano de 2011, um pouco por todo o mundo, o centenário


O lançamento do seu livro mais emblemático The Médium is The
do nascimento de Herbert Marshall Mcluhan, parecendo-me Massage (em português 0 Meio é a Massagem) já perfaz meio
oportuno prestar aqui um justo tributo a este vulto da Comunicação. século (1964) e é de uma atualidade espantosa, ilustrando bem
Para além disso, e no âmbito desta obra, porque parecerá sempre sua visão quase profética da sociedade ocidental.
um pouco desadequado que um gestor (ou qualquer pessoa com
Por curiosidade refira-se que o título do livro é esse mesmo,
alguma responsabilidade hierárquica) não tenha qualquer noção
usando o termo “massage” e não “message”, a ideia original
sobre quem foi este extraordinário personagem, e que contributo do autor mas que, devido a uma gralha, apareceu com a forma
deu ao universo da Comunicação. anterior nas primeiras provas da tipografia.
Tanto McLuhan como o editor acharam este erro tipográfico
Por já o ter expressado publicamente por diversas vezes, penso não
“muito interessante e oportuno” e resolveram manter o título
ser novidade a minha profunda admiração por McLuhan. Nem tão assim mesmo.
pouco deve surpreender a minha costela "McLuhanista", oriunda da
formação de base recebida no início dos anos 70, e que foi totalmente
moldada pelas ideias do nosso "Mestre" de então. Por isso, achei de 0 que McLuhan queria dizer originalmente com "The Médium is
interesse voltar a "repescar" este assunto a partir de um texto que The Message" é que o meio através do qual se comunica já é, em si
foi publicado no blogue "Código Fonte"11. mesmo, parte da própria mensagem que se quer comunicar, sendo
indissociável desta.
Contudo, é bom referir, para quem nunca trabalhou na minha área
de atividade, que este canadiano foi muito mais do que um guru Esta nova visão alterou substancialmente a forma e 0 conceito criativo
da Comunicação. Sem dúvida que as ideias geniais que introduziu publicitário da altura, que compartimentava excessivamente 0 Copy
revolucionaram por completo este domínio do conhecimento e Strategy e 0 Media Strategy.
tanto as RP como o Jornalismo, e, sobretudo, a Publicidade sofreram
alterações profundas no seu conceito e metodologia. Para além de A Galáxia de Guteurberg (The Gutemberg Galaxy) é outra das suas
um dos maiores pensadores do século XX, McLuhan foi também um obras primas, onde a história da humanidade é analisada unicamente
filósofo e um historiador que soube como ninguém rasgar horizontes através da ótica da Comunicação, nomeadamente o período que
novos na comunicação de massas. vai da descoberta da escrita à invenção da tipografia e da palavra
- Edições Técnicas

impressa com Gutenberg. A fase em que as sociedades trocaram


Com ele voltou-se a escrever a história da humanidade a partir da "0 ouvido pelo olho", como ele dizia, e permitiram a disseminação
evolução dos meios de Comunicação, desde a invenção da escrita até maciça do conhecimento.
aos nossos dias, passando por Gutenberg e Marconi. A ele se deve
LIDEL

0 mais extraordinário nas suas obras, todas elas de grande profundi-


11 http://fontecodigofonte.wordpress.com © dade de pensamento, é a simplicidade e a clareza com que McLuhan

74 75
Ferramentas de Comunicação para Gestores
Comunicação Empresarial

consegue explicar as suas teorias e os seus pontos de vista. Inúmeras Apesar de já ter falecido há mais de três décadas (1911-1980), o
vezes vai buscar exemplos ilustrativos a obras de Shakespeare, James
seu pensamento continua espantosamente atual, tendo conseguido
Joyce e outros autores clássicos para conseguir transmitir a sua men­ antecipar o efeito de homogeneização e desumanização dos Mass
sagem com espantosa clareza. Media, em simultâneo com a aproximação dos povos muitos anos
antes da Internet dar os primeiros passos.
No seu outro livro de referência Understanding Media (em português
Os Meios de Comunicação) analisa os meios de comunicação como Parece-me, pois, de extrema justiça que lhe tenham feito esta home­
extensões do ser humano: "tal como o martelo é o prolongamento
nagem nos 100 anos do seu nascimento, e seria bom que a nível
do braço do operário, os meios são o prolongamento dos nossos de administração os gestores de topo tenham alguma noção sobre
sentidos". quem foi este extraordinário personagem, e sobre a obra que nos
deixou, e tentassem aplicar algumas das suas teorias às suas políticas
Neste livro transmite uma mensagem extraordinária que não resisto de comunicação.
em copiar, pela clareza da descrição. Trata-se do momento exato em
que um ser selvagem e iletrado se apercebe pela primeira vez da
importância da palavra escrita, em oposição à palavra oral, a única
que conhecia até então. Este texto serve também para ilustrar a tese
de McLuhan sobre a evolução das sociedades, em que se troca "o
ouvido pelo olho".

"Sobre o seu encontro com o mundo escrito, na África Ocidental,


escreveu o Príncipe Modupe:
Na casa do Padre Perry, o único lugar totalmente ocupado era o
I das estantes de livros. Gradativamente cheguei a compreender
que as marcas sobre as páginas eram palavras na armadilha.
Qualquer um podia decifrar os símbolos e soltar as palavras
aprisionadas, falando-as. A tinta de impressão enjaulava os pen­
samentos; eles não podiam fugir, assim como um dumbu não pode
fugir da armadilha. Quando me dei conta do que realmente isto
significava, assaltou-me a mesma sensação e o mesmo espanto
que tive quando vi pela primeira vez as luzes brilhantes de Conacri.
Técnicas

Estremeci, com a intensidade do meu desejo de aprender a fazer


eu mesmo aquela coisa extraordinária que é: ler!”u
—Edições
LI DEL

12 McLuhan, Marshall (1979) - Os Meios de Comunicação, Editora Cultrix, São


Paulo.
©

76
77
Comunicação Empresarial

Quem sabe se apenas editados em quantidades destinadas a


GOOD-BY CUTENBERG satisfazer os tais que, como eu, gostam de ler à mesa do café...

Mas o pior parece estar agora para vir no domínio da impressão em


papel. E não está diretamente relacionado com o jornalismo, pro­
Terá o papel os dias contados? Há já muito tempo que se prognostica priamente dito, mas sim com a edição digital dos livros (os e-books)
a morte dos jornais, e, no entanto, eles continuam bem presentes no através dos e-readers, em que o mais conhecido no mundo em que
nosso dia a dia. De há uns anos a esta parte, o fenómeno dos jornais escrevo estas linhas é o Kindle. Lançado pela Amazon, no verão de
gratuitos, aumentou ainda mais a sua presença entre nós. 2009, teve um estrondoso e inesperado sucesso, graças ao seu design
e capacidade de armazenamento, apesar de já existirem no mercado
Pela minha parte confesso que sou dos que gostam de ler jornais. Seja muitos outros e-readers, como o Nook da Barnes & Noble ou o Sony
tranquilamente em casa, ou na esplanada do café ao fim de semana, Reader, só para citar os mais conhecidos.
à boa maneira antiga. Não tem qualquer comparação o prazer de
folhear as páginas de papel com o manuseamento do computador A verdade é que os consumidores estão a aderir, mais rapidamente
portátil, nas minhas descontraídas leituras nos tempos de ócio. do que era esperado a esta nova tecnologia de leitura que, com os
tablets permite agora aceder também a jornais e revistas on-line, para
Mas também é verdade que quando, por razões profissionais, preciso além de executar um sem número de outras tarefas, substituindo aos
de aceder rapidamente a uma qualquer informação de características poucos os computadores.
"urgente+importante" nunca é aos jornais que recorro.
Também aqui diria que, pessoalmente, gosto de ler um livro "à
A rádio, que posso ouvir logo de manhã no carro; a televisão, com antiga", isto é, em papel. Contudo, tenho de reconhecer que o con­
canais que emitem noticiários 24 sobre 24 horas; ou a Internet, com forto da portabilidade e a capacidade de armazenamento de um
os portais e sites noticiosos atualizados de hora a hora, são para mim e-reader é altamente aliciante. Imaginem o que é ir de férias e levar
e para a grande maioria dos meus concidadãos a fonte noticiosa um destes aparelhos que não pesam mais do que umas centenas
privilegiada. E isto para não falar nas outras inúmeras possibilidades de gramas, em vez de meia dúzia de livros em papel; ou poder, sem
apresentadas através do telemóvel, do palm top, tablet ou outro sair de casa, aceder e armazenar legalmente centenas de e-books a
destes aparelhos mais modernos. preços altamente competitivos.

Os jornais ficaram, assim, relegados para um tipo de leitura mais Quando Gutenberg inventou (o correto seria dizer: adaptou) a
"tranquila" onde imperam os artigos de opinião de especialistas e o imprensa, tinha em mente apenas a impressão de livros. Só mais
jornalismo de investigação, com assuntos exclusivos. tarde é que foi usada para os panfletos (a Reforma Calvinista muito
lhe deve), e muito depois para os jornais.
Não é novidade que em todo o mundo a tendência dos meios impres­
sos é de total declínio, apesar do seu desdobramento em edições Dito de uma forma muito simples: a tecnologia que serviu para a
on-line. E a manter-se esta tendência por mais alguns anos, é bem edição dos livros foi a mesma que foi adaptada, anos mais tarde,
provável que a imprensa em suporte de papel se veja reduzida à sua para a edição dos jornais. Isto com as naturais evoluções, até
expressão mínima. aos dias de hoje. No fundo, houve um desvio da maneira de ler

79
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

o pergaminho manuscrito para uma folha em papel impresso em


muitos exemplares.
Curiosamente, umas semanas depois de ter escrito este capítulo,
a Future Exploration Network (www.futureexploration.net),
Os e-readers parecem ter encetado a sua caminhada pela mesma via,
uma consultora americana de estratégias de Media, publicou um
ao desviar os hábitos de leitura do papel para o écran do electronic
estudo que não resisto em reproduzir, prevendo que os jornais
paper, permitindo um armazenamento e uma divulgação mais rápi­ impressos irão desaparecer. Este estudo elaborou uma timeline
dos, mais cómodos e mais baratos. (linha de tempo) com as previsões, para diversos países, das datas
a partir das quais os jornais impressos tal como os conhecemos
E para responder sumariamente à questão feita inicialmente: sim, hoje desaparecerão ou tornar-se-ão insignificantes.
acho que o papel tem os dias contados. O número cada vez mais
Para chegar a tais conclusões foram cruzados fatores-chave
reduzido de leitores de jornais e, a montante (chamemos-lhe assim), locais e globais, entre eles as mudanças de comportamento dos
a redução do consumo de livros em papel, acabarão por ditar o fim consumidores, a demografia, o desenvolvimento económico, a
deste como suporte privilegiado da palavra. tecnologia, a estrutura da indústria e a regulamentação governa­
mental do setor, entre outros. A nível global foram tomados em
Se juntarmos a estes aspetos outros de natureza ambiental, como o consideração os crescentes custos de impressão, a cada vez maior
abate de árvores e o crescente problema dos resíduos, verificamos performance dos smartphones, tablets e e-readers, as crescentes
que a humanidade não pode continuar a utilizar por muito mais tendências publicitárias para anunciar online, o desenvolvimento
das plataformas de informação a baixo custo, bem como a cada
tempo um suporte deste tipo, quando, entretanto, já enveredámos
vez maior rapidez e abrangência dos motores de busca.
por uma geração de suportes eletrónicos.
O cruzamento destes dados, feito para cada um dos 53 países,
É claro que isto não se passará no curto ou no médio prazo, e, ! revelou que o primeiro país onde a informação em papel irá desa­
parecer ou tornar-se insignificante serão os EUA já em 2017, segui­
provavelmente, nem sequer na minha geração, mas não é preciso
dos do Reino Unido em 2019 e do Canadá e Noruega em 2020.
ser vidente, nem superdotado para antever o próximo cenário.
No outro extremo da tabela figura a Argentina (2039), Rússia e
Turquia (2036) e Chile e Uruguai (2035). Para Portugal prevê-se o
E eu, que tanto gosto de ler em papel, seja livro, revista ou jornal, ! fim da informação impressa para 2028, juntamente com a Áustria,
se ainda tiver a oportunidade de assistir a esta mudança, direi cer­ a Grécia e a Eslováquia.
tamente com nostalgia: Good-by Gutenberg.
Este estudo abrangeu os 53 países considerados mais relevantes
em termos de leitura de jornais; para os restantes países, não
foram apontadas datas específicas, prevendo-se que o mesmo
fenómeno terá lugar ao longo das décadas posteriores a 2040.
- Edições Técnicas
© LI DEL

81
Comunicação Empresarial

20 O suporte
Newsletter: Back to Basics Os meus interlocutores ficam sempre admirados quando recomendo
que a publicação seja em suporte de papel em vez de apenas editada
on-line.

Já perdi a conta ao número de vezes que expliquei aos meus clientes


Um pouco em contraciclo do que afirmei no capítulo anterior, é
que o jornal da empresa, vulgo Newsletter, tanto pode constituir o
preciso ter presente que, nos dias de hoje, com o crescimento
melhor e mais eficaz suporte de Comunicação, quer Interna quer
exponencial e a banalização das novas tecnologias, muito poucas
Externa, como revelar-se perfeitamente inútil e representar um
pessoas leem Newsletters on-line. O contrário podia ser verdade há
perfeito desperdício de tempo, de energia e de dinheiro.
uma dezena de anos atrás por ser novidade mas atualmente ninguém
tem muita paciência para as novidades empresariais em ecrã de
Na prática só há dois tipos de Newsletter: as que são lidas e as que
computador. Vejam por vocês mesmos: quantas Newsletters on-line
não o são. E o que separa o sucesso do mais completo flop assenta
recebem por semana? E quantas leem?
em meia dúzia de preceitos básicos, fáceis de seguir, mas que, fre­
quentemente, temos tendência para esquecermos.
Neste caso específico, não há outro remédio senão voltar ao método
"antigo" das Newsletters em papel, e conseguir colocá-las (literal­
Se o seu departamento de Comunicação estiver a pensar em editar
mente) nas mãos dos nossos potenciais leitores. Por se tratar de um
uma Newsletter para a sua empresa (ou se quiser relançar a atual), é
suporte tangível, e desde que o grafismo e conteúdo da primeira
bom que tenha conhecimento das seis dicas básicas, que farão com
página sejam minimamente interessantes, é muito provável que as
que a sua publicação seja lida.
pessoas comecem a folheá-la. E daí a começar em a ler alguns artigos,
será um pequeno passo.
O título
Ao escolher o nome da publicação, o mais corrente é preferir o Sei que sai muito mais caro, mas a questão a colocar é se queremos
nome da própria empresa, precedido ou seguido das palavras News, que nos leiam, e se possuímos orçamento para tal. Pois editar uma
Boletim informativo, Notícias, etc. Newsletter on-line que, por muito interessante que possa ser o
conteúdo, não será lida pela grande maioria dos destinatários, é um
Para os leitores familiarizados com a empresa poderá não haver pro­ esforço inglório, inútil e uma total perda de tempo.
blema, mas para atrair a atenção de novos leitores, e, sobretudo, para
evitar que pensem tratar-se de (mais) um catálogo de promoção, é E, já agora, use papel reciclado e informe os leitores disso, através
preferível afastar-se dessa tentação e escolher um título mais consis­ da impressão do logótipo da reciclagem, ou, mesmo, escrevendo no
tente e proativo. Por exemplo, a Fundação Portuguesa de Cardiologia canto de todas as páginas "impresso em papel reciclado".
Edições Técnicas

(FPC), que possui há vários anos uma Newsletter de sucesso, em vez


de enveredar por um título do género "FPC News", ou "Notícias da E, claro, que poderá sempre colocar on-line, no website ou no blogue
FPC", preferiu dar à publicação o nome de "Ritmos no Coração", sem da empresa, as edições passadas de cada Newsletter, alguns dias
dúvida mais agressivo, menos redutor, e que consegue despertar após esse número ter sido editado.
-
© LIDEL

maior interesse.

