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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA

ANTROPOLOGIA TEOLOGICA

Dr. Dom Paulo Romão

Matheus da Silva Santos

1. Descrever os pontos essenciais sobre criação e evolucionismo a) tendo


presente a relação entre fé e visão do mundo; b) Traducianismo e criacionismo;
c) criação da alma e vocação à vida divina; d) Monogenismo e poligenismo.

Explicar o conceito de mito é difícil. Quando falamos sobre mitos já carregamos


preconceitos como “o mito é mentira”, ou “mitos são coisas falsas”. Temos o termo
popular para descrever as inverdades que são propagadas pelas redes sociais e
grupos de Whatsapp e Telegram, temos ainda o termo “mito” expressado para outros
significados, mas aqui eu gostaria de me debruçar sobre uma outra perspectiva sobre o
mito.

O fato é que alguns livros da Bíblia, em especial, Gênesis 1-11, são inegavelmente
carregados de linguagem mitológica e arquetípica. Os elementos mitológicos (como a
criação do mundo, árvores sagradas, dilúvios e a criação do homem), são encontrados
em diversas outras histórias dos povos antigos, assumindo formas de arquétipos:

Yggdrasil é a árvore cósmica da mitologia nórdica; A criação do homem é contada na


história de Prometeu; O dilúvio possui um relato semelhante na Epopéia de Gilgamesh;
E a criação do mundo em Gênesis possui vagas semelhanças com a criação do mundo
babilônico no Enuma Elish, (para citar alguns exemplos).

A mitologia, assim como o método parabólico de ensino nos tempos de Jesus, era uma
forma bastante popular de contação de histórias e transmissão de informações e
conhecimentos. Especificamente as narrativas, “tiveram a intenção de dar sentido e
direção a um determinado povo no presente, e […] as narrativas bíblicas não são
diferentes de outras histórias” [1], como afirma Gordon Fee.

Sinceramente, não sei como surgiu o conceito pejorativo de “mito como uma mentira”,
mas para alívio do leitor, estarei longe de definir ele assim, ou como uma historinha
contada por pessoas desprovidas do conhecimento científico. Pelo contrário: minha
apresentação sobre o mito neste texto será de uma verdade.

Como disse o mitólogo Mircea Eliade, “o mito é considerado uma história sagrada e,
portanto, uma história verdadeira, porque sempre se refere a realidades”. O mito é
verdadeiro porque ele conta uma história de origem, de como as coisas foram criadas
até termos a realidade que conhecemos hoje. De fato, sabemos que a queda é real
porque existe o pecado hoje, sabemos que Abraão e os demais patriarcas existiram
porque o povo judeu existe, bem como o restante dos seus elementos históricos.
Grosso modo, quando nós também contamos histórias dos nossos antepassados e dos
nossos parentes, estamos celebrando o mito dos antepassados. Perceba que a
questão da precisão factual de forma alguma altera esta verdade. Compreender os
mitos significa viajar através do tempo, adentrar pelo fantástico nas páginas e saber
como as coisas são e como elas se tornaram o que são. Os mitos bíblicos contam a
história de um povo, o povo santo de Deus, nos conduz pelos caminhos da criação,
queda, redenção e justiça, nos conduz à Verdade.

Pelo simples fato que expliquei anteriormente, devido à verdade que os relatos bíblicos
contém em relação ao que os outros mitos não possuem.

O relato de Ea, no Enuma Elish, criando o homem com sangue e ossos, parece ser
semelhante à Gn 2:23, mas não expressa a verdade que existe hoje: a humanidade
como administradora responsável de toda a criação, criada à imagem e semelhança do
Criador. O que ela expressa é uma definição de uma humanidade reduzida tão
somente à escravidão dos deuses

O mito de Pandora, que liberou os males na humanidade, é visto como um castigo


divino devido à desobediência dos homens aos deuses. Mas o que falta ao mito de
Pandora é que a destruição da humanidade é causada como consequência da sua
própria natureza em rebeldia. O Deus bíblico não é o culpado das aflições humanas.
Os deuses gregos, nesse caso, são.

Essas, dentre outras, são as pequenas sutilezas entre os mitos que no fim fazem uma
grande diferença: nos mitos bíblicos temos a Verdade, revelada a nós pela Fé. Os
outros mitos podem mostrar realidades, mas em comparação bíblica, eles apenas
contém verdades.

Mas então, Gênesis é um mito? Com as devidas explicações dadas, com certeza,
Gênesis é um mito (especialmente Gn 1-11). Sobre a literalidade e exatidão dos fatos
relatados, não me atreverei a afirmar categoricamente sobre isso: me inclino para o
lado da não literalidade, mas compreendo que este assunto na teologia ainda está
longe de ter uma conclusão. O que posso afirmar é que de acordo com o mito, a Bíblia
é riquíssima em verdade pois ela descreve com precisão a criação, corrupção e
restauração da natureza humana. Acredito que nenhum crente se atreverá a se opor a
isto.

