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Alexandre Grangeiro 1
Maria Mercedes Loureiro Escuder 2
Abstract Introdução
1 Faculdade de Medicina, The aim of this study was to identify different A Epidemiologia, em especial a latino-america-
Universidade de São Paulo,
São Paulo, Brasil.
profiles in the AIDS epidemic in Brazil by relat- na, tem uma ampla produção que busca com-
2 Instituto de Saúde, ing them to the health sector’s organization, situ- preender o processo saúde e doença a partir de
Secretaria de Estado da ations involving increased risk of infection, and desigualdades, na qual se enfatiza que formas
Saúde de São Paulo, São
Paulo, Brasil. the degree of implementation of the response by específicas de adoecimento e morte guardam
health services. The Brazilian municipalities estreita relação com a organização social e com
Correspondência
(counties) were grouped according to the mag- as condições de vida da população. Compreen-
A. Grangeiro
Departamento de Medicina, nitude of the epidemic and its trends from 2002 são que impõe a necessidade de aprofundar o
Faculdade de Medicina, and 2006, and were then studied using indica- conhecimento das relações existentes entre as-
Universidade de São Paulo.
tors obtained from secondary databases. Mu- pectos sociais, culturais, econômicos e geográfi-
Rua Dr. Arnaldo 455, São
Paulo, SP 01246-903, Brasil. nicipalities with large epidemics (39%) displayed cos, e padrões de ocorrência das doenças e seus
ale.grangeiro@gmail.com more situations associated with risk of infection, agravos 1.
and those with an upward trend in incidence No campo da AIDS, inúmeras iniciativas neste
(11.5%) showed a lower degree of response. Cit- sentido foram conduzidas desde a descrição dos
ies with large epidemics but with downward or primeiros casos, em um contexto que procurou
stable trends had 68.6% of all the anonymous romper com abordagens epidemiológicas tradi-
testing centers and 75.8% of the outpatient clin- cionais, que circunscrevia o risco de infecção às
ics, and performed 81.4% of all the HIV antibody dimensões individuais e dificultava a apreensão
tests in the health system. Preventive measures in de situações que influenciavam no crescimen-
schools and primary health services showed low to da epidemia e nas diferentes formas como as
coverage rates. Differences were observed between populações eram afetadas 2. Entre as iniciativas,
geographic regions. Inequalities in the degree a de maior expressão e que influenciou vários
of implementation of the response to HIV may estudos foi o trabalho realizado por Mann et al. 3,
contribute to different profiles in the epidemic que, adotando um referencial teórico utilizado
around the country. especialmente na área de direitos humanos, es-
tudou a vulnerabilidade de populações e países
Acquired Immunodeficiency Syndrome; Health para o surgimento e desenvolvimento de epide-
Inequalities; Program Development; Risk mias de AIDS.
No Brasil, os estudos desenvolvidos nessa
perspectiva foram expressivos, abrangendo uma
nicípio 10, por meio da qual se estimou a varia- do município em região metropolitana, interior
ção anual das taxas de incidência entre 2002 e ou capital.
2006, que foram estimadas com o emprego de Para caracterizar situações relacionadas ao
médias móveis para cada três anos. Esse pro- risco de infecção pelo HIV analisaram-se quatro
cedimento foi usado para minimizar eventuais dimensões: (a) presença de populações especí-
variações decorrentes de notificações irregula- ficas no território, considerando a existência de
res de casos. assentamentos rurais entre 1979 e 2007, reservas
A categorização dos municípios segundo a indígenas e extrativistas legalizadas (2008), popu-
tendência da epidemia foi realizada em três eta- lações remanescentes de quilombolas em 2008 e
pas. Na primeira, estimou-se a variação da taxa localização do município em região de fronteira;
anual de incidência para os anos de 2002-2006, (b) vulnerabilidade de mulheres, demonstrada
sendo classificadas como epidemias em cresci- pela desigualdade entre gêneros e/ou prática
mento aquelas com taxas positivas (valor de p sexual “desprotegida” acima da média nacional.
