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ISBN 85-7414-004-X
CHUCK SWINDOLL
Pastor, Escritor, Professor da Radio Bible
Prefácio da
Segunda Edição
Por que uma revisão de Vivendo na Palavra? Meu filho Bill e eu produzimos a primeira
edição aproximadamente dezesseis anos atrás e, para minha felicidade, ela foi bem rece
bida. Com o passar dos anos, o livro tornou-se referência em métodos de estudo bíblico.
Na verdade, muitas escolas, faculdades e seminários bíblicos o indicam como leitura obri
gatória.
Então, qual é a razão para uma segunda edição? Mudamos nossa metodologia de
estudo da Palavra de Deus? Não, absolutamente. E certamente a própria Bíblia também
não mudou no decorrer desses anos.
Mas o mundo tem mudado dramaticamente desde 1991. A história avançou par.»
um novo milênio. Agora temos um meio totalmente novo de comunicação chamado In
ternet. O mundo tem se tomado vastamente menor com o entretedmento das suas eco
nomias. E nós, nos Estados Unidos, descobrimos que compartilhamos este planeta com
muitas pessoas que creem e se comportam de maneiras bastante diferentes.
Como sempre, a Palavra de Deus fornece a Seu povo discernimento divino enquan
to contendemos com os desafios deste novo mundo. Mas agora temos toda uma nova ge
ração de jovens que precisam descobrir a alegria de mergulhar na Palavra por si mesmos.
Bill e eu sentimos que, atualizando o nosso livro, poderiamos tomá-lo mais fácil de ler
para esses novos leitores.
Suponho que alguns possam dizer que se realmente quiséssemos alcançar a próxi
ma geração, deveriamos deixar o livro totalmente de lado e criar um Web site interativo
e sofisticado. Talvez isso ocorra um dia, mas provavelmente não no meu tempo. Náo
sou particularmente habilidoso ao computador, ainda que perceba o valor de um projeto
assim.
Contudo, tento ser biblicamente habilidoso, e este é o legado que quero deixar: uma
geração de estudantes da Bíblia armados com a habilidade de "manejajr] bem a palavra
da verdade" (2 Timóteo 2:15). Sei que a Bíblia é um livro, e livros agora são considerados
"tecnologia antiga". Mas isso só aumenta a necessidade existente de orientação em méto
dos de estudo bíblico. Minha grande preocupação é que, em sua pressa de adotar nova»
tecnologias, as gerações vindouras se esqueçam de como acessar as tecnologias antiga»,
porque podem perder a habilidade de ler.
Daí a paixão de produzir um Vivendo na Palavra atualizado. Aprecio plenamenle o
fato de os jovens de hoje viverem em um mundo visual, direcionado à experiência. Eles
atribuem muito valor às coisas que são reais, que são "autênticas". E isto é fantástico! Mas
neste caso, é de suma importância que o entendimento que eles têm da Bíblia também
seja real e autêntico.
Hoje muitas pessoas fazem todo tipo de alegações sobre o que a Bíblia supostamen
te ensina: alegações que simplesmente não são verdadeiras. Um exame mais minucioso
das Escrituras revela que a Bíblia, na verdade, não ensina o que dizem que ela ensina. Da
mesma forma, há muitas coisas que a Bíblia de fato ensina, as quais muitas pessoas nem
mesmo sabem, ou porque tais verdades não são enfatizadas ou porque são ignoradas por
completo.
O resultado é que muito de nossa cultura tem adotado o que pode ser chamado
religião popular: crendices populares baseadas em percepções e interpretações errôneas,
estereótipos, sentimentalismo e wishful thinking1 exagerado. E isto não é cristianismo au
têntico.
E então, meu apelo a todo jovem que usa este livro é o seguinte: o único modo
seguro de experimentar o cristianismo autêntico é por meio do conhecimento direto, em
primeira mão, da Palavra de Deus. Não deixe que um amigo, um DVD ou um blog, sim
plesmente, transmita a você o que a Bíblia fala, leia-a e estude-a por si mesmo. Se vocc o fizer,
ganhará autoridade vinda de seu domínio pessoal das Escrituras, a qual irá estabilizar e
dirigir a sua vida, mesmo que as pessoas a seu redor estejam perdidas em um nevoeiro
de confusão espiritual.
Aqueles que já conhecem Vivendo na Palavra irão perceber que, embora Bill e eu
tenhamos mantido o conteúdo anterior praticamente inalterado, fizemos alguns acrésci
mos. Aumentamos particularmente a parte de Aplicações. Nós salientamos que, ao apli
car as Escrituras, cada um de nós precisa levar em consideração como Deus nos formou
de maneira exclusiva e individual. Também precisamos ver que nossas vidas são rele
vantes além de nossos interesses pessoais. O propósito de Deus é que nos tomemos Seus
agentes de transformação para o mundo à nossa volta.
O Rei Salomão tinha uma visão semelhante em mente quando, perto do fim da vida,
orou:
1 Wishful thinking é uma expressão inglesa que por vezes se utiliza na língua portuguesa devido
ser de difícil tradução, e que significa tomar os desejos por realidades e tomar decisões, ou seguir
raciocínios, baseados nesses desejos em vez de em fatos ou na racionalidade. Pode ser traduzido
como otimismo exagerado. (Fonte: Wikipedia)
Até que »u tenha declarado h presente geração a tua força
e As vindouras o teu poder.
Salmo 71:17-18
É exatamente assim a minha oração para esta segunda edição de Vivendo na Palavra,
Há poder vivificador na Palavra de Deus, porque ela nos leva diretamcnte Àquele que é
o caminho, a verdade e a vida. Que este livro abra a porta do Seu Livro, tanto para cstâ
geração quanto para todas as que hão de vir.
Howard G. Hendricks
Por que as Pessoas
Não Estudam a Bíbeia
Logo após tomar-me cristão, alguém escreveu na folha em branco de minha Bíblia as
seguintes palavras: "Este livro te afastará do pecado ou o pecado te afastará deste livro".
Isto era verdade na época e ainda é hoje. Bíblias empoeiradas levam a vidas sujas. Na ver
dade, ou você está na Palavra e a Palavra o está conformando à imagem de Jesus Cristo,
ou você está no mundo e o mundo o está pressionando a seus moldes.
Contudo, a grande tragédia entre os cristãos hoje é que muitos de nós estão debaixo
da Palavra de Deus, mas não nela por nós mesmos. Conhecí um homem certa vez, que
levou toda sua família ao outro lado do país para assistir a uma conferência bíblica.
Impressionado, perguntei a ele: "Por que veio de tão longe?"
"Porque queria me colocar debaixo da Palavra de Deus", ele disse.
A primeira instância, isto soou maravilhoso, porém, mais tarde, pensei: ali estava
um homem disposto a dirigir mil e novecentos quilômetros para se colocar sob a Palavra
de Deus; mas estaria igualmente disposto a atravessar a sala de sua própria casa para
pegar a Bíblia e examiná-la por si mesmo?
Como vemos, não há dúvidas de que crentes precisam se posicionar debaixo do
ensino da Palavra de Deus, mas isto deve ser um estímulo — não um substituto — a nos
colocarmos sob ele por nós mesmos.
Muito embora a Bíblia continue sendo o livro mais vendido no mundo, é também
um dos mais negligenciados.
Quem lê a Bíblia? De acordo com estudo realizado pelo Grupo Bama em 2006, apro
ximadamente 47% dos americanos investigados disseram que liam a Bíblia algum dia da
semana (contra 31%, em 1995). Contudo, uma famosa pesquisa Gallup de alguns anos
atrás revelou que, embora 82% dos americanos alegassem crer que a Bíblia seja a Palavra
de Deus literal ou "inspirada", e mais da metade dissesse ler a Bíblia ao menos mensal
mente, metade nâo comiegiilU sequer mencionar o nome de um doa quatro evangelho*
Mateus, Marcos, Lucas ou Jofio. E menos da metade sabia quem proferiu o Sermão d<
Monte.
Você já viu uma Bíblia "estacionada" no vidro traseiro de um carro? Isso é comí
no lugar de onde venho. Alguém sai da igreja, entra no carro, joga a Bíblia atrás e a del
lá até o domingo seguinte. Esta é uma declaração bastante notória do valor que tal pesa
dá à Palavra de Deus. Com efeito, quando se trata das Escrituras, ela é funcionalmei
analfabeta seis dos sete dias da semana.
A Bíblia tem dono, é lida em ocasiões, e é até levada à igreja — mas não é estudada
Por quê? Por que as pessoas não procuram as Escrituras por si mesmas, para entendê-
las e vê-las fazer diferença em suas vidas? Ouçamos a descrição das experiências de sei*
cristãos a esse respeito.
HGH: Carlos, você é um executivo de muitas responsabilidades. Tem muita instrução. Sei
que você ama o Senhor. Qual o lugar que o estudo bíblico ocupa em sua vida?
Carlos: Quando meus filhos eram mais novos, costumávamos ler um versículo ou dob
todos os dias, enquanto tomávamos café da manhã, ou talvez na hora do jantar. Mas, nâi
diria que alguma vez tenhamos estudado a Bíblia. E evidentemente não é algo que se faç.
no trabalho.
Carlos: Bem, trabalho é trabalho. Você está ali para desempenhar uma tarefa. No trabnllu
penso sobre pagamentos, clientes, contas a pagar, o que nossos competidores estão fazen
do. A Bíblia é praticamente a última coisa que tenho em mente.
Não me entenda mal, não sou daquelas pessoas que agem de uma maneira na igrejí
e d<? outra no escritório. Mas, convenhamos, o mundo dos negócios não é uma classe dl
escola dominical. Você tem que enfrentar coisas que não são nem mencionadas na Bíblhí
Assim, ela não se aplica à situação do dia-a-dia.
HGH: Carlos, você apontou um problema de relevância, e esta pode ser a razão númen
um pela qual as pessoas não têm estudado a Palavra de Deus hoje. Pensam que ela é arcai
ca, desatualizada. Pode ser que teve algo a dizer a uma outra geração, mas questiona-a
seriamente se ela teria algo a dizer à nossa. Todavia, conforme veremos, a revelação d
Deus é tão viva hoje quanto foi quando primeiro proferida.
VANIAi “NÃO sii como*.
HGH: Passemos n Vânia, redatora de uma agência de propaganda. Vânia, você parece ter
muita energia e iniciativa. Eu poderia apostar que você se destacaria como uma notável
estudante da Bíblia.
Vânia: Bem, passei por uma fase uma vez, quando decidi que real mente iria estudar a
Bíblia. Tinha ouvido alguém dizer em um seminário que é impossível conhecer a Deus
sem conhecer Sua Palavra. Eu sabia que queria me aproximar do Senhor, então decidi re
almente penetrar nas Escrituras. Comprei todos aqueles livros sobre a Bíblia, vinha para
casa do trabalho todas as noites e passava uma hora ou mais, lendo e tentando entendê-la.
Porém, percebi que não sabia grego ou hebraico e havia muitas coisas que as pes
soas diziam sobre diferentes passagens que não faziam o menor sentido para mim. Quer
dizer, eu lia o que alguém tinha a dizer sobre um texto, e então lia o texto, mas não
conseguia entender como as pessoas tiravam aquelas conclusões. Finalmente, fiquei tão
confusa que desisti.
HGH: Ah! Então foi problema de técnica. É comum para muitas pessoas hoje. Ficam re
lutantes em pular na água porque sabem que não conseguem nadar. Nossa cultura não
ajuda muito. Com a televisão, computadores, etc., nos tomamos visualmente orientados,
e francamente, estamos perdendo a habilidade de ler. É por isso que uma das coisas que
faremos na próxima seção é recuperar as habilidades de como ler algo como a Bíblia.
HGH: Pois bem, vejamos Eduardo agora. Ele é o homem que você precisa quando tem
uma piscina suja. Ele sabe como manter a água clara como cristal. Além disso, ele aplica
uma ética incrivelmente forte ao trabalho, e acho que sua fé tem muito a ver com isso.
Eduardo, algo me diz que você presta muita atenção em sua Bíblia.
Eduardo: Bem, coloquemos assim — presto atenção no que entendo da Bíblia. Os dez
mandamentos, a Lei Áurea, "O Senhor é meu Pastor", este tipo de coisa. O resto, deixo
para meu pastor. Quer dizer, ele entende tudo aquilo, e se eu algum dia tiver um proble
ma, posso simplesmente falar com ele. Ele parece saber o que tudo significa, enquanto eu,
tento viver da melhor forma possível.
HCH: luto é encorajador. Você aatA tentando praticar a vtrdadeque entende. Mas, Eduar
do, ouço você dizer o que milhares de cristãos estão dizendo hoje: "Sou apenas um leigo",
ou "sou apenas uma dona-de-casa. Não sou um profissional. Você nào pode esperar que
eu, um indivíduo sem treinamento teológico, que talvez nem tenha terminado a faculda-
de, estude um livro como este".
Foi assim que me senti quando comecei como novo crente. Alguém me disse: "I Io-
wie, você precisa gastar tempo na Palavra".
Pensei, "Como é que vou fazer isso? Nunca freqüentei o seminário, nào sou minis
tro. Não consigo entender tudo isso".
Mas, como veremos, você na verdade não precisa de treinamento profissional para
entender a Bíblia. Você não tem que saber grego e hebraico. Contanto que saiba ler, v<x*ê
poderá se aprofundar nas Escrituras por si mesmo. Neste livro, quero ajudar-lhe a apren
der como.
Não se sinta constrangido pela palavra "estudo". Gostaria que tivéssemos um ter
mo melhor do que "estudo bíblico", porque para muitos de nós, "estudo" não traz cono
tações muito boas. É como passar fio dental nos dentes... sabemos que temos que fazê-lo,
mas ... Na verdade, iremos descobrir que o estudo bíblico pode ser indizivelmente fasci
nante, e até divertido. Portanto, aguarde.
HCH: Mencionei donas-de-casa, e acho que isso descreve você, Luana. Você está em casa
o tempo todo com três crianças pequenas. Como vê o estudo bíblico?
Luana: Ah! Adoraria estudar a Bíblia. Mesmo! Como você diz, tenho três criancinhas pari
acompanhar e, às vezes, faria qualquer coisa para ter uma pausa. Meu marido trabalh.
dia e noite para que eu possa ficar em casa. Mas isso significa que fico com as criança?
o dia todo e tenho sorte quando consigo vinte minutos para mim mesma. Não se pode
estudar a Bíblia em vinte minutos. Mesmo que eu pudesse, normalmente estou apenn»
tentando recuperar meu fôlego; não teria energias.
HGH: Entendo exatamente o que está dizendo. Minha esposa Jeanne e eu criamos quatri
filhos. A paternidade foi um trabalho extremamente exigente. Para nós, era prioridade
Acho que o ponto que você está levantando é: onde o estudo bíblico se encaixa em minhi
lista de prioridades? Infelizmente, para muitos de nós, ele é número vinte numa lista d«
vinte e sete itens. É considerado bom, mas certamente não necessário. Lembre-se disso
porque no próximo capítulo iremos descobrir que o estudo da Palavra não é uma opçãc
— é essencial.
ANTÔNIOi “TiNHO MINHAS DÚVIDAS SOBRS A BlBLIA*.
HGH: Antônio, Estou ansioso por ouvir seus comentários. Você é estudante em um cam
pus universitário. Ainda há lugar para se estudar as Escrituras em tal ambiente?
Antônio: Sim, acho que as pessoas deveríam ler a Bíblia. Há passagens muito inspirativas
nela. Nâo estou certo, porém, sobre alguns dos milagres, predições e coisas do gênero.
Quer dizer, Jonas e a baleia — nesse tipo de coisa é rcalmente difícil crer. Conheço pesso
as que citam as Escrituras para dizer se algo está certo ou errado, mas parece que pode
mos usar a Bíblia para fazê-la dizer quase tudo o que queremos que ela diga.
Então, acho que deve-se lê-la de vez em quando, mais para se ter uma idéia do que
há nela, ou talvez para o ajudar a se sentir melhor se não estiver bem. Mas estudá-la? Xi!
isso já não sei se devemos.
HGH: Certo, você levanta preocupações legítimas. É este livro confiável? É autoritário?
Podemos basear nossas vidas nele? Há credibilidade? Ou, quando o lemos, temos que
lançar fora nossa inteligência e, como alguém colocou, nos esforçarmos para crer naqui
lo que sabemos, lá no fundo, ser totalmente absurdo? Vamos descobrir que este livro é
completamente digno de confiança, e que quanto mais o estudamos, mais consistente e
razoável ele se toma.
HGH: Consideremos um último comentário. Jorge, seu interesse pela Palavra tem muito
a ver com o fato de você ensinar uma classe de adultos na escola dominical em sua igreja.
Jorge: Sim, acho que tenho mais motivo para estudar a Bíblia do que a maioria das pesso
as. Quando leio uma passagem, sempre penso em meus alunos e em como vou ensiná-la
a eles. Mas, vou ser honesto, é difícil fazer com que as pessoas se interessem pela Bíblia.
Parece que preferem falar sobre esportes ou o que está acontecendo no trabalho a falar
das grandes doutrinas da fé.
Não espero que alguém se tome um grande teólogo, mas 2 Timóteo 3:16 diz que a
Bíblia é útil para o ensino, e parece-me que muitos dos problemas dos quais as pessoas
reclamam poderiam ser remediados se elas prestassem um pouquinho mais de atenção
ao que a Bíblia tem a dizer.
HGH: Acho que você está descobrindo o que toda pessoa que deseja comunicar verdades
espirituais enfrenta: é muito difícil fazer com que as pessoas se entusiasmem com a visão
pessoal que alguém tenha da Palavra. A menos que estejam fazendo suas próprias des
cobertas em tópicos diretamente relacionados a suas experiências, o estudo da Bíblia os
<*nf<idnrá trcmencUmrntr. EIan não ne sentirão motivada* a Invwrtlr tempo nelr. Arnilm,
é renlmenle seu desafio como professor oferecer a elas um processo pelo qual possam
revelar verdades espirituais por si mesmas. Espero que você aprenda algumas maneiras
de fazê-lo através deste livro.
Uma das maneiras de não fazê-lo é através da culpa. A culpa é um motivador fraco.
É muito poderosa, mas também venenosa para o processo de aprendizagem. Ela mata a
alegria que deve marcar os primeiros contatos de familiarização com a Palavra. A culpa
afasta as pessoas das Escrituras mais do que as atrai.
E VOCÊ?
Bem, temos visto várias razões pelas quais as pessoas não estudam a Bíblia. Qual delas se
aplica a você? Você questiona a relevância da Bíblia nos assuntos da vida real? Está fora
do processo por falta de técnica e habilidades básicas? Está convencido de que este Livro
é somente para profissionais, não para leigos, e de que é necessário treinamento especial
para entendê-lo? O estudo bíblico é prioridade baixa (ou não é prioridade) com tantas
outras exigências suplicando seu tempo? Você questiona a confiabilidade da Bíblia, não
sabe se realmente pode determinar o seu significado? Você considera o estudo bíblico
horrivelmente maçante ou não digno de sua atenção?
Se você se identifica com qualquer dessas razões, então este livro é para você. Irei
mencionar todos estes obstáculos e mais. Cada um deles pode ser superado.
Antes porém, tendo visto o lado negativo — por que as pessoas não estudam a
Bíblia — perguntemos: "Por que devemos estudar a Bíblia?" No próximo capítulo, darei
três razões importantes pelas quais o estudo bíblico não é uma opção, mas um imperativo.
E Você?
A grande tragédia entre os cristãos hoje é que muitos de nós estão sob a
Palavra de Deus, mas nào a estudamos por nós mesmos.
E você? Lê e estuda regularmente a Bíblia por si mesmo ou faz parte da maioria das
pessoas que raramente, se alguma vez, abrem a Bíblia por si mesmas? Eis um exercí
cio simples para ajudá-lo a avaliar seus hábitos de leitura da Bíblia.
Eis algumas razões pelas quais as pessoas alegam que não leem a Bíblia. Assinale
aquelas que expressam por que você não lê a Bíblia mais do que o faz.
No último capítulo vimos seis razões comuns alegadas pelas pessoas que nào mergu
lham nas Escrituras por si mesmas. Permita-me acrescentar uma sétima: Ninguém nunca
contou a elas o que ganhariam com isso. Quais os benefícios do estudo bíblico? O que há
nele para mim? Se eu investir meu tempo nisso, que vantagem terei? Que diferença isso
fará em minha vida?
Quero sugerir três benefícios que você pode esperar quando investe no estudo da
Palavra de Deus, os quais não se encontram em nenhum outro lugar. E francamente, não
são luxúrias, mas necessidades. Vejamos três passagens que conspiram para edificar um
caso convincente pelo qual devemos estudar a Bíblia. Não é uma opção — é essencial.
Permita-me mencionar três palavras para revelar a verdade contida aqui. Escreva-
as na margem de sua Bíblia, perto deste versículo. A primeira é atitude. Pedro está des
crevendo a atitude de uma criança recém-nascida. Assim como o bebê "avança" na ma-
madeira, você "avança" no Livro. O bebê tem que tomar leite para o sustento de sua vida
física; você tem que ler as Escrituras para o sustento de sua vida espiritual.
Jeanne e eu tivemos quatro filhos e aprendi logo que existe um despertador dentro
do bebê que toca a cada três ou quatro horas — e não se atreva a ignorá-lo. Você tem que
trazer umn mnmndclra de leite I med lata mente. Awlrn que você o faz, há grande calma.
Pedro coHNidera essa expressiva figura e diz. que esta tem que ser a sua atitude com rela
ção às Escrituras.
Mas ele também fala sobre seu apetite pela Palavra. Você deve desejá-la "ardente
mente". Você tem que ansiar pelo leite espiritual da Palavra de Deus.
Agora, para ser honesto, este é um hábito a ser cultivado. De vez em quando al
guém me diz: "Sabe, professor Hendricks, na verdade não estou tirando muito proveito
da Bíblia". Mas este comentário diz mais respeito à pessoa do que ao Livro.
O Salmo 19:10 diz que as Escrituras são mais doces do que o mel, mas você nunca
o diria julgando por alguns crentes. Há três tipos de estudantes da Bíblia. Há o tipo "óleo
de rícino", para quem a Palavra é amarga — iac! — mas boa para o que os aflige. E o tipo
"trigo esfacelado", para quem as Escrituras são nutritivas, mas secas. É como comer um
balde de feno.
O terceiro tipo, porém, é o que chamo de os "morango com chantilly". Nunca es
tão satisfeitos. Como adquiriram o gosto? Festejando na Palavra. Cultivaram aquilo que
Pedro descreve aqui — um insaciável apetite pela verdade espiritual. Qual dos três tipos
você é?
Há um propósito para tudo isso, o que nos traz à terceira palavra: objetivo. Qual
o objetivo da Bíblia? O texto nos diz: "para que por ele vos seja dado crescimento para
salvação". Por favor, note, não é para que você saiba. Certamente não se pode crescer
sem saber, mas você pode saber e não crescer. A Bíblia não foi escrita para satisfazer a sua
curiosidade, mas para o ajudar a se conformar à imagem de Cristo. Não para fazê-lo um
pecador mais esperto, mas para faze-lo como o Salvador. Não para preencher sua mente
com uma coleção de fatos bíblicos, mas para transformar sua vida.
Quando meus filhos eram pequenos, fiz um gráfico de crescimento atrás da porta
do armário. Conforme cresciam, eles me imploravam para medir quanto tinham crescido
e marcar no gráfico. Não importava quão pequeno o aumento fosse; eles pulavam de
alegria por verem o progresso.
Uma vez, após ter medido minha filha, ela mc fez uma pergunta do tipo daquelas
que você deseja que as crianças não façam: "Papai, por que gente grande pára de crescer?"
Como poderia explicar que gente grande não pára de crescer — simplesmente cres
cemos em outra direção! Não sei o que disse a ela, mas até hoje o Senhor tem me pergun
tado: "Hendricks, você está envelhecendo ou crescendo?"
E você? Há quantos anos é cristão? Nove meses? Sete ou oito anos? Trinta e nove
anos? A questão é: quanto tem crescido? Suba no gráfico de crescimento de Deus e meça
seu progresso. Isso é o que esta passagem está ensinando.
Assim, a primeira razão para se estudar as Escrituras é que este é um meio de cres
cimento espiritual. Não há crescimento fora da Palavra. Ela é o instrumento primário de
Deus para o desenvolver como indivíduo.
O ESTUDO BÍBLICO í ESSENCIAL A MATURIDADE ESPIRITUAL
"A esse respeito temos muitas cousas que dizer, e difíceis de explicar/por
quanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis
ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente necessidade
de alguém que vos ensine de novo quais são os princípios elementares dos
oráculos de Deus; assim vos tornastes como necessitados de leite, e não de
alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, é inexperiente na
palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos,
para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discer
nir não somente o bem, mas também o mal."
Esta é uma passagem instrutiva em termos de estudo das Escrituras. O escritor diz
que tem muito a dizer, mas é "difícil de explicar". Por quê? Seria dificuldade na revela
ção? Não, é a densidade da recepção. Há uma desabilidade no aprendizado: "vos tendes
tornado tardios em ouvir", isto é, "sois vagarosos em aprender".
A palavra chave nesta passagem é tempo. Sublinhe-a em sua Bíblia. O escritor diz
a seus ouvintes: quando por virtude do passar do tempo você deveria estar indo para a
faculdade, você tem que voltar ao jardim da infância e aprender o abecedário todo nova
mente. Quando deveria estar comunicando a verdade a outros, você precisa ter alguém
que comunique a verdade a você.
Na verdade, ele diz, você ainda precisa de leite, não de alimento sólido. O alimento
sólido é para os maduros. Quem são os maduros? Aqueles que vão para o seminário? O
que pode derrotar qualquer um num duelo teológico? Quem sabe mais versículos bíbli
cos?
Não; diz o autor que você é maduro se treinou a si mesmo através do uso constante
das Escrituras para distinguir o bem do mal. A marca da maturidade espiritual não é o
quanto você entende, mas o quanto você usa. Na esfera espiritual, o oposto de ignorância
não é sabedoria, mas obediência.
Assim, esta é a segunda razão pela qual o estudo bíblico é essencial. A Bíblia é o
meio divino de desenvolver a maturidade espiritual. Não há outra maneira.
"Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus
Mt’jfl perfeito e perícltamente habilitado para toda boa obra."
"Toda Escritura", isto inclui 2 Crônicas. Disse isso uma vez a uma audiência e um
rapaz comentou: "Eu nem mesmo sabia que havia uma primeira".
E Deuteronômio? Você consegue achar este livro em sua Bíblia? Já fez devocional
nele? Quando Jesus foi tentado no deserto (Mateus 4:1-11), Ele derrotou o diabo três ve
zes, dizendo: "Está escrito". Todas as três são citações do livro de Deuteronômio. Muitas
vezes pensei: Se minha vida espiritual dependesse de meu conhecimento de Deuteronômio, como
seria?
Paulo diz que toda Escritura é útil. Mas útil para quê? Ele menciona quatro coisas:
primeira, doutrina ou ensino. Isto é, ela irá estruturar seu pensamento. Isto é crucial por
que se você não estiver pensando corretamente, não estará vivendo corretamente. Aquilo
em que você acredita determina seu comportamento.
Ele também diz que a Bíblia é útil para repreensão. Isto é, ela dirá onde você está
fora dos limites. É como um árbitro que grita: "Falta" ou "Cesta!" Ela mostra o que é pe
cado. Mostra o que Deus quer para sua vida. Ele provê seus padrões.
Terceiro, é útil para correção. Você tem um armário onde põe tudo aquilo para qual
não consegue mais achar espaço em lugar algum? Você abarrota tudo lá e, um dia se es
quece e abre a porta...brum! — cai tudo. "Puxa vida", você diz, "tenho que arrumar isso
aqui". A Bíblia é assim. Ela abre as portas de sua vida e provê uma dinamite purificadora
para o ajudar a limpar o pecado e a aprender a se conformar à vontade de Deus.
Uma quarta vantagem da Bíblia é que ela é útil no treinamento para uma vida de
justiça. Deus a usa para mostrar como se deve viver. Tendo-o corrigido nos aspectos ne
gativos, Ele dá a você orientação positiva a se seguir na vida.
Qual o propósito global da Bíblia? Equipar-nos para toda boa obra. Você alguma
vez já disse: "Gostaria que minha vida fosse mais eficaz para Jesus Cristo"? Se já, o que
tem feito para se equipar? O estudo bíblico é um meio primário pelo qual podemos nos
tornar servos eficazes de Jesus Cristo.
Uma vez perguntei a um grupo de homens de negócios: "Se vocês não soubessem
sobre seu negócio ou profissão, mais do que sabem sobre cristianismo, após o mesmo
período de tempo de contato, o que aconteceria?"
Um deles falou sem pensar: "Eles me mandariam embora".
Eu disse: "Obrigado, senhor, pela honestidade".
Ele estava certo, sabemos. Deus talvez não possa usá-lo mais do que Ele quer por
que pode bem ser que você não esteja preparado. Talvez você tenha frequentado igreja
por cinco, dez, até vinte anos, mas nunca abriu a Bíblia para preparar-se para a eficácia
como Seu instrumento. Você esteve debaixo da Palavra, mas não a estudou por si mesmo.
Agora é a sua vez; Deus quer Se comunicar com você no século vinte. Ele escreveu
Sua mensagem em um Livro e pede que você venha e estude este Livro por três razões
que nos impelem: É essencial ao crescimento. É essencial à maturidade. É essencial para
equipá-lo e treiná-lo a fim do que você possa ser um instrumento disponível, limpo <•
preciso nas mãos dlilc, para cumprir os Seus propósitos.
