O documento discute a extração da "Força Vital" de oferendas e sacrifícios, explicando que eles podem reorganizar as energias e nutrir as almas. Sacrifícios envolvem animais, comida e bebida para festejar a vida e a continuidade, dividindo as bênçãos com todos. Muitos não aceitam os sacrifícios devido à falta de compreensão, mas eles são feitos com respeito e propósito.
O documento discute a extração da "Força Vital" de oferendas e sacrifícios, explicando que eles podem reorganizar as energias e nutrir as almas. Sacrifícios envolvem animais, comida e bebida para festejar a vida e a continuidade, dividindo as bênçãos com todos. Muitos não aceitam os sacrifícios devido à falta de compreensão, mas eles são feitos com respeito e propósito.
O documento discute a extração da "Força Vital" de oferendas e sacrifícios, explicando que eles podem reorganizar as energias e nutrir as almas. Sacrifícios envolvem animais, comida e bebida para festejar a vida e a continuidade, dividindo as bênçãos com todos. Muitos não aceitam os sacrifícios devido à falta de compreensão, mas eles são feitos com respeito e propósito.
Primeiro é preciso compreender que o termo "Força Vital” é empregado
para designar a força física e espiritual. Essa força pode ser extraída de uma oferenda em função dela poder reorganizar (zerar) as energias em torno de nós e nutrir a essência de nossas almas. Isso pode ser feito de várias maneiras, por exemplo, com oferendas individuais, doação de dinheiro e alimentos ou organizando festas para os Òríÿà(s) – Ìyágbà(s), ßàngó, Ògún, Èÿù, etc. Quando se trata de uma festa exige convites aos amigos. Nesse caso, animais quadrúpedes, aves, tubérculos, grãos, bebidas e água são sacrificados para intensificar o nosso compromisso com a vida. Mas, no final, as carnes dos animais e essas outras coisas usadas na oferenda são servidas numa refeição comunal com votos de boas-vindas aos convidados. Acreditamos que a “Força Vital” extraída dos animais deve ser dividida e propagada pelos familiares e amigos. Somente esse “saber dividir bênçãos e/ou força vital” faz de nossa cultura a mais importante da Terra. Isso reafirma o compromisso entre o reino dos antepassados com o reino dos vivos. Religa (reli-gare) o Céu (espaço) a Terra, misturando divindades e seres humanos para festejar a continuidade. A ideia é que o acordo firmado entre os animais e os seres humanos continue garantindo aos espíritos da vida (energias reorganizadas pelos sacrifícios) o fornecimento de alimentos para todos. O conhecimento é profundo. Nada é feito sem o devido respeito. Todos respeitam os animais e as coisas sacrificadas para fornecer a comida de “hoje”. Todas as pessoas elevam seus espíritos, fazem saudações, orações e pedem desculpas pelos sacrifícios para que os espíritos dos animais também sejam elevados e voltem a fornecer alimentos às gerações futuras. Sempre que um sacrifício animal (força vital) é feito diante de quaisquer dos Òríÿà(s), Ògún, por fazer parte do processo ritual (faca) é evocado para assumir o encargo do ato. Há um entendimento profundo do acordo. Divindades, humanos, animais, plantas e minerais – tudo faz parte do Todo. Nada é feito sem razão ou sem a devida responsabilidade. Por que há falta de aceitação ou pré-conceito contra os sacrifícios?
A falta de aceitação advém da falta de conhecimento e entendimento.
Isto gera o preconceito – a ideia de que tudo não passa de crendice popular. Criam-se fantasmas e todo homem de cultura primitiva (primeira) é visto como um selvagem. Com essas perturbações mentais, pessoas afoitas em suas conclusões, abortam pensamentos e sentimentos, e deturpam todos os nossos conceitos. Dentre eles, o sacrifício animal. Esse, apesar de fazer parte do awo Ògún, sabedoria do Òríÿà do ferro, que produz o sangue no osso, e que, além disso, é a maior força civilizatória da humanidade, ainda é o aspecto de nossa cultura mais grosseiramente mal compreendido. Dessa maneira, para compreender os segredos internos do corpo e da alma humana, no sentido de repor a Força Vital que perdemos a cada instante em função da desorganização das energias que circundam o espaço, é preciso compreender profundamente o sacrifício com o sangue e a importância de Ògún – Dono do osso, e do sangue produzido na medula óssea.
Quando nos referimos ao sacrifício, parece aos preconceituosos, que, de
pronto, apresentamos um bode preto e chifrudo jorrando o sangue para todos os lados, mas o sacrifício é de qualquer coisa. Ifá diz: — A água com a qual lavamos as mãos não será mais tocada. Ninguém toma banho, lava o rosto ou as mãos sem sacrificar água. Grãos cozidos não nascem! Será que os preconceituosos não comem? Será que todos “agora” vivem de luz? Sacrifício pode ser inclusive de transpiração e lágrimas. O sacrifício do profissional magarefe (açougueiro) não pode ser comparado com o Sacro-Ofício do sacerdote. Esse exige protoloco e não causa sofrimentos ao animal. É realizado para afastar os efeitos maléficos da tristeza, dor, doença, mágoa, raiva, intriga e miséria. Limpa a alma! Traz boa sorte e não somente comida. Pensam “os preconceituosos” que não compreendemos as nossas práticas. Sabemos muito bem que nada na vida pode ser obtido somente com sacrifícios de coisas e animais. Não sabem, por exemplo, que, quando desejamos alcançar a nossa civilidade espiritual a fim de cumprir um propósito divino e alcançar uma bênção do espaço, que isso pode ser obtido através da oração sobre um simples copo d’água; que o poder da oração cristaliza as partículas da água criando sons de baixa frequência que retornam com a mensagem para realizar o milagre. Ainda assim, o nosso sentimento é pelo sacrifício da água. Também não sabem que para nós a água é mais importante do que o sangue. Nem que consideramos o sangue uma qualidade de água ou um rio de água quente que circula em nossas veias. Agora, compreender que o sangue, de algum modo, é água, não é tão simples para pessoas que têm suas “taças” cheias de maus sentimentos. O banho de sangue, de decocção vegetal (àgbò) ou de água pura, regenera a força vital e alivia a fadiga de qualquer pessoa. Desse modo, a pessoa não iniciada pode dizer uma oração à Yemôja em sua própria linguagem dentro de uma bacia de água límpida, “respirar a oração” de dentro da água e usá-la para beber ou tomar banho que será abençoada. O efeito curativo da água para o banho pode ser potencializado com a adição de sal porque a torna preservativa e preventiva. Contudo, isso não significa dizer que água pura substitua o banho com folhas e de sangue em todos os casos. Existem normas para essas coisas mesmo sabendo que para alguns casos existe uma espécie de folha que substitui o sangue.
O que é possessão ou transe?
Não somos dominados nem acabrunhados por nada! Temos somente a preocupação e a necessidade de preservar a disciplina espiritual. No entanto, através do conhecimento, levando aos iniciados os esclarecimentos necessários para que consigam alcançar níveis de “consciência elevada”. Isso os deixa distante de serem pessoas possessas ou possuídas. O nosso nível de “consciência elevada e civilizada” é considerado pelos preconceituosos, por pessoas que não compreendem e por àquelas que não creem no homem divino; fora do padrão da imaginação comum. Contudo, ou longe disso tudo, o que buscamos é despertar em nós as “partículas divinas” para que nos tornemos semelhantes. Erroneamente, esse estado de consciência alterada é chamado de possessão ou de incorporação. Não consigo imaginar que sejam essas expressões pejorativas. Penso que são apenas inadequadas para descrever as diversas formas de sensibilidades, através das quais, distinguimos os iniciados em Òríÿà(s), se levarmos em consideração a compreensão que cada pessoa tem sobre o mistério que envolve sua própria existência. É possível despertar o Òríÿà – Origem Ancestral – centelhas divinas deixadas no homem, e o Egún – ancestral humano, por exemplo, através da disciplina dos pensamentos, intuições, sentimentos e esclarecimentos adequados para os sonhos. Esses estão intimamente relacionados à fonte de nossas consciências, mas é apenas um, dentre os infinitos meios de comunicação e/ou manifestação que existe. Nesse sentido, podemos afirmar que cultuar Òríÿà é buscar obter a capacidade de despertar essas centelhas divinas – desde sonhos, intuições, pensamentos, sentimentos, ações e uso adequado das palavras. Tudo isto, claro, é mais fácil para a pessoa iniciada. Essa tem a oportunidade de receber orientações sobre as várias maneiras que podem levá- la a obter melhores respostas de seu interior. Essas respostas são “elos” entre o iniciado e o Òríÿà, do qual, descende e/ou que lhe deu origem. Por essa razão, associado a sua rede de comunicação espiritual. As palavras do yorùbá: àlá, sonho ou visão; àlà, pano branco; àlálá, sonhador, referem-se à pessoa que através dos sonhos acessa a fonte de seus sentimentos adequadamente para se comunicar intimamente com seus Òríÿà(s) e ancestrais. É possível a qualquer pessoa desenvolver esse tipo de relação com os Òríÿà(s) e ancestrais da família. Basta aceitar a influência das divindades para que os fenômenos ocorram através dos sonhos, sentimentos, intuições e dos transes – que a meu ver não se encaixam desse contexto. Tudo depende da sensibilidade interior desenvolvida. Todos têm o direito a essas bênçãos. A ideia é que as forças da natureza que sustentam a vida na Terra podem organizar nossos sentimentos e nos levar a esse estado de consciência alterada tão brilhantemente civilizada e harmoniosa que rapidamente nos ligam aos poderes da criação. Contudo, para alcançar esse estado de consciência que chamamos de ôgbón-inú, sensibilidade interior, ou um nível de crescimento espiritual elevado, o indivíduo precisa ser verdadeiramente disciplinado. Neste contexto, a ideia de possessão não cabe! Pois: O termo yorùbá usado para definir “possessão” é ìní, propriedade. Aplicado negativamente porque ninguém é propriedade de ninguém. Nem mesmo dos Òríÿà(s). Outra palavra que define possessão é jogún, tomar posse. Acontece que ninguém é possuído pelos Òríÿà(s). Eles vêm de dentro das pessoas, vivem nas pessoas fazendo-as pensar e sonhar... O termo usado para definir livre-arbítrio é ogún-ibi que significa: direito adquirido pelo nascimento. É uma dádiva de Olódùmarè, Deus. A frase usada para designar a presença do Òríÿà no iniciado é Òríÿà-gún-ni que significa o Òríÿà o tomou.
Òríÿà-gún-ni descreve perfeitamente o iniciado que assume as
características de uma determinada divindade. Pois, além de se manifestar com esse estado de consciência alterada, também aparece para representar a profunda ligação que existe entre os indivíduos da comunidade com o àÿç - poder dos Òríÿà(s). Ou seja, “ele” se manifesta para todos. Ainda que desse modo, pareça sugerir posse, em minha opinião, a palavra possessão não passa de uma intrusão ou tentativa de desconstruir nossos conceitos. Visto que o estado de “consciência alterada” se trata de uma força interna intrínseca capaz de desbloquear o enigma divino no interior de qualquer pessoa. Ninguém é visto como bicho! Ifá nos ensina que: — Toda pessoa vem para a Terra trazendo centelhas divinas – partículas de cristais, em sua Orí, Espírito Interior – Alma. Nascemos adequados para alcançar esses cristais –-- centelhas –- de nossa mente interior, mas ogún-ibi - o direito adquirido com o nascimento – livre- arbítrio, nos permite escolher desenvolver ou não essa sensibilidade. Infelizmente a falta de entendimento dos vários aspectos de nossa cultura levam as pessoas a tirarem conclusões precipitadas. Somando-se a isto o fato de em nosso meio, existir pessoas completamente desinteressadas em estudar esses assuntos mais profundamente. Tenho dito que estão preocupadas com os enfeites; em receber seus Òríÿà(s) sem saber como isso se dá; em dançar como quem espalha brasas; dentre outros enganos. É o que de fato vem acontecendo nas Çgbë(s), Comunidades/Terreiros de Candomblé –-- tidos por organizados. Poucos têm alguma noção da disciplina espiritual que envolve tudo isso. São cheios de boas intenções. Mas disso, o inferno também está cheio. Por: Orlando J. Santos Bàbá Ògún Dímõlõkõ
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