< 0,05) e como epidemias em redução, as com Foram categorizados como vulneráveis os muni-
taxas negativas. cípios com dois ou mais indicadores, sendo eles:
A segunda etapa compreendeu a análise dos razão entre rendimentos médios de homens e
municípios com variação não significativa (valor mulheres em 2000, proporção média de nascidos
de p > 0,05) na regressão linear. Para esses municí- vivos com mães entre 15 e 19 anos de 2005 a 2007,
pios analisou-se a dispersão das taxas médias de número médio de internações por aborto para
incidência por meio do coeficiente de variação. mil mulheres entre 10 e 49 anos de 2005 a 2007
Aqueles que apresentaram dispersão inferior a e coeficiente de mortalidade por câncer de colo
20% (coeficiente de variação ≤ 20%) foram consi- de útero entre mulheres de 25-59 anos de 2005 a
derados municípios com epidemias estáveis. 2007; (c) o uso de drogas como problema de Saú-
Na terceira etapa, os municípios com disper- de Pública, excetuando o álcool, foi dimensiona-
são das taxas médias de incidência superior a 20% do por meio do número médio de internações
(coeficiente de variação > 20%) tiveram a tendên- por este agravo no SUS por 10 mil habitantes en-
cia da epidemia analisada para um período de tre 10 e 49 anos de 2005 a 2007; e (d) a existência
dez anos (1997-2006), empregando-se regressão de unidades prisionais no território em 2008.
linear simples 10 e os mesmos procedimentos de A resposta municipal ao HIV foi caracteriza-
categorização utilizados nas etapas anteriores. da pela realização de duas ou mais ações nas áre-
A análise de dez anos foi realizada como um es- as de prevenção e de atenção à saúde de pessoas
forço para contornar possíveis inconsistências com HIV, sendo elas: (a) número médio acima da
no sistema de notificação que, eventualmente, média nacional de exames anti-HIV por mil ha-
incidiram nas estimativas realizadas para os anos bitantes entre 2005 e 2007; (b) existência de Cen-
de 2002-2006. tros de Testagem e Aconselhamento (CTA) em
Municípios classificados pela tendência ob- 2005; (c) número médio acima da média nacio-
servada no período de 2002-2006 apresentaram, nal de procedimentos de doenças sexualmente
nas regressões, coeficiente de determinação (R2) transmissíveis (DST) e AIDS na atenção básica
entre 0,69 e 1,0, e no período de 1997-2006 co- por 100 habitantes entre 2005 e 2007; e (d) pelo
eficientes de 0,5 a 0,93. Excluíram-se, pelo bai- menos 75% das escolas de ensinos fundamental
xo grau de explicação do fenômeno, municípios e médio realizando ações de prevenção da AIDS
com coeficiente inferior a 0,5. A análise da mag- em 2006. Para a atenção à saúde: (a) estrutura
nitude e tendência da epidemia realiza com base para o cuidado de pessoas com HIV, conside-
nessa metodologia pode ser consultada em pu- rando a existência de ambulatórios especializa-
blicação anterior 11. dos em 2007; (b) a realização de internação de
Os indicadores epidemiológicos utilizados pacientes entre 2005 e 2007; e (c) a qualidade
para a análise dos perfis municipais compreen- do seguimento de pacientes, dimensionado pe-
deram o número total de casos ocorridos entre la proporção média acima da média de exames
2002 e 2006, a incidência média anual no mesmo de contagem de células T-CD4+/CD8+ realizada
período, calculada pela média do número de ca- por paciente/ano entre 2003 e 2006. A gestão de
sos nos anos de 2002-2006 e a população de 2004, programas de AIDS foi dimensionada pela inclu-
e a variação do número de casos por categoria são dos municípios na Política de Incentivo do
de transmissão e sexo, determinada pela razão Ministério da Saúde em 2006, que é responsável
entre o número de casos ocorridos nos períodos pelo repasse de recursos aos municípios para o
de 2002-2006 e 1997-2001. desenvolvimento de ações descentralizadas de
Na análise geopolítica estudou-se a distribui- controle da doença.
