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Sem Medo da Minha Idade Traduzido do original em inglês The

Afternoon of Life: Finding Purpose and Joy in Midlife, Copyright


©2004 por Elyse Fitzpatrick

Publicado por P&R Publishing Company, P.O. Box 817,


Phillipsburg,
New Jersey 08865-0817
United States

Copyright © 2018 Editora Fiel Primeira Edição em Português: 2019

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel


da Missão Evangélica Literária

PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER


MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA
FONTE.

Diretor: James Richard Denham III Editor-Chefe: Tiago J. Santos


Filho Editora: Renata do Espírito Santo Coordenação editorial:
Gisele Lemes Tradução: Francisco Brito
Revisão: Shirley Lima – Papiro Soluções Textuais Diagramação:
Larissa Nunes Ferreira Capa: Larissa Nunes Ferreira Ebook: João
Fernandes
ISBN: 9788581325729
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

F559s Fitzpatrick, Elyse, 1950-


Sem medo da minha idade / Elyse Fitzpatrick ;
[tradução: Elizabeth Gomes]. – São José dos Campos,
SP: Fiel, 2019
2Mb ; ePUB
Tradução de: de: The afternoon of life : finding
purpose and joy in midlife.
Inclui referências bibliográficas.
ISBN 9788581325729
1. Mulheres cristãs – Vida religiosa. 2. Mulheres
de meia idade – Vida religiosa. I. Título.
CDD: 248.843
Caixa Postal, 1601
CEP 12230-971
São José dos Campos-SP
PABX.: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
Dedicatória

Aos meus queridos:


Wesley David, Hayden Dexter, Eowyn Elyse e
Alexandria Louise, obrigada por toda a alegria que
vocês trouxeram a este coração de mulher madura.
Sumário
Introdução
1 • Tudo Tem um Tempo Determinado
2 •A Mulher Virtuosa no Entardecer da Vida
3 • Somente Nós Dois
4 • Não se Esqueça de Escrever
5 • Deixando Seu Pai e Sua Mãe
6 • Pode me Chamar de “Mimi”!
7• Quando os Filhos Voltam para Casa
8 • Querido Filho Incrédulo, Como Anseio por Sua
Alma
9 • Aqui, Mãe, Não Esqueça Seu Agasalho
10 • Estou me Acostumando com a Minha
Aparência
11 • Mulheres Maduras no Ministério
Epílogo
Agradecimentos
Sobre as colaboradoras
Introdução
O “período de entardecer da vida” é uma expressão que
usei pela primeira vez em Mulheres ajudando mulheres.1
Nos Estados Unidos, a expectativa de vida da mulher é de
79 anos. Se você dividir esses anos em segmentos de 15
anos e associar esses segmentos às diferentes partes do
dia, terá o seguinte:
0–15: AMANHECER
16–30: DA MANHÃ AO MEIO-DIA
31–45: MEIO-DIA
46–60: DO ENTARDECER AO CREPÚSCULO
61–75: INÍCIO DA NOITE
Mais de 76: NOITE.
Sou uma mulher em pleno desabrochar do
entardecer, e isso é algo que estou aprendendo a
amar. Mas reconheço que nem sempre foi assim.
Lembro-me da preocupação incrédula que
acompanhou as primeiras ondas de calor que senti e
de quanto meu coração se encheu de lágrimas
durante as cerimônias de formatura tão esperadas.
Lembro-me de quando aprendi a fazer comida
suficiente para somente duas pessoas. Algumas
partes dessas experiências foram mais difíceis que
outras, e eu compreendo que talvez você esteja
passando por um desses momentos difíceis e, por
isso, considere o humor que pretendo usar aqui um
pouco insensível e cruel. Por favor, não entenda mal
o que estou dizendo ou minha maneira de dizê-lo. Já
passei por alguns desses momentos difíceis e, ao
refletir sobre eles, não os vejo somente em meio à
escuridão, à confusão e ao desespero, mas na luz e
com fé — e, em mim, isso produz humor. Talvez
você não consiga rir comigo agora, mas talvez uma
boa risada seja exatamente o que você precisa. Seja
como for, por favor não se sinta incompreendida ou
desprezada. Aquele que tem o amor e a
compreensão de que você tanto necessita está hoje
bem ao seu lado, como sempre esteve, e ele chora e
sorri com você.
Também é possível que alguns capítulos deste livro
não se apliquem diretamente a você. Talvez você
nunca tenha tido filhos e nunca tenha se preocupado
com rugas. Contudo, confio que as verdades em
cada um desses capítulos vão falar ao seu coração,
mesmo que isso sirva apenas para ajudar suas irmãs
que passam por dificuldade. Com isso, não quero
dizer que as mulheres que não têm marido, filhos ou
netos não sofram as angústias da vida vespertina;
essas são as arenas em que já derramei meu sangue
e esses são os campos que já arei.
Pequenos traidores amarronzados
Enquanto estou sentada bem aqui, na frente do
meu teclado — algo que tenho feito muito nos
últimos anos —, olho para minhas mãos... e sou
lembrada novamente.
Tem feito um verão maravilhoso e eu passei alguns
dias agradáveis na praia —divertindo-me na água e
dando risadas com os amigos. As mechas loiras no
meu cabelo estão mais perceptíveis agora e minhas
sardas estão no auge, pulando e gritando: “O verão
chegou, estamos de volta! Vamos nos divertir!”.
Minhas mãos ficaram mais bronzeadas, mas existe
outra coisa que também é perceptível e acaba por
tirar o foco daqueles agradáveis prenúncios de dias
longos, borrifos de água salgada e areia quente. As
pequenas pintinhas que eu tinha na pele estão se
tornando manchas amarronzadas que me fazem
lembrar da minha avó. Minhas pequenas sardas
conspiraram contra mim e se transformaram em
manchas da idade! Sim, é verdade. Não importa
quanto eu lute ou tente ignorar, estou ficando mais
velha, e essas placas de sinalização superficiais não
são as únicas coisas que indicam isso.
Mudanças no habitat
Nos últimos anos, meus filhos saíram de casa... e
meu útero, a primeira casa deles, também. Os netos
vêm me visitar, mas vão embora no final do dia e,
por mais que eu fique feliz por vê-los, quando eles
vão embora, já estou exausta. Como conseguíamos
fazer isso? É o que meu marido, Phil, e eu nos
perguntamos enquanto pegamos os brinquedos do
chão com as costas e os joelhos doloridos.
Eu tenho um novo queridinho... meu travesseiro. É
meu novo melhor amigo. Quando não posso estar
com meu travesseiro, sonho com ele, especialmente
quando cochilo no sofá, no início da noite, porque é
cedo demais para ir para a cama. À noite, Phil e eu
ficamos olhando para o relógio, bocejando e
esperando pela hora de poder ir para a cama (nove
da noite é a Bendita Hora do Alívio). Quando,
finalmente, nos rendemos ao canto da sereia do
nosso travesseiro, eu me pego acordada às três e
meia da madrugada, recitando os livros da Bíblia,
orando e me perguntando o que aconteceu com o
tempo em que eu era capaz de dormir
tranquilamente durante toda a noite.
Eu agora dependo do meu travesseiro para tudo —
eu acho que ele é turco. Seu nome é Otomano.
Adoro essa palavra: otomano. Eu só preciso colocar
meus pés um pouco para cima, esse se tornou meu
mais novo mantra. Por que eles não fazem cadeiras
de escritório e computadores que ficam pendurados
no teto para que eu me sinta confortável enquanto
escrevo? Ah, o conforto, o querido e doce conforto!
Momentos terceira idade
Costumamos jantar às quatro e meia da tarde.
Atualmente, quando vamos ao restaurante,
chegamos a tempo de pegar a promoção especial
para pessoas de terceira idade, que chegam cedo.
Em geral, nós somos os mais jovens, ou pelo menos
acreditamos ser. Eu já me flagrei dizendo: “Não
posso comer tarde da noite porque, nesse caso, fico
acordada a noite toda tomando antiácido”. Quando
comecei a falar essas coisas? O que aconteceu com a
época em que éramos capazes de comer dois
cheesebúrgueres duplos com fritas e um milk shake
de chocolate às dez e meia da noite sem pensar ou
provar duas vezes?
Nossa alimentação também mudou de outras
maneiras, além do fato de que, às cinco e dez da
tarde, já terminamos a refeição. É um pouco
constrangedor, mas é verdade: muitas coisas
estranhas têm acontecido com meu sistema
digestivo. A lista de alimentos que não posso comer
tem crescido exponencialmente; e isso em uma
época em que nossa cultura clama cada vez mais por
tolerância. Quanto a mim, tenho me tornado cada
vez mais intolerante. Agora, para onde eu vou,
sempre carrego pastilhas para digestão, pois me
tornei intolerante a lactose e tantos outros produtos
alimentícios deliciosos.Também me tornei
intolerante a cafeína. Lembro-me da época em que
era capaz de tomar café o dia inteiro, até a noite, e
ria das mulheres mais velhas que diziam que não
conseguiam tomar café depois do meio-dia, pois, se
tomassem, ficariam acordadas durante toda a noite.
Agora, sou eu quem fico acordada às 2:45 da
madrugada, perguntando a mim mesma qual
demônio do Starbucks me possuiu para que eu
pedisse uma dose de espresso nas primeiras horas
do dia a fim de ter energia para concluir todos os
meus projetos.
Um rapazinho imberbe (quero dizer, um
adolescente), mastigando chiclete, incapaz de
reconhecer uma pessoa de terceira idade, mesmo
que sua vida dependa disso (Brincadeirinha!), já me
perguntou se eu queria pagar meia-entrada no
cinema. Garçonetes — agora, tratadas como
garçons, sem especificação de gênero, de forma
geral — agora me chamam de “senhora”.
Comissários de bordo (nome politicamente correto
para “aeromoço” ou “aeromoça”) me perguntam se
quero ajuda para colocar minha bagagem no
compartimento superior. No último verão, uma
criança de quatro anos me perguntou se eu estava
bem enquanto eu rolava na água, à beira-mar. O que
essa criança estava pensando? Acaso eu não parecia
bem? Não é normal que uma avó aproveite a
esfoliação de pele e a algoterapia que a natureza
oferece de graça?
No ano passado, meu marido recebeu pelos
Correios um convite para fazer parte da Associação
Americana de Aposentados. Eu achei hilário até
receber o meu também. Enquanto eu jogava o
convite no lixo, pensei: Vou dar o troco.
Lembranças, nada além de lembranças...
Humm... sobre o que estávamos falando
mesmo?
Por falar em filmes (estávamos falando sobre
filmes, não estávamos?), eu tenho uma amiga cuja
mãe tem uma lista de filmes que já viu porque
simplesmente não consegue lembrar quais foram. Eu
achava isso engraçado.
Meus filhos me contam histórias dizendo: “Lembra
quando nós... e depois você...”, ao que respondo:
“Não lembro, mas estou certa de que você está
dizendo a verdade. Isso parece divertido. Eu me
diverti?”. Certo dia, eu estava conversando com meu
filho mais novo, Joel, e fiz uma pergunta a ele
(sobre alguma coisa que não consigo lembrar) e ele
respondeu: “Mãe, a resposta a essa pergunta é a
mesma de uma hora atrás”.
Eu respondi choramingando: “Por favor, responda
mais uma vez. Prometo que vou me esforçar para
lembrar”.
Admito que fiquei bem cética em relação à suposta
incapacidade de Hillary Clinton lembrar-se dos fatos
relacionados ao Escândalo Whitewater, mas agora já
não tenho mais tanta certeza assim. Qual era a idade
dela quando foi intimada a depor?
Em algum momento do passado — não tenho
certeza exata —, minha filha, Jessica, comentou
que, sempre que vinha à minha casa, eu estava
fazendo uma encomenda de medicamentos
prescritos na farmácia local. O que me faz lembrar
que...
Agora uso óculos de grau e tenho até lentes
bifocais. Isso é um alívio porque, com o tempo que
já passei procurando meus óculos desde que
comecei a usá-los, nos últimos cinco anos, acho que
já poderia ter escrito outro livro.
Estou mais alta do que a minha mãe agora — pela
primeira vez na vida — e tenho o corpo da minha
avó paterna. A papada, as celulites e as rugas estão
aumentando, e o que é mais surpreendente é que
acho que não ligo mais para isso. Meus netos
adoram receber meus abraços — tenho certeza de
que sou quentinha, aconchegante, macia e
confortável para eles, assim como minha avó era
para mim. Embora eu tenha passado muitos anos
suando na academia, por algum motivo, Wesley,
meu neto mais novo, nunca fez aquele elogio tão
desejado: “Nossa, Mimi, você está tão sarada!”, e
agora eu sei que ele provavelmente nunca fará.
Bem... onde foi parar o Otomano?
Bem, acho que você já entendeu. Eu poderia falar
muitas coisas (e é o que vou fazer) sobre as
mudanças que as mulheres experimentam na fase do
entardecer de suas vidas. São décadas de nossas
vidas em que muitas mudanças acontecem e,
quando você começa a se sentir bem com a forma
como as coisas são, tudo vira de ponta-cabeça. Este
livro é sobre essas mudanças, mas não é somente
sobre isso.
Uma meditação reconfortante
O pensamento mais reconfortante que já tive
enquanto experimento essas mudanças dos últimos
anos não é uma lembrança da era de ouro de prazer,
quando meus bebês eram pequenos e meu corpo era
jovem. O consolo mais doce que tenho chega a mim
na forma de uma proposição teológica: Deus é o
meu Pai, ele é soberano e ele é bom. Ao longo
deste livro, enfatizo constantemente que as
mudanças que estamos enfrentando fazem parte do
plano de um Pai sábio e amoroso, um plano em que
Deus realiza seu propósito último de glorificar a si
mesmo e de me moldar à sua imagem. Não passe
por cima dessa última frase, pois ela é a chave para
acolhermos esta e todas as outras fases da vida com
alegria. O supremo propósito de Deus de me fazer
passar por todas essas mudanças é glorificar a si
mesmo e me santificar.
Todas nós já ouvimos as pessoas falarem sobre
Deus glorificar a si mesmo, não é? Eu sei que Deus
é glorioso, mas também reconheço que ele busca
glorificar a si mesmo através de determinadas
formas em nossas vidas.
Como seria a glória de Deus em sua vida? Parece-
me que Deus é glorificado quando conhecê-lo torna-
se minha maior alegria. Quando minha vida grita
para todos ao meu redor: o conhecimento de Deus é
o melhor, mais doce e mais gratificante aspecto da
vida!, ele está sendo glorificado e exaltado em mim.
Quando enfrento essas mudanças aparentemente
infinitas com graça e alegria, tornando-me parecida
com minha valorosa irmã de Provérbios 31, que,
“sorri diante do futuro” (Pv 31.25 - NVI), minha
família e meus amigos sabem que Deus é digno de
confiança, mesmo que a vida às vezes seja mais
parecida com uma montanha-russa imprevisível do
que com um carrossel previsível.
De que maneira Deus cria em meu coração esse
tipo de louvor que o exalta? Ensinando-me que as
partes da minha vida que tendo a amar e preferir
(como, por exemplo, uma boa memória, uma boa
visão, energia natural para realizar as tarefas, noites
tranquilas de sono) não são capazes de suportar o
peso da vida real eternamente. Essas não são as
fontes da verdadeira alegria, paz ou bênção. Então,
ele remove as alegrias temporais, amorosamente
chamando a atenção para si mesmo, que é onde
encontro a plenitude da alegria e dos eternos deleites
(Salmos 16:11).
Romanos 8:28-30 é uma passagem que a maioria
de nós conseguiria citar. Paulo escreveu:
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão
conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito
entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses
também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.
Vamos ver o ensinamento de Paulo e parafraseá-lo
à luz do atual momento de nossas vidas:
Nós sabemos e podemos ter certeza de que Deus faz com
que tudo o que você e eu estamos passando,
especialmente as mudanças dolorosas em nossos corpos e
em nossas casas, coopere proveitosamente para o nosso
bem último; esse é um bem que será desfrutado e recebido
por aqueles que amam a Deus e aderiram e se adaptaram
ao seu propósito em suas vidas. Esse bem não consiste na
manutenção do status quo ou na continuação da vida tal
como a conhecíamos e amávamos. Em vez disso, a
maneira desse bem se realizar em nossas vidas é nos
recriando, dia após dia, à imagem do Filho, que disse:
“Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as
aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde
reclinar a cabeça” (Mt 8.20); e “Se alguém quer vir após
mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-
me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem
perder a vida por minha causa, esse a salvará. Que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a
perder-se ou a causar dano a si mesmo?” (Lc 9.23-25)
O que exatamente o Senhor está realizando em
nossas vidas? Ele está intrinsecamente envolvido em
cada mudança que acontece e, misericordiosamente,
preparou nossas vidas para que fôssemos forçadas a
enfrentar essas mudanças? Nas próximas páginas,
vamos analisar a maneira como experimentamos
algumas dessas mudanças; vamos levantar a
bandeira vermelha sempre que o perigo estiver se
aproximando; e vamos tentar ver, sempre que
possível, o lado mais leve das coisas. A verdade é
que, nesses anos vespertinos de nossas vidas, o que
precisamos não é simplesmente de alguém que fique
conosco na cadeira de balanço, na varanda de
nossas casas; em vez disso, precisamos enxergar esse
período com as lentes certas — as lentes do plano,
da glória e do propósito de Deus.
Outras valorosas mulheres maduras vão participar
de nossa conversa. Você pode descobrir mais sobre
elas na seção Sobre as Colaboradoras, no final
deste livro. Todas são amigas e eu acompanhei suas
vidas enquanto passavam pelos desafios dos anos
vespertinos de suas vidas. Recomendo o trabalho
delas e que você beba da profunda sabedoria delas.
Você está preparada para avançar rumo ao futuro
desconhecido? Você está sorrindo? Você está pronta
para abraçar tudo o que Deus colocou em seu
caminho, sabendo que seus propósitos e objetivos
são bons? Se a resposta for sim, vamos pegar uma
xícara de chá (sem cafeína, à base de ervas naturais,
se você quiser), colocar nossos pés no bom e velho
Sr. Otomano e aprender a apreciar o tesouro que
está sendo posto diante de nós nessa longa jornada
vespertina.

1 Elyse Fitzpatrick e Carol Cornish, Mulheres ajudando mulheres.


Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
1 • Tudo Tem um Tempo
Determinado
Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo
propósito debaixo do céu.
(Ec 3.1)
A criação de Deus está cheia de diversidade e
dessemelhança. O oceano, a floresta, o deserto e as
estrelas são diferentes telas para sua pintura. Olhe
para uma folha e reflita sobre a diversidade da paleta
de Deus: folhas verdejantes cor de esmeralda cheias
de vida ficam amareladas, transformando-se em
velinos ocres e infrutíferos, que caem no chão em
redemoinho.
Você já se perguntou por que as folhas mudam?
Com isso, não quero saber: “Quais são as causas e
os efeitos científicos para que algumas árvores sejam
perenes, enquanto outras se desfolham?”. O que eu
quero saber é se você já se perguntou: “Por quê?”.
O que Deus estava nos dizendo sobre si mesmo
quando criou essas árvores para que fossem assim?
O que essa mudança nos ensina? “Fez Deus os dois
grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o
menor para governar a noite; e fez também as
estrelas. E os colocou no firmamento dos céus para
alumiarem a terra, para governarem o dia e a noite e
fazerem separação entre a luz e as trevas. E viu
Deus que isso era bom” (Gn 1.16-18).
Por que Deus dividiu o dia entre dia e noite? Por
que nos deu dois “grandes luzeiros”, e não somente
um? Por que o sol é flamejante e intenso, enquanto
a lua é alva e sombria? Por que o céu passa do azul
para cor de tangerina ao entardecer ou passa um dia
inteiro obscurecendo sua elegância em mortalhas
cinzentas apenas para, alegremente, lançar fora seu
manto na glória exuberante do dia seguinte?
A natureza da criação, a natureza do rei da
criação

Parece que Deus adora mudanças. Em toda a sua


criação, não há nada que permaneça exatamente
estático. Aliás, até mesmo os átomos estão sujeitos a
variações, tendendo para a desordem, e não para a
ordem. Em toda a criação, o que não muda?
Somente Deus, aquele que está acima da criação.
Reflita comigo sobre seu testemunho acerca de sua
natureza consistente e de nosso mundo
inconsistente:
Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da terra; e os
céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu
permaneces; todos eles envelhecerão como uma veste,
como roupa os mudarás, e serão mudados. Tu, porém, és
sempre o mesmo, e os teus anos jamais terão fim (Sl
102.25-27).
Procurai o que faz o Sete-estrelo e o Órion, e torna a densa
treva em manhã, e muda o dia em noite; o que chama as
águas do mar e as derrama sobre a terra; SENHOR é o seu
nome (Am 5.8).
Deus governa soberanamente sobre todas as
mudanças diárias que experimentamos, mas ele
nunca muda. Ele diz em Malaquias 3.6: “Porque eu,
o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó,
não sois consumidos”. Tiago declara essa verdade
com eloquência quando diz que Deus é “o Pai das
luzes, em quem não pode existir variação ou sombra
de mudança” (Tg 1.17). Deus reina sobre os dois
grandes luzeiros — o sol e a lua —, mas está acima
deles. A lua muda de fases. No sol, há explosões
violentas durante as tempestades solares; seus efeitos
sobre nós são prolongados e encurtados à medida
que a terra vai girando em torno de seu eixo durante
as estações ou é obscurecida pela névoa ou a
escuridão. Mas, com Deus, não há “variação ou
sombra de mudança”.
Não existe nada desse tipo em Deus; ele nunca é afetado
pelas mudanças que afetam os seres mortais. Ele não ocupa
um lugar específico do universo; ele enche os céus e a
terra, está presente em todos os lugares, vê tudo, permeia
tudo e brilha sobre todos.1
Por que o Senhor organizou o universo, desde a
menor molécula até o curso completo de nossas
vidas, de modo que estamos sempre enfrentando
desafios? Porque ele nos quer observando e
aprendendo. Aprendendo que somos finitas,
dependentes, fracas, necessitadas do sustento diário.
E aprendendo que ele não é como nós.
A verdade sobre nossa condição
Há cerca de um ano, percebi que havia uma
estranha saliência no meu dedo anelar. O que é
isso?, perguntei-me. Aquilo estava me incomodando
e eu tentei mexer para descobrir o que era. Depois,
em uma conferência que eu estava frequentando,
falei com um reumatologista.
“O que é essa estranha saliência no meu dedo?”,
indaguei.
Ele encostou a mão para sentir o que era e disse:
“É um nódulo de Heberden. Faz parte do
envelhecimento; é só um esporão calcificado da
cartilagem da junta”.
“Ah, faz parte do envelhecimento...” Isso deveria
me fazer sentir-me melhor? A intenção era me fazer
sentir melhor?
A verdade sobre nossa condição é que todos nós
estamos envelhecendo — mesmo que você ainda
não tenha sido agraciada com alguma saliência
estranha. Mas não estamos apenas envelhecendo.
Estamos avançando rumo a uma eternidade que terá
início com uma transformação que só podemos
imaginar como será.
Durante a minha pesquisa para um dos capítulos de
Mulheres ajudando mulheres, deparei-me com a
seguinte declaração impressionante: “Estou
escrevendo este livro por uma razão intensamente
pessoal. Tenho uma doença terminal. Você está
convidado a ler pelo mesmo motivo. Você também
tem uma doença terminal... A vida é sempre fatal”.2
Você costuma refletir sobre essa verdade? Você
tem consciência de que sua vida vai se acabar e que
há um dia que se aproxima com uma velocidade
cada vez maior em que tudo o que você conhece
será transformado? Todas as ilusões serão
removidas; todas as falsidades serão expostas; e a
verdade se tornará visível.
Se você for como eu, é fácil esquecer essas
verdades — até que algo acontece para nos lembrar.
Minha memória não funciona, meus filhos estão
completando trinta anos ou eu recebo notícias
indesejadas de que meu pai ou minha mãe está
doente, fazendo com que a realidade da vida, que
estava um pouco de lado na minha consciência,
volte a receber o foco da minha atenção. A vida nem
sempre será o que é hoje. Eu sou finita, sou frágil e
sou dependente.
Você já parou para refletir sobre a imprudência dos
jovens? Eu olho para os jovens do meu bairro
andando de skate e fico perplexa; eles são jovens e
se consideram invencíveis. Eles não sentem a dor e a
rigidez que fazem parte das minhas manhãs, e os
fatos sobre o futuro são tão irreais para eles quanto a
ideia de que haverá um dia em que andar de skate
deixará de encantá-los. Eles assumem riscos tolos
porque não conhecem a verdade que meu pequeno
nódulo de Heberden me ensinou: a vida é curta, a
vida é preciosa e eu sou vulnerável.
Encontrando bênçãos nas pequenas saliências
Deus não é bom? Ele poderia nos ter deixado sem
essas mudanças, poupando-nos de ver que
estávamos caminhando rumo ao nosso destino
último até chegarmos a um momento em que
descobriríamos que tudo chegou ao fim. Em vez
disso, ele colocou placas de sinalização no caminho.
Como aquele autoproclamado profeta na esquina da
rua com seu prognóstico: “O fim está próximo!”, o
Senhor colocou um aviso dentro de cada uma de
nós: “Pense no que você está fazendo! Prepare-se
para a eternidade!”. O salmista orou para que o
Senhor nos ensinasse “a contar os nossos dias, para
que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). Não é
interessante que, para aprender a contar nossos dias,
torna-se necessário alcançar a sabedoria divina?
João Calvino comentou:
Ainda o mais habilidoso em matemática, e aquele que pode
empreender com precisão uma investigação e
acuradamente chegar a milhões e milhões, não obstante é
incapaz de contar oitenta anos de sua própria vida [...] Os
homens medem todas as distâncias fora deles mesmos,
sabem a quantos quilômetros está a lua do centro da Terra,
qual espaço há entre os diferentes planetas; e, em suma,
podem dividir todas as dimensões tanto do céu quanto da
terra; enquanto, não obstante, não podem contar setenta
anos em seu próprio caso.3
Em diversas parábolas, Jesus, amorosamente, nos
advertiu sobre a tolice de não compreender a
brevidade da vida. Em uma delas, ele advertiu que
deveríamos estar sempre cingidas e preparadas para
seu retorno. Em outra, advertiu-nos que o dono da
casa, que estava dizendo para si mesmo, “Sou
financeiramente seguro e posso descansar”, quando
menos esperasse, teria de prestar contas de sua alma.
A parábola do homem rico que viveu de forma
egoísta, mas depois foi atormentado, enquanto
Lázaro deleitava-se em prazeres que nunca
conheceu, também serve para ensinar aos sábios:
Olhem para a Palavra! Observem o mundo! Leiam
as manchetes das mudanças de seu corpo!
O apóstolo Paulo também admoestou seus leitores:
“Portanto, vede prudentemente como andais, não
como néscios, e sim como sábios, remindo o tempo,
porque os dias são maus. Por esta razão, não vos
torneis insensatos, mas procurai compreender qual a
vontade do Senhor” (Ef 5.15-17).
Você consegue perceber qual é o tema? A verdade
sobre a eternidade e sobre quanto, rapidamente, nos
aproximamos da eternidade peneira o coração de
cada pessoa, o que pode revelar um coração tolo ou
um coração de sabedoria. Sem a intervenção do
Espírito Santo e sem o sacrifício de Cristo, tudo o
que seria revelado sobre nós seria tolice. Mas, com a
ajuda de Deus, podemos levar a sério os avisos que
ele colocou no caminho para que sejamos sábias.
Como conheceremos essa sabedoria? Ela se
expressa em palavras como a de Davi:
Dá-me a conhecer, SENHOR, o meu fim e qual a soma dos
meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade.
Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à
tua presença, o prazo da minha vida é nada. Na verdade,
todo homem, por mais firme que esteja, é pura vaidade.
Com efeito, passa o homem como uma sombra; em vão se
inquieta; amontoa tesouros e não sabe quem os levará. E
eu, Senhor, que espero? Tu és a minha esperança. (Sl 39.4-
7).
O coração sábio que almejamos ter inclui diversos
fatos importantes.
Você e eu precisamos da ajuda de Deus para obter
a sabedoria que Jesus, Paulo e Davi mencionam.
Há uma deficiência em nossa compreensão: não
apenas uma falta de entendimento, mas uma
relutância voluntária para compreender o verdadeiro
estado em que nos encontramos. Precisamos que ele
torne nossos corações mais humildes e que crie em
nós o desejo de amar a verdade.
Haverá um fim para nossos dias aqui na terra.
Até os mais tolos entre nós reconhecem essa
verdade. Sim, sim, nós pensamos. Eu sei que minha
vida vai acabar um dia... mas não será hoje. Esse
tipo de pensamento tolo se manifesta de centenas de
maneiras em nossa vida cotidiana. Você quer um
exemplo? Você tem um testamento? Setenta por
cento das pessoas não têm.
A vida que agora vivemos na carne — na melhor
das hipóteses, é um mero sopro. O Espírito Santo
inspirou Tiago, que disse que a vida é “como neblina
que aparece por instante e logo se dissipa”. Da
próxima vez que você sair do banho, olhe no
espelho. Depois, abra uma janela, veja o vapor indo
embora e peça sabedoria para Deus. Pense, “é assim
que são os dias da minha vida”.
Todas as vaidades do mundo que atualmente
prendem a minha atenção não passam de
futilidades. Pense na última vez que você ficou
transtornada, com raiva ou preocupada. Que
importância essas coisas teriam no Céu? Será que
realmente é importante se a parede da sua sala de
jantar está amarela demais ou se a taxa de juros do
seu investimento diminuiu 0,25%? Como disse
Madre Teresa: “Sob a perspectiva do Céu, a mais
miserável vida na terra terá sido como uma mera
noite ruim em um hotel de estrada inconveniente”.4
Somente o nosso relacionamento com nosso Pai
celestial através de Cristo durará. A verdade sobre
a natureza temporária de nossa vida e dos
relacionamentos da vida presente nos faria entrar em
desespero se não houvesse um relacionamento que
durasse para sempre. Aliás, nosso relacionamento
com Deus através de Cristo já existia no coração do
Pai antes do nosso nascimento, antes da fundação
do mundo (Ef 1.4), e esse é o relacionamento que
continuará eternamente.
Este é o meu lar... mas, na verdade, não é

Eu adoro festas. Nos últimos dois anos, tentei


descobrir quantas pessoas consigo amontoar na
minha casa (e em volta da porta da frente e de trás)
no Dia do Trabalhador. Este ano, colocamos um
castelo inflável e uma piscina de criança no quintal.
Nós dissemos aos pais que dessem pistolas d’água a
seus filhos. Adultos e crianças ficaram correndo
descontroladamente pela casa — alguns adultos
fizeram até uma guerra d’água com a mangueira! Dá
para acreditar nisso?
Ao longo do dia, pelo menos duas mulheres me
perguntaram: “Por que você faz isso? Você não tem
medo de bagunçar sua casa?”.
“Ah”, respondi, “na verdade, isso não é realmente
importante. No fim das contas, vai ser tudo
queimado no fogo”.
Talvez essa história pareça espiritual e nobre. Eu
estava sendo sincera quando disse isso, mas, no dia
seguinte, quando descobri que haviam quebrado um
dos meus porta-retratos, que ficava no escritório, vi
tudo isso sob uma perspectiva diferente. É verdade
que tudo vai passar (2Pe 3.10-12) e que a minha
casa, por mais bonita que seja, não é o meu lar, mas
pôr essa verdade em prática quando vejo meu porta-
retratos quebrado é bem diferente.
Como todas as pessoas, tenho a tendência de amar
as minhas coisas. Você sabe de que tipo de coisa
estou falando: minha casa, meu carro, minhas
roupas, meus livros... minhas coisas. Eu amo minhas
coisas e, embora eu talvez conheça a maneira sábia
de me sentir a esse respeito, preciso me esforçar
para me despojar da tolice e me revestir de
sabedoria.
É muito fácil pensar que meu pequeno ninho aqui é
realmente o sentido de toda a vida. Meus filhos,
meus netos, as férias no lago, os jogos de futebol, os
chás de bebês, as compras no supermercado; é tudo
tão familiar e tão confortável!
Estrangeiros e peregrinos

Um dos objetivos das mudanças que você está


experimentando é que aprenda sobre a fé de
Abraão. Reflita sobre as palavras que descrevem a
jornada dele: “Pela fé, Abraão... obedeceu... e partiu
sem saber aonde ia... peregrinou na terra da
promessa como em terra alheia, habitando em
tendas... porque aguardava a cidade que tem
fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e
edificador” (Hb 11.8-10).
Você está buscando essa cidade? Você está
buscando “uma pátria superior, isto é, celestial” (Hb
11.16)? Deus foi muito bondoso conosco ao nos
alimentar à força com a mudança: mudança de casa,
mudança de trabalho, mudança da situação familiar.
Ele é bondoso ao nos lembrar de que essa realidade
não é o nosso lar, que precisamos buscar um lar
diferente. Reflita sobre essas questões enquanto
pensa na admoestação dele: “Não acumuleis para
vós outros tesouros sobre a terra [...], mas ajuntai
para vós outros tesouros no céu” (Mt 6.19-20).
O seu tesouro está na sua casa? Seu Salvador
avisa contra a tolice de acumular tesouros em um
lugar que é suscetível a danos. Você sabia que tudo
vai se queimar no fogo? Você é capaz de apreciar o
que tem sem colocar seu coração nessas coisas?
Como você se sente quando algo quebra, é roubado
ou perdido? Ser um bom mordomo é justo, mas não
é justo ser um bom idólatra.
O seu tesouro está em sua família? Você deve
amar sua família e valorizar o tempo que Deus
permite que você se relacione com eles, mas não
deve construir sua existência em torno deles. Sua
existência deve ser construída em torno de Deus, de
seu reino e de sua justiça. Assim, quando as crianças
forem para a faculdade e começarem uma nova
vida, seu coração estará protegido no Céu, que é o
lugar dele. Se você é casada, seu marido é
provavelmente seu amigo terreno mais próximo.
Você foi chamada para ser sua companheira e
auxiliadora, mas não foi chamada para fazer dele o
seu deus. O que aconteceria com a sua fé se o
Senhor decidisse levá-lo para casa ou se ele caísse
em pecado e abandonasse você? Seu coração está
seguro com seu Salvador?
O seu tesouro está na sua beleza? Como você se
sente quando vê uma nova marca de expressão? A
vida valerá a pena quando você tiver a aparência de
sua vó? Se você passou toda a vida tentando ter uma
boa aparência, vai se sentir tentada a investir cada
vez mais tempo e dinheiro em sua aparência para se
opor aos efeitos da gravidade, do tempo e do nosso
ambiente. Não estou dizendo que você não deva
tentar parecer aceitável, mas o vaso de porcelana,
que é o seu rosto, é muito frágil para carregar o peso
de seu coração.
O seu tesouro está na sua saúde? O que o Senhor
pode lhe ensinar através dos pés que doem e das
mãos que ficam inchadas como um donut? Você
estaria disposta a servir a Deus se isso lhe trouxesse
desconforto e até mesmo dor? Novamente, não
estou dizendo que você não deve se esforçar para ter
o máximo de saúde possível, pelo máximo de tempo
possível. O que estou dizendo é que,
independentemente de quantas vezes você vai à
academia, de quantas repetições consegue fazer com
os pesos livres e de quantas vitaminas, minerais e
suplementos consome, você está ficando mais velha.
Deus está libertando você do orgulho e da tolice que
os jovens, aparentemente invencíveis, abraçam. O
relógio está fazendo tique-taque — viva com
sabedoria!
Ele é o diretor e o dramaturgo

Aqui vai mais um pensamento sobre por que Deus


ama que experimentemos essas mudanças: sua
glória é tão grande que é impossível manifestá-la
em uma peça de um ato só. Às vezes, preferimos
que a vida continue, que as mesmas cenas
agradáveis se repitam, mas Deus está interessado em
manifestar sua glória. Ele quer que vejamos quanto
ele é glorioso em nossa juventude — cheios de
força, fascínio e energia. Ele quer que aprendamos
como ele é conhecido nos primeiros anos de nossa
vida adulta — uma época que é cheia de emoção,
desafios e novas perspectivas. Ele quer que
aprendamos o que significa ser fiel por muito tempo
em uma direção e como a sabedoria é mais desejável
do que a beleza, a força ou a riqueza. São lições
sobre suas perfeições que nunca aprenderemos até
passarmos por elas.
Tenha ânimo, querida irmã. As mudanças que
estamos experimentando, embora às vezes sejam
desconfortáveis, estão tecendo uma bela tapeçaria.
Essa tapeçaria não é sobre nossa beleza ou sobre
quanto nos tornamos sábias e maravilhosas. É sobre
a beleza dele e sobre a excelência de seu plano
eterno. Em vez de sair correndo no sentido
contrário, por que você não aproveita para reservar
um tempo agora a fim de refletir sobre o que Deus
projetou para você durante todos esses anos e orar:
Ensina-me, querido Senhor, a contar os dias que
me restam. Desejo apresentar a ti, para a tua
glória, um coração cheio de sabedoria e que
anseia pelo Céu, que se apega com amor, mas com
flexibilidade, às pessoas que são os teus presentes
para a minha vida aqui; e um coração que ajude
outras mulheres a ansiar pela entrada em teu reino
e a trabalhar com alegria em teus campos.
Tornando-se uma mulher sábia
1. Quais são as mudanças que você está
enfrentando atualmente? Você pode dividi-las em
categorias como, por exemplo, Mudanças em Mim
Mesma; Mudanças em Meu Lar; Mudanças
Relacionadas ao Meu Futuro.
2. Quais são as alegrias que se destacam na atual
fase da sua vida?
3. Como seria, na prática, “apresentar um coração
sábio” em cada uma dessas áreas?
4. O que você já aprendeu por causa dessas
mudanças que experimentou?
5. Leia Deuteronômio 32.29, Eclesiastes 9.10 e
João 9.4. O que essas passagens nos ensinam sobre
sabedoria? Quais mudanças você acredita que
precisa realizar para aproveitar melhor o tempo que
ainda lhe resta?
6. Escreva Eclesiastes 3.1-8 por extenso. Que
sabedoria você pode extrair desses versos? Jay
Adams, conselheiro e autor, escreveu o seguinte
sobre esses versos: “Esses exemplos mostram a
completa imprevisibilidade de qualquer coisa (à
exceção do próprio processo de mudança) neste
mundo. Quando Salomão diz que todos os eventos
são apropriados para o momento em que
acontecem, está pensando sobre como Deus (e não
o homem) promove as mudanças (ou a necessidade
delas) no momento apropriado, em seu controle
providencial sobre o rumo da história”. 5
7. Resuma o que você aprendeu neste capítulo em
três ou quatro frases.