Então, a pergunta que fica para você agora é: "Como você pode deixar de estudar a
Bíblia, diante do que foi exposto?"
O grande teólogo B. B. Warfield disse: "A Bíblia é a Palavra de Deus de tal ma
neira que quando a Bíblia fala, Deus fala". Esta é uma boa descrição de inspiração.
Chamamos a Bíblia de Palavra de Deus porque ela é realmente as próprias palavras
que Deus queria comunicar.
Evidentemente, alguns têm barreiras quanto a este conceito porque a Bíblia foi
redigida por autores humanos. Se eles eram "inspirados", o mesmo acontece com
grandes artistas que produzem grandes obras.
Porém, isto não é o que a Bíblia quer dizer com inspiração. Lembra-se de 2
Timóteo 3:16-17? "Toda Escritura é inspirada por Deus". A palavra traduzida por
"inspirada" significa "soprada por Deus", transmite a ideia de Deus "exalando" as
Escrituras. E, uma vez que a palavra "hálito" pode também ser traduzida por "espí
rito", podemos facilmente ver a obra do Espírito Santo, superintendendo a escrita.
Então, que papel fizeram os autores humanos? Deus os usou sobrcnaturalmen-
te para escrever as palavras, sem comprometer a perfeição, a integridade ou a pureza
do produto final. É um caso de dupla autoria. Como coloca Charles Ryrie, "Deus
superintendeu os autores humanos de modo que, usando suas próprias personalida
des individuais, compuseram e registraram, sem erro, a Sua revelação ao homem nas
palavras do manuscrito original".
Pedro usou uma brilhante figura de linguagem para descrever este acordo
quando escreveu que "homens (santos) falaram da parte de Deus movidos pelo Espí
rito Santo" (2 Pedro 1:21). A palavra movidos é a mesma palavra usada para descrever
um navio se movendo sob o poder de um vento forte. Os autores bíblicos foram
guiados em sua escrita para ir aonde Deus queria que fossem e para produzir o que
Deus queria que produzissem. Sem dúvida suas personalidades, estilos de escrita,
perspectivas e distinções se refletem em suas palavras; mas seus relatos são mais do
que palavras de homens, são a Palavra de Deus.
Você já ouviu falar sobre o Projeto Jesus? Certos eruditos duvidam da confiabi
lidade das palavras dv )<mun registradas nos quatro evangelhos. Por Isno, a cada ano,
encontram-se para discutir os textos. Para cada declaração atribuída a Cristo, votam
nos méritos relativos a se Jesus realmente disse aquelas palavras ou se os escritores
do Novo Testamento as colocaram em Sua boca.
O voto pode ir em quatro direções: o grupo pode decidir que as palavras de
Jesus são "vermelhas", indicando que Ele defínitivamente as disse. Por outro lado,
os eruditos podem rotulá-las "pretas" se acreditarem que Ele definitivamente não
as disse. No meio estão "rosa" (Jesus provavelmente as disse, embora haja alguma
dúvida), e "cinza" (Jesus provavelmente não as disse, embora seja possível que a»
tenha dito).
Qual o propósito de tal exercício? Um porta-voz diz que o grupo quer reforçar
a fé das pessoas, permitindo que elas saibam o que é confiável e o que não é.
Não sei como você reage a tal projeto, mas a mim parece ridículo — para não
dizer perigoso. Como é que um comitê de céticos, vivendo dois mil anos após o fato,
pode se sentir qualificado a julgar a autoridade das Escrituras? Acho que eles apro
vam a "inspiração por consenso".
Prefiro a inspiração pelo Espírito Santo. O texto da Bíblia não é a contemplação
dos homens, mas um produto sobrenatural, a própria Palavra de Deus.
A BÍBLIA É INERRANTE
Para ser autoritária, a Bíblia tem que ser verdadeira, isto é, sem erro. Como
alguém notou, "Ou a Bíblia não contém erros no todo, ou é toda cheia de erros". Real
mente não há meio termo. Uma Bíblia "parcialmente inerrante" é uma Bíblia errante.
"Inerrância" significa sem erro — sem falhas ou erros na escrita original, e sem
erros em qualquer área que seja. Este é um conceito difícil para nossa geração. Nossa
tendência e sermos relativistas, para nós nada pode ser verdadeiro num sentido ab
soluto. Além disso, nossa cultura nos induz a pensar que a ciência moderna deixou
a Bíblia para trás.
A realidade é que as Escrituras têm resistido ao teste da ciência pura. Na ver
dade, muitos dos mais eminentes e doutos cientistas de nossos dias estão dando uma
"terceira" olhada nas Escrituras à luz de seus avanços e descobertas.
Crer em uma Bíblia sem erros não significa tomar cada declaração de uma ma
neira rija ou rigidamente literal. Como constataremos, as Escrituras frequentemente
falam através de linguagem figurativa. Além disso, aceitamos que tenha havido erros
na transmissão da Bíblia de cópia para cópia através dos anos (embora sejam surpre
endentemente poucos).
Contudo, a Bíblia dá testemunho a sua própria inerrância. A testemunha mais
poderosa é o próprio Senhor Jesus. Em Mateus 4:1-11, Ele enfatiza que pode-se con-
flftr em cada palavra escrita, nfio apenas nas Idelas contidas nelas. Hm Mateus M7«
18, Ele expande a confiabilidade absoluta do texto até as letras individuais, e até Al
partes das letras.
Nos evangelhos, Jesus se referiu a porções das Escrituras que hoje em dia sâo
questionadas por algumas "autoridades". Não há neles a menor insinuação de que
Ele as considerava qualquer outra coisa senão precisas, confiáveis e verdadeiras. (Só
em Mateus, veja 8:4; 10:15; 12:17,40; 19:3-5 e 24:38-39.)
Inerrância significa que temos uma Bíblia completamente fidedigna, confiável
e sem erro em sua forma original. Conforme a estudamos, podemos avidamente an
tecipar respostas às questões que são essenciais.
Como Este Eivro
Poderá Ajudá-lo
Espero que você esteja, agora, convencido da necessidade, bem como do valor de se
envolver com a Bíblia de uma maneira direta. Sou cristão há cinco décadas e posso asse
gurar: ler a Palavra de Deus fez toda diferença em minha experiência cristã.
O mesmo acontecerá com você. A Palavra de Deus revolucionará sua vida. Como
vimos no último capítulo, ela é a chave do crescimento espiritual, da maturidade e da
eficácia.
Mas, por favor, note: o estudo bíblico efetivo requer um método. Não se ensina um.i
criança a nadar, jogando-a na parte funda de uma piscina e dizendo: "Tudo bem, agora
nade".
Começa-se devagar, mostrando como flutuar, como mergulhar a cabeça, como ba
ter os pés e como nadar estilo cachorrinho. Você dá à criança a direção e um processo para
que gradualmente ela vá desenvolvendo as habilidades necessárias.
O mesmo é verdade no aprendizado do estudo da Bíblia. Assim, neste e nos próxi
mns capítulos, quero apresentar um método de acesso à Palavra de Deus.
Por "método" quero dizer uma estratégia, um plano de ataque, que produzirá rr
sultados máximos para seu investimento de tempo e esforço. Se não houver um método,
você pode ficar frustrado muito rapidamente; foi o que Vânia descobriu, no capítulo 1
Você pode também morrer no fundo da piscina, em termos de interpretação e aplicação
Esta foi a reclamação de Antônio, você se lembra.
Este livro apresenta o método mencionado acima. Quero contar-lhe antes de mah
nada quais os custos e benefícios do uso deste método. Primeiramente, os benefídoN
Baseado em mais de quarenta anoa de ensino dente material descobri pelo menos quatro
principais vantagens para esta abordagem.
CUSTOS
Todavia, há custos envolvidos. As riquezas de Deus são gratuitas, mas não sào bara
tas. O estudo bíblico deposita muitas expectativas sobre você. Permita-me mencionar lnê».
Abertura para eatudar
An liNcrltuniN nAo dAo hvu.h írutoN ao preguiçoso. Como qualquer outra dIMvlplina da vida,
o estudo da Bíblia compensa na proporção de nosso esforço. Quanto maior o investimen
to, maior a recompensa.
Obviamente, o processo leva tempo, que é a questão que Linda, a dona de casa,
levantou no capítulo 1. Mas se seu estudo da Bíblia é produtivo, se você estiver desco
brindo coisas incríveis que jamais soube que existiam, e se o processo estiver fazendo real
diferença em sua vida, você provavelmente encontrará tempo para ele. Estou esperando
que este livro o ajude a iniciar um esforço produtivo para que o tempo se torne um preço
que você pague com satisfação à luz dos benefícios.
Abertura a Deus
Como disse antes, o propósito máximo do estudo bíblico é o conhecimento de Deus. A
questão é, você quer conhecê-LO intimamente? É isso que está procurando? Se é, Ele pro
mete honrar sua diligência na Palavra.
Por exemplo, observe o que Salmo 1:2 diz sobre a pessoa que deseja ser "abençoa
da" por Deus: "Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de
noite". Todos querem a bênção de Deus, mas o nosso "prazer" está na Sua Palavra e nós
a tornamos o foco central de nossa mente "de dia e de noite"?
Abertura à mudança
A Bíblia não foi escrita para ser estudada, mas para mudar nossas vidas. Mudança de
vida é o produto que procuramos. O coração humano não resiste a nada mais que à mu
dança, mas o crescimento espiritual é um comprometimento à mudança.
Romanos 8:29, por exemplo, diz que Deus pretende conformá-lo à imagem de Jesus
Cristo — em outras palavras, fazê-lo como Cristo. Se isto é verdade, quanta mudança
você acha que pode esperar? Você está aberto para tal? Está desejoso de que Deus invada
seu caráter e conduta com a Sua verdade?
Iniciando
Estamos quase prontos para o lançamento no processo. No próximo capítulo, farei uma
revisão do que vem a ser método no estudo bíblico. Mas antes de chegarmos lá, permita-
me fazer duas sugestões.
Primeiro, estabeleça alguns alvos. O que você pretende com este processo? Que
necessidades precisam ser tratadas em sua vida? Há relacionamentos que necessitam ser
curados, cultivados ou alterados? Há atitudes que precisam ser mudadas ou reforçadas?
Há hábitos que você precisa quebrar ou estabelecer? Questões como estas podem ajudá-
lo a formar objetivos para guiá-lo em seu estudo bíblico.
Segundo, ajuste suas expectativas. Seja realista. Você pode ser um tigre pronto para
dar o bote, mal pode esperar para começar. Isso é fantástico! Mas lembre-se, você não vai
dominar o processo da nolle para o dia. Isso leva tempo. Por outro Indo, você pode sc
sentir como uma tartaruga: que nunca chegará lá; é difícil demais. Neste caso, anime-se, a
questáo no estudo bíblico não é velocidade, mas direção. O que importa não é quão longe
você vá, mas se persiste e mantém progresso. Diligência é a chave.
Você está pronto para começar? Então me acompanhe ao próximo capítulo, e come
cemos por obter um panorama do que é o estudo bíblico.
Os Livros da Bíblia
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EVANGELHOS
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1
Como Escolher Uma Bíblia
A ferramenta mais importante que você precisa para se envolver com • Palavra de
Deus por si mesmo é uma Bíblia de estudo. Se você não tem, adquira uma. Será um
bom investimento. Use-a para começar a aplicar os princípios cobertos por este livro.
Há muitas excelentes Bíblias no mercado. Algumas são até chamadas "Bíblias
de estudo", como "A Bíblia Anotada" na versão Revista e Atualizada, da Editora
Mundo Cristão ou a "Bíblia de Referência Thompson" da Editora Vida. Quando co
mecei a vida cristã, alguém me deu uma Bíblia com referências Scofield — aquela
com a declaração na folha de abertura que mencionei no primeiro capítulo: "Este
livro o afastará do pecado ou o pecado o afastará deste livro".
Entretanto, quando falo em Bíblia de estudo, penso em uma que tenha as se
guintes características ideais:
Letras grandes
Conveniência é o apelido de nossa cultura. Para as Bíblias, isso significa letras peque
nas, uma vez que letras pequenas produzem Bíblias pequenas que são mais fáceis de
se carregar. Mas estudar uma Bíblia com letras pequenas pode ser quase impossível.
Ela não somente força a vista, como dificulta a escrita no texto e ao redor dele. Esco
lha uma edição com letras grandes o suficiente para ler e fazer anotações facilmente.
Margens grandes
Se puder, encontre uma assim. Desta maneira, você terá muito espaço para registrar
suas observações e pontos de vista.
Sem notas
Quando você está estudando a Palavra, é bom que venha a um texto sem preconcei
tos, sem qualquer comentário alheio competindo para a sua atenção. Idealisticamen-
te, quer-se o texto bíblico, tão-somente o texto bíblico.
Sem subtítulos
Isto é de menor importância, mas uma Bíblia de estudo ideal teria indicações de ca
pítulo e versículo, mas não títulos editorializados para parágrafos e seções como "A
Oração do Pai Nosso" e "A Grande Comissão", por exemplo. Tais títulos podem ser
úteis para localizar o material no texto, mas tendem a influenciar o leitor.
Referências cruzadas
Elas podem ser úteis na comparação de Escritura com Escritura.
Mapas
Para o estudo sério da Bíblia, você precisará de um atlas, o qual também descreverei
posteriormente. Todavia, alguns mapas no final de sua Bíblia de estudo podem aju
dar no caso de consulta rápida. É sempre crucial considerar o lugar onde os evento*
das Escrituras aconteceram.
Certifique-se de adquirir uma Bíblia completa, com o Velho e o Novo Testamen
to. Se você usar somente o Novo Testamento, não poderá voltar para verificar as pau-
sagens do Velho Testamento que irradiam luz sobre o Novo. Você também se sentirá
tentado a tomar-se cristão de um só testamento. Lembre-se, ambos os testamentos
são a Palavra de Deus; ambos são inspirados; todos os sessenta e seis livros são úteis
(2 Timóteo 3:16). Em Hebreus 4:12, o escritor chama as Escrituras de espada de dois
gumes. Mas algumas pessoas tentam trabalhar apenas com um pequeno testamento
de bolso, que reduz a espada do Espírito a um canivete.
Você provavelmente desejará trabalhar com as versões em português, é claro,
a menos que saiba grego ou hebraico. Há várias delas disponíveis. Todas têm seus
pontos fortes e fracos e servem a diferentes propósitos. Por um bom tempo em minha
vida, usei a versão em inglês New American Standard Bible (NASB). E uma das mais
precisas, embora um tanto rija às vezes. E muito útil, porém.
Algumas outras traduções contemporâneas para o português são: as Edições
Revista e Atualizada e Revista e Corrigida, Bíblia Trinitariana, e a Nova Versão Inter
nacional. Estas são traduções verdadeiras, diferentes das paráfrases como a Bíblia na
Linguagem de Hoje, a Bíblia Viva, ou as Cartas para Hoje de J.B. Phillips. Qualquer
que seja a tradução escolhida por você, certifique-se de que irá adquirir uma boa Bí
blia de estudo, conforme descrita acima.
Finalmente, não hesite em escrever em sua Bíblia. Alguns dizem: "Não quero
bagunçá-la". Bem, eu já diria "bagunce-a", se é assim que você chama o ato de escre
ver na Bíblia. Escreva nela toda! Você deverá percorrer uma Bíblia toda a cada dois ou
três anos, se for diligente em seu estudo. Então, poderá adquirir outra. É maravilhoso
poder olhar para as Bíblias antigas e ver o progresso que fez em sua vida espiritual.
Uma Revisão
do Processo
Jeanne e eu estávamos em férias na Costa Oeste dos Estados Unidos, alguns anos atrás,
com nosso filho Bill. Tínhamos um amigo lá que possuia um avião, e um dia ele per
guntou se queríamos voar com ele para a Ilha de Santa Catalina. Aceitamos, e na manhã
seguinte, zunimos pela pista de decolagem, rumando direto às alturas, cortando os céus
de Orange County, Califórnia.
Depois de nivelarmos sobre o Pacífico, nosso amigo dirigiu-se a Bill, que estava no
assento de co-piloto, e gritou, sobressaindo ao ruído do motor, "Que tal experimentar
suas mãos num avião em wo?"
Sempre pronto para aventuras, ele respondeu: "Claro". Bill nunca tinha pilotado
um avião em sua vida — mas, que diferença isso fazia?
Nosso amigo deu a ele algumas breves instruções na arte de voar — quase que um
"curso de choque", pode-se dizer. Então, entregou os controles, e Bill passou ao coman
do. Nada aconteceu enquanto voávamos sempre em frente, mas após alguns minutos, o
piloto gritou: "Por que não tenta uma curva?"
Bill fez inclinação para a esquerda, e, de repente, comecei a me sentir um pouco
tonto. Um segundo depois, nosso amigo disse: "Muito bem, tente para o outro lado",
e o avião se inclinou para a direita. Agora, eu e Jeanne estávamos tontos. Ficamos bem
aliviados em ver o piloto eventualmente colocar as mãos nos controles e nos nivelar antes
de assumir novamente.
"Não está mal", gritou para Bill, que sorria como um Top Gun. "Só descemos uns
trezentos metros".
Obviamente, não se ensina alguém a voar simplesmente entregando os controles à
pessoa interessada e gritando: "Divirta-se". Voar exige habilidades que levam anos para
serem totalmente desenvolvidas. Não adquirindo tal experiência, você coloca sua vida
MM rim.
< I iMiludti ild I’nliivni di* I )i*um nAo é diferente. Aprender fl fazê-lo ê um processo que
|HhIm acontecer dfl nolle paro o dlo. Todavia, isto é exatamente o que fazemos com
HHVi» i rentes quando dizemos a eles que se envolvam nas Escrituras, entregamos a eles
HHM Hlbllfl e esperamos que prossigam daí. Nào se admira que tantos crentes desistam
Irusllfldos.
Neste capitulo, desejo fazer uma revisão do processo de estudo bíblico. Primeiro
quem definir o que um método de estudo bíblico envolve. Daí, mostrarei o quadro geral
Rim u destino do processo e onde você chegará se o seguir.
Comecemos com uma definição. Defino método no estudo bíblico com ties afirma
tivas. Primeira, Método é “ntelodicidade". Isto é, envolve dar certos passos em uma certa
ordem para garantir um certo resultado. Não somente qualquer passo; não somente qual*
quvr ordem; não somente qualquer resultado.
O resultado governa tudo. Qual o produto do estudo bíblico metódico? O que você
i após ele? Tenho dito o tempo todo que o estudo bíblico pessoal tem um objetivo muito
Hpecíflco — a saber, mudança de vida.
Então como chegar lá? Que processo levará a tal resultado? Proponho uma aborda
gem di* tiês passos que garantirá mudança de vida — três passos cruciais executados em
uma ordem específica.
1. Observação
Neste passo, você pergunta e responde a questão: O que vejo? No momento em que você
Vfli As Escrituras, pergunta: quais são os fatos? — assumindo o papel de detetive bíblico
procurando pistas. Nenhum detalhe é trivial. Isso leva ao segundo passo.
1. Interpretação
Aqui você pergunta e responde a questão: O que isto significa? Sua busca é por significado.
Iníelizmente, demasiados estudos bíblicos começam com a interpretação; e além disso,
normalmente terminam com ela. Mas mostrarei a você que ele não começa aí. Antes que
entenda, você tem que aprender a ver. O estudo também não termina aqui, porque o
terceiro passo é...
3. Aplicação
Aqui você pergunta e responde a questão: Como isto funciona?, e não: Funciona? As pesso
as dizem que irão fazer a Bíblia "relevante", mas se a Bíblia ainda não for relevante, nada
que você ou eu façamos fará diferença. A Bíblia é relevante porque é revelada; é sempre
um retomo à realidade. E para aqueles que a lêem e a consideram, ela muda suas vida».
t PRECISO TER CONHECIMENTO DIRETO
Agora que você sabe aonde está indo, observe melhor a maneira como vai chegar lá,
o processo em si mesmo. Lembre-se de que o primeiro passo é a Observação. É onde você
pergunta e responde a questão: "O que vejo?" Você precisa procurar quatro coisas.
1. Termos
Um termo é mais do que simplesmente uma palavra. É a palavra chave que é crucial
àquilo que o autor tem a dizer. Por exemplo, no evangelho de João, a palavra crer aparece
não menos que setenta e nove vezes, sempre como verbo e nunca como substantivo. In
vestigue, e descobrirá que João usa crer muito propositadamente. É um termo que revela
seu significado. Na verdade, o livro seria completamente diferente sem ele.
O mesmo princípio se aplica a todo livro na Bíblia. São todos repletos de termos.
Você tem que aprender a reconhecê-los e prestar muita atenção, porque eles são os tijolos
com que se constroem o significado.
2. Estrutura
Ao contrário da opinião popular, a Bíblia não é uma coleção de ditados casuais e histórias
que por acaso foram unidas de qualquer jeito. Pelo contrário, é uma livraria cujos livros
foram cuidadosamente edificados, e que exibem — para aqueles que os procuram — dois
Upon básicos de estrutura,
Primeiro, a estrutura gramatical. Posso quase ouvir as reclamações: " lemos que
voltar a isso? Desisti dela na sétima série". Mas, se quiser aprender como estudar as Es
crituras efetivamente, deve aprender a lê-las com a gramática em mente. Qual o sujeito
da sentença? Qual o objeto? Qual é o verbo principal? Quanto mais souber de gramática,
mais proveito obterá de uma passagem.
Há também a estrutura literária. Há perguntas e respostas, clímax e resolução, cau
sa e efeito. Mostrarei uma variedade de maneiras pelas quais os autores estruturaram
suas obras.
3. Forma literária
É impressionante como as pessoas ignoram o estilo quando se deparam com os livros da
Bíblia. Tratam-nos todos do mesmo modo.
Porém, há uma vasta diferença entre a poesia hebraica dos Salmos e as logicamen
te argumentadas epístolas de Paulo; entre a grande e majestosa narrativa de Gênesis c
Êxodo, e as histórias simples e tocantes das parábolas. Há poesias de alegoria e de amor,
satíricas e apocalípticas, comédia e tragédia, e muito mais. O Espírito Santo usou cada
uma dessas formas para comunicar Sua mensagem; assim, se você quer compreender
essa mensagem, deve ler cada tipo de acordo com suas próprias "regras". Mostrarei a
você como fazê-lo nos outros capítulos.
4. Atmosfera
Ler a atmosfera envolve captar os cenários e sentimentos do texto bíblico. Como seria
estar no lugar do autor? Por exemplo, Paulo diz: "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra
vez digo, alegrai-vos." (Filipenses 4:4)... muito bonito; mas, onde estava ele? No Othon
Palace? Não, não era bem lá; ele estava numa malcheirosa prisão romana. E a vida parece
bem diferente por detrás das grades.
É preciso transportar seus sentidos para a passagem. Se há um pôr-de-sol, veja-o. Sc
há odor, sinta-o. Se há um grito de angústia, ouça-o. Está estudando a carta aos Efésios?
Então una-se à igreja em Éfeso e preste atenção em Paulo, quando ele dobra os joelhos
para orar (Efésios 3:14-21). Este é um exercido para a imaginação, não somente para o
intelecto. Não é preciso treinamento profissional para recapturar a atmosfera de uma
passagem das Escrituras.
VÁ À INTERPRETAÇÃO
2. Respostas
Obviamente, se você irá fazer perguntas, tem que procurar também as respostas. Onde
as encontrará? No texto. A observação o proverá dos tijolos dos quais você construirá o
significado da passagem. As respostas às suas perguntas virão diretamente do processo
de observação.
É por isso que digo, quanto mais tempo passar na Observação, menos tempo preci
sará gastar na Interpretação, e mais precisos serão seus resultados. Quanto menos tempo
passar na Observação, mais tempo precisará gastar na Interpretação, e menos precisos
serão seus resultados.
3. Integração
Você deve não só fazer perguntas ao texto e procurar respostas, mas deve também juntar
as respostas num todo significativo. Caso contrário, acaba obtendo nada mais que cestos
de fragmentos.
Uma vez pediram-me que falasse em uma igreja: "Pregue sobre o que quiser", dis
seram, "exceto Efésios".
Isto me pareceu um pedido estranho, até que explicaram o porquê: "Nosso prega
dor passou três anos em Efésios, e estamos apenas no segundo capítulo".
Saí para almoçar com algumas daquelas pessoas, e perguntei a elas: "Qual o tema
do livro de Efésios?"
Não tinham a menor ideia. Sabiam todos os tipos de pequenos detalhes, mas o pas
tor nunca havia reunido as informações num todo significativo. Resultado: apesar de três
anos de ensino, sua congregação nunca descobriu o significado de Efésios.
A integração é o estágio onde se reconstrói o significado de uma passagem após o
desmanche para examinar os detalhes.
Leia, Registre, Reflita
Você gostaria de começar a aproveitar melhor o seu tempo nas Escrituras? A seguir
estão três hábitos que, cultivados, irão aumentar sua produtividade. Use-os todas as
vezes que abrir sua Bíblia.
Então, isto é uma revisão de para onde estamos indo e como chegaremos lá. Toda
vez que você se aproximar de uma porção da Palavra de Deus, aborde-a em termos ge
rais:
Observação
O que vejo?
O Valor da
Observação
o primeiro passo para o estudo bíblico é a Observação, onde perguntamos e responde
mos a questão: "O que vejo?" Quando o salmista orou: "Desvenda os meus olhos, para que
eu contemple as maravilhas da tua lei" (Salmo 119:18), ele estava orando pelos poderes
da observação. Estava pedindo ao Espírito de Deus que rasgasse as bandagens de seus
olhos para que pudesse ver com visão e discernimento a verdade que Deus revelara.
O que faz uma pessoa ser melhor estudante da Bíblia do que outra? Ela consegue
ver mais, é só. A mesma verdade está disponível a ambas no texto. A única diferença en
tre elas é o que cada uma consegue ver em um espaço de 30 centímetros cúbicos.
Você alguma vez já foi a um estudo bíblico ou ouviu uma mensagem pregada em
uma igreja local sobre uma passagem que já havia lido e estudado — talvez até ensina
do — mas depois ficou pensando: "Estamos estudando a mesma passagem?" Você foi
forçado a perguntar: "Por que ele consegue ver mais do que eu? Como conseguiu tirar
tanto proveito do texto?"
A diferença entre vocês é a diferença que Sherlock Holmes tanto gostava de apon
tar: "Você vê, mas não observa."
A habilidade de ver é um processo desenvolvido. Uma pergunta foi feita certa vez
a Louis Agassiz, o naturalista de renome de Harvard do século dezenove: "Qual foi sua
maior contribuição, cientificamente falando?
Sua resposta: "Ensinei homens c mulheres a observarem".
E ele usava um processo fascinante para fazer isso; colocava um peixe malcheiroso
numa bandeja de dissecação, o enfiava debaixo do nariz de um novato, e ordenava: "Ob
serve esta espccic, e escreva tudo o que vê".
O estudante começava entusiasmado, escrevendo vinte ou trinta coisas. Enquanto
isso, o professor desaparecia até o dia seguinte, quando, ao retornar, perguntava: "Como
Indo?"
"Oh! Vi trinta e sete coisas", o estudante se gabava.
"Maravilhoso", o mestre gritava. "Continue a observar".
E o estudante pensava: Puxa! Vi tudo o que havia para ser visto naquele peixe! Mas já
que o professor lhe dissera que continuasse, ele voltava e olhava mais.
Este processo continuaria por duas semanas. Nada a nào ser olhar para o peixe.
Como vemos, a genialidade do professor era a sua consciência de que a base da inquirição
científica é o processo de ver. E o mesmo é verdade para o bom estudo bíblico.
Nas páginas a seguir, darei várias sugestões sobre como você pode aumentar seu
poder de observação quando lê as Escrituras. Você terá também várias oportunidades
para testar suas habilidades em várias porções da Palavra. Mas por hora, eis um pequeno
exercício para termos certeza de que ver não é o mesmo que observar. Responda as se
guintes questões de memória; depois, descubra se suas percepções estão corretas:
1. Pense numa escada para um edifício que você usa regularmente. Quantos de
graus há?
cada ponto apenas uma vez. Após tentar de duas maneiras diferentes, considere que
restrições você pode estar estabelecendo para si mesmo na resolução deste problema.
• • • • • •
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6. Qual foi o título exato do sermão de seu pastor no último domingo? Qual foi o
texto, que ele usou?
8. Se é casado: por qual lado da face seu marido começa a se barbear primeiro? Ou,
por qual lado da face sua esposa começa a se maquiar primeiro?
10. De que fase a lua estava mais próxima na noite passada: minguante, crescente,
cheia ou nova?
Como foi? Você tem olhos de águia para detalhes ou é cego como um morcego? E
claro que nenhum dos itens nas dez questões acima é assunto de vida ou morte (exceto
talvez o óleo do carro).
Mesmo assim, é engraçado como frequentemente pequenas coisas fazem toda a di
ferença tanto em um mistério fictício como numa investigação policial na vida real. Tudo
se faz claro num detalhe de "menor" importância, como a cor dos olhos de um suspeito,
a hora do dia, uma palavra mal pronunciada. Os fatos estão lá para qualquer um ver, mas
somente o detetive mestre os nota. "Você vê, mas não observa".
