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A história de Vickie
Enquanto eu estava sentada no aeroporto,
esperando a chamada para o embarque, estava
dividida entre a alegria e a tristeza. Nossa filha mais
velha, Melissa, estava prestes a se mudar por causa
da faculdade. Todo pai e toda mãe sonham,
planejam e esperam ansiosamente por esse triste dia,
desde o primeiro dia em que aquela adorável criança
salta em seus corações. Todo pai e toda mãe
também têm receio desse dia, o dia em que aquele
pequeno ser está supostamente pronto para sair para
o mundo sozinho.
A faculdade que nossa filha frequentaria ficava no
sudeste do país, do lado oposto de San Diego, local
onde ela havia morado a vida inteira. Enquanto eu
estava lá sentada, dividida entre a alegria e a
empolgação pelo fato de nossa primeira filha estar
indo para a faculdade e a tristeza desoladora pelo
fato de ela estar deixando nossa aconchegante
unidade familiar, comecei a chorar. Enquanto os
inevitáveis rios de lágrimas começaram a escorrer
pelo meu rosto, outra filha se aproximou de mim
para me consolar. Ela colocou seu braço em meu
ombro e, com grande compaixão, inclinou-se e
disse: “Não se preocupe, mãe. Eu nunca vou deixar
você”. Imediatamente, fui sacudida de minha poça
de autocomiseração, movida pela ternura e a
compaixão que minha filha estava me mostrando.
Eu estava consolada, mas o absurdo dessa
declaração fez meu coração sorrir! Enquanto eu
olhava para ela, nós sorrimos juntas. Eu ri, dei um
abraço nela e respondi: “É claro que você vai — e é
o que deve fazer. O fato é que as mães ficam tristes
quando os filhos vão embora”.
Mesmo que isso não seja verdadeiro para todos os
pais, especialmente se você teve um relacionamento
difícil com seu filho, é normal sentir algum grau de
tristeza quando seu filho se torna adulto e vai
embora. Por que isso acontece?
Permita-me apresentar-me. Sou a Vickie e, ao
longo de toda a minha vida adulta, eu pensava em
mim mesma como Vickie, a mãe de três filhas
adoráveis. Agora, que as três são adultas, seguiram o
próprio caminho. O que a Bíblia diz sobre filhos que
saem de casa?
Como você já leu em capítulos anteriores, Deus
claramente declara que faz parte de seu plano que o
filho deixe o pai e a mãe para se unir à sua mulher
(Gn 2.24). Além dessa passagem, quais outras
passagens das Escrituras podem nos ensinar?
Um de meus versículos favoritos da Bíblia sobre a
criação de filhos é Provérbios 22.6: “Ensina a
criança no caminho em que deve andar, e, ainda
quando for velho, não se desviará dele”. À medida
que nossas filhas cresciam, frequentemente
conversávamos sobre esse versículo, focando na
parte do ensino. Falávamos sobre as razões da
disciplina para ensiná-las no caminho correto. Mas
agora, que as três são adultas, essa passagem me
transmite uma verdade diferente. Agora, minha
ênfase é na parte do verso que diz, “no caminho em
que deve andar”. Dei-me conta de que, embora eu
tivesse a responsabilidade de ensinar a elas o
caminho em que deveriam andar, esse tempo já
acabou e agora é hora de deixá-las andar sozinhas. É
aqui que os pais frequentemente tropeçam e a
tristeza toma conta deles. Deixar os filhos andar
sozinhos exige mudança e, como somos criaturas
ligadas ao hábito, as mudanças provocam
desconforto. Nós tropeçamos por preocupação e
medo quando nos esquecemos de depositar nossa
confiança em Deus à medida que esse
relacionamento entre pais e filhos vai evoluindo para
o próximo nível: uma comunhão entre pais e filhos
adultos. Mas, embora essa mudança seja difícil, não
é o que deve acontecer naturalmente? Nós também
podemos nos regozijar pelo fato de Deus nos ter
ajudado a fazer nosso trabalho de ensinar aos nossos
filhos o caminho no qual devem andar — caminho
que também é o caminho de Deus. Isso faz com que
nossos filhos sejam não somente nossos filhos, mas
também nossos irmãos e irmãs no Senhor.
Idas e vindas em nossa pequena casa
Esse foi o fundamento lançado em nosso lar antes
de nossa filha ir para a faculdade. Durante os
estudos da Melissa, regularmente conversávamos
pelo telefone e ela voltava para nos visitar nos
feriados. Enquanto Melissa estava fora de casa,
nossa segunda filha, Christa, continuou morando
conosco enquanto frequentava uma faculdade
bíblica. No ano em que Melissa obteve seu
bacharelado, nossa filha mais nova, Jessica,
terminou o ensino médio. E, assim como sua irmã,
ela escolheu continuar morando conosco e
frequentar uma faculdade bíblica. Depois de se
formar, Melissa não tinha certeza sobre o que queria
fazer, então decidiu voltar para casa. Eu pensei:
Ótimo! Nossa aconchegante unidade familiar será
retomada. Será?
As meninas eram todas adultas e, por mais felizes
que estivéssemos quando elas escolheram morar
conosco, tivemos de aprender a conviver em uma
casa cheia de adultos. Como era esperado, a
mudança foi lenta e difícil em nossa casa. Além de
ter de aprender a lidar com filhas adultas, nossas
vidas tornaram-se mais complicadas porque minha
mãe também morava conosco e ela sofria de
Alzheimer. Na época em que Melissa voltou para
casa, minha mãe estava completamente inválida. E
sempre serei grata às meninas porque elas
escolheram ficar em casa e ajudar a cuidar da avó.
Cuidar da minha mãe passou a ser o foco da família
e, embora fosse uma atividade estressante, todos
tinham uma agenda suficientemente flexível para
que sempre houvesse alguém em casa com ela. Pela
graça de Deus e pela disposição de minha família
servir a Deus ao cuidar de minha mãe, fomos
capazes de passar por aqueles momentos que
desafiaram nossa fé. Foi somente depois da morte
de minha mãe que meu marido e eu começamos a
sentir os efeitos negativos de nossas filhas, como
mulheres adultas, tentando abrir as asas.
Para nós, parecia que fora do dia para a noite que
Jessica, nossa filha mais nova, conhecera o homem
com quem iria se casar; Melissa, nossa filha mais
velha, passou a focar na carreira; e Christa, nossa
filha do meio, começou a se perguntar sobre o rumo
de sua vida quando estava terminando o último ano
na faculdade bíblica. Parecia que todas estavam
deixando o ninho ao mesmo tempo. Pelo menos era
assim que meu marido e eu pensávamos.
Mas agora sou uma adulta!