1 Adam Clarke, Clarke’s Commentary, arquivo digital, 1996,


Biblesoft. Todos os direitos reservados.
2 Peter Kreeft, Love Is Stronger Than Death (San Francisco:
Ignatius Press, 1992), xv.
3 João Calvino, Comentário dos Salmos, v. 3. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2009.
4 Edward T. Welch, “Exalting Pain? Ignoring Pain? What Do We
Do with Suffering?” The Journal of Biblical Counseling 12, no 3
(spring, 1994), 4.
5 Jay E. Adams, Life Under the Son (Stanley, NC: Timeless Texts,
1999), 30.
2 •A Mulher Virtuosa no
Entardecer da Vida
A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao
dia de amanhã, não tem
preocupações.
(Pv 31.25)
Lembro-me de que, quando eu tinha somente
quatro anos, minha família tirou férias no Parque
Nacional da Sequoia, que fica na Califórnia. Mesmo
depois de todos esses anos, lembro-me de uma
árvore que tinha um tronco tão grande que foi
aberto um túnel para que os carros pudessem passar.
Naquela floresta imaculada, crescem algumas das
mais antigas formas de vida da face da terra; aliás,
esse arvoredo de sequoias tem milhares de anos.
Pense nisso — enquanto nosso Senhor caminhava
pelos desertos da Palestina, essas árvores
persistentes já estavam vivas há centenas de anos —
e continuam a viver! A longevidade delas deve-se à
natureza com que foram criadas: elas são muito
fortes e resistentes a muitos parasitas e doenças que
afetam outras árvores. Elas crescem continuamente
e são majestosas, com seus galhos de centenas de
metros estendidos para os céus e suas raízes
profundas fincadas na terra, extraindo dela todo o
sustento necessário.
Nós, mulheres, temos um tempo de vida muito
menor do que as sequoias. Nós costumamos viver
somente 75 ou 80 anos nesta terra, mesmo quando
Deus nos abençoa com uma boa saúde. Por outro
lado, essas gigantescas árvores permanecem como
uma marca de resistência, adaptabilidade e nobreza
respeitável. Essas árvores maravilhosas não somente
nos instruem, como também nos surpreendem.
Majestosas mulheres de valor

Neste capítulo, vou passar algum tempo revisitando


Provérbios 31. Essa passagem da Escritura, que é
muito familiar à maioria das mulheres cristãs, me
encoraja e me leva ao arrependimento. Mas, em
primeiro lugar, vamos lê-la. Transcrevi a passagem
inteira para que você possa consultá-la enquanto
estiver lendo este capítulo. Considerando que é fácil
passar por cima de passagens com as quais você tem
familiaridade, quero encorajá-la a pausar para fazer
uma oração antes de começar a ler, pedindo ao
Senhor para abrir seus olhos a fim de enxergar, de
forma renovada, as verdades contidas nessa
passagem.
(10) Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito
excede o de finas joias.
(11) O coração do seu marido confia nela, e não haverá
falta de ganho.
(12) Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida.
(13) Busca lã e linho e de bom grado trabalha com as
mãos.
(14) É como o navio mercante: de longe traz o seu pão.
(15) É ainda noite, e já se levanta, e dá mantimento à sua
casa e a tarefa às suas servas.
(16) Examina uma propriedade e adquire-a; planta uma
vinha com as rendas do seu trabalho.
(17) Cinge os lombos de força e fortalece os braços.
(18) Ela percebe que o seu ganho é bom; a sua lâmpada
não se apaga de noite.
(19) Estende as mãos ao fuso, mãos que pegam na roca.
(20) Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao necessitado.
(21) No tocante à sua casa, não teme a neve, pois todos
andam vestidos de lã escarlate.
(22) Faz para si cobertas, veste-se de linho fino e de
púrpura.
(23) Seu marido é estimado entre os juízes, quando se
assenta com os anciãos da terra.
(24) Ela faz roupas de linho fino, e vende-as, e dá cintas
aos mercadores.
(25) A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto
ao dia de amanhã, não tem preocupações.
(26) Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na
sua língua.
(27) Atende ao bom andamento da sua casa e não come o
pão da preguiça.
(28) Levantam-se seus filhos e lhe chamam ditosa; seu
marido a louva, dizendo:
(29) Muitas mulheres procedem virtuosamente, mas tu a
todas sobrepujas.
(30) Enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher
que teme ao SENHOR, essa será louvada.
(31) Dai-lhe do fruto das suas mãos, e de público a
louvarão as suas obras.
(Pv 31.10-31)
Que impressão essa passagem da Escritura deixa
em você? Para muitas mulheres, inclusive para mim,
frases como “[ela] é como o navio mercante” e “é
ainda noite, e já se levanta, e dá mantimento à sua
casa” são bem intimidadoras. Como devemos nos
identificar com essa mulher? Seria ela a verdadeira
Supermulher? Quando leio essa passagem, sou
tentada a ignorá-la ou a explicá-la como alguma
espécie de anomalia da antiguidade ou como uma
analogia utópica. Eu gostaria de pensar que não se
trata de uma pessoa real; somente uma
personificação da sabedoria, ou talvez ela seja uma
ideia do tipo de mulher que um homem gostaria que
sua esposa fosse. E me pergunto: O que tenho a ver
com ela?
Em momentos assim, quando estou tentando
entender uma passagem especialmente difícil, que às
vezes me parece estranha e impraticável, lembro-me
de 2 Timóteo 3.16-17. Nessa passagem, Paulo está
incentivando Timóteo a se lembrar do benefício da
Palavra de Deus. Ele escreve: “Toda a Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção, para a educação na
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito
e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
À luz desse versículo e de outros semelhantes,1
preciso lembrar que, se essa passagem é a Palavra de
Deus, então é proveitosa e benéfica. Há algo nessa
passagem que preciso saber, e meu Pai celestial, o
qual prometeu preservar minha alma e é
completamente sábio, falou comigo através dela,
mesmo quando, inicialmente, não sou consigo
entendê-la. O Espírito Santo, por intermédio do
apóstolo Paulo, me diz que uma aplicação e uma
compreensão correta dessas palavras podem me
ensinar, reprovar, corrigir, treinar, equipar, sustentar
e me ajudar a crescer.
A feminilidade bíblica não é fraqueza2

É difícil não perceber quanto essa passagem


enfatiza a força, a competência, a atividade e a
inteligência. A mulher de valor não fica sentada em
casa comendo bombom, vendo televisão,
ociosamente esperando seu marido supervisionar ou
fazer tudo por ela. Não, ela está envolvida em seu
próprio negócio doméstico, é diligente em sua casa e
engajada em sua comunidade. Ela se preocupa com
as necessidades dos pobres, mas, ao mesmo tempo,
não deixa de suprir as necessidades de seu marido,
filhos e servos.
Essa passagem começa com a expressão “mulher
virtuosa” e termina, no verso 29, com a seguinte
declaração: “Muitas mulheres procedem
virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas”. Esses
dois versos são como aparadores de livro nessa
canção, e tudo o que é dito entre esses dois versos
serve para dar respaldo à justa avaliação que o autor
faz dessa mulher. Ela é virtuosa e procede
virtuosamente! Mas o que significa ser uma mulher
virtuosa? O que essa palavra nos diz sobre o padrão
de Deus para avaliar a vida das mulheres e, mais
especificamente, a nossa vida?
A palavra em hebraico traduzida como “virtuosa” e
“virtuosamente”, hayil, é primariamente um termo
militar que significa “força, eficiência, prosperidade
e exército”.3 Na versão que uso da Bíblia, o termo é
traduzido como “exército” 82 vezes, “força” e
“forte” dez vezes e, como “virtuoso” (ou um de seus
cognatos), 69 vezes no Antigo Testamento. É
evidente que a mãe do rei Lemuel, a autora original
desses provérbios, não estava usando a palavra hayil
com o sentido de “excelência” ou “de primeira
qualidade”, que é o sentido com que essa palavra
costuma ser traduzida. Uma esposa excelente era
uma mulher de virtudes; ela era corajosa, destemida,
invencível... em uma palavra, virtuosa! “Os
tradutores da Bíblia King James (que traduziram
esse adjetivo como “virtuous” [virtuosa]) foram [...]
sensíveis ao tom heroico do poema; no inglês da
época, uma ‘mulher virtuosa’ significava uma
‘mulher heroica’[...]”.4
Ao longo dessa passagem, uma mulher virtuosa é
retratada com imagens militares. Essas imagens
parecem contradizer nossa noção moderna de
feminilidade, o que talvez seja o motivo pelo qual
alguns autores tendem a alegorizar a passagem.5 Por
exemplo, não é comum ouvirmos que uma mulher
“cinge os lombos de força e fortalece os braços”.
Aliás, “cingir os lombos” é “uma imagem masculina,
que se refere a um ato de preparação para uma ação
heroica ou difícil, normalmente em uma guerra”.6
Em vez de descrever sua roupa como um luxuoso
brocado de ouro ou um leve chifon, seu traje é
descrito, no verso 25, como “força e dignidade”.7
Novamente, os termos usados são masculinos:
“‘força’ refere-se a uma condição em que a pessoa
pode exercer muita energia e suportar “uma grande
força” (como uma poderosa sequoia) e ‘majestade’
refere-se ao que é lindo, estimula o sentimento de
fascínio e atribui alto valor ou status”.8 Mas o
retrato militar não termina aí. Ela, “quanto ao dia de
amanhã, não tem preocupações (Pv 31.25) e age
como sentinela
ou espiã enquanto “atende ao bom andamento da
sua casa” (Pv 31.27).9
Letras reveladoras e pés dançantes

Recentemente, tive a oportunidade de assistir ao


musical Forty-Second Street [Rua Quarenta e Dois]
na
Broadway. Embora eu tenha gostado da animação
dos cantores e da dança eletrizante, sentime
incomodada com a letra de uma das músicas, “Keep
Young and Beautiful” [Continue Jovem e Bonita]. A
letra que diz: “Continue jovem e bonita se você quer
ser amada... Não deixe de fazer suas coisas com um
pouco de maquiagem, continue jovem e bonita se
você quer ser amada desmascara uma filosofia no
coração de
nossa sociedade: Se você quer amar, é melhor ficar
bonita!”.10
Minha resposta automática a essas letras foi, Como
é que é? Você responderia da mesma maneira?
Embora nossa cultura não costume ser tão explícita
em sua superficialidade, essa é a verdade que
sustenta e impele a indústria da moda e dos
cosméticos. “Não pareça velha! Não pareça simples!
Você não quer ser amada?” Esses são os mantras
que nossa civilização grita para nós, mas não é o que
a Bíblia nos ensina. Vamos falar mais sobre a beleza
e o envelhecimento no capítulo 10, razão pela qual
vou encerrar esse assunto com um pouco da
sabedoria do cântico da mulher virtuosa: “Enganosa
é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme
ao SENHOR, essa será louvada”. Esse provérbio está
em forte contraste com os retratos idealizados de
mulheres cuja beleza e cujo charme seduzem e
atraem, constituindo o padrão absoluto que
determina seu valor.
O que podemos aprender com essa mulher virtuosa
sobre como devemos viver? Quais são as
características de sua vida? Enquanto enfrentamos
esse período de entardecer de nossas vidas, em quais
qualidades devemos focar?
Ela é confiável. Não subestime a importância da
declaração, “O coração do seu marido confia nela”
(Pv 31:11). A Bíblia normalmente nos adverte para
não confiar nas pessoas, como em Salmos 118:8,
“Melhor é buscar refúgio no SENHOR do que confiar
no homem” (leia também Sl 62.8-9; Jr 17.5-6; Mq
7.5; Sl 118.9), mas aqui o rei Lemuel enaltece sua
confiabilidade e encoraja seu marido a buscar
fortemente o apoio dela.
Ela é benevolente. Considere como ela beneficia
outras pessoas:
Seu marido prospera por causa dela (Pv 31.11).
Ela o protege do mal e se esforça ativamente para
abençoá-lo (Pv 31.12).
Ela cuida das necessidades da casa (Pv 31.14-15).
Ela cuida dos pobres e necessitados (Pv 31.20).
Ela protege sua casa (Pv 31.21).
Suas palavras trazem luz, paz e alegria para as
pessoas (Pv 31.26).
Como uma sentinela em uma torre, ela vigia sua
casa, preparada para defender o que Deus lhe
confiou (Pv 31.27).
Ela é incrivelmente diligente! Ela trabalha em casa
e fora de casa. Em casa, ela “de bom grado trabalha
com as mãos” (Pv 31.13, 19, 22); “ela faz roupas de
linho fino, e vende-as” (Pv 31.24). Com seus lucros,
ela adquire propriedade e, depois, “planta uma vinha
com as rendas do seu trabalho” (Pv 31.16), em seus
esforços para investir dinheiro em empreendimentos
que beneficiem sua família. Sua atividade contrasta
fortemente com outras literaturas antigas, que
podem até não tratar as mulheres como objeto
sexual, mas que não conseguem enxergá-las como
mais do que sábias inertes. Ela não é ociosa, não fica
sentada refletindo sobre as verdades do universo.
Ela também não é uma sedutora, ou seja, alguém
que define seu valor com base em sua capacidade
sexual. Sua sabedoria se manifesta no
empreendimento produtivo!
Ela é uma mulher que teme ao Senhor. O objetivo
de toda essa diligência, cuidado e valor não é
conseguir mais bens materiais ou um estilo de vida
mais confortável para si mesma nem que pessoas
escrevam poesias ou canções para elogiá-la. O
objetivo de tudo o que ela faz é o deleite no Senhor.
Ela se esforça, ela se sacrifica, ela está focada em
um objetivo: glorificar a Deus. E sua família é
abençoada por causa disso.
Como ela nos reprova?
Olhando para aquela lista atemorizante, os
inúmeros erros que identifico em mim são muito
óbvios, então vou focar em um: O temor do Senhor.
O principal suporte na vida dessa mulher virtuosa é
“o temor do Senhor”, enquanto eu temo
praticamente qualquer outra coisa, menos o Senhor.
Eu temo o que vai acontecer quando meu marido se
aposentar e o que vai acontecer quando nossos
filhos e netos tiverem de enfrentar momentos de
incerteza. Eu temo a possibilidade de aparecer outra
ruga, mais meio quilo de celulite, mais fios de
cabelos grisalhos e a possibilidade de não ver mais
sentido nas coisas e de perder as forças.
Além de todos esses temores, eu tendo a
compartimentar minha vida de modo que minhas
responsabilidades cotidianas são distintas ou
aparentemente menos significativas do que minhas
obrigações mais “religiosas”. Então, a mulher
virtuosa me desafia em duas frentes: a enxergar toda
a minha vida como consagrada ao Senhor — desde
as tarefas mais corriqueiras, como fazer as compras,
até as mais difíceis, como escrever um livro — e a
crescer no meu temor do Senhor. Como reconheço
a facilidade com que falamos o “cristianês”, mas nos
esquecemos da realidade por trás de nossas
expressões mais comuns, vamos considerar por um
instante qual é o significado de temer ao Senhor.
O Dr. Edward T. Welch escreve que o temor do
Senhor é a “reverente submissão que conduz à
obediência e é equivalente a ‘culto’, ‘dependência’,
‘confiança’ e ‘esperança’”.11 Se o objetivo da minha
vida é dar corpo a uma intimidade e uma adoração
que resultam em submissão e obediência ao Rei do
meu coração, deixarei de ser não confiável, ociosa,
egocêntrica, egoísta, crítica, autocomplacente,
ansiosa e vaidosa. A força motriz da minha vida,
enquanto eu envelheço, não será tentar parecer mais
nova ou desenvolver minha beleza exterior. Em vez
disso, será vivenciar um amor que cativou meu
coração e fez com que minha vida valesse a pena.
Enquanto você enfrenta essas décadas difíceis da
vida, de que maneira a mulher virtuosa a reprova?
Reflita sobre as seguintes perguntas: Quais são seus
maiores temores? O que a deixa mais aterrorizada?
O que a faz virar a noite acordada de tanta
preocupação?
• É o futuro do seu marido?
• A sua saúde?
• O futuro dos seus filhos ou netos?
• São as suas finanças?
• É o seu valor como mulher, à medida que você
vai envelhecendo e sua beleza se transformando
daquele rebento verde para uma sequoia bela e
forte?
A correção da mulher virtuosa
A vida da mulher virtuosa não serve apenas como
um exemplo que me mostra onde eu errei; ela me
aponta também a maneira correta de viver. A mulher
virtuosa testifica que o propósito da minha vida não
é a satisfação ou o lucro pessoal, mas o serviço fiel
àqueles que o Senhor confiou aos meus cuidados. À
medida em que envelheço, quero me tornar
conhecida como uma mulher que é cada vez mais
confiável e mais comprometida com o trabalho na
vinha que Deus me deu. Em vez de olharmos para
esses anos como a época de nossas vidas em que
podemos começar a ser negligentes, a mulher
virtuosa ensina que devemos ser cada vez mais fiéis
e comprometidas. E agora, que meus filhos já
saíram de casa e eu tenho mais tempo livre, esses
anos me proporcionam a oportunidade perfeita para
eu ser mais parecida com ela.
Ao longo deste livro, veremos tudo o que pode ser
feito para mudar nossa perspectiva e crescer em
força e dignidade. Aprenderemos a ser gratas pelo
tempo livre que temos agora: tempo para trabalhar
mais do que antes pelo bem daqueles que nos
cercam e para crescer no temor do Senhor.
“Em resumo, a esposa virtuosa é uma
empreendedora e administradora ativa, forte,
caridosa, competente e habilidosa. [Ela] é uma
altruísta provedora da família e faz importantes
contribuições para a sociedade[...]. Ela habilita seu
sábio marido a governar a terra com equidade e
justiça.”12
Ela não tem idade definida, mas não é jovem
Ao refletirmos sobre nossa irmã virtuosa, há mais
uma coisa que é certa: ela não é jovem. Tal como a
sequoia gigante, ela não adquiriu sua experiência de
vida e reputação da noite para o dia. Seus galhos se
estendem até os átrios do céu e suas raízes são
profundas na rica terra que Deus criou. Essa é uma
mulher que já vivenciou as trincheiras da vida, uma
mulher que conheceu Deus, que creu, lutou,
trabalhou, chorou e se alegrou. Ela é o paradigma
bíblico da beleza e do valor piedoso — e você pode
ter certeza de que ela tem rugas que nasceram nas
vigílias da noite e de que diversos fios grisalhos
agraciam seu rosto e dão testemunho de seu valor.
Ela é a mulher “que vinha padecendo de uma
hemorragia” (Mt 9.20), que sabia que o Senhor era
a resposta ao seu problema e se esforçou para passar
pelos discípulos, que eram “míopes” e
superprotetores. Ela é Lídia, a empreendedora que
ouviu uma mensagem que revolucionou sua vida e a
vida de sua família. Ela é Débora, uma sequoia que
se levantou para lutar pela glória do Deus de Israel.
Ela é Raabe e a mulher do poço, cujas vidas
sinalizam a graça transformadora e o perdão. E ela é
Febe, a diaconisa e patrocinadora da igreja, que
contava com a confiança do apóstolo Paulo. Essas
mulheres eram fortes e virtuosas, como fortes
sequoias, e, embora estejam mortas, suas vidas
continuam a falar conosco. Então, vamos começar a
deixar de lado as maneiras falsas e fúteis de pensar
sobre o mundo e vamos pedir ao Senhor para nos
dar ânimo e coragem.
Quem faz com que as sequoias sejam tão fortes?
Deus, que é o Criador delas. Quem nos fará fortes?
Somente o Senhor. Quanto mais aprendemos a
conhecer, respeitar e honrar a Deus, a obedecer e
nos alegrar nos caminhos dele, e a confiar e
descansar nele, mais cresceremos em força e
resistência a todas as doenças que atacam nossas
irmãs, como o temor do futuro e a futilidade. Somos
sustentadas e adquirimos muita força quando
bebemos da abundante água celestial e absorvemos
os ricos nutrientes de seu caráter, ao mesmo tempo
que oferecemos sombra e consolo àqueles que se
refugiam sob nossos galhos fortes.
Tornando-se uma mulher sábia
1. Leia Provérbios 31.10-31. Escreva por extenso
qualquer trecho que seja especialmente significativo
para você. Por que esses trechos chamam sua
atenção? Esses trechos instruem, reprovam,
corrigem ou preparam você? De que maneira?
2. O que as magníficas sequoias ensinam sobre o
significado de ser uma mulher virtuosa? Você já
visitou uma floresta e refletiu sobre como sua vida é
parecida com aquelas belas árvores? O que você
aprendeu ao observar essa parte da criação? De que
maneira você se sentiu encorajada?
3. O que você aprendeu sobre a feminilidade
bíblica a partir desse estudo? Você já pensou sobre
si mesma como uma mulher virtuosa? Leia Salmos
18.31-39, passagem em que você pode encontrar o
mesmo tipo de comparação militar. Você crê que a
força dinâmica e o poder transformador do Espírito
Santo podem tornar esses versos verdadeiros para
você? Por que sim ou por que não?
4. Como as sequoias americanas, os cedros eram
altamente valorizados no antigo Oriente Próximo,
por sua força e sua resistência ao apodrecimento. O
que esses versos (muitos são sobre os cedros)
ensinam sobre crescimento, fecundidade e
estabilidade? Como essa força é cultivada?
Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos
ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se
assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer
está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
Ele é como árvore plantada junto à corrente de águas, que,
no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não
murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido (Sl 1.1-
3).
O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro
no Líbano. Plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos
átrios do nosso Deus. Na velhice darão ainda frutos, serão
cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o SENHOR é
reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça (Sl 92.12-
15).
Os justos hão de ver tudo isso, temerão e se rirão dele,
dizendo: Eis o homem que não fazia de Deus a sua
fortaleza; antes, confiava na abundância dos seus próprios
bens e na sua perversidade se fortalecia. Quanto a mim,
porém, sou como a oliveira verdejante, na Casa de Deus;
confio na misericórdia de Deus para todo o sempre (Sl
52.6-8).
Avigoram-se as árvores do SENHOR e os cedros do Líbano
que ele plantou, em que as aves fazem seus ninhos; quanto
à cegonha, a sua casa é nos ciprestes (Sl 104.16-17).
Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é
o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às
águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia
quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano
de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto (Jr
17.7-8).
5. Resuma o que você aprendeu neste capítulo em
três ou quatro frases.

1 Leia também Salmos 19.7-11; 119.97-104, 130; Miqueias 2.7; Atos


20.20, 27.
2 De fato, 1 Pedro 3:7 afirma que a esposa é a parte mais frágil.
“Parte mais frágil” provavelmente significa diversas coisas.
Primeiro, uma mulher costuma ser fisicamente mais fraca do que
um homem, em termos de força bruta, embora seus músculos
sejam mais resistentes. Ela tem menos massa muscular e menos
capacidade de ficar musculosa, exceto se tomar anabolizante ou
hormônios masculinos. Ela também está sujeita a ciclos menstruais
e mudanças hormonais, o que a deixa fisicamente mais fraca. Ela é
mais dependente de outras pessoas por causa de sua capacidade
dada por Deus de conceber, carregar e nutrir uma criança e,
portanto, é mais dependente de um homem para protegê-la e
sustentá-la, bem como aos filhos. Por último, ela está em uma
posição de subordinação no relacionamento conjugal, o que a
torna mais fraca e vulnerável. Creio que é a isso que Pedro se
refere, pois a passagem inteira, começando em 1 Pedro 2:18,
ensina como os subordinados devem relacionar-se com as
autoridades. Um marido precisa tratar sua esposa com dignidade e
compreensão porque está em uma posição de autoridade sobre ela
e, diante do Senhor, eles são iguais. Se ele não fizer isso, Pedro
adverte que suas orações serão “interrompidas”.
3 New American Standard Hebrew Aramaic-Greek Dictionaries,
Libronix Digital Library System.
4 Al Wolters, The Song of the Valiant Woman (Carlisle, United
Kingdom: Paternoster, 2001), 12. “A mulher do cântico é chamada
’eset hayil, um termo que já foi traduzido de muitas maneiras
distintas, mas que, nesse contexto, provavelmente deveria ser
entendido como o equivalente feminino de gibbor hayil, título
para ‘homens valorosos’, os quais, com frequência, são
mencionados na época de Davi. A pessoa celebrada nesse cântico é
uma ‘mulher valorosa’” (ibid., 9).
5 Alguns autores acreditam que essa não pode ser uma descrição
de mulher cristã porque “não sobra quase nada para o marido!”
(Thomas P. McCreesh, “Wisdom as Wife: Proverbs 31:10-31”, 27,
em Waltke, “The Role of the ‘Valiant Wife’”). Ao longo dos
séculos, essa mulher já foi alegorizada como a Torá (pelos
rabinos), como a Escritura e como a Igreja. Martinho Lutero, Filipe
Melâncton e João Calvino romperam com essa tradição. Waltke
argumenta contra a alegorizarão da mulher de Provérbios 31: “Por
causa da insistência protestante no sensus literalis, a mulher
valorosa tem sido tradicionalmente interpretada como uma esposa
real (Waltke, “The Role of the ‘Valiant Wife’”, 33).
6 Paul Humbert, “Entrendre la Main”, Vetus Testamentum 12, nº
162, 187, citado em Waltke, “The Role of the ‘Valiant Wife’”, 25.
Inicialmente, eu soube desse artigo quando li Carolyn Custis
James, When Life and Beliefs Collide (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 2001).
7 Ela está vestida de linho fino e púrpura, as vestes reais e
sacerdotais.
8 New American Standard Hebrew Aramaic-Greek Dictionaries.
9 Na versão ARC, o final do versículo 25 é traduzido por: “ri-se do
dia futuro”. Sachaq é a palavra hebraica para “rir” e, com
frequência, é usada no contexto de guerras para descrever o riso
dos vitoriosos em relação à derrota do inimigo. “Onde é dito que
ela ‘atende’ (v. 27), na ARC está traduzido por: “‘olha’ pelo
governo de sua casa”, o termo em hebraico é usado para se referir
a uma ‘missão de reconhecimento’, ao ato de ‘espiar’” (KBL
3:1044, citado em Waltke, “ e Role of the ‘Valiant Wife’”, 25).
10 “Keep Young and Beautiful”, do musical Forty-Second Street,
por Harry Warren e Al Dubin, Warner Brothers, 2001.
11 Edward T. Welch, Quando as pessoas são grandes e Deus é
pequeno (São Paulo, SP: Batista Regular, 2017).
12 Waltke, “The Role of the ‘Valiant Wife’”, 29.
3 • Somente Nós Dois
Não é bom que o homem esteja só.
(Gn 2.18)
Recentemente, durante uma reunião de casais em
nossa igreja, Phil e eu fomos lembrados de como a
vida era antes.
“Nunca saímos para um encontro romântico à
noite”, reclamou uma mulher. “É verdade”,
confessou seu marido. “Parece que simplesmente
não temos tempo.”
Diversos outros casais que estavam na reunião
fizeram sugestões sobre como reservar tempo em
uma agenda cheia para que marido e mulher estejam
sozinhos juntos. Eles sugeriram estratégias para se
comunicar com profundidade, desfrutar a
companhia mútua e relembrar as razões para alguém
estar casado.
Posteriormente, em uma caminhada, Phil e eu
estávamos conversando, e eu disse: “Um encontro
romântico à noite. Que ideia interessante, não
acha?”. Phil deu uma resposta esperta: “Nós nos
encontramos toda noite”. Então, nós rimos e
continuamos a caminhar, lembrando-nos de como a
vida era agitada antes de nossos filhos saírem de
casa, quando tínhamos de agendar um horário para
nos ver. Mas nosso filho mais novo, Joel, saiu de
casa há alguns anos e agora nós temos tempo para
passar a noite inteira conversando... se quisermos.
E agora?

Muitos podem pensar que nossa fase de vida seria


marcada por uma renovação no relacionamento.
Mas as estatísticas mostram que não é esse o caso.
Aliás, o maior índice de divórcios acontece entre
pessoas na faixa etária de 40 a 54 anos. As
estatísticas não só mostram que esses anos podem
ser muito difíceis, como também que as mulheres é
que estão iniciando e mantendo a vida como
solteiras. Quando o último filho sai de casa, cerca de
40% das pessoas que entram em contato com um
advogado para se divorciar são mulheres. Entre os
casais divorciados na faixa de 45 a 54 anos, as
mulheres, mais do que os homens, estão optando
por ficar solteiras. Você está surpresa com essas
estatísticas? Depois de tantos anos juntos, parece
não fazer sentido jogar a toalha, não é?
Esses dados confirmam o que muitas mulheres já
sabem: muitas esposas passaram a vida com foco na
criação dos filhos, sem dar muita atenção ao
relacionamento com o marido. Depois, quando, por
fim, os filhos se formam, parece que, para muitas, o
casamento repentinamente perde o sentido e a
importância.
Na condição de esposa, talvez você se encontre em
uma situação semelhante. Enquanto está sentada à
mesa de jantar, olhando para seu marido, é possível
que se pergunte: “E agora? Sobre o que podemos
tentar conversar?”. E mais revelador ainda é quando
nos perguntamos: “Por que devemos nos importar
com isso?”.
A gênese da companhia alegre
Imagine, por um instante, como deve ter sido
acordar no Jardim do Éden, como aconteceu com
Adão há tantos anos. Aos poucos, ele foi se
tornando consciente do ambiente à sua volta, e as
sensações extasiantes foram despertadas. Ele viu as
cores pela primeira vez, tons bastante intensos e
vívidos: tons de azul, verde, dourado, roxo, cores
como nunca vimos. Qual era a visão que ele tinha
daquela montanha? Qual distância ele seria capaz de
enxergar com olhos que nunca foram manchados
pelo pecado, com uma mente desperta para perceber
e entender tudo aquilo que via? Seu coração deve
ter-se enchido de grande alegria e fascínio.
De que maneira Adão teria descrito o que viu?
Quais palavras teriam descrito as cores do céu acima
dele: azul-turquesa ou cerúleo seriam suficientes? E
a grama, as árvores, o fruto? Como ele teria descrito
a água do rio que fluía do jardim? Talvez ele tivesse
descrito da mesma maneira que João descreveu sua
revelação do segundo jardim: “e me transportou, em
espírito, até a uma grande e elevada montanha e me
mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do
céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus.
O seu fulgor era semelhante a uma pedra
preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina [...].
Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante
como cristal, que sai do trono de Deus e do
Cordeiro” (Ap 21.10-11; 22.1).
Como é a aparência da água brilhante?
Recentemente, Phil e eu viajamos de férias para a
Gruta Azul, uma caverna na ilha de Capri, na costa
de Nápoles, Itália. Para entrar na caverna, tivemos
de tomar uma pequena embarcação e, em seguida,
nos abaixar enquanto o guia esperava uma onda que
nos levaria até a escuridão da caverna. Foi quando
tivemos a visão mais incrível de nossas vidas. A água
brilhava. Na escuridão da caverna, a luz do sol era
refletida no fundo do mar e brilhava na água,
fazendo reluzir o mais belo tom de turquesa. Mas o
rio de Adão era ainda mais glorioso. Era radiante,
brilhante como um cristal que refrata a cor gloriosa
no esplendor prismático. Em meio a toda essa glória,
poderíamos ter a expectativa de ouvir os cânticos de
Adão em louvor por seu maravilhoso lar... mas não
ouvimos. Aliás, não ouvimos nada dele por muito
tempo, depois que Deus acrescentou a coroa de sua
criação.
Um paraíso deficiente

Antes do primeiro casamento, quando a


experiência de Adão com a comunhão e a
comunicação restringia-se a passeios e conversas
com seu Criador nesse jardim de bondade imaculada
e perfeição transcendente, Deus fez uma avaliação
surpreendente: “Não é bom que o homem esteja só;
far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn
2.18).
Em nossas Bíblias em português, a avaliação
surpreendente que Deus faz da condição de Adão
pode facilmente passar despercebida. Mas, no
hebraico, é evidente: Deus não estava apenas
dizendo que a solidão de Adão o tornava
necessitado de algo para que sua condição fosse
melhor. O que Deus disse foi que, certamente, sua
solidão era ruim.1 A situação era sombria e precisava
ser remediada, mas Adão ainda não estava
consciente disso, então Deus fez com que todos os
animais se apresentassem diante dele. Depois de
analisar e dar o nome apropriado a cada animal,
Adão percebeu algo preocupante: ele não viu
ninguém que fosse como ele. Essa era a percepção
que Deus esperava despertar nele, então
imediatamente resolveu a situação. Deus fez cair um
sono pesado sobre Adão e criou Eva: alguém
parecido com Adão, mas, ao mesmo tempo,
diferente dele. E qual foi a resposta de Adão? Ele se
alegrou! “E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos
meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á
varoa, porquanto do varão foi tomada” (Gn 2.23).
O cântico de louvor de Adão revela o prazer de seu
coração. Depois de ver todos os animais que Deus
havia criado para ajudá-lo e alegrá-lo, Eva era a
única como ele. Ela era a única que correspondia a
ele. Ela era a única que se encaixava perfeitamente
com ele. E somente ela poderia ser a companheira e
a auxiliadora de que ele tanto precisava.
Uma perfeita auxiliadora

Mas de que tipo de auxílio ele precisava? Se Adão


simplesmente quisesse reorganizar o jardim ou podar
as árvores, podia contar com os animais, que não
tinham medo dele. Eva não foi dada a Adão
simplesmente para ajudá-lo em seus afazeres.
(Afinal, naquela época, não havia meias para lavar,
não é mesmo?) Adão precisava de algo de Eva que
nenhum animal poderia dar. Ele precisava de uma
companheira para sua alma, a fim de que ele
pudesse cumprir o mandato de Deus de dominar
sobre a terra e sujeitá-la. Ele precisava de alguém
que fosse muito semelhante a ele (e provavelmente
deve ter pensado que precisava de outro homem),
mas Deus o surpreendeu ao criar uma pessoa que
era parecida com ele de muitas formas, mas, ao
mesmo tempo, apresentava muitas diferenças. Ela se
comunicaria, pensaria e experimentaria emoções.
Ela seria capaz de amá-lo e de adorar seu Criador
junto com ele. Ela seria sua companheira, e Adão
encontraria nela o reflexo de sua imagem, mas
também encontraria características únicas. Ela era
linda nas semelhanças com ele, mas também era
linda nas diferenças.2
Faz sentido que as primeiras palavras que ouvimos
de Adão sejam palavras de louvor, mas não
surpreende que essas palavras de louvor não sejam
por causa do jardim, que era tão belo, ou pelos
diversos animais tão incríveis, que certamente eram
bons, fortes e bonitos? A primeira palavra de louvor
que ouvimos de Adão é por causa de sua esposa,
Eva. Ela, que foi criada para resolver a solidão de
Adão; ela, que foi criada para ser a imagem de seu
marido e de seu Criador. Eva é o foco do primeiro
registro de louvor de Adão! “Finalmente”, exclamou
ele, “alguém que é como eu... mas que também é
agradavelmente diferente!”. Adão estava exuberante
porque não estava mais sozinho! O único problema
que ele vinha enfrentando em meio a toda
generosidade e a toda beleza de Deus fora resolvido
por seu gracioso Deus. Agora ele tinha alguém com
quem conversar, alguém para compartilhar suas
ideias, seus sonhos e sua vida; alguém que o ajudaria
a ver o que ele era e qual era seu lugar na criação de
Deus. E, depois de ser formada a partir dele, ela
novamente se tornaria uma só carne com ele por
meio do casamento. Agora, estava tudo certo —
finalmente, o jardim estava muito bom.
Mas nós temos de reconhecer que a felicidade
deles não durou muito. Não vamos passar muito
tempo investigando os fatores que levaram à queda e
à transgressão deles (você pode ler sobre isso em
Gênesis 3), mas vamos analisar, por um instante, o
juízo de Deus contra o primeiro casal.
E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos
da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu
desejo será para o teu marido, e ele te governará. E a Adão
disse: [...] maldita é a terra por tua causa; em fadigas
obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela
produzirá também cardos e abrolhos [...] No suor do rosto
comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste
formado; porque tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3.16-19).
A transgressão de Adão e Eva fez com que o
trabalho se tornasse doloroso e difícil, fez com que
eles perdessem a unidade e gerou neles o desejo
novo e nocivo de independência. Eles, então,
perceberam que estavam nus — tiveram vergonha
um do outro — e se esconderam. O pecado destruiu
o que havia sido muito bom e só restaram
reminiscências.
Você já deve estar dizendo: “Obrigada pela aula de
história. Mas o que isso tem a ver comigo e com o
meu casamento nos dias de hoje?”. Você ficaria
surpresa se eu dissesse “Tudo”? Desde a Queda,
todo casal teve a necessidade de lutar contra a
tendência de cada um levar a própria vida, como
uma existência separada, caracterizada pela
dissimulação, pela independência e pela falta de
confiança. No lugar do companheirismo
harmonioso, focado na glória de Deus, que Adão e
Eva conheceram, parece que o que tivemos foi só
um encontro passageiro. A declaração de Deus para
Adão “Não é bom que o homem esteja só” ainda é
relevante para nós — mas agora temos mais
dificuldade para acreditar nisso.
Quanto tempo você esteve sozinha?

