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Jesus nasce na Missa

1 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS

Jesus nasce na Missa

Capítulo I

Que este mistério se renova em cada Missa, prová-lo-ei pelo testemunho de um mestre célebre:

«A Santa Missa, diz Marchant, é uma representação viva e perfeita, ou antes uma renovação da
Encarnação, do nascimento, da vida, da paixão, da morte de Cristo e da redenção, que realizou»

Estas palavras parecerão estranhas a muitos, mas, segundo a exposição seguinte ninguém lhes
contestará a verdade.

Jesus Cristo não se contentou de Se fazer homem uma vez única. Encontrou, na Sua sabedoria infinita, o
sublime segredo de reproduzir todos os dias, a toda a hora, em toda a parte, em nova Encarnação
operada no altar, a satisfação já uma vez oferecida à Santíssima Trindade.

Esta Encarnação, não é menos real que a primeira. Citaremos o testemunho da Igreja, expresso na
Secreta do 9.° Domingo após o Pentecostes.

«A obra da nossa salvação opera-se tantas vezes quantas é celebrada a memória desta Vítima»

A Santa Igreja não diz: «A obra da nossa salvação é representada», mas, «a obra da nossa salvação
opera-se». Ora esta obra não é senão a Encarnação, o Nascimento, a Paixão e a Morte de Jesus.

Santo Agostinho atesta-o igualmente.

«Como é alta, — diz ele, — a dignidade do padre, em cujas mãos Jesus Cristo de novo se faz homem!
Como é celeste o mistério que o Pai, o Filho e o Espirito Santo operam pelo ministério do padre!»
São João Damasceno professa a mesma doutrina:

«Se alguém preguntar como o pão é Transubstanciado no corpo de Jesus Cristo, responder-lhe-ei: O
Espirito Santo vem sobre o padre com a Sua sombra, e atua como atuou no seio da Bem-aventurada
Virgem Maria»

São Boaventura é ainda mais afirmativo:

«Deus, — diz ele, — ao descer todos os dias do Céu sobre o altar, não fará menos do que fez, quando se
humilhou até revestir natureza humana»

Escutemos o próprio Cristo:

«Assim como me fiz homem no seio de minha Santa Mãe, — disse Jesus ao Bem-aventurado Alano de la
Roche, — assim também renovo a minha Encarnação, todas as vezes que se celebre a Missa»

Vê-se que o Verbo divino se faz carne nas mãos do padre, de uma forma diversa, evidentemente, mas
por uma operação semelhante do Espirito Santo.

É caso de exclamar ainda com Santo Agostinho:

«Ó grande dignidade dos padres, em cujas mãos Jesus Cristo se encarna de novo! Ó grande dignidade
dos fiéis, para cuja salvação o Verbo se faz carne por uma forma mística todos os dias, na Santa Missa!»

É sobretudo o caso de repetir a palavra dos nossos Livros Santos:

«Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o seu Filho único»
Que doce consolação para nós, homens miseráveis, sermos tão ternamente queridos do nosso Deus!

O piedoso Tomás de Kempis deu-nos o conselho seguinte:

«Quando dizeis ou ouvis Missa, lembrai-vos que participais de uma obra tão grande, tão admirável como
se, nesse mesmo dia, Jesus Cristo descesse do Céu e Se encarnasse no seio da Virgem Maria»

Que felicidade não seria a nossa, se Nosso Senhor voltasse visivelmente à terra! Quem não se apressaria
a ir adorá-lO e pedir-Lhe as Suas graças? Por que não assistimos nós, pois, à Missa com grande devoção?
Uma só resposta existe: é fraca a nossa fé, e compreendemos muito mal este benefício divino.

Santa Gertrudes e a Missa

«Um dia, — conta Santa Gertrudes, —prostrada humildemente durante a Missa, eu dizia a Nosso Senhor,
imediatamente antes da Consagração: Ó doce Jesus, a obra que ides realizar é tão excelente que, pobre
criatura indigna, não ouso levantar meus olhos. É bastante para mim humilhar-me e ficar no mais
profundo vale de humildade, que possa encontrar, esperando que me deis a minha parte do Sacrifício,
que é fonte de vida para todos os eleitos. Cristo respondeu-me: Da tua parte, toma tu a firme resolução
de Me servir, mesmo no meio das maiores penas, a fim de que este Sacrifício, que é salutar aos vivos e
aos mortos, se cumpra em toda a sua excelência. Terás ajudado a minha obra»

Como Santa Gertrudes, no momento da Consagração, reflete no grande milagre, operado por Deus no
altar, concebei o ardente desejo de ver a imolação de Jesus contribuir para maior glória da Santíssima
Trindade e salvação dos fiéis.

O poder do Sacerdote no Altar

Considerai quão enorme é o poder de consagrar, que Jesus Cristo concede aos padres:

«O poder de meu Pai é tão grande, — diz Nosso Senhor ao Bem-aventurado Alano de Ia Roche, — que
criou do nada o Céu e a terra; mas o poder do padre é tal que faz nascer o próprio Filho de Deus na santa
Eucaristia, e consegue que, por este Sacramento e este Sacrifício augusto, o tesouro da salvação passe às
mãos do sacerdote»

O Salvador acrescenta:

«A Missa é a maior parte da glória de Deus, é a principal alegria de minha santa Mãe, é as delícias dos
Bem-aventurados, é o melhor socorro dos vivos, e a maior consolação dos mortos»

Repitamos as palavras de São João:

«Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o Seu Filho único, a fim de que todos, que tiverem fé nEle, se
não percam, mas tenham a vida eterna»

Deus provou a primeira vez este grande amor ao mundo, quando lhe enviou o Seu Filho. Todos os dias, a
todas as horas, prova-lho de novo, fazendo descer novamente do Céu o mesmo Verbo, para reproduzir o
mistério. Pela Encarnação de Nazaré, Jesus Cristo adquiriu um tesouro infinito de méritos; na do altar,
torna participantes deles, todos os que ouvem ou celebram devotamente a Missa. Eis um exemplo
notável:

O Amor infinito de Jesus na Missa

Conta-se, na crônica dos Frades Menores, que o Bem-aventurado João de Alverne oferecia o divino
Sacrifício com grande fervor, e sentia então muitas vezes tamanha suavidade espiritual, que ficava
aniquilado. No dia da Assunção da Santa Virgem, devia oficiar solenemente; mas, apenas chegou ao
altar, experimentou transportes íntimos tão vivos, que receou não poder chegar até o fim. A apreensão
realizou-se. À Consagração, quando considerava o amor imenso que, por toda a eternidade, levara Jesus
Cristo a descer do Céu para revestir natureza humana, amor que o decidiu a renovar incessantemente a
Encarnação, na Santa Missa, o Bem-aventurado sentiu inflamar-se-lhe o coração, e faltaram-lhe as forças
para pronunciar as palavras sacramentais. Disse por fim. «Hoc est… Hoc est enim»... sem conseguir
acabar. O Padre Guardião e outro religioso, tendo-lhe notado aquela perturbação, correram para junto
dele, a prestarem-lhe auxílio. Os assistentes estavam aflitos, pois supunham tivesse acontecido qualquer
acidente ao Padre que acabou finalmente por pronunciar as duas últimas palavras: «Corpus Meum».
Então João de Alverne viu a Hóstia transformar-se em uma criança, na qual reconheceu o Menino Jesus.
O Salvador desvendou-lhe a profunda humildade, que O impeliu a fazer-Se homem, e a renovar na Missa
a Sua Encarnação. Esta revelação esgotou as forças do religioso que tombaria por terra sem sentidos, se
o Guardião e o outro Padre, que estavam perto dele, não o sustivessem. Algumas mulheres deram-lhe
sal a aspirar e reanimaram-no assim. Se bem que tivesse ficado extenuado, a ponto de não poder mover-
se nem sequer levantar as mãos para fazer o Sinal da Cruz, no entanto concluiu o Santo Sacrifício,
assistido do seu superior. Logo a seguir, perdeu novamente os sentidos, e tiveram de o levar para a
sacristia. Tinha toda a aparência de cadáver: o corpo gelado, os dedos tão contraídos, que lhos não
podiam estender. Esteve assim durante muitas horas; choravam-no como se estivesse morto. Quando
voltou a si, pediram-lhe que por amor de Deus dissesse o que lhe tinha acontecido e o que vira no seu
êxtases. Cedendo às instâncias repetidas dos fiéis:

«No momento da Consagração, — disse, — refleti no amor imenso, que impeliu Nosso Senhor a fazer-Se
homem e a renovar a Sua Encarnação na Missa; então, o meu coração tornou-se em como que cera
quente, e pareceu-me que as carnes me ficavam desamparadas de ossos. Eu não podia estar de pé, nem
dizer as palavras sacramentais. Quando por fim, à custa de grandes esforços, as pronunciei, vi nas
minhas mãos, em vez da santa Hóstia, o doce Menino Jesus. Um só dos Seus olhares trespassou-me até
o fundo da alma, e tirou-me a força física que me restava. Cai exânime, fiquei, porém, inflamado de amor
por esta Criança Divina»

O Bem-aventurado acrescentou ainda muitos pormenores das impressões, que experimentara durante o
seu enlevamento, e expôs às almas piedosas o amor infinito que Jesus nos testemunha no Santo
Sacrifício. Muitas outras santas personagens gozaram as mesmas consolações de João de Alverne. Vós as
sentiríeis também, e das mais inefáveis, se tivésseis o piedoso costume de assistir à Missa.

Carlos Magno e Wittikind

O grande imperador Carlos Magno combateu por muitos anos os Saxões. Inspirado nas doutrinas cristãs,
este soberano procurava levar a todos os povos, que submetia, a luz da fé e os benefícios da civilização.
Vencidos os feros saxões, enviou-lhes missionários, que os convertessem. Mas o chefe destes povos, o
rebelde Wittikind, incitava-os constantemente à apostasia, destruindo com pertinácia a obra do grande
imperador dos francos.

Pela duodécima vez foi Carlos Magno às florestas germânicas, à frente de um numeroso exército. Era na
quaresma. Ao aproximar-se a Páscoa, o imperador ordenou a todos os seus soldados que se
preparassem para receber piedosamente os Sacramentos. A Semana Santa foi celebrada no
acampamento imperial com toda a devoção.
Wittikind, apesar de inimigo da religião cristã, sente uma curiosidade enorme de ver as cerimônias do
culto do imperador dos francos. Despe o seu vestuário suntuoso de chefe, enverga umas roupas
andrajosas e, assim disfarçado apresenta-se no acampamento, a pedir esmola. Era Sexta-feira Santa. O
altivo bárbaro nota como o imperador e os seus soldados, tendo observado um rigoroso jejum, se
confessam e preparam para a Sagrada Comunhão. No domingo de Páscoa observa as cerimônias do
Santo Sacrifício, para ele tão novas e cheias de mistério. Mas eis que, ao chegar ao momento de
consagração, vê entre as mãos do sacerdote um Menino de incomparável beleza.

À vista deste espetáculo, uma grande alegria penetra no seu coração. Durante o resto do Santo Sacrifício,
não tira os olhos do celebrante. Mas a sua surpresa cresceu de ponto ao ver que os soldados se
ajoelhavam junto do altar e recebiam das mãos do celebrante o mesmo misterioso Menino, que Se
deixava consumir de cada um deles, mas de maneira muito diferente. Com efeito, o gracioso Menino ia
para uns com manifesta alegria, ao passo que a outros era entregue com grande repugnância,
debatendo-Se com os pés e com as mãos, como se quisesse resistir.

O chefe dos saxões não saia do seu extraordinário assombro, pelas maravilhas que vira.

No fim das santas cerimônias postou-se à porta da igreja, entre os mendigos, que esperavam a esmola
do imperador.

Este saiu distribuindo a cada um o seu óbulo. Mas quando Wittikind estendeu a mão, um oficial de
Carlos Magno reconheceu-o por um dedo torcido, que o bárbaro tinha, e avisou o soberano.

— Por que se dissimula o Duque dos saxões sob os andrajos de um mendigo? — perguntou o senhor do
Ocidente.

Tomado de surpresa e receando ser julgado em flagrante delito de espionagem, Wittikind respondeu:

— Senhor, não interpreteis mal o meu procedimento. Animava-me unicamente o desejo de assistir
livremente ao Sacrifício dos cristãos.
— E que viste tu?— volveu o imperador.

— Prodigio tal, que nunca ouvi nem imaginei outro igual e que não o posso compreender.

E contou tudo o que observara no acampamento, durante aqueles três dias, pedindo que lhe
explicassem o que eram e significavam aqueles fatos tão extraordinários.

Carlos Magno, maravilhado das graças tão insignes que Deus concedera ao rude Saxão, explicou-lhe o
que significavam todas as cerimônias da Semana Santa, e disse-lhe o que era a Missa, a Confissão, e a
Comunhão. Comovido até ao mais íntimo da alma, Wittikind quis ser completamente instruído na fé
cristã, converteu-se, recebeu o batismo e levou consigo sacerdotes, que fossem ensinar, no ducado de
Saxe, a fé de Jesus Cristo.