Lá estávamos nós, uma família feliz com três filhas
adultas, todos vivendo debaixo do mesmo teto. Até
então, nossa vida tinha sido relativamente fácil, mas
agora, com cada filha focando seus objetivos
pessoais, as coisas começaram a ficar difíceis. Suas
vidas estavam cada vez mais agitadas. Todas tinham
um emprego, duas ainda estavam na faculdade e a
vida social delas estava ficando cada vez mais
animada. Elas simplesmente não estavam passando
tanto tempo em casa quanto antes. E foi isso que
nos colocou em uma estrada ainda mais difícil — ou
será que foi difícil especificamente para mim? Como
outras mães, eu administrava a casa. Eu conhecia
todos os detalhes da agenda de todo mundo para
poder manter tudo em ordem. As meninas deixaram
de ver esse tipo de supervisão como algo útil. Aliás,
elas passaram a achar invasivo e desnecessário.
Compreendendo o caminho que eles devem
seguir
A primeira grande mudança que meu marido e eu
tivemos de aceitar foi entender que agora as meninas
tinham sua própria vida. Você lembra o versículo de
Provérbios: “Ensina a criança no caminho em que
deve andar, e, ainda quando for velho, não se
desviará dele”? Descobrimos que nossas filhas
estavam tentando seguir o próprio caminho. Como
pais, procuramos ser obedientes ao Senhor e à sua
Palavra enquanto criávamos nossas filhas. Mas
agora tínhamos de ser obedientes a ele de outra
forma: tínhamos de demonstrar fé em Deus e
confiar nele a ponto de sairmos do caminho para
que nossas filhas pudessem fazer o que haviam sido
ensinadas a fazer. Precisávamos deixá-las seguir no
caminho que elas deveriam seguir. Mas, para nós,
era mais fácil falar do que fazer. Foi nessa época
que um de meus versículos favoritos tornou-se ainda
mais especial para mim. Provérbios 3.5-6 diz:
“Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te
estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o
em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas
veredas” (Pv 3.5-6).
Quando insistíamos em obstruir o caminho depois
que nossas filhas já estavam prontas para seguir em
frente, evidenciávamos nossa falta de fé em Deus e
podíamos até ter levado nossas meninas a tropeçar e
cair na tentação do pecado. Se verdadeiramente
estamos tentando viver segundo as diretrizes de
Deus, precisamos nos dirigir ao lugar em que
oramos: Somos gratos, Deus, pelo presente que tu
nos deste através de nossas filhas. Eu agora as
devolvo a ti e confio que tua vontade se realizará
na vida delas.
Quando oramos assim, nossa intenção não é dizer
que elas já tenham estado fora das mãos de Deus ou
que a vontade de Deus, de alguma forma, não
estava se realizando em suas vidas, mas, sim, que,
como pais, tínhamos nos esquecido disso e que esse
lapso estava tornando as coisas mais difíceis.
Em Gênesis 22, podemos ver que a fé é necessária
para obedecer a Deus em meio à dor. Abraão, o pai
de nossa fé, foi provado de uma maneira muito mais
difícil. Deus disse a Abraão: “Toma teu filho, teu
único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de
Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos
montes, que eu te mostrarei” (Gn 22.2).
Deus mandou que Abraão tomasse Isaque, seu
filho, o presente que ele, milagrosamente, recebera
de Deus, e o sacrificasse em holocausto! Embora
não possamos imaginar a aflição que Abraão sentiu
por causa disso, acredito que ele não tenha tido uma
noite muito boa de sono. A Escritura diz que ele foi
obediente a ponto de colocar seu querido filho sobre
o altar e levantar o cutelo para imolá-lo, até que
Deus interveio e providenciou uma saída. Essa é a
verdadeira fé! Esse é o tipo de fé que, como pais,
devemos ter. Mesmo que as circunstâncias não
pareçam ser o que queremos para nossos filhos,
somos chamados a confiar que Deus providenciará
uma saída.
Quanto mais nossas meninas amadureciam, menos
gostavam que eu soubesse tudo sobre a agenda
delas. Agora somos adultas e não queremos que
você diga o que temos de fazer. Precisamos tomar
nossas próprias decisões. Para mim e para meu
marido, esse foi um grande desafio. Quais devem
ser os limites? Nós tínhamos o direito de determinar
um horário máximo para que elas chegassem em
casa? Deveríamos esperar que elas nos contassem
seus planos? Era apropriado exigir que elas
ajudassem com os afazeres domésticos? E quanto ao
dinheiro? Deveríamos continuar ajudando ou elas
deveriam pagar um aluguel?
As dificuldades de morar com filhos adultos
Para encontrar respostas a cada uma dessas
perguntas, perseverávamos em oração enquanto
analisávamos cada situação que surgia no dia a dia.
A primeira situação foi quando Jessica iniciou um
relacionamento sério com o jovem que agora é o
marido dela. Para nós, esse era um território novo e
foi especialmente difícil para Cliff, meu marido. Ele
ficou um pouco chocado com a ideia de que uma de
suas filhas estava pensando em se casar.
Na época, Jessica tinha somente 19 anos e seu
namorado, Zack, tinha apenas 20. Nós tínhamos
receio porque ele era muito jovem e o
relacionamento parecia estar em alta velocidade,
então Cliff decidiu se envolver. Como os dois
frequentavam a faculdade bíblica, estudando para
algum dia exercer o ministério em tempo integral, e
ambos eram líderes no grupo de jovens de nossa
igreja, Cliff estabeleceu alguns limites claros e
elevou o nível das exigências. Ele disse que o
relacionamento deles precisava ser irrepreensível,
pois, como líder dos jovens, eles deveriam servir de
exemplo de como os relacionamentos piedosos
devem ser (1Tm 3.2). Os conselhos eram
fundamentados na Bíblia e procediam do coração de
um pai amoroso que queria o melhor para sua
amada filha e para seu possível futuro genro. Mas,
quando você é tão jovem e tão apaixonado, não é
fácil seguir as regras, mesmo quando realmente ama
o Senhor (Hb 12:11). E foi o que aconteceu com a
Jessica. Ela ficou ressentida com a interferência
paterna, achou que o pai estava sendo muito
controlador e pegando pesado demais. Ela insistiu
que já era adulta e que deveria tomar as próprias
decisões. Nem é preciso dizer que foi uma fase
muito difícil para todos nós. Parecia que nossa
família estava constantemente em estado de
desordem.
O ressentimento que Jessica e Zack sentiram
parecia estar crescendo enquanto, no mesmo
período, nossas outras filhas estavam passando por
suas próprias mudanças de vida. Ambas tinham
novos empregos e todos tinham uma agenda
diferente. Não conseguíamos comer juntos,
dificilmente estávamos em casa no mesmo horário e
a ideia de que a irmã mais nova estava prestes a se
casar e a sair de casa era difícil. Nessa época, se eu
pedisse a qualquer uma delas para ajudar nos
afazeres domésticos, era praticamente certo que
respondessem com uma atitude impiedosa ou com
uma discussão. Eu me perguntava: O que aconteceu
com nossa pequena família feliz? Eu não sabia mais
o que fazer. Eu precisava de alívio, então, em
oração, clamei ao Senhor. Ele providenciou uma
saída, o que aconteceu na forma de uma ligação do
Brasil.