Permita-me dar-lhe uma chance de começar a observar as Escrituras. No próximo
capítulo consideraremos um versículo e faremos a simples pergunta: "O que vejo?" Você
pode se surpreender com o resultado.
Experimente
A Obucrvação é uma das habilidades mais úteis que você pode adquirir. Pode
ser atê mesmo muito divertida. Eis aqui um exercício para se tentar com jovens. Irá
desenvolver o poder de observação deles e ensinar muito a você sobre o processo
observacional.
Longe da presença dos jovens, organize um grupo de objetos numa mesa como,
por exemplo:
uma pedra
um livro de brochura
uma caneta
duas ou três conchas do mar
um carrinho de brinquedo
cinco lápis de cera
um bloco para construção de brinquedo
uma folha de árvore
um ímã em forma de número ou letra
um lenço de várias cores
uma gravata
uma escova de dentes
Não importa muito o que você selecione para colocar na mesa, mas certifique-
se de que os jovens reconhecerão todas as coisas. Escolha objetos de características
distintas e interessantes, como de formas e cores exclusivas.
Uma vez organizados os objetos na mesa, cubra-os com um lençol ou toalha de
mesa. Então chame os participantes à sala e dê a cada um lápis e papel. Diga-lhes que
escrevam o que veem na mesa. Tire o lençol e descubra os objetos por aproximada
mente sessenta segundos. Daí, cubra-os novamente.
Peça aos jovens que descrevam o que viram - ou o que acham que viram. Peça
que descrevam detalhes específicos como tamanho, cor, marcas, e assim por diante.
Faça uma lista de suas observações. Então descubra os objetos e mostre-os ao grupo.
Todos ficarão impressionados com o que foi e não foi observado. Perceberão que há
uma vasta diferença entre simplesmente ver e observar cuidadosamente.
Comece com
Um Versícueo
Você está pronto para se envolver com as Escrituras por iniciativa própria? Espero que
sim. Neste capítulo quero começar com pouco, observando apenas um versículo: Atos 1:8.
Demonstrarei o processo de observação para que você possa vê-lo em ação. Siga em sua
Bíblia enquanto faço perguntas sobre o texto (em negrito, abaixo), para ver o que posso
descobrir. Lembre-se de que a preocupação principal na observação é: O que vejo?
Você notará nas páginas seguintes que reescrevi o texto de maneira que facilite o
processo. Esclarece não apenas a gramática, mas também as idéias que o autor quer nos
comunicar.
tanto em Jerusalém,
e Samaria,
é: Quem era Lucas? Faça uma lista de tudo o que pode descobrir sobre ele.) Lucas-Atos
formam um conjunto de dois volumes. O evangelho de Lucas inicia a história; Atos é a
continuação.
Além disso, descubro que Lucas e Atos têm o mesmo assunto: "tudo o que Jesus
começou a fazer e ensinar". Esta é uma dica de que Atos vai me dar uma continuação do
ministério de Cristo através de Seus apóstolos.
Lucas e Atos não somente têm o mesmo assunto, como também são dirigidos ao
mesmo leitor, um homem chamado Teófilo. Quem era Teófilo? Se voltar para Lucas 1:3,
descubro que ele é chamado "excelentíssimo Teófilo", o que pode indicar que ele tinha
um título e posição de grande proeminência na sociedade romana. Mas aqui ele é cha
mado apenas Teófilo. Talvez no intervalo entre a escrita de Lucas e Atos, ele tenha vindo
a conhecer Cristo e perdido sua posição. Ou talvez Lucas use somente a forma abreviada
por causa de uma maior familiaridade. De qualquer maneira, Lucas tinha um indivíduo
em particular em mente quando escreveu.
O livro de Atos começa com uma discussão. No versículo 6, encontro o Senhor e
Seus discípulos falando sobre o Reino de Deus. O texto diz: "Então os que estavam reu
nidos lhe perguntavam". A primeira coisa que fazem é levantar uma questão: "É isso
mesmo?" É isso o quê? "Será este o tempo em que restaures o reino a Israel?"
Jesus responde a pergunta deles. Primeiro responde negativamente, dizendo, com
efeito: "Não vos compete" (v. 7). Depois positivamente (v. 8) — e eis onde a palavra wws
figura tão proeminentemente — "Mas esta é a sua responsabilidade". O versículo 8 é en
tão, parte de um diálogo no qual os discípulos fazem perguntas e o Senhor as responde.
Este é o contexto precedente. Consideremos também os fatos que se seguem nos
versículos 9-11, porque relatam a ascensão de nosso Senhor. Lembre-se que, em adição aos
termos, você deve investigar a atmosfera. Estes versículos criam uma tremenda atmosfera
porque» we entn é a aacenifc, rntâo am palavras de Jesus no versículo 8 sAo Suas últimas
palavras aos Seus discípulos. Com efeito, Ele está dando a eles ordem de marchar: "Agora
o trabalho é de vocês", está dizendo. Então, enquanto estão olhando, Ele sobe aos céus.
Ele Me vai — e eles entram em ação.
Quando estudar qualquer versículo das Escrituras, certifique-se de colocá-lo em seu
contexto. Considere-o tanto nos termos que vêm antes, como nos que vêm depois.
tanto em Jerusalém,
e Samaria,
Tendo feito isto, voltemos ao versículo 8. Notei a importância de mas como con
traste. Há um segundo termo chave a se notar; qual é? A palavra vós. Observe que ela é
repetida: "recebereis poder ... e sereis minhas testemunhas".
Isto levanta uma questão: Quem são estas pessoas? O contexto me diz que sao os
apóstolos (v. 2). A partir daí, poderia fazer uma lista de informação geral que já sei sobre
estes indivíduos. Por exemplo:
1. Andaram com Jesus por aproximadamente três anos durante o Seu ministério.
2. Jesus os escolheu.
3. Eles estão ansiosos, provável razão por que fazem a pergunta sobre o reino.
4. São todos judeus.
5. Muitos deles são, ou foram, pescadores.
Eu poderia acrescentar mais à minha lista. O ponto é, quando se deparar com algo
«Mim, iwri# «rm nua mente quem •> peeaoM do. Neete caio, tio peeenai que tinham ou«
vido o enulnanwnto, vhto o» milagres e passado multo tempo com o Senhor, Agora viva
têm a oportunidade de fazvr-Lhe a pergunta mais crucial de suas vida*.
Uma outra questão ó: Qual o verbo principal deste versículo? Aqui, é "recebereis".
Em que tempo está? No futuro. Aponta para algo que vai acontecer mais tarde.
O que irão receber? "Poder". Esta palavra poderia ser traduzida — e em algumas
traduções você a verá desta maneira — por "habilidade". Jesus não está falando de po
der físico; está falando sobre a habilidade dos apóstolos de realizar o que Ele quer que
realizem.
A seguir vem uma frase crudal: "Ao descer sobre vós o Espírito Santo". O que isso
acrescenta ao versículo? Primeiro, indica uma relação de causa e efeito. O poder não virá
até que venha o Espírito Santo. Segundo, responde a questão de tempo. Diz-nos que o
recebimento do poder acontecerá quando o Espírito Santo vier sobre eles.
Observei anteriormente que a palavra vós indica os apóstolos. Aqui, deparo-me
com outra pessoa: o Espírito Santo. Quem é Ele? Novamente poderia gerar uma lista do
que sei sobre Ele. Para começar, Ele é a terceira Pessoa da Trindade; é sobrenatural. E é a
Pessoa ligada ao poder. Assim, estamos falando de poder sobrenatural.
Contejcto-
Perguntas Negativas
/ /
Diálogo- Keipoitus
ContKaitE/ Positivas
Quem? futuro-
Mas recebereis poder, habilidades
Tempo- des foras iobrenaturab
ao descer sobre vós o Espirito Santo;
w.s.
(Notes bem> as ordem)
e sereis minhas testemunhas
tanto em Jerusalém,
e Samaria,
DEFINA OS TERMOS
O que é uma "testemunha"? Uma definição simples seria alguém que viu c pode
contar aos outros sobre um evento, pessoa ou circunstância. Uma testemunha é alguém
que experimentou algo. Isto é exatamente o que estes apóstolos vão ser. Por exatamente
três anos e meio, eles viveram intimamente com o Salvador. Agora, como resultado do
contato deles com o Espírito Santo e a provisão de Seu poder, vão ser pessoas totalmente
diferentes.
Até agora, viveram basicamente por sua própria força. Na verdade, a atuação deles
não tem sido muito destacada, se você ler os evangelhos. Fracassam repetidas vezes, es
pecialmente em momentos críticos. Agora porém, que o Espírito vai lhes dar poder, serão
as testemunhas do Salvador.
Com que se inicia a frase seguinte? "Tanto em Jerusalém". Quando digo "tanto" eu
quanto voc$ vrtino» A cidade, prcMumc-xv que hA Juan p<*nno<in envolvida». Man hA main
do que dutiM coínun aqui. Na verdade, há quatro diferentes lugares mencionados. Isto é
peculiar. Moil vo para olhar esta passagem em um comentário cujo autor conheça grego e
explique por que Lucas usa tal expressão.
Contexto-
Controíte/ POHttVO/
Quem? futuro
. Mas recebereis poder,
' Tempa de/forco sobrenatural/
Coajo/ /
ao descer sobre vós o Espírito Santo;
tfeita \ futura de/ Crista M.&.
\ (Mofe/ benv cv ordem)
\ e sereis minhas testemunhas
1
tanto em Jerusalém, inicia^ uma/séríe/
2
como em toda a Judeia
3
e Samaria,
4
e até aos confins da terra.
(9 11)
Atmosfera' - última*palavra*
A IMPORTÂNCIA DO LUGAR
1. É uma cidade.
5. E onde a crucificação aconteceu. Eles são conhecidos ali. Um ambiente tão hostil
deve ser o ponto de partida para o evangelismo.
Tendo começado em Jerusalém, porém, vão à Judeia. Como posso relacionar Jeru
salém e Judeia? Uma olhada em um bom atlas me mostra que Jerusalém é para Judeia o
que uma cidade é para um estado, como São Paulo, SP ou Porto Alegre, RS. Jerusalém era
a cidade dentro da maior província chamada Judeia. Assim, o Senhor está Se movendo
da cidade para a província.
Três províncias eram centrais no pensamento dos apóstolos: Judeia ao sul; Galileia
ao norte e Samaria entre uma e outra. Havia também uma quarta a leste do Rio Jordão,
chamada Pereia. Jesus diz que comecem em Jerusalém e vão à Judeia.
Mas, note a pequena conjunção "e", que os traz ao terceiro lugar — Samaria. Eles
amam Samaria, certo? De modo algum.
Lembra-se da mulher junto à fonte, em João 4? O texto diz que Jesus tinha que
passar por Samaria (v. 4). Ele estava no sul e queria ir à Galileia, no norte. Os judeus
teriam dito: "Não, você não pode ir por Samaria". Ao invés disso, O fariam ir pelo leste,
atravessando o Rio Jordão, subindo pela margem direita, e eventualmente retornando
para o oeste em direção à Galileia. Para retomar, Ele teria que fazer o mesmo caminho
ao contrário. Em outras palavras, Ele teria que seguir pelo caminho mais longo. Por quê?
João 4:9 explica: "porque os judeus não se dão com os samaritanos".
Mas em Atos 1:8, Jesus diz que deseja que os apóstolos invadam a própria área
que normalmente evitariam. "Vão ao lugar fora de seus limites, onde não se vai, à área
evitada".
A próxima frase nos diz aonde mais eles têm que ir: "até aos confins da terra". Jesus
usa uma palavra para "terra" que significa terra habitada. Consultando um dicionário
bíblico, descobri que são usadas no Novo Testamento várias palavras para "terra". Pos
teriormente mostrarei como procurar palavras e descobrir significados e diferenças entre
elas.
Aqui, Jesus está falando sobre a terra habitada. Ele não está dizendo que vão a todos
os lugares do mundo, mas a todos os lugares onde há pessoas.
( OKÍVKÍn
Pergunta, Ne^ottvcv
/
Quem-? futurü-
Rej/Wtív
/ poUttva/
habilidade/
Mas recebereis poder, iobreriataral
COO4CV
e/
Tempo de^/braz
Efeito- ao descer sobre vós o Espírito Santo;
futuro de/ Crlito N.B.
(KM&betn/O/ordenv)
e sereis minhas testemunhas
1 I nício/ tuna terie/
tanto em Jerusalém,
2
Ejboço-?
(perfil) como em 3toda a Judeia ligado*, aiuabnerde/
béparado*, verJoão- 4:9
e Samaria,
4
e até aos confins da terra.
(9 11) Aíce*uào
Atmoifera/ - ãltUnca-palcarca
Digamos que esta é a primeira vez que estudo este versículo. O que descobri? Bem,
que duas coisas que sào normalmente separadas — Judeia e Samaria — na verdade são
unidas. Também vi que os apóstolos não poderão parar até que vão à última parte de
terra habitada. E notei que estas são as últimas palavras do Senhor.
Então a pergunta que faço é: É possível que este versículo seja de alguma maneira
um perfil do livro? Os apóstolos realmente seguem este padrão? Quando estudo o livro
como um todo, descubro que a resposta a ambas as perguntas é sim. F.les começaram em
Jerusalém? Atos 2 mostra que começaram. Foram então à Judeia? Exatamente — mas não
por escolha própria. A perseguição fez com que iniciassem a viagem exterior (8:1) e até
o fim do livro estão indo bem no caminho em direção ao mundo habitado de seus dias.
Note agora tudo que observamos neste exercício. Conte e descobrirá que extraí pelo
menos trinta observações de Atos 1:8. (E é apenas um versículo. Não estudei um pará
grafo, capítulo ou mesmo o livro de Atos — apenas um versículo.) Ainda assim, cada vez
que volto a ele, vejo mais. Na verdade, uma tarefa que peço a meus alunos no seminário
é nllMnr o máximo dv obxervnçôcM que puderem extrair dexte único vernículo. Alé agora,
ele» têm encontrado malw de NeimentaN obxcrvaçõc» diferentes.
Imagine quão divertido seria ver seiscentos observações nesta passagem. Gostaria
de ver as Escrituras com olhos assim? Posso ajudar-lhe a adquirir esta habilidade. Esteja
certo de que este é o primeiro passo essencial no método de estudo bíblico. Acompanhe-
me aos próximos capítulos onde indicarei algumas maneiras de aumentar seus poderes
de observação.
Experimente
Agora que me viu observar Atos 1:8, tente o processo sozinho. Observe a seguinte
passagem: Josué 1:8:
antes
medita nele dia e noite,
para que
tenhas cuidado de fazer
segundo a tudo quanto nele está escrito;
então
farás prosperar o teu caminho
e
serás bem sucedido.
GELO SECO
Você pode imaginar um gelo que não derrete e não é molhado? Então pode
imaginar o gelo seco. O gelo seco é feito congelando-se um gás chamado dióxido de
carbono. O gelo seco é bastante diferente do gelo comum, que é simplesmente água
congelada.
O gelo seco foi produzido primeiramente em 1925. Desde então, tem satisfeito
as mais profundas esperanças de seu inventor. Ele pode ser usado na produção de
neblina artificial em filmes (quando a fumaça passa pelo gelo seco, levanta-se um
vapor muito denso), e na eliminação de insetos dos suprimentos de grãos. É mais
prático do que o gelo comum porque ocupa menos espaço e é 61 graus mais frio. Já
que evapora ao invés de derreter, seu uso é mais limpo. Por essas razões, é extrema
mente popular, e muitas pessoas o preferem ao gelo comum.
O gelo seco é tão frio que, se você o tocar com o dedo desprotegido, o queimará.
Responda
1. O gelo seco é feito de água, mas porque
é especialmente tratado, não derrete. V F
2. O primeiro gelo seco foi manufaturado na
década de 1950. V F
3. O gelo seco tem mais usos do que o gelo comum. V F
4. O gelo seco não é tão frio quanto o gelo comum. V F
5. A neblina artificial pode ser feita
passando-se fumaça sobre o gelo seco. V F
Conncgulu fazê-lo cm noventa uegundos? Se não, não nc ninfa annlomí você
wfa apenou no Início da prática em leitura rápida e resposta precisa. Seu objetivo é
I
melhorar gradual e garantidamente, nào se tornar um expert de uma hora para outra.
(As respostas corretas para as cinco perguntas são: 1.F; 2.F; 3.V; 4.F; 5.V.)
De Norman Lewis, How to Read Better and Faster (Como Ler Melhor e Mais Rápido),
4U ed. (New York: Harper & Row, 1978), pp. 14-15.
Você já se apaixonou? Espero que sim. Apaixonei-me pela mulher que se tornou
minha esposa, Jeanne, através de um namoro por correspondência. Por cinco anos tentei
escolher uma esposa até que, finalmente, ela me escolheu.
Assim, adivinhe o que eu fazia quando chegava uma carta dela? Resmungava: "Ó,
não, mais uma carta da Jeanne (suspiro). Acho que vou ter que lê-la"? Sentava-me, lia o
primeiro parágrafo e então dizia: "Bem, por hoje é só. Posso riscar este item de minha
lista"?
De modo algum! Lia cada uma de suas cartas quatro ou cinco vezes. Ficava na fila
do refeitório da faculdade, lendo as suas cartas ali. À noite, eu as lia antes de dormir,
colocando-as debaixo do travesseiro para que, se acordasse no meio da noite, as pudesse
pegar e ler mais uma vez. Por quê? Porque estava apaixonado pela pessoa que as escrevia.
Esta é a maneira de ir à Palavra de Deus. Leia-a como se fosse uma carta de amor
dEle a você.
Logo que o livro de Mortimer Adler foi lançado, seu anúncio no jornal The New York
Times dizia: "Como Ler uma Carta de Amor". Uma foto mostrava um adolescente confu
so lendo cuidadosamente uma carta, com a seguinte cópia abaixo:
Este jovem acaba de receber sua primeira carta de amor. Ele poderá tê-la
lido três ou quatro vezes, mas está apenas começando. Lê-la da maneira tão
precisa quanto ele quer, requerería vários dicionários e uns bons dias de tra
balho pesado com alguns experts em etmologia e filologia.
Entretanto, ele passará bem sem isso.
Ele irá ponderar sobre a exata graduação de significado de cada palavra,
de cada vírgula. Ela iniciou a carta: "Querido John". Pergunta-se a si mesmo,
qual é o exato significado destas palavras. Ela teria se abstido de dizer: "Que-
ridíssimo" por ser retraída? "Meu Caro" teria soado formal demais?
Oras talvez ela dissesse: "Querido Fulano de Tal" a qualquer pessoa.
Uma ruga de preocupação agora aparece em seu rosto; mas desaparece
tão logo começa a pensar na primeira frase. Ela certamente não teria escrito
aquilo a qualquer um!
Assim ele traça wu raminho pela carta, num momento, flutuando |ubl-
losamvnte numa nuvem, no seguinte, miseravelmente em apuros. Causa mil
dúvidas em sua mente, Hle a poderia citar de cor. Na verdade, ele o irá fazer
— para si mesmo — pelas semanas a seguir.
De Robert A. Traina, Estudo Bíblico Metódico: Uma Nova Abordagem à Hermenêutica (Wilmore,
Ky.: Robert A. Traina, 1952) pp. 97-98.
Três Versões de I Coríntios 13
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei
como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a
ciência; ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver
amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que en
tregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde ein ciúmes, não se ufana, não
se ensoberbece,
Não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se
exaspera, não se ressente do mal;
Não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, passará;
Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava
como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino.
Porque agora vemos como em espelho, obscura mente, então veremos face a
face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior
destes é o amor.
EDIÇÃO REVISTA E CORRIGIDA
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade,
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda
a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e
não tivesse caridade, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso
me aproveitaria.
A caridade ó sofredora, é benigna: a caridade nâo ó invejosa: a caridade nâo
trata com leviandade, nâo hc ensoberbece,
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, náo se irrita, não
suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
A caridade nunca falha: mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria
como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face:
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três, mas a maior
destas é a caridade.
CARTAS PARA HOJE
(J.B. Phillips - Ed. Vida Nova)
Se eu falar com a eloquência de homens e de anjos, mas não tiver amor, não
passarei de instrumentos musicais como metais estridentes ou pratos estrondosos.
Se tiver o dom de predizer o futuro e retiver na mente não só todo o conhecimento
humano, mas até os segredos de Deus, e se tiver também aquela fé absoluta capaz de
mover montanhas, mas não tiver amor, não terei valor algum. Se eu me desfizer de
tudo o que possuo, se chegar a oferecer meu próprio corpo para ser queimado, mas
não tiver amor, não obterei absolutamente nada.
Este amor de que estou falando demora a perder a paciência — ele busca um
modo de ser construtivo. Não é possessivo, não está preocupado em impressionar
nem acalenta idéias exageradas sobre sua própria importância.
O amor comporta-se bem e não busca vantagem própria. Não é melindroso.
Não guarda ressentimento nem se alegra com a infelicidade das outras pessoas. Pelo
contrário, participa da alegria dos que vivem de acordo com a verdade.
O amor não conhece limites para sua paciência, fim para sua confiança nem
enfraquecimento de sua esperança; ele é capaz de superar tudo. O amor jamais acaba.
Havendo profecias, serão cumpridas e desaparecerão; havendo "línguas", a ne
cessidade delas acabará; havendo conhecimento, na verdade ele sumirá. Pois nosso
conhecimento e nossa profecia são sempre incompletos; quando vier o que é comple
to, chegará ao fim o incompleto.
Quando eu era criança, falava, sentia e pensava como criança. Agora que sou
adulto, deixei as coisas próprias de criança.
No momento, somos homens que olham para imagens confusas refletidas num
espelho. Chegará a hora em que veremos a realidade por inteiro, face a face! No mo
mento, tudo o que conheço é uma pequena fração da verdade, mas chegará a hora em
que a conhecerei de modo tão completo quanto Deus me conhece!
Nesta vida temos três qualidades permanentes — a fé, a esperança e o amor.
Mas a maior delas é o amor.
DEZ ESTRATÉGIAS PARA UMA LEITURA
DE PRIMEIRA ORDEM
A leitura atenta envolve estudo. Não fastio, longe disso. Quando você se aproxima
da Bíblia, concentre-se totalmente. Não coloque sua mente em ponto morto. Aplique a
mesma disciplina mental que aplicaria a qualquer assunto pelo qual tem interesse vital.
Você é corretor da Bolsa? Use a mesma intensidade mental que usaria para estudar A Ga
zeta Mercantil para estudar as Escrituras. É piloto? Preste tanta atenção à Palavra quanto
prestaria a um plano de vôo ou à previsão do tempo. É enfermeira? Procure pelos "sinais
vitais" no texto bíblico da mesma maneira como faria com qualquer paciente. A Bíblia
não produz seu fruto ao preguiçoso.
Provérbios 2:4 faz um apanhado interessante das riquezas da Palavra de Deus, as
semelhando a sabedoria bíblica a minérios preciosos, não encontrados na superfície, mas
num nível mais profundo. Uma boa analogia para nossos dias seriam os muitos depósi
tos de petróleo sob os desertos secos do Oriente Médio. Durante milênios, vagou-se por
nquelrt» dvNtrilhddaN lerrmi va/hut, m*m «abcr que apcnn» a poucos milhares de quilôme
tros adiante jaziam recursos dü inimaginável valor.
Assim é com as Escrituras. A própria verdade de Deus está lá, capaz de transformar
sua vida; mas você tem que aprofundar-se por ela. Tem que penetrar a superfície com
mais do que uma simples olhada apressada. Em outras palavras, você tem que pensar.
Para mudar a metáfora, seu objetivo precisa ser o desenvolver de uma "rapadura"
espiritual para que tenha algo sobre o que pensar, algo para mastigar. Com efeito, você
precisa programar sua mente com a verdade de Deus.
Morison havia sido grandemente influenciado por certos eruditos de sua época,
cuja intenção era desmascarar a narrativa bíblica e destruir a credibilidade das Escrituras.
Além disso, a ciência parecia minar as Escrituras em vários pontos.
Foi por essa época — mais por causa de minha própria paz de consciência
do que pela publicação — que concebi a ideia de escrever uma curta mono
grafia sobre o que me pareceu ser a mais suprema e importante fase crítica na
vida de Cristo — os últimos sete dias...
O "problema" que Morison pretendia resolver era o problema que muitas pessoas
hoje têm: Como crer nos milagres sobrenaturais, quando o mundo é obviamente gover
nado por leis e forças naturais? O milagre supremo das Escrituras é a ressurreição de
Cristo. Se alguém puder explicá-lo, os outros certamente se desvanecerão com ele.*
3
1 Frank Morison, Who Moved the Stone? (London: Faber and Faber, 1930), p. 9.
3 Morison, p. 11
A tentativa do Morison de refutar a ressurreição o levou direlninvnt* «os quatro
evangelhos. Ele estudou a vida de Cristo em detalhes extraordinários, preMando espe
cial atenção nos sete dias finais, antes de Sua crucificação. Ele analisou o julgamento de
Jesus diante dos líderes judeus e diante do governador romano, Pi latos. Avaliou o tempo
dos eventos e o espaço físico no qual ocorreram. Considerou os fatores psicológicos por
detrás do comportamento de Pilatos e sua esposa Cláudia. Comparou o comportamento
daqueles que desertaram Cristo com aqueles que permaneceram a Seu lado.
Morison também fez uma preeminente pergunta: O que fez com que a totalidade
dos seguidores de Cristo clamasse rápida e unanimemente que Ele havia ressurgido dos
mortos? Ele analisou dois dos discípulos em detalhe: Pedro e Tiago, irmão de Jesus. Tam
bém examinou a conversão e convicção de Saulo de Tarso.
Resumindo,
Percebe quão envolvida a mente de Morison estava nesse processo de estudo bíbli
co? Ali estava um homem que lia atentamente. O mesmo processo mental que aplicava a
seu jornalismo, estava aplicando a seu estudo do Novo Testamento.
Resultado: o livro que começou a escrever acabou se tomando "o livro que recusou
ser escrito". Ao invés dele, sua integridade exigiu que escrevesse Who Moved the Stone?
(Quem Moveu a Pedra?) que, publicado em 1930, é ainda uma das melhores defesas da
ressurreição de Cristo já produzidas. É na realidade, a história da conversão de Morison
ao cristianismo, e uma ilustração da quinta-essência da primeira estratégia de leitura bí
blica: leia atentamente.3
A genialidade da Palavra de Deus é que ela tem poder sustentador, podendo resis
tir a exposição repetida. Na verdade, é por isso que difere de qualquer outro livro. Se você
é um expert em determinada área, ler um livro de sua área duas ou três vezes será sufi
ciente. Poderá colocá- lo na estante e prosseguir para outro livro. Mas isso nunca acontece
com a Bíblia. Leia-a repetidas veze6, e ainda verá coisas que não tinha visto antes.
Permita-me sugerir várias idéias para o ajudar neste processo.
Experimente
Está convencido do valor da leitura repetida da Bíblia? Eis um exercício que irá dis
persar qualquer dúvida que ainda permaneça: leia o livro inteiro de Ester, no Velho
Testamento, uma vez ao dia por sete dias seguidos. Deve levar meia hora por dia,
aproximadamente. Use algumas das sugestões deste capítulo, como ler em voz alta
ou talvez até ouvir fitas das Escrituras. É claro, você deve também usar as outras
habilidades de Observação mencionadas anteriormente. Veja quantas coisas novas
pode ver em cada dia sucessivo. Faça uma lista de suas observações, ou registre-as
em sua Bíblia. No fim da semana, veja se pode reconstruir a história clara e precisa
mente, contando-a a alguém. Que perspectivas ganhou da história?
I Samuel
Leia Pacientemente
H á um velho ditado que diz que nada bom acontece rápido. Não sei se é totalmente
verdadeiro, mas realmente se aplica ao estudo bíblico. A menos que você tenha hábitos de
leitura altamente desenvolvidos, é improvável que você possa simplesmente mergulhar
na Palavra de Deus por cinco minutos e sair dela com muito significado. Na verdade, lei
tores altamente habilitados devotam muito mais de cinco minutos à tarefa. Aprenderam
a abordar as Escrituras usando a terceira estratégia da leitura de primeira ordem:
Esta é uma tarefa difícil para a maioria de nós. Vivemos numa sociedade instantâ
nea. As coisas que costumavamos querer para amanhã, hoje queremos agora. Aquilo de
que precisavamos imediatamente, hoje precisamos para ontem. Assim, não é surpresa
que, se decidimos abrir nossas Bíblias, esperemos resultados instantaneamente e sem es
forço. Se não ganhamos o prêmio logo, é possível que fiquemos bastante frustrados muito
rapidamente.
Mas o fruto da Palavra leva tempo para amadurecer. Se você é um pouquinho im
paciente que seja, é provável que desista cedo e perca uma rica colheita. Muitas pessoas
fazem isso; se desiludem com o processo. Talvez estejam procurando um passatempo ao
invés de esclarecimento. Dizem-me: "Olhe, tentei ler a Bíblia, mas é como arar concreto".
Outros desistem do texto bíblico e se voltam para fontes secundárias. No momento
em que acham que estão afundados, dão um louco salto a um comentário para descobrir
o que outro santo significativo tem a dizer sobre a passagem. No processo, arruinam a
experiência porque desistem cedo demais. Estão normalmente prestes a achar minério
quando partem para as fontes secundárias. Não há nada de errado com o uso de fontes
secundárias — depois que você embebeu sua mente no que o texto bíblico diz.