Este fato é uma grande prova da Presença real. Os nossos olhos pecadores não vêm a beleza infinita de
Jesus, mas a Santíssima Trindade vê em todo o Seu esplendor a Vítima eterna e recebe da Missa uma
glória infinita e a Santíssima Virgem, os Anjos e os Santos experimentam alegria inefável, cada vez que o
Filho de Deus é oferecido sobre o altar, como foi revelado ao D. Alano de la Roche por Nosso Senhor em
pessoa.

Quando os Anjos vêem Jesus nascer na hóstia, ajoelham, adorando-O, como fizeram junto do presépio
de Belém, cumprindo assim mais uma vez aquela profecia, que São Paulo aplica ao mistério do Natal:

«Quando Deus introduziu o Seu Filho na terra, disse:

— Adorem-nO todos os Anjos»

Estes celestes espíritos, cheios de reverente temor, unem-se numa comum alegria para louvar a
Majestade divina, como diz a Igreja no Prefácio da Missa. Unamo-nos com eles e louvemos este amável
Jesus, que em cada Missa renova o mesmo mistério para nos fazer participar mais largamente dele.
Nenhum espírito humano poderia explicar dignamente verdade tão sublime; seria necessária a ciência
dos Anjos.

O nascimento de Jesus, que uma vez aconteceu visivelmente, repete-se todos os dias nos nossos altares,
de uma maneira invisível, quando, à palavra do sacerdote, o Filho de Deus desce sobre a ara, debaixo das
aparências das sagradas espécies.

Reproduzida pela virtude da transubstanciação, a Humanidade de Jesus conserva-Se tanto tempo em


nosso poder quanto o pão e o vinho conservarem as suas aparências, retirando-Se apenas quanto estas
se corrompem e desaparecem.

Pensemos, pois, na alegria infinita, na glória imensa que o Eterno Pai recebe, quando Jesus Lhe é
apresentado pelas mãos do sacerdote. Por certo que são iguais às da noite de Natal, porque, quer na
gruta de Belém, quer sobre o altar das nossas Igrejas, está o mesmo Jesus, de Quem o Eterno Pai disse:
—«Este é o meu Filho muito amado, em Quem pus todas as complacências», com a diferença apenas
que Cristo estava então revestido da Sua carne mortal, ao passo que agora o Seu Corpo, onde as Cinco
Chagas brilham como cinco sóis, é imortal.

Estas delícias, esta glória incomensurável sobrexcedem infinitamente às que o Altíssimo recebe dos
louvores dos Anjos, das adorações dos Santos, das boas obras dos homens, porque só a Santíssima
Humanidade de Cristo unida hipostaticamente à Divindade é capaz de amar e honrar devidamente a
Santíssima Trindade. Podemos fazer uma ideia desta verdade pelas palavras que Jesus disse a Santa
Mathilde:

«Só eu sei e compreendo perfeitamente como me imolo cada dia sobre o altar para salvação dos fiéis, o
que não podem compreender perfeitamente nem os Querubins, nem os Serafins, nem nenhuma
potência celeste»

Sim! Só Jesus conhece bem, em cada dia, à Missa, quanto o Seu amor e a Sua oblação são agradáveis a
Deus. O nosso doce Salvador desempenha as Suas funções sublimes com suavidade e amor infinitos, que
enchem o Céu de alegria e nos conseguem preciosíssimas bênçãos.

Jesus vive de novo na Missa

2 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS


Jesus vive de novo na Missa

Capítulo II

Na Santa Missa, temos ante os olhos o Divino Menino, que os pastores encontraram num presépio
desabrigado, que os Magos adoraram, que o velho Simeão teve nos seus braços trémulos de gozo. É Ele
que por intermédio do padre, nos prega o Evangelho; e a graça que recebemos não é menor que se da
própria boca de Jesus ouvíssemos a Boa Nova.

Mudando o vinho no Seu próprio Sangue, opera maior prodígio que o das bodas de Caná.
Transformando o pão no Seu próprio Corpo, renova o mistério inefável da última Ceia.

É imolado mais uma vez sobre o altar, não pela mão dos algozes, mas realmente entre as mãos do
sacerdote, que O oferece como Vítima expiatória ao Deus onipotente.

Por isso diz o grande teólogo Sanchez que «aquele que souber aproveitar a Santa Missa, pode receber
por ela o perdão dos seus pecados e a efusão das graças celestes, tão bem como se houvesse vivido no
tempo do Salvador e assistido a todos os seus Mistérios».

Não menos claro é o grande escritor eclesiástico Dionísio Cartusiano :

«Toda a vida de Cristo não foi mais que uma celebração da Santa Missa, na qual Ele próprio era o altar, o
templo, o padre e a vítima»

Jesus revestiu os hábitos sacerdotais no seio de Maria, tomando a nossa carne, vestindo o manto da
nossa mortalidade.

Deste tabernáculo sacratíssimo saiu na ditosa noite de Natal e começou o Introito, ao entrar no mundo.
Rezou o Kirie eleison, quando no berço agitou as mãozinhas, como que a pedir socorro.

O Gloria in excelsis foi cantado pelos Anjos, que pairavam nas nuvens, enquanto o Salvador recém-
nascido pousava nas palhas de uma pobre manjedoura. É em memória desta circunstância que o
celebrante, nas Missa Solenes, está sentado enquanto o coro canta o Gloria. A Coleta são as orações que
Jesus rezava nas Suas vigílias, para invocar em nosso favor a misericórdia divina. A Epístola são os Seus
comentários de Moisés e dos profetas. O Evangelho pregou-o percorrendo a Judéia para espalhar a Boa
Nova. Rezou o Ofertório quando Se ofereceu a Deus Pai pela salvação dos homens, aceitando todos os
Seus sofrimentos. Cantou o Prefacio louvando a Deus sem cessar em nosso lugar e agradecendo os Seus
benefícios. O povo de Jerusalém fez retumbar o Sanctus pelas ruas da velha cidade judaica, quando
aclamou o Salvador no dia de Ramos:

«Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja o que vem em nome do Senhor»

A Consagração foi feita por Jesus na Última Ceia, transubstanciando o pão e o vinho no Seu Corpo e no
Seu Sangue. A Elevação realizou-se quando Jesus, levantado no patíbulo, foi oferecido em espetáculo a
todo o mundo. O Pater são as sete palavras de Jesus sobre a Cruz e a fração da Hóstia efetuou-Se no
momento em que a Sua alma Se separou do Seu corpo martirizado. Enfim, o Agnus Dei são as palavras
do centurião, batendo no peito e dizendo: — «Na verdade este era o Filho de Deus»; e a Comunhão é a
embalsamação e sepultura de Cristo. Antes de deixar o mundo, Jesus quis dar a benção aos Seus
discípulos, estendendo as mãos sobre eles no Monte das Oliveiras.

Como é bela e grandiosa e solene esta Missa celebrada na terra pela vida inteira do Salvador. Em meia
hora passam-nos ante os olhos todos os episódios da Sua existência durante trinta e três anos. O
Salvador reúne na Missa todos os mistérios da Sua peregrinação sobre a terra, pondo-os ante os nossos
olhos como numa recapitulação. Desta forma, somos tão favorecidos ou talvez mais que todos quantos
viveram com Ele no mundo. Eles ouviram uma Missa única, que durou toda a vida de Jesus, ao passo que
nós podemos ouvir Missa todos os dias e até muitas no mesmo dia, colhendo todos os méritos da vida
do Salvador.

Já dissemos em outra parte, mas nunca se pode repetir demais, não vemos com os olhos carnais o Filho
de Deus sobre o altar. Todavia vemo-lO com os olhos da Fé. Desde toda a Eternidade preparou-nos Jesus
um meio de assistirmos à Sua vida, à Sua Paixão e à Sua Morte e facultou-nos o oferecer ao Eterno Pai os
Seus méritos infinitos em remissão dos nossos pecados. Desde toda a Eternidade preparou-nos um meio
de darmos à Santíssima Trindade, glória infinita e a toda a corte celeste uma alegria sem igual. Porque
durante a Missa, Deus e os Seus Anjos vêem Jesus como O viram no presépio, na circuncisão, na
apresentação no templo, na fuga para o Egito, no jejum no deserto, nas pregações às turbas, nas viagens
pela Judeia, vêem-nO perseguido, vendido, arrastado nos tribunais, flagelado, coroado de espinhos,
crucificado, morto, sepultado, ressuscitado, enfim subindo ao Céu no fim da Sua carreira de salvação e
redenção.
Por isso o Céu sente na celebração da Missa, uma glória e um prazer que nada na terra lhe poderia
comunicar. Esta alegria não provém só da renovação da vida de Jesus mas também do amor que sobre o
altar Jesus tem para com Seu Pai; porque na Missa Jesus louva, honra e ama a Deus com todas as forças
da Sua natureza humana e com todo o poder da Sua natureza divina. Este louvor, este amor são tão
altos, que por si só excedem infinitamente todas as homenagens dos Anjos e dos Santos que tem havido
sobre a terra.

Durante a Sua vida terrestre, Jesus juntou um tesouro infinito de graças e méritos não para Si, mas para
nós. Trabalhou sem cessar, como Ele mesmo diz:

“Meu Pai não cessa de operar e eu opero também incessantemente”

Ora esta vida laboriosa, infinitamente meritória, renova-a Jesus em cada Sacrifício, oferecendo-Se de
novo ao Pai para obter o nosso perdão, pagando as nossas dívidas e dando-nos um meio do evitar os
enormes castigos que constantemente merecemos.

Sejamos, pois, reconhecidos a um Amigo tão fiel que, à custa de tantas fadigas, nos ganhou tão valioso
tesouro.

Estas considerações devem fazer-nos pensar um pouco no valor e eficácia da Missa e nos imensos
benefícios que podemos conseguir mandando-a celebrar e ouvindo-a.

Oferece-nos Jesus com infinita liberalidade um tesouro acima de todo o preço; recusá-lo-emos? Ah! Se
na ordem temporal pudéssemos enriquecer tão facilmente como na ordem espiritual, não perderíamos
um momento, não pouparíamos um esforço! Só para os bens eternos, que os ladrões não roubam, nem
a traça rói, nem o fogo consome, é que somos tão negligentes e preguiçosos!

O que conta Tomás de Catimbre

Tomás de Catimbre, bispo holandês, da Ordem de São Domingos, conta que em 1267, pela Páscoa, um
padre deixou cair uma Hóstia, quando na Igreja de Saint-Amand, em Douai, distribuía a comunhão
durante a Missa. Aterrado com este acidente, para si inexplicável, ajoelha para o reparar. Mas, no
momento de tomar a Hóstia, viu que ela se elevava do chão e pairava nos ares. Não tendo mais que um
corporal sobre o qual estava o cibório, tomou do purificatório e estendeu-o por baixo da Hóstia, que veio
pousar sobre ele. Depois de a receber, levou-a para o altar e, humildemente prosternado, pediu a Nosso
Senhor o perdão da sua irreverência. Ora, neste mesmo instante, como tinha os olhos fixos nas sagradas
Espécies, que acabava de recolher, notou com surpresa enorme, que se transformavam em uma criança
cheia de graça. Comovido até ao fundo do coração, na presença de um milagre tão grande, não pôde
conter-se que não gritasse. Correram os cantores em auxílio do sacerdote e observaram também a
presença da criança celeste. A alegria manifestasse então neles, e por sua vez o povo precipita-se a
contemplar a maravilha.

Mas, novo prodígio: onde os coristas viam Jesus Cristo sob a forma de uma criança, os outros fiéis viam-
nO sob a forma de um homem e no esplendor da Majestade divina; e ora baixavam os olhos com
respeito, ora os levantavam para de novo olharem. O milagre durou uma hora. Quem dirá que doçuras
neles espalhou tamanho favor? A multidão tornara-se muito considerável e, depois que o Padre fechou o
Santo Sacramento no Tabernáculo, espalhou por toda a parte a notícia do fato de que tinha sido
testemunha. O bispo, que o narra, foi um dos primeiros a sabê-lo. Indo a Douai procurar o deão de Saint-
Amand, preguntou-lhe se o que contava da aparição de Nosso Senhor era exato. O padre respondeu:

«É verdade que Jesus Cristo foi visto por grande número de pessoas sob forma humana. A estas palavras,
continua Tomás, nasceu em mim desejo vivo de gozar a mesma graça, e pedi ao deão que me mostrasse
a Hóstia. Ele acompanhou-me à igreja, aonde uma enorme multidão nos seguiu, na esperança de que o
prodígio se repetisse.