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Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

O conteúdo O grafismo
Nunca será demais repetir que uma Newsletter (na aceção clássica Para ser lida, uma Newsletter tem de ser, primeiro que tudo, atra­
de RP) não é um catálogo de vendas. ente, isto é, agradável à vista. Ninguém lerá páginas inteiras de textos
"fechados", por mais interessantes que possam ser. Pelo contrário,
A promoção da empresa e dos seus produtos ou serviços até pode uma boa combinação de cores, com títulos apelativos, textos ilustra­
ser feita - com alguma moderação e sempre de forma indireta, à dos com fotografias e gráficos e jogando com espaços vazios dará, de
moda antiga do soft-selling - mas a função da Newsletter de RP não imediato, uma predisposição para continuar a leitura. Volto a insistir
é a promoção das vendas, e sim facultar informação atualizada e de que os espaços vazios (espaços em branco entre os diversos artigos),
interesse aos seus leitores. longe de afastarem qualquer leitor, incentivam a percorrer a página
de cima a baixo. Na realidade, um bom grafismo é "meio caminho
Não devemos esquecer de que se trata do "jornal" da empresa, andado" para o sucesso da publicação.
que tem de ser redigido com objetividade, atualidade e interesse,
em conformidade com as regras básicas do jornalismo. Se assim A periodicidade
não for, o seu destino é o lixo, sem que a publicação tenha sido
Ao definir se pretende uma Newsletter mensal, bimestral ou trimes­
lida pelos potenciais leitores.
tral terá de ter em mente duas coisas: o orçamento de que dispõe;
e o volume de informação de interesse que a sua empresa têm para
Independentemente de se tratar de uma publicação destinada aos
divulgar. De pouco adianta pretender ter uma publicação mensal, se
colaboradores; ao público externo; ou a ambos, como em qualquer
depois não consegue produzir informação suficiente para preencher
jornal o seu conteúdo deve ser variado, com artigos da redação,
cada edição.
entrevistas, reportagens e artigos de opinião assinados por espe­
cialistas, comentadores ou pessoas reconhecidas na sua área de
Por outro lado, é preferível optar por uma publicação trimestral
atividade. E com textos curtos e simples, ilustrados com imagens,
mais consistente de oito a 12 páginas, do que por outra mensal de
fotografias e gráficos, sempre que possível, e devidamente revistos
quatro páginas. Em caso algum recomendo a chamada monofolha, a
para evitar os erros de gramática ou as gralhas de impressão.
menos que se destine a um encarte de jornal ou revista de grande dis­
tribuição. Tenha em conta a seguinte regra de ouro: a periodicidade,
Os exageros tanto de adjetivação (por exemplo, "o nosso maravilhoso
seja ela qual for, é para ser religiosamente cumprida, respeitando as
produto", ou "a nossa extraordinária empresa") como na repetição do
datas de saída de cada edição, caso contrário nunca conseguirá criar
nome da empresa, devem ser obviamente evitados, pois assumem-se
o tão desejado hábito de leitura.
de imediato como uma promoção descarada. Todos já terão lido
Newsletters em que o nome da empresa, para além de ser ferido no
Atenção também aos excessos de protagonismo de certos gestores
título da publicação, aparece em todos os artigos, ao longo das várias
(ou outros responsáveis empresariais), com tendência para o estre­
Edições Técnicas

páginas. E, pior ainda, o nome da empresa é capaz de aparecer no


lato e que querem aparecer a todo o custo em todas as edições. Cor­
título do artigo, no lead e várias vezes no corpo do artigo. Escusado
rem um grande risco de transformar involuntariamente a publicação
será dizer que ninguém lerá textos destes.
num meio autopromocional, tirando-lhe muito interesse. É bom
-

recordar que a Newsletter é a publicação da Empresa e não do


© UDEL

84 85
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

gestor. A repetição de edições seguidas, em que na primeira página A Newsletter on-line poderá ser reforçada por hiperligações a vídeos
aparece sempre uma foto do responsável empresarial, acaba por ser ou a outros conteúdos que estiverem à distância de um clique, e que
prejudicial ao bom "rendimento" deste meio de Comunicação. o suporte de papel não permite com tanta facilidade.

A única forma de um gestor poder aparecer em todas as edições, sem Escusado será dizer que a divulgação nas redes sociais, sempre que
levantar quaisquer constrangimentos, é pertencer ele mesmo ao corpo uma nova edição é produzida, vai acrescentar uma mais-valia preciosa
redatorial ou (o que é mais comum) ser o diretor da publicação. em termos de visibilidade.

Nesse caso, e apenas nesse caso, poderá, por exemplo, ser o autor E, claro, tente sempre obter periodicamente o feedback dos seus
dos editoriais, onde a sua coluna e fotografia serão publicadas na leitores, pelos métodos tradicionais dos inquéritos ou incentivando-os
primeira página (ou na página três se se tratar de uma revista) sem a darem sugestões ou, ainda, a comentarem os artigos publicados.
causar estranheza.
Existem naturalmente muitos outros aspetos a ter em conta, mas se
A distribuição seguir estes seis passos básicos, posso garantir que a sua publicação
Depois de editada, a publicação tem de chegar rapidamente às mãos fará sucesso, e constituir-se-á certamente como o mais importante
dos seus destinatários, quer se trate de uma Newsletter interna ou veículo de comunicação da sua empresa.
externa (ou mista) haverá que fazer um mailing para casa das pessoas
(sobretudo se for interna) ou para o seu local de trabalho. O que, o Caso esse objetivo não possa ser cumprido, para ter uma Newsletter
priori, pressupõe a existência de uma boa base de dados. menos boa é preferível não ter Newsletter nenhuma.

Uma distribuição paralela pode ser feita através da força de vendas,


junto dos clientes, com entrega em mão, ou aproveitando um evento
(um congresso, um seminário, uma feira, etc.) com alguns exemplares
distribuídos pelos presentes.

E, já agora, inclua na lista dos seus destinatários os principais Media


(jornais e revistas), nomeadamente os que são especializados no seu
setor de atividade. Se a sua Newsletter estwer bem redigida, não será de
admirar ver posteriormente alguns artigos reproduzidos na imprensa.

Como já foi referido, a Newsletter poderá ser colocada on-line depois,


LIDEL —Edições Técnicas

mas somente umas semanas após todos os públicos-alvo já a terem


em mão.

86 87
Comunicação Empresarial

Em Comunicação, o Teorema de Thomas é aplicado com muito mais


O Teorema de Thomas na Comunicação frequência do que se pode supor, tanto através da Publicidade como
das Relações Públicas, em Gestão de Crise, em Comunicação Política
ou no Lóbi - o que é normal, considerando que a Comunicação é a
base de sustentação deste conceito. Sem Comunicação entre as várias
0 sociólogo William Thomas formulou, em 1928, um conceito que partes envolvidas, o Teorema de Thomas não teria razão de existir,
ficou conhecido como o Teorema de Thomas, que basicamente pode nem nunca poderia ser aplicado.
ser enunciado da seguinte forma:
Compreende-se, assim, o importante papel que os meios de
"Aquilo que as pessoas assumirem como verdadeiro, mesmo não o Comunicação de massas podem desempenhar em todo este
sendo, tem consequências verdadeiras". processo.

Thomas dava como exemplo o sistema bancário, em que todos nós Exemplo ------------- ----------------- -----
assumimos que quando depositamos o nosso dinheiro num banco,
E não posso deixar de aproveitar a situação vivida há alguns anos
esse dinheiro estará lá à nossa disposição, podendo nós levantá-lo em Portugal com a escassez de açúcar, para ilustrar esta ideia.
sempre que quisermos. Mas, na realidade, o nosso dinheiro, como
O facto de haver temporariamente menos açúcar no mercado,
bem sabemos, não fica parado no banco, que vai reutilizá-lo para
não constitui per se um problema de maior, nem leva a esgotar
empréstimos e transações financeiras diversas. E se um dia todos os
prateleiras de supermercados - como, aliás, acontece ciclica­
clientes desse banco se lembrassem de levantar os seus depósitos ao
mente e de forma idêntica com certos outros produtos (alimenta­
mesmo tempo, estariam perante um imenso problema, pois o banco res ou não), e em que a situação não chega sequer a ser percebida
não teria lá o dinheiro de todos. Todos nós sabemos isso, e, no entanto, pela maioria dos consumidores.
todos assumimos que o dinheiro está sempre lá, à nossa disposição,
Nesta situação, foi pelo facto de alguns órgãos de informação
mesmo não sendo essa a realidade. E é essa assunção coletiva que per­
se terem referido a este caso com algum alarmismo (ignoro se
mite que o nosso sistema bancário e financeiro funcione em pleno. o fizeram espontaneamente ou se a isso foram induzidos) que
gerou a preocupação coletiva do açúcar poder acabar.
Encontraremos muitos exemplos semelhantes, desde as situações
A partir do momento em que as pessoas assumiram que o açú­
mais banais que ocorrem no nosso dia a dia (e que a maior parte
car ia faltar por completo (mesmo não sendo essa a realidade)
das vezes nem damos por elas) até situações bem mais complexas, gerou-se uma onda de pânico, levando a um açambarcamento
relacionadas com todo um setor de atividade ou, o que é bastante do produto, e que teve como desfecho a falta (real) de açúcar
frequente, com a esfera política. ; nas prateleiras das mercearias e supermercados.
A assunção generalizada (e errada) de que o açúcar ia faltar
Edições Técnicas

Pela sua pertinência e atualidade entendi retomar este tema, a


teve como consequência real a total falta do produto no
partir de um post que fiz, há uns tempos atrás, no blogue "Código j mercado.
Fonte"13.
-
LI DEL

13 http://fontecodigofonte.wordpress.com 8

88 89
Ferramentas de Comunicação para Gestores

É fácil imaginar um cenário totalmente diferente. Se os Media não


22
tivessem referido o caso, muito provavelmente a opinião pública nem Imagem de Marca de um País
se teria apercebido da situação e a escassez temporária do produto
certamente nem se teria feito sentir.

A terminar, chamo a atenção dos nossos gestores para o facto de Perguntaram-me uma vez, durante uma conferência, em que é que
a aplicação desajustada do Teorema de Thomas, em qualquer das a imagem de um país podia, em concreto, influenciar a imagem de
áreas da Comunicação, poder revelar-se um "pau de dois bicos", e ter marca de um produto, imaginando que esse produto tivesse efeti­
efeitos perversos e totalmente opostos aos desejados, com enormes vamente qualidade. Lembro-me de ter feito uma analogia com um
prejuízos para a imagem da empresa. Pelo que, por muito aliciante exemplo (fictício) que inventei na altura, mas que me parece sufi­
que possa parecer a aplicação deste teorema, também aqui será cientemente esclarecedor quanto a este fenómeno.
necessário fazer alguma prova de bom senso.

• Exemplo - -...-.... —---- ------------ -................... ------------------ -—....-... -................ ,


Imaginemos um cidadão suíço, especialista em alta relojoaria
que, ao fim de décadas de atividade no seu país de origem,
resolve emigrar para um país africano (a Nigéria, por exemplo)
e aí instalar por conta própria uma fábrica de relógios. Essa
fábrica, a funcionar em tudo de forma idêntica à antiga empresa
onde trabalhava em Genebra, iniciaria a produção de relógios,
idênticos aos que fabricava na Suíça. A única diferença, estaria
na marca que, obviamente, não poderia ser a mesma, e na
origem do produto. Isto é, em vez de estar identificado com a
tradicional “Swiss Made” ou “Made in Switzerland” ostentaria
“Made in NigériaMesmo que o produto final fosse de quali­
dade semelhante ao anterior, de imediato se compreenderá
que o Made in Nigéria não apresentaria a garantia de qualidade
necessária para o relógio ser um sucesso nos países para onde
fosse exportado. Este exemplo (eventualmente absurdo) serve
apenas para tentar ilustrar a importância que a imagem do país
de origem pode ter para uma empresa e, consequentemente,
para o seu produto final.
Edições Técnicas

E mesmo nesta época de globalização e de internacionalização da


economia em que atualmente vivemos, este conceito de Imagem
-
LIDEL

de Marca do País (IMP) mantém-se fortemente enraizado, como


elemento identificador da origem do produto. Isto é verdade, mesmo
Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

quando se faz alguma "batota" quanto ao local de produção, desde É por isso que, o primeiro passo a dar, a nível dos governantes, é o
que a IMP seja muito forte, e esteja definitivamente implementada de se fazer um levantamento das capacidades e das mais-valias que
no inconsciente coletivo. um país pode proporcionar (isto é, o que o diferencia positivamente
dos outros).
Isto é o que se passa hoje em dia na maioria dos países de refe­
rência, onde a matéria-prima e o fabrico dos seus produtos provêm Numa segunda fase, haveria que concentrar-se apenas naquelas que
de países terceiros que oferecem melhores condições. É o exemplo mais se evidenciam, e que irão, através de campanhas adequadas,
da França ou da Itália, berços de marcas de prestígio relacionadas formatar a sua IMP.
com a moda, a perfumaria e os artigos de luxo de um modo geral.
Toda a produção (e, por vezes, até o design) é feita além fronteiras. No caso de Portugal, e apesar de já se ter percebido a importância da
O importante é que o produto final inicie a sua comercialização a IMP, é curioso verificar que, até hoje, nenhum Governo se debruçou
partir de França ou de Itália, para que o produto final continue a ser conscientemente e de forma sistemática sobre este aspeto.
francês ou italiano.
Fazem-se campanhas distintas e compartimentadas para o setor do
É evidente que a IMP tem um alcance muito mais vasto, e não se Turismo, para o investimento estrangeiro ou para o setor da Tecnolo­
limita apenas a "cunhar" a qualidade dos produtos de luxo. Constitui gia, sem que haja um fio condutor ou uma "trave mestra" que permita
também um trunfo apreciável para apoiar a atração de investimento alicerçar a IMP de uma forma constante e permanente. Um relatório
estrangeiro, ao Turismo, à Tecnologia, à cultura, ao desporto, às da Anholt Nations Brands Index confirma este aspeto. Portugal ficou,
exportações de um modo geral, ou a tantos outros domínios que em termos de IMP, pelo 20.- lugar do ranking de 38 países, muito
seria fastidioso nomeá-los a todos. atrás da Espanha (12.^ posição) e longe dos três primeiros: Reino
Unido, Alemanha e França.
Por outro lado, é obvio que nenhum país pode aspirar a ter uma IMP
que abranja todos os setores em simultâneo. Seria pura utopia. Nós E se atendermos à diversidade dos elementos que compõe a IMP, veri­
próprios temos a noção da IMP de muitos dos países europeus, e ficamos que o nosso país, apesar da sua reduzida dimensão, tem outras
verificamos isso no nosso dia a dia. É assim que, por exemplo, falamos potencialidades que ainda não foram devidamente exploradas.
de perfumes franceses, da moda italiana (ou francesa), de relógios
suíços, de whisky escocês, de chocolates belgas, ou de automóveis De forma resumida, e para não maçar os meus leitores com aspetos
alemães. muito técnicos, pode-se dizer que a IMP é a perceção inconsciente que
os diversos públicos (nacional e internacionais) têm de um país.
Por aqui se pode confirmar que se a IMP consegue "cunhar" muito
bem um determinado setor de referência, não quer dizer que se Um pouco à semelhança da Imagem Empresarial a Imagem dos países
Edições Técnicas

aplique a todos os restantes. É por esta razão que estaríamos even­ é constituída por diversos elementos, só que com maior número de
tualmente dispostos a gastar mais dinheiro numa gravata italiana, variáveis, das quais as principais serão sempre:
num whisky escocês ou num relógio suíço, mas estranharíamos se,
■ Localização geográfica e clima;
por absurdo, nos tentassem vender uma gravata suíça, um whisky
-

■ Aspetos antropológicos, culturais, religiosos e históricos;


LI DEL

italiano ou um relógio escocês.


■ Sistema Político, estrutura social e governance;
©

92 93
Ferramentas de Comunicação para Gestores

m Economia, produtos, serviços e imigração;


23
m Especialização produtiva, exportações e emigração; Marketing Político
n Folclore e gastronomia;
m Entretenimento e desporto.
A estes aspetos haverá que juntar tudo o que tem a ver com a Infor- De há uns tempos a esta parte, um grupo de especialistas na matéria
mação/Comunicação/Promoção. Isto é, por um lado, em termos convidou-me para fazer o preâmbulo do seu futuro livro, justamente
de comunicação social, as referências que são feitas nos Media, sob o título de Marketing Político. Tive ocasião de referir na altura
sobretudo a nível internacional; por outro lado, as campanhas de que escrever sobre Marketing Político pode revelar-se uma tarefa
comunicação feitas pelo Governo e organismos públicos; finalmente, fácil ou, pelo contrário, muito complicada, conforme se aborde o
a promoção de eventos (desportivos, musicais, culturais, etc.) ou seu assunto na generalidade ou se pretenda entrar em pormenor nas
patrocínio com a respetiva cobertura mediática. Por exemplo, uma inúmeras atividades que o compõem. Tendo em atenção, o objetivo
prova de Fórmula 1, um jogo internacional de futebol ou uma gala deste livro vamos, pois, debruçar-nos sobre o assunto na sua forma
internacional (como foi a das 7 Maravilhas), com adequada divulga­ mais simples.
ção pelas cadeias de televisão, faz mais pela imagem do país a nível
gj! mundial do que uma dezena de campanhas publicitárias. Apesar do seu meio século de existência, esta disciplina continua a
suscitar as mais diversas interpretações, e a ser sistematicamente
Naturalmente, a IMP não se esgota neste conceito. Por ser um tema confundida com outras áreas da atividade política. Uma das con­
complexo e sobre o qual não há muita divulgação, pretendia apenas, fusões mais frequentes tem a ver com o Marketing Eleitoral.
nestas dezenas de linhas, que ficassem com algumas noções acerca
de que é constituída a IMP, bem como da sua vantagem e importân­ Posso esclarecer, de forma muito sucinta, que o Marketing Político
cia, como umbrella, na ajuda que pode dar à promoção de alguns é muito mais abrangente, e o que o Marketing Eleitoral constitui
dos nossos setores de atividade. apenas um subproduto (ou segmento) deste.

Para alguns dos nossos gestores, nomeadamente os que trabalham Limitado ao tempo de uma campanha (e da respetiva pré-campanha),
em setores de exportação, estas noções poderiam muito bem consti­ o Marketing Eleitoral é um sucedâneo do Marketing Político, que se
tuir um tema de reflexão, para tentar saber, como os seus produtos esgota com o térmico da referida campanha.
(ou serviços) se poderiam articular melhor com a imagem que o
nosso país transmite no exterior, e, a partir daí, reformularem o seu O Marketing Político, pelo contrário, é um processo contínuo, que
posicionamento em termos de Marketing. acompanha o candidato (partido ou instituição) ao longo de toda a
sua vida ativa, isto é antes, durante e depois de todas e quaisquer
Edições Técnicas

campanhas.

Além do mais, é ele que serve de alicerce às campanhas de Marketing


Eleitoral, definindo as linhas de rumo doutrinárias, bem como os
-
LIDEL

parâmetros pelos quais este terá de se reger, e com os quais nunca


e deverá estar em oposição.

