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Salve Maria,

Milagres da hóstia Santa

A Editora Auxílio dos Cristãos reeditou e organizou este livro com


muito carinho.

Além de trazer relatos dos milagres apresentados pela nossa


Santa Igreja, as crianças poderão se divertir colorindo as ima-
gens ao longo das páginas.

Aproveitem este belíssimo material.

@editora_auxilio_dos_cristaos
www.editoraauxiliodoscristaos.com.br
Nossa Senhora Auxiliadora dos Cristãos, rogai por nós!

Recomendação de Impressão:
• Papel sulfite A4 de 75g/m2
• Gerar impressão em tamanho original.
Declaramos que os fatos aqui relatados como miracu-
losos, bem que dignos de crédito, ficam totalmente
sujeitos ao juízo da Santa Igreja, ao qual não nos que-
remos antecipar.
JESUS E OS MUÇULMANOS
Os muçulmanos são pagãos. Não admitem a
divindade de Jesus e odeiam os cristãos. Muitas ve-
zes, em seus países, os perseguiram duramente, fa-
zendo elevado número de mártires da fé católica.
Êste fato aconteceu em S. João da Montana,
cidadezinha da Palestina.
S. João da Montana foi a terra natal de S. João
Batista, o célebre pregador que teve a gloriosa mis-
são de preparar o povo judeu a receber o Salvador
Jesus.
Os católicos, em S. João da Montana, eram nu-
merosos e possuíam belos e majestosos templos.
Eram fervorosos e frequentavam os atos de culto,
celebrados com toda a solenidade do rito.
No ano de 1879 o clero local resolveu festejar sole- Os católicos nunca haviam notado tanta afluência
nemente a festa do Corpo de Deus. Foi organizada de muçulmanos numa manifestação católica. Tão
uma grandiosa procissão que lembrasse ao povo a pouco conheciam o segredo e o milagre que os
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. acompanhavam.
Muitas vezes Jesus passara por aqueles lugares Enquanto os católicos viam no Ostensório a
abençoando quantos o procuravam. Como os ha- Hóstia Santa, os Muçulmanos admiravam uma for-
bitantes de Jerusalém, queriam, os Montaneses, mosíssima criança que os atraía e cativava. Por isso,
proclamá-lo seu Rei e eterno Senhor. deixavam eles as suas casas para seguir a procissão
O frei José de Jesus, franciscano, era o sacer- e apreciar a grandiosa e divina visão.
dote que oficiava na procissão. Num rico e precio- Eram velhos, mulheres, homens, meninos, meni-
so Ostensório levava, de braços levantados, o nas.
SS.mo Sacramento, visto por toda a multidão.
Era toda a população a caminhar, rezar, can-
O cortejo desfilava religiosamente, com gravi- tar, olhar para o Deus Sacramentado.
dade, fazendo preces e cantando hinos sacros. O
A procissão voltou para a igreja. O Sacerdote
ar vibrava de notas harmoniosas e vozes piedosas.
disse ao povo que Jesus estava com ele e podia ser
O espetáculo era cativante e impressionante. feliz. Abençoou-o com o Santíssimo e terminou a
Algo havia que atraía os corações. Assim, todos os cerimônia Sacra.
habitantes da aldeia deixavam suas casas para en-
trar na procissão. Os católicos saíram do templo, de volta para
suas casas. Os muçulmanos, pelo contrário, perma-
neciam em seus lugares, olhando para o Taberná-
culo. Esperavam que o Sacerdote fosse abrir, nova-
mente, a portinhola e tirasse a criança da casinha.
O Sacerdote não aparecia. corações. O triunfo eucarístico era a manifestação
Foram então à sacristia. da prodigiosa visão. A notícia espalhou-se rapida-
mente em toda a região, e o milagre de S. João da
- Padre... vimos lhe pedir para abrir a portinhola
Montana foi recebido pelos católicos como uma
e nos mostrar mais uma vez a criança que carrega-
prova de amor do seu Deus.
va na procissão.
O Patriarca de Jerusalém acorreu logo ao lugar
- Absolutamente! Não carreguei criança algu-
e abriu um rigoroso inquérito. Ouviu católicos e mu-
ma... respondeu o Religioso. O segurei, era o Osten-
çulmanos. Êstes, sob juramento, afirmavam ter visto
sório com o SS.mo Sacramento.
o Menino Jesus na Hóstia. Constou também que ne-
- Não! Todos víamos em suas mãos uma maravi- nhum católico tivera a felicidade e a graça de ver
lhosa criança, divina, resplandecente como o sol. o prodígio eucarístico.
Vimo-la durante o percurso todo da procissão. Não
O fato é histórico. Muitos muçulmanos se con-
queríamos que o senhor prendesse tão linda crian-
verteram ao catolicismo, convencidos da presença
ça em uma casinhola.
de Jesus na Hóstia Santa.
Frei José ficou pensativo. Compreendeu que se
havia realizado um milagre. Explicou-o aos muçul-
manos. Disse-lhes que Jesus os convidava para a
sua glória.
Na mesma noite toda a aldeia soube o acon-
tecimento. Uma alegria divina penetrou em todos
O JUMENTO ADORA A SANTA HÓSTIA Os mais obstinados e ferrenhos hereges não se con-
Santo Antônio foi um grande pregador da pala- formavam, porém, com os sucessos vitoriosos do
vra de Deus e o Apóstolo do Santíssimo Sacramen- Santo.
to. Começaram a persegui-lo e armar-lhe ciladas.
No seu tempo muitas heresias ameaçavam a fé Certo dia, um deles foi visita-lo e lhe disse:
dos católicos. Por isso, era incansável no trabalho - Sabemos que o senhor fala muito bem e com
de salvar as almas e procurar a glória do santo no- eloquência, porque tem o dom da palavra. Suas
me de Jesus. palavras, porém, não nos convencem. O que que-
E Deus abençoava a pregação de Santo Antô- remos é que prove com fatos o que diz. Queremos
nio, fazendo muitos milagres por sua intercessão. ver um sinal do céu que venha confirmar suas pala-
vras e o que ensina. Só assim poderemos crer na
Uma graciosa lenda nos transmitiu um fato ex-
sua doutrina.
traordinário que confundiu os hereges e provou a
virtude e bondade do Santo. Foi uma provocação audaciosa e blasfema.

Santo Antônio pregava em Tolosa, falando da O Santo concentrou sua alma em Deus e, inspi-
presença real de Jesus na Eucaristia. Suas palavras rado por Ele aceitou o desafio e respondeu ao he-
cheias de fé, de amor e de humildade iluminavam rege:
os ignorantes, entusiasmavam os fracos e converti-
am os pecadores e hereges.
Qual o milagre que quereis para crer no Santíssimo
Sacramento da Eucaristia?
Diante dessa resposta tão inesperada e cate-
górica, o herege ficou desnorteado e pensativo.
Afinal propôs:
- Tenho em casa um jumento. Deixá-lo-ei sem
comer por vários dias. Então, o levarei à praça pú-
blica, onde apresentarei o alimento que mais lhe
apetece. Nesse tempo o Senhor ali deverá estar,
segurando nas mãos a Hóstia. Se o animal rejeitar o
alimento e for se ajoelhar diante do Sacramento,
então, hei de acreditar que na Hóstia está o Nosso
Deus e Criador.
Sto. Antônio aceitou a imposição do herege, e
despediram-se.
A exigência herética chegou ao conhecimento
do povo católico. Os fiéis tremeram de indignação
e logo começaram a pedir a Deus para confundir
os hereges blasfemadores.
Sto. Antônio passou os três dias recolhido na
mais fervorosa oração e praticando penitências.
Pedia à divina misericórdia que perdoasse aqueles Nisto, o herege atira aos pés do jumento a tão cobi-
pobres filhos errantes, lhes comovesse o coração e çada ração de alimento.
fizesse o milagre para convencê-los de suas falsas e
Santo Antônio, então, dirigindo-se ao animal,
perigosas doutrinas.
lhe diz:
O dia fatal se aproximava, mantendo suspensos
- Ouve, criatura de Deus! Em nome do teu Cria-
e na impaciência todos os ânimos.
dor, eu te ordeno que, abandonando a comida, te
De ambas as partes se acreditava e confiava ajoelhes diante de Jesus Sacramentado, adorando
na vitória. na Hóstia o teu Deus e Senhor.
Afinal, clareou o terceiro dia. Mal o Santo havia terminado de falar, o jumen-
A praça principal estava totalmente ocupada to desprezou a comida e, virando-se para o Osten-
pela multidão. Os católicos rezavam humildemente. sório, caiu de joelhos, inclinou a cabeça profunda-
Os hereges sorriam com ares de superioridade e vi- mente, e assim permaneceu em adoração até que
tória. Sto. Antônio mandou que se levantasse.

