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PROF. JOSE ALBERTO DOS REIS Comentario ao Codigo Processo Civil Vol. 2,° COIMBRA EDITORA, LIM, 2 = LIVRARIA = = + | | ESCRITORIO E OPICINAS ita Verein Horsey 70 ||| Rua do Arado COIMBRA—1945 Digitalizado com CamScanner i ” VA 68. Rogra goral sdbro a nulldado dos aotos, rtigo 128° do Codigo anteriqr, d Segundo o ava-se nulidade lade ny - et 10 pro: a) Quando se omitia algum acto preserito na lei; ») Quando se praticava algum acto que a lei nao admitia; ¢) Quando © acto se efectuava sem as formalidades legais. Tinhamos, pois, nulidades por omiss@o e nulidades por comissdéo; € as da primeira espécie podiam dizer respeito ou a acto propriamente dito ou a formatidade do acto. Também o artigo 201.° do Cédigo actual menciona as tres modalidades previstas no artigo 128.2 do Codigo ante- rior: pratica de acto que a lei nfo admita, omissfio de acto ou de formalidade que a lei prescreva. Simplesmente, estas infraccdes eram sempre causa de nulidade em face do Codigo velho, ao passo que hoje s6 produzem nulidade quando a lei éxpressamente o declare ou quando a irregu- Jaridade possa influir no exame ou na decisfio da causa. A diferenca € profunda. A jrrelevancia da infracc&o quando esta nfo seja susceptivel de influir’no exame ou na decisio da causa foi introduzida pelo decreto: n.° 3 de 29 de maio de 1907, com aplicagdo exclusiva ao processo sumério, e generalizada mais tarde, no tocante as nulidades supri- veis, pelo. n.°'1.° do artigo 49.° do decreto n.° 12:353: Quando se examinou, na Comissfio Revisora, o-artigo 231.° do Projecto, fonte do. artigo 201.° do’Cédigo, ost. dr. are de Magalhaes notou que o texto nfo sé referia a0 caso ce um acto se efectuar sem as formalidades legais; nfo i se fora intencfo do autor do Projecto incluir ¢sse can me a gum dos. outros ou em ambos, 8¢ excluir aa as legals nulidades a pratica de acto sem as formali enced E acrescentava: «se esta foi a sua idéia, Sorina poten pois repugna ao nosso espirito que ra tica { ssa as formalidades legais nflo importe nulidade quando po: influi y jsfo da causa». {1 + fluir no exame ou Seis mem a critica do lustre. Nao era fundada a di vagoes. Professor; como mostrei na resposta As suas observagot Digitalizado com CamScanner 482 Liv. II, Tit. I, Cap. I — Dos actos processuais O artigo 231.° do Projecto contemplava precisamente os tres casos previstos no artigo 128.° do Cédigo; nao se omi- tira nenhum déles. Com efeito, a pratica de acto sem as tormalidades legais corresponde, sem duvida alguma, a omissdo de formalidade que a lei prescreva. Se a lei-exige, na celebracdo do acto, a observancia de determinadas formalidades, desde que alguma ou algumas delas se omitam, ¢ claro que o acto efectua-se sem as formalidades legais. O artigo 201.° contém a regra geral sobre as nulidades de processo. Nos artigos 193.°. a 200.° consideram-se casos especiais: ineptidao da peti¢&o inicial, falta de citacao, nuli- dade de citacdo, falta de intervengao do Ministério Publico érro na forma do processo. No artigo 2or.° abrangem-se todos os outros casos de infraccao da lei processual. Seguiu-se aqui sistema idéntico ao que se adoptou na‘ formulacao dos -preceitos de competéneia territorial: primeiro expés-se o regime especial de certas nulidades, por fim enunciou-se a regra geral relativa a todos os outros casos de inobservancia da lei. O sr. dr. Barbosa de Magalhdes alvitrou que a subsecgao abrisse pela apresentacéo da regra, isto é, pelo artigo 20r.°, correspondente ao 128.° do Codigo anterior; mas a Comiss%o aceitou o ponto de vista do Projecto. Enten- deu-se que 0 alcance e a amplitude da regra ficam mais nitidamente vincados depois de se conhecerem com precisio os desvios dela. De maneira que o Cédigo comeg¢a por-nos colocar em presenga de certas nulidades -mais graves, das nulidades principais, a que podemos chamar de primeiro grau; depois de definir essas nulidades e de Ihes fixar os efeitos, é que nos da a regra respeitante a todas as outras nulidades, A frase do artigo 201.° «Fora dos casos previstos nos-ar' gos anteriores» delimita claramente os campos. O que no. artigo 2or.° se decreta nfo tem aplicagdo as nulidades reguladas nos artigos 193.° a 200.°; estas téem 0 seu regime proprio e especial, fixado nos textos respectivos, e€ que jd estudamos, Ocupemo-nos agora do regime geral. 483, pgentn Por tres modos se pode violar a lei dora dos actos: a Tel process ue Prat al regula. ‘Ando-se um acto que a tei exemplo, ouvindo-se ou citando-te @ ect feita a restitulgdo provisor posse (art. ye Euleiio) se (art, 4o0."); 2. Omitindo se um acto que a lei tee exemplo, deixando de notific: ao recorrido 0 ie cna de admissto do recurso (art. 687." : ae nfo admita, por © o esbulhador antes de 3° Omitindo-se uma formalidade que a lei éxija por exemplo, inquirindo-se uma testemunha sem a pres- ie previa do juramento (art. 639.°,. com referencia a art. 576."). Nao suscitam dificuldades 0 2° ¢ 0 3. modo. Quanto ao primeiro, convém ter presente que a formula «acto que a lei nfo admita» nfo equivale inteiramente a «acto que a Jei nfo ordene». A lei pode deixar de prescrever a pratica dum acto, sem-querer com isso impedir absolutamente que © acto se realize. Perante'a prdtica dum acto nao previsto na lei, a atitude da ordem juridica pode ser ou a de indife- renca, e, portanto, tolerancia, ou a de hostilidade. No 1.° caso n&o pode dizer-se que a pratica do acto importa violacao da lei; no 2.° caso € que, praticando-se 0 acto, comete-se uma infraccao. Se a lei proibe a pratica do acto, como sucede no exem- plo apontado (art. 400.°), nfo ha diivida de que a atitude € a de hostilidade!. Se a lei nem proibe nem ordena o acto, ha que atender ao artigo 138.°, combinado com 0 artigo 457: a atitude pode ser de tolerancia ou de reprovagto, coniorr® .o acto for simplesmente dispensdvel ow eae ; eek posto que dispensdvel, pode ter alguma utilida at ue seid der-se que a lei nfo se opoe terminantemente @ 4 re ; + i 98,0 condena a pr ica praticado; se 0 acto é inutil, o artigo 13° dele, ser implicita. te, quando for Jei se propos ode Jem ‘de express P' 7 (celta ow virtualmen m que ® 1 Note-se que a, protbigho, ' ‘O acto deve considerar-se protbido imp! Sees contrario & indole do processo 00 COMPION TT ives conseguir, 1 o que sucede com a audién' tado € efectuado o arresto. tado antes de decre- I, Cap. I— Dos actos processuais ixemplo de acto simplesmente dispensdvel : a audiéncia: do Ministério Ptiblico ou das partes ou da parte contraria, fora dos casos em que a lei a exige. Suponha-se que uma das partes argtle uma nulidade de processo, com fun- damento no artigo 201.°; 0 juiz, antes de tomar conhe- cimento da argiiigfo, manda ouvir a parte contréria. Podera esta audi¢ncia considerar-se pratica de acto que a lei nao admite? Cremos que nfo. O Cédigo nfo manda ouvir a parte contréria ao reclamante; s6 no caso do § 1.° do artigo 193.” € que considera necessdria essa audiéncia. Mas pelo facto de a n4o ordenar em geral, n4o se segue que a queira pres- crever ou protbir; reputa-a, em princfpio, dispensavel ou des- necessdria, mas nada indica que a tenha por condendvel ou inutil. Na pratica do féro a cada passo se manda ouvir a parte contraria aquela que argile a nulidade. O que ha de caracterfstico e frisante-no artigo 20r.° é a distingo entre infracc6es relevantes e infraccbes irrelevantes. Praticando-se um acto que a lei n4o admite, omitindo-se um acto ou uma formalidade que a lei prescreve, comete-se uma infracg4o: mas nem sempre esta infraccgdo é relevante, quere- dizer, nem sempre produz nulidade.. A nulidade sé aparece: quando se verifica um déstes casos: a) Quando a lei expressamente a decreta; 4) Quando a irregularidade cometida possa influir no- exame ou na decisdo da causa. O primeiro caso nao levanta dividas. Se a lei declara, em térmos explicitos, que determinado acto nao. podera ser praticado, sob pena de nulidade, ou impée a pratica dum acto ou a observancia duma formalidade sob a cominacao de nulidade, nao ha que averiguar se a inobservancia do pre- ceito legal] é ou nfo susceptivel de influir no exame ou. na decisdéo da causa, nem t&o pouco que apreciar se essa ino- bservancia compromete ou nfo o fim que o legislador se pro- punha atingir; o tribunal tem de inclinar-se perante o impé- rio da lei, tem de decretar a anulacto pura e simples- mente, Nesta parte a nossa lei afasta-se da lei italiana, Em face do artigo 156° do novo Cédigo italiano, a inobservancia da forma pre: em dois 1.° se a para os actos de process ai 80 produg nulidade nulidade € cominada pela ® tam 08 requisites formais indispensivets pa $6 10 acto fal- do fim. Até aqui nao ha diferenca profund pore eg) do Cédigo. italiano € 0 artigo 201.° do C a entre o artigo 156." artigo 201.° do Cédigo que, pode, em certa maneira, ‘descobrir-se senelheve sree a formula — «quando a irregularidade aaeiat sea cne no exame ou na decisdo da causa» —e a formula. nis a0 acto faltarem os requisitos formais indiapenedvela' parate cconsecucio do fim». La Mas 0 artigo 156.° do Codigo italiano acrescentao seguinte: «a nulidade nunca pode ser decretada, se 0 acto atingiu o fim a queé destinado». E claro que esta restrigdo esta em cor- réspondéncia wnicamente com a primeira regra: a inobser- wancia de formas produz nulidade quando a lei o declara. De maneira que a verdadeira doutrina do Codigo italiano exprime-se assim: a pretericao dos requisitos formais importa nulidade quando a lei prescreve a observancia deles sob pena de nulidade, salvo se, n&o obstante a preteri¢ao, se tiver conseguido o fim a que o acto se destinava. E aqui € que se ‘nota a divergéncia entre a lei italiana eanossa. O artigo 20r.° no admite a limitacao consignada na ultima alinea do artigo 156.° do Cédigo italiano; desde que a lei impoe deter- minada forma sob pena de fiulidade, a inobservancia da forma legal tem como conseqiéncia necessiria a aplicagio da comi nag&o, sem que ao tribunal seja dado averiguar ou oe se, apesar da infracgao, se atingiu ou fo o fim que se Hn 7 em vista. O artigo 274. 40: «ainda que deter! a cominagio de nulidade, esta som juiz, se n4o for possivel suprir-se sere esta disposi- sido prescrita com ciada pelo se 0 acto». ° do Codigo brasileiro in minada forma tenha mente sera pronun a falta ow repetir~ e a infracga O 2. m qu a iaeran Ine de apreciagho. deixa ao juiz um largo poder que compete, no seu prudente # dade, conforme entenda que #’ a ‘ou nfo exercer influencia nO exame ow HI, Tit. I, Capel No artigo 198." estabelece-se, como vimos, um outro cri- tério, com referencia A nulidade especial da citagio. A argui- go so sera atendida, diz-se ai, se a falta cometida puder pre- judicar a defesa do réu. Como a citagao se destina a chamar. o réu a juizo para se defender (art. 228.°), bem se compreende que a relevancia ou a irrelevancia da.infraccdo formal come- tida no acto da citagao dependa da influéncia que pode exer- cer sobre a defesa. Se a irregularidade nao é susceptivel de prejudicar a defesa do citado, o tribunal, posto que reconheca ter-se preterido uma formalidade legal, deve desatender a argilicéo; se a irregularidade pode afectar o réu na sua defesa, o tribunal deve anular a citacdo.e ordenar que o réw seja novamente citado em térmos regulares. Pode afirmar-se que aqui se adoptou, para caso especial, 0 critério geral enun- ciado no artigo 156.° do Codigo italiano: 0 critério do fim a atingir. Quando a citac4o, apesar de feita irregularmente, retine os requisitos necessdrios para dar conhecimento ao réu de que foi proposta contra éle determinada accao e para o chamar a juizo, a fim de se defender, estamos nitidamente em presenga dum acto de processo que, embora praticado com inobservancia de formalidades prescritas na lei, satisfaz ao fim a que é destinado. A formula ‘do artigo 201.° nao se ajusta, com a mesma nitidez, ao critério do sim; mas em ultima, andlise exprime pensamento idéntico. Os actos de processo téem uma fina- lidade inegavel: assegurar a justa deciséo da causa; e como a decis4o n&o pode ser conscienciosa e justa se a causa no estiver convenientemente instruida e discutida, segue-se que o fim geral que se tem em vista com ‘a regulacdo e organizagdo dos actos de processo esta satisfeito se as diligencias, actos e formalidades que se praticaram garan- tem a instrucdo, a discussio e o julgamento regular do pleito; pelo contrario, o referido fim mostrar-se-a prejudicado se es. praticaram ou omitiram actos ou deixaram de observar-se formalidades que comprometem o conhecimento regular da causa e portanto a instrugfo, a discussfo ou’o julgamento dela. E neste sentido que deve entender-se o passo «quando a irregularidade cometida possa influir no exame ou na deci- Digitalizado com CamScanner Art sone causa», O exame, de que a lei fala, desdol 5 duas operagdes: instrugio © discusstlo da causa? Disposigao semelhante a do artigo 2o1.* se encontr ee pa ee ‘tigo | ‘ano gainico do artigo 710." Trata-se aqui do julgamento do recurso de apelagdo e determina-se o seguinte: «Tendo subido com a apelagio agravos interpostos de despachos proferidos anteriormente, conhecer-se-4 déles em primeiro lugar, mas so serdo providos quando se entender que a infracciio cometida influ no exame ou na decisito da causa.» Este preceito relaciona-se com a alinea d) do artigo 734.°, segundo a qual os agravos interpostos de despachos proferi- dos depois da decis%o das reclamagées contra o questionario 56 subir&o com 0 recurso interposto da sentenga final. Ape- Jou-se da sentenga e com a apelagdo subiram ao tribunal superior agravos interpostos de despachos proferidos poste- riormente ao julgamento das reclamagées contra 0 questio- nario; a Relacao vai conhecer desses agravos por ocasiio do julgamento do recurso de apelagio e antes de entrar na apre- ciacdo do objecto déste recurso. Uma de duas: aj Ouo tribunal entende que o juiz de 1. instancia decidiu bem e portanto que 0 agravante nao tem razdo; 1 Algumas decisdes sObre infracgdes de forma jrrelevantes: — Constitui nulidade 0 recebimento duma petigao de agravo ane nao tenha a assinatura de advogado; mas como & irregularidade nao ¢ de molde a influir no exame ou decisiio da causa, nio deve set atendida, acérdao do Supremo Tribunal de Justiga de 7 de fevereiro de 1928, Revista de Legislagdo, 61.%, pag. 163+ en falta de sealiragae de vencido no voto dum juiz ¢ a nto exis- teneia, no proceso, da acta de julgamento 640 simples mudades suPet veis, que devem ser desatendidas, por nfo Influtrem no exame e desisto da causa, acérdéo do Supremo ‘Tribunal de Justign de 29 de nov de 1919, Colecgdo Oficial, 28.°, pag, 326. ; a oe es ie Sinda que ‘o fdisse, devia considerat se desatendida por nfo influir no exame ¢ deciste din cats © fae ee feito em reconvengao, embora a seguir i contestagito ©1104 Pantene desta, um pedido respeitante ao acto ou {acto juridico dene os pennies acérdao dn Relagao de Lisboa de 28 de malo de 199% contin A Hee oA falta de apresentagtio do duplicade do Yer sta decisto posigdo do recurso constitni irregularidade dV" 10 iene de 194m Reviste da causa, acérdao da Relagio de Lisboa de 16 de dezembro de Justiga, 28.2, pag 136+ esuprivel eser to de oreu ter Digitalizado com CamScanner b) Ou, pelo cont yado ofendeu a lei. No 1.° caso nega provimento ao agravo © conseqtente- mente confirma o despacho. No segundo nfo concede logo provimento ao agravo; tem de verificar, a seguir, se a viola- gfo da lei, cometida pelo juiz de 1." instancia no seu despa- cho, influi ow n&o.no exame ou na decisao da causa. Se acha que infui, dé provimento ao agravo, revoga o despacho, ¢ manda stibstitui-lo por outro que exprima o cumprimento da lei; se acha que nao influi, nega provimento ao agravo, Portanto nesta hipotese a violag&o da lei por parte do juiz recorrido ¢ irrelevante, O que no processo ordindrio sucede tnicamente em rela- g&o aos agravos a que se refere a alinea d) do artigo 737.°, € a regra do processo sumirio (art. 792°). E evidente que também aos agravos interpostos em processo sumario que segundo a regra subam com o recurso interposto da sentenca final, se aplica a disposigao do § tinico do artigo 710.° O que neste pardgrafo se prescreve nado pode conside- rar-se repeticao desnecessdria do que esta determinado no artigo 201.°; os dois textos téem dominio de aplicacdo dife- rente. No caso do artigo 2o1.° trata-se de nulidade de pro- cesso, de erro de forma (error in procedendo), isto é, de pra- tica de acto que a lei n&o admite, de omissdo de acto que a lei prescreve, ou de pratica de acto com preterig&o de. for- malidades legais; no caso do § wnico do artigo 710.° trata-se de érro de decisdo (error, in judicando), de despacho que ofendeu a lei. Mas porque, num e noutro caso, o erro cometido nao exerce influéncia sobre a apreciag&io e conhe- cimento do fundo da causa, a lei autoriza o tribunal a-decla- r4-lo irrelevante. re que 0 despacho agra. 69. Argiligio © conheolmento oflolose, O artigo 202.° mos- tra que ha nulidades de que o tribunal pode e deve conhecer oficiosamente e outras de que sé pode conhecer sobre recla- magdo dos interessados. Ja assim era pelo Codigo de 76: das nulidades insupriveis os tribunais podiam.conhecer ‘o, das supriveis ‘s6 podiam conhecer a requerimento ‘dos interéssados (art. 131.°, § wn, art, 132°), Hoje a dis- 02, Ss aa tingdo tem outra base; o tri . ibunal pod, mente das nulidades mencionadas mara conhecer oficiosa- da peticlo), 194.° (falta de citacao), 199° (en 193.° (ineptidao processo) e€ 200.' (falta de intervencio do Mint na forma de como parte acesséria); das restantes $6 pode conker solic reclamac&o dos interessados, conhecer mediante x) _Conhecimento oficioso. Como se vé pelo arti a autorizacéo do conhecimento i Sire Oficioso incide sob; i re as nuli- dades que podemos chamar de primeiro grau, a assinalar duas restrigées: ees LbsAaue 1° O tribunal nao pode conhecer dessas nulidades nos casos em que elas devam considerar-se sanadas (art. 202.°); 2 Proferido o despacho saneador, cessa o poder do cconhecimento Oficioso (art. 206.°). A primeira restrigdo visa 0 disposto nos- artigos~196.° e 200.° A nulidade da falta de citacdo fica sanada se o réu ou o Ministério Publico intervier no processo e ndo argiiir logo a nulidade; a falta de vista, de exame, de notificacao ou de audiéncia do Ministério Publico quando haja de intervir como parte acessoria reputa-se sanada desde que a entidade respectiva tenha feito valer’os seus direitos no processo por intermédio do seu representante. Sanada assim a nulidade, € claro que ja nao é licito ao tribunal conhecer dela, nem ex officio, nem a requerimento dos interessados. ‘A segunda restrigdo pressupoe que 0 processo eomporta despacho saneador. Verificado éste pressuposto, 0 ean os o dever de conhecer, no referido despacho, das a i is mencionadas nos artigos 193% 194-%)-199" © 200% S& = nfo houver conhecido anteriormente (arts. oe a nv 1.9), Se tem. este dever, segue:se ave Mh poder-dever. ferido pelo artigo 202.° é verdadeiramen'® Comissto Revi- O st. dr, Silva e Sousa tinha, Propo ase substituide sora, que a palavra «pode» do ele io fazer a substitul- pela palavra «dever '; nfo foi necess y0.2-com 0 artigo 206." Go, pois que da coordena¢4o do artige 20% 1 Esbdco da Acta n.° 17) pag 52 Digitalizado com CamScanner bin, I, Tit I, Ca Dos actos processuais se infere claramente que o poder atribuido ao juiz por aquéle artigo tem o eunho dum autéentico dever. Se o juiz nao cumprir, até ao momento em que profira o despacho saneador, 0 dever de conhecer oficiosamente das nulidades indicadas, 0 poder de conhecimento oficioso extin- gne-se. Proferido 0 dito despacho, sé a requerimento dos interessados, quando: seja ainda admissivel, pode tomar conhecimento délas (art. 206.°). Se 0 processo nfo comporta despacho saneador, entdo o poder de conhecimento oficioso subsiste até a sentenga final (art. 206.°, tiltima alinea); 0 juiz pode conhecer das nulida- des. referidas em qualquer altura do processo e até na pro- pria sentenga final. A frase «se nao houver despacho saneador» equivale a esta: «se 0 processo n4o admitir, por sua natureza, despa- cho saneador», como sucede com o processo. sumarissimo (art. 799°) € com varios processos especiais (arts. 999.° € segs, Tor9., 1038°, 1045.%, r0Br.*, 1083, 1103.° 1113.°, 1114.2 2 1116, 1122.9 © Segs. 1140." a T144.°, 1369.° © segs. 1452.°, -etc.). Suponhamos, porém, que o processo admite despacho saneador, mas 0 juiz nfo, o préfere. Neste caso, ha que distinguir: 2) ou se argdi em tempo a nulidade da omissio do despacho; 4) ou nao. Na 1.* hipdtese a omissio tera de ser suprida, o’despacho tera de ser profe- rido e caimos no dominio do preceito inserto na 1.* alinea do artigo 206.2; na 2," hipotese a nulidade da omissao do despacho fica sanada e tudo se passa como se 0 juiz hou- vesse proferido o despacho € néle nao conhecesse das nuli- dades mencionadas nos artigos 193.°, 194.", 199.° € 200° 2) Argitigdéo, Das nulidades ‘nfo compreendidas nos artigos 193, 194." 199,° @ 200.* 0 tribunal s6 pode conhecer sObre reclamagfo ou argtli¢to dos interessados. Mas depois de formular esta regra o artigo 202.° acres- centa: salvos os casos especiais em que a tei permita 0 conhecimento oficioso, Ha, na verdade, disposiges especiais que dao ao tribunal o poder de conhecer oficiosamente de nuli- dades diversas das designadas nos artigos citados. Exemplo: © artigo 487.2 Quando o réu se coloque em situagio de reve- Digitalizado com CamScanner Arts. 202.9 ¢ 206.0 49n tia, isto & nem deduza oposi¢no av pedi mandatario, 0 tribunal tem o dever ql? Mem consti . | ever de verif Stitua foi feita com as formalidades lepaiy ¢ qo quando encontrar irregularidades A lei processtial tem horror a revelia: providencias destinadas a faze-la desapary toma, 5 a ‘ecer, razio de ser do artigo 487° Chegou-se ao to tmo por isso, E esta a fixado para a contestacdo e sucedeu que 6 réu ae prazo n oa o juiz deve examinar © processo e se vir pean nao ter contestado, o réu nao constituiu mandatario, hacde averiguar, com cuidado: a) se o réu foi citado; 4) an tae afirmativo, se a citacdo revestiu tédas as formalidades legais. Quando reconheca que houve falta de citac&o, ordenara que o réu seja citado; quando se certifique de que a eiacanae efectuou, mas com pretericao de algumas formalidades aci- dentais, mandara repetir 0 acto com a observancia de tadas as formalidades prescritas na lei. Ora nesta segunda hipotese o juiz vai conhece-, | or sua iniciativa, de nulidade que no pertence ao grupo das de primeiro grau, de nulidade que no esta incluida ros arti- gos 193.°, 194.°, 199.2 e 200.° Trata-se 4a nulidade pre- vista no artigo 198.° A observar-se a regra formulada no artigo 202.°, 0 juiz s6 poderia conhecer desta nulidade mediante reclamacdo dos interessados; € 0 artigo 4872 que nao sd lhe permite, mas’ até lhe impée, 0 conhecimento of- cioso. Estamos assim em presenca dum dos casos especiais. ressalvados na parte final do artigo 202.° | Outro caso é 0 previsto na 2.* alinea do artigo 205 que adiante nos referimos. . O regime da argiligto das nulidades postula trés pontos: 1° Quem pode argili-las; 2° Em que prazoou até que momen 3° Como se faz a argiiigfo. nto podem serargilidas;, 6.0 se depreende ii be i 202.° 20 Primeiro ponto. Dos artigos 202" © snteressados- que as nulidades podem ser argtiidas pelos, Mas.o que deve entender-se. por cinteressados? Poderia supor-se que a express visa 9 6 Pessoas que tenham inferésse em restabelec designar as pservancia. Liv. II, Tit. I, Cap. 1 — Dos actos processnais 492 je, TIT, U o acto ou a formalidade omi- SMe men incerrdc cto cuja pratica a lei nao admite, E como a pessoa interessada na observancia da lei € aquela que foi prejudicada com a sua inobservancia, seguir-se-ia que as nulidades so poderiam ser argilidas por quem tivesse sofrido prejuizo com a respectiva infrac¢ao, Nao ¢ este o sentido da palavra «interessados». Para o demonstrar basta atendéra que oartigo233.° do Projecto negava o direito de argiligao a quem nao houvesse sofrido prejuizo coma irregularidade cometida e tal doutrina nao foi repro- duzida no Cédigo, por nao concordar com ela a Comisséo Revisora. O sr. dr. Barbosa de Magalhies impugnou essa innovacao do . Projecto, taxando-a de imprecisa e perigosa: perigosa, porque era de aplicacao dificil e dava ao juiz um largo arbitrio. A Comissdo assustou-se e deliberou que se eliminasse a referida protbicdo. Vé-se, pois; que 0 inéerésse ha-de dizer respeito, ndo a infraccdo cometida, mas a causa em que se cometeu, 0 que equivale a atirmar que 0 térmo «interessados» tem 0 mesmo valor e a mesma significagdo que o térmo «partes». Quem .pode argiiir a nulidade sao as partes. As partes se referem Os artigos 203.°, 204.° € 205.° Na vigéncia do Codigo anterior discutiu-se se era licito as partes acessdrias reclamar contra as nulidades, ou se a reclamacao sd podia ser deduzida pelas partes principais\. O sr. prof.. Barbosa de Magalhaes propés que no artigo 232.° do Projecto, correspondente ao artigo. 202.° do Codigo, se dissesse «de qualquer das partes», em vez de «dos interes- sados»; assim ficaria esclarecido, observava, que s6 as partes podem reclamar contra as nulidades e que o direito de recla- ma¢4o compete tanto as partes principais como as acess6- rias. N&o nos parece que a redaccfo proposta eliminasse a duvida a que nos estamos referindo, Quando se diz «qual- r reali. aparecer Oi da lei, isto é, em f * O acérdio da Relagdo do Lisboa de 14 de julho de 1900, Gaseta, 14°, pag. 46, negou aos assistentes o direito de argitir nulidades; por sinha parte sustentei a tese contraria, Processo ordindrio, 1.8 edigao, ag. 587, Art, 203° 493° quer das partes», 0 sentido autor como o-réu. Para se significa & atribuido assim as partes + mals expressiva e adequ: quer partes». Posto que nao tenh. Corrente da frase é este: tanto o. T que determinado poder pais como as acessdrias, figura a formula equais. prin ada se nos ; enha sido modificado 0 texto do do Projecto no sentido indicado pelo sr. dr, Barbos Ih&es, consideramos certo que direito de argitir nulidades, processo, a posic&o de assist nindo os: poderes e deveres -lhes os mesmos direitos que ao autor pode, pois, artigo 232.0 a de Maga- as partes acessérias cabe o As partes acessérias téem, no entes; ora o artigo. 342°, defi- gerais dos assistentes, atribui- 4 parte assistida, O assistente- argitir as nulidades que o préprio autor teria o direito de arguir, como ao assistente ao réu é licito argiir as nulidades que o réu poderia deduzir; Portanto os assistentes téem o direito de reclamar contra as nulidades cometidas no processo, contanto que a parte assistida nao haja dado causa a nulidade respectiva au nao tenha renun- ciado a argilic&o, expressa ou tacitamente (art. 203.°), E claro que as partes podem reclamar nAo sé contra as. nulidades nao abrangidas pelos artigos 193.°, 194.°, 199.°- € 200.°, serido também contra as que éstes artigos prevéem e. regulam;.se.aos: tribunais € dado o. poder de conhecer oficiosamente destas nulidades, por maioria de razdo lhes é permitido ecupar-se delas quando as partes. tenham apresen- tado reclamacdo; € se mesmo depois de extinto o poder de conhecimento oficioso ainda as partes téem o direito de deduzir reclamacio (art. 206.°), no se compreenderia que este direito lhes fésse negado durante o perfodo em que subsiste o refe- rido poder. Ao principio geral de que as partes podem reclamar contra quaisquer nulidades ocorridas no processo’o artigo 203. i \duz duas limitagdes: : av Nao pode argilira nulidade a parte que deu causaa Ga 4) Nao pode argtlir a nulidade a parte que renuncio' i expressa ou tacitamente. . are enitagbes identicas se l¢em no artigo +57 Soe Cédigo italiano; e a segunda esta também consig! Digitalizado com CamScanner 494 Liv. IIT, Tit. I, Cap. 1 — Dos actos processuais leiro. n° rr do artigo 273.° do Codigo br: Mas estes dois Cédi- gos vio mais longe; admitem uma terceira limitagio: a nulidade sé pode ser argilida ou oposta pela parte interessada no restabelecimento da lei ofendida'. Esta limitagao corresponde, afinal, a idéia que pretendia exprimir-se no.artigo 233.° do Projecto, ao estabelecer-se que «nfo pode argiiir uma nulidade de processo quem nao tenha sofrido prejuizo com a irregula- tidade que se cometeu» ?. Vé-se que o legislador italiano e o brasileiro nao se 1 A 28 alines do artigo 157.° do Cédigo italiano exprime-se, assim: «Soltanto la parte nel cui interesse é stabilito un requisito-pud opporre la nullita dell’ atto per la mancanza del requisito stesso»... E 0 n° 1 do artigo 273° do Cédigo brasileiro dispdé que o juiz devera considerar valido 0 acto «se a nulidade ndo for argitida pelo inte- ressado na observancia da formalidade ow na repeti¢ao:do acto} ? O ‘acérdao da Relacdo de Lisboa de 25 devagdsto de . 1909, Gazeta, 23.°, pag. 365, decidiu que a falta de vista dum documento a parte contraria néo importa nulidade se esta parte nao reclamou contra a falta ¢, ao contrario, declarou prescindir da vista. © caso concreto apresentava-se assim: uma das partes requereu a jungao dum documento ao processo; deferido 0 requerimento, ndo se deu vista do documento a outra parte, como a lei preceituava ; 0 requerente argiiu a nulidade resultante da falta de vista; a parte contréria,declarou que prescindia da vista do documento, O tribunal, em face disto, desaten- dew a argiigao. Aqui témos um caso nitido em que a nulidade fora argiiida por quem néo tinha interésse em fazer cumprir a lei ou ndo sofrera prejuizo com a infraccéo cometida, Hoje nao ha vista a parte contraria em conse- ytiéncia da jungao de documentos; mas a jungdo tem de ser notificada & Parte contréria (art, 551.9), Pude, por isso, actualizar-se a questo desta maneira: uma das partes ofereceu documentos com o ultimo articulado ou posteriormente ; a parte contréria ndo foi notificada da jungdo; podera a nulidade resultante da falta de notifieagdo ser argiida pela prépria Parte que ofereceu os documentos? Em caso afirmativo, a argiicio deverd ser desatendida se a outra parte declarar que prescinde da noti- ficago? Se tivesse vingado a doutrina inserta no 1° periodo do artigo 233.° do Projecto, é evidente que a nulidade figurada s6 poderia ser argiida pela parte contraria A que ofereceu os documentos; era ela que tinha interésse na argiigéo, porque a notificagao foi estabelecida em seu bene- ficio; era ela a pessoa prejudicada pela omissdo cometida, Mas em face das disposigées do Cédigo a solugdo divérsa, Nao pode negar-se & Digitalizado com CamScanner Art. 203.0 495 lee possuir do susio que atemorizou o legislador por- A primeira restri¢io contida no justificagao, Nao 6 decoroso admitir a parte a quem a‘infraccao, da lei é contribuiu para que a lei deixasse de se, O contrario equivaleria a consen proveito da sua propria malicia, ou, que fisesse 0 mal e a caramunha. A infraceao da lei processual pode derivar: 1) de facto imputavel ao autor; 2) de facto imputavel ao réu; 3) de facto imputavel aos funcionarios judiciais. Exemplos do 1.° caso: a nulidade da ineptidao da peticao inicial, a nulidade do érro na forma de processo. Se o autor apresenta uma peticdo inepta ou se requere que se sigam os termos do processo ordinario quando deviam seguir-se os do Pprocesso sumario ou os de determinado processo especial, nao Ihe é licito argir depois a nulidade do artigo 193.° ou a do artigo 199.°; pode o tribunal suscitar oficiosamente a nuli- dade e conhecer dela, pode o réu opé-la: 0 autor-é que esta inibido de a acusar e contra ela reagir. Exemplos do 2.° caso: 0 réu deduziu reconvengao fora dos casos e térmos em que o artigo 279.° a admite; o réu ofereceu a contestagdo passado o prazo legal ou sem a fazer acompanhar dos respectivos duplicados; © réu apresentou a tréplica em processo. ordinario sem a deducio, Por artigos, dos fundamentos da defésa. Estas violacdes da lei nao podem ser argiiidas pelo proprio réu. artigo 203.° 6 de facil que invoque a nulidade imputavel, a parte que r observada e cumprida, tir que ‘a parte tirasse em linguagem popular, parte que ofereceu os documentos o direito de reclamar contra a nulidade ivada da falta de notificagao. ver Sgponhamos agora que 4 parte contra vem declarer ov spon taneamente ou depois de ter sido ouvida pelo juiz) que prevcinde da ntl ficagdo, Parece-nos fora de ditvida que, em tal caso, a argitigao efeito, Nao tem aplicagio alguma trata de rentincia a argitigéo; tr a esta hipétese 0, artigo 203° Nao se ata-se’ da remtincia 4 pratica do aor gue jasiv se omitira, Visto o artigo 551.° exigir a notificacto Binns eau da parte contraria, é evidente que esta pode renuuslenelcee ee pode prescindir do acto que visa a proteger 0 seu Liv. IIT, Tit. 1, Cap. 1 — Dos actos processuais 496 ae Dir-se-& talvez que no 2° exemplo figurado— ofereci- mento da contestagio fora do prazo ou desacompanhada de duplicado —a infracefo ¢ imputavel, nfo ao réu, mas a secre- taria, Esta nao devia receber o articulado; foi ela que, rece- bendo-o, desrespeitou a lei e cometeu, portanto, a nulidade, N&o ha duvida de que a secretaria tem responsabilidade na infraccAo que se praticou; mas isso n4o iliba o réu nem 0 isenta de responsabilidade. A causa primdria e mediata da infracgfo € um. facto do réu: ter éle apresentado na secretaria. a contestac’o fora do prazo ou sem o duplicado respectivo; a causa imediata é um facto da secretaria: 0 recebimento indevido do articulado. Sempre é certo, pois, que 0 réu deu causa a nulidade e ndo pode, por isso, argiii-la. Exemplos do 3.° caso: o juiz nao ordenou a citacdo do réu; ou ordenou-a, mas 0 oficial ndo a f@z; ou fé-la, mas com pretericfo dalgumas formalidades acidentais; o chefe de seccéo ndo, notificou as partes de determinado despacho, devendo notificd-las, ndo deu vista do processo ao Minis- tério Publico, apesar de a lei lhe impor o dever de a dar, n&o cumpriu o disposto no artigo 551.°, etc. Nestes casos e em casos semelhantes- a nulidade pode ser argilida por qualquer das partes. * A segunda limitagdo exarada no artigo 203.° é igual- mente compreensivel. Se a parte renunciou a arguicdo, nfo faz sentido que depois disto se apresente a reclamar contra a nulidade. A duvida que poder suscitar-se é esta: a 2.* parte do artigo 203.° estende-se a tédas as nulidades, ou ficam fora do seu ambito as nulidades mencionadas nos artigos 193.°, 194.°, 199.° € 200,°? A inibicgfo esté formulada em térmos gerais; a parte que renunciou a argili¢ao n4o pode reagir contra a nulidade,. qualquer que ela seja. Mas pode objectar-se: a renuncia so € valida quando incide sobre matéria disponivel, isto é, sébre matéria em que o principio da autonomia da vontade pode exercer a sua ac¢fo; ora as nulidades dos artigos 193.°, 194.°, 199.° € 200.° so conseqtiéncia de infraccdes subtraidas ao dominio da vontade das partes, e tanto assim é que se da aos tribunais o poder de conhecer delas oficiosamente e, por Digitalizado com CamScanner Arts. 202. ¢ 203.0 497 isso, de restabelecer 0 império d temente da vontade das partes, Nao procede, & nosso ver, a objeccho, Nao ha hoje, em rigor, nulidades de processo insandveis, i artigo 206.° para se reconhecer mais graves, as de primeiro grau, mencionadas nos arti- BOS 193." Fo4-"s 199." € 200.%, ficam sanadas se o tribunal nao conhecer delas até ao despacho saneador e as partes j4 nao puderem reclamar contra elas. Isto Mostra, sem diivida, que nfo esto verdadeiramente em j6go interésses de ordem publica, que transcendam o dominio da autonomia da vontade. Por outro lado, nfo ha repugnancia nem incompatibili- dade entre as duas Posigses: a do tribunal que conserva o poder de conhecer oficiosamente da nulidade, e a da parte que j4 perdeu o direito de a argiir. Varias vezes sucede que ao tribunal é licito conhecer de vicio ou irregularidade contra o qual.a parte jé nfo pode reclamar; e€ 0 1.° periodo do artigo 204.°, comparado com a 1.* Parte do artigo 206.°, da-nos um exemplo frisante. Concluimos, pois, que as partes nfo podem argiir qual- quer das nulidades apontadas nos artigos 193°, 194.°, 199.% e 200.°, desde que hajam renunciado 4 argtic4o; mas isto ndo obsta a que o ttibunal conheca delas oficiosamente. Como se indica no artigo 203°, a rentncia pode ser expressa ou tdcita. Renuncia expressa é a que resulta de declarac4o verbal ou escrita; renincia tacita é a que resulta de factos que impliquem necessariamente a vontade de renunciar ou, noutros térmos, da pratica de facto incompa- tivel com o designio de argiir a nulidade. a Propés o sr. dr. Barbosa de Magalhaes que, para limitar © arbitrio do juiz, se inserisse no artigo 203.° nogtio seme- Ihante & que se encontra no artigo 681.°, isto é, que se di: Sesse: renuncia tacita é a que deriva da pratica de facto incompativel com a vontade de fazer a argiligao. Nao se deu satisfacio ao desejo manifestado pelo. douto professor, Porque se julgou desnecessdrio introduzir no artigo 203° & definigdo de renincia tacita. Esta espécie de poner tingue-se da rantincia expressa por éste trago: em vez de se 2 ‘a lei, contra ou independen- Basta atentar no que mesmo as nulidades Digitalizado com CamScanner exprimir por palavras, exprime-se por /actos. Mas os factos hao-de ser de tal natureza que nfo comportem outra inter- pretagio que nio seja o propésito de renunciar; h&o-de ser factos que inequivocamente revelem ésse propdsito e por- tanto incompativeis com o designio de reclamar contra a nulidade. Pois que a lei admite a reniincia tacita, néo tem aqui aplicagio 0 que se dispde no § unico do artigo 815.° do Codigo civil. Segundo este texto a renuincia s6 pode pro- var-se por documento escrito e assinado pelo renunciante; A. rentincia a .argiii¢gio pode provar-se por qualquer meio. Segundo ponto: em que prazo ou até que momento pode ser argitida a nulidade. O sistema do Codigo de 76 era simples. As nulidades insupriveis podiam ser argitidas a todo o tempo; as supriveis ‘86 0 podiam ser dentro de cinco dias a contar daquele em que devia reputar-se que o interessado tivera conhecimento da nulidade. O Cédigo actual formula trés regras: x* As nulidades dos n.°* 1.° e 2.° do artigo 194.° (falta de citagao) e do artigo 200.° (falta de vista, exame ou notificagao ao Ministério Publico como parte acesséria) podem ser argiti- das em qualquer estado do processo (art. 204.°, 2.* alinea); 2° As nulidades dos artigos 193.° (ineptidao da peti- 40) e 199.° (érro na forma do processo) so podem ser argit das até 4 contestagfo ou nesta (art. 204.°, 1." alimea); 3 As restantes hfo-de ser argiiidas.ou imediatamente, ou dentro de cinco dias, conforme a parte estiver ou nao pre- sente no momento em que se cometerem (art. 205.°). Examinemos estas regras, 1." As nulidades da falta de citacio e da falta de vista ou notificagio ao Ministério Publico como parte acess6ria sto as que admitem a argiii¢fo até mais tarde; podem ser argili- das em qualquer estado do processo, Esta frase significa-que, enquanto o processo pender, a parte esta sempre a tempo de deduzir a argiicio; pode deduzi-la, pois, na 1.* instancia até a senten¢a final; e se desta se interpuser recurso e 0 processo subir ao tribunal superior, pode a argili¢do ser feita perante Digitalizado com CamScanner Art. 204.0 499 80, em qualquer f 0 final com. tr; Pelo que respeita ; alta de ¢ jectam-se mesmo para além do c: enscjo de verificar, damento de oposigao 0 tribunal de rec nao haja ainds se deste, contanto que Ansito cm julgado, Filo, 08 scus efeitos pro- | do caso julgado, conio ja tivemos @ nulidade pode ser invocada como fun. 4 execugio de senten¢a (art. 813.9, n. 5.0 c 0 de revisio de senten¢a transitada em julgado (art, 77%) ne 6°). Em qualquer destes casos apli- ©, no o regime de argiti¢fo das nulidades dos artigos 202.° e€ seguintes, mas o re gime especial da oposigéo a execucdo ou do recurso de revisao, Pelo que respeita a nulidade da falta de citagao do exe- cutado, 0 artigo g2r.° permite que este a deduza a todo o tempo, no processo de execucao, mesmo depois de finda a accao executiva. O artigo 204.° estabelece uma restrigdo: «enquanto nao devam considerar-se sanadas», Este adiiamento nem cra necessario. E claro que as nulidades, quaisquer que sejam, nao podem ser argitidas desde que devam, segundo a lei, reputar-se sanadas. Sanada a nulidade, o vicio desaparece; se desaparece, ¢ fora de duvida que ja n4o pode ser invo- ado ou oposto. E basta ler os artigos 196." € 200.° para se apurar que a falta de citacdo e a falta de vista, exame ou notificagio ao Ministério Publico ficam sanadas, verificados que sejam certos factos. 2." regra. S6 o réu pode argilir, como frisamos, as nuli- dades da ineptidao da peti¢ao € do erro na forma do pees se quiser argili-las, ha-de faze-lo, o, mais tardar, na contes tacio. Pode deduzir a race coer ee eta me a ir 4 sua citagao; po a ne ch Bpneineae Ofereslda ate, extingue-se o direito de aay ao tribunal é permitido conhecer enn destas nulidades enguanto nfo proferir 0 See aes (art, 206.2), nada obsta a que o réu, tains vou: perdeu'o taco, chame para elas a atengfo oles dn Iacubdade de direito de argiir; mas nfo esta prival dembrar. 500 Liv. II, Tit. I, Cap. I — Dos actos processuais 3" regra. O artigo 205.° faz a seguinte distingao: a) A nulidade cometeu-se durante a pratica de acto a, que a parte assiste; 4) A nulidade cometeu-se na auséncia da parte. No primeiro caso a argilig¢ao tem de ser imediata, isto 6, 86 se admite enguanto o acto ndo terminar. No segundo caso, © prazo para a argilicfo conta-se do dia em que, depois de cometida a nulidade, a parte foi notificada para qualquer termo do processo ou interveio em algum acto néle prati- cado, Quere dizer, no primeiro caso n4o ha verdadeiramente- prazo para a argili¢io: esta tem de ser deduzida, sen4o no proprio momento, pelo menos no proprio acto, enquanto éste néo findar. No segundo caso ha prazo para a argili¢do. O artigo 205.° nao o fixa; limita-se a indicar o ponto de partida da contagem. Intervém aqui 0 artigo 154.°, a. determinar que o prazo é de cinco dias. a) Nulidade cometida na presenca da parte. A lei diz. «se a parte estiver presente, por si ou por mandatario»; tanto. importa, pois, que a parte assista pessoalmente ao acto, como: que esteja representada néle por advogado ou solicitador. A duvida que aqui pode surgir é a seguinte: a que actos se aplica a 1.* parte do artigo 205.' Mais concretamente:: a regra af formulada sera aplicdvel as citacdes e as noti cagdes? A citagao, quando feita na propria pessoa da parte, é acto praticado na sua presen¢a; e o mesmo sucede quanto a notificag4o: ou se notifique a parte ou se notifique o manda- tario, a parte.est4 presente por si ou pelo sew representante.. Poderia, pois, entender-se que as nulidades ocorridas durante: © acto da citagfo ou da notificacio teriam de ser argilidas, enquanto o acto nfo terminar. Pelo que respeita & citaco, nfo é de admitir a doutrina exposta, O artigo 198.° mostra claramente que hid prazo para. a arguicdo da nulidade da citac&o, prazo que nfo pode deixar de ser o de cinco dias (art. 154.°); e ésse prazo conta-se desde: a citacéo, por expressa determinagfo do artigo 198." Digitalizado com CamScanner Arts, 204. ¢ 205.0 - sor ; Ainda Poera tentar-se a seguinte interpretagao. © artigo 198." aplica;se ao caso de citagio cdital ou de citaen feita em pessoa diversa do réu; a 1." parte do artigo nosm aplica-se a0 caso de citagao feita na prépria pessoa do réu Mas a verdade ¢ que a 2." alinea do artigo 198.", como di posigo especial, prevalece sobre a regra geral do artigo 205. © aguela disposigao esté redigida em termos tais que nic pode deixar de abranger tédas as formas de citagio. No dominio do Codigo de 76 discutia-se desde quando devia contar-se o prazo para a argilicdo de nulidade cometida no acto da citacéo ou da intimacao. Defendiam-se trés sotu- goes: x.“ O prazo conta-se desde a data em que o interessado teve conhecimento real e efectivo da irregularidade cometida; a presungao estabelecida no § 3.° do artigo 132.°,sé vale para o caso de ndo poder determinar-se 0 momento em que, de facto, o interessado tomou conhecimento da nulidade'. 2." O prazo conta-se desde a citacdo ou intimagao afec- tada de nulidade’. 3° O .prazo conta-se desde intimacéo ou intervencdo posterior 4 nulidade cometida®. Relativamente 4 nulidade ocorrida.no acto da citacdo, temos hoje texto expresso, como ja notamos; o prazo conta-se desde a propria citagdo (art. 198,°). Quanto a nulidade que ‘se cometer no acto da notificagao, poderia pensar-Se em apli- u, 1 Ac6rdéo do Supremo Tribunal de Justica de 26 de maio de 1916, Gazeta, 31.°, pag. rs . s Reord aon da Relagdo de Lisboa de, 4 de julhd de 1908, 5 de.maic de 1909 € 3 de dezembro de 1919, Gasela, 22%, pag, 141 € 23 pig. 506, Revista de Justiga, 5.°, pag. 10; acérdao da Relagdo de Lourengo ie de 30 de maio de 1917, Revista dos Tribunais, 36.°, pags 270% soa a Relagdo do Porto de 20 de fevereiro de 1920, Gazela, 33. pig. ser: es pacho de 7 de agosto de 1919 do juiz de Albergaria, Gazeta, ss ae cs acérdaos do Supremo Tribunal de Justiga de 2 de outubro de 1s bites fevereiro de 1913 ¢ 9 de abril de 1920, (azeta, 22% PAG. 49% 27° POS DIs Revista de Justiga, 5.°, pag. 130 . ' acauee “ia Relagto de Lisboa de 28 de novembro ce 1923 27.°, pag. 253; acérddos do Supremo ‘Tribunal de Jastice le reiro de 1910 ¢ 14 de julho de 1922, (srt, 24% PAB: 105) bunais, 41.9, pag. 232. Gazeta, de feve- sta dos Tri Digitalizado com CamScanner ip. ITT, Tit. 1, Cap. 1 — Dos actos proce 1" parte da 1.* alinea do artigo 205.0 “io ou @ feita por via postal (art ° »), ou & feita directa ¢ pessoalmente fart, ag6"). No 1" caso qualquer nulidade que porventura Seorra nao se pode considerar cometida na presenga da parte, pois nao ha contacto directo entre o funciondrio judi- cial ¢ 0 notificado; no 2.° caso 0 artigo 256.° manda observar as disposigoes relativas a citacao. Desta maneira, o preceito da 2." alinea do artigo 198.° deve’ aplicar-se notificagao feita na propria pessoa da parte: 0 prazo para a argtiicgao da nuli- dade é de cinco dias a contar da notificagto. Se é este o regime relativo as nulidades cometidas no acto da notifica~ ‘go pessoal, mal se compréenderia que as nulidades verifi- cadas no acto da notificagao postal ficassem sujeitas 4 regra da 2." parte da 1.‘ alinea do artigo 205." A notificacdo as partes, ou seja feita pelo correio ou seja feita directamente pelo funcionario judicial, ¢ um acto de indole identica ao acto da citagio; é um acto que tem por destinatdrio a parte e visa a dar-lhe conhecimento dum facto. Nem se lhe adapta. a regra da 1.* parte da 1.* alinea do artigo 205.°, nem a da 2.* parte da mesma alfnea; o preceito que se lhe ajusta € o da 2." alinea do artigo 198° Para a regra da 2.* parte da 1.* alinea do artigo 205.° so ficam as notificagdes As pessoas que intervéem acidental- mente na causa: testemunhas, peritos, etc. (art. 257°). As irregularidades cometidas nestas notificagdes podem ser argiidas dentro de cinco dias a contar daquele em que, posteriormente a notificagdo afectada de nulidade, a parte for notificada para qualquer termo do processo ou intervier nalgum acto néle praticado. Temos, poi a) Actos que téem conjo destinatario directo a parte (citagdes e notificagdes As partes); 4) Actos que nfo téem como destinatario a parte, mas se realizam normalmente na sua presenga,-por exemplo a audien- cia preparatoria, a audi¢ncia de discussio e julgamento, exa- mes, vistorias, inspeccdes, inquiri¢ao de testemunhas, etc. c) _Actos que nem téem como destinatdrio a parte nem se realizam na sua presenga, como o oferecimento de arti- car a repr contida 1 Mas atente: S| “593 culados, despacho saneador, jungio‘de documentos, ete. | Quando na pratica destas varias esp an nutidades, © regime da 4 nto aos primei a i dent ca aes cag emeion mle pote ser gti 2) Quanto aos segundos, a nulidade sé ae ao enquanto o acto nfo terminar; Lee seats Sorat earn aude ote ol ¢ a ar da primeira notificagio ou interven¢do posterior a infraccao cometida. No decurso duma audincia de discuss4o. e julgamento, com interven¢io das partes cometeu-se uma nulidade; as partes sé podem reclamar contra ela enquanto essa audién- cia nfo terminar. E neste sentido que deve interpretar-se a palavra «acto», escrita no artigo 205.° Se nao for possive! concluir a discuss&0 no primeiro dia e houver necessidade de se designar outro dia para a continuag’o dos trabalhos, o segundo dia de audiencia considera-se, para os efeitos do artigo 205.°, como acto judicial distinto do que se praticou no primeiro dia. E 0 que dizemos da audiéncia de discussao e julgamento dizemos da inquiriggo de testemunhas e de quaisquer outras diligencias de produgio de prova anterio- res 4 discuss4o e julgamento da causa; cada dia de inquiri- g4o, de vistoria ou de exame constitui acto judicial distinto e diferenciado para os efeitos da aplicagao da 1.* parte da 1.8 alinea do artigo 205.° | . A regra enunciada na 2.* parte da 1." alinea do artigo vem do § 3.° do artigo 132. do Codigo de 76; mas a formu- lagdo ¢ diferente. No Codigo anterior mandava-se contat ° prazo a partir do dia em que devesse reputar-se que.o 1m 7 ressado tivera conhecimento da nulidade; a seguir acresceny tava-se: «Reputa-se que o intere! desde que, depois da omissio i para qualquer termo do'processo ou in néle praticado.» , al de conhe- Estabelecia-se, portanto, una pee SE a moahecl- ; i 88: cimento: presumia-se que 0 intere organizi 0 do questidnario, , de actos se BUigho 6 o seguin ssado teve este conhecimento ou irregularidade, for intimado tervier em algum acto Liv. LI, Tit. 1, Cap. 1 —Dos actos processuais mento da nulidade no momento em que, posteriormente a infracgao, era intimado para qualquer termo ou intervinha em qualquer acto. Dai a dtivida: que cardcter tinha a presungao? Para.uns tratava-se de presungio juris ef de jure; para outros, de pre. suncao fantum juris, A opiniio geralmente seguida era ade que a regra do § 3.° do artigo 132.° funcionava como presun- ho ,juris et de jure; ms 0 acérdao do Supremo Tribunal de Justica de 26 de maio de 1916, acima citado, estabelecera jurisprudencia diversa. A questao no se pée actualmente. O artigo 205.° manda contar © prazo a partir da notificagdo ou interven¢do poste- rior, sem se preocupar com a data em que a parte obteve realmente conhecimento da violacdo'da lei. E claro que na base da regra legal esta a idéia de que, ao ser notificada ou ao intervir, a parte toma contacto com a nulidade e fica infor- mada da existéncia dela; mas a contagem do prazo nao esta, de modo algum, condicionada por essa circunstancia. Pode suceder que o processo suba, em recurso, a tribu- nal superior antes de findar o prazo de cinco dias dentro do qual ¢ licito as partes reclamar contra as nulidades, nos ter- mos da 2." parte da 1.‘ alinea do artigo 205.°; quando isso se dé, o § unico déste artigo permite que a argil:¢ao seja dedu- zida perante o tribunal de recurso e manda, para esse efeito, contar o prazo desde a distribuic&o. Reproduziu-se o preceito do § 2.° do artigo 134.° do Cédigo anterior. Suponha-se que, proferida a sentenca final e interposto recurso de apelac4o, se comete qualquer nulidade durante a fase da expedicto do recurso; a parte tem. cinco dias para argiir a nulidade, contados nos térmos da 2." parte da 1.* ali- nea do artigo 205.°; antes que ésse prazo expire, chega o momento em que os autos téem de ser enviados a Relagio. Ha aqui dois interésses em conflito: o interésse da parte idénea para argiir a nulidade; o interésse do seguimento rapido do recurso. A lei poderia sacrificar o primeiro inte- résse ao segundo, forgando a parte a reclamar contra a nuli- dade, mesmo antes de expirar o prazo legal; poderia sacri- ficar 0 segundo ao primeiro, determinando que a expediga0 Digitalizado com CamScanner dos autos para o tribu Al superior agua prazo para a fo da nulidade, solugao: n&o sacrificou nenhum dos in conciliar. E conciliou-os deste modo: do processo ao tribunal Superior ne: direito ao prazo facultado para que se admite'a argili¢no perante de cinco dias a contar da distrib nal. Quere dizer, tui-se por outro qu ardasse 0 térmo do Optou por uma outra nteresses, tratou de og nAo se susta a remessa m se priva a parte do a argili¢to; o que sucede & © tribunal de recurso dentro uic¢do da causa nesse tribu- © prazo normal fica sem efeito e substi- © comeg¢a a correr posteriormente, A alinea do artigo 205.° impde ao juiz o dever de Teparar as irregularidades que ocorrerem durante a pratica. de acto a que presida. E tem ésse dever nfo so quando a irregularidade for acusada ou argiiida pela parte, sendo tam. bém quando ele espontaneamente a note ou descubra. Temos aqui um outro desvio'da regra estatuida no 2.° periodo do artigo 202.° Ainda-que se trate de nulidade nfo com- preendida nos artigos 193.°, T94.°, 199.° € 200°, o juiz pode tomar conhecimento dela independentemente de reclamacdo dos interessados. A lei foi violada durante a pratica de acto @ que o juiz preside; logo que este se aperceba da violacao, deve tomar as providencias necessirias para restabelecer o império da lei, isto é, deve anular o acto indevidamente pra- ticado, ou mandar praticar o acto omitido, ou ordenar que se Tepita o acto com a observancia das formalidades que se haviam preterido. Lerceiro ponto: como deve fazer-se.a argiticho. | Oo Codigo anterior, referindo-se as nulidades supriveis, dispunha o seguinte: ; «O interessado que pretender argiir alguma oes nulidades, requereré ‘que se declare nulo 0 acto pret que ou que se mande praticar o acto ou a formali faltar.» (art. 132.°, § 1.°). en A erenicas devia, pois, revestir a forma de requerinnente Suscitou-se-a dtivida de saber se esta forma eterna a vel, a propésito dum caso concreto em are vez de usar de requerimento, usara. de prc to. A Relagao Liv. IIT, Tit. I, Cap. I— Dos actos proce: de Lisboa julgou testo; considerou indispensavel o requerimento!. O Supremo pronunciou-se em sentido contrario®; e era esta a melhor ivel, ou melhor, irrelevante, o pro- Nao podia razoavelmente atribuir-se .ao legisla- dor 0 pensamento de impor o requerimento: como formula sacramental e imprescendivel; 0 que importava e importa é a substancia, e nao a forma, Por outras palavras, 0 que se torna necessdrio € que o reclamante exprima a vontade de reagir contra certa e determinada infracg4o processual. Anteriormente ao Cédigo de 76 usava-se, not foro, do pro- testo vago contra nulidades; os advogados inseriam sistema- ticamente nos articulados éstes dizeres: «protesta-se contra nulidades»; e dava-se valor a argilicdo feita nestes’ térmos abstractos e indeterminados. Esta pratica é que o § 1.° do artigo 132.° do Cédigo de 76 se. propés abolir; de nada vale © protesto genérico contra nulidades; a argilicdo, para ser relevante, tem de apontar a nulidade especifica e concreta contra a qual se reclama‘; que a reclamagao se faga sob a forma de protesto ou sob a de requerimento, é indiferente. A exactidéo desta doutrina € hoje incontestavel, visto que o Cédigo nfo indica a forma por que deve deduzir-se a argiicfo; admite, portanto, qualquer forma, contanto que séja suficiente para manifestar a vontade de reclamar con- tra determinada nulidade, isto ¢, contra determinada infrac- ¢4o que se cometeu. O sentido da frase—«reclamar contra a nulidade» —é naturalmente éste: solicitar do tribunal o conhecimento de determinada infracc%o processual e a aplicagfio da’ san¢ao respectiva. De modo que, desdobrada em téda a sua ampli- tude, a reclamag¢éo ou argiligo pressupoe: : : a) Que o interessado aponta ao tribunal certa infracc4o; 1 Acérdio de 27 de junho de 1906, Gazeta, 20. pig: 25- 2. Acérdao de 29 de agosto de 1905, 11, pig. 278, Colecedo, Oficial, 5°, pag. 434. Nom da Relagdo de Lisboa, de 19 de abril dé 1913, Gazeta, 27. pag. 5° x.4,edigho, pag. 593: je junho de 1858 2, pig. 474 4° Jurisprudincia dos Tribunais, esmo sentido: acdrdio 8 Alberto dos Reis, Processo ordindrio, 4 Acérdios do Supremo Tribunal de Justica de 7 € 16 de maio de 3899, Jurisprudéncia dos Tribunais, pag. 289, Arts. 202 a 205.0 507) 6) Que exprime a vontade de que o tribunal t cimento dela para o efeito de the aplicar a sane nee Estas consideragées inculcam que a argiieds ee camente de duas partes: BiN¢A0 consta logi- x.° A alegagao ou exposicao da nulidade; 2.* O pedido de conhecimento jurisdicional, O reclamante comegara por pér em foco a infracc&o come- tida, mostrando ge se praticou um acto inadmissivel, oi! se omitiu um acto indispensdvel, ou se efectuou um acto com inobservancia de formalidades legais; depois concluira pelo. pedido de que o tribunal tome conhecimento da referida infracgéo e anule o acto respectivo (no 1° caso) ou mande: praticar 0 acto (no 2.° caso) ou a formalidade (no 3.° caso), que se omitiu, se isso for admissivel, nos térmos do artigo 208.° E claro que .n4o ha necessidade absoluta de observar o. modélo que acaba de apresentar-se. Uma‘ argiiigao, para ser bem ordenada e desenvolvida, tera de obedecer aos moldes que indicamos; mas 0 essencial é wnicamente a expressdo. da vontade de reclamar contra determinada violacao. Basta, pois, apontar a nulidade e significar que se reclama con- tra ela. 70. A argiligio © 0 recurso. A argilicao da nulidade s6- é admissivel quando a infracgao processual nfo esta ao abrigo de qualquer despacho judicial; se ha um despacho a ordenar ou autorizar a pratica ou a omissdo do acto ou da for- malidade, o meio proprio para reagir contra a ilegalidade ane se tenha cometido, nao é.a argili¢éo ou reclamagao por na dade, é a impugnagao do respectivo despacho pela interp sigéo do recurso competente. . , Eis 0 que a jurisprudéncia consagrou ae postales: dos despachos recorre-se, contra as nulidades rec anes be spe E facil justificar esta construgio. Desde qu exemplo, cho tenha mandado praticar determinado acto, por Ts ‘ ovembro- | Acorddos do Supremo ‘Tribunal de Justiga d¢ Pe eat ‘de 180, de 1886, 12 de fevereiro de 1892, 5 de abril de 1899) Boe 909, a5 de 1 de abril de 1902, 25 de novembro de 190 20 a julho- ve. 1906, 12 d¢ it maio de 1903, 6 de dezembro de 1904, 3% de tg0sto °° ae Digitalizado com CamScanner IM, Tit. I, Cap. I~ Dos actos processuais se porventura a lei nfo admite a pritica desse acto é fora de diivida que a infracgao cometida foi efeito do despacho; por outras palavras, estamos em presenga dum despacho ile- gal, dum despacho que ofendeu a lei de processo. Portanto a reacg&o contra a ilegalidade traduz-se num ataque ao des- pacho que a autorizou ou ordenou; ora o meio idéneo para atacar ou impugnar despachos ilegais é a interposigo ¢o respectivo recurso (art. 677.°). Se, em vez de se recorrer do despacho, se reclamasse contra a nulidade, ir-se-ia pedir ao juiz que alterasse ou revogasse 0 seu proprio despacho, o que é contrdrio ao prin- cipio de que, proferida a decisio, fica esgotado o poder juris- dicional de quem decidiu (art, 666.°), Se a justificacto dos postulados ¢ facil, nem sempre ¢ facil {azé-los funcionar com seguranga. ‘Ha casos nitidos, em que a aplicagao dos referidos principios nao da lugar a emba- ragos. Imagine-se que o réu oferece a contestag4o fora do prazo legal; a. secretaria recebe o articulado e o chefe de seccfo junta-o ao processo. Cometeu-se uma nulidade; praticou-se um acto que a lei nfo admite. O autor, querendo reagir contra a violacdo da lei, deve argitir a nulidade do recebi- mento da contestac%o depois de expirado o prazo legal. Argiii-la-4 desta maneira: alegando, em primeiro lugar, -que, nos térmos do artigo 490.°, a contestagdo devia ser ofe- recida no prazo de vinte-dias a contar da citaco e que, por forca do disposto no artigo 146.°, 0 decurso désse prazo faz extinguir 0 direito de contestar; mostrando depois que, no -caso concreto, o réu ofereceu o seu articulado depois de terem decorrido os, vinte dias contados desde a citagao; concluindo ‘que o. tribunal deve conhecer da nulidade cometida, anular © acto do recebimento indevidamente praticado e mandar retirar do processo a contesta¢fo, -de 3912, 25 de julho de 1916,.23 de fevereiro de 1923, etc,, Boletim dos Tri- bunais, 2°, pag. 137, 7%, pags, 342 ¢ 315, Revista de Legislacdo, 34.%, p&g. 191, Jurisprudéncia dos Tribunais, 7.9, pig. 354, 8.°, pags. 39 € 108, 10.°, pag. 369, 12, pag, 143, Gazeta, 17.°, pags. 197 € 484, 26.%, pig, 220, Revista de Justica, 1 pag. 317, Gazeta, 34.%, pag, 24. Suponhamos agora que 0s factos oe reese! O réu apresenta a Ear Pa expe 0 caso ao juiz e pede que the seja admitida a eaaes taglo; o juiz defere e 0 articulado é junto aos autos. O que devera fazer o autor, se quiser conseguir que a eontestca seja desentranhada do processo? Deve agravar do despacho que, deferindo o pedido feito pelo réu, mandou receber a contestaco ¢ encorpora-la nos autos. Se, em vez disso, reclamar contra a nulidade du rece- bimento extemporaneo do articulado, tera errado 0 caminho. Praticou-se acto que.a lei nfo admite; mas desde que o acto. foi praticado em obediencia a um despacho, o que importa ¢ atacar @ste despacho e para ésse efeito o meio idéneo é o recurso de agravo, Se o autor argilisse a nulidade, iria, em ultima analise, impugnar e pér em cheque o despacho, sem empregar para isso o meio adequado,’e pretenderia que o- juiz revogasse o seu proprio despacho, o que éle nao pode fazer. Ha outros casos em que o funcionamento concreto dos. postulados jurisprudenciais 'levanta dificuldades. Sao os casos em que por tras da irregularidade cometida'esta um despacho, mas @ste nao contém uma prontncia expressa. sobre a irregularidade. Quando os articulados eram oferecidos em audiencia, a. questo suscitava-se 4 cada passo, a propésito de despachos. de recebimento proferidos em audiéncia. Desenharam-se duas correntes: a) segundo uns, sendo ilegal o recebimento, devia sempre agravar-se do respectivo despacho; 6) segundo outros, devia agravar-se do despacho ou reclamar-se contra a nulidade, conforme o facto que se invocava para j a ilegalidade do recebimento tivesse ou nfo sido ap: pelo despacho. Alguns exemplos. Por mandatdrio que, por determ) fi inibido de exercer «| mandato judicial} ofereceu-se 1 a culado assinado por advogado, mas sem assinature aoe! € sem jung%o de procuragiio a favor do advogad; 0 aaa vias. um articulado assinado por advogado substabelect’oy ustificar’ reciado: Ofereceu-se um articulado assinado- inada circunstancia, estava. Liv. IH, Tit, 1, Cap, I~ Dos actos processuais 510 Lie. Se sem que o substabelecimento estivesse devidamente reconhe. ccido; oferecen-se um articulado que nfo estava assi ado por advogado, Se 0 juiz recebesse o articulado, devia recla- se contra a nulidade do recebimento ou agravar-se do ma respectivo despacho? A corrente geral era no sentido de que a parte interes- sada devia agravar'; mas também se chegou a decidir queo meio idoneo de reagir era a reclamacio contra a nulidade2, Este ponto de vista apoiava-se no seguinte raciocinio: se 0 juiz recebe 0 articulado sem se aperceber de que havia uma circunstancia que obstava ao recebimento, nem ter sido cha- +mada a sua aten¢fo para essa circunstancia, nao pode afir- mar-se que a nulidade do recebimento esta coberta por um despacho ou foi conseqiéncia déle; por se reclamar contra a nulidade nao se ataca o despacho, visto que o juiz nao quis pronunciar-se sdbre o facto que serve de fundamento 4 reclamagao. Ao receber o articulado, 0 juiz néo cuidou -de saber se o signatario estava habilitado a representar a parte, se o papel estava devidamente assinado; portanto nao se pée em cheque o despacho pelo facto de se argilir a nulidade do recebimento. Parece ldgico @ste raciocinio. Mas atenda-se a que, além do julgamento expresso, ha o julgamento implicito, hoje consagrado pelo § unico do artigo 660.°; a decisio nao vale somente pela vontade declarada que nela se contém, vale também pelos pressupostos tacitamente resolvidos. Quando o juiz recebe um papel, deve presumir-se que, antes de o receber, se certificou de. que se verificavam todos os requisitos exigidos por lei para o recebimento. 1 Acérdao da Relagto de Lisbon de 18 de maio de 1910, Gaseta, 24°, ‘pig, 588; acordao do Supremo Tribunal de Justign de xa de julho de 1912, Gaseta, 26.2, pag, 220; acordiio du Relagdo de Lisboa de 11 de julho de 3911, Gazeta, 262, pig, 697; acordao da Relagto do Porto de 3 de margo de 1914, Revista dos Tribunais, 33.% pg. 90; acordao da Relag&o de Coimbra de 13 de abril de 1921, Revista de Justica, 7.% pag, 185; acordio da Relagdo de Lisboa de 1a de outubro de 1921, Revista de Justica, 7°, pag. aga. * Acordao da Relagto de Lisboa de 17 de outubro de 1917, Revista de Justiga, 2°, pag. 320, Hoje os articulados sto recebidos pel pieceder, em regra, despacho as Portanto deixou de ter intere, a questio ant rmente. Se a_ secre ‘Sto que se agitava : _® Secretaria recebe indevidamente articulado, a parte interessada dev evidamente o e reclamar contra a nuli- dade. Mas o problema pode apresentar-se em re nas) a S outros actos, por detras dos quais esteja um d nao tenha incidido expressamente: sobre ai mee ie cometida. A solugdo a dar tera de ser a que ae ae deve agravar-se, se for de admitir que o despacho eae resolucio implicita sébre o facto que serve de pthc ao recurso; deve reclamar-se contra a nulidade no caso con trario. \ A secretaria, ; fa, sem, (ue ordene o recebimento, : Suponhamos que se apresenta na secretaria um reque- rimento de interposi¢do de recurso, sem se juntar duplicado; a secretaria recebe o requerimento; conclusos depois‘os autos para despacho, o juiz admite o recurso, apesar de o recor- rente n4o ter as condicgées necessarias para recorrer. O que devera fazer a parte contraria, querendo reagir contra as duas ilegalidades? Somos de parecer que a cada uma das irregularidades corresponde um meio de reaccao diferente. Pelo que res- peita ao recebimento do requerimento, nao obstante a falta de duplicado, a parte deve argiiir a nulidade; pelo que res- peita 4 admissdo. de recurso, nao obstante a falta de idonei- dade do recorrente, deve agravar ‘do despacho. Em face do preceito do artigo 687.°, entendemos que @ secretaria néo deve receber 0 requerimento de interposi¢ao do recurso quando nfo se apresente 0 duplicado: E certo que o texto nao contém a protbigdo peremptoria qué para 0s articulados se estabelece no artigo t52."} adi! diz-se Sa nantemente que os articulados ndo poderiio ser rece” a quando nao se apresente 0 duplicado, a0 pase ae artigo 687.° exige-se 0 duplicado, mas nfo se faz Aa mae recebimento da condigao de se apresentar o duplica vrerimento ‘tanto, cremos que a doutrina é a mesma. Se o req) tem de ser apresentado em duplicado € 8° de entregar o duplicado 4 parte contraria ficar 0 despacho de admissio do recurso, 1 ‘a secretaria tem quando Ihe notl- go pode deixar de Liv. IH, Tit. 1, Cap. I — Dos actos processuais coneluir-se que a apresentagio do duplicado & condigto on requisito necessdrio para o recebimento do requerimento }, Sentir-se-d, talvez, a tentacdo de sustentar €ste ponto de vista: o que importa é que se entregue o duplicado a parte contraria no acto da notificagao; por isso, nao é indis- pensavel que o duplicado acompanhe o requerimento; 0 recor- rente pode apresenta-lo posteriormente, contanto que, caso seja admitido o recurso; o ofereca a tempo de se fazer a entrega ao recorrido. Esta construgéo tem um defeito: deixa sem sancdo a falta de oferecimento do duplicado. Imagine-se que a secre- taria recebe o requerimento, apesar de ndo vir acompanhado do duplicado; depois o juiz admite o recurso; e o recorrente nado apresenta o duplicado para ser entregue a parte contra- tia no acto da notificagao, O que sucede em tal caso? Desde que o recorrido nao recebe o duplicado, parece que tem o direito de reclamar contra a falta mas, para reclamar com éxito, tem de alegar que, recebendo-se o requerimento sem o duplicado, se praticou acto que a lei no admite. Se n4o puder fazer esta argilicao, se houver de entender-se que © fequerimento foi bem recebido, nao obstante a falta de duplicado, nfo se vé meio eficaz de o recorrido reagir contra. a irregularidade, .o que equivale a dizer que esta fica sem sanc4o. Quanto a admiss4o indevida do recurso, o recorrido deve agravar do despacho de admiss4o. Pouco importa que o juiz 1 A Relacfo de Lisboa, em acérdéo de 16 de dezembso de 1942: (Revista de Justica, 28.°, pag, 196); decidiu que a falta de apresentacao do duplicado ¢ irregularidade irrelevante, porque néo afecta a justa decisio da causa, N&o podemos aceitar como boa esta doutrina, O duplicado tem uma fungao importante: informar, com toda a precisfio, a parte contréria do verdadeiro alcance do recurso, isto , da posi¢o exacta do recorrente perante a decisdo de que recorre (art, 685,°), Afirmar que a falta de dupli- cado irregularidade irrelevante equivale a dizer que o recorrido nfo sofre prejuizo algum pelo facto d¢ nfo receber 0 duplicado, Claro que a falta de duplicado nfo atecta a justa decisdo da causa, pois que o tribunal tem nos autos o requerimento de interposi¢fio; mas afecta o exame da causa por parte do recorrido, uma vez que o priva da possibilidade de- conhecer directamenteo aleance do recurso, Digitalizado com CamScanner TIS. 200.9 @ 207.0 nao se tenha pronunciado expressamente sdbre a legitimidade ou ecapacidade do recorrente. Por f6rga do artigo 688,°, 0 magistrado tem de indeferir o recurso quando entender que a decis&o 0 nfo admite, ou que foi interposto fora de tempo, ou que o requerente nfo tem as condigdes ou qualidades neces. sarias para recorrer; ha-de partir-se,, pois, do pressuposto de que, antes de deferir, o tribunal se certifica de que concorrem os trés requisitos apontados: admissibilidade do recurso, opor- tunidade da interposig4o, idoneidade do recorrente. 71. Julgamento. A apreciacdo jurisdicional das nulida- des pie trés questées: 1.* Quem julga? 2.° Em que momento se julga? 3." Como se julga? Quanto ao primeiro quesito, pode enunciar-se éste prin- cipio: quem julga ¢ o tribunal perante o qual a nulidade ocorreu, ou o tribunal a que a causa estava afecta no momento em que a nulidade se cometeu. Mas esta regra sofre dois desvios: 2) um determinado pelo que se prescreve na 2.* alinea’do artigo 204.°; 4) outro resultante.do § unico do artigo 205.° As nulidades dos n.°* 1.° e 2.° do artigo 194.° e do artigo 200.° podem ser argilidas em qualquer estado do processo enquanto ndo devam conside- rar-se sanadas; pode, por isso, suceder que tais nulidades, ocorridas na 1." instancia, sejam argtlidas somente quando o processo j4 se encontra na 2.* instancia ou perante o Supremo Tribunal de Justica; quando se dé éste caso, a nulidade é julgada directamente pelo tribunal de recurso, pdsto que se tenha verificado durante a pendéncia do processo na I.* ins- tancia. P Por ‘outro lado, 0 § unico do artigo 205.° permite, come vimos, que a nulidade ocorrida em tribunal inferior seja argitida perante o tribunal superior, quando 0 processo suba em recurso antes de expirar o prazo para a argitigho. Claro que, feita a argtlicfo perante o tribunal superior, é éste que conhece da nulidade. 5 O artigo 134.°.do Cédigo de 76 estabelecia um terceiro desvio. As nulidades de que o interessado tivesse conheci- Digitalizado com CamScanner 1. 1, Cap, P— Dos actos processuais oo da sentenga ou acordio final, @ sin anteriores a essa publicago, so poderiam ser apreciadas pot ocasiao do recurso interposto da mesma sen- tenga ou acdrdao, A razio déste desvio era a seguinte entendia-se que, sendo as nulidades anteriores a sentenca, 1s podia ter como efcito a anulagio da sen- admissivel que o juiz tivesse o mento depois da public que {6 a procedencia ¢ tenga-e nfo se consideravi poder-de anular‘a sua propria decisao. O Codigo actual nfo consignon éste terceiro desvio, por- que nao aderiu 2 tese de que ao juiz nao é licito anular a sua propria sentenga, Pelo contrario, depois de enunciar o prin- cipio de que, proferida a sentenga, fica esgotado o poder juris- dicional do juiz quanto A matéria da causa (art, 666."), acres- centa que o julgador pode suprir nulidades, rectificar érros materiais, esclarecer dividas e reformar a sentenga quanto a custas e muita, Mais ainda: vé-se pelos artigos 669.°, 717.°, 722°, § 3°) 7556) Ne 1.9 e § 2.%, que as nulidades de sentenga hfio-de ser argiiidas e apreciadas pelo proprio tribunal de que emana a sentenga; o tribunal superior sé pode conhecer de tais nulidades em recurso interposto da decisio proferida sobre elas pelo tribunal a guo. Sendo éste o sistema do Codigo actual, é evidente que nfo podia aceitar a doutrina expressa no artigo 134.° do Codigo anterior. ‘Ag nulidades, ou sejam anteriores ou sejam posteriores a sentenga ou acérdao final, estilo sujeitas, quanto aojulgamento, a regra geral acima formulada, com as excepgoes ja assinaladas. 22 quesito. O artigo 206." impée ao juiz o dever de conhecer, no despacho saneador, das nulidades a que se refe- rem os artigos 193.°, 194." 199.° € 200.°, se no tiver conhecido delas anteriormente; 0 artigo 207.° exprime-se assim: «As outras nulidades devem ser apreciadas logo que for deduzida a reclamagio.» A frase —«as outras nulidades» -—— esta manifestamente em correlagio com o que se dispde no artigo 206° Parece, pois, que a doutrina legal é a seguinte; As nulidades referidas nos artigos 193.°, 194.°, 199. e 200.2 téem de ser julgadas no despacho saneador; as Digitalizado com CamScanner Arts, 206.0 ¢ 207.0 restantes hao-de ser julgadas logo que se dedu argilicao, Nao porém, este o sentido exacto dos textos indicados. O artigo 206° teve em vista: regular, nio © conhecimento frovocado, mas o conhecimento espontinco ou oficioso. As nulidades apontadas nos artigos 193.°, 194.%, 199.° € 200." so precisamente aquelas de que o tribunal pode conhecer oficio- samente (art, 202.°); ora o artigo 206.” propés-se determinar o momento até ao qual € licito ao tribunal exercer o seu poder de conhecimento oficioso, Ha que distinguir: a) Ou o processo admite despacho saneador; 4) Ou nao o admite. No 1.° caso 0 juiz deve conhecer das mencionadas nuli- dades no despacho saneador, se 0 nao tiver feifo antes; no 2.° caso, pode conhecer delas até a sentenga final. Ao conhecimento provocado, isto ¢, ao conhecimento precedido de argili¢do, aplica-se, nfo o artigo 206.°, mas o artigo 207.° De maneira que, para se fixar com rigor a oportunidade do julgamento, faz-se mister estabelecer a seguinte discriminacao: 1) Ou o tribunal toma conhecimento da’ nulidade por sua iniciativa; 2) Ou conhece em conseqiléncia de reclamacao dos interessados. Conhecimento oficioso. O artigo 206. figura, como vimos, duas hipoteses: 1.* ha despacho saneador} 2." © processo nao ‘comporta tal despacho. Na 1.* hipotese 0 juiz pode conhecer das nulidades designadas nos artigos 193.°, 194.°, 199.° € 200.° até ao despacho saneador e deve conhecer delas, 0 mais tar- dar, neste despacho. Na 2." hipotese pode conhecer até a sentenga final. ; O vspirito da disposigao € este: o juiz deve omar conhe- cimento da nulidade /ogo que se aperceba da existéncia dela; e ha um momento em que a lei lhe impée especialmente 0 dever de indagar se 0 processo esta viciado por alguma das nulidades mencionadas nos artigos 193.%, 194.°, T99.° € 200°: o momento em que profere o despacho saneador. ; Conhecimento provocado, Argitida uma nulidade, o tri- bunal deve conhecer imediatamente da argitiglo, deve apre- Digitalizado com CamScanner Liv, IH, Tit. Ty 516 ciar Jogo se reclam Ksta regra ¢ absoluta, ‘Tanto se aplica as nulidades nao compreendidas nos artigos 193.°, 194.°, 199." @ 200.", como as nulidades a que éstes artigos se referem. A justificagao da regra nfo oferece dificuldades. Desde que se denuncia ao tribunal a existéncia duma nulidade e se solicita a sua acti- vidade no sentido de tomar conhecimento dela, ndo se com- preende que 0 proceso continue a correr sem, o juiz verificar se a argiliglo tem ou nfo fundamento: quantos mais actos se praticarem, maiores serfo, porventura, os estragos produ- zidos pela nulidade, se a argiligto proceder, pois tera de se anular tudo o que se processar, ou, pelo menos, terdo de se anular os térmos que dependerem absolutamente da nuli- dade cometida (art. 20r.°, in fine). "A 2* alinea do artigo 207.° determina que, nas Relagdes e no Supremo, o relator leve 0 processo 4 conferencia, logo que for apresentada a reclamagfo, afim de se conhecer dela por meio de acérdo. Era exactamente o que se dispunha no artigo 237.° do Projecto. Quando éste artigo se discutiu ha Comissio Revisora, o Ministro da Justia sugeriu que te atribuisse ao relator competéncia para o julgamento da argiligdo, pois que nfo havia necessidade de levar a confe- réncia questées simples, como s4o, em regra, as questées de nulidades do proceso. O sr. Conselhejro Botelho de Sousa observou que a sugestao vinha entorpecer ainda mais a acgao da justia, por isso que colocava as partes na necessidade de recorrer, para a conferéncia, das decis6es do relator. Entendia o Ministro que das decisdes déste nado devia haver recurso. Por minha parte ponderei que com tal sis- tema se contrariava abertamente 0 principio de que a compe- tencia exclusiva do relator se limita a assuntos de mero expe- diente. A Comissao resolveu manter a doutrina do Projecto '. O § unico do artigo 700." dispde que, proferido qualquer despacho do relator, que nfo seja de mero expediente, se te ou nfioa nulidade contra a qual ge 1 Esbogo da acta n.° 17, pags. 53 € 54

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