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Ferramentas de Comunicação para Gestores Comunicação Empresarial

Outra dúvida frequente diz respeito à Comunicação Política e a sua corresponder em nada à verdade; atacar o adversário diretamente; e, se
relação com o Marketing, quer Eleitoral quer Político. Do meu ponto necessário, pôr a circular impunemente boatos e falsidades sobre este.
de vista, a Comunicação Política é uma das componentes (talvez a
mais importante) do Marketing Eleitoral (e, por tabela, do Marketing É por isso que existe a contrapropaganda - técnica que se destina a
Político), a cuja estratégia estará subordinada. A sua função é a de refutar as afirmações do adversário, e a preparar o lançamento de
conseguir fazer passar a mensagem de forma adequada, simples e contra-ataques através da própria propaganda.
clara, junto do eleitorado.
Para além de outros aspetos, que a falta de espaço não me permite
Sobre a inevitável comparação com o Marketing Comercial, já me abordar, diria resumidamente que as armas utilizadas no "mercado
questionaram em várias ocasiões se concordava com a frase feita comercial" e no "mercado político" não são comparáveis. É o mesmo
segundo a qual, em termos técnicos, "vender um político é o mesmo que falar de dois conflitos armados, um com armas convencionais e
que vender um sabonete". Não considero esta comparação de todo o outro com armas de destruição maciça.
errada, visto que a plataforma técnica do Marketing Comercial é a
mesma do Marketing Político, e o facto de as duas utilizarem os mes­ Portanto, o Marketing Comercial, como técnica, possui sem dúvida
mos suportes para comunicarem. inúmeras semelhanças com o Marketing Político, mas também muitas
diferenças.
Daí se compreende porque os políticos apelam frequentemente a
especialistas de Publicidade ou Marketing Comercial, quando se Em resumo, pode dizer-se que o Marketing Político, apesar das muitas
avizinham eleições. parecenças com o Marketing Comercial, não pode ser confundido
com este devido ao contexto (político e ideológico) em que está
Mas, não sendo errada, esta comparação peca por ser algo redutora. inserido, e à possibilidade de recorrer a técnicas e meios que estão
Por um lado, o "mercado político", tal como o "mercado religioso" vedados ao Marketing Comercial.
não é em tudo semelhante ao "mercado comercial", constituindo o
aspeto ideológico a sua diferença de fundo. Por outro lado, o facto A terminar, imagino que muitos leitores terão questionado, legitima­
de, no campo político (tal como no religioso), se poder recorrer às mente, acerca do porquê de um capítulo sobre Marketing Político num
técnicas de propaganda, altera profundamente certas vertentes da livro de Comunicação Empresarial. De entre as inúmeras respostas que
questão. poderia dar a esta questão, direi apenas que muito do que se faz em
Marketing Político é decalcado de campanhas de Marketing Comercial,
Na técnica publicitária, o ataque direto ao concorrente e até a própria e vice-versa, com as devidas adaptações, naturalmente.
Publicidade Comparativa (toda aquela que de um modo explícito ou
implícito identifique um concorrente, seus bens ou serviços) está Creio que, para um gestor atento, é importante compreender o que
- Edições Técnicas

algo limitado e regulamentado, através do Código da Publicidade. A se passa à sua volta no universo político, e, por outro, estar atento
Publicidade enganosa, também ela, está sob escrutínio e é sujeita a às possíveis oportunidades de benchmarking14 que as campanhas
pesadas sanções. eleitorais poderão trazer para o seu universo empresarial.
LI DEL

Pelo contrário, a técnica de propaganda (seja política ou religiosa), 14 Benchmarking - instrumento de gestão, baseado num processo de comparação
permite contornar estes aspetos e fazer afirmações que podem não © de produtos, serviços e práticas empresariais de outras empresas de sucesso.

96 97
Ferramentas de Comunicação para Gestores

Já perdemos conta ao número de vezes que os partidos políticos


adaptaram, ou, até, copiaram integralmente campanhas comer­
ciais, utilizando os mesmos slogans e buzzwords15 para denegrirem
as suas oposições ou promoverem os seus candidatos. E também já
vimos muitas campanhas comerciais adaptarem com sucesso uma
campanha eleitoral, beneficiando do efeito de memorização que esta
tinha deixado nos cidadãos eleitores.

Parte III
Gestão de Crise

15 Buzz - em língua inglesa, significa grande alarido em torno de um termo ou


situação até então desconhecidos. "Buzzword" é a palavra criada para designar
esse novo fenómeno; caracteriza-se por ficar na moda durante um certo período
de tempo em que é utilizada, na maioria dos casos, de forma exagerada.

98
■■■■■ • -L

Gestão de Crise

24 Por isso, a única solução é estar preparado e mentalizado para


Anatomia de uma Crise enfrentar qualquer situação crítica com que a empresa se venha a
deparar.

Ao longo de mais de duas décadas de experiência neste domínio,


Não se consegue gerir adequadamente uma coisa que não se conhece foi-me dado a observar que a característica mais importante de
bem, e a crise não constitui nenhuma exceção. Para se poder fazer qualquer bom gestor é a sua capacidade de visão antecipada das
uma Gestão de Crise eficiente é necessário, em primeiro lugar, com­ situações. Em Gestão de Crise essa intuição (para não lhe chamar
preender como ela nasce, como se desenvolve, entender o grau de premonição) é fundamental, e constitui a pedra de toque para o
risco que ela representa para a empresa, a sua abrangência, as suas sucesso das posteriores operações a implementar.
possíveis consequências e os atores que nela estão envolvidos. Em
suma, é preciso entendê-la e saber catalogá-la, para depois poder Um responsável empresarial, que consiga identificar a génese de uma
implementar um "plano de combate" adequado. possível situação crítica, e tomar de imediato as necessárias providên­
cias para impedir o seu alastramento, não só terá o seu problema
E de pouco adianta tentar ser otimista e esforçar-se para pensar que resolvido com êxito, como poupará nos custos inerentes, em termos
as crises só acontecem nas empresas mal geridas, porque a realidade de dispêndio de tempo, energia, dinheiro e reputação da empresa.
tem demonstrado o contrário amiúde.
Um líder empresarial capaz de pilotar e solucionar uma situação de
Como costuma dizer o meu colega italiano Luigi Norsa16: "os pilotos risco, minimizando os custos dela decorrentes, poderá, sem dúvida,
de avião dividem-se em duas categorias: aqueles que já fizeram uma ser considerado um bom gestor. Mas um ótimo gestor será todo o
aterragem de emergência e aqueles que ainda a irão fazer. O mesmo indivíduo que tenha sabido detetar por antecipação o embrião de
acontece com os gestores empresariais. A questão não é se a nossa uma crise, e tomado de imediato as medidas adequadas para evitar
empresa poderá ou não deparar-se com uma crise, mas sim quando a eclosão.
é que a nossa empresa se irá deparar com uma crise, e se seremos
capazes de a gerir." Esta característica inata, aliada a uma grande dose de bom senso,
consiste basicamente em detetar proativamente possíveis focos de
Posto desta forma, será de eliminar os falsos otimismos de que a crises, e anulá-los, antes que estes se transformem, de facto, num
nossa empresa está bem estruturada, bem organizada, tem boa repu­ problema maior.
tação, ou que é grande demais. Como se viu, o conceito americano do
"too big tofail" acabou por dar os piores resultados possíveis, levando O que ressalta daqui é a importância do timing de intervenção numa
ao encerramento de algumas das maiores corporações do país. situação de emergência, e a urgência em dar uma resposta imediata.
© L ID E L - Edições Técnicas

Quanto mais rápida esta for, mais fácil se tornará o controlo da crise,
e é nessa perspetiva que se deve tomar em consideração os seus
ciclos de vida.
16 Luigi Norsa - consultor, professor universitário e autor de diversas obras sobre
Gestão de Crise. É colega do autor na rede internacional Crisis Management NetWork
Verificamos que estes apresentam uma certa analogia com o modelo
(http://crisismanagementnetwork.com) que se dedica à pesquisa nesta área, para
além de oferecer serviços nos diversos países em que está representada. biológico, quando se olha para a anatomia de uma crise. Com efeito,

100 101
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise

esta também comporta cinco fases - desde o nascimento, seguido Dito de outro modo, uma correta e atempada Gestão de Crise ajudará
do crescimento, maturidade, declínio e, finalmente, a sua morte, à a reduzir substancialmente o ciclo de vida desta, confinando-a a um
semelhança do que se passa também com o ciclo de vida de qualquer intervalo de tempo muito menor entre o seu nascimento e a sua
produto em Marketing. morte, e limitando assim os seus efeitos desgastantes.

No entanto, muitas crises não chegam a passar por todas estas fases, Na análise à anatomia de uma crise, há outros fatores a ter em conta,
e algumas até acabam por “morrer à nascença". E isto somente acon­ dado que poderão interferir na rápida resolução desta. São eles: o
tece quando é acionado de imediato o plano de Gestão de Crise, que seu grau, o seu âmbito e a própria estrutura corporativa da empresa
permite debelar logo de início qualquer situação de emergência. atingida.

Tudo isto é muito bonito em teoria, mas na vida real, e na maioria dos O grau
casos, o problema mais comum continua a ser o facto de os respon­ À semelhança do que se passa com as catástrofes naturais (terramo­
sáveis só se aperceberem da situação e só começarem a preocupar-se tos, furacões, etc.), a tendência atual é para se classificar as crises
quando a crise se encontra já na sua fase de crescimento, ou, pior empresariais segundo determinados graus ou níveis, conforme a sua
ainda, quando esta já atingiu o seu auge. É nessa altura que, apres­
importância, consequências e abrangência.
sadamente, decidem reunir a sua equipa ou chamar os consultores
externos especializados, quando essa decisão deveria ter sido tomada Em Gestão de Crise consideram-se cinco graus - que vão do grau 1,
logo aos primeiros indícios de eclosão, isto é, no seu nascimento. para a chamada "pequena crise", passível de ser resolvida rapida­
Numa analogia infantil isto consistiria em chamar os bombeiros mente, com poucos meios, e cujo ciclo de vida é relativamente curto,
apenas quando a casa já estivesse completamente a arder, em vez ao grau 5, considerada como uma crise de grandes dimensões, que
de o fazer logo que se tivesse detetado o início do incêndio. Por tem efeitos planetários, apresentando um ciclo de vida que pode
muito absurdo que possa parecer, é isto que se tem verificado nas durar anos. São exemplos os conhecidos casos de Bhopal, na índia,
empresas portuguesas, na maior parte dos casos em que se veem de Chernobyl, na Ucrânia, ou, mais recentemente, da BP no Golfo
confrontadas com uma situação de emergência. do México, entre outros, onde todos os anos os Media relembram
os tristes "aniversários" destes acontecimentos, cujos reflexos ainda
Em função da forma como uma crise é gerida, o seu ciclo de vida perduram.
terá, por isso, uma extensão muito variável, podendo durar dias,
semanas ou meses até a crise ser esquecida e o clima empresarial O âmbito
voltar à sua normalidade.
Uma crise pode ser de âmbito empresarial, quando afeta diretamente
No entanto, se é verdade que uma condução atempada de qualquer determinada empresa ou instituição, ou de âmbito setorial, quando
abrange todo um setor de atividade.
Edições Técnicas

situação de emergência é determinante para reduzir a extensão


desta, há também um conjunto de outros fatores a ter em consi­
deração. O que se pretende deixar claro é que uma situação de O gestor consciente não pode, nem deve, menorizar este segundo
crise corretamente gerida terá, numa perspetiva diacrónica, uma tipo de ameaça, com a desculpa de que a sua empresa não está
-

implicada no caso. Tratando-se de uma crise no seu próprio setor, ele


LIDEL

extensão muito menor do que se for mal gerida ou deixada entregue


estará sempre, pelo menos aos olhos da opinião pública, ligado ao
a si mesma.

102 103
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise

acontecimento, seja ele qual for, com maior ou menor envolvimento, Quando se tem de gerir uma crise, seja ela a nível de um produto ou
dependendo das situações. a nível institucional, haverá sempre que ter em atenção a estrutura
corporativa da empresa, pois essa análise será determinante na
A título exemplificativo, e como já referi numa obra anterior17, volto a forma de atuar posteriormente, e dela dependerá em grande parte
citar a crise que varreu a indústria farmacêutica em Portugal, em finais o sucesso ou o fracasso da ação.
dos anos 90, que colocou sob suspeita de corrupção a classe médica
todos os laboratórios farmacêuticos. O que tinha começado como Se a nossa empresa tiver uma estrutura monolítica (ver Capítulo 11
uma crise empresarial que envolvia uma grande empresa farmacêutica por favor), é certo e sabido que a crise terá maior tendência de propa­
alemã, através das denúncias de um ex-empregado, rapidamente se gação aos outros produtos, por terem o mesmo nome, do que numa
alastrou a todo este setor da indústria, colocando sob suspeita todos os Estrutura dita Por Marca, onde a compartimentação é maior devido à
laboratórios farmacêuticos a operar em Portugal. Muitas das acusações autonomia de Branding18 de cada produto.
terão sido injustas, mas a verdade é que, aos olhos da opinião pública,
a imagem que ficou foi a de todo um setor de atividade que mantinha Estudos comparativos efetuados por peritos europeus revelaram que,
relações "promíscuas" com a classe médica, com vista a incrementar de um modo geral, o ciclo de vida das crises registadas em empresas
as vendas dos seus produtos. com uma estrutura corporativa do tipo monolítico é, normalmente,
maior do que o ciclo de vida de crises similares (visto que não há
Outras crises setoriais de nível internacional, desde os finais da duas crises iguais), registadas em empresas com uma estrutura por
década de 90, foram, por exemplo, a da doença das vacas loucas marca. Isto deve-se sobretudo ao facto de haver um maior número
(Bovine Spongiform Ecephalopathy - BSE); da gripe das aves e das de tarefas a implementar, com vista a prevenir um possível "contágio"
conservas de peixe; ou, mais recentemente, a da carne de cavalo dos outros produtos da empresa.
detetada em várias marcas de congelados, que afetou os respetivos
setores da cadeia de alimentação em todos os países da Europa. É muito possível que, quando uma crise deflagrar, nem a equipa de
gestão nem os próprios especialistas se lembrarão de se debruçar
De um modo geral, as crises setoriais têm um ciclo de vida mais longo sobre estes aspetos, ocupados que estarão a resolver os problemas
do que as crises empresariais, e, naturalmente, a sua gestão tem de ser imediatos e os assuntos prioritários. Competirá ao gestor ter a capaci­
feita em moldes bastante diferentes, dado que envolvem a coordena­ dade de olhar mais além, e de contextualizar os acontecimentos
ção de todos os atores das diversas empresas desse setor. dentro dos parâmetros acima referidos.

A estrutura corporativa Por outro lado, deverá evitar aquilo que os anglo-saxónicos denomi­
A estrutura corporativa, que já abordámos anteriormente na Parte II nam Corporate Myopia, ou miopia corporativa, que, numa situação
de emergência, tende a impedir um certo distanciamento dos acon­
desta obra, também terá influência sobre o âmbito, a dimensão e a
Edições Técnicas

tecimentos imediatos e o discernimento entre o que é importante


duração de uma crise.
e o que é acessório.
-
LIDEL

17 LAMPREIA, J. M. (2007) - Da Gestão de Crise ao Marketing de Crise, Texto Editora, 18 Branding - atribuição de uma marca a um produto ou serviço e posterior gestão
Lisboa. © da mesma.

104 105
Gestão de Crise

logo à partida, todo o processo comunicativo. É necessária uma


Comunicação em Situação de Críse extrema rapidez na tomada de decisão, na formulação da estratégia
e no desempenho criativo da mensagem, bem como na posterior
execução. Desde o início, esta situação em nada é comparável à
implementação de uma campanha clássica, onde o fator tempo pode
Como já tive oportunidade de referir em diversas ocasiões, numa ir de alguns dias a algumas semanas, até tudo estar devidamente
situação de crise empresarial, a Comunicação ocupa, por norma, preparado, revisto e até, em alguns casos, previamente testado.
cerca de 80% das atividades a desenvolver. Daí a sua importância no
contexto da Gestão de Crises, e a razão porque a grande maioria dos A escassez de tempo disponível, que caracteriza estas situações,
especialistas na matéria provêm de uma das áreas da Comunicação, obrigando a que seja tomada a decisão certa, e, por consequência,
nomeadamente da área das RP. toda a orientação da campanha num período de poucas horas, ou
mesmo minutos, é, sem dúvida, o fator que mais stress causa e que
Mas o que diferencia a comunicação de crise da comunicação tradi­ muitas vezes lança o pânico e paralisa por completo uma equipa de
cional? E porque é que um profissional, mesmo que possuidor de trabalho.
vasta experiência em campanhas de outros géneros (Comunicação
Interna, lançamento de novos produtos, campanhas de imagem, O contexto
etc.), não se encontra automaticamente habilitado para lidar com É preciso ter presente que, seja qual for o tipo de crise que a empresa
este tipo de Comunicação? tiver de enfrentar, a ação irá sempre desenrolar-se num contexto
desfavorável; e o gestor deverá atuar sempre levando em consi­
A resposta é porque, da multiplicidade de áreas existentes na Comu­
deração este aspeto, pois o desconhecimento de estar a atuar num
nicação, esta é a que foge a todos os padrões tradicionais, obrigando
universo imbuído de negativismo pode levar qualquer responsável
a uma formação específica por parte de quem terá de desempenhar
a menosprezar certos aspetos básicos da Comunicação e contribuir
esta função. Também por esta razão, o gestor deverá estar atento para o alastramento da crise, em vez de a solucionar.
para não assumir, o priori, que a pessoa da sua equipa, encarregada
da área da Comunicação, se encontra automaticamente preparada
Aos olhos da opinião pública, e até que lhe seja fornecida uma
para lidar com situações de crise sem ter sido propriamente formada explicação plausível acerca da situação desencadeada, a empresa é
para tal. escrutinada e vista sempre como "suspeita de crime", tendo de ser
ela a provar a sua "inocência". Por esta razão, haverá que atuar em
As quatro principais variáveis que caracterizam a comunicação de conformidade.
crise estão relacionadas com o tempo, o contexto, o planeamento
e os atores. Mesmo quando se tratar de uma crise em que a empresa foi alheia
- Edições Técnicas

ao seu desencadeamento, como sejam uma catástrofe natural ou o


O tempo
envenenamento criminoso de um dos seus produtos, a verdade é
O tempo, ou melhor dizendo, a falta dele, é, sem dúvida, o aspeto que a forma como irá atuar no período imediatamente a seguir e a
mais importante numa situação de emergência. O facto de ter de se rapidez com que comunicar o ocorrido serão fatores decisivos para
LIDEL

trabalhar "a quente", em cima do próprio acontecimento, condiciona, ter a opinião pública contra ou a favor.