O deão abriu o tabernáculo, não sem receio, e tirou o Santo Sacramento com que deu a benção.
Imediatamente o povo, soltando gritos, exclama entre soluços: Oh! Jesus! Preguntei que significavam
aqueles gritos, aquelas lágrimas, e responderam-me: nós vemos com os nossos olhos o nosso divino
Salvador! No entanto, eu não via mais que a forma ordinária da Hóstia Sagrada, o que me afligia deveras
porque temi que a recusa do meu Redentor em Se mostrar a mim, fosse o castigo dos meus pecados.
Sondei escrupulosamente a consciência e, não tendo encontrado nada de especial, conjurei com
lágrimas Jesus Cristo, que me deixasse ver o Seu rosto com os meus olhos corporais. Após suplicas
insistentes, os meus votos foram satisfeitos, e então contemplei, não a figura de uma criança, conforme
tinha acontecido a muitos fiéis, mas a forma de um adulto.

Vi o Salvador, face a face; os olhos eram límpidos e agradáveis; a cabeleira flutuava-Lhe sobre os ombros;
a barba, bastante comprida, enquadrava o mento; a fronte larga e lisa, as faces pálidas, a cabeça um
tanto inclinada. Vi Nosso Senhor, disse eu, e estava tão comovido com a visão, que o coração quase me
estalava desse excesso de alegria e amor. Depois de muito tempo, a face de Jesus transformou-se;
tornou-se tão triste como o devia ter sido na Sua paixão dolorosa. Apareceu-me coroada de espinhos,
inundada de sangue. Eu senti uma compaixão tão grande que vertia lágrimas amargas pelo estado do
meu Salvador; e acreditei que sentia na minha cabeça a ponta dos espinhos que rasgavam a de Jesus.

A assistência soltava grandes gritos, e manifestava de mil modos a sua aflição. Como da primeira
aparição, cada um via da sua maneira; enquanto uns contemplavam Jesus na forma de uma criança
recém-nascida, outros avistavam-nO como um adolescente, outros com o aspecto de homem adulto,
outros no meio dos horrores da Paixão. Renuncio a pintar as emoções, que experimentaram estes fiéis
cristãos, e deixo às almas piedosas o cuidado de as imaginar»

Se bem que eu não tivesse como eles a alegria de Vos ver, ó Jesus, sob a forma corporal, não creio
menos firmemente por isso a Vossa presença real, e ofereço-Vos a Vosso Pai com tanto fervor como se
Vos tivesse contemplado com os meus olhos. Sei que estas manifestações, que de Vós mesmos nos
fazeis, são fáceis ao Vosso poder de Todo-Poderoso; sei também que não são necessárias e que, se for
viva a minha fé, ver-Vos-ei na Vossa glória ou na Vossa Paixão, consoante me associar às Vossas alegrias
ou às Vossas dores. Não Vos revelais aos meus olhos mortais, mas preparastes-me de toda a eternidade
um meio de assistir em espírito ao espetáculo da Vossa vida e dos Vossos sofrimentos, e de os oferecer
ao Pai e ao Espírito Santo, para maior glória de Vossa bem-aventurada Mãe de todos os coros angélicos e
do exército dos eleitos. Sim, durante a Santa Missa, Deus e os Seus Anjos tornam a ver Jesus Cristo sob a
foma com que repousava no presépio; reveem a Sua circuncisão, a Sua apresentação no Templo, a Sua
fuga para o Egito, o Seu jejum no deserto, as Suas pregações, as Suas viagens; voltam a vê-lO perseguido,
vendido, arrastado aos tribunais, flagelado, coroado de espinhos, crucificado, morto, sepultado;
ressuscitado, enfim revem-nO a subir ao Céu e a por termo, assim, aos Seus trabalhos.

Esta representação viva, esta renovação dos anos terrestres do Salvador causa ao Pai, ao Espírito Santo,
aos Anjos, alegria tão grande como a que lhes causaram outrora os mistérios cumpridos na Judéia. Em
outros termos, o Céu inteiro sente em cada Missa delícias tais que nada neste mundo se lhes pode
comparar. Esta alegria não provêm somente da reprodução da vida e da Paixão de Jesus, mas também
do amor que a Sua pessoa testemunha à Divindade; porque no Santo Sacrifício, Nosso Senhor honra,
louva, ama, serve e glorifica a Trindade, com todas as forças da Sua natureza humana, como com todo o
poder da Sua natureza divina. E fá-lo de forma tão incompreensível, tão alta, que este louvor e essa
caridade só por si ultrapassam infinitamente as homenagens dos Anjos e as obras de todos os Santos. À
luz destas considerações, julgai a excelência do culto que os vossos padres prestam a Deus; fazei uma
ideia da eficácia de uma Missa, direi mesmo da simples audição de uma Missa.

Jesus reza por nós na Missa


3 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS

Jesus reza por nós na Missa

Capítulo III

Diz São João, o discípulo amado, que:

«Temos por advogado para com o Pai a Jesus Cristo, o Justo por excelência. E Ele mesmo é a Vítima de
propiciação pelos nossos pecados»

Preciosa garantia da nossa salvação é esta de termos o filho de Deus, o próprio assessor do Pai, a intervir
a nosso favor e a patrocinar a nossa causa.

Mas onde e quando é que Nosso Senhor desempenha esta função? Ensina a Igreja, que não é apenas no
Céu, mas também na terra.

«Cada vez que se oferece o Santo Sacrifício, diz o sábio Suarez, Nosso Senhor reza por aquele que o
oferece e por aqueles por intenção de quem é oferecido»

Primeiro que tudo reza pelo Padre, pelos assistentes e por todos aqueles que o Padre e os assistentes
têm em vista.

«Cristo sacrificado chama por Seu Pai e mostra-Lhe as Suas sagradas chagas a fim de comover o Seu
coração e nos livrar das penas eternas»

Assim descreve São Lourenço Justiniano aquela oração; e não há forma melhor de mostrar o zelo que o
Salvador tem pelos nossos interesses. Já indiretamente São Lucas no-lo tinha revelado quando disse:

«E aconteceu naqueles dias, que Jesus saiu para o monte a orar e esteve toda a noite em oração a Deus»
O mesmo Santo mostra que não foi isso um fato isolado, quando escreve em outro lugar que «de dia
ensinava no templo; e de noite, saindo, ficava no monte que se chama das Oliveiras». Mais adiante diz:

«E tendo saído, ia, como costumava, para o Monte das Oliveiras»

Por estes testemunhos fica evidentemente demonstrado que o Salvador tinha por hábito passar as
noites em oração nessa montanha.

Jesus reza por nós

Santo Ambrósio ensina-nos por quem é que o Salvador rezava:

«Não por Sua, mas por nossa intenção, rezava o Senhor»

Foi, pois, por vós, cristãos, por mim, por todos os homens, que Cristo se submeteu a tanta vigília. Apesar
da morte cruel a que tinha resolvido submeter-Se, previa a perda de muitas almas, espetáculo que Lhe
arrancava lágrimas dos olhos e suspiros do Coração, condoído. E essas fervorosas orações, repete-as o
Salvador em cada Missa. Faz delas como que um resumo e ao mesmo tempo mostra a Seu Pai as
lágrimas ardentes que chorou; enumera os suspiros que saíram do Seu Coração; recorda o número de
noites que passou de vigília. Tudo isso oferece, por certo, pela salvação do mundo inteiro, mas
particularmente por quem assiste à Missa. Qual não será a eficácia de uma tal intercessão saída dos
lábios do Santo dos Santos! Quanto devem esperar dela as almas, a favor das quais sobe até Deus.

E o que aumenta ainda o poder da oração de Jesus é, como já referimos, que a Sua virtude está unida à
virtude do Sacrifício. Vamos explicá-lo.

Lê-se nas Revelações de Santa Gertrudes, que, à elevação da Hóstia, a Santa viu Nosso Senhor elevar por
Suas próprias mãos e sob a forma de um cálice de ouro o Seu Sagrado Coração, e oferecê-lo a Deus. Viu-
O imolar-Se Ele próprio pela Igreja, por forma que sobrepuja todo o entendimento. E, querendo
confirmar esta revelação, Nosso Senhor disse, como já referimos, a Santa Mathilde, irmã de Santa
Gertrudes:
«Sou só Eu que sei e que perfeitamente compreendo como é que Me sacrifico sobre o altar pela
salvação dos fiéis. Nem os Querubins, nem os Serafins, nem nenhuma potestade celeste o podem
compreender completamente»

A Humildade de Jesus

Além disso, note-se que sobre o altar Nosso Senhor não Se oferece com a majestade que tem no Céu,
mas com incomparável humildade. Está presente, não apenas na Hóstia inteira, mas nas suas mínimas
parcelas, e sob esses véus parece tão pouco digno de atenção e respeito, que é caso de Lhe aplicar as
palavras de Davi:

«Não sou um homem, mas um verme da terra, um objeto de troça para os homens»

E infelizmente, para eterna vergonha dos cristãos, com frequência se cumpre à letra a profecia: Jesus
Cristo é desprezado entre nós; recusamos as honras devidas à Sua Divindade e não é senão
desatentamente reconhecido e adorado no Sacramento do Seu amor.

Sob essa forma, assim despido de grandeza, clama no entanto ao Céu com voz tão potente, que penetra
as nuvens, rasga o firmamento e triunfa da justiça divina.

Tendo Jonas anunciado ao rei de Nínive que dentro de quarenta dias a sua capital seria destruída, despiu
o monarca o seu trajo real, cobriu-se com um saco e ordenou ao povo que pedisse misericórdia ao
Senhor. Pela sua humildade e penitência, obteve a revogação da temível sentença, e a cidade criminosa
foi poupada. Se por aquele seu procedimento mereceu, este rei pagão, o indulto de uma cidade inteira,
não há de então Jesus Cristo, que à Missa se humilha muito mais ainda, obter também mais? Despojado
da Sua majestade, revestido como que de um saco grosseiro, sob as aparências sacramentais,
permanece em frente do trono do Todo-Poderoso e pede clemência para todo o Seu povo, dizendo:

«Pai, vê como estou rebaixado! Eu próprio me reduzi, mais ainda que à condição de um homem, à de um
verme da terra. Os pecadores ergueram-se contra Ti; Eu abato-Me na Tua presença. Irritaram-Te com o
seu orgulho; Eu quero desarmar-Te à força de humildade. Eles incorreram na Tua justa vingança; deixa-Te
aplacar pelas Minhas orações. Pai, pelo amor que Me tens, perdoa-lhes; não os castigues na proporção
da culpa; não os abandones ao inimigo, não permitas que caminhem para a perdição. Não posso
conformar-me com a ideia de os ver cair no abismo, visto que eles são Meus, tendo sido resgatados com
o preço dos Meus sofrimentos. Peço-Te sobretudo, Pai, pelos pecadores aqui presentes, por eles ofereço
neste momento o Meu sangue e a Minha vida. Ah! Por virtude deste sangue, desta morte, salva-os da
condenação eterna»

O fervor com que Jesus reza na Missa

Não há a menor dúvida de que, durante a Sua suspensão na Cruz, o Salvador recomendou a Seu Pai, os
fiéis que estavam ao pé dessa árvore sagrada e de que muito especialmente a eles aplicou os frutos da
Sua Paixão. Pois não é menos certo, que à Santa Missa reza pelos assistentes, sobretudo pelos que
imploram a Sua mediação. Reza por eles tão fervorosamente como do alto do patíbulo da Cruz pedia
pelos inimigos que nele O tinham pregado. Que é então que não produzirá essa oração? Que de graças
não colheremos dela? Que segura esperança de eterna felicidade não fará ela nascer nos nossos
corações?

Se a bem-aventurada Virgem Maria descesse do Céu e vos dissesse:

— Filho querido, nada temas; sou Eu quem vai tomar conta dos teus interesses, intercederei por ti com
toda a instância junto do meu Filho e só cessarei de o fazer quando me tiver dado a certeza da tua
eterna felicidade.

Se a Bem-aventurada Virgem Maria, digo, assim vos falasse, vós, cheio de alegria, exclamaríeis do fundo
da alma:

— Já não me resta agora dúvida alguma. Está garantida a minha salvação.

Não serei eu que deixe de louvar essa confiança na Santa Virgem Maria; mas será possível que não
tenhais confiança semelhante, ou antes muito maior ainda, na intercessão toda poderosa do Glorioso
Filho de Deus, que não só vos promete a Sua assistência, mas realmente reza por nós em cada Missa que
ouvis, e quer, contrabalançando a severidade da justiça, salvar-nos do castigo que mereceram os nossos
pecados? À voz da Sua prece, junta a das Suas lágrimas, das Suas chagas, do Seu sangue e dos Seus
suspiros: outras tantas fontes inesgotáveis de onde promanam rios de graças e de bênçãos.