ção espacial dos municípios por região, unidade A associação entre características dos perfis
federada, tamanho populacional e a inserção epidemiológicos e dos indicadores foi analisada
por meio da estatística de qui-quadrado (vari- que apresentou tendência de crescimento nes-
áveis categóricas) e, quando significantes com ta última categoria de transmissão. Observou-
valores de p < 0,05, aplicou-se a análise de resí- se nesses municípios, também, a maior taxa de
duos padronizados (Zres), assumindo como fora crescimento entre as mulheres (3,8 vezes), que
do padrão casos com valores acima de |1,96| 12. foi 52% acima da média nacional.
Para variáveis contínuas empregou-se ANOVA, Como conseqüência, a participação propor-
recorrendo-se à desigualdade de Bonferroni para cional desse grupo no total de casos aumentou
testar múltiplas diferenças entre médias. em 37,5% no período analisado, correspondendo
a 12,7% (22.742) das ocorrências registradas en-
tre 2002 e 2006. A taxa de incidência média anual,
Resultados a segunda em importância, foi de 19,8 casos por
100 mil habitantes (Tabela 2).
Magnitude e tendência da epidemia Por sua vez, a redução/estabilização de novos
casos em epidemias de grande magnitude ocor-
Dois mil trezentos e trinta e dois municípios bra- reu mantendo elevadas taxas de incidência, 25,6
sileiros registraram casos de AIDS em, no míni- casos por 100 mil habitantes, a maior entre os
mo, três anos no período de 2002-2006, sendo grupos analisados, e a redução/estabilização foi
que para 1.910, que constituirão a população restrita às categorias de transmissão UDI (0,9),
deste estudo, foi possível estabelecer a tendência receptores de sangue e derivados (0,5) e verti-
da epidemia. Esses municípios correspondiam a cal (0,9). Entre homossexuais, a epidemia cres-
96% (178.766) do total de casos (186.283) ocorri- ceu 1,3 vez, entre heterossexuais 1,6 e entre as
dos no Brasil entre 2002-2006; a uma incidência mulheres 2,0. Esses municípios reúnem, ainda,
média anual de 24,9 casos por 100 mil habitantes; 81,7% (146.064) das ocorrências registradas entre
e a 45,6% dos 4.190 municípios com casos regis- 2002 e 2006 (Tabela 2).
trados nos anos analisados. Nos municípios com epidemias de pequena
Os 422 municípios excluídos do estudo pela magnitude, a variação no número de casos esteve
impossibilidade de interpretação da tendência fortemente relacionada à categoria de transmis-
da epidemia segundo os critérios estatísticos são heterossexual, que foi a única que apresen-
definidos, concentraram-se em cidades de pe- tou tendência de crescimento no período anali-
queno porte (94,8%), com até 50 mil habitantes sado, especialmente em cidades que cresceram
(89,8%) e apresentaram ocorrências de pequena acima da média nacional (2,8 vezes). Nas demais
magnitude (menos de 19 casos no período). categorias de transmissão, a redução/estabiliza-
Do conjunto de 1.910 municípios (Figura 1), ção foi, em sua maioria, mais intensa do que as
744 apresentaram epidemias de grande magni- observadas nacionalmente ou nas cidades com
tude, sendo que em 219 (11,5% do total) a ten- grande magnitude (Tabela 1).