106 107
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise

Uma empresa não terá obviamente culpa se uma tempestade ou comportamento ziguezagueante, afirmando uma coisa um dia e
um grande vendaval destruir as suas instalações e provocar alguns outra de sentido totalmente oposto no dia seguinte, a fim de não
feridos. Mas o público quererá de imediato saber o que foi feito perder a credibilidade.
para tentar salvar os restantes empregados; que tipo de ajuda
foi prestada às vítimas; se os familiares foram avisados atempa­ Os atores
damente; se a estrutura da fábrica estava em boas condições; e Numa emergência, haverá que distinguir entre públicos-alvo e atores,
toda uma série de outras questões similares relacionadas com a sendo que os primeiros têm maioritariamente uma posição passiva,
situação. não interferindo na evolução da crise, enquanto os segundos podem
alterar profundamente o desenrolar dos acontecimentos.
O contexto irá, assim, condicionar não apenas a mensagem que se
pretende transmitir, como todo o comportamento geral da empresa, A sua definição depende do tipo de crise, da sua dimensão e
através dos seus dirigentes, porta-vozes e trabalhadores. Não será abrangência. Assim, entre os públicos mais passivos poderá constar
apenas o que se disser que é importante (como numa campanha tradi­
a opinião pública; os funcionários, se se tratar de uma crise externa
cional), mas também tudo o que se fizer e a forma como for feito. e de reduzida dimensão; os consumidores, se a emergência não tiver
qualquer relação com os produtos, etc. O facto de serem uns meros
O planeamento espectadores do acontecimento, não significa que não se lhes deva
Na comunicação de crise o planeamento tem de fazer prova de dar a devida atenção, antes pelo contrário, pois a sua opinião também
alguma flexibilidade, ao contrário do que acontece na comunicação irá afetar a imagem da empresa. Esta divisão é apenas orgânica, com
tradicional. vista a definir, logo à partida, quem são os elementos com poder de
intervenção na gestão da "nossa" crise, e poder, desde o início, dar-
Uma crise nunca se desenvolve de forma linear, mas sempre com -Ihes uma atenção diferente e, em muitos casos, partilhar com eles
altos e baixos, chamados, na gíria, picos de crise, obrigando a Comu­ a informação e pedir a sua colaboração.
nicação a mimetizar esta evolução, ou seja, a acompanhar estes picos,
colando-se a eles, e, mesmo em certas circunstâncias, a antecipar-se Imaginemos uma crise de dimensão média relacionada com um
mesmo a estes. Este procedimento implica um constante feedback acidente industrial: os públicos-atores, se lhes quisermos chamar
da situação, levando frequentemente a introduzir alterações no assim, seriam normalmente as entidades oficiais, como o Ministério
planeamento inicialmente traçado, a fim de se poder acompanhar da tutela, ou as entidades reguladoras que determinam a super­
adequadamente a evolução da crise. visão e o enquadramento jurídico do setor de atividade, ou ainda
a entidade camarária da região, bem como o corpo de Bombeiros,
Por outras palavras, é necessário uma certa flexibilidade tática para caso se tratasse de um incêndio de grandes proporções, ou o INEM
prever as adaptações pontuais a introduzir no planeamento inicial, se houvesse, feridos. A estes poderíamos juntar a comissão de tra­
Edições Técnicas

sem, contudo, alterar o posicionamento e a estratégia que foram balhadores e a comissão de moradores, se a dimensão da crise o
definidos à partida, e que devem constituir a trave mestra de todo justificasse.
o projeto. Ou seja, pode-se mudar de tática mas não de estraté­
-

gias, de modo a manter a consistência e coerência das decisões Estes atores poderão ter uma interferência direta na evolução da
LI DEL

que foram tomadas inicialmente. Não se pode enveredar por um crise, e assim deve-se prever um relacionamento distinto do restante

108 109
Ferramentas de Comunicação para Gestores

tipo de público. Não que sejam mais importantes, mas apenas porque
a sua intervenção e o bom relacionamento com estes pode ajudar Os /Me/os
na resolução do problema. l________ ___ ____ _______ _______________________________

Falta referir, naturalmente, a comunicação social, que deixei pro­


positadamente para o fim, por se tratar de um público híbrido, que, As ferramentas clássicas, indispensáveis à implementação de
não interferindo diretamente no processo com vista a solucioná-lo, qualquer programa preventivo de Gestão de uma Crise são: a equipa,
pode, através da divulgação do acontecimento, alterar a perceção o manual, o perfil de risco e o plano estratégico.
deste junto dos restantes públicos-alvo.
No que respeita à equipa (Crisis Management Team), esta terá de
De salientar também que a dinâmica pull andpush é completamente ser recrutada entre os quadros superiores e intermédios, que acu­
oposta à da comunicação tradicional. Nesta, é a empresa que tem mularão as suas funções correntes com as de membro da equipa
de envidar todos os esforços para "seduzir" os jornalistas, a fim de de Gestão de Crise. Para além do responsável máximo, que atuará
poder ser notícia. Pelo contrário, numa situação crítica é preciso como chefe de equipa (Team Leader), e de um substituto nas suas
saber gerir o natural assédio dos profissionais de comunicação social ausências (um subchefe), não deverá ultrapassar a meia dúzia de
que desejam saber o máximo de detalhes, o mais rapidamente pos­ elementos. Entre eles deverão figurar o porta-voz (normalmente o
sível, centrando-se normalmente nos aspetos mais polémicos da responsável pela Comunicação), o diretor de Marketing, o diretor
ocorrência. técnico e, eventualmente, o diretor de Recursos Humanos (quando
a crise for de origem interna). Acresce, para além de um/uma assis­
Em situações de crise, as relações com os Media assumem uma tente, os necessários consultores externos (jurídicos, de comunicação
importância primordial, sendo objeto de uma especialização neste especializada, das Tecnologias de Informação e Comunicação, etc.),
subsetor da Comunicação, e que tem sido exaustivamente abordada consoante o tipo de crise a que a empresa poderá estar sujeita e
em todos os livros e manuais de Gestão de Crise. que irá depender sobretudo do setor de atividade em que está
envolvida.
Em resumo, o tempo, o contexto, o planeamento, e os atores são as
variáveis que distinguem a comunicação de crise da comunicação Esta equipa, que deverá estar previamente formada e treinada,
tradicional, e que o gestor deverá ter em atenção sempre que tenha tem por missão reunir de imediato perante qualquer emergên­
de enfrentar uma situação crítica na sua empresa. cia; analisar rapidamente a situação; adiantar soluções para o
problema em questão e implementar as ações que então forem
definidas.
Edições Técnicas

Destaca-se que as funções no seio da Equipa de Gestão de Crise


passam a ter prioridade sobre as normais atividades de rotina dos
seus elementos.
-
LIDEL

111
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise

O manual de crise, cuja finalidade será a de orientar rapidamente de análise SWOT, centrada maioritariamente nos pontos mais fracos
a equipa em qualquer situação de emergência, deverá conter, pelo (ou vulneráveis) da empresa.
menos, a seguinte informação:
Consoante o setor de atividade, os pontos vulneráveis das empresas
■ Todos os contactos pessoais dos elementos da equipa de
variam bastante. Por exemplo, os riscos para uma empresa indus­
gestão;
trial de celuloses pouco terão a ver com os de um banco, compa­
■ Os contactos dos responsáveis nas filiais e sucursais da nhia de seguros ou de tecnologias de informação (TI), e serão algo
empresa, quando for o caso, e, tratando-se de multinacionais, distintos de uma empresa industrial de tintas ou de montagem de
das pessoas que na sede (headquarter- HQ) lidam com estes automóveis.
assuntos;
■ Contactos dos consultores externos; O caderno com o perfil de risco (que não deverá estar agregado ao
■ Lista de contactos dos órgãos de comunicação social; manual de crise) tem por função identificar os elementos que têm
■ Lista de contactos das entidades oficiais da tutela (Ministério, potencialidade de originar uma situação de crise na empresa, bem
Secretaria de Estado, Direção-Geral, etc.), das entidades como as probabilidades de ocorrência destas situações. Por outro
reguladoras, e das outras entidades (PSP, Bombeiros, INEM, lado, fará uma avaliação do possível impacto de cada tipo de crise,
etc.) que, consoante o tipo de emergência, terão de ser em termos humanos, ambientais, económicos, de reputação, etc.,
contactadas; distinguindo as vulnerabilidades prioritárias das que não o são, e
desenhando os possíveis cenários que daí poderão germinar, bem
b Descrição das principais tarefas a serem executadas logo que é
como a sua provável evolução.
acionado o sinal de alerta, conforme descrito no perfil de risco;
s Comunicados pré-preparados para as várias situações, Esses cenários podem estar relacionados com os processos produ­
instruções para lidar com os telefonemas que chegarem, tivos, o impacto ambiental, a segurança, a qualidade, os Recursos
para o encaminhamento de mensagens escritas. Humanos, ou ainda com procedimentos jurídicos, ações dos con­
O manual de crise será uma espécie de roadbook, que ajudará a correntes, ofensivas de grupos de pressão, ou mesmo condutas
equipa na tomada de decisões e se irá revelar um precioso auxiliar individuais de trabalhadores.
na poupança de tempo. Pressupõe-se que a equipa tenha deste
documento um conhecimento prévio, adquirido normalmente Em suma, se o gestor tiver consciência do perfil de risco da sua
durante a sua formação e treino em exercícios simulados, e não o empresa, mais facilmente poderá traçar antecipadamente os respe­
esteja a manusear pela primeira vez perante uma situação de crise tivos planos de contingência, para aplicar instantaneamente quando
verdadeira. um determinado tipo de emergência se materializar.
Edições Técnicas

Sem ser confidencial, a utilização do manual deve ser restrita aos Na preparação para enfrentar uma eventual situação de crise, o
membros da equipa e o seu conteúdo deve ser revisto e atualizado, plano estratégico, concebido previamente, desempenhará uma
pelo menos, duas vezes por ano. função muito importante, pois constituirá a base de todas as ações
que irão orientar a Gestão do Risco.
-
LI DEL

Para se ter uma definição do perfil de risco, terá de se proceder


previamente a uma auditoria de vulnerabilidade, que é uma espécie
©

112 113
Ferramentas de Comunicação para Gestores
27 -------------------------------------
Qualquer plano estratégico deve tomar em consideração as seguintes
O Perigo das Minicrises
fases:
■ Análise da situação;
■ Definição dos públicos e atores envolvidos;
■ Definição das prioridades e dos timings; A Gestão de Crise parece ter começado, felizmente, a fazer parte das
preocupações dos nossos responsáveis empresariais.
m Ações a empreender;
■ Meios a utilizar; Desde o virar do século, a maioria das grandes empresas e grupos
■ Conteúdo das mensagens a comunicar; empresariais portugueses já dispõem de uma Equipa de Gestão de
■ Controlo permanente e analise dos resultados; Crise devidamente instruída e treinada. Concomitantemente ou em
■ Confirma se esfegamento está correta. alternativa, algumas possuem um contrato (ou avença) com uma
agência de Comunicação, apta a entrar em campo logo que surja
Muito se tem escrito sobre a Gestão de Crises, pelo que não é objetivo
uma emergência.
deste capítulo abordar em profundidade cada aspeto, nem entrar
nos detalhes, mas apenas alertar o gestor para os pontos essenciais
Mesmo não se podendo considerar que se atingiu o patamar ótimo,
deste tipo de Comunicação. há que reconhecer que muitos progressos foram feitos, e que um
longo caminho foi percorrido nesta última dezena de anos.

Mas, se nos debruçarmos mais atentadamente sobre a evolução


positiva deste fenómeno, constatamos, no entanto, que sobres­
saem constantemente dois aspetos, comuns a todas as empresas
analisadas.

De um ponto de vista hierárquico, a formação em Gestão de Crise


abrange apenas o topo da pirâmide (Top Management) e, por vezes
(muito raramente), o Middle Management. O resto da estrutura e,
nomeadamente, a base da pirâmide, isto é, pessoas que lidam diaria­
mente com o público, não chegm a ter qualquer tipo de formação
nesta área.
- Edições Técnicas

Do ponto de vista da sua aplicação, a Gestão de Crise visa combater


unicamente as situações de emergência de alguma dimensão, cujas
consequências afetam negativamente a imagem e a reputação da
empresa. Somente em situações de grande visibilidade mediática,
LIDEL

sejam acidentes graves, perigo para a saúde pública, ou despedi­


0 mentos em massa, é que é dado o alerta vermelho para mobilizar a

114
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise-

Equipa de Gestão de Crise e pôr em prática o plano de emergência clássica, de maiores dimensões. Mesmo sem ter qualquer cobertura
previamente definido para essa situação específica. mediática. E, pessoalmente, não conheço nenhuma empresa
portuguesa preparada para lidar com este tipo de situação.
De notar que este conceito não é errado, se tivermos em conta que as
crises escalam-se em cinco níveis. Desde o nível 1, referente às peque­ Qualquer pessoa entenderá e até poderá desculpar um incidente,
nas dimensões, ao nível 5, referente às grandes crises planetárias seja ele qual for, como nos exemplos que descrevi anteriormente,
(Seveso, Chernobyl, Bohpal, etc.), felizmente menos frequentes,. O um atraso na partida de um avião, um crash do sistema informático
leque de situações críticas é extenso e variável consoante o tipo de de um banco ou supermercado, ou um engano na fatura da ener­
empresa e o seu setor de atividade, e a Gestão de Crise contempla gia. Desde que aconteça só uma vez! Porque se houver repetições
normalmente os "antídotos" clássicos para cada um dos escalões. constantes desse mesmo tipo de incidente, a atitude dessa pessoa
mudará radicalmente, e passará a ter uma péssima imagem da
Abaixo desta tabela, todos os acontecimentos inusitados são empresa em causa (e provavelmente tentará mudar de fornecedor
considerados simples incidentes, no dia a dia e na rotina de uma desses serviços.,.).
empresa.
Este problema tem duas agravantes: quem lida diretamente com os
Recentemente batizados de Minicrises (ou Microcrises), não justifi­ utentes não teve formação nesta área; e, por outro lado, a pequena
cam, pela sua pequena dimensão, a mobilização da Equipa de Gestão dimensão desse tipo de incidente não merece que se siga uma
de Crise, ou sequer a existência de um plano prévio de prevenção política de comunicação com os lesados.
ou de intervenção rápida.
Estar à espera de um avião atrasado num aeroporto já é de si angus­
Se o sistema informático de um banco, de um supermercado ou de tiante; pior do que isso é ninguém dar a mínima informação sobre as
um aeroporto for abaixo durante uma ou duas horas, não estaremos causas do atraso, e os próprios funcionários do check-in não saberem
propriamente perante uma situação de crise, independentemente o que se passa, nem conseguirem sequer prever quando será aproxi­
dos transtornos que durante esse período os utentes estejam a sofrer. madamente a partida. Se esta cena se repetir consigo três ou quatro
O mesmo se passa com um atraso significativo na partida de um vezes, provavelmente nunca mais voará nessa companhia aérea.
avião ou de um comboio, ou no engano de contas de saldo de um E a culpa não é dos funcionários do check-in, mas sim do topo da
banco, ou na fatura de uma companhia de água, gás ou eletricidade. hierarquia que não está sensibilizado para comunicar quando surge
Serão apenas situações anómalas e desagradáveis que constituem este tipo de incidentes.
incidentes de percurso no bom funcionamento da empresa em
questão. Os perigos das Minicrises são, em resumo, a falta de uma Comuni­
cação adequada, não através da Equipa de Gestão de Crise, mas do
Edições Técnicas

Contudo, o problema começa a surgir com a repetição sistemática pessoal de "primeira linha" que atende diariamente os utentes, e,
dessas Minicrises, e também com a constante falta de informação por outro lado, a falta de um plano preventivo que tente evitar a
imediata (e respetivo pedido de desculpas) ao utente lesado. repetição desses pequenos incidentes menores.
-
LIDEL

A repetição de uma Minicrise acaba por afetar, por acumulação, a A solução para as Minicrises? Nada de muito complicado, desde que
imagem e reputação de uma empresa, do mesmo modo que uma crise haja vontade política por parte dos responsáveis empresariais.

116 117
Ferramentas de Comunicação para Gestores

Sem ser exaustiva, aqui deixo uma lista de meia dúzia de passos fáceis
28
de dar que poderia ajudaria substancialmente a controlar melhor este Quando uma Crise Passa Despercebida
problema.

