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LUÍS FELIPE DE ALENCASTRO – “ O trato dos viventes- Formação do Brasil no

Atlântico Sul Séculos XVI e XVII” : Cia das Letras (pag 119 – 154)

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Tuberculose, sífilis, febre amarela, varíola, rubéola foram algumas das doenças
desconhecidas pela população indígena pré- cabralina que foram trazidas pelos
colonizadores portugueses e causaram elevada mortandade indígena. Como sintetiza
Alencastro: “ De verdade, a vulnerabilidade dos índios ao choque epidemiológico-
resultante da união microbiana do mundo completada pelos Descobrimentos- constituiu
um fator restritivo à extensão do cativeiro indígena e, inversamente, facilitou o
incremento da escravidão negra.” (pág 127).

Em que se sublinhe a relevância do referido “choque epidemiológico” para a


restrição à extensão do cativeiro indígena; este não foi único fator e outras causas
contribuíram, estruturalmente, para a restrição à generalização na Colônia portuguesa do
trabalho servil indígena.

Há que se considerar que a maioria das sociedades indígenas pré- cabralinas não
tiveram no preamento de gente um fator de desenvolvimento. Ao contrário, conforme
ensina Alencastro, quando um grupo indígena tentava transformar outro grupo indígena,
derrotado em batalhas, em mercadoria, “dissensões internas provocavam a
fragmentação da comunidade” (pág. 117). A farta disponibilidade de recursos naturais
garantia sobrevivência aos grupos indígenas dissidentes. Ademais, as lideranças,
pajés/caciques, eram de caráter mais honorífico do que lideranças com poder de
centralização política.

Essa dificuldade de centralização política colaborou para o não surgimento de


rotas de tráfico indígena (ligando o interior do território colonial aos portos que
comercializavam com representantes da metrópole- algo que foi essencial em África
para o sucesso do tráfico negreiro). Ainda que a prática do dia a dia da Colônia
desrespeitasse toda legislação metropolitana que, via de regra, proibia o tráfico indígena
e, ainda que em províncias como São Paulo a escravidão indígena tenha sido relevante;
o ponto é que as dificuldades “étnicas” de se desenvolver uma “cultura escravocrata”
aliadas as dificuldades de transporte dos escravos indígenas e somado ao fato dessa
atividade estar alheia ao Capital dinâmico da empreitada colonial (o tráfico negreiro),
em seu conjunto, esses fatores afastaram a escravidão indígena do movimento dinâmico
do sistema colonial de acumulação de capital. Por estas razões se entende a não
priorização da mão de obra indígena nas atividades produtivas coloniais.

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