Por muitos anos, trabalhei com estudantes
estrangeiros, e nossa família já hospedou estudantes
do mundo inteiro. Enquanto eu orava, uma
estudante do Brasil ligou para dizer que estava com
saudades de nós e perguntou: “Quando a Jessica vai
vir nos visitar?”.
Melissa tinha viajado ao Japão por quatro meses
para visitar alguns amigos quando terminou o ensino
médio, enquanto Christa já tinha viajado para o
Japão e o Brasil. Nós tínhamos prometido a Jessica
que ela faria uma viagem para o Brasil quando
terminasse o ensino médio, mas a doença de minha
mãe impediu que isso acontecesse. Jessica era a
única de nossa família que não tinha viajado para o
exterior, algo que acreditamos ser importante, para
nos ajudar a apreciar todas as bênçãos dadas por
Deus. Então, meu marido e eu nos sentamos com
Jessica e oferecemos uma viagem para o Brasil. Na
ocasião, explicamos que, como ela estava prestes a
se casar em breve, sentíamos que era importante que
ela tivesse essa experiência enquanto ainda era
possível. Ela concordou e Melissa sugeriu
acompanhá-la, como uma última aventura das irmãs
antes do casamento de Jessica.
Mas, embora as duas meninas estivessem
animadas, Zack não gostou da ideia. Ele ficou com
raiva por mandarmos Jessica para longe. Sua raiva
se mostrava na maneira como ele nos tratava. Então,
agendamos uma conversa com nosso pastor. Cliff
disse para o pastor que havia percebido algumas
atitudes em Zack e na Jessica que demostravam que
o relacionamento deles não estava indo na direção
correta. Cliff não achava que seria capaz de dar sua
bênção para que o relacionamento continuasse,
muito menos para que o casamento acontecesse.
Nosso pastor aceitou conversar com Zack. E, em
sua bondade, Deus usou essa conversa para mudar o
coração de Zack. Foi um momento crucial da vida
dele e suas atitudes mudaram tanto enquanto Jessica
estava viajando que não conseguíamos nem mesmo
acreditar. Deus também usou aquele momento para
nos transformar. Nós passamos a enxergar que
nossas filhas já eram adultas e, embora nunca
fôssemos deixar de ser seus pais, a maneira de lidar
com elas precisava mudar. Então, estabelecemos
algumas diretrizes para ajudar a casa a funcionar
com mais tranquilidade.
Nossas diretrizes
Primeiro, lembramos as meninas de que, embora
nossa maneira de nos relacionar estivesse mudando,
continuávamos a ser seus pais. Desse modo, o
mandamento de Deus “Honra a teu pai e a tua mãe”
(Dt 5.16; Ef 6.2) continuava a valer para elas. Esse
mandamento de Deus encontra-se no Antigo e no
Novo Testamento, o que mostra quanto ele
considera importante. Como pais, acreditamos que
essa passagem pressupõe a obediência, mas que é
muito mais profunda do que isso. Ela fala da
maneira como os filhos devem tratar seus pais,
sendo respeitosos e honrando-os pela maneira como
vivem. Dissemos às nossas filhas que elas poderiam
morar em nossa casa pelo tempo que quisessem,
mas que, embora o lar fosse delas, a casa era nossa.
Esperávamos que elas respeitassem isso e a nós.
Em segundo lugar, decidimos que agora, que elas
já eram adultas, não haveria mais almoço grátis.
Como todas tinham um emprego, deveriam
contribuir com as despesas da casa. Como pais,
sentimos que isso ajudaria a torná-las mais
responsáveis, então estabelecemos uma quantia justa
que cada uma teria de pagar por mês pela
hospedagem e a alimentação que recebiam.
As duas questões mais delicadas que tivemos de
resolver foram: 1) elas tinham de nos informar sobre
seus horários; 2) elas tinham de nos ajudar com as
tarefas domésticas. Então, lidamos com as questões
de chegada e saída à luz do princípio da cortesia.
Mateus 7.12 diz: “Tudo quanto, pois, quereis que os
homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles;
porque esta é a Lei e os Profetas”.
Nós estávamos simplesmente pedindo que as
meninas nos tratassem da maneira como queriam ser
tratadas. A necessidade de nos informar sobre os
horários continuou sendo uma questão delicada até
que algo específico aconteceu. Depois da igreja, eu
parei para visitar uma amiga. Como fiquei lá por
mais tempo do que pretendia e ninguém sabia onde
eu estava, quando entrei pela porta, as duas irmãs se
jogaram aos meus pés e exigiram uma resposta:
“Onde você estava?”. E, embora eu não tenha
aproveitado a situação para chamar a atenção para o
óbvio, simplesmente me desculpei por não ligar para
dizer onde estava. Agora parece que não há mais um
problema tão grande de comunicação. Acho que
todas nós aprendemos com esse incidente, pois elas
passaram e me informar seus planos com mais
frequência e eu passei a indagar menos e a ficar
menos ansiosa por causa disso.
Ajudar com as tarefas domésticas é algo que ainda
precisa ser trabalhado. Cada uma lava as próprias
roupas e nós estamos aprendendo a lidar com as
tarefas da cozinha à medida que vamos aprendendo
a servir umas às outras.
Nossos novos papéis
Como pais de filhos adultos, nós crescemos e
aprendemos que nossos papéis não são os mesmos
que antes. Não temos mais a responsabilidade de
“ensinar a criança no caminho em que deve andar”
— essa parte do relacionamento acabou. Agora,
nosso papel consiste em sermos solidários e dar
incentivo, assim como nosso Pai celestial não lida
severamente conosco, mas espera pacientemente o
fruto do Espírito nascer em nossas vidas.
Enquanto escrevo este livro, Zack e Jessica já se
casaram, moram sozinhos há quatro anos e,
recentemente, tornaram-se pais. Nossas duas outras
filhas escolheram caminhos diferentes, e decidiram
morar aqui conosco. Cada uma tem o próprio
motivo para ficar, mas nenhuma delas pretende ficar
conosco indefinidamente. Nós aprendemos a deixá-
las viver suas vidas. Quando elas sentem que
precisam de nós, convidam-nos para entrar.
Costumamos nos dar muito bem e apreciamos a
companhia recíproca. Uma das meninas me
presenteou com um cartão que expressa nossa
relação da melhor forma possível:
Às vezes, preciso de uma mãe,
Às vezes, preciso de uma amiga,
Eu sempre preciso de você,
Tenha um dia feliz, mãe.
Nós somos uma família e precisamos uns dos outros.