NO JOGO PARA GANHAR
Quando estava na faculdade, fazia atletismo. Saltava obstáculos baixos, o que faz
mais sentido, já que minha estatura é mais próxima do chão. Naqueles dias, um homem
chamado Gil Dodds era o campeão de milha coberta do mundo. Ele costumava vir muito
à escola, e desenvolvemos uma amizade bastante próxima.
Jamais me esquecerei da primeira vez em que o encontrei. Estávamos na trilha
quando ele me deu um tapinha e disse: "Vamos lá, Howie. Vamos dar uma volta". Dispa
rei e percebi-me alguns passos à frente dele, o que me intrigou. Pensei: Se vocêé o campeão
de milha coberta, por que não corre um pouquinho mais?
O que não percebi foi que ele estava planejando dar outra volta. Eu estava correndo
o mais rápido que podia. Mas quando eu finalmente dei a volta toda, ele me deu outro
tapinha e gritou: "Vamos lá, Howie. Só faltam três".
Pensei: Tchati mesmo, vou morrer bem aqui!
Como vê, há uma enorme diferença entre correr raso (um pequeno percurso) e fazer
crosscountry ou maratona. Para fazer o último, é preciso desenvolver os seus pulmões.
Você tem que se preparar para a longa distância. Assim é também com a leitura bíblica pa
ciente. Você tem que desenvolver persistência, poder de resistência para insistir com um
texto até que comece a fazer progresso. Permita-me sugerir algumas coisas para ajudar.
Aproximação e afastamento
Um mês parece ser muito tempo para se passar em um único livro, mas na verdade não
«V l.lma vez que há tanto para se considerar em qualquer passagem (lembre-se, identi
ficamos nada menos que trinta observações só em Atos 1:8), você tem que estabelecer
objetivos limitados.
Uma estratégia é usar uma lente de zoom em sua abordagem. Comece com um ân
gulo amplo. Afaste-se e visualize o quadro geral, lendo o livro em sua totalidade. Veja
•e consegue detectar um fluxo no material, uma progressão de eventos ou idéias. Então
aproxime-se de algo que pareça proeminente. Se você usar a abordagem de um mês, pas-
M» uma semana aproximadamente naquele evento ou ideia.
Por exemplo, em Gênesis, os primeiros onze capítulos abrangem a criação do uni
verso, o Dilúvio e a confusão de línguas em Babel. Os próximos trinta e nove capítulos
cobrem apenas quatro gerações, lideradas por quatro homens — Abraão, Isaque, Jacó e
José. Este é o quadro geral de Gênesis. Mas alguns eventos dignos de aproximação são
n narrativa da criação (capítulos 1 e 2), o Dilúvio (capítulos 6-10), o sacrifício de Isaque
(capítulo 22) e a profecia de Jacó sobre seus filhos (capítulo 49).
Uma vez que você passe tempo em um desses eventos menores, pode fazer zoowí
ainda mais e estudar uma característica específica em detalhe. Por exemplo, na narrativa
da criação, Deus estabelece o casamento (2:18-25). Esta é uma passagem digna de estudo
Intenso porque os princípios estabelecidos aqui prevalecem por todas as Escrituras. Jesus
reíere-Se a esta passagem (Mateus 19:4-6), e também Paulo (Efé-sios 5:31). Sua presença
aqui também nos obriga a perguntar que lugar o casamento ocupa em Gênesis.
Depois de ter feito zoom para estudar um evento, conceito ou palavra específica,
certifique-se de afastar-se novamente para lembrar-se do quadro geral. E lembre-se, não é
bom terminar com uma porção de fragmentos disconectados, mas com um todo unifica
do no qual todos os detalhes se encaixem com a mensagem global do livro.
As chaves para a leitura bíblica são: seja paciente com o texto e consigo mesmo. Su
geri algumas maneiras de ser paciente com o texto para dar a ele uma chance de revelar
sua mensagem.
Talvez um princípio mais difícil, especialmente para o estudante Inexperiente da
Bíblia, seja ser paciente consigo mesmo. Muitas vezes uma pessoa íreqüenta um culto em
uma igreja ou uma conferência bíblica onde ouve o pregador fazer uma incrível exposição
da Palavra. Em reação, ele se torna tão ansioso que não pode esperar para ir ao texto. Ele
fica tão motivado a descobrir verdades por si mesmo que não consegue ver adiante. Isso
é maravilhoso.
Mas o que ele esquece é que o pregador tem estudado as Escrituras diligentemente
por anos. Não há meio pelo qual um novato possa começar já neste nível. Lembra-se de
minha "corrida" com Gil Dodds? Comecei como um relâmpago, mas o campeão sabia o
que era preciso para percorrer a distância. Eu não.
Assim, quando mergulhar na Palavra por si mesmo, relaxe e aproveite a experiên
cia. A verdade de Deus está lá, e você a encontrará se tão-somente der tempo a si mesmo
para ler pacientemente.
I
Leia Seletivamente
Meus filhos lhe dirão que não sou grande pescador. Gosto muito de pescar, mas não
pcNCO muitos peixes. Nossa família costumava tirar férias em Colorado, e pescar numa
pequena lagoa que tinha truta quase do tamanho da metade de uma canoa! Mas será que
podia fisgar um daqueles peixes? De jeito nenhum!
Tentei todos os truques que as lojas de pesca tinham a vender. Sem sorte. Aqueles
peixes chegavam até a beira da lagoa e eu balançava a isca bem na frente das suas bocas.
No final apanhei muito pouco.
A coisa mais frustrante foi que, descendo a beira da lagoa a pouca distância estavam
dois homens que pareciam desajeitados com duas ou três varas. Estes não conseguiram
dar conta do trabalho. Mal dava tempo de tirar um peixe de uma vara e já havia outra
vara com peixe fisgado.
Qual foi o segredo deles? Não somente conheciam a lagoa e as trutas, mas sabiam
qual isca usar.
Eles ilustram a quarta estratégia de leitura bíblica da primeira ordem.
Ler a Bíblia seletivamente envolve usar a isca certa quando pescar as Escrituras.
Aqui estão seis "iscas" que pode usar com qualquer texto, seis perguntas a fazer a qual
quer passagem das Escrituras.
Quem?
Quem são as pessoas no texto? Responder esta pergunta é muito fácil. Simplesmente
leia o texto. Mas uma vez que você identifique quem está na passagem, sugiro que você
procure duas coisas.
Primeira, o que se diz a respeito da pessoa ou pessoas? Por exemplo, Josué 2:1 apre
senta Raabe, mas a Identifica como uma "prostituta, cujo nome era Raalw*'. Dal em diante
é conhecida como a prostituta Raabe. Que tal este título em volta de seu pescoço? Ela
nunca aparece novamente na narrativa sem este título completo.
E André, irmão de Simão Pedro; você conhece alguém que tenha um irmão, irmã,
mãe ou pai famoso? Toda vez que é apresentado dizem: "Este é André. Você sabe, irmão
de Pedro". É como se não tivesse identidade própria nenhuma. Esta era a condição de
André. O ponto é: note bem cada vez que se diz algo sobre uma pessoa.
Certifique-se de consultar outras passagens para aprender tudo que puder sobre a
pessoa. Por exemplo, o prefácio do salmo 88 nos diz que o salmo é um "Salmo didático de
Hemã, ezraíta" (e estas notas de prefácio são consideradas parte do texto bíblico). Quem
no mundo era Hemã, ezraíta? O salmo não diz. É preciso que se volte aos livros históricos
para descobrir. Quando o fazemos, podemos começar a unir as peças de um fascinante
retrato que explica porque o salmo 88 é tão escuro e conturbado.
Considere Hebreus 11, passagem que alista mais de uma dúzia de personagens do
Velho Testamento. Mas, a menos que se volte ao Velho Testamento e se estude o que foi
dito sobre eles lá, você nunca apreciará a contribuição de Hebreus.
Uma segunda coisa a se notar seria o que a pessoa diz. Considere Pedro no monte
da transfiguração (Mateus 17:1-8). Ali está ele, passando por uma das mais incríveis ex
periências já confiadas ao ser humano. O que ele diz? "Senhor, bom é estarmos aqui".
(Esta deve ser a declaração mais incompleta do primeiro século.) "Se queres farei aqui
três tendas, e ficaremos e perpetuaremos o momento". Como vemos, Pedro era o tipo de
homem cujo lema era: não fique aí parado, diga alguma coisa.
Você pode estar se perguntando por que Deus desordena o texto bíblico com este
tipo de coisa. Por que tantos comentários e detalhes vazios e sem sentido? A razão é
porque Ele quer que você veja o processo pelo qual as pessoas passaram para chegar às
conclusões que chegaram.
O quê?
Uma segunda pergunta seria: O que está acontecendo neste texto? Quais são os eventos?
Em que ordem ocorrem? O que acontece com as personagens? Ou, se for uma passagem
que discute um ponto: qual o argumento? Qual o ponto? O que o escritor está tentando
comunicar?
Outra pergunta "o quê?" seria: O que está errado nesta situação? Há várias destas
situações no Velho Testamento. Por exemplo, o rei Saul faz guerra contra os amalequitas
em 1 Samuel 15. Ele os extermina, captura seu rei, saqueia seus despojos e se prepara para
louvar a Deus com sacrifícios. Mas o que está errado aqui? Samuel coloca seu dedo no
problema (15:19): "Por que, pois, não atentaste à voz do Senhor?" Saul havia obedecido,
mas não completamente. E na economia de Deus, obediência parcial é desobediência.
Onde?
KmIa pergunta lhe fornece o local. Onde fl narrativa está acontecendo? Onde estão as pes-
•imm na história? De onde então vindo? Para onde vào? Onde está o escritor? Onde esta
vam os leitores originais do texto?
A pergunta "onde?" é uma razão para se ler um conjunto de mapas ou um atlas por
perto quando estudar a Bíblia. É por isso que no final de muitas Bíblias há vários mapas.
NAo é porque os publicadores não conseguiram se localizar. E para mostrar a você onde
os eventos bíblicos aconteceram.
Você está estudando uma viagem? Então, trace-a no mapa. Está estudando 1 Co-
ríntios? Ache Corinto no mapa. Está em Atos 8 com Filipe e o eunuco etíope? Investigue
Nobre a estrada do sul de Jerusalém a Gaza e por que tipo de terreno o oficial estava
viajando.
1 lavia em minha classe certa vez, uma mulher que tinha vários diplomas de cursos
avançados. Bem no meio de uma das seções ela levantou a mão c perguntou: "Dr. Hen
dricks, em que parte da América do Sul isso está acontecendo? " Estávamos estudando o
evangelho de Marcos.
Ali estava uma pessoa obviamente inteligente c informada; mas eu tinha feito vista
grossa ao fato de que ela não sabia nada sobre geografia do Novo Testamento. E ela não
vntá só. Este se tornou um ponto cego em nossa cultura. Quando ler sobre lugares na Bí
blia, não presuma nada; você raramente ficará desapontado. A maioria das pessoas não
tem a menor idéia de onde os eventos bíblicos aconteceram.
Quando?
Esta é a pergunta que indica tempo. Quando os eventos do texto aconteceram? Quando
ocorreram em relação a outros eventos nas Escrituras? Quando o escritor estava escre
vendo?
Resumindo, determine sempre o tempo. Por exemplo, em Marcos 1:35, lemos: "Ten
do-se (Jesus) levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava". É
muito fácil dizer quando isto aconteceu: "alta madrugada". Mas que madrugada? Na
madrugada após o dia mais ocupado na vida de nosso Senhor de que temos registro. Há
aomente cinquenta e dois deles nos evangelhos. Aquele dia específico foi abarrotado com
milagres, ensinamentos e curas.
Permite-me dizer reverentemente? Jesus tinha todos os motivos para dormir aquela
manhã. Ele até poderia ter usado a desculpa de que estava trabalhando para o Pai. Mas
Sua comunhão com o infinito Deus era prioridade tão alta, que Ele Se levantou muito
antes do amanhecer e foi a um lugar solitário para orar. Agora, se Jesus Cristo, que tinha
comunhão ininterrupta com o Pai, precisava orar, qual deve ser a minha necessidade?
Qual será a sua necessidade?
Aprendemos este tipo de coisa, fazendo uma pergunta simples: Quando isso acon
teceu?
Por quê?
Há uma infinidade de perguntas “por que" a se fazer ao texto bíblico. Por que isso
foi incluído? Por que foi colocado aqui? Por que vem depois daquilo? Por que precede
aquilo? Por que esta pessoa diz isso? Por que aquela pessoa não diz nada? "Por que" é
uma pergunta que busca por significado.
Por exemplo, a parábola do filho pródigo é encontrada somente no evangelho de
Lucas, não está em Mateus, Marcos ou João. Por quê? Por que somente Lucas registra esta
poderosa parábola?
Ou, lemos o livro de Atos, e francamente, não há final. Paulo está em Roma, ensi
nando e pregando. Mas nunca descobrimos o que acontece com ele, ou com a igreja pri
mitiva, ou com o resto dos apóstolos. Por quê? Por que Lucas não continuou a narrativa?
Por que ninguém continua de onde ele parou?
A questão "por quê?" investiga o texto mais do que qualquer outra. Fazê-la, inevi
tavelmente o conduzirá a novas perspectivas.
Para quê?
Gosto de parafrasear esta pergunta: e daí? Que diferença isso faria se eu fosse aplicar esta
verdade?
Para quê? é a pergunta que nos faz começar a praticar algo sobre o qual lemos.
Lembre-se, a Palavra de Deus não foi escrita para satisfazer nossa curiosidade; mas para
mudar nossas vidas. Assim, em qualquer passagem das Escrituras, precisamos pergun
tar: e daí? Quando chegarmos ao passo da Aplicação, mostrarei várias maneiras de se
responder esta pergunta.
Estas seis perguntas podem realmente desvendar a Bíblia para você? Afinal, são
na verdade muito simples. Repórteres as têm usado por anos para obter fatos para suas
histórias. Então, quão poderosas podem ser?
Uma vez, estava voando do Dallas para São Francisco num avião 747. Havia oito
passageiros e quinze comissários de too. Após a decolagem, estava lendo meu Novo Tes
tamento, quando uma das comissárias desceu o corredor. Quando ela me viu com a Bíblia
aberta, parou e perguntou: "Ah, você é crente?"
"Certamente que sim", disse. "E você?"
"Sim, também sou", ela respondeu, com um sorriso.
Começamos a conversar sobre coisas espirituais. Finalmente, eu disse: "Você se im
portaria se eu lhe fizesse uma pergunta?"
"Claro que não."
"Você tem um programa regular de estudo bíblico?"
"Não, senhor, temo que não."
"Porque nâo?"
Eln disse: "Nâo sei como fazê-lo, nem sei por onde começar."
Então perguntei: "Contaria de aprender?"
"Adoraria."
"Tem tempo?"
Ela tinha tempo para gastar naquele voo; então peguei um daqueles sacos de enjôo
(que fazem ótimos blocos de anotação) e escrevi nele as seis perguntas mencionadas aci
ma: quem?, o quê?, quando?, por quê?, para quê?
Então vimos Marcos 4:35-41, a tempestade apaziguada. Pedi que ela lesse a passa
gem e depois fizemos as perguntas: quem são as pessoas envolvidas? O que estã aconte-
çrndo neste parágrafo? Onde está acontecendo? Quando está acontecendo? Por que você
ficha que Deus incluiu isso na narrativa? Que diferença isso faria em sua vida?
Tenho visto poucas pessoas mais animadas. Quando terminamos, ela me pergun
tou: "Como é que tenho sido cristã há sete anos e ninguém nunca me ensinou como
vatudar a Bíblia?"
Esta é uma boa pergunta. Mas é realmente uma tragédia! A igreja hoje tem conduzi
do pessoas a Cristo mas, às vezes, ficam por dez, quinze, até vinte anos na fé sem aprender
como estudar a Bíblia. A razão? Não sabem por onde começar. Não sabem como fazê-lo.
Estas pessoas são muito parecidas comigo naquele lago em Colorado — olhando
para os peixes, mas incapaz de apanhar qualquer um deles por mim mesmo. Não tem
importância quando se está em férias, mas quando você está morrendo de fome espiritu-
nlmente — e a maioria das pessoas está — precisa aprender a pescar.
Sugiro que você experimente as seis iscas da leitura bíblica seletiva que mencionei.
Elas ajudarão qualquer pessoa a pegar alguns peixes grandes.
Experimente
As seis perguntas da leitura bíblica seletiva são especialmente divertidas quando se
estudam as histórias das Escrituras. Lucas 24:13-35 registra uma das mais fascinantes
— a narrativa de Jesus, encontrando dois de Seus discípulos na estrada para Emaús
após Sua ressurreição. Leia este trecho duas ou três vezes, e então investigue-o com
as seis perguntas apresentadas neste capítulo. Não se esqueça de escrever suas ob
servações.
Leia com Oração
Uma quinta estratégia para se desvendar as Escrituras é:
Nossa tendência é pensar que o estudo bíblico e a oração são duas disciplinas sepa
radas, mas o fato é que elas estão integralmente relacionadas. A oração é realmente uma
chave para o estudo bíblico efetivo. Aprenda a orar antes, durante e após a leitura das
Escrituras.
A oração é particularmente crucial quando se chega em um lugar no estudo onde
se está perdido e confuso. Este é um bom momento de parar e levar uma conversa com
Deus. “Senhor, não consigo fazer com que esta passagem faça sentido. Não a entendo.
Dê-me discernimento. Ajude-me a descobrir a Sua verdade".
Entretanto, a maioria de nós luta quando se trata de oração. E você? Quer aprender
a orar? Eis algumas sugestões — o que evitar e o que fazer.
E eu disse: "Ah! Senhor Deus dos céus, Deus grande e temível! que guardas
a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus
mandamentos". (1:5)
Podemos colocar um rótulo de "adoração" próximo a ente versículo, Antes de men
cionar qualquer outra coisa, Neemias ocupa-se com quem é Deus.
É assim que oramos? Não, é mais provável que digamos: "Ó Senhor, estou sempre
em apuros. Por favor, me livre". Focalizamos a atenção em nós mesmos.
Mas as orações da Bíblia têm uma característica em comum: sempre focalizam a
Pessoa a quem a oração é dirigida. Quando fazemos um cheque, primeiro precisamos
perguntar quanto temos no banco. Isso é também o que precisamos fazer em termos de
oração. Com aquilo de que precisamos em mente, devemos saber perguntar: Com quem
estamos falando? Que tipo de Pessoa Ele é. Neemias preenche sua mente com quem é
aquela Pessoa.
Daí, ele muda sua oração. Tendo-se ocupado com Deus, seu próximo passo é con
fessar seu pecado bem como o pecado do povo:
Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo, e à
dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem
sucedido hoje o teu servo, e dá-lhe mercê perante este homem. (1:11)
Neemias segue ao que chama "petição". Seu foco está nas necessidades de seu povo.
Ao fazer seu pedido, apoia-se nas promessas de Deus. É óbvio que ele era um bom es
tudante da Bíblia, porque nos versículos 8-9, ele recorda várias passagens dos primeiros
cinco livrou da Bíblia, onde Ihm» havia eMnbelocido condiçôcn para bênçAo ou punlçAo,
bancado na fidelidade ou infidelidade de Seu povo. Neemias parece lembrá-LO dizendo:
wE»lá bem, Senhor, lembra-Se do que prometeu? Bem, estou pedindo que o cumpra".
I lá uma grande liçào nisso. Ore sempre com base nas promessas de Deus. Afinal, o
ponto chave em qualquer promessa é quem a fez. Posso dizer a você: "João, vou dar um
milhão de dólares à sua causa". Promessa excelente. Mas, quem a fez? Um homem que
provavelmente tem apenas uns dez dólares agora. Quando alguém faz uma promessa,
pergunte sempre quem está fazendo a promessa.
Quer saber orar? Neemias mostra como: Comece com adoração, ocupe-se com
quem é Deus. Isto o conduzirá à confissão porque você se verá pela perspectiva adequa
da. Então estará pronto para pedir a Deus o que precisa.
Aliás, tente um estudo de comparação de passagens como Êxodo 3 e Isaías 6. Você
encontrará este mesmo padrão de oração de Gênesis a Apocalipse.
Salmo 23
O Salmo 23 talvez seja a passagem mais conhecida das Escrituras, e por uma boa ra
zão: pinta um belo quadro do temo relacionamento entre Deus e um de Seus filhos.
Você pode transformar este salmo numa oração pessoal inserindo seu nome onde
vir pronomes na primeira pessoa do singular, "meu", "a mim", ou "eu".
Isaías 40:28-31
Eis outra passagem que pode tornar-se sua oração. Considere as tremendas pro
messas de Deus neste texto! Você precisa que Ele derrame em sua experiência aqui
lo que oferece aqui? Transforme esta passagem em sua própria oração, pedindo a
Deus que o faça.
Filipenses 4:8-9
Aqui está um outro conjunto de promessas — e condições — que você pode ler e
estudar em forma de oração. Reveja a lista de qualidades de Paulo e pergunte-se
a si mesmo: que ilustrações disso têm na minha vida? Então com base no versículo
8: o que preciso começar a praticar para conhecer a paz de Deus? Fale com Deus
sobre as coisas mencionadas nestes versículos e sua reação a eles. Em que áreas
Deus precisa mudar seu ser? Você precisa de Sua ajuda para cultivar que atitudes
e pensamentos?
Leia Imaginativamente
z
E triste, mas verdade, que uma pessoa comum pense em ler a Bíblia como algo terri
velmente enfadonho e que a única coisa mais enfadonha realmente seria ouvir alguém
ensinar a Bíblia. Porém, estou convencido de que a razão pela qual as Escrituras parecem
desinteressantes para muitas pessoas é que vimos a elas desinteressados. Quão diferen
tes seriam as coisas se empregássemos a sexta estratégia para a leitura bíblica de primeira
ordem:
Atos 16:16-40
Esta é uma vivida narrativa de Paulo e Silas em Filipos. Leia cuidadosamente e
observe os eventos que ocorrem nesta seção, e então dramatize-os com família ou
amigos.
Salmo 19
Este salmo exalta as obras e a Palavra de Deus. Observe-o cuidadosamente, e então
tente recscrcve-lo para uma aula de física ou filosofia de universidade.
1 Samuel 17
Esta é uma narrativa épica de Davi e Golias. Entretanto, apesar da maioria das pes
soas saberem desta história, conhecem pouco do que realmente acontece nela. Leia
o capítulo cuidadosamente, então reescrcva-o de modo que se refira a uma gangue
de adolescentes das ruas da cidade.
Atos 15:22-29
Lucas reimprime uma carta que o conselho de Jerusalém enviou aos novos crentes
em Fenícia e Samaria. Estude o contexto cuidadosamente, então reescreva esta pas
sagem como um fax para uma reunião de um novo grupo de crentes no centro da
cidade.
Leia Telescopicamente
A décima e última estratégia para o desenvolvimento da habilidade de primeira ordem
como estudante das Escrituras é:
Ler telescopicamente significa ter uma visão das partes à luz do todo.
Quando o presidente da Sony, Akio Morita, veio ao Texas recentemente para res
ponder a pergunta: Por que os japoneses estão relutantes em desenvolver produtos para
o consumidor nos Estados Unidos? Sua resposta: Porque não encontram peças america
nas que satisfaçam seus padrões de controle de qualidade.
Considere a filmadora Sony, explicou. A Sony tem um padrão de produção que to
lera que apenas uma em cem apresente falhas. Parece um padrão fácil de se atingir — até
que se perceba que o aparelho é composto de duas mil partes componentes. Com tantas
partes, cada uma tem de funcionar perfeitamente — uma falha em cem mil, ou mesmo
um milhão — para que a unidade toda satisfaça o padrão. O todo é muito maior do que
a soma das partes.
Assim é com a Bíblia. Ela não é simplesmente uma coleção de partes. É uma men
sagem integrada na qual o todo é maior do que a soma de suas partes. Matematicamente
está errado, mas metodicamente está correto. Mesmo assim, o que acontece muitas vezes
em estudos e no ensino da Bíblia é que a avariamos constantemente, até que não reste
nada a não ser cestos de fragmentos. O que precisamos hoje são pessoas que possam jun
tar as partes novamente, formando um todo significativo e poderoso.
Assim, toda vez que lê e analisa as Escrituras, toda vez que a divide em partes, re
conhece que fez somente metade do trabalho. Sua próxima tarefa é juntá-las novamente.
Como você consegue fazer isto?
Procure a* conjunções
Nu capítulo 15 vimos o poder dns pequenas palavras mau, r c portanto. Estas e outras
palavras são "conectivos" pois têm a função de unir o texto. São pinos de engate num
Irem de palavras associadas que trabalham juntas para comunicar significado. A leitura
telesctSpica requer que você preste atenção nestes elos, para que a mensagem do autor
esteja toda ligada em sua mente.
A ORAÇAO DE NEEMIAS
O parágrafo que iremos estudar é Neemias 1:4-11. Sugiro que você abra sua própria
Bíblia, mas aqui está o parágrafo:
Enquanto discuto este parágrafo, destacarei as perguntas que faço ao texto, em ne
grito, como fiz no capítulo 6.
CHEQUE O CONTEXTO
O dicionário da Bíblia pode me ajudar a descobrir que mês é quisleu. Descubro que
os antigos hebreus tinham um calendário totalmente diferente do nosso. Para eles não
havia janeiro, fevereiro, março, e assim por diante. Quisleu era o nono mês, começando
em novembro, se estendendo até dezembro. Assumindo que os eventos nesta narrativa
estão acontecendo no hemisfério norte, a época é princípio do inverno.
I X'wcubro tnmbém quu o c«ilfndrtrlo hebraico diferia do calendário persa, lato que se
lurna bastante significativo quando descubro que Neemias era um exilado na Pérsia. Na
Verdade, ele tinha uma posiçAo multo alta no governo. Mas, usava o calendário judaico
para marcar o tempo.
A seguir, ele destaca que isso está acontecendo "no ano vigésimo". O que me obriga
a perguntar: ano vigésimo de quê? Não posso responder agora. A informação não me é
fornecida até que chegue ao princípio do capítulo 2.
Finalmente, que informação a "cidadela de Susã" me traz? Esta responde a per
gunta: onde?, mas ainda tenho de ficar indagando: "O que é a cidadela de Susã? Quando
consulto um dicionário bíblico, descubro que haviam dois palácios naquele reino. Susã
ern o palácio de inverno. (Lembre-se, isso está acontecendo em novembro/dezembro.)
3. (na)cidadela de Susã,
assentei-me e chorei
lamentei
jejuando
orando
Havia um palácio de verão também, em Ek-batana. Mas Neemias c*»lava naquele em Susft
— e não era uma choupana! Na verdade, o palácio cobria mais de 2000 hectares, e era
extremamente luxuoso.
Assim, eis um homem que vivia em situação luxuosa e privilegiada. Ele recebe
um relatório (v.2): Hanani vem a ele. O que faz Neemias? Pergunta algo. Quais as duas
coisas que pergunta? Primeiramente, "sobre os judeus". Isso tem a ver com o seu povo.
Então, "sobre Jerusalém". Isso tem a ver com o lugar, com o seu lar.
O versículo 3 dá a resposta de Hanani. Então, noto aqui um diálogo, uma sessão de
perguntas e respostas. Que relação tem a resposta com a pergunta? Neemias pergunta
sobre o povo e o lugar. Os irmãos fornecem uma resposta com três partes: (1) "Os res
tantes estão em grande miséria e desprezo" (isso tem a ver com o povo); (2) "os muros
de Jerusalém estão derribados" (sobre o lugar); e (3) "suas portas queimadas a fogo"
(também sobre o lugar).
A ordem da resposta é exatamente a mesma da pergunta: primeiro o povo, então o
lugar. Acho que isso diz algo sobre Neemias. Sua primeira preocupação era com pessoas,
não com lugares. Mais tarde, descubro o quanto isso representa no que acontece no livro.
Assim, a ordem da resposta é exatamente a mesma que a ordem da pergunta: as
pessoas primeiro, depois o lugar. Acho que isso diz algo sobre Neemias. Sua primeira
preocupação eram as pessoas, e não os lugares. Mais tarde, descubro o quanto isso conta
na história.
Tudo certo, o contexto foi inserido. Agora chego ao parágrafo no versículo 4. Uma
vez que ouve sobre o povo e o lugar, o que faz Neemias? Quatro coisas: chora, lamenta,
jejua e ora.
Há um meio de se unir as quatro coisas? Bem, chorar e lamentar têm a ver com
emoções. Que tal jejum e oração? Eles indicam uma reação espiritual.
Uma das coisas que você precisa fazer em seu estudo bíblico é colocar alguns rótu
los sobre suas observações. Eles o ajudarão como instrumento de manuseio do material
Por exemplo, ao lado do versículo II? posso colocar relato. Se você preferir uma palavra
diferente, use-a, mas escolha algo que resuma o conteúdo para você.
Se o versículo lb é o relato, o versículo 4 é a "reação". Neemias tem uma reação
total, emocional e espiritual, ao relato.
Passando ao versículo 5, encontro uma oração; poderia rotulá-la "o pedido que
Neemias fez". Já vimos esta oração no capítulo 12. Lembra-se do padrão? Neemias
começa com adoração (v. 5), louvando a Deus por Seu constante amor. Então, passa à
confissão (vv. 6-7). Ver Deus como Ele realmente é sempre nos ajuda a nos vermos como
realmente somos — pecadores necessitados de Sua misericórdia. Daí, após confessar o
seu pecado e o pecado de seu povo, Neemias começa a fazer petições a Deus com base
win SihiN proincNMiiN.