Tirai, pois, proveito de uma doutrina tão animadora; quero dizer: sede fiéis em assistir ao Santo
Sacrifício. Queixais-vos muitas vezes de falta de fervor. Nosso Senhor, porém, rezando em vosso lugar,
suprirá as vossas omissões. É Ele quem vos convida afetuosamente:

«Vinde a Mim todos os que trabalhais, e estais carregados, e eu vos aliviarei»

Quer dizer: Vinde todos a Mim, vós que não podeis rezar devotamente, e Eu rezarei em vosso lugar. Estas
palavras, vindas do altar, devem fazer sobre vós ainda mais pressão do que se Lhas ouvísseis nos dias da
Sua passagem por este mundo. Porque é então, alma indigente, que não pondes em execução esse
desejo do Salvador? Porque não acorreis à Santa Missa? Quando vos sentis necessitada, implorais as
pessoas que podem ajudar-vos, a elas vos queixais da vossa miséria, pedis as suas orações, tendes
confiança na sua intercessão. Como então não haveríeis de confiar na mediação Todo-Poderosa de Jesus
Cristo? Tão falha de tudo estais, que mal podeis expôr o Vosso estado: mas o que nele há de mais
terrível, é o perigo sempre ameaçador da eterna perdição.

«Senhor, perguntais então ao Divino Mestre, — quem poderá salvar-me?»

E Jesus responde-vos:

«O que aos homens é impossível, possível é a Deus»

E agora que compreendeis o poder, a eficácia da oração de Jesus no altar, juntai-Lhe as vossas próprias
súplicas, que assim adquirirão uma imensa força.

«As orações proferidas em união com o Santo Sacrifício, diz um piedoso autor, deixam a perder de vista
todas as outras, mesmo as orações que duram longas horas, mesmo as orações mais elevadas, por causa
dos merecimentos da paixão de Jesus Cristo, que, na celebração deste augusto Sacrifício, se comunicam
por admirável efusão»

Fornerio, o autor que assim se expressa, confirma a sua opinião com a seguinte comparação:
«Assim como a cabeça excede em dignidade todas as outras partes do corpo, da mesma forma a oração
do Salvador, que é a nossa cabeça, tem um valor que a coloca infinitamente acima das orações de todos
os Cristãos, que não são senão os membros do Seu corpo místico»

Tal como a moeda de cobre, que, ao cair dentro de ouro em fusão, sobe de preço, assim também a
miserável oração de um homem, unida à oração de Jesus Cristo, toma o caráter da mais nobre dádiva.
Digamos ainda melhor: uma oração frouxa proferida à Missa, vale mais que uma oração fervorosa rezada
em casa.

Na Missa, Jesus renova a Sua Paixão

4 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS

Na Missa, Jesus renova a Sua Paixão

Capítulo IV

Dentre os mistérios de Jesus, nenhum há de mais útil recordação e mais digno de respeito, que a
dolorosa Paixão pela qual nos resgatou. Os Santos Padres não se cansam de a comemorar e prometem,
da parte de Deus, grande recompensa aos que Lhe prestam homenagem. Ora, se bem que os meios de
prestar homenagem à Paixão sejam numerosos, pensamos que nenhum é sequer comparável à devota
audição da Santa Missa, pois aqui a mesma Paixão se renova sobre o altar.

É certo que não nos é dado ver por nossos próprios olhos a reprodução dos sofrimentos de Cristo; mas
na Missa, tudo nos lembra estes sofrimentos, tudo os simboliza. O sinal da cruz, o mais expressivo dos
símbolos, em tudo se nos depara. Encontra-se cinco vezes gravado sobre a sagrada pedra, encontra-se
em cima do altar, está desenhado no missal na página que precede o Canon, bordada no amicto, no
manipulo, na estola, na casula, cinzelado na patena. O padre faz dezesseis vezes o sinal da cruz sobre si
próprio e trinta e nove vezes sobre a oferta. Significativa rememoração!

Posto que Nosso Senhor tenha dito na última Ceia: «Fazei isto em memoria de mim», o Sacrifício da
Missa não é uma simples memória, mas sim a memória e a renovação da Paixão ao mesmo tempo.
Ensina-o o Concílio de Trento nestes termos:

«Se alguém disser que o Sacrifício da Missa não é senão a lembrança do sacrifício consumado na Cruz,
seja anátema!»
E ainda:

«No divino Sacrifício está presente e imolado por forma incruenta o mesmo Cristo que a Si próprio Se
ofereceu uma vez com efusão de sangue»

Se outros não tivéssemos, bastariam estes testemunhos, pois que somos obrigados a crer, sem
discussão, o que a Igreja nos ensina.

Como esclarecimento acrescenta o Santo Concílio as seguintes palavras:

«Porquanto a vítima que se oferece pelo ministério do padre é a própria que um dia se ofereceu no altar
da Cruz; sô é diferente a forma por que se opera o Sacrifício»

No Calvário Jesus foi imolado às mãos de ímpios, ao passo que, no altar, Se oferece misticamente pelas
mãos do padre.

A Igreja emprega muitas vezes no missal a palavra imolar, immolare. Da mesma maneira se expressa
Santo Agostinho:

«Cristo, não foi fisicamente imolado senão uma vez, mas é sacramentalmente imolado cada dia em
benefício do povo»

Esta palavra imolar é digna de nota. Frequentemente se encontra na Escritura Sagrada para designar a
oblação dos animais. Se, pois, a Igreja a emprega a propósito da Missa, é que nos quer assim mostrar
que o Santo Sacrifício não consiste simplesmente na dicção das palavras do padre no momento da
Consagração, nem na elevação das espécies sacramentais, mas realmente numa verdadeira imolação,
ainda que mística, do divino Cordeiro.

«A Paixão de Cristo, segundo São Cipriano, é o próprio Sacrifício que oferecemos»


Que pode isto significar senão que, ao celebrar-se a Santa Missa, renovamos os fatos que ocorreram
durante a Paixão do Salvador? São Gregório afirma-o ainda mais claramente:

«O Salvador, não torna a morrer fisicamente, mas sofre ainda por nós, no Santo Sacrifício, por forma
misteriosa»

Teodoreto não é menos explícito:

«O Sacrifício que oferecemos é o mesmo que foi oferecido na Cruz»

Poderiam multiplicar-se os testemunhos; mas para abreviar, não invocaremos, por último, mais que o da
Igreja; e esse é infalível. Lemos na Secreta do IX.° domingo depois de Pentecostes:

«Concede, Senhor, que dignamente frequentemos este Sacrifício, porque todas as vezes que ele se
renova, executa-se a obra da nossa Redenção»

«Não é, com efeito, a Santa Missa, acontecimento diverso da renovação da nossa Redenção», escreve
Mansi.

Molina acrescenta:

«A Santa Missa sobrexcede por forma incomensurável todos os outros sacrifícios, porque não é uma
simples representação, mas a própria obra da nossa redenção, cheia de mistérios e realmente
consumada»

Jesus imola-Se todos os dias. Porquê?

Demonstramos que Nosso Senhor, na Santa Missa, renova verdadeiramente a Sua Paixão. Falemos agora
nos motivos que O inspiram. Excelentes considerações nos fornece a este proposito o Pe. Segneri:
«Já durante a Sua vida nesta terra, Cristo, em virtude da Sua presciência divina, via que, apesar da Sua
dolorosa Paixão milhões de pecadores se perderiam. A dó que teve da infelicidade deles foi tanto, que
pediu a Seu Pai para ficar suspenso na Cruz até ao dia do juízo final, a fim de poder, pelas Suas contínuas
lágrimas, pela efusão do Seu sangue, pelas Suas orações, pelos Seus suspiros, aplacar a justa cólera de
Deus, excitar a Sua misericórdia, conseguir enfim para essas inúmeras almas um meio de escaparem do
abismo»

São Boaventura, nas suas meditações, o bem-aventurado Ávila, nos seus sermões, o Pe. Gautier, Andriès
põem nos lábios do Salvador essa mesma oração. Mas há mais. Nosso Senhor, deu a conhecer muitas
vezes que estava pronto a sofrer, pela salvação de cada pessoa, tudo quanto sofreu pela Redenção do
mundo.

Seu eterno Pai, porém, não aquiesceu a este desejo. Respondeu que três horas eram duração já mil
vezes maior que a necessária e que as pessoas a quem não aproveitassem os merecimentos da Paixão só
a elas próprias se tinham de culpar da sua eterna perda.

Mas o amor de Jesus, longe de se extinguir ante esta recusa, nela, ao contrário, colheu novo ardor; e
com ela o Seu coração mais O solicitou a acudir aos pecadores. Na Sua eterna sabedoria encontrou o
divino Mestre um meio de ficar na terra depois da morte, de continuar a Sua Paixão e de rezar
continuamente pela nossa salvação, como o faria pregado no instrumento do suplício. Este admirável
meio, é o Santo Sacrifício.

Os Bolandistas narram que Santa Coletta ouvia todos os dias Missa com a maior devoção. Estando uma
ocasião a assistir à Missa dita pelo seu confessor, ao chegar o celebrante à Consagração ela exclamou em
voz alta:

«Ó meu Deus! Ó Jesus! Jesus! Ó vós Anjos e Santos e vós pecadores, vede e ouvi!»

Estas exclamações, que se prolongaram por alguns instantes, causaram à assistência tanta comoção,
como surpresa. Depois da Missa, o padre perguntou-lhe porque é que assim tinha chorado e gritado.
— «Vi e ouvi, — respondeu ela — coisas tão admiráveis que V. Rev.ª se lhe tivesse sido dado vê-las e
ouvi-las, talvez tivesse gritado ainda mais que eu»

— «E então, que viu»?

— «Ainda que estas maravilhas sejam tão elevadas, tão divinas, que pessoa alguma as pode exprimir, dir-
lhe-ei no entanto que a razão humana pode compreendê-las. À elevação do Santo Sacramento, vi Cristo,
como que suspenso na Cruz pelas Suas feridas sangrentas. E, nesta postura, implorava a Deus, dizendo:
— Vede, Pai, o que fui na Cruz. Vede a forma por que sofri pelo mundo. Considerai as minhas chagas, a
efusão do Meu sangue e deixai-vos comover pela minha Paixão e morte! Tudo isto padeci para salvar os
pobres pecadores! E haveis Vós de abandoná-los a Satanás? Para que me servirão, nesse caso, tantos
tormentos por que passei? Se eles se perdem, não só não poderei esperar, da sua parte, nenhuma
gratidão, mas também blasfemarão do meu Nome por toda a eternidade, ao passo que me louvarão se
se salvarem. Peço-Vos, portanto, meu Pai, que por amor de mim, tenhais piedade deles e os livreis do
inferno»

É isto também o que ensina São Lourenço Justiniano:

«Cristo, ao ser oferecido no altar, dirige-Se a Seu Pai e mostra-Lhe as Suas chagas para que se digne
salvar os homens das penas eternas»

Pede por nós todos, mas mais especialmente pelas pessoas que assistem ao Seu Sacrifício. E que efeito
salutar não têm estes pedidos de Jesus? Quantas vezes as nações e os indivíduos não teriam rolado no
abismo se Nosso Senhor não tivesse rezado por eles! Quantos milhares de pessoas, que hoje se
encontram na bem-aventurança, estariam agora no inferno, se Cristo as não tivesse protegido pelas Suas
súplicas todo-poderosas. Pecadores, vós todos que estais lendo estas linhas, ide, pois, ide com alvoroço à
Missa, a fim de participar dos efeitos desta oração divina, a fim de serdes preservados dos males
temporais e espirituais e para obterdes assim, aquilo que por vós próprios não podeis alcançar.

«Ninguém tem mais amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos» — diz o Evangelho de São João.
Como ninguém possui nada mais precioso que a vida nem coisa a que maior afeição dedique, aquele
dom é, com efeito, o cúmulo da generosidade.
Jesus Cristo, no Seu amor pelos homens, excedeu contudo esse limite, pois que, não deu a Sua vida
somente pelos Seus amigos, deu-a também pelos Seus mais cruéis inimigos. E que vida a Sua! A mais
nobre, a mais santa que jamais existiu sobre a terra.

Notemos todavia a singular expressão de que se serve o Salvador. Ele não diz: Eu dei, mas sim, «Eu dou a
minha vida pelas minhas ovelhas». Esta expressão é bem significativa e tocante: com efeito, graças à
Santa Missa, a imolação de Jesus é sempre atual, todos os dias, a todas as horas, em todas as Missas.

Em alguns países era costume, herdado de velhos tempos, reproduzir a Paixão em drama. Atava-se a
uma cruz um moço, que permanecia suspenso dela até que vesse decorrido tempo equivalente às horas
durante as quais nela pendeu o Salvador. Entretanto, as várias circunstâncias da Grande Tragédia, eram
representadas com mais ou menos correção e os assistentes comoviam-se até às lágrimas. Ora na Santa
Missa, Jesus não confia a ninguém a representação das Suas tremendas funções: morre Ele mesmo,
morre realmente e todas as vezes que é oferecido o sublime Sacrifício.

Jesus derrama o Seu Sangue na Missa

5 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS

Jesus derrama o Seu Sangue na Missa

Capítulo V

Escreve o grande Santo e grande gênio que foi Santo Agostinho:

«Na Missa o Sangue de Jesus Cristo corre pelos pecadores»

Estas palavras são tão preciosas, tão claras, que ninguém ousaria deturpar-lhes o sentido.