*
Como mãe de três filhos adultos e mãe temporária
de um sobrinho (todos já saíram de casa e voltaram
em algum momento), realmente gostei da história da
Vickie. Eu sei que, para muitas famílias, a volta dos
filhos gera muitas provações, mas as coisas
costumam acabar bem. Mas e quanto às mulheres
que ficam apreensivas diante da possibilidade de o
filho ou a filha pedir para voltar a morar com a
família? Como mulheres virtuosas no entardecer da
vida devem lidar com o telefonema de um filho
problemático que já quebrou seu coração antes?
Hospitalidade sem arrependimento
Ao longo deste livro, tentei enfatizar que o lar é,
primariamente, a residência do esposo e da esposa (e
não da esposa e dos filhos), e que essa compreensão
deve aumentar quando os filhos se tornam adultos.
Estou repetindo isso porque parece que as mães têm
uma tendência maior a autorizar que seus filhos
problemáticos voltem para casa, na esperança de
aparar arestas no relacionamento que existem há
anos, sem pensar muito nas implicações dessa
decisão. Portanto, uma mulher sábia precisa ter uma
longa conversa com o marido (ou com os líderes da
igreja, caso ela seja solteira) antes de permitir que
seu queridinho volte para casa. Uma perspectiva
mais objetiva ajudará você a tomar decisões mais
sensatas, protegendo-a de mágoas futuras. O
conselho que você deve receber antes de permitir o
retorno de seu filho pródigo inclui o estabelecimento
de algumas regras básicas, talvez até mesmo na
forma de um contrato escrito, à luz das seguintes
considerações:
Qual é o propósito desse arranjo provisório? Seu
filho está terminando os estudos, mudando de
carreira, divorciando-se ou seu cônjuge faleceu?
Quanto tempo isso vai durar? Antes de permitir
que um filho se mude para sua casa, é necessário
estabelecer previamente um período. Por exemplo,
se um filho está terminando os estudos, quanto
tempo os pais devem esperar até que ele se torne
independente? Talvez você tenha um filho com
problemas em relação ao alcoolismo ou ao uso de
drogas e você está disposta a ajudá-lo enquanto ele
frequenta sessões de aconselhamento bíblico e tenta
conseguir um trabalho estável. Seja como for,
independentemente das circunstâncias, seu filho não
deve pressupor que a casa estará disponível por um
tempo indeterminado.
Seu filho vai pagar aluguel ou algum valor
adicional para cobrir as despesas de morar na
casa? Enquanto estou escrevendo este livro, meu
sobrinho, que já morou comigo e com meu marido
em diversas ocasiões, está morando em um trailer
que fica no terreno de nossa casa. Nós o
autorizamos a morar lá sem pagar aluguel por algum
tempo porque ele nos dá todo o dinheiro que recebe
(exceto o que ele precisa para viver) para
guardarmos para ele. Ele está tentando juntar
dinheiro suficiente para se mudar para o norte da
Califórnia. Ele compreende que esse é um arranjo
provisório e que, se ele não guardar a maior parte do
dinheiro que recebe, nosso acordo terá de mudar.
Estou dizendo tudo isso porque acredito que há
momentos em que você pode permitir que um filho
não pague aluguel, mas essa não deve ser a regra.
Também não acho que seja benéfico que um filho
viva à custa dos pais. Pelo contrário, é um
desserviço. Com um filho que já teve problemas no
passado, é essencial determinar exatamente quais
serão os custos, o objetivo e a duração.
Quais serão suas exigências comportamentais?
Como Vickie já enfatizou no início deste capítulo,
suas filhas tinham a obrigação de falar de maneira
respeitosa e de informar à família seus horários. Em
uma decisão sábia, essa seria a exigência mínima.
Em relação a determinar um horário máximo para
que eles cheguem em casa, isso vai depender dos
problemas atuais de seu filho e de sua capacidade de
dormir à noite sem saber a hora que ele vai voltar.
Sem dúvida, também deve haver regras sobre
amigos, barulho e tarefas domésticas.
Quais serão suas exigências espirituais? Nosso
sobrinho sabe que, se ele morar conosco, tem de
frequentar nossa igreja. Como seu emprego estava
em um estado de incerteza quando ele saiu de casa,
nós dissemos a ele que deveria tentar encontrar um
emprego que não exigisse que ele trabalhasse aos
domingos. Nós reconhecemos que às vezes isso não
é possível, mas queríamos que ele soubesse quais
são nossas prioridades. Eu não acho que é demais
exigir que, pelo menos aos domingos, seu filho
frequente a igreja com você. E, se ele não está
disposto a aceitar essa condição, você deve
questionar a viabilidade da mudança. Embora seja
difícil, é melhor que as coisas sejam esclarecidas
com antecedência do que vir a lamentar depois.
O que vocês não vão tolerar de forma alguma?
Estabeleça com antecedência, desde o início, o tipo
de comportamento que levaria seu filho a sair de
casa imediatamente. Um exemplo disso são as
atividades ilegais, como uso de drogas e roubo.
Comportar-se de maneira beligerante ou abusiva,
desrespeitar a autoridade que Deus colocou no lar e
mentir também podem ser motivos para expulsão.
Cada um desses assuntos deve ser debatido antes
de autorizar que eles se mudem para sua casa. Se
necessário, contratos devem ser assinados. Seu filho
precisa saber o que pode esperar de você — o que
você está disposta a suprir — e o que você espera
dele. Não se esqueça: em meio ao desespero para
restabelecer um relacionamento com seu filho
problemático, não se engane pensando que evitar
assuntos difíceis, porém necessários, tornará as
coisas mais fáceis no final.
Uma de minhas maiores alegrias na fase do
entardecer da vida é o relacionamento que tenho
com meus filhos adultos. Em diversas ocasiões,
abrimos nossas portas e permitimos que eles
voltassem e, assim como Vickie, fomos bem-
sucedidos. E quero dizer que os momentos de maior
dificuldade entre nós aconteceram porque não
tivemos clareza desde o princípio acerca de nossas
expectativas. Eu sei que, no passado, já fui tola e
evitei esse tipo de conversa porque esperava que
alguma parte de nosso relacionamento fosse
diferente. Eu preciso lembrar que o Senhor pode
usar a estrutura de nossa casa para consolar e ganhar
meus filhos, e é sábio que você faça o mesmo.
Lembre-se de que Deus ama seus filhos mais do que
você.
Tornando-se uma mulher sábia
1. Anote Provérbios 22.6 em uma folha de papel.
De que maneira Vickie ajudou você a perceber um
significado novo para essa conhecida passagem?
2. Como foi a sua experiência com seus filhos? Em
quais aspectos você consegue identificar-se com a
Vickie? O que você já fez de diferente?
3. Medite acerca de Provérbios 3.5-6: “Confia no
S ENHOR de todo o teu coração e não te estribes no
teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os
teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas”. De
que maneira a confiança no Senhor de todo coração
mudaria a maneira como você está atualmente
lidando com seus filhos em casa? De que modo
você pode reconhecer Deus em todos os seus
caminhos? Qual promessa existe para você à medida
que aprende, cada vez mais, a confiar, depender e
reconhecer a Deus?