dência observada foi de crescimento, com uma No total, os municípios com pequena mag-
variação média anual da taxa de incidência de nitude representaram 5,6% do total de casos re-
2,6 casos por 100 mil habitantes. Nos outros 525 gistrados entre 2002 e 2006, com uma incidência
municípios (27,5% do total) a tendência foi de re- que variou entre 16 casos por 100 mil habitantes
dução/estabilização, com variação anual de -1,4 nas cidades que cresceram acima da média na-
caso por 100 mil habitantes. cional e 10,1 casos por 100 mil habitantes nas ci-
O conjunto com epidemias de pequena mag- dades que cresceram discretamente/reduziram.
nitude reuniu 1.166 municípios, dos quais 238 Ressalta-se que entre os períodos de 1997-2001
(12,5% do total) tiveram um crescimento acelera- e 2002-2006 os municípios que cresceram acima
do, apresentando uma variação anual de 4,7 ca- da média apresentaram um aumento no núme-
sos de AIDS por 100 mil habitantes; aqueles com ro total de casos na ordem de 1,6 vez. Esse valor
tendência de crescimento discreto ou de estabi- é 24,1% superior ao observado para as cidades
lização/redução representaram 928 municípios com grande magnitude (Tabela 2).
(48,6%, do total), com uma variação média anual Os municípios com ocorrências de grande
de -0,4 caso por 100 mil habitantes. magnitude apresentaram características demo-
Comparando os períodos de 1999/2001 e gráficas compatíveis com os principais centros
2002/2006, os municípios com ocorrências de urbanos do país (Tabela 2), sendo que aqueles
grande magnitude e em crescimento apresenta- com tendência de redução/estabilização possu-
ram incremento acima da média nacional nas íam maior porte populacional, com média de
principais categorias de transmissão (Tabela 1). 194.191 habitantes, reuniam 67,9% da população
Entre os heterossexuais o crescimento foi de 2,8, dos municípios analisados e concentraram-se
entre homo/bissexuais 1,6 e entre os usuários de nos estados do Rio de Janeiro (50%, Zres = 4,4),
drogas injetáveis 1,2 – o único grupo de cidades São Paulo (48,7%, Zres = 9,9), Rio Grande do Sul
Figura 1
Magnitude e tendência
(39,2%, Zres = 3,3) e Santa Catarina (36,8%, Zres do que 79,8% (Zres = 14,8) das com epidemias
= 2,1). Dentre essas cidades estão vinte capitais que cresceram acima da média nacional possuí-
brasileiras, 60,8% dos municípios inseridos em am até 19 mil habitantes (média de 13.781 habi-
regiões metropolitanas e 80,1% dos com mais de tantes) e localizavam-se no interior dos estados
100 mil habitantes. (95%, Zres = 4,3), especialmente no Mato Grosso
Por outro lado, o grupo com tendência de (27,9%, Zres = 3,7) e Rio Grande do Norte (25,8%,
crescimento concentrou-se nos municípios de Zres = 2,3).
médio porte populacional, entre 50-199 mil ha- É importante frisar que, embora haja a pre-
bitantes (média de 107.849), nas regiões Norte dominância de epidemias grandes em cidades
(Zres = 2,6) e Nordeste (Zres = 3,4) e incluiu 50 de maior porte populacional e pequenas em
cidades com mais de 100 mil habitantes e 7 capi- cidades com menor número de habitantes, epi-
tais (Tabela 2). demias grandes e pequenas foram observadas
A ocorrência de menor magnitude foi mais em locais de diferentes tamanhos populacionais
prevalente entre cidades de pequeno porte, sen- (Tabela 2). Assim, três cidades entre 100 e 199
Tabela 1
Incremento do número de novos casos de AIDS por categoria de transmissão do HIV, calculado por meio da razão entre os casos registrados de 1997-2001 e
de 2002-2006. Municípios brasileiros com casos de AIDS registrados em pelo menos
três anos no período de 2002-2006.
Tabela 2
Indicadores epidemiológicos e geopolíticos por perfil epidemiológico. Municípios brasileiros com casos de AIDS registrados em pelo menos três anos no
período de 2002-2006.