São João Crisóstomo não é menos claro:

«O Cordeiro de Deus imola-Se por nós. O Seu sangue, saído do lado atravessado do Salvador, espalha-se
de uma maneira mística sobre o altar e derrama-se no cálice para nos purificar»
Estas palavras do Santo Doutor podem talvez ser comentadas com estas outras de Kisseli:

«Cristo derramou uma só vez o Seu sangue de uma maneira visível e dolorosa. Esta efusão renova-se
cada dia na Santa Missa de uma maneira invisível, como se as mãos do Salvador fossem de novo feridas,
os Seus pés trespassados, o Seu coração aberto. Nós podemos aplicar-nos os Seus méritos infinitos pelos
nossos desejos ardentes, pelo arrependimento, pela penitência, pela Santa Comunhão, mas nunca mais
eficazmente que pela Missa»

E depois acrescenta:

«Pelas palavras da consagração o sacerdote haure do peito de Jesus o Sangue divino, para que ele corra
em remissão dos vossos pecados, para vossa purificação e salvação»

Poderíamos prosseguir numa imensa série de citações. Basta que mostremos apenas mais esta de Pedro
Noel:

«O sangue que corre do lado do Salvador está no cálice e está ali para ser oferecido ainda uma vez pela
remissão dos nossos pecados, conforme das próprias palavras da consagração ressalta»

«Este é o cálice do Meu Sangue, que por vós e por muitos será derramado, para remissão dos pecados»

Repete-as o celebrante, por ordem do mesmo Cristo, não como querendo contar apenas o que Jesus
disse sobre o cálice (se se tratasse apenas disso não haveria consagração) mas para produzir e afirmar o
fato de que o vinho se converte verdadeiramente no precioso sangue derramado pela redenção dos
homens.

O sacerdote não se limita a dizer: «Este é o cálice do Meu Sangue», mas acrescenta: «derramado por vós
e por muitos», isto é, por vós, que assistis à Missa, pelos ausentes que a mandam celebrar, por todos
aqueles que a ouviriam de boa vontade se pudessem, mas que estão retidos pela doença, pelo cativeiro
ou por negócios importantes. Desta maneira, segundo a vontade do Salvador, os méritos do Seu precioso
Sangue serão aplicados mesmo aos ausentes, contanto que, do lugar em que estejam, se unam ao
Sacrifício, ou ao menos, se façam recomendar nele. Que mistério! Jesus, que derramou por nós a última
gota do Seu Sangue, quer de novo derramá-lo todos os dias e todas as horas! Que enormes torrentes de
graça correm da Santa Missa, sobre aqueles que devotamente a ouvem!

«Porque — insiste Santo Ambrósio — é pelos homens e pela remissão dos seus pecados que o Salvador
espalha o Seu Sangue»

Em que consiste a efusão do Sangue na Missa?

Se é certo, por um lado, que o sangue de Jesus Cristo é vertido no Santo Sacrifício, é por outro lado
também certo, que ai é espalhado por forma espiritual sobre todos os assistentes e sobre as almas do
Purgatório. Encontramos no Antigo Testamento uma formosa imagem deste mistério. Refere-a São Paulo
na Epístola aos Hebreus nestes termos:

«Moisés tomando o sangue dos bezerros e dos bodes aspergiu todo o povo, dizendo: Este é o sangue do
testamento feito por Deus em vosso favor»

Na Ceia, Nosso Senhor pronunciou sobre o cálice palavras idênticas:

«Este é o meu sangue, o sangue do novo testamento»

«Era necessário, — acrescenta São Paulo, — que as figuras das coisas celestiais fossem purificadas com o
sangue dos animais, mas as coisas celestiais o devem ser com vítimas melhores que estas»

O que é o mesmo que se tivesse dito:

«A Sinagoga, que era apenas uma imagem da Igreja, foi purificada pelo sangue dos bodes e dos touros,
mas a Igreja é purificada pelo sangue do Cordeiro de Deus imolado»

Ora para alguém ser purificado pelo sangue ou pela água é indispensável que seja neles embebido.
Sendo, pois, as nossas almas purificadas na Santa Missa pelo sangue do Salvador, é porque este sangue
divino é espargido sobre elas.

Ma Missa Jesus é nosso Mediador

Ouçamos São João Crisóstomo:

«Ao verdes o Senhor que jaz imolado sobre o altar, o padre a rezar inclinado sobre a Vítima, e todos os
assistentes cobertos do precioso sangue, considerar-vos-eis ainda neste mundo e entre os homens?»

Repare-se na forma como se exprime o santo Doutor: o povo coberto do sangue de Jesus;
consequentemente este sangue não se limita a correr, mas é espalhado sobre nós. Marchant confirma
esta verdade:

«O precioso sangue é espalhado à Missa, e os fiéis são com ele aspergidos por forma espiritual»

São João expressa-se mais claramente ainda:

«O Salvador amou-nos e lavou-nos dos nossos pecados em Seu sangue»

Esta é também a doutrina de São Paulo:

«Chegastes a Jesus mediador do Novo Testamento e à aspersão do Seu sangue mais eloquente que a
efusão do sangue de Abel»

Se, com efeito, leitores, vos pergunto: Quando é que vamos ter com Jesus mediador? Responder-me-eis:
É quando comungamos. É certo, vamos então mesmo para junto dEle; melhor ainda: recebemo-lO no
nosso coração. Contudo, na Comunhão o que procuramos, não é tanto uma mediação como um
alimento necessário às nossas almas. Ao passo que na Missa é propriamente ao Mediador que
recorremos, pois que Jesus ai desempenha o ministério de padre, e, com este título, reza oficialmente
pelo povo.

O elemento propriamente dito da nossa aproximação do Mediador é o sangue precioso que se verte
espiritualmente no altar, e do altar se esparge sobre as nossas almas.

Na Paixão, Jesus vertera já o Seu sangue divino; mas este sangue caiu então apenas sobre os carrascos,
na terra e sobre os rochedos. Na Santa Missa, é o mesmo sangue que é vertido, mas corre sobre as
almas dos assistentes. O padre asperge o povo cristão com a água benta, como Moisés aspergia os
Judeus com o sangue das vítimas; o Salvador asperge as almas com o Seu precioso sangue na Missa.

Esta aspersão mística vale mais que a aspersão material. Os soldados e os Judeus que rodeavam Jesus
receberam os borbotões do Seu sangue nas mãos e na fronte; mas longe de serem purificados e
convertidos, não ficaram senão mais endurecidos no mal, ao passo que se Jesus tivesse aspergido as
suas almas haveriam mudado e ter-se-iam salvo. Pois é assim mesmo que, se à Santa Missa o nosso
corpo fosse materialmente regado com o sangue de Jesus, daí tiraríamos menos proveito, que da
aspersão deste mesmo sangue sobre as nossas almas, visto que esta última aspersão as purifica, as
santifica e embeleza por forma incomparável.

Ouça-se o que diz a este proposito Santa Magdalena de Pazzi:

«A alma que recebe o sangue de Jesus Cristo torna-se tão deslumbrante como se estivesse coberta com
um vestuário precioso. Tem tal esplendor, que se pudesse vê-la toma-Ia-íeis pelo Deus de que é a
imagem»

Bem-aventurada a criatura ornada com tanta magnificência! Bem- aventurados os olhos dignos de a
contemplar!

O Sangue de Jesus está deveras no Cálice Consagrado

Conta um autor eclesiástico que em 1220 havia na Diocese da Colonia, uma reclusa, que se entregava a
atos heroicos de penitência e tinha devoção especial pela Santa Missa.
Não podendo o inimigo investir esta alma com nenhuma outra tentação, sugeriu-lhe que o precioso
Sangue não estava no cálice consagrado e esta ideia foi tão subtil que a enclausurada cedeu. E tal era a
diabólica obsessão, que a infeliz não só cedeu totalmente, mas filtrou o veneno da dúvida às almas dos
que com ela vinham conversar. Deus compadeceu-Se, porém, da Sua serva e arrancou-a ao demônio, por
um manifesto milagre.

Celebrando um dia nesta Igreja, o pároco derrubou por inadvertência, o cálice consagrado. Alvoroçado
com este fato, logo se encheu de temor quando viu que o vinho consagrado tomou a cor e a aparência
do sangue. Bem pode imaginar-se a angústia com que terminou a Missa. Logo que acabou, lavou muitas
vezes o corporal com vinho quente, mas por mais que o fizesse, a mancha do sangue não desaparecia.

Durante uma semana inteira empregou todos os meios humanos, chorou amargamente a sua falta,
suplicou a Nosso Senhor que permitisse o desaparecimento da mancha sanguínea, mas debalde. No
domingo imediato, subiu ao púlpito com o corporal na mão e, depois de contar o que lhe acontecera,
mostrou ao povo o linho ensaguentado, pedindo aos fiéis estupefatos que rezassem com ele para que
Deus fosse servido de que aquela mancha desaparecesse. Rezaram todos fervorosamente e em seguida
o cura lavou novamente o corporal. Baldado trabalho. Compreendendo que este fato representava uma
extraordinária manifestação da vontade divina, o perturbado sacerdote foi a Colonia consultar um
teólogo de grande fama, chamado, o doutor Rodolpho, a quem expôs tudo minuciosamente, mostrando-
lhe em seguida o corporal.

À vista do precioso Sangue, o piedoso doutor caiu de joelhos, beijou o pano sagrado e ficou algum
tempo em meditação. Por fim exprimiu a sua opinião nestes termos:

— Evidentemente Deus quer fortificar os fracos na fé do Santíssimo Sacramento: não haverá na sua
paroquia alguém que recuse crer neste adorável mistério?

Depois de um momento de silêncio, o pároco respondeu:

—Ha, sim; uma reclusa que duvida da presença real do Precioso Sangue e leva outros a duvidar
igualmente.

— Não procuremos outra explicação — volveu o sábio teólogo. — Jesus tornou visíveis no corporal os
sinais do Seu Sangue para convencer esta mulher. Vá ter com ela e conte-lhe os fatos que se passaram,
mostre-lhe o pano ensaguentado e a sua dúvida desvanecer-se-á.

Aliviado com este conselho, o sacerdote foi visitar a reclusa, interrogando-a sobre a Presença real. Ela
respondeu francamente:

— Eu creio que o Corpo do Salvador está presente na hóstia, mas não posso admitir que o Sangue esteja
no cálice, porque Jesus não tem o Sangue fora do Corpo.

O sacerdote explicou-lhe que o Sangue de Jesus estava no cálice em virtude das palavras da consagração;
mas não podendo este Sangue subsistir fora do Corpo, o Corpo lhe estava unido. Assim ensina a Igreja. A
infeliz obstinava-se no seu erro. Sem saber a que outros argumentos recorrer, o sacerdote mostrou-lhe o
corporal ensanguentado e contou-lhe os fatos, como haviam passado.

Ouvindo a narrativa do milagre, a reclusa cai de joelhos e pede humildemente perdão da sua teimosia e
profissão pública de sua fé:

— Eu creio firmemente que no cálice está o Sangue natural e verdadeiro que o Salvador por nós
derramou na Cruz e nesta crença desejo morrer e viver.

O sacerdote lavou então o corporal e o Sangue desapareceu completamente.

O Sangue de Jesus está deveras na Hóstia Consagrada

O Pe. Pedro de Lavegnas, da ordem de São Jerônimo, tinha uma dúvida oposta, que por muito tempo o
afligiu cruelmente. Perguntava ele a si próprio como seria possível que o precioso Sangue estivesse na
Sagrada Hóstia.

Um dia, celebrando Missa, ao chegar às palavras Supplices te rogamus: nós vos rogamos, ó Deus
omnipotente, mandai que estes dons sejam colocados pela mão do Anjo Santo no Vosso altar sublime,
na presença da Vossa divina majestade, etc., e quando, segundo a rubrica do missal, se inclinava
profundamente, pareceu-lhe que uma espessa nuvem coloriu o altar e lhe ocultou a Hóstia e o cálice.
Ficou muito assustado, sem compreender o que aquilo significava, nem como acabaria. Depois de um
momento a nuvem dissipou-se e viu com espanto, que a Hóstia e o cálice haviam desaparecido. Cheio de
perturbação começou a pensar que Deus não o achava digno de celebrar os Divinos Mistérios, e, com
lágrimas, entrou a pedir a Deus que lhe perdoasse os pecados e afastasse de si tão terrível punição. Por
fim o cálice reapareceu sobre o altar com o precioso sangue. Mas, — coisa maravilhosa! — por cima do
cálice pairava a Hóstia. As lágrimas continuavam a correr, mas agora eram de alegria. Mas enquanto
considerava piedosamente a Eucaristia, que por Si mesma Se sustinha no espaço, notou que da Hóstia
corriam tantas gotas de vinho que havia no cálice.

