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para demonstrar a ligação entre conceitos e, sobretudo, revelar a totalidade daquilo que
a “sístole-diástole” da comunidade;
na celebração;
A sedução do mal é um elemento constante no filme, mais uma das percepções cristãs. A serpente
que sussurra à Eva, o anel que sussurra ao portador. (Reprodução)
No filme podemos perceber que há uma constante luta entre o bem e o mal.
Poderíamos relacionar esse conflito com as perspectivas maniqueístas (onde o
bem e o mal estão personificados na criação), porém há um único criador e o
mal vem ao mundo por causa da liberdade e da escolha dos seres que foram
criados, sejam eles os “deuses” ou os humildes filhos da criação. Mesmo que o
antagonista, personificando o mal, seja Sauron, o senhor do escuro, temos
durante a trama dos três filmes a presença de personagens, como Saruman,
que eram bons e lutavam para que a terra média estabelecesse a paz, mas
que são corrompidos pela ganância e poder. Há um elemento da liberdade e da
consciência do mal que não se adequa à perspectiva maniqueísta, mas é fruto
da leitura cristã do mundo.
Sauron, na sua origem, era uma criatura angélica, um maiar, aprendiz dos
deuses, e, ao ser seduzido pelo já degenerado Morgoth, passa a desejar o
poder e utiliza dos seus artifícios para criar ferramentas de dominação. Essa
criatura poderosa que escolhe o mal – numa perspectiva moral – é confrontada
por Frodo, que na sua pequenez, física inclusive, aceita o fardo de carregar o
objeto mais poderoso, condutor de toda a guerra: o Um Anel. É esse destemido
e delicado herói que passa por provas inimagináveis, superando desafios que
os poderosos, como Galadriel, Gandalf e Elrond, mestres de muitas eras na
Terra Média, não conseguiriam, pois o poder do anel era muito forte e os
seduziria. A sedução do mal é um elemento constante no filme, mais uma das
percepções cristãs. A serpente que sussurra à Eva, o anel que sussurra ao
portador.
Frodo, na sua jornada do herói, ainda assimila muitas das virtudes cristãs,
como o perdão quando decide que não deveriam matar Gollum, tornando-o um
companheiro de viagem, e a compaixão ao olhar para Sam percebendo fardo
que eles compartilhavam e a dedicação total do amigo para cuidar dele,
renunciado a própria vida a favor do “mestre”.
Além da leitura cristã da mitologia presente em O Senhor dos Anéis, podemos
perceber alguns símbolos do cristianismo que aparecem nos filmes, mas que
não são explicitamente relacionados com a religião, pois estão revestidos da
estrutura mitológica da Terra Média. Quando os hobbits partem para sua
missão, depois de encontrar com os elfos, eles recebem o alimento élfico de
viagem: o lembas. É uma massa branca, que sustenta durante o caminho e
ajuda a enfrentar o fardo da sua trajetória. Este elemento nos lembra, com
bastante propriedade, o pão eucarístico dos cristãos e, também, o maná que
Deus faz chover no deserto para alimentar o povo de Israel. É também com os
elfos que Frodo encontra uma espécie de “capela”, o Salão do Fogo, em
Valfenda, que remete às salas de oração dos cristãos com a chama que está
sempre acesa e a reunião nos dias de festa. É um salão onde se pode escutar
muitas canções e histórias, marco de encontro da comunidade.
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