Epidemiológicos
População 2006 23.619.007 15,7 - 101.950.463 67,9 - 3.279.861 2,2 - 21.335.906 14,2 - 150.185.237 100,0
Casos de AIDS 13.026 9,3 - 12.2970 87,3 - 809 0,6 - 3.998 2,8 - 140.803 100,0
entre 1997 e
2001
Casos de AIDS 22.742 12,7 - 146.064 81,7 - 2.092 1,2 - 7.868 4,4 - 178.766 100,0
entre 2002 e
2006
Incidência de 19,8 - - 25,6 - - 16,0 - - 10,1 - - 16,1 -
AIDS média
por 100 mil
habitantes (2006)
Geopolíticos
Número de 219 11,5 - 525 27,5 - 238 12,5 - 928 22,1 - 1.910 100,0
municípios
Número de 7 25,9 2,4 20 74,1 5,5 - - -2,0 - - -5,1 27 100,0
capitais
Municípios 32 13,1 0,8 149 60,8 12,5 12 4,9 -3,8 52 21,2 -9,2 245 100,0
em Região
Metropolitana
Municípios no 180 11,0 -1,6 356 21,7 -13,8 226 13,8 4,3 876 53,5 10,5 1.638 100,0
interior
(continua)
Tabela 2 (continuação)
Número de
habitantes (mil)
Mais de 500 9 25,0 2,6 27 75,0 6,4 - - -2,3 - - -5,9 36 100,0
200-499 11 11,7 0,1 83 88,3 13,5 - - -3,8 - - -9,7 94 100,0
100-199 30 21,9 4,0 104 75,9 13,2 - - -4,6 3 2,2 11,3 137 100,0
50-99 72 25,6 8,1 154 54,8 11,1 - - -6,8 55 19,6 -10,5 281 100,0
20-49 85 12,8 1,3 133 20,0 -5,3 48 7,2 -5,1 398 59,9 7,2 664 100,0
Até 19 12 1,7 10,1 24 3,4 -17,9 190 27,2 -14,8 472 67,6 12,6 698 100,0
População média 107.849 - - 194.191 - - 13.781 - - 22951 - - 78.631 -
Região do país
Norte 23 18,5 2,6 11 8,9 -4,8 14 11,3 -0,4 76 61,3 2,9 124 100,0
Centro-oeste 14 7,3 -1,9 39 20,3 -2,3 39 20,3 3,5 100 52,1 1,0 192 100,0
Nordeste 79 15,6 3,4 61 12,1 -9,0 55 10,9 -1,2 310 61,4 6,7 505 100,0
Sudeste 71 9,9 -1,7 277 38,5 8,4 79 11,0 -1,5 292 40,6 -5,4 719 100,0
Sul 32 8,6 -1,9 137 37,0 4,6 51 13,8 0,9 150 40,5 -3,4 370 100,0
mil habitantes possuíam epidemias pequenas o enfretamento da doença (66,5%; Zres = 26,5).
com crescimento discreto/redução, e 12 muni- Reuniu 75,8% (Zres = 21,5) dos municípios com
cípios com menos de 19 mil habitantes tiveram ambulatórios especializados para AIDS, 68,6%
epidemias grandes em crescimento, sendo que (Zres = 16,4) dos CTA, 81,4% dos testes anti-HIV
somente em quatro observou-se a presença de realizados no SUS entre 2003 e 2007 e 75,2%
unidades prisionais. (Zres = 26,5) das cidades que receberam recursos
do Ministério da Saúde para o desenvolvimento
O risco e a resposta à AIDS segundo perfis de ações programáticas de DST e AIDS. Adicio-
epidemiológicos nalmente, o número médio de exames de conta-
gem de células T-CD4+/CD8+ por paciente/ano
As cidades com epidemias de grande magnitude (1,8 exame) nesses municípios foi maior do que
estiveram mais fortemente associadas aos con- os demais grupos analisados.
