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Universidade La Salle

LITURGIA
Atividade de Produção 2

Professor: Renato Ferreira Machado

Aluno: Carlos Irani de Oliveira Souza

Curso: Bacharelado em Teologia


OBJETIVO

A partir do que estudamos nas duas primeiras unidades de nosso componente

curricular, elabore um mapa conceitual que sintetize os conceitos aprendidos. Um mapa

conceitual se utiliza de palavras-chave, imagens, gráficos e elementos assemelhados

para demonstrar a ligação entre conceitos e, sobretudo, revelar a totalidade daquilo que

se pretende demonstrar. Um mapa conceitual da Liturgia, então, deve levar em

consideração as seguintes ideias:

 Liturgia como memória do Senhor;

 a “sístole-diástole” da comunidade;

 a dinâmica de relação entre o visível (gestos, palavras, símbolos...) e o invisível

na celebração;

 a mística trinitária presente na celebração.


Do acolhimento à mudança de vida.

O Senhor dos Anéis: um encontro da mitologia e


do cristianismo
Senhor dos Anéis revela elementos do cristianismo sem a intenção de
cristianizar, mas incorporando aquilo que se tornou valor dentro da sociedade
cristã ocidental.

A sedução do mal é um elemento constante no filme, mais uma das percepções cristãs. A serpente
que sussurra à Eva, o anel que sussurra ao portador. (Reprodução)

Por Daniel Couto*


Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a
imaginação.
(Charles Chaplin)

A tríade cinema, literatura e religião sempre tiveram um entrelaçamento íntimo


correlacionando as suas narrativas e utilizando-se das características
específicas de cada uma para transmitir suas mensagens. Nesta relação, a
religião se vale mais das outras duas, pois como expressão cultural e ritual de
um povo, tem nas artes uma das suas aliadas para a formação e solidificação
do ambiente comum religioso. Isso se torna mais perceptível quando temos
filmes e obras literárias nos quais os temas “religiosos” são tratados de forma
explícita, muitas das vezes com seus personagens envolvidos nas tramas e os
enredos intitulados religiosos. Não são poucos os filmes deste gênero, sobre os
santos, sobre as histórias bíblicas, Jesus, seus discípulos e ensinamentos.
Também existem inúmeros filmes e livros sobre outras expressões religiosas,
documentários, sincronismos e diversos assuntos que vertem sobre as
questões ligadas à religião.

Quando vemos os grandes estúdios produzirem filmes como O Senhor dos


Anéis, de início pensamos se tratar de mais um filme de fantasia/aventura. A
temática épica da luta do herói, que leva um fardo em busca da destruição do
mal, já foi contada e recontada diversas vezes durante a história da literatura e
do cinema. Porém, qual a ligação desta gigantesca produção cinematográfica
(vencedora de dezessete Oscars, no total) com a teologia cristã?

O Senhor dos Anéis é uma obra de J. R. R. Tolkien, um professor e escritor


inglês, declaradamente católico e que possuía uma profunda relação com a
sua fé. Junto com um amigo – C. S. Lewis – desenvolveram um grupo para
discutir a fé cristã e fazer uma apologética moderna ao cristianismo.
Diferentemente de Lewis, que escreveu textos teológicos, as obras de Tolkien
se passam dentro do universo que ele mesmo criou, Arda e a Terra Média.

Como obra de fantasia, O Senhor dos Anéis se passa em um mundo repleto de


magia, elfos, orcs, trolls, anões, hobbits, magos, dragões e inúmeras outras
criaturas que povoam a imaginação dos seres humanos, fazendo um apanhado
de elementos da mitologia nórdica e das diversas mitologias europeias. A partir
desta herança, Tolkien desenvolve uma pretensa “mitologia inglesa” onde o
elemento moral é importante chave de decodificação do mundo e dos deuses.
Essa moralidade, longe de voltar aos ideais da Grécia, está permeada pelos
elementos do cristianismo presentes na sociedade europeia.

No filme podemos perceber que há uma constante luta entre o bem e o mal.
Poderíamos relacionar esse conflito com as perspectivas maniqueístas (onde o
bem e o mal estão personificados na criação), porém há um único criador e o
mal vem ao mundo por causa da liberdade e da escolha dos seres que foram
criados, sejam eles os “deuses” ou os humildes filhos da criação. Mesmo que o
antagonista, personificando o mal, seja Sauron, o senhor do escuro, temos
durante a trama dos três filmes a presença de personagens, como Saruman,
que eram bons e lutavam para que a terra média estabelecesse a paz, mas
que são corrompidos pela ganância e poder. Há um elemento da liberdade e da
consciência do mal que não se adequa à perspectiva maniqueísta, mas é fruto
da leitura cristã do mundo.