3. (na)cidadela de Susâ,
2. e sobre Jerusalém
I 2. lamentei '
| 3.jejuando^eípir
4. orando /
NENHUM DETALHE É TRIVIAL
listed o fim do parágrafo? Não. O que devo notar na última parte do versículo II?
Neemias acrescenta um detalhe interessante: "Nesse tempo eu era copeiro do rei". Isto é
terrivelmente importante. Ainda assim, muitas pessoas passam "por cima" desta decla
ração crucial. Todavia, no passo da observação, pergunto: o que vejo? Assumo o papel de
detetive bíblico — e nenhum detalhe deixa de ter importância.
O que era um copeiro? Descobri que a maioria das pessoas imagina que fosse um
rapaz que ficava andando, levando copos de um lado para outro, como se não tivesse
nada melhor a fazer. Mas aqui, novamente, é onde um bom dicionário da Bíblia ajudará.
Procurando a palavra "copeiro", encontro que seu título deriva do fato de que ele era
responsável pela experimentação dos vinhos do rei. Como você pode imaginar, aquela
era uma época de intrigas e constantes atentados para se eliminar as pessoas. Assim, os
governantes não confiavam em ninguém — exceto o copeiro.
O copeiro era virtualmente o primeiro ministro, a segunda pessoa no comando. Ele
tinha uma conta pessoal de despesas e acesso direto ao rei.
Então, o Espírito Santo inclui este detalhe sobre Neemias para mostrar-me como
Deus realizou o Seu propósito. Mais tarde no livro, descubro que foi justamente por Nee
mias ser o copeiro, que o rei lhe deu permissão para voltar à terra e reconstruir os muros
e a cidade. Deus tinha seu homem em posição estratégica. Neemias foi capaz de usar da
influência de sua posição para cumprir os propósitos de Deus.
Você alguma vez já se perguntou onde Deus o tem colocado? Talvez você seja pro
fessor, enfermeira, especialista em computadores, carpinteiro ou médico. Qualquer que
seja a sua situação, que oportunidade Deus tem lhe dado de cumprir os Seus propósitos?
Garanto que Ele coloca cada um de Seus filhos em uma posição estratégica. Ele quer usar
você para Sua honra e glória.
Há muitas outras observações a se fazer sobre este parágrafo. Na verdade, este livro
é um dos mais fascinantes que já estudei na Palavra de Deus. Mas não comecei, vendo
coisas no texto da maneira como vejo agora. Longe disso.
Não muito tempo depois que me tornei cristão, alguém me encorajou: "Agora que
você veio para a fé, precisa se envolver com a Palavra".
"Maravilhoso", disse. "Por onde começo?"
"Comece em qualquer lugar, irmão. Tudo tem proveito."
Assim, fui para casa e abri minha Bíblia — pousei em Ezequiel. Bem no meio dos
rolos. Lutei com aquela passagem por um tempo, até que pensei: Esta tem de ser uma exce
ção. Então tentei o outro extremo da Bíblia — Apocalipse. Taças e selos me confundiram
completa mente. Assim, me envergonho em dizer, mas fechei o Livro por um ano sólido.
va convencido dc que «quilo que ou padrrN haviam nu» enainado era verdade — você
tirvi ÍN«va de um "intérprvle proll»»NÍon<il" para dispensar a Palavra.
3. (na)cidadela de Susã,
3. jejuando^
4. orando '
5 E disse Pedíd<r
Ah! Senhor, Deus dos céus,
adoração fv. 5)
Deus grande e temível! confíMão (\&- 6 7)
petição (vy. 8 -11?
11a Copeiro'
Pela graça de Deun, alguém apareceu e perguntou: "I lei, I lendrlcka, vot’d eMá lendo
as Escrituras?"
"Não, para falar a verdade, não estou", contei a ele.
"Como assim?"
Minha resposta veio direta: "Não sei como. Não sei por onde começar."
Agora você sabe infinitamente mais do que eu sabia quando comecei a estudar a
Palavra de Deus por mim mesmo. Você viu como observar um versículo, e agora um pa
rágrafo. Também descobriu que tem que aprender a ler melhor e mais rápido, como pela
primeira vez, e assim como lería uma carta de amor. E foi exposto a dez estratégias que
garantem que você se torne um leitor de primeira ordem da Bíblia.
Entretanto, você não só deve aprender a ler, mas deve saber o que procurar. Nos
próximos capítulos, darei seis dicas que o ajudarão a desvendar o texto bíblico.
Experimente
Neste capítulo, trabalhei com um parágrafo, observando como Neemias reagiu
ao relato de Hanani e os irmãos. Agora é a sua vez. Abaixo você encontrará um
parágrafo da carta de Paulo a Tito, que era um pastor do primeiro século na ilha de
Creta, no Mediterrâneo.
Leia o parágrafo cuidadosamente, usando as dez estratégias de leitura de pri
meira ordem e prestando atenção nos termos e na estrutura gramatical. Veja o que
pode descobrir aqui sobre o estilo de vida que deveria caracterizar todos os crentes,
especialmente os líderes.
"Por esta causa te deixei em Creta para que pusesses em ordem as cou-
sas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, con
forme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só
mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução,
nem são insubordinados. Porque é indispensável que o bispo seja irre
preensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não
dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância, antes
hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio
de si, apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que
tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como para convencer
os que contradizem." (Tito 1:5-9)
SEIS COISAS A SE PROCURAR
A Bíblia usa várias maneiras de enfatizar material. Citarei quatro dessas ferramentas.
Através desta ênfase, o Espírito de Deus nos está ensinando que o mais importante no
livro é a família que Deus escolheu para ser o Seu povo.
O mesmo acontece quando consideramos os evangelhos. Por exemplo, dos 1062
versículos de Mateus, pelo menos 342 — 1/3 do livro — apresentam discursos do Salva
dor. Isto tem muito a ver no desenvolvimento do propósito do livro. Semelhantemente,
alguns evangelhos tomam muito mais espaço para cobrir a crucificação do que para ou
tros eventos da vida de Cristo.
Nas epístolas de Paulo, frequentemente encontramos uma seção de doutrina se
guida por aplicações práticas baseadas na mesma doutrina. Por exemplo, o trecho de
Efésios 1-3 nos diz o que Deus fez por nós. Efésios 4-6 nos diz o que precisamos fazer
como resultado. Este é um intrigante equilíbrio entre teologia e prática. O mesmo padrão
é encontrado em Colossenses. Entretanto, em Romanos, a proporção é de onze capítulos
de doutrina por cinco de aplicações, o que nos dá uma idéia da ênfase que Paulo quer
fazer ali.
Assim, quando observar uma porção das Escrituras, pergunte: quanto espaço é de
dicado a este assunto? O que o escritor está enfatizando?
Propósito expresso
Uma outra maneira pela qual escritores bíblicos podem enfatizar seus pontos é contando-
nos diretamente o que pretendem. Lembre-se, vimos um exemplo fundamental em João
20:30,31:
"Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão
escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus
é o Cristo o Filho de Deus, e para que, crendo tenhais vida em seu nome."
Conforme destaquei no capítulo 15, João apresenta na narrativa sete sinais cuidado
samente selecionados para cumprir seu propósito — mostrar que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e que Ele é, portanto, digno da confiança de uma pessoa.
Ou considere Provérbios. Salomão lança aquela fascinante coleção de dizeres de
sabedoria, dizendo ao leitor por que ele tem de ler o livro:
Ordem
Uma terceira maneira de se enfatizar algo é a colocação estratégica no material daquilo
que se deseja enfatizar. Isto vem antes daquilo; ou isso depois aquilo.
Por exemplo, em Gênesis 2, Deus coloca Adão e Eva num jardim "para o cultivar
e o guardar", diz o texto (2:15). Então, no capítulo 3, o casal peca, Deus os lança fora do
Jardim e amaldiçoa a terra (3:17-24). Esta ordem toma-se importante quando se fala sobre
trabalho, porque algumas pessoas ciêem que o trabalho seja uma parte da maldição. Mas
a ordem dos eventos em Gênesis não permite tal interpretação.
Uma outra ilustração vem da vida de Cristo. Em Lucas 3, temos o batismo do Sal
vador; em Lucas 4, a tentação. Note a ordem: no batismo, Ele é aprovado por Deus; na
tentação, é testado por Satanás. A ordem é significativa.
Considere uma terceira ilustração, também de Lucas. O capítulo 6, versículos 14 a
16, narra a escolha dos doze. Observe cuidadosamente a ordem: Simão Pedro e André;
Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago filho de Alfeu e Simão zelote;
Judas filho de Tiago; e Judas Iscariotes. Quem é mencionado primeiramente? Ao lado de
quem? Quem é o último?
IVLi mcolhA dr onde colocar an pvNBoan, on evenloN, an IJcIan r awilm por diante,
Uin I’Mcrllor podc chninar *1 rttençfto para algo. Assim, atente para a ordem dada. Ela pode
írvrhir importantes critérios no texto.
Experimente
Eis duas seções das Escrituras em que você pode observar coisas enfatizadas.
1 e 2 Samuel
Desenvolva um quadro genérico destes dois livros, mostrando o espaço relativo
dedicado aos personagens fundamentais: Samuel, Saul e Davi. (Você deve ter de
senvolvido um quadro semelhante no final do capítulo 17, página 123. Há um bom
exemplo do tipo de quadro que menciono no final da página 176.) Que personagem
era o mais importante para o escritor? O que isso diz sobre o propósito de 1 e 7
Samuel?
Atos 1:8
Qual a ordem dos locais mencionados? Que relação estes lugares têm uns com os
outros? (Vimos isto no capítulo 6.) Como se pode comparar a ordem desses lugares
em Atos 1:8 com a expansão do evangelho no resto do livro de Atos? Veja se con
segue determinar a quantidade relativa de espaço que o Dr. Lucas dedica a cada
um destes lugares, e o tempo que os apóstolos dão a cada um. Que significado isso
pode ter para o propósito de Atos?
capitulo 20
Você já notou a frequência com que Jesus repete as coisas aos Seus discípulos? Os
evangelhos registram que Ele disse: "Aquele que tem ouvidos, ouça", pelo menos nove
vezes. E quando João estava registrando Apocalipse, o que você supõe que o Senhor te
nha dito a ele que escrevesse às sete igrejas? Certo: "Aquele que tem ouvidos, ouça".
Isto é muita ênfase. Tem-se a impressão de que Jesus queria que Seus discípulos
(e nós) prestassem atenção àquilo que Ele tinha a dizer. Usando constantemente esta
fórmula para grifar Suas palavras, Ele deu a Seus ouvintes pistas sobre o significado de
Seu ensino.
Permita-me mencionar algumas categorias de repetição a se procurar.
Personagens
Expressões e termos não são as únicas coisas que um escritor repete para enfatizar algo.
An vezes, um personagem reaparece.
Barnabé é um bom exemplo. Realmente não sabemos muito sobre este homem. Seu
primeiro nome era José, mas os apóstolos o chamavam Barnabé, que significa Filho de
Exortação (Atos 4:36). E isso é realmente o mais importante sobre ele: era um homem de
•xortação. Quando alguém na igreja primitiva precisava de ajuda, lá surgia Barnabé para
Ajudar: Saulo (Atos 9:27); os gentios que creram em Antioquia (Atos 11:22); e João Marcos
(Atos 15:36-39). Lucas traz Barnabé à história em pontos estratégicos como modelo de
mentor espiritual.
Padrões
Uma situação relacionada é a criação de um padrão que se repete. Estudantes da Bíblia
têm há muito tempo reconhecido os paralelos entre a vida de José e a vida de nosso Se
nhor. Semelhantemente, há paralelos entre a experiência de Israel e a de Jesus.
Ou considere Saul e Davi em 1 e 2 Samuel: tudo o que Saul faz errado Davi faz certo.
O autor usa justaposições para mostrar que, embora Deus tenha aquiescido aos clamores
do povo por um rei ao designar Saul, seria Davi, posteriormente, quem refletiría o "pró
prio coração" de Deus (1 Samuel 13:11-14).
Salmo 119
Neste salmo, Davi se refere à Palavra de Deus em todos os versículos. Observe o
salmo cuidadosamente, e catalogue todas as coisas que Davi diz sobre as Escrituras.
Mateus 5:17-48
Observe como Jesus usa a fórmula "Ouvistes o que foi dito... Eu, porém, vos digo..."
nesta porção do Sermão do Monte. Que estrutura esta expressão dá à passagem?
Por que é significante que Jesus diga isso?
Aritmética em Atos
Use uma concordância para procurar todas as expressões "aritméticas" no livro de
Atos — números de pessoas sendo "acrescentados" à igreja, os crentes se "multipli
cando". Há até mesmo algumas "divisões" e "subtrações". Você pode encontrá-las?
Como Lucas usa tais termos para descrever o crescimento da igreja primitiva?
1 Coríntlos 15:12-19
Investigue a importância da pequena palavra se para o argumento de Paulo.
Leia Meditativamente
A sétima estratégia para se tomar um leitor da Bíblia de primeira ordem é difícil para
a maioria de nós:
Em outras palavras, aprenda a refletir nela. Isso é difícil porque muitos de nós estão
vivendo na "via expressa". Nos tempos antigos, se as pessoas perdessem o trem, diziam:
"Tudo bem, o pegamos na semana que vem". Hoje, se alguém perde um degrau da esca
da rolante, tem uma crise nervosa.
Como resultado disso, a leitura meditativa da Bíblia tem sido desfavorecida. Lem
bro-me de um hino que costumavamos cantar: "Tempo de Ser Santo". Mas não o tenho
ouvido muito mais e entendo o por quê. Tempo é exatamente o que tornar-se santo re
quer. Não podemos ser santos com pressa. No entanto, vivemos numa sociedade instan
tânea. Quer ver televisão? E só apertar o botão, e você tem cor e som instantaneamente.
Quer café? E só dissolver alguns granulados de café em água fervente, e tem café instan
tâneo. Mas não existe espiritualidade instantânea.
E por isso que as Escrituras falam tão frequentemente sobre meditação. Quero su
gerir cinco passagens para estimular seu apetite a este respeito.
Josué 1:8
"Não cesses de falar deste livro da lei; antes medita nele [quando?] dia e noite
[por favor, note] para que tenhas cuidado de fazer [não saber; fazer] segundo
a tudo quanto nele está escrito; então farás prosperar o teu caminho e serás
bem sucedido." (itálico acrescido)
Esse versículo mostra que há uma íntima conexão entre a meditação na Palavra de
Dim» v d flçAo por chi. Ihmo wcrA A chrtve quando chegarmos ao terceiro passo: Aplicação.
Aqui, quero destacar a írvqüôocin com a qual a verdade bíblica deve permear sua mente:
“dia c noite". Isso me leva a perguntar-me, em que porção das Escrituras estava pensan
do esta manhã quando iniciei meu dia. Enquanto estava trabalhando? No caminho para
casa? Quanto a isso, quando foi a última vez que refleti conscientemente nas verdades e
princípios bíblicos?
Provérbios 23:7
Um dia estava lendo Provérbios, quando uma frase saltou da página aos meus olhos:
"Porque, como [alguém] imagina em sua alma, assim ele é". Isso realmente me desper
tou, talvez porque eu tivesse acabado de ver uma placa no escritório de alguém, que
dizia: "Você não é o que pensa que é. O que você pensa, você é." As Escrituras ensinam
o princípio básico que você se torna aquilo que pensa. Assim, tome cuidado com o que
pensa.
Salmo 1:1-2
O primeiro salmo tem uma mensagem semelhante:
Salmo 119:97
O Salmo 119 reforça essa idéia, como clama o salmista:
Você já observou que a maioria de nós desperdiça um tempo enorme? Coisas roti
neiras que consomem tempo: esperar ao telefone, entrar em filas, dirigir até o trabalho.
Perguntei n urn amigo em Loa Angele* quanto tempo gnatava diariamente para ir ao tra
balho. "Uma hora e meia para ir, uma hora e meia para voltar do trabalho", dianc* -me,
Sào três horas todos os dias, cinco, às vezes seis dias por semana - uma quantidade de
tempo muito grande. Milhões de pessoas gastam isso ou até mais tempo, indo e vindo
do trabalho.
A questão é: o que ocupa suas mentes durante esse tempo? Suspeito que a maioria
faça o percurso com suas mentes em "ponto morto", ouvindo rádio e ficando nervoso com
todos os motoristas a sua volta. Mas que oportunidade ótima para se "engatar" a mente.
É por isso que comecei a ouvir fitas das Escrituras enquanto estou nas ruas, confor
me mencionei no capítulo 9. É inacreditável o que o ouvir a Palavra de Deus faz por mim,
especialmente para me preparar para as atividades do dia. Isso permite que a verdade
envolva meu coração.
Salmo 19
O Salmo 19 sugere uma profunda compreensão das Escrituras. Você tem que estudar esta
passagem. Ela enfoca a Palavra de Deus, dizendo-lhe quais são as suas características:
"A lei do Senhor é perfeita... O testemunho do Senhor é fiel...Os preceitos do Senhor são
retos", e assim por diante (vv. 7-8).
O Salmo também nos conta quais são os efeitos da Palavra. Por exemplo, ela "res
taura a alma". Já se sentiu sem energia? A Palavra de Deus pode lhe revigorar. Ela tam
bém "dá sabedoria aos símplices". Não importa se você foi para a faculdade ou não, ou
qual o seu Q.I. O que importa é quão "ensinável" você é, quão desejoso está de programar
sua mente com a sabedoria que as Escrituras provêem.
Como um clímax para o salmo, o salmista ora:
"As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na
tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!" (v. 14, itálico acrescido)
Esta é uma oração reveladora. Mostra que o salmista considerava a meditação como
necessidade absoluta para sua vida espiritual. Mas se este era o caso para ele em sua
época, quanto mais essencial deve ser para nós, que vivemos nesta geração, enfrentando
as pressões de nossa sociedade. Precisamos banhar nossas mentes nas águas da Palavra
para que nossas palavras e pensamentos se tomem agradáveis aos olhos de Deus.
Use seu tempo — no começo do dia, na pausa para o café, durante o período de al
moço, voltando para casa do trabalho, antes de dormir à noite — para refletir na verdade
que você estuda.
Para ser honesto, as maiores mudanças que Deus operou em minha vida vieram
através do processo de meditação — apenas permitindo que a Palavra de Deus se infil
trasse e permeasse minha mente e em minha vida. Aprendi que a leitura bíblica de pri
meira ordem não requer disparos instantâneos, mas exposições ao tempo.
Experimente
Sv você nào tem o hábito de ler a Bíblia meditativamente, eis uma sugestão para
iniciar: separe um dia em que possa sair da rotina — sem trabalho, interrupções ou
compromissos. Talvez você tenha um lugar favorito no campo ou na praia. Onde
quer que seja, encontre um lugar em que possa passar várias horas sozinho.
Devote seu tempo à meditação em João 4:1-42, o relato em que Jesus visita
Samaria. Comece pedindo a Deus que o ajude a ganhar penetração na Sua Palavra
e que mostre como aplicá-la. Então leia a passagem várias vezes. Use as sugestões
para leitura bíblica repetitiva no capítulo 9.
Examine as seções antes e depois de João 4 para estabelecer o contexto. Daí
observe cuidadosamente a passagem para responder a questões como: Quem são as
pessoas nesta história? Quem são os samaritanos? Por que era fora do comum para
Jesus conversar com tal mulher? Qual foi a reação dos vizinhos dela? E a dos dis
cípulos? O que Jesus diz a eles quando retomam? Que lições esta passagem ensina
sobre contar a história do evangelho aos outros?
Depois de ter tido uma compreensão da história, pense sobre que implicações
ela pode ter para você. Por exemplo, que tipos de pessoas você normalmente evita?
Por quê? Como estas pessoas reagiríam ao Evangelho? Há alguma coisa que você
poderia fazer ou dizer que as ajudaria a se aproximarem de Cristo e a confiarem
nEle definitivamente? Quando se trata de evangelismo, você é semeador ou ceifeiro
(vv. 36-38)? Ou nenhum dos dois? Com qual dos personagens da história você se
identifica mais? Por quê?
Como você veio a crer em Cristo? Quem falou de Jesus a você? Qual foi a sua
reação? Para quem você falou sobre Jesus? O que você disse? Qual foi a resposta?
Há princípios nesta história que você poderia usar na próxima vez em que falar a
alguém sobre Jesus?
Você pode fazer perguntas adicionais. O objetivo é mastigar a Palavra, pro
curando por esclarecimentos, e examinar a si mesmo, procurando por maneiras de
aplicar as Escrituras. Certifique-se de escrever tudo o que observar na passagem,
bem como suas conclusões. E passe tempo em oração. Com base no que estudou e
meditou, o que Deus está lhe dizendo? O que você precisa dizer a Ele? Em que área
você precisa de Seus recursos e ajuda? Que oportunidades de evangelismo gostaria
que Ele abrisse para você?
capítulo 1 5
Leitura propositada é aquela que procura pelo objetivo do autor. Não há um ver
sículo das Escrituras que tenha sido lançado nelas por acidente. Toda palavra contribui
para o significado. Seu desafio como leitor é discernir tal significado.
Como fazê-lo? Uma das chaves é atentar para a estrutura. Todo livro da Bíblia tem
estrutura tanto gramatical quanto literária. Vejamos tais estruturas em ação e considere
mos como contribuem para o significado.
Verbos
Verbos são críticos. São as palavras de ação que nos dizem quem está fazendo o quê. Por
exemplo, em Efésios 5:18, Paulo escreve: "Enchei-vos do Espírito", verbo que no original
está nA íorma panmíva, "wd<’ rhrltwi do Itapirlto", nAo "cnclwl-vos a vón menrniM com o
Espirito". Ele nos desafia a nos abrirmos ao controle do Espírito, a nos rendermos à Sua
vontade. Esta é uma observação Importante porque Efésios nos diz o que é a vida no
Espírito na igreja.
Outro interessante uso de um verbo se encontra em Gênesis 22:10, onde Abraão
leva seu filho Isaque ao monte Moriá para oferecê-lo como sacrifício: "e, estendendo a
mão, tomou o cutelo para imolar o filho".
Nào se pode detectá-lo na tradução em português, mas um comentário dirá que os
verbos aqui indicam um ato completo, como se Abraão realmente imolasse seu filho. Em
sua mente, a ação é cumprida; ele obedeceu a Deus ao máximo. Isso é crucial ao entendi
mento do propósito do escritor. Ele está nos mostrando a fé de Abraão — fé ilustrada por
obediência total. Como Paulo diz posteriormente em Romanos, a confiança de Abraão em
Deus era tal que, se ele sacrificasse seu filho, Deus poderia levantá-lo dos mortos para que
o herdeiro fosse preservado (4:16-21; Hb. 11:17-19).
Sujeito e Objeto
O sujeito de uma sentença executa a ação e o objeto sofre a ação. E importante não con
fundi-los. Filipenses 2:3 nos exorta: "considerando cada um os outros superiores a si mes
mo". A ordem é crucial. "Considerar" é o verbo, "cada um" é o sujeito; "os outros" é o
objeto. Paulo está escrevendo palavras desafiadoras sobre a humildade de Cristo que
deve marcar os relacionamentos entre os crentes.
Um versículo relacionado é Gálatas 6:4: "Mas prove cada um o seu labor, e então
terá motivo de gloriar-se unicamente em si e não em outro". Este é o "versículo do inspe
tor de fruto (sif)", porque muitos de nós têm a tendência de inspecionar o fruto espiritual
das outras pes-soas, quando precisamos prestar mais atenção em nosso próprio.
Novamente o verbo é "provar"; o sujeito é "cada um", e por inferência, "cada um
de vocês, crentes"; o objeto é "o seu labor". Assim, Paulo está argumentando por auto-
reflexão, o que tem uma importante relação com esta porção de Gálatas. Ele está falando
sobre crentes intervindo com outros crentes em caso de pecado.
Modificadores
Modificadores são palavras descritivas como os adjetivos e advérbios. Eles ampliam o
significado das palavras que modificam e muito freqüentemente fazem toda a diferença.
Por exemplo, em Filipenses 4, Paulo agradece aos filipenses por um presente que envia
ram a ele. Não sabemos exatamente qual era o presente, mas Paulo encoraja aqueles que
o enviaram com a promessa muitas vezes repetida: "O meu Deus, segundo a sua riqueza
em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (v. 19).
Rotineiramente se retira este versículo de seu contexto, fazendo-o parecer como se
Deus prometesse suprir todos os nossos desejos ao invés de todas as nossas necessidades.
Mas ele nunca pretendeu estimular o materialismo. Pelo contrário, esta é a declaração
de confiança de Paulo na provhAo de Dem». QuAo confiante eral A enpreiKtAo "cadn uma
de" é decisiva: "meu Deus há de suprir cada uma de vossas necessidades", literalmente,
"todas as vossas necessidades". Ele nào nos deírauda. Ele nâo apenas supre o que neces
sitamos, Ele supre tudo o que necessitamos.
Frases Preposicionais
Preposições são pequenas palavras que nos dizem onde a ação acontece: em, sobre, atra
vés, para, e assim por diante. Considere algumas das muitas frases preposicionais que
aparecem nas Escrituras e verá quão importante é marcá-las quando as vê: "em Cristo",
"no princípio", "pelo Espírito", "na carne", "sob a lei", "pela fé", "de acordo com a Pala
vra do Senhor".
Conjunções
Duas das palavras mais poderosas na Bíblia são e e mas (porém). Vimos quão crucial mas
era em Atos 1:8. Examine Números 13:31, II Samuel 11:1 e Lucas 22:26 e verá mais ilus
trações de seu poder.
E é tão crucial também: "Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do teu co
ração" (Salmo 37:4); "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós" (João 15:4); Paulo
e Barnabé (Atos 13:42-43); "Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros" (Tiago 4:8).
Uma outra importante conjunção é portanto. Quando vir a palavra portanto, volte e
veja por que motivo foi colocada ali. Romanos está repleto de portantos, enquanto Paulo
se esforça em produzir um argumento rigorosamente estruturado. Os profetas do Antigo
Testamento usam portanto extensivamente. Muitas e muitas vezes expressam sua causa
contra o povo, então proclamam: "Portanto, assim diz o Senhor".
Estrutura geográfica
Aqui a chave é o lugar. A estrutura de Êxodo depende grandemente dos lugares que
Israel visita no caminho do Egito para a Terra Prometida.
Estrutura histórica
Eventos chaves são a base da estrutura histórica. O livro de Josué é um bom exemplo. O
livro começa com Josué, recebendo sua incumbência do Senhor. Então o povo atravessa
o Jordão. Daí toma Jerico e enfrenta a derrota em Ai. E assim pelo livro todo, enquanto o
povo prossegue e possui a terra.
O livro de João também usa estrutura histórica para marcar seu objetivo. O evange
lho apresenta sete milagres principais que promovem um propósito central:
"Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não es
tão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Je
sus é o Cristo o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome"
(20:30-31, itálicos acrescidos)
Estrutura cronológica
Proximamente relacionada à estrutura histórica está a estrutura cronológica, onde o au
tor organiza material com base em tempos chaves. Existe progressão temporal; os eventos
da história acontecem sequencialmente. 1 e 2 Samuel usam estrutura biográfica, confor
me destacado, mas também empregam estrutura cronológica. A narrativa segue como
um diário dos primeiros tempos do reino de Israel. Incidente após incidente começa com
a palavra: "Então...", "Então...", "Então..."
O mesmo acontece com boa parte do relato de Lucas e Atos.
Estrutura Ideológica
A maioria das carias de Paulo às igrejas são estruturadas em redor de Idüian e conceitos.
Romanos é um clássico nesse respeito. Argumenta enérgica e abrangentemente por uma
idéia principal, conforme resumido em 1:16: o evangelho é o poder de Deus para a salva
ção. Ao apresentar sua causa, Paulo toca em conceitos tais como o pecado, a lei, fé, graça
e vida no Espírito.
A estrutura ideológica facilita a sumarização de um livro. Uma vez que você enten
da o tema e o propósito centrais, você pode determinar como cada parte contribui para o
entendimento dos mesmos: tema e propósito.
Causa e efeito Um evento, conceito ou ação que causa Marcos 11:27 — 12:44
outro (termos chaves: portanto, então, Romanos 1:24-32;
assim, resultado) 8:18-30
Adaptado do quadro não publicado por John Hansel. Usado com permissão.
Experimente
O s livros da Bíblia estão repletos de declarações que expressam o propósito dos
escritores. João 20:30-31 é uma das mais diretas. Outras são menos óbvias, mas um
leitor observador normalmente poderá encontrá-las. Eis abaixo algumas declarações
de propósito. Leia cada uma cuidadosamente, depois folheie o restante do livro no
qual se encontra. Veja como o escritor cumpre o seu propósito na maneira em que
apresenta seu material.
Isto é, leia-a não apenas para receber informação, mas para reter; não meramente
para tomar conhecimento, mas para tomar posse. Reivindique os seus direitos sobre o
texto. Faça dele sua propriedade particular.
Como isso pode acontecer? A chave é o envolvimento pessoal e ativo no processo.
Há um antigo provérbio para tal efeito: "Quando ouço, esqueço. Quando vejo, lembro.
Quando faço, entendo".
Estudos da psicologia moderna comprovam isso com dados científicos: nos lembra
mos no máximo de apenas 10% daquilo que ouvimos, 50% daquilo que vimos e ouvimos,
mM 90% daquilo que fazemos, vemos e ouvimos.