À hora marcada apontou na praça o herege, Deus ouvira a prece do Santo e dos humildes
trazendo soberbamente o seu jumento, que seguiu fiéis.
em triunfo entre os hereges delirantes. Do lado Fez o milagre esperado.
oposto se aproximou o Santo, segurando nas mãos
o Ostensório com o Sacramento, e atrás dele a pro- Mais uma vez Deus provou aos homens a ver-
cissão dos fiéis de velas acesas e rezando. dade da fé católica na presença real de Jesus na
Eucaristia, na Hóstia consagrada.
Os hereges viram-se derrotados em seus erros.
Estavam negando a verdade divina. Cabisbaixos,
feridos no seu orgulho e pretensões, recuaram
abandonando a praça.
O júbilo, o entusiasmo, a satisfação dos católi-
cos se transformou numa festa de louvor ao Santíssi-
mo Sacramento. A imensa procissão voltou triunfal-
mente à igreja, onde Jesus ficou no tabernáculo do
amor.
O dono do animal, tocado pela graça de
Deus, se converteu e viveu como bom católico.
Muitos outros hereges abandonaram a heresia e se
converteram, atraídos pela verdade da Santíssima
Eucaristia.
CURA DE UMA PARALÍTICA
Quando Jesus passava pelas cidades e vilas da
Palestina, os doentes pousavam ao longo do cami-
nho para serem curados.
O Salvador Jesus abençoava-os, curava-os, res-
tituía-lhes a alegria da vida e a felicidade do espíri-
to.
O milagre de uma cura repentina é deveras
surpreendente e maravilhoso.
Por isso, as multidões ficavam arrebatadas e
aclamavam o Salvador.
Augustina Mourette, uma jovem de Creteil, es-
tava enferma havia 18 meses, completamente pa-
ralítica.
Apagara-se o brilho da mocidade, e seu corpo,
outrora formoso e forte, tornara-se uma figura disfor-
me, sem movimento, cadavérico.
Nada fazia prever melhora alguma, antes, a do paralítico, narrada pelo santo Evangelho.
doença progredia secreta e inexoravelmente.
Pôs-se a raciocinar, perguntando a si mesma:
Ciente do seu mal, Augustina dirigiu, então to-
- Se Jesus curou um paralítico que sofria havia
da a sua esperança para o bondoso Médico divi-
38 anos, também poderia ter compaixão e curar
no, Jesus. Orava com fé e confiava cegamente na
uma paralítica de apenas 18 meses. Porque não
palavra de Deus.
apresentá-la a Jesus durante a procissão eucarísti-
Resignada, esperava serenamente a hora da ca? Essa ideia não a abandonava um instante. Per-
graça. seguia-a sempre.
Era a semana da festa do Corpo de Deus. Então, manifestou o seu pensamento às com-
Em Creteil, todos os anos, saía a grandiosa e so- panheiras, as quais aprovaram o plano e se prontifi-
lene procissão do Santíssimo Sacramento. Era um caram a ajudá-la.
dia que todos esperavam com prazer e grande en- A paralítica concordou com a vontade das co-
tusiasmo. legas. E desde aquela hora sentiu nascer na sua al-
A cidade aparecia em festa. Nas praças eram ma uma fé tão forte que lhe dava a sensação de
armados lindos altares, as ruas eram atravessadas estar curada. Seus olhos úmidos, as lágrimas quen-
de arcos triunfais de festões e grinaldas, e as janelas tes manifestavam às vezes, as emoções do seu co-
e sacadas ricamente enfeitadas. Era o dia de triun- ração que vibrava de esperança no amor divino.
fo do Rei dos Reis. Serena e meiga esperava o grande dia.
Henriqueta Creté, uma amiguinha de Augusti-
na, teve uma feliz inspiração ao lembrar-se da cura
À hora combinada, as colegas foram à casa do trono o Sacerdote traçou a bênção eucarística.
de Augustina.
Sôbre a multidão ajoelhada, reverente, silencio-
Encontraram-na bem disposta. Vestiram-na sa e orante, desceu a bênção divina de Jesus.
com vestidos de festa e, depois, delicadamente,
Imediatamente, as jovens de branco carrega-
sentaram-na numa poltrona.
ram a poltrona com a sua querida doente, colo-
Abrindo caminho entre o povo, chegaram ao cando-a diante do altar. Depois, ajoelhadas em se-
altar onde devia pousar o Santíssimo para a ben- micírculo ao lado da enferma, começaram a pedir
ção eucarística. Colocaram-na ao lado do altar. em altas vozes, incessantemente, um milagre a Je-
A multidão olhava maravilhada as jovens vesti- sus Eucarístico.
das de branco e envolvidas em largos véus, que cir- O côro de vozes subia ao céu como um brado
cundavam, atenciosamente, a paralítica, cujo as- de fé e esperança, no meio do silêncio geral.
pecto irradiava fé, serenidade e paz celestial.
O espetáculo inesperado, piedoso e singelo co-
Os sinos bimbalhando, os tambores rufando, as moveu a multidão que, religiosamente, esperava a
fanfarras, os sinos mais vibrantes assinalaram a intervenção divina.
aproximação do Santíssimo Sacramento.
O celebrante comoveu-se até às lágrimas. Se-
A procissão parou passando por entre as alas gurando o Santíssimo Sacramento nas mãos, levou-
dos fiéis que davam vivas ao Rei Divino, o Clero e o o à presença da paralítica, e ali, fez a seguinte ora-
Sacerdote celebrante subiram ao altar que domi- ção perante a multidão:
nava a grande praça. Do alto
- Dai, Senhor, a estes fiéis reunidos em vosso no- A procissão continuou como uma triunfal glorifica-
me, o testemunho sensível da vossa presença entre ção da Santíssima Eucaristia.
nós; que Vós sois na Eucaristia aquele que outrora
As aclamações, os cantos, as fanfarras, os sinos
curava os enfermos de toda e qualquer enfermida- silenciaram somente quando Jesus entrou no tem-
de. plo.
- Assim seja! Respondeu o coro das brancas jo-
vens.
- Assim seja! Respondeu a multidão, como o
bramido do mar e o eco dos vales.
Quando o silêncio voltou, todos os olhares se fi-
xaram, ansiosos, sobre a Hóstia branca, numa espe-
ra de absoluta certeza.
A paralítica, então, se levantou, normalmente
da poltrona e virou-se para o povo. Depois, em lá-
grimas, atirou-se de joelhos diante do Santíssimo Sa-
cramento.
Augustina estava curada.
Jesus fizera o milagre.
A fé inquebrantável das jovens e da multidão
merecera o prodígio divino.
O FOGO RESPEITA A HÓSTIA Como de costume, a santa adoração foi inau-
Todos os anos os Beneditinos de Faverney prati- gurada com grande concurso de devotos. Os ado-
cavam na sua igreja abacial a piedosa devoção radores se sucederam até o escurecer, e os religio-
das 40 horas de adoração. sos ficaram em adoração até altas horas da noite.

Faziam-no para reparar os pecados dos calvi- Ardiam e se gastavam as tochas. E ardendo e
nistas, hereges que negavam a presença real de queimando-se, as chamas passaram o fogo às or-
Jesus na Eucaristia. Em Faverney havia muitos calvi- namentações do altar. Como aconteceu, foi sem-
nistas. pre um mistério.

A função das 40 horas constituía uma verdadei- A princípio, o fogo foi lento; progredindo, envol-
ra festa. veu todo o altar, transformando-o numa perigosa e
destruidora labareda. Negra fumaça encheu o in-
Os religiosos levantavam um altar-monumento
terior da igreja.
no centro da igreja, ornando de ricas toalhas, corti-
nas de seda e preciosos tapetes de grande valor. Em breve, toalhas, enfeites, altar, tabernáculo,
tudo ficou reduzido a cinzas fumegantes. As pare-
Sobre o altar, o grande cibório de ouro e prata,
des foram as únicas testemunhas da triste ocorrên-
engastado de pedras preciosas, segurava a Hóstia
cia.
exposta à adoração dos fiéis.
Ao amanhecer, do convento os religiosos se di-
Luzes e flores em quantidade completavam a rigiram à igreja para as preces matutinas. Ainda de
ornamentação do altar. longe pressentiram o cheiro de fumaça e da com-
Foi no dia 25 de maio de 1608. bustão, vindo do interior do templo. Ansiosos, entra-
ram na igreja. fogo.
E logo se defrontaram com a triste realidade, Não havia mais altar.
vendo com os próprios olhos o efeito do fogo.
E a Eucaristia?
Tristes, os Sacerdotes logo procuraram nas bra-
sas e cinzas o ostensório com a Hóstia santa.
Não estava.
Mais perturbados ainda, com o coração a ba-
ter constrangido, ficaram contemplando as cinzas,
incapazes de admitir que a Eucaristia tivesse desa-
parecido nas chamas.
Num gesto de súplica a Deus, levantam os
olhos ao céu. E qual não foi a sua surpresa e admi-
ração ao ver o ostensório com a Hóstia branca sus-
penso no ar, perto do teto.
Era um milagre verdadeiro, indiscutível e admi-
rável.
De joelhos e mãos postas ficaram adorando a
Santíssima Eucaristia, enquanto o sacristão abria lo-
go as portas da igreja para que os fiéis pudessem
ver o grande prodígio.
A notícia do milagre se espalhou pela cidade os mais respeitáveis, são ainda conservados e cons-
como um relâmpago. tituem um monumento venerando e sólido da pre-
A população toda saiu à rua, e a multidão foi sença de Jesus na Eucaristia.
se aproximando da igreja. De mãos postas, olhos Mais tarde, o Santo Padre Pio IX recomendou o
ao céu, os fiéis contemplavam arrebatados a glória milagre da Santa Hóstia de Faverney á veneração
do Senhor. de todo o mundo católico.
O ostensório permanecia no ar. Procissões saí-
ram das vilas vizinhas de Faverney e foram adorar o
Santíssimo no milagroso ostensório, que ficou sus-
penso no ar durante trinta e três horas. Nesse tem-
po, milhares de devotos desfilaram reverentes,
orando, cantando, louvando o Rei Eucarístico.
Na terça-feira, 27 de maio, o ostensório come-
çou a descer lentamente, pousando sobre o corpo-
ral que o sacerdote ergueu para receber o Santíssi-
mo.
Esse corporal é conservado em Besançon, na
França.
No inquérito canônico, o Arcebispo local rece-
beu o depoimento de milhares de pessoas que pre-
senciaram o milagre. Cinquenta, entre
O CASTIGO DO BLASFEMADOR Dois jovens, à porta de um bar, estavam entreti-
- Sr. Padre, vim pedir-lhe a caridade de levar o dos numa animada brincadeira com ovos de Pás-
Santo viático a Fulano, que esta gravemente enfer- coa, exatamente no caminho por onde o padre
mo... e no fim da vida. devia passar.

- Espere, que vou... respondeu o vigário, tirando Um dos jovens era calvinista, herege, ferrenho
os últimos paramentos da Missa. adversário da religião católica.