Embora as estatísticas pareçam dizer o contrário,


eu não acredito que nossos casamentos deterioram
somente porque entramos em nossa quarta década.
Acredito que é um problema que se vem
desenvolvendo há mais tempo, mas que apenas
agora finalmente percebemos quanto a casa se
tornou silenciosa. Entrar no entardecer da vida não é
o que faz com que o casamento, misteriosamente, se
torne algo de humor negro com um final pavoroso.
O filme está em cartaz há algum tempo. Mas nós
estávamos ocupadas demais com o treino de futebol,
com os trabalhos de ciências e com as festas de
aniversário para perceber que os fundamentos de
nossa vida juntos têm-se deteriorado.
Pense em como era a vida antes de termos filhos.
Para algumas de nós, o começo pode ter sido difícil;
para outras, contudo, foi adorável e tranquilo.
Reflita agora sobre as seguintes questões:
• O que eu amava sobre meu marido quando me
casei com ele?
• Quando foi a última vez que me alegrei por estar
com ele?
• Sobre o que conversávamos antes de nossos filhos
tornarem a comunicação significativa mais difícil?
• Quando foi a última vez que você agradeceu a
Deus de coração por seu marido?
• Quando você ficou na expectativa de passar
algum tempo sozinha com ele?
Cavernas de renúncia benigna
Adoro a passagem do evangelho de João sobre
Maria e a morte e a ressurreição de seu irmão,
Lázaro. Você se lembra da história da visita que
Jesus fez a esses três solteiros — Maria, Marta e
Lázaro. Jesus desafiou as convenções culturais da
época quando defendeu o desejo de Maria assentar-
se aos seus pés em vez de cumprir com suas
obrigações na cozinha. Seu coração era cheio de fé
e de intenso amor por seu mestre.
Mas, algum tempo depois de Jesus ter deixado
Betânia, Lázaro ficou doente. “Está enfermo aquele
a quem amas”, escreveu Maria ao seu Senhor. É
como se ela tivesse dito: “Por favor, venha ajudá-
lo”. Mas, depois, lemos a frase mais surpreendente:
“Quando, pois, soube que Lázaro estava doente,
ainda se demorou dois dias no lugar onde estava”
(Jo 11.6). Nesse ínterim, Lázaro morreu.
Você é capaz de imaginar a confusão, a decepção e
o desespero de Maria? Você consegue imaginar o
diálogo entre Maria e Marta, uma tentando
encorajar a outra enquanto a doença de Lázaro só
piorava?
“Não se preocupe”, talvez tenha dito Maria. “O
mestre virá.”
“Fui informada de que ele está somente a dois dias
de distância.”3 “Se ele se apressar, pode ajudar
Lázaro.”
Até que Lázaro morreu. “Onde está o Senhor?”,
certamente perguntavam-se eles. “Por que não
veio?” E, enquanto elas preparavam o corpo de
Lázaro, embrulhando-o em panos para que fosse
sepultado e ungindo-o com o precioso bálsamo,
encheram-se de desgosto e desespero. Eles eram
amigos de Jesus. Ele seria capaz de curá-lo. Ele seria
capaz de impedir que ele morresse. Mas a realidade
é que quatro dias já se haviam passado e findaram-
se todas as esperanças de seus corações, assim como
a vida deixara o corpo de Lázaro.
Se estiveras aqui
Embora a maioria de nós não tenha experimentado
o sofrimento de perder um amado irmão mais novo
por causa de uma enfermidade, todas nós
conhecemos o desespero de contemplar a morte dos
sonhos que tínhamos para nosso casamento. Talvez
você não tenha refletido ultimamente sobre
determinados aspectos de seu casamento —
expectativas e esperanças para seu relacionamento
com seu marido —, então eu quero ajudá-la a
examinar um pouco de seu coração, pedindo que
você reflita seriamente sobre essas questões.
• Qual parte de seu casamento é como o túmulo de
Lázaro?
• Quais são os sonhos que você já sepultou, selando
o sepulcro com uma pedra, para que seus olhos
desiludidos não tivessem de contemplar a vergonha
do fracasso?
• Quais são os aspectos do casamento pelos quais
você não ora mais, sobre os quais não fala mais e
para os quais não tem mais esperança?
• Quais esperanças são dolorosas demais para
sequer pensar em ressuscitá-las?
• Você enxerga a si mesma como alguém que foi
criada para ser a auxiliadora de seu marido? Para
tentar se defender, você se tornou independente e
autossuficiente?
• Quais assuntos tornaram-se anátemas para você
porque agora finalmente conseguiu desenvolver uma
dura camada de proteção sobre suas decepções e
seria muito doloroso removê-la?
• Qual parte de seu coração é como o túmulo de
Lázaro? Escuro, sem vida e com o mau cheiro do
remorso e do “se ao menos”?
Talvez você não esteja prestes a se divorciar, talvez
você esteja, mas, se reconhecer que existem
segmentos de seu coração nos quais você cedeu para
o que minha amiga Carol Cornish4 chama de
“renúncia benigna”, então você sabe do que estou
falando.
Por favor, não me interprete mal. Não estou
dizendo que você tenha desistido do Senhor. Tenho
certeza de que Marta e Maria sabiam que Jesus era
capaz de ajudar se quisesse. As duas criam na
ressurreição. O problema não era a ortodoxia da fé
delas. O problema era que elas não tinham uma fé
suficientemente profunda para alcançar as
circunstâncias desoladoras que estavam vivenciando
naquele momento. A fé não alcançou as trevas da
decepção e, embora estivessem de luto, elas
encontraram um mecanismo de autodefesa para
conseguir levar a vida adiante. Não estou dizendo
que é errado esforçar-se para lidar com a decepção.
Todos nós fazemos isso. O que não podemos fazer é
tentar mascarar nossas decepções com a
dissimulação, colocando no rosto um sorriso
corajoso, mas insincero, enquanto, mergulhadas na
incredulidade, dizemos entre os dentes: “Está tudo
bem... eu estou bem, sim”.
Agora é hora de relembrar aquelas fendas escuras
de incredulidade e desespero e de convidar Cristo
para agir com o poder da ressurreição. Talvez você
precise começar a orar por seu marido como nunca
orou antes. Talvez agora seja a hora de você dizer
que, independentemente de ele mudar ou não, você
vai encontrar fé para dizer mais do que: “Está tudo
bem... estou bem, sim”. Você precisa ter a fé que
diz: “Essas coisas são um bem na minha vida. Meu
Pai celestial está usando essa circunstância para sua
glória e para o meu bem. Então, embora eu quisesse
que meu marido mudasse em algumas áreas, posso
me alegrar até mesmo quando ele não muda. O que
antes era um cadáver apodrecido de incredulidade
tornou-se uma fonte de vida, fé e alegria para mim,
pois eu consigo enxergar a mão do meu Pai”.
A presença de Jesus transforma morte em vida,
trevas em luz e tragédia em bênção! Jesus faz com
que aquilo que antes parecia ser maldição torne-se
fonte de alegria. Talvez seu marido não seja hoje (ou
talvez nunca tenha sido) o que você esperava que ele
fosse. Mesmo assim, Deus prometeu que lhe dará
tudo aquilo de que você precisa para a vida e
piedade no conhecimento dele. A verdade difícil,
mas reconfortante, é que o marido que você recebeu
de Deus é aquele de quem você precisa para
aprender sobre o caráter de Deus. Ele escolheu seu
marido para que Deus possa moldá-la na auxiliadora
que ele quer que você seja. Com que objetivo? Você
se lembra do que escrevi no primeiro capítulo? Ele
lhe deu o marido que você tem para a glória de
Deus e para seu bem maior. Então, em todas as
situações em que você sente que está sofrendo ou
que se sente decepcionada, pode se alegrar com o
fato de Deus haver preparado esse problema com
propósitos que se estendem para além de sua
felicidade imediata — rumo à eternidade.
Trazendo a luz de Jesus para sua caverna de
desesperança

Quero encorajá-la e dizer que, pela graça de Deus,


você pode mudar, mesmo que, como eu, esteja
casada há quase trinta anos. Você pode aprender a
se alegrar em meio às decepções, enxergando-as
como presentes de um Pai de amor, e a luz dele
pode iluminar suas atuais circunstâncias. Aqui estão
alguns passos que você pode começar a dar hoje:
• Ore por si mesma, por sua incredulidade, por suas
cavernas de decepções e remorsos. Em vez de
deixá-las de lado ou de ignorá-las, volte a orar por
essas coisas, pedindo a Deus para encher seu
coração de alegria.
• Confesse sua falta de fé e seus “se ao menos” ao
Senhor. Fale abertamente com o Senhor sobre as
preocupações que você tem. Ele não repreendeu a
irmã de Lázaro por dizer, “se estiveras aqui”. Você
pode se aproximar dele agora e pedir para ele recriar
seus desejos, a fim de que se conformem mais aos
desejos dele. Agora é a hora de confessar qualquer
incredulidade que, por causa de sua tribulação, você
possa ter tido em relação à capacidade dele de
realizar mudanças em você ou em seu marido ou de
fazer com que o reino dele floresça.
• Tente identificar o uso de qualquer mecanismo
egocêntrico de manipulação, como, por exemplo,
agir com frieza, ficar em silêncio, fechar o
semblante ou tentar mostrar-se independente e
autossuficiente. Comece a se despir dessas coisas
hoje. Revista-se de louvor e adoração
cristocêntricas.
• Ore por seu marido e agradeça a Deus por ele.
Você pode orar para que ele cresça em santidade e
para que ele seja como Cristo, mas não pare por aí.
Ore também para que Deus faça você apreciar seu
marido por quem ele é e enxergar o bem que ele faz
em sua vida.
• Não fique resmungando sobre as fraquezas de seu
marido, mas também não as ignore. Procure falar
com respeito e humildade sobre a vida dele
enquanto você espera a transformação na vida de
ambos, para a glória de Deus.
• Tome cuidado com o que você diz. Não calunie
nem faça fofoca de seu marido. Peça ao Senhor
para despertar você para o problema da
murmuração e das palavras infiéis.
• Procure reconstruir pontes onde elas foram
destruídas. O que você poderia fazer para realmente
fazê-lo sentir-se amado? Por que você não faz a
comida preferida dele, desliga a televisão, acende
algumas velas e volta a falar com ele sobre quanto
você está feliz porque agora vocês finalmente têm
um tempo para ficar a sós? Você também pode
começar a se interessar pelas áreas de interesse dele.
Por exemplo, se ele joga golfe, tente aprender
alguma coisa sobre o jogo ou peça para acompanhá-
lo e para andar no carrinho com ele (se você é como
eu, não consegue acertar a bola nem que sua vida
dependa disso!). Quais são as especialidades dele? O
que o deixa motivado?
• Busque oportunidades para passar algum tempo
juntos e, em seguida, use essas oportunidades para
servir. Até o marido mais difícil não será capaz de
resistir se você estiver disposta a seguir os passos do
mestre e pegar a bacia e a toalha. Você está disposta
a lavar os pés dele?
• Encontre uma amiga que possa ser sua
confidente. Tenho certeza de que você
provavelmente tem uma ou duas amigas que podem
ajudá-la — para fazer as perguntas difíceis, para
orar por você e para incentivá-la a revitalizar seu
casamento.
Por causa dele
Em 1 Coríntios 11.8-9, Paulo faz uma declaração
surpreendente: “Porque o homem não foi feito da
mulher, e sim a mulher, do homem. Porque também
o homem não foi criado por causa da mulher, e sim
a mulher, por causa do homem”. Aqui está a
verdade sobre a razão para você ter sido criada e
colocada no relacionamento em que está: por causa
de seu marido. Foi para ele que o Senhor olhou e
determinou: “Não é bom que ele esteja só”, então
ele criou a mulher para assumir essa posição. Em
última análise, tudo que fazemos deve girar em
torno do Senhor, para a glória e para o reino dele,
mas o lugar para o qual somos chamadas a cumprir
isso é nessa relação específica com esse homem
específico. Enquanto você reflete sobre essas
verdades, quero encorajá-la a refletir com
profundidade sobre como você pode responder à
solidão dele e crescer em sabedoria como uma
auxiliadora idônea. Seu Pai sabe do que você precisa
e pode lhe conceder graça para que você encontre
muita alegria nessa fase tempestuosa da vida.
Tornando-se uma mulher sábia
1. Leia Gênesis 2.15-25. O que você aprendeu
sobre o Jardim do Éden, sobre o lugar de Adão no
jardim e sobre a criação de Eva?
2. O que as verdades que você identificou têm a
ver com a maneira como você deve viver nos dias de
hoje?
3. Seu marido diria que é uma pessoa sozinha? O
que quero dizer não é se ele é sozinho por estar
preso em uma ilha deserta. Ele diria que, mesmo
estando em uma casa cheia de pessoas, sente-se
sozinho em sua vocação, em sua vida espiritual, em
seu coração? O que você pode fazer hoje para
começar a ser uma companheira verdadeira para
ele? Por que não começar perguntando se ele se
sente sozinho? Se ele é do tipo que se esquiva de
conversas intensas, diga a ele que você quer ser uma
companheira verdadeira e que está procurando
maneiras de fazer isso. Você poderia fazer as
seguintes perguntas:
• Você se sente sozinho nas batalhas que enfrenta
diariamente? Quais são essas batalhas? Como posso
ajudar? Como devo orar?
• Você tem a sensação de que estou aqui por você
— incentivando-o e encorajando-o? (Diga que você
quer uma resposta sincera, não a resposta que ele
acha que vai deixar você feliz — e, em seguida,
ouça as respostas dele, sem responder na defensiva.)
• Existe alguma coisa que você gostaria que eu
soubesse para que eu possa ajudar? Há algo que eu
possa fazer e que ajude você? Em que áreas preciso
crescer?
• Posso acompanhar você quando você sai para
jogar (golfe, softbol, cartas, futebol... qualquer
coisa), só para passarmos um pouco mais de tempo
juntos?
4. Quais são as cavernas da renúncia benigna que
você já conseguiu identificar? De que maneira você
está conseguindo responder a essa verdade? Leia
João 11. O que essa narrativa diz sobre o poder da
ressurreição de Cristo? Como você acha que seria se
ele entrasse em sua caverna do desespero? Você
acredita que sua caverna do desespero pode tornar-
se uma adorável gruta azul?
5. De que maneira uma decepção já cooperou para
seu bem? Se você não consegue enxergar isso agora,
ore para que o Senhor a ajude a enxergar o bem que
ele já realizou em sua vida e na vida de outras
pessoas desse modo.
6. Como seria, na prática, “alegrar-se na
tribulação”? Escreva uma oração expressando a
humilde resignação e dependência de Deus.
7. Resuma o que você aprendeu neste capítulo em
três ou quatro frases.

1 Leia minha discussão sobre esse assunto em Helper by Design


(Chicago: Moody Press, 2003), p. 34. No hebraico, existem duas
maneiras de dizer que algo não é bom. A primeira é en tob, ou
seja, quando alguma coisa é desprovida de algo bom, como, por
exemplo, café sem açúcar. A outra é dizer que algo é certamente
ruim, como, por exemplo, café queimado. Aqui, a palavra em
hebraico é lo tob, ou seja, a condição de Adão sem uma
auxiliadora era certamente ruim.
2 O fato de que Deus ama as distinções não é visto somente nas
diferenças entre homem e mulher, mas também naquelas que ele
mantém entre si mesmo e a criação, e até nas funções distintas das
pessoas da Trindade.
3 “Quando Lázaro ficou doente e Jesus recebeu a notícia que as
irmãs mandaram dar, Jesus estava na Perea, além do Jordão, a
caminho de Jerusalém. Para chegar a Betânia, ele ainda levaria uns
dois dias. Mas ele esperou dois dias para que desse tempo de
Lázaro morrer, o que ele previu que aconteceria, para que ele
pudesse ressuscitá-lo.” (Fausset’s Bible Dictionary, banco de
dados eletrônico ©1998 por Biblesoft.)
4 Leia Elyse Fitzpatrick e Carol Cornish, Mulheres Ajudando
Mulheres (Rio de Janeiro: CPAD, 2001).
4 • Não se Esqueça de Escrever
Vigie o SENHOR entre mim e ti e nos julgue quando
estivermos separados um do outro.
(Gn 31.49)
Scrapbooking1 se tornou uma febre nos últimos
tempos, não é? Como sempre falo para grupos de
mulheres e sempre estou em retiros femininos,
conheço todos os tipos de artesanato que as
mulheres adoram. E, pelo menos nos últimos anos,
scrapbooking tem sido o tipo mais popular de
artesanato.
Como é seu scrapbook? Eu não tenho um. Quero
dizer, eu tenho caixas de fotos que, há cerca de dois
anos, foram organizadas e categorizadas. “Onde está
aquela caixa com as fotos do pôr do sol? E a coleção
de fotos de aniversário?”, perguntávamos meu filho
Joel e eu enquanto examinávamos envelopes com
fotos de anos atrás.
Para nosso aniversário de casamento de 25 anos,
nossos filhos fizeram um lindo scrapbook para mim
e Phil. Que presente precioso! Cada um deles foi
responsável por determinadas seções e pela
decoração das páginas. As fotos são maravilhosas,
porém o que mais nos cativou foi a personalidade e
o bom humor que cada página transmite.
Tenho apreço por nosso livro de aniversário de
casamento porque ele me traz à memória momentos
que estou colecionando há três décadas. De diversas
maneiras, essas lembranças definiram a minha vida,
enriqueceram a minha alma e registraram a narrativa
da minha existência ao longo de dias que se
fundiram para formar retratos harmoniosos, os quais
foram pintados com lágrimas, sorrisos e alegria.
Do que me lembro? Quais fotos foram
indelevelmente gravadas em meu coração? Quando
fecho os olhos e me lembro dos dias que agora estão
perdendo o brilho e a cor, ainda posso ver fotos
variadas e vívidas de uma vida como Mãe.
Vejo que os dias difíceis eram cheios de pequenos
sorrisos, esforços para conseguir caminhar e falar.
Vejo o jogo de beisebol e as lanchonetes. Lembro-
me de quando obriguei Jessica, nossa filha, a fazer
um teste para a equipe de softbol (algo que tínhamos
de fazer todo ano) porque ela sentia muito medo de
não ser aprovada.
Lembro-me do agradável cheiro do xampu de bebê
que vinha do cabelo lavado. Posso reviver as
gargalhadas e os gritos de alegria enquanto fazíamos
barulhos engraçados assoprando na barriga das
crianças. “Para, para!”, gritavam eles. “Ah, você
quer que eu pare? Tudo bem”, dizíamos. E, assim
que eles tentavam se levantar, nós os puxávamos e
eles começavam a dar gargalhadas novamente.
Lembro-me das “brigas de geleca”, que manchavam
nossas paredes em nossa guerra pelo domínio
familiar, e lembro-me do pique-bandeira no
desfiladeiro perto da nossa casa.
Nós nos divertíamos muito em casa, mas nem tudo
era diversão. Lembro-me de quanto eles choravam e
de quanto eu ficava ofendida quando eles não
recebiam o cobiçado convite para “aquela festa”.
Lembro-me das derrotas naquelas temporadas que
pareciam intermináveis e das listas de palavras que
eles esqueciam no momento da prova. Ainda posso
ouvir as portas batendo e como eu tinha de me
controlar quando abria a porta e mandava meu filho
fechá-la novamente, mas com educação. Lembro-
me de dizer: “Peça perdão ao seu irmão e dê um
abraço nele. Diga a ele que você o ama”. Também
me lembro de quando ouvi: “Você sempre implica
comigo!”, “Você nunca vê o que ele/ela faz de
errado!”, “Esse lugar parece um presídio! Por que
vocês não podem ser como os pais das outras
crianças?” ou “Mãe, por que você tem que estragar
todos os filmes? Sabia que nem todo filme tem um
‘significado mais profundo’? Às vezes é só
entretenimento!”. Às vezes, eu esperava Phil voltar
do trabalho para dizer aquelas temíveis palavras:
“Você precisa disciplinar aquele garoto de novo”.
Lembro-me de ler As Crônicas de Nárnia e de ir
ao cinema na sessão da meia-noite para assistir ao
Império Contra-Ataca. Lembro-me de discussões
sobre as razões para considerar o filme Procura-se
Susan Desesperadamente e delineadores pretos
como inapropriados; por que brincos (nos meninos)
e tatuagens e piercings (em qualquer um) não eram
a melhor decisão. Lembro-me de cabelos longos que
precisavam ser lavados (para onde foi aquele xampu
de bebê?), das bolhas de queimaduras de sol, dos
dentes moles, das descidas no rio, da catapora, da
hera venenosa e dos baldes ao lado da cama porque
era temporada de gripe.
Lembro-me de quando tentei explicar por que é
importante saber o que está escrito na Declaração
dos Direitos dos Estados Unidos e de quando tentei
esconder as lágrimas enquanto escutava Joel recitar
o Discurso de Gettysburg.
Também tenho lembranças mais recentes. Lembro-
me de quando eles se formaram no ensino médio e
na faculdade, da cerimônia de graduação de James
no curso de formação do exército e também de
quando dois de nossos três filhos se casaram.
Essas são as fotos no meu scrapbook. Elas são
vivas. Elas são a minha alegria. Elas são o legado da
minha vida e da vida do Phil nos últimos trinta anos
e especialmente da misericordiosa graça de Deus. O
que seu álbum diz? Quais preciosas lembranças
enchem as páginas de sua mente? Qual é o valor
delas para você?
Beco sem saída

Na reunião de orientação aos pais da faculdade de


nosso filho, Joel, eu me sentei com uma velha
amiga, Annie, e seu marido, Finn. A filha deles,
Hannah, estava entrando para a mesma faculdade
que o nosso filho e nós conversamos sobre nossas
lembranças como pais.
“Eu não entendo”, disse Annie. “Por que eles têm
que crescer e ir embora?”
Admito que realmente é difícil explicar. Parece
que, quanto mais levamos a sério os mandamentos
de Deus para criar nossos filhos na disciplina e na
admoestação, mais nos envolvemos com suas vidas
e, consequentemente, torna-se mais doloroso
quando eles vão embora. Por que eles tiveram de
crescer e ir embora? Por que a vida não poderia
continuar sempre da mesma maneira? Nós estamos
presos em uma situação difícil. Parece haver
somente duas alternativas: ignorar os mandamentos
de Deus de nos dedicar aos nossos filhos e criá-los
para a glória dele, construindo nossa vida à parte
deles, ou nos dedicar a eles, de coração e alma, e
depois ficarmos sozinhos. Que decisão!
A vida é uma série de perdas
Há algum tempo, ouvi um professor de um
seminário local fazer uma declaração
impressionante. Ele disse: “A vida é uma série de
perdas”.2 Embora aquele culto tenha sumido da
minha memória, essa afirmação ficou na minha
cabeça até hoje. Perder significa despir-se e
desapossar-se; 3 é um processo de separação e
desapego.
Quando nosso primeiro neto, Wesley, começou a
engatinhar, não demorou até ele sair pela porta
corrediça de vidro para explorar o pátio dos fundos.
“Olhe, Jessica”, disse eu. “Ele já está saindo de
casa”. “Mãe!”, gritou ela. “Não diga isso!” “É
importante que você veja isso, grave em seu coração
e valorize esses momentos”, avisei. “Eles vão acabar
mais rápido do que você imagina.”
Desde o momento em que nossos filhos nascem, já
estão caminhando em direção à porta. E pare para
pensar: é o que nós os encorajamos a fazer! Como
seria terrível se tentássemos mantê-los usando
fraldas, impedindo-os de explorar, crescer e mudar.
Mas, sempre que os encorajamos a avançar, estamos
apressando aquele dia em que teremos de nos despir
de nosso uniforme de mãe e colocar outra roupa.
Parece que nossa vida com os filhos nunca vai
mudar. E, às vezes, guerreamos contra essa
mudança quando vemos que ela está em curso,
tentando controlar e proteger nossos queridos
filhotes além do período designado pelo Senhor.
Quando ele passou a ter asas tão fortes... eu
realmente preciso deixá-lo voar?
Você já sentiu falta deles? Você já se despiu?
Lembre-se do que descobrimos no primeiro
capítulo: “Tudo tem o seu tempo determinado”.
Como tem sido esse momento da sua vida? Mudar
de roupa pode ser difícil, especialmente quando
aquela calça jeans velha cabia tão bem e quando não
temos certeza do que vamos colocar em seu lugar.
Meu marido não foi o primeiro pai que teve de se
despedir de um filho. Nós aprendemos sobre amor e
sobre perda quando olhamos para nosso Pai
celestial. Ele enviou seu único Filho unigênito de seu
lar glorioso para nascer como infante em uma
manjedoura imunda. Ele enviou seu Filho para
aqueles que “não o receberam” (Jo 1.11), embora
fossem criaturas dele. Ele é o Pai que se voltou
contra seu Filho enquanto o Filho clamava,
angustiado: “Pai, por que me desamparaste?”. E ele
é o Pai que derramou toda a sua ira sobre seu Filho
amado por amor aos seus eleitos. Ele sabe o que
significa abrir mão. Enquanto você medita sobre os
versículos seguintes, considere as características de
Deus que você está aprendendo a imitar:
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu
Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por
todos nós o entregou, porventura, não nos dará
graciosamente com ele todas as coisas? (Rm 8.32).
Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver
Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para
vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em
que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos
amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos
pecados (1Jo 4.9-10).
Além de Deus ter, voluntariamente, entregue seu
Filho por amor a nós, o Filho também abriu mão de
seu direito de exigir igualdade com o Pai:
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em
figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até à morte e morte de cruz (Fp 2.5-8).
Seu Pai celestial e seu maravilhoso Salvador sabem
o que significa perder. Eles sabem o que significa
amar e abrir mão de uma relação próxima por amor
a outro. Eles fizeram esse sacrifício antes de você, e
você pode contar com eles para receber a graça e a
força necessárias quando seu coração doer. Você
pode ter certeza de que eles estão moldando seu
coração para que seja cada vez mais parecido com o
deles.
Tesouros efêmeros

Considere também que, embora seja difícil


deixarmos nossos filhos, eles não pertencem
primariamente a nós. Somente o Pai e o Filho
devem seu relacionamento e amor filial
exclusivamente a si mesmos. Todo o nosso amor por
nossos filhos é derivado. Não somos nós quem mais
ama nossos filhos e não podemos nem mesmo dizer
que eles pertencem a nós. Eles pertencem a Deus e
são presentes dele, como o salmista sabia: “Herança
do SENHOR são os filhos” (Sl 127:3). Cada momento
em que eles respiram, desde o primeiro choro até o
fim de seus dias — sua vida inteira é um presente da
mão de Deus.
Como pais, somos apenas os privilegiados
administradores ou supervisores das preciosas vidas
que Deus nos confiou. Esquecemos que ele tem
planos para nossos filhos que foram decretados na
eternidade passada e pensamos que precisamos fazer
tudo acontecer exatamente da maneira como
queremos. Então, incomodamo-nos, tentamos
persuadir e nos preocupamos. Ficamos perplexos
quando eles seguem o próprio caminho e
esquecemos que estamos simplesmente operando
como seus tutores: talvez mais amorosos,
comprometidos ou engajados do que um tutor de
aula particular, mas não deixamos de ser tutores.
Nós não lhes demos a vida; nós não os trouxemos
ao mundo; eles não foram criados para nossa glória.
A verdade é que somos apenas sombras ou
metáforas para a realidade do Pai e do Filho, que
criam todas as demais coisas à imagem deles e
fazem com que todas as coisas venham a convergir
para a glória deles pelo Espírito Santo.
Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o
primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter
a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda
a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua
cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as
coisas, quer sobre a terra, quer nos céus (Cl 1.18-20).
Não fomos criados para sujeitar todas as coisas a
nós mesmos e não recebemos filhos para glorificar a
nós mesmos. Eles pertencem a Deus, e o fato de
agora serem adultos independentes serve para nos
lembrar dessa realidade.
Remorso e segunda chance
Existem determinadas palavras que parecem trazer
tristeza quando são proferidas. Remorso é uma
delas. Remorso é um “sentimento de tristeza,
arrependimento [ou] decepção por causa de uma
ação ou de uma perda”.4 Um dos aspectos que mais
incomodam sobre nosso ninho vazio é que se
acabaram todas as nossas oportunidades de fazer
melhor de uma próxima vez, pelo menos em relação
a essas crianças, e só o que resta são lembranças
manchadas com lágrimas de “Se ao menos eu
tivesse...” e o desejo de fazer a coisa certa. Nossa
posição padrão, “Amanhã vou fazer melhor”, deixa
de ser relevante depois que eles fazem as malas e
nos despedimos na porta de casa. “Não vou mais
perder a paciência”, “Vou orar com ele sobre seus
amigos”, “Vou passar o tempo simplesmente
conversando sobre o que ele conversar”, “Vou viver
como uma amorosa, corajosa e transparente
testemunha de Cristo”. A maioria dessas declarações
sobre um esperançoso novo amanhã são coisas do
passado.
Muitas mulheres têm dificuldade com o remorso e
com o sentimento de culpa, que é o subproduto do
remorso. Por que não passei mais tempo com ele?
Por que não amei mais? Não posso ter uma nova
oportunidade de fazer a coisa certa? Essas são
algumas das questões que atormentam muitas
mulheres, e essa é uma daquelas situações em que o
perdão de Cristo e a confiança em seu soberano
governo são as maiores fontes de consolação.
Vamos pensar um pouco sobre o perdão que é
nosso em Cristo e as verdades consoladoras da
soberania de Deus. Qual é a sua passagem favorita
sobre perdão? Para a maioria dos cristãos, é 1 João
1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de
toda injustiça”. Quem vai nos perdoar e nos limpar?
1 João 1.7 responde: “O sangue de Jesus, seu Filho,
nos purifica de todo pecado”. Se você simplesmente
passou por cima desses versículos, por favor volte e
leia-os de novo. Medite neles; o que eles dizem a
você? Isto é o que eles diziam ao príncipe dos
pregadores, Charles Spurgeon:
Se olhares para cima, para o lugar de onde jorra o sangue
das mãos, dos pés e do lado de Jesus; se deixares o teu
espírito quebrantado em suas mãos, há perdão agora
mesmo para os teus pecados, vermelhos como o carmesim
[...] Dize-lhe, “Pai, eu pequei”. Enterra tua cabeça em seus
braços; receba seu beijo de perdão, pois Deus tem prazer
em perdoar e apagar tua transgressão. Agora, que ele feriu
Cristo, ele não ferirá qualquer pecado que venha até ele
através de Cristo. A ira de Deus se foi e agora ele pode
dizer, “A fúria não está sobre mim”. Aqui, então, está uma
grande maravilha... [aqui está] a preciosa verdade, que é:
“o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado” [...].
Agora nós vemos que, independentemente de quais foram
os teus pecados, todos estão incluídos naquelas pequenas
palavras, “todo pecado”; portanto, consola-te, pobre
pecador, se crês em Jesus Cristo, és nascido de Deus e o
sangue dele te limpa de todo pecado.5
Como esses pensamentos são preciosos para mim!
Enquanto eu penso em todos os “se ao menos”, em
todas as oportunidades desperdiçadas, em todos os
momentos nos quais falei demais, não quis escutar
ou me escondi atrás de uma pecaminosa
autoproteção, pensando que uma casa limpa era
mais importante do que um coração humilde, eu só
posso clamar: “Senhor, tenha misericórdia de mim,
pecadora!”. Graças a Deus pelo inefável presente
que ele nos deu em Cristo!
Você consegue pensar em algo pelo qual precisa
pedir a Deus que o perdoe? Aqui está uma lista
parcial de pecados que encontrei na minha vida e na
vida de outras mães. Veja se você se identifica com
ela. Se a resposta for sim, não desista em meio à
autocondenação — em vez disso, corra para Jesus
Cristo, o Consolador de pobres pecadoras como
nós!
Excesso de exigências: exigir que meus filhos
façam o que eu quiser que eles façam, na hora que
eu quero, da maneira como eu quero, sem levar em
conta os pontos fortes, os pontos fracos ou os
talentos que eles têm.
Orgulho: crer e agir como se seus sucessos e
fracassos dependessem exclusivamente da minha
capacidade como pai ou como mãe, sem levar em
conta seus talentos, suas escolhas ou o gracioso
governo soberano de Deus.
O desejo de agradar a homens: querer que meus
filhos se saiam bem na frente de outras pessoas para
que eles aprovem minhas habilidades maternas em
vez de encorajar os filhos a focar seus pensamentos
e sua obediência em Cristo, regozijando-se em sua
glória.
Ressentimento: crer e agir como se eu tivesse de
ser recompensada por meus filhos, por causa de
meus sacrifícios, em vez de enxergar meu serviço
como uma oportunidade dada por Deus para me
tornar mais parecida com Cristo e para dar
testemunho de sua bondade.
Falta de perdão: guardar mágoas ou ficar sempre
relembrando as falhas e os pecados dos meus filhos,
mesmo aqueles dos quais eles já se arrependeram e
buscaram melhorar, esquecendo-me de como Deus,
graciosamente, perdoa meus pecados habituais.
Hipocrisia: exigir que meus filhos me obedeçam e
me honrem de maneiras que eu não obedeço nem
honro ao Senhor; não aceitando confessar meus
pecados cometidos contra eles, mas exigindo que
eles os confessem a mim.
Preguiça, impaciência e incredulidade: entregar-
me ao desânimo quando não vejo meus filhos
mudarem com a velocidade e a intensidade que eu
gostaria, permitindo que eles façam o que querem.
Desejar ansiosamente ter a amizade deles: desejar
a aprovação e a amizade dos meus filhos mais do
que a amizade e a aprovação do Senhor, permitindo
que meus filhos deem as ordens para que não se
sintam ofendidos ou fiquem com raiva.
Egocentrismo: crer e agir como se meus filhos
pertencessem a mim e fossem confiados a mim para
meu próprio prazer, e não para o Senhor.
Legalismo: criar padrões não bíblicos de
comportamento para meus filhos que não são
claramente apresentados nas Escrituras e, em
seguida, justificar minha posição dizendo: “Porque
eu mandei e você tem que me honrar”.
Enquanto eu revisava a lista, fui capaz de me
enxergar em cada exemplo. Deixe-me lembrar você
novamente das palavras de Spurgeon, palavras doces
para minha alma: “Agora nós vemos que,
independentemente de quais foram os teus pecados,
todos estão incluídos naquelas pequenas palavras,
‘todo pecado’; portanto, consola-te, pobre pecador,
se crês em Jesus Cristo, és nascido de Deus, e o
sangue dele te limpa de todo pecado”.
Mas pedir o perdão do Senhor não costuma ser o
fim de nossa obrigação. Se pecamos contra nossos
filhos, então também temos a obrigação e o
privilégio de pedir perdão a eles. Ken Sande, diretor
do Peacemaker Ministries, desenvolveu os “Sete
Princípios da Confissão”, uma lista que você deve
considerar enquanto reflete sobre confessar seu
pecado para o seu filho.
Os sete princípios da confissão
(Os Sete Princípios da Confissão baseiam-se em
Mateus 7.3-5, 1 João 1.8-9 e Provérbios 28.13)
1. Dirija-se a todos os envolvidos (todos os que
você afetou).
2. Evite falar “se”, “mas” e “talvez” (não tente
justificar seus erros).
3. Confesse especificamente (sua atitude e suas
ações).
4. Reconheça que o que você fez machucou as
pessoas (e expresse tristeza por isso).
5. Aceite as consequências (como, por exemplo,
fazer a restituição).
6. Altere seu comportamento (mude suas atitudes e
ações).
7. Peça perdão.6
Posso imaginar que, para algumas de vocês, essa
pode ser uma tarefa assustadora. Para algumas, há
anos, o relacionamento com seus filhos está abalado
ou talvez nem exista mais. A ideia de entrar em
contato com eles para confessar seus pecados enche
seu coração de medo. “O que eles vão dizer?” “Eles
vão pensar que tudo o que defendíamos estava
errado.” “Eles perderão o respeito que tinham por
mim?” “Eles continuarão a me amar?” “Como posso
confessar a eles que sou pecadora?” Deixe-me
encorajar seu coração com a seguinte passagem de
Provérbios: “O que encobre as suas transgressões
jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa
alcançará misericórdia” (Pv 28.13).
No final deste capítulo, incluí um possível modelo
para uma carta que talvez você queira escrever aos
seus filhos. Por favor, não permita que o medo ou o
orgulho roubem essa oportunidade de encontrar
misericórdia. Houve um tempo em que eu
acreditava que, para que meus filhos me amassem e
me respeitassem, eles tinham de pensar que eu era
perfeita. Hoje, reconheço que o amor e o respeito
deles fluem com mais facilidade em relação a mim
por eu ser uma mulher que tem as suas falhas, mas
que está crescendo em humildade e amor. Reflita
sobre a promessa no versículo citado: “o que as
confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13).
Eu anseio pela compaixão do Senhor e da minha
família, e esse verso me dá instruções concretas
sobre como alcançá-las.
Enquanto estamos falando sobre coisas das quais
nos arrependemos, quero deixar mais um
pensamento registrado. Mesmo que você tenha
confessado seus pecados ao Senhor e aos seus
filhos, talvez ainda tenha dificuldades para perdoar a
si mesma. A Bíblia nunca manda ou ordena que
perdoemos a nós mesmas. Sempre que estamos
cheias de autoaversão ou pensamentos do tipo “Eu
não acredito que fui capaz de fazer isso”, estamos
negando a verdade sobre nossa pecaminosidade
inerente. Em vez de dizer: “Eu não acredito que fui
tão má”, devemos pensar: “Eu não acredito que fui
tão boa” ou “Sou abençoada por Deus ter me
preservado de não ser ainda pior”.
Seu governo soberano

O Senhor está em seu trono governando, como


tem feito desde toda a eternidade. Ele nos deu os
filhos que nós temos e está reinando e exercendo
domínio em seus corações de acordo com seu plano
soberano. A única verdade que consola meu coração
acima de todas as outras é que Deus pode até
mesmo usar minhas falhas como mãe para moldar o
caráter de Cristo em meus filhos! Evidentemente,
isso não significa que eu devo ignorar minhas falhas
ou encorajar outras pessoas a ignorar também. A
questão é simples: as falhas fazem parte de nossas
vidas e Deus usa até mesmo nossas falhas para a
glória dele. Lembre-se de que não foram somente os
bons reis do Antigo Testamento que tinham filhos
bons! Amom foi um dos reis mais iníquos de toda a
história de Israel, mas seu filho Josias foi um dos
melhores. Deus governa nossas vidas e a vida de
nossos filhos de forma soberana. E, nessa preciosa
verdade, podemos encontrar o verdadeiro descanso.
Mesmo que seus filhos morem perto e mesmo que
você tenha um ótimo relacionamento com eles, às
vezes é difícil deixar a posição de autoridade. Deixe-
me incentivá-la a refletir novamente sobre a
bondade de Deus em relação a você nessa fase de
sua vida. Por que não agradecer por ele ter
permitido que você chegasse tão longe e se alegrar
com as bênçãos que você tem?
Tornando-se uma mulher sábia
1. Quais são os retratos mais preciosos no
scrapbook de sua mente? Por que não pegar aquela
caixa de fotos para vê-las, valorizando cada uma
delas e agradecendo a seu Pai amoroso pela
bondade dele em relação a você?
2. Leia as seguintes passagens e descreva as
diferenças entre seus objetivos como mãe e os
objetivos de Deus: Colossenses 1.18-20; Efésios
1.22-23; 4:15-16.
3. O objetivo da passagem sobre o amor
autossacrificial de Jesus em Filipenses 2.9-11: “Pelo
que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu
o nome que está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na
terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que
Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai”.
Na condição de mães, é fácil querer que nossos
filhos tenham um nome altamente estimado, mas
esse não é o nosso lugar. O que esses versículos nos
ensinam sobre o lugar de honra que Deus reservou
para seu Filho? O que você aprendeu com eles sobre
o amor autossacrificial?
4. O que você está prestes a perder? O que mais a
incomoda a respeito desse processo? O que você
tem medo de perder? É o fato de a mudança ser
difícil ou existe outra coisa que a incomoda ainda
mais nessa fase de sua vida?
5. Leia 2 Reis 21.19, 22.2 e 2 Crônicas 28, 29.2. O
que esses versículos ensinam sobre o soberano
governo de Deus na vida de seus filhos? Se seus
filhos estão servindo ao Senhor, é porque você dava
um testemunho muito bom?
6. Aqui está um possível modelo para uma carta
que talvez você queira escrever aos seus filhos.
Lembre-se de que você pode ajustá-la conforme sua
necessidade pessoal.
Querido(a) ___________,
Enquanto eu refletia sobre quanto sou abençoada por ser
sua mãe, veio à minha mente que talvez eu não tenha dito
isso a você nos últimos tempos. _________, por favor
saiba que eu amo você e que você sempre será meu
(minha) filho(a), não importa a distância que nos separa.
Assim como você já fez parte de mim, crescendo debaixo
do meu coração, estará sempre no meu coração e sou grata
por isso.
Também me veio à mente que, embora eu realmente ame
você, pequei contra você e, por causa da graça de Deus que
há em mim, preciso confessar esses pecados a você. Por
favor, reflita sobre o que estou confessando e não diga
simplesmente: “Ah, mãe, está tudo bem!”.
Você pode descrever suas áreas de dificuldade
usando a lista apresentada neste capítulo,
acrescentando ou removendo o que julgar
necessário. Lembre-se de evitar falar “se”, “mas” e
“talvez”. Confesse qualquer coisa que seja
pertinente. Se você conseguir pensar em exemplos
específicos, melhor. Desse modo, seu filho saberá
que você é séria e que não está simplesmente
tentando aplacar sua consciência. Aceite e reconheça
que seus pecados talvez tenham consequências e
permita que seu (sua) filho(a) reflita sobre o que
você escreveu e sobre a maneira como deseja
responder. Por fim, peça perdão. Talvez você queira
dizer algo assim: “À luz desses pecados, estou
pedindo que você me perdoe. Eu sei que talvez seja
difícil para você agora e eu estou disposta a esperar
até que você esteja pronto. Por favor, saiba que, seja
como for, amo você, estou orando por você e estou
buscando a graça de Deus para mudar”.
Sinta-se à vontade para acrescentar qualquer coisa
que você queira na saudação final. Antes de enviar
essa carta, por favor lembre-se de passar um tempo
em oração, confessando seu pecado ao Pai e
pedindo que a graça dele prepare o coração de seu
(sua) filho(a). Não use essa ocasião para relembrar
ofensas antigas que seu(sua) filho(a) possa ter
cometido; confie no Senhor para usar essa
oportunidade para a glória dele e não exija que seu
filho responda da maneira como você espera.
Lembre-se de que isso é algo que seu Pai pediu para
você fazer, e não um novo método para manipular
seus filhos a fim de que façam o que você quer.
7. Resuma este capítulo em três ou quatro frases.