4. De que maneira a história de Abraão em Gênesis
22 a encoraja? Você consegue perceber a ligação
entre o sacrifício de Abraão e o grande sacrifício do
próprio Filho amado de Deus? De que maneira isso
a encoraja como uma mulher cujo papel de mãe
mudou?
5. Resuma o que você aprendeu neste capítulo em
três ou quatro frases.
8 • Querido Filho Incrédulo, Como
Anseio por Sua Alma
Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus
filhos andam na verdade.
3Jo 1.4
Neste capítulo, Eileen Scipione (a sogra de meu
filho Joel) escreve sobre suas experiências com os
filhos incrédulos. Eileen e seu marido, George, são
pais piedosos que sofreram muito com a atual falta
de fé de dois de seus cinco filhos.
A história de Eileen:
eu fracassei como mãe
Houve um tempo em que eu tinha certeza de que
havia sido uma péssima mãe. Dois de meus cinco
filhos se afastaram dos caminhos do Senhor e,
enquanto estou escrevendo este capítulo, eles
continuam fora dos caminhos. Além disso, tenho
uma filha que passou por muitos problemas ao
longo desses anos, por causa de uma enfermidade
fisiológica, embora atualmente esteja bem melhor.
Por favor, não me interprete mal. Eu louvo a Deus,
com todo o meu coração, pelas três filhas que são
fortes em Jesus Cristo, mas o fato de nosso único
filho homem estar na cadeia e de uma de nossas
filhas estar obcecada para fazer sucesso em
Hollywood foi um grande desafio para a minha fé!
Por muito tempo, eu me perguntei, angustiada:
Afinal, o que aconteceu? Onde foi que eu errei?
Assim como você, eu me esforcei ao máximo para
ser a melhor mãe possível. Meus pais me criaram no
temor e na admoestação do Senhor. Eu achava que,
se amássemos nossos filhos, se vivêssemos Cristo na
frente deles, se os disciplinássemos, se os
levássemos à igreja duas vezes no dia do Senhor e
para a Escola Dominical, se fizéssemos o culto
doméstico com certa regularidade, se praticássemos
o ensino doméstico, se os matriculássemos em uma
escola cristã, se os protegêssemos das más
influências, se lêssemos livros de qualidade junto
com eles, se fizéssemos comida caseira natural, se
lhes déssemos um bom lar, se oferecêssemos
oportunidades para que eles praticassem atividades
esportivas e divertidas, então eles se tornariam
cidadãos produtivos e piedosos. Eu tinha a mais
elevada esperança de que cada um de nossos filhos
entraria para a linha de frente do reino de Cristo na
idade adulta. Mas, neste momento, dois desses
preciosos presentes do Senhor não estão nem
mesmo no campo de batalha.
Nosso filho Paul é um sem-teto, viciado em
maconha e está desempregado desde o ensino
médio. E, desde então, já se passaram onze anos.
Embora, aos nove anos, ele tenha feito uma
confissão pública de sua fé em Cristo, atualmente
alterna entre declarar-se adepto do cristianismo, do
islamismo e do rastafarianismo, dependendo de
quem esteja pagando a comida e o lugar para ele
dormir. Após desperdiçar os muitos talentos atléticos
e intelectuais que recebeu de Deus, ele agora se
considera um pensador profundo e um jogador de
basquete profissional. Depois de ser preso inúmeras
vezes (em geral, por posse de maconha e por violar
a condicional), ele se vê como alguém que sofre nas
mãos de um governo opressor. Um dos fatos mais
dolorosos, contudo, é que eu acredito que ele é uma
pessoa incrivelmente solitária. Desde a infância até
os dias de hoje, ele manteve pouquíssimo vínculo
emocional com as pessoas.
A outra ovelha perdida, nossa filha Nicole, é o
exato oposto de Paul. Aos nove anos, ela também
fez uma confissão pública de sua fé e, na ocasião,
pareceu receber Cristo de todo o seu coração. E não
tínhamos qualquer razão para duvidar dessa
confissão pública de fé até seu último ano na
universidade, quando ela começou a expressar
muitas dúvidas acerca da veracidade das Escrituras.
“Eu simplesmente não consigo acreditar que alguns
dos meus amigos, que por acaso são homossexuais
ou judeus não praticantes, vão para o inferno. Eles
são mais legais do que muitos cristãos que
conheço.” Isso foi há cinco anos e, desde então, ela
não mudou de opinião, embora, vez ou outra,
frequente igrejas liberais e afirme “ter um
relacionamento mais próximo de Deus do que você
poderia imaginar”.
Querida mulher na fase do entardecer da vida,
agora você consegue entender por que eu me via
como uma mãe cristã fracassada. Suponho que
algumas de vocês se sintam assim também. Você
tem momentos de desânimo, depressão e desespero.
Você se pergunta se, algum dia, Deus vai responder
às suas orações e súplicas por seu filho. Mas as
coisas só parecem piorar. Então, sua esperança vai
obscurecendo cada vez mais, até ficar praticamente
invisível. Quando você começa a ver uma luz no fim
do túnel, ela se apaga. Eu nunca vou me esquecer da
alegria que senti quando Paul entrou para o curso de
formação da Marinha e começou a me escrever
cartas falando que se lembrava das lições de sua
infância. Isso só fez com que a dor e a decepção
fossem maiores quando, semanas depois, ele foi
exonerado do Corpo de Fuzileiros Navais por usar
maconha após o curso ter acabado. Parece que teria
sido melhor se eu não tivesse criado expectativa.
Um dos momentos de maior desespero em minha
vida foi quando, aos 17 anos, minha filha Arielle
sumiu por seis dias e ninguém conseguia encontrá-
la. Ela sofria da doença de Lyme, embora, naquele
momento, ainda não tivesse sido diagnosticada.
Somente quem já experimentou algo parecido pode
compreender o pânico que acomete o coração dos
pais. Deus me deu uma imensa paz durante todo o
pesadelo das batalhas de Arielle contra a doença, a
rebeldia e a confusão mental, mas não deixava de
ser horrível para todos nós. Sempre que ela tinha
uma crise (voltando para seu comportamento
violento, automutilante, depois de uma semana de
calmaria), meu coração clamava: Quando, Senhor,
isso chegará ao fim? Nós não conseguimos mais
suportar.
Em uma manhã de domingo, depois da igreja, a
sensação de estar sobrecarregada me atingiu como
um tsunami. Três dos meus cinco filhos estavam
passando por grandes crises espirituais ao mesmo
tempo. E, se não fossem as orações fiéis e o apoio
de minha família biológica, eu sei que teria
enlouquecido. Havia momentos em que eu não
conseguia nem pensar com clareza. Eu me sentia
muito confusa. Em uma tarde de domingo, vinte
pessoas atenderam ao meu convite de se unir a nós
para orar e jejuar em nossa casa. Foi a provisão de
Deus de irmãs e irmãos bíblicos e compassivos que
me manteve sã e em atividade.