O Pe. Antônio Worst era um padre muito zeloso Acompanhado do acólito e de alguns fiéis, o
e seus paroquianos lhe dedicavam sincera amizade Vigário se aproximava com o Santíssimo Sacramen-
e confiança ilimitada. Era ele que devia resolver to- to. Ao passar pelo bar, o calvinista começou a zom-
dos os problemas de paz no lar, como todas as pe- bar e ultrajar o Santíssimo.
quenas dificuldades familiares. Dirigindo-se ao Padre e, mostrando-lhe o ovo,
Amigo dos velhos e dos doentes, não permitia disse com escárnio:
que ficassem sem o conforto e a assistência religio- - É mais fácil que eu coma esse ovo, do que o
sa. doente engolir o vosso ídolo.
Por isso, incontinente, foi buscar o Santíssimo O irreverente insulto ao Santíssimo magoou pro-
para sacramentar o bom e velho amigo, que piora- fundamente a alma do bom Vigário, deixando-o
ra repentinamente. triste e revoltado contra o blasfemador.

Era segunda-feira de Páscoa.


Em Nimega, esse dia, era ainda festa pascal.
Com ares de repreensão e compaixão olhou
severamente para o jovem, o qual, naquele instan-
te, acabava de introduzir o ovo na boca.
O sacerdote prosseguiu, fazendo atos de ado-
ração a Deus para reparar a vilania do ignorante e
infeliz calvinista, o qual, no bar, atraía a atenção
dos presentes com os esforços burlescos de engolir
o ovo.
Afinal, conseguiu introduzi-lo até a garganta,
onde ficou parado.
Dali não se arrancava, nem para descer, nem
para subir.
O moço viu-se perdido. Com esforços hercúleos
e convulsões pavorosas, o infeliz tentava, agora, sair
daquela situação fatal.
Inutilmente. Sentia-se sufocar. Gemia desespe-
radamente.
Muita gente parou, vendo, apavorada, a terrí-
vel cena, na qual os católicos perceberam o casti-
go divino.
Exausto, de olhos esbugalhados e mãos cerra- Ficou evidente e confirmado, que aquela mor-
das, esticado no chão, o jovem se contorcia mor- te fora um castigo divino.
talmente.
De fato, o ovo tinha penetrado nas carnes da
Nisto, o Vigário tinha voltado da visita ao doen- garganta, e ali permanecia como um enorme tu-
te. mor a premer e obstruir o canal. E isto, em tão pou-
Os olhares de todos se dirigiram para a Santíssi- co tempo, e não permitindo nenhum socorro médi-
ma Eucaristia em atitude de respeito, de adoração, co.
de súplica. Mais uma vez, quis a Providência Divina provas
O Santíssimo chegara à porta do bar. Ia pas- aos obstinados inimigos da Eucaristia que o Santíssi-
sando. Então, o blasfemador sentiu aumentar horri- mo Sacramento não é um ídolo inventado pelos
velmente as dores; e a garganta, que se dilatara cristãos, mas o Sacramento da presença real e divi-
enormemente, estourou, dilacerando-se. na de Jesus na terra, nos Sacrários de todas as igre-
jas do mundo.
O infeliz morreu miseravelmente diante do San-
tíssimo Sacramento que ultrajara. Este fato, refere o historiador Belarmino, teve
forte repercussão entre os católicos de Nimega,
O espetáculo foi horripilante.
porquanto veio reforçar a fé católica e o respeito
Os católicos, comovidos pelo poder divino, re- ao SSmo. Sacramento.
zando, acompanharam o Santíssimo Sacramento à
Os hereges, particularmente, não tiveram mais
igreja.
ousadia de escarnecer dos Sacramentos da Igreja
A morte trágica e fulminante do infeliz calvinista e de suas instituições. Ficou evidente, também, que
impressionou seriamente a população, particular-
a Igreja Católica é a Igreja de Deus, a verdadeira.
mente os hereges.
A EUCARISTIA SALVA O CONVENTO Francisco era a alma, a esperança, o ardor e a
Assis é uma cidade italiana, célebre berço de atração de todo aquele mundo de alegria e so-
S. Francisco. Sua história é rica de glórias, de ho- nhos. Vestindo um rude saco, tornou-se pobre,
mens famosos, de fatos memoráveis e, hoje, é a ci- mendigo.
dade dos santuários da fé e da piedade. Clara sofreu um abalo tão forte e íntimo que
Em Assis o homem sente sua alma elevar-se pa- lhe tocou a alma. O exemplo a atraía, subjugava-a.
ra Deus e encontra na paz dos velhos templos o A ideia de se consagrar também a Deus a per-
conforto espiritual. seguia constantemente dominando todas as suas
De Assis é também Santa Clara. vontades e desejos. Sentia agora o vácuo da aspi-
ração à glória do mundo e suas vaidades, prazeres
Clara era uma linda jovem, de rica e nobre fa-
e encantos efêmeros.
mília, finamente educada e, portanto, com um fu-
turo brilhante e promissor. Frequentava a classe no- Algo de mais elevado, sublime, eterno e imate-
bre e a melhor sociedade da cidade que ornava rial atraía-a.
com seus encantos juvenis, reforçados pelo seu es- Porque não aspirar à glória eterna?
pírito virtuoso e bondoso.
Cortejada e estimada, Clara permanecia uma
jovem feliz.
O que Francisco fez abandonando a vida mun-
dana, a sociedade rumorosa, as festas, as riquezas,
os pais e os amigos para servir a Deus na pobreza,
impressionou profundamente a mocidade assisen-
Francisco procurava a Deus. Ela também o po-
dia fazer.
Então, abandonou o mundo. Passou a servir a
Deus e amar seu próximo. Deu à sua vida um ideal
nobre, sublime, útil.
Começou a viver a vida dos servos de Deus.
As donzelas de Assis ficaram surpreendidas com
a decisão de Clara. Começaram a refletir seria-
mente sobre os ideais eternos da vida.
Daí a pouco a cidade foi colhida com a surpre-
endente notícia de que outras nobres e distintas jo-
vens haviam deixado o mundo para abraçar a vida
de recolhimento na companhia de Clara.
Entre elas, Inês, a própria irmã de Clara.
Surgiu, assim, a ideia de fundar uma nova co-
munidade religiosa e construir um convento.
Fora dos muros de Assis, na tranquilidade dos
campos, à sombra amiga de velhas e protetoras ár-
vores, perto da fonte cristalina, surgiu um mosteiro.
Nele as jovens de Deus iniciaram a vida de po- As pobres Irmãs estavam totalmente indefesas
breza, de oração e de trabalho. e desprotegidas. Vendo os soldados aproximar-se,
A Igreja teve a nova Ordem das Pobres Irmãs as Irmãs, como único recurso, correram espavoridas
Clarissas. à presença da Abadessa Sta. Clara, a qual estava
enferma, acamada. Relataram-lhe o perigo que
A história daqueles tempos nos fala de contí-
corriam e o fim trágico que as esperava.
nuas agitações sociais, de guerras, revoltas e inva-
sões caprichosas. Não havia salvação fora de Deus.

Era também o tempo das Cruzadas para expul- E foi a Deus que Clara, naquela hora suprema,
sar os infiéis das terras cristãs. De fato, povos bárba- se dirigiu com toda a fé de sua alma.
ros invadiam, frequentemente a Itália e a Europa, Guiada por uma força misteriosa, levantou-se
disseminando o pânico, a miséria e a morte nas ter- e, acomodada pelas Irmãs, foi à capela do Santíssi-
ras invadidas. mo. Prostraram-se em adoração e pediram fervoro-
No tempo de Clara, os Sarracenos haviam pe- samente a Jesus que as salvasse das mãos daque-
netrado na Itália. Um grupo deles desceu até Assis les homens bárbaros, pagãos e ímpios.
para saquear e tomar a cidade. De longe, avista- Então, durante a oração ouviram uma voz sua-
ram o Convento, que confundiram com um caste- ve, divina e confortadora, que lhes dizia:
lo, ou coisa semelhante, onde podiam encontrar
- Sempre vos hei de defender.
ouro, riquezas, armas. Começaram o cerco decidi-
dos a saqueá-lo. Era a voz de Jesus.