Sauron, na sua origem, era uma criatura angélica, um maiar, aprendiz dos
deuses, e, ao ser seduzido pelo já degenerado Morgoth, passa a desejar o
poder e utiliza dos seus artifícios para criar ferramentas de dominação. Essa
criatura poderosa que escolhe o mal – numa perspectiva moral – é confrontada
por Frodo, que na sua pequenez, física inclusive, aceita o fardo de carregar o
objeto mais poderoso, condutor de toda a guerra: o Um Anel. É esse destemido
e delicado herói que passa por provas inimagináveis, superando desafios que
os poderosos, como Galadriel, Gandalf e Elrond, mestres de muitas eras na
Terra Média, não conseguiriam, pois o poder do anel era muito forte e os
seduziria. A sedução do mal é um elemento constante no filme, mais uma das
percepções cristãs. A serpente que sussurra à Eva, o anel que sussurra ao
portador.

A história do Anel está repleta de portadores, e a luta contra os “pecados” é o


que parece diferenciar entre aqueles que foram dominados pelo mal e os que
conseguiram se livrar do poder controlador de Sauron. Enquanto Frodo, Bilbo e
Sam conseguem se desprender do anel, mesmo com a forte influência do
poder do senhor do escuro, Gollum passa toda a sua vida buscando o seu
“precioso”, fruto do apego e da ganância que desenvolveu com o objeto. A
atitude desapegada dos bens materiais aparece desde o princípio, quando os
ricos Frodo e Bilbo não tem dificuldades de abandonar as suas fortunas para
seguir a estrada. Frodo deixa para trás todo o seu conforto para seguir a
demanda por um “bem maior”. O anel corrompe interiormente os portadores,
mas os hobbits encontraram uma força extraordinária para lutar contra a
maldade. Os mais simples se mostraram intensamente fortes e incorruptíveis.

Frodo, na sua jornada do herói, ainda assimila muitas das virtudes cristãs,
como o perdão quando decide que não deveriam matar Gollum, tornando-o um
companheiro de viagem, e a compaixão ao olhar para Sam percebendo fardo
que eles compartilhavam e a dedicação total do amigo para cuidar dele,
renunciado a própria vida a favor do “mestre”.

Além da leitura cristã da mitologia presente em O Senhor dos Anéis, podemos
perceber alguns símbolos do cristianismo que aparecem nos filmes, mas que
não são explicitamente relacionados com a religião, pois estão revestidos da
estrutura mitológica da Terra Média. Quando os hobbits partem para sua
missão, depois de encontrar com os elfos, eles recebem o alimento élfico de
viagem: o lembas. É uma massa branca, que sustenta durante o caminho e
ajuda a enfrentar o fardo da sua trajetória. Este elemento nos lembra, com
bastante propriedade, o pão eucarístico dos cristãos e, também, o maná que
Deus faz chover no deserto para alimentar o povo de Israel. É também com os
elfos que Frodo encontra uma espécie de “capela”, o Salão do Fogo, em
Valfenda, que remete às salas de oração dos cristãos com a chama que está
sempre acesa e a reunião nos dias de festa. É um salão onde se pode escutar
muitas canções e histórias, marco de encontro da comunidade.

Mesmo com todas essas possíveis comparações, percebemos que os filmes


do Senhor dos Anéis revelam elementos do cristianismo sem a intenção de
cristianizar, mas incorporando aquilo que se tornou valor dentro da sociedade
cristã ocidental e reorganizando-os dentro da narrativa mitológica e fantástica
do cinema. Longe de ser um filme religioso, ele também se caracteriza como
uma das possibilidades de falar sobre a experiência cristã dentro de uma
linguagem diferente, utilizando a imaginação, a emoção, a admiração e todos
os outros sentimentos e sensações que o cinema proporciona. Isso nos mostra
como o cristianismo está marcado na cultura, e que, mesmo construindo
mundos imaginários, esses novos lugares também possuem espaço para a
mensagem e a luz do evangelho. Os valores morais apresentados por Tolkien
em O Senhor dos Anéis, nos ajudam na formação humana, dentro do ambiente
lúdico de fuga da realidade e do mergulho na imaginação e fantasia que a
Terra Média nos proporciona. Sonhando com os elfos e caminhando pelas
montanhas junto com Gandalf e a Sociedade do Anel, podemos nos formar
como mulheres e homens melhores.

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