1 Terminologia em inglês para designar um livro feito com a


colagem de recortes de fotos, convites ou qualquer outro material
que possa ser guardado. (N. da E.)
2 Dr. Peter Jones, em um culto da capela no Westminster
Theological Seminary, na Califórnia. Material não publicado.
3 Reader’s Digest Oxford Complete Wordfinder (Pleasantville, NY:
Reader’s Digest Association, Inc.), 1996.
4 Ibid.
5 Charles H. Spurgeon, Spurgeon’s Encyclopedia of Sermons,
“The Guilt and the Cleansing”, um sermão que Charles Spurgeon
pregou em uma noite do dia do Senhor, 8 de janeiro de 1865, no
Metropolitan Tabernacle, Newington (banco de dados eletrônico;
Seattle: Biblesoft, 1997).
6 © Peacemaker® Ministries. Uso autorizado. Para mais
informações sobre a reconciliação bíblica, visite o site do
Peacemaker Ministries, em www.HisPeace.org, ou entre em
contato com o Peacemaker Ministries, ligando para 406/256-1583.
5 • Deixando Seu Pai e Sua Mãe
Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne.
(Gn 2.24)
Desde o tempo em que nossos filhos eram
pequenos, batendo com as mãos na água da
banheira ou gritando enquanto corriam em meio às
mangueiras em um dia quente de verão, eu oro pelo
casamento deles. Orava para que o Senhor
encaminhasse o cônjuge certo para eles: alguém para
encorajá-los na piedade e para ajudá-los a carregar
seus fardos. “Senhor”, eu suplicava, “por favor, leve
crentes devotos até eles — pessoas que vão torcer
por eles e cuidar deles”.
No verão de 1995, nossa filha, Jessica, tornou-se a
Sra. Cody Thompson. Depois, na primavera de
2000, seu irmão mais novo, Joel, recebeu a bênção
de se casar com Ruth Scipione. Phil e eu fomos
presenteados com essas maravilhosas adições à
nossa família. Nós amamos, respeitamos e somos
gratos por Cody e Ruth. Eles estão aprendendo a
viver com seus cônjuges e nós também estamos
aprendendo algo novo: como ser sogros piedosos.
Phil e eu somos totalmente conscientes de que ainda
estamos nos desenvolvendo nesses novos papéis e,
enquanto isso acontece, não queremos dificultar as
coisas para eles.
A conselheira aconselha a si mesma
De tempos em tempos, tenho tido a oportunidade
de aconselhar alguns noivos.1 Já sentei com casais
apaixonados e tentei prepará-los para a estrada que
tinham pela frente. Em uma das sessões,
normalmente conversamos sobre o significado de
“deixar pai e mãe”. Eu costumo pedir que eles
escrevam uma carta aos seus pais, agradecendo
pelos cuidados e esboçando algumas mudanças que
acontecerão depois do casamento. Um maravilhoso
exemplo desse tipo de carta encontra-se no livro de
Wayne Mack, Preparing for Marriage God’s Way.
A seguir, cito alguns trechos:
Queridos Mãe e Pai,
Quero agradecer pelo amor e pela dedicação com que
vocês me criaram... Chegou o momento, um momento
muito importante em nossas vidas, em que nosso
relacionamento vai mudar — não vai acabar, mas vai
mudar; não vai desaparecer, mas será diferente... Como
cristã(o), sempre vou honrar, valorizar, respeitar e enaltecer
vocês, sempre vou orar por vocês e sempre vou me
esforçar para ajudar vocês, mas, ainda assim, Deus diz que
eu preciso partir... A partir do momento do casamento,
________ e eu seremos uma só carne... Peço que vocês
nos ajudem a aprender a fundir duas vidas independentes
para que vivamos como uma só carne na prática... Vocês
receberam sabedoria de Deus e, de tempos em tempos, nós
vamos pedir seus conselhos. Quando fizermos isso, vamos
levar seus conselhos a sério, mas, debaixo de Deus, vamos
refletir, consultar as Escrituras, orar e concluir qual é a
vontade de Deus para nós... Nós queremos que vocês
sejam livres para concordar ou discordar de nós... e
queremos ter a mesma liberdade. Isso será difícil para
vocês.2
“Isso será difícil para vocês.” Ah, como é fácil dar
esse conselho a outras pessoas e como é difícil dar
esse conselho a mim mesma. Deixar de ser a maior
autoridade na vida de meus filhos e encorajá-los a
formar uma unidade familiar separada foi algo
assustador. Até hoje, mesmo tendo mais experiência,
ainda é difícil abrir mão de dar minha opinião.
Afinal, não é a mamãe quem sabe o que é melhor
para os filhos?
Neste capítulo, vamos analisar algumas das
mudanças que acontecem quando seus filhos se
casam. Vamos sugerir algumas atitudes que podem
ser tomadas para ajudar seus filhos a estabelecer
suas famílias. Vamos advertir sobre algumas
armadilhas que devem ser evitadas e, por fim,
vamos apresentar um modelo de carta para você
escrever aos seus filhos casados.
O primeiro casamento

Deus realizou o primeiro casamento quando trouxe


Eva até o seu marido, Adão. Enquanto Adão estava
cheio de alegria e contentamento por aquela que era
o reflexo dele mesmo, Deus imediatamente interveio
para comunicar seu regulamento para todos os
casamentos posteriores. “Por isso, deixa o homem
pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois
uma só carne” (Gn 2.24).
Não é interessante que o primeiro mandamento que
Deus dá, depois de estabelecer o casamento, é no
sentido de deixar a família anterior? Esse fato
enfatiza a verdade de que a nova família não pode
desenvolver-se adequadamente até que a família
antiga saia de cena. Como escreveu Jay Adams,
“Velhos laços não podem ser rompidos a menos que
exista um ‘deixar’. Novos laços não podem se
formar a menos que os antigos deixem de existir”.3
À luz dessa verdade, precisamos nos esforçar para
ajudar nossos filhos a nos deixar. Afinal, se oramos
por eles e já os instruímos, agora precisamos deixá-
los aprender a seguir os mandamentos do Senhor, a
depender da força dele e a aprender, sozinhos, sobre
a graça dele. Mas essa não é uma tarefa fácil. É
difícil enfrentar a realidade da vida familiar depois
que nossos filhos nos deixam para começar suas
próprias vidas. É bem difícil deixar de desempenhar
um papel que era tão familiar para começar a
desempenhar um papel novo... especialmente
quando sabemos que o nosso jeito é o melhor!
Quando eu dou a minha opinião? Até que ponto
devo oferecer ajuda? Quando posso dizer que eles
estão cometendo um erro? Como dizer “não” para
eles quando estiverem enfrentando um problema...
de novo? E quantas vezes já atrapalhei as orações
que faço para que eles amadureçam em seus
casamentos por dar conselhos demais ou por tentar
facilitar as coisas para eles?
Todas essas perguntas (e milhares de outras
semelhantes) tendem a afligir nossos pensamentos.
No caso de filhos com quem você tem um bom
relacionamento, eu sei que é especialmente difícil
não se intrometer em suas vidas. Meus filhos estão
acostumados a pedir e receber meus conselhos, eles
me amam e me respeitam, e eu tenho dificuldade
para deixar de tentar fazer o papel da mãe que tem
todas as respostas bíblicas para desempenhar apenas
o papel de simples conselheira. O que devo fazer
para abrir mão de dar sempre a minha opinião? Eu
conheço meus filhos; eu sei o que é melhor para
eles. Por que não posso continuar a guiá-los como
sempre fiz ao longo de todos esses anos? Essas são
as questões que frequentemente passam pela minha
cabeça. É difícil ficar de braços cruzados, vendo
meus filhos tomarem decisões que eu acho que não
são sábias — e aposto que isso também é difícil para
você.
Como assim, você não precisa mais de mim?
É evidente que uma razão para essa transição ser
tão difícil para mim é que meu coração é cheio de
orgulho, incredulidade e desejo de que meus filhos
precisem de mim. Considerando a possibilidade de
que você tem a mesma dificuldade, vamos analisar
melhor esse problema.
É algo inerentemente arrogante pensar que, sem
mim e sem a minha sabedoria, meus filhos estarão
fadados ao fracasso e ao desgosto. Essa maneira de
pensar revela a autossuficiência e o orgulho que
enchem meu coração. Embora eu tenha sido usada
pelo Senhor para criá-los na admoestação e na
disciplina, Deus sempre teve a capacidade de cuidar
deles sem mim e não está preocupado com a
maneira como vai operar em suas vidas agora,
quando já não desempenho mais um papel tão
proeminente. Em momentos assim é que preciso
lembrar que eles não são realmente meus filhos; eu
sou apenas uma administradora interina.
A angústia que sinto diante dessas mudanças
também é um sinal de incredulidade. Eu confio no
cuidado do Senhor em relação aos meus filhos? Eu
acredito que Deus pode, providencialmente,
governar e administrar suas vidas, guiando-os por
sua grande graça e protegendo-os da tolice? Eu
confio que, mesmo que Deus permita que eles
cometam erros, extrairá um bem imenso das
situações que me causaram preocupação e
desespero, levando-os a amadurecer e ensinando-os
a depender dele?
Outra faceta preocupante de deixá-los ir é o medo
de que, se eles forem, talvez não precisem mais de
mim. A realidade que todas nós precisamos
enfrentar é a seguinte: a maternidade é
inerentemente transitória. É a obsolescência
programada. Esse é um pensamento assustador para
mim, basicamente porque boa parte da minha
existência girou em torno do meu papel de mãe.
Quem sou eu além de ser a mãe de James, Jessica e
Joel? Eu já passei algumas tardes perambulando pela
casa, perguntando-me o que deveria estar fazendo
agora. Certa ocasião, peguei o telefone para ligar
para um deles, apenas para bater papo, e me dei
conta de que eles estavam ocupados com suas vidas
e que não precisam que eu entre em contato todos
os dias. Ao ligar para eles, minha motivação é o fato
de que sinto saudades e quero ouvir a voz deles. É
um hábito do meu coração. Então, eu me pergunto:
será que devo usar esse tempo de uma maneira
melhor? Será que, nesse momento, o Senhor tem
alguma coisa para mim além de ouvir a voz deles?
Não estou dizendo que nunca mais haverá uma
oportunidade em que poderei admoestá-los e instruí-
los. Estou apenas tentando apontar para a realidade
da vida da maneira como o Senhor definiu que seria.
Todo ser vivo cresce, muda e deixa uma família ou
um grupo para começar outro. Por que nós seríamos
diferentes?
Eu também preciso entender o que essas mudanças
me ensinam sobre o amor de Deus pela
multiplicação e pelo crescimento. Como eu já disse,
nada na criação permanece estático. Um dos
primeiros mandamentos que Deus deu a Adão e
Eva, para direcionar e definir suas vidas, foi: “sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra”. De que
maneira isso vai acontecer sem que as famílias se
dividam? Cada célula do meu corpo precisa dividir-
se para criar novas células vivas hoje. Pense nesta
ideia por um instante: sem um constante “deixar” e
um constante “unir-se”, a vida deixaria de existir.
Por que pensamos que, com nossa vida, isso seria
diferente?
Nós, mães, deveríamos orar juntas: “Pai, por favor,
nos ajude em nossa incredulidade e nos faça mais
humildes. Por favor, faça-nos crer que o teu plano
para nossos filhos é melhor do que qualquer coisa
que poderíamos imaginar. Por favor, ajude-nos a
enxergar o que tu planejaste que fizéssemos agora,
quem são aqueles que tu queres que admoestemos
e amemos. Por favor, ajude-nos a apreender o
significado de permanecer em silêncio e nos ajude
especialmente a ver o bem que tu enxergas em
nossos filhos e em seus cônjuges. E nos ajude a
novamente nos prostrar diante de seu trono e a
orar da mesma maneira que Nosso Senhor em seu
sofrimento: ‘Não se faça a minha vontade, nem
mesmo aqui’”.
O significado de ir embora para quem é deixado
para trás
Como meus filhos são ordenados a deixar seus pais
e eu sou ordenada a amá-los, quais atitudes devo ter
na ausência deles?
Vou refletir e orar antes de dar qualquer conselho.
Não vou dizer o que eles devem fazer a menos que meu
marido e eu estejamos convencidos de que eles estão
prestes a violar o claro ensinamento das Escrituras. É
normal que existam diferenças de estilo em suas casas.
Talvez eles tenham uma maneira diferente de dividir as
tarefas domésticas. Talvez eles queiram frequentar uma
igreja diferente. Essas são decisões que cabem a eles e,
como uma família autônoma, buscando cumprir o
chamado de Deus em suas vidas, não importa se tomam
decisões diferentes das nossas ou se têm um estilo
diferente.
Em todos os outros casos, não iremos dar conselhos a
menos que eles peçam nossa opinião. E, mesmo quando
eles pedem nossa opinião, haverá momentos em que não
vamos concordar com a decisão deles. Em momentos
assim, precisamos crer que talvez a decisão deles seja
melhor e que, mesmo que não seja, será um instrumento
do Senhor em suas vidas para a glória de Deus e para o
bem deles.
Tentaremos evitar socorrê-los ou salvá-los de cada
problema que tiverem de enfrentar. Isso não significa que
não vamos ajudá-los, quando tivermos condições e quando
houver necessidade. Contudo, nosso objetivo deve ser
ajudá-los a depender do Senhor e, ao mesmo tempo,
devemos encorajá-los e apoiá-los, orando sempre por eles.
Nosso neto mais velho, Wesley, está prestes a
começar o jardim de infância. Como existem muitas
alternativas educacionais para nossa filha e seu
marido, ela pediu minha opinião e eu dei. Também
deixei claro que, embora, para mim, fosse
maravilhoso ajudar a custear os estudos do Wesley,
se eles decidirem enviá-lo para uma escola cristã,
não teremos como ajudar. Adoraríamos custear os
estudos de todos os nossos netos, mas não temos
condições e não seria justo que pagássemos a
formação de um sem oferecer ajuda aos outros. Essa
é uma situação em que eu adoraria me envolver e
assumir o controle. Passei muitos anos me
sacrificando pela educação dos meus filhos. Eu sei
como é. Eu sei como fazer, penso. Mas seria
inapropriado se eu fizesse isso agora. Significaria
roubar dos meus filhos a oportunidade de aprender
lições maravilhosas que o Senhor me ensinou.
Completando as aflições de Cristo
Também reconheço que certamente há mulheres
que estão lendo este livro e não têm um
relacionamento próximo com os filhos. Talvez a
relação seja boa, mas eles moram muito longe, ou
talvez você nunca tenha tido um relacionamento
intenso com eles, seja qual for a razão. Vamos
refletir sobre as grandes dificuldades que essa fase
da vida nos impõe.
Recentemente, falei em uma conferência e, depois
da minha palestra, uma mulher se aproximou de
mim e disse: “Minha filha e o marido vão se mudar
para o Equador dentro de cinco meses para fazer
um trabalho missionário. Estou tentando me alegrar
porque eles estarão servindo ao Senhor e porque
serão instrumentos de Deus, mas também estou
cheia de tristeza e desgosto porque não vou mais
poder vê-la todos os dias. Eu não falo nada sobre
isso com ela porque quero que ela siga o
direcionamento do Senhor, mas meu coração está
abalado. Depois de partir, eles vão passar quatro
anos longe de casa — é simplesmente tempo
demais. Eu não sei como vou conseguir suportar”.
Enquanto ela falava, lágrimas silenciosas corriam em
seu rosto. O que eu poderia dizer para consolá-la?
O apóstolo Paulo tinha uma visão sobre o
sofrimento que era muito diferente da visão que
muitos cristãos modernos têm. Ele disse: “Agora, me
regozijo nos meus sofrimentos por vós; e completo
o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a
favor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1:24). O que
Paulo quis dizer quando escreveu que estava
“completando algo que resta das aflições de Cristo”?
Nós sabemos o que ele não quis dizer. Ele não quis
dizer que havia algo de incompleto na morte
expiatória de Cristo na cruz. O Senhor estava certo
quando proferiu aquelas preciosas palavras: “Está
consumado”. Sua morte substitutiva em nosso lugar
estava completa naquele momento e ele não precisa
de nada do apóstolo Paulo ou de qualquer um de
nós para torná-la mais eficaz. Ele fez tudo o que
precisava ser feito. Está consumado.
Mas o que Paulo quis dizer quando assinalou que
seus sofrimentos completavam o que restava das
aflições de Cristo? Primariamente, o seguinte:
embora a expiação seja completa e não haja mais
necessidade de sofrimento por nossos pecados, os
cristãos são chamados a sofrer por amor ao
evangelho, para que outros conheçam a verdade.
Cada lágrima que você chora e cada aflição que
você suporta por amor daquelas pessoas naquela
terra estrangeira estão completando os sofrimentos
de Cristo. Como John Piper escreveu:
Os sofrimentos de Paulo completam a aflição de Cristo não
por acrescentar algo ao seu valor, mas por estendê-los às
pessoas a quem devem salvar. O que falta nas aflições de
Cristo não é valor, como se não pudessem cobrir
suficientemente os pecados de todos os que creem. O que
falta é que o valor infinito das aflições de Cristo não é
conhecido e crido no mundo todo. Essas aflições e seu
significado ainda estão ocultos da maioria das pessoas. E a
intenção de Deus é que o mistério seja revelado a todas as
nações. Portanto, as aflições de Cristo são “deficientes” no
sentido de que não são vistas, conhecidas e amadas pelas
nações. Precisam ser levadas por ministros da Palavra.
Esses ministros da Palavra “completam” o que falta nas
aflições de Cristo, estendendo-as aos outros.4
Muitas vezes, aceitar que nossos filhos se mudem
para outra parte do país ou para outros lugares do
mundo faz parte do nosso “completar as aflições de
Cristo”. Talvez eles não sejam vocacionados para o
ministério integral, como foi o caso da filha dessa
mulher; talvez a mudança seja somente para
assegurar a formação ou o emprego que eles
acreditam ser o chamado de Deus para suas vidas.
Mas, até mesmo nessas decisões triviais, seu amor,
seu apoio e a liberdade que você dá para que eles
sigam o chamado de Cristo fazem parte de seu
serviço a ele. É assim que você enxerga? Você ama
o reino e o serviço a Cristo tanto assim?
Talvez seus filhos casados não se tenham mudado
para lugares que ficam a milhares de quilômetros...
talvez eles morem na esquina de sua casa. Mesmo
nessa circunstância, você vai permitir que eles
encontrem e cumpram as exigências de Deus para a
vida deles — mesmo que seja diferente do que você
planejou para eles? Você vai incentivá-los a partir
caso eles creiam que essa é a vontade de Deus? Eu
sei que são perguntas difíceis. São perguntas que
vão ao cerne do que acredito ser o plano de Deus
para mim — como mãe, como mulher virtuosa,
como filha do Rei. Também vão ao cerne do que
creio acerca de sua natureza e da importância de seu
reino.
Eu sei que seu desejo é cumprir a vontade de Deus
para sua vida. Como todos os cristãos, almejamos
ouvir as seguintes palavras: “Muito bem, servo bom
e fiel”. Perder é doloroso, especialmente quando
nossos filhos formaram um lar com outra pessoa...
alguém cujas opiniões, preferências e desejos são
mais importantes do que os nossos. É doloroso e
sofrido para a maioria das mães, mesmo quando
aprovamos e gostamos dos cônjuges que eles
escolheram. Houve momentos em que me encontrei
nos porões da aflição por causa das decisões que
meus filhos ou seus cônjuges tomaram. É nesses
momentos que preciso lembrar a mim mesma, como
disse o puritano Samuel Rutherford, “quando foi
lançado nos porões da aflição, lembrou que o
grande Rei sempre guardava seu vinho ali”.5 Qual
vinho maravilhoso você já bebeu nesse porão da
aflição? Que tipo de alegria e de alívio ele trouxe
para o seu coração? O que você aprendeu sobre
Jesus e suas perfeições por meio dessa aflição?
Saindo do centro da foto
Você já disse aos seus filhos, “Seu casamento é o
mais importante relacionamento da sua vida”?
Novamente, confio que você acredita nessa verdade,
mas é algo que você já falou aos seus filhos
casados? E como você fez isso?
Eu me pergunto quantos casamentos já foram
prejudicados pela reclamação de sogras que não
queriam aceitar o fato de que sua filha ou seu filho
deixaram o pai e a mãe. Uma de nossas mais altas
prioridades como mães é nunca permitir ou
incentivar comentários depreciativos e fofocas sobre
os cônjuges de nossos filhos. Ou até pior, não
podemos criticá-los ou buscar minar o lugar deles.
Isso não significa que nunca possamos falar nada
sobre suas vidas. Mas, se temos algo a dizer que seja
importante e piedoso, devemos dizer aos dois e
devemos fazer isso respeitando o fato de que eles
são uma unidade separada de adultos e não estão
mais debaixo de nossa autoridade. Que o Senhor
nos conceda graça para agir assim e para nos
arrepender dos momentos em que negligenciamos
essa responsabilidade parental.
Talvez você sinta tanto amor por seu(sua) filho(a)
que não consegue suportar a sua partida. Em casos
tais, podemos aprender com 1 Coríntios 13, que nos
ensina que o amor autêntico não foca em si mesmo,
mas anseia pelo que é melhor para a pessoa amada.
O melhor para seu filho ou para sua filha é um
relacionamento santo, amoroso e comprometido
com o cônjuge, sendo uma só carne; um
relacionamento no qual seu filho ou sua filha busca
direcionamento, encorajamento e consolação — em
primeiro lugar, do Senhor e, em segundo lugar, do
cônjuge. É provável que você continue a ter um
lugar nessa foto, mas não no centro — e é justo e
piedoso que seja assim.

Planejando-se para outro casamento


No final deste capítulo, escrevi um modelo de carta
que quero que você considere usar com seus filhos
casados. Enquanto isso, quero encorajá-la a pensar
no casamento maravilhoso do qual todos faremos
parte quando nosso grande Rei nos levar para sua
casa, a fim de celebrarmos a festa. Nessa
maravilhosa celebração, nos uniremos ao nosso
Salvador e seremos um só espírito com ele, de um
modo que fará com que todas as aflições que
experimentamos aqui valham a pena. Viva à luz
dessa verdade enquanto estiver refletindo sobre seu
relacionamento com seus filhos e cônjuges.
Regozije-se no maravilhoso plano do Senhor para
você e permita que seus filhos vivam a nova
realidade que Deus projetou para eles.
Tornando-se uma mulher sábia
1. Faça uma lista com suas funções atuais. Há
alguma coisa na lista que não deveria estar lá, já que
agora você é mãe de um(a) filho(a) casado(a)?
2. O que significa para você: “deixará seu pai e sua
mãe”? Em sua vida, como isso funciona na prática?
3. Estude 1 Pedro 4.12-13, “Amados, não
estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós,
destinado a provar-vos, como se alguma coisa
extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo
contrário, alegrai-vos na medida em que sois
coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que
também, na revelação de sua glória, vos alegreis
exultando”. Em sua vida, o que significaria
regozijar-se por participar dos sofrimentos de
Cristo? Como você poderia encorajar seus filhos a
desejar servir e sacrificar suas vidas pelo Senhor?
4. Em espírito de oração, considere (com seu
marido, caso você seja casada) a possibilidade de
escrever para seus filhos uma carta como a do
modelo a seguir. Por favor, sinta-se à vontade para
modificá-la da maneira que julgar melhor.
Querido(a) ___________,
Como você sabe, há _____ anos, segurei você em meus
braços pela primeira vez e, com muito amor, olhei para seu
rostinho. Sua mãozinha era tão pequena e, enquanto eu
segurava você, sabia que você precisava de mim. Eu tinha
tanto medo de não saber o que fazer ou de não ser o que
você precisava que eu fosse. Eu me perguntava: “Como
vou conseguir, Senhor?”. Em sua dependência, você
precisava de mim para se alimentar, para colocar sua
roupa, para ensinar você a andar e a se comunicar. Mais
tarde, você precisou que eu ensinasse você a viver a vida.
Era um papel que eu amava, mas é um papel que não sou
mais chamada a ter. Agora, que você e _______ são
casados, tenho de aprender meu novo papel.
E, em um dia muito parecido com aquele dia, há _____,
estou orando por força e sabedoria. Como eu faço isso,
Senhor?, ainda me pergunto.
Em Gênesis 2:24, o Senhor instruiu o primeiro casal a
deixar o pai e a mãe. Esse é um mandamento que continua
em vigor ainda hoje e, ao refletir sobre as implicações
disso para nós, percebo que não tenho feito o que deveria
fazer. Em muitas ocasiões, eu [preencha essa parte com
suas próprias palavras. Por exemplo, você pode dizer: “Eu
dei dinheiro para você em vez de ensiná-lo(a) a confiar na
provisão do Senhor”. “Eu falei com você de maneira
indelicada sobre seu cônjuge; e isso é algo que entristece
Deus”. “Tentei aconselhá-lo(a) a respeito de questões que
não eram da minha conta e tentei fazer com que você
construísse sua nova vida de acordo com meu plano”].
Essas ocasiões em que me intrometi e interferi na
construção de sua própria família foram erradas. Estou
pedindo que você e ____________ me perdoem por não
perceber que Deus mudou nossa forma de nos relacionar e
por querer manter as coisas como eram, em nome de meus
próprios interesses.
Por favor, não pense que não vou mais apoiá-lo(a) ou que
não vou mais amar e me alegrar com os momentos que
teremos juntos. É que agora vou simplesmente tratá-lo(a)
como um amigo(a) adulto(a) e só vou dar conselhos
quando seu pai e eu entendermos que você está pecando
ou quando você pedir. Eu quero dizer que você e
___________ são livres para discordar de nós, caso
acreditem que estamos errados. Isso não vai afetar nosso
relacionamento ou o fato de que eu amo você. Você não
precisa mais se preocupar com a minha opinião e não
precisa tentar me agradar.
5. Em quatro ou cinco frases, resuma o que você
aprendeu neste capítulo.

1 Na maioria das vezes, o aconselhamento pré-marital que faço é


para noivos amigos da família, pois a minha regra geral é dar
aconselhamento somente para mulheres.
2 Citação de Wayne Mack e Nathan Mack, Preparing for Marriage
God’s Way (Tulsa, OK: Virgil W. Hensley, 1986), 33.
3 Jay E. Adams, Solving Marriage Problems (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 1983), 69.
4 John Piper, Em busca de Deus: a plenitude da alegria cristã.
São Paulo: Shedd, 2001.
5 Ibid.
6 • Pode me Chamar de “Mimi”!
Noemi tomou o menino, e o pôs no regaço, e entrou a
cuidar dele.
(Rt 4.16)
Reflita sobre a vida de uma mulher madura,
Noemi. Lembra-se de quando ela se mudou para
Moabe, com seu marido e seus dois filhos, para
fugir da fome? Posso imaginar que, embora ela
sentisse saudades da família e dos amigos de Belém,
era consolada pela presença de seu marido e de seus
filhos, bem como por sua nova vida com eles. Mas
sua vida logo colocou vestes mais sombrias. Seu
marido morreu. No entanto, ainda assim, mesmo em
meio à dor, ela era consolada pelos filhos e, quando
eles se casaram, ela criou a expectativa de que logo
teria netos para alegrar seu coração. Mas esse não
era o plano do Senhor para ela. E, dez anos depois,
Noemi também perdeu seus filhos queridos e se
preparou para voltar para Belém, como uma mulher
vazia e destruída.
“Será que é Noemi?”, perguntavam-se suas
amigas enquanto ela se aproximava da cidade com
Rute, sua nora. “Porém ela lhes dizia: Não me
chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande
amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Ditosa eu
parti, porém o SENHOR me fez voltar pobre; por que,
pois, me chamareis Noemi, visto que o SENHOR se
manifestou contra mim e o Todo-Poderoso me tem
afligido?” (Rt 1.20-21)
Diferente de nossa época, na antiguidade o nome
de uma pessoa representava sua natureza. Por
exemplo, Noemi significava “agradabilidade, deleite,
esplendor ou graça”.1 Sua vida anterior fora
deleitosa e agradável: Noemi tinha um marido e dois
filhos e, embora ela tivesse experimentado a fome,
conhecia o conforto e a proteção que eles lhe
proporcionavam. Mas, quando voltou de Moabe,
vazia e cheia de amargura, instruiu seus antigos
conhecidos a chamá-la Mara, um nome que
significava “amargura”. Noemi tinha perdido tudo e
estava se sentindo vazia e envergonhada, mas sua
história não acabou assim. Rute, sua nora, voltou
com Noemi da terra do luto e foi por meio dela que
o Senhor, providencialmente, restaurou sua alegria.
Reflita sobre o início do capítulo: “Noemi tomou o
menino, e o pôs no regaço, e entrou a cuidar dele”
(Rt 4.16). Eu acho que é fácil subestimarmos a
importância dessas palavras. Essa mulher estava
convencida de que sua vida inteira seria marcada
somente pela difícil amargura; até que o Senhor
mudou sua sorte e lhe deu um neto: Obede. Os
versos anteriores ao que citamos dizem: “Então, as
mulheres disseram a Noemi: Seja o SENHOR bendito,
que não deixou, hoje, de te dar um neto que será teu
resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste.
Ele será restaurador da tua vida e consolador da tua
velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela
te é melhor do que sete filhos” (Rt 4.14-15).
As amigas de Noemi se alegraram com ela por
causa da bondade de Boaz e Rute. Mais uma vez,
ela experimentaria o cuidado e o sustento de um
filho amoroso. Mas a alegria que sentiam não era
somente por Rute e Boaz; elas também se alegravam
com o nascimento de seu neto. Obede era um
presente do Senhor para ela. Ele renovaria e
sustentaria sua vida na velhice. Em certo sentido,
isto é o que os netos fazem: eles renovam nossas
vidas e nos satisfazem na velhice.
Já sei como é!
Lembro-me de quando uma amiga me falou sobre
a grande alegria de ser avó. “Claro, claro”, pensei.
“Eu já sei como é! Eu sei como é ter filhos.” Até
que... Wesley nasceu e minha vida voltou a ser
agradável e encantadora. Atualmente, eu tenho dois
netinhos encantadores: Wesley, que tem quatro anos,
e Hayden, que tem dois anos. E tenho duas netas:
Eowyn, que tem menos de um ano, e Alexandria,
que vai nascer daqui a dois meses (se Deus quiser).
Quer ver uma foto? Ah, a vida é bela!
Já tentei entender por que ser avó é tão especial,
tão abençoado. Eu conheço todas as explicações
típicas e algumas estão certas. É verdade que posso
mimá-los e depois mandá-los para casa. É verdade
que agora disponho de novos recursos — tempo e
dinheiro — que antes me faltavam, quando meus
filhos eram pequenos. Em certo sentido, há menos
pressão para ser bem-sucedida e eu tenho mais
liberdade para curti-los. Mas, pelo menos para mim,
há outro fator: a redescoberta de uma alegria que
estava desaparecida havia anos. Eu tenho a
oportunidade renovada de cuidar de uma nova vida
— algo que há muitos anos tive de abrir mão de
fazer. Não estou dizendo que eu fui uma “Mara” ou
que eu estava insatisfeita. Refiro-me àquela alegria
que experimentávamos quando segurávamos nossos
pequenos nos braços e que, com o passar dos anos,
foi se perdendo — agora essa alegria voltou com
força total. Você duvida disso? Pergunte a qualquer
mulher em idade madura que você conhece e veja
como ela vai se empolgar.
Os netos são a renovação da vida e da alegria —
um momento para fazer tudo que você não foi
capaz de fazer antes e, dessa vez, sem o medo e a
pressão que às vezes acompanha a maternidade.
Quando Wesley, também conhecido como “meu
queridinho”, me chamou de “Mimi”, eu virei uma
nova pessoa. Quem sou eu? Eu não sou Elyse
Fitzpatrick, escritora ou conferencista. Eu sou
Meem (o apelido dos meninos para mim). Esses
pequenos tesouros poderiam me chamar do que
quisessem que eu viria correndo. Meu coração
pertence a eles e eu não poderia ser mais abençoada.
Eu tive de aprender todas as novas regras acerca de
gravidez e cuidado de crianças. Mulheres grávidas
não podem mais beber cafeína ou tomar qualquer
remédio sem receita. Eu estremeço só de pensar no
que estava circulando em minha corrente sanguínea
e na do corpo do meu bebê quando eu estava
grávida. Tive de aprender a instalar a cadeirinha
corretamente; não podia mais jogá-los no banco de
trás do carro, esperando que ficasse tudo bem.
Também aprendi sobre o desvio do olhar e sobre o
problema de ingerir mel (toda hora eu penso, “Opa!
Foi mal!”). Eles têm óculos escuros para bebês, para
que não sejam muito expostos a raios ultravioleta.
Aprendi que não posso dar cereal Cheerios, pois o
bebê pode engasgar; já fiz aulas de suporte básico de
vida e tenho um cartaz sobre o que fazer se alguém
engasgar na minha área de serviço. Recentemente,
considerei a possibilidade de comprar um SUV bem
grande, que tivesse três fileiras de bancos e um
DVD player com fones de ouvido no fundo.
Poderíamos chamá-lo “Mimi Móvel”.
Eu sei que algumas mulheres olham para o período
do entardecer como a fase da vida para comprar um
carro esportivo bem bacana e uma casa em um
pequeno condomínio para viver com estilo e
privacidade pelo resto da vida. Mas, para mim, não
é assim — pelo menos, não ainda. As alegrias que
experimentei como avó são maiores do que consigo
descrever.
Tristeza e angústia