Altas horas da noite, protegidos pelas trevas, ini- Tranquila e confiante na proteção divina, Clara
ciaram o assalto. Avançaram sem encontrar resis- sobe ao altar, abre o tabernáculo, pega na âm-
tência.
bula sagrada, e com o Santíssimo nas mãos, levan- Gratas ao Santíssimo Sacramento, felizes e exul-
tando, se dirige à porta do Convento. Atrás dela, as tantes, voltaram à capela cantando os louvores di-
irmãs em procissão, rezando. vinos. Durante muitas horas ficaram em adoração
Através de uma brecha, alguns Sarracenos ha- agradecendo à divina proteção.
viam conseguido entrar no Convento, enquanto o Ao romper do dia a cidade de Assis soube que
resto da tropa estava escalando, em vários pontos, escapara do saque pelo milagre do Santíssimo Sa-
os muros do mosteiro. cramento.
Os bárbaros avançavam para atacar as Irmãs.
Clara, então, levantava bem alto o Santíssimo
Sacramento. E eis que da âmbula se irradia uma luz
divina, fazendo cair raios fulminantes sobre os Sarra-
cenos, que caíram atordoados ao chão. Várias ve-
zes tentaram se erguer e investir contra as freiras,
mas foram rechaçados e aniquilados.
Vendo que era inútil lutar contra um poder so-
brenatural, espavoridos, puseram-se em fuga preci-
pitada e desordenada.
As Irmãs estavam salvas. Assim Jesus defendera
as almas a Ele consagradas.
A HÓSTIA APAGA O INCÊNDIO
No ano de 1867 a cidade de Paris ficou abala-
da com o incêndio do Louvre.
De repente, sinetas, apitos e outros sinais de
alarme começaram a funcionar ininterruptamente
na zona sinistrada.
Veículos, bombeiros, soldados e homens do fo-
go se movimentavam em todas as direções.
O fogo estourara na Galeria que liga o Palácio
de Louvre, que era a residência dos Reis, as Tulheri-
as.
Nesses dois célebres palácios estavam reunidas
imensas riquezas, quadros artísticos de incalculável
valor, objetos finos de arte, damascos preciosos, ta-
peçarias caríssimas e outras inúmeras preciosidades
históricas e coleções raríssimas.
Se o fogo tivesse destruído todo aquele tesouro Dominado por essas dúvidas, nunca se conver-
de arte, os prejuízos teriam sido elevadíssimos e irre- tia. Entretanto, o Bispo rezava e confiava na graça
paráveis. Teria a França perdido muitos valores his- divina.
tóricos.
A notícia do incêndio foi surpreendê-lo naquela
Portanto, universal, tenaz e fremente era a pre- conversa. A sua presença era reclamada e indis-
ocupação de dominar o incêndio. Os atos de bra- pensável.
vura chegavam ao heroísmo. Todavia, os esforços
Incontinente, Turene tomou a direção de com-
humanos, abnegados e persistentes, não conse-
bate ao fogo.
guiam dominar o fogo que se tornava cada vez
mais intenso e destruidor. Destemido, com bravura e inteligência dirigia
ao ataque, procurando cercar os homens e impe-
O Conde Turene, naquelas horas, estava a con-
dir a extensão. Mas nada conseguia.
versar sobre religião com o Bispo Bossuet.
Uma forte ventania alimentava as chamas; da-
Turene era um General valente, corajoso e mui-
va-lhes força, violência e irresistível poder destruidor.
to honesto. Porém, não era católico. Professava a
crença calvinista, herética. A catástrofe era inevitável. As esperanças dimi-
nuíram e o desânimo abatia os corações.
O Bispo Bossuet tudo fizera para convertê-lo à
Fé católica. A sua maravilhosa eloquência, argu- O Bispo percebeu o grande perigo e a impossi-
mentação religiosa, os carinhosos apelos de amigos bilidade humana de vencer o fogo. Elevou o seu
não conseguiam vencer a obstinação do Conde, pensamento a Deus e pôs-se a rezar. Iluminado por
que achava impossível a ideia e incrível a verdade Deus, lembrou-se de ir à capela e procurar Aquele
da presença real de Jesus na Santíssima Eucaristia. que impera sobra os ventos e mares.
Daí a pouco, solenemente paramentado e A multidão, delirando, gritou ao milagre. Vivas
acompanhado pelo Clero, irradiando fé e piedade, de louvores subiram dos corações exultantes à San-
o Bispo aparecia do lado oposto da galeria com o tíssima Eucaristia. Depois, de joelhos, o clero e o po-
Santíssimo Sacramento nas mãos. vo deram graças a Deus, cantando um hino de lou-
A sineta anunciou a presença do Santíssimo, e vor ao Senhor, o Te Deum.
logo se abriu uma passagem para o Bispo entre a O conde de Turene estava presente. Silencioso
multidão que estendia suas mãos súplices para o e apreensivo, tudo vinha observando.
Sacramento. Com o coração suspenso pediam a
Quando a benção do Santíssimo dominou as
Jesus a sua intervenção poderosa e divina naquela
chamas e extinguiu o fogo, um frêmito atravessou
hora de perigo e angústia.
todo o seu corpo, sacudindo-o como um choque
O Bispo parou a pouca distância do fogo. Le- elétrico.
vantou os braços e deu a bênção com o Santíssimo
Ficou abalado, dominado. Não acreditava na
às chamas enormes e assustadoras.
presença de Jesus na Hóstia e, entretanto, foi o po-
Foi uma bênção milagrosa. der divino de Jesus que venceu o incêndio.
Jesus mandou no vento. Então, Jesus estava na Hóstia.
As gigantescas labaredas diminuíram por en- O Bispo estava com a verdade.
canto, e o fogo baixou, esmoreceu, apagou-se de
Ele estava errado. Era evidente que devia acre-
repente.
ditar.
E acreditou. Dobrou o joelho e fez o seu primei-
ro ato de adoração e de fé no Santíssimo Sacra-
mento. Na praça pública, diante de uma multidão
imensa, Turene ficou católico.
O Bispo percebeu a comoção e a transforma-
ção do Conde. Horas depois teve o imenso júbilo
de constatar a sua conversão sincera, real e espon-
tânea.
Como católico fervoroso o Sr. Conde continuou
a visitar diariamente o Santíssimo Sacramento, fi-
cando algum tempo em profunda adoração.
A conversão do Conde de Turene passou à His-
tória, ligada ao estupendo milagre, exaltado e lem-
brado nos anais religiosos da França.
A ARCA LUMINOSA Era a crença popular que o cibório fosse de ou-
João Benavente tinha fama de ser homem vir- ro maciço. Por isso, o povo orgulhava-se dessa pre-
tuoso e piedoso. Fazia longas horas de oração e ciosidade, reservada a prestar a Jesus uma distinta
passava noites a fio em adoração na igreja de S. e nobre hospedagem.
Pedro de Ponferrada. Devotos e admiradores da arte vinham de lon-
O povo julgava que Benavente fosse assim de- ge para ver aquele objeto sagrado.
voto por amor a Deus e à santidade. Mas outras, e Certo dia, porém, a arca desapareceu misterio-
diferentes, eram as intenções de João. samente. O precioso cibório e as Santas Hóstias ti-
A igreja de S. Pedro existia há séculos e recebe- nham sido roubadas.
ra em sua majestosa nave e artísticas arcadas as vi- A cidade ficou perplexa, consternada. Uma on-
sitas e as preces de ricos fidalgos, poderosos reis, da de revolta e de tristeza penetrou em todos os
bondosas princesas e dignos prelados que testemu- corações que se consideraram despojados de seu
nharam sua piedade, gratidão e devoção ao Prín- mais querido e sagrado tesouro. Preces se elevaram
cipe dos Apóstolos, ofertando valiosos presentes de ao céu para o castigo do profanador e ladrão sa-
ouro e prata e preciosos vasos sacros. crílego.
Entre as preciosidades destacavam-se um artís- E confiavam na hora da justiça divina.
tico cibório de ouro e prata, guardado num gracio-
Entretanto, ficaram sem êxito todas as diligên-
so e rico tabernáculo em forma de arca. O precio-
cias e esforços para descobrir o paradeiro do Santo
so cibório continha o Cristo na hóstia consagrada.
Cibório.
. João Benavente foi o devoto que mais insurgiu
contra o furto e demonstrou maior abnegação e
constância no trabalho do investigar.
Numa cruciante expectativa, o tempo foi pas-
sando.
Nisto, um fenômeno novo, interessante e persis-
tente, veio despertar as atenções dos habitantes
de Ponferrada. Algo de misterioso se notava na
moita de El Del Campo, no terreno arenoso e deser-
to nos arredores da cidade. Sempre fora um lugar
abandonado e apenas visitado por pobres em bus-
ca de lenha seca. Agora, a moita, nas altas horas
da noite, aparecia luminosa até o amanhecer, irra-
diando luzes misteriosas semelhantes às pequenas
estrelas do céu. Assim que despontava a aurora,
um bando de alvíssimas pombas revoava longa-
mente em círculo sobre a moita e, depois, em or-
dem, pousava mansamente sobre os arbustos da
moita. E ali ficavam as pombas imóveis, recolhidas
e alheias a tudo o que as pudesse assustar.
Fenômeno tão estranho levou à moita muitas minar o terreno que irradiava a luz misteriosa e
pessoas curiosas, que tentaram afugentar as pom- transformava a moita em casa de fantasmas. Apro-
binhas. Atiravam pedras, e elas não se mexiam. Al- ximava-se com cuidado e observando minunciosa-
vejavam-nas com fechas e elas não eram atingi- mente tudo o que podia ver. Avançando viu o ter-
das. Tentavam apanhá-las, e elas, rapidamente, se reno transformado em brasa e a soltar faíscas. As
elevavam no ar para voltar logo para o lugar. pombinhas desciam das árvores e esvoaçavam so-
Nada havia que as pudesse tirar dali. Então, bre as chamas que tingiam de ouro e púrpura a sua
correu na cidade a crença de que algo de misteri- alvíssima plumagem.
oso, de feitiçaria, acontecia na moita. Um espetáculo nunca visto e fantástico.
- Aquilo é arte do demônio! Diziam alguns. Ou- Nogaledo parou apalermado, de olhos arrega-
tros afirmavam ser um aviso do céu. E todos fugiam lados e hipnotizados, fixando a cena encantadora.
com pavor da moita enfeitiçada. Não podia desviar os olhos. E forçando a vista atra-
Menos Nogaledo, um rapaz cristão, corajoso, e vés daquelas chamas até que pode desvendar o
que não acreditava em bruxarias. Resolvido a pôr mistério.
um fim a todos os boatos de encantamento que Aquilo era um fogo sagrado, pois no meio dele,
envolviam o lugar, escolheu as melhores flechas e
toda resplandecente, cor de ouro, brilhava a arca
foi enfrentar, sozinho, a luta contra a força invisível.
Eucarística que atraía as pombinhas naquela singe-
Fez pontaria. Atirou uma, duas, três, fez flechas, mas
inutilmente. As pombas não se mexiam. Por fim, la adoração.
quebraram-se as suas armas. Recuou, então, venci- Ali estava, então, o tesouro roubado da igreja
do, mas não desanimado. Voltou depois para exa- de São Pedro, cujo desaparecimento consternara
toda a cidade.
As luzes misteriosas eram os raios divinos que Chegando à moita, o povo se dispôs em círcu-
partiam da Eucaristia ultrajada. Nogeledo ficou los, de joelhos, em adoração. O Padre celebrante
atraído pelo mistério divino que lhe infundiu na al- incensou o Tabernáculo, abriu-o reverente e ele-
ma a alegria do céu. vando as Sagradas Hóstias, mostrou-as ao povo
Caiu de joelhos e adorou o Santíssimo com to- que as adorou derramando lágrimas de alegria. Ao
do ardor da alma. Movido por um impulso interior, mesmo tempo pombinhas revoaram suavemente,
levantou-se e voltou à cidade. várias vezes, em torno do Santíssimo e, depois, subi-
ram ao céu, desaparecendo.
Correndo pelas ruas gritava sem parar:
A arca e o Santíssimo foram reconduzidos triun-
- Milagre! Milagre! O Santíssimo Sacramento na
falmente à igreja de S. Pedro. Foi uma festa popu-
moita. A Arca Santa que brilha!
lar.
A notícia causou pânico, alegria, lágrimas. Uma
João Benavente não foi mais visto em público,
incalculável multidão se dirigiu à Igreja de S. Pedro
tão pouco na igreja. Nunca mais foi fazer as adora-
para formar a procissão.
ções noturnas.
Precedida pela cruz e acompanhada pelo cle-
Tornou-se suspeito. Preso, confessou o roubo sa-
ro, a procissão imensa, reverente, de velas acesas,
crílego. Depois de dez anos de premeditação, de
tomou o caminho da moita, cantando e rezando,
frequência e permanência na igreja, conseguira,
soltando vivas de louvor ao Santíssimo Sacramento.
finalmente, apoderar-se da arca.
Benavente não estava entre os devotos. Ficara
Levou-a para casa, tirou o precioso cibório e
trancado em casa, a tremer de medo e remorso.
deixou as Hóstias no tabernáculo.
Como a arma começou a irradiar luz misteriosa,
temeu ser descoberto. Secretamente, de noite, le-
vou-a à moita e ali abandonou-a. Daí os fenôme-
nos extraordinários que levaram à sua descoberta,
ao triunfo da presença real de Jesus na Eucaristia.
O MENINO JESUS DE PRAGA Os adoradores foram se substituindo, de hora
O Vigário de Siracusa, nos Estados Unidos, colo- em hora, de dia e de noite.
cou num altar na sua matriz a imagem do Menino Na segunda-feira, dois coroinhas faziam a guar-
Jesus de Praga. Queria o bom sacerdote que as cri- da de honra, de joelhos, no altar do Santíssimo. Es-
anças da Paróquia fossem devotas do Menino Je- tavam quase sonolentos e distraídos. Seus pensa-
sus. A cerimônia da instalação foi solene, concorri- mentos iam longe de Deus. Sentiam-se cansados.
da e comovente. As crianças ficaram radiantes de Foi assim que uma senhora foi despertar-lhes a
alegria com a ideia e a esperança das bênçãos do atenção e a conveniência de olhar para o Sacra-
Menino Jesus. mento.
Veio o mês de março de 1828. Tempo da práti- - Meus filhinhos, observem como o Menino Je-
ca das 40 horas de adoração. Dia e noite o Santíssi- sus os está olhando do Ostensório.
mo Sacramento ficava exposto para a adoração
Mais que depressa, surpreendidos e agitados,
dos fiéis.
os coroinhas levantam os olhos para o Ostensório.
Pediu o Vigário que as homenagens eucarísti-
- Oh! Que lindo! Exclamam espontaneamente.
cas, as preces e os atos de culto fossem ardentes,
Nosso Menino Jesus!... E ficaram quietos, imóveis,
devotos e solenes. Todas as famílias da Paróquia
com os olhos abertos e fixos no Ostensório. Lá esta-
deviam tomar parte na adoração, conforme o ho- va o Menino Jesus de Praga, sorridente, divino, no
rário distribuído. centro de um círculo luminoso ofuscante. A figura
A abertura foi no domingo de tarde. A prega- do Menino Rei era nítida e inconfundível. Uma co-
ção inaugural ressaltou a presença real de Jesus na roa de outo na cabeça, o manto real nos peque-
Hóstia consagrada. nos ombros, numa mão o mundo encimado com o
cetro, e a outra, levantada, abençoando.
Envolvidos naquela cândida visão, os coroinhas
e a senhora sentiram-se felizes. Perderam a noção
do tempo. As horas foram correndo. Os adorado-
res, também, se substituíam, e eles não se afasta-
vam do lugar.
O Vigário atendia os penitentes ao confessioná-
rio, na entrada da igreja. Levantara-se o último pe-
nitente. O Reverendo atravessou a igreja e dirigiu-se
à sacristia.
Tudo era normal.
Mas logo foi procurado pela senhora que lhe
disse:
- Padre, prolongamos a nossa adoração, por-
que não queríamos perder a linda visão do Menino
Jesus na Hóstia. O Reverendo deve ter visto...
- Só a Hóstia branca, como de costume, vi no
Ostensório... respondeu o vigário.
- Desculpe padre, no lugar da Hóstia estava o
Menino Jesus de Praga. Os coroinhas viram-no tam-
bém.
- É verdade, sr. Padre: Vimos realmente o Meni- E vi, com imenso júbilo, a celestial e encanta-
no, idêntico ao que está no altar, confirmaram os dora imagem do Menino Jesus. Pude contemplá-la
meninos. durante o tempo do terço. Depois percebi que a
Surpreendido, o Vigário fechou os olhos; reco- visão, lentamente, ia se desfazendo. Terminando o
lheu-se espiritualmente e ficou absorto em profun- terço, a visão desaparecera também. Só restava,
das reflexões. no Ostensório, a Hóstia alvíssima que escondia o
mistério da presença real de Jesus na Eucaristia.
- Verifiquei – diz ele, a realidade da aparição
sentindo intimamente um desejo de adoração e de Os fiéis viram também o milagre. Muitos se
amor divino, como nunca experimentara. aproximaram do altar mor, em ato de súplica, le-
vantando as mãos e pedindo graças com todo o
A notícia do milagre espalhou-se rapidamente
fervor da alma. Todos tiveram a impressão de gozar
pela Paróquia. Em pouco tempo a igreja ficou re-
as delícias do céu e ver os esplendores do paraíso.
pleta de devotos e pessoas que desejavam ver o
milagre. O repórter de um jornal solicitou ao Vigário Divulgou-se na cidade o novo milagre visto pe-
uma entrevista sobre o acontecimento. Mas o Pa- lo Pároco e os fiéis. A notícia espalhou-se, rapida-
dre não pode afirmar ou negar o que ele mesmo mente, também pelos Estados Unidos e pelo Cana-
ouvira. dá.