1. AanálisedetodasasMinicrises que a empresa tem enfrentado


ultimamente, visando compreender o que sucedeu e porque "E se no meio de uma crise global e de um cenário de recessão
sucedeu; generalizada como a que o mundo atualmente atravessa, uma insti­
2. A preparação de um plano preventivo, tendente a evitar tuição se vir subitamente confrontada com uma situação de crise
qualquer repetição desse mesmo tipo de incidente, no curto empresarial? Como deverá reagir? Poderá daí tirar algum partido?
e médio prazo; Ou, pelo contrário, terá duas crises sobrepostas?"

3. A formação e sensibilização do pessoal de "primeira linha"


Esta questão, muito pertinente, foi-me colocada há tempos num
em Gestão de Crise, naturalmente em moldes diferentes da
seminário sobre Gestão de Reputação.
formação mais profunda que a Equipa de Gestão de Crise
terá recebido;
A solução deste problema dependerá essencialmente de dois fatores:
4. A nomeação e formação de uma pessoa, cuja função seja a do contexto e do tipo de crise.
de lidar apenas com as Minicrises, é informar a Equipa de
Gestão de Crise destas pequenas ocorrências, alertando Sempre existiu uma tendência natural, por parte dos responsáveis
para a sua eventual repetição. Convirá não ser alguém que empresariais, para minimizar o contexto em que uma situação de
já pertença à Equipa de Gestão de Crise, visto que a missão emergência ocorre. Empenhados que estão em resolver o seu pro­
desta continuará a ser a de lidar com as "verdadeiras crises", blema imediato, esquecem com frequência de o colocar no universo
e não deverá ser envolvida na resolução de problemas mais vasto que rodeia a sua empresa, e que se traduz pela situação
"menores"; política/socioeconómica económica do mercado.
5. A implementação de um sistema de receção de reclamação
e de "pedido de desculpas", seja através do contacto pessoal Ora o contexto é muitas vezes decisivo, quer na repercussão quer no grau
(ao balcão), por telefone, por Internet ou por carta; que uma crise pode atingir, sendo decisivo na sua rápida resolução.

6. A monitorização permanente dos pequenos incidentes e a


Se uma acusação de falta de ética ou de corrupção pode afetar grave­
preparação de uma resposta imediata, dar pelas pessoas de
mente a reputação de qualquer CEO de uma grande empresa num
"primeira linha".
país industrializado, em certas zonas do globo (como, por exemplo,
Só com uma Equipa de Gestão de Crise preparada lidar com as situa­ certos países africanos ou sul-americanos), essa mesma situação
Edições Técnicas

ções de crise, e um sistema implantado para fazer face aos pequenos não constitui qualquer problema de maior e é encarada com total
incidentes do quotidiano, é que uma empresa estará verdadeira­ displicência por todos os setores da sociedade. Neste exemplo, o
mente preparada para defender a sua imagem e reputação. contexto passou a ser determinante.
-
© LIDEL

O outro aspeto a ter em atenção tem a ver com o tipo de crise


em si mesmo. Parto do princípio de que os meus leitores estão

119
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise

minimamente familiarizados com a catalogação que é costume Infelizmente (para os trabalhadores e para a sociedade em geral),
fazer-se das situações de emergências. Sem pretender ser exaustivo no atual contexto, este tipo de crise passou a fazer parte do nosso
relembro que estas podem surgir nomeadamente através de desas­ cenário quotidiano. O fecho de fábricas e os despedimentos coletivos
tres empresariais, de alterações estruturais, de difamações, acusa­ banalizaram-se de tal forma que se ainda têm alguma atenção dos
ções e agressões, de sabotagens, de fabrico produtos defeituosos, Media é, sobretudo, para efeitos estatísticos sobre os números do
ou até como consequência de desastres naturais, em que a empresa desemprego.
é acusada de não ter previsto qualquer plano de emergência para
essas situações. Qualquer multinacional que atualmente tenha de fechar portas no
nosso país será sem dúvida menos afetada, em termos de reputação
O "gatilho" para a situação de emergência é geralmente acionado e de Capital Imagem, do que aquelas que passaram pela mesma infe­
por um destes principais tipos de crise. E a análise a ser feita terá, liz situação, há dois ou mais anos atrás. Por vezes, uma crise dentro
em primeiro lugar, de tomar sempre em consideração estes dois de outra crise tende a passar despercebida. E este exemplo é uma
aspetos: o tipo de crise e o contexto em que ela ocorre. situação bem ilustrativa disso mesmo.

Voltando agora ao tema deste capítulo, sobre a ocorrência de Relembro que sempre que tiver de se defrontar com o eclodir de uma
uma situação de crise empresarial numa altura em que o mundo crise empresarial, pense, em primeiro lugar, em fazer uma análise
está mergulhado nesta crise global sem precedentes, é óbvio que atenta do contexto antes de iniciar qualquer outra atividade prevista
haverá certos tipos de crise que não serão afetados por este tipo no seu plano de prevenção de emergências. Verá com alguma sur­
de contexto, e que manterão toda a sua carga emocional intacta. presa que, em muitos casos, as soluções recomendadas no manual
Se foi fabricado um produto defeituoso, se caiu um avião ou, se se de crise estão desfasadas e não se aplicam à sua atual situação.
registou um incêndio, o risco para a reputação é o mesmo do que se
o contexto fosse diferente, e estivéssemos, por exemplo, num ciclo
de expansão económica.

Mas há outras situações, normalmente muito sensíveis, que no atual


contexto tendem a minimizar os seus efeitos negativos em termos
da reputação empresarial. O mais evidente e importante tem a ver
com os despedimentos, fecho de empresas, deslocalizações, reestru­
turações, etc.

Um despedimento coletivo, ou até uma redução dos postos de tra­


- Edições Técnicas

balho, é, por norma, uma situação delicada, que tem de ser muito
bem gerida, a fim de evitar uma abrupta perda do Capital Imagem
da empresa. É também uma situação que está sob o escrutínio
permanente das entidades oficiais, dos parceiros sociais, dos Media
LIDEL

e da opinião pública durante todo o processo.


@

120 121
Gestão de Crise

à conclusão de que, na quase totalidade dos casos estudados, uma


Marketing de Crise - Uma Nova Ferramenta
janela de oportunidades se abria para as empresas acabadas de
de Gestão
sair de uma situação de emergência. A diferença entre elas residia
apenas no facto de umas empresas terem sabido aproveitar essas
oportunidades e outras não.
Neste ano de 2012 em que a Gestão de Crise perfaz oficialmente 30
anos, o que lhe confere um estatuto de maioridade, será oportuno Esta ideia de não ver numa crise apenas o perigo que ela representa,
fazer um pequeno balanço desta atividade, e aproveitar para abordar mas também as possíveis oportunidades que irão surgir, deve muito
uma nova área emergente, apelidada de Marketing de Crise. Isto é, ao conceito Wei-Ji importado da China nessa mesma década.
como podem as empresas tirar dividendos de uma situação crítica
que acabaram de enfrentar. Wei-Ji é o ideograma chinês que significa crise. Resulta da associa­
ção de dois ideogramas Wei para perigo eJi para oportunidade, daí
Tanto para os responsáveis empresariais como para os consultores decorrendo a ideia de que, se é verdade que uma a crise representa
(como é o meu caso), a Gestão de Crise dividia-se, até agora, em duas um perigo real, também é verdade que encerra sempre uma opor­
grandes áreas: o antes e o durante. tunidade nova de mudança. Robert Kiyosaki, 0 guru americano, da
motivação e autor de várias obras, também chamou a atenção para
Tradicionalmente designadas por Gestão de Crise Preventiva e Gestão o facto relembrando que "...dentro de qualquer problema reside
de Crise Interventiva, pressupunham, no primeiro caso, a preparação sempre uma oportunidade adormecida...".
prévia de uma empresa para saber enfrentar qualquer situação de
emergência que viesse a ocorrer no futuro, e, no segundo caso, a A partir de então, passou-se a considerar a fase pós-crise como uma
implementação na prática de um programa de gestão, visando solu­ nova (e natural) área de atividade, que não se limitasse, como até
cionar rapidamente a crise que tivesse sido desencadeada e reduzir então, a um mero follow-up dos acontecimentos, mas antes a uma
os efeitos negativos e todos os danos colaterais que normalmente forma proativa de tentar aproveitar as oportunidades que invaria­
ocorrem. velmente se apresentavam.

O conceito, ainda embrionário, levou ao estabelecimento de novas


metodologias, que deram origem à atividade que se convencionou
chamar (por enquanto) de Marketing de Crise.
Foi com a publicação e entrada em vigor em 1982 da Dire­
tiva 501/82 da Comissão Europeia, também conhecida como
Não será demais relembrar que a primeira preocupação de um gestor
Diretiva Seveso (e que previa estes dois cenários para a indús­
tria), que se formatou, por assim dizer, a Gestão de Crise como perante uma emergência continuará sempre a ser a de gerir adequa­
Edições Técnicas

a conhecemos hoje. damente a situação, para afastar o perigo da empresa, e poder dar
a crise por solucionada.

Durante a década de 90, os especialistas em Gestão de Risco Somente após ter atingido esse objetivo primordial é que pode reunir
-
LI DEL

começaram a estudar os diversos aspetos da possível recuperação com a sua equipa (Cr/s/s Management Team), e tentar identificar as
empresarial após terem enfrentado uma situação crítica. E chegaram oportunidades que entretanto se apresentam.

122 123
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise

De realçar que essas oportunidades, surgidas no período pós-crise, que venha em nosso auxílio, ou sequer nos apoie numa situação
nem sempre são evidentes numa primeira análise, exigindo uma difícil, mas, sim, que não interfira com o processo, contribuindo para
atitude proativa de pesquisa. O facto deve-se à falta de distância agravar a situação.
focal dos acontecimentos recentes, que turva naturalmente uma
visão clara de qualquer tipo de iniciativa minimamente adequada à Oportunidades a nível interno
situação em que se encontram naquele momento.
Para além da motivação referida anteriormente, de salientar a
melhoria geral do clima organizacional, e em muitos casos a revelação
De referir que as ditas oportunidades, surgem, por vezes, apenas
de talentos, pois é nos momentos difíceis que sobressaem as pessoas
sob a forma de pretextos, permitindo que se tomem determinadas
de grande valor. Mas se é verdade que as situações difíceis permitem
iniciativas, que em condições normais não seriam possíveis.
revelar as pessoas talentosas, também é verdade que podem igual­
mente revelar os seus contrários. Uma crise permite ver com maior
De qualquer modo, quer se trate de oportunidades reais ou de
clareza quem são os heróis e quem são os vilões. E é nas situações
simples pretextos, a verdade é que nenhuma destas situações se
difíceis, quando a empresa está "debaixo de fogo", que estes ficam
teria podido materializar se a empresa não tivesse primeiro passado
involuntariamente mais visíveis. Competirá ao gestor estar atento a
por uma situação de emergência.
estes aspetos e saber tirar deles os devidos ensinamentos.

Resumidamente, e também porque este espaço é limitado, refira-se


Por outro lado, a crise pode constituir uma boa oportunidade para
que, até agora, as oportunidades têm sido catalogadas em três tipos,
a implementação de uma série de mudanças, que já se teriam feito
sempre a partir do pressuposto de que a crise foi gerida com sucesso,
sentir há muito, mas para as quais faltava o pretexto ou a dinâmica
e o caso já está dado como encerrado. necessários para tal.

Oportunidades de âmbito geral Oportunidades a nível externo


Estão relacionadas com o reforço da autoestima e autoconfiança do
De um modo geral, pode-se adiantar que as oportunidades têm sido
Management (e do respetivo upgrade da imagem do responsável recenseadas sobretudo em duas vertentes: na dos métodos, áreas e pro­
máximo por ter sabido enfrentar com êxito uma situação difícil) e
gramas de atividades e na do relacionamento com os diversos púbicos.
de todos os funcionários da empresa. A nível de grupo, o facto de
pertencer a uma equipa vencedora levanta mais o moral e une mais Na primeira vertente têm-se encontrado oportunidades na área da respon­
pessoas do que participar numa série de ações de motivação e de sabilidade social, associadas ao meio ambiente ou às causas humanitárias.
team building. Dependerá muito do tipo de crise que se teve de enfrentar.

Num campo um pouco diferente, a situação difícil porque passou Quando se trata de um produto que foi afetado, o seu relançamento em
© LID E L-E dições Técnicas

a empresa permite verificar (e confirmar) onde se encontram os novos moldes, seja ele um lifting ou a completa reformulação (nome,
verdadeiros amigos e aliados. As reações dos diferentes stakeholders logótipo, packaging, etc.), pode surgir como uma oportunidade.
(acionistas, banca, fornecedores, parceiros, etc.) constituirão um
excelente barómetro para medir o tal "grau de lealdade" em relação No que respeita às relações com os stakeholders, pode-se constituir
à empresa. O mesmo se passa com a concorrência, que não se espera uma oportunidade para as reforçar e melhorar, ou para iniciá-las,

124 125
Ferramentas de Comunicação para Gestores Gestão de Crise

caso não existissem antes. E isto verifica-se em quase todos os níveis, 0wsiiriw_18íten(vm^d8 2012. Bürto d* ífertftá»» PUBLICIDADE

seja financeiro (pedido de empréstimos a fundo perdido, quando


um incêndio destrói uma fábrica), seja nas relações institucionais
(estreitamento de relações com os governantes, deputados ou políti­
cos envolvidos), seja mesmo a nível de Media Relations (os jornalistas
que escreveram sobre a crise têm maior propensão para ajudar no
relacionamento da empresa). Fidelidade Mundial Império Bonança

Em suma, a nível externo, uma crise constitui sempre uma oportu­


nidade de melhorar as relações da empresa com alguns dos seus COMUNICADO
públicos-alvo.
TORNADO NO ALGARVE
A título de exemplo veja-se o comunicado das companhias de seguros
FIDELIDADE MUNDIAL E IMPÉRIO BONANÇA
Fidelidade Mundial e Império Bonança, no muito oportuno apoio às
ANUNCIAM MEDIDAS DE APOIO AOS CLIENTES
pessoas atingidas por um tornado no Algarve.
Com o propósito de minorar as consequências patrimoniais do tornado ocorrido no Algarve
Para o responsável empresarial esta fase pós-crise poderá, portanto, e de contribuir, dessa forma, para minorar os efeitos na população atingida, a Fidelidade
Mundial e a Império Bonança colocam ao dispor um conjunto de medidas excecionais de
servir para, sem grandes resistências internas, implementar um con­
apoio aos seus clientes.
junto de mudanças na sua empresa, aproveitando as oportunidades
que poderão surgir, ou mesmo utilizando a situação crítica como um Avaliação simplificada de danos
bom pretexto para tal.
Para acelerar e simplificar o processo de reparação de danos, a Fidelidade Mundial e a Im­
pério Bonança deslocaram para o Algarve, no próprio dia da ocorrência, equipas de peritos
e técnicos especializados com o objetivo de identificar e avaliar com a máxima rapidez os
danos verificados e de processar as correspondentes indemnizações.

As seguradoras do Grupo Caixa Geral de Depósitos atribuíram aos seus peritos uma au­
tonomia reforçada na definição das indemnizações aos segurados por forma a acelerar os
processos de indemnização. Esta medida visa minimizar o impacto da situação nas familias
e facilitar a rápida reparação dos danos registados.

Linhas telefónicas de apoio a clientes


Para esclarecimento de todas as dúvidas e reporte de danos dos clientes, a Fidelidade
Mundial e a Império Bonança disponibilizam serviços de apoio telefónico através dos nú­
LI D E L - Edições Técnicas

meros 808 205 004 (Fidelidade Mundial) e 808 245 004 (Império Bonança), disponíveis
nos dias úteis, complementando o apoio prestado pela Rede de Mediadores e Agências
no Algarve.

16 de novembro de 2012
©

126 127
'ARTE /V
Relações Institucionais
e Lóbi
Relações Institucionais e Lóbi

30 Não escondo que nos países do Norte da Europa ou em Bruxelas


Gestor e Lobista (já para não falar dos EUA ou Canadá) é muito mais fácil um respon­
sável empresarial fazer Lóbi junto dos decisores políticos, através das
pessoas em quem delega essas competências.

Se há uma atividade no setor da Comunicação onde o gestor será Nesses países, os poderes públicos estão acostumados a ouvir o que
chamado amiúde para participar ativamente e de "corpo presente" a sociedade civil tem a dizer ou a propor, seja através dos respon­
será certamente a de lobista, ou seja, nas relações com o poder político, sáveis de uma empresa, de uma associação profissional, de uma
quer a nível governamental, parlamentar, autárquico e até de admi­ Organização Não Governamental (ONG), ou de lobistas profissionais
nistração pública, como legítimo representante da sua empresa, em representação destes. E, mesmo assim, sempre que há aspetos
legislativos importantes que irão ser tomados em breve, e que possam
O que, sublinhe-se, é perfeitamente natural, sobretudo em Portugal, vir a afetar uma empresa, ou todo um setor de atividade, é comum
visto que os poderes políticos, sejam governantes ou deputados, mais ver os gestores máximos dessas empresas a pedirem pessoalmente
facilmente aceitarão dialogar com o representante máximo de uma audiências, para exporem diretamente os seus pontos de vista.
instituição, do que com um subordinado sem idêntico poder de decisão,
mesmo que tenha sido indigitado especificamente para essas funções.