De acordo com uma pesquisa realizada pela


Associação Americana de Aposentados, entre as
vovós que nasceram entre o fim da Segunda Guerra
Mundial e a década de 1960, cerca de 78% veem
seus netos entre uma vez por semana e uma vez por
mês.2 Mas eu sei que, para muitas mulheres, há
muita tristeza em relação a isso. Tenho consciência
de que existem muitas mulheres que raramente veem
seus netos. Às vezes, é porque vivem em lugares
diferentes do país. Em outros casos, é por causa de
problemas de relacionamento com os filhos. Eu só
posso imaginar como seria a angústia de
acompanhar o nascimento de um novo neto que
você sabe que dificilmente poderá segurar no colo.
Também sei que existem muitas mulheres com filhos
adultos que têm uma vida que traz angústia e
vergonha para elas, gerando preocupação em relação
à saúde e à segurança de seus pequenos preciosos.
A seguir, você encontrará algumas histórias escritas
por duas amigas em idade madura. Kathie, uma
querida irmã cujas dificuldades com sua filha e seus
netos tocaram meu coração, escreveu a primeira. A
segunda, escrita por Juliette, me toca profundamente
sobre o sacrifício e a disposição de uma avó ser mãe
para seus netos. Que as histórias dessas mulheres
encorajem você e abram seus olhos para uma nova
perspectiva do poder de Deus!
A História de Kathie
Nosso primeiro neto, Andrew, nasceu há 14 anos
de nossa segunda filha. Na ocasião, a mãe de
Andrew, Anne, tinha 18 anos e era solteira. Eu acho
que nenhum pai ou mãe está pronto para ouvir da
filha solteira que está grávida. Mas nosso Deus é
muito bom. No instante em que Anne me contou
que estava grávida, o Senhor me acalmou e me deu
segurança.
Anne e Andrew viveram conosco até Andrew
completar cinco meses. Foi então que Anne decidiu
que queria se mudar para a casa do namorado e
entregar Andrew para a adoção. Meu marido, Ted, e
eu sabíamos que Deus havia colocado Andrew em
nossa família. Nós, então, dissemos para a Anne que
não podíamos impedi-la de sair de casa, mas que
não permitiríamos que Andrew fosse entregue em
adoção.
Nos anos seguintes, Anne entrava e saía da vida de
Andrew com bastante frequência. Eu orava ao
Senhor sobre nosso relacionamento com Anne e
sobre a situação de Andrew, mas eu estava tão certa
de que entendia o melhor a ser feito que tentava
consertar e controlar tudo. E, com frequência, eu
deixava meus fardos aos pés da cruz para, logo em
seguida, pegá-los de volta.
Quando Andrew completou quatro anos, Anne se
casou e teve uma menina com o marido. Alguns
anos depois, Anne perguntou se nós deixaríamos
Andrew morar com eles. Em meio a tudo isso, eu
tinha certeza absoluta de que ninguém seria capaz de
amar Andrew tanto quanto eu. Certamente, ninguém
seria capaz de protegê-lo como eu. Mas, quando
Andrew tinha oito anos, o Senhor me convenceu de
que eu precisava deixá-lo ir. Quando ele partiu,
fiquei inconsolável, mas João 3.16 sempre me vinha
à mente. Ver Andrew sair de casa não era nada em
comparação a Deus entregar seu Filho para morrer
na cruz. E eu estava certa de que Deus, através de
sua Palavra, nunca me deixaria ou abandonaria.
Desde aquele tempo, Ted e eu fomos abençoados
com seis netos. Atualmente, Anne tem quatro filhos.
Seu namorado é pai de suas duas meninas mais
novas. Ele é abusivo — verbal e fisicamente — e
vive entrando e saindo de suas vidas. Nós temos
certeza de que Anne e seu namorado usam drogas.
A bondade de Deus em minha dificuldade
Quando reflito sobre a maneira como aprendi a
lidar com a realidade de meus netos serem criados
por pais que não estão no caminho do Senhor, sou
inundada por lembranças de Deus operando no meu
coração. Ele usava sua Palavra, o conselho de
amigos cristãos, livros sobre seu caráter, grupos de
estudos bíblicos e a pregação de sua Palavra.
Na época em que Anne não nos permitia ver ou
conversar ao telefone com Andrew ou com Ellie,
nossa neta, fiquei arrasada. Eu queria resgatá-los ou
revidar. Eu queria assumir o controle da situação e
me vingar. Uma amiga cristã me disse que Deus
amava meus netos mais do que eu. À luz dessa
verdade, voltei-me para Mateus 10.29-31, passagem
em que Jesus ensina que até mesmo a queda de um
passarinho é controlada pela vontade de Deus e que
nosso Pai celestial conhece até mesmo a quantidade
de fios de cabelo em nossa cabeça. Por volta da
mesma época, eu estava lendo When God Weeps, de
Joni Eareckson Tada e Steven Estes.3 Nesse livro, os
autores falam sobre crianças que foram criadas em
circunstâncias terríveis. Mas, embora Deus chore
por causa da depravação que leva a essas
circunstâncias, também pode usá-las para construir
um relacionamento amoroso com ele. Essas
verdades foram encorajadoras nesse período de
trevas em minha vida.
Nessa época, eu estava conversando com Barbara,
outra amiga, sobre algumas atitudes de nossos filhos
adultos e sobre como essas atitudes costumam afetar
nossos netos. Barb fez o seguinte comentário: “Nós
precisamos apenas amá-los”. Inicialmente, achei que
ela estava sendo clichê e que não estava levando o
assunto muito a sério, mas, depois de orar sobre o
assunto, percebi que o que ela estava me dizendo
era a verdade de Deus. Depois de orar para Deus
me dar graça para amar minha filha, ele não
somente amoleceu meu coração, como também me
deu a oportunidade de demonstrar meu amor por
ela.
Mais tarde, em um grupo de estudos bíblicos,
compreendi Jeremias 17.9: “Enganoso é o coração,
mais do que todas as coisas, e desesperadamente
corrupto; quem o conhecerá?” à luz do meu
contexto. Ainda que meu coração me diga o que é
melhor para meus netos, eu não posso confiar nesse
sentimento. Somente Deus sabe o que é melhor para
eles e eu posso confiar nele. Desde então, aprendi
que, quando estou disposta a abrir mão do desejo de
controlar a situação dos meus netos, ele é fiel e me
abençoa com uma sensação de paz e contentamento.
Também passei a perceber que, embora eu me
preocupasse com a salvação de meus netos em um
sentido terreno, o que realmente importa é a
salvação eterna deles. E somente Cristo pode fazer
isso. Isso me convenceu a ser mais diligente em
minhas orações por meus filhos, não somente por
Anne, mas por todos os meus filhos e netos.
O Senhor também usou meu pastor para falar a
verdade ao meu coração. Quando ele estava
expondo o Livro de Romanos, redescobri Romanos
8.28. Essa era a promessa pessoal de Deus para
mim! Ele está operando todas as coisas para o meu
bem e para a glória dele, que é o mais importante.
Oro para que ele seja glorificado na minha vida, na
vida de meus filhos e na vida de meus netos.
*
Ser mãe para seus netos
Há alguns anos, conheci uma mulher com a minha
idade que tinha a guarda dos dois filhos de sua filha.
Um tinha dois anos de idade e o outro, quatro.
Enquanto eu ouvia sua história e a alegria com que
repetia a experiência de ser mãe, eu me senti
encorajada — mas também refleti sobre a extensão
desse problema. Segundo o censo de 2000, há 5,5
milhões de avós que moram na mesma casa que
seus netos. Desse número, pouco menos da metade
(2.352.724) tem a responsabilidade de criá-los e
sustentá-los.4 Em 1997, havia quase 4 milhões de
crianças sendo criadas por seus avós, um número
que aumentou 76% desde 1970.
Ninguém com alguma consciência das tendências
culturais dos Estados Unidos deve surpreender-se
com esses números. Embora algumas crianças vivam
com seus avós por causa da morte dos pais, a
maioria é por causa do abuso de drogas, porque a
mãe engravidou na adolescência, porque os pais
foram presos ou em virtude de violência doméstica.
Se você ou alguém que você conhece se encontra
em uma situação assim, talvez a história a seguir
sirva de encorajamento.
A história de Juliette:
filhos ou netos?
Há quatro anos, o Senhor nos deu duas crianças.
Quando eles tinham 25 e 19 meses,
respectivamente, foram resgatados por Deus do
mundo sombrio das drogas, do álcool e das brigas
entre os pais. A partir do dia em que chegaram à
nossa casa, nossa vida mudou para sempre. Não
houve aviso prévio, não houve conversas entre nós e
os pais. E, embora eu consiga enxergar que Deus já
estava nos preparando para esse grandioso momento
muito antes de acontecer, nunca poderia imaginar
que esse seria meu papel aos 55 anos, depois de
criar meus próprios cinco filhos, todos com mais de
30 anos. Bem, foi isso que aconteceu e, desde
então, temos sido abençoados. Desde o primeiro
instante, o Senhor derramou sua graça e
misericórdia sobre nossa família e, rapidamente, nos
fez entender que seria uma longa jornada.
Meu marido e eu aprendemos muitas lições ao
longo do caminho — somente pela graça de Deus
— que foram uma importante fonte de
encorajamento diário. Desde o princípio, era
evidente que Jeremy e Jeannie não tinham estrutura.
Então, a primeira coisa que fizemos foi começar a
nos programar para realizar atividades todos os dias
no mesmo horário — em alguns casos, de hora em
hora, todos os dias —, dedicando-nos inteiramente a
eles. Tocando neles, falando com eles, dando banho,
colocando para dormir e, principalmente, praticando
atividades ao ar livre (o que é muito importante para
crianças que raramente veem a luz do dia), fazendo
compras, lendo, segurando-os no colo — todas
essas coisas tornaram-se práticas habituais e
reconfortantes para as crianças e eles conseguiram
adaptar-se. Até hoje, eles dependem dessa certeza
que nós damos — e os coraçõezinhos deles parecem
cheios de contentamento.
Inicialmente, lidar com seus pais foi muito difícil.
Eles presumiam que poderiam simplesmente deixar
as drogas, pegar seus filhos de volta e tudo estaria
bem. Mas as coisas não são bem assim. Percebemos
que era essencial assegurar a tutela das crianças
quando soubemos que a mãe estava planejando
deixar a cidade e levar os filhos. Assegurar a tutela
foi um importante passo para a segurança e o futuro
das crianças. Não importava quanto tempo elas
ficassem conosco, não podíamos pensar que isso
seria algo temporário. Conseguir a tutela de uma
criança pode custar caro, como foi para nós, em
termos de finanças e de relacionamento com a mãe e
o pai de nascimento. Mas, em longo prazo, obtemos
direitos parentais e a liberdade para criar nossos
filhos da maneira como julgamos melhor.
Então, quem somos nós para as crianças... pais ou
avós? Nós acreditávamos que era melhor sermos
realmente honestos com as crianças a respeito de
tudo. Ensinamos que um pai e uma mãe não eram
necessariamente os pais naturais. Eles nos veem
como pais, nos chamam de “vó” e “vô”, e sabem
que têm pais naturais. Agora eles sabem o papel que
têm na família e isso é o que os deixa felizes. Nós
preservamos o diálogo com os pais naturais (e até
mesmo com os outros avós) para que as crianças
vejam como se encaixam na família como um todo.
Esse diálogo é importante (eles veem as crianças
cerca de duas vezes por ano) para que, quando
entrarem na adolescência e tiverem mais perguntas a
fazer sobre a razão de não morarem com os pais,
eles poderem contar com um ponto de referência.
Deus é muito sábio. Ele usa a vida de seus pais
como testemunho de sua maravilhosa promessa
pactual — bênçãos para a obediência e maldições
para a desobediência. Nossos netos estão
aprendendo essas importantes lições até hoje.
Algo que não foi muito bom nos últimos anos foi
nosso relacionamento com os outros cinco netos.
Alguns são mais velhos do que nossos pequeninos.
Por causa desse problema, frequentemente tentamos
reunir toda a tribo. Estamos tentando encontrar
certo equilíbrio entre o fato de que precisamos agir
como pais em relação às nossas crianças e como
avós em relação às outras. Às vezes, é difícil separar
as duas coisas, e eu sei que os outros querem passar
mais tempo conosco nos termos deles. Nós tentamos
nos organizar para passar algum tempo sozinhos
com eles, mas esse tempo nunca é realmente
suficiente.
O preparo físico é outro componente essencial para
a criação de netos. Estou falando sobre os avós e
sobre nossas crianças. Nós nos esforçamos para
manter a saúde e a forma física. Desejamos
permanecer ativos, para que eles não fiquem com
medo de que estejamos “velhos demais” para cuidar
deles. E os incluímos em todas as nossas atividades.
Parece que o que mais os deixa felizes são os
momentos em que exploramos as atividades ao ar
livre e praticamos nossos esportes favoritos.
Ah, a grande alegria de voltar a morar com
crianças! Com essa idade, dispomos dos recursos, da
sabedoria dada por Deus e de paciência — tudo que
realmente faltava quando criei meus cinco filhos. E
tomamos muito cuidado para nos proteger de
pensamentos de ressentimento que possam surgir em
nossas mentes. Para nós, seria inaceitável se esses
pequeninos preciosos sofressem por causa de nossas
atitudes pecaminosas. Deus providenciou essa fase
de nossas vidas para criarmos filhos na disciplina e
na admoestação dele.
*
O longo braço da avó
Lembro-me de um tempo em que nosso filho mais
novo, Joel, estava pensando em colocar um brinco.
Phil e eu não queríamos que ele fizesse isso, mas
não achávamos que seria pecado se ele fizesse.
Então, explicamos quais eram as nossas
preocupações e permitimos que ele tomasse a
decisão. Não muito tempo depois, ele voltou e disse:
“Decidi que não vou colocar brinco”. (Nós
suspiramos aliviados.) “Afinal”, disse ele, “como eu
iria explicar isso à vovó?”. Nosso filho estava
sentindo a influência da avó e não é estranho que
isso aconteça; aliás, nós temos um exemplo bíblico
do braço longo da avó.
Havia um jovem que tinha um pai incrédulo, mas
uma mãe e uma avó que eram crentes. Deus usou a
fé delas como um meio de trazer salvação para esse
jovem. Quem é esse jovem? Timóteo, o discípulo do
apóstolo Paulo. Lembre-se do que Paulo escreveu a
Timóteo: “pela recordação que guardo de tua fé sem
fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou
em tua avó Loide e em tua mãe Eunice, e estou
certo de que também, em ti” (2Tm 1.5).
Imagino que a avó de Timóteo, Loide, era uma
mulher preocupada com o bem-estar de seu querido
neto. Ele era um jovem tímido e reservado que
queria seguir as leis de Jeová, mas seu pai não
permitia que ele fosse circuncidado. Sem dúvida,
Loide se perguntava: O que acontecerá com essa
fé? Mas Deus tinha um plano para Timóteo e foi
capaz de salvá-lo, mesmo tendo um pai incrédulo.
Você e eu podemos ter certeza de que Deus pode
nos usar para levar nossos netos para si mesmo ou
pode usar outro ministro do evangelho. Mas você
pode descansar sabendo que o Senhor está no
controle da situação e que ele ouve as súplicas que
nascem no coração de uma avó.
Parece que as crianças são naturalmente atraídas
pelo amor sem limites que flui da avó, não é? Com
frequência, reflito sobre o fato de que não há mais
ninguém no mundo que fique pulando de alegria
quando me vê chegando e, em meu coração,
acontece o mesmo quando os vejo chegar! Como
uma virtuosa mulher em idade madura, desejo ser o
tipo de avó que influencia preciosos pequeninos que
tanto ama. Imagino que você também tenha esse
desejo. Com nossos queridos netos, temos uma
grande oportunidade e uma porta aberta. Esses
pequenos sentem o amor e o compromisso que
temos com eles, e eles simplesmente respondem a
isso. São anos preciosos e, seja qual for a
circunstância em que você se encontre, o Senhor
pode usar sua influência para impactar suas almas
eternamente.
Tornando-se uma mulher sábia
1. Como é o relacionamento com seus netos?
2. Você foi diligente em seus esforços para falar do
evangelho com eles e para influenciá-los na direção
de Cristo?
3. Quais responsabilidades você acredita ter?
4. Se você já não faz isso, comece a orar
diariamente pela alma deles. Anote suas
preocupações e suas orações em relação a cada um
deles.
5. Resuma o que você aprendeu neste capítulo em
três ou quatro frases.

1 Bible Dictionary, copyright (c) 1994, Biblesoft and International


Bible Translators, Inc.
2 “The Grandparent Study 2002 Report”, um relatório de pesquisa
©AARP, maio de 2002.
3 Joni Eareckson Tada e Steven Estes, When God Weeps (Grand
Rapids, MI: Zondervan, 2000).
4 Estimativas do U.S. Census Bureau, censo do ano 2000.
7• Quando os Filhos Voltam para
Casa
Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele.
(Pv 22.6)

A história de Vickie
Enquanto eu estava sentada no aeroporto,
esperando a chamada para o embarque, estava
dividida entre a alegria e a tristeza. Nossa filha mais
velha, Melissa, estava prestes a se mudar por causa
da faculdade. Todo pai e toda mãe sonham,
planejam e esperam ansiosamente por esse triste dia,
desde o primeiro dia em que aquela adorável criança
salta em seus corações. Todo pai e toda mãe
também têm receio desse dia, o dia em que aquele
pequeno ser está supostamente pronto para sair para
o mundo sozinho.
A faculdade que nossa filha frequentaria ficava no
sudeste do país, do lado oposto de San Diego, local
onde ela havia morado a vida inteira. Enquanto eu
estava lá sentada, dividida entre a alegria e a
empolgação pelo fato de nossa primeira filha estar
indo para a faculdade e a tristeza desoladora pelo
fato de ela estar deixando nossa aconchegante
unidade familiar, comecei a chorar. Enquanto os
inevitáveis rios de lágrimas começaram a escorrer
pelo meu rosto, outra filha se aproximou de mim
para me consolar. Ela colocou seu braço em meu
ombro e, com grande compaixão, inclinou-se e
disse: “Não se preocupe, mãe. Eu nunca vou deixar
você”. Imediatamente, fui sacudida de minha poça
de autocomiseração, movida pela ternura e a
compaixão que minha filha estava me mostrando.
Eu estava consolada, mas o absurdo dessa
declaração fez meu coração sorrir! Enquanto eu
olhava para ela, nós sorrimos juntas. Eu ri, dei um
abraço nela e respondi: “É claro que você vai — e é
o que deve fazer. O fato é que as mães ficam tristes
quando os filhos vão embora”.
Mesmo que isso não seja verdadeiro para todos os
pais, especialmente se você teve um relacionamento
difícil com seu filho, é normal sentir algum grau de
tristeza quando seu filho se torna adulto e vai
embora. Por que isso acontece?
Permita-me apresentar-me. Sou a Vickie e, ao
longo de toda a minha vida adulta, eu pensava em
mim mesma como Vickie, a mãe de três filhas
adoráveis. Agora, que as três são adultas, seguiram o
próprio caminho. O que a Bíblia diz sobre filhos que
saem de casa?
Como você já leu em capítulos anteriores, Deus
claramente declara que faz parte de seu plano que o
filho deixe o pai e a mãe para se unir à sua mulher
(Gn 2.24). Além dessa passagem, quais outras
passagens das Escrituras podem nos ensinar?
Um de meus versículos favoritos da Bíblia sobre a
criação de filhos é Provérbios 22.6: “Ensina a
criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele”. À medida
que nossas filhas cresciam, frequentemente
conversávamos sobre esse versículo, focando na
parte do ensino. Falávamos sobre as razões da
disciplina para ensiná-las no caminho correto. Mas
agora, que as três são adultas, essa passagem me
transmite uma verdade diferente. Agora, minha
ênfase é na parte do verso que diz, “no caminho em
que deve andar”. Dei-me conta de que, embora eu
tivesse a responsabilidade de ensinar a elas o
caminho em que deveriam andar, esse tempo já
acabou e agora é hora de deixá-las andar sozinhas. É
aqui que os pais frequentemente tropeçam e a
tristeza toma conta deles. Deixar os filhos andar
sozinhos exige mudança e, como somos criaturas
ligadas ao hábito, as mudanças provocam
desconforto. Nós tropeçamos por preocupação e
medo quando nos esquecemos de depositar nossa
confiança em Deus à medida que esse
relacionamento entre pais e filhos vai evoluindo para
o próximo nível: uma comunhão entre pais e filhos
adultos. Mas, embora essa mudança seja difícil, não
é o que deve acontecer naturalmente? Nós também
podemos nos regozijar pelo fato de Deus nos ter
ajudado a fazer nosso trabalho de ensinar aos nossos
filhos o caminho no qual devem andar — caminho
que também é o caminho de Deus. Isso faz com que
nossos filhos sejam não somente nossos filhos, mas
também nossos irmãos e irmãs no Senhor.
Idas e vindas em nossa pequena casa
Esse foi o fundamento lançado em nosso lar antes
de nossa filha ir para a faculdade. Durante os
estudos da Melissa, regularmente conversávamos
pelo telefone e ela voltava para nos visitar nos
feriados. Enquanto Melissa estava fora de casa,
nossa segunda filha, Christa, continuou morando
conosco enquanto frequentava uma faculdade
bíblica. No ano em que Melissa obteve seu
bacharelado, nossa filha mais nova, Jessica,
terminou o ensino médio. E, assim como sua irmã,
ela escolheu continuar morando conosco e
frequentar uma faculdade bíblica. Depois de se
formar, Melissa não tinha certeza sobre o que queria
fazer, então decidiu voltar para casa. Eu pensei:
Ótimo! Nossa aconchegante unidade familiar será
retomada. Será?
As meninas eram todas adultas e, por mais felizes
que estivéssemos quando elas escolheram morar
conosco, tivemos de aprender a conviver em uma
casa cheia de adultos. Como era esperado, a
mudança foi lenta e difícil em nossa casa. Além de
ter de aprender a lidar com filhas adultas, nossas
vidas tornaram-se mais complicadas porque minha
mãe também morava conosco e ela sofria de
Alzheimer. Na época em que Melissa voltou para
casa, minha mãe estava completamente inválida. E
sempre serei grata às meninas porque elas
escolheram ficar em casa e ajudar a cuidar da avó.
Cuidar da minha mãe passou a ser o foco da família
e, embora fosse uma atividade estressante, todos
tinham uma agenda suficientemente flexível para
que sempre houvesse alguém em casa com ela. Pela
graça de Deus e pela disposição de minha família
servir a Deus ao cuidar de minha mãe, fomos
capazes de passar por aqueles momentos que
desafiaram nossa fé. Foi somente depois da morte
de minha mãe que meu marido e eu começamos a
sentir os efeitos negativos de nossas filhas, como
mulheres adultas, tentando abrir as asas.
Para nós, parecia que fora do dia para a noite que
Jessica, nossa filha mais nova, conhecera o homem
com quem iria se casar; Melissa, nossa filha mais
velha, passou a focar na carreira; e Christa, nossa
filha do meio, começou a se perguntar sobre o rumo
de sua vida quando estava terminando o último ano
na faculdade bíblica. Parecia que todas estavam
deixando o ninho ao mesmo tempo. Pelo menos era
assim que meu marido e eu pensávamos.
Mas agora sou uma adulta!
Lá estávamos nós, uma família feliz com três filhas
adultas, todos vivendo debaixo do mesmo teto. Até
então, nossa vida tinha sido relativamente fácil, mas
agora, com cada filha focando seus objetivos
pessoais, as coisas começaram a ficar difíceis. Suas
vidas estavam cada vez mais agitadas. Todas tinham
um emprego, duas ainda estavam na faculdade e a
vida social delas estava ficando cada vez mais
animada. Elas simplesmente não estavam passando
tanto tempo em casa quanto antes. E foi isso que
nos colocou em uma estrada ainda mais difícil — ou
será que foi difícil especificamente para mim? Como
outras mães, eu administrava a casa. Eu conhecia
todos os detalhes da agenda de todo mundo para
poder manter tudo em ordem. As meninas deixaram
de ver esse tipo de supervisão como algo útil. Aliás,
elas passaram a achar invasivo e desnecessário.
Compreendendo o caminho que eles devem
seguir
A primeira grande mudança que meu marido e eu
tivemos de aceitar foi entender que agora as meninas
tinham sua própria vida. Você lembra o versículo de
Provérbios: “Ensina a criança no caminho em que
deve andar, e, ainda quando for velho, não se
desviará dele”? Descobrimos que nossas filhas
estavam tentando seguir o próprio caminho. Como
pais, procuramos ser obedientes ao Senhor e à sua
Palavra enquanto criávamos nossas filhas. Mas
agora tínhamos de ser obedientes a ele de outra
forma: tínhamos de demonstrar fé em Deus e
confiar nele a ponto de sairmos do caminho para
que nossas filhas pudessem fazer o que haviam sido
ensinadas a fazer. Precisávamos deixá-las seguir no
caminho que elas deveriam seguir. Mas, para nós,
era mais fácil falar do que fazer. Foi nessa época
que um de meus versículos favoritos tornou-se ainda
mais especial para mim. Provérbios 3.5-6 diz:
“Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te
estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o
em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas
veredas” (Pv 3.5-6).
Quando insistíamos em obstruir o caminho depois
que nossas filhas já estavam prontas para seguir em
frente, evidenciávamos nossa falta de fé em Deus e
podíamos até ter levado nossas meninas a tropeçar e
cair na tentação do pecado. Se verdadeiramente
estamos tentando viver segundo as diretrizes de
Deus, precisamos nos dirigir ao lugar em que
oramos: Somos gratos, Deus, pelo presente que tu
nos deste através de nossas filhas. Eu agora as
devolvo a ti e confio que tua vontade se realizará
na vida delas.
Quando oramos assim, nossa intenção não é dizer
que elas já tenham estado fora das mãos de Deus ou
que a vontade de Deus, de alguma forma, não
estava se realizando em suas vidas, mas, sim, que,
como pais, tínhamos nos esquecido disso e que esse
lapso estava tornando as coisas mais difíceis.
Em Gênesis 22, podemos ver que a fé é necessária
para obedecer a Deus em meio à dor. Abraão, o pai
de nossa fé, foi provado de uma maneira muito mais
difícil. Deus disse a Abraão: “Toma teu filho, teu
único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de
Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos
montes, que eu te mostrarei” (Gn 22.2).
Deus mandou que Abraão tomasse Isaque, seu
filho, o presente que ele, milagrosamente, recebera
de Deus, e o sacrificasse em holocausto! Embora
não possamos imaginar a aflição que Abraão sentiu
por causa disso, acredito que ele não tenha tido uma
noite muito boa de sono. A Escritura diz que ele foi
obediente a ponto de colocar seu querido filho sobre
o altar e levantar o cutelo para imolá-lo, até que
Deus interveio e providenciou uma saída. Essa é a
verdadeira fé! Esse é o tipo de fé que, como pais,
devemos ter. Mesmo que as circunstâncias não
pareçam ser o que queremos para nossos filhos,
somos chamados a confiar que Deus providenciará
uma saída.
Quanto mais nossas meninas amadureciam, menos
gostavam que eu soubesse tudo sobre a agenda
delas. Agora somos adultas e não queremos que
você diga o que temos de fazer. Precisamos tomar
nossas próprias decisões. Para mim e para meu
marido, esse foi um grande desafio. Quais devem
ser os limites? Nós tínhamos o direito de determinar
um horário máximo para que elas chegassem em
casa? Deveríamos esperar que elas nos contassem
seus planos? Era apropriado exigir que elas
ajudassem com os afazeres domésticos? E quanto ao
dinheiro? Deveríamos continuar ajudando ou elas
deveriam pagar um aluguel?
As dificuldades de morar com filhos adultos
Para encontrar respostas a cada uma dessas
perguntas, perseverávamos em oração enquanto
analisávamos cada situação que surgia no dia a dia.
A primeira situação foi quando Jessica iniciou um
relacionamento sério com o jovem que agora é o
marido dela. Para nós, esse era um território novo e
foi especialmente difícil para Cliff, meu marido. Ele
ficou um pouco chocado com a ideia de que uma de
suas filhas estava pensando em se casar.
Na época, Jessica tinha somente 19 anos e seu
namorado, Zack, tinha apenas 20. Nós tínhamos
receio porque ele era muito jovem e o
relacionamento parecia estar em alta velocidade,
então Cliff decidiu se envolver. Como os dois
frequentavam a faculdade bíblica, estudando para
algum dia exercer o ministério em tempo integral, e
ambos eram líderes no grupo de jovens de nossa
igreja, Cliff estabeleceu alguns limites claros e
elevou o nível das exigências. Ele disse que o
relacionamento deles precisava ser irrepreensível,
pois, como líder dos jovens, eles deveriam servir de
exemplo de como os relacionamentos piedosos
devem ser (1Tm 3.2). Os conselhos eram
fundamentados na Bíblia e procediam do coração de
um pai amoroso que queria o melhor para sua
amada filha e para seu possível futuro genro. Mas,
quando você é tão jovem e tão apaixonado, não é
fácil seguir as regras, mesmo quando realmente ama
o Senhor (Hb 12:11). E foi o que aconteceu com a
Jessica. Ela ficou ressentida com a interferência
paterna, achou que o pai estava sendo muito
controlador e pegando pesado demais. Ela insistiu
que já era adulta e que deveria tomar as próprias
decisões. Nem é preciso dizer que foi uma fase
muito difícil para todos nós. Parecia que nossa
família estava constantemente em estado de
desordem.
O ressentimento que Jessica e Zack sentiram
parecia estar crescendo enquanto, no mesmo
período, nossas outras filhas estavam passando por
suas próprias mudanças de vida. Ambas tinham
novos empregos e todos tinham uma agenda
diferente. Não conseguíamos comer juntos,
dificilmente estávamos em casa no mesmo horário e
a ideia de que a irmã mais nova estava prestes a se
casar e a sair de casa era difícil. Nessa época, se eu
pedisse a qualquer uma delas para ajudar nos
afazeres domésticos, era praticamente certo que
respondessem com uma atitude impiedosa ou com
uma discussão. Eu me perguntava: O que aconteceu
com nossa pequena família feliz? Eu não sabia mais
o que fazer. Eu precisava de alívio, então, em
oração, clamei ao Senhor. Ele providenciou uma
saída, o que aconteceu na forma de uma ligação do
Brasil.
Por muitos anos, trabalhei com estudantes
estrangeiros, e nossa família já hospedou estudantes
do mundo inteiro. Enquanto eu orava, uma
estudante do Brasil ligou para dizer que estava com
saudades de nós e perguntou: “Quando a Jessica vai
vir nos visitar?”.
Melissa tinha viajado ao Japão por quatro meses
para visitar alguns amigos quando terminou o ensino
médio, enquanto Christa já tinha viajado para o
Japão e o Brasil. Nós tínhamos prometido a Jessica
que ela faria uma viagem para o Brasil quando
terminasse o ensino médio, mas a doença de minha
mãe impediu que isso acontecesse. Jessica era a
única de nossa família que não tinha viajado para o
exterior, algo que acreditamos ser importante, para
nos ajudar a apreciar todas as bênçãos dadas por
Deus. Então, meu marido e eu nos sentamos com
Jessica e oferecemos uma viagem para o Brasil. Na
ocasião, explicamos que, como ela estava prestes a
se casar em breve, sentíamos que era importante que
ela tivesse essa experiência enquanto ainda era
possível. Ela concordou e Melissa sugeriu
acompanhá-la, como uma última aventura das irmãs
antes do casamento de Jessica.
Mas, embora as duas meninas estivessem
animadas, Zack não gostou da ideia. Ele ficou com
raiva por mandarmos Jessica para longe. Sua raiva
se mostrava na maneira como ele nos tratava. Então,
agendamos uma conversa com nosso pastor. Cliff
disse para o pastor que havia percebido algumas
atitudes em Zack e na Jessica que demostravam que
o relacionamento deles não estava indo na direção
correta. Cliff não achava que seria capaz de dar sua
bênção para que o relacionamento continuasse,
muito menos para que o casamento acontecesse.
Nosso pastor aceitou conversar com Zack. E, em
sua bondade, Deus usou essa conversa para mudar o
coração de Zack. Foi um momento crucial da vida
dele e suas atitudes mudaram tanto enquanto Jessica
estava viajando que não conseguíamos nem mesmo
acreditar. Deus também usou aquele momento para
nos transformar. Nós passamos a enxergar que
nossas filhas já eram adultas e, embora nunca
fôssemos deixar de ser seus pais, a maneira de lidar
com elas precisava mudar. Então, estabelecemos
algumas diretrizes para ajudar a casa a funcionar
com mais tranquilidade.
Nossas diretrizes
Primeiro, lembramos as meninas de que, embora
nossa maneira de nos relacionar estivesse mudando,
continuávamos a ser seus pais. Desse modo, o
mandamento de Deus “Honra a teu pai e a tua mãe”
(Dt 5.16; Ef 6.2) continuava a valer para elas. Esse
mandamento de Deus encontra-se no Antigo e no
Novo Testamento, o que mostra quanto ele
considera importante. Como pais, acreditamos que
essa passagem pressupõe a obediência, mas que é
muito mais profunda do que isso. Ela fala da
maneira como os filhos devem tratar seus pais,
sendo respeitosos e honrando-os pela maneira como
vivem. Dissemos às nossas filhas que elas poderiam
morar em nossa casa pelo tempo que quisessem,
mas que, embora o lar fosse delas, a casa era nossa.
Esperávamos que elas respeitassem isso e a nós.
Em segundo lugar, decidimos que agora, que elas
já eram adultas, não haveria mais almoço grátis.
Como todas tinham um emprego, deveriam
contribuir com as despesas da casa. Como pais,
sentimos que isso ajudaria a torná-las mais
responsáveis, então estabelecemos uma quantia justa
que cada uma teria de pagar por mês pela
hospedagem e a alimentação que recebiam.
As duas questões mais delicadas que tivemos de
resolver foram: 1) elas tinham de nos informar sobre
seus horários; 2) elas tinham de nos ajudar com as
tarefas domésticas. Então, lidamos com as questões
de chegada e saída à luz do princípio da cortesia.
Mateus 7.12 diz: “Tudo quanto, pois, quereis que os
homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles;
porque esta é a Lei e os Profetas”.
Nós estávamos simplesmente pedindo que as
meninas nos tratassem da maneira como queriam ser
tratadas. A necessidade de nos informar sobre os
horários continuou sendo uma questão delicada até
que algo específico aconteceu. Depois da igreja, eu
parei para visitar uma amiga. Como fiquei lá por
mais tempo do que pretendia e ninguém sabia onde
eu estava, quando entrei pela porta, as duas irmãs se
jogaram aos meus pés e exigiram uma resposta:
“Onde você estava?”. E, embora eu não tenha
aproveitado a situação para chamar a atenção para o
óbvio, simplesmente me desculpei por não ligar para
dizer onde estava. Agora parece que não há mais um
problema tão grande de comunicação. Acho que
todas nós aprendemos com esse incidente, pois elas
passaram e me informar seus planos com mais
frequência e eu passei a indagar menos e a ficar
menos ansiosa por causa disso.
Ajudar com as tarefas domésticas é algo que ainda
precisa ser trabalhado. Cada uma lava as próprias
roupas e nós estamos aprendendo a lidar com as
tarefas da cozinha à medida que vamos aprendendo
a servir umas às outras.
Nossos novos papéis
Como pais de filhos adultos, nós crescemos e
aprendemos que nossos papéis não são os mesmos
que antes. Não temos mais a responsabilidade de
“ensinar a criança no caminho em que deve andar”
— essa parte do relacionamento acabou. Agora,
nosso papel consiste em sermos solidários e dar
incentivo, assim como nosso Pai celestial não lida
severamente conosco, mas espera pacientemente o
fruto do Espírito nascer em nossas vidas.
Enquanto escrevo este livro, Zack e Jessica já se
casaram, moram sozinhos há quatro anos e,
recentemente, tornaram-se pais. Nossas duas outras
filhas escolheram caminhos diferentes, e decidiram
morar aqui conosco. Cada uma tem o próprio
motivo para ficar, mas nenhuma delas pretende ficar
conosco indefinidamente. Nós aprendemos a deixá-
las viver suas vidas. Quando elas sentem que
precisam de nós, convidam-nos para entrar.
Costumamos nos dar muito bem e apreciamos a
companhia recíproca. Uma das meninas me
presenteou com um cartão que expressa nossa
relação da melhor forma possível:
Às vezes, preciso de uma mãe,
Às vezes, preciso de uma amiga,
Eu sempre preciso de você,
Tenha um dia feliz, mãe.
Nós somos uma família e precisamos uns dos outros.
*
Como mãe de três filhos adultos e mãe temporária
de um sobrinho (todos já saíram de casa e voltaram
em algum momento), realmente gostei da história da
Vickie. Eu sei que, para muitas famílias, a volta dos
filhos gera muitas provações, mas as coisas
costumam acabar bem. Mas e quanto às mulheres
que ficam apreensivas diante da possibilidade de o
filho ou a filha pedir para voltar a morar com a
família? Como mulheres virtuosas no entardecer da
vida devem lidar com o telefonema de um filho
problemático que já quebrou seu coração antes?
Hospitalidade sem arrependimento
Ao longo deste livro, tentei enfatizar que o lar é,
primariamente, a residência do esposo e da esposa (e
não da esposa e dos filhos), e que essa compreensão
deve aumentar quando os filhos se tornam adultos.
Estou repetindo isso porque parece que as mães têm
uma tendência maior a autorizar que seus filhos
problemáticos voltem para casa, na esperança de
aparar arestas no relacionamento que existem há
anos, sem pensar muito nas implicações dessa
decisão. Portanto, uma mulher sábia precisa ter uma
longa conversa com o marido (ou com os líderes da
igreja, caso ela seja solteira) antes de permitir que
seu queridinho volte para casa. Uma perspectiva
mais objetiva ajudará você a tomar decisões mais
sensatas, protegendo-a de mágoas futuras. O
conselho que você deve receber antes de permitir o
retorno de seu filho pródigo inclui o estabelecimento
de algumas regras básicas, talvez até mesmo na
forma de um contrato escrito, à luz das seguintes
considerações:
Qual é o propósito desse arranjo provisório? Seu
filho está terminando os estudos, mudando de
carreira, divorciando-se ou seu cônjuge faleceu?
Quanto tempo isso vai durar? Antes de permitir
que um filho se mude para sua casa, é necessário
estabelecer previamente um período. Por exemplo,
se um filho está terminando os estudos, quanto
tempo os pais devem esperar até que ele se torne
independente? Talvez você tenha um filho com
problemas em relação ao alcoolismo ou ao uso de
drogas e você está disposta a ajudá-lo enquanto ele
frequenta sessões de aconselhamento bíblico e tenta
conseguir um trabalho estável. Seja como for,
independentemente das circunstâncias, seu filho não
deve pressupor que a casa estará disponível por um
tempo indeterminado.
Seu filho vai pagar aluguel ou algum valor
adicional para cobrir as despesas de morar na
casa? Enquanto estou escrevendo este livro, meu
sobrinho, que já morou comigo e com meu marido
em diversas ocasiões, está morando em um trailer
que fica no terreno de nossa casa. Nós o
autorizamos a morar lá sem pagar aluguel por algum
tempo porque ele nos dá todo o dinheiro que recebe
(exceto o que ele precisa para viver) para
guardarmos para ele. Ele está tentando juntar
dinheiro suficiente para se mudar para o norte da
Califórnia. Ele compreende que esse é um arranjo
provisório e que, se ele não guardar a maior parte do
dinheiro que recebe, nosso acordo terá de mudar.
Estou dizendo tudo isso porque acredito que há
momentos em que você pode permitir que um filho
não pague aluguel, mas essa não deve ser a regra.
Também não acho que seja benéfico que um filho
viva à custa dos pais. Pelo contrário, é um
desserviço. Com um filho que já teve problemas no
passado, é essencial determinar exatamente quais
serão os custos, o objetivo e a duração.
Quais serão suas exigências comportamentais?
Como Vickie já enfatizou no início deste capítulo,
suas filhas tinham a obrigação de falar de maneira
respeitosa e de informar à família seus horários. Em
uma decisão sábia, essa seria a exigência mínima.
Em relação a determinar um horário máximo para
que eles cheguem em casa, isso vai depender dos
problemas atuais de seu filho e de sua capacidade de
dormir à noite sem saber a hora que ele vai voltar.
Sem dúvida, também deve haver regras sobre
amigos, barulho e tarefas domésticas.
Quais serão suas exigências espirituais? Nosso
sobrinho sabe que, se ele morar conosco, tem de
frequentar nossa igreja. Como seu emprego estava
em um estado de incerteza quando ele saiu de casa,
nós dissemos a ele que deveria tentar encontrar um
emprego que não exigisse que ele trabalhasse aos
domingos. Nós reconhecemos que às vezes isso não
é possível, mas queríamos que ele soubesse quais
são nossas prioridades. Eu não acho que é demais
exigir que, pelo menos aos domingos, seu filho
frequente a igreja com você. E, se ele não está
disposto a aceitar essa condição, você deve
questionar a viabilidade da mudança. Embora seja
difícil, é melhor que as coisas sejam esclarecidas
com antecedência do que vir a lamentar depois.
O que vocês não vão tolerar de forma alguma?
Estabeleça com antecedência, desde o início, o tipo
de comportamento que levaria seu filho a sair de
casa imediatamente. Um exemplo disso são as
atividades ilegais, como uso de drogas e roubo.
Comportar-se de maneira beligerante ou abusiva,
desrespeitar a autoridade que Deus colocou no lar e
mentir também podem ser motivos para expulsão.
Cada um desses assuntos deve ser debatido antes
de autorizar que eles se mudem para sua casa. Se
necessário, contratos devem ser assinados. Seu filho
precisa saber o que pode esperar de você — o que
você está disposta a suprir — e o que você espera
dele. Não se esqueça: em meio ao desespero para
restabelecer um relacionamento com seu filho
problemático, não se engane pensando que evitar
assuntos difíceis, porém necessários, tornará as
coisas mais fáceis no final.
Uma de minhas maiores alegrias na fase do
entardecer da vida é o relacionamento que tenho
com meus filhos adultos. Em diversas ocasiões,
abrimos nossas portas e permitimos que eles
voltassem e, assim como Vickie, fomos bem-
sucedidos. E quero dizer que os momentos de maior
dificuldade entre nós aconteceram porque não
tivemos clareza desde o princípio acerca de nossas
expectativas. Eu sei que, no passado, já fui tola e
evitei esse tipo de conversa porque esperava que
alguma parte de nosso relacionamento fosse
diferente. Eu preciso lembrar que o Senhor pode
usar a estrutura de nossa casa para consolar e ganhar
meus filhos, e é sábio que você faça o mesmo.
Lembre-se de que Deus ama seus filhos mais do que
você.
Tornando-se uma mulher sábia
1. Anote Provérbios 22.6 em uma folha de papel.
De que maneira Vickie ajudou você a perceber um
significado novo para essa conhecida passagem?
2. Como foi a sua experiência com seus filhos? Em
quais aspectos você consegue identificar-se com a
Vickie? O que você já fez de diferente?
3. Medite acerca de Provérbios 3.5-6: “Confia no
S ENHOR de todo o teu coração e não te estribes no
teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os
teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”. De
que maneira a confiança no Senhor de todo coração
mudaria a maneira como você está atualmente
lidando com seus filhos em casa? De que modo
você pode reconhecer Deus em todos os seus
caminhos? Qual promessa existe para você à medida
que aprende, cada vez mais, a confiar, depender e
reconhecer a Deus?
4. De que maneira a história de Abraão em Gênesis
22 a encoraja? Você consegue perceber a ligação
entre o sacrifício de Abraão e o grande sacrifício do
próprio Filho amado de Deus? De que maneira isso
a encoraja como uma mulher cujo papel de mãe
mudou?
5. Resuma o que você aprendeu neste capítulo em
três ou quatro frases.
8 • Querido Filho Incrédulo, Como
Anseio por Sua Alma
Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus
filhos andam na verdade.
3Jo 1.4
Neste capítulo, Eileen Scipione (a sogra de meu
filho Joel) escreve sobre suas experiências com os
filhos incrédulos. Eileen e seu marido, George, são
pais piedosos que sofreram muito com a atual falta
de fé de dois de seus cinco filhos.
A história de Eileen:
eu fracassei como mãe
Houve um tempo em que eu tinha certeza de que
havia sido uma péssima mãe. Dois de meus cinco
filhos se afastaram dos caminhos do Senhor e,
enquanto estou escrevendo este capítulo, eles
continuam fora dos caminhos. Além disso, tenho
uma filha que passou por muitos problemas ao
longo desses anos, por causa de uma enfermidade
fisiológica, embora atualmente esteja bem melhor.
Por favor, não me interprete mal. Eu louvo a Deus,
com todo o meu coração, pelas três filhas que são
fortes em Jesus Cristo, mas o fato de nosso único
filho homem estar na cadeia e de uma de nossas
filhas estar obcecada para fazer sucesso em
Hollywood foi um grande desafio para a minha fé!
Por muito tempo, eu me perguntei, angustiada:
Afinal, o que aconteceu? Onde foi que eu errei?
Assim como você, eu me esforcei ao máximo para
ser a melhor mãe possível. Meus pais me criaram no
temor e na admoestação do Senhor. Eu achava que,
se amássemos nossos filhos, se vivêssemos Cristo na
frente deles, se os disciplinássemos, se os
levássemos à igreja duas vezes no dia do Senhor e
para a Escola Dominical, se fizéssemos o culto
doméstico com certa regularidade, se praticássemos
o ensino doméstico, se os matriculássemos em uma
escola cristã, se os protegêssemos das más
influências, se lêssemos livros de qualidade junto
com eles, se fizéssemos comida caseira natural, se
lhes déssemos um bom lar, se oferecêssemos
oportunidades para que eles praticassem atividades
esportivas e divertidas, então eles se tornariam
cidadãos produtivos e piedosos. Eu tinha a mais
elevada esperança de que cada um de nossos filhos
entraria para a linha de frente do reino de Cristo na
idade adulta. Mas, neste momento, dois desses
preciosos presentes do Senhor não estão nem
mesmo no campo de batalha.
Nosso filho Paul é um sem-teto, viciado em
maconha e está desempregado desde o ensino
médio. E, desde então, já se passaram onze anos.
Embora, aos nove anos, ele tenha feito uma
confissão pública de sua fé em Cristo, atualmente
alterna entre declarar-se adepto do cristianismo, do
islamismo e do rastafarianismo, dependendo de
quem esteja pagando a comida e o lugar para ele
dormir. Após desperdiçar os muitos talentos atléticos
e intelectuais que recebeu de Deus, ele agora se
considera um pensador profundo e um jogador de
basquete profissional. Depois de ser preso inúmeras
vezes (em geral, por posse de maconha e por violar
a condicional), ele se vê como alguém que sofre nas
mãos de um governo opressor. Um dos fatos mais
dolorosos, contudo, é que eu acredito que ele é uma
pessoa incrivelmente solitária. Desde a infância até
os dias de hoje, ele manteve pouquíssimo vínculo
emocional com as pessoas.
A outra ovelha perdida, nossa filha Nicole, é o
exato oposto de Paul. Aos nove anos, ela também
fez uma confissão pública de sua fé e, na ocasião,
pareceu receber Cristo de todo o seu coração. E não
tínhamos qualquer razão para duvidar dessa
confissão pública de fé até seu último ano na
universidade, quando ela começou a expressar
muitas dúvidas acerca da veracidade das Escrituras.
“Eu simplesmente não consigo acreditar que alguns
dos meus amigos, que por acaso são homossexuais
ou judeus não praticantes, vão para o inferno. Eles
são mais legais do que muitos cristãos que
conheço.” Isso foi há cinco anos e, desde então, ela
não mudou de opinião, embora, vez ou outra,
frequente igrejas liberais e afirme “ter um
relacionamento mais próximo de Deus do que você
poderia imaginar”.
Querida mulher na fase do entardecer da vida,
agora você consegue entender por que eu me via
como uma mãe cristã fracassada. Suponho que
algumas de vocês se sintam assim também. Você
tem momentos de desânimo, depressão e desespero.
Você se pergunta se, algum dia, Deus vai responder
às suas orações e súplicas por seu filho. Mas as
coisas só parecem piorar. Então, sua esperança vai
obscurecendo cada vez mais, até ficar praticamente
invisível. Quando você começa a ver uma luz no fim
do túnel, ela se apaga. Eu nunca vou me esquecer da
alegria que senti quando Paul entrou para o curso de
formação da Marinha e começou a me escrever
cartas falando que se lembrava das lições de sua
infância. Isso só fez com que a dor e a decepção
fossem maiores quando, semanas depois, ele foi
exonerado do Corpo de Fuzileiros Navais por usar
maconha após o curso ter acabado. Parece que teria
sido melhor se eu não tivesse criado expectativa.
Um dos momentos de maior desespero em minha
vida foi quando, aos 17 anos, minha filha Arielle
sumiu por seis dias e ninguém conseguia encontrá-
la. Ela sofria da doença de Lyme, embora, naquele
momento, ainda não tivesse sido diagnosticada.
Somente quem já experimentou algo parecido pode
compreender o pânico que acomete o coração dos
pais. Deus me deu uma imensa paz durante todo o
pesadelo das batalhas de Arielle contra a doença, a
rebeldia e a confusão mental, mas não deixava de
ser horrível para todos nós. Sempre que ela tinha
uma crise (voltando para seu comportamento
violento, automutilante, depois de uma semana de
calmaria), meu coração clamava: Quando, Senhor,
isso chegará ao fim? Nós não conseguimos mais
suportar.
Em uma manhã de domingo, depois da igreja, a
sensação de estar sobrecarregada me atingiu como
um tsunami. Três dos meus cinco filhos estavam
passando por grandes crises espirituais ao mesmo
tempo. E, se não fossem as orações fiéis e o apoio
de minha família biológica, eu sei que teria
enlouquecido. Havia momentos em que eu não
conseguia nem pensar com clareza. Eu me sentia
muito confusa. Em uma tarde de domingo, vinte
pessoas atenderam ao meu convite de se unir a nós
para orar e jejuar em nossa casa. Foi a provisão de
Deus de irmãs e irmãos bíblicos e compassivos que
me manteve sã e em atividade.
Outra experiência desoladora foi a primeira ligação
de Paul da cadeia municipal. Sabendo que nós não
pagaríamos a fiança, parecia que ele queria apenas
ouvir a minha voz. Eu ainda choro quando me
lembro. Às vezes, sonho que ele está me chamando:
“Mãe, mãe!”. Cordeirinhos perdidos são
especialmente difíceis para as mães porque, com
frequência, somos nós a parte mais protetora em
nossos lares. Não estou dizendo que os pais também
não sofram muito, mas eles tendem a ser
emocionalmente menos expressivos.
Acredito que os únicos momentos mais deploráveis
do que esses foram os dias em que Paul e Nicole
foram excomungados de nossa igreja (em uma
ocasião, isso caiu no Dia das Mães). Embora eu e
meu marido tenhamos pedido aos presbíteros da
igreja que não demorassem muito para aplicar essa
disciplina, não deixou de ser uma experiência
humilhante e desoladora para nós. Novamente, o
corpo de Cristo me conduziu ao nosso Pai celestial,
dando-me fé e força para continuar.
O retrato que pintei até aqui é, de fato, muito
sombrio, embora eu conheça histórias piores do que
a minha (mas, em geral, elas não se passam em
famílias com raízes cristãs tão fortes). Quero que
fique muito claro que o que você está passando com
seu filho adulto não é algo incomum.
Deus escolheu uma grande quantidade de seus
santos para sofrer esse tipo de fardo. Eu poderia
elencar muitas famílias piedosas e respeitáveis na
atual geração com filhos rebeldes que passaram
décadas afastados do Senhor. Franklin Graham é o
exemplo mais conhecido. No livro de Tom Bisset,
Why Christian Kids Leave the Faith,1 ele afirma que
90% dos filhos pródigos acabam voltando a ter uma
vida cristã ativa. Não sei se essa estatística é precisa
ou não, mas nós precisamos confiar em um Deus
soberano que não comete erros.
Nós vemos na Palavra de Deus que Adão e Eva
tiveram seu Caim, Arão teve seu Nadabe e Abiú,
Noé teve seu Cam, os filhos de Eli foram ímpios,
Isaque teve seu Esaú, os filhos de Samuel foram
transgressores da lei, Davi teve seu Absalão e a lista
não termina aí. A maioria desses pais é composta
por pessoas piedosas, mas seus filhos tiveram um
fim lastimável.
Contudo, as histórias encorajadoras de pais que
criaram filhos piedosos são muito mais abundantes.
Para cada um desses aparentes fracassos, a Escritura
nos mostra a graça de Deus em cada uma dessas
famílias. Lembre-se de que Adão e Eva tiveram dois
filhos piedosos: Abel e Sete; Noé teve Sem e Jafé;
Abraão teve seu Isaque; Isaque teve Jacó; e Jacó
teve José. Na vida de Arão e Samuel, Davi e
Salomão, Eunice e Loide, a graça de Deus foi
derramada na vida de seus filhos.
Alguns dos crentes que mencionei, embora tenham
sido criados por pais que guardavam a aliança,
pecaram gravemente em algum momento de suas
vidas; contudo, eles foram restaurados à aliança
antes do fim de suas vidas.
Ao considerar essas listas, você pode perceber que,
em alguns casos, rebeldes e discípulos vinham dos
mesmos pais. Sem dúvida, alguns dos meus leitores
estão pensando em quanto cada um de seus filhos é
diferente. Alguns que eram submissos na infância
afastaram-se de Cristo quando se tornaram adultos
e, como já mencionei, alguns que eram rebeldes
abraçaram a fé de todo o coração muitos anos
depois.
A seguir, estão listados diversos princípios bíblicos
que espero que ajudem a mantê-la focada nesses
anos desoladores.
Foque em seu emprego enquanto você confia
completamente no que Deus pode fazer