Um pouco antes do ofício da noite – testemu- O Pároco de Siracusa, então, para evitar inter-
nhou mais tarde o Vigário – ajoelhei-me nos de- pretações erradas ou exageradas do milagre, es-
graus do altar e iniciei a reza do terço com o povo. creveu um artigo estabelecendo os fatos na sua re-
Rezávamos com fé, fervorosamente e com a alma alidade verdadeira.
cheia de gratidão a Deus. Levantei, então, os olhos
para a Hóstia santa.
Foi por causa desse milagre que se tornou po- O CORPORAL MILAGROSO
pular nos Estados Unidos a devoção ao Menino Je-
sus de Praga. Na igreja de Walldueren o Pe. Henrique Otto
celebrava diariamente a Santa Missa.
Certo dia, como de costume, subiu ao altar e
começou o Santo Sacrifício. Leu a Epístola, o Santo
Evangelho, o Sanctus e fez a consagração das sa-
gradas espécies. Levantou, depois a Hóstia e o cáli-
ce para adoração do Corpo e do Sangue do Se-
nhor.
Prosseguiu a Missa. No cálice estava o Sangue
Divino.
De repente, sem o perceber, o Pe. Otto teve a
infelicidade de virar o cálice. O precioso Sangue de
Jesus se esparramou sobre o corporal, ensopando-
o.
Diante de tão lamentável e inesperado inci-
dente o Pe. Henrique ficou aturdido. Inconsciente,
magoado e sem saber o que fazer, olhava estupe-
fato o cálice vazio e o corporal que absorvera todo
o sangue divino.
Estava assim enlevado, até que um novo fato extra-
ordinário, inesperado, veio aumentar a sua agita-
ção, deixando-o totalmente alucinado.
O vinho consagrado se transformara em San-
gue, formando no corporal a sacrossanta figura de
Jesus Crucificado. A face do Senhor e a coroa de
espinhos apareciam distintas, perfeitas e bem visí-
veis.
O Pe. Otto viu-se diante de um autêntico e des-
lumbrante milagre. Com seus próprios olhos via o vi-
nho realmente transformado no Sangue do Senhor.
Isso o deixou abismado. Sentiu-se culpado e te-
ve medo. Então, pensou em ocultar o milagre. Essa
ideia dominou-o, pois não queria que o culpassem
de ter tratado com descuido e irreverência o cálice
do Senhor.
Cuidadosamente, sem que os presentes perce-
bessem algo, removeu delicadamente o corporal e
ocultou-o entre as toalhas do altar. Visivelmente
agitado, ansioso e preocupado, continuou e termi-
nou a Santa Missa.
Os fiéis saíram do templo. Ninguém, portanto, o Pediu que o corporal fosse retirado do escon-
podia ver. Receoso, o Pe. Otto aproximou-se do al- derijo.
tar; removeu o corporal e colocou-o sob a pedra
Foi atendido. Tal como o deixara, sob a pedra,
d’Ara. E deixou ali, resguardado e oculto, certo de
o corporal se apresentava manchado de sangue
que ninguém saberia do acontecimento.
fresco, com a figura de Jesus Crucificado e a sagra-
Mas a vontade de Deus era outra. E ninguém da Face, desfalecida e coroada de espinhos.
pode contrariar e impedir os planos da Providência
O sacerdote ficou trêmulo de alegria e de ve-
Divina.
neração. Com o maior respeito, delicadamente re-
Os dias foram passando. moveu o corporal e levou-o em procissão ao altar
A visão, porém, não saía da alma do Pe. Otto, mor, onde o deixou exposto para veneração públi-
atormentando-o terrivelmente. O remorso, as dúvi- ca dos fiéis.
das, o medo, o sofrimento interior tiraram-lhe o sos- O portentoso milagre foi logo divulgado. Daí a
sego e enfraqueceram a saúde. pouco, milhares de pessoas se comprimiam na igre-
Ficou doente. Doente grave, em perigo de vi- ja para ver a imagem milagrosa e o vulto Santíssimo
da. Para tranquilizar a consciência e preparar-se de Jesus. Durante o dia todo, desfilaram os devotos
para a eternidade, o Pe. Otto pediu o confessor. diante do altar. Vários doentes receberam a saúde
Narrou-lhe minunciosamente o que havia aconteci- e muitas outras pessoas receberam graças extraor-
do e como tentara silenciar o milagre. Agora, arre- dinárias.
pendido, pretendia reparar o erro, revelando o se-
gredo. A fama do prodígio se espalhou por todos os
recantos da Alemanha e se espalhou pelo estran-
geiro.
Passaram-se setenta anos. A veneração ao A cidade recebeu o Corporal, em triunfo, com
santo corporal tornou-se popular, sempre mais uni- festas que se prolongaram por vários dias.
versalmente famosa e enriquecida de favores e inú-
Walldueren tornou-se um centro de romarias e
meras graças.
turismo. Anualmente, de todas as partes do mundo,
O Bispo diocesano, então, abriu um rigoroso in- recebia milhares de peregrinos que iam venerar o
quérito sobre o fato milagroso e mandou fazer um Vulto Santo e adorar o Santíssimo Sacramento. Fa-
minucioso exame científico do corporal. tos prodigiosos e curas extraordinárias eram fre-
Reunindo as provas, remeteu-as com o corpo- quentemente registradas entre os piedosos devo-
ral ao Papa Eugênio IV, o qual ordenou que se pro- tos.
cedesse a novo exame canônico. O corporal milagroso se conserva até hoje, em-
Ao ver o sagrado Vulto de Jesus, desenhado e bora as figuras se apresentem um tanto amorteci-
formado com o próprio sangue divino, o Papa ficou das.
visivelmente comovido e impressionado.
Provada a autenticidade do fato e do milagre,
o Sumo Pontífice concedeu a indulgência plenária
aos fiéis que durante a oitava da Festa do Corpo
de Deus visitassem a igreja de Walldueren e vene-
rassem o corporal milagroso.
OVELHAS QUE ADORAM AO SENHOR
Altas horas da noite, favorecidos pelas trevas,
dois audaciosos e perversos ladrões entram na igre-
ja Agostiniana de Gand.
Isto no ano de 1854, na Bélgica.
Em Gand, os Agostinianos possuíam um vasto e
célebre convento com majestosa e renomada igre-
ja, frequentada por grande número de devotos.
Milhares de peregrinos cumpriam ali as suas
promessas e votos, transformados em ricos e valio-
sos presentes.
Daí a infeliz e sacrílega ideia dos ladrões de rou-
bar os bens da igreja. Planejaram calmamente o
furto e examinaram todos os pontos de acesso à
igreja menos vigiados. Por fim, descobriram o ponto
fraco. Havia um buraco no muro do convento, o
qual facilitou a entrada no templo.
Tudo o que lhes parecia objeto de valor foi reti- Seguiram a viagem.
rado e guardado em robustos sacos. Roubaram
Entretanto, o remorso do sacrilégio começou a
castiçais, vasos sacros, pratarias, correntes e ex-
acusar e atormentar a consciência de um ladrão.
votos de ouro e de prata. Arrombaram os cofres e
O pavor e o medo não o deixavam prosseguir, en-
violaram o tabernáculo, donde tiraram o Cibório
quanto uma força misteriosa o impelia a voltar ao
com a Santíssima Eucaristia, que foi lançado no
lugar do crime. Voltou.
meio dos outros objetos. Carregando os pesados
sacos saíram apressadamente da igreja, tomando Não se via pessoa alguma. Removeu a terra e
o caminho da povoação de Ackergem. tentou apanhar as Santas Hóstias. Mas as mãos se
contraíram nervosamente e os olhos ficaram arre-
Ninguém havia percebido a sua ação sacríle-
galados de terror, imobilizando-se.
ga.
As Hóstias, antes tão brancas e puras, estavam
Quando apontou o dia, estavam no povoado,
ensanguentadas, rubras, como a verter sangue.
no esconderijo. Resolveram vender os objetos sa-
cros na próxima cidade. Vendo porém, que o Cibó- O ladrão recuou espantado. Teve medo do seu
rio continha a Ssma. Eucaristia, pensaram em fazer crime; medo que a terra abrisse para o engolir. De-
desaparecer todos os indícios do furto sacrílego pa- sesperado, pôs-se a correr doidamente.
ra não serem denunciados. Num terreno baldio, de
O sol avançava no horizonte. Era dia claro. A
pastagem, abriram um buraco e enterraram todas
hora dos pastores conduzirem os rebanhos ao cam-
as Hóstias consagradas, tendo o cuidado de cobri-
po.
las perfeitamente.
Um velho pastor tangia calmamente o seu re- A notícia chegou também aos padres Agostini-
banho pelo caminho das Santas Hóstias. As ovelhas anos que, em procissão resolveram ir recolher sole-
prosseguiam calmas, compactas, silenciosas. De sú- nemente o Sacramento e o preciosíssimo Sangue
bito, estacam e levantam a cabeça numa só dire- miraculoso.
ção. Impelidas por força misteriosa, em fileiras cer-
À imitação das ovelhas, o povo caiu de joelhos
radas, correm para o lugar do Santíssimo Sacra-
em adoração, enquanto os Sacerdotes, com todo
mento. Abrem, então, as fileiras e se colocam em
o respeito e amor, mudavam para os vasos sacros
círculo em torno da Eucaristia. Depois, caem de jo-
as Sagradas Espécies.