Este milagre fez-lhe ver a verdade: as dúvidas dissiparam-se e acreditou firmemente e para sempre na
presença do precioso Sangue sob as espécies do pão eucarístico.

Estes dois fatos mostram como a Humanidade do Salvador está contida inteira e simultaneamente sob
cada espécie, ainda que, em virtude das palavras de consagração, só o Corpo esteja diretamente na
Hóstia e o Sangue diretamente no cálice.

Porque, onde está o Sangue de Jesus Cristo, agora, lá estão Alma e Corpo e Divindade de Jesus. Onde
agora está o Corpo, lá estão o Sangue, a Alma e a Divindade como dizem os teólogos, «por
concomitância».

Ide, pois, à Missa, leitores queridos, adquirireis também, sob as golfadas do precioso sangue, uma beleza
que vos tornará dignos de comparecer perante os Anjos e os Santos, por toda a eternidade de gloria!

Jesus morre na Missa

6 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS

Jesus morre na Missa

Capítulo VI

As palavras de Nosso Senhor a Santa Mechtilde far-nos-ão compreender bem o mistério da Missa e as
graças que encerra.

«Olha, disse-lhe o Senhor, dou-te todas as amarguras da minha Paixão para que as consideres um valor
teu próprio e as ofereças a meu Pai»
E para nos fazer saber que esta aplicação tem lugar especialmente na Santa Missa, Nosso Senhor
acrescentou:

«Aquele que oferecer a minha Paixão, que Eu lhe doei, será duas vezes recompensado e isso acontecerá
tantas vezes quantas a oferecer. Sucederá como Eu disse no Evangelho: Receberá o cêntuplo e possuirá a
vida eterna»

Que felicidade é, pois, receber das mãos do Salvador um tão grande fruto, fruto que podemos ainda
aumentar tão facilmente! O homem dirige-se a Deus e diz-Lhe:

“Senhor meu Jesus Cristo, eu Vos ofereço a Vossa dolorosa Paixão; ó meu Jesus, eu Vos ofereço o Vosso
preciosíssimo Sangue”

E Jesus responde-lhe:

“Pois Eu, filho, é duas vezes esse valor que te dou”

E note-se que, tantas vezes quantas oferecemos algum dos Seus sofrimentos, somos tratados com a
mesma liberalidade. Que generosíssima paga! Que meio tão fácil de nos enriquecermos! Aqui não há
exagero mas sim a pura verdade!

É este um dos motivos por que se renova misticamente a Paixão; mas ainda há um outro. Ao Sacrifício da
Cruz não assistiram todos os fiéis. Haviam então, os que não receberam essa graça, de ser menos
favorecidos que os outros? Não; o Salvador quis que colhessem à Missa os mesmos frutos que teriam
colhido no Calvário se lá tivessem estado, apenas com a condição de a ela assistirem devotamente. É isto
que significam as seguintes palavras de Belei:

«Repare-se como é precioso o nosso Sacramento. Não é uma simples recordação do Sacrifício da Cruz,
mas sim é o próprio Sacrifício, de que produz todos os efeitos»
O Pe. Molina confirma esta formosa forma de dizer quando escreve que:

«De harmonia com a instituição feita por Jesus Cristo, a Igreja oferecerá sempre o mesmo Sacrifício que
foi oferecido na Cruz, e com a mesma realidade, se bem que sob uma forma incruenta. Logo a Missa é
uma fonte inesgotável de graças»

À Missa é deveras a morte de Jesus à qual cada um assiste

«O Filho de Deus — diz o sábio Mansi — ofereceu-Se no altar da cruz, como vítima cruenta; ora na Santa
Missa oferece-Se de novo: daqui resulta que a celebração de uma Missa não tem menos valor que a
morte do nosso Salvador»

O cardeal Hosius escreve:

«Ainda que na Missa não imolemos fisicamente Cristo, segunda vez, nem por isso deixam de nos ser
aplicados os merecimentos da Sua morte, como se ela fosse atual, e acrescenta que esta morte, ainda
que mística, produz os mesmos efeitos que a morte cruenta»

Depois destas expressivas palavras o cardeal insiste ainda, dizendo:

«Sim, a morte de Cristo e os frutos desta morte são-nos aplicados como se Jesus morresse fisicamente»

O Pe. Segneri acrescenta:

«O Sacrifício da Cruz foi a absolvição geral de todos os pecados; o Sacrifício do altar é o meio particular
de aplicar a cada qual a virtude do sangue divino. Se por um lado a morte e os sofrimentos do Salvador
são os elementos do tesouro, é na Missa que este se abre e distribui. Poderá haver melhor convite para
aqueles que são falhos de merecimentos?
Reparem bem, no que é dizer e ouvir Missa. É muito simplesmente fazer com que Jesus Cristo, morto já
uma vez por todos os homens em geral, morra de novo por mim, por ti, por quem quer que assiste ao
Santo Sacrifício, tal qual como se desse a vida por cada pessoa»

Reflitamos agora na grandeza da graça que nos é concedida quando temos em frente de nós, sobre o
altar, o sangue de Jesus. Nada há que se compare a este sangue precioso: uma só gotinha, unida à
Divindade, excede o valor de todos os tesouros da terra e do Céu. Digamos mais: o sangue de Jesus
Cristo não está apenas presente, é propriedade nossa, pertence-nos, como uma dádiva pertence àquele
que a recebeu.

Na maneira como instituiu a Eucaristia, Jesus Cristo deixou-nos testemunho bem claro de que a Sua
morte se renova no altar.

Quando, na última Ceia, instituiu este Sacramento, não o fez nem uma só vez, nem sob uma só espécie,
mas sim sob duas espécies e de duas vezes. Consagrando o pão, poderia ter dito: — «Este é o meu corpo
e o meu sangue»; e o pão ficaria sendo verdadeiramente o Seu Corpo e o Seu Sangue. Mas esta
consagração, sob uma só espécie, não teria sido representação bastante fiel da Sua morte. Por isso quis
Ele consagrar primeiro somente o pão convertendo-o no Seu Corpo sagrado e em seguida o vinho
convertendo-o no Seu Sangue precioso, para nos deixar uma bem expressiva representação do Seu
sacrifício. Por isso revelou à Sua Igreja que tal deve ser o rito da Consagração, para que a separação da
carne e do sangue desse uma ideia mais exata da morte.

«Nosso Senhor quis cumprir o Seu sacrifício sangrento — escreve Lancicio — morrendo sobre a cruz, de
morte natural; assim também a Sua Morte, no Santo Sacrifício é representada pela separação do Seu
Sangue e do Seu Corpo. Porque só o Corpo está presente sob as aparências do pão, em virtude das
palavras sacramentais, e só o Sangue sob as aparência do vinho. Como não reconhecer aqui o caráter de
uma verdadeira Imolação?»

Todos os doutores da Igreja explicam da mesma maneira esta doutrina dos Sagrados Mistérios. Para mais
completa compreensão acrescentaremos ainda outra breve explicação.

Quando o sacerdote consagra, Jesus, tornando-Se realmente presente no altar, recebe uma nova vida.
Antes das palavras da Consagração, Jesus não Se encontrava sobre o altar, ao passo que depois Se
encontra ali realmente. Esta vida de Jesus na Hóstia, que, para a Corte Celeste, é origem de inefável
alegria, que alcança para as almas do purgatório tantas consolações e é para nós preciosíssima, porque
sob aqueles véus misteriosos o Salvador ora e suplica em nosso favor, e desarma o braço da Justiça
divina — esta vida aspira Jesus naturalmente a conservá-la; mas por outro lado, desejoso de nos
testemunhar o Seu amor pela Sua morte, depois de ter vivido por nós, morre por nós à face dos anjos e
dos homens.

Que é, com efeito a comunhão do celebrante, senão a destruição da vida que a Vítima Divina havia
recebido na Consagração? Por isso, para que a Missa seja uma verdadeira imolação, o sacerdote é
obrigado não só a consagrar, mas a comungar.

Nenhuma língua humana poderia dizer quanto esta morte de Jesus comove a Deus Todo-Poderoso.
Quando morre sobre o altar, Jesus testemunha ao Pai a MESMA obediência que manifestou no Calvário e
por nós o MESMO amor.

Jesus foi, sem dúvida, perfeitamente submisso em tudo ao Eterno Pai, mas nenhum ato de obediência
Lhe custou mais, nem tanto, como ter de abandonar a Sua vida puríssima no Calvário.

«Cristo humilhou-Se e fez-Se obediente até à morte, e morte de cruz: — E para que nós compreendamos
bem quanto esta obediência foi agradável a Deus, o Apóstolo acrescenta: — Por isso O elevou Deus e
Lhe deu um nome acima de todo o nome»

Ora, — acabamos de o dizer — a obediência de Jesus sobre o altar é a mesma que sobre a cruz. Ele
oferece-a ao Pai com as Suas virtudes heroicas, com a Sua perfeita inocência, com a Sua incansável
paciência, com o Seu ardente amor a Deus e aos homens, mesmo aos Seus inimigos, mesmo aos que O
crucificaram e aos mais ingratos pecadores.

Jesus apresenta assim ao Pai as amargas dores em que acabou a Sua vida santíssima, a Sua espantosa
agonia, as angústias que O invadiram, os Seus ossos quebrados, o golpe da lança que atravessou o Seu
Sagrado Coração. Tudo isto Ele expõe ante os olhos de Deus e faz renascer no coração do Eterno Pai a
comoção infinita que sentiu quando, há perto de 2.000 anos, viu o seu Filho imolar-Se para Sua maior
glória e nossa salvação. O mesmo Jesus que então desarmou o braço do Altíssimo, atraiu a Sua
misericórdia sobre os pecadores e reconciliou o Céu com a terra, recomeça e renova em cada Missa este
tocante e sublime ministério.

Adolfo de Deifern

«Havia no nosso convento — refere um grave autor eclesiástico — um monge muito devoto da Santa
Missa. Um dia, por ocasião do Natal, rezava ele Missa, derramando lágrimas de compunção e veneração;
ao chegar ao momento da consagração viu entre as suas mãos, em vez da Hóstia, um Menino de
incomparável beleza, que os próprios Anjos não se cansariam de contemplar. Tomou-o nos braços,
beijou-o e sentiu a alma cheia da mais pura e inefável consolação. Ao cabo de certo tempo, o
maravilhoso Menino desapareceu e o sacerdote terminou a Missa com extraordinário fervor. Pouco
depois o frade caiu doente e na hora solene da morte contou ao seu superior as visões com que o Céu o
favorecera. O superior referiu os mesmos fatos a um sacerdote Adolfo de Deifern, encarecendo a virtude
e méritos do seu religioso. Ao ouvir a prodigiosa narrativa, o sacerdote exclamou:

— Por que manifesta Deus estas coisas a Santos já confirmados na fé? Estes favores devia reservá-los
para pecadores como eu, a quem tantas vezes se oferecem dúvidas no que à Presença Real se refere.

Algum tempo depois, o padre, que tão inconsideradamente falara, estava rezando Missa, quando, ao
partir a sagrada Hóstia, viu, em logar dela, um Menino de incomparável beleza, que lhe sorria
afetuosamente. Assustado a princípio, readquiriu dentro de pouco a presença de espírito e sentiu uma
imensa consolação e ternura invadir-lhe a alma. Depois quis saber o que havia do outro lado da Hóstia e
voltando-a viu o Salvador na cruz, com a fronte ensanguentada, a cabeça pendida e os olhos velados
como se estivesse prestes a expirar. O sacerdote sentiu uma tal comoção, que esteve para cair
desfalecido e a compaixão arrancou-lhe abundantes e amargas lágrimas.

Os fiéis olhavam-no surpreendidos, vivamente comovidos do estado do seu pastor e não compreendiam
nada do que se estava passando. Emfim, a figura de Jesus agonizante desapareceu, a Hóstia retomou o
seu aspecto ordinário e o celebrante concluiu o Santo Sacrifício. No fim os assistentes pediram-lhe que
explicasse o que acontecera. Subindo ao púlpito, o Padre Adolfo de Deifern, pretendeu referir as
aparições com que Deus o favorecera. Mas a sua comoção era tal, que os suspiros e as lágrimas mal lhe
permitiram articular uma só palavra. Vencido pela comoção desceu do púlpito e pouco tempo depois
retirou-se à cela de um convento para meditar na Paixão de Jesus e chorar os seus pecados. Durante o
resto da sua vida, manteve sempre tão gravada na sua alma a lembrança desta graça que não só expiou
as suas faltas, mas se tornou para todos modelo de piedade e virtude»
Este exemplo mostramos bem com que eficacia Jesus coloca a Sua morte cruel sob os olhos do Eterno
Pai e de toda a Corte Celeste, não para os entristecer, o que seria impossível, mas para Lhe representar o
grande amor que O levou a sofrer pela salvação do mundo.

