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) (1003 unc eGiclio NLU HIRIGOYEN , Wo SL LO, t hs 3°; > 4 Orne 2 O ASSEDIO NA EMPRESA De que estamos falando? POR ASSEDIO EM UM LOCAL DE TRABALHO TEMOS QUE entender toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano a personalidade, & dignidade ou 3 inte gridade fisica ou psfquica de uma pessoa, pér em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho. Embora o assédio no trabalho seja uma coisa tdo ant quanto o préprio trabalho, somente no comeco desta década foi realmente identificado como fenémeno destruidor do ambien- te de trabalho, no s6 diminuindo a produtividade como tam- bém favorecendo o absentefsmo, devido aos desgastes psicol6gi- 0s que provoca. Esse fenémeno foi estudado principalmente nos paises anglo-saxdes e nos paises nérdicos, sendo qualificado de mobbing, termo derivado de mob (horda, bando, plebe), que implica aidéia de algo importuno, Heinz Leymann! pesquisa- dor em psicologia do trabalho que atua na Suécia, fez um levan- "HE Leymann, Mobbing, ad. fanc., Pass, Seuil, 1996, Digitalizado com CamScanner 66 © assédio na empresa tamento junto a diferentes gi jonais, hé mais de dez anos, sobre esse processo que ele qualificou de “psicoterror”. Atualmente, em ing 05 PI eros paises, os sindicatos, os médicos do abalho € as organizagSes de planos de sade comegam a inte- ressar-se pelo fendmeno. Na Fras eMOS anos, tanto nas empresas quanto na a questo tem girado sobretudo em torno do assédio 2 Gnica levada em conta pela legislagio francesa, e que de um dos aspectos do assédio lato sensu. sa guerra psicolégica no local de trabalho agrega dois enos: 0s de poder, que é rapidamente desmascarado e no nente aceito pelos empregados; ago perversa, que se instala de forma mais insi- que, no entanto, causa devastacdes muito maiores. © assédio nasce como algo inofensivo e propaga-se insidio- samente. Em um primeiro momento, as pessoas envolvidas nio mostrar-se ofendidas e levam na brincadeira desavengas sus-tratos. Em seguida esses ataques vio se multiplicando e ima é seguidamente acuada, posta em situagio de inferiori- dade, submetida a manobras hostis e degradantes durante um petiodo maior. Nao se morre diretamente de todas essas agressGes, mas per- de-se uma parte de si mesmo. Volta-se para casa, a cada noi exausto, humilhado, deprimido. E é dificil recuperar-se. Em um grupo, € normal que os conflitos se manifestem. Um comentirio ferino em um momento de irritagio ou mau humor nio é significativo, sobretudo se vier acompanhado de um pedido de desculpas. E a repeti¢ao dos vexames, das humi- thagOes, sem qualquer esforgo no sentido de abrandé-las, que torna o fenémeno destruidor. Quando esse cerco se inicia como uma maquina que se pde em movimento e pode atropelar tudo. Trata-se de um fend- meno assustador, porque é desumano, sem emogdes e piedade. ©s que estdo em torno, por preguiga, egoismo ou medo, prefe- Assédio moral G rem manter-se fora da questio. Mas quando esse tipo de intera~ Gio assimétrica e destrutiva se processa, s6 tende a crescer se ninguém de fora intervier energicamente. Na realidade, em um. momento de crise, tende-se a acentuar o mecanismo mais habi- tual: uma empresa rigida torna-se ainda mais rigida, um empre- gado depressivo torna-se ainda mais depressivo, um agressivo ainda mais agressivo etc. Acentua-se aquilo que se é. Uma situa- io de crise pode, sem diivida, estimular um individuo e levi- loa dar o melhor de si pata encontrar solugées, mas uma situa~ Gio de violéncia perversa tende a anestesiar a vitima, que nio ir mostrar sendo 0 que tem de pior. Trata-se de um fendmeno circular. De nada serve, entio, Procurar quem esti na origem do conflito. Até mesmo as razdes. so esquecidas. Uma seqiiéncia de comportamentos deliberados por parte do agressor destina-se a desencadear a ansiedade da vvitima, 0 que provoca nela uma atitude defensiva, que 6, por sua vez, geradora de novas agressdes. Depois de certo tempo de evo~ lugao do conflito, surgem fendmenos de fobia reciproca: a0 ver ‘a pessoa que ele detesta, surge no perseguidor uma raiva fria, desencadeia-se na