T por isso que nunca apliquei exames em nenhum dos cursos sobre métodos de
estudo bíblico durante os mais de quarenta anos de ensino dos mesmos. Os alunos não
acreditam (nem alguns outros professores), mas como sabe, é muito melhor fazer com
que os alunos se envolvam no processo de estudo das Escrituras, nào de estudo para um
exame. O que me importa se o aluno pode tirar 10 numa prova? O importante é se ele ou
ela sabe trabalhar com o texto da Palavra para entendê-lo, tomar posse dele e aplicá-lo.
Ao invés de exame final, peço a meus alunos que elaborem uma maneira criativa
de se apresentar uma passagem. Podem trabalhar separadamente ou em grupos, mas, no
último dia de aula, apresentam seus projetos ao grupo todo. Nunca fiquei desapontado
com os resultados.
Por exemplo, um grupo de seis rapazes apresentou uma pequena peça teatral ba
seada em Atos 1:8, na qual fizeram o papel de três pares de pés, levando o evangelho aos
confins da terra. Usaram suas habilidades de escrita criativa para injetar humor, drama e
perspectiva à apresentação.
Outro grupo desenvolveu um show completo de marionetes para demonstrar prin
cípios bíblicos. Tenho visto apresentações audio-visuais, shows de mágica, pinturas, e até
danças criativas. Já ouvi poemas, canções, leituras dramáticas e contos. Tudo baseado nas
Escrituras. Tudo precisamente fiel ao texto.
Mas por favor, note: nào se trata de jogos ou truques. Evidentemente, podemos
usá-los dessa maneira. Porém, para os estudantes envolvidos, estes foram exercícios de
estudo bíblico aquisitivo. Garanto que se você apurasse os resultados hoje, aqueles que
fizeram esforço real no cumprimento da tarefa ainda podem dizer não apenas o que fi
zeram, mas o que aprenderam ao fazê-lo. (De quantas tarefas do colegial, faculdade ou
pós-graduação você se lembra?)
ENVOLVA-SE NO PROCESSO
Da mesma maneira, este livro terá valor à medida que fizer com que você se envol
va no processo. Que diferença faz se você leu cada página e talvez até sublinhou partes do
texto, se ao final, você deixou sua Bíblia na estante e nunca a abriu por iniciativa própria?
Meu objetivo — e espero, seu também — é ver mudança de vida como resultado de sua
interação pessoal com a Palavra de Deus.
Que idéias podem surgir em sua mente para fazer permanente o trabalho com o
texto bíblico? Você está estudando Elias no monte Carmelo? Que tal dramatizar a história
com a família ou os amigos? Um grupo de conselheiros de um acampamento fez isso para
seus acampantes — completo, com fogo do céu. Aqueles jovens nunca se esqueceram.
Ou tente reescrever textos como Eclesiastes 3:1-8 ("Tudo tem o seu tempo determi
nado"), Lucas 19:1-10 (Zaqueu), ou 1 Coríntios 13 (o capítulo do amor) em sua paráfrase
própria.
Ou trnle fazer um riludo biográfico concentrado, por um mên, de um personagem
específico das lÍNcrlturas. Procure todas as referências solue a pessoa no texto. Consulte
um dicionário bíblico e leia sobre o ambiente cultural e histórico no qual ele ou ela viveu
(leia o capítulo 34 para mais informações sobre dicionários da Bíblia). Localize em um
atlas os lugares onde a pessoa viveu e viajou.
Desenvolva também um perfil psicológico do personagem: Que tipo de pessoa era?
Quais atitudes e sentimentos teve? Quais preconceitos? Quais ambições? Qual era o am
biente familiar? O que o motivou? Torne-se um especialista na vida do indivíduo, de
modo que se o encontrasse na rua, o reconhecería imediatamente.
Resumindo, faça o que for preciso para se tornar um leitor aquisitivo da Bíblia. Case
a verdade da Palavra com seus próprios interesses e experiência — através do envolvi
mento pessoal com o processo — para que você não apenas se lembre das Escrituras —
mas se aproprie delas.
Experimente
Eis uma idéia para fazer com que você se aproprie de uma passagem das Escritu
ras. Abra a Bíblia em Números 13, na história dos espias enviados por Moisés à Ter
ra Prometida. Leia o relato cuidadosamente, usando todos os princípios cobertos
até aqui. Então, escreva sua paráfrase da história. Eis algumas sugestões:
1. Decida qual o ponto principal da história. O que acontece? Por que o incidente
tem significado?
2. Pense sobre quaisquer paralelos ao que acontece aqui na história de sua família,
igreja, nação ou sua própria vida.
3. Decida sobre o "ângulo" que quer usar. Por exemplo: o relatório de uma força
tarefa para Israel, Ltda. (ângulo de negócios); um concilio tribal (ângulo indíge
na); um debate político entre duas facções (ângulo político ou governamental).
O ponto é, escolha algo que se adapte à situação e faça este incidente memorável
para você.
4. Reescreva a história de acordo com o ângulo escolhido. Utilize uma linguagem
condizente com o tema. Faça com que os personagens pareçam reais. Mude no
mes e lugares para condizer com o estilo.
5. Quando terminar, leia sua paráfrase a um amigo ou parente.
Coisas que são
Relacionadas
Até aqui temos rotulado o polegar com coisas que são enfatizadas e o dedo indicador
com coisas que são repetidas. Agora a terceira pista que precisamos procurar — e isto vai
no seu dedo médio — é:
Por "relacionadas" quero dizer coisas que têm alguma conexão, ou interação umas
com as outras. Como sabe, o fato de duas coisas estarem próximas uma da outra não as
faz relacionadas. F.las têm de lidar uma com a outra de alguma maneira. Deve haver um
laço que de algum modo as una.
Procure por três tipos de relacionamentos em seu estudo das Escrituras.
Você terá uma recompensa: quando fizer seus atos de justiça para serem vistos por
homens, esta será a sua recompensa. Mas não serão reconhecidos pelo Pai, Jesus diz.
Então Ele parte de um princípio geral para três ilustrações específicas. A primeira
na área de esmolas (vv. 2-4), depois na área da oração (vv. 5-15), e então na área do jejum
(vv. 16-18).
Um outro exemplo pode ser encontrado em Gênesis 1. O versículo 1 dá uma visão
geral: "No princípio criou Deus os céus e a terra".
Se a narrativa terminasse aqui, você não teria nenhum dos detalhes de como Ele
criou os céus e a terra. Você sabería apenas que Ele foi o Criador. Mas o restante do capí
tulo provê informações específicas: no primeiro dia Ele criou a luz (vv. 3-5); no segundo
dia Ele separou a água dos céus (vv. 6-8); no terceiro dia Ele formou a terra seca e fez com
que a vegetação começasse a crescer (vv. 9-13); e assim por diante.
Quando você se deparar com uma declaração ampla e genérica nas Escrituras, pro
cure perceber se o escritor prossegue com detalhes específicos que "colocam carne nos
ossos" de alguma maneira.
Perguntas e respostas
A pergunta é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação. Se faço uma pergun
ta a você, isso quase que o obriga a pensar, não é? Claro que sim! Mas é claro, se alguém
apenas faz perguntas e nunca provê as respostas, isso pode ser muito frustrante. Você
começa a se perguntar se a pessoa sabe mesmo sobre o que está falando. Descobriremos,
porém, que os escritores bíblicos empregam tanto perguntas estratégicas quanto respos
tas úteis.
O livro dv Romano# é um exemplo cIArnIco. !•. escrito como um Iraliulo legal, como
se Paulo tosse um advogado. Aqui Paulo está constantemente levantando perguntas, res
pondendo-as a seguir. Por exemplo, veja Romanos 6:1: "Que diremos, pois? Permanece
remos no pecado, para que seja a graça mais abundante?" Então ele responde a pergunta:
"De modo nenhum".
No versículo 15 ele usa novamente uma pergunta retórica: "E daí? Havemos de
pecar porque não estamos debaixo da lei, e, sim, da graça?" Esta é a questão. Novamente
a resposta é: "De modo nenhum", e ele a explica com detalhes.
As vezes, a pergunta carrega em si mesma tanto peso que não necessita de resposta.
Você já olhou por sobre o montão de perguntas que Deus lança sobre Jó? "Cinge, pois, os
teus lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber" (Jó 38:3).
"Eu te perguntarei". Isso é sarcasmo. Deus lança uma enxurrada de perguntas que
continua por dois capítulos, até que Jó a interrompe brevemente (em 40:3-5). Então a tor
rente reinicia. São perguntas que contêm suas próprias respostas.
E as perguntas penetrantes que nosso Senhor lança aos discípulos: "Qual de vós,
por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?" (Mateus 6:27).
Ou: "Por que sois assim tão tímidos? Como é que não tendes fé?" (Marcos 4:40). Ou que
tal: "Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?" (Mateus 26:40).
Perguntas e respostas requerem sua atenção. São chaves importantes que ajudam a
destravar o texto.
Causa e efeito
Este é o princípio do jogo de bilhar. Você arremessa a bola branca com o taco (esta é a cau
sa) para empulsionar as bolas coloridas para os buracos (este é o efeito). Nas Escrituras
encontramos todos os tipos de relação causa-efeito ricocheteando pelo texto.
Quero destacar uma ilustração dinâmica disso em Atos 8:1: "Naquele dia levantou-
se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém". Somos levados a perguntar: que
dia? Checando o contexto, descobrimos que aquele foi o dia em que Estêvão foi martiriza-
do. Isso intensificou a perseguição, e todos os crentes, exceto os apóstolos, foram disper
sos pela Judeia e Samaria. Porém, o versículo 4 diz: "Entrementes os que foram dispersos
iam por toda parte pregando a palavra".
Em outras palavras, a perseguição era a causa, e a pregação, o efeito. Os crentes
não ficaram parados ali, choramingando: "O que é que Deus está fazendo conosco agora?
Oramos para que Ele nos usasse, e agora tudo que temos é perseguição". Não, eles usa
ram as pressões como alavanca para levar o evangelho aos confins da terra.
No capítulo 18 estudamos um parágrafo de Neemias 1. Lembra-se da oração de
Neemias? Ele fez recordar a Deus de Suas promessas feitas anteriormente, nos livros que
Moisés havia escrito. Deus havia dito que se o povo Lhe desobedecesse, Ele eventual
mente os enviaria ao exílio. Com certeza, o povo desobedeceu (isso foi a causa), e Deus
manteve a Sua promessa, permitindo que os babilônios os levassem (isso foi o efeito).
AIIAn, NvemldM vNtdvo conflrtiulo na relação de cauMa-oívIto, porque Deu» também
havia prometido que »e o povo m* arrependesse (causa), Ele os faria retornar à terra (efei
to). É por isso que Neemias estava lAo interessado na confissão do pecado. Deus respon
deu? Sim, e usou Neemias para cumprir Sua promessa.
Em que promessas de Deus você tem confiado? Por exemplo, o Salmo 1 diz que a
pessoa que se planta no conselho da Palavra de Deus florescerá como uma árvore bem
Irrigada. Note, há um elo direto de causa-efeito entre as Escrituras e a bênção de Deus.
Você está experimentando este efeito? A verdadeira questão é, você tem ativado a causa,
deleitando-se e meditando, como o texto diz, no que Deus disse?
Enquanto o fizer, procure por coisas que são enfatizadas, repetidas, e, conforme
vimos neste capítulo, coisas que são relacionadas.
Experimente
Mateus 1:1-18
A maioria das pessoas simplesmente deixa de ler as genealogias. Se enfada com a
monótona repetição de "Fulano de Tal gerou Fulano de Tal". Mas as genealogias
são, na verdade, importantes maneiras através das quais os escritores bíblicos co
municam seu significado.
Leia a lista de nomes mencionados em Mateus 1. Que relação estas pessoas
têm com Jesus? E umas com as outras? Quais os quatro indivíduos que se sobressa
em visivelmente? Por quê? O que se pode descobrir sobre as pessoas mencionadas
aqui? Compare esta lista com a genealogia que Lucas registra (Lucas 3:23-38). Qual
a diferença? Quais as semelhanças? O que você acha que a lista de Mateus tem a ver
com o propósito de seu livro?
Amós
Você irá precisar de um atlas para descobrir o significado das relações do livro de
Amós, no Antigo Testamento. Encontre todos os lugares mencionados nos capítulos
1-4. Onde o profeta finalmente chega no capítulo 5? Qual a relação? O que Amós
está fazendo ao mencionar esses lugares desse modo?
Coisas que são
Semelhantes e Diferentes
Tenho duas netas que são gêmeas idênticas. Na verdade, elas se parecem tanto que eu
não consigo diferenciar uma da outra. Nem o pai delas consegue, muitas vezes. Somente
a mãe parece ser capaz de distingui-las. Tenho estado com elas em público, e vejo estra
nhos reagirem a elas como se estivessem vendo dobrado. Apontam e comentam: "Olhe!
Olhe! Gêmeas". Por que isso acontece? Porque no momento em que vemos duas coisas
semelhantes — especialmente quando menos esperamos — a semelhança imediatamente
nos chama a atenção.
O mesmo fenômeno acontece no estudo bíblico. As semelhanças se destacam. E
também os contrastes. E por isso que a quarta e a quinta pistas a se procurar enquanto
você observar as Escrituras são:
Designamos coisas que são enfatizadas ao polegar, coisas repetidas ao dedo indica
dor e coisas relacionadas ao dedo médio. Assim, coisas que são semelhantes podem ficar
com o dedo anular, e coisas diferentes com o mínimo.
Símiles
Os escritores bíblicos nos dão vários termos que identificam as semelhanças. Duas das
palavras mais comuns a se procurar são tão e como. Elas indicam uma figura de linguagem
chamada "símile", que é uma imagem de palavra que evoca uma comparação entre duas
coisas.
Por exemplo, o Salmo 42, que começa assim: ''Como suspira a corça pelas correntes
das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma" (v. 1, itálico acrescido). Esta é uma
ImAgein arrebatadora, nAo é? I'.Ia cria atmosfera. O aalmista compara seu desejo por Deus
<i lima corça sedenta no calor.
Pense novamente cm I Pedro 2:2, um versículo que analisamos quando lançamos
a questão: por que estudar a Bíblia por iniciativa própria? Pedro usa um símile: "Desejai
ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele
vos seja dado crescimento para salvação" (itálico acrescido). Ele evoca uma comparação
tocante entre o apetite de um bebê pelo leite de sua mãe e o apetite do crente pela nutrição
da Palavra de Deus.
Considere outra comparação — na verdade, uma comparação que não pode ser
feita. Em Isaías 44:6-7, o Senhor faz uma pergunta:
Resposta: ninguém. Somente Deus é Deus, o único supremo e soberano. Mas a pala
vra como, que normalmente indica semelhança, neste caso intensifica o contraste.
Metáforas
Um mecanismo relacionado ao símile é a metáfora, onde a comparação é feita sem o uso
de tão ou como. Jesus diz: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor" (João
Metáforas
Assim como as coisas que são semelhantes podem ser mostradas através de metáforas,
também o podem as coisas que são diferentes.
Lembra-se da parábola do juiz iníquo em Lucas 18? Uma viúva pobre clamava a um
juiz de pouca integridade dia após dia, pedindo a ele que lhe fizesse justiça. Mas ele não
a queria atender. Finalmente, porém, a persistência da mulher o leva a agir em seu favor.
O que devemos entender desta história? Afinal, o juiz iníquo está na posição que
Deus está. Isso faz sentido? Bem, a chave é notar que Jesus está estabelecendo um con
traste efetivo. Ele está dizendo, com efeito: "Se um juiz humano corrupto e indiferente
finalmente cede à súplica persistente de uma viúva, quanto mais responderá o Pai celestial
òn petlçftcM dv Scun filhos?" A parábola toda npola^r no uno habilldOMí do contraste. (Fa
larei sobre parábolas quando lidarmos com linguagem figurada, no capítulo 36.)
Ironia
Permita-me mostrar a você mais um importante caso de contraste, também encontrado
no evangelho de Lucas. No capítulo 8, Jesus está viajando pela região da Galileia, ensi
nando e curando. Multidões enormes O seguem. Na verdade, Lucas faz questão de mos
trar quantas pessoas O cercam: os doze estão ali (v. 1); um grupo de mulheres O apoia
financeiramente (vv. 2-3); e uma "grande multidão" O segue (v. 4).
Jesus deixa a multidão por um tempo e vai à terra dos Gerasenos, onde expulsa
legião de demônios (vv. 26-39). Mas, tão logo volta, todos estão ali, esperando por Ele
(v. 40).
O ritmo acelera neste ponto, quando um oficial chamado Jairo surge e faz uma
chamada de emergência para Jesus: "Senhor, venha logo! É minha filha. Ela está muito
doente. Na verdade irá morrer a menos que o Senhor chegue lá rápido".
Isso lança a multidão num frenesi. É uma situação de vida ou morte, envolvendo
uma menina pequena. Jesus chegará lá a tempo? Todos querem saber, e Lucas é cuida
doso em nos contar no versículo 42 que "enquanto ele ia, as multidões o apertavam".
Perseguidores de ambulância?
Neste momento, um contraste irônico acontece. Uma mulher com um problema crô
nico de hemorragia — talvez uma enfermidade ginecológica, talvez outra coisa; o texto
não nos diz — de alguma maneira consegue abrir caminho pela multidão e aparece atrás
dEle. Ao tocá-LO, fica curada. De repente, Jesus pára, e o fluxo da multidão pára. Ele
pergunta: "Quem me tocou?" (v. 45).
A pergunta é quase cômica. Na verdade, é divertido ver qual é a reação dos discí
pulos: "Quem Te tocou? Senhor, as pessoas têm Te tocado desde que saímos do barco".
Mas Jesus havia sentido o toque de fé. E este é o contraste que Lucas quer que
vejamos: no meio de uma crise, em meio a uma multidão, uma mulher desconhecida se
aproxima privativa e quietamente em fé — e Ele reconhece isso. Ela se destaca na multi
dão por causa de sua fé. Lucas monta o fato para que a notemos e nos beneficiemos pelo
seu exemplo.
As coisas que são semelhantes e as que são diferentes fazem uso da forte tendência
humana de comparar e contrastar. Conforme você estudar as Escrituras, atente para a voz
dentro de sua mente, que diz: "Ei! isto é igual à passagem que li ontem" ou "Esta parte
é diferente de tudo neste livro". Esses são claros sinais de que o autor está usando coisas
semelhantes e diferentes para comunicar a sua mensagem.
Experimente
A questão aqui é autenticidade: O que a passagem diz sobre a realidade? Que as
pectos do texto se repercutem em sua experiência?
Aqui é onde você precisa usar sua imaginação santificada. Você tem de procurar
por princípios (falarei mais sobre isso no capítulo 43). Obviamente vivemos em uma
cultura dramaticamente diferente das culturas da época bíblica. Mas as mesmas coisas
que os personagens bíblicos experimentaram, nós experimentamos. Sentimos as mesmas
emoções que sentiram. Temos as mesmas dúvidas que tinham. Eles eram reais, pessoas
vivas que enfrentavam as mesmas lutas, os mesmos problemas e as mesmas tentações
que você e eu enfrentamos.
Assim, quando leio sobre eles nas Escrituras, preciso perguntar: Quais eram as am
bições desta pessoa? Quais os seu objetivos? Que problemas estava enfrentando? Como
se sentia? Qual a sua reação? Qual seria a minha reação?
Frequentemente estudamos ou ensinamos as Escrituras como se fosse uma lição
acadêmica, e não vida real. Não se admira que tantos de nós nos sintamos entediados
com nossas Bíblias. Estamos perdendo as melhores lições da Palavra de Deus quando
deixamos de considerar as experiências de pessoas nela.
Deixe-me mencionar alguns indivíduos que penso nos ajudam ver a verdade em
termos realistas. O que eu gosto sobre a Bíblia é que ela sempre me leva de volta para a
PROCURE POR COISAS QUE SAO ...
realidade. Ela nunca pinta os caracteres com cal. Pelo contrário, os mostra como são na
verdade, com suas qualidades boas e más.
Abraão
Em Gênesis 22:2, Deus disse a Abraão, "Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem
amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto". Então Abraão começa a
subir o Monte Moriá com seu filho, Isaque, que tem cerca de vinte e dois anos. Isaque diz
para ele, "Ei!, papai! temos a madeira, temos o fogo, mas onde está o sacrifício?" Abraão
sabe que seu filho deve ser o sacrifício. Como você acha que ele se sentiu? Como você se
sentiría?
Moisés
Moisés foi um líder incrível, provavelmente o líder mais aprimorado de todos os tempos.
Mas ele nunca chegou a entrar na Terra Prometida. Por quê? Porque ele bateu na rocha
duas vezes (Números 20:1-13). Um ato de perder a calma, foi excluído de entrar na Terra
Prometida. Como esta punição o afetou? Como Moisés se sentiu para com Deus? Para
com a vida? (Veja Salmo 90.) Como é que eu respondo às conseqüências do meu próprio
pecado?
Noé
Noé era um homem de grande justiça. Numa geração totalmente tomada pelo pecado, ele
obedeceu a Deus e por isso salvou a sua família do Dilúvio. Mesmo assim o registro conta
que ele ficou totalmente bêbado (Gênesis 9:20,21). Eu penso, Como foi possível isto? Bem, as
Escrituras o descreve não como um indivíduo perfeito, mas como umn pessoa real. Junto?
Honrado por Deus? Absolutamente que sim. Mas também falho, fraco e pecaminoso.
Quais as implicações que isto tem para mim?
Davi
De todos os personagens bíblicos, o Rei Davi é provavelmente o meu favorito para estu
dar. Ele é brilhante e dotado em muitas áreas. Ele é um indivíduo totalmente competente.
Eu não sei de você, mas quando estudo o personagem, eu quase me sinto inferior. Nào
somente ele é um grande soldado, não somente ele é um grande atleta, não somente ele
é um grande poeta e músico, mas também ele é um grande líder. Ele parece ter todas as
capacidades. Ele é a única pessoa na Escritura que Deus descreve como "um homem que
lhe agrada" (I Samuel 13:14)
Mesmo assim este homem é derrubado um dia, quando está em casa em vez do
campo de batalha com suas tropas. Bastou apenas uma mulher para acabar com ele. O
que o Espírito de Deus está nos dizendo por incluir esta tragédia na narrativa? Qual é o
aviso dado para nós? O que destaca sobre nossa humanidade?
Pedro
A razão por que a maioria gosta de Pedro é que ele nos faz lembrar a nós mesmos. Cada
vez que queremos esquecê-lo, nos reconhecemos: "Puxa, ele está dizendo ou fazendo
exatamente o que eu teria dito ou feito". Por exemplo, ele está pronto a atacar sozinho os
homens que queriam prender o Senhor (João 18:10). Mas uma jovem aparece e diz: "Ei!
você não era um de Seus discípulos?"
Ele continua repetindo: "Quem, eu?"
"Sei que você era um deles", insiste.
"Suma mulher", ele diz a ela. "Não faço ideia do que esteja falando".
Então finalmcnte ela diz: "Reconheço o sotaque. É galileu. Era um dos discípulos,
não era?"
E Pedro começa a xingar e amaldiçoar a moça.
Quando voltamos e olhamos para o incidente, indagamos: Quem está dizendo isso?
Bem, é o homem que disse a Jesus: "pode contar comigo". Mas, no momento de crise ele
falhou — assim como você ou eu poderiamos ter falhado. Pedro era humano.
João Marcos
João Marcos é um daqueles personagens que você está sujeito a esquecer porque muito
pouco é falado sobre ele. Ele começa com Paulo e Barnabé, na primeira viagem missio
nária. Navegam da costa da Palestina a Chipre e eventualmente, à Ásia Menor. Tão logo
atingem terra firme, João Marcos volta para casa (Atos 13:13).
Mais tarde, Paulo e Barnabé decidem viajar novamente e Barnabé sugere que levem
João Marcos. Paulo, porém diz: "De modo nenhum. Não o levaremos. Ele nos abandonou
tin última vez, v nào quero correr o rluco de novo". O texto diz que eles tiveram tamanho
desentendimento (não o laça mais brando!) que se separaram (Atos 15:36-39).
Somente já no final da vida de Paulo, é que ele escreve: "Toma contigo a Marcos e
traze-o, pois me é útil para o ministério" (2 Timóteo 4:11). Como foi que João Marcos se
tornou útil? Certamente não foi através de Paulo. Foi Barnabé quem o levou e o desenvol
veu até que se tornasse uma pessoa a quem Deus poderia usar.
Há um toque de autenticidade nos relatos de todas essas pessoas. Mas é fácil deixar
de percebê-lo se seus olhos não estiverem procurando por coisas que são da vida real.
Quando estudar a Palavra de Deus, certifique-se de "ligá-la" à vida real. Assim, você
descobrirá que as pessoas na narrativa bíblica são exatamente como você e eu. Elas são
cortadas do mesmo rolo de tecido humano.
Bem, eis o que temos: seis pistas a se procurar cada vez que abrir a sua Bíblia.
Há precedente bíblico para tais perguntas? Penso que sim. Considere Provérbios
20:12. É a passagem mais "audiovisual" da Bíblia: "O ouvido que ouve [que é o compo
nente áudio] e o olho que vê [o componente visual], o Senhor os fez assim um como o
outro".
Deste modo, sua tarefa está evidente: Aprender a ouvir. Aprender a ver.
Considere o
Quadro Geral
Neste capítulo, chegamos ao departamento da faculdade na escola da Observação.
Lembre-se de que começamos com um versículo: Atos 1:8. Foi muito fácil. Daí, partimos
para um parágrafo: Neemias 1:4-11, onde observamos uma coleção de versículos revol
vendo à volta de um tema comum: a oração de Neemias.
Agora iremos ver o que chamamos segmento, uma coleção de parágrafos unidos
por um tema comum. Primeiramente estudarei uma seção que mostrará a você como é a
observação naquela escala. Então, alistarei algumas sugestões específicas para o ajudar a
observar seções bíblicas por si mesmo.
A seção que iremos estudar é Marcos 4-5. Encorajo-o a abrir sua Bíblia, já que a pas
sagem é muito extensa para ser reproduzida aqui. Pare por alguns minutos agora, para
ler estes dois capítulos antes de prosseguir.
Dois segmentos
Na verdade, temos dois segmentos nesta porção. Marcos 4:1-34 contém o que chamo de
segmento parábola. Note que o capítulo 4 começa com Jesus ensinando próximo ao Mar
da Galiléia. O versículo 2 nos diz: “Assim lhes ensinava muitas cousas por parábolas".
Esta é uma situação de ensino e as parábolas são o principal meio de comunicação. Na
verdade, nos versículos 33-34, lemos:
A Esfera
Comecemos com a tempestade acalmada (4:35-41). Evidentemente, isso acontece no reino
físico. Assim, podemos escrevê-lo no quadro. Eles estão no lago quando uma tremenda
tempestade surge, e Jesus a acalma.
E o endemoninhado? Este é um pouco mais difícil de se dizer. Sem dúvida ele es
tava possuído por demônios, o que é basicamente um problema espiritual. Mas acho que
a maioria das pessoas diria que como resultado ele era mentalmente perturbado e tinha
um problema psicológico.
E a mulher com hemorragia? Ela tinha uma óbvia aflição física. Mas após ter, por
doze anos, tentado encontrar alguém que lhe ajudasse, havia provavelmente uma neces
sidade emocional também.
Marcos 4:35 - 5:42
Milagre Esfera Pessoas Meio Resultados Fé
As Pessoas
Prossigamos para as pessoas envolvidas. Note quem experimentou o milagre da tempes
tade acalmada — os discípulos. Vários deles haviam sido pescadores. É muito importante
notar a conexão entre a esfera do milagre e as pessoas envolvidas nele. Aquele não era um
grupo de professores de seminário, morrendo de medo porque o barco estava afundan
do. Era um grupo de pescadores profissionais. Eles tinham vivido naquele lago e visto
tempestades antes.
Na região da Galileia, ventos predominantes vêm do oeste, e descem aos vales, que
agem como funis. O lago está a 210 metros abaixo do nível do mar, por isso há tremendos
deslocamentos de ar. O fenômeno existe até hoje. Na verdade, da última vez que visitei o
Mar da Galileia, vi uma violenta tempestade se formar em menos de dez minutos.
Aquele* homen* Iwvtam panurtdo por tempestades durante a vida toda, mas nunca
por algo como aquilo.
Note quem mais está lá: Jesus, em profundo sono.
Vejamos o endemoninhado. Certa mente Jesus estava envolvido. Mas o óbvio é o
próprio homem. Sua história é interessante. Outras pessoas sempre tentaram resolver o
seu problema, sem sucesso.
Há outro grupo — a população do município. Eles me fascinam. Há um pobre ho
mem possuído pelos demônios, e todos o conhecem. "Cuidado com ele", gritavam. "Co-
loquem-no em correntes. Mantenham-no longe da sociedade respeitável". Então, um dia
ele é curado, e pensaríamos que todos diriam: "Puxa! Que história! Publiquem na CNN".
Mas as pessoas sentem tudo, menos entusiasmo — particularmente quando desco
brem que os demônios tinham entrado em seus porcos, fazendo-os cair num abismo e se
afogar. Como resultado, perdem todo o investimento econômico e ficam "uma fera"! Pre
ocupam-se mais com a economia local do que com a cura de um ser humano como eles.
acalmozia/
nhado-
Mulher
amv/Uw
de-jangue'
filha'
de'
Jairo-
E a mulher com hemorragia? Nós a vimos no capítulo 22. Aqui os discípulos se tor
nam muito importantes. Eles criam a atmosfera no versículo 31: "O Senhor vê a multidão
Lhe pressionando e diz: 'Quem me tocou?"' Em outras palavras, "Como vamos saber
quem foi que Te tocou?" É claro, também há a mulher. O texto diz que ela tinha estado
doente por doze anos. É muito tempo e indica que o problema é sério. Há também Jesus.