Ah! Se nos fosse concedido o favor outorgado a Adolfo de Deifern, se como a Ele nos fosse dado
contemplar Jesus na Hóstia, com que devoção não assistiríamos à Missa? Mas, se bem que não O
vejamos com os olhos do corpo, os da alma, sobrenaturalmente iluminados pela fé, contemplam-nO e a
nossa certeza não é menor. Mais: nós prestamos assim a Deus homenagem maior e merecemos, por
praticarmos a virtude da fé, uma recompensa maior.

O Jovem Maometano

Amerumnés, chefe dos sarracenos, enviara o filho de seu irmão a Ampelon, na Síria, em serviço do califa.
Na localidade onde se estabeleceu o jovem turco, havia uma Igreja dedicada a São Jorge. Quando o infiel
viu o templo cristão, disse aos que o rodeavam:

— Levai lá os meus camelos e dai-lhes de comer sobre o altar

Os sérvios preparam-se para obedecer; porém os sacerdotes disseram-lhe:

— Tomai cuidado, senhor, esta casa está consagrada a Deus e a ninguém é lícito profaná-la.

Sem se importar, o sarraceno mandou que introduzissem na Igreja os animais. Mas eles, mal haviam
transposto os umbrais sagrados, quando caíram no chão, fulminados pela morte. Espavorido, o árabe
ordenou que os retirassem dali.

Era dia de festa e o templo estava repleto de fiéis, que tinham vindo para assistir à Missa.

O sacerdote começou o Santo Sacrifício, não sem inquietação, temendo que o príncipe idólatra
cometesse alguma profanação. Este, encostado a uma coluna, esperava para ver as cerimônias do culto
cristão e quando, segundo o rito grego, o oficiante, com uma faca dividiu em quatro partes o pão
consagrado, viu uma criancinha, em pedaços sobre a patena e cujo sangue enchia o cálice. Tomou-se de
tal indignação o infiel, que teria morto o sacerdote imediatamente, se a curiosidade de saber o que ia
seguir-se, o não houvesse retido. À Comunhão viu o celebrante comer uma parte das carnes do Menino
e beber o Seu sangue no cálice. Viu também que todos os que se aproximavam do altar participavam das
carnes do Menino.

— Os cristãos são bárbaros. No seu culto, imolam uma criança, e, como animais ferozes, devoram a sua
carne palpitante. Mas por minha própria mãe eu vingarei o assassino deste inocente, punindo com a
morte estes ferozes antropófagos — pensava o príncipe.

Depois da Missa, o sacerdote benzeu o pão e, distribuindo-o aos fiéis, deu um pedaço ao sarraceno.
Este, horrorizado, exclamou em árabe:

— Que é isto ?

— É o pão sagrado — respondeu o sacerdote.

— Não — volveu o mouro — o que tu sacrificaste não é pão, malvado sem alma, bárbaro assassino! Não
te vi eu, com os meus próprios olhos, imolar uma criança? Não vi o seu sangue numa taça e o seu corpo
partido em quatro pedaços posto sobre um prato? Terás a coragem de negar isto, ímpio imundo,
abominável homicida? Não te vi eu comer a carne desta criança, beber-lhe o sangue e repartir com os
outros?

Surpreendido desta veemente objurgatória e compreendendo que as palavras do sarraceno, tão


evidentemente sinceras, eram nascidas de algum extraordinário prodígio, replicou:

— Eu não sou mais que um pecador indigno de contemplar tais mistérios e se vós os vistes, é que sois
grande diante de Deus.

— Não é então isso o que eu vi ? — interrogou o árabe.

— É, por certo — respondeu o sacerdote; — eu, porém, nada vi, porque sou mísero pecador; não vejo
mais que o pão e o vinho, que nós, consagrando-os, convertemos no Corpo e Sangue do Salvador.

Assombrado por estes mistérios sublimes, para ele de todo novos, mas explicados pelo que tinha visto, o
príncipe mandou a todos os seus companheiros que saíssem do templo e sob uma intensa comoção,
tomando a mão do sacerdote, exclamou:

— Eu reconheço agora que a religião cristã é grande, pois com os meus próprios olhos vi este sublime
mistério; instrui-me e batizai-me porque quero ser cristão.

O sacerdote, prudente ante uma conversão tão súbita, escusou-se:

— Perdoai-me, senhor, mas não posso fazê-lo. Se vosso tio viesse a ter conhecimento disso, havia de
matar-nos todos e destruir esta Igreja. Mas se deveras desejais ser batizado, ide ao monte Sinai e contai
ao bispo o que vos aconteceu. E quando estiverdes deveras instruído na fé, ele vos dará por certo o
batismo.

Desta maneira, o príncipe, se o seu desejo fosse resultado de efêmera comoção, tinha tempo de refletir
e esquecê-la ou então confirmar-se nela.

Retirou-se o árabe, mas à noite voltou a procurar o sacerdote, despiu os hábitos suntuosos, envergou as
vestes de penitente e fugiu secretamente para o monte Sinai.

Aí, contou ao prelado os motivos da sua conversão, pediu algum tempo para madura reflexão e enfim foi
instruído e batizado e fez-se monge sob o nome de Pacômio.

Depois de três anos de preparação voltou da côrte de seu tio, na esperança de o converter. O potentado
sarraceno recebeu-o irado, procurou demovê-lo, empregou todos os meios para o trazer de novo à fé de
Maomé, empregando até tormentos atrozes para lhe fazer renegar a sua crença e finalmente mandou-o
lapidar. Pacômio morreu assim mártir da sua nova religião.

Esta história perfeitamente autenticada, serve para nos mostrar como Jesus é realmente imolado no
altar. Devemos notar, contudo, que a divisão do Menino em quatro não é fato que suceda na Missa, mas
apenas visão miraculosa, destinada a levar o infiel a procurar e reconhecer a verdade.

É Jesus que oferece a Missa


7 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS

É Jesus que oferece a Missa

Capítulo VII

A dignidade do Santo Sacrifício resulta claramente das cerimônias, das orações, dos paramentos, das
menores circunstâncias da sua celebração. Todavia nada demonstra com tanta evidência a suprema
excelência e eficácia deste grande Sacrifício, como a pessoa do Sacrificador. O padre? O bispo? O Papa?
Um Anjo? Maria Santíssima, a Rainha dos Anjos? Não, não. O Sacrificador, no tremendo sacrifício do
Altar, é o Sacerdote dos sacerdotes, o Bispo dos bispos, o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo, a Quem o
Eterno Pai fez Sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque.

Não é só a Vítima é também o Sacerdote.

Sim! É Ele que dá à Missa o seu valor incomparável. É Ele que eleva o Sacrifício cristão à categoria de
obra divina.

«Os sacerdotes — diz São João Crisóstomo — são servos, mas servos admitidos a fazer o que os próprios
anjos do Céu não podem fazer»

Por isso a seráfica Santa Catarina de Sena dizia que desejava beijar os passos dos sacerdotes e Santa
Tereza de Jesus declarava que, se visse um sacerdote e um anjo, saudaria primeiro o sacerdote e depois
o anjo.

«Mas quem santifica e transubstancia a oferenda — continua São João Crisóstomo — é Jesus Cristo. Na
última Ceia, Ele consagrou o pão e o vinho e continuou agora a operar o mesmo milagre. Por isso, ó
cristão, quando vês o sacerdote consagrar, recorda-te que é a mão invisível de Deus e não a dele que
consuma o Sacrifício»

São bem claras e positivas estas palavras do Santo Doutor. Elas nos afirmam categoricamente que é Jesus
Cristo que cumpre pessoalmente as partes essenciais do Santo Sacrifício, que desce do Céu para mudar o
pão e o vinho no seu Corpo e no Seu Sangue, que a Si próprio Se oferece a Deus pela salvação do
mundo, e, como fiel mediador, intercede pela redenção do povo, servindo-Se da voz, das mãos e da
pessoa dos sacerdotes para consumar o divino Sacrifício.
As palavras da consagração são estupendas:

«Este é o meu Corpo. Este é o Cálice do meu Sangue»

O sacerdote é sem dúvida elevado a uma sublime dignidade. A ele podemos aplicar as palavras que o
Arcanjo São Gabriel dirigiu à própria Mãe de Deus:

«O Espirito Santo virá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra»

Tremendo poder este, que não só vem sobre ele uma vez, mas habita nele perpetuamente em todos os
minutos da sua vida! Já seria muito se o Sacerdote pudesse fazer a consagração com uma simples
oração, por exemplo:

«Transformai, Senhor, eu vo-lo peço, este pão no Vosso Corpo adorável; este vinho no Vosso Sangue
preciosíssimo»

Ele vai muito mais longe, quando diz estas terminantes e definitivas palavras:

«Este é o meu Corpo; este é o meu Sangue»

Apesar de tudo, porém, o sacerdote é apenas um intermediário, um instrumento; o verdadeiro


Sacrificador, em cada Missa, é o próprio Filho de Deus.

Ao testemunho do grande Doutor São João Crisóstomo, juntaremos o da própria Igreja. Eis o que define
o Concílio de Trento:

«Como no divino Sacrifício consumado na Santa Missa o próprio Cristo, que Se ofereceu a Si mesmo uma
vez e de uma maneira cruenta sobre a cruz, é presente e imolado de uma maneira incruenta, o santo
Concílio ensina que o Sacrifício é verdadeiramente propiciatório, porque o Senhor concede a graça, o
dom da penitência, o perdão dos pecados e dos crimes, por grandes que sejam, apaziguado por este
Sacrifício em que é imolada a mesma Vítima, que foi imolada sobre o Calvário e em que Se oferece, pelo
ministério dos sacerdotes aquele mesmo que se ofereceu um dia sobre a Cruz»

É, pois, bem claro e formal que, segundo a Igreja, mestra da verdade, nos ensina: os sacerdotes não são
mais que servos e intermediários de Cristo e que Nosso Senhor Se oferece a Si mesmo sobre o altar, tão
real e eficazmente como Se ofereceu sobre a árvore sangrenta da Cruz.

Esta graça de incalculável valor, este ato supremo pelo qual Jesus Se constitui nosso mediador e
sacerdote são bem explicitamente afirmados por São Paulo:

«Convinha —diz o Apostolo das Gentes—que tivéssemos um Pontífice santo, inocente, imaculado,
separado dos pecadores e mais elevado que os Céus. A lei não estabelecia sacerdotes senão a homens
enfermos, mas a palavra de Deus, confirmada pelo juramento, estabeleceu Pontífice para sempre o Seu
Filho que é perfeito»

Mostra-nos o grande Apóstolo por estas consoladoras palavras, quanto Deus nos estima, pois nos deu
como mediador e sacerdote, não um homem frágil e pecador, mas o Seu próprio Filho Unigênito.

Jesus não confiou este sublime Sacrifício a mãos humanas, porque ele devia ser de uma pureza absoluta,
como diz o profeta Malaquias:

«Em todo o lugar se sacrifica e se oferece ao meu Nome, uma oblação pura»

Por isso a Igreja proclama ainda no Concílio de Trento, que o Santo Sacrifício «não pode ser manchado
por nenhuma indignidade, nem nenhuma malícia dos que o oferecem».

Ora se os sacerdotes fossem os verdadeiros sacrificadores, a Missa teria sido muitas vezes profanada;
pois infelizmente tem havido maus sacerdotes e o nosso espírito poderia conceber dúvidas cruéis sobre
o modo como Deus receberia um sacrifício oferecido por mãos impuras. Por isso quis Deus que o Seu
próprio Filho fosse o Sacerdote, o Sacrificador deste grande Sacrifício:

«Tu és Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque»

Desta maneira nós podemos ter a segura e consoladora certeza de oferecermos a Deus em cada Missa
um grande e sublime Sacrifício, de pureza infinita, de infinita eficácia. A indignidade do padre em nada
diminui o valor deste grande Sacrifício.

Mas porque não fez Nosso Senhor ministros deste Sacrifício augusto aos Anjos, aos Santos, à Sua
Santíssima Mãe, seres puríssimos e cheios de graças, que sem dúvida se desempenhariam do seu
ministério sublime com muito mais perfeição que o homem fraco e propenso à queda? Imaginemos a
devoção e a perfeição de uma Missa celebrada por São Pedro, por São Paulo ou por algum abrasado
Querubim ou Serafim! Imaginemos que a Santíssima Virgem em pessoa vinha oferecer o Seu divino Filho
sobre o altar! Nossa Senhora disse um dia a Santa Mathilde:

«Eu ofereci o meu Filho, no dia da Purificação com tanta piedade e tanto reconhecimento, que a
devoção de todos os Santos não igualaria a minha»

Ora se Maria tinha estes sentimentos quando ainda era mortal, que seria agora, que se acha integrada
na glória e perfeição de Deus.

Todavia esta oblação inefável ficaria ainda muito abaixo da santidade infinita de Deus. A única oferenda
digna de Deus deve ser proporcionada à Majestade soberana. Por isso este ministério formidável e
augustíssimo não foi confiado à Santíssima Virgem, nem a nenhum Anjo, nem a nenhum Santo, mas sim
a Jesus Cristo, único sacerdote verdadeiramente digno dele.