vitima uma reagdo de medo. E um reflexo condicionado agressivo ou defensivo. O medo provoca na vitima comportamentos patolégicos, que servirio de Alibis para justifi- car retroativamente a agressio. Ela reage, na maior parte das vezes, de maneira veemente ¢ confusa. Qualquer iniciativa que tome, qualquer coisa que faca, é voltada contra ela pelo perse- guidor. © objetivo de tal manobra é transtorné-la, levé-la a uma total confusio que a faca cometer erros. Mesmo quando a persegui¢ao é horizontal (um colega agredindo um outro colega), a chefia nao intervém. Ela se recu- sa.a ver, ou deixa as coisas acontecerem. Por vezes nem toma consciéncia do problema, a nfo ser quando a vitima reage de maneira muito ostensiva (crise de nervos, choro...) ou quando falta muito seguidamente ao trabalho. © conflito, na verdade, degenera porque a empresa se recusa a interferir: “Voc®s jé estio bem grandinhos para resolver isto sozinhos!” A vitima nio se sente defendida, por vezes pode até sentir-se enganada pelos Digitalizado com CamScanner ‘Mais tarde tratamos disto!”” hor das hipéteses, uma mudanga ~ Posto, sem que se pergunte se o interessado esti de lo. Se, em dete A solugio proposta & para aco} nado momento do proceso, alguém # sadia, 0 proceso é detido, Quem é visado? Contrariando © que seus agressores tentam fazer crer, as Portadoras de qualquer pato- *, 08 particularmente frégeis. Pelo contririo, freqtiente- fe o assédio se inicia quando uma vitima reage 20 autorita- 0 de um chefe, ou se recusa a deixar-se subjugar. E sua cidade de resistir & autoridade, apesar das presses, que a ese um alvo © assédio torna-se possivel porque vem precedido de uma riza¢do da vitima pelo perverso, que é aceita e até cau- Posteriormente pelo grupo. Essa depreciacio di uma cativa a posteriori 4 crueldade exercida contra ela e leva a pensar que No entanto, as vi s, de inicio, nao so pess fe merece o que Ihe esti acontecendo. as nao sio franco-atiradoras. Pelo con- ‘ririo, encontramos entre elas intimeras pessoas escrupulosas, que apresentam um eismo patolégico”: sio empregados Perfeccionistas, muito dedicados a seu trabalho, e que almejam peciveis. Ficam até tarde no escrit6rio, no hesitam em r nos fins € vio trabalhar mesmo quando est20 doentes. Os americanos usam 0 termo workaholic para ‘mostrar que se trata de uma forma de dependéncia. Depen- déncia que nio e: ida exclusivamente a uma predisposigo Ge cariter da vitima, mas que é sobretudo conseqiiéncia do dominio exercido pela empresa sobre seus assalariades, Como efeito perverso da protesao das pessoas na empresa ~ mulher grivida nao pode ser demitida —o processo de assé- lo muitas vezes passa a ter lugar quando uma empregada, até Assédio moral ee entio totalmente dedicada a seu trabalho, anuncia sua gravidez Para o empregador isso quer dizer: licenga-maternidade, saida mais cedo a tarde para ir pegar a crianga na creche, faltas quan to © bebé ficar doente... Em suma, ele tem medo de que essa empregada-modelo ndo fique mais inteiramente 4 sua dis- posicao. Quando © proceso de assédio se estabelece, a vitima é ‘estigmatizada: dizem que é de dificil convivéncia, que tem mau carter, ou entio que é louca. Atribui-se 4 sua personalidade algo que é conseqiiéncia do conflito e esquece-se o que ela era antes, ou o que ela é em um outro contexto. Pressionada a0 auge, ndo € raro que ela se torne aquilo que querem fazer dela, Uma pessoa assim acossada nao consegue manter seu potencial méximo: fica desatenta, menos eficiente e de flanco aberto is ctiticas sobre a qualidade de seu trabalho. Torna-se, entio, ficil afasté-a por incompeténcia profissional ou erro. © caso especifico dos pequenos parandicos que se faze assar por vitimas nao deve mascarar a existéncia de vitimas reais de assédio, Os primeiros sio pessoas tirinicas e inflexiveis, que entram facilmente em conflito com os que os cercam, que nio aceitam a menor critica e se sentem facilmente rejeitados Longe de serem vitimas, sio potenciais agressores, caracteriza~ dos por sua rigidez de cariter e sua incapacidade de assumir culpas. Quem agride quem? © comportamento de um grupo nio é