Outra experiência desoladora foi a primeira ligação
de Paul da cadeia municipal. Sabendo que nós não
pagaríamos a fiança, parecia que ele queria apenas
ouvir a minha voz. Eu ainda choro quando me
lembro. Às vezes, sonho que ele está me chamando:
“Mãe, mãe!”. Cordeirinhos perdidos são
especialmente difíceis para as mães porque, com
frequência, somos nós a parte mais protetora em
nossos lares. Não estou dizendo que os pais também
não sofram muito, mas eles tendem a ser
emocionalmente menos expressivos.
Acredito que os únicos momentos mais deploráveis
do que esses foram os dias em que Paul e Nicole
foram excomungados de nossa igreja (em uma
ocasião, isso caiu no Dia das Mães). Embora eu e
meu marido tenhamos pedido aos presbíteros da
igreja que não demorassem muito para aplicar essa
disciplina, não deixou de ser uma experiência
humilhante e desoladora para nós. Novamente, o
corpo de Cristo me conduziu ao nosso Pai celestial,
dando-me fé e força para continuar.
O retrato que pintei até aqui é, de fato, muito
sombrio, embora eu conheça histórias piores do que
a minha (mas, em geral, elas não se passam em
famílias com raízes cristãs tão fortes). Quero que
fique muito claro que o que você está passando com
seu filho adulto não é algo incomum.
Deus escolheu uma grande quantidade de seus
santos para sofrer esse tipo de fardo. Eu poderia
elencar muitas famílias piedosas e respeitáveis na
atual geração com filhos rebeldes que passaram
décadas afastados do Senhor. Franklin Graham é o
exemplo mais conhecido. No livro de Tom Bisset,
Why Christian Kids Leave the Faith,1 ele afirma que
90% dos filhos pródigos acabam voltando a ter uma
vida cristã ativa. Não sei se essa estatística é precisa
ou não, mas nós precisamos confiar em um Deus
soberano que não comete erros.
Nós vemos na Palavra de Deus que Adão e Eva
tiveram seu Caim, Arão teve seu Nadabe e Abiú,
Noé teve seu Cam, os filhos de Eli foram ímpios,
Isaque teve seu Esaú, os filhos de Samuel foram
transgressores da lei, Davi teve seu Absalão e a lista
não termina aí. A maioria desses pais é composta
por pessoas piedosas, mas seus filhos tiveram um
fim lastimável.
Contudo, as histórias encorajadoras de pais que
criaram filhos piedosos são muito mais abundantes.
Para cada um desses aparentes fracassos, a Escritura
nos mostra a graça de Deus em cada uma dessas
famílias. Lembre-se de que Adão e Eva tiveram dois
filhos piedosos: Abel e Sete; Noé teve Sem e Jafé;
Abraão teve seu Isaque; Isaque teve Jacó; e Jacó
teve José. Na vida de Arão e Samuel, Davi e
Salomão, Eunice e Loide, a graça de Deus foi
derramada na vida de seus filhos.
Alguns dos crentes que mencionei, embora tenham
sido criados por pais que guardavam a aliança,
pecaram gravemente em algum momento de suas
vidas; contudo, eles foram restaurados à aliança
antes do fim de suas vidas.
Ao considerar essas listas, você pode perceber que,
em alguns casos, rebeldes e discípulos vinham dos
mesmos pais. Sem dúvida, alguns dos meus leitores
estão pensando em quanto cada um de seus filhos é
diferente. Alguns que eram submissos na infância
afastaram-se de Cristo quando se tornaram adultos
e, como já mencionei, alguns que eram rebeldes
abraçaram a fé de todo o coração muitos anos
depois.
A seguir, estão listados diversos princípios bíblicos
que espero que ajudem a mantê-la focada nesses
anos desoladores.
Foque em seu emprego enquanto você confia
completamente no que Deus pode fazer
A história de Barbara
Como posso descrever o sentimento de estranheza
e deslocamento que encheu a minha mente naquelas
primeiras semanas e naqueles primeiros meses após
a minha cirurgia? Em vez dos três pequenos cortes
que eu esperava, uma descoberta durante a cirurgia
resultou em muitos grampos prateados. O tamanho
enorme da cicatriz, a estranheza do metal reluzente e
o relatório médico sobre quantas coisas haviam sido
removidas de mim me deixaram atordoada. Eu
estava perplexa, boquiaberta. Quando eu tive
coragem suficiente, meus dedos gentilmente
exploraram a paisagem do meu abdome. A maior
parte estava como antes. Mas como isso era
possível? Tantas coisas que existiam em mim agora
estavam alteradas para sempre. O corpo com que eu
vivi por tanto tempo agora parecia estranho,
desconhecido e misterioso. Alguns meses depois de
minha recuperação, apareceu um caroço dolorido no
meu seio. Nas semanas seguintes, fiz novas visitas
ao meu especialista e, depois, mais cirurgia. Mais
partes do meu corpo iam embora em jarros do
laboratório. Eu parei diante do espelho. A cicatriz da
histerectomia ainda estava vermelha, um seio tinha
pontos e estava inchado — azul-escuro e roxo. O
que tinha acontecido comigo? Esse continuava a ser
meu corpo ou se tratava de algo estranho a ele,
decidido a me destruir? No passado, ele tinha sido
meu amigo excêntrico, porém confortável. Então,
perguntei ao meu reflexo: “Quem sou eu agora?
Quem sou eu agora? Com tantas partes que se
foram, eu ainda sou uma mulher?”. O que faz com
que uma mulher seja uma mulher? Deus me
respondeu e, aos poucos, me fez enxergar que a
minha identidade é baseada no sangue dele, e não
no meu sangramento mensal.
Eu sou filha dele porque ele sangrou e morreu por
mim. Eu sou mulher porque ele esculpiu meu
coração e minha pessoa assim, e não por causa de
minha capacidade reprodutora. E ele me deu este
corpo para a glória e os propósitos dele, para que eu
servisse a ele e servisse ao seu povo por meio dele,
independentemente do que possa acontecer com ele.
Meu corpo continua a guardar seus segredos de
mim, mas eu estou aprendendo a conviver com ele
de uma nova maneira. Ele tem novas idiossincrasias
e exigências. Aprendi que esse corpo estranho
permanecerá comigo enquanto meu Salvador quiser.
Em meio a tudo que é novo e diferente, há algo
que não é novo nem diferente: o propósito de Deus
para mim e para meu corpo. As boas obras que ele
criou para que eu realizasse continuam aí, à espera
de uma atitude minha. Embora a minha fecundidade
em uma área tenha acabado, um reino cheio de
outras oportunidades para frutificar está ao meu
redor.
Então, eu sou uma mulher na fase do entardecer da
vida e estou feliz por isso. É uma coisa boa não
depositar nossa confiança em um corpo jovem e
firme. É uma coisa boa saber que esse corpo voltará
ao pó. É uma coisa boa saber que nossos dias estão
escritos no livro dele. Sim, cada um de nossos dias.