elhos e ficam adorando o Santíssimo Sacramento.
O pastor ficou boquiaberto, confuso, diante do A procissão voltou à igreja, cantando e louvan-
inexplicável fenômeno. Por fim, resolveu seguir as do o Santíssimo Sacramento.
ovelhas e aproximar-se do lugar misterioso. Mas, de O estupendo milagre foi o princípio de uma sé-
novo, parou abismado pela assombrosa visão. Viu rie de graças e favores incalculáveis concedidas
a terra alagada em sangue, e no meio das ovelhas aos devotos que iam adorar as Hóstias milagrosas.
genuflexas, as Hóstias, resplandecentes como dis- A população de Gand, grata a Deus, pediu às
cos de fogo. autoridades eclesiásticas a associação de uma as-
O único impulso do pastor foi de fugir. E correu sociação religiosa em honra do Santíssimo Sacra-
como uma flecha para anunciar no povoado o mi- mento. Surgiu, assim, a Confraria do Santo Sangue,
lagroso acontecimento que acabava de presenci- à qual quiseram pertencer todos os habitantes de
ar. Os fiéis ouviram-no entre o espanto e a admira- Gand.
ção, decidindo-se a acreditar. Formou-se uma mul-
tidão.
TRÊS CORAÇÕES NA HÓSTIA
Eten é um pequeno porto da costa do Peru.
Os índios povoavam a região, descendiam das
Tribos do antigo e poderoso império dos Incas. Com
a origem selvagem conservavam os costumes e os
instintos ferozes.
A sua catequização e civilização fora confiada
aos Padres Franciscanos da Observância, que dirigi-
am a Missão.
Era um trabalho lento, difícil e perigoso. Não
obstante, a fé cristã ia conquistando aquelas almas
e abrandava os corações.
Naquele ano, porém, um horrível sacrilégio foi
cometido numa igreja de Quito. Os católicos repeli-
ram a irreverência ao SSmo. e organizaram em to-
das as igrejas funções religiosas de desagravo e de
amor a Deus.
Foi assim que o Vigário de Eten e os paroquia- das preces fervorosas, pelos pedidos ardorosos e
nos resolveram celebrar a festa do Corpo de Deus por exclamações de pesar e de perdão.
com o maior brilho e solenidade. Surgiram as comis-
A milagrosa visão foi vista por todos durante al-
sões. Nada foi esquecido, desde os anjos, os pajens,
gum tempo. Silenciosos, ainda deslumbrados pelo
as flores, os fogos, a banda, os estandartes, a sole-
favor celestial, os fiéis saíram a igreja e, felizes, volta-
ne benção campal na maior praça de Eten.
ram para casa.
As Vésperas da festa foram solenes, cantadas.
O milagre propagou-se rapidamente. Todos
O Vigário, Frei Jerônimo, subiu ao altar e expos o
queriam ver, também, o rosto da divina criança. O
Santíssimo Sacramento. Depois abençoou os fiéis,
pátio da igreja foi ocupado pela multidão. Mas as
reverentemente concentrados e piedosos.
portas da igreja permaneceram fechadas.
Ao repor o Santíssimo Sacramento no taberná-
O Prior do convento de Chicloyo quis certificar-
culo, muito estupefato, Frei Jerônimo viu que a Hós-
se, pessoalmente, do milagre. Entrou na igreja na
tia havia se transformado num lindo e encantador
companhia de três Sacerdotes, e fez a exposição
rosto de criança. Os cabelos loiros, repartidos na
do Santíssimo Sacramento. O templo estava total-
fronte, caiam em cachos nos ombros graciosos, co-
mente iluminado.
bertos com uma túnica violeta.
O prodígio se repetiu. No centro do Ostensório,
O Frei Jerônimo, vendo o prodígio, caiu de joe- onde devia estar a hóstia, via-se a criança miracu-
lhos, conservando-se em profunda adoração. Os losa. Estava de costas. Os Sacerdotes não viam o
fiéis imitaram-no. O religioso silêncio era interrompi- rosto, mas apenas o cabelo da encantadora cabe-
do apenas pelo sussurro cinha.
Apreensivos e trêmulos, os Sacerdotes se julga- Os três corações na Hóstia confirmavam que a
ram indignos de poder ver o rosto santo. Confundi- Eucaristia é a fonte e o vínculo do amor e da cari-
dos e arrependidos, pediram perdão pela desconfi- dade.
ança e desistiram das suas pretensões. O Senhor
Horas se passaram. Os Sacerdotes, imobilizados,
lhes havia mostrado o seu descontentamento. Por
permaneceram enlevados naquela atmosfera e
isso, silenciosos, profundamente inclinados, perma-
ambiente sobrenatural e divino.
neciam em adoração, meditando na grandeza di-
vina da Santíssima Eucaristia. Lá fora a multidão esperava impaciente. Por
fim foi divulgado o novo prodígio. Cantos, hinos e
Ao levantarem as cabeças para se retirarem
aclamações subiram ao céu, em louvor a Deus.
da igreja, os Sacerdotes se encontraram diante de
um novo milagre. Viram na hóstia um menino divi- Foi assim que na América se propagou o culto
namente belo, gracioso e resplandecente. Con- e cresceu o amor ao Santíssimo Sacramento.
templavam-no extasiados. De repente, notaram
que a imagem ia se distanciando, diminuindo, su-
mindo num extremo horizonte de um céu dourado.
E logo três corações, unidos num círculo de luz alvís-
sima, substituíram mais uma vez, a Hóstia Santa.
O coração é símbolo do amor.
JESUS NOS BRAÇOS DE ANINHA
Aninha tinha 16 anos e era aluna interna de um
colégio de Religiosas.
Seus pais eram Judeus, e ela também, embora
tivesse sido batizada ocultamente, no berço, por
uma ama católica, que guardou o mais inviolável
segredo.
A convivência com alunas católicas e professo-
ras religiosas não abalou sua crença e tampouco
diminuiu seu ódio e aversão aos católicos. Antes, in-
clinava-se para as tradições da família, alimentan-
do uma profunda e sincera afeição aos velhos pais.
A simples ideia de poder ser católica e contrariar a
família, tornava-a colérica e nervosa. Todavia, não
pode impedir que os exemplos e a dedicação de
suas educadoras agitassem o seu espírito e a preo-
cupassem pelo problema religioso.
Convencera-se, aos poucos que devia tornar- do SSmo. ao mar e aos navios. Casualmente, seus
se católica, mas não o queria fazer. Daí as tremen- olhos fixaram-se na Hóstia Santa.
das lutas que atormentavam a sua consciência e
Momento fatal. Encontro feliz.
afligiam a sua alma.
- Eu vi, então – diz ela – no meio de raios lumino-
Era o ano de 1826, festa do Corpo de Deus.
sos que partiam do Ostensório, uma linda e gracio-
Nesse dia a cidade tomava aspecto festivo, so- sa criança que veio a mim, colocando-se em meus
lene, alegre e devoto. A população toda, entusias- braços. Abraçou-me com carinho, descansou em
mada, enfeitava casas, jardins, ruas, para a impo- meu ombro e encheu-me a alma de indizível felici-
nente e majestosa procissão. dade.
Três horas da tarde. Os sinos repicavam festiva- Não suportando tão grande emoção, Aninha
mente. Bandas de música faziam ecoar vibrantes caiu desmaiada. Acordou, mas a visão desapare-
marchas religiosas. Cânticos populares subiam ao cera. Então, chorou de medo e de comoção.
céu, quais hinos e preces de amor.
Temendo que fosse obrigada a ser católica e
O SSmo. Sacramento avançava lentamente contrariar os pais, ocultou o milagre.
pelas ruas repletas de devotos que adoravam o Rei
Tornou-se pensativa. Brincava pouco. Conver-
dos Reis. Chegara ao porto, à praça do colégio de
sava menos, e vivia absorta em seus pensamentos
Aninha.
abstratos e profundos.
A manifestação de fé transformara-se em apo-
Os pais e os professores perceberam a repenti-
teose. na alteração no comportamento de Aninha. Obser-
Aninha não pode resistir à curiosidade e foi es- vavam-na.
piar pela janela. O Sr. Bispo estava a dar a benção
Jesus, porém, queria para o seu amor a alma - A Hóstia consagrada é realmente o Corpo de
de Aninha. Ajudando-a com a sua graça, prepara- Jesus.
va-a para a conversão.
Meses passaram. Um dia, impelida por força
misteriosa, decide comunicar aos pais a vontade
de converter-se ao catolicismo. Escreveu-lhes uma
carta cheia de amor a Deus, de fé católica e cora-
gem cristã.
Ficou esperando pela reação. Os pais, pelo
contrário, dispensaram-lhe mais carinhos e afeição.
- Minha filha, li sua carta... disse-lhe um dia o
pai. Passe para a fé católica. Não será, porém, a
única: sua mãe e eu seremos também católicos.
Pálida de comoção, olhos rasos de lágrimas,
Aninha atirou-se aos braços do estremecido pai, di-
zendo:
- Papai! Sou feliz, porque vi a Jesus na Hóstia.
Ele veio aos meus braços e me falou. Há de ser nos-
sa felicidade.
- Seremos felizes, filha!
MILAGRE EM SEEFELD Todos deviam ressuscitar para uma fé mais ar-
O fato aconteceu no ano de 1854. dente e uma vida mais cristã.