Prossigamos para a filha de Jairo. Estão presentes Jairo, sua filha e a mãe. Também
Cristo, que toma Pedro, Tiago e João. Isto é instrutivo. Há também uma coleção de pran-
teadores profissionais. Não é fascinante? Jesus entra em cena e declara: "Ela não está
morta. Apenas dorme". E eles dão risada dEle. Era provavelmente a primeira vez que
riam em um funeral.
Os Meios
Ao observemos o meio que Jesus usa em cada um dos milagres. I lá coisas fenomenais
acontecendo. Na tempestade, tudo o que Ele faz é falar. "Acalma-te, emudece!", diz. Ou,
pode-se traduzir: "Sê amordaçada". E a tempestade cessa. O mar se toma completamente
calmo.
Com o endemoninhado, novamente Ele precisa só falar. Com a mulher, Ele nem
mesmo precisa de palavras. Ele usa o toque; na verdade, ela O toca.
Então temos a experiência de Jairo, onde Ele usa tanto toque, quanto palavras. Ele
toma a menina pela mão e também a chama por nome.
Os Resultados
Agora ligaremos os meios com os resultados. O resultado na tempestade acalmada foi
uma "grande bonança", diz o texto. Não sei se você já esteve em uma tempestade no mar.
Mas todo pescador e marinheiro sabe que não é pelo fato da tempestade parar, que o
mar também se acalma. Ele revolve, às vezes por dias a seguir. Mas este foi um milagre,
e houve uma calma imediata.
Com o endemoninhado, os espíritos saem e o homem retorna à normalidade. Na
verdade, o texto diz que ele estava sentado, "vestido, em perfeito juízo". Ele não o fazia
antes do milagre.
Para a mulher com o sangramento, o resultado do toque em Jesus é a cura imediata.
Isto é significativo porque seu problema durou doze anos. Mas não leva doze dias, nem
mesmo doze minutos para que ela se recupere.
Finalmente, a filha de Jairo. Ela se levanta imediatamente, o que indica restauração
instantânea. Ela também começa a andar e comer.
Fé
O componente da fé é crítico em cada um destes milagres. Na tempestade, os discípulos
perdem toda a fé. Ficam morrendo de medo. Mesmo após Jesus acalmar as coisas, eles
ainda sentem medo. Não há fé, mas há muito medo.
E os discípulos tinham acabado de ouvir os sermões de Jesus sobre fé, na primeira
parte do capítulo 4. Haviam sentado para ouvir o maior Professor do mundo. Mas quan
do passam por um exame no lago, seus boletins vêm com um enorme e redondo "zero".
Foram reprovados. Na verdade, Jesus pergunta a eles: "Como é que [de todas as pessoas,
vós!] não tendes fé?" (v. 40).
Quanto ao endemoninhado, sua fé começa com o reconhecimento de quem Jesus é.
Ele tinha vindo à Pessoa certa. E queria segui-LO — expressão clara de comprometimen
to. Mas Jesus diz: "Não, você precisa ir para casa e dar seu testemunho".
A mulher é talvez, a estrela desta seção no que se relaciona a fé. Ela toma iniciativa
com bane no que tinha ouvido nobre Jesus. E Jesus diz que a sua fé a curara. É impressio
nante!
Jairo demonstra fé em Cristo através de um processo de dois está-gios. Primeiro ele
vem e diz: "Minha filha esta à morte". É um começo. Mas então seus amigos vêm com
pressa e dizem que sua garotinha havia morrido. Pode imaginar seus sentimentos? En
quanto há vida, há esperança; mas uma vez morta, tenho certeza de que ele queria apenas
desistir. Deve ter ficado arrasado.
Mas Jesus disse: "Não temas, cri? somente". E ele o faz. Não somente começa em
fé, mas prossegue com ela. E adivinhe quem vê isso? Os discípulos. Lembra, aqueles que
não tinham fé? Eles estão bem ali, vendo este homem que não tem mais razão alguma
para esperar. Ele não tinha estado lá para ouvir os sermões. Mas, tem grande fé porque o
Senhor dissera: "Continue assim. Confie em Mim. Siga-Me". E ele o faz.
Tempestade- Díscipulos-
acalmado/ FíSÍCO/ Jesus-
Jesus
Endemoni H ornem/
nhado Mental/
população-
Mulher Jesus
FUíca// Mulher
COlH, fluxO Emocional/
de sangue- Discípulos
1. Leia a seção toda completamente. Aliás, tente lê-la duas ou três vezes, talvez em
diferentes traduções, se possível.
3. Avalie cada parágrafo à luz de outros parágrafos. Use as seis pistas para procu
rar relacionamentos que dei anteriormente no livro. No quadro de divisões aci
ma, comparei e contrastei os quatro milagres de acordo com a esfera, as pessoas,
os meios, o resultado e o elemento da fé.
4. Avalie como a seção como um todo se relaciona com o restante do livro, usando
os mesmos princípios (coisas enfatizadas, repetidas, e assim por diante).
5. Tente expressar o ponto principal da seção. Veja se consegue reduzi-lo a uma pa
lavra ou frase pequena que resume o conteúdo. Por exemplo, eu poderia chamar
Marcos 4-5 "os sermões e o laboratório da fé".
9. Pergunte-se: o que vi nesta seção que desafia meu modo de viver? Que questões
práticas se refere a passagem? Que mudança preciso considerar à luz deste estu
do? Que oração preciso fazer como resultado do que estudei?
Jew Reconheci
l ndetnonv- Homem (sentado, mento-
it/uulo Mental/ Fala
■vestido, e»n- Desejo-de
População-
perfeitojui%o) seguir
Mulher Jcsus-
FitiCO-/ Mother Cara Sua-fe
com/fluxo- Emocional/ Toque a/curou/
de sangue ‘Discípulos- imediata-
Experimente
Tenho uma passagem para você experimentar, agora que mostrei como observar
uma seção. E a parábola do semeador, em Mateus 13:1-23. Abaixo há um quadro
de divisões para o ajudar a começar, o qual considera quatro questões para cada
um dos quatro tipos de solo: como Jesus descreve o solo? que tipo de crescimento
acontece? quais os obstáculos ao crescimento? qual a consequência ou resultado do
ato de plantar?
Resuma Suas
Observações
Um dos desenvolvimentos mais significativos de nossa era desde a publicação da pri
meira edição de Vivendo na Palavra foi o surgimento da Internet. Hojez é provável que não
exista nenhum tópico de interesse aos seres humanos para o qual não haja um website em
algum lugar. Uma boa parte dessas informações on-line está baseada em textos. Mas, por
virtude de suas capacidades de vídeo, a Internet demanda, de uma forma ou de outra, a
sumarização das informações de modo que contribua particularmente para a leitura rápi
da. Usuários querem ir direto ao assunto o mais rápido possível, e gráficos convincentes
são o principal meio para tal fim. Na verdade, a Internet, juntamente com a televisão e o
cinema, tem como que redefinido a forma de nos comunicarmos hoje em dia: tornou-se
mais importante mostrar do que dizer.
Há uma lição aqui para o estudante das Escrituras. O estudo bíblico é intensivo no
que tange a informações. Se fizer a tarefa de Observação conforme descreví nos capítulos
anteriores, você obterá mais dados do que poderá manusear. E isso é um problema, por
que que benefício há na informação que não pode ser acessada? Uma solução é a estra
tégia da Internet: Mostrar em vez de dizer. Resuma suas descobertas de maneira gráfica.
Um quadro é particularmente eficiente.
A ARTE DO QUADRO
O quadro é uma ferramenta incrivelmente útil para o estudo bíblico, mas lembre-se
de que é apenas um meio para se chegar a um fim. Seu objetivo final ao estudar a Palavra
de Deus não é produzir um quadro, mas produzir mudança em sua vida. O quadro é
simplesmente um modo de manusear a informação que você seleciona do texto.
Permita-me discutir os exemplos de quadros mostrados aqui e então alistarei algu
mas sugestões de como começar a produzir quadros efetivos.
O Evangelho de Marcos
"Veto para Servir" "Dara Sua Vida"
e
PRÓLOGO SERVIÇO SACRIFÍCIO EPÍLOGO
Quem
Jesus Quem dizem Para Jesus...
Veio é que onde recebido
sou? Vai? no céu
Ele?
1 Pedro
O quadro da próxima página é aquele que desenvolví para 1 Pedro, o livro a que chamo
uma "Apostila para Santos Sofredores". (Segunda Pedro é a "Apostila para Santos Signi
ficativos".)
Conforme estudei I Pedro, notei que há três divisões principais no livro, três princi
pais assuntos mencionados: salvação, submissão e sofrimento. E interessante pensar ne
les em ordem inversa: o sofrimento nunca fará sentido até que haja submissão à vontade
1 PEDRO
Apostila para Santos Sofredores
Como prosseguir - Não Parar
SALVAÇÃO SUBMISSÃO SOFRIMENTO
MALAQUIAS
"O Lamento do Amor Ferido"
Malaquias
O próximo exemplo mostra Malaquias. Entitulei-o "O Lamento do Amor Ferido". Quer
estudar um livro do Antigo Testamento? Este é o indicado. Lembra-se de que falamos
sobre o uso da abordagem pergunta-e-resposta (capítulo 11)? Bem, Malaquias era o pro
feta cuja mente era ocupada por um ponto de interrogação. Vez após vez, ele pergunta:
"quem, eu?"
Como vemos em Malaquias, Deus repreende a nação de Israel por seus pecados.
Cada vez que Ele o faz, o povo responde: "prove". São como uma criancinha com a mão
no pote de biscoitos, cheia de farelos em sua roupa. A mãe diz: "Filho, eu disse para você
não pegar os biscoitos".
LUCAS
Lei de Proporção
cf.
A criança diz: "que biscoitos?"
Isto é exatamente o que temos neste livro.
Lucas
Você precisa pensar nos quadros como mais do que simplesmente um produto final, poli
do de seu estudo. Eles são, na verdade, ferramentas poderosas para o ajudar a investigar
o texto.
Por exemplo, eis uma visão geral do evangelho de Lucas que mostra o que chamo
de lei de proporção. Falamos sobre procurar por coisas que são enfatizadas pela quan
tidade de espaço dedicada a elas. A lei de proporção diz que a importância do material
para a intenção de um autor é proporcionalmente direta à quantidade de espaço que ele
dá ao material. Um quadro como este ilustra este princípio.
Efésios
Note o quadro de divisões de Efésios na próxima página. Lembre-se, usei um quadro de
divisões no último capítulo para estudar Marcos 4-5.
Digamos que eu tenha observado a epístola aos Efésios, e noto que há quatro temas
que aparecem várias vezes: a graça de Deus, a atividade de Satanás, o estilo de vida ou
o "andar" do crente, e oração. Assim, preciso perguntar: Há alguma relação entre estes
temas? Um é mais dominante que outro? Quanto espaço é dedicado a cada um? Como se
relacionam com o tema e a estrutura gerais do livro?
Um quadro de divisões pode me ajudar a perceber estes quatro temas pela carta
para que, quando terminar, possa enxergar estas relações.
EFÉSIOS
Oração
Amor
() quadro abaixo, é diíetvnlv d<m outros. líle resume um estudo tópico sobre o amor.
b.Ntudos tópicos são fascinantes porque consideram um assunto que aparece em várias
passagens, e então correlacionam os resultados. Aqui, o estudo revelou que duas passa
gens chaves em Mateus são textos centrais no assunto do amor. Uma fornece o padrão
para o amor, que é o amor de Deus, e a outra descreve o processo do amor, que é amar aos
outros como a si mesmo. Note que o texto alternativo é 1 Coríntios 13, o capítulo do amor.
O estudo também revelou que quando se trata da prática do amor, há três campos
de ação — amor a Deus, amor a nós mesmos e amor ao próximo. Em cada caso, há uma
verdade revelada a se considerar e uma resposta a ela.
Há obviamente outras maneiras de se organizar este material e mostrar as relações.
O que importa é que o quadro faz sentido para a pessoa que o monta. O quadro precisa
mostrar o que ele, ou ela, descobriu no texto, e é a sua ferramenta, seu modo de se apro
priar do texto.
<
Dinâmico
Introd.
Mt. 22:37-40 - Processo
Deus
Dimensional
Nós mesmos
Alternar - 1 Co. 13 Próximo
Você está pronto para pôr mãos a obra, fazendo um quadro? Permita-me algumas
sugestões.
1. Quando estudar um texto, atribua ao conteúdo títulos e rótulos que resumam
o material. Seja criativo. Falei sobre leitura bíblica aquisitiva, em que você se
apropria do texto. Colocar seus próprios títulos nos versículos, parágrafos, se
ções e livros da Bíblia é uma maneira de fazer isso. Eles o ajudam a reter suas
opiniões em pacotes organizados.
2. Enquanto visualizar seu quadro, pergunte: Quais são os relacionamentos? O
que estou tentando mostrar? Sobre o que é este quadro? Quando o terminar,
como o usarei?
3. Mantenha seus quadros simples. Você sempre poderá acrescentar detalhes; o
desafio é eliminar a desordem. Que idéias, personagens, temas, versículos, ter
mos e outros dados chaves do texto devem ter prioridade? Qual é a ideia geral?
Que estrutura precisa ser mostrada? Que material você quer ver num relance?
4. Se você achar que tem muito material para incluir num quadro, divida-o e faça
vários quadros. Aliás, muitos dados sem relação são um bom indício de que
você precisa voltar ao texto e fazer mais observações.
5. Mostrei apenas um punhado de possibilidades acima. Há dúzias de outras ma
neiras de se mostrar relacionamentos no texto. Solte sua imaginação. Desenhe
ilustrações ou símbolos, se isso ajudar. É o seu quadro, faça-o trabalhar por você.
6. Revise seus quadros à luz de seu estudo. Nenhum quadro pode resumir tudo.
Enquanto continuar a estudar a passagem, você ganhará novas percepções que
devem fazer com que você revise ou mesmo refaça seu quadro. Lembre-se, qua
dros são um meio para se chegar a um fim, não um fim em si mesmos. São úteis
na proporção em que representarem precisamente o que está contido no texto
bíblico.
Experimente
A.gora que você viu várias ilustrações de como fazer um quadro, tente construir
o seu próprio, do livro de Atos, usando as sugestões dadas neste capítulo. Para
começar, reveja o capítulo 6, onde observamos Atos 1:8. Destaquei que os quatro
lugares mencionados — Jerusalém, Judeia, Samaria e os confins da terra — formam
um perfil do livro. Se desejar, você pode usar essa observação já feita, na organiza
ção de seu material. Ou usar sua própria visão geral. Mas desenvolva um quadro
que resuma o relato de modo que o ajude a entender rapidamente o que acontece
no livro de Atos.
"Fatos
Coisas são
Irrelevantes Até que. .
Lembra-se da história de Louis Agassiz e seu método de ensinar a observar os peixes?
Ele deixou seus alunos em frente a suas espécies por dias e semanas, dando a eles uma
única instrução: "Olhem! olhem! olhem!"
Se eu pudesse dar aos estudantes das Escrituras apenas uma instrução, usaria a
mesma: "Olhem! olhem! olhem!" A verdade de Deus está na Bíblia, mas a maioria das
pessoas não a encontra principalmente porque não a procura. Nunca investem o tempo
e esforço necessários para se responder a pergunta fundamental da Observação: o que
vejo? Como resultado, não têm base para entender o que Deus revelou.
Nesta seção do livro, dei uma introdução ao processo de visão. Conforme desta-
quei, a Observação é somente o primeiro passo no método de estudo bíblico. Mas é um
passo absolutamente crítico, e infelizmente, é aquele a que a maioria das pessoas presta
pouca atenção.
Vimos que, para que se observe as Escrituras, devemos primeiramente aprender a
ler. Temos de aprender a ler melhor e mais rápido, como pela primeira vez, e como se a
Bíblia fosse uma carta de amor. Vimos também dez estratégias que podem nos ajudar a
nos tornarmos leitores da Palavra de Deus de primeira ordem.
Então aprendemos o que devemos procurar no registro bíblico. Descobrimos as seis
pistas que abrem o texto para nosso entendimento: coisas enfatizadas, repetidas, relacio
nadas, semelhantes, diferentes e coisas da vida real.
Praticamos estas habilidades em três tipos de materiais bíblicos — um versículo,
um parágrafo e uma seção. Vimos que a quantidade de detalhes que o observador pode
descobrir é infinita. E tudo isso conduz a uma maior percepção.
Finalmente, vimos o valor que os quadros têm no resumo dos frutos de nosso estu
do. Vimos que quadros são ferramentas eficientes para a visualização de dados, permitin
do que oh utilizemos para o entendimento do texto.
Agora precisamos prosseguir no processo. O professor Agassi/ treinou seus alunos
no método de descoberta de fatos e sua organização metódica, mas nunca ficou satisfeito
em parar por aí. "Fatos são coisas irrelevantes", ele diria, "até que sejam trazidos a uma
conexão com uma lei geral".
Isso nos traz ao segundo passo do método de estudo bíblico. Uma vez tendo visto
o que o texto diz, estamos prontos para a pergunta: o que significa? Assim, passemos à
segunda marcha e vejamos o segundo estágio do processo, a Interpretação.
Experimente
Segunda
Leia Gênesis 3:1-7 da perspectiva do Pai celestial testemunhando do céu o pecado
de Seus filhos.
Terça
Leia o relato com o objetivo de achar o versículo mais importante do parágrafo.
Quarta
Leia-o da perspectiva de Satanás quando tenta os filhos de Deus.
Quinta
Leia com o objetivo de determinar como esta passagem afeta seu entendimento do
que Jesus fez na cruz.
Sexta
Leia da perspectiva de Adão e Eva quando estão pecando. O que se passava em
suas mentes?
Sábado
Leia da perspectiva de alguém que não saiba nada sobre a Bíblia ou coisas "religio
sas", e que esteja lendo esta passagem pela primeira vez.
Segundo Passo
Interpretação
O que quer dizer?
capítulo 27
O Valor da
Interpretação
Certa vez ouvi um orador fazer uma excelente apresentação de uma passagem das Es
crituras. Na saída do auditório, ouvi sem querer duas pessoas conversando.
"Bem", uma delas perguntava, "o que achou?"
A outra pessoa ergueu os ombros com desdcm. "Não achei muita coisa. Ele nâo fez
coisa nenhuma a não ser explicar a Bíblia".
Nada, a não ser explicar a Bíblia? Ora, este é o maior elogio que posso imaginar.
Afinal, a tarefa primária de qualquer professor das Escrituras é explicar o que o texto quer
dizer. Você sabe, é impossível aplicar a Palavra de Deus a menos que a entendamos. Na
verdade, quanto melhor você a entende, melhor a aplica. Foi por isso que Davi orou: "Dá-
me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo o coração a cumprirei" (Salmo 119:34).
Agir de acordo com o que Deus disse indica que se entende aquilo que Ele disse.
E por isso que o segundo passo mais importante do estudo bíblico de primeira mão é a
interpretação. Aqui você procura a resposta para a pergunta: o que significa?
Atos 8 registra a história de Filipe. Filipe era um dos maiores evangelistas de sua
época. Pregou o evangelho em Samaria e a região inteira reagiu positivamente. Um dia,
porém, o Espírito de Deus disse a ele: "Dispõe-te e vai para a banda do sul, no caminho
que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto".
"O quê?" ele poderia ter argumentado. "Sou um homem metropolitano. Só faço
grandes cruzadas, não entro em negócio de evangelismo pessoal".
Mas ao invés disso, ele se dirige ao sul e, no caminho encontra um homem, um eu-
nuco etíope. Na realidade, o homem é secretário do tesouro de seu país. Eles se envolvem
numa convvmaçAo. (.) oficial vinha lendo uma pamingem das Escriturai».
Então Filipe pergunta: "Você entende o que lê?"
Imagine-se dentro de um avião, sentado perto de alguém que está lendo a revista
Veja. Você pergunta: "Ei, você entende o que está lendo?" Acho que a pessoa lhe diria
coisas que você não gostaria de ouvir.
Mas Filipe devia saber como fazer aquela pergunta, porque o homem responde:
"Bem, como poderei, se alguém nào me explicar?" (v. 31).
Guarde bem: este homem tinha uma cópia das Escrituras, mas precisava de ajuda
para entendê-la. Ele estava profundamente envolvido no processo de Interpretação. Isso
fica claro por causa da pergunta perceptiva que faz após ler a passagem: "Peço-te que me
expliques a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro?" (v. 34).
Filipe ajudou o homem a ganhar percepção naquilo que o texto queria dizer. E
depois de ter entendido, ele foi capaz de reagir em fé. O versículo 39 diz que ele foi para
casa cheio de júbilo. Assim, o passo da Interpretação ajudou literalmente a abrir a Africa
para o evangelho.
Todo livro das Escrituras tem uma mensagem, e toda mensagem pode ser entendi
da. Você não se pergunta, às vezes, se a Bíblia não é apenas um gigantesco enigma? Deus
pretendeu que Ela fosse uma revelação. Segunda Timóteo 3:16 diz: "Toda Escritura é útil"
(itálico acrescido); isto é, tem propósito e significado. Deus não está brincando de esconde-
esconde com você. Ele não o convida para ler a Sua Palavra só para lhe embaraçar e con
fundir. Ele está muito mais interessado em que você entenda do que você mesmo está.
Mas o ponto é, o que quer dizer "significado"? Permita-me dar uma ilustração.
Sou parcialmente daltônico, portanto, não consigo distinguir entre a cor verde e a azul.
Suponha que você me tenha mostrado um suéter e dito: "Professor, gosto muito deste
suéter azul". Estaríamos ambos olhando para o mesmo suéter, mas a cor que você veria
não seria a mesma cor que eu vejo.
Isso acontece o tempo todo na interpretação bíblica. Duas pessoas lêem o mesmo
versículo e surgem duas interpretações completamente diferentes. Na verdade, elas po
dem ser interpretações opostas. Mas, poderíam as duas estar corretas? Não se as leis da
lógica se aplicam às Escrituras.
Infelizmente, porém, muitas pessoas hoje decidiram que as leis da lógica não se
aplicam às Escrituras. Para elas, não importa se você vê o texto azul e eu verde. Na rea
lidade, não importa nem de que cor o texto realmente é. Para elas, o significado do texto
não está no texto, mas em suas reações ao texto. E todos são livres para ter suas próprias
reações. O significado se torna puramente subjetivo.
Por outro lado, há boas razões pelas quais cristãos podem discordar na interpre
tação de uma passagem. Voltaremos a isso no próximo capítulo. Mas, se temos de ter
qualquer esperança de interpretar precisamente n Palavra de Dvun, temos de começar
com uma premissa fundamental: "significado" nào é nosso pensamento lido no texto,
mas a verdade objetiva de Deus lida do texto. Como alguém disse, e bem, o alvo do estu
do bíblico é "pensar os pensamentos de Deus de acordo com Ele". Ele tem uma mente e
a revelou em Sua Palavra.
O milagre é que Ele usou autores humanos para o fazer. Operando através de suas
personalidades, suas circunstâncias e suas preocupações, o Espírito Santo superintendeu
a manufatura de um documento, e cada um dos autores humanos — podemos chamá-los
co-autores de Deus — teve uma mensagem específica em mente quando registrou sua
porção do texto.
E por isso que gosto de me referir ao passo da Interpretação como o processo de
recriação. Tentamos nos colocar no lugar do autor e recriar a sua experiência — pensar
como ele pensava, sentir como ele sentia e decidir como ele decidia. Perguntamos: o que
isso significava para ele? antes de perguntarmos: o que isso significa para nós?
A CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO
A questão permanece: por que temos de interpretar as Escrituras? Por que não po
demos simplesmente abrir a Palavra, ler o que temos de ler e então praticá-la? Por que
temos de passar por tantos problemas para entender o texto? A resposta é que o tempo
e d dlntAncía lançaram barrtMran entre* nó» e os escritores bíblicos, o que bloqueia nosso
entendimento. Precisamos avaliar o que são tais barricadas; elas nào sào intransponíveis,
mas substanciais. Vejamos alguns deles.
Barreiras de linguagem
Você já estudou uma língua estrangeira? Se já, sabe que aprender as palavras nào é sufi
ciente. Temos de aprender a disposição mental, a cultura, a visão de mundo daqueles que
falam a língua, se realmente quisermos entender o que estão dizendo.
Da mesma maneira, quando se trata da Bíblia, temos excelentes traduções das lín
guas hebraica, grega e aramaica, nas quais foi originalmente escrita. Mesmo assim, o
texto em português nos deixa muito longe de um entendimento completo. E por isso que
o processo de Interpretação envolve o uso de um dicionário da Bíblia e recursos seme
lhantes. Temos de voltar e recuperar as nuanças de significado que as palavras traduzidas
sozinhas não podem transmitir.
Barreiras culturais
Estas estão intimamente relacionadas com os problemas de linguagem porque linguagem
é sempre restrita à cultura. A Bíblia é o produto e a apresentação de culturas que são
dramaticamente diferentes da nossa — e também divergem entre si. Para que se aprecie
o que acontece nas Escrituras, temos de reconstruir o contexto cultural nas áreas da co
municação, transporte, comércio, agricultura, profissões, religião, percepções de tempo
e assim por diante.
É aqui onde a arqueologia se faz muito útil. Sugerirei algumas fontes de consulta
no capítulo 34.
Barreiras literárias
Outro problema com que nos deparamos na interpretação das Escrituras é a variedade de
terrenos. Se fossem todos montanhosos, desérticos ou oceanos, poderiamos nos equipar
apropriadamente e ir ao ataque. Mas os gêneros literários da Bíblia são bastante diversos
e exigem abordagens vastamente diferentes. Não podemos ler Cantares de Salomão com
a mesma lógica fria que trazemos a Romanos. Não conseguiremos captar o ponto das pa
rábolas através dos mesmos exaustivos estudos de palavras que podem revelar verdades
em Gálatas.
No capítulo 29, falarei sobre os diferentes tipos de literatura na Bíblia, com suges
tões para a interpretação de cada um.
Barreiras de comunicação
Talvez você já tenha visto o desenho "Far Side" no qual o primeiro painel mostra um
homem, dando uma bronca em seu cão, dizendo: "Ok, Ginger! Basta! Fique longe do lixo!
Entendeu, Ginger? Fique longe do lixo, ou então...!" A legenda diz: "O que as pessoas
dizem". () painel seguinte mostra n situaçAo do ponto de vista do cAo, legendado: "O que
os cAes ouvem. Blá, blá, blá, blá...!"
As vezes, sinto-me assim como professor. Pergunto-me o que meus alunos estão
ouvindo, e francamente, eles estão provavelmente se perguntando do que é que estou
falando.
E o antigo problema da comunicação. Mesmo que o próprio Deus esteja falando
através das Escrituras, devemos contender com colapsos no processo de comunicação.
Como criaturas finitas, nunca poderemos saber completamente o que se passa na mente
de outra pessoa. Como resultado disso, temos de estabelecer objetivos limitados em nossa
interpretação das Escrituras.
Mas, podemos interpretar alguma coisa? É possível interpretar a Bíblia? É claro que
sim. Mas você precisa saber que sempre irá encontrar problemas. Você nunca poderá
responder todas as perguntas — como percebeu sabiamente um maduro pregador. Ele
estava jantando em um restaurante quando o ateu local entrou, pensando em se divertir
um pouco com ele. O cético sentou-se, apontou para a Bíblia do ministro e perguntou:
"Reverendo, o senhor ainda crê nesse livro?"
"Evidentemente", respondeu o velho cavalheiro.
"O senhor quer dizer que acredita em tudo nele?"
"Em cada palavra."
"Bem", disse, "há alguma coisa que o senhor não possa explicar?"
"Oh, sim, há muitas coisas que não posso explicar", respondeu o pregador. Abriu
sua Bíblia e mostrou ao camarada todos os pontos de interrogação que havia anotado nas
margens.
Surpreso, o homem perguntou: "Bem, o que faz com todas as coisas que não sabe
explicar?"
Ele disse: "Muito simples. Faço o mesmo que faço com o peixe que estou comendo.
Como a carne e coloco todas as espinhas de lado no prato, e então deixo os tolos se en
gasgarem com elas".
Todos os dias me deparo com pessoas que ficam realmente pasmadas pelo fato de
eu e outros profissionais, professores de um seminário teológico, não podermos explicar
tudo que está na Bíblia. Assim, normalmente provoco o pensamento delas com uma per
gunta: Realmente te incomoda que eu, como pessoa finita, não consiga entender comple
tamente uma Pessoa infinita? Incomoda? Me incomodaria mais se eu conseguisse, porque
então eu não precisaria de Deus. Seria tão sábio quanto Ele.
Não se enrosque em nós por causa de problemas e perguntas irrespondíveis que
surgem em seu estudo bíblico. O milagre está em que você consiga entender todas as coi
sas essenciais que Deus quer que entenda para sua salvação eterna e para sua vida diária.
Isso nos traz ao que é realmente uma quinta barreira ao entendimento do texto
bíblico — o problema da interpretação falha. Quero advertir-lhe de alguns perigos no
próximo capítulo.