textos que caracterizam o risco, apresentando Excluindo os municípios com epidemias de
as maiores proporções de cidades que possuí- grande magnitude que reduziram/estabilizaram,
am: (1) dois ou mais indicadores que sugeriam a resposta ao HIV tendeu a ser restrita. Por exem-
diferenças entre gêneros e/ou práticas sexuais plo, em 74,9% dos municípios de grande magni-
desprotegidas entre mulheres; (2) populações es- tude que cresceram não existem ambulatórios
pecíficas em seu território, como assentamentos específicos para AIDS, 64,4% não receberam re-
rurais, reservas indígenas e quilombos; (3) uni- cursos do Ministério da Saúde para o controle
dades prisionais implantadas; e (4) as maiores da AIDS, e somente 15,7% dos exames anti-HIV
taxas médias de internação por uso de drogas, realizados no SUS foram provenientes desses
excetuando álcool (Tabela 3). municípios.
São esses municípios, também, que apresen- No grupo de pequenas epidemias, essas ca-
taram o maior grau de implantação da resposta racterísticas foram mais acentuadas, ressaltan-
ao HIV (Tabela 4), que esteve, contudo, mais for- do-se que, somente 2,1% (Zres = -21,9) possuí-
temente concentrada nas cidades com epidemias am ambulatórios especializados e 53,3% (Zres
de grande magnitude com tendência de redução = 18,6) não registraram internação de pessoas
ou estabilização. Esse grupo foi o que mais con- com HIV no período analisado. A exceção refe-
centrou ações de diagnóstico (56,8%; Zres = 19,1), re-se ao número médio de exames de contagem
de atenção à saúde de pessoas com HIV (78,9%; de células T-CD4+/CD8+ por paciente/ano (1,7
Zres = 19,7) e de organização de programas para exame), que foi similar ao das cidades com epi-
Tabela 3
Situações que favorecem o risco de infecção pelo HIV, presença de populações específicas e estabelecimentos prisionais no território segundo perfil
epidemiológico. Municípios brasileiros com casos de AIDS registrados em pelo menos três anos no período de 2002-2006.
demias de grande magnitude em crescimento ter CTA implantado no município (91,8%; Zres =
(Tabela 4). 91,8) (Tabela 4).
Nota-se que, para o conjunto dos grupos Ressalta-se que os grupos com epidemias de
analisados, a maior restrição da resposta ao pequena magnitude apresentaram, comparati-
HIV foi observada na área da prevenção, onde vamente, uma menor proporção de municípios
nenhuma das ações estudadas abrangeu mais com indicadores de risco para infecção pelo HIV.
de 40% dos municípios incluídos na análise. As Entretanto, é importante observar que 55,2%
grandes epidemias, especialmente as que redu- apresentaram situações de desigualdade entre
ziram, foram as que registraram as menores pro- gêneros e/ou mulheres com relações sexuais
porções de municípios que realizaram ações de desprotegidas, e 48,2% possuíam em seu territó-
prevenção em ao menos 75% das escolas (18,7%; rio populações associadas à vulnerabilidade do
Zres = -6,1) ou que disponibilizaram, em pata- HIV (Tabela 3).
mares superiores à média nacional, consultas
de DST e AIDS na atenção básica (8,2%; Zres =
-6,2). Por sua vez, as pequenas epidemias foram Discussão
as que menos ofertaram duas ou mais ações de
prevenção (88,8%; Zres = 11,1), observando-se Estudos ecológicos constituem importantes ins-
maior restrição à oferta de exames anti-HIV ou trumentos para a definição de políticas públicas,
Tabela 4
Indicadores de implantação da resposta ao HIV nas áreas de atenção às pessoas com HIV, prevenção das DST/AIDS e ações programáticas por perfil
epidemiológico. Municípios com casos de AIDS registrados em pelo menos três anos no período de 2002-2006.
Resumo Colaboradores
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Recebido em 10/Dez/2009
Versão final reapresentada em 10/Mai/2010
Aprovado em 20/Mai/2010