a soma dos compor- tamentos dos individuos que 0 compéem: o grupo é uma enti- dade nova, que tem comportamentos préprios. Freud admite a dissolugdo das individualidades na multidio e nela vé uma dupla {dentificagio: horizontal, em relagio 4 horda (0 grupo), e verti- cal, em relagio ao chefe. Digitalizado com CamScanner 70 O atsédio na empresa Uin colega agride outro colega Os grupos tendem a nivelar os individuos e tém dificuldade em conviver com a diftrenga (mulher em um grupo de homens, homem em um grupo de mulheres, homossexualidade, diferen- §2 racial, religiosa ou social..). Em certas categorias tradicional mente reservadas aos homens, nio € ficil a uma mulher fazer-se respeitar quando chega. Sao brincadeiras grosseiras, gestos obs- cenos, menosprezo por tudo que ela diz, recusa a levar seu tra balho em consideragdo. Parece até “trote de calouros”, e todo mundo ri, inclusive as mulheres presentes. Elas no tém escolha, Cathy tornou-se inspetora de policia por concurso piiblico, fesmo sabendo que as mulheres representa apenas um i, ela espera ser admitida e depois pasar para Juizado de Menores. Mas, logo que surge um. Primeiro desentendimento com um colega, ele encerra a discussio, dizendo: “Vocé nao é mais que um buraco em ci- sétimo do pess 2 de patas!” © que faz com que os outros colegas caiam risada e digam outras coisas. Ela nfo dé a mio 4 palma- , zanga-se e protesta, Em represilia, isolam-na e tentam. desvalorizé-la junto as demais inspetoras: ““Vocés, sim, sio ulheres competentes, nao sfo presungosas metidas a bes~ Quando ha uma chamada policial, todo mundo se agi- ta, mas a ela no se da qualquer explicagao. Ela faz pergun= tas: “Onde, quando, como, em que quadro juridico?”, ¢ no lhe dio resposta: “Ora, seja 14 0 que for, vocé nao vai saber fazer mesmo! Melhor ficar aqui e ir fazendo o cat Ela nao consegue marcar uma entrevista para discutir a questo com a chefia. Como dar nome a alguma coisa que ninguém quer sequer ouvir? Ela tem que se submeter ou opor-se ao grupo. Como se irrita, dizem que.é uma desa- Justada. E esse rétulo torna-se um refrio que Cathy tem que carregar consigo em todas as suas mudangas. Uma noite, depois do servigo, ela deixa, como de costume, sua arma em uma gaveta fechada a chave. No dia seguinte a Asso moral na gaveta esti aberta. Ela recebe uma adverténcia, por ter feito algo errado. Cathy sabe que s6 uma pessoa pode ter aberto a gaveta, Pede para ver 0 comissirio, decidida a por as coisas em pratos limpos. Ele a convoca juntamente com o colega suspeito, falando em sangio disciplinar. No momento da entrevista, 0 comissirio “se esquece” de falar do problema pelo qual se encontram reunidos e emite vagas eriticas a res peito do trabalho dela. E em seguida o relatério é extraviado. Alguns meses depois, quando ela encontra seu amigo e companheiro de equipe com um bala na cabeca, vitima de suicidio, ninguém vem consoli-la. E debocham de sua fragilidade quando ela pede alguns dias de licenga por questdes de satide: “Ora, estamos em um mundo de machos!”” Indmeras empresas revelam-se incapazes de fazer respeitar ‘0s minimos direitos de um individuo e deixam desenvolver-se em seu interior 0 racismo e o sexismo, Por vezes, 0 assédio é suscitado por um sentimento de inve~ jae relagio a alguém que tem alguma coisa que os demiais nao tém (beleza, juventude, riqueza, relagdes influentes). E também este 0 caso dos jovens portadores de varios diplomas que ocu- Pam um posto em que tém como superior hierérquico alguém que nio possui o mesmo nivel de estudos Cecilia é uma mulher alta e bonita, de 45 anos, casada com ‘um arquiteto e mie de trés filo. As dificuldades profissio- nais do marido obrigaram-na a procurar um emprego para fazer frente as despesas contratuais do apartamento. Ela guardou de sua educacdo burguesa uma forma elegante de vestir-se, boas maneiras ¢ facilidade de expressar-se. No entanto, no tendo qualquer diploma, ocupa um posto de trabalho de valor menor, que ndo Ihe exige mais que fazer classificagSes sem maior interesse. Desde © momento em que entrou para a empresa, Cecilia foi deixada de lado pelas colegas, que