É uma coisa boa viver de todo coração, investir
nossos dons no reino de Deus e em seu povo, na
criação de Deus. Por tudo o que eu amo nesta terra,
preciso aprender constantemente a amar sem exigir
que sejam eternas as coisas que pertencem apenas a
este mundo. Meu coração precisa desejar, em
primeiro lugar, a face e a presença dele.
Esta mulher na fase do entardecer da vida é
renovada diariamente em Cristo. Eu estou pronta
para amar, para sorrir e para me regozijar de muitas
e novas maneiras. Ainda estou correndo a corrida
que Hebreus descreve, mas agora corro com
palmilhas ortopédicas. Grande parte da jornada de
fé ainda está por acontecer. Eu respiro fundo. Eu
fecho os olhos e sinto o sol em meu rosto. Eu sorrio.
O que Deus fará hoje?
*
Como eu disse, minha experiência foi diferente.
Isso não significa, contudo, que tenha sido mais
correta. Eu estava menos preocupada com o
significado dessas mudanças em mim. Eu sou
mulher, mesmo não sendo mais fértil, mesmo não
tendo útero ou um seio. Eu sou mulher em meus
cromossomos e, o mais importante, em minha alma,
diante de um amoroso Pai celestial, que me criou
para ser mulher e nada pode mudar isso.
Independentemente de onde você se encontra nesse
processo — começando a aprender novas palavras
ou, como eu, já tendo percorrido um bom caminho
—, é apropriado que você reserve algum tempo para
refletir, ler e orar sobre os novos desafios que está
enfrentando. “E a melhor maneira de você se
preparar para a menopausa é, em primeiro lugar, se
informar sobre o assunto. Saber o que esperar pode
aliviar boa parte do estresse que a mulher enfrenta
desnecessariamente quando começa a se dar conta
dos... sintomas sem saber o que fazer”.5
Na segunda nota de rodapé deste capítulo, sugeri
alguns livros que podem ajudá-la a se aprofundar
nesse tema. Seja como for, lembre-se de que as
mudanças fazem parte da maneira como Deus criou
o mundo para ser e que as mudanças da vida não
são uma surpresa ou uma dificuldade para ele. Ele
usará as mudanças em sua vida como instrumentos
para a glória dele e para seu bem, e tudo que você
precisa fazer é reconhecer que a menopausa não é o
fim da vida, nem significa deixar de ser mulher.
Trata-se apenas de uma nova fase. Eu estou
contente por não ter mais de comprar absorventes,
não tenho mais cólicas, nem vivo mais à sombra da
TPM. Há males que vêm para o bem — e a nova
liberdade que estou experimentando é esse bem.
Administrando sua saúde
Em 1 Coríntios 6.19-20, está escrito: “Acaso, não
sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de
Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus
no vosso corpo”.
Embora esses versículos falem primariamente sobre
sua responsabilidade de se afastar da imoralidade
sexual, as implicações são claras para o cuidado do
corpo. Nós, nossos espíritos, nossas almas, nossos
corpos pertencem ao Senhor.
O Catecismo Maior de Westminster, comentando
sobre a exigência do sexto mandamento, “Não
matarás”, afirma que é nosso dever manter o “uso
sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho
e recreios”.66 Eu sei que não costumo ver o cuidado
com o corpo como uma responsabilidade piedosa.
Minhas motivações costumam ser simplesmente
uma questão de me sentir bem e de caber em
minhas roupas. Em geral, não me dou conta de que
Deus reivindica ser o dono do meu corpo e que ele
mandou que eu fosse uma boa administradora do
corpo que ele me deu. Mas o reino de Deus inclui
até mesmo isso. Eu preciso perguntar: “Estou me
esforçando para manter meu corpo o mais saudável
possível?”. Isso não significa que é pecado
envelhecer ou ter uma doença crônica, embora a
doença inicialmente tenha passado a existir no
mundo por causa do pecado; significa apenas que
preciso administrar os dons que ele me deu, em vez
de desperdiçá-los negligenciando uma alimentação
saudável, o descanso, a prática de exercícios ou uma
ajuda médica. Preciso ter certeza de que estou
dormindo o suficiente, mas não dormindo demais,
que estou trabalhando seis dias por semana e
descansando um, e passando uma quantidade
apropriada de tempo com as recreações que me
permitem relaxar.
Glorificai a Deus no vosso corpo
Se você é como a maioria dos cristãos,
provavelmente tende a crer que Deus está mais
interessado em sua alma do que em seu corpo — e,
em certo sentido, em relação à sua vida eterna com
ele, isso é verdade. Mas, em outro sentido, não é.
Leia novamente 1 Coríntios 6.19-20. Paulo diz aos
coríntios: “glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”.
Enquanto estamos confinados a esta terra, tudo o
que fazemos é com nosso corpo. Nós adoramos e
servimos a Deus com nosso corpo, que é uma casa
para nossa alma, e nós pecamos contra Deus em
nossos pensamentos e atitudes através do corpo.
Nós podemos glorificar a Deus em nosso corpo pela
alegre obediência ou podemos viver para nossos
próprios prazeres, o que pode incluir a fofoca, a
preguiça, a glutonaria ou o excesso de trabalho.
Paulo queria que seus leitores vivessem de uma
maneira que levasse outras pessoas a querer
conhecer a glória de Deus — sua magnificência e
graça — e também que inspirasse louvor e amor por
ele. Ele os instruiu a glorificar a Deus com o corpo!
É surpreendente constatar que o cuidado que você
tem com seu corpo pode fazer diferença para o
Senhor, mas é evidente que faz.
O desejo de ser bonita
Eu tenho uma boa amiga que, recentemente,
completou 42 anos. Enquanto eu lhe desejava feliz
aniversário, ela mencionou sua idade e contou que
outra amiga disse que ela ainda aparentava ser muito
jovem. Em um tom de brincadeira, respondi que,
biblicamente, isso tinha sido um insulto. Segundo a
Escritura, a velhice é mais desejável do que a
juventude. A suposição subconsciente de nossa
cultura de que as pessoas mais velhas são inúteis
contradiz tudo o que a Escritura ensina. Os versos a
seguir que falam sobre os idosos têm por objetivo
transformar seus pensamentos para que eles não
sigam o modelo do mundo de culto à juventude.
“Diante das cãs te levantarás, e honrarás a presença do
ancião, e temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR.” (Lv 19.32)
“Está a sabedoria com os idosos, e, na longevidade, o
entendimento?” (Jó 12.12)
“Coroa de honra são as cãs, quando se acham no caminho
da justiça.” (Pv 16.31)
“O ornato dos jovens é a sua força, e a beleza dos velhos,
as suas cãs.” (Pv 20.29)
Para aqueles que tiveram uma vida de
relacionamento pactual com Deus, a Bíblia presume
que haverá sabedoria e honra. De fato, os jovens
têm força física e podem ter muita sabedoria, mas os
idosos têm a maturidade e a força que só podem ser
produzidas no caldeirão de uma fé vivida neste
mundo amaldiçoado pelo pecado.