Não tente fazer o trabalho de Deus. Não tente


fazer o trabalho de seus filhos. Lembre-se de que
Deus é totalmente soberano (Fp 1.29). Deus abre e
fecha os corações (1Rs 8.58; Ez 36.26; At 16.4).
Ele faz o que quer (Sl 135.6; Jr 10.23). Somente o
Espírito Santo pode conceder o dom da fé
verdadeira aos seus filhos, independentemente de
serem crianças ou adultos. Meu marido orava com
muita frequência: “Senhor, perdoe-me por tentar
fazer o papel do Espírito Santo no coração do meu
filho”. Ser um bom pai ou uma boa mãe não
infunde a fé verdadeira em Cristo no coração de
nossos filhos e filhas. Mas é difícil aprender uma
verdade tão simples. Lembre-se de que Deus não
tem netos.
Nossa função é orar muito e confiar em Deus no
que diz respeito aos resultados. Eu descobri que orar
com fé é muito mais difícil do que sair por aí
“fazendo” coisas por nossos filhos. Nós, mães,
tendemos a querer consertar os problemas de nossos
filhos, não é? Do BandAid no joelho ensanguentado
ao dever de casa que é preciso lembrá-los de fazer,
nós cremos que, se eles estão enfrentando uma crise,
precisamos resgatá-los de imediato.
Para algumas pessoas, a oração precisa ser:
“Senhor, que minha confiança seja suficiente para
eu tirar as minhas mãos e deixar que meu filho
aprenda a fazer isso sem mim!”. Não estamos
ajudando nossos filhos quando fazemos o que eles
podem fazer. Isso só faz com que eles se tornem
dependentes de nós. Nosso trabalho é apontar para
Cristo e ajudar da maneira apropriada a cada idade.
Assim como é possível regar demais uma planta, é
possível ter excesso de zelo materno por nossos
filhos.
Como conselheira bíblica, eu já vi muitas mães de
filhos adultos que parecem determinadas a garantir
que seus filhos queridos estejam bem alimentados,
aquecidos, limpos e sejam socialmente aceitáveis.
Elas parecem incapazes de se desprender. Toda a
identidade delas gira em torno dos filhos; esse é o
propósito de suas vidas. Essas mães precisam que os
filhos precisem delas e, algumas vezes, elas
transformam o amor ou o sucesso dos filhos em
ídolos. É o que o mundo chama de “facilitação” e
“codependência”, mas eu acho que um termo
melhor seria “coidolatria”. A boa notícia de se
identificar uma atitude como pecaminosa, quando
realmente é um pecado, é que o pecado é algo de
que temos como nos arrepender e ser perdoados.
Louvado seja Deus por sua graça ilimitada!
Assuma sua responsabilidade pessoal

Não entre no jogo da vergonha e da culpa. Quero


encorajá-la a não assumir mais ou menos
responsabilidade do que a Bíblia exige. Não há
dúvida de que nós, como pais, somos
completamente responsáveis por nossos próprios
pensamentos, palavras e obras. Mas também é
verdade que nossos filhos são completamente
responsáveis pelos próprios pensamentos, palavras e
obras. À luz das muitas passagens que admoestam
tanto os pais como os filhos, é evidente que os pais
exercem muita influência sobre os filhos. Ao mesmo
tempo, Deus não permite que qualquer adulto ou
criança transfira a culpa por seu pecado aos seus
pais.
Uma das lembranças mais vívidas de quando tive
de lidar com esse conceito foi quando nossa filha
Arielle estava muito doente com seu distúrbio
cerebral. Ela havia saído para um de seus muitos
passeios dos quais ela voltaria, ou seria trazida de
volta para casa pela polícia, horas ou dias depois.
Nessa ocasião, como ainda não havia sido
diagnosticada, ela só sabia que estava muito irada e
agitada e que queria sair de casa, para ficar longe
dos pais. Na ocasião, Arielle tinha cerca de 15 anos
e estava desaparecida por toda uma noite. Como
isso já havia acontecido diversas vezes, eu consegui
não me desesperar por completo. Eu já tinha
familiaridade com a situação. Às seis e meia da
manhã, atendi uma ligação da polícia dizendo que
nossa filha tinha sido encontrada. Quando cheguei
ao local, a diversos quilômetros da minha casa, os
policiais disseram que ela fora encontrada dormindo
na entrada de uma loja de seguros, em um bairro
bem perigoso. O dono tinha ligado para a polícia.
Minha expressão facial deve ter denunciado meu
desespero, pois o homem que ligou para a polícia
aproximou-se da porta e me disse: “Não é culpa sua.
Você não é uma péssima mãe”. Eu sabia que ele
tinha tocado na minha ferida porque eu não
conseguia parar de chorar.
Por muito tempo, eu brigava constantemente
comigo. Se Deus diz como devemos criar nossos
filhos e eles se tornam problemáticos, a culpa não é
nossa? Isso é o que eu chamo “jogo da vergonha”.
Depois veio o “jogo da culpa”. Eu caía no outro
extremo e dizia: “A culpa é de Deus. Se existe um
Deus, ele é cruel ou fraco”. Eu alternava entre o
sentimento de culpa, por não ter conseguido ajudar
minha sofrida filha, e o sentimento de raiva e
frustração com o comportamento incontrolável dela.
Eu sentia pena dela e, logo em seguida, sentia muita
pena de mim mesma. Às vezes eu me sentia
sobrecarregada pelas dúvidas e pelos medos. Em
momentos assim, Deus colocava alguém na minha
vida na hora certa, para me fazer lembrar de suas
promessas.
Confie nas promessas de Deus. Ele conhece
aquilo de que você precisa

Embora, às vezes, Romanos 8.28 seja


excessivamente citado ou com uma interpretação
equivocada, não deixa de ser uma das promessas
mais preciosas da Palavra de Deus: “Sabemos que
todas as coisas cooperam para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo
o seu propósito”. O ponto principal é que nós, que
somos pais de filhos desviados e rebeldes,
precisamos nos apegar constantemente a esta
promessa: Deus sabe aquilo de que eu preciso para
me tornar mais parecida com Cristo. Meu Pai
celestial preparou essa terrível tribulação porque me
ama e quer que eu confie mais nele, que eu console
outras pessoas que sofrem pelas mesmas coisas e
que eu tenha mais alegria e prontidão em obedecer.
No fim das contas, a pergunta à qual temos de
responder é: “Eu realmente creio que Deus sabe
aquilo de que eu preciso e que está realizando tudo
o que é necessário para que eu entenda?”. Algo que
me consola muito é saber que Deus está fazendo
com que essa verdade se torne realidade na vida de
todos os seus filhos.
O famoso escritor inglês C.S. Lewis escreveu que
Deus sussurra em nosso prazer, fala conosco em
nosso trabalho, mas grita conosco em nossa dor. Eu
ouvi muitas coisas do Senhor enquanto ele me
instruía nessa dolorosa fase da minha vida.
Deus concederá os desejos do seu coração

Embora Deus nunca tenha prometido salvar todos


os filhos de seus filhos, prometeu conceder os
desejos de seu coração se você se deleitar nele (Sl
37.4). Que o desejo de seu coração seja que seus
filhos conheçam, temam, amem e sirvam ao Deus
Trino da Bíblia. Se isso é mais importante para você
do que a aparência pessoal, a inteligência, a carreira,
o talento atlético, o talento artístico ou a felicidade
emocional, então você pode confiar que Deus
concederá os desejos de seu coração.
Outra importante passagem para muitas mães é
Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em
que deve andar, e, ainda quando for velho, não se
desviará dele”. Certamente, essa promessa já
impediu muitos pais cristãos angustiados de entrar
em desespero. Mas também há um outro lado para
esse versículo. Jay Adams, especialista em
linguagem bíblica, diz que ele é mal traduzido. A
maior parte das versões traduz parte desse versículo
como “no caminho em que deve andar”. Adams diz
que uma tradução melhor seria “em seu próprio
caminho”. À luz disso, esse versículo serve como
um aviso e como uma palavra de consolo. O que
Salomão está dizendo é que, se os pais, de modo
consistente, permitirem que um filho escolha o
próprio caminho, ele continuará assim pelo resto da
vida. Um filho criado sob libertinagem
provavelmente terá problemas com submissão a
autoridades. Aqueles que foram instruídos a crer
que os caminhos de Deus são mais altos do que seus
próprios caminhos provavelmente aprenderão a ser
obedientes. Minha mãe sempre dizia: “Se você
permitir que ela faça tudo do jeito que quer, ela
acabará no caminho errado”.
Nunca desista

Para concluir este capítulo, quero lembrá-la de uma


coisa: Nunca desista de ter esperança. Você pode
experimentar a perfeita paz em meio à tempestade.
Porque o Senhor Jesus está carregando nossos
fardos, podemos descansar sabendo que seu jugo é
suave e seu fardo é leve (Mt 11.29-30). Nas horas
mais sombrias, quando você se sentir tentada a
desistir e estiver se sentindo completamente
esmagada, volte seus olhos ao seu Salvador. Aquele
que fez Pedro caminhar na água também é poderoso
para impedi-la de afundar. Eu sei que isso é verdade
porque ele fez isso muitas vezes por mim.
E, enquanto você espera pela salvação de Deus,
continue a evangelizar e a orar por seus filhos
perdidos. Nós continuamos escrevendo para o nosso
filho na prisão, mesmo sem termos uma resposta
dele. Ainda que seu filho ou filha tenham sido
excomungados, como aconteceu com dois dos meus
filhos, você ainda pode falar com eles ou escrever
para eles sobre a livre oferta do evangelho de Cristo.
Mateus 18.15-17 nos ensina a tratar aqueles que
foram expulsos da igreja como pagãos e incrédulos.
Mas esses queridos pagãos precisam ouvir o
evangelho, não importa quantas vezes o rejeitem.
Deus acaba endurecendo o coração daqueles que
continuamente se rebelam contra ele (Js 11.20; 2Ts
2.10-11), mas não nos é revelado quando esse
endurecimento acontece. A decisão não é nossa. É
de Deus. Nossa função é continuar a falar “a
verdade em amor” (Ef 4:15), crendo que hoje pode
ser o dia em que eles serão salvos.
Você também pode buscar oportunidades que
surgem naturalmente para apresentar as
reivindicações de Jesus para situações específicas
que seus filhos estejam enfrentando, recusando-se a
relativizar o compromisso que você tem com a
Palavra de Deus. Quando eles fizerem uma visita,
não mude seu comportamento apenas para agradar a
eles. Eles precisam entender que seu relacionamento
com Deus é muito mais importante do que seu
relacionamento com qualquer membro da família.
Eu não afirmo que sou muito boa em andar por esse
caminho estreito chamado graça e verdade. Mas
agradeço a Deus porque sua graça é maior do que
todo o meu pecado.
Nós não temos como amar alguém mais do que
Deus ama. E, se amamos essas almas desviadas
tanto assim, o amor do nosso Pai celestial é
infinitamente maior!
*
Tornando-se uma mulher sábia
1. De que maneira você foi encorajada pela história
de Eileen?
2. De que maneira você foi desafiada pela
percepção dela?
3. Você tem-se apegado demais aos seus filhos
adultos? De que maneira? Você determina o valor
que tem como mãe ou como mulher com base no
sucesso ou no fracasso deles?
4. O estado espiritual de seus filhos é sua maior
preocupação em relação a eles ou você se preocupa
mais com o conforto e com a saúde deles? Embora a
saúde e o conforto deles sejam questões
importantes, nada são quando comparados ao
destino eterno deles.
5. Resuma o ensino deste capítulo em quatro ou
cinco frases.

1 Tom Bisset, Why Christian Kids Leave the Faith (Nashville:


Thomas Nelson, 1992).
9 • Aqui, Mãe, Não Esqueça Seu
Agasalho
Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado,
disse: Mulher, eis aí teu filho.
(Jo 19.26)
Enquanto eu escrevia este livro, o Senhor me fez
passar por circunstâncias que aumentaram minha
compreensão acerca do cuidado com os idosos da
família. Antes, minha sabedoria nessa área era
primariamente acadêmica, pois eu já havia
conversado com algumas pessoas sobre o assunto e
já tinha pesquisado sobre o tema, mas eu ainda não
tinha experiência pessoal. Agora, tudo isso mudou.
Nossa linda árvore irradiava uma beleza
luminescente. Os enfeites de cristal, ouro e vermelho
borgonha brilhavam enquanto o aroma do pinheiro
enchia nossas casas. Os presentes eram
cuidadosamente embrulhados e colocados debaixo
da árvore. Já estava tudo preparado, mas a tia
Marion não estava presente. Na véspera de Natal,
nossa querida tia-avó sofreu um derrame sério que a
deixou quase completamente incapacitada e
inconsciente de onde ela estava. Todos os enfeites
estavam no lugar, mas esse ano nosso Natal estava
diferente. Faltava a tia Marion. Naquele dia de
Natal, nossa família se reuniu para celebrar um
nascimento, mas, ao mesmo tempo, estávamos
vivendo à sombra de uma morte iminente. Um
membro da família não estava conosco e
provavelmente nunca mais estaria. Como a tia
Marion nunca se casou, nossa casa e família
estendida se tornaram sua família imediata. Ela
estava sempre no meio de nossa família,
frequentando cada aniversário e celebração de
feriado desde a sua aposentadoria, trinta anos atrás.
Nós sentimos sua falta naquele dia — e agora
sentimos ainda mais.
Logo após sofrer o derrame, ela foi submetida a
cuidados paliativos. Algumas adoráveis enfermeiras
iam até a sua casa e cuidavam dela, aguardando a
chegada de um hóspede indesejado. Ela recebia a
visita das enfermeiras duas vezes por semana. Elas
davam banho nela, monitoravam seus sinais vitais e
davam instruções para as cuidadoras de tempo
integral. Aprendemos que os cuidados paliativos
eram o sinal de que o fim estava próximo: ela teria
menos de seis meses de vida. Com a chegada da
equipe hospitalar, acabaram-se as expectativas de
que ela poderia melhorar e nosso objetivo passou a
ser a aceitação. Nossa preocupação era que ela
tivesse o máximo de conforto possível e que nossos
corações e o coração dela estivessem preparados
para o inevitável.
No final de fevereiro, sua condição se agravou. Ela
quase já não tinha mais períodos de lucidez, vendo-
se perdida em seus pensamentos em privado. Ela
passava horas conversando com membros da família
que haviam falecido antes dela, dando risadas e
dialogando com o invisível. “Eles querem que eu vá
com eles”, disse ela à minha mãe, “mas eu sei que
não devo partir antes da hora”. Ela cantava e orava a
Deus, e recebeu a visita de seu pastor. Na ocasião,
ele cantou “It is well with my soul” [Está tudo bem
com a minha alma] para ela, e ela pediu que ele
cantasse novo. Nós cremos que o Senhor estava
trabalhando em sua alma, graciosamente
preparando-a para o céu e libertando-a de seus
vínculos na terra.
Como a minha mãe se dedicara a cuidar dela em
tempo integral, fiquei encarregada dos preparativos
para o funeral. Então, fui até o necrotério que
escolhemos e me encontrei com o diretor da
funerária. Fizemos algumas escolhas. As
informações pessoais dela foram registradas. Eu
escrevi uma carta que seria enviada à família e aos
amigos dela, e preparei uma lista de
correspondência. Ajudei minha mãe, que era sua
executora testamentária e procuradora, na tomada
de decisões. Estávamos tentando nos preparar e
também preparar nossa família.
No começo de março, a equipe paliativa incentivou
minha mãe a remover o tubo de alimentação que
estava sustentando a tia Marion. “Você acredita que
é a coisa certa a ser feita?”, perguntou ela à
enfermeira-chefe, que respondeu gentilmente: “Nós
só estamos dando continuidade a essa alimentação
por sua causa”. Então, minha mãe e eu tomamos a
decisão, o tubo de alimentação foi removido e o
foco passou a estar cada vez mais centrado nos
acontecimentos da casa dela.
Pouco antes de ela morrer, decidi passar na casa
dela à noite, para ver como estava. Fiquei
horrorizada ao chegar e encontrar a cuidadora na
cama com o namorado. Esse evento impensável foi
simplesmente o último de uma série de decepções
(como, por exemplo, o roubo dos pertences da
minha tia) que tivemos com algumas dessas
mulheres (não todas). Não é preciso dizer que a
demitimos na mesma noite e contratamos outra
enfermeira. Daquela noite em diante, passamos a
fazer visitas inesperadas para monitorar se minha tia
estava sendo bem cuidada.
No dia 8 de março, à uma e quinze da madrugada,
o Senhor recolheu nossa tia para si. No meio da
madrugada, eu dirigi até sua casa, onde estavam
minha mãe e uma cuidadora fiel que cuidou dela por
mais de três anos. Então, entrei no quarto que se
tornara o mundo dela. Lá estava ela, olhando nos
meus olhos, exatamente como estava havia dias. Eu
olhei para ela, esperando que ela inspirasse. Ela
estava paralisada. Segurei sua mão. Estava gelada.
Passei as mãos em seus cabelos e me sentei do lado
de sua cama. Abracei minha mãe e oramos juntas. A
Marion que nós amávamos não estava mais entre
nós, somente seu corpo. Era hora de cuidar de sua
casa temporal, que Paulo chamou de “tabernáculo
terrestre”.
Como a tia Marion estava sob cuidados paliativos,
não foi necessário que o legista levasse seu corpo
para o necrotério. O que fizemos foi ligar para o
serviço de cuidados paliativos, que, então, enviou
uma enfermeira. Quando ela chegou, verificou os
sinais vitais da Marion, registrou o horário da morte,
jogou fora os remédios, ligou para o legista e para a
funerária e perguntou se queríamos que ela orasse
conosco. Foi realmente um alívio que cada uma
dessas tarefas necessárias, porém intimidadoras,
tenha sido realizada por alguém que tem
familiaridade com o processo.
Minha mãe e eu fomos até a sala esperar a chegada
dos representantes da funerária. Nós conversamos
sobre a vida da Marion e a certeza que tínhamos de
que ela estava descansando nos braços de seu
Salvador. A campainha tocou e, depois de uma
rápida conversa e de responder a algumas perguntas,
os funcionários da funerária pegaram uma maca. “É
melhor que vocês fiquem aqui na sala de estar”,
recomendaram eles. Nós obedecemos. Depois de
alguns instantes, eles reapareceram carregando o
corpo de nossa tia, coberto com um pano de veludo
verde. Eu fiquei olhando enquanto eles saíam com
ela pela porta da frente, uma porta pela qual ela
jamais voltaria a passar, uma porta que fora
agraciada com sua presença por mais de três
décadas. A porta, então, se fechou e eu ouvi o carro
partir. Nós só voltaríamos a ver seu corpo no
funeral, cinco dias depois. Ela se fora.
O falecimento de um ente querido é um momento
surpreendentemente complicado e estressante. Não é
estressante somente por causa da dor que
experimentamos; é estressante porque precisamos
fazer muitas coisas e há tantas decisões que
precisamos tomar.
Deus foi bondoso conosco em nos dar tempo para
nos preparar. A ideia de ter de se preparar em meio
à tristeza é assustadora. No final deste capítulo,
incluí uma lista de pessoas que devem ser contatadas
e as providências que devem ser tomadas quando
essa hora chegar. Também incluí uma lista de versos
bíblicos que talvez você considere útil.
Segue o relato de minha querida amiga Karen
sobre sua experiência com a morte da mãe. Eu
queria que ela tivesse a oportunidade de
compartilhar essa experiência com você, para que
você saiba o que talvez esteja prestes a acontecer ou
para que se sinta consolada por saber que aquilo que
está sentindo é normal.
A história da Karen:
cuidando e sendo cuidada
Meu relacionamento com minha mãe sempre foi
bem tradicional. Minha mãe sempre desempenhou o
papel de cuidar de mim e de prover o necessário. Eu
podia contar com ela sempre que eu precisasse. Ela
estava sempre presente para demonstrar amor, servir
de exemplo, dar orientações, diretrizes e conselhos,
me apoiar e me encorajar, como alguém que já havia
trilhado os muitos caminhos da vida.
Quando eu tinha trinta e poucos anos, esse
relacionamento mudou. Eu não estava preparada
para essa mudança e não havia pensado muito a esse
respeito. Eu presumia que seria algo que levaria
algum tempo para acontecer na minha vida. Era uma
época em que minha vida estava cheia de atividades,
pois eu desempenhava muitos papéis diferentes em
meu cotidiano. Como esposa, eu era a principal peça
na engrenagem de uma família que estava se
recompondo depois de sofrer um perigoso acidente
de carro com nosso filho mais novo. Isso produziu
inúmeros desafios diários que perduraram por
alguns anos. Como mãe de três meninos pré-
adolescentes em ensino domiciliar, eu passava todo
o tempo aprendendo, ensinando, planejando e
dirigindo. Como dona de casa e proprietária de
diversas casas que precisavam de reforma, eu estava
envolvida em diversos projetos inacabados de
pintura, conserto e reforma. Eu também era
contadora/secretária/sócia de um novo negócio com
meu marido. Os lucros da empresa não eram
satisfatórios e eu fui aprendendo a lidar com isso
com o passar do tempo. Eu me esforçava para
acompanhar os clientes e os fornecedores, para,
desesperadamente, pagar as contas em dia, para
tomar decisões que teriam consequências relevantes
e para lidar com a pressão que tudo isso cria. Além
disso, eu estava completamente envolvida com a
liderança da igreja da qual era membro. De tempos
em tempos, as pessoas me procuravam e me pediam
ajuda. Minha vida estava muito cheia, com muitos
pesos e circunstâncias, e eu sempre achava que, a
qualquer instante, as coisas ficariam mais fáceis e
tranquilas.
Foi nessa atmosfera que recebi uma ligação da
minha mãe que desencadearia a mudança em nosso
relacionamento. Minha mãe me pediu para ir até a
sua casa, que ficava a noventa minutos de carro. Lá,
ela conversou comigo sobre os problemas que estava
tendo com meu pai, que, entre outras questões,
também a estava traindo. E, embora eu já tivesse
passado algum tempo com pessoas que estão tendo
problemas na vida, fiquei perplexa com o que estava
acontecendo. Eu quase consegui sentir fisicamente a
mudança em nosso relacionamento. Agora, era
minha mãe que estava precisando dos meus
cuidados, do meu apoio emocional e de possíveis
respostas. E eu não estava preparada para essa
missão. Com o passar dos anos, tornou-se evidente
minha falta de capacidade de cuidar da minha mãe,
que passou a ser a pessoa que precisava de cuidados
em nosso relacionamento.
Nos anos seguintes, minha mãe enfrentou diversas
grandes mudanças em uma vida que antes era
estável. Sua saúde vinha se deteriorando. Seu
casamento de 35 anos acabou. Ela se mudou da casa
em que havia morado por tantos anos e teve de
dividir os bens materiais e as lembranças que havia
acumulado por tantos anos. Ela perdeu muitas
amizades que tinha com casais. Ela também
experimentou a traição máxima de seu marido, que
voltou a se casar com outra mulher. Aos poucos, ela
perdeu o estilo de vida extremamente independente
e autossuficiente que tinha.
E, enquanto minha mãe passava por todas essas
mudanças, foi se aproximando de mim e da minha
família — fisicamente, porque se mudou para mais
perto de nós, e emocionalmente, por causa de suas
confidências. Nós estávamos completamente
envolvidos com a sua vida. E, quanto mais a vida da
minha mãe se entrelaçava na minha, de maneira
cada vez mais intensa, mais eu continuava a crescer
em minha nova missão de cuidar dela. A vida da
minha mãe, da maneira como era antes, estava se
acabando e eu estava lá para introduzi-la em minha
vida e em minha família turbulenta. Quanto mais
mudavam as circunstâncias da vida de minha mãe,
mais sua saúde se deteriorava. Consultas médicas
passaram a fazer parte da minha agenda. Como eu
não sabia o que iria acontecer no futuro, nem qual
era o nível de seriedade de seu problema, minha
reação foi pensar que se tratava de uma fase
temporária e que logo a vida retomaria a
normalidade, com minha mãe adaptada à sua nova
vida e morando mais perto de mim.
O que acabou acontecendo é que meu nível de
envolvimento com minha mãe passou de visitas à
sua casa em uma comunidade próxima, duas vezes
por semana, para a mudança dela para minha casa, a
fim de que eu pudesse cuidar dela em tempo
integral, quando ela se tornou uma paciente
acamada moribunda. Foi um processo gradual que
durou quatro anos. O processo incluiu muitas
cirurgias e diversas mudanças — de um posto de
saúde a outro, de um hospital a outro, para sua casa
e, em seguida, para a minha casa. A independência
da minha mãe foi-se deteriorando gradativamente,
até que ela passou a depender completamente de
mim e a viver em tempo integral com minha família
em nossa casa. No terceiro ano desse período de
quatro anos, eu me dei conta de que minha mãe iria
morrer, que eu precisava me preparar para essa
certeza e que eu deveria cuidar dela como uma
pessoa que tem uma doença terminal.
Nesse processo de quatro anos, houve muitas
mudanças em nossas vidas, e minha mãe e eu nos
demos conta de que iríamos enfrentar muitos
desafios em diversas áreas. Eu tentei enumerá-los
aqui de maneira sucinta. (Só consigo realmente
explicar meu lado do relacionamento com base em
minha compreensão relativamente limitada.)
Limite de tempo. Talvez um dos maiores desafios,
e que está relacionado a todos os outros, é que um
dia só tem 24 horas. À medida que aumentava cada
vez mais a quantidade de tarefas domésticas por
causa da minha mãe, outras coisas iam perdendo
espaço. Quanto mais doente minha mãe ficava, mais
as tarefas passavam a exigir mais tempo. Cuidar dela
foi o contrário de cuidar de meus filhos.
Em vez de aumentar o tempo livre à medida que as
crianças iam crescendo, meu tempo livre ia
diminuindo, pois minha mãe se tornava cada vez
mais dependente. (Se fosse possível alguém voltar
no tempo com um filho adulto e se lembrar da
quantidade de atenção demandada nas diferentes
fases de sua vida até chegar à fase de trabalho mais
intenso — quando a criança é bebê —, seria
possível compreender quanto o tempo vai se
perdendo gradualmente). Além do cuidado físico,
era necessário reservar um tempo para os negócios
da vida. Pagar as contas, comparecer às reuniões,
fazer pedido de suprimentos e muitas outras tarefas
diárias, tudo isso consumia meu tempo. Na vida de
alguém que cuida de um membro da família, esse
tipo de atividade entra para uma agenda que já está
cheia.
Tomada de decisões. Quanto mais minha mãe se
tornava incapaz de tomar as próprias decisões, mais
eu tinha de tomar diariamente as decisões por ela.
Não saber o que acontecerá no futuro ou não
considerar nem mesmo a hipótese remota sobre o
que pode acontecer afeta significativamente a
maneira como tomamos nossas decisões. As
decisões menores eram tomadas com facilidade:
devo mudar minha mãe para minha casa; o que devo
fazer com a casa dela; devemos ficar com o carro
dela ou devemos vender? Mas as decisões maiores
não eram assim tão fáceis. Eu precisaria de uma
procuração? Deveríamos tentar outras cirurgias ou
procedimentos? E as “ordens de não reanimação”
durante a hospitalização? Médicos e familiares
queriam as minhas respostas a essas perguntas e eu
não tinha certeza se realmente deveria estar
respondendo a isso, muito menos se as minhas
respostas estavam certas.
Mudança de papéis. À medida que as condições
da minha mãe iam se agravando, nossos papéis
relacionais começaram a mudar. Eu estava
assumindo o papel de mãe e ela estava assumindo o
papel de filha. A mudança de papéis oscilava
constantemente e não assumiu qualquer forma
permanente até o fim da vida da minha mãe. Havia
uma luta de poder constante e sutil em curso. Eu
sempre achei muito difícil saber quanto eu deveria
pressionar, quando eu deveria encorajar e quando
deveria deixar como estava. Então, era difícil me
relacionar com minha mãe de maneira rígida nos
momentos em que ela não queria fazer coisas que
eram necessárias. Minha questão interna constante
era: Qual é o meu lugar e como devo agir?
Finanças. No começo, era fácil pagar as contas da
minha mãe com os fundos dela, mas, à medida que
nossas vidas se tornavam cada vez mais
entrelaçadas, a questão financeira tornou-se mais
complicada. Minha mãe era financeiramente
autossuficiente e não precisava de nós para se
sustentar. Nossa situação financeira já era difícil, e
esse tipo de pressão financeira só teria piorado a
situação. Minha mãe confiava totalmente em mim
no que dizia respeito a tudo que tinha, mas minha
experiência de vida ainda não me havia
proporcionado a maturidade necessária de que eu
precisava para lidar com essa situação. Minha mãe
tinha um plano de saúde que cobria tudo, mas meu
desejo era eu mesma cuidar dela, em vez de
encontrar uma clínica para cuidar dela em tempo
integral. E, quanto mais ela precisava de cuidados,
mais a minha capacidade de gerar renda diminuía.
Eu deveria cobrar minha mãe pelo meu serviço?
Como eu não sabia o que iria acontecer no futuro,
eu deveria poupar para a fase em que sua vida
voltaria ao normal? Eu teria ficado muito contente se
pudesse abrir mão do fardo de tomar decisões.
Como tenho dois irmãos, eu me dei conta de que
minhas responsabilidades fiduciárias também
envolviam os dois. Eles apoiavam as minhas
decisões e confiavam em mim.
Responsabilidades de irmãos. Eu sou a mais nova
de três irmãos e a única filha. Então, compreendi
por que, nesse momento da vida, minha mãe
preferiu recorrer à única filha que tinha. As
mulheres são mais cuidadosas, e seu vínculo comigo
talvez fosse pela semelhança de algumas de nossas
experiências de vida. Isso gerou um novo desafio em
minha vida — o desafio de voltar a me relacionar
com meus dois irmãos. No passado, tínhamos nos
afastado, especialmente porque morávamos em
regiões diferentes. Havia um distanciamento cada
vez maior pelo fato de não nos envolvermos tanto
uns com os outros. Nossa mãe é que era boa de
relacionamentos familiares. Quando ela ficou
doente, tivemos de lidar com essas questões
sozinhos. Às vezes, as ligações que eu recebia e as
informações que eu tinha de dar tornavam-se um
fardo, e meu desejo era que meus irmãos soubessem
o que fazer em vez de ter de me perguntar. Às
vezes, eu tinha a sensação de que tinha de cuidar de
todo mundo. Meus irmãos estavam dispostos a fazer
qualquer coisa; o único problema — e desafio —é
que eu era vista como a orquestradora de tudo o que
estava acontecendo.
Cuidando dos familiares e dos amigos. Como
aconteceu com os irmãos, eu tive de fazer o mesmo
em relação aos amigos, aos irmãos e à mãe da minha
mãe. Eles ligavam e queriam saber o que poderiam
ou deveriam fazer, e eu não era muito prestativa
porque não sabia o que dizer. Eles eram muito
solícitos no envio de cartas e flores, bem como
fazendo ligações telefônicas, e, como eu queria
preservar o vínculo com o maior número possível de
pessoas ligadas à minha mãe, esforcei-me muito
para manter esses canais abertos. Inicialmente,
minha mãe era capaz de responder às cartas que
recebia, mas logo seus olhos deixaram de funcionar
plenamente e sua capacidade mental estava
decaindo. Isso significa que esses canais foram
progressivamente se fechando, pois eu não
conseguia preservar relacionamentos com pessoas
que eu mal conhecia. O isolamento dela foi
acontecendo aos poucos e foi dolorido acompanhá-
lo. Ao tomar decisões, eu precisava me lembrar dos
familiares e amigos dela, levando em consideração
os sentimentos deles, e não só os meus.
Impotência. Às vezes, o sentimento de impotência
me deixava desolada. Foi muito triste ver uma
mulher que era fisicamente vigorosa e socialmente
bem relacionada decair para um estado de
isolamento quase total. O declínio foi gradual e
minha aceitação também, à medida que a realidade
de nossa situação (a minha e a de minha mãe) ia
ficando cada vez mais clara. Assistir à sua dor e
saber que nada do que eu fizesse seria capaz de
mudar a situação foi algo muito grave e doloroso
para mim. Tentar preencher a vida dela através da
minha parecia bastante frágil. Minha tristeza em
saber que eu perderia minha mãe e saber que não
havia nada que eu pudesse fazer intensificaram meu
sentimento de impotência e isolamento.
Pessoal. Como o dia tem uma quantidade limitada
de horas, eu dispunha de pouco tempo e meus
relacionamentos pessoais começaram a ser
prejudicados. Eu estava emocionalmente esgotada e
tinha muito pouco a dar como esposa, mãe ou
amiga. Na tentativa de garantir um ambiente mais
agradável para minha mãe no tempo que ainda lhe
restava, nossa família se mudou para outro bairro.
Fomos para uma casa que ficava cinquenta
quilômetros mais perto do nosso negócio e
mudamos de igreja. Essa mudança eliminou alguns
importantes vínculos de apoio em nossas vidas e
todos nós passamos por dificuldades na adaptação.
E isso aconteceu em um momento crítico do
desenvolvimento de meus três filhos (adolescentes).
A pressão para eu ser tudo para todos era imensa.
Meus filhos aproveitaram esse momento para se
desapegar de mim e se tornar jovens independentes,
adotando atitudes erradas que são comuns nessa
fase. Eles ainda falam sobre essa fase da vida como
a época em que seus pais não davam muita atenção
a eles. Quando meus amigos tentavam ajudar, eu
tinha de recusar, pois eu não conseguia expressar
quais eram as minhas necessidades. Eu logo me
afastei; eu não conseguia me identificar com o
mundo relativamente normal em que eles viviam,
pois sentia que eu estava no “vale da sombra da
morte”. Com um sólido casamento de 16 anos, eu
sabia que meu relacionamento conjugal sobreviveria
a essa tempestade. A parte difícil era não contar com
a ajuda emocional do meu marido, pois ele não
conseguia compreender toda a profundidade do meu
fardo e da minha perda. Ele queria ajudar nessa
área, mas não conseguia.
Espiritual. A exemplo dos meus relacionamentos
com aqueles que me cercavam, o meu
relacionamento com o Senhor também se tornou
distante. Após desistir de minhas disciplinas
espirituais de oração e leitura bíblica, eu clamava ao
Senhor nos momentos de angústia extrema. Eu
conseguia frequentar a igreja quase regularmente,
mas tive de criar outros relacionamentos na nova
igreja e eu usava o tempo que estava lá para alcançar
esse objetivo. Acabei descobrindo que eu não
conseguia manter relacionamentos constantes, mas
eu sabia que meu Deus estava comigo enquanto eu
trilhava esse caminho tenebroso. Minha mãe sempre
teve conhecimento do Senhor, mas eu não sei se ela
desfrutava um vínculo pessoal com ele. Durante
esses anos de perda, ela teve um encontro com Deus
e vivenciou muitos preciosos momentos em sua
presença antes de ele levá-la para casa.
Vivendo sem ela. Meu último desafio, que ainda
faz parte da minha vida, é o de viver sem a minha
mãe. As demandas de tempo não cessaram de
imediato com a morte da minha mãe. As decisões
junto à funerária, o despojamento de itens pessoais
de valor sentimental, as incontáveis questões
financeiras e o luto desolador, tudo isso demandou
muitos meses da minha vida. Por fim, entrei em um
estado de dormência emocional enquanto eu
atravessava essas estradas, até que cheguei ao ponto
em que simplesmente cumpria mecanicamente com
minhas obrigações. Foram necessários muitos anos
até que os danos causados aos meus
relacionamentos familiares fossem reparados.
Quando olho para minha experiência como
cuidadora de minha mãe, sou muito grata ao Senhor.
Eu consegui me aproximar da minha mãe antes de
ela morrer e consegui demonstrar meu amor por ela
de uma maneira que não teria sido possível se as
coisas fossem diferentes. Minha esperança está no
Senhor e na bondade dele, e eu me alegro na
esperança de vida para mim e para minha mãe agora
e para sempre.
*
A seguir, você encontrará uma lista de coisas que
precisa saber se assumir a responsabilidade por um
membro da família enfermo ou em estado terminal.
Se você está no meio de uma situação difícil,
algumas dessas questões já terão uma resposta. Se
você ainda não chegou lá, por favor reserve algum
tempo agora, enquanto ainda é relativamente fácil,
para descobrir as respostas a essas perguntas.
• Existe um testamento? Quem é o executor
testamentário? Onde o testamento fica guardado?
• Existe uma apólice de seguro? Com quem? Quem
é o beneficiário?
• Uma diretriz médica antecipada já foi registrada?
Quem tem a procuração para cuidados médicos?
Quais são os desejos de seu ente querido quanto aos
meios de prolongamento da vida? Quem tomará as
decisões médicas no lugar de seus pais caso eles
estejam incapacitados?
• Quem é o médico de seus pais? Quais
medicamentos eles estão tomando?
• Você já conversou com seus pais e irmãos sobre
os cuidados de longo prazo? Quais são as
preferências de seus pais? De quem será a
responsabilidade por tomar as decisões sobre o
cuidado deles na hipótese de terem uma doença
debilitante crônica?
• Seus pais já escolheram uma funerária? Embora
pareça algo sombrio, tomar essas decisões antes do
momento de luto é um presente de amor que um pai
pode dar ao filho.
• Seus pais já escolheram o cemitério? Onde essa
informação está registrada?
• Além das instituições oficiais, quem precisará ser
avisado sobre a morte de seus pais? Você sabe o
endereço dessas pessoas?
• A quem seus pais devem dinheiro? Qual é a
situação geral de seus negócios?
Tornando-se uma mulher sábia
1. Você já separou um tempo para fazer perguntas
desse tipo aos seus pais?
2. Você já separou um tempo para conversar com
seu marido e/ou filhos sobre essas questões? Por que
não?
3. Você tem um testamento?
4. O que deixa você mais assustada a esse respeito?
Qual é sua visão bíblica da morte? Como você pode
se preparar para essa eventualidade?
5. Reflita nos seguintes versos sobre a morte:
Deuteronômio 32.29; Salmos 39.4; 90.12; Lucas
12.35-37; 2 Pedro 1.14; 2 Coríntios 5.2, 8;
Romanos 14.8; Filipenses 1.20-23. O que você
aprendeu?
6. Resuma o que você aprendeu em três ou quatro
frases.
10 • Estou me Acostumando com a
Minha Aparência
Enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que
teme ao SENHOR, essa será louvada.
(Pv 31.30)
Estou desenvolvendo uma nova autoimagem: a
imagem de uma poltrona. Eu vejo meu colo e meus
braços como fornecedores de conforto e calor
cobrindo meus pequeninos enquanto eu leio para
eles. Eu os convido dizendo: “Venha para o colo da
Mimi. Vamos ler este livro juntos”. Então, meus
queridinhos sobem e se aconchegam. Eu pergunto:
“Vamos ler esta bela história?”. E todos nós ficamos
confortáveis juntos. Ah, um pouco do céu na terra!
Nos últimos anos, desde que completei 45 anos,
percebo algumas mudanças não muito sutis no meu
corpo. Essas mudanças começaram com os sintomas
da perimenopausa, incluindo menstruações
intermitentes e ondas de calor, e terminaram com a
sensação de que a TPM seria meu estado
permanente. Depois da minha histerectomia, dei
início à terapia de reposição hormonal (TRH) e,
imediatamente, adquiri oito quilos que ainda não
consegui perder. A cada dia que passa, estou mais
parecida com a minha avó paterna.
Algumas dessas mudanças são inquietantes. Não
gosto de olhar no espelho e ver a celulite, a papada e
as rugas. Minhas mãos estão ficando enrugadas,
minhas pálpebras estão ficando caídas e parece que
meu corpo está perdendo a cor. Acho que isso é o
que chamam de envelhecimento.
Neste capítulo, descrevo minha jornada por esse
processo de envelhecimento sob uma perspectiva
pessoal e médica. Após, vamos ouvir a experiência
de outra amiga na fase de entardecer da vida e, por
último, vamos encerrar com mais uma análise da
mulher virtuosa de Provérbios 31.
A menopausa está à porta
Entender o que está acontecendo com seu corpo
durante esses anos pode ser algo útil. É bom saber
que não somos tão diferentes das outras mulheres e
que não estamos enlouquecendo.
A faixa etária dos 40 aos 50 anos não é a fase da
vida em que desaceleramos. Aliás, nessa fase, muitas
mulheres acabam se tornando ainda mais ocupadas,
mesmo depois que os filhos saem de casa. Muitas
mulheres voltam para a faculdade ou para o
mercado de trabalho; algumas cuidam dos netos e
outras dedicam-se a pais idosos ou enfermos. E, em
meio a tudo isso, descobrimos estranhos sintomas
que nos atormentam: insônia, sudorese noturna,
dores de cabeça e a inquietante perda de memória.
Esses são sintomas de algo seriamente errado com o
nosso corpo ou simplesmente um subproduto do
estresse em que vivemos?
Experimentei a perimenopausa (o período de cerca
de três a seis anos antes de sua última menstruação)
pela primeira vez quando estava escrevendo
Mulheres ajudando mulheres, aos 46 anos. Foi uma
época muito estressante para mim. Eu tinha dores de
cabeça, estava perdendo a memória e tendo
pensamentos confusos em uma escala que nunca
havia experimentado. Então, pensei: Devo estar
enlouquecendo! Eu fui à minha médica e ela pediu
um exame de ressonância magnética, para ver o que
estava acontecendo em minha cabeça. Resultado?
Não havia nada de errado com meu cérebro.
Após algumas investigações, sugeri que ela fizesse
um exame de FSH (hormônio folículo-estimulante)
para determinar se meus ovários estavam
diminuindo a produção de estrogênio. Essa mudança
de níveis hormonais costuma marcar o início da
menopausa.
“Você é muito nova”, retrucou ela.
“Por favor, me dá um desconto”, disse eu.
Não demorou até ela me informar: “Com certeza
você está na perimenopausa”.
Eu disse: “Ótimo”.
Lembro-me do dia em que recebi aquela ligação e
me lembro até mesmo de onde eu estava
posicionada no dia em que minha médica me disse
que minha vida havia mudado. Será que minha
juventude tinha acabado? Passou tudo tão rápido!
Lembro-me de que liguei, chateada, para uma
amiga. “A médica disse que estou entrando na
menopausa”, lamentei, sentindo como se a minha
vida estivesse escapando das mãos.
A resposta da minha amiga foi: “Ah, você vai ficar
bem”.
O que eu queria era um pouco de solidariedade. Eu
queria alguém para ter compaixão de mim, mas ela
simplesmente disse que tudo ficaria bem e que eu
precisava seguir adiante! Muito obrigada, pensei.
Então, segui as diretrizes da minha médica e
marquei uma consulta com meu ginecologista.
“Você precisa começar uma terapia de reposição
hormonal”, disse ele.
“Mas eu ainda não preciso disso”, protestei.
“Bem, é provável que esses sintomas só piorem,
então vou prescrever esses medicamentos para você
comprar quando quiser.”
E assim teve início uma jornada de cinco anos que
terminou quando eu fiz histerectomia. Eu sofri por
alguns meses com sangramentos intermitentes,
inchaços, ondas de calor, variações de humor e
vertigens. O sangramento menstrual, que sempre foi
bastante previsível para mim, tornou-se
completamente inconstante. Lembro-me de quando
fui a um jogo de beisebol usando calça jeans branca
e... bem, você sabe como a história termina.
E, além de todas essas inconveniências e
incômodos, comecei a desenvolver tumores
fibroides que cresceram muito e acabaram
interferindo na micção. Foi nessa época, quando eu
tinha finalmente desistido de lidar com todos esses
problemas, que aceitei fazer histerectomia. Não foi
uma necessidade incomum. Aliás, cerca de 35% das
mulheres com idade entre 45 e 65 anos fazem
histerectomia.1
O que esperar quando você não pode mais
esperar um bebê
Existem diversas maneiras de reagir ao início da
menopausa. Se você constatar que seus sintomas são
relativamente brandos, não há motivo para fazer
nada. Contudo, mesmo que pareça que você não
tem sintomas, ainda precisa conversar com seu
médico sobre combater a osteoporose — o
enfraquecimento dos ossos que acontece depois da
menopausa. Para isso, você pode tomar tabletes de
cálcio ou, se tiver problemas para digeri-los, tome
alguns tabletes de antiácido — você provavelmente
também vai precisar! Há mulheres que apresentam
outros sintomas, então talvez você queira controlá-
los por meio de uma alimentação correta, evitando
tomar cafeína e se exercitando com regularidade.
Esses três passos serão os três mais importantes que
você pode dar, independentemente de como você
pretende lidar com o restante do processo. Outras
mulheres encontram alívio nas ervas e substâncias
homeopáticas.2
Também existem mulheres que apresentam
sintomas mais severos e amplos. Essas devem
considerar a terapia de reposição hormonal. No
geral, a TRH consiste na ingestão de dois hormônios
principais: estrogênio, normalmente na forma de
Premarin ou de um genérico, e progesterona.
Mulheres que ainda têm o útero costumam tomar os
dois hormônios enquanto aquelas que fizeram
histerectomia ingerem somente estrogênio. A Dra.
Shirley Galucki escreve: “Há três razões principais
para as mulheres considerarem a TRH: o alívio dos
sintomas associados à menopausa (ondas de calor,
secura vaginal e variações de humor), a prevenção
da osteoporose e a prevenção de doenças
cardíacas”.3
Recentemente, dois importantes estudos
publicaram descobertas que talvez influenciem sua
decisão de tomar a combinação de estrogênio e
progesterona. A Women’s Health Initiative,
programa conduzido pelo National Institute of
Health, anunciou que está abandonando seu estudo
porque o risco de outras doenças, especialmente
câncer de mama, é elevado demais. Em maio de
2003, o National Institute of Health também
descobriu que, entre as mulheres que tomam essa
combinação de terapia de reposição hormonal, havia
“uma quantidade duas vezes maior de demência,
incluindo Alzheimer, em comparação com as
mulheres que
não tomavam”.4 As descobertas desses dois estudos
sugerem fortemente que os riscos de tomar a
combinação de estrogênio e progesterona são muito
maiores do que os benefícios. À luz desses fatos, é
importante que você trabalhe com seu médico para
encontrar outras maneiras de aliviar os sintomas da
menopausa. Se você não tem mais útero e está
simplesmente fazendo reposição de estrogênio, esses
estudos não se aplicam a você, embora talvez você
queira conversar com seu médico caso esteja
preocupada com alguma coisa.
Depois da cirurgia