NAo Si i Grego nem Hebraico!"
'Você já se sentiu impedido de entender a Bíblia por nào conhecer as línguas nas
quais foi originalmente escrita? Você não precisa mais sentir-se assim, graças aos
muitos recursos extrabíblicos que têm sido desenvolvidos nos últimos anos. Dis
cutirei alguns deles no capítulo 34. Mas eis uma prévia daquilo que há disponível
para o ajudar a interpretar as Escrituras de maneira precisa.
Manuseie com
Cuidado!
Uma manhã de domingo eu estava em casa me recuperando de uma cirurgia, quando
dois homens apareceram, um mais velho, outro mais novo, ambos bem vestidos. "Esta
mos fazendo visitas em seu bairro hoje para falar às pessoas sobre Deus e religião", me
disseram. "Podemos entrar?"
Curioso para ver como isso terminaria, eu disse: "Claro, entrem! Eu adoraria con
versar".
Assim, começamos a conversar. Eles falavam sempre de uma mesma passagem es
pecífica, e eu dizia: "Mas isto não é o que a Bíblia diz".
"Ah, é sim", o mais jovem insistia. "É em grego". Ele não sabia que eu ensinava no
seminário.
Então perguntei: "O que grego tem a ver com isso?"
"Bem, Sr. Hendricks, aparentemente o senhor não sabe que o Novo Testamento foi
escrito em grego."
"Na verdade", respondí, "isso me fascina. Você estuda grego?"
Ele disse: "Sim, é uma parte de nosso programa de treinamento".
"Bom", respondi, e dei a ele meu Novo Testamento em grego. Daria qualquer coisa
para ter registrado em fita o que aconteceu a seguir. Ele manuseou desajeitadamente o
texto, tentando fazer com que fizesse sentido. O homem mais velho adiantou-se para
tentar salvá-lo. Finalmente, eu disse: "Esperem um momento", e li a passagem para eles,
primeiro em grego, depois em inglês e disse: "Como vêem, o texto não diz isso. E não
quer dizer isso".
O mais novo achou aquilo muito interessante, mas seu companheiro mais velho
o apressou para sair dali. (Nunca mais fui visitado por aquele grupo. Sem dúvida eles
fizeram de tudo para ficar longe de Hendricks.) Mas o que aconteceu continua a cada dia
<ln mini, <* por todo o mundo, () problema nào eutá com a Palavra dr Drus, maa com a
má interpretação do texto.
RISCOS A SE EVITAR
MA leitura do texto
Você jamais adquirirá entendimento adequado das Escrituras se não ler ou não souber
ler o texto apropriadamente. Se Jesus diz "Eu sou o caminho" (João 14:6), mas você lê:
"Eu sou um caminho", não está lendo o texto corretamente. Se Paulo escreve: "Porque
o amor do dinheiro é raiz de todos os males" (1 Timóteo 6:10), mas você o lê como: "O
dinheiro é a raiz de todo o mal", não está lendo o texto corretamente. Se o salmista clama:
"Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do teu coração" (Salmo 37:4), mas toda a
nua atenção se concentra em "Ele satisfará aos desejos do teu coração", está lendo o texto
Incorretamente.
Por isso é que eu disse, no começo deste livro, que se você quiser estudar a Palavra
de Deus, tem de aprender a ler. Não há outra maneira. A ignorância do que o texto diz é
pecado imperdoável de interpretação. Demonstra que você realmente não fez sua lição de
casa. Pulou o primeiro passo do método de estudo bíblico — a Observação.
Distorção do texto
Os dois homens que me visitaram naquela manhã de domingo eram culpados de distor
ção do texto. Estavam fazendo com que o texto dissesse aquilo que queriam, não o que
realmente dizia.
Aparentemente Pedro encontrou o mesmo problema na igreja primitiva, porque
em 2 Pedro 3:16, escreve: "há certas coisas difíceis de entender [nas cartas de Paulo]"
(Phillips). (Isso sempre me consolou muito. Se Pedro não podia entendê-las, creio que não
estou tão mal assim.) "Que os ignorantes e instáveis deturpam como também deturpam
as demais Escrituras, para a própria destruição deles."
Uma coisa é lutarmos com as dificuldades de interpretação; outra, é distorcer o signi
ficado da Palavra de Deus. Isso é sério, e é algo que Ele trará a julgamento, portanto preci
samos tomar cuidado e aprender a interpretar as Escrituras de modo preciso, prático e útil.
Contradição do texto
Contradizer o texto é pior ainda do que distorcê-lo. Equivale a chamar Deus de mentiro
so. A ilustração clássica é Satanás no jardim do Éden:
"Disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do
jardim?
Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das Arvores do jardim podemos co
mer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele nâo
comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.
Então a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis"
(Gênesis 3:1-4).
Esta é uma contradição direta da Palavra de Deus expressa (Gênesis 2:16-17). Não
se admira que Jesus tenha chamado Satanás de mentiroso e pai da mentira (João 8:44).
Satanás mentiu desde o princípio da história, e ainda mente hoje, encorajando pessoas a
contradizerem o texto bíblico.
Uma de suas estratégias favoritas é o uso das palavras de Deus para autorizar uma
crença ou prática que contrarie o caráter de Deus. Por acaso é Deus um desmancha-pra
zeres que se deleita na culpa e auto-flagelação dos seres humanos? Ou recompensa a fé e
o bom comportamento com prosperidade material? É a favor de orgias sexuais selvagens
e imoralidades semelhantes? E a favor do genocídio de negros, judeus, orientais, ameri
canos nativos, muçulmanos, dos idosos, dos que nâo nasceram ainda, dos insanos, dos
deficientes mentais, ou dos "geneticamente inferiores"? É evidente que não. Mas há pes
soas que têm usado as Escrituras para argumentar exatamente a favor desse tipo de coisa.
Subjetivismo
Muitos cristãos toleram uma forma de misticismo ao lerem a Bíblia, a qual não tolerariam
em nenhum outro reino. Violam cada princípio de razão e bom senso. Seu estudo bíblico
é totalmente subjetivo. Passeiam pelas Escrituras, esperando que um "tremor no fígado"
lhes diga se encontraram minério precioso.
Não há nada errado em se ter uma reação emocional à Palavra de Deus. Mas, como
mencionei no último capítulo, o significado do texto está no texto, não em nossa resposta
subjetiva ao texto.
No clássico de Lewis Carrol, a segunda parte de "Alice no País das Maravilhas", a
Rainha Branca envolve Alice em um instrutivo diálogo:
Temo que esta seja a condição de muitas pessoas hoje. Acham que nossa fé significa
respirar fundo, fechar os olhos e crer naquilo que, lá no fundo, sabemos ser absolutamen-
te inacreditável. O cristianismo tem sido caricaturado como a religião de homens que não
pensam.
Mas nada poderia estar mais longe da verdade. Jesus disse que o maior mandamen
to é amar o Senhor de todo seu coração, alma e mente. Quando se torna cristão, você não
põe o cérebro em ponto morto. Não enfia a cabeça num balde de água e dispara um .45
nela! Não comete suicídio intelectual.
Então permita-me uma pergunta: você ama o Senhor com toda a sua mente? No
passo da interpretação, posso assegurar-lhe de que, se quiser interpretar as Escrituras
precisa e perceptivamente, terá de usar a mente. Como disse anteriormente, a Bíblia não
entrega seu fruto ao preguiçoso — e isso inclui o intelectualmente preguiçoso. Assim,
prepare-se para exercitar alguns músculos mentais.
Relativismo
Algumas pessoas abordam as Escrituras presumindo, que a Bíblia mude de significado
de acordo com a época. O texto significava uma coisa quando foi escrito, mas hoje signi
fica algo diferente. Seu significado é relativo.
Considere a ressurreição de Jesus. Conforme Frank Morison averiguou (capítulo 8),
não há outra explicação digna de crédito para o comportamento dos discípulos de Jesus
após Sua partida além da que eles creram sinceramente em uma ressurreição corpórea.
É a respeito disso que Paulo fala em 1 Coríntios 15. Iloje porém, alguns professores têm
mudado o que Paulo quis dizer. Sim, ele está falando sobre uma ressurreição, dizem; mas
agora trata-se de uma ressurreição espiritual, uma "novidade de vida". Para eles, não
importa se Jesus realmente levantou-Se e saiu da sepultura — contanto que Ele "viva em
seu coração". Esta é uma interpretação relativista das Escrituras.
Quando chegarmos na Aplicação, veremos que uma passagem pode ter muitas im
plicações práticas. Mas pode ter apenas uma interpretação correta, um significado — de
finitivamente, o significado que teve para o escritor original. Temos que reconstruir sua
mensagem se desejarmos um entendimento preciso.
1 Lewis Carroll, Alice in Wonderland - Alice no País das Maravilhas (Philadelphia, Pennsylvania: The
John C. Winston, Company, 1923,198.
Confiança exceaalva
No estudo bíblico, bem como na vida, o orgulho antecede a queda. Quando você achar
que domina uma porção das Escrituras, estará propenso a levar um tombo. Por quê? Por
que a sabedoria envaidece (1 Coríntios 8:1). Pode fazê-lo arrogante e resistente ao ensino.
Alguns dos piores abusos de doutrina ocorrem quando alguém tem pretensões a ser a
autoridade máxima sobre o texto.
Alguns de nós temos estudado as Escrituras por toda a vida. Ainda assim, nenhum
ser humano poderá jamais dominar mais do que um livro da Bíblia, mesmo durante uma
vida inteira de estudo em tempo integral. Então não pense que, quando estudar a Bíblia
por meia hora ou quarenta e cinco minutos, sairá com as respostas definitivas.
Isto não significa que você não deva chegar a conclusões sobre o significado do
texto, ou que não possa sentir-se confiante naquilo que crê. Apenas lembre-se de que a In
terpretação nunca termina. Você jamais poderá chegar ao término de seu estudo e dizer:
"Bem, terminei, agora conheço a passagem".
O DIREITO DE DISCORDAR
A luz de todos estes perigos, é realmente possível chegar a uma interpretação pre
cisa do texto bíblico? Sim, é. Nos próximos capítulos, mostrarei como.
Mas deixe-me enfatizar um último ponto antes de nos lançarmos ao processo. Mes
mo que uma passagem bíblica tenha definitivamente uma única interpretação correta,
você sempre irá encontrar dois cristãos que discordam sobre qual determinada interpre
tação deva ser. Isso pode se tornar frustrante, mas é inevitável. Duas pessoas podem ob
servar o mesmo assalto a banco, mas no tribunal o descreverão em termos completamente
diferentes.
Diferenças de interpretação são aceitáveis, contanto que mantenhamos em mente
que o conflito não está no texto, mas em nosso entendimento limitado do texto. Deus não
fica confuso sobre o que disse, mesmo que nós fiquemos.
Precisamos também preservar o direito de discordar uns dos outros, juntamente
com a responsabilidade de sermos tão fiéis e precisos ao texto quanto pudermos. Em 2 Ti
móteo 2:15, Paulo nos encoraja, dizendo: "Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade".
Este versículo é como uma grande placa pendurada na Bíblia, dizendo: "Manuseie
com cuidado!" Este é um bom lema para o passo da Interpretação. Então, comecemos.
Quero mostrar a você como evitar armadilhas e como colher os benefícios de um enten
dimento preciso da Palavra de Deus.
O que a Bíbija Realmente diz?
Çjuase toda grande heresia começa com uma má leitura do texto bíblico. Eis algu
mas afirmações errôneas comuns, e o que a Bíblia realmente diz.
O mesmo poderia ser dito sobre a Palavra de Deus. Antes de nos lançarmos ao
estudo de um livro da Bíblia, a primeira coisa que um leitor precisa saber é o que o autor
do livro pretendia que ele fosse. Em outras palavras, que tipo de literatura ele estava es
crevendo? Que forma literária empregou?
Como vê, o gênero literário é crucial à interpretação. Suponha que eu escolha um
texto das Escrituras ao acaso: "Tomara, ó Deus, desses cabo do perverso" (Salmo 139:19);
ou, "Que pensais vós contra o Senhor? Ele mesmo vos consumirá de todo" (Naum 1:9); ou
1 C.S. Lewis, A Preface to Paradise Lost - Prefácio para o Paraíso Perdido (Londres: Oxford University
Press, 1942), 1.
"Pai AbrnAo, tem mlncrlcórdln de mim! r mando a Lázaro..." (Lucas 16:24); ou: "Depois
destiiN cousas olhei, e eis nAo somente uma porta aberta no céu..." (Apocalipse 4:1). A me
nos que você saiba de que tipos de literatura foram retirados, não é possível determinar
0 significado deles.
GÊNEROS BÍBLICOS
Neste capítulo, quero fazer uma breve introdução a seis tipos de escritas que apare
cem na Bíblia, e como elas influenciam o nosso entendimento. Observe que isto é apenas
uma introdução. Nós mal "pincelaremos" o assunto de estilo literário, que é absoluta
mente fascinante. Carreiras inteiras têm sido baseadas em aprender a fundo as especifica
ções dos vários gêneros bíblicos, isso sem mencionar seus subconjuntos.
Então, permita-me contextualizar este capítulo por meio de uma analogia. Supo
nha que este livro falasse sobre o aprendizado da leitura musical c não da leitura bíblica.
Como um aluno principiante de música, você precisaria conhecer o básico sobre as notas
v escalas, armações de clave e outros rudimentos da leitura de partituras. O objetivo seria
dar uma iniciação a você. Com algum conhecimento fundamental e habilidades (e prá
tica), você seria capaz de ler todos os tipos de composições musicais, de 23"iMary Had a
Little Lamb" passando por ’"Climb Every Mountain" até chegar a 4"Rock of Ages".
Com o progresso de sua habilidade, um mundo todo novo se revelaria a você. Na
verdade, você descobriría que há todos os tipos de música que soam muito diferentes,
Bão tocadas de forma bastante distinta, e têm efeitos diversos sobre as pessoas: sinfonias,
concertos, poemas sinfônicos, música de época, música incidental, música de câmara,
marchas, cânticos litúrgicos, hinos, folk music, blues, improvisação jazzística, country
and western, country swing, boogie woogie, reggae, hip-hop - a variedade é infinita.
Cada uma dessas classificações tem seu próprio estilo, ou "regras", se preferir cha
mar assim, às quais a música deve se conformar. É isso que o gênero é: um estilo que carac
teriza um grupo de composições. Quanto mais você entende sobre um dado gênero mu
sical, mais é capaz de apreciar a música daquele gênero. Mas observe: qualquer que seja
o gênero a que a música se conforme, ela ainda dependerá de padrões básicos de notas e
escalas, armações de clave e assim por diante. Na verdade, é difícil apreciar plenamente
um dado gênero se você não conta com o benefício de conhecer o básico.
Há uma situação semelhante no estudo da Bíblia. Este livro fornece a você algumas
informações básicas, a sua iniciação. Mas quanto mais experiência ganhar, mais você des
cobrirá que há diferentes estilos de Escrituras: todos inspirados por Deus, com certeza,
mas distintos em termos de estilo literário. Quanto mais você entende sobre determinado
2 Música estadunidense para crianças do século XIX. Melodia de execução musical muito simples.
3 Música que compõe o musical "Sound of Music". Musicalmente complexa.
4 “Rock of Ages" c um hino cristão popular de autoria do Reverendo Augustus Montague Toplady.
Foi escrito em 1763 e primeiramente publicado na The Gospel Magazine, em 1775. (Fonte: Wikipedia)
estilo, mais consegue interpreter as Escrituras.
Não corra para sair do básico em um esforço mal orientado para c hegar ao “creme"
de imediato. Estudantes da Bíblia iniciantes precisam de um método que funcione com
todo gênero antes aprenderem os passos especiais necessários para o trabalho avançado.
Não importa se você está estudando a linda poesia do Salmo 23, o argumento constru
ído de forma lógica de Romanos, a sabedoria enigmática de Eclesiastes ou as terríveis
advertências de Judas. A metodologia básica se aplica a tudo. Primeiro você observa a
passagem usando princípios básicos da observação. Depois interpreta a passagem usan
do princípios básicos de interpretação. Então, você aplica a passagem usando princípios
básicos de aplicação. Assim como na leitura musical, as habilidades avançadas de leitura
precisa das Escrituras dependem do domínio de alguns fundamentos essenciais.
Todos nós podemos ser melhores alunos da Bíblia se aprendermos mais sobre esti
los literários. Fazer isso aguçará as nossas observações, tomando-nos mais cientes do que
procurar. Isto refinará as nossas interpretações, conferindo perspectiva e insight de como
o autor bíblico escolheu comunicar. E isso fortalecerá nossas aplicações dando-nos mais
confiança de que encontramos o autor em seus próprios termos, em seu próprio mundo,
a fim de que o entendamos bem o suficiente para coletar verdades que transformarão o
nosso mundo, mesmo que muitos séculos nos separem.
Eis, então, seis dos principais gêneros literários que Deus usou para comunicar a
Sua mensagem.
Exposição
Exposição é um argumento ou explicação direta da parte principal de uma verdade obje
tiva. É uma forma de escrita que apela basicamente à mente. O argumento normalmente
tem uma estrutura rígida que vai de ponto a ponto de modo lógico.
As cartas de Paulo são exemplos destacados da forma expositiva nas Escrituras. O
livro de Romanos é uma explicação rigorosamente fundamentada do evangelho. Paulo
argumenta como um advogado que apresenta um caso diante do tribunal, fato que não
surpreende, porque sabemos que quando jovem, Paulo teve treinamento rabínico exten
sivo, inclusive artes oratórias.
Por exemplo, ele une parágrafos e capítulos com palavras de transição, ou conecti-
vas, como pois, portanto, e, e mas. Faz amplo uso da questão retórica (por exemplo, 2:17-21,
26; 3:1,3,5; 4:1,3,9), e usa sentenças longas e elaboradas (por exemplo, 1:28-32; 9:3-5). Por
outro lado, ele também emprega passagens curtas e rápidas que golpeiam a mente (por
exemplo, 7:7-25; 12:9-21).
Se você está apenas começando a estudar a Bíblia, os livros expositivos são ideais. O
significado deles encontra-se perto da superfície. Eles apelam à preferência de uma pes
soa comum pela lógica, estrutura e ordem. E seus propósitos são facilmente entendidos;
pois praticamente se esboçam sozinhos. Por outro lado, também contribuem para uma
estimulante análise em profundidade porque suas verdades são inesgotáveis.
A chave para o vnlvndimvnto dv um trabalho de exposição é prestar atenção em
nua estrutura e nos termos que emprega. Veremos um exemplo em Romanos quando
chegarmos ao capítulo 37.
Narrativa e biografia
Narrativa significa história. A Bíblia está cheia de histórias, o que é uma das razões pelas
quais é tão popular.
Por exemplo, Gênesis relata a história da criação do mundo, a história do dilúvio,
a história da torre de Babel e a história dos patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e José. Êxodo
continua a história, relatando a saída de Israel do Egito, conduzido por Moisés. Rute con
ta a história de Rute, a bisavó do rei Davi.
No Novo Testamento, os quatro evangelhos contam a história de Jesus de quatro
pontos de vista diferentes. Um deles, Lucas, continua a narrativa em Atos dos Apóstolos,
conforme já vimos. Dentre os relatos de Jesus, encontramos histórias que Ele contou a
Seus seguidores (falarei mais sobre isso em breve).
A Bíblia é densamente composta de histórias. Isso contribui para que a leitura seja
interessante, mas também para que a interpretação seja interessante. O que devemos fa
zer com as histórias da Bíblia? Como determinamos seu significado e importância?
"Não há método exceto ser muito inteligente", observou T. S. Eliot. Talvez, mas
permita-me sugerir três coisas a se prestar atenção.
Primeira, qual é o enredo? Em outras palavras, que movimento há na história? Este
pode ser físico, como no caso dos israelitas, atravessando a península do Sinai em Êxodo;
poderia ser espiritual, como no caso de Sansào em Juizes, ou Jonas no livro de Jonas; po
deria ser também relacionai, como em Rute, ou político, como em 1 e 2 Reis. A pergunta
é, que desenvolvimento há na história? O que modifica no fim do livro, e por quê?
Outra coisa a se estudar é a caracterização. Quem está no elenco de personagens?
Como são apresentados? Que papéis fazem? Que decisões tomam? Como se relacionam
entre si e com Deus? Que progresso ou regresso fazem? Eles falham? Se sim, por quê? Por
que estão na história? De que maneiras são indivíduos, e de que maneiras representativas
de outras pessoas? O que gostamos ou não gostamos neles? O que faríamos em lugar
deles?
Um terceiro elemento a se considerar é, de que maneiras a história se aplica à vida
real? Lembre-se, esta foi uma das pistas a se procurar durante a Observação, e é também
um caminho para o entendimento. As histórias das Escrituras nos mostram a vida con
forme Deus quer que a vejamos. Podemos perguntar: Que questões esta história levanta?
Com que problemas os personagens têm de lidar? Que lições aprendem, ou deixam de
aprender? Que coisas enfrentam, as quais devemos com certeza evitar? Ou como lidam
com coisas inevitáveis da vida? O que descobrem sobre Deus?
Há muito mais a se notar nas narrativas das Escrituras. Mas se você começar fa
zendo a si mesmo perguntas desse tipo, percorrerá uma longa distância em direção ao
entendimento daquilo que as histórias querem dizer.
Parábolas
Intimamente relacionadas com a narrativa estão a parábola e sua prima, a alegoria. Uma
parábola é um breve conto que ilustra um princípio moral. A maioria das parábolas nas
Escrituras vêm do ensino de Jesus. Na verdade, podemos inferir do relato de Mateus que
a parábola pode ter sido o Seu método preferido de comunicação (Mateus 13:34).
É fácil ver por quê. Parábolas são simples, memoráveis e interessantes. A maioria c
de fácil entendimento. Elas lidam com assuntos da vida diária como lavoura, pesca, via
gens, finanças e relacionamentos humanos. E parábolas normalmente têm como objetivo
causar profundo impacto. Elas remetem o ouvinte à consciência usando princípios éticos
básicos como certo e errado (o semeador e os três tipos de sementes), amor e compaixão
(o filho pródigo, o bom samaritano) e justiça e misericórdia (o Fariseu e o cobrador de
impostos).
É importante notar que as parábolas são uma forma de ficção. Mas isso de modo
algum implica que elas não transmitam verdade. Elas comunicam verdades que não po
dem ser comunicadas de outra forma. A parábola "meio" que pega de surpresa o ponto
cego das pessoas, afastando as defesas e apelando à imaginação e ao coração. Ela compele
as pessoas a enxergarem algum aspecto da vida de maneira totalmente nova. Se você de
seja ver um exemplo poderoso disso em ação, leia a parábola de Natã sobre a ovelha do
homem pobre, em 2 Samuel 12:1-10.
Poesia
A Bíblia contém algumas das mais refinadas linhas de versos já compostas. Na reali
dade, algumas se tornaram ícones em nossa cultura: "O Senhor é o meu pastor:/ nada
me faltará" (Salmo 23:1); "Deus é o nosso refúgio e fortaleza,/ socorro bem presente nas
tribulações" (Salmo 46:1); "Tudo tem o seu tempo determinado,/ e há tempo para todo
propósito debaixo do céu" (Eclesiastes 3:1); "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja
o teu nome" (Mateus 6:9).
A característica distintiva de poesia é seu apelo às emoções, bem como à imagi
nação. É por isso que os salmos são tão populares. Eles expressam os mais profundos
sentimentos, desejos, êxtase e dor do coração humano.
Mas quando estudar um verso bíblico, certifique-se de entender a dinâmica da poe
sia hebraica. Em primeiro lugar, a maioria dos salmos foram feitos para serem cantados,
e não lidos. Foram compostos para o louvor e muitos incluem notas de prefácio sobre que
tipos de instrumentos deveríam acompanhá-los. Assim, mesmo que não tenhamos mais
a música com a qual eram cantados, você ainda deve prestar atenção em como eles soam
(o que é verdade para toda poesia).
Uma das principais características da poesia hebraica é seu uso extensivo de "pa-
ralelismos". Se você der uma olhada pelos salmos, por exemplo, notará que a maioria
doa versou têm duna llnhdw, An duna linhas «e independem uma da outra para comunicar
Nignificado. Àa vezes, a segunda linha reforça o que a primeira linha diz, repetindo seu
pensamento. Por exemplo, o Salmo 103:15 diz:
Esta é uma linguagem estranha para se encontrar na Bíblia. O que acontece aqui?
A resposta é notar de quem Davi está falando — dos "perversos", pessoas que haviam
derramado sangue, falado contra Deus, tomado o Seu nome em vão (violações dos Dez
Mandamentos), e sob outros aspectos, demonstrado que odeiam o Senhor. Ao se toma
rem inimigos de Deus, tomaram-se inimigos de Davi. De maneira formal e ritualizada,
ele os denuncia com a linguagem mais forte que encontra.
Eis outras questões interpretativas a se considerar enquanto abordar a poesia da
Bíblia: Quem compôs o material? Dá para determinar por quê? Qual o tema central do
poema? Que emoções o verso transmite, e que reação produz? Que |x*rguntas faz? Quais
reponde, e quais deixa sem resposta? O que o poema diz sobre Deus? li sobre as pessoas?
Que imagens o poeta usa para acender a imaginação? Há referências a pessoas, lugares
ou eventos que você não conhece? Se sim, o que é possível descobrir sobre eles em outras
passagens das Escrituras ou através de fontes secundárias?
E Provérbios 20:3:
Os provérbios vão direto ao assunto. De todo o material bíblico, eles são talvez os
mais fáceis de se entender, embora algumas vezes os mais difíceis de se aplicar. Se você
precisar de uma "vitamina espiritual" para reanimar seu modo de vida, alimente-se de
Provérbios. Será uma festa para sua alma.
Uma palavra de cautela, entretanto: provérbios contêm princípios, não promessas.
Provérbios nos dizem: é assim que a vida funciona, basicamente. O que deixa de ser men
cionado é o qualificador: a vida nem sempre, 100% das vezes, funciona desta maneira.
Considere Provérbios 21:17 como um caso neste ponto:
A ideia é que, em geral, esbanjar tempo, energia e recursos em prazeres e vida fácil
eventualmente leva à pobreza. Pense no filho pródigo. Assim, se o objetivo é aumentar
as riquezas, um princípio geral seria: aplique-se ao trabalho honesto e tenha um estilo de
vida disciplinado.
() provérbio cwlá gfiraHtlniln que o trabalho árduo e o estilo disciplinado de vida irão
levar à riqueza? Não. A vida não funciona assim. I lá fatores demais que contribuem para
a criação da riqueza para dizer que o trabalho árduo e a disciplina, somente, sejam tudo o
que é necessário. Inúmeras pessoas no mundo trabalham muito arduamente e mantêm há
bitos pessoais impecáveis, mas mesmo assim não têm resultados, financeiramente falando.
Isso não nega o princípio do provérbio, simplesmente mostra que o objetivo do princípio é
nos apontar a direção certa, não nos carregar pelo caminho todo até o nosso destino.
Mais problemáticos são os casos que aparecem para negar o provérbio. Assim como
sabemos de trabalhadores árduos que não são ricos, também sabemos de pessoas que
passam a vida sem fazer nada a não ser comer, beber e se alegrar, e mesmo assim acon
tece de serem bastante ricas. Na verdade, algumas delas ficam ricas tendo um estilo de
vida hedonista. Isso não contradiz a verdade de Provérbios 21:17? Certamente contradiz
a advertência do autor, mas, ao fazê-lo, na verdade, estabelece, ao invés de anular, o que
o autor quer dizer. Claro, vários fatores (como o declínio moral da sociedade) podem
recompensar uma pessoa por nada buscar a não ser o prazer. Mas isso é uma aberração, e
não o curso normal das coisas. Em geral, as pessoas que vivem somente para o prazer vão
à falência. Em geral, as pessoas que brincam com fósforos eventualmente se queimam.
Consulte o excelente livro de Leland Ryken, The Literature of the Bible (Grand Rapids: Zonder-
van) para mais auxílio nos tipos de literatura da Bíblia.
CINCO CHAVES PARA A
INTERPRETAÇÃO
Conteúdo
Contexto
Comparação
Cultura
Consulta
Conteúdo
ÇJuando o salmista orou a Deus: "Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo
o coração a cumprirei" (Salmo 119:34), ele estava batendo à porta da interpretação. Ele
sabia que, sem entendimento do significado do texto, não poderia haver aplicação da
Palavra em sua vida. Por outro lado, uma vez que o Espírito abrisse a porta da percepção,
ele estaria preparado para agir de acordo com o que Deus havia dito.
E você? Qual o seu alvo ao abrir as Escrituras? Mudança de vida? Se é, então pre-
pare-se para a ação, porque Deus sempre abre a porta àquele que bate com essa intenção.
Neste capítulo, quero falar sobre as cinco chaves que o ajudarão a abrir o texto bíbli
co, cinco princípios básicos de Interpretação. A primeira chave você já tem:
CONTEÚDO
Experimente
Neste capítulo, vimos a primeira das cinco chaves da interpretação, o conteúdo.
Quero que você comece um estudo interpretativo que irá prosseguir pelos próxi
mos cinco capítulos. A seção que quero que considere é Daniel 1-2, uma das passa
gens mais instrutivas para o crente de hoje, especialmente para o que trabalha no
mercado.
Comece observando o conteúdo de Daniel 1-2. Use todas as ferramentas dis
cutidas anteriormente no livro. Lembre-se de que seu trabalho neste estágio é de
terminