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Os lugares-comuns não são um simples amontoado, mas organizam-se num sistema, que pode ser
analisado e descrito mais ou menos como se faz com um complexo em psicanálise, e cujo conhecimento
permite prever com razoável margem de acerto as reações do público a determinadas idéias ou palavras.
Contando com essas respostas padronizadas, o argumentador pode fazer aceitar ou rejeitar certas
opiniões sem o mínimo exame, de modo que, à simples menção das palavras pertinentes, a catalogação
mental se faz automaticamente e o julgamento vem pronto como fast food. A impressão de certeza
inabalável é então inversamente proporcional ao conhecimento do assunto, e o sentimento de estar
opinando com plena liberdade é diretamente proporcional à quota de obediente automatismo com que
um idiota repete o que lhe ditaram.
É claro que para isso é preciso começar o adestramento bem cedo. Daí a insistência de Antônio Gramsci
na importância da escola primária. Também é preciso que algumas crenças sejam inoculadas sem
palavras, através de imagens ou gestos, de modo que não possam ser examinadas pela inteligência
reflexiva sem um penoso esforço de concentração que poucas pessoas se dispõem a fazer. Assim é
possível consolidar reações tão padronizadas e repetitivas que, em certas circunstâncias, um simples
muxoxo ou sorriso irônico funciona como se fosse a mais probante das demonstrações matemáticas.
Para desgraçar de vez este país, a esquerda triunfante não precisa nem instaurar aqui um regime
cubano. Basta-lhe fazer o que já fez: reduzir milhões de jovens brasileiros a uma apatetada boçalidade, a
um analfabetismo funcional no qual as palavras que lêem repercutem em seus cérebros como
estimulações pavlovianas, despertando reações emocionais à sua simples audição, de modo direto e sem
passar pela referência à realidade externa.
Há quatro décadas a tropa de choque acantonada nas escolas programa esses meninos para ler e
raciocinar como cães que salivam ou rosnam ante meros signos, pela repercussão imediata dos sons na
memória afetiva, sem a menor capacidade ou interesse de saber se correspondem a alguma coisa no
mundo.
Um deles ouve, por exemplo, a palavra “virtude”. Pouco importa o contexto. Instantaneamente produz-
se em sua rede neuronal a cadeia associativa: virtude-moral-catolicismo-conservadorismo-repressão-
ditadura-racismo-genocídio. E o bicho já sai gritando: É a direita! Mata! Esfola! “Al paredón!”
De maneira oposta e complementar, se ouve a palavra “social”, começa a salivar de gozo, arrastado pelo
atrativo mágico das imagens: social-socialismo-justiça-igualdade-liberdade-sexo-e-cocaína-de-graça-oba!
Não estou exagerando em nada. É exatamente assim, por blocos e engramas consolidados, que uma
juventude estupidificada lê e pensa. Essa gente nem precisa do socialismo: já vive nele, já se deixou
reduzir à escravidão mental mais abjeta, já reage com horror e asco ante a mais leve tentativa de
reconduzi-la à razão, repelindo-a como a uma ameaça de estupro. Tal é a obra educacional daqueles
que, trinta anos atrás, posavam como a encarnação das luzes ante o obscurantismo cujo monopólio
atribuíam ao governo militar.
É em parte por estar conscientes disso que esses mesmos educadores são os primeiros a advogar a
liberação das drogas. Eles sabem que o lindo Estado assistencial com que sonham necessitará largar na
ociosidade uma boa parcela da população, danificada, incapacitada, sonsa. Para que não interfira na
máquina produtiva, será preciso tirá-la do espaço social, removê-la para os mundos lúdicos e fictícios
onde o preço do ingresso é um grama de pó. Na sociedade futura, a recompensa daqueles que
consentiram em ser idiotizados para fazer número na militância já está garantida: cafungadas e picos de
graça, sob os auspícios do governo, e liberdade para transar nas vias públicas, sob a proteção da polícia,
ante um público tão indiferente quanto à visão banal de uma orgia de cães em torno de um poste.
Mas não é precisamente isso o que desejam? Não é essa a essência do ideal socialista que anima seus
corações?