Quando finalmente cheguei à sala de cirurgia para


fazer histerectomia, eu estava contente. Eu sei que
não é assim que todas as mulheres se sentem. Eu sei
que muitas mulheres ficam aflitas com a perda do
útero e, no caso de algumas, as mudanças que esse
procedimento pressagia são assustadoras.
Certa vez, uma amiga que tinha acabado de fazer
uma histerectomia me perguntou: “Você sente
saudades do seu útero?”.
Eu respondi: “Não. Nunca fomos muito íntimos”.
Para mim, os problemas causados por meus órgãos
reprodutores estavam consumindo todo o meu
pensamento, tempo e meus esforços. O incômodo e
a angústia estavam ofuscando qualquer pensamento
que eu pudesse ter sobre a necessidade de ter essa
parte do meu corpo. Eu sei que muitas mulheres têm
uma opinião muito forte a esse respeito. Eu não sou
uma delas. Se a decisão de fazer histerectomia vem
de uma mulher antes de ela terminar de ter filhos ou
se acontece em um momento da vida em que ela
está enfrentando outras dificuldades, pode ser
realmente algo desolador e eu não quero ser
simplista. Segue a experiência de outra virtuosa
amiga na fase do entardecer da vida, Barbara Lerch.

A história de Barbara
Como posso descrever o sentimento de estranheza
e deslocamento que encheu a minha mente naquelas
primeiras semanas e naqueles primeiros meses após
a minha cirurgia? Em vez dos três pequenos cortes
que eu esperava, uma descoberta durante a cirurgia
resultou em muitos grampos prateados. O tamanho
enorme da cicatriz, a estranheza do metal reluzente e
o relatório médico sobre quantas coisas haviam sido
removidas de mim me deixaram atordoada. Eu
estava perplexa, boquiaberta. Quando eu tive
coragem suficiente, meus dedos gentilmente
exploraram a paisagem do meu abdome. A maior
parte estava como antes. Mas como isso era
possível? Tantas coisas que existiam em mim agora
estavam alteradas para sempre. O corpo com que eu
vivi por tanto tempo agora parecia estranho,
desconhecido e misterioso. Alguns meses depois de
minha recuperação, apareceu um caroço dolorido no
meu seio. Nas semanas seguintes, fiz novas visitas
ao meu especialista e, depois, mais cirurgia. Mais
partes do meu corpo iam embora em jarros do
laboratório. Eu parei diante do espelho. A cicatriz da
histerectomia ainda estava vermelha, um seio tinha
pontos e estava inchado — azul-escuro e roxo. O
que tinha acontecido comigo? Esse continuava a ser
meu corpo ou se tratava de algo estranho a ele,
decidido a me destruir? No passado, ele tinha sido
meu amigo excêntrico, porém confortável. Então,
perguntei ao meu reflexo: “Quem sou eu agora?
Quem sou eu agora? Com tantas partes que se
foram, eu ainda sou uma mulher?”. O que faz com
que uma mulher seja uma mulher? Deus me
respondeu e, aos poucos, me fez enxergar que a
minha identidade é baseada no sangue dele, e não
no meu sangramento mensal.
Eu sou filha dele porque ele sangrou e morreu por
mim. Eu sou mulher porque ele esculpiu meu
coração e minha pessoa assim, e não por causa de
minha capacidade reprodutora. E ele me deu este
corpo para a glória e os propósitos dele, para que eu
servisse a ele e servisse ao seu povo por meio dele,
independentemente do que possa acontecer com ele.
Meu corpo continua a guardar seus segredos de
mim, mas eu estou aprendendo a conviver com ele
de uma nova maneira. Ele tem novas idiossincrasias
e exigências. Aprendi que esse corpo estranho
permanecerá comigo enquanto meu Salvador quiser.
Em meio a tudo que é novo e diferente, há algo
que não é novo nem diferente: o propósito de Deus
para mim e para meu corpo. As boas obras que ele
criou para que eu realizasse continuam aí, à espera
de uma atitude minha. Embora a minha fecundidade
em uma área tenha acabado, um reino cheio de
outras oportunidades para frutificar está ao meu
redor.
Então, eu sou uma mulher na fase do entardecer da
vida e estou feliz por isso. É uma coisa boa não
depositar nossa confiança em um corpo jovem e
firme. É uma coisa boa saber que esse corpo voltará
ao pó. É uma coisa boa saber que nossos dias estão
escritos no livro dele. Sim, cada um de nossos dias.
É uma coisa boa viver de todo coração, investir
nossos dons no reino de Deus e em seu povo, na
criação de Deus. Por tudo o que eu amo nesta terra,
preciso aprender constantemente a amar sem exigir
que sejam eternas as coisas que pertencem apenas a
este mundo. Meu coração precisa desejar, em
primeiro lugar, a face e a presença dele.
Esta mulher na fase do entardecer da vida é
renovada diariamente em Cristo. Eu estou pronta
para amar, para sorrir e para me regozijar de muitas
e novas maneiras. Ainda estou correndo a corrida
que Hebreus descreve, mas agora corro com
palmilhas ortopédicas. Grande parte da jornada de
fé ainda está por acontecer. Eu respiro fundo. Eu
fecho os olhos e sinto o sol em meu rosto. Eu sorrio.
O que Deus fará hoje?
*
Como eu disse, minha experiência foi diferente.
Isso não significa, contudo, que tenha sido mais
correta. Eu estava menos preocupada com o
significado dessas mudanças em mim. Eu sou
mulher, mesmo não sendo mais fértil, mesmo não
tendo útero ou um seio. Eu sou mulher em meus
cromossomos e, o mais importante, em minha alma,
diante de um amoroso Pai celestial, que me criou
para ser mulher e nada pode mudar isso.
Independentemente de onde você se encontra nesse
processo — começando a aprender novas palavras
ou, como eu, já tendo percorrido um bom caminho
—, é apropriado que você reserve algum tempo para
refletir, ler e orar sobre os novos desafios que está
enfrentando. “E a melhor maneira de você se
preparar para a menopausa é, em primeiro lugar, se
informar sobre o assunto. Saber o que esperar pode
aliviar boa parte do estresse que a mulher enfrenta
desnecessariamente quando começa a se dar conta
dos... sintomas sem saber o que fazer”.5
Na segunda nota de rodapé deste capítulo, sugeri
alguns livros que podem ajudá-la a se aprofundar
nesse tema. Seja como for, lembre-se de que as
mudanças fazem parte da maneira como Deus criou
o mundo para ser e que as mudanças da vida não
são uma surpresa ou uma dificuldade para ele. Ele
usará as mudanças em sua vida como instrumentos
para a glória dele e para seu bem, e tudo que você
precisa fazer é reconhecer que a menopausa não é o
fim da vida, nem significa deixar de ser mulher.
Trata-se apenas de uma nova fase. Eu estou
contente por não ter mais de comprar absorventes,
não tenho mais cólicas, nem vivo mais à sombra da
TPM. Há males que vêm para o bem — e a nova
liberdade que estou experimentando é esse bem.
Administrando sua saúde
Em 1 Coríntios 6.19-20, está escrito: “Acaso, não
sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de
Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus
no vosso corpo”.
Embora esses versículos falem primariamente sobre
sua responsabilidade de se afastar da imoralidade
sexual, as implicações são claras para o cuidado do
corpo. Nós, nossos espíritos, nossas almas, nossos
corpos pertencem ao Senhor.
O Catecismo Maior de Westminster, comentando
sobre a exigência do sexto mandamento, “Não
matarás”, afirma que é nosso dever manter o “uso
sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho
e recreios”.66 Eu sei que não costumo ver o cuidado
com o corpo como uma responsabilidade piedosa.
Minhas motivações costumam ser simplesmente
uma questão de me sentir bem e de caber em
minhas roupas. Em geral, não me dou conta de que
Deus reivindica ser o dono do meu corpo e que ele
mandou que eu fosse uma boa administradora do
corpo que ele me deu. Mas o reino de Deus inclui
até mesmo isso. Eu preciso perguntar: “Estou me
esforçando para manter meu corpo o mais saudável
possível?”. Isso não significa que é pecado
envelhecer ou ter uma doença crônica, embora a
doença inicialmente tenha passado a existir no
mundo por causa do pecado; significa apenas que
preciso administrar os dons que ele me deu, em vez
de desperdiçá-los negligenciando uma alimentação
saudável, o descanso, a prática de exercícios ou uma
ajuda médica. Preciso ter certeza de que estou
dormindo o suficiente, mas não dormindo demais,
que estou trabalhando seis dias por semana e
descansando um, e passando uma quantidade
apropriada de tempo com as recreações que me
permitem relaxar.
Glorificai a Deus no vosso corpo
Se você é como a maioria dos cristãos,
provavelmente tende a crer que Deus está mais
interessado em sua alma do que em seu corpo — e,
em certo sentido, em relação à sua vida eterna com
ele, isso é verdade. Mas, em outro sentido, não é.
Leia novamente 1 Coríntios 6.19-20. Paulo diz aos
coríntios: “glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”.
Enquanto estamos confinados a esta terra, tudo o
que fazemos é com nosso corpo. Nós adoramos e
servimos a Deus com nosso corpo, que é uma casa
para nossa alma, e nós pecamos contra Deus em
nossos pensamentos e atitudes através do corpo.
Nós podemos glorificar a Deus em nosso corpo pela
alegre obediência ou podemos viver para nossos
próprios prazeres, o que pode incluir a fofoca, a
preguiça, a glutonaria ou o excesso de trabalho.
Paulo queria que seus leitores vivessem de uma
maneira que levasse outras pessoas a querer
conhecer a glória de Deus — sua magnificência e
graça — e também que inspirasse louvor e amor por
ele. Ele os instruiu a glorificar a Deus com o corpo!
É surpreendente constatar que o cuidado que você
tem com seu corpo pode fazer diferença para o
Senhor, mas é evidente que faz.
O desejo de ser bonita
Eu tenho uma boa amiga que, recentemente,
completou 42 anos. Enquanto eu lhe desejava feliz
aniversário, ela mencionou sua idade e contou que
outra amiga disse que ela ainda aparentava ser muito
jovem. Em um tom de brincadeira, respondi que,
biblicamente, isso tinha sido um insulto. Segundo a
Escritura, a velhice é mais desejável do que a
juventude. A suposição subconsciente de nossa
cultura de que as pessoas mais velhas são inúteis
contradiz tudo o que a Escritura ensina. Os versos a
seguir que falam sobre os idosos têm por objetivo
transformar seus pensamentos para que eles não
sigam o modelo do mundo de culto à juventude.
“Diante das cãs te levantarás, e honrarás a presença do
ancião, e temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR.” (Lv 19.32)
“Está a sabedoria com os idosos, e, na longevidade, o
entendimento?” (Jó 12.12)
“Coroa de honra são as cãs, quando se acham no caminho
da justiça.” (Pv 16.31)
“O ornato dos jovens é a sua força, e a beleza dos velhos,
as suas cãs.” (Pv 20.29)
Para aqueles que tiveram uma vida de
relacionamento pactual com Deus, a Bíblia presume
que haverá sabedoria e honra. De fato, os jovens
têm força física e podem ter muita sabedoria, mas os
idosos têm a maturidade e a força que só podem ser
produzidas no caldeirão de uma fé vivida neste
mundo amaldiçoado pelo pecado.
A mulher que viveu o conselho de Deus em meio à labuta e
à tribulação tem resiliência, vigor e uma perspectiva fiel. A
sabedoria piedosa compensa qualquer perda da capacidade
física que ela possa estar experimentando. Por isso, Paulo
instrui Tito a levantar as mulheres piedosas e maduras para
aconselhar as mulheres mais jovens.7
A mulher virtuosa compreende o que é
importante
Como escrevi no capítulo 2, o retrato da uma
virtuosa mulher de fé que encontramos em
Provérbios 31 não é o de uma jovem. Essa mulher,
o padrão básico de piedade, é atemporal e já tem
certa idade. Ela tem idade suficiente para ter vivido
uma vida cheia de desafios e vitórias. Você ouviu
falar dela em muitos de nossos capítulos. Lembre-
se, ela não deve enxergar a si mesma de acordo com
o típico retrato da mulher do Oriente Médio, como
um brinquedo sexual do homem. Ela também não
está de acordo com a visão grega da mulher como a
mera sabedoria ociosa. O retrato bíblico é de uma
eset hayil, um termo que “descreve o equivalente
masculino a gibbor hayil, o título dado aos ‘homens
de virtudes’ [...] da época de Davi”.8 A mulher
piedosa de Provérbios 31 é uma forte mulher
virtuosa, uma guerreira que luta corajosamente por
sua família, por sua comunidade e por seu Deus.
Provérbios 31 é um retrato formado por verbos —
mas não se trata da ação como um mero fim em si
mesmo. Ela é a própria sabedoria em ação.
Não causa surpresa que ela não tenha muito
interesse no charme e na beleza, não é mesmo?
Quanto você já se afastou dessa perspectiva sobre o
que é importante em uma mulher?
Edificando sua casa sobre a rocha
O foco da vida da mulher virtuosa na fase do
entardecer é o chamado de Deus. Talvez ela ainda
seja uma dona de casa; talvez esteja envolvida com
o ministério ou talvez tenha um trabalho secular.
Talvez ela já seja avó ou ainda esteja esperando para
ter netos; talvez ela seja solteira porque nunca se
casou, porque ficou viúva ou porque se divorciou.
Seja qual for seu estado civil e independentemente
de suas atividades diárias, ela é internamente linda e
tem uma sabedoria que encontra satisfação no
serviço amoroso e autossacrificial que presta às
pessoas.
Em vez de focar as coisas externas, tão enfatizadas
por nossa cultura, discipline a si mesma para refletir
com profundidade sobre as qualidades internas que
Deus honra. Reflita sobre a construção de uma casa
por meio da sabedoria, enchendo-a com as preciosas
riquezas que o conhecimento proporciona (Pv 14.1;
24.3-4). Considere a importância da sabedoria que
você tem: a sabedoria pode ser usada para ensinar as
mulheres mais jovens sobre o caminho da vida para
que o evangelho não seja difamado (Tt 2.3-5).
Abstenha-se de concentrar suas energias
primariamente na aparência externa. Em vez disso,
procure ser modesta, discreta e cheia das boas obras
que condizem com uma mulher piedosa (1Tm 2.9-
10). Pense nas características que qualificavam a
viúva a receber ajuda e apoio da igreja: fidelidade,
caridade, hospitalidade, diligência e benevolência
(1Tm 5.9-10).
À medida que vamos nos aproximando do fim de
nosso tempo juntas, reflita, mais uma vez, sobre
como três homens piedosos descreveram a mulher
virtuosa na fase do entardecer da vida: “seja
recomendada pelo testemunho de boas obras, tenha
criado filhos, exercitado hospitalidade, lavado os pés
aos santos, socorrido a atribulados, se viveu na
prática zelosa de toda boa obra” (1Tm 5.10).
Pedro dá a seguinte instrução: “Não seja o adorno
da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos,
adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém,
o homem interior do coração, unido ao incorruptível
trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de
grande valor diante de Deus” (1Pe 3.3-4).
E, por fim, como iniciamos nosso estudo, voltemos
ao rei Lemuel, para que ele nos faça lembrar que
“enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a
mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada” (Pv
31:30).
Você confia que as palavras de Deus são
verdadeiras? Você acredita que temer ao Senhor é
mais importante do que parecer jovem?
Vidas ricas e frutíferas do princípio ao fim
O Senhor ordenou seu universo para que as coisas
mudassem, crescessem, se transformassem e
desaparecessem. Ele ordenou nossas vidas como
mulheres de maneira bem parecida. Estamos
mudando, crescendo e nos transformando. Existem
segmentos de nossas vidas que estão desaparecendo,
enquanto outros estão nascendo. Em tudo isso,
minhas amadas irmãs, Deus está amorosamente nos
ensinando sobre si mesmo e está nos fazendo ansiar
pelo dia em que tudo isso chegará ao fim e nos
gloriaremos em sua presença, contemplando
eternamente sua bem-aventurada face. Enquanto
isso, ele nos deu graça e sabedoria suficientes para
vivermos de maneira virtuosa e reverente. Você
confia nele? Você aceitará o plano que ele tem para
você, prostrando-se humildemente diante dele? Você
consegue ver quanto ele é bom para você? Deixe-me
personalizar Salmos 92 para você, minha boa irmã:
A mulher justa florescerá como a palmeira, crescerá como
cedro no Líbano. Plantada na Casa do SENHOR, ela
florescerá nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda dará
frutos, ela será cheia de seiva e de verdor, para anunciar
que o SENHOR é reto; ele é a sua rocha e nele não há
injustiça (Sl 92.12-15).
Tornando-se uma mulher sábia
1. O que mais deixa você incomodada sobre o
processo de envelhecimento?
2. Em que fase você se encontra no desenrolar da
perimenopausa/menopausa? Você já estudou as
informações relevantes para ajudá-la a tomar
decisões sábias?
3. Você se esforça para cuidar bem de seu corpo?
Você entende que recebeu um corpo de Deus para
que pudesse glorificá-lo durante sua jornada terrena?
O que talvez você precise mudar?
4. Ao refletir sobre os assuntos que abordamos
neste capítulo, há algum que você precise rever e
trabalhar para melhorar?
5. Você consegue perceber que Deus está
chamando você para levar uma vida virtuosa e
frutífera mesmo nos anos de entardecer da sua vida?
Qual é o objetivo dele ao fazer isso? (Leia Salmos
92.15.) Reflita também sobre os seguintes
versículos:
Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade; e
até agora tenho anunciado as tuas maravilhas. Não me
desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs; até
que eu tenha declarado à presente geração a tua força e às
vindouras o teu poder (Sl 71.17-18).
6. Resuma o que você aprendeu neste capítulo.

1 Dados sobre histerectomia por estado e por idade, National


Uterine Fibroids Foundation, Camarillo, California, 1998-2000.
2 Existem diversos livros que apresentam soluções homeopáticas
ou mais naturais para se lidar com a menopausa. Essas referências
bibliográficas não representam uma cosmovisão cristã e, em alguns
casos, sugerem soluções quase espirituais para os problemas que
as mulheres na menopausa enfrentam. Portanto, minha
recomendação vem com o aviso de que, embora você encontre
algumas coisas úteis nesses livros, precisa lê-los com um olhar
deliberadamente crítico. Os livros são: John R. Lee, M.D., e
Virginia Hopkins, What Your Doctor May Not Tell You About
Menopause (New York: Warner Books, 1996); Susan Love, M.D.,
e Karen Lindsey, Dr. Susan Love’s Hormone Book (New York:
Random House, 1997). O livro da Dra. Love apresenta muitas
opções diferentes para a mulher na menopausa, além de apresentar
ao leitor uma perspectiva mais histórica. Leia também Gayle Sand,
Is It Hot in Here or Is It Just Me? A Personal Look at the Facts,
Fallacies, and Feelings of Menopause (New York: Harper Collins,
1993).
3 Shirley V. Galucki, M. D., “Medical Questions Women Ask”, em
Elyse Fitzpatrick e Carol Cornish, Mulheres ajudando mulheres.
Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
4 Entre as mulheres mais velhas em uso de terapia de reposição
hormonal, havia uma quantidade duas vezes maior de demência,
incluindo Alzheimer, em comparação com as mulheres que não
faziam, segundo novas descobertas de um estudo do programa
Women’s Health Initiative. A pesquisa, que faz parte do Estudo da
Memória da Iniciativa pela Saúde da Mulher e foi relatada no dia
28 de maio de 2003 no Journal of the American Medical
Association (JAMA), constatou o risco maior de desenvolver
demência em um estudo de mulheres acima de 65 de idade que
tomavam PremproTM, uma forma específica de estrogênio mais a
terapia hormonal com progesterona. (Artigo da internet publicado
pelo National Institutes of Health, Departamento dos Estados
Unidos de Saúde e Serviços Humanos, 27 de maio de 2003.)
5 Elyse Fitzpatrick e Carol Cornish, Mulheres ajudando mulheres.
Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
6 Questão 135, The Westminster Larger Catechism, The
Westminster Standards (Suwanee, GA: Great Commission
Publications, 1997), 57.
7 Mulheres ajudando mulheres, op. cit.
8 Al Wolters, The Song of the Valiant Woman (Carlisle, United
Kingdom: Paternoster, 2001), 9.
11 • Mulheres Maduras no
Ministério
[...] porque tem sido protetora de muitos.
(Rm 16.2)
Enquanto compartilhávamos nossas experiências
dessa fase do entardecer da vida, focamos
principalmente nas possíveis áreas de dificuldade de
nossas vidas pessoais. Olhamos para nossos
diferentes e variados tipos de relacionamentos,
especialmente os relacionamentos do lar, e
refletimos sobre maneiras de aproveitar melhor essa
época da vida, por mais difícil que seja. Todavia,
neste capítulo, vamos deixar de focar naqueles que
são nossos próximos mais próximos (as pessoas que
moram conosco) para focar naqueles que fazem
parte de nossa igreja e de nossa comunidade, e
vamos explorar as áreas ministeriais que talvez
estejam se abrindo para nós.
Embora essa fase da vida seja cheia de mudanças,
também costuma ser uma fase em que as prioridades
são reavaliadas, o que pode fazer com que você
tenha mais tempo livre. Quando os filhos saem de
casa (e antes de voltarem para casa!)), se você não
estiver trabalhando em um emprego de tempo
integral, talvez descubra que tem um pouco mais de
tempo livre em mãos. Esse tempo pode ser usado
para beneficiar aqueles que não fazem parte de sua
família imediata.
Mulheres que ensinam
Parte do conselho de Paulo para Tito, enquanto ele
estabelecia igrejas em Creta, foi que ele
reconhecesse o grande recurso que estava à sua
disposição em um segmento frequentemente
subestimado da congregação. Paulo escreveu:
Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam
sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas
a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem
as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus
filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa,
bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus
não seja difamada (Tt 2.3-5).
Uma mulher mais velha, na fase do entardecer da
vida, tem dons e experiências que podem ajudar as
mais jovens que ainda não chegaram lá. Em outra
carta sobre ordem eclesiástica, Paulo escreveu que
as mulheres não deveriam ensinar, nem exercer
autoridade de homem; devendo, pois, estar em
silêncio (1Tm 2.12). Embora essa restrição se
aplique a uma mulher que exerce a autoridade de
ensino sobre um homem, Paulo não está dizendo
que as mulheres não deveriam ensinar ninguém.
Pelo contrário, ele diz a Timóteo que as mulheres
mais velhas deveriam estar ensinando. O público?
As mulheres mais jovens. O assunto? Como viver de
maneira sã, piedosa e apropriada, e como realizar
todas as coisas pelas quais as mulheres mais velhas
já passaram (exatamente como temos feito neste
livro!)
Como há inúmeros bons livros sobre o que se tem
chamado Ministério de Tito 2,1 minha intenção não
é fazer um estudo aprofundado sobre o assunto. O
que eu fiz foi pedir a uma amiga na fase do
entardecer da vida, Anita Manata, que escrevesse
seus pensamentos sobre o papel da mulher na igreja.
A história de Anita:
mulheres ministrando a
mulheres na igreja
Deus planejou com sabedoria o ministério de todos
os seus filhos. Ao longo de toda a Escritura, vemos
sua ênfase na construção de relacionamentos
interpessoais que refletem seu caráter e encorajam o
crescimento mútuo na piedade. Os membros
individuais da igreja utilizam seus dons excepcionais
dentro da estrutura de sua personalidade para
promover o crescimento espiritual da noiva de Cristo
e para dar testemunho dele ao mundo.
Mas a sabedoria de Deus em projetar a maneira
como os membros da igreja usam seus dons de
acordo com a própria personalidade também inclui a
estrutura dos papéis específicos do homem e da
mulher no ministério da igreja. No caso das
mulheres, o modelo de Deus é especificamente o
que encontramos em Tito 2.3-5. É aqui que Deus
diz a quem ele quer que ministremos. As mulheres
devem ministrar às mulheres, e as mulheres mais
velhas devem instruir as mais novas sobre como
serem piedosas nas mais variadas situações.
A verdade é que toda mulher na igreja, não importa
a idade, precisa usar os dons que tem para construir
relacionamentos interpessoais que são mutuamente
edificantes. As mulheres mais jovens terão mais
oportunidades de ministrar às mais velhas também,
de acordo com os dons que receberam. Embora isso
seja verdade, devemos prestar atenção ao padrão
que Paulo diz que Tito deveria ensinar em sua
igreja. Se formos negligentes, deixaremos de
desfrutar a perfeita sabedoria na maneira como Deus
projetou que as coisas deveriam ser.
Obstáculos para esse ministério:
Grupos separados por faixa etária
O modelo de Tito 2, o de mulheres mais velhas
instruindo as mais novas na piedade, é contrário a
tudo o que vemos em nossa cultura caída. Desde a
tenra infância, as crianças são agrupadas de acordo
com a idade nas escolas e até mesmo em algumas
escolas dominicais. Talvez essa prática seja de
alguma forma benéfica ao desenvolvimento da
criança. Contudo, em algumas escolas dominicais, a
prática de agrupar por idade tornou-se a norma até
mesmo para os adultos. Existem categorias, como
“faculdade e carreira”, os “jovens casados”, “os pais
de filhos jovens”, os “pais de adolescentes” e até
mesmo uma classe voltada aos idosos. Esse tipo de
separação por idade não permite que os
relacionamentos intergeracionais de Tito se
desenvolvam. A sabedoria de Deus em chamar
indivíduos de uma grande variedade de profissões e
estratos sociais é que sua igreja seja edificada,
quando seus membros aprendem e se tornam
participantes das experiências uns dos outros.
Deus, em sua sabedoria e bondade, criou as
mulheres para que fossem seres relacionais. Ele nos
criou para que fôssemos auxiliadoras. Deus nos
criou para que fosse natural que as mulheres mais
velhas ajudassem as mais novas, encorajando-as a
desenvolver uma atitude e um foco piedosos. À
medida que uma mulher vai amadurecendo na vida e
na fé, naturalmente tem mais a oferecer do que uma
mulher com menos experiência. Uma mulher menos
madura sente-se tentada a se dedicar a alguma coisa
que não seja sua família, a ser indisciplinada ou a ser
egocêntrica, em vez de agir de maneira bondosa
com as pessoas. A mulher mais madura, porém, é
alguém que aprendeu a defender a fé nessas áreas de
maneira mais consistente e tem muito a
compartilhar. A vida no corpo de Cristo é sobre os
membros apoiando e encorajando uns aos outros
para que tenham atitudes piedosas.
Mulheres maduras e piedosas devem ter
consciência de que também tendem a querer se
reunir somente com pessoas da mesma idade. Então,
mesmo que pareça que a igreja está encorajando
esse tipo de separação, devemos evitar nos
relacionar somente com as pessoas que nos deixam
mais à vontade. O que devemos fazer é esforçar-nos
para viver de maneira autossacrificial.
Foco no tempo livre e no crescimento
As mulheres mais velhas são naturalmente mais
voltadas a ajudar as mulheres mais jovens não
apenas porque têm mais experiência, mas também
porque costumam ter mais tempo livre, pois seus
filhos já são adultos e saíram de casa, e algumas até
mesmo já se aposentaram. Nossa cultura também
anda na contramão de tudo isso. As mulheres dessa
idade são encorajadas a fazer alguma coisa para
desenvolver a autoimagem. O pensamento é que,
como elas abriram mão de tantos momentos de suas
vidas para ajudar as pessoas, agora merecem passar
todo o tempo livre fazendo o que bem entenderem.
Ioga e aulas de pintura tornam-se meios populares
para elas se sentirem realizadas, assim como as
filosofias religiosas da Nova Era. Talvez esse erro já
estivesse, de alguma forma, presente na época do
Novo Testamento, o que explica a razão pela qual
Paulo mandou Tito instruir as mulheres mais velhas
a focar em seu próximo, e não em si mesmas. Uma
mulher sempre se sentirá mais realizada se viver de
maneira bíblica em vez de tentar se sentir realizada
da maneira como a maioria acha que vai conseguir.
A maneira de encontrar nossa vida é perdendo-a.
Até mesmo na igreja, o modelo de Tito 2 não é
praticado tanto quanto deveria. Algumas igrejas já
conseguiram implementar estudos bíblicos em que
algumas mulheres mais maduras se alternam umas
com as outras para conduzir os devocionais ou para
ministrar estudos bíblicos. Algumas igrejas
expandiram esse modelo para incluir um grupo de
mulheres que vão na casa de uma mulher mais
madura para aprender determinada receita ou
alguma outra atividade doméstica. Mas a prática de
relacionamentos como os de Tito 2 também deve
acontecer fora das reuniões formais.
Os relacionamentos podem e devem desenvolver-se
fora desses grupos eclesiásticos mais formais. Por
exemplo, uma mulher talvez encontre uma mulher
mais jovem em seu bairro ou em sua congregação
que ela queira mentorear informalmente, às vezes
sem nem mesmo dizer que isso é o que está
tentando fazer. A igreja pode estar envolvida nesse
processo ou não — encontrar-se algumas vezes por
mês para tomar café ou para conversar sobre suas
experiências provavelmente seria algo muito
benéfico para uma jovem. Disponibilizar-se para
ficar com as crianças ou ajudar nas tarefas
domésticas também revelam o coração de uma serva
que é como Cristo.
Temores pecaminosos
Às vezes, a razão para esse tipo de ministério uma-
a-uma não estar acontecendo são os temores
pecaminosos que nos impedem de construir nossos
relacionamentos da maneira como deveríamos fazer.
Algumas mulheres mais velhas supõem que seria
uma atitude descortês se simplesmente começassem
a dizer às outras mulheres como portar-se como
esposas e como mães ou como manter o
autocontrole e agir com bondade. Talvez elas
pensem que, como a cultura está sempre em
mudança e como o que é comum para as mulheres
de hoje não era comum quando elas tinham a
mesma idade, elas não têm nada de relevante a
oferecer. Talvez elas tenham medo de dar a
impressão de que parecem saber tudo. Uma coisa
que a maturidade tende a gerar no coração de uma
pessoa é a humildade de saber que ainda há muito a
ser aprendido. Então, enquanto elas deveriam estar
ocupando um espaço para ser mais úteis na igreja,
lutam contra o pensamento de que são inúteis.
Uma coisa que as igrejas poderiam fazer para
ajudar a superar esse problema seria encorajar as
mulheres mais jovens a convidar as mais velhas para
instruí-las acerca das mais variadas maneiras. Elas
poderiam ligar para pedir ajuda ou para convidá-las
para tomar um café. Uma mulher mais jovem pode
construir um relacionamento com a mulher mais
velha visando aprender com suas experiências.
Assim, ela estaria estocando recursos para uma
necessidade futura. As mulheres mais jovens
também têm dificuldade com a preocupação de que,
como são mais jovens e não têm o mesmo grau de
experiência, a mulher mais velha vai achá-las
entediantes e infantis. Elas também têm as
responsabilidades de uma família mais jovem ou de
uma nova carreira, o que torna mais difícil dispor de
tempo para construir relacionamentos. Então, em
algumas igrejas, o modelo de Tito 2 raramente é
praticado. Ainda assim, mesmo que não esteja sendo
praticado formalmente em sua congregação, você
pode adotar algumas atitudes para seguir as
instruções de Paulo no sentido de estabelecer
relacionamentos intergeracionais de maneira menos
formal e mais individual. Você não precisa esperar a
igreja instituir um programa oficial: você pode tomar
a iniciativa para construir relacionamentos com as
mulheres mais jovens.
Viver biblicamente é uma guerra

