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SPV

MISSÃO
Valorizar a vida, contribuindo para que as
pessoas tenham uma vida mais plena e,
conseqüentemente, prevenindo o suicídio.

VALORES
 Confiança na Tendência Construtiva da
Natureza Humana
 Trabalho Voluntário motivado pelo
espírito samaritano, de acordo com a
Proposta de Vida
 Direção Centrada no Grupo
 Aperfeiçoamento Contínuo
 Comprometimento e Disciplina

VISÃO
Uma sociedade compreensiva, fraterna e solidária.

(As pessoas Vivendo Plenamente, tendo o CVV contribuído para


isso)

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PRINCÍPIOS

1. O objetivo primordial dos Postos do CVV é estarem disponíveis para


prestar apoio emocional às pessoas que estão se sentindo propensas
ou determinadas a praticarem o suicídio (Pronto Socorro).

2. Os voluntários também procuram aliviar o sofrimento, a angústia, o


desespero e a depressão, ouvindo e oferecendo apoio àqueles que
sentem não haver ninguém disponível para aceitá-los e/ou
compreendê-los (Prevenção).

3. A pessoa que faz contato com um Posto do CVV terá respeitado o seu
direito à liberdade de tomar suas próprias decisões, inclusive a de
suicídio, a de romper o contato a qualquer tempo e a de permanecer
no anonimato (Confiança na tendência construtiva).

4. O fato de uma pessoa ter procurado o apoio oferecido pelo CVV, bem
como tudo o que tenha dito e possa identificá-la, é completamente
confidencial e sigiloso, permanecendo restrito ao próprio voluntário
e, excepcionalmente, à coordenação do Posto quando estiverem em
risco os princípios e a segurança do trabalho ou de qualquer pessoa
(Sigilo).

5. Quando o apoio solicitado for além do que o CVV está disponível e


preparado para oferecer, a pessoa será esclarecida sobre os objetivos
do trabalho (Limite do Voluntário, do Posto e do CVV).

6. Os voluntários, no trabalho de apoio aos que procuram o CVV, são por


sua vez, apoiados e orientados pelos demais, especialmente os mais
experientes e os que integram a Coordenação do Posto (Trabalho
centrado no Grupo).

7. Os Postos são apolíticos e não sectários e os voluntários jamais


tentarão influenciar ou impor suas próprias convicções, quaisquer que
sejam àqueles que procuram o CVV (Respeito).

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PRÁTICAS

1. Os voluntários são cuidadosamente selecionados por suas qualidades


pessoais e aptidões naturais para o trabalho. Os processos de
aperfeiçoamento individual do voluntário e da sua prática, e de
integração às demais atividades do CVV, são objetos de atenção e
empenho permanentes (Seleção e desenvolvimento).

2. Os voluntários estão integrados em Postos que permanecem em


atividade ininterrupta, durante as 24h do dia, e todos os dias do ano,
podendo ser contatados por telefone, visita pessoal, correspondência
e outros meios (Disponibilidade do Posto (material)).

3. Quando a pessoa que procura o CVV encontra-se propensa ou


determinada a praticar o suicídio, ela obtém a integral
disponibilidade dos voluntários, durante o tempo que for necessário
(Disponibilidade do voluntário (interna) voltada ao objetivo
primordial).

4. O apoio às pessoas nas demais situações é oferecido com idêntica


disponibilidade, apenas sofrendo restrições se houver
comprometimento do objetivo primordial do CVV, a critério da
coordenação do Posto (Restrições à disponibilidade).

5. Os voluntários não interferem na vida das pessoas que não pediram


ajuda diretamente ao CVV. Contudo, oferecem também o seu apoio e
esclarecem àqueles que estão preocupados com o bem estar delas
(Não interferência).

6. O voluntário é normalmente conhecido pelo seu primeiro nome e


número de registro. Os contatos feitos por aqueles que nos procuram
são realizados exclusivamente através do Posto, de forma a manter o
anonimato do voluntário (Anonimato do voluntário).

7. Os voluntários desenvolvem suas atividades observando as normas do


Posto do qual participam, que por sua vez está integrado a uma
Regional, e esta às demais, visando manter a unidade dos Princípios,
das Práticas e das diretrizes do CVV (Unidade de Princípios, Práticas
e normas básicas).

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Boletim do CVV - Maio 2007 - Ano 42 nº 387


ESPÍRITO SAMARITANO: ONTEM, HOJE, AMANHÃ
PRECEITOS DA ESSÊNCIA DO TRABALHO DO CVV

Atendendo a pedidos, publicamos a relação dos preceitos, que


devem ser usados nas GER, GE e RG.

1) O outro em primeiro lugar.


2) Se em toda sua existência o CVV salvar uma vida, o trabalho se
justifica.
3) Lutar pela vida ainda é o melhor.
4) A fé sem obras é morta.
5) Obrigar-se a fazer é disciplina. Sem ela nada conseguiremos.
6) Não faça para agradar.
7) Se não veio ajudar, não atrapalhe.
8) Todo trabalho deve ser feito com seriedade e
responsabilidade.
9) O ideal é mais importante que o personalismo os voluntários.
10) Saber fazer sem dizer ou mostrar que sabe, comportando-se
discreta e confiantemente.
11) Comentar o mal é dar força a ele.
12) Concedei-nos Senhor, a serenidade para aceitar as coisas que
não podemos modificar, coragem para modificar as que podemos,
e sabedoria para distinguir umas das outras.
13) Durante o plantão o voluntário fica em disponibilidade para
salvar vidas.
14) Durante o plantão o voluntário usa o tempo somente para os
interesses do plantão.

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15) Só é admitida recusa de atendimento quando a segurança do


voluntário é comprometida.
16) O serviço é gratuito. Como voluntário não fazemos mais que a
obrigação.
17) O grupo é mais importante que o personalismo dos voluntários.
18) A participação é aberta a todos que queiram colaborar
desinteressadamente.
19) Para tornar-se voluntário é preciso participar de um curso de
seleção.
20) No trabalho em grupo não se muda por mudar, especialmente
se o trabalho está correto e feito com esforço.
21) No grupo mudanças aleatórias e consecutivas desestabilizam.
22) As regras são iguais para todos.
23) Ninguém fiscaliza o trabalho individual dos voluntários. Existe
a confiança que cada um esteja fazendo o melhor.
24) Todos os plantonistas são voluntários.
25) É possível ser um participante sem cargo, mas sempre com
algum encargo.
26) É mais eficiente estudar e programar em grupos pequenos.
27) Os planos de ação têm que ser atribuídos a pessoas ou grupos
de trabalho, mas cobrados só de uma pessoa.
28) Quem dá a idéia é alguém que tem o potencial de fazer mais e
melhor.
29) Para fazer bem é preciso organizar.
30) Para realizar um plano de ação é preciso ter controles,
cobranças e cooperação.

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31) Os “mais velhos”, aqueles que assumem e testemunham são os


que coordenam.
32) Os “mais velhos” são aqueles que assume trabalho e encargos
e praticam estes princípios.
33) O coordenador de grupo, posto ou regional, representa e
facilita o grupo e tem seu voto de confiança, assim pode cobrar e
ser cobrado.
34) O coordenador não pode ser teórico, inativo ou indiferente.
35) O personalismo, a politicagem e o melindre geram brigas,
rupturas e separações e minam com o trabalho e não podem ser
aceitos internamente (não há registro de briga entre os “mais
velhos”).
36) O voluntário que agiu de má fé não está em condições de
continuar.
37) No trabalho voluntário não se agradece nem se paga ao
voluntário pela sua participação ou pelo que faz. A oportunidade
do trabalho é o reconhecimento e o próprio pagamento.
38) Quem não está de acordo com a sistemática do trabalho deve
procurar outro.
39) Ninguém é insubstituível, todos são importantes.
40) Confraternizar para melhor servir.
41) Treinar sempre para melhor servir.
42) A relação de ajuda se baseia na aceitação, compreensão,
respeito e comunicação.
43) Para fazer bem é indispensável se preparar, entrando em
sintonia espiritual com o trabalho.

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44) Um dos esforços constantes para manter o trabalho vivo é a


comunicação.
45) Uma das características do voluntário é a capacidade de
renunciar.
46) “Se todos fizerem o que estou fazendo, como ficarão as coisas
no Posto?”.
47) Quando o trabalhador está pronto o serviço aparece.
48) Manter-se sempre no trabalho. Quem se afasta dificilmente
retorna.
49) O voluntário paga para trabalhar.
50) Preguiça não. Trabalhar! Trabalhar! Trabalhar!
51) O sigilo é à base do trabalho.
52) O CVV não é um Clube de Amigos.

Boletim do CVV - Maio 2007 - Ano 42 nº 387


Comissão Nacional de Princípios, Práticas e Normas

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A MENTALIDADE DOS PRIMEIROS ANOS


Os comentários referentes aos preceitos numerados de 1 até 33, referem-se à ao
artigo publicado no Boletim do CVV (nº 293 – Ano 34 – Julho /1999 - Milton).

1. “Se, em toda a sua existência, o CVV salvar uma pessoa, o


trabalho se justifica”.
COMENTÁRIO: Este princípio foi muito importante nos primeiros anos, pois existiam
muitas idéias contrárias ao trabalho. No inicio, o conceito era de salvar a pessoa do
suicídio. No fundo, a esperança é esta mesma, porém sem interferências.

2. “Quando o trabalhador está pronto o serviço aparece”.


COMENTÁRIO: Já houve situações, no início, em que o voluntário não recebia
chamadas durante semanas consecutivas. Esta afirmação está relacionada com a
disponibilidade para o trabalho.

3. “Manter-se sempre no trabalho. Quem se afasta dificilmente


retorna”.
COMENTÁRIO: Este princípio procura ressaltar a oportunidade de estar no CVV, e
que pode não retornar se houver afastamento do trabalho.

4. “Lutar pela vida ainda é o melhor”.


COMENTÁRIO: Este foi um dos primeiros slogans que traduz a postura positiva e
ativa da existência do CVV. Postura positiva não é interferir, fato que ocorre
quando se faz a pregação deste slogan.

5. “Todo trabalho tem que ser feito com seriedade e


responsabilidade”.
COMENTÁRIO: Esta é uma característica de todas as atividades, programações,
projetos, idéias e realizações no CVV.

6. “O trabalho é mais importante que o personalismo dos


voluntários”.
COMENTÁRIO: Em qualquer grupo, uma das principais resistências para o
desenvolvimento do trabalho é que alguns se julgam mais importantes que o
próprio trabalho.

7. “O grupo é mais importante que o personalismo dos


voluntários”.
COMENTÁRIO: Na escolha entre o grupo e as pessoas, o grupo sempre é mais
importante. Caso contrário, corre-se o risco de existirem “eleitos” com mais
regalias que os outros.

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8. “Os mais velhos, aqueles que assumem e testemunham, são os


que dirigem”.
COMENTÁRIO: O tempo é importante, mas só tem valor se houver testemunho de
vivências coerentes com o trabalho.

9. “Não se muda por mudar, especialmente se está dando bons


resultados”.
COMENTÁRIO: As mudanças muitas vezes são feitas automaticamente para atender
às opiniões ou interesses de alguns e nem sempre são necessárias. É uma questão
de objetividade.

10. “Mudanças aleatórias e consecutivas desestabilizam”.


COMENTÁRIO: Em grupo, para que uma diretriz seja adotada, para atender à
mentalidade vigente, é necessário tempo, persistência e compreensão. Mudanças
consecutivas e aleatórias demonstram insegurança quanto aos objetivos traçados.

11. “A participação é aberta a todos que querem colaborar


desinteressadamente”.
COMENTÁRIO: Quem quer participar não precisa de convite especial. Basta
comparecer e insistir no comparecimento. Ninguém é ignorado ou deixado de
lado se estiver presente e com postura de colaboração.

12. “Confraternizar para melhor servir”.


COMENTÁRIO: O servir está em primeiro lugar. A nossa proximidade não é baseada
em interesses pessoais e sim no servir ao outro, na sobrevivência do serviço e
na grandeza que existe nas relações entre pessoas.

13. “Treinar sempre para melhor servir”.


COMENTÁRIO: O treinamento é a única alternativa para compreender e melhor
fazer.

14. “O serviço é gratuito, não fazemos mais que a nossa obrigação”.


COMENTÁRIO: Esta afirmação esclarece que, a partir de um determinado estado
de compreensão, estar disponível num trabalho voluntário é um dever.

15. “Para tornar-se voluntário é preciso participar de um curso de


preparação (seleção)”.
COMENTÁRIO: Todos os que ingressam ao CVV passam pelo mesmo processo, sendo
informados, preparados, e selecionados. Não existe outro meio.

16. “O samaritano não se forma, ele está por aí”.


COMENTÁRIO: Esta idéia está relacionada à mentalidade samaritana que deve
existir no CVV. Ser samaritano é uma tendência natural da pessoa, e a vida
poderá possibilitar-lhe, tornar-se voluntário.

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17. “Se não veio para ajudar, não atrapalhe”.


COMENTÁRIO: O serviço voluntário exige um esforço permanente para existir. As
resistências que surgem só podem ter base no personalismo de alguns, o que é
incompatível com o trabalho.

18. “Não faça para agradar”. “Que tua mão direita não saiba o que a
esquerda faz”.
COMENTÁRIO: Fazer sem esperar que se agrade aos outros é fazer sem esperar
nada em troca. É ser livre. O trabalho voluntário exige esta postura.

19. “Obrigar-se a fazer é disciplina, sem ela nada conseguiremos”.


COMENTÁRIO: Fazer só o que agrada não exige esforços. É mecânico, é fácil. Não
exige intervenção da vontade, os resultados são frutos do acaso.

20. “As regras são iguais para todos”.


COMENTÁRIO: Um grupo real é aquele em que, apesar das diferenças pessoais,
todos estão sujeitos às mesmas exigências, e todos aceitam, sem restrições de
ordem pessoal.

21. “Todos os voluntários são plantonistas”.


COMENTÁRIO: Afastar-se do plantão, cria riscos do CVV ser confundido com
instituições, onde a organização é mais importante que o serviço. Ser plantonista é
essencial.

22. “É mais eficiente estudar e programar em grupos pequenos”.


COMENTÁRIO: A questão da eficiência e objetividade no serviço voluntário é
importante, uma vez que o tempo que se dispões é restrito. Em grupos pequenos
é mais fácil otimizar o tempo.

23. “O voluntário que agiu de má fé não está em condições de


continuar”.
COMENTÁRIO: Dispensa comentários.

24. “Para fazer bem é preciso se organizar”.


COMENTÁRIO: A improvisação, num trabalho sério, é perniciosa. O tempo e a
qualidade do serviço exigem planejamento e organização, mormente se levarmos
em conta a divisão e distribuição de tarefas, que são à base do serviço
voluntário.

25. “Para fazer bem é indispensável se preparar, entrando em


sintonia espiritual com o trabalho”.
COMENTÁRIO: O estado espiritual em que o voluntário se encontra, favorece muito,
a concretização da “relação de ajuda”. Este estado exige a compreensão do
serviço, da sua importância, e disponibilidade para o outro. É possível estender
este conceito para todas as coisas que fazemos na vida.

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26. “Ninguém fiscaliza o trabalho individual dos voluntários. Existe


a confiança que cada um esteja fazendo o melhor”.
COMENTÁRIO: O serviço do CVV não é um trabalho de produção em massa. Exige,
o esforço individual de cada um dos plantonistas, que se reveza 24 horas por dia.
Todos viemos com a intenção de ajudar, e não é possível fiscalizar a todos. O
treinamento é a única alternativa.

27. Durante o plantão, o voluntário fica em disponibilidade, atento


para “salvar vidas”.
COMENTÁRIO: O “salvar vidas” é algo transcendental. Quem salva vida não
somos nós, apenas estamos em disponibilidade, atentos, e em sintonia com o
serviço.

28. “Durante o plantão, o voluntário usa o tempo somente para os


interesses do plantão”.
COMENTÁRIO: O estado de atenção, de disponibilidade, foi comentado no item 24.
Não é possível estar em sintonia espiritual e, ao mesmo tempo, com os interesses
voltados para assuntos alheios ao serviço.

29. “Só é admitida recusa de atendimento quando a segurança do


voluntário está comprometida”.
COMENTÁRIO: O outro está sempre em primeiro lugar. O estado de segurança
individual, no seu aspecto subjetivo, é pessoal. A escolha e o esforço interior de
superar os próprios medos é sempre da pessoa do voluntário.

30. “Saber fazer, sem dizer ou mostrar que se sabe, comportando-


se discreta e confiadamente”.
COMENTÁRIO: As atitudes de respeito, esforço e renúncia são características do
CVV desde sua formação.

31. “Comentar o mal é dar força a ele”.


COMENTÁRIO: As atitudes otimista e objetiva são uma busca permanente do
voluntário. Expressar emoções negativas funciona como resistência ao
desenvolvimento do serviço.

32. “Concedei-nos senhor, a serenidade para aceitar as coisas que


não podemos modificar, coragem para modificar o que podemos, e
sabedoria para distinguir uma das outras”.
COMENTÁRIO: Esta oração, vivenciada, traduz a compreensão da filosofia do CVV.

33. “A fé sem obras é morta”.


COMENTÁRIO: A vivência do CVV sempre se firmou em esforços de realização, e
não em discursos vazios.

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Reciclando

PRECEITOS: POR QUE UTILIZÁ-LOS NO EXERCÍCIO DE VIDA PLENA?

O trabalho ceveviano nasceu em uma casa religiosa, graças ao empenho de


um grupo de jovens desejosos de realizar uma atividade voluntária, ajudando
as pessoas a perceberem o quanto suas vidas eram importantes e valiosas.
Contudo, eles não tinham uma exata idéia do que e de como poderia ser
feito. Decidiram por uma campanha de sete dias, nos quais profissionais de
várias áreas, voltados à manutenção da vida, fizeram palestras colocando os
seus pontos de visa. Nascia, a “Campanha de Valorização da Vida” que, mais
tarde, se transformou num programa denominado CVV.
O trabalho tinha, portanto, uma base religiosa e era realizado de forma mais
diretiva, resolvendo ou tentando resolver problemas e orientando as pessoas
que buscavam ajuda.
Naquela época, começou a se pensar no eu o grupo queria oferecer à
sociedade, tendo sido traçado um perfil do trabalho.
O aprofundamento desse perfil deu origem à nossa proposta de atuação,
traduzida em alguns princípios.
Para que fossem colocados estes princípios em ação foram deliberadas às
práticas, ou seja, as posturas que os voluntários deveriam ter para vivenciar
com atitudes, os princípios, a filosofia e a proposta do trabalho.
Na vivência do dia-a-dia, para que os voluntários não modificassem ou
“relaxassem” suas posturas, distanciando-se da maneira que o trabalho
costumava ser desenvolvido, pensou-se em criar “frases de efeito”, lembretes
que tivessem por função entusiasmar e reestimular o grupo a perceber ou
agir, de acordo com elas, aproximando-se mais ainda, então, dos princípios.
Como a atuação do voluntariado era diretiva e o trabalho tinha uma base
religiosa, muitas frases usadas como lembretes, não podiam deixar de ser
diretivas ou ter alguma conotação religiosa.
Com o passar do tempo, esses lembretes, tornaram-se os preceitos. Então, o
que são preceitos?
Na realidade são frases “de significação forte” que são usadas para estimular
o grupo às posturas adequadas (práticas), colocando os princípios em ação. Ou
seja, frases que devem entusiasmar o voluntariado a viver a filosofia e a
proposta do trabalho, através de práticas corretas.
Assim, o trabalho tem evoluído, modificando-se. Os princípios e práticas que
eram em números maiores, passaram a ser apenas sete cada “conjunto”, isto
é, 7 princípios e 7 práticas; mas a essência dos preceitos, que tão bem ajudou
os voluntários do passado, continua válida e eficaz quando bem trabalhada em
vida plena, também entusiasmando os voluntários de hoje para assumirem
posturas mais adequadas.
Alguns grupos têm relatado certa dificuldade em vivenciar o preceito no
exercício de vida plena. Buscar a essência de cada preceito pode ser um
caminho facilitador desse processo.
Thelma / Ribeirão Preto (SP) – Boletim do CVV – Fevereiro 2007 – Ano 42 nº
384

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PRECEITOS: COMO UTILIZÁ-LOS


É comum a afirmação de que “só se aprende a fazer, fazendo”, daí
citarmos como sugestão, 4 exemplos do adequado uso e
desenvolvimento dos preceitos no exercício de Vida Plena:

Preceito: O outro em primeiro lugar.


Essência do preceito: Disponibilidade.
Como sinto a minha disponibilidade: interior, de tempo, para
buscar capacitação para outras tarefas?

Preceito: Sem em toda a existência o CVV salvar uma vida, o


trabalho se justifica.
Essência do preceito: Validade do trabalho.
Sinto que sou verdadeiro quando digo que acredito no potencial
positivo das pessoas?
Confio na forma como realizamos a relação de ajuda?

Preceito: Lutar pela vida ainda é o melhor.


Essência do preceito: Valorização da Vida.
Sinto-me compassivo o suficiente para dar valor à vida de todas as
pessoas?
Eu me valorizo?

Preceito: A fé sem obras é morta.


Essência do preceito: Compromisso com o trabalho (manutenção e
expansão)
Como me sinto quando sou solicitado para contribuir com o posto?
Financeiramente? Na divulgação? Na expansão?

Enfim, os preceitos alavancam uma prática e põem os princípios


em ação.
Thelma / Ribeirão Preto (SP) - – Boletim Março 2007 – Ano 42 nº
385

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Órgão Informativo do CVV – Programa de Valorização da Vida


Inaugurada a coluna: ESPÍRITO SAMARITANO: ONTEM, HOJE, AMANHÃ
Preceitos – A partir de agora o Boletim conta com mais esta seção, na qual
estarão sendo desenvolvidos os preceitos que representam a essência do
trabalho do CVV, o que possibilitará aos voluntários, novos e antigos,
conhecerem melhor os valores que estiveram subjacentes na trajetória até
aqui percorrida.
Boletim do CVV a linha da vida – setembro de 2005 - Ano 40 nº 367

ESPÍRITO SAMARITANO: ONTEM, HOJE, AMANHÃ

1º Preceito: O OUTRO EM PRIMEIRO LUGAR.


Essa atitude fundamenta todo o conhecimento e toda a prática do CVV.
Na Relação de Ajuda ou na Direção Centrada no Grupo, ela nos inspira no
exercício da amizade calorosa, receptiva e interessada. É ela também que
fortalece nosso trabalho cotidiano de autoconhecimento, de revisão das
defesas individuais e organizativas, liberando a força realizadora inerente às
pessoas e aos grupos.
Nós, voluntários do CVV, caminhando na contracorrente do egocentrismo,
temos constatado a validade dessa atitude altruísta há mais de 40 anos.
Ela nos permite identificar princípios nos mundo interno do outro,
provavelmente os mesmos que ordenam o universo: harmonia e unidade,
solidariedade e amor.
Essa tendência, embora ainda não predominante na sociedade, vem crescendo
continuamente, e um movimento sólido e vigoroso nesse sentido já pode ser
entrevisto ao longe.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Setembro 2005 – Ano 40 nº 367

2º Preceito: SE EM TODA A EXISTÊNCIA O CVV SALVAR UMA VIDA,


O TRABALHO SE JUSTIFICA.
A importância desse preceito como estímulo ao trabalho dos primeiros
voluntários é facilmente compreensível. Ele, contudo, permanece válido ainda
hoje pelo que pode significar para cada um de nós, individualmente.
Sob o ponto de vista da nossa atividade voluntária cotidiana, as estatísticas
pouca importância têm.
Sabemos que muitas pessoas foram e estão sendo beneficiadas pelo CVV e por
isso sentimos que vale a pena continuar realizando o nosso trabalho.
Esta percepção é mais digna de confiança do que a avaliação puramente
racional feita pela nossa inteligência isoladamente.
Embora continue sendo ainda um imenso desafio, o trabalho de prevenção do
suicídio está em crescimento. Motivados pelo exemplo pioneiro do CVV,
muitas outras organizações e serviços surgiram e estão surgindo com o
propósito de prestar apoio emocional às pessoas em crise.
Mais pessoas estão sendo ajudadas porque já não estamos sozinhos nessa
caminhada.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Novembro 2005 – Ano 40 nº 369

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3º Preceito: LUTAR PELA VIDA AINDA É O MELHOR


O preceito nos recorda o anseio ou motivação fundamental de todo ser
humano: buscar sempre a vida e a realização das nossas capacidades.
Mesmo quando nos comportamos de forma auto-agressiva esta é uma
tentativa extrema de obter afeto, compreensão e calor humano.
Tanto no nosso relacionamento com pessoas como com grupos, lutamos
pela vida quando facilitamos a manifestação da força criativa interna
para superar as debilidades momentâneas e o sofrimento tanto do outro
como nosso. Lutamos pela vida quando reduzimos nossas defesas e
exercitamos a capacidade de confiar, aceitando e apreciando a outra
pessoa como ela é.
Lutar pela vida é mais que um objetivo, é uma realização pessoal, pois
enriquece também a nossa própria existência.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Abril 2006 – Ano 40 nº 374

4º Preceito: A Fé SEM OBRAS É MORTA.


Nossa fé ou crença fundamental na tendência construtiva pode realizar
obras jamais sonhadas.
A história do CVV exemplifica como ela pode transformar-se em certeza
pela constatação dos resultados obtidos.
Valorizar a vida prevenindo o suicido é tarefa imensa, porém nós a
realizamos a todo o momento no trabalho que abraçamos:
Ante aquele que nos procura, buscando a força da fé para construir o
clima caloroso necessário para que o outro sinta-se aceito e
incondicionalmente valorizado em sua experiência, sem amenidades
artificiais ou outras defesas.
Ante nós mesmos, voluntários, aceitando nossas debilidades pessoais e
grupais, analisando-as confiantemente para liberar nossa força criativa
e executar as metas e as ações coletivamente definidas.
As ferramentas disponíveis já mostraram sua eficácia: o exercício de
Vida Plena, o Treinamento de Papéis, o Feedback e a Direção Centrada
no Grupo. O objetivo é buscar a unidade do eu e do grupo, identificando
nossas personalidades ou máscaras para pensar, sentir e agir de forma
confiante ante os fatos, sejam eles quais forem.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Outubro 2005 – Ano 40 nº 368

Este preceito sugere a necessidade de realizações permanentes,


continuadas, constantes. Não basta sentir o desejo de ajudar ao outro,
de compartilhar com ele o sentimento que lhe amargura. É necessário
estar fazendo algo de prático: estar no plantão; participando da reunião
do grupo; presente a RGV, envolvido no PSV; inscrito no Encontro etc.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Maio 2006 – Ano 40 nº 375

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5º Preceito: OBRIGAR-SE A FAZER É DISCIPLINA. SEM ELA NADA


CONSEGUIREMOS.
Se dissermos: “Vou fazer”, precisamos fazer mesmo. Este preceito é
fundamental em um trabalho voluntário centrado no grupo, pois ele dá a
tranqüilidade de que aquilo que prometemos, será realmente cumprido. A
quebra deste preceito é profundamente desestabilizadora. O sucesso de nosso
trabalho depende muito da certeza de que aquilo que alguém promete, será
certamente efetivado.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Junho 2006 – Ano 40 nº 376

As defesas nem sempre permitem que nossa ação seja confiante e


adulta, portanto disciplinada e isenta de personalismos.
Essas defesas são comuns, fora do CVV. Dentro, elas são menos
acionadas, pois o clima não é tão ameaçador.
O clima confiante facilita a substituição do dever e da obrigação, pelo
exercício espontâneo e criativo das capacidades.
Estamos aprendendo a cultivá-lo com mais carinho nos grupos, buscando
coletivamente a superação dos obstáculos pessoais e institucionais.
Este é um longo caminho, e com muitas variantes possíveis. A
autodisciplina continua sendo nossa bússola, sem ela estaremos sujeitos
a desvios indesejáveis.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Junho 2006 – Ano 40 nº 376

6º Preceito: NÃO FAÇA PARA AGRADAR.


Este preceito está presente na essência do nosso trabalho: na resposta
compreensiva. A chamada resposta paternalista, que minimiza o
problema da outra pessoa, é inadequada. Ela pode aparentemente
agradar ao outro, mas não é a forma mais eficaz de ajuda.
Por outro lado, quando fazemos algo, não pode ser para agradar este ou
aquele, mas, sim como cumprimento de algo a que nos obrigamos,
sintonizados com o ideal.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Julho 2006 – Ano 41 nº 377

Quando estamos mobilizados internamente para “fazer” de um lado


está o “agradar a alaguem” e do outro lado à compreensão da
necessidade e importância “deste fazer”. “O agradar” espera quase
sempre um pagamento em troca. Um sorriso de simpatia, um
agradecimento, um reconhecimento... A compreensão transcende.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Julho 2006 – Ano 41 nº 377

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7º Preceito: SE NÃO VEIO AJUDAR, NÃO ATRAPALHE.


Para se trabalhar em grupo, muitos esforços têm que serem efetuados,
individualmente em grupo. Por exemplo, a disponibilidade, a boa
vontade, o respeito, a dificuldade, os preconceitos, as limitações
pessoais, as antipatias... Para trabalhar centrado no grupo, os esforços
são maiores. Sabemos da falta de colaboração intencional, “o
atrapalhar”, cuja força resistente é desestimulante, desestruturante e
destruidora. Também é conhecido o resultado das posturas como “em
que posso ajudar”, “pode deixar que eu faço” e o resultado do trabalho
cooperativo comprometido e disciplinado.
Quando o grupo atinge um nível de ser, isto é, capaz de trabalhar
harmonicamente centrado no grupo, os esforços continuam mas são
diferentes, a perda de energia é menor e os resultados são melhores.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Agosto 2006 – Ano 41 nº 378

É muito verdadeiro o conhecido ditado popular “Sapo de fora não chia”.


Isto é, ajudar é “meter a mão na massa”, participar ativamente,
assumir tarefas. Ficar ao lado criticando, apontando falhas, sugerindo
sem assumir, é uma forma de atrapalhar.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Agosto 2006 – Ano 41 nº 378

8º Preceito: TODO TRABALHO DEVE SER FEITO COM SERIEDADE E


RESPONSABILIDADE.
Uma das características do trabalho sério é a continuidade, isto é,
manter o ritmo de sua ocorrência do começo ao fim. Não é esporádico,
aleatório e se é começado, tem que ser concluído. A outra
característica é a qualidade e tem que ser o mais bem feito possível não
pode ser improvisado, baseado no “mais ou menos” ou ter somente “o
jeitão e”. Qualidade exige tempo, esforço, dedicação, trocas, busca,
conciliação, respeito, conhecimento, capacitação... A responsabilidade
está relacionada com o comprometimento que se tem com a própria
compreensão e não só respeitar os compromissos com a vida e com os
outros, é respeitar a nós mesmos.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Setembro 2006 – Ano 41 nº 379

Quando a responsabilidade da execução de alguma tarefa é atribuída a


um voluntário, não só a omissão da execução, como também da
informação do andamento da tarefa é amplamente nociva. No trabalho
do CVV é fundamental que os companheiros tenham certeza de que a
tarefa que nos foi atribuída será executada.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Setembro 2006 – Ano 41 nº 379

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SPV

9º Preceito: O IDEAL É MAIS IMPORTANTE QUE O PERSONALISMO


OS VOLUNTÁRIOS.
Todos temos manifestações de personalismo em maior ou menor grau.
Podemos reconhecê-lo, se conseguirmos perceber que estamos
defendendo nosso ponto de vista, “sem abrir mão”, e com todas as
justificativas possíveis.
Quando temos a compreensão, de que “o outro é importante” e que
“em grupo fazer pelo outro, pode ser mais eficaz”, atuamos em escala
diferente, mais elevada, sutil e fugaz; menos densa e pegajosa de que
quando sobre influência de nossa falsa personalidade, que quer tudo
para si com o menor esforço possível.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Outubro 2006 – Ano 41 nº 380

Os preceitos são muitas vezes bastante desafiadores, sendo este um


deles. Saber diferenciar as nossas razões das do CVV, nem sempre é
fácil, pois podemos imaginar que o nosso ponto de vista é o melhor para
a entidade. Convém perguntar: quando a nossa opinião não é aceita, é o
nosso ego que fica magoado? Será que não estamos buscando uma
vitória pessoal, em detrimento do CVV? A nossa insistência em
determinada tese não é apenas reflexo da falta de humildade? Enfim,
são tantas as perguntas que precisamos nos fazer permanentemente
para que o ideal seja, como o outro, colocado em primeiro lugar.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Outubro 2006 – Ano 41 nº 380

10º Preceito: SABER FAZER SEM DIZER OU MOSTRAR QUE SABE,


COMPORTANDO-SE DISCRETA E CONFIANTEMENTE.
Fazer exige capacitação – conhecimento (saber) e prática de uso e
aplicação (ser). Toda vez que “o anunciamos com trombetas”
esquecemos da ajuda que a vida nos proporciona de tantas maneiras
diferentes e imperceptíveis, e assim, aproveitamos para “esfregar na
cara do outro, que somos os melhores”.
Quando “a mão direita não sabe o que a esquerda faz”, a nossa
comunicação com a vida e com as pessoas é mais ampla. Esta sinergia
traz resultados úteis e plenos.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Novembro 2006 – Ano 41 nº 381

No exercício de Vida Plena descobrimos com freqüência os nossos traços


de orgulho e vaidade, mas a observação atenta dos nossos
comportamentos, também podem indicar essas ou outras características
que devem ser superadas. Associar vitórias do CVV a trabalhos nossos e
divulgá-las com LETRAS MAIÚSCULAS é um bom exemplo de um
comportamento a ser evitado.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Novembro 2006 – Ano 41 nº 381

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SPV

11º Preceito: COMENTAR O MAL É DAR FORÇA A ELE.


Este é um preceito conhecido universalmente. A divulgação de atitudes
nocivas como suicídios, atentados, tipos de crimes e etc. tem provocado
muitas vezes a imitação de referidas atitudes, com sérios prejuízos para a
comunidade. Por outro lado, em âmbito mais restrito percebemos a
inadequação das “fofocas”, pois elas são um claro entrave para um
relacionamento tranqüilo e produtivo.
Muitos companheiros têm experimentado a sensação de tranqüilidade que
se respira em um Posto do CVV. Uma da formas de contribuirmos para isso,
reconhecendo o desafio que é para muitos de nós, é a obediência a este
preceito.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Dezembro 2006 – Ano 41 nº 382

12º Preceito: CONCEDEI-NOS SENHOR, A SERENIDADE PARA


ACEITAR AS COISAS QUE NÃO PODEMOS MODIFICAR, CORAGEM
PARA MODIFICAR AS QUE PODEMOS, E SABEDORIA PARA
DISTINGUIR UMAS DAS OUTRAS.
Este preceito condensa a filosofia básica do CVV: aceitar o outro como é,
respeitando sua individualidade e procurando modificar a mim mesmo, isto
é, alterando os meus comportamentos defensivos.
O “SENHOR” do preceito por sua fez é uma faceta do ecumenismo
caracterizador do CVV: ele aglutina todas as convicÇões dos voluntários,
por mais diversas que sejam.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Janeiro 2007 – Ano 42 nº 383

13º Preceito: DURANTE O PLANTÃO O VOLUNTÁRIO FICA EM


DISPONIBILIDADE PARA SALVAR VIDAS.
O ideal de sermos úteis e a busca de oportunidades concretas de salvar
vidas nos trouxeram e nos mantêm no CVV.
Ajudar alguém a encontrar ou reencontrar a tendência atualizadora que
nos é inerente! Esta força interior também alimenta a nossa
disponibilidade, mesmo que o telefone permaneça silencioso.
Quando nossa disponibilidade cai, o grupo nos apóia. Se o pequeno grupo
vacila, procuramos suporte no grupo maior. Nos momentos de dúvida do
grupo, nós o apoiamos.
Este pe o processo que mantém o CVV numa persistente caminhada de
revitalização contínua dos seus ideais, há mais de 40 anos.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Fevereiro 2007 – Ano 42 nº 384

Vidas podem ser salvas, se houver disponibilidade. É bom recordar que não
basta estar no plantão (disponibilidade de tempo); é fundamental que haja
também disponibilidade interior, pois sem esta, a outra é inoperante.
Convém lembrar ainda que, não sou eu quem salva vidas. Eu apenas faço
parte de uma organização, cuja parte visível é composta por costumes,
normas, tradições, princípios, rotinas, conceitos filosóficos etc. Esse
conjunto, conhecido por CVV, é quem salva.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Março 2007 – Ano 42 nº 385

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SPV

14º Preceito: DURANTE O PLANTÃO O VOLUNTÁRIO USA O TEMPO


SOMENTE PARA OS INTERESSES DO PLANTÃO.
O plantão é destinado ao outro. Mesmo que esse outro não nos chame.
O plantão não deves ser usado para outras atividades, mesmo que sejam
de interesse do Posto, tais como: relatórios, elaboração do BIS,
preparação da divulgação etc.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Abril 2007 – Ano 42 nº 386

A outra pessoa, nas mais variadas condições pode sempre encontrar no


CVV, um voluntário disponível para o apoio.
Leituras ajudam porque o seu conteúdo alimenta nossa disponibilidade.
Apostilas do PSV e dos Cursos, além do Boletim e dos nossos livros de
referência, são os textos mais úteis.
Nossa confiança na tendência realizadora ou construtiva é o interesse
maior do plantão.
O aprendizado adquirido nos treinamentos e exercícios nos mantêm
preparados. Nossos preconceitos, para serem bem conhecidos, exigem
reflexões profundas e continuadas.
Nós somos as pessoas que mais se beneficiam dos plantões. No diálogo
ao telefone ou no silêncio do posto, nos encontramos conosco mesmos,
com nossos valores e princípios. Aqueles que nos trouxeram ao CVV.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Abril 2007 – Ano 42 nº 386

15º Preceito: SÓ É ADMITIDA RECUSA DE ATENDIMENTO QUANDO


A SEGURANÇA DO VOLUNTÁRIO É COMPROMETIDA.
Estamos no CVV para ajudar, para doar calor humano às pessoas
desesperançadas e que pensam por fim à própria vida.
Trata-se de uma guerrilha que utiliza armamentos inusitados: a
aceitação, o respeito e a compreensão!
Corremos riscos como em qualquer situação do cotidiano, mas eles
devem ser calculados com a ajuda do pequeno exército ao qual
pertencemos.
O planejamento do combate deve levar em conta também a nossa
própria segurança e, às vezes, é prudente um recuo tático, para que a
nossa estratégia seja mantida e os objetivos alcançados.
As defesas erguidas durante o nosso recuo, grandes, cadeados e
limitações de acesso da outra pessoa serão removidos, assim que as
condições permitirem, para que possamos novamente avançar com
destemor.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Junho 2007 – Ano 42 nº 388

O ponto central desse preceito é noção de que só poderá haver recusa


de atendimento em casos extremos e raros, certamente vinculados a
apoios pessoais. É vedado ao voluntário, na solidão da cabine ou da
sala, buscar justificativas teóricas para evitar um contato.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Junho 2007 – Ano 42 nº 388

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SPV

16º Preceito: O SERVIÇO É GRATUITO. COMO VOLUNTÁRIO NÃO


FAZEMOS MAIS QUE A OBRIGAÇÃO.

Esta é a nossa mais antiga e eficaz vacina contra o personalismo.


Elogios, agradecimentos e até lisonjas minam e podem corromper
um dos sentimentos fundamentais da relação de ajuda: o de
igualdade.
A ajuda só se concretiza quando nos colocamos no mesmo nível do
outro. Só assim podemos dar e receber o que realmente importa: o
autoconhecimento proveniente da aceitação e da compreensão.
O profundo conhecimento dos nossos valores e princípios unifica a
nosso eu - mesmo, afasta a solidão e a angústia, e nos torna mais
capazes de criar o clima de proximidade e calor humano,
necessários à relação de ajuda.
Nossa cultura valoriza a aparência e não a essência das pessoas e,
portanto, cria categorias artificiais: capazes - incapazes, fortes -
fracos, eficientes - deficientes etc.
A simplicidade e objetividade deste preceito nos traz de volta à
realidade: somos iguais em essência!
Portanto não se justificam os agradecimentos.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Julho 2007 – Ano 42 nº 389

No serviço que prestamos, não pode existir expectativa de


qualquer tipo de retribuição, nem mesmo de um simples
agradecimentos. Estamos apenas fazendo a nossa parte, cumprindo
a tarefa que nos cabe, nessa nossa passagem pelo planeta.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Julho 2007 – Ano 42 nº 389

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SPV

17º Preceito: O GRUPO É MAIS IMPORTANTE QUE O


PERSONALISMO DOS VOLUNTÁRIOS.
Quando esta ideia é aplicada na prática, o trabalho torna-se
verdadeiramente centrado no grupo.
Mas, nem sempre esse fato ocorre. Existe possibilidade do trabalho em
grupo estar centrado no líder, em que toda a responsabilidade recai
sobre o mesmo e isso é desacreditar das potencialidades e capacidades
dos membros deste grupo.
A segunda possibilidade é o grupo democrático, no qual supostamente
todos são iguais. Porém, vence a maioria. E quantas vezes uma idéia
genial é relegada por ter sido sugerida por um membro considerado da
minoria?
A terceira possibilidade é o grupo estar voltado para todos. A relação
entre os componentes do grupo é conciliatória. Há uma compreensão
pairando sobre ele.
As necessidades são colocadas, consideradas, mas não há confrontos. É
um processo de relacionamento possível, no momento, só em grupos
pequenos, pois em grupos grandes, ele pode perder o rumo devido à
lentidão do processo interno, tanto maior quanto maior for o grupo. Isto
sugere que um trabalho voluntário pode desenvolver-se bem em
pequenos grupos, direcionados pelo ideal e pela essência específica e
particular de cada um deles, sem que se perca o rumo estabelecido
entre os diversos grupos. Sem as concorrências e competições usuais da
vida, uma vez que o ideal de todos está acima dos interesses pessoais,
seja de seus membros, seja da personalidade do grupo em si.

O CVV esta sendo encaminhado para trabalhos centrados no grupo,


visando sempre atingir os ideais propostos pelas suas atividades, e não
nas eventuais manifestações de personalismo de alguns de seus
componentes. Entretanto, deve ser tomado o cuidado com a criação de
regras que possam tornar o trabalho interno de cada grupo,
excessivamente mecânico, ou seja, as pessoas esquecerem-se de si,
esquecerem o ideal, e os grupos tornarem-se máquinas, com certo
poder equivocado.
Estamos no princípio do processo, estes grupos só podem existir com
alta determinação das pessoas a partir de uma reformulação íntima, tais
como práticas de Treinamento de Papéis, exercícios de Vida Plena e de
Feedback, assim como a capacidade individual e do grupo em aceitar,
respeitar e comunicar a compreensão de tudo o que ocorre no grupo, e
ainda a disposição para a cooperação, a responsabilidade e o
comprometimento em todas as escalas.
Grupo centrado em todos os seus componentes é um grupo fraterno,
aquele que muitos procuram e poucos encontram.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Agosto 2007 – Ano 42 nº 390

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SPV

18º Preceito: A PARTICIPAÇÃO É ABERTA A TODOS QUE QUEIRAM


COLABORAR DESINTERESSADAMENTE.

A assertividade é verdadeira, necessitando somente de


clareamento. A participação desinteressada cria-nos a imagem de
um trabalho falho na motivação para a total eficácia. Ressaltemos
que essa participação deve ser desinteressada não no seu
conteúdo, mas, sim, no seus resultados. Participar para servir, sem
segundas intenções. Estas se fixam quando o nosso personalismo se
traduz por orgulho, vaidade ou pelo “vicio” de queremos ser
importantes.
As segundas intenções são aquelas que existem quando usamos a
marca de nossa Instituição CVV, para usufruir benefícios diretos
ou indiretos, para nós ou destinados a terceiros. Esse desinteresse
deve ser interpretado com isenção do “animus” da vantagem. As
nossas parcerias com o terceiro setor geram o crescimento do
voluntariado, dos objetivos filantrópicos; caracterizando-se como
parcerias isentas.
Nossas parcerias com o segundo setor geram o sectarismo
partidário comercial. Não devemos confundir parcerias com apoio,
nas parcerias nos “misturamos” com o parceiro, nos expondo com
a empresa ou parceiro. Corremos o risco da crítica. Enquanto que
no apoio nossa obrigação pe tão somente agradecimento. O nosso
interesse pecuniário deve ser limitado ao servir com ética e
respeito à sigla CVV. da qual somos meros usuários, não nos
pertence individualmente. Pertence a todos nós pela obrigação de
sermos cuidadosos e responsáveis.
Comissão de Divulgação / Volta Redonda (RJ) – Boletim Setembro 2007 – Ano 42 nº 391

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SPV

19º Preceito: PARA TORNAR-SE VOLUNTÁRIO É PRECISO


PARTICIPAR DE UM CURSO DE SELEÇÃO.

Ser voluntário implica em boa vontade, desejo de servir e sair de si


para colocar-se à disposição, independentemente das razões
pessoais que nos levaram a sê-lo. Ser voluntário também é fazer
parte de uma organização e é diferente de realizar sozinho um
trabalho para os outros. De certa forma é mais fácil por que o
grupo sempre pode mais que uma pessoa. É preciso aprender a
trabalhar em grupo e o curso de seleção é a iniciação mais prática
e objetiva para isto. Para cada trabalho há pessoas certas. Assim
elas têm que ser selecionadas, através de uma introdução que
pode ser entendida como preparação. É isto que Chad Varah
sempre dizia que “o samaritano existe por aí, é necessário
encontrá-lo”.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Novembro 2007 – Ano 42 nº 393

Este preceito me faz perceber, de maneira ainda mais forte, a


necessidade de um preparo adequado que após o ingresso do
voluntário se materializa na participação dos cursos, seminários,
reciclagens e palestras.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Novembro 2007 – Ano 42 nº 393

Quando participamos do PSV, a missão e os valores do CVV


encontram eco em nosso íntimo e marcam nossa vida de forma
definitiva.
Uma vez voluntário do CVV, sempre voluntário do CVV! É tarefa
para toda a vida!
Mesmo os voluntários que se afastam do grupo, jamais abandonam
definitivamente os valores adquiridos ou fortalecidos pelo contato
com a Proposta de Vida.
Nossa forma de ver o mundo se fortalece!
Nossa crença na capacidade construtiva do ser humano se
consolida definitivamente!
Daí a importância do PSV.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Novembro 2007 – Ano 42 nº 393

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SPV

20º Preceito: NO TRABALHO EM GRUPO NÃO SE MUDA POR


MUDAR, ESPECIALMENTE SE O TRABALHO ESTÁ CORRETO E
FEITO COM ESFORÇO.

Sempre que propomos mudanças no grupo ao qual pertencemos,


temos nossos motivos.
Se o trabalho está sendo realizado corretamente e com dedicação,
os motivos só podem ser pessoais, porém nem sempre
reconhecemos esse fato.
Mas que motivos pessoais são esses?
Ansiedade, expectativas excessivas, impaciência ou conhecimento
insuficiente sobre o grupo, podem se sobrepor à nossa confiança
nele.
Há contudo, um motivo que se destaca, e por isso exige a nossa
permanente atenção = o personalismo.
Este é decorrente da fé desproporcional em nós mesmos, e do
valor que atribuímos à nossa capacidade de solucionar problemas
ao nosso ver ainda não resolvidos pelo grupo.
Estar atento a estes motivos pessoais e colaborar para que o grupo
também os perceba, decidindo com maturidade o momento de
mudar e o de conservar, é tarefa contínua de todos.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Dezembro 2007 – Ano 42 nº 394

À primeira vista este preceito dá a idéias de que não deve haver


mudanças. É importante observar que todo trabalho ao longo do
tempo vai sofrendo adaptações, acertos e ajustes em função das
experiências consecutivas pelas quais passa. Havendo esforços,
cada vez se torna mais completo e complexo. Portanto tem
história, tem razões que muitas vezes não são percebidas no
primeiro contato. Para mudar é preciso conhecer e praticar o que
é como está estabelecido, só assim é possível ver o que pode ser
mudado. É diferente da postura “mudar por mudar” que muitas
vezes nos envolve e dificulta a percepção que “para mudar é
preciso conhecer e praticar como está estabelecido”.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Dezembro 2007 – Ano 42 nº 394

Quando defendo uma mudança sem fundamentação adequada é


muito provável que eu esteja sendo movido apenas pela vaidade
de ser reconhecido como responsável pelo “avanço”.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Dezembro 2007 – Ano 42 nº 394

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SPV

21º Preceito: NO GRUPO MUDANÇAS ALEATÓRIAS E


CONSECUTIVAS DESESTABILIZAM.

O grupo centrado em si mesmo, à medida que se relaciona, cria


uma forma de ver, sentir, pensar e fazer. Não é gratuito; atrás
foram realizados esforços pessoais e do próprio grupo. Quanto mais
respeita suas próprias aquisições e conquistas, mas elas se tornam
facilitação e base para própria existência e existência do trabalho.
Quando não se consideram, seja por desconhecimento ou por
vivência os “porquês” do que existe e são tomadas medidas
aleatórias. O ver, sentir, pensar e agir do grupo, se desestabilizam.
É preciso ter capacidade para ver, isto é, ter aceitação e
compreensão. Também é preciso ter muita determinação e
empreender os esforços necessários para retomar a Essência que
facilmente pode estar se perdendo.
Milton / São Paulo (SP) – Boletim Janeiro 2008 – Ano 42 nº 395

O caminhar pacientemente, sem atropelos, nunca deixando de ter


uma fase experimental antes da implantação de qualquer
novidade, sempre foi um saudável hábito no CVV que promove a
segurança do grupo.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Janeiro 2008 – Ano 42 nº 395

A afirmação é uma verdade óbvia!


Mas quais são os motivos que nos levam a propor ou realizar
mudanças aleatórias e consecutivas no grupo?
Isso só ocorre, certamente, quando passamos pelas fases típicas da
imaturidade.
As mais comuns são aquelas nas quais atropelamos os sentimentos
ou os pensamentos e partimos direto para a ação.
Não usamos adequadamente os nossos recursos de pensar e sentir
para que a ação possa ser eficaz.
A nossa capacidade de ouvir, no grupo está comprometida. As
soluções estão disponíveis, mas não as percebemos e decidimos
agir aleatoriamente.
Este é o método da tentativa e erro, que utilizado
indiscriminadamente, só nos reserva decepções e frustrações em
seqüência.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Janeiro 2008 – Ano 42 nº 395

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SPV

22º Preceito: AS REGRAS SÃO IGUAIS PARA TODOS.

Sempre percebi como uma das facetas mais preciosas do CVV, a


inexistência de julgamentos subjetivos. Vale o que está escrito e é
para todos. Qualquer postura contrária significa presença da
indesejável indisciplina.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Fevereiro 2008 – Ano 42 nº 396

Regras ou normas são métodos, aceitos coletivamente, de nos


relacionar com os fatos. Estes, sendo sempre amigos, nos fazem
olhar constantemente para eles e compreendê-los, para que a
nossa ação grupal seja ordenada e eficaz.
A visão do grupo será sempre mais realista ou em outras palavras,
mais adequada à realidade dos fatos, do que a nossa percepção
individual.
Aceitar isso exige desprendimento e respeito pelo grupo ou
disciplina.
Enquanto as normas não mudarem, elas permanecerão válidas
como estão, para todos.
Por outro lado, o grupo caminha para a maturidade e a eficácia
quando cada um de nós tivermos a coragem de comunicar qual é a
nossa percepção. É o que denominamos criatividade e confiança na
tendência atualizadora inerente ao grupo e a cada um de nós.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – – Boletim Fevereiro 2008 – Ano 42 nº 396

23º Preceito: NINGUÉM FISCALIZA O TRABALHO INDIVIDUAL DOS


VOLUNTÁRIOS. EXISTE A CONFIANÇA QUE CADA UM ESTEJA
FAZENDO O MELHOR.

Todas as nossas atividades, como voluntários e como grupos, são


planejadas a longo prazo, através dos Cursos e seus Manuais.
Não somos fiscalizados, mas realizamos continuamente auto-
avaliações individuais e grupais.
Nossa visão de futuro e nossos valores nos guiam nesse processo,
que é eficaz, mas precisa ser continuamente aperfeiçoado.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Março 2008 – Ano 42 nº 397

A liberdade que tenho ao fazer meu plantão é total, limitada


apenas pela consciência que devo ter das minhas posturas.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Março 2008 – Ano 42 nº 397

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SPV

24º Preceito: TODOS OS PLANTONISTAS SÃO VOLUNTÁRIOS.

O fato de o nosso trabalho ser totalmente voluntário é um trunfo


cujo valor nem sempre nos damos conta. Como porta-voz pude
sentir inúmeras vezes a admiração expressa por aqueles que até
então não conheciam todas as facetas das nossas atividades.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Abril 2008 – Ano 42 nº 398

Somos voluntários desta organização porque nossos valores e nossa


visão de futuro são comuns, e concordamos com a forma de
alcançá-los: através da missão que definimos em conjunto.

Esta identidade de propósito e meios nos aproxima e nos mantém


unidos, mesmo quando motivos pessoais nos afastam do trabalho.
São princípios éticos e morais que trazemos conosco antes mesmo
de conhecermos o CVV, e que após conhecê-lo, fortaleceram-se e
transformaram-se em habilidades concretas tornando-nos pessoas
úteis e atuantes na sociedade.
Esta é a nossa única recompensa como voluntários do CVV, e por si
só ela nos satisfaz plenamente.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Abril 2008 – Ano 42 nº 398

25º Preceito: É POSSÍVEL SER UM PARTICIPANTE SEM CARGO, MAS


SEMPRE COM ALGUM ENCARGO.

Título, nomenclatura, estar no organograma, são coisas


absolutamente sem valor dentro do CVV, bem como estar ou não
em um cargo. O importante é participar em alguma das inúmeras
tarefas que precisam ser executadas.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Junho 2008 – Ano 42 nº 400

Uma das características diferenciais do CVV em relação à maioria


das ONGs é que não dispomos de funcionários contratados.
As atividades são executadas por nós próprios, voluntários, que
compartilhamos valores, visão e missão. O cargo é contingência, a
participação, essencial, para que nossa missão seja plenamente
realizada.
Alan / Ribeirão Preto (SP) São Paulo (SP) – Boletim Junho 2008 – Ano 42 nº 400

28
SPV

26º Preceito: É MAIS EFICIENTE ESTUDAR E PROGRAMAR EM


GRUPOS PEQUENOS.

O pequeno grupo é acolhedor e caloroso. Mesmo quando


precisamos desabafar e nos descontrair, há espaço para isso.
Esse clima favorece a criatividade e nos sentimos mais
comprometidos com a nossa missão comum.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Julho 2008 – Ano 43 nº 401

27º Preceito: OS PLANOS DE AÇÃO TÊM QUE SER ATRIBUÍDOS A


PESSOAS OU GRUPOS DE TRABALHO, MAS COBRADOS SÓ DE UMA
PESSOA.

Quando participamos de um grupo sentimos a necessidade de


alguém que faça a interlocução com os demais grupos. Essa tarefa
não é jamais percebida como cobrança quando estamos
comprometidos numa missão comum. Percebemos como
intercâmbio necessário ao nosso crescimento e auto-realização.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Agosto 2008 – Ano 42 nº 402

Esse preceito comprova a necessidade da integração do grupo na


realização dos projetos – característica do trabalho voluntário. Se
o espírito de colaboração não se fizer presente, o sucesso do
trabalho como um todo estará prejudicado. É fundamental que o
responsável pelo trabalho, do qual serão cobrados resultados,
sinta-se apoiado pelo grupo.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Agosto 2008 – Ano 42 nº 402

29
SPV

28º Preceito: QUEM DÁ A IDÉIA É ALGUÉM QUE TEM O POTENCIAL


DE FAZER MAIS E MELHOR.

Conviver em grupo no CVV é uma experiência que raramente


encontramos tão valiosa noutro ambiente.
Mesmo quando nosso personalismo se manifesta, há uma
predisposição do gruo em aceitar-nos. É neste clima que a força
realizadora pode manifestar-se plenamente.
Habilidades que nunca aceitamos em nós mesmos podem ser
exercitadas, sem receio de fracasso e da perda da auto-estima do
grupo.
Nossa contribuição pode ir além das idéias, críticas e sugestões, e
transformar-se em ação concreta.
Cada oportunidade dessas beneficia principalmente a nós próprios,
pois passamos a conhecer melhor as nossas capacidades e nos
sentimos realizados.
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Boletim Setembro 2008 – Ano 43 nº 403

Esta foi sempre uma eficiente tônica do CVV, pois exige que as
sugestões sejam adequadamente filtradas por aqueles que as
propõem.
Mondim / Jabaquara – São Paulo (SP) – Boletim Setembro 2008 – Ano 43 nº 403

Você sabe tomar decisões? Este é o título de uma reportagem


assinada pelo filósofo Juvenal Savian Filho, tratando de razões
éticas e filosóficas. Diz ele “ao fazermos escolhas, lidamos com
nossas concepções de mundo, da vida humana, das relações sociais
e dos costumes”.
Há ainda a questão das regras e normas a serem seguidas quando
tratam de inter-relações pessoais. Não devemos tomar decisões
que afetem o grupo, sem atentarmos para o bom funcionamento
das regras e normas estabelecidas pelo próprio grupo.
Não é fácil emitir decisões coerentes sem a comunicabilidade que
deve existir numa relação grupal, porque envolve conceitos
complexos nas escolhas humanas, visto que há uma grande
diversidade de opiniões.
Eis algumas sugestões para a nossa reflexão:
O que nos leva a fazer o bem?
As ações têm valor, em si mesmas?
Por que seguir regras e normas?
Qual o alcance de decisões grupais?
A comunicação é importante? Por quê?

30
SPV
O que nos permite considerar errada a maneira de
pensar do outro?
Responder a todas essas questões é complicado, pois isso implica
em respostas muito diferentes. Servirá apenas como reflexão.
Assim, apenas uma indagação será respondida: a comunicabilidade
é essencial nas decisões e deve ser realizada de acordo com os
costumes ou necessidades do grupo social ao qual pertencemos.
Ela nos permitirá, por meio do diálogo, entender as razões do
outro.
Parece que, inconscientemente, nós seres humanos, nos regemos
por um antigo aforismo do filósofo George Lichtengerg: “Somente
nos dispomos de quatro princípios de moral”:
1 – O filosófico: fazer o bem pelo bem mesmo, por respeito à lei.
2 – O religioso: fazer porque é a vontade de Deus, por amor a
Deus.
3 – O Humano: fazer porque teu bem- estar o requer, por amor
próprio.
4 – O Político: fazer porque demanda a prosperidade da sociedade
e de suas partes, por amor à sociedade e por consideração a ti.
Para nós, cevevianos, o item quatro é o mais coerente com nossas
atividades. Eis o que diz o filósofo Juvenal Savian Filho: “Assim as
decisões deveriam transparecer a valorização da vida humana, sob
qualquer forma e em qualquer circunstância”.
Mayda / Recife (PE) – Boletim Abril 2009 – Ano 43 nº 410

29º Preceito: PARA FAZER BEM É PRECISO ORGANIZAR.

O principio básico das realizações de forma satisfatória, em


qualquer setor de nossas existências, só se concretiza com
coerência, trabalho e disciplina.
E para tal, o caminho indicado é o da organização, da persistência
e do querer fazer com a consciência da aplicação da ética, em
todas as situações.
Não se arma um quebra-cabeça, nem se encontra a saída de um
labirinto sem perseverança. E persistir exige amor, dedicação,
crença no que se faz e no que se diz.
Sem desvelo há a natural tendência a se querer fugir da
responsabilidade, em se cumprir bem o que se deve realizar. E
dessa forma, o quebra-cabeça e o labirinto impostos pela
desorganização dos incautos permanecerão indecifráveis, confusos,
sem razão de ser. No entanto, poderão estar guardando a pérola
que define a importância do existir de uma instituição e o sentido
maior do que poderá representar o ato de viver.
Bartyra / Refice (PE) – Boletim Outubro 2008 – Ano 43 nº 404

31
SPV

30º Preceito: PARA REALIZAR UM PLANO DE AÇÃO É PRECISO TER


CONTROLES, COBRANÇAS E COOPERAÇÃO.

Para qualquer plano de ação é necessário traçar metas. Para essas


metas serem alcançadas é preciso a cooperação de todos
envolvidos no Plano e, como conseqüência, vem às cobranças que
devem sempre ter um sentido de objetividade e equilíbrio.
Bernadete / Campina Grande (PB) – Boletim Janeiro 2009 – Ano 43 nº 407

31º Preceito: OS “MAIS VELHOS”, AQUELES QUE ASSUMEM E


TESTEMUNHAM SÃO OS QUE COORDENAM.
Quando chegamos no trabalho ceveviano encontramos algo que
almejamos há muito. No dia a dia do plantão nos colocamos em
contato com aquele que busca apoio emocional. À medida que
permanecemos, a vivência e o desejo de colaborar, contribuem
para que assumamos tarefas, “frentes” e coordenações, fazendo o
trabalho acontecer.
Mayda / Recife (PE) - Boletim Junho 2009 – Ano 43 nº 412

32º Preceito: OS “MAIS VELHOS” SÃO AQUELES QUE ASSUMEM


TRABALHO E ENCARGOS E PRATICAM ESSES PRINCÍPIOS.
São características dos “mais velhos” a integração ativa, a
valorização da integração de outros que contribuam com suas
características pessoais enriquecendo e ampliando possibilidades
da coordenação e desenvolvimento de tarefas, na busca do
aperfeiçoamento contínuo e da prática da proposta de vida.
Adriana / Coordenação Nacional - Boletim Julho 2009 – Ano 44 nº 413

33º Preceito: O COORDENADOR DE GRUPO, POSTO OU REGIONAL,


REPRESENTA E FACILITA O GRUPO E TEM SEU VOTO DE
CONFIANÇA, ASSIM PODE COBRAR E SER COBRADO.
O Coordenador de Grupo, Posto ou Regional deve primar por obter
a confiança dos voluntários para representá-los quando necessário,
facilitando o trabalho de cada um, levando as dúvidas, problemas
e discordâncias que surgirem a fim de serem discutidas e
encontradas soluções viáveis, em reuniões apropriadas para esta

32
SPV
finalidade. Se o Plano de Ação for desenvolvido nessa
ordem, então, ele terá como cobrar e ser cobrado.
Bernadete / Campina Grande (PB) - Boletim Agosto 2009 – Ano 44 nº 414

34º Preceito: O COORDENADOR NÃO PODE SER TEÓRICO,


INATIVO OU INDIFERENTE.
A partir do momento que ele aceita a coordenação de um grupo,
ele não poderá ser acomodado, devendo ser ativo, participativo e
principalmente criativo.
Bernadete / Campina Grande (PB) - Boletim Setembro 2009 – Ano 44 nº 415

35º Preceito: O PERSONALISMO, A POLITICAGEM E O MELINDRE


GERAM BRIGAS, RUPTURAS E SEPARAÇÕES E MINAM COM O
TRABALHO E NÃO PODEM SER ACEITOS INTERNAMENTE (NÃO HÁ
REGISTROS DE BRIGA ENTRE OS “MAIS VELHOS”).

O ideal é mais importante que o personalismo. Quando escolhemos


valorizar a vida, escolhemos sair da zona de conforto e lutar com
as características que temos e queremos ver modificadas ou
valorizadas. Nessa luta, encontramos companheiros e se não
estamos prontos é porque o ideal não está suficientemente
arraigado em nós. O trabalho nos dá a oportunidade de
compreender e agir. Se agirmos como sempre agimos; ou seja, sem
buscarmos o caminho da transformação, estamos dando asas ao
personalismo. Em busca da compreensão de nós mesmos e
dispostos à mudança, estaremos propondo-nos novas formas de
ação pautadas na proposta de vida. E dispostos à mudança,
estaremos propondo-nos novas formas de ação.
Adriana / Coordenação Nacional - Boletim Outubro 2009 – Ano 44 nº 416

À medida que nos envolvemos com o programa e as atividades do


CVV, percebemos que, quando acreditamos na proposta,
verdadeiramente o que mais importa é que o trabalho seja
desenvolvido, que ele funcione seguindo os princípios, diretrizes,
condutas e hábitos que incentivam a solidariedade, com doação de
calor humano e a disponibilidade para quem nos procura. Isso é o
que nos une como voluntários do CVV: o fato de termos esses
mesmos desejos.
O que nos distingue como pessoas, nossa formação, costumes,
conceitos, preconceitos, habilidades e dificuldades importam e
podem ser muito úteis ao funcionamento do CVV, mas não podem
ultrapassar os limites dos motivos que nos unem.
Diferenças de pensamentos, possibilidades de discussões para a
troca de idéias devem ser um motor, um impulso para o
crescimento do trabalho e dos voluntários, pois se há divisão do

33
SPV
grupo, em algum momento, alguns de nós perdemos o
foco e o motivo da nossa união.
Normalmente quando isso acontece deixamos que nossa “bagagem
pessoal” seja mais importante, de alguma maneira, que o ideal do
CVV.
Adriana / Araraquara (SP) - Boletim Novembro 2009 – Ano 44 nº 417

36º Preceito: O VOLUNTÁRIO QUE AGIU DE MÁ FÉ NÃO ESTÁ EM


CONDIÇÕES DE CONTINUAR.

Agir de má fé pode acontecer de várias maneiras, mas em geral


todas elas levam o voluntário
a utilizar objetos, posturas ou situações a seu favor, ou de forma
que tragam benefício próprio.
Isso implica, na maioria das vezes, termos posturas inadequadas
para o CVV, pois foge do intuito
e propósito que se espera dos voluntários que têm por princípio a
doação.
Se o objetivo do voluntário não for a benevolência, a doação e a
solidariedade, dificilmente
ele estará pronto para o CVV no momento e raramente estará
disponível para o autoconhecimento e para participar de um
trabalho em desenvolvimento.
Adriana / Araraquara (SP) – Boletim do CVV Janeiro 2010 – Ano 44 – nº 419

O trabalho voluntário está relacionado à boa-fé, às boas práticas e


às boas ações.
Quem age de má-fé, age pensando em seu próprio benefício.
Comporta-se contrariamente ao princípio que faz o voluntário vir e
permanecer no trabalho que é valorizar o outro em primeiro lugar.
Adriana / Coordenação Nacional - Boletim do CVV Fevereiro 2010 – Ano 44 – nº 420

37º Preceito: NO TRABALHO VOLUNTÁRIO NÃO SE AGRADECE


NEM SE PAGA AO VOLUNTÁRIO PELA SUA PARTICIPAÇÃO OU
PELO QUE FAZ. A OPORTUNIDADE DO TRABALHO É O
RECONHECIMENTO E O PRÓPRIO PAGAMENTO.

Fazer voluntariamente é fazer por querer, a escolha pela


participação neste ou naquele trabalho obedece a razões pessoais
e o ganho, a satisfação são íntimos.
Adriana / Coordenação Nacional - Boletim do CVV Março 2010 – Ano 44 – nº 421

34
SPV

ESPÍRITO SAMARITANO: ONTEM, HOJE E AMANHÃ

QUEM SÃO OS MAIS VELHOS NO CVV

31º Preceito - Os “mais velhos”, aqueles que assumem e


testemunham, são os que coordenam.

32º Preceito - Os “mais velhos” são aqueles que assumem trabalho


e encargos e praticam esses princípios.

35º Preceito - O personalismo, a politicagem e o melindre geram


brigas, rupturas e separações e minam com o trabalho e não
podem ser aceitos internamente (não há registro de brigas entre os
mais velhos).

Para compreendermos esses preceitos precisamos, primeiro, saber quem


são os “mais velhos” no CVV.
Os mais velhos não são os que estão no trabalho há mais tempo, mas
aqueles que absorveram a filosofia ou parte dela, não importando o tempo
que estão no CVV, portanto, já são capazes de compreender, aceitar,
respeitar e confiar neles mesmos e nos companheiros. Eles assumiram a
filosofia e dão testemunho dela por meio de suas posturas e atitudes que
são condizentes com os princípios cevevianos.
À medida que vamos envelhecendo no trabalho, vamos percebendo suas
necessidades e isso nos leva a assumir atribuições e encargos com a
finalidade de suprir tais carências para que o CVV permaneça ativo. Vamos
deixando de ser personalistas, passando a acreditar no grupo e a querer o
seu bem. Não devemos exercer politicagem por percebermos que isso
enfraquece o grupo. É importante deixarmos de ser melindrosos e
trabalharmos o nosso orgulho para passarmos a ser humildes o suficiente
para notarmos que o CVV não é só nosso, mas de todos os que dele fazem
parte e que todos têm a mesma importância para o trabalho.
Como os mais velhos já compreendem, respeitam e aceitam o Programa da
forma como ele é, são mais tolerantes e ponderados, não brigando entre si
nem com os mais novos. Como também confiam em si e nos outros, sabem
que todos caminham para o mesmo amadurecimento e aprendizagem.
Para que saibamos qual a nossa idade no CVV podemos refletir no exercício
de Vida Plena: Qual a minha idade ceveviana? Já sou capaz de dar
testemunho da filosofia do CVV por meio de posturas confiantes? Ainda
tenho dificuldade para compreender algumas coisas? Quais? E para aceitar
outras? Quais? E para respeitar os companheiros e a Outra Pessoa? Já sou
capaz de confiar em mim e no grupo?

Thelma / Ribeirão Preto (SP) – Boletim do CVV Dezembro 2009 – Ano 44 – nº 418

35
SPV

Vida Plena: abertura aos fatos

Segundo Jacques Conchon, um dos fundadores do Centro de Valorização da


Vida, cada indivíduo traça um ideal do que seria viver plenamente para ele e,
a partir dele, sai em busca de concretizá-lo, mas, as intempéries da
existência fazem com que ela sempre tenha que modificar esse ideal porque
não é possível ser obtido. Ele explica que isso leva ao aprendizado de que a
“Vida Plena” consiste no processo de se aperfeiçoar e não de obter um estado
de perfeição ideal e que as pessoas que resistem a essa dinâmica natural da
vida, tornam-se defensivas e aquelas que acompanham o fluxo, tornam-se
abertas a suas próprias experiências. Nesse sentido, ele define a vida plena
como o processo de sair do homem animal, que precisa se defender de tudo e
de todos, para o homem espiritual, que está aberto às experiências as quais
brotam do seu mundo interno e do mundo externo. Nas suas próprias palavras
é dito:
“Num extremo desta rota se pode identificar o homem animal, defensivo,
fechado aos outros, sem auto-reformulação; num estágio seguinte
identificamos o homem espiritual, voltado para os que o rodeiam, totalmente
aberto à auto-reformulação intensa e constante. Certamente existem outros
estágios em seqüência”.
Descrevendo o estado defensivo, diz que nele as pessoas são conduzidas pelos
instintos e não pela razão e isso, geralmente, leva a atitudes preconceituosas
e de rejeição aos fatos da realidade e às pessoas, antes mesmo de conhecê-
los e saber se são ameaçadores ou não. Quanto ao estado de abertura,
comenta que ele revela que os fatos são sempre amigos porque mostram as
coisas como realmente são, o que elimina os preconceitos, as ilusões e dá
segurança interior. Acrescenta também que, nesse estado, há maior
tranqüilidade porque a pessoa não se sente constantemente ameaçada e pode
estar sempre revisando e questionando seus conceitos a respeito de si mesma,
dos outros e da realidade, buscando torná-los mais próximos do que
realmente são as coisas. Sobre o processo de saída do estado defensivo para o
estado de abertura afirma:
“A pessoa defensiva não consegue ter uma visão nítida da realidade; tem
muitas opções, nem todas podem ser executadas, e muitas causarão
decepções e desilusões. Na medida em que vamos nos abrindo, vamos re-
duzindo nossa manipulação dos fatos, não os distorcendo para poderem serem
encaixados em nossos padrões preconcebidos. O uso da razão pode acelerar
esse processo. Com a vontade racionalmente direcionada, aprendemos a
discernir e localizar melhor nossos defeitos. Discernindo passamos a assumir
maior responsabilidade pelos próprios atos. Passando a aceitar a vida como
ela é, reduzimos a quantidade de opções que pensamos ter, para passarmos a
ter somente as possíveis de serem feitas. Assim desenvolvemos a criatividade
em grau superlativo e a vida passa a fluir intensamente, deixando-se conduzir
pelo seu curso natural, caminhando para que tudo flua harmoniosamente.
Permitindo que a vida possa fluir intensamente desenvolvemos em grau
superlativo as nossas qualidades e o nosso potencial, os quais crescem como
nunca”.
Resenha da Dissertação de Mestrado
André Barreto Prudente / FFCLRP-USP

36
SPV
Alan / Ribeirão Preto (SP) – Janeiro 2009 – Ano 43 nº 407

DE OLHO NA NOTÍCIA

O exercício de vida plena

Conforme relata Jacques Conchon, esse exercício consiste na


verbalização dos sentimentos que estão associados às experiências que
a pessoa escondeu por traz das máscaras por não aceitá-las. Esse tipo
de verbalização é um ato de compartilhar, fundamental para o processo
de transformação da pessoa rumo à auto-aceitação que leva à “Vida
Plena”. Nas suas palavras é dito:

“Consiste em uma reunião de Grupo em clima totalmente descontraído.


Alguém inicia o exercício espontaneamente tecendo comentá-rios sobre
seus próprios comportamentos defensivos frente a um certo sentimento.
Todos somos diferentes do que julgamos ser, e por isso, convém que
cada pessoa esclareça como gostaria de se comportar, ou seja, como
acha que deve ser o correto desse comportamento, mas é indispensável
ser autêntico. Normalmente as pessoas dizem sem receios, certas coisas
que ainda não estão muito claras, pois é assim mesmo que nos auto-
exploramos. Expondo-nos publicamente descobrimos em nós mesmos
coisas que geralmente não somos capazes de perceber quando estamos
sós”.

Para Flávio Focássio, um dos fundadores do Centro de Valorização da


Vida, no artigo “Vida Plena: o desafio permanente”, do Boletim n° 245
de julho de 1995, os exercícios de “Vida Plena” devem ser encarados
pelos plantonistas do CVV como um “desafio”, como um trabalho a ser
realizado com empenho e não como mera formalidade, porque eles são
oportunidades de torná-los transparentes para si mesmos. Já o
voluntário Sérgio, do CVV Franca (SP) no artigo “Para onde nos leva o
exercício de Vida Plena” do boletim n° 309 de novembro de 2000,
descreve os resultados positivos que a realização desses exercícios
geram nos plantonistas:
1) aumenta seu autoconhecimento;
2) tornam-nos mais pró-ativos (mais capazes de escolher respostas
adequadas às situações);
3) fazem-nos deixar de culpar os outros pelas próprias reações, porque
percebem que são as únicas pessoas responsáveis pelo que sentem;
4) levam-nos a agir harmoniosamente;
5) fazem-nos deixar de ser uma vítima ou acusador para sermos respon-
sáveis pelas próprias ações.
Resenha da Dissertação de Mestrado
André Barreto Prudente
FFCLRP-USP
Alan / Ribeirão Preto (SP) - DE OLHO NA NOTÍCIA - Boletim Fevereiro 2009 – Ano 43 nº 408

37
SPV

DE OLHO NA NOTÍCIA - Boletim Março 2009 – Ano 43 nº 409

Vida Plena e disponibilidade

Por fim, o exercício de Vida Plena e a busca dos plantonistas por


este processo estão fortemente vinculados ao ideal básico do CVV: estar
disponível para ajudar as pessoas desesperadas e angustiadas que
procuram os postos. O objetivo primordial do crescimento interior do
voluntário não é ser consciente de si mesmo para, simplesmente, viver
sua vida melhor, mas sim tranformar-se para aumentar sua
disponibilidade e sua capacidade de auxílio. Em outras palavras, dentro
do CVV, deve-se focar sempre as pessoas ajudadas e não a pessoa do
plantonista. Por isso, no artigo Cego guiando cegos, do exemplar n° 193
do Boletim do CVV (de Junho de 1990), é apresentada a Mensagem da
Regional Nordeste no XI CN, que diz o seguinte sobre os exercícios de
Vida Plena:
“Esse exercício proporciona ao voluntário a oportunidade de se
autoconhecer, de descobrir seus defeitos, seu ego. Mas o seu objetivo
maior é não satisfazer esse ego ou tornar o voluntário o centro dos
trabalhos; é provocar, estimular o seu esforço por mudar, corrigir o que
descobriu imperfeito. E toda essa busca tem como objetivo oferecer o
melhor de nós àqueles que nos vão procurar; porque o enfoque, o
centro do trabalho do CVV, ainda é a outra pessoa”.
Ressaltando também essa importância da Vida Plena, o voluntário
Luiz, do CVV São José dos Campos (SP), no artigo Vida Plena – meditar
do Boletim nº 206 de setembro de 1991, afirma que o estado de
honestidade consigo mesmo, que a vida plena possibilita, ajuda o
plantonista do CVV a diminuir suas ansiedades e lhe desperta paz,
ânimo e alegria interior, que produzem vibração, energia e estímulo
para as pessoas que o procuram. Com isso, quer dizer que a vida plena
auxilia na caminhada diária do voluntário do CVV rumo a uma maior
aceitação das pessoas como elas são em cada momento. Ele explica:
A nossa sociedade de hoje precisa de pessoas que tenham condições de
aceitar as pessoas como são e no CVV, a proposta é caminharmos para a
aceitação incondicional do outro e de nós mesmos, conhecendo-nos.
O Manual do Voluntário do CVV (MV), comenta que viver plenamente
consiste em aprender a ouvir a si mesmo, para, em seguida, guiar-se
pelo que está ouvindo e poder viver melhor para si próprio e também
para aqueles que o rodeiam. Nesse sentido é dito: Esse trabalho de
identificação de nossas barreiras, defesas, ou preconceitos, esse
processo de entrar em comunicação com o que somos realmente, ou de
ouvir o nosso interior, é parte fundamental da nossa preparação como
voluntários do CVV.
Resenha da dissertação de mestrado
André Barreto Prudente / FFCLRP-USP
Alan / Ribeirão Preto (SP)

38
SPV

Samaritano

O processo de Vida Plena, estimulado pelo seu exercício, ajuda o plantonista a


abandonar suas máscaras e preconceitos, aumentando sua disponibilidade para
realizar as atividades do CVV e, principalmente, para ajudar as pessoas que o
procuram. Esse estado de disposição altruística é reflexo da busca do voluntário de
ser samaritano; ou seja, de colocar em prática o que o CVV denomina Princípio
Samaritano: socorrer, estendendo as mãos para quem precisa, sem fazer perguntas,
sem curiosidade, apenas ouvindo. Por isso, o voluntário Walter, do CVV Pinheiros
(São Paulo-SP) no artigo O que é ser ceveviano, do Boletim n° 162 de novembro de
1987, diz: “O verdadeiro samaritano é aquele que socorre o caído do cami-nho, sem
olhar quem é, qual sua posição social, seu credo religioso ou sua cor. É aquele que
faz o trabalho sem ser mandado e que não espera agradecimentos no final, é aquele
que recomeça uma obra se assim se fizer necessário, é aquele que fica disponível
quando for preciso. O verdadeiro samaritano é mais do que isso, é aquele que é
samaritano 24 horas do dia, dentro e fora do CVV, em casa, no trabalho, no trânsito,
sempre. É aquele que doa grande parte de sua vida aos mais necessitados, sem
esperar ter tempo ou dinheiro para isso”.
Nesse mesmo sentido, Flávio Focássio, um dos fundadores do Centro de Valorização
da Vida, no artigo Fraternidade, do Boletim n° 267, de maio de 1997, afirma: “Se nós
tivermos como lema: 1° lugar o próximo, em 2° lugar o próximo, em 3°, o próximo,
em 4° lugar o próximo, nós estaremos fazendo um bom trabalho. Este próximo não é
só o indivíduo que bate no CVV pedindo ajuda, é, por exemplo, o plantonista, que
também é o nosso próximo e precisa de nosso entendimento. Então, sublimar as
nossas deficiências em favor do trabalho é o grande esforço que nós vamos ter que
realizar”.
Ainda, no artigo A Parábola do Bom Samaritano no contexto do Séc. XX, do exemplar
nº. 264 do Boletim do CVV, de fevereiro de 1997, é comentado: “Para o samaritano
do século XX não deve haver qualquer restrição para com aquele que está
necessitado. Seu cartão de visitas, seu „título de atendimento‟, é simplesmente o
fato de sentir-se necessitado e de procurar, no CVV, quem o atenda. Basta que ele se
coloque de alguma maneira clara „na estrada‟ de nossa vida. É o suficiente para que
tenha direito ao nosso apoio total, cheio de amor, de respeito por sua vida, sem
envolvimentos e sem restrições a uma doação tão amorosa quanto desinteressada.”
Para os voluntários do CVV, ser samaritano significa ser capaz de estabelecer uma re-
lação de amizade e amor com as pessoas que os procuram. No artigo Amor, Amizade
e Relação de Ajuda, do exemplar nº. 251 do Boletim do CVV, edição de janeiro de
1996, assinado pelo CVV Santos-SP, é dito que tanto a amizade quanto o amor têm,
em qualquer circunstância, um sentido de doação em que o outro é o principal alvo
de interesse; ou seja, o bem do outro é procurado antes do bem daquele que doa a
amizade. Nele, é explicado que a atividade do plantonista do CVV situa-se nesse
campo porque a amizade que ele oferece é a de quem deseja eminentemente o bem
do outro em todos os sentidos, incluindo o bem fundamental de sua independência e
autonomia. Por isso, é afirmado: “Isso quer dizer que a amizade que oferecemos não
é a amizade comum de que as pessoas habitualmente falam. É um tipo de amizade
específica que não espera retorno. É gratuita, absolutamente gratuita, e transitória,
o que não a torna menos autêntica, porque, naquele momento em que atendemos
alguém no plantão, estamos dispostos a lhe dar, como foi dito, o me-lhor de nossa
atenção e de nosso carinho, sendo que tudo termina quando se encerra o encontro
das duas pessoas no plantão. Isso não quer dizer que ela não possa voltar outras
vezes. Ela voltará quantas vezes quiser e a cada momento se estabelecerá a relação
de ajuda”.
Resenha da dissertação de mestrado / André Barreto Prudente / FFCLRP-USP
Alan / Ribeirão Preto (SP) - Boletim do CVV – Abril 2009 – Ano 43 – nº 410

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SPV

RECICLANDO – Boletim do CVV – Junho 2009 – Ano 43 nº 412

Vida Plena: A consciência de que somos diferentes

O exercício de Vida Plena é o processo de busca de abertura às nossas


experiências, levando-nos a identificar e/ou derrubar nessa caminhada
nossos estados defensivos (defesas = preconceitos, generalizações, não-
aceitação dos fatos ou distorções, projeções, rejeições).
Nossas defesas contra a realidade são construídas para nos
distanciarmos dela, com medo de perdas ou de sofrimento.
Esse afastamento das experiências procedentes das diversas situações
da vida traz, como consequência, a perda da oportunidade de
aprendermos a viver melhor e mais plenamente, havendo a obstrução
do autoconhecimento.
O exercício de Vida Plena consiste, então, em aprender a “ouvir a nós
mesmos” e nos guiarmos pelo que estamos ouvindo. É uma oportunidade
de autoavaliação de cada voluntário - com o apoio do grupo, ouvindo e
aceitando -, tendo como objetivo principal aperfeiçoarmos a nossa
capacidade de prestação de ajuda. O exercício de VP existe para criar
condições para que cada voluntário identifique e aceite as suas
características pessoais que possam prejudicar a sua aproximação com a
outra pessoa e com os companheiros.
Neste esforço vamos percebendo como os fatos da vida são amigos, e
não mais ameaçadores. Começamos a nos perguntar: “O que pode ser
mudado?” “Eu posso mudar a mim mesmo!”
Nossos exercícios de Vida Plena têm este objetivo: fazer com que
identifiquemos em nós todas as possíveis barreiras que criamos para a
livre expressão da outra pessoa, de forma a melhorarmos a relação de
ajuda que pretendemos realizar. Portanto, esse exercício não é uma
terapia grupal, e tampouco podemos imaginar que se resuma a um
desabafo.
Se o exercício de Vivência de Papéis é o treinamento para os nossos
apoios realizados numa experiência emocional, apoiada por um
companheiro do grupo e com a observação dos demais, o exercício de
Vida Plena é o treinamento de nossas habilidades e a prática do
incentivo à boa comunicação interpessoal através do autoconhecimento.
E isso nos dá a oportunidade de assumirmos nossos sentimentos,
pensamentos e ações, como pertencentes a nós mesmos. Permite-nos
clarear a realidade de que o outro tem o direito de sentir, pensar e agir
de forma diversa, porque ele é único e diferente.
Sérgio / Franca (SP)

40
SPV

EDITORIAL – Boletim Fevereiro 2009 – Ano 43 nº 408

Em que momento estamos?

É possível que planejar parta de não estarmos satisfeitos com a nossa


atual situação, em vista do que queremos ver como realidade em nosso
futuro (a nossa Visão). Ou seja, planejamos o que precisamos fazer
melhor do que estamos fazendo para atingirmos nossos objetivos e
metas.
Partindo daí, o primeiro passo é verificarmos o porquê desse
sentimento, levantando as nossas debilidades, os problemas que nos
fazem sentir mal.
Mas não há só pro-blemas, há outras características que precisamos
consi-derar: nossos pontos fortes (forças), o que vem de fora da nossa
instituição e pode ser ruim (ameaças) e o que vem de fora e pode ser
bom (oportunidades). Sobre o que vem de fora, não temos poder de
mudança. Sobre o que vem de dentro (debilidades e forças), temos. Eis
o FDOA!
Já sabemos aonde queremos chegar? Se possuímos Missão, Visão e
Valores podemos ir diretamente aos objetivos (o que queremos) e traçar
(quanto/em quanto tempo queremos), estratégias (como), responsáveis
(quem) e prazo (quando) que queremos ver os resultados atingidos. Isso
é planejar!
Para que dê certo tudo o que combinamos, e está no documento do
Planejamento que elaboramos, é preciso da prática. Pôr para
acontecer, trabalhar, realizar (Planos de Ação).
Trabalhamos! Será que deu tudo certo? Como saber? Verificando os
resultados. Atingimos os Objetivos, as Metas?
Resposta 1: Não.
O que é preciso? Corrigir as metas? Desistir dos objetivos?
Não! É preciso revisar os Planos. Fazer o check list. Rever as es-
tratégias, se as ações foram mesmo realizadas e se foram, se são
suficientes para atingirmos o que esperamos. Se não foram realizadas,
por que não foram?
Resposta 2: Sim.
Este é outro momento no qual é possível planejar. Aqui já não estamos
vivendo um momento de insatisfação. Partimos do dever cumprido para
a busca do crescimento e do aperfeiçoamento contínuo. Organizados
sentimentos e pensamentos para que nossas ações sejam facilitadas e
desta forma ampliadas as nossas possibilidades de realização. Devemos
buscar novas metas, melhorando continuamente, cada vez mais perto
de alcançarmos a nossa visão de futuro transformar-se em realidade.
Em que fase nós estamos?
Coordenação / Grupo Executivo Nacional
coordenacaogen@cvv.org.br

41
SPV

EDITORIAL – Boletim Março 2009 – Ano 43 nº 409

Conselho Nacional

Brevemente, na Páscoa, será realizado o Conselho Nacional (CN), em


Ribeirão Pires (SP). Trata-se de um grande encontro com a presença de
coordenadores e vices de postos, regionais, comissões nacionais,
coordenação nacional do CVV e do Conselho Diretor do Centro de
Valorização da Vida. Isso significa que todos os voluntários estarão
representados, pois seus porta-vozes falarão em nome de cada um.
O CN é o encontro mais importante promovido pelo CVV, pois nesse
período é encerrado e reaberto o ciclo anual ceveviano. É nesse
encontro que são avaliados os caminhos percorridos, são traçadas novas
metas, tendo por base os sentimentos que impulsionam a todos na
busca dos objetivos comuns ao voluntariado, e é estabelecida a
estratégia de ação para que possam ser definidos e colocados em
prática o que os voluntários sentem e pensam.
O CVV está dentro de um processo de tornar-se entidade e no CN é
realizado o exercício de Vida Plena grupal, quando os voluntários
descobrem e avaliam suas defesas e medos, lançando-se em busca de
solucionar os desafios impulsionados pela Tendência Atualizante e
Construtiva de cada um dos participantes.
No encontro percebe-se que o CVV caminha pelo seu Ciclo da Vida. Os
cursos e seminários oferecidos permitem que todos os presentes sintam
e pensem o CVV.
Neste ano, o Seminário de Proposta de Vida (SPV) e o Seminário
Compreendendo o Suicídio (SCS) serão responsáveis pelo resgate e
fortalecimento dos sentimentos dos voluntários. Aliás, essa será a
importante tarefa dos participantes desses seminários: reavivar a fé no
potencial positivo das pessoas e na crença de que toda a vida vale a
pena.
Os participantes do Seminário de Planejamento (SP) estarão pensando
na melhor maneira de colocar o sentimento em ação. E o Seminário de
Coordenação (SC) estará ensinando a executar essa ação da melhor
maneira possível.
Assim fecha-se o ciclo:
- sentimento: Seminário de Proposta de Vida e Seminário
Compreendendo o Suicídio;
- pensamento: Seminário de Planejamento;
- ação: Seminário de Coordenação.
E, assim, inicia-se mais um ano de trabalho, todos juntos, com um só
objetivo: aprimorar para melhor servir aquela que é a razão da nossa
existência e que deve sempre ser colocada em primeiro lugar: a outra
pessoa.
Thelma / Ribeirão Preto (SP)

42
SPV

PAINEL LIVRE – Boletim do CVV – Março 2009 – Ano 43 – nº 409

Preocupações de um universitário há quase 50 anos fizeram


surgir o CVV

Em fins de junho de 1961, depois de visitar por mera curiosidade


algumas obras sociais na cidade de Franca (SP), o estudante de
Engenharia Jacques Conchon propôs aos companheiros do seu grupo
religioso a criação de um trabalho em favor dos necessitados. A ideia
foi prontamente aceita, inúmeras adesões aconteceram.
Como não tinham recursos financeiros, nem estrutura,
limitavam-se a visitar famílias pobres na região de Pedreira (Santo
Amaro), no município de São Paulo, e com elas conversavam.
Entretanto, no dia 28 de julho do mesmo ano, quando o trabalho de
visitas às famílias carentes completava um mês, Jacques recebeu das
mãos do Milton B. Jardim, um envelope contendo recortes extraídos
da revista, hoje extinta, O Mundo Ilustrado, versando sobre os
samaritanos londrinos. Nele, lia-se com a inconfundível caligrafia do
comandante Armond: “Para quem deseja servir, aqui está uma boa
oportunidade”.
Ali, começava a fase embrionária de uma entidade que incluiria
o Brasil na relação dos muitos países que vivenciam as experiências,
acrescidas das suas próprias, às dos “Os Samaritanos” de Londres.
Para que este trabalho de prevenção do suicídio progredisse, seus
idealizadores, decididos e perseverantes, contaram com o
imprescindível apoio de pessoas como Y. Shimizu, Milton B. Jardim,
Edgard Armond, Hélio, Nancy Puhlmann Di Girolamo e outros nomes.
Finalmente, depois de superarem incontáveis obstáculos,
organizarem reuniões que nem sempre aconteciam, os programadores
de um sonho, no dia 1º de março de 1962, na sede da Federação
Espírita, sob a sugestão de Alice Monteiro, viram nascer a realidade,
intitulada Campanha de Valorização da Vida, mais tarde Centro de
Valorização da Vida, mantendo-se a sigla inicial.
No início, muitos jovens integraram o trabalho num clima de elevado
entusiasmo. Ao fim de dez meses, por desinteresse, alguns foram
abandonando essas atividades. Mas era a hora de perseverar, pois o
CVV nascente requisitava dos fundadores todos os esforços. E foi
assim, à custa de muitas lutas e sacrifícios, que a instituição cresceu,
expandiu-se e hoje ocupa um lugar de destaque em todo o Brasil no
processo de valorização da vida.
Badu / Campina Grande (PB)

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SPV

Conhecer-se para melhor servir

Na apresentação do livro Terapia Centrada no Cliente - Um caminho


sem volta, de Newton Tambara e Elizabeth Freire, baseada nos
conceitos de Cal R. Rogers acerca da Abordagem Centrada na Pessoa
(ACP), estão destacados dois pontos que, trazidos para o universo
ceveviano, dizem muito para nós, voluntários: o primeiro é que
conforme eles a impossibilidade em ajudar alguns clientes não se deve
às limitações da abordagem utilizada, mas às próprias limitações em
vivenciar esta abordagem plenamente. Eles afirmam que se não é
possível ser facilitador com determinado cliente, não será acres-
centando à prática outros referenciais com suas téc-nicas possíveis. E
ainda que se não forem trabalhadas as próprias dificuldades pessoais,
nenhuma técnica tornará alguém capaz de ajudar o outro.
O segundo ponto é que, para tanto, os autores esclarecem que é
necessária uma certeza interna que não pode ser obtida apenas por
meio de treinamento ou de aquisição de informações teóricas. Dizem
eles que a vivência das atitudes facilitadoras exige uma confiança
inabalável nas forças de crescimento do cliente e na sua capacidade de
crescer com autonomia e, ainda, que esta confiança não pode ser
apenas uma hipótese, não pode ser um conceito ou uma teoria, ela
precisa ser uma certeza interna que como todo verdadeiro
conhecimento é intransferível; isto é, só se pode obtê-la por meio de
uma expansão da própria consciência.
Tirando-se desta análise o termo cliente, poderemos observá-la
perfeitamente do ponto de vista da Relação de Ajuda (RA) promovida
pelo CVV.
Nunca é demais lembrar que a ACP não se resume a respostas
compreensivas. Ela requer atitudes facilitadoras por parte de quem a
aplica. Sem estas atitudes na RA não existe a ACP.
As Respostas Com-preensivas (RC) são perfeitamente exercitáveis por
meio dos nossos Treinamentos de Papéis; já as atitudes facilitadoras
requerem uma escolha individual, uma decisão pessoal, um jeito de ser.
Elas precisam ser exercita-das diariamente e têm ligação direta com o
siste-ma de crenças e valores de cada um de nós. Sistema esse em que
deverão constar, necessariamente, como dizem os autores do livro, a
certeza interna, a fé inabalável nas forças de crescimento e na capa-
cidade de crescer com au-tonomia e que aquele que nos procura, como
todo ser vivo possui a tendência atualizante. Tudo isso só é possível por
meio da expansão da consciência, do “conhece-te a ti mesmo”, do
processo de Vida Plena, ao qual nós nos engajamos quando iniciamos
nossa caminhada dentro do CVV, ainda no Curso para Seleção de
Voluntários (CSV) ao externarmos a nossa disponibilidade para o
autoconhecimento.
Henrique / Nova Iguaçu (RJ) - RECICLANDO – Boletim do CVV Abril 2009 – Ano 43 – nº 410

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SPV

DE OLHO NA NOTÍCIA – Boletim do CVV Julho 2009 – Ano 44 – nº413

Role-playing

A disponibilidade dos plantonistas do CVV tem como objetivo


principal auxiliar melhor as pessoas que os procuram. Para realizar
essa tarefa e conseguir ser samaritano, os voluntários buscam
despir-se de suas máscaras e preconceitos por meio de um
processo de transformação pessoal denominado “Vida Plena”, o
qual é praticado através de treinamentos. Entretanto, além desse
recurso de comunicação consigo mesmo, os plantonistas do CVV
recorrem a outro exercício centrado no treinamento da
comunicação entre eles e as pessoas que os procuram: o role-
playing. Esse significa literalmente “treinamento de papéis” e sua
técnica foi incorporada às reu-niões de treinamento dessa
instituição no ano de 1976.
Desde a fundação do Centro de Valorização da Vida, os diretores e
coordenadores dessa instituição procuraram descobrir formas de
aperfeiçoar as capacidades de ajuda dos vo-luntários. O role-
playing foi o meio que mais se adequou a isso e, portanto, se
transformou na maneira oficial dos plantonistas treinarem suas
habilidades de entrevista. O voluntário Chris do CVV Jabaquara São
Paulo (SP), no artigo “Role-Playing” do Boletim nº 294 de agosto de
1999, diz algo nesse sentido: “‟Jogo de papéis‟ seria a tradução
literal do termo. Foi incorporado ao nosso trabalho nos anos 70 e
passou a ser a principal ferramenta para percebermos os pontos a
serem corrigidos nos apoios que realizamos”.
O role-playing realizado pelos participantes do CVV, acontece
basicamente assim: num grupo com aproximadamente 20 planto-
nistas, dois deles se dispõem a viver papéis, um representando a
pessoa que procurou o CVV e o outro o voluntário, e então simula-
se algum tipo de apoio típico dos plantões. Para o voluntário
Ramos, do CVV Vitória (ES), o role-playing é um exercício
indispensável para o aprimoramento do voluntário que, para
funcionar bem, depende do grau de interesse dos participantes e
dos demais elementos do grupo que o assistem.
Resenha da Dissertação de Mestrado
André Barreto Prudente
FFCLRP-USP
Alan/ Ribeirão Preto (SP)

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SPV

O role-playing e a sensibilidade do voluntário


O Manual do Voluntário do CVV, diz que role-playing significa “jogo de papéis, e que
é um exercício da relação de ajuda que implica numa vivência emocional. Ele explica
que o role-playing compreende uma “fase de aquecimento”, na qual o coordenador
do grupo (ou um plantonista indicado por ele) expressa uma vivência emocional por
meio da verbalização, expressão facial ou corporal, a partir da qual os outros
participantes tentam traduzir o significado do que ele queria dizer. Afirma também
que, após isso, o coordenador oferece a oportunidade de um plantonista viver o
papel de entrevistado, que pode ser: “a) a vivência de uma personalidade oriunda de
uma relação realmente ocorrida; b) a sua própria vivência de um problema
hipoteticamente criado; c) a sua própria vivência de um problema real que ele está
experimentando”.
O role-playing é usado também pelos voluntários do CVV como uma maneira de
treinar sua sensibilidade para captar sentimentos da fala das pessoas que os
procuram, e não como forma de compreenderem intelectualmente o que acontece
nas relações de ajuda. Por isso, o voluntário Milton Gabbai, do CVV São Paulo (SP), no
artigo “O Role-playing” do Boletim nº. 271 de setembro de 1997, comenta que “O
role-playing” é um exercício de afloramento de sentimentos, emoções e percepções
e não propriamente de pontos de vista intelectualizados. Assim, não se justificam
polêmicas ou “achismos”. Devido a esse mesmo fator, o voluntário Sérgio, do CVV
Franca (SP), no artigo “Aprendendo a Fazer o Role-Playing” do Boletim nº. 300 de
agosto de 2000, afirma:
“Não é preciso ir muito longe para verificar que este exercício tem a finalidade de
exercitar a nossa sensibilidade, e não nossa análise teórica sobre o ocorrido na
Relação de Ajuda. Assim, o role-playing deve pautar-se por um clima de percepção
de sentimentos do outro. Um companheiro vivencia uma situação, e nela debruça
suas emoções. Um outro realiza o papel de voluntário, enquanto todos os demais
participantes - e não apenas os dois - devem procurar sentir as emoções vividas no
relato e os efeitos que a presença do voluntário, suas palavras e colocações, sua
atenção, seu comportamento, causam em nós”.
Além disso, a prática do role-playing no CVV é considerada extremamente importante
porque promove o aprimoramento do plantonista em diversos fatores relacionados
com a relação de ajuda. A voluntária Marilene, do CVV Porto Alegre (RS), no artigo
“Role-playing” do Boletim nº. 66 de setembro de 1979, coloca explicitamente quais
seriam os benefícios específicos desse treinamento de papéis. Ela diz que o role-
playing possibilita:
- aptação dos plantonistas com seu grupo de trabalho;
- um melhor relacionamento humano geral;
- reflexão e desenvolvimento da criatividade construtiva;
- aprender a “ser” para melhor ajudar, para atuar segundo o que sentem, ficando
liberto para o uso de seus próprios sentimentos;
- melhor avaliação das pessoas, tornando-se capazes de compreender que as reações
das mesmas não são permanentes;
- condições de dar ao outro oportunidade de falar, enquanto o plantonista cala-se
para melhor ouvi-lo;
- atividade e passividade aos plantonistas. Atividade no sentido de um trabalho
consciente, portanto, não alienado. Passividade no sentido de sentir melhor o ser
humano;
- acelerar e ajudar o “coração” a amar indistintamente, aprofundando e
intensificando a comunhão do plantonista com o Universo.
Resenha da Dissertação de Mestrado / André Barreto Prudente - FFCLRP-US
Alan / Ribeirão Preto (SP) - DE OLHO NA NOTÍCIA – Boletim do CVV Agosto 2009 – Ano 44 – nº 414

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SPV

EDITORIAL – Boletim do CVV – Agosto 2009 – Ano 44- nº 414

Um futuro sem nada a esconder

O empenho de voluntários dedicados que nos antecederam confirma a


satisfação de estarmos num mundo de pessoas produtivas e idealistas.
Referimo-nos ao exemplo de jo-vens que fundaram o CVV e que foram perso-
nalidades capazes de romper o conformismo e as limitações da época, criando
esta instituição que há quase 50 anos vem trabalhando em prol da prevenção
do suicídio.
Nós, voluntários de agora, somos herdeiros desse patrimônio. A maneira séria
de honrar esse compromisso é nos reportarmos aos diversos aspectos dessa
herança que nos chega às mãos.
Sabemos que ao longo destes anos foram plantadas “sementes de luta”, com
as exi-gências novas de um momento e de um mundo em mutação,
mostrando-nos que as verdadeiras revoluções se apoiam em ações, porque
elas representam o somatório de forças que decidem por mudanças.
E só as ações que brotam do amor podem dar continuidade ao processo de
renovação. As instituições recolhem a sua força da riqueza do seu passado,
preservando-o com zelo e o CVV, não sendo exceção, vem assim procedendo
através dos anos com cuidado pela sua história e, sobretudo, com respeito por
todos os voluntários que já passaram pelos seus postos.
Ele se fez pelo desprendimento, pela audácia e pela persistência de muitos
voluntários. E continua se construindo, agora permeado pela influência da
tecnologia, uma vez que nunca está ausente de algum fato novo que exija o
seu apoio, sempre defendendo os interesses que o possam conduzir
permanentemente à evolução.
Por isso, os voluntários desta geração têm o compromisso de especializar-se
cada vez mais no apoio via internet, valorizando, o quanto possível, essas
iniciativas, ajudando o CVV a continuar com a mesma dignidade com a qual
foi fundado.
O Brasil está mudando, galgando novos patamares de desenvolvimento. Temos
nossa parcela de influência como cevevianos nestes acontecimentos. O país
precisa de nossa contribuição para colaborarmos no processo de valorização
da vida. Não podemos deixar que os avanços tecnológicos tornem o CVV uma
instituição ultrapassada. Cumpre-nos voltar os nossos esforços na construção
de um futuro compatível com a globalização. Para isso é essencial que o
futuro dos cevevianos seja obra de todos. Que a vida possa um dia, na sua
plenitude, ser verdadeiramente vida e para todos.
E então, sempre e cada vez mais, na condição de voluntários estaremos
colaborando para a construção de um mundo justo, como já disse o poeta
João Cabral de Melo Neto: “Mundo que nenhum véu encobre”, porque não
haverá – o nosso sonho e esforço apontam para este desejo –, pessoas que
necessitem buscar a morte voluntária e as circunstâncias, muitas vezes
obriguem os familiares a esconder o fato.
Helio / Ribeirão Preto (SP)

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SPV

EDITORIAL - Boletim do CVV Setembro 2009 – Ano 44 – nº 415

Um “Banco” especial

Busca de desenvolvimento, criatividade e empreendedorismo


estratégicos estão alavancando uma força tarefa com inúmeras ativi-
dades que ensejarão as festividades do cinquentenário do CVV que
acontecerá em 2012.
Dignidade e persistência permeiam os caminhos percorridos por essa
instituição que, passo a passo, tijolo a tijolo, em terras paulistanas e, já
agora, em quase todo o Brasil, vem construindo uma história de
altruísmo, desde os seus voluntários fundadores até os em atuação nos
dias atuais.
Inicialmente a responsabilidade de tocar o barco ceveviano recaiu sobre
os ombros de jovens que, graças ao entusiasmo e espírito de
profissionalidade, apesar de tratar-se de um trabalho voluntário, muito
exigiu em dedicação, manutenção do lume da esperança e renúncias.
Mas a certeza dos benefícios que o trabalho traria para uma sociedade
cada vez mais mergulhada em problemas, carente de ser ouvida, foi a
mola propulsora para que enfrentassem e superassem as dificuldades
diárias.
Foram tempos inesquecíveis para es-ses “caminhantes do futuro”.
Futuro que já se aproxima do presente, pois o tempo é fagulha
atravessando o espaço. Brevemente serão 50 anos de atuação, sem que,
contudo, se percam as difíceis, porém gratificantes trilhas do passado.
Hoje, o CVV é um “banco milionário” que diariamente recebe nas suas
“agências” amigos circunstanciais, sabedores de que podem fazer os
seus “depósitos emocionais” a qualquer momento do dia ou da noite.
Desse “banco” sacarão a palavra solidária, o gesto que apoia, o silêncio
de que necessitam para melhor tomar as suas decisões advindas dos
seus pensamentos e sentimentos, que os levarão a acreditar no valor de
suas ações.
Um banco cujas moedas apresentam efígies cunhadas nos seus versos e
anversos forças e debilidades, oportunidades e ameaças. E nada é
desprezado pelos seus bancários/plantonistas. Tudo é motivo de
pesquisas, estudos, estabelecimento de metas, arregaçar de mangas
para novos investimentos, elaboração de estratégias mais ousadas. A
valorização da vida tudo merece. O amor ao outro é suporte para a
procura de novos “lucros”, isto é, resgatar seres humanos. E os 50 anos
que quase já “pisam” o patamar de nossa porta não podem ser
esquecidos. Lutar é preciso. Vencer é indispensável. Comemorar os 50
anos cevevianos é fato imprescindível.
Helio / Ribeirão Preto (SP)

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SPV

CVV: quase 50 anos comprometidos com o outro

Sustentáculo na afirmação cotidiana da solidariedade, escudo de defesa


dos valores humanistas, parceiro inseparável do processo da prevenção do
suicídio, protagonista de momentos sempre voltados para a busca do
equilíbrio emocional do outro, tudo isso conta um pouco da trajetória e do
significado do Centro de Valorização da Vida (C.V.V.), cuja fundação já se
perde nos primeiros anos da década de 60.
Falar do Centro de Valorização da Vida, responsável pela manutenção e
funcionamento dos postos CVV e Samaritanos em todo o país é recordar os
primeiros passos da instituição vinda à luz, em São Paulo. É lembrar a
coragem de jovens que um dia acreditaram na validade de trabalhar pela
prevenção do suicídio. Jovens que demonstraram que não eram apenas
capazes de mobilizar-se em torno de futebol, festas, namoros, viagens de
lazer etc.
Falar do CVV é resgatar na memória as muitas batalhas que esses jovens
empreenderam para que a instituição caminhasse até aonde
chegou. Mas, também é falar da qualidade dos apoios àqueles que buscam
os seus voluntários.
Falar do CVV é lembrar todos os voluntários que já passaram por suas
cabines telefônicas, não importa de que posto, não importa por quanto
tempo estiveram a serviço dessa causa. Foram pessoas que se dispuseram a
ouvir o outro. São pessoas que se dispõem a ouvir. São pessoas que se
disporão a ouvir com amor, disponibilidade e dedicação.
Falar do CVV é saber viver a empatia, a não diretividade, a aceitação
incondicional do outro, a compreensão de suas dores. É mostrar que o
voluntário acredita na tendência construtiva da natureza humana.
Falar do CVV é compreender que ele existe porque há uma sociedade onde
seus membros são carentes de alguém que os ouça, de alguém que
compreenda que o ser humano vale, não apenas pelos seus valores,
crenças e ideologias, mas pelo que há dentro dele de triste,
daquilo que o faz desabar e que, por isso mesmo, tantas vezes precisa de
uma mão amiga que o ajude a levantar-se. E, para que isso aconteça,
precisa de um ouvido que não se preocupe com a sua posição na pirâmide
social, mas com o que ele é na sua dimensão humana.
Finalmente, falar do CVV é lembrar que ele já caminha para a celebração
de seus 50 anos de existência que acontecerá no dia 1º de
março de 2012.
Que essa instituição continue evoluindo, abraçando novas técnicas de
apoio, novas formas de escutar o outro, mas sempre guardando os
seus ideais de fraternidade, amor ao próximo e lealdade aos seus princípios
de integridade que um dia mobilizaram alguns jovens para a sua fundação.
Basta que os seus voluntários nunca se afastem da identidade com esses
compromissos norteadores de uma vida voltada
para a construção de um mundo melhor.
Comissão Redatora do Boletim - boletim@cvv.org.br
EDITORIAL Boletim do CVV Fevereiro 2010 – Ano 44 – nº 45

49
SPV

Uma instituição de todas as épocas

Em latim, janeiro vem de janua = porta. Na verdade, este mês é o pórtico do início
de um novo ano, representado por um deus com duas faces, uma olhando para o
passado e a outra mirando o futuro. O passado não é um vazio, não inexiste, é um
estado anterior ao momento em que estamos. Seu potencial de energia não pode ser
ignorado. Basta olharmos as manchetes dos jornais da véspera, as páginas de antigos
boletins do CVV e de outros informativos dos postos para verificarmos que o passado
vive, é real e palpitante.
Janeiro, com a sua face olhando para o passado faz-nos lembrar de um tempo que já
remonta há quase 50 anos, quando um grupo de jovens fundou uma instituição de
prevenção do suicídio. Provavelmente não tinham consciência de que aquela
iniciativa traçaria um novo rumo às suas vidas e a de muitas pessoas.
Foram jovens que se distinguiram pela força de suas personalidades e espírito
criativo. E foi assim que saíram de si mesmos, trabalharam e com tenacidade
incorporaram em suas ações outro modus vivendi: o de criar, concretizar, o que
redundou na fundação do Centro de Valorização da Vida (C.V.V.).
Com estes jovens e mais outras milhares de pessoas que a eles vieram juntar-se, cada
uma em seu tempo, foi que o passado caminhou para o presente. Um presente
voltado para uma nova era. A época virtual, da informática, de novas tecnologias.
O CVV do século 21 vem acompanhando tudo isso num processo de constante auto-
superação, notabilizando-se como uma instituição do aprimoramento e da
criatividade.Criar, no caso exclusivo das manifestações cevevianas, exige três
fundamentais elementos:
- voluntários capazes de produzir novas idéias sobre as diversas formas de valorizar a
vida;
- um CVV aberto, sensível a parcerias público-privadas que promovam a
sustentabilidade das metas a serem atingidas;
- mecanismos funcionais que viabilizem a criação de novos cursos com a competência
capaz de preparar voluntários mais capacitados para o serviço e de aprimorar os
cursos já existentes.
É inegável que já temos presenciado importantes iniciativas do CVV do 3º milênio:
está em fase de teste uma tecnologia que envolve computadores, internet com
acesso à banda larga, voip, roteadores, softwares, centrais telefônicas, telefones,
com o propósito de promover o apoio à outra pessoa entre dois postos na regional
noroeste paulista: Araraquara e Ribeirão Preto. Trata-se de ligações transbordadas
de um posto para o outro.
Em setembro de 2008, em caráter experimental, teve início o serviço “CVV Net”,
com apoios on-line, buscando atingir internautas principalmente jovens. Basta
acessar o endereço www.chat.cvv.org.br.
E ainda, entre outras iniciativas, foi criada uma força tarefa com o intuito de
planejar e realizar as festividades do cinqüentenário do CVV que ocorrerá em 2012. É
a outra face de janeiro mirando para um futuro bem mais além do aqui e agora.
De acordo com Umberto Eco, as pessoas podem ser classificadas em apocalípticas ou
integradas, pela forma como aceitam ou não as mudanças sociais e institucionais.
Apocalípticos são os que não aceitam e os integrados os que aderem às
transformações.
Que o voluntariado ceveviano esteja sempre incluído no segundo grupo. Precisamos
da efetiva participação de todos para o cumprimento e realização do que virá em
prol de um CVV mais atuante e melhor servindo à sociedade.
Bartyra / Recife (PE) – EDITORIAL Boletim do CVV – Janeiro 2009 – Ano 43 nº 407

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SPV

Reengenharia x Reciclagem

Devemos permanecer sempre atentos para que certas armadilhas não


nos levem ao passado. Basta que para isso paremos de nos notar, de
nos perceber com relação a atitudes inadequadas no nosso convívio
que são frutos do que trouxemos em nossas “bagagens”. Dessa forma
podemos estar vivenciando o que não se entende por aceitável. Por
exemplo, no CVV podemos estar praticando algo fora do que
aprendemos na rica jornada iniciada no PSV e ao não nos
percebermos é fácil passarmos a ter atitudes totalmente contra o
que aprendemos com tanto amor e importância para nossas vidas,
tais como a tentativa de libertarmo-nos de nossos preconceitos,
julgamentos, rotulagens, posturas de individualismo e personalismo.
Estarmos sempre atentos se faz necessário, pois a regressão para
posturas ultrapassadas acontece de uma maneira sutil, suave, lenta,
paulatina, imperceptível e, de repente, poderemos colocar-nos acima
da filosofia ceveviana, deixando-nos dominar pelas fraquezas e
antigos hábitos de nossa vida. Mantermo-nos em processo de
aceitação e abertura, às vezes, nos faz sentir-nos desgastados e
começamos a achar que as mudanças constantes não nos satisfazem.
Enfim, conservar a humildade, a sinceridade, a benevolência, e a
compaixão, se torna em certos momentos cansativo, podendo ocorrer
uma reação de abandono dessas conquistas. O poder é inebriante e
se não nos “fiscalizarmos” passamos a dominar, ordenar, impor
conceitos próprios, não nos centrando no outro ou no grupo,
centrando-nos exclusivamente no nosso “eu”.
Assim, é importante aplicarmos uma palavra que ultimamente está
na moda: reengenharia, isto é, um apelo para que voltemos ao tempo
do início das mudanças em que nos propusemos nas nossas vidas. E no
nosso caso particular, ao entrarmos no trabalho ceveviano, não
devemos permitir que o ego aflore de maneira exacerbada, tornando-
nos cegos para a realidade. Daí a necessidade das reciclagens. Elas
nos acordam para relembrarmos dos princípios, práticas, normas e
recomendações das quais não devemos nos afastar. Reciclar é rever
conceitos e posturas.
Por isso mesmo devemos encarar as reciclagens como uma
oportunidade para exercitarmos o sentido de abertura que nos
oferece momentos de crescimento, como seres humanos que somos,
com todas as fragilidades inerentes à nossa natureza.
Dirceu / Santo André (SP) – Boletim do CVV – Agosto 2009 – Ano 44 – nº414

51
SPV

Voluntário: um elemento transformador

Voluntário é a pessoa que doa sua capacidade, talento e tempo de


maneira espontânea sem receber nada em troca. Somente
satisfação e realização pessoais em prol da humanidade que neces-
sita de cooperação para o seu crescimento e transformação.
Uma ação voluntária deve ser de qualidade e duradoura para que
se complete o ciclo transformador a que se propõe o voluntário.
Não importa o que ele pense de si ao se propor doar-se a uma
causa. O que importa são os resultados transformadores que
contribuem para melhorar a vida da comunidade.
Escolher livremente um trabalho prazeroso, mas com atitude
responsável e comprometimento com a instituição que escolher:
este deve ser o objetivo maior do voluntário. Pode começar, como
exercício, pelos serviços de casa, de sua rua, da escola dos filhos.
E posteriormente buscar a instituição com a qual tenha mais
afinidade, tendo a consciência de que se trata de um exercício
huma-nitário. A atividade pode ser ocasional ou rotineira. O
importante é assumir o compromisso com aquilo que se pode
cumprir.
Respeitar as normas internas da instituição e estar compromissado
é fundamental, entendendo que ao adentrar como voluntário em
qualquer entidade será parte integrante da mesma, com respon-
sabilidade de responder por ela quando assumir funções
hierárquicas ou quando solicitado.
Daí ser indispensável que o voluntário participe das atividades com
ética, seja com colegas de serviço ou com o outro, via fone ou
pessoalmente no caso específico do CVV.
Devemos entender que quem faz prosperar o CVV somos todos nós,
voluntários atuantes e transformadores, comprometidos com a
construção de um mundo melhor.
Quintino / Curitiba (PR) - PAINEL LIVRE Boletim do CVV – Agosto 2009 – Ano 44 – nº414

52
SPV

Rodízio: uma ciranda de bons sentimentos

O programa CVV requer que os postos estejam disponíveis 24 horas


todos os dias por significar um exercício pleno desse trabalho, ou
seja, poder apoiar os aflitos, angustiados, solitários, no exato
momento em que eles nos buscam nesses estados.
As pessoas “caem” nessas situações sem que tenham previsto ou
desejado isso e o CVV prima por estar a qualquer momento a
postos. Daí a necessidade de que os horários de plantão se
alonguem dia e noite.
O voluntário que sai da condição de plantonista e nessa decisão
deixa um horário vago porque vem trabalhando sozinho no plantão
precipita a abertura de uma “janela”, que cabe ao voluntariado
“fechar”. Essa situação não é desejável nem planejada. Subsiste o
dever de prestar o serviço ininterrupto que o CVV propõe à
sociedade.
Perceber os percalços do rodízio é natural, mas forçoso é
reconhecer que, para o bem do Posto e correta conduta do
programa, é necessário que exista um planejamento e seja bem
acatado pelos voluntários, por trazer a marca da compreensão de
que, a qualquer momento, o plantonista poderá ser solicitado do
outro lado da linha. E nenhuma chamada merece cair no silêncio
do vazio, sob pena de que talvez uma vida se perca para sempre.
Entretanto, ocorrendo a absoluta impossibilidade pessoal de um
voluntário cumprir esse dever, cabe-lhe solicitar a um colega
executar essa obrigação, que é dele, quiçá pela permuta de
horários. Assim, passo a passo, cada um estendendo a mão para o
outro fará com que comece a “girar” entre todos a ciranda do
desprendimento, da abnegação, da solidariedade e do amor.
Cardoso / Recife (PE) - PAINEL LIVRE Boletim do CVV – Agosto 2009 – Ano 44 – nº414

53
SPV

DE OLHO NA NOTÍCIA
Disciplina

O Centro de Valorização da Vida (CVV) atribui uma importância enorme


ao papel da disciplina dos seus voluntários, o que consiste no
cumprimento das normas e princípios do Regimento Interno (RI) do
Programa CVV de Prevenção do Suicídio, que define todas as regras de
conduta que os plantonistas devem adotar.
Segundo o voluntário Valentim Lorenzetti, um dos primeiros voluntários
do CVV, no artigo Correio Sonoro do Boletim nº 171 de agosto de 1988,
essa instituição conseguiu chegar a ter os setenta postos de
atendimento que tinha em 1988 devido aos primeiros voluntários, que
se autoimpuseram uma disciplina de trabalho na qual sacrificaram
interesses pessoais e convenções familiares em prol do nascente CVV.
Ele acrescenta que essa disciplina pode ser resumida no RI, e que é algo
libertador e gera crescimento e, por isso, fundamental:
“Sem disciplina não há crescimento, sem disciplina nós vamos gerar uma
ansiedade brutal no nosso voluntário, no nosso plantonista, porque ele
ficará um tanto quanto sem rumo, ele não saberá o horário que tem que
entrar no seu plantão, ele ficará em dúvida numa série de coisas
importantes”.
A voluntária Vera, do CVV Centro-Rio de Janeiro (RJ), no artigo
Disciplina ou Torre de Babel do Boletim nº 287, de janeiro de 1999,
explica que a disciplina no cumprimento do RI do CVV é fundamental
porque nele estão contidos os deveres e obrigações dos plantonistas, os
quais são frutos da experiência dessa instituição por muitos anos e que
foram percebidos como fundamentais para a sobrevivência do trabalho.
Com isso quer dizer que o CVV é maior do que seus plantonistas no
seguinte sentido: a cada ano, década, etc, o quadro de plantonistas
muda porque o CVV continua existindo graças ao RI, que mostra aos
novos voluntários o que é essa instituição e o que fazer para preservá-la
e fazê-la funcionar de maneira apropriada. Por isso, ela afirma que não
é necessário concordar com tudo que está escrito no RI, mas sim res-
peitá-lo, e comenta:
“A partir do momento que compreendemos realmente a necessidade do
RI como uma segurança à continuidade do trabalho, o nosso
posicionamento no Posto passa a ser de respeito às normas disciplinares,
e desenvolvemos maior consciência de nossas responsabilidades”.
Resenha da Dissertação de Mestrado
André Barreto Prudente
FFCLRP-USP
Alan / Ribeirão Preto (SP)

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SPV

Boletim do CVV – Setembro 2009 – Ano 44 – nº 415

DE OLHO NA NOTÍCIA

Autodisciplina - Boletim Outubro 2009 – Ano 44 nº 416

No artigo autodisciplina do exemplar nº277 do Boletim do CVV (de


março de 1998) é
dito que a disciplina é fundamental em qualquer sociedade ou grupo
social, porque é dela que deriva a ordem, a boa convivência e o
respeito entre os indivíduos. É mostrado que a disciplina do CVV, que se
manifesta pelo cumprimento das normas e do Regimento Interno dessa
instituição, protege os voluntários porque lhes explica seus direitos e
deveres. É revelado também que a disciplina exigida nessa instituição
implica em autodisciplina; isto é, no próprio voluntário perceber a
importância de cumprir o Regimento Interno e, assim, de livre escolha,
se autodisciplinar para isso: “Assim também verificamos
a diferença entre a imposição e autodisciplina, pois esta é o resultado
de nossa própria vontade e, principalmente, disponibilidade”. Por isso,
é afirmado que, para o CVV, a autodisciplina é conquistada quando o
plantonista observa, aceita e respeita as normas coletivas sem visar o
destaque individual (seus próprios interesses), com humildade, fazendo
disso um desejo real de aperfeiçoamento a caminho de uma vida plena.

Nesse sentido, os voluntários do CVV consideram que a disciplina é o


primeiro passo
para aprimorarem sua capacidade de servir.

Isso significa que o plantonista só conseguirá ser realmente samaritano;


ou seja, doar de si mesmo com amor e amizade, se autodisciplinando
para comparecer aos plantões, atividades e reuniões da sua instituição e
para realizar os exercícios de Vida Plena e as práticas de role-playing
com disponibilidade, visando a transformar-se e crescer, abandonando
as máscaras e preconceitos. O voluntário Flávio Focássio, um dos
fundadores do Centro de Valorização da Vida, no artigo Fraternidade do
boletim nº 267, de maio de 1997, diz que a primeira coisa que o
plantonista do CVV deve ter para aprimorar sua habilidade de ajudar é a
disciplina, explicando que: “Para sermos pessoas disciplinadas
precisamos trabalhar para isso e, via de regra, nós não somos. A
disciplina é uma das conquistas extremamente importantes, não só no
nosso trabalho dentro do CVV, mas como em nossa vida profissional. E a
disciplina exige perseverança, esforço, dedicação”.
Resenha da Dissertação de Mestrado
André Barreto Prudente
FFCLRP-USP
Alan/ Ribeirão Preto (SP)

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SPV

DE OLHO NA NOTÍCIA - Befrienders Worldwide – Rede Global

Diretrizes de Befrienders Worldwide

Befrienders Worldwide é uma rede global que é parte dos


Samaritans e é administrada e mantida por eles. Os representantes
regionais são responsáveis pelo contato com os postos, obtendo
feedbacks sobre questões regionais e, onde for possível, assistindo
na criação de redes regionais em suas regiões específicas.
O Grupo Executivo é constituído pelos representantes das oito
regiões, dois membros da Secretaria-Geral dos Samaritans, o
encarregado internacional, o coordenador do Programa de Postos
Irmãos e o presidente. O GE é responsável por estabelecer direções
estratégicas para o Befrienders Worldwide, elaborar as diretrizes e
normas para os membros e fornecer subsídios para a filosofia e
programas de desenvolvimento futuros.
Objetivo da rede - Ajudar os postos membros a oferecer serviços
apropriados de apoio emocional a pessoas em dificuldade
compartilhando informações com a finalidade de melhorar sua
habilidade de: 1) tornar seu serviço disponível para todas as
pessoas que o solicitem; 2) desenvolver a filosofia e a prática de
um serviço efetivo e 3) encorajar pesquisas apropriadas.
Visão - Uma sociedade na qual menos pessoas se suicidem e onde
as pessoas sejam capazes de explorar seus próprios sentimentos e
reconheçam e respeitem os sentimentos das outras.
Missão - Encorajar o desenvolvimento global de serviços de apoio
efetivo que ofereçam apoio emocional confidencial a pessoas que
estejam experimentando sentimentos de aflição ou desespero,
incluindo aqueles que podem levar ao suicídio.
Valores - Os valores baseiam-se nas seguintes crenças: 1) a
importância de ter a oportunidade de explorar sentimentos que
possam causar aflição; 2) ser ouvido confidencialmente e ser
aceito sem preconceitos pode aliviar sentimentos de desespero e
suicídio; e 3) todos têm o direito de tomar decisões fundamentais
sobre sua própria vida, inclusive a decisão de morrer através de
suicídio (a aplicação disso depende do contexto local e do sistema
legal).
Eduardo / Norma – Brasília (DF)

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SPV

Ouvir com o coração

O primeiro fato que está relacionado com o ouvir é a atenção, isto é,


para se ouvir o outro de verdade é necessário estar atento a ele (ao
que ele diz). O outro aspecto que tem a ver também com o ouvir, é o
silêncio. P ara ouvir o outro, é necessário silenciar sua voz (silêncio
externo) e silenciar o fluxo de pensamentos, análises e
interpretações racionais, que geralmente ocorre enquanto alguém
está falando (silêncio interno). O artigo Calar-se não é pecado, do
Boletim do CVV de outubro de 1998, comenta: “É preciso não ter
medo de calar-se. O silêncio não é um vácuo a ser preenchido por
uma torrente frenética de palavras, mas é o tempo significativo para
se refletir sobre o que o interlocutor diz”. No artigo Reflexões sobre
a arte de ouvir, do Boletim do CVV de março de 1989, no qual é
publicado um texto de Artur da Távola, extraído do jornal O Globo,
do Rio de Janeiro, é dito também que para ouvir é necessário limpar
a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento
durante a fala alheia, sendo que é afirmado: “Ouvir é um desafio.
Desafio de abertura interior; de impulso na direção do próximo, de
comunhão com ele, de aceitação como é e como pensa. Ouvir é
proeza. Ouvir é raridade. Ouvir é ato de sabedoria”.
É importante esclarecer que o ouvir do CVV é um ouvir “com o
coração”, isto é, um ouvir com amor e compreensão tudo o que a
pessoa tem a dizer com as palavras, com as lágrimas, com os gestos e
até com o silêncio (ouvir dessa forma é respeitar a pessoa que fala),
pois essa escuta sem preconceitos fortalece a pessoa que desabafa.
Por isso, no artigo Saber ouvir, do Boletim do CVV de fevereiro de
1987, é dito: “Saber ouvir não é apenas uma arte, mas também é um
sentimento de amor ao indivíduo que nos procura. Analisar suas
emoções é mais que simplesmente prejulgar. É sentir o coração da
outra pessoa”.
Resenha da dissertação de mestrado
André Barreto Prudente
FFCLRP-USP
Alan / Ribeirão Preto (SP)
Boletim do CVV Dezembro 2009 – Ano 44 nº418

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SPV

DE OLHO NA NOTÍCIA – Boletim do CVV Fevereiro 2010 – Ano 44 – nº 420

Não-diretividade

Em meados de 1975, o CVV começou um processo de transformação no seu


modo de ouvir as pessoas que o procuravam. Se, anteriormente, o foco do
plantonista era ouvir os problemas para ajudar a eliminá-los, nesse momento
a ênfase passa a ser ouvir a pessoa como um todo, tentando captar seus
sentimentos, para ajudá-la a se compreender melhor. Por isso, os próprios
voluntários, nos artigos dos exemplares do Boletim do CVV, vão falar que seu
modelo de relação de ajuda é não-diretivo e é centrado na pessoa atendida.
Isso implica que o indivíduo que procura o CVV é visto como uma pessoa, e
não como um problema a ser resolvido. Segundo o artigo Diálogo não-diretivo,
do Boletim do CVV de fevereiro de 1987: A outra pessoa que nos procura no
CVV deve
ser encarada como uma pessoa e não como um problema. A finalidade do
diálogo que mantemos não é resolver um determinado problema, mas ajudá-
la a obter integração, independência, amadurecimento, coerência com seus
pensamentos palavras e atos, o que lhe permitirá resolver seus problemas,
inclusive os que aparecerem no futuro, pois, assim, estará mais
autofortalecida.
No artigo intitulado Aconselhamento, do Boletim do CVV de setembro de
1983, é afirmado que o método não-diretivo consiste em criar uma situação
em que a pessoa não é julgada, nem avaliada, nem tratada como uma coisa
ou caso. Com isso, quer dizer que, quando o plantonista é não-diretivo,
considera o outro com especial significação
e, vendo essa consideração, o outro passa a ter uma consideração positiva
para consigo mesmo, tornando-se, para si mesmo, pessoa significativa. O
centro estaria nele e não no plantonista. É explicado também que dar
conselhos não tem a ver com o método não-diretivo, porque isso implica que
o centro está no conselheiro e não na pessoa ajudada, e ainda é citada a
diferença entre direção e diretividade: o método não-diretivo é entendido
como um método que mostra uma direção (buscar os sentimentos), mas que
não é diretivo (não apresenta soluções do plantonista para os problemas da
pessoa que ele está ajudando).
Resenha da dissertação de mestrado
André Barreto Prudente
FFCLRP-USP
Alan / Ribeirão Preto (SP

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