2. Falar sobre o homem criado "à imagem e semelhança” de Deus em Jesus


Cristo.

Quem nunca se perguntou sobre as impossibilidades históricas, ou mesmo lógicas, do


relato da criação descrito em Gênesis? Poucos sãos os irmãos e irmãs que ainda
concebem a possibilidade de uma leitura literal destes textos. Conto? Mitologia?
Literatura legendária do imaginário popular? Como definir e entender os 12 primeiros
capítulos do primeiro livro da Bíblia? É um desafio sua compreensão. Neste texto, nos
ocuparemos de uma breve introdução e dos dois primeiros capítulos do Gênesis. Em
publicações futuras, iremos tratar dos demais capítulos até o de número 12. Vamos
embarcar nesta aventura?

Desejamos nestes escritos apresentar as leituras destes textos a partir da teologia


patrística e das novas descobertas bíblicas. Neste sentido, é bom atentar que nossos
textos sempre estão divididos em duas partes. A primeira, a partir do conhecimento
bíblico dos Santos Padres, sua relação com o Magistério da Igreja. A segunda, chaves
de leitura mais hodiernas. Assim, o leitor pode ter contato com duas abordagens de
suma importância para o conhecimento bíblico.

Gênesis é o livro mais extenso do pentateuco. Pentateuco é o conjunto dos 5 primeiros


livros da Bíblia, sendo eles: Genesis, Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio. Estes
5 primeiros livros são chamados pelos Judeus de Torá. Para o Cânon Cristão, ficou-nos
a nomenclatura Pentateuco. Pénte = cinco e teûchos = rolos. Pentateuco vem significar
cinco rolos, cinco livros.

Uma das primeiras referências da Torá e, por assim dizer, do Pentateuco, está nos
manuscritos de Qumran, pertencentes a uma comunidade que vivia no deserto próximo
ao Mar Morto, entre os Séculos II a.C. e I d.C. Um fragmento de manuscrito encontrado
na Caverna 1, onde parte da biblioteca dos qumranitas foi depositada apresenta a
expressão kw(s)prym, isto é: Todos os rolos do Pentateuco (cf KIBUUKA: 2020, p. 22).

O nome Gênesis deriva do grego (Γένεσις), que vem significar: origem. Em hebraico,
bereshit (‫)ְּבראִׁש ית‬,
ֵ no princípio. Podemos também ouvir sua definição como o Primeiro
Livro de Moisés. Em suma, o Livro das Origens. Gênesis tenta dar respostas aos
primeiros enigmas do homem: o cosmo, a vida e a morte, o bem e o mal, o indivíduo e
a sociedade, a cultura e a religião. É um livro sobre as origens. Trata do “Como” e dos
“Porquês“. Questões primordiais da compreensão da existência humana. Tais repostas
recebem uma abordagem teológica, sobretudo, quando da reforma Sacerdotal do
judaísmo, 520-516 a.C. Tenta dar um trato histórico, mesmo que, com isso, pareça
mítico. Em se tratando do gênero em que foi escrito pelo autor sagrado, a formulação,
concatenação de fatos e ideias, aproxima-se de relato histórico. Outrossim, fica-nos
impossível crer que seja revestido de historicidade. O Gênesis também não pode ser
entendido como mito, embora utilize de expressões míticas, desmitificando-as. Aí está
a grande aventura de se compreender o Gênesis: história e mito se misturam,
enamoram-se, dialogam. Nada mais expressa a grandeza criativa de Deus, que desafia
os conceitos básicos de compreensão. Ele, o Todo, só pode ser compreendido a partir
de sua totalidade. É uma história, sem historiografia. Não permite a literalidade,
também expurga o relativismo. O Criador, Yhaweh/Elohin, é! Isto basta.
Antes de examinar o conteúdo bíblico-teológico dos dois relatos da Criação (Gn 1-2), é
importante considerar as cosmogonias provenientes do contexto histórico em que foi
formado o texto de Gênesis. Antes, poderemos nos perguntar: o que é Cosmogonia?
Cada povo tem seu mito fundador sobre a origem do mundo. Cada cultura conta sua
história e suas lendas. Princípios religiosos, míticos ou científicos tentam explicar a
origem do universo e influenciam a nossa visão de mundo. No contexto do Brasil, e até
mesmo sul-americano, podemos ver e ouvir, comumente, narrações sobre cinco
cosmogonias: Yorùbá, Maxakali, Grega, Maia-quiché e Judaico-cristã (cf RIBEIRO:
1986, p. 83).

Nos tempos em que nascia o povo hebreu, assim como quando ele tentou manter sua
fé e sua liberdade, as narrativas do Antigo Oriente Próximo, isto é, a civilização egípcia
e os vários povos que dominaram a região da Mesopotâmia, nas proximidades dos rios
Tigre e Eufrates, como os sumérios, amonitas (ou amoritas), assírios e caldeus;
acreditavam em uma cosmogonia em que a formação do universo é resultado de lutas
entre deuses. A criação do ser humano era uma forma de resolver o desconforto que
existia no mundo divino. Claro, estamos falando do politeísmo presente nas culturas
vizinhas. Na Mesopotâmia, presente no poema Enuma Elish, por exemplo, relata que
os deuses surgiram de um caos primordial. Os Egípcios tinham divindades diversas.
Acompanhando sentimentos humanos e fenômenos da natureza. O politeísmo não era
parte da crença do povo hebreu. Acreditavam em Yahweh, Deus único, mesmo que
seja apresentado com outro nome: Elohim, El Shaday. A fé monoteísta entre os
hebreus é um fato.

O autor do Gênesis toma a imagem do mundo tal como a ciência de então a via. Ele a
simplifica e estiliza em seres e grupos elementares. Divisão e oposição são os
princípios de ordem e harmonia (Eclo 33,7-15), classificação e nomenclatura são
princípios de conhecimento organizado. Essa visão empírica é projetada globalmente
no momento do primeiro existir, e aí entram em ação dois princípios dinâmicos: o alento
de Deus que gesta e transforma o Caos em Cosmo, e a Palavra soberana de Deus,
que dá ordem para o existir, designa lugar e nome. Por fim, abençoa (Gn 1,10).

A narrativa da Criação em Gn 1-2,4a é um relato Sacerdotal que rivaliza com as


cosmogonias do Antigo Oriente Próximo. Nele, narra-se a atividade criadora de Deus,
chamado no texto de Elohin. Tal atividade acontece em um marco temporal simbólico
de uma semana. A semana de seis dias de trabalho e um de descanso, se projeta no
tempo primordial, apresentando a ação de Deus à imagem do homem (Ex 20,11). Esta
analogia ressalta a diferença: a ação de Deus é soberana e eficaz. Sua obra é o
Universo e, este, é perfeito. Aqui, mais uma apologética contra as cosmogonias
politeístas do Antigo Oriente Próximo. Outra peculiaridade da narrativa da criação em
Gênesis em oposição às cosmogonias e teologias do Antigo Oriente Próximo é que as
divindades criavam a partir do conflito, da guerra e da força. Em Gênesis,
Yahweh/Elohim cria a partir de sua Palavra.

No relato da criação, os elementos foram utilizados a serviço dos temas teológicos. O


fato de as coisa criadas virem, uma a uma, à existência – devido à Palavra de Deus –
sublinha seu dom

3. Descrever as polaridades antropológicas a) homem e mulher; corpo e alma;


indivíduo e comunidade.

As Escrituras abordam o tópico dos sexos em muitas ocasiões, mas descobrimos seu
tratamento básico nos capítulos iniciais de Gênesis. Este fato é em si uma indicação
inicial de quão intimamente entrelaçado este assunto está com a narrativa bíblica em
geral, e quão importante um tema deve ser para qualquer teologia que surja fielmente
dele. Portanto, quanto mais atentamos para Gênesis 1-2, mais aparente será que os
temas de gênero são sutilmente difundidos por toda parte.

A criação da humanidade em Gênesis 1

A criação da humanidade é descrita em Gênesis 1. 26-31. A partir desse relato,


notamos uma série de pontos importantes.

Em primeiro lugar, o homem tem singularidade e pluralidade: primeiro se fala do


homem como uma entidade singular (“ele”), depois como a pluralidade de masculino e
feminino (“eles”). A humanidade tem vários aspectos: a humanidade é uma espécie,
uma raça e uma multidão. Como uma espécie, a humanidade é uma espécie única que
encontra sua fonte e padrão no ser humano original criado à imagem de Deus. A
humanidade é uma raça por possuir potencial generativo como homem e mulher e por
se espalhar e se relacionar com suas origens por meio de tais uniões. A humanidade é
uma multidão à medida que realiza este potencial e povoa a terra.

Em segundo lugar, a diferença sexual é a única diferença, dentro da humanidade, que


é proeminente na narrativa da criação. De forma bastante significativa, o Gênesis não
acena em direção à pluralidade genérica da humanidade. Em vez disso, a
masculinidade e feminilidade da humanidade nos torna uma raça e estabelece os laços
primários de nossas relações naturais e a fonte das identidades que nos foram dadas.
Fomos capacitados, como homem e mulher, para levarmos adiante novas imagens de
Deus e de nós mesmos (cf. Gn 5.3) e somos planejados, um em relação ao outro, de
uma maneira muito mais profunda do que apenas como membros individuais de um
“hospedeiro”.

Terceiro, há um amplo consenso, entre os estudiosos da Bíblia, de que o conceito da


imagem de Deus, em Gênesis, se refere a um cargo real ou à vocação que a
humanidade desfruta no mundo, como administradora e símbolo do governo de Deus.
A imagem de Deus está focada, principalmente, na dimensão da vocação de
dominação da humanidade. No entanto, a dimensão plena da vocação da humanidade
– à qual corresponde, principalmente, a masculinidade e feminilidade da humanidade –
não está desconectada disso, pois como uma terceira parte do paralelismo “masculino
e feminino”, está o paralelismo das duas primeiras partes à imagem de Deus.

Assim, no final de Gênesis 1, já existem vários termos, padrões e distinções principais


em jogo. Nos capítulos subsequentes, eles recebem uma forma mais clara à medida
que são desempacotados e desenvolvidos.

Gênesis 2: diferenciação na criação da humanidade e da vocação

Enquanto Gênesis 1 focaliza a criação, comissionamento e bênção para a humanidade


em geral e de forma indiferenciada, Gênesis 2 oferece uma visão mais específica e
diferenciada do significado para o homem e para a mulher. É importante ler Gênesis 1
e 2 em correspondência estreita um com o outro precisamente por esse motivo.

Esta diferenciação de gênero no cumprimento da comissão divina não é


surpreendente, especialmente quando consideramos as tarefas que estão no cerne da
vocação da humanidade. Embora ambos os sexos participem de ambas as tarefas,
“exercer domínio” e “ser frutífero” não são tarefas que afetam igualmente as
capacidades masculinas e femininas, mas são tarefas em que a diferenciação sexual
costuma ser particularmente pronunciada.

Na tarefa de exercer o domínio e subjugar a criação, o homem tem uma vantagem em


razão da força física tipicamente maior do sexo masculino, resiliência e vontade de se
expor ao risco. Ele também tem uma vantagem devido à maior força social de “bandos”
de homens. Na tarefa de frutificar, multiplicar e encher a criação, porém, as
capacidades mais importantes pertencem às mulheres. São as mulheres que geram
filhos, que desempenham o papel principal em criá-los e que desempenham o papel
principal no estabelecimento da comunhão que está no cerne da sociedade humana.
Essas são diferenças observadas nas culturas humanas.

Como G.K. Beale argumentou, o Jardim do Éden é um santuário divino e há muitas


pistas em Gênesis 2 para esse fato. No versículo 15, o homem é colocado no Jardim
para cultivá-lo e guardá-lo, as mesmas palavras que são usadas, repetidamente, para
se referir aos israelitas que são designados para servir a Deus e cumprir sua palavra,
ou aos sacerdotes que mantêm o serviço ou encargo do tabernáculo. Deus anda no
meio do jardim. O Jardim é o local de alimentos sagrados, alguns dos quais são
proibidos. O homem também recebe uma lei a respeito da Árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal, que ele deve sustentar.

Alguém pode supor uma diferenciação de gênero em relação à vocação humana, em


Gênesis 1. Mas em Gênesis 2, e certamente na queda de Gênesis 3 – onde Adão e
Eva perturbam a ordem pretendida por Deus – tal diferenciação de gênero se torna
mais explícita, não somente pelo fato de que a tarefa sacerdotal recai principalmente
sobre o homem, ao invés de sua esposa.

Há uma série de contrastes acentuados e importantes entre o homem e sua


companheira, a mulher, em Gênesis 2:

Primeiro, e talvez o mais óbvio, o homem é criado antes da mulher (cf. 1 Co 11. 7-9 e 1
Tm 2.13).

Em segundo lugar, o homem sozinho pode representar a humanidade como um todo.


Em Gênesis 2, a criação da humanidade não é a criação de uma população
indiferenciada de pessoas, mas a criação de um adam da adamah (terra), seguida pela
criação posterior de uma mulher tirada do lado de adam. É neste ser particular que a
raça humana encontra sua unidade. Este é um ponto confirmado no restante das
Escrituras: Adão é o cabeça representativo da velha humanidade. Esta humanidade é a
humanidade Adâmica, não a humanidade “Adâmica-Evânica”. A humanidade se
resume particularmente no homem.

Terceiro, a imagem de Deus é especialmente focada em adam. Ele é a figura que


peculiarmente representa e simboliza o domínio de Deus no mundo. O adam é
colocado dentro do Jardim como a luz em seu firmamento (as luzes no quarto dia são
estabelecidas como governantes) e encarregado de sustentar as divisões que Deus
estabeleceu, desempenhando a função real associada à imagem divina. Como Deus,
em seu grande domínio e atos subjugadores dos primeiros três dias da criação, o
homem nomeia e ordena as criaturas.

Quarto, o adam é criado para ser um lavrador e guardião da terra, enquanto a mulher é
criada para ser a ajudante de adam, para resolver o problema multifacetado de sua
solidão. O tipo de ajuda que se espera que a mulher forneça tem sido motivo de
considerável debate. No entanto, não é difícil descobrir o cerne da resposta. Se fosse
pela nomeação dos animais, a tarefa já estaria concluída. Se fosse puramente para o
trabalho de cultivar a terra, um ajudante do sexo masculino seria quase certamente
preferível. Embora os homens possam, sem dúvida, achar a companhia de mulheres
muito agradável e vice-versa, além do primeiro fluir do amor jovem, é na companhia de
membros de seu próprio sexo que muitos homens e mulheres optam por passar a
maior parte do tempo. A ajuda primária que a mulher deveria fornecer era auxiliar adam
na tarefa de povoar a terra por meio da gravidez, fato que é sublinhado no julgamento
posterior sobre a mulher. O problema da solidão do homem não é um problema
psicológico de solidão, mas o fato de que, sem ajuda, o propósito da humanidade não
pode ser alcançado.

Quinto, o adam foi criado do pó, com Deus soprando nele o fôlego da vida. A mulher foi
criada com carne e osso do lado de adam enquanto ele dormia profundamente. O ser
da mulher deriva do homem, o ser do homem da terra – a adamah. Adão foi “formado”
enquanto a mulher foi “construida”.

Sexto, o adam foi criado fora do Jardim e antes de sua criação; a mulher foi criada
dentro dele. A mulher tem uma relação especial com o mundo interno do Jardim; o
adam tem uma relação especial com a terra fora do Jardim. Além disso, ao contrário da
mulher, o adam provavelmente testemunhou a atividade de formação do jardim de
Deus como parte de sua preparação para o próprio cultivo da terra.

Sétimo, o adam recebe a tarefa sacerdotal de guardar e manter o Jardim diretamente


por Deus; a mulher não. Ele também recebeu a lei sobre a Árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal, enquanto a mulher não. É o adam que será particularmente responsável
pela queda no Jardim. Observe também que em ambas as ocasiões, quando Deus
subsequentemente fala da lei a respeito da árvore (3.11, 17), ele se dirige
particularmente a adam, falando dela como uma lei entregue a ele somente, e como
uma lei concernente a ele mais particularmente, e à mulher apenas por extensão. A
diferença entre o adam e a mulher, aqui, ajuda a explicar como a mulher poderia ser
enganada, enquanto o homem não (a serpente joga a informação que a mulher
recebeu em primeira mão em 1.29 contra a formação que ela recebeu em segundo
lugar da mão de adam).

Oitavo, adam recebe a tarefa de nomear os animais, como um sinal e preparação para
seu domínio sobre o mundo, enquanto a mulher não. É adam que também nomeia a
mulher, duas vezes (primeiro de acordo com sua natureza como “mulher” em 2.23,
depois por seu nome pessoal “Eva” em 3.20), enquanto ela não o nomeia.

Finalmente, em Gênesis 2.24, o estabelecimento de um casamento é descrito de forma


assimétrica, com a instrução de um homem deixar seu pai e sua mãe e se juntar a sua
esposa. Eu não acredito que isso seja acidental. Os laços de relacionamento humano e
de comunhão são formados principalmente por e nas mulheres.

Mais tarde, na queda da humanidade, há um colapso na ordem estabelecida por Deus.


O adam falha em servir e manter o jardim; ele falha em cumprir a lei relativa à árvore.
Ele permite que a mulher seja enganada, quando era seu dever ensiná-la e protegê-la.
A queda foi principalmente a queda de adam. A mulher, por sua vez, falha em seu
chamado de auxiliar. Nos julgamentos paralelos que se seguem, tanto o homem como
a mulher são informados de que terão um trabalho difícil, cada um em sua área
fundamental de atividade – o homem em seu trabalho no solo, a mulher em seu
trabalho de parto – e ambos, o homem e a mulher, ficarão frustrados e dominados por
sua origem. Em outras palavras, a mulher será dominada pelo homem e o homem
voltará à terra.

A ordem criada é rompida – e desordem, morte e pecado vêm ao mundo. No entanto, a


promessa e a esperança de salvação também são dadas na declaração divina sobre a
semente da mulher e na nomeação da mulher por Adão como a mãe de todos os
viventes. A diferença sexual é desordenada de várias formas pela queda, mas também
é um meio pelo qual a desordem introduzida pela queda será superada.

4. Dissertar o tema Filhos no Filho.

A diferença entre os sexos é uma verdade central e constitutiva da humanidade,


relacionada ao fato de termos sido criados à imagem de Deus. A humanidade tem dois
tipos distintos: um tipo masculino e outro feminino.

Homens e mulheres são criados para diferentes propósitos básicos. Esses propósitos,
quando buscados em unidade e com apoio mútuo, podem refletir, no mundo, a própria
forma de governo criativo de Deus. A vocação do homem, conforme descrito em
Gênesis 2, corresponde principalmente às tarefas dos primeiros três dias da criação:
nomear, domar, dividir e governar. A vocação da mulher, em contraste, envolve
principalmente encher aterra, glorificar, gerar, estabelecer comunhão e trazer uma nova
vida – todas as tarefas associadas aos segundos três dias da criação. As diferenças
entre homens e mulheres não são meramente acidentais, mas essenciais para o nosso
propósito. Elas também são profundamente significativas, relacionadas aos próprios
padrões fundamentais de operação de Deus. Deus nos criou para sermos homem e
mulher e, assim, refletirmos seu próprio governo criativo em seu mundo.

Essas diferenças se desdobram e se expandem com o tempo, variando de cultura para


cultura e de contexto para contexto. As diferenças básicas são expressas em formas
únicas e diversas de cultura para cultura, de indivíduo para indivíduo. Elas excedem
qualquer cultura única e qualquer indivíduo único, embora cada indivíduo e cultura
expresse e participe delas de alguma forma particular limitada.

Homens e mulheres são formados separadamente e de maneira diferente; há uma


correspondência entre sua natureza e seu propósito. Novamente: o homem é formado
da terra para cultivar a terra, para servir e governar a terra. A mulher é construída do
lado do homem para trazer vida e comunhão por meio da união. O relato bíblico é
principalmente descritivo, em vez de proscritivo: homens e mulheres são criados e
equipados para propósitos diferentes e, portanto, naturalmente, exibirão diferentes
qualidades, preferências e comportamentos. Não deveria ser surpresa que a realidade
mais fundamental do dimorfismo sexual seja acompanhada por uma vasta gama de
diferenças sexuais secundárias que normalmente se correlacionam com os
requisitos-chave de nossos propósitos primários.

As diversas vocações criativas da humanidade em Gênesis não representam a medida


ou o escopo completo dos chamados de homens e mulheres – como se as mulheres só
existissem para ter filhos e os homens apenas para serem agricultores. Em vez disso,
eles são as sementes a partir das quais vocações mais amplas podem se desenvolver
tematicamente. Cada homem e mulher deve encontrar maneiras de trazer suas
aptidões, capacidades e identidade de gênero, com as quais Deus os criou, para
suportar as situações em que ele os colocou. Embora o centro de gravidade de nossos
chamados seja diferente, o homem e a mulher devem trabalhar juntos e ajudar um ao
outro, cada um empregando seus pontos fortes para realizar a tarefa comum da
humanidade. Nenhum deles pode cumprir sua vocação sozinho.
Em Gênesis 1 e 2, as diferenças entre homens e mulheres focalizam, principalmente,
seus chamados mais amplos no mundo, ao invés de seus relacionamentos diretos uns
com os outros. A mulher deve se submeter à liderança do homem, não tanto porque ele
tenha autoridade direta sobre ela, mas porque sua vocação é a principal e fundamental,
relacionada à formação que necessariamente precede o preenchimento da própria
atividade de criação de Deus. Ela é chamada, principalmente, para preencher e
glorificar as estruturas que ele estabelece e o mundo que ele subjuga. A questão não é
o homem ter autoridade sobre a mulher, mas sim a mulher seguir a liderança do
homem. À medida que o homem nomeia, doma, estabelece as bases e guarda os
limites, a mulher traz vida, comunhão, glória e plenitude. Nenhum dos sexos realiza sua
tarefa sozinho, mas deve confiar, cooperar e ajudar o outro.

As diferenças entre os sexos também são diferenças incorporadas. Possuir um útero


não é algo que pode ser separado do que significa ser uma mulher – nem possuir um
pênis do que significa ser um homem. Não é insignificante que a abertura da madre
(útero) e a circuncisão sejam os temas centrais ao longo do livro: conceber, dar à luz e
criar filhos são essenciais para o cumprimento do propósito de Deus. Ao realizar este
propósito, o orgulho fálico do homem em sua virilidade deve ser contido por um sinal da
promessa de Deus e sua fraqueza (ou seja, circuncisão); além disso, a insuficiência da
mulher para ter filhos deve ser remediada pelo poder de Deus.

As diferenças de gênero socialmente desenvolvidas se estendem e destacam


simbolicamente as diferenças primárias de nossa natureza e propósitos criados. A
construção social de gênero é real, mas opera com a realidade natural da diferença
entre os sexos, ao invés de criar diferença ex nihilo. A forma exata das diferenças de
gênero entre homens e mulheres varia consideravelmente de cultura para cultura, mas
a presença de uma distinção de gênero entre homens e mulheres é universal. Cada
cultura tem sua própria linguagem simbólica da diferença de gênero. Já dentro de
nossos corpos naturais, vemos características cujo propósito não é estritamente
funcional, mas que existem com o propósito de sinalizar características associadas à
virilidade ou feminilidade para o próprio sexo ou para o outro sexo. O cabelo é um bom
exemplo aqui (por exemplo, cabelo comprido nas mulheres, barbas nos homens). A
maioria das culturas amplifica e simboliza essas diferenças naturais por meio de coisas
como roupas. A Escritura destaca a importância de tais diferenças sociais em 1
Coríntios 11, onde Paulo discute cabelos, e em Deuteronômio 22.5, onde mulheres que
usam roupas masculinas e homens que usam roupas femininas são condenados.

Expressar a diferença sexual por uma vasta gama de formas culturalmente conjugadas
pode mostrar a beleza de nossas diferenças particulares. Nossas diferenças são mais
do que meros sortimentos aleatórios e instáveis ​de contrastes entre duas classes de
pessoas. Longe disso. Nossas diferenças são musicais e significativas,
inseparavelmente interligadas.

Reconhecendo essa verdade, a maioria das culturas celebra a diferença sexual


desenvolvendo costumes, formas, normas e tradições de gênero. Em vez de tratar o
gênero, como nossa cultura costuma ser inclinada a tratar, como um restritivo,
sufocante e legalista constrangimento, essa abordagem acolhe a diferença sexual
como uma manifestação frequentemente libertadora de significado e beleza, que
ressoa com a realidade profunda da criação.

Gênesis não enfatiza tanto a diferença entre homem e mulher, mas a profundidade e o
amor de sua união em uma só carne. Homens e mulheres são diferentes, mas essas
diferenças não foram projetadas para nos polarizar ou nos colocar uns contra os
outros. Em vez disso, eles devem ser expressos em atividades unificadas, porém
diferenciadas, dentro do mundo e em nossos laços mais próximos uns com os outros.

Não se trata de diferença de um para outro, mas da diferença para cada um. O que
torna a mulher única é sua capacidade de complementar o parto em profunda união
com o homem. Os animais também são auxiliares, mas apenas a mulher é uma
contrapartida adequada para o adam em sua vocação; apenas a mulher é a esposa
com quem ele se torna uma só carne. As diferenças entre homens e mulheres são,
precisamente, as características que os tornam adequados um ao outro.

5. Descrever os pontos essenciais do problema teológico do sobrenatural.

Desde meados deste século, a revisão da noção do pecado original, tal qual exposta
por santo Agostinho e codificada pelos concílios de Cartago (418) e de Trento (1546),
esteve na ordem do dia da inflexão teológica. Contra os pelagianos, Agostinho defende
um pecado de origem entendido como falta hereditária para todo descendente de
Adão, com a consequência penal da condenação eterna para aqueles que dela não
são libertados por Jesus Cristo. Segundo essa perspectiva, ele lia tanto a encarnação
do Filho de Deus como o costume da Igreja de administrar o batismo até mesmo às
crianças.

Hoje, os especialistas em Agostinho se perguntam se esse modo de


compreender o pecado original, hem como sua estreita relação com o batismo,
particularmente o das crianças, não terão nascido na história da teologia e portanto, da
Igreja, precisamente após a polêmica pelagiana, que se tomou pública no Ocidente em
411 (quando o pelagiano Celéstio foi acusado pelo diácono Paulino de Milão diante do
clero de Cartago). Essa suposição, ao implicar verdades fundamentais da fé cristã,
como o motivo da encarnação do Filho de Deus, ou a natureza e a formação dos
sacramentos na Igreja, acarreta um novo exame do pensamento de Agostinho, a fim de
situar sua interpretação; exige também uma nova avaliação da doutrina cristã,
influenciada por Agostinho em numerosos setores da fé, da teologia e da ação pastoral.
As investigações dos pesquisadores, sobretudo dos especialistas em Agostinho, levam
a diversas conclusões.
Do lado protestante, foi Julius Gross quem ofereceu a obra mais importante, com
todo um aparato científico, sobre o desenvolvimento do dogma do pecado original da
Bíblia até Agostinho. Ao resumir, talvez segundo a mentalidade modernista, as teses de
Lutero, de Baio e de Jansênio sobre a identidade do pecado original com a
concupiscência, ele atribui essa identificação a Agostinho. Mais: acusa' a Igreja católica
de ter feito sua a tese agostiniana sobre o pecado original hereditário e de ter assim
prestado um enorme mau seiviço a si mesma e à humanidade:
É realmente a primeira vez na história dos dogmas que, com a dogmatização da
doutrina agostiniana do pecado original, foi elevado ao nível de um artigo de fé, um
teologúmeno que não tem em nenhuma das duas fontes da revelação, nem nas
Escrituras nem na tradição, fundamento objetivo algum. Agostinho é, pois. no pleno
sentido da palavra, o pai do dogma do pecado original. É por isso que o fato de a Igreja
ter elevado ao nível de dogma, ou seja, de artigo absoluto de fe, de valor eterno e
irreformável, partes essenciais da teologia do pecado original de Agostinho,
condicionada no tempo e no espaço, não prestou serviço nem à humanidade além a
ela mesma.
Do lado católico, o problema do pecado original não se põe em relação a seu
inventor na medida em que é um dogma da Igreja, pertencente, por conseguinte, ao
depósito da fé - mas, antes, em relação à formulação teológica recebida, de Agostinho
até nós. De modo especial,alguns atribuem a Agostinho, além da paternidade da
fórmula, agora técnica, de pecado original, a da doutrina de conjunto que ele utilizou
contra os pelagianos e os discípulos deles: essa doutrina foi de início uma reação
contra a negação da necessidade de uma redenção das crianças; segundo os
pelagianos, com efeito, as crianças, incapazes de livre-arbítrio, não poderiam herdar o
pecado de Adão. Sob a influência da expressão agostiniana de pecado original, o
concílio de Cartago, de 418, designou assim a culpabilidade na criança, a fim de
justificar o significado batismal da profissão de fé, que inclui o perdão dos pecados,
pois não se pode admitir nessas crianças senão um pecado hereditário.
Mas a teologia pré-pelagiana, como a da Igreja oriental, tinha falado mais de
morte original?. O papa Zózimo, em sua carta Tractoria, teria evitado a terminologia do
concílio de Cartago, precisamente para não falar da existência de um pecado
hereditário nas crianças.

6. Falar do estado original e do pecado original.

Foi no Ocidente, em Cartago, na África, que se pós pela primeira vez, em 411, a
questão do pecado original. Enquanto a Igreja da África praticava o batismo das
crianças, Celéstio, defensor do grupo de Pelágio, não admitia que a criança de pouca
idade pudesse ser batizada “para a remissão dos pecados". Ele foi citado perante um
sínodo de padres de Cartago, que fora convocado a pedido de Paulmo de Milão, e
questionado a respeito de seis pontos, agrupados em quatro principais artigos de
acusação:
- Adão tinha sido criado com natureza mortal e não a adquiriu pelo pecado
(ponto 1).
- Seu pecado não teve influência sobre todo o gênero humano: as crianças
nascem, pois, na condição em que estava Adão antes do pecado e a morte nao e para
ninguém consequência do pecado de Adão (pontos 2, 3 e 4)
- Cada homem tem a possibilidade de não pecar, possibilidade que sempre
existiu, porque podemos ganhar a vida eterna pela observância da Lei, bem como pelo
seguimento do Evangelho (ponto 5).
- Sempre houve homens impecáveis, ou seja, sem pecado (ponto 6).

Na época do sínodo, num contexto em que a preocupação cristológica e


sotenologica era dominante, o problema do pecado original começava a se por num
mvel dogmático como um problema em si, sob o impulso da dupla polemica que agitou
o cristianismo ocidental no final do século IV e nos vinte primeiros anos do século V: a
forte reação ao antiascetismo de Joviniano, que encontrou em Pelagio um de seus
adversários mais acirrados, e a pastoral dos sacramentos, uma vez que na África os
donatistas contavam mais com a santidade da pessoa que administrava os
sacramentos do que com o poder (potestas) vindo de Cristo. O movimento pelagiano
pretendia despertar, por força do hvre-arbitao, as virtudes adormecidas pelo hábito do
pecado. É esse hábito numa imitação do pecado de Adão, que se transmite de geração
em geração’ e, para os pelagianos, e suficiente para explicar o estado de pecado em
muitos homens (não em todos), excluindo a transmissão do pecado das ongens Com
efeito, no entender pelagiano do cristianismo é pela escolha do livre-arbítrio nue as
exigências cristãs contidas nas Escrituras e concebidas como uma soma de preceitos a
serem observados devem se tornar próprias dos cristãos.
Diante do movimento pelagiano, a reação da Igreja africana, e em particular de
Agostinho, foi imediata: repetiu continuamente que todos os homens estão vinculados
ao pecado de Adão por uma situação comum de nascimento, que todos têm
necessariamente necessidade de ser libertados por Cnsto redentor, inclusive as
crianças. Daí a necessidade, mesmo para essas ultimas, de um batismo para remissão
dos pecados.
O sínodo de Cartago, de 411, põe portanto a questão do pecado ongmal nos
termos precisos que serão retomados no decurso da histona e ainda hoje: “O estado
das crianças que hoje devem ser batizadas e o mesmo que o de Adão antes de sua
transgressão, ou a culpabilidade de transgressão delas vem da mesma origem
pecadora na qual nascem?”. Isso equivale a perguntar se o nascimento num estado de
pecado tem por motivo um pecado das ongens. O pelagiano Celéstio o negava: “O
pecado só trouxe prejuízo a Adão e não a todo o gênero humano”. Foi acusado e
condenado porque considerava que a mortalidade de Adão e dos homens em geral é
um fato natural e nao uma consequência do pecado de Adão, e que ninguém nasce já
submisso ao pecado.
O desenvolvimento doutrinal do dogma do pecado ongmal tem sempre, como
baliza, o sínodo de Cartago, de 411, que deve ser considerado seu verdadeiro ponto de
partida. As conclusões posteriores, com efeito, não frarão muitos elementos novos. De
outra parte, santo Agostinho respeitava bastan e as intervenções da Igreja e a ela
aderia com fidelidade tanto em seus textos quanto em sua pregação.
Celéstio recusou-se a se retratar e foi excomungado. Apelou a Roma, mas não
se apresentou lá. Foi à Sicília, depois a Efeso, onde se fez ordenar padre. Pelágio
ainda não tinha sido incriminado, e Agostinho nao estava presente nesse sínodo.
Deve-se sublinhar isso, dada a forte influência que tera no desenvolvimento futuro da
doutrina sobre o pecado original. A primeira intervenção oficial da Igreja, no sínodo de
Cartago, de 411, não foi provocada pelo bispo de Hipona e este não tomou parte
alguma nessa decisão. O smodo aconteceu depois do mês de setembro. Agostinho,
que participara da coxfrerencia bipartida entre católicos e donatistas, no início de junho,
tinha saído de Cartago, depois de lá ter pregado sobre o Salmo 72 no dia 13 de
setembro.

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