Precisamos lembrar que viver biblicamente nunca é


fácil. É uma guerra. Tentar viver com base no que
Deus disse é viver na contramão da cultura secular e
de nossos desejos pecaminosos. Mas grande parte
da batalha é vencida quando passamos a entender o
que Deus quer que façamos e, em seguida,
começamos a lutar a batalha da fé nessa área. As
mulheres sempre devem ser ensinadas e lembradas
da importância de construir relacionamentos
encorajadores umas com as outras. É especialmente
importante que elas sejam encorajadas a construir
esses relacionamentos com pessoas de outras idades.
Os líderes da igreja têm a responsabilidade de
ensinar as mesmas coisas que Paulo disse que Tito
tinha de ensinar: sobre os relacionamentos
intergeracionais, que tinham por objetivo promover
a vida piedosa. Se esse tipo de instrução está vindo
do púlpito e dos líderes, toda a igreja será
impactada.
O grande benefício de uma igreja que pratica, de
modo eficaz, o modelo de Tito 2 é que a palavra de
Deus não é difamada (Tt 2.5). O mundo olha para a
igreja e vê pessoas vivendo de uma forma que
glorifica a Deus pela prática de sua Palavra. Em vez
de mulheres mais velhas sentindo-se inúteis, elas são
respeitadas e honradas na igreja. Em vez de
mulheres mais jovens sentindo-se frustradas, tendo
de aprender sozinhas as coisas da vida, elas sentem
o apoio e o cuidado de mulheres mais experientes.
Uma igreja torna-se mais forte e mais saudável
quando os membros ministram biblicamente uns
para os outros. O que poderia ser um objetivo mais
digno?
*
Reverente no comportamento
A exigência primária da mulher na fase do
entardecer da vida que se envolve com o mentoreio
e o ensino de mulheres mais jovens envolve seu
caráter. Ela deve ser “séria” em seu proceder. Ao
ensinar que as mulheres deveriam ser sérias, Paulo
estava se referindo ao que já escrevera sobre os
homens mais velhos. Como esse versículo é a única
ocasião em que essa palavra grega específica é
usada, podemos entender melhor o que Paulo está
dizendo se olharmos para os versículos anteriores,
na parte em que ele descreve as qualidades que
deseja ver nos homens mais velhos. Eles devem ser
“temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no
amor e na constância” (Tt 2.2). Antes de sermos
capazes de instruir outras mulheres com sabedoria,
devemos apresentar essas qualidades. Algumas
coisas que precisamos ensinar às jovens mulheres,
precisamos aprender e praticar primeiro.
Temperantes. Na versão que estou usando, a
palavra grega é traduzida duas vezes como
“temperante” e uma vez como “vigilante”, e eu acho
que isso deixa claro onde Paulo quer chegar. Uma
mulher piedosa mais velha deve abster-se do uso
imoderado do álcool ou de qualquer substância que
possa obscurecer seu discernimento e influenciar seu
caráter, fazendo com que baixe a guarda de maneira
impiedosa.
Respeitáveis. Uma mulher respeitável na fase do
entardecer da vida deve ser conhecida como uma
mulher honrada e digna de respeito.
Sensatas. Mais uma vez, Paulo enfatiza a
necessidade da temperança e da discrição. A palavra
grega tem a conotação de “refrear os próprios
desejos e impulsos”.2
Sadias na fé. As mulheres devem esforçar-se para
que sua doutrina seja purificada do erro e para que
seja construída sobre a veracidade da palavra do
Deus da Bíblia, pois ele se revelou na Bíblia.
Sadias no amor. Não precisamos somente da sã
doutrina; precisamos também ser fortes na graça do
amor por nosso Deus e por nosso próximo.
Sadias na constância. A constância é a
característica de uma mulher “que não se desvia de
seu propósito deliberado e de sua lealdade à fé e à
piedade, mesmo diante das maiores tribulações e
sofrimentos”.3 Aqui, nós falamos acerca de algumas
das principais tribulações que a mulher experimenta
nessa fase da vida. Paulo diria o seguinte para nós:
“Se você perseverou em meio a essa fase da vida,
tem algo de grande valor para dar a essas mulheres
mais jovens. Persevere nos momentos de dúvida e
de tribulação. Sua vida é um rico depósito de
tesouros, cheio de joias da sabedoria de que suas
irmãs precisam”.
Como Carolyn Mahaney escreveu em Feminine
Appeal, “nossa conduta exerce influência direta na
maneira como as pessoas pensam sobre o
evangelho. O mundo não nos julga por nossa
teologia. O que eles querem ver é se aquilo em que
cremos faz diferença em nossas vidas. Nossas ações
podem trazer honra para Deus ou podem difamá-
lo”.4
Antes de falarmos sobre todas as outras
oportunidades ministeriais que, como mulheres na
fase do entardecer da vida, estão abertas a nós,
posso encorajá-la a revisar a lista acima e a pedir ao
Senhor para conceder a graça necessária e a
transformação nas áreas em que você é fraca?
Lembre-se de que sua completa santificação faz
parte do plano dele; e tudo é para a glória dele.
Mulheres que ensinam crianças
Além de ensinar as mulheres mais jovens, as
mulheres mais velhas também são encorajadas a
ensinar as crianças. Aliás, as mulheres foram
instrumentais no ensino de Timóteo, o discípulo de
Paulo. Paulo escreveu que a fé que ele via em
Timóteo habitou inicialmente em sua avó Loide e,
em seguida, em sua mãe, Eunice (2Tm 1.5). Ele
disse a Timóteo: “Tu, porém, permanece naquilo
que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de
quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as
sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a
salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3.14-15).
Timóteo tinha ouvido a verdade sobre Jeová e, em
última instância, sobre Jesus Cristo por intermédio
de sua mãe, de sua avó e, provavelmente, de Paulo,
em sua primeira jornada missionária para Listra.
Embora talvez Paulo fosse o meio direto que Deus
usou para salvar Timóteo, é evidente que o coração
dele já fora preparado pela boa obra de sua mãe e
de uma mulher mais velha, Loide. Loide usou a
sabedoria que havia adquirido para plantar a verdade
no coração de seu querido neto.
Lemuel, o escritor de Provérbios 31,5 diz que
aprendeu as características da mulher piedosa com
sua mãe. Desde o princípio da família, as mães e
avós sempre foram cruciais para o ensino da
verdade aos seus filhos e filhas. Não sabemos
quantos anos Lemuel tinha quando sua mãe o
ensinou a encontrar uma boa esposa, mas é evidente
que ela exercia forte influência sobre ele. As
mulheres na fase do entardecer da vida devem usar
cada oportunidade que aparece para ensinar as
crianças — nas aulas da escola dominical, nos
clubes da Bíblia ou à mesa de jantar.
Mulheres que ensinam homens
Embora as mulheres sejam proibidas de ensinar os
homens em um ambiente eclesiástico formal ou
autoritativo, há menção de pelo menos uma mulher
ensinando um homem em um ambiente privado.
Priscila e seu marido, Áquila, formavam uma equipe
de ensino, e Paulo não teve qualquer problema com
esse papel dela. Áquila e Priscila acompanharam
Paulo até Éfeso e continuaram lá, fortalecendo a
igreja enquanto ele prosseguia em sua viagem. Em
Atos 18.26, lemos sobre como Priscila e Áquila
corrigiram Apolo: “Ouvindo-o, porém, Priscila e
Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão,
lhe expuseram o caminho de Deus”. Para o objetivo
deste capítulo, não é necessário enfatizar esse
versículo, mas eu quero dizer pelo menos que Paulo
não tinha qualquer problema com esse tipo de
ministério. Lembre-se de que era um ministério
privado e, provavelmente, ela ensinava junto com o
marido.
Mulheres que aconselham mulheres e homens
Minha posição é — e sempre foi — que as
mulheres são chamadas para aconselhar outras
mulheres, ajudando a treiná-las e encorajá-las a
cumprir um ministério de Mulheres ajudando
mulheres.6 Em meu próprio ministério de
aconselhamento, as pessoas que aconselho são quase
exclusivamente mulheres, embora, em algumas
ocasiões, eu tenha pedido a uma esposa que
trouxesse o marido para obter algumas informações.
Tendo dito isso, não acho que seja pecaminoso ou
antibíblico que uma mulher aconselhe um homem;
especialmente no relacionamento entre marido e
mulher. Creio que as mulheres são chamadas para
isso.7 Como escreveu Thomas R. Schreiner,
as mulheres já se envolveram em ministérios significativos,
mesmo que não fossem ministérios oficiais. Pense em
Abigail de 1 Samuel 25. Abigail não era uma profetisa e,
até onde sabemos, não tinha qualquer outro ministério
oficial. Contudo, seu conselho humilde e gentil a Davi o
convenceu a não matar Nabal. Quantos eventos não
registrados não devem ter existido de mulheres
persuadindo homens, com humildade e gentileza, a seguir
um caminho mais justo!8
Avó para a igreja

Eu só fui salva com vinte e poucos anos e me


lembro de uma mulher na igreja que comecei a
frequentar, a quem conhecíamos como Mãe Cazier.
Após a minha conversão, imediatamente me
matriculei em uma faculdade bíblica e a Mãe Cazier
cozinhava para nós e nos ajudava com muito amor.
Lembro-me dela como uma mulher humilde,
diligente, que não se preocupava com os holofotes e
tinha prazer em cuidar dos estudantes. Ela garantia
que teríamos donuts para comer no intervalo e,
quando chegava a hora de juntar dinheiro para os
“estudantes famintos”, ela estava lá por nós.
Lembro-me especialmente dos tacos que ela
preparava e da diferença que o amor dela fazia em
minha vida.
Seria um agradável testemunho da graça de Deus
se cada mulher que está lendo este livro decidisse
adotar alguns jovens da igreja.
Mulheres que edificam, encorajam, suplicam e
consolam

Seja qual for sua posição sobre a natureza das


profecias e sobre se esse dom ainda existe hoje, é
evidente que Paulo não era contrário à mulher trazer
uma palavra de edificação, encorajamento e
consolação na igreja do Novo Testamento (veja 1Co
14.3) ou contra a mulher orar publicamente na
igreja (1Co 11.5).
Quando ele deu diretrizes aos coríntios sobre as
orações e as profecias na igreja, ele poderia ter dito:
“E não permito que a mulher ore, nem encoraje
alguém em público”. Mas não foi isso que ele disse.
Ao instruir os coríntios, ele disse que os maridos e
as esposas poderiam orar e profetizar publicamente,
mas a esposa teria de fazer isso usando um véu,
como um sinal da autoridade que ela reconhecia
(1Co 11.5, 10) e do desejo que tinha de ser
reconhecida como mulher. Embora Paulo
defendesse a liderança bíblica masculina, proibindo
a mulher de julgar “profecias”, permitiu que elas
ministrassem uma palavra profética ou que fizessem
uma oração. Como Schreiner escreveu: “Paulo
afirma que as mulheres podem profetizar [...] que as
mulheres têm dons proféticos e que quer que elas
exerçam esses dons na igreja, mas não quer que
subvertam a liderança masculina”.9
Eu entendo que muitas pessoas que estão lendo
este livro creem que o dom de profecia cessou, mas,
ainda assim, talvez seja permitido que mulheres
piedosas e maduras falem à congregação com
palavras que não se caracterizam como diretivas,
mas somente como palavras de edificação,
encorajamento e consolo para os ouvintes. A
maneira apropriada de fazer isso — se mulheres
sábias e maduras poderiam falar a toda a
congregação em um ambiente público ou se seria
melhor um ambiente privado, como em um grupo
doméstico ou em um pequeno grupo — é algo que
deve ser decidido por cada congregação
individualmente.
Seja como for, as mulheres profetisas eram
conhecidas e reconhecidas tanto no Antigo como no
Novo Testamento. Débora foi chamada de profetisa
e juíza (Jz 4.4). Ela era reconhecida como uma
mulher que trazia a palavra de Deus e “os filhos de
Israel subiam a ela a juízo”. Hulda, a profetisa, foi
consultada pelos sacerdotes e líderes masculinos,
mesmo em um tempo em que havia profetas
masculinos em Israel, e transmitiu a “palavra do
Senhor” a eles (2Rs 22.14-20).
Miriã, a irmã de Moisés e Arão, também é
chamada “profetisa” (Êx 15.20-21). Ela conduziu as
mulheres em uma dança de adoração depois do
milagre do Mar Vermelho. Ela também é descrita
como líder da nação de Israel em Miqueias 6.4:
“Pois te fiz sair da terra do Egito e da casa da
servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão
e Miriã”.
No Novo Testamento, Ana é chamada “profetisa”
(Lc 2.36). Matthew Henry escreveu: “Feliz a corte
que tinha uma profetisa ao seu alcance e sabia como
valorizá-la”.10 Essas mulheres falavam com homens
e mulheres pelo bem deles, e as mulheres sábias,
que têm “a palavra do Senhor” da Escritura,
precisam de algum espaço para se expressar nos dias
de hoje, sem deixar de reconhecer a liderança
masculina na igreja e no lar.
Mulheres de oração e de louvor
Um dos ministérios mais valiosos que uma mulher
na fase do entardecer da vida pode ter é o da
oração. Novamente, Ana, que era muito mais velha
do que uma mulher nessa fase da vida, passava todo
o tempo no templo, adorando noite e dia em jejum e
oração (Lc 2.37). Ela reconheceu que Jesus era o
Messias e deu graças a Deus, falando sobre ele para
todos os que aguardavam a vinda do Messias.
Quando penso em mulheres que oram, lembro-me
de minha sogra, Thelma. Por muitos anos, eu a ouvi
dizendo que intercedia pelos filhos e netos. Às
vezes, ela passava horas orando à noite. Deus,
soberanamente, elege aqueles que serão salvos, mas
ele utiliza os meios, e eu confio que as orações dela
serão um meio de conduzir todos os meus filhos e
netos à salvação eterna.
Jesus elogiou o ministério de adoração de Maria de
Betânia quando ela ungiu seu corpo antes da
crucificação. Ele disse que sua oferta de compassiva
devoção sempre seria lembrada por toda a história
da Igreja, o que elevou em muito a importância de
seu gesto de louvor. “Em verdade vos digo”, disse
Jesus, “onde for pregado em todo o mundo este
evangelho, será também contado o que ela fez, para
memória sua” (Mt 26.13).
Mesmo que o lugar para exercermos nossos dons
não seja a arena pública, todas nós podemos nos
entregar à adoração fervorosa com um coração grato
por vivermos debaixo da bênção da mão de Deus.
Mulheres que evangelizam

Uma de minhas amigas mais queridas, Donna, é


uma mulher na fase do entardecer da vida. Também
me refiro a ela como “testemunha cão de ataque”.
Seu coração é cheio de amor por Cristo e ela quase
explode para dar o testemunho da graça de Deus a
cada oportunidade que tem. Ela se concentra
especialmente nos jovens e anseia pela salvação
deles. Com frequência, ela passa horas conversando
com eles para conhecê-los melhor somente para ter
uma oportunidade de falar do evangelho.
Novamente, creio que Deus, soberanamente,
escolhe aqueles que serão salvos, mas também usa
os meios, e ela tem a palavra “meio” escrita na testa.
Mulheres nessa fase da vida têm a oportunidade de
falar às pessoas sobre a fé e sobre o maravilhoso
evangelho, às vezes, em parte, por causa de sua
idade. Lembro-me do tempo em que eu me
preocupava mais com o que as pessoas pensariam de
mim e que meu desejo de agradar a elas silenciava
meu testemunho. Hoje, mais velha, não me
preocupo tanto com o que as pessoas pensam de
mim e não me importo se estou ou não causando
uma boa impressão.
Mulheres que escrevem

Uma das maiores oportunidades de ajudar as


pessoas é por meio da palavra escrita. Sempre me
sinto honrada, impressionada e abençoada quando
outras mulheres me procuram nas conferências para
me dizer que suas vidas foram tocadas por algo que
escrevi. É surpreendente constatar que Deus me
escolheu para me usar assim e, mesmo sem
entender, sou grata por isso.
Pense em todas as escritoras que já abençoaram
você ao longo dos anos. Uma escritora que
realmente adoro ler é Andrée Seu, que escreve para
a revista World. Sempre que recebo um exemplar da
World, abro no final para ver se ela escreveu alguma
coisa para aquela edição. Sinto-me desafiada por seu
estilo, por sua inteligência e, acima de tudo, por seu
discernimento e sua cosmovisão cristã.
Muitas outras mulheres têm talento para escrever, e
eu sou grata pelo ministério delas. Pense em quanto
nossas vidas foram enriquecidas quando Corrie ten
Boom escreveu sua história. Você tem uma história
que precisa ser registrada? Em nossa era eletrônica,
acho que perdemos a capacidade de escrever cartas.
Eu sei que nossas palavras podem encorajar aquelas
pessoas que estão muito longe, até mesmo no campo
missionário, e são como como goles de água gelada
para uma alma sedenta. Provérbios 25.25 diz:
“Como água fria para o sedento, tais são as boas-
novas vindas de um país remoto”.
Mulheres que lideram mulheres
Por causa da graça de Deus em minha vida, eu
tenho o maravilhoso privilégio de viajar por todo o
país para falar com grupos de mulheres em
diferentes igrejas. Uma consequência natural disso é
que estou sempre orando com mulheres que lideram
outras mulheres e desfrutando a comunhão com
elas. É uma grande bênção! Muitas dessas mulheres
são mulheres na fase do entardecer da vida que
amam a Deus e querem ajudar outras mulheres.
Tantas oportunidades, tão pouco tempo
Por falta de tempo e de espaço, não posso falar
mais sobre todos os maravilhosos ministérios que
estão disponíveis às mulheres na fase do entardecer
da vida. Posso pensar em mulheres que escrevem e
me encorajam a escrever, mulheres que compõem
louvores ou que são artistas talentosas. As mulheres
também devem atuar em ministérios de misericórdia,
como Febe e Dorcas no Novo Testamento.
Tanto a Igreja como o mundo de forma geral estão
cheios de pessoas feridas. Historicamente, as
mulheres tiveram mais envolvimento com
ministérios do tipo diaconato, independentemente de
receber o título de diácono ou diaconisa. Embora
eu acredite que exista uma justificativa bíblica para o
ofício de diaconisa, sem negar a liderança
masculina, não considero o título importante. Toda
mulher é livre para pegar a bacia e a toalha,
independentemente do título que tem. Então, com
ou sem título, Febe foi chamada “protetora de
muitos”, um título dado aos cidadãos romanos que
cuidavam das necessidades dos estrangeiros
necessitados. Reflita sobre a vida de Amy
Carmichael, que, por 45 anos na Índia, serviu aos
necessitados, e sobre Clara Barton, a fundadora da
Cruz Vermelha Americana. Sobre ela, disseram:
“Talvez ela tenha sido a mais perfeita encarnação da
misericórdia que o mundo moderno já conheceu”.11
Minha tia-avó Beulah Watters foi missionária em
Hong Kong por toda a sua vida. Ela fundou um
orfanato, ia buscar as crianças famintas nos lixões e
cuidava delas.
Eu sei que você já deve estar se sentindo
encorajada a buscar oportunidades (em público ou
privado) para usar os anos de vida que Deus lhe deu
para beneficiar seu próximo. Mas, em vez de olhar
para essa fase de sua vida como uma temporada de
férias para satisfazer os próprios desejos, por que
você não se esforça para encontrar novas
oportunidades de servir? Não importa se você é uma
pintora, se apresenta um programa de rádio ou se é
simplesmente a “Mimi” para algumas almas
pequenas e preciosas, a igreja e o mundo precisam
do que você tem a oferecer.
Imutável, ainda que mude tudo à sua volta
O que és, portanto, meu Deus? O que és, pergunto, senão o
Senhor, meu Deus? Quem é, pois, senhor, senão o Senhor?
Ou quem é deus, senão o nosso Deus? Ó altíssimo,
infinitamente bom, poderosíssimo, antes todo-poderoso,
misericordiosíssimo, justíssimo, ocultíssimo,
presentíssimo, belíssimo e fortíssimo, estável e
incompreensível, imutável que tudo muda, nunca novo e
nunca antigo, tudo inovando, conduzindo à decrepitude os
soberbos, sem que disso se apercebam, sempre em ação e
sempre em repouso (S. Agostinho).12
Para concluir, deixe-me voltar sua atenção para a
questão inicial. Vamos olhar para o Céu, para ver
quem Deus é, como escreveu Agostinho, “estável e
incompreensível, imutável que tudo muda, nunca
novo e nunca antigo”.
Começamos refletindo sobre as maneiras como
tudo na criação muda — exceto Deus. Todas as
estrelas e luas, toda erva verde e todas as árvores,
todas as formas de vida estão sempre mudando,
transformando-se, renovando-se, envelhecendo e
deixando de existir. Nós também fazemos parte
desse processo. Contudo, há um que nunca muda e
é com ele que podemos contar. É impossível que ele
deixe de ser quem é. Ele é perfeito agora, ele sempre
foi perfeito e é impossível que cresça para se tornar
mais perfeito do que já é. Nós podemos confiar,
como temos feito por todos esses anos, que ele
sempre estará ao nosso lado, exatamente como
sempre esteve: amoroso e santo, misericordioso e
justo, cheio de amor e bons planos para nós.
Tenham bom ânimo, minhas irmãs! Ele está mais
perto de nós agora do que jamais esteve!
Tornando-se uma mulher sábia
1. O que você aprendeu sobre as oportunidades
para servir?
2. O que você acredita que Deus está chamando
você para fazer?
3. Enquanto reflete sobre suas experiências de vida,
o que você tem a oferecer às mulheres mais jovens a
fim de serem encorajadas?
4. Resuma o que você aprendeu neste capítulo.
5. Resuma o que você aprendeu neste livro.

1 Leia Martha Peace, Sábia e Conselheira (São Jose dos Campos,


SP: Editora Fiel, 2012) e Carolyn Mahaney, Feminine Appeal
(Wheaton, IL: Crossway, 2003).
2 Enhanced Strong’s Lexicon.
3 Ibid.
4 Mahaney, Feminine Appeal, 20.
5 Existem discussões sobre a identidade de Lemuel, se ele era
Salomão ou outro escritor. Essa discussão não altera o fato de que
ele aprendeu as características de uma mulher piedosa com sua
mãe, que pode ter sido Bate-Seba ou alguma outra mulher.
6 Leia Elyse Fitzpatrick e Carolyn Cornish, Mulheres ajudando
mulheres (São Paulo, SP: CPAD, 2001).
7 Veja Elyse Fitzpatrick, Helper by Design (Chicago: Moody Press,
2003).
8 Thomas R. Schreiner, “The Ministries of Women in the Context
of Male Leadership”, in Recovering Biblical Manhood and
Womanhood, ed. John Piper and Wayne Grudem (Wheaton, IL:
Crossway, 1991), 210.
9 Ibid., 216.
10 Matthew Henry’s Commentary on the Whole Bible: New
Modern Edition, Electronic Database (Peabody, Mass.:
Hendrickson, 1991).
11 The Detroit Free Press, por ocasião de sua morte, em 1912.
12 Agostinho, Confissões. São Paulo: Paulus Editora, 2016.
Epílogo
Embora um epílogo seja definido como “a
conclusão de uma obra literária”1 (e esse é o
objetivo desta pequena despedida... por enquanto),
espero que a leitura destas páginas tenha feito você
enxergar que os anos restantes de sua vida não
devem ser vistos como o seu epílogo. Espero que
você tenha compreendido que essa época da vida,
tão cheia de desafios, é perfeitamente apropriada a
você: uma mulher que não foca mais simplesmente
na beleza exterior, que não se preocupa mais com as
trivialidades da vida, que se tornou confiante, sábia e
virtuosa, por causa da graciosa obra de Deus em sua
alma.
Escrevo este livro aos 52 anos. Não tenho
problema em dizer isso a você porque passei a ver
minha idade como uma espécie de emblema de
honra. Com a graça do Senhor, superei as
tribulações da minha adolescência, do início do meu
casamento e da maternidade; perseverei em meio às
formaturas, aos partos, às dores de cabeça e às
grandes alegrias. Eu já trilhei, alegre e saltitante, o
caminho dos pastos verdejantes e já senti dificuldade
para segurar nas mãos do meu Salvador enquanto
atravessava o vale da sombra da morte. Assisti a
todos ao meu redor mudando e crescendo, e vi
mudanças, crescimento e, sim, até mesmo o
envelhecimento em mim mesma. À luz de toda essa
experiência e de todas essas mudanças, tenho de
dizer que estou aprendendo a valorizar mais essa
fase da minha vida. Sou grata por não precisar mais
me preocupar com as mesmas coisas que me
preocupavam quando eu era jovem.
Quero encorajá-la a interagir com a Escritura
novamente. Dessa vez, considere o Salmo 23, um
salmo que se tornou muito precioso para mim,
especialmente nesta minha fase de entardecer da
vida: O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará. Ele
me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me
para junto das águas de descanso; refrigera-me a
alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do
seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra
da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás
comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam.
Preparas-me uma mesa na presença dos meus
adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu
cálice transborda. Bondade e misericórdia
certamente me seguirão todos os dias da minha vida;
e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre
(Sl 23.1-6) O que significa para você que o Senhor
é seu pastor? Sua alma é consolada quando você
lembra que nosso Senhor disse que ele é o bom
Pastor (Jo 10.11)? O trabalho de todo pastor é
cuidar, alimentar e guiar seu rebanho. “Ele nos leva
debaixo do braço, e então cuida de nós, protege-nos
e sustenta-nos, com mais cuidado e constância do
que um pastor consegue, e faz do seu negócio
cuidar do rebanho”.2 Porque Deus fez de seu
trabalho cuidar de você, pode estar certa de que ele
não deixará faltar nada do que você precisa. Ele é o
bom pastor. “Eu serei sustentado com qualquer coisa
de que eu precise e, se eu não tiver tudo o que
desejar, posso concluir que isso não é adequado para
mim ou que não é bom para mim, ou ainda que terei
isso na hora certa”.3 Ele não tem sido um bom
pastor para você?
Você precisa de um lugar de descanso e alimento?
Ele fará você repousar em pastos verdejantes. Você
precisa ser renovada? Ele vai lhe dar de beber da
água doce e tranquila do céu. Sua alma precisa ser
restaurada? Seu criador sabe como colocar sua alma
no caminho certo e restaurar sua integridade e
saúde.
Você precisa de orientação? Essa é uma fase da
vida em que precisamos do direcionamento dele.
Precisamos aprender a nos relacionar com cada
pessoa amada e a nos alegrar com as mudanças que
vemos em nosso corpo. A promessa do Senhor é
garantida: em todos os casos e em todos os
momentos, ele instruirá e iluminará nossos corações
através da Palavra e do Espírito dele. Como você
deve agir agora? O Senhor lhe esclarecerá para a
glória dele, e nisso você pode descansar com
confiança.
Você está tendo de enfrentar momentos difíceis?
Talvez alguns dos problemas mencionados neste
livro não estão simplesmente batendo à sua porta;
estão prestes a arrombá-la. Talvez você esteja triste
porque seus filhos saíram de casa ou porque um
ente querido faleceu. Existem momentos em que me
sinto derrotada pelas provações e não me considero
uma mulher virtuosa! Em momentos assim, as
palavras de Davi me encorajam: “Ainda que eu ande
pelo vale da sombra da morte, não temerei mal
nenhum, porque tu estás comigo; o teu bordão e o
teu cajado me consolam”. O Senhor está conosco;
ele não nos abandonará. Podemos descansar em seu
bordão e em seu cajado. Deleite-se com o seguinte
comentário de Matthew Henry sobre o “vale da
sombra da morte”: [1] Essa é a sombra da morte.
Não há mal sólido nela; a sombra de uma serpente
não pode picar, nem a sombra de uma espada pode
matar. [2] E é o vale da sombra, realmente
profundo, escuro e sujo, mas os vales são frutíferos
dos confortos do povo de Deus. [3] É apenas uma
caminhada nesse vale, uma caminhada gentil e
agradável. Os ímpios são enxotados do mundo, e
suas almas são exigidas, mas os santos fazem uma
caminhada para outro mundo com a mesma alegria
com que deixam este para trás. [4] E é uma
caminhada pelo vale; eles não se perderão nesse
vale, mas alcançarão em segurança as montanhas de
especiarias no outro lado do vale.4
Mesmo quando nos sentimos cercados por inimigos, nosso
fiel Senhor nos alimentará de sua mesa, aliviará as nossas
mentes com o óleo da sua unção e nos fará prosperar para
que possamos dizer, “O meu cálice transborda como a tua
bondade!”. Ele proverá a misericórdia que perdoa, a
misericórdia que protege, a misericórdia que sustenta, a
misericórdia que supre!5
Tudo isso nos será suprido não somente agora,
nesse período de entardecer da vida, mas pelo
restante de nossas vidas. E qual deve ser nossa
perspectiva? Qual é a nossa esperança? Habitar na
casa do Senhor para todo o sempre. Cada hora de
vida que passamos aqui nos aproxima dessa casa e
da bondade e da misericórdia, que prevalecerão
contra todas as nossas angústias e nos deixarão
encantadas.
Essa fase da vida não é o epílogo. Ainda é o
prólogo, o princípio de uma eternidade cheia de
prazeres muito maiores do que você é capaz de
imaginar. Então, vamos oferecer nossos corações,
mentes, mãos e corpos como mulheres virtuosas na
vinha do Senhor enquanto, alegremente,
aguardamos a grande alegria que experimentaremos
quando nosso bom Pastor finalmente nos levar para
casa!

1 Reader’s Digest Oxford Complete Wordfinder (Pleasantville, NY:


Reader’s Digest Association, Inc.), 1996.
2 Matthew Henry, Matthew Henry’s Commentary on the Whole
Bible (Peabody, MA: Hendrickson, 1991).
3 Ibid.
4 Ibid.
5 Ibid.
Agradecimentos
Deixo aqui meus sinceros agradecimentos a
Barbara Lerch, da publicadora P&R, que, diligente e
pacientemente, me encorajou no curso deste projeto.
Também agradeço aos membros da minha igreja
(Grace Church, SGM), especialmente os membros
de meu pequeno grupo, os quais oraram por mim ao
longo deste projeto. As mulheres maravilhosas do
meu clube de leitura (The Swans) também são uma
grande inspiração para mim, especialmente pela
forma como abordam os temas complexos da
teologia, aplicando-os a todos os momentos de suas
vidas. Muito obrigada por sua ajuda.
Agradeço também à minha família, que realmente
torna valiosos meus anos no entardecer da vida,
especialmente meu querido marido e amigo, Phil;
nossos amados filhos (James, Jessica e Joel), suas
esposas (Cody e Ruth) e seus filhos (meus
queridinhos). Sou muito grata por seu amor e por
suas orações. E agradeço, mais uma vez, à minha
mãe, Rosemary, por sua contribuição e por revisar
os manuscritos. Você é uma mulher verdadeiramente
virtuosa.
Sobre as colaboradoras
Vickie Daggett é casada há 28 anos e tem três filhos adultos e
uma neta. Ela serve como administradora na Berean Bible College
e aconselha mulheres em sua igreja.
Karen Haney e seu marido moram há 31 anos no sul da
Califórnia e são muito felizes com seus três filhos, duas noras e
quatro netos. Ela trabalha com seu marido em um negócio
pequeno que eles têm no norte de San Diego.
Barbara Lerch é casada há 28 anos, tem quatro filhos e um cão
Dachshund. Ela trabalhou para a publicadora P&R por 17 anos,
como editora de aquisições e editora associada. Ela frequenta a
congregação River of Life OPC, em Phillipsburg, N.J., onde se
compraz ensinando uma classe júnior da Escola Dominical e atua
como líder do grupo de mulheres. Ela tem o prazer de estar na fase
do entardecer da vida!
Anita Manata é professora do quarto ano em The Classical
Academy, em Escondido, Califórnia. Como membro da Grace
Bible Church em Escondido, Manata está envolvida com o
ministério de mulheres. Ela tem dois filhos e um neto.
Kathie Printy é casada com Ted há 38 anos. Eles moram em San
Diego, têm quatro filhos adultos e seis netos. Kathie é ativa nos
ministérios de mulheres e de crianças na North City Presbyterian
Church.
Eileen Scipione, junto com seu marido, George, leva seu espírito
prático e pioneiro a todos os papéis nos quais Deus a investiu para
desempenhar. Ela assumiu compromisso, há muitos anos, com a
suficiência das Escrituras, com a importância da família, com a
crença de que as mulheres devem aconselhar outras mulheres e
com a santidade da vida humana desde a concepção até a morte
natural, áreas em que se encontra na linha de frente. Eileen é mãe
de cinco filhos: Paul, Ruth, Nicole, Arielle e Deborah. Ela é
conselheira do Institute for Biblical Counseling and Discipleship
em La Mesa, California.
Juliette Smith, nativa de San Diego, frequentou a San Diego
State University pouco antes de seu casamento. Ela é aposentada
de uma carreira no campo de hospedagem e desenvolvimento
hoteleiro. Juliette serviu como membro da New Life Orthodox
Presbyterian Church e trabalhou ativamente junto à San Diego
Rescue Mission Auxiliary. Junto com o marido, Bob, cinco filhos e
sete netos, ela gosta de esquiar, fazer rafting e viajar como
mochileira.
O Ministério Fiel tem como propósito servir a Deus
através do serviço ao povo de Deus, a Igreja.
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