Naquele tempo vivia em Seefeld um fidalgo O povo ouvia a exortação do seu bondoso
muito rico e demais ambicioso. Os moradores da pastor.
Vila eram todos operários, modestos e pouco instruí- A Quinta-feira Santa foi escolhida para o dia da
dos. O Sr. Milser, por isso, julgava-se o mais impor- comunhão Pascal da Paróquia, porque foi o dia em
tante da Vila, o mais nobre e, como tal, todos devi- que Jesus instituíra a SSma. Eucaristia.
am respeitá-lo. Nas reuniões e lugares onde com- Na véspera, os fiéis subiram à igreja e, devota-
parecia, devia ocupar o posto mais distinto. E por mente, se chegavam ao confessionário para o per-
onde passava, deviam ceder-lhe o caminho e dão de suas culpas. Depois, tiveram o cuidado de
cumprimenta-lo respeitosamente. escolher e aprontar as melhores roupas para a Mis-
Existe uma Hóstia grande, dobrada e com man- sa da Comunhão. Havia, assim, em todos os lares,
chas de Sangue, guardada na capela de Seefeld. uma preparação festiva.
Além de ambicioso, o fidalgo era também au- A notícia de que toda a Vila ia comungar na
toritário. Quinta-feira Santa chegou aos ouvidos do Sr. Fidal-
go. Não deixava de ser um grande acontecimento.
Chegara o tempo da Páscoa.
Pensando nisso, descobriu que seria uma boa oca-
Durante a quaresma o zeloso Vigário não des- sião para crescer ainda mais na estima do povo.
cuidou do seu povo. Nos sermões do domingo insis-
tia com fervor sobre o preceito pascal. Todos devi-
am comungar.
Resolveu comungar. Mas não queria comungar
com os outros.
A sua comunhão devia ser diferente. Depois de
muito matutar, lembrou-se que o Padre comunga
na Missa tomando uma Hóstia grande.
É com uma Hóstia daquela que ele iria comun-
gar.
Expos sua vontade ao Vigário e exigiu amea-
çando, que ele concordasse. De nada valeram as
recusas do Reverendo.
Na manhã de Quinta-feira Santa todo o povo
estava reunido na igreja paroquial. Os cânticos e o
órgão emprestavam à função um ar solene e festi-
vo. E ali estava o orgulhoso cavaleiro no seu rico e
vistoso uniforme, de elmo na cabeça, capa e espa-
da.
A cerimônia prosseguia. O sininho tocou anun-
ciando a comunhão.
- Senhor, não sou digno... dizia humildemente o
Sacerdote.
Nisto, com majestade e arrogância, o cavalhei- De cabeça baixa, vacilando, em lágrimas, o
ro dirigiu-se à mesa de comunhão e pôs-se de joe- arrependido Fidalgo deixou o templo e dirigiu-se ao
lhos. próximo convento para fazer penitência.
O Sacerdote desce ao altar e coloca a Hóstia A esposa não quis, porém, acreditar no milagre
grande, dobrada ao meio, na boca do Fidalgo. e curvar-se ante o poder divino. Zombou de Deus e
Vendo o abismo que se abria para tragar, tentou o exigiu que demonstrasse fazendo florir uma roseira
cavalheiro segurar-se à mesa da comunhão, mas seca.
esta lhe fugia das mãos.
Deus fez o milagre.
O Sacerdote e os fiéis, assustados, trêmulos pelo
Três rosas lindas, de repente, brotaram nos ga-
prodígio que presenciavam, fixavam com espanto
lhos secos. Nem assim acreditou a obstinada e pér-
o desventurado Fidalgo.
fida mulher. Antes, arrancou as rosas, despedaçou-
- Por amor de Deus!... Por piedade!... Tire-me a as e esmigalhou as pétalas, atirando-as ao vento.
Hóstia que me queima a língua! Suplicava o infeliz.
Com Deus não se brinca...
Com a máxima reverência, o Sacerdote retira,
O castigo veio. A atrevida mulher, logo depois,
trêmulo, da boca do pecador a sagrada Hóstia. ficou louca. Pôs-se a uivar como uma fera e a cor-
Mas, não era branca. Tinha a cor de sangue. rer para o interior do mato. Horas depois foi encon-
O novo prodígio comoveu e dominou os pre- trada morta, estendida no chão, toda dilacerada.
sentes. Todos choravam e adoravam silenciosa-
mente a Deus com o maior ardor do coração.
O cavalheiro se dedicou completamente ao
serviço de Deus e viveu, pelo resto da vida, prati-
cando o bem. Morreu santamente.
Na capela de Seefeld os peregrinos, ainda ho-
je, contemplam os sinais dos pés no chão e das
mãos na mesa do altar.
A Hóstia milagrosa esta guardada num precio-
so cibório.
Ali, milhares de devotos, anualmente, vão ado-
rar a Jesus e afervorar a sua fé no Santíssimo Sacra-
mento.
JESUS, ACORDE!
Era no tempo das missões. O velho Missionário
explicava a duas dúzias de meninos as mais simples
verdades da religião.
Os garotinhos, de olhos esbugalhados e ouvi-
dos atentos, recebiam as bondosas palavras do Sa-
cerdote que falava de Jesus na Eucaristia. O que
ouviam era tão real, interessante e persuasivo co-
mo se estivessem vendo com seus próprios olhos.
Jesus vive no Tabernáculo, por nosso amor.
Quer estar perto dos homens. Aqui está para ouvir
as preces dos pequeninos e dar-lhes os seus presen-
tes. O Tabernáculo é a casinha de Jesus... dizia o
missionário.
Renato, um garotinho de 7 anos, ficou muito
impressionado e comovido. Não compreendia, de
maneira alguma, como Jesus pudesse ficar sozinho.
Tinha, ainda, muitas coisas para dizer a Jesus. Que-
ria contar-lhe que papai... sua mãezinha... eram
bons... mas!
- Se Ele está ali, vou falar! Encostou os ouvidos à portinha, e esperou pela
O Missionário concluiu a explicação e despediu resposta.
a garotada. Em vão.
Renato, então, afastando-se dos colegas que - Será que Jesus está dormindo? Bateu, então,
tomavam o caminho de casa, enfiou-se pela rua mais forte e chamou:
da igreja. Entrou no templo. Olhou demoradamen-
- Acorde... Jesus! Responda, por favor. Preciso
te para o altar e fixou os olhinhos na portinha do Ta-
lhe falar. Você está dormindo?
bernáculo.
A sua vozinha meiga e inocente comoveu o
Uma força misteriosa o atraía. As palavras do
Menino Jesus.
Padre lhe repetiam que Jesus estava ali. Sentiu um
desejo grande de falar e, então, correu para o al- Então, ouviu um barulhinho no Tabernáculo.
tar. Uma vozinha divina, paternal, respondeu:

Era pequeno ainda para subir à mesa e bater - Que quer, filhinho? Eu estou aqui.
na porta do Tabernáculo. Mas o fez, encostando Era a voz de Jesus. Renato estremeceu de ale-
uma cadeira. Sentado sobre a mesa do altar, che- gria. Colou a cabecinha à porta e disse:
gou a cabecinha à porta e bateu delicadamente.
- Jesus... Você sabe que papai não é bom para
- Está aqui, Jesus? Perguntou. você. Ele não vem à igreja, não comunga, não re-
Silêncio! Ninguém respondia. za. Por favor, Jesus, converta papai!

- Jesus... o Padre disse que Você está aqui. Res- - Meu queridinho, é isso que você quer? Está
ponda-me, por favor. bem. Vou converter o papai, e ele vai ser muito
bom para com vocês.
Fique sossegado, filhinho.
Renato agradeceu a Jesus. Com a alma cheia
de alegria voltou para casa, ansioso de ver o pai
convertido.
No dia seguinte se cumpria a promessa de Je-
sus.
Era o dia de conferência para os homens. De-
pois do jantar o pai pediu a Renato:
- Renatinho, quer me apresentar aos seus Missi-
onários? Amanhã vou comungar.
O SORRISO DO MENINO JESUS Educada na religião protestante, jamais suspei-
Os sinos de Leeds anunciavam a hora da fun- tara da fé da sua igreja. Portanto, amava sincera-
ção religiosa na matriz. mente a sua religião e vivia como fervorosa prati-
cante.
Uma senhora idosa, católica, como de costu-
me, fechou a porta e foi receber a benção do Sa- Depois das preces, do sermão, dos cânticos,
cratíssimo Sacramento. chegou o momento da benção do Sacratíssimo Sa-
cramento.
A poucos passos da igreja, uma amiga, que
não via desde muitos anos, se aproxima e a cumpri- O sininho tocou e o sacerdote, virando-se para
menta, pedindo notícias sobre a vida, a saúde e os o povo, abençoou-o. Completando o ritual, o sa-
anos. cerdote voltou à sacristia. O culto estava encerra-
do. Os fiéis foram saindo. Então, a senhora protes-
A amiga era protestante, da seita metodista.
tante comentou:
Depois dos primeiros cumprimentos, a católica
- Achei verdadeiramente linda e encantadora
diz a protestante, que a acompanha, porque não
a criança que estava sobre a mesa do culto. Nun-
queria perder a benção.
ca vi outra igual!
- Aceito e agradeço, respondeu a amiga.
- Uma criança? Indagava a católica. Aonde?
Nunca tive uma ocasião de entrar no salão do
- Sobre a mesa; ali onde o vosso ministro oficia-
vosso culto. Tenho o prazer de assistir a uma vossa va.
reunião religiosa.
Nunca ouvira ela falar da fé católica, e desco-
nhecia por completo as cerimônias do culto católi-
co.
- Impossível! Ali não havia criança alguma.
- Sim, insiste a protestante. Você não viu aquele
senhor com o pano brilhando aos ombros, subir ao
degrau e abrir a porta de uma casinha? De lá saiu
uma criança graciosíssima, de incomparável bele-
za. Ela sorria para mim, olhando-me com ternura.
Então, deslumbrada, disse-lhe: Sim! Sua mãe há
de se orgulhar de você! Nisto o menino que estava
perto do reverendo, tocou uma campainha e, to-
dos abaixaram a cabeça. Eu não. Fiquei olhando a
encantadora criança. Depois, o senhor, que estava
de pé, virou-se e, de novo, fechou o menino no ar-
mário.
Isto me revoltou. Não compreendo como vo-
cês tenham a coragem de fechar as crianças em
tão pequenos armários, onde podem morrer sufo-
cadas.
A católica, então, compreendeu que havia se
realizado um milagre.
Trêmula, pode responder:
- Minha amiga, espere! Vou chamar o nosso re- QUE LINDO MENINO!
verendo.
Manzaneda é uma cidade da Espanha, da dio-
- Vá, sim! cese de Astorga. Foi ela o lugar deum alindo mila-
O padre Cooke ouviu em silêncio, o milagre re- gre Eucarístico.
latado pela protestante. A qual ignorava por com- No ano de 90, os Padres Redentoristas prega-
pleto a presença real de Jesus no Sacramento da vam na paróquia as missões, a um povo violento e
Eucaristia. ímpio. O Vigário, havia tempo, abandonara a sede
Seis meses depois a privilegiada senhora morria paroquial por não aguentar os insultos e humilha-
como católica, confessando: ções dos fiéis, indo residir numa aldeia vizinha.
- Oh! O sorriso da criança conquistou o meu co- A religião ia desaparecendo, muitos nem sabi-
ração ao catolicismo. am benzer-se.
Os missionários, portanto, pregavam com fervor
apostólico e se movimentavam como verdadeiros
lutadores. Mas, em vão.
A Igreja permanecia deserta. Poucas pessoas, e ve-
lhas, iam ouvindo os sermões.
O desânimo ia tocando os missionários. Por
acaso, o Pe. Mariscal teve a ideia de anunciar na
noite da adoração do Sacratíssimo Sacramento, a
igreja ia ser farta e artisticamente iluminada.
Prometeu um espetáculo nunca visto em Man-
zaneda.
A notícia causou sensação. Levado pela novi-
dade e pelo desejo de criticar os padres, naquela
noite, o povo foi à igreja.
Terminado o sermão, ouvido entre risos e irreve-
rências, o Pe. Mariscal, rouco de tanto falar, subiu
ao púlpito para um ato de desagravo ao Santíssimo
Sacramento. A sua voz era abafada pelo estrépito
e algazarra do povo.
De repente, porém, a igreja é inundada de
uma luz celestial mais viva e brilhante que o sol.
A claridade ofuscava. Os olhos não suporta-
vam o brilho que partia do altar.
E, todavia, para o Tabernáculo eram atraídos os O espetáculo era comovedor. Os adultos batiam
corações e os olhares. no peito e soluçavam arrependidos.
Um silêncio respeitoso imperou então, na igreja. E O milagre dominava os corações, e as almas se
todos, arrebatados, contemplavam uma misteriosa voltaram para Deus.
criança. A mais linda, encantadora, ofuscante e an- O Vigário, trêmulo e comovido, de joelhos, ado-
gelical criatura que o homem pudesse contemplar. rava a Deus, agradecendo o celestial favor. Ceden-
Uma criança querendo ver, pôs-se a gritar: do ao pedido dos Missionários, o velho Cura deu a
- Também eu quero ver o menino! benção com o Santíssimo Sacramento, e a visão de-
sapareceu.
O missionário, em lágrimas de comoção, convi-
dou o povo a pôr-se de joelho e rezou. Falou, depois, Mas, as suas mãos ficaram trêmulas, nervosas, e
inspirado no mais lindo amor de Deus para com o po- não conseguia retirar a Hóstia. Chorava.
vo descrente e rebelde. Então, ó maravilha, um novo milagre! A Hóstia,
Ao mesmo tempo, todos viam na Hóstia um Me- por si própria, levanta-se e desce, lentamente, no ci-
nino, lindo como o sol. De braços abertos, estendia-os bório.
para as crianças como se quisesse abraçá-las. O san- À noite, quando o sino anunciava a hora da pe-
gue gotejava de suas mãos e dos pés. A veste era nitência, o povo, em procissão, se dirigiu à casa do
branca, matizada de flores roxas. Vigário, pedindo perdão por ter abandonado a Deus
e aos seus ministros.
O Pe. Mariscal, então, pede às crianças que se
levantem e, de braços abertos, se aproximem de Je- Dias depois, no órgão oficial da diocese apare-
sus, pedindo perdão pelos pecados dos pais. ceu esta nota:
“A aparição do Menino Jesus em Manzaneda é
um fato que não admite dúvidas”.

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