A Missa tem, pois, um infinito valor e é oferecida visivelmente com uma devoção e uma reverência que
excedem o entendimento dos Anjos e dos homens. É o que Nosso Senhor revelou à Sua grande serva
Santa Mathilde, por estas palavras:
«Só eu é que compreendo perfeitamente como Me imolo todos os dias sobre o altar para salvação dos
fiéis, o que nem os Querubins nem nenhuma outra potência celeste podem compreender»

Vemos, pois, quanto é necessário e eficaz para a nossa alma ouvir devotamente o Santo Sacrifício. Ali
Nosso Senhor oferece-Se a Si mesmo por nós, fazendo-Se mediador entre a nossa fraqueza e a Justiça
divina e sustendo os castigos que os nossos pecados constantemente provocam. Esta verdade bem
compreendida aumentará a nossa devoção e nunca mais perderemos oportunidade nenhuma de assistir
ao Sacrifício do altar.

A missa de Einsiedeln

A famosa abadia beneditina de Einsiedeln, situada num vale pitoresco da pitoresca Suíssa, foi, no
princípio da sua existência, testemunha de um espantoso milagre.

Havia oitenta anos que São Meinrado tinha morrido. Um piedoso eremita, que perpetuava no ermo as
virtudes de Meinrado, e se chamava Eberhad, de família principesca, foi pedir a Conrado, bispo de
Constância, que consagrasse a capela do Santo. Ora aconteceu que na noite que devia proceder à
consagração quis Conrado ir à Igreja rezar. Mas ao aproximar-se do sagrado edifício, repara,
surpreendido, que das janelas sai um feixe de raios de viva luz. Abeirou-se ainda mais, profundamente
admirado, e ouviu coros de uma melodia celeste, que cantavam as antifonas da consagração. Entrando,
viu um grande número de Anjos, em vestes resplandecentes, cercando Nosso Senhor, que, paramentado
das vestes pontificais, desempenhava as funções de oficiante. O assombro imobilizou o bispo, mas não
impediu que visse tudo atentamente. Jesus empregava as palavras e os ritos prescritos pelo ritual, nestas
circunstâncias. Os quatro evangelistas, assistiam-Lhe constantemente tirando-Lhe e pondo-Lhe a mitra.
Os anjos colocados em circulo, em volta do altar, incensavam com turíbulos de ouro. Junto do Salvador
estava São Pedro, com a Cruz. Ao seu lado, via-se São Jorge, com o hissope. Santo Agostinho e Santo
Ambrósio, serviam de prelados assistentes. Santo Estevão tinha a ambula, com o santo crisma; São
Lourenço a dos santos óleos. São Miguel desempenhava as funções de mestre de capela e os Anjos
cantavam os versículos, os responsos e os Salmos. A Mãe de Deus, a quem era dedicado o altar e a
capela, aparecia mais brilhante, que o Sol e mais resplandecente que o relâmpago.

Terminada a consagração, Nosso Senhor tomou uma casula, subiu ao altar e começou a Missa solene.
Santo Estevão cantou a Epístola, São Lourenço o Evangelho e os Anjos faziam ouvir cânticos suavíssimos.
Ao chegar ao Sanctus, cantaram este hino:
«Santo, santo é o Senhor. Deus santo, tende piedade de nós nesta Igreja consagrada à Virgem. O Céu e a
terra são cheios do Vosso esplendor. Hosana! Glorificado seja o Filho de Maria, cujo reino é eterno e que
veio em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos Céus! Cordeiro de Deus, que tomais sobre Vós os
pecados do mundo, tende piedade dos vivos, que crêem em Vós! Cordeiro de Deus, que tomais sobre
Vós os pecados do mundo, tende piedade dos mortos e dai-lhes o repouso! Cordeiro de Deus, que lavais
os pecados do mundo, concedei, no Vosso reino bem-aventurado, a paz aos vivos e aos mortos»

Ao Dominus vobiscum, respondiam:

«Que está sentado acima dos Querubins e mergulha o seu olhar no abismo»

Terminada a Missa, a côrte celeste desapareceu, ficando São Conrado só, na Igreja imersa na penumbra,
cheio de reconhecimento e consolação. Sobre a cinza que cobria o solo da capela consagrada descobriu
os vestígios dos pés de Nosso Senhor e viu na parede os sinais das unções. Na manhã seguinte, foram
dizer-lhe para proceder à consagração da capela.

«Não posso fazê-lo — respondeu o Santo — porque já o Céu o fez»

Apesar das suas afirmações, quiseram obriga-lo à cerimônia. Então ouviu-se uma voz do Céu, percebida
por todos, dizer:

«Detém-te, meu irmão. O mesmo Deus consagrou esta capela»

Os assistentes, maravilhados, prostraram-se por terra e São Conrado fez de tudo um relato fiel, que
enviou a Roma.

Por que se humilha Jesus na Missa?

8 AGOSTO, 2019 / GABRIEL / 0 COMMENTS

Por que se humilha Jesus na Missa?

Capítulo VIII
O Rei de Nínive

Os habitantes da cidade de Nínive como num capitulo anterior referimos e agora repetimos,
perverteram-se a tal ponto que Deus, irado, resolveu destruir a ímpia capital. Todavia, porque a Sua
misericórdia é imensa, quis avisar os pecadores, do castigo que sobre eles estava iminente. E pelas ruas e
praças da grande cidade a voz do profeta Jonas pregou os castigos que Deus faria cair sobre os ninivitas.
Chegou a nova terrível aos ouvidos do rei de Nínive, que, levantando-se do trono, rasgou as suas vestes
em sinal de dor e se cobriu de cinzas. Depois ordenou que todos os seus súditos fizessem a mais dura
penitência, para aplacar a Justiça Divina.

«Quem sabe — dizia o rei — se o Senhor nos perdoará e Se aplacará de forma que não pereçamos?»

E Deus viu a sua penitência — diz a Sagrada Escritura — e compadeceu-Se deles, retirando o castigo
terrível que estava para lhes vibrar.

Este exemplo mostra-nos quanto pode a humildade e a penitência junto de Deus. Por elas perdoou Deus
à cidade pecadora e foi talvez por elas que Deus não converteu a opulenta Nínive num novo Mar Morto.

Ora se tão eficaz e aceita é junto de Deus a imperfeita humilhação dos homens, quanto não conseguirá
por nós a humilhação infinita e perfeitíssima do Filho de Deus? Se a penitência de um rei pagão
desarmou o braço de Deus, o que não conseguirá a satisfação oferecida pela Vítima puríssima sobre os
nossos altares? Os nossos pecados irritaram justamente o Deus omnipotente, mas quando a Sua Justiça
vai fulminar-nos, encontra diante de Si o próprio Filho do Eterno a interceder por nós e o braço pronto a
ferir, cai desarmado.

O Rei Acabe

O ímpio rei Acabe começou o seu governo em Israel pelos maiores pecados. Instituiu oficialmente o
culto pagão de Baal e impeliu o seu povo para a idolatria. Transviado dos caminhos de Deus, não houve
crimes que o fizessem recuar e diz a Sagrada Escritura, que tantos foram os seus pecados, que irritou a
Deus mais do que todos os seus predecessores. Não só desprezava os avisos que Deus lhe enviava pelo
Seu profeta Elias, mas tentou mesmo matar o mensageiro do Altíssimo. Nabot, um seu vizinho, possuía
uma vinha, que pegava com o palácio real. Desejou-a Acabe; e como Nabot não quisesse alienar a
herança, que recebera de seus pais, mandou-o matar e confiscou-lhe a cobiçada vinha.
No momento, porém, em que Acabe ia apossar-se iniquamente da propriedade alheia, apareceu o
profeta Elias, que, por ordem de Deus, o increpou com indignação e lhe anunciou que, em castigo de
tantos crimes, ele, sua mulher e seus filhos morreriam de morte violenta e nenhum deles seria
sepultado, mas que os corvos e os cães devorariam os seus cadáveres.

Ao receber a terrível predição, Acabe rasgou as suas vestes, impôs-se um cilício e retirou-se amargurado,
curvando a fronte.

— Não viste como Acabe se humilhou diante de Mim? — disse Deus a Elias.

— Vi, Senhor — respondeu o profeta.

— Pois porque ele se humilhou diante de Mim, estes males não acontecerão durante a sua vida, mas no
reinado do seu filho é que eu farei cair a Minha justiça sobre a sua casa.

Este segundo exemplo relatado pela Sagrada Escritura explica-nos porque é que Jesus Se humilha a tal
ponto no adorável sacramento da Eucaristia. É para desarmar a cólera divina, tão justamente prestes a
fulminar os nossos contínuos pecados.

Se este rei, de uma impiedade que excedia todos os crimes dos seus antepassados, conseguiu afastar de
sobre a sua cabeça a Justiça divina, humilhando-se, o que não conseguirá em nosso favor a humilhação
sem igual do Filho de Deus? O estado a que a Vítima inocentíssima Se reduz, por amor dos pecadores,
não é mil vezes mais tocante que a humilhação do perverso Acabe? Acabe vestiu um cilicio: Jesus reduz-
Se às parecências de um pouco de pão, é menos que um ser vivo. Acabe curvou a fronte: Jesus jaz
aniquilado sobre o altar, e envia ao Eterno Pai constantes súplicas para que nos poupe. Em face de um tal
espetáculo, não dirá Deus aos Seus Anjos:

— Não vedes como o Meu Filho se humilha diante de Mim?

E os anjos responderão:

— Sim, Senhor. Nós estamos confundidos, à vista de tamanho abatimento.

— Pois porque o Meu Filho a tal ponto Se aniquilou pelos pecadores — volverá a Justiça Divina — Eu
sustenho a minha cólera e quaisquer que sejam as iniquidades do mundo, sou obrigado a reter o castigo.

Ah! Não tenhamos dúvidas. Se o raio da cólera divina não fulmina tantos crimes, que se cometem na
terra, é que sobre o altar uma Vítima puríssima, de infinita inocência, faz subir ao Céu uma súplica
irresistível todos os dias. Não esqueçamos que cada Missa é uma súplica perfeitíssima, que sobe até ao
coração de Deus, em nosso favor. Uma grandeza infinita humilha-Se infinitamente, para que não sejamos
aniquilados pelos nossos crimes.

O Salvador não só nasce sobre o altar tão realmente como em Belém, mas humilha-Se ainda mais,
assombrando o Céu e a terra. A Sua primeira Encarnação e o Seu primeiro nascimento são descritos por
São Paulo em termos precisos:

«Meus irmãos, tende os mesmos sentimentos que Jesus Cristo, o qual, tendo a natureza de Deus, não
julgou que fosse usurpação ser Ele igual a Deus; mas Ele Se aniquilou a Si mesmo, tomando a forma de
escravo, fazendo-Se semelhante aos homens e sendo reconhecido como tal, pelas aparências. Humilhou-
Se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até à morte e morte de cruz»

Ora no Seu nascimento místico, Jesus humilha-Se ainda mais. Porque, se em Belém tinha a forma de uma
doce e formosa criancinha, no altar tem a aparência inerte de um bocado de pão. Jesus pode dizer com
o profeta:

«Eu sou um verme da terra e não um homem, objeto de zombaria para os homens e de desprezo para o
povo»

Com efeito como é humilde aquele pequeno fragmento de pão! E quem O Honra? Quem O adora?
Infelizmente quase ninguém. Onde está a glória de Deus? Onde a Sua omnipotência? Onde aquela
majestade infinita, que faz tremer a côrte celeste? A tudo isso Ele renunciou para Se humilhar. É o Verbo
de Deus e não pode proferir uma palavra. Estendeu o velário grandioso do firmamento e não pode
mover o pé nem a mão. O universo inteiro não O pode conter e encerra-Se numa pequena hóstia. Está
sentado no Céu, à direita do Pai, num trono de glória e no altar jaz imóvel e inerte, como um cordeiro
atado para o sacrifício. Naquele estado tão humilde, tão apagado, entrega-Se sem resistência a todos os
sacerdotes, mesmo aos tíbios, mesmo aos indiferentes. E — coisa extraordinária! — Ele, o Senhor
supremo de toda a benção, não Se dedigna de ser abençoado pelo sacerdote, ainda que, segundo São
Paulo, «o que recebe a benção demonstra ser inferior ao que a dá». E contudo Jesus deixa-Se abençoar
pelo Seu ministro. Com efeito o celebrante abençoa as Sagradas Espécies, e isto depois da consagração,
quando já Jesus delas habita em Corpo, Alma e Divindade.

Quando Jesus Se dirigiu ao Batista, nas margens do Jordão, o Precursor chegou a recusar batisá-lO:

«Eu é que devo ser baptizado por Ti e Tu vens a mim ?»

Grande e preciosa lição para todos nós!

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