Isto é, verdade sobretudo no nosso país, onde não temos ainda


Estes gestores são apelidados, na gíria, de “lobistas ocasionais”,
tradição de "fazer Lóbi" através de consultores externos ou mesmo de em oposição aos lobistas profissionais que exercem em per­
pessoas da própria empresa nomeadas para exercer essa atividade, manência essas funções.
em representação das respetivas administrações,

É por isso imprescindível que um líder empresarial tenha algumas


noções, sobre como se exercem as relações governamentais e par­ Exemplo---------------------------------- ------- ---------------------------- ------- ----------
lamentares, a fim de poder defender com sucesso os interesses da
Recentemente, em Bruxelas, tive oportunidade de presenciar
sua empresa, ou do seu setor de atividade. E isto é valido tanto para a visita de Bili Gates ao Parlamento Europeu, para explicar aos
o Lóbi a nível nacional, como a nível da UE, nomeadamente junto da eurodeputados o seu ponto de vista, a propósito de uma futura
Comissão Europeia e do Parlamento Europeu. diretiva comunitária sobre patentes de software, que estava
em discussão, e que iria ser prejudicial à Microsoft. É claro que
Poderá fazer-se acompanhar do colaborador que normalmente na a Microsoft possui o seu próprio departamento de Relações
empresa trata destes assuntos ou até do seu consultor externo, Institucionais/Lóbi em Bruxelas onde trabalham duas dezenas
de pessoas, e que, para além disso, contratou em permanência
Edições Técnicas

qualquer deles provavelmente mais abalizados do que o próprio líder


duas empresas de consultores externos especializadas em Lóbi.
empresarial sobre estas matérias. Mas a verdade é que a presença
Mas isso não invalidou que o representante máximo da empresa
do gestor nestas reuniões em muito facilitará todo o processo. Desde
fizesse questão de estar presente na discussão de um assunto
a marcação da audiência, à atenção com que serão recebidos pelo i de tão grande importância como aquele.
-
LI DEL

governante, deputado ou grupo parlamentar, consoante as situações,


assim como ao encaminhamento posterior do assunto.

130 131
Ferramentas de Comunicação para Gestores

Por isso, nos capítulos seguintes iremos abordar alguns aspetos


relacionados com esta atividade, bastante incompreendida em O Lóbi como Indutor de Competitividade
Portugal, como é o Lóbi, e com a qual será conveniente que
qualquer gestor esteja familiarizado.

Sabendo-se que o Lóbi só existe nas sociedades democráticas, todos os


meus colegas em Bruxelas acham espantoso que, ao fim de 40 anos de
democracia, a atividade ainda não esteja regulamentada em Portugal.
É reconfortante saber que não sou apenas eu a pensar desta maneira,
e acrescentaria que é pior do que isso, pois o Lóbi nem sequer é reco­
nhecido, e tanto políticos como altos responsáveis empresariais "fogem
como o diabo da cruz" a terem de se pronunciar sobre este tema.

E, pelos vistos, tão pouco o quarto de século de vivência no seio da


UE nos ensinou alguma coisa - o que é, no mínimo, estranho.

E, no entanto, os Lóbis existem e sempre existiram (costumo dizer


que é a segunda profissão mais antiga do mundo...), na defesa dos
interesses da sociedade civil perante os poderes políticos.

O Lóbi dos agricultores, o da indústria, o dos ambientalistas, o dos


comerciantes, o Lóbi gay ou dos direitos dos animais, só para citar alguns,
são legitimados e reconhecidos nas sociedades industrializadas. E as
suas atuações são perfeitamente normais em democracia, desde que
sejam naturalmente realizadas com ética, transparência, profissiona­
lismo e dentro dos parâmetros que foram determinados por lei.

Não será sem razão, que nos EUA (só Washington, considerada
a capital mundial do Lóbi, conta com cerca de 6o ooo lobistas) o
Lóbi é considerado como “o 5.° poder”.
Edições Técnicas

A UE reconhece que os lobistas não são mais do que intermediários


especializados que defendem os interesses de um determinado
setor da sociedade (seja ele uma instituição, uma região, uma
-
LI DEL

associação ou um país), e que servem de interlocutores válidos e


abalizados às próprias instituições comunitárias.

132 133
Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e Lóbi

A Comissão Europeia tem em curso, desde há alguns anos, através da forma profissionalizada. Se esta forma de atuar ainda funciona mais
iniciativa do Comissário Siim Kallas, a ETI - European Transparency ou menos (se bem que cada vez menos) no nosso país, por força da
Iniciative, visando formatar a atividade de Lóbi junto das instâncias tradição enraizada, em Bruxelas é que não funciona mesmo.
europeias. No âmbito da ETI foi lançado, em 2007, o "livro verde
sobre a transparência", ao qual se seguiu um livro branco, com vista a E essa é a principal razão porque não temos tido até agora grande êxito
harmonizar a prática de Lóbi nos 28 Estados-membros. Aproveitando na defesa dos nossos interesses na UE, mesmo atendendo ao facto de o
a Presidência Portuguesa do Concelho da UE, Siim Kallas veio nesse atual Presidente da Comissão Europeia ter nacionalidade portuguesa.
ano a Lisboa justamente para falar sobre este assunto.
Esta situação é fruto de não se ter ainda reconhecido o Lóbi como
Seria bom que o nosso país começasse a alinhar por este "diapasão" uma atividade legítima, de esta não estar regulamentada, e de não
e regulamentasse a atividade. Pois, se internamente teria muito a haver uma formação específica nesta área, como, por exemplo, uma
ganhar em termos de transparência nas relações entre governantes pós-graduação.
e governados, em termos internacionais ganharia imenso em com­
petitividade nomeadamente em Bruxelas, onde a nossa presença é Quando isto acontecer (e tudo indica que estará para breve por
ínfima na representação dos interesses portugueses. imposição da UE), poder-se-á, então, formar profissionais idóneos e
competentes, e constituir assim um pequeno "exército", capaz de
lutar no terreno comunitário em pé de igualdade com os lobistas
dos países do Norte da Europa, em defesa dos interesses nacionais

Para termos uma ideia, operam oficialmente em Bruxelas cerca - a bem da nossa competitividade.
de 15 000 lobistas (os números não oficiais apontam para o
dobro). Desses, cerca de 5 000 estão devidamente registados
como lobistas junto do Parlamento Europeu e da Comissão
Europeia; e, dentro destes números, cerca de 800 são alemães, Em Julho de 2013, depois de este capítulo ter sido redigido,
perto de 600 são britânicos, e a própria Espanha (onde a situação deu-se a feliz coincidência de a Assembleia da República ter
do Lóbi é idêntica à de Portugal) tem lá em permanência à volta organizado, através de uma iniciativa do Deputado Mendes
de 180 profissionais, a defenderem os respetivos interesses. Bota, Presidente da Comissão para a Ética, a Cidadania e a
Comunicação, a primeira Conferência/Debate sobre este tema,
com o título “O Lóbi numa Sociedade Democrática”. Para além
Em 2005 Portugal tinha apenas um lobista acreditado no Parlamento da minha pessoa, foram convidados vários oradores nacionais e
Europeu, e no ano de 2012 tinha quatro. Convenhamos que para internacionais, como o responsável por esta área na OCDE, ou a
defender os interesses nacionais é muito pouco, e por isso não Presidente da Associação Espanhola de Lóbi, para exporem os
nos podemos depois queixar da nossa falta de competitividade no seus pontos de vista. Este evento constituiu um marco impor­
tante, no processo de regulamentação da atividade, dado que
LI D E L-E dições Técnicas

que toca a defender os interesses portugueses junto das instâncias


foi a primeira vez que este tema foi discutido, em 40 anos de
comunitárias. E isto, apesar de eu próprio já ter notado em várias
Democracia, congregando a unanimidade dos grupos parlamen­
ocasiões uma certa movimentação de "agentes" portugueses junto
tares para a regulamentação urgente do Lóbi.
da Comissão e do Parlamento. Mas o problema é que a grande
maioria continua a fazer Lóbi à "antiga portuguesa", ou seja, através Esta é apenas mais uma razão para os gestores portugueses
do conhecimento pessoal, do pedido ou da cunha, e não de uma estarem atentos aos próximos capítulos desta temática.
©

134 135
Relações institucionais e Lóbi

32 dirigem-se a públicos-alvo mais vastos, não estando o seu objetivo


Relações Institucionais e Lóbi final necessariamente relacionado com uma alteração legislativa,
conforme se pode observar na seguinte definição:

Referi numa obra anterior que a confusão existente entre as


Relações Institucionais e o Lóbi é muito frequente, mesmo entre “Entende-se por Relações Institucionais (Public Affairs) a gestão
os profissionais, pelo que me parece adequado retomar este das relações com o topo das diversas instituições, públicas ou
conceito a fim de o clarificar. Nestes últimos anos, em diversos privadas, com o objetivo de influenciar favoravelmente os cen­
Estados-membros da UE (e também em Bruxelas), o número de tros de decisão, de forma direta ou indireta, na defesa dos inte­
resses de uma empresa, instituição ou setor de atividade.”
empresas de Lóbi, no sentido puro do termo, tem vindo curiosa­
I
mente a decrescer, dando progressivamente lugar a empresas de
consultoria em Public Affairs. De entre vários serviços que estas Assim, por um lado, verifica-se um alargamento do leque dos
prestam, o Lóbi continua a representar uma fatia substancial das públicos-alvo, para além dos poderes públicos (governo e par­
atividades, havendo uma maior diversificação destas em vários lamento), passando-se a contemplar também os responsáveis e
outros domínios da Comunicação. decisores de grandes grupos económicos, de empresas, de associa­
ções profissionais e de todos os outros tipos de instituições. Por outro
lado, o objetivo final deixa de ser apenas de teor legislativo, podendo
estender-se a outras pretensões como a assinatura de um contrato,
a implementação de parceria, a obtenção de exclusividade para um
O termo Public Affairs, que os franceses traduziram para
determinado mercado ou de acordos bilaterais, entre outros.
affaires publiques e os espanhóis para asuntos públicos, adotou
no nosso país a designação de Relações Institucionais, tendo
conseguido reunir um certo consenso, junto dos diversos As Relações Institucionais abrangem as seguintes áreas de
atores, para referir um conjunto de atividades distintas, mas atividade:
todas elas relacionadas com as diversas formas de influenciar
■ O Lóbi, que continua a ser a atividade maioritária e que pode
os centros de decisão.
ser aplicado a partir de três formas:
Lóbi Direto (direct lobbying), quando se dirige a um alvo
A nova geração de lobistas europeus já vem devidamente preparada preciso que detém o poder de decisão (um Ministro, um
das universidades para fazer face a estas exigências de mercado, Secretário de Estado, um grupo parlamentar, etc.);
e, aos poucos, começou a tomar o lugar dos lobistas "tradicionais", Lóbi de Topo (top lobbying ou grasstop lobbying), quando
© LID E L-E dições Técnicas

que apenas se dedicavam aos contactos diretos com governantes nalguns casos é necessário recorrer a uma instância
ou parlamentares. superior para, através dela, se pressionar o alvo desejado
(Presidente da República, Primeiro-Ministro, Comissão
As Relações Institucionais abrangem assim um conjunto de ativi­ Europeia, etc.);
dades diversificadas, que incluem o Lóbi, e, apesar de continuarem - Lóbi de Base (bottom lobbying ou grassroot lobbying),
a utilizar a mesma técnica e um tipo de estratégia semelhante, quando se faz pressão sobre o alvo através da opinião

136 137
-

Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e Lóbi

pública, de opinion makers, ou de grupos de interesse (ONG, conjunta, havendo, nestes casos, que esperar ser necessário
associações, etc.), utilizando para tal os Media, a Internet ou fazer algumas cedências.
determinados eventos como manifestações, petições, etc.
Menos correntes são as alianças com concorrentes ou
adversários, não tanto para se conseguir uma atuação con­
Exemplo ■ ,
junta (o que é muito raro acontecer), mas mais para esta­
Para ilustrar, imaginemos, por exemplo, uma empresa do setor
belecer uma espécie de “pacto de não agressão" durante um
farmacêutico que faz Lóbi no Ministério da Saúde, com o objetivo
determinado período.
de conseguir uma alteração à legislação em vigor que permita
a autorização para um novo tipo de medicamento ou para uma

■Ü
■ As relações com decisores (top management relations) as-
nova forma de comparticipação. semelham-se ao B2B, mas para os gestores trata-se mais
Os esforços desenvolvidos junto do gabinete do Ministro fazem de criar uma aproximação entre as partes, partilhando
parte do Lóbi Direto. informações de interesse, potenciando futuras alianças ou
Se optar por recorrer a instâncias superiores - Primeiro-Ministro, até possíveis atuações conjuntas, do que estabelecer bases
grupo parlamentar-ou apresentar queixa em Bruxelas, estará a sólidas de negócios. Por vezes, o estabelecimento de relações
desenvolver Lóbi de Topo. entre decisores tem mais a ver com aspetos sociais do que
empresariais, como pode ser o caso do responsável de uma
Caso escolha o Lóbi de Base para pressionar de “baixo para
cima", pode dar maior visibilidade ao assunto divulgando o caso multinacional estrangeira desejar conhecer o respetivo em­
nos órgãos de informação, na Internet, organizando um evento baixador acreditado no país onde está localizado.
com uma associação de doentes desse setor terapêutico, etc. ■ O Market Intelligence, que inclui a recolha e análise da informa­
E, claro, em termos estratégicos, pode até utilizar estas três formas ção sensível, bem como a vigilância legislativa, que permite detetar
de fazer Lóbi seguindo um timing adequado, o que multiplica para quando algum grupo parlamentar se prepara para apresentar
umas três dezenas as diferentes hipóteses de atuação. uma proposta de lei. Esta atividade designa-se também por Com-
petitive Intelligence (Inteligência Competitiva).
■ Comunicação Estratégica (strategic communication), dado
■ Gestão das coalições (coalition building), com vista a reforçar que hoje nenhuma empresa consegue ter sucesso e boa
uma posição, através da união pontual com terceiros, que reputação sem uma estratégia de comunicação e de imagem,
podem ser aliados naturais, aliados potenciais ou até mesmo adequadas às suas ambições. A Comunicação Estratégica, em
concorrentes. Esta constitui a mais recente área de es­ muitos aspetos semelhante à Comunicação Institucional (e
pecialização das Relações Institucionais. que nada tem a ver com a Comunicação de Marketing),
O estabelecimento destas alianças com aliados naturais está normalmente a montante de uma campanha de Lóbi,
implica uma estratégia conjunta que beneficie todas as partes, e visa criar uma base de goodwill, preparando o terreno e
Edições Técnicas

conforme se poderá observar mais em detalhe no capítulo facilitando a ação das futuras campanhas.
“Gestão de coalições". ■ A Gestão de Crise - algumas grandes consultoras interna­
cionais de Relações Institucionais também dominam a área
Relativamente aos aliados potenciais, será necessário encetar da Gestão de Crise, por esta estar em estreita relação com a
-
LIDEL

negociações com vista a propiciar uma futura atuação Gestão da Reputação (Reputation Management).

138 139
Ferramentas de Comunicação para Gestores

Exemplo ;------------------------------------------------------------------------------------------
33
Poderíamos citar como exemplo o caso do concurso que Gestão de Coalições
Portugal lançou há uns anos para a aquisição de submarinos.
Durante vários meses, os dois principais concorrentes (franceses
e alemães) lançaram nos Media portugueses campanhas de
Comunicação Estratégica, com o objetivo de conduzir a um
melhor conhecimento das respetivas empresas e granjear uma Como abordado sumariamente no capítulo anterior, uma área
boa imagem junto da opinião pública, antes mesmo de iniciar relativamente recente no âmbito das Relações Institucionais é a da
qualquer tipo de negociação com o Governo português. Gestão de Coalições (em inglês Coalition Management), também
chamada de Gestão de Alianças.

Não sendo o príori uma atividade "clássica" em Relações Institucionais A sua importância deriva do facto de se posicionar a montante da
(e muito menos no Lóbi), há que reconhecer que muitas das ações definição de estratégia de qualquer campanha de Lóbi, e do seu bom
de Lóbi que são levadas à prática têm a sua génese em situações de funcionamento depender o sucesso ou o completo fracasso do futuro
emergência. E não deixa de ser verdade que ter conhecimentos em projeto. Vai mais além do que a simples parceria entre empresas ou
Gestão de Crise em muito beneficiará a conceção da futura estratégia instituições (própria do B2B), congregando todas as atividades com
de Lóbi, justamente para não desencadear involuntariamente uma idêntico grau de responsabilização de todos os pares nela envolvidos.
situação crítica. Os exemplos deste tipo de situação abundam, podendo
ser o caso de um produto adulterado ou contaminado, que irá pos­ Poderíamos definir uma coalição como "o esforço coletivo levado
teriormente desencadear um conjunto de novas medidas legais por a cabo por empresas, associações empresariais, ONG e outros
parte das autoridades para todo o setor (todos nos lembramos ainda grupos de interesse, para temporariamente coordenar e integrar
do caso da doença das vacas loucas ou da doença de nitrofurano nos ativamente e em conjunto uma determinada ação de Lóbi". Tanto
frangos), da presença de levando a que os grupos de interesse visados podem constituir-se para, num curto prazo, bloquear ou incentivar
se mobilizem para tentar impedir essas alterações regulamentares. uma determinada legislação; ou, a longo prazo, sensibilizar e moldar
Por isso, se um dia precisar de recorrer aos serviços de um lobista em as atitudes dos legisladores e da opinião pública, em certas áreas
Bruxelas, não se admire se o puserem em contacto um especialista em específicas da sociedade. O exemplo deste segundo caso pode ser o
Relações Institucionais/Public Affairs. da introdução dos transgénicos (OGM ou Organismos Geneticamente
Modificados, também conhecidos como transgénicos) na legislação
europeia, onde existem dois blocos opostos, a favor e contra, e cuja
guerra de interesses se desenrola há quase uma década.