comecam a multiplicar pequenas observagSes Digitalizado com CamScanner 2 © assétio na empresa io que vocé ganha que pas!” A chegada de um fe seca e invejosa, vern as tarefas que na condicio de emprega- iando tenta protestar, retrucam= io quer fazer trabalhos infe- 4 autoconfianga, no se passa, e tenta primeiro demonstrar itando as tarefas mais ingratas. Depois e devo ser desajeita raras vezes em que ela se enraivece, sua chefe comenta nente que ela no passa de uma desajustada, Cecilia se cala € se deprime. Em casa,'0 marido nio d ndo representa mais médico, a quem ela sua falta de interesse, Iver o problema rapidamente prescrevendo-Ihe zac. Espanta-se ao ver que sua prescri¢ao resultou abso- Jutamente ineficaz e, em desespero de causa, manda que ela Procure um psiquiatra até as As agressGes e: "gas podem também ter origem em imizades pessoas relacionadas com a historia de cada um dos idade, com um tentando fazer is relagdes com uma colega de trabalho que foi amante de seu ex-marido. Essa inc6moda situagZo levou-a primeiro a uma depressio, Para fugir de encontros com ela, pede para ser transferida de Posto. Mas sua solicitagao nio tem resultado, Ties anos depois, ao ser designada para um novo cargo, Denise vé-se colocada diretamente sob as ordens dessa pes S03, que passa a humilhé-la diariamente, desqualificando seu trabalho, debochando de seus erros, pondo em davids Assédio moral B sua capacidade de escrever, de calcular ou de usar um com- putador, Diante dela, Denise no ousa defender-se e reage voltando-se para dentro e acumulando filhas, 9 que acaba pondo em perigo seu emprego. Ela tenta fazer contato com o superior hierérquico de sua chefe, visando obter sua trans- feréncia. Dizem-lhe que 0 que for necessirio sera feito. E nada muda. Deprimida, angustiada, dio-Ihe licenca para tratamento de satide. Fora do contexto do trabalho, seu estado melhora, ‘mas assim que ha uma retomada, ela recai. Vai assim alter nando periodos de doenga e recafdas durante dois anos. médico do trabalho, contatado, faz tudo que pode para resolver a situacdo, mas a direso no quer tomar conheci- mento de nada. Devido a suas queixas e a suas infimeras fal- tas por motivo de satide, consideram-na “psicologicamente perturba pensio de trabalho de Denise poderia prosseguir, assim, até a aposentadoria por invalidez, mas, depois de examinada por uma junta médica, 0 médico do Conselho da Seguridade Social a considera apta a retomar o trabalho. Para nfo ter que voltar iquele local em que se sente tio mal, Denise chega a pensar em pedir demissio. Mas, com 45 anos € sem maiores qualificagdes, que poderia fazer? Ela passa a falar em suicidio. Nio ha mais solugo para © seu caso. A sus- Os conflitos entre colegas sio dificeis de serem resolvidos pelas empresas, que se mostram inibeis para tal. Muitas vezes 0 que sucede é que 0 apoio de um superior acaba reforgando 0 Processo: surgem boatos falando em favoritismo ou em fivores sexuais! | Na maior parte das vezes, o processo é assim reforgado devido 4 incompeténcia dos chefes menores. Realmente, muitos responsiveis hierdrquicos nio sio administradores. Em. uum trabalho de equipe designa-se como responsivel aquele que €.0 mais competente no plano profissional, e no aquele que é ‘mais capaz em termos de diregio, Mas mesmo que sejam, no Digitalizado com CamScanner 4 © assédio na empresa siveis no conhecem jo tm consciéncia dos problemas hs ides envolvem. Ou pior, quan- do tomam consciéncia desces problemas, muitas vezes apenas do sabendo de que maneira intervir. Essa for agravante quando se inicia um assé= caso, muito competentes, intimeros respo! a dindmica de uma equipe e humanos que suas respons: perseguidores sio colegas, o primeiro © responsivel hierirquico ou a ; existe um clima de confianga, é impossivel pedir ajuda a seu superior. Quando no & por incompeténcia, é por indiferenga ou por covardia que cada um tende a escudar-se nos demais. Um superior agredido por subordinados £ um caso be n mais raro. Pode dar-se no caso de uma pes~ soa vinda de fora, cujo estilo e métodos sejam reprovados pelo grupo, € que nio faga o menor esforgo no sentido de adaptar-se ou impor-se a ele. Pode ser também 0 caso de um antigo cole 2 que tenha sido promovido sem que o servigo tenha sido con- sultado. Em ambos os casos, a direeZo nio levou suficientemen- te em conta as opinides do pessoal com 0 qual esta pessoa sera levada a trabalhar. © problema tende a complicar-se quando a rela¢o dos objetivos do servigo nao tiver sido previamente estabelecida e as tarefas da pessoa promovida duplicarem indevidamente as de algum de seus subordinados. Muriel foi inicialmente secretiria-assistente do diretor de um grande grupo. Em razio de seu empenho no trabalho ¢ de indmeros cursos noturnos durante anos seguidos, ela acaba obtendo um cargo de responsabilidade dentro deste mesmo grupo. Quando toma posse do cargo, ela se vé imediatamente trans- formada em alvo da hostilidade das secretdrias com quem Asskdio moral 75 trabalhava alguns anos antes: no The entregam a correspon- déncia que chega, extraviam arquivos, ouvem suas conversas privadas ao telefone, nao Ihe transmitem os recados. Muriel se queixa a sua chefia, que lhe retruca que, se ela no conse- gue fazer-se respeitar pelas secretérias, é porque nio tem ‘envergadura para ser quadro de dire¢ao. E sugerem-lhe que se transfira para um cargo de menor responsabilidad Um subordinado agredido por um superior Esta situagao é demasiado freqiiente no contexto atual, em que se busca fazer crer aos assalariados que eles tém que estar dispostos a aceitar tudo se quiserem manter o emprego. A empresa deixa um individuo dirigir seus subordinados de ma neira tirinica ou perversa, ou porque isto Ihe convém, ou por que nio the parece ter a menor importincia. As conseqiiéncias so muito pesadas para o subordinado. ~ Pode ser simplesmente um caso de abuso de poder: um superior se prevalece de sua posigio hierérquica de maneira des- medida e persegue seus subordinados por medo de perder 0 controle. E 0 caso do poder dos pequenos chefes. —Pode ser também uma manobra perversa de um individuo que, para engrandecer-se, sente necessidade de rebaixar os demais; ou que tem necessidade, para existir, de destruir um determinado individuo escolhido como bode expiat6rio. Vere- mos como, por procedimentos perversos, pode-se fazer um. empregado cair nessa armadilha. Como impedir uma vitima de reagir Apenas o medo de ficar desempregado nao é explicagio suficiente para a submissio das vitimas de assédio. Os patroes € 08 pequenos chefes que perseguem visando a prépria onipotén- cia servem-se, conscientemente ou no, de procedimentos per~ Digitalizado com CamScanner versos que, as vitimas, impedem-nas de reagir. Esses Procedimentos, que se ‘dos nos campos de concentragio e am-se Mano incia, que vio se tornando cada regado resiste a elas. Em um primei- co-se retitar dele todo e qualquer senso critico, mais quem esti errado e quem tem razi0, ivado de eriticas e censuras, vigiado, crono- metrado, para que se sinta seguidamente sem saber de gue modo sa perm lema, mas age-se de maneira i # Pessoa em vez de encontrar uma solugio, Este pro- pliado pelo grupo, que é ou que até p: Recusar a comunicagao direta © conflito ndo mencionado, mas as atitudes de desquali- -se a explicar sua ati- lo, 0 agressor impede o deba- No mecanismo da comuni- Assdio moral a conflito, levando sempre tal atitude a crédito do outro. £ uma ‘maneira de dizer, sem fazé-lo com palavras, que o outro nio Ihe interessa, ou que sequer existe. Como nada é dito, ele pode ser incriminado por tudo. Essa situago torna-se ainda mais grave quando a vitima tem Propensio a culpar-se: “Mas 0 que foi que eu fiz a ele? Que que ele tem a censurar em mim?” Quando ha censuras, elas so vagas ou imprecisas, podendo dar lugar a todas as interpretagdes e a todos os mal-enitendidos Outras vezes eles entram na linha do paradoxo, para evitar qual~ auer réplica: “Minha querida, eu gosto muito de voc, mas vocé é uma nulidade! E todas as tentativas de explicago no levam a mais que vagas observagdes, Desqualificar A agressdo no se dé abertamente, pois isso poderia permi- {ir um revide; ela é praticada de maneira subjacente, na nha da comunica¢io ndo-verbal: suspiros seguidos, erguer dé ombros, olhares de desprezo, ou siléncios, subentendidos, alusdes dese, tsbilizantes ou malévolas, observages desabonadoras... Pode-se, assim, levantar progressivamente a diivida sobre a competéncia Profisional de um empregado, pondo em questio tudo que ele faz ou diz. Por serem indiretas, € dificil defender-se dessas agresses Como descrever um olhar carregado de édio? Come relataz subentendidos ou siléncios? A propria vitima por vezes duvida do que percebe, nio esta bem certa de no estar exagerando 0 que sente. Por menos que essas palavras venham fazer eco a uma falta de autoconfianca do empregado, este perderi de ve2 a con. Ganga em si proprio e desistira de defender-se pr A desqualificagdo consiste também em nio olhar para al- guém, no the dizer sequer bom-dia, falar da pessoa como de tum objeto (no se fala com as coisas!), dizer a alguém diante da So = Se Digitalizado com CamScanner 78 Cas na empresa descarada para usar rou- nao Ihe dirigir a pala neo minutos da sala it em vez de pedir-Ihe Pode-se em seguida inguém vai morrer por A linguagem é pervertida: cada 2 esconde um mal-entendido que se volta contra a vitima divida na cabega dos outros: “Vocé 5 Pode-se a seguir, com um discurso falso, feito rado de subentendidos, de ndo-ditos, dar origem ndo exploré-lo em proveito préprio. Para p6r 0 outro para baixo, ele é ridicularizado, humilha- berto de sarce é que perca toda a autoconfianga. apelido ridiculo, cagoz-se de uma enfermidade magio sua. Ou usam-se a caliinia, as mentiras, los. Faz-se tudo de modo a que vitima -m que possa, no entanto, defender-se. Essas manobras nascem de colegas invejosos que, para sair de uma siruago embaracosa, acham mais facil jogar o erro sobre , ou de dirigentes que pensam estimular seus emprega- icando-os seguidamente e humilhando-os. Quando a vitima se mostra abalada, ou se irrita, ou se deprime, isso justifica a perseguicio: “Ah, nada disso me espan- ta, essa pessoa é louca!” Asbo moral 7 Isolar Quando alguém decide destruir psicologicamente um empregado, para que ele no possa defender-se é preciso pri- meiro isolé-lo, cortando as aliangas possiveis. Quando alguém esti sozinho, é muito mais dificil rebelar-se, sobretudo se jé lhe fizeram crer que todo mundo esta contra ele. Por insinuagdes ou por preferéncias ostensivas, provocam-se ceitimes, jogam-se as pessoas umas contra as outras, semeia-se a discérdia. O trabalho de desestabilizagio é feito, assim, por cole- {2s invejosos, e o verdadeiro agressor pode dizer que ele nio tem nada a ver com isso. Quando esse afastamento vem dos colegas, co! xé-lo comer sozinho no refei a saem para beber juntos... Quando a agressdo vem da chefia, a vitima escolhida € progressivamente privada de toda e qualquer informagio. £ isolada, nao € chamada para as reuniGes. Sabe o que esperam de seu trabalho na empresa por meio de notas de servigo. Depois é posta em quarentena, arquivada. Nao the dao nada para fazer, mesmo estando seus colegas sobrecarregados, ‘mas também nio Ihe dio permissio de ler seu jornal ou de sair mais cedo. Foi o que aconteceu em uma grande empresa estatal, 2 qual chegou, sem aviso, um diretor executivo do qual queriam man- ter-se afastados. Ele foi instalado em uma sala distante, sem mis- so definida, sem contatos, com um telefone que nao estava conectado a nada. Depois de um certo tempo em tal situacao, esse executivo preferiti matar-se. Pér em quarentena é algo muito mais gerador de estresse do que sobrecarregar de trabalho, e torna-se rapidamente um pro- cesso destrutidor. Os dirigentes sentem-se 4 vontade para servit- se deste sistema com o fim de levar 4 demissio alguém de quem no mais necessitam. Digitalizado com CamScanner 80 O assédio na er Vexar Consiste em a tarefas iniiteis ou degradantes. E assim que Sonia, apesar de seu titulo de mestrado, vé-se colando selos em um local de lado. (Ou fixar objetiv Pessoa a ficar at . Para ver em seguida ‘©u podem ser igual rabalho exiguo e mal-vei nte agress6es fisicas, mas no diretas, cias que provocam acidentes: objetos pesados que

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