A mulher que viveu o conselho de Deus em meio à labuta e
à tribulação tem resiliência, vigor e uma perspectiva fiel. A
sabedoria piedosa compensa qualquer perda da capacidade
física que ela possa estar experimentando. Por isso, Paulo
instrui Tito a levantar as mulheres piedosas e maduras para
aconselhar as mulheres mais jovens.7
A mulher virtuosa compreende o que é
importante
Como escrevi no capítulo 2, o retrato da uma
virtuosa mulher de fé que encontramos em
Provérbios 31 não é o de uma jovem. Essa mulher,
o padrão básico de piedade, é atemporal e já tem
certa idade. Ela tem idade suficiente para ter vivido
uma vida cheia de desafios e vitórias. Você ouviu
falar dela em muitos de nossos capítulos. Lembre-
se, ela não deve enxergar a si mesma de acordo com
o típico retrato da mulher do Oriente Médio, como
um brinquedo sexual do homem. Ela também não
está de acordo com a visão grega da mulher como a
mera sabedoria ociosa. O retrato bíblico é de uma
eset hayil, um termo que “descreve o equivalente
masculino a gibbor hayil, o título dado aos ‘homens
de virtudes’ [...] da época de Davi”.8 A mulher
piedosa de Provérbios 31 é uma forte mulher
virtuosa, uma guerreira que luta corajosamente por
sua família, por sua comunidade e por seu Deus.
Provérbios 31 é um retrato formado por verbos —
mas não se trata da ação como um mero fim em si
mesmo. Ela é a própria sabedoria em ação.
Não causa surpresa que ela não tenha muito
interesse no charme e na beleza, não é mesmo?
Quanto você já se afastou dessa perspectiva sobre o
que é importante em uma mulher?
Edificando sua casa sobre a rocha
O foco da vida da mulher virtuosa na fase do
entardecer é o chamado de Deus. Talvez ela ainda
seja uma dona de casa; talvez esteja envolvida com
o ministério ou talvez tenha um trabalho secular.
Talvez ela já seja avó ou ainda esteja esperando para
ter netos; talvez ela seja solteira porque nunca se
casou, porque ficou viúva ou porque se divorciou.
Seja qual for seu estado civil e independentemente
de suas atividades diárias, ela é internamente linda e
tem uma sabedoria que encontra satisfação no
serviço amoroso e autossacrificial que presta às
pessoas.
Em vez de focar as coisas externas, tão enfatizadas
por nossa cultura, discipline a si mesma para refletir
com profundidade sobre as qualidades internas que
Deus honra. Reflita sobre a construção de uma casa
por meio da sabedoria, enchendo-a com as preciosas
riquezas que o conhecimento proporciona (Pv 14.1;
24.3-4). Considere a importância da sabedoria que
você tem: a sabedoria pode ser usada para ensinar as
mulheres mais jovens sobre o caminho da vida para
que o evangelho não seja difamado (Tt 2.3-5).
Abstenha-se de concentrar suas energias
primariamente na aparência externa. Em vez disso,
procure ser modesta, discreta e cheia das boas obras
que condizem com uma mulher piedosa (1Tm 2.9-
10). Pense nas características que qualificavam a
viúva a receber ajuda e apoio da igreja: fidelidade,
caridade, hospitalidade, diligência e benevolência
(1Tm 5.9-10).
À medida que vamos nos aproximando do fim de
nosso tempo juntas, reflita, mais uma vez, sobre
como três homens piedosos descreveram a mulher
virtuosa na fase do entardecer da vida: “seja
recomendada pelo testemunho de boas obras, tenha
criado filhos, exercitado hospitalidade, lavado os pés
aos santos, socorrido a atribulados, se viveu na
prática zelosa de toda boa obra” (1Tm 5.10).
Pedro dá a seguinte instrução: “Não seja o adorno
da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos,
adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém,
o homem interior do coração, unido ao incorruptível
trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de
grande valor diante de Deus” (1Pe 3.3-4).
E, por fim, como iniciamos nosso estudo, voltemos
ao rei Lemuel, para que ele nos faça lembrar que
“enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a
mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada” (Pv
31:30).
Você confia que as palavras de Deus são
verdadeiras? Você acredita que temer ao Senhor é
mais importante do que parecer jovem?
Vidas ricas e frutíferas do princípio ao fim
O Senhor ordenou seu universo para que as coisas
mudassem, crescessem, se transformassem e
desaparecessem. Ele ordenou nossas vidas como
mulheres de maneira bem parecida. Estamos
mudando, crescendo e nos transformando. Existem
segmentos de nossas vidas que estão desaparecendo,
enquanto outros estão nascendo. Em tudo isso,
minhas amadas irmãs, Deus está amorosamente nos
ensinando sobre si mesmo e está nos fazendo ansiar
pelo dia em que tudo isso chegará ao fim e nos
gloriaremos em sua presença, contemplando
eternamente sua bem-aventurada face. Enquanto
isso, ele nos deu graça e sabedoria suficientes para
vivermos de maneira virtuosa e reverente. Você
confia nele? Você aceitará o plano que ele tem para
você, prostrando-se humildemente diante dele? Você
consegue ver quanto ele é bom para você? Deixe-me
personalizar Salmos 92 para você, minha boa irmã:
A mulher justa florescerá como a palmeira, crescerá como
cedro no Líbano. Plantada na Casa do SENHOR, ela
florescerá nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda dará
frutos, ela será cheia de seiva e de verdor, para anunciar
que o SENHOR é reto; ele é a sua rocha e nele não há
injustiça (Sl 92.12-15).
Tornando-se uma mulher sábia
1. O que mais deixa você incomodada sobre o
processo de envelhecimento?
2. Em que fase você se encontra no desenrolar da
perimenopausa/menopausa? Você já estudou as
informações relevantes para ajudá-la a tomar
decisões sábias?
3. Você se esforça para cuidar bem de seu corpo?
Você entende que recebeu um corpo de Deus para
que pudesse glorificá-lo durante sua jornada terrena?
O que talvez você precise mudar?
4. Ao refletir sobre os assuntos que abordamos
neste capítulo, há algum que você precise rever e
trabalhar para melhorar?
5. Você consegue perceber que Deus está
chamando você para levar uma vida virtuosa e
frutífera mesmo nos anos de entardecer da sua vida?
Qual é o objetivo dele ao fazer isso? (Leia Salmos
92.15.) Reflita também sobre os seguintes
versículos:
Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade; e
até agora tenho anunciado as tuas maravilhas. Não me
desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs; até
que eu tenha declarado à presente geração a tua força e às
vindouras o teu poder (Sl 71.17-18).
6. Resuma o que você aprendeu neste capítulo.