Convém avisar, no entanto, que não se trata de uma tarefa fácil!


Edições Técnicas

Quem já teve ocasião de trabalhar com coalições conhece bem as


dificuldades em formá-las, incutir-lhes os princípios orientadores da
missão, mantê-las coesas e apelar à sua participação ativa na hora
-
LIDEL

de atuar. Se juntarmos a isto o esforço logístico e de uniformização


© da Comunicação para que todos os intervenientes falem a uma só

141
Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e Lóbi

voz, passando a mesma mensagem, facilmente percebemos que o conseguir que quatro ou cinco empresas tenham a mesma
sonho de ter num "exército" unido pode muito bem transformar-se cadência do que dez ou 20. É um aspeto importante a não
num pesadelo para o gestor que teve esta iniciativa. Sobretudo se a descurar logo de início;
coalição envolver mais de uma dezena de instituições. Recordo que ■ Caso não arranje um número de aliados naturais suficiente
em Relações Institucionais para formar uma coalição bastam duas para formar a coalição que idealizou, passe a listar os aliados
empresas, mas em casos extremos este número pode ir até às muitas potenciais. Estes, não sendo adversários ou concorrentes,
dezenas. Imagine-se, pois, a árdua tarefa de conjugar os diversos graus não têm, no entanto, interesses idênticos aos seus (quando
de interesse de cada um dos intervenientes, marcar uma agenda que muito, parecidos), pelo que terá de negociar e fazer algumas
seja favorável a todos eles, e arranjar consenso na escolha das ações cedências se os quiser ter "a bordo";
a implementar.
■ Lembre-se de que quanto mais heterogéneo for o universo
das instituições que irão compor a coalição, melhor será. Se,
A Gestão de Coalições foi criada no sentido de facilitar essa tarefa em vez de congregar apenas empresas de um determinado
aos organizadores, passando a fazer parte da atividade de Relações
setor da indústria, conseguir juntar-lhes umas ONG, Defesa
Institucionais, como um novo Tool Kit estratégico para os grupos de do Consumidor, Ambientalistas, etc.); umas associações ou
interesse que desejem unir-se numa causa comum.
confederações empresariais distintas (para além da natural
associação do seu setor); e umas ligas ou think tanks19 (liga
Sem ser necessário estar a par de todos os detalhes, será, no entanto,
de amigos, instituto de estudos, etc.), conseguirá formar um
vantajoso para o gestor-comunicador conhecer alguns aspetos
"exército" multidisciplinar, capaz de atacar o mercado-alvo
básicos a ter em conta, para o caso de um dia decidir formar (ou ser
em várias frentes e com armas diferentes;
convidado para integrar) uma coalição.
■ Poderá também pensar em fazer uma lista de figuras públicas
que, individualmente, se tenham distinguido na defesa de
O ponto de partida uma causa que tenha alguma coisa a ver com o âmbito do seu
Imaginando que já decidiu que será necessário avançarem coalição para projeto (uma doença, defesa dos animais, direitos humanos,
atingir o seu objetivo, deverá ter em atenção os seguintes aspetos: ambiente, etc.).
Não sendo uma empresa ou instituição, este líder de opinião
■ Defina primeiro quem poderão ser os aliados naturais, que
contribuirá para dar maior credibilidade a toda ação, e aju­
eventualmente terão interesses idênticos aos seus, para se
dará a reforçar a heterogeneidade da coalição. Podem ser
unirem numa causa comum;
pessoas oriundas da política (ex-governante, ex-deputado,
■ Tente avaliar, de seguida, de quantos desses aliados vai
ex-comissário europeu); da cultura (escritor, compositor,
necessitar para dar mais força ao seu projeto;
artista); do desporto ou da ciência, pouco importa, o que
■ Tenha em atenção que apesar das grandes coalições serem é essencial é que tenha uma qualquer ligação lógica ao
© LID E L-E dições Técnicas

capazes de dar um forte sinal político de poder negociai, universo em que a coalição se insere.
nem sempre são mais efetivas do que as pequenas. E,
sobretudo, em termos de gestão aplica-se a regra do "smallis 19 Think Tank - literalmente "banco de ideias" ou "oficina de ideias"; são centros
beautiful", pela maior facilidade de consenso e de manobra de pesquisa independentes e sem fins lucrativos, voltados para a produção e
que podem proporcionar. Com efeito, é menos complicado divulgação de ideias e conhecimento sobre temas relacionados com Política,
Ciência, Tecnologia, Estratégia ou Defesa.

142 143
mwwtw-l-ii ..... ...—............... - ..... ~

Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e Lóbi


A formação da coalição ■ Quando conseguir o número de intervenientes que idea­


Para iniciar os contactos com as outras instituições, deverá fazer lizou, é altura de juntar todos eles numa mesma reunião
prova de alguma diplomacia e assertividade para não criar certos para, presencialmente, poderem discutir mais em pormenor
atritos. o projeto. Normalmente, é logo aqui que começam a surgir
\

as primeiras dificuldades de agenda, quando se trata de


■ Elabore um documento simples (white paper) onde expõe grandes coalições;
sumariamente a sua ideia, objetivo, e vantagens em se
m u am atasseam

criar uma coalição para defender um (ou vários) interesse ■ Para esta primeira reunião será necessário preparar um
comum. segundo documento, baseado no white paper inicial, onde
todos os aspetos neles referidos serão abordados em detalhe.
Já que esse white paper vai ser idêntico para todos os
^ m
Terá de lhe acrescentar uma sugestão de planeamento que
potenciais integrantes da futura coalição, tenha o cuidado
refira os timings (quando acha que deve começar e quanto
de não mencionar nele os nomes das outras instituições
tempo irá durar) das ações a empreender, dos públicos-
que pretende contactar, ou realçar em demasia aspetos
-alvo (targets) a quem se destina, dos meios a utilizar e,
que possam não interessar grandemente a alguns deles.
naturalmente, dos custos previstos.
Por outras palavras, o white paper deverá ser suficiente­
mente generalista para poder ser entregue a todos eles, Para além disso, será bom que cada um tenha, desde o início,
sem ter de alterar o conteúdo em função de cada um uma noção bem clara do que lhe vai ser pedido, em termos
deles. de ações nas quais estará envolvido.

m Marque reuniões individuais com os decisores de cada ■ Apesar de todos terem a mesma quota de responsabilidade,
uma dessas instituições, começando sempre pelos aliados uma coalição não poderá funcionar se não houver um
naturais junto dos quais terá mais hipóteses de receber uma líder. Este terá de ser nomeado (ou votado) por consenso
resposta positiva. entre todos os elementos, e passará a ser o coordenador e
"a cara" da coalição. Q que não quer dizer que terá de fazer
Nessa reunião já poderá indicar (verbalmente) quem são as
todo o trabalho, pois cada um dos elementos ter de dar o
outras entidades que pretende contactar, e, inclusive, aceitar
seu contributo, de uma forma ou de outra, a diversos níveis,
sugestões de outros potenciais aliados dos quais não se tinha
consoante os critérios estabelecidos.
lembrado anteriormente.
Enquanto um elemento poderá participar nas reuniões com
Depois de ter conseguido algumas alianças, pode alargar a sua
deputados de um certo partido; outro poderá reunir com um
intervenção a outros possíveis aliados, para os quais aparecerá
determinado governante; um outro pode escrever artigos de
em maior posição de força, ao falar em nome de um grupo já
opinião para um jornal; e outro ainda pode gerir um blogue
constituído e não apenas da sua empresa.
ou uma conta nas redes sociais, etc.
a Tenha sempre o cuidado de utilizar os mesmos argumentos,
© LID E L-E dições Técnicas

É possível (e muito provável) que, como iniciador da coalição,


e de adotar a mesma mensagem, pois é muito provável que
lhe seja pedido para desempenhar esse papel. Mas não tem
os responsáveis das outras instituições se conheçam, e ao
de ser forçosamente assim, pois, por vezes, escolhe-se a pes­
falarem entre eles achariam estranho virem a saber que
soa de maior prestígio, o decano com mais anos de experiên­
apresentou a cada um deles um projeto diferente. Sobretudo
cia, ou até a tal figura pública que referi anteriormente.
nesta área, a transparência é fundamental!
.
. .

144 145
r
Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e tóbi

Como em tudo na vida, ser coordenador e dar a cara por Em suma, são indiscutíveis as vantagens que poderão advir para
uma coalição tem a suas vantagens e desvantagens, e convirá qualquer instituição, ao participar numa coalição. Mas esta só fun­
pensar muito bem antes de tomar uma decisão. cionará se for bem gerida.
■ Afim de assegurar que todos assumem os seus compromissos,
será vantajoso que assinem posteriormente uma carta de E este pequeno apontamento serve apenas para alertar para algu­
intenções. Da mesma forma, se ficar combinado que se irá mas dificuldades com que um gestor se poderá defrontar ao decidir
imprimir um papel de ofício para todas as comunicações da tomar uma iniciativa deste tipo, ou a ser convidado para integrar ou
coalição, é bom que os nomes (e logótipos) das empresas formar uma coalição.
figurem nele. Chamo a atenção que, por vezes, esta intenção
gera algumas resistências por parte de alguns participantes,
que prefeririam agir sob um certo anonimato. Pelo que será
um ponto importante a discutir também logo nesta primeira
reunião.

A Gestão

Supondo que se chegou a um acordo sobre a administração e o


funcionamento da coaiição entre todos (ou só com alguns) os
intervenientes, é chegada a altura de passar à implementação do
projeto. Neste ponto há pouco a dizer, visto que o funcionamento da
coalição assemelha-se em tudo ao de uma qualquer outra estrutura
empresarial, e, aqui, os procedimentos de gestão são idênticos aos
de qualquer instituição, com os quais o nosso gestor-comunicador
estará familiarizado. Chamo apenas a atenção para a importância de
fazer parte de uma coalição (liderando-a ou não), sem, no entanto,
perder a sua identidade.

Uma coalição é, por definição, temporária, uma empresa não. E é


por isso importante que depois de se atingirem os objetivos e de
se desfazer a coalição, o nome e a imagem do gestor não fiquem
"etemamente" a ela ligados.

As coalições permitem que pequenas organizações atinjam objetivos


que não conseguiriam se trabalhassem sozinhas. Para as grandes
organizações e os grandes grupos, permite-lhes mostrar que têm
interesses comuns com as PME e as pequenas instituições, conferin­
do-lhes maior goodwill diversidade e credibilidade.

146 147
■:

J
Relações Institucionais e Lóbi

A ideia deste capítulo é precisamente enumerar algumas dessas


regras (ou dicas) que são seguidas em Bruxelas, esperando que, se
forem devidamente transpostas para o nosso universo nacional,
facilitem um pouco mais o acesso aos nossos eleitos.

Qualquer responsável empresarial que já tenha tentado contactar Naturalmente, para quem queira ser ativo em Bruxelas os mesmos
com os nossos poderes públicos, nomeadamente o Executivo e o preceitos devem ser aplicados.
Legislativo, apercebeu-se certamente de uma série de dificuldades
com que não imaginava ter de se defrontar. Para formular um pedido de audiência, haverá, em primeiro lugar,

íaíô íftX W itei « a à lB íiiisl


que:
Seja a nível do Governo ou da Assembleia da República, conseguir s Localizar corretamente o interlocutor a quem deseja apre­
marcar uma audiência (sem recorrer ao pedido, à cunha, ou à rede de sentar um assunto. Hoje, com a Internet, a tarefa está alta­
contactos privilegiados) não é tarefa fácil, mesmo quando o assunto mente facilitada, visto que se encontram on-line todos os
a tratar é de grande importância para a sociedade e para o país. contactos dos decisores políticos, seja em Portugal seja nas

■«
O que não deixa de ser estranho numa sociedade democrática, onde
instituições comunitárias. A maior dificuldade reside na

^fcXríí
uma das "obrigações" dos eleitos é justamente ouvir a opinião do seleção do interlocutor apropriado (target), por isso tem
eleitorado.
de definir previamente qual o deputado (ou qual o grupo

-
parlamentar, ou o governante) mais indicado para apresentar

-
Mas também não deixa de ser verdade que, na maioria das vezes,
o seu assunto;

-tó
os pedidos de audiência não são convenientemente formulados,
■ Pode começar por fazer um telefonema preliminar a fim de

£>'.&
o que, logo à partida, dificulta, ou até inviabiliza, qualquer possi­
confirmar o endereço (ou e-mail ou número de fax) para
bilidade de ser recebido por um governante, deputado ou decisor
onde deve enviar o seu pedido. Isto tem a vantagem não só
político.
de confirmar o contacto, como de ficar já de posse do nome
do (ou da) assistente (ou secretário/a) que o vai atender, e,
Comparativamente, em Bruxelas, a tarefa dos lobistas vê-se
eventualmente, de ficar a saber a priori os dias ou as semanas
...........................................
muito mais facilitada nos seus contactos com as instituições
em que o seu interlocutor estará com maior disponibilidade
comunitárias, seja a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu
de agenda;
ou qualquer outro organismo da UE, visto que o próprio sistema
está devidamente preparado para lidar com este tipo de iniciativa ■ Faça sempre o pedido por escrito (uma carta, um e-mail ou
da sociedade civil. memo um fax), especificando quem é, quem representa (se
for o caso), o motivo do seu pedido, e porque acha que esse
LID E L- Edições Técnicas

No entanto, será bom realçar, que qualquer desses profissionais decisor é o interlocutor indicado.
que tenha de recorrer amiúde ao Lóbi Direto (ou de Topo) junto O texto tem naturalmente de ser breve (uma página), sem
dos decisores comunitários sabe que tem de seguir um conjunto de entrar em detalhes (que serão explicados durante a reunião),
regras básicas para levar a bom termo a sua missão. conter todos os seus contactos e deixar claro que o que
pretende é uma audiência. Escusado será dizer que terá de
..........

ser educado e seguir o protocolo (atenção à forma como se


148 149

Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e Lóbi

dirige a um governante). É conveniente que, na parte final do O último recurso será fazê-lo através da sua associação ou
seu texto, dê uma indicação das semanas em que terá maior confederação, se o assunto puder vir a ser de interesse para
disponibilidade ou de uma data limite, o que constituirá um todo o seu setor de atividade (isto para não falar na possível
bom pretexto, nos contactos posteriores, para fazer alguma contratação de um lobista profissional...).
insistência.
a Reforce o pedido escrito com um telefonema, passado uns Mas, de uma forma ou de outra, se tiver seguido diligentemente estes
dias. É possível que fale novamente com a assistente ou passos, o mais provável é que consiga obter o seu encontro com o
secretária (se não o fez antes, aproveite agora para ficar com o decisor político desejado.
nome e contactos diretos) que lhe dirá em que situação está o
seu pedido (ainda não foi despachado, foi encaminhado para Na fase posterior, e tendo conseguido marcar uma data/hora, o
outra pessoa, já marcaram uma data, etc.). Em Portugal não próximo passo será preparar muito bem o que vai expor nesse
se admire se lhe pedirem para voltar a enviar novamente a encontro.
carta (ou e-mail ou fax), por não conseguirem localizar o seu ■ É conveniente reconfirmar, na véspera, que não houve
pedido... (situação que prefiro não comentar). qualquer alteração de horário ou data, e anunciar quantas
Sempre que necessário, volte a telefonar de vez em quando pessoas vão estar presentes. Se não quiser ir sozinho pode
até ter uma resposta concreta (um sim ou um não é sempre levar mais uma pessoa, no máximo duas. Três pessoas
melhor do que uma resposta evasiva). para uma reunião com um governante (ou deputado) é
■ Se o seu pedido foi aceite, basta agendar uma data/hora, considerado um número aceitável, mais do que isso tende a
conciliando a sua agenda com a do interlocutor. Recomen- ser exagerado. Evite a todo o custo levar consigo uma vasta
da-se que seja flexível, pois os decisores políticos têm geral­ comitiva, sobretudo se os outros elementos não tiverem
mente as suas agendas muito preenchidas, pelo que mais nada a dizer;
vale adiar outros compromissos, do que tentar agendar ■ Leve sempre algum documento escrito (os ingleses chamam
este encontro para outras datas posteriores; -lhe white paper) para deixar ficar ao seu interlocutor. Este
* Se o seu pedido não foi aceite, tente saber a razão - se foi deve ser sucinto (três páginas no máximo), conter os pontos-
por uma questão de agenda, ou porque o assunto não é da -chave do assunto que vai expor, e deixar bem claro o que
competência do seu interlocutor, etc. e volte a analisar a pretende com este pedido de audiência (para pedir uma
situação. revisão da atual legislação; para fazer uma chamada de
■ Seguidamente, terá de fazer uma opção: ou volta a contactar atenção para os problemas da sua empresa ou do seu setor
o mesmo interlocutor, utilizando outros meios (uma carta, de atividade; para dar informação antecipada sobre novos
se enviou anteriormente um e-mail e vice-versa) e referindo investimentos que vão ter lugar, etc.);
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que é a segunda vez que entra em contacto; ou muda de ■ Se for acompanhado, combine antecipadamente quem vai
interlocutor, quer verticalmente, subindo (Lóbi de topo) falar sobre o quê, em perfeita sintonia. Pior do que algumas
ou descendo na hierarquia (por exemplo, um Secretário de das pessoas presentes não fazerem qualquer intervenção, é
Estado se tentou o Ministro), ou horizontalmente (outro quando todos querem falar em simultâneo sobre o mesmo
Ministro, ou outros deputados ou mesmo outro grupo assunto, muitas vezes, com pontos de vista que nem sequer
parlamentar, no caso da Assembleia da República). coincidem. Por outro lado, esteja preparado para responder

150 151
Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e Lóbi

■ Depois, terá de ser pragmático e ir direto ao assunto. Lembre-


a eventuais perguntas que lhe vão ser feitas. Elaborar
-se de que o seu tempo é precioso, pois não disporá de mais
previamente uma lista de questões FAQ20 e ter mentalmente
20 a 30 minutos para fazer passar a sua mensagem. Por este
as respetivas respostas preparadas é uma boa decisão;
motivo não se afaste do seu tema, e, sobretudo, não perca
■ Mais do que nunca seja pontual, mas será ótimo se conseguir tempo em longas conversas preliminares sobre o estado do
chegar uns dez minutos antes. Em Washington costumam tempo ou os resultados do seu clube de futebol favorito.
dizer "se está a horas é porque está atrasado". E tenha
■ Após ter exposto o seu ponto de vista, e respondido às
atenção ao dress code, pois por ser representante de uma
prováveis questões que lhe irão ser colocadas, tente obter
associação desportiva ou de um clube de motociclistas, não
uma data limite para que o seu interlocutor lhe dê uma
é pretexto para se apresentar de fato de treino ou vestido
resposta ou lhe comunique a sua decisão. Em qualquer
à motard. Pessoalmente, aconselharia a ir sempre de fato
parte do mundo, os eleitos não gostam normalmente de
e gravata;
tomar decisões imediatas durante o encontro (a não ser que
■ Normalmente, será, recebido por uma (ou um) assistente ou esse encontro tivesse sido pedido especificamente com esse
secretária (provavelmente com quem já falou ao telefone) objetivo). Preferem pensar sobre o assunto, consultar os
que o mandará para uma antecâmara, sala de reuniões ou seus assessores e, depois de devidamente ponderado, é que
(o que é menos comum) diretamente para o gabinete do seu
comunicam a sua posição.
interlocutor. Não se admire se tiver de esperar. Apesar de
Mas, por outro lado, é preciso que o motivo da sua visita não
ter hora marcada, os decisores políticos, em todo o mundo,
seja esquecido, nem que fique em stand by indefinidamente,
sejam eles governantes ou deputados, estão sujeitos a
pelo que é aconselhável pressionar o nosso interlocutor a
muitos imprevistos e situações de emergência, que têm
de resolver com alguma prontidão no intervalo das suas avançar uma data limite.
reuniões; ■ Antes de se despedir, entregue o white paper que levou
consigo, e ofereça-se para enviar informação adicional mais
■ Ao cumprimentar pela primeira vez, trate o seu interlocutor
detalhada, sobretudo se o assunto for muito complexo ou
pelo respetivo título (Sr. Ministro, Sr. Deputado, etc.) e, ao
muito técnico. Se o seu interlocutor concordar e tiver interesse
longo da conversa, pelo seu grau académico (Sr. Professor,
em receber essa informação, terá uma boa oportunidade de
Sr. Doutor, Sr. Engenheiro, etc.) ou por Vossa Excelência. Isto
fazer um excelente follow-up, e refrescar o assunto para a
é válido para Portugal, porque noutros países (Brasil, EUA)
podem muito bem tratá-lo a si pelo primeiro nome e autorizá- agenda;
-lo de antemão a fazer o mesmo. No fundo haverá que seguir ■ Depois da audiência, e independentemente da forma
as regras extraprotocolares em uso em cada país; como esta tenha decorrido, não se esqueça de fazer o seu
agradecimento no prazo de 48 horas e por escrito. Para além
■ Comece por agradecer o facto de ter sido recebido, entregue
dos aspetos meramente formais, este follow-up permitir-
o seu cartão de visita e volte a explicar sumariamente quem
© LID E L-E dições Técnicas

-lhe-á relembrar ao seu interlocutor que fica a aguardar as


é, o que faz, quem representa (se for o caso), e a razão pela
suas notícias até à referida data limite que lhe foi indicada;
qual pediu esta audiência;
■ Se ficou de enviar a tal informação adicional, não o faça
20 FAQ.-FrequentlyAskedQuestions, em língua portuguesa "Perguntas Frequentes"; juntamente com a carta de agradecimento. Separe as duas
trata-se de um documento com as perguntas e respostas mais comuns sobre
um determinado assunto.

152 153
Ferramentas de Comunicação para Gestores

ações. Remeta a informação adicional três ou quatro dias


após ter enviado a carta de agradecimento.
mmmÊÊm

■ Se quiser, uns dias antes da data limite que lhe foi comunicada,
pode telefonar à assistente a perguntar se já tem uma
resposta para o caso. Não ficará mal visto por causa disso e,
muito provavelmente, dir-lhe-á que é muito cedo e que não O que tem a ver o Lóbi com a possível revisão constitucional que
tem nada para si. Mas aqui o mais importante é relembrar às ciclicamente faz parte da agenda política? A priori nada. Na prática,
pessoas que este caso está a atingir uma data limite, alertá- muita coisa.
-las para esse facto e, ao mesmo tempo, mostrar que está
atento a esse facto; Comecemos por relembrar o conceito europeu de Lóbi. Quem está
minimamente familiarizado com este assunto, sabe que não é mais
■ Se não lhe for dada resposta dentro do prazo previsto (e em
do que a defesa dos interesses de um determinado setor da socie­
Portugal não se admire se isso suceder frequentemente),
dade perante os poderes públicos. Como já escrevi no blogue de
peça para lhe definirem outra data limite. E depois é repetir
uma colega, tal como o advogado defende os interesses dos seus
as mesmas ações, telefonando ou enviando e-mails. Mostre-
clientes perante o poder judicial (responsável pela aplicação da lei),
-se flexível mas persistente. Verá que, no fim, alcançará o seu
o lobista defende os interesses dos seus clientes, mais a montante,
objetivo.
perante os poderes legislativo e executivo, isto é, perante quem
faz as leis.

Em qualquer sistema democrático, os Lóbis são legitimados e repre­


sentam uma importante peça da engrenagem da democracia, fun­
cionando como uma espécie de contrapeso dos poderes políticos.
Costuma-se dizer que os lobistas são o "braço armado" da socie­
dade civil, de quem defendem os interesses perante os poderes
instituídos.

A nível da UE, tanto a Comissão Europeia como o Parlamento Europeu


não só reconhecem a legitimidade dos grupos de interesses (isto é,
dos Lóbis), como consideram a sua existência altamente vantajosa e
necessária ao equilíbrio democrático e ao bom funcionamento das
instituições.
© LID E L-E dições Técnicas

Por essa razão, os cerca de 5 000 lobistas acreditados no Parlamento


Europeu fazem parte integral da "paisagem" e circulam dentro da
instituição com a mesma liberdade que os eurodeputados, os assis­
tentes, os funcionários ou os jornalistas.

154 155
Ferramentas de Comunicação para Gestores Relações Institucionais e Lóbi

É claro que o exercício dessa profissão tem de ser feito com grande Os Media terão também a sua quota-parte de responsabilidade, dado
profissionalismo, pois está sujeito a apertadas regras de ética, de que, até há bem pouco tempo (já não é verdade desde há uma meia
transparência e sob um rigoroso controlo (nem poderia ser de outra dúzia de anos), sempre que se falava de Lóbi, Lóbis ou lobistas era
forma). O que nos leva à questão recorrente: se o Lóbi traz tantas inevitavelmente feito de forma pejorativa, como sinónimo de uma
vantagens, porque é que não é reconhecido e regulamentado em atividade obscura, marginal e pouco recomendável.
Portugal? (e, já agora, em Espanha também?).
Isso ajudou, em muito, a criar na opinião pública a conotação negativa
Na verdade, é intrigante que, ao fim de quatro décadas de democra­ que ainda envolve a atividade, identificando-a, erradamente, com o
cia, a atividade ainda tente funcionar com os requisitos do pré-25 de tráfico de influências, a manipulação ou até a corrupção.
abril, isto é, através do pedido, da cunha, do compadrio, etc., também
é verdade que, ao longo destes últimos anos, houve por parte de Por outro lado, os grandes grupos económicos presentes em Portugal,
alguns governantes umas tímidas tentativas de discutir o assunto, e que poderiam, devido à sua influência, alterar a situação, tão pouco
no âmbito de uma maior transparência e do combate à corrupção. se mostraram muito interessados em mudar seja o que for, visto
Contudo, nenhuma iniciativa teve qualquer seguimento. que, do seu lado, nunca tiveram qualquer dificuldade de acesso aos
órgãos de poder. Como se pode imaginar, qualquer responsável de
Porque será, então, que o Lóbi não é legalizado, nem controlado no um desses grupos, ou das nossas 100 maiores empresas, sempre que
nosso país? quiser falar com um governante, um deputado ou um político influ­
ente, bastar-lhe-á pegar no telefone e fazê-lo diretamente. Para quê
Já me fizerem várias vezes essa pergunta e, pessoalmente, vejo qua­ alterar esta situação confortável, criar novas regras, alargar o leque
tro razões principais na origem desta situação. de influência a outros setores e, nomeadamente, às PME?

Apesar de termos sido dos poucos países a traduzir para o Por último, e certamente a razão mais importante a meu ver, é que
dicionário, em 2002, a palavra original Lobby para Lóbi e lobbyist um terço dos nossos deputados na Assembleia da República (cerca
para lobista, a verdade é que não temos, como os países nórdi­ de 70), só estão lá em part-time.
cos, nenhuma tradição na defesa de interesses da sociedade civil
perante os poderes instituídos. Nesses países, questionar os eleitos E o que fazem na outra parte do tempo? A maioria trabalha no setor
é um direito que o sistema democrático confere a qualquer cidadão. privado em grandes escritórios de advogados ou em grandes empre­
A nossa estrutura mental ainda está formatada pela influência de sas, muitas das quais são multinacionais estrangeiras (refira-se, a
meio século de ditadura, e mesmo uma geração após o 25 de abril, título de exemplo, o caso do ex-deputado Pina Moura que trabalhava
ainda se aborda com um laivo de "servilismo", um distanciamento em simultâneo para a Iberdrola).
respeitoso, e até um certo receio, os detentores dos cargos públicos,
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esquecendo o cidadão que foi ele, com o seu voto, que os elegeu. Ao acumularem estas duas funções, acabam por estar com um pé
Com esta forma de estar como pano de fundo, ousar abordar os no setor público e outro no privado.
eleitos para propor seja o que for não é uma prática corrente para
a maioria dos grupos de interesses. Ou se quisermos, e por outras palavras, são lobistas em part-time.
Qualquer pessoa terá o bom senso de reconhecer que é natural
e humano que defendam no Parlamento os interesses das outras

157
Ferramentas de Comunicação para Gestores

entidades para as quais trabalham durante a outra parte do dia. E


refira-se que não estão a cometer qualquer ilegalidade, dado que a Epílogo
Constituição prevê essas situações. Isto explica, certamente, a razão
por que ao fim de uma dezena de anos a tentar convencer os grupos
parlamentares, de todos os quadrantes políticos, a discutirem uma pos­
sível regulamentação da atividade, sempre encontrei grandes resistên­ Nos dias de hoje, qualquer pessoa com uma posição de liderança
cias. Por isso, enquanto não se impuser um regime de exclusividade precisa não apenas de ser um bom comunicador, como também
para os detentores de cargos políticos na Assembleia da República, de entender toda a engrenagem e as regras básicas, que moldam o
é pouco provável que qualquer medida avance nesse sentido. universo da Comunicação.
Agora que se fala tanto numa possível (se bem que improvável)
revisão constitucional, creio que a solução do problema poderia Num mercado cada vez mais global e competitivo, é necessário estar
passar justamente por aí. preparado e saber trabalhar em equipa, não sendo mais possível
separar Liderança e Comunicação.
Obviamente que não me refiro a introduzir qualquer menção ao
Lóbi no texto da Constituição, o que seria absurdo, mas para que se Por isso, qualquer gestor, seja qual for o setor de atividade em que
alterasse a situação dos nossos deputados eleitos, de modo a que só desempenha as suas funções, tem de ser em simultâneo um bom
pudessem exercer os seus cargos em regime de total exclusividade. comunicador, tanto a nível pessoal, como em termos de comunica­
ção de massas, e, ao mesmo tempo, estar perfeitamente integrado
Acabando-se com os "deputados-lobistas", estou seguro de que este nos próprios processos de Comunicação, para compreender o que
nosso assunto passaria rapidamente a constar das agendas dos gru­ os especialistas lhe propõem.
pos parlamentares, e daí à regulamentação do Lóbi seria certamente
um pequeno passo. E, se é verdade que, há uma dezena de anos atrás, apenas se pedia a
um gestor que soubesse também "falar em público" e "dar entrevis­
E essa nova situação não seria somente favorável aos profissionais do tas", bastando, para tal, frequentar um curso intensivo em cada um
nosso mercado, como também aos gestores portugueses, que veriam destes domínios, hoje esses conhecimentos adicionais não bastam.
os seus pedidos de audiência e as suas relações com os poderes O gestor moderno tem de conhecer minimamente a arquitetura
públicos grandemente facilitadas. das diversas técnicas de Comunicação e, se necessário, saber como
participar ativamente nelas, tanto interna como externamente.

Em suma, tem de ser um gestor-comunicador completo.


LI D E L - Edições Técnicas

Como referi no início, esta obra não se destina tanto aos profissionais
da Comunicação, que certamente já estarão mais do que familia­
rizados com os temas aqui tratados, mas é dirigida sobretudo aos
responsáveis empresariais, que pretendem ser mais interventivos
neste domínio.
©

159
Ferramentas de Comunicação para Gestores

E, naturalmente, foi pensada também para todos os interessados


deste universo, tão apaixonante quanto complexo e evolutivo, como Bibliografia
é o da Comunicação, ao abordar nalguns capítulos, o que de mais
recente se está a fazer neste domínio.

CLAMEN, Michel (1997) - Le Lobbying et ses Secrets, Dunod, Paris.


Espero que este meu objetivo tenha sido atingido.
DE COCK, Caroline (2010) - Lobby.eu, Survival Guide To EU Lobbying,
Para os leitores que não se contentam com uma abordagem Eburon Academics Publishers, The Nederlands.
superficial destes assuntos, recomendaria que a leitura deste livro
DE FOULOY, Christian (1994) - European Lobbyisfs Pratica! Guide,
despretensioso fosse complementada com uma imersão mais apro­
European Study Service, Brussels.
fundada nas diferentes obras, de variados autores, que já foram
publicadas sobre cada um dos temas aqui abordados. DUTTA, Sou mitra e outros (2009) - Innovating at the Top, INSEAD/
Roland Berger, Palgrave Mac Millan, UK.
Em caso de dúvidas ou de necessitarem de recomendações, esta­ FARNEL, Frank (1994) - Le Lobbying, Stratégies et Techniques
rei disponível, através da Editora Lidei ou do meu website pessoal dTntervention, Les Editions d'Organization, Paris.
(www.martinslampreia.com), para responder a qualquer questão
que entendam por bem colocar. GOSSELIN, Bruno (2003) - Le Dictionnaire du Lobbying, EMS Manage­
ment & Societé, Paris.
GUÉGUEN, Daniel (1991) - The Praticai Guide to EU Labyrinth,
Europolitics, Brussels.

HALL, Edward (1959) - The Silent Language, Double Day, Garden


City, New York.
HALL, Edward (1966) -A Dimensão Oculta, Relógio D'Água Editores,
Lisboa.

HARFORD, Tim (2008) - The Undercover Economist, Abacus, London.

HEIDERICH, Didier (2010) - Plan de Gestion de Crise, Dunod, Collec-


tion: Fonctions de Entreprise, Paris.

KOLLMAN, Ken (1998) - Outside Lobbying, Princeton University


Press, USA.
© LID E L-E dições Técnicas

LAGADEC, Patrick (1992) - La Gestion des Crises, Ediscience Inter­


national, Paris.

LAGADEC, Patrick (2002) - La Fin du Risque Zero, Editions Eyrolles,


Paris.

161
Ferramentas de Comunicação para Gestores

OUTRAS PUBLICAÇÕES LI DEL


LAMPREIA, J. Martins, etal. (2002) - Gestão deCrise-Uma Perspec­
tiva Europeia, Hugin Editores, Lisboa.

LAMPREIA, J. Martins (2003) - Comunicação Empresarial, Texto Edi­


tores, Textos de Gestão, Lisboa. -11
ELEMENTOS-
LAMPREIA, J. Martins (2005)-Lóbi, Éticae Aplicação, Texto Editores,
Textos de Gestão, Lisboa.
MOTIVAÇÃO
LAMPREIA, J. Martins (2007) - Marketing de Crise, Texto Editores,
Lisboa.

MC KEAN, David (2004) - Peddling Influence, Steerforth Press, New


Hampshire, USA.

MC LUHAN, Marshall (1962) - The Gutenberg Gataxy, University of 0 que motiva realmente as pessoas? E o
Toronto Press, Canada. que fazem as melhores empresas para
motivar os seus colaboradores? Saiba
MC LUHAN, Marshall (1979) - Os Meios de Comunicação, Editora como melhorar a motivação da sua equi­
pa ou empresa, através desta ferramenta
Cultrix, São Paulo.
de análise.
MOURA, Sofia (2013) - Marcas e Entretenimento, Guerra e Paz Edi­
tores, Lisboa.
APRESENTAÇÕES
VAN SCHENDELEN, Rinus (2003) - Machiavelliin Brusseis, Amsterdam QUE FALAM POR SI
University Press, The Nederlands.

XIFRA, Jordi (1998) - Lobbying: Como Influir Eficazmente en las Deci-


siones de las Instituciones Publicas, Gestion 2000, Barcelona.

Crie apresentações emocionalmente inte­


ligentes com ou sem PowerPoint! Inclui
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sugestões e 130 referências científicas.

meio século de saber


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