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Cf. Ex 23.16; Lv 23.15-22; Nm 28.26; Dt 16.9-12.
O Livro de Rute
saqueavam, o que tornou a economia agrícola inviável. Ocorre, então, a inquietação civil,
desintegração social, imoralidade sexual.
E Deus, onde estava? Como podia permitir todo este mal? Onde estavam agora as
bênçãos da aliança? Como podiam ter fé na providência de Deus? Será que Ele ainda se
preocupava com cada aspecto da vida? Tais perguntas facilmente nos levam a tomar as asas
do ateísmo, da vida como um fim em si mesma e do fatalismo inevitável. No entanto, são
questões por demais inquietantes, principalmente para aquele que professa sua fé no Deus da
Aliança.
Conseqüentemente, houve o esfriamento da fé, o que redundou em conflitos espirituais
para o povo de Deus. Qual dos deuses deveriam seguir os israelitas? O Deus de Abraão,
Isaque e Jacó, Deus da Aliança, Criador dos céus e da terra? Ou ao deus Baal, deus da terra
que acabaram de possuir, deus dos cananeus, com as suas respostas imediatas? Como disse
B.W. Anderson: “Para Yahweh eles olhavam nos períodos de crise militar; para Baal,
voltavam-se para ter sucesso na agricultura”. Então, pode-se dizer, era uma religião de
conveniências, fé orientada para as satisfações pessoais.
O desafio de Elias serve também para este pano de fundo, inclusive para nós, pois o
modernismo nos faz servir a outros deuses: materialismo, o cientificismo e o naturalismo.
Parece que os seguidores de Baal são mais prósperos. 2 Disse, então o profeta: “Até quando
coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o” (1Rs
18.21). Interessante notar que o povo nada respondeu ao apelo do profeta. Por que se calou?
Porque não percebia a diferença entre um e outro objeto de adoração. Em resumo: era uma
luta entre a fé e a cultura, tensão entre Yahweh e Baal. 3 Lidar com o silêncio de Deus não é
uma tarefa muito fácil para os crentes de todas as épocas. Correr para o imediatismo é uma
tentação quase generalizada.
OBJETIVO DO LIVRO
O livro tem como propósito fundamental proclamar que o Senhor Deus
(Yahweh e não Baal) é quem dirige a história. Por meio desta novela, o autor nos apresenta
sentimentos de pureza, inocência, fidelidade e lealdade, dever e amor norteando os
relacionamentos entre os personagens. Sobre todos eles, “as mãos do Senhor”: mãos que
cuidam, que sustentam, mãos que são provedoras e acolhedoras.
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Cf. o clamor do Sl 37.
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A apresentação que Atkinson faz em seu livro a respeito dos “Desafios da Fé” é uma matéria preciosa, fazendo
uma importante aplicação dos desafios daquela época para os nossos dias (cf. p 14ss – Desafios da Fé: Outros
Deuses; Uma Cultura Dividida; e O Problema do Mal).
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A respeito desse enfoque cf. Gottwald – 514, gráfico 8.
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Os significados dos nomes foram extraídos das seguintes fontes: Teodorico BALLARINI; A. Van den BORN;
Bíblia Anotada; Tradução Ecumênica da Bíblia – TEB e A Bíblia de Jerusalém – BJ
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Mulheres em Ação
Numa cultura masculina – Sociedade Patriarcal – duas mulheres tomam uma atitude.
Saem a campo, com astúcia e audácia, em busca da sua felicidade e sobrevivência. Os
homens, nesta história, apenas reagem diante das suas ações.
Numa cultura onde a mulher exercia função inexpressiva e restrita às atividades
domésticas, podemos afirmar que Noemi e Rute foram muito corajosas, tomando a frente das
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Como Rute, o nome Orfa não sabemos ao certo o significado. Todavia, o que foi exposto segue em virtude das
narrativas. Todavia, pode ser aplicado de forma positiva, isto é, se Rute acompanha Noemi até Belém, vivendo
sob as asas do Senhor, Orfa regressa para casa levando consigo o testemunho de Yahweh para os seus familiares.
Nesse caso o testemunho vivido por Noemi dignifica o nome de Yahweh.
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Cf. comentário da BJ Rt 1.20, nota “g”.
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Cf. Apostila sobre a Cultura Bíblica do AT, e a bibliografia utilizada.
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O Livro de Rute
ações.9 Estas mulheres não esperam passivamente que os homens resolvam seus problemas,
mas assumem o comando para fazer com que as coisas aconteçam.
Uma vez mais, percebemos a graça providencial de Deus. Onde?
1º) Na permissão de que Rute, uma estrangeira, venha se abrigar em terra israelita;
2º) Ao rebuscar os campos de Boaz, sem ser impedida;
3º) Ao deitar-se aos pés de Boaz, à noite, correndo o risco de ser apedrejada e morta;
4º) Ao cobrar de Boaz uma atitude correta, a postura de redentor (goel).
É interessante notar as duas culturas (masculina e feminina) interagindo. O valor
masculino é o de perpetuar o nome da família. Os anciãos masculinos celebram a boa sorte de
Boaz ao encontrar Rute, já que lhe dará filhos (4.11,12). Noemi deseja que suas noras
retornem para casa, pois sua preocupação inicial não é ter filhos, perpetuar o nome, mas
defender as duas jovens, uma vez que a vida não era segura para mulheres solteiras naquela
época. Quando Rute dialoga com Boaz, não é por amor aos mortos, mas para que tanto ela
quanto Noemi tenham uma vida plena, digna. Quando Noemi toma nos braços a Obede, filho
de Rute e Boaz, as mulheres da cidade alegram-se com ela, pois o menino veio lhe trazer
consolo e gozo a sua velhice (4.14,15). Aliás, na compreensão daquelas senhoras, o amor de
Rute para com Noemi vale muito mais do que sete (07) filhos (cf. 4.15).
Na verdade, ambos os sexos se beneficiam, pois as mulheres encontram cumprimento
prazenteiro dentro do seu papel social.
Mudança de sorte
A mudança de um estado de definhamento para o de abundância, está diretamente
ligada com a consciência de que a vida pertence ao Senhor, é Ele quem dirige a história da
família.
A presença providencial de Deus (1.6; 4.13,14);
Todos saem ganhando na história. Noemi – um filho no colo, o nome passou para a
história; Boaz – felicidade (3.10), mulher de ação em casa, abençoada por Deus; Rute – além
do filho, a abençoada do Senhor Deus de Israel (sob cujas asas buscou refúgio)
Todavia, há um perdedor. Apenas um personagem fica sem nome, sem história,
triste, pois renegou a sua obrigação. É chamado de “Fulano”! Quem foi? Exatamente o
resgatador anônimo. Este perdeu a oportunidade de ter uma esposa excelente (Pv 31.10ss) e
deixou o carro da história passar, deixando de ser o pai de Davi, o rei messias de Israel, deixou
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Vale ressaltar que a mulher israelita tinha um lugar de destaque na família judaica, especialmente no que
concerne a educação dos filhos, aos trabalhos caseiros. Cf. JEREMIAS, Joaquim: Jerusalém no Tempo de Jesus. 3ª
Ed. São Paulo: Paulus; 1983; MORIN, Émile: Jesus e as Estruturas de seu Tempo. 4ª Ed. São Paulo: Paulinas;
1988; TENNEY, Merril C., et alli. Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos. Deerfield/Florida: Vida; 1982.
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O Livro de Rute
de ter parentesco direto com o Messias, Jesus. Sua recusa em desposar Rute só realça o lucro
dos outros personagens.
“Guarda-me como a menina dos olhos,
esconde-me, à sombra das tuas asas.” (Sl 17.8)
MEDITAÇÃO
Providência Divina
“Quando tudo diz não...”; “Quando tudo parecer perdido, chore uma lágrima de esperança.”
Trabalhar dentro do contexto dos juizes, background. Tempos de apostasia, falta de unidade,
idolatria e sincretismo, mas havia pessoas de fé, ligadas ao culto do Deus Único (Noemi).
Fé no Todo-Poderoso: “O Deus que é melhor quando o homem está na pior”.
Igreja: Povo Caminheiro. Caminhada cheia de esperança rumo ao eterno.
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Este rompimento de Rute nos leva a refletir sobre a Conversão. Toda conversão é
marcada por uma Crise, podendo ser de cunho pessoal, familiar ou mesmo cultural/social. O
novo nascimento gera a crise do rompimento com o passado (2Co 5.17), do confronto, e a
crise do “ser”.
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Para Gottwald, a passagem de Gênesis, a respeito do surgimento dos moabitas, é uma anedota.
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A Abençoada de Yahweh
Favoreceu (2.10,13);
Boaz Falou ao seu coração (2.13);
Invoca a benção de Deus sobre ela (2.12; // 1.16; 3.10);
O povo sobre Boaz (4.11,12). Aqui se cumpre 1.17.
Para este tema cf. 2.12 – “...Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio”.
Aqui temos uma preciosa abordagem sobre a Universalidade da revelação divina,
visto que uma estrangeira recebe abrigo junto ao povo de Deus (2.11,12; cf. Sl 17.8; 36.7;
57.1; 61.4; 63.7; 90.1, 91.1-4; Ml 4.2; Mt 23.37 // Lc 13.34; Mt 13.31-32). A qual está
intrinsecamente ligada à Missão de Israel, quando de sua vocação em Abraão (Gn 12.1-3):
“Em ti serão benditos todos os povos da terra” (cf. Rm 9.25s; Gl 3.8; Ef 2.11ss; At 10.34s).
O povo de Deus, então, deve acolher as pessoas, dando a elas refúgio, segurança,
esperança. Não virar as costas, mas ser receptivo. Israel ao se fechar para as demais nações
estava negando esta missão, razão do seu chamado, apresentar Deus às nações. Um exemplo
claro desta idéia é o livro de Jonas, o profeta enviado a outro povo inimigo de Israel, os
ninivitas, onde ocorreu um grande movimento em direção ao Senhor Deus de Israel.
A benção sobre Rute advém do seu rompimento com o seu povo, seus deuses, isto
é, sua religião, para abraçar a cultura e a religião de sua sogra Noemi. Momento quando se
realizam as palavras: “faça-me o Senhor o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja
a morte me separar de ti” (1.17).
A bênção é descrita em termos de favorecimento por parte de Boaz e seus servos
(2.10,13) e retificada por Boaz (2.12); quando os anciãos, à porta da cidade, invocam a bênção
de Deus sobre Rute e Boaz (4.11,12). O nascimento de Obede é a clara realização do
favorecimento divino ao casal. Não só a eles, mas, por conseguinte, toda a nação israelita seria
por intermédio dela (Rute) abençoada, pois dela descenderia o rei de Israel, Davi (4.22), o
homem segundo o coração de Deus, o Rei Ideal, donde, mais tarde, descenderia também o
Messias, o Cristo.
“Bendita sejas tu do Senhor, minha filha... és mulher virtuosa” (3.10,11)
MEDITAÇÃO
Igreja vs. Cultura
Igreja: Comunidade da Graça
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MEDITAÇÃO
Convite à Redenção
Igreja: Povo Redimido (Sermão: Consagração Comunitária – Êxodo 19:10-15)
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Cf. TEB e BJ, as notas referentes ao texto.
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Na estrada Fechando a
de volta a Belém narrativa: nasce
(vv.6-22) um filho para
restaurar Noemi
(vv. 13-17 [18-21])
“Asas/orlas” “Asa(s)/orla(s)”
de Yahweh, de
Deus de Israel Boaz
Bibliografia:
A BÍBLIA ANOTADA. Almeida, Revista e Atualizada. São Paulo: Mundo Cristão; 1991.
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova Edição, Revista.São Paulo: Paulinas; 1985. As notas junto ao texto.
ALLMEN, Jean-Jacques von. Vocabulário Bíblico. São Paulo: Aste; 1963. (cf. nome, sombra e resgate)
ATKINSON, David. A Mensagem de Rute. São Paulo: Abu; 1991.
BALLARINI, Teodorico. Introdução à Bíblia, II/2. Petrópolis: Vozes; 1976.
BORN, A. Van Den. Diccionario Enciclopédico da Bíblia. 5ª ed. Petrópolis: Vozes; 1992.
FOHRER, George. Estruturas Teológicas Fundamentais do Antigo Testamento. São Paulo: Paulinas; 1982.
GOTTWALD, Norman. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. São Paulo: Paulinas; 1988.
TENNEY, Merril C., et alli. Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos. Deerfield/Florida: Vida; 1982.
TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA (TEB). São Paulo: Loyola; 1994. As notas junto ao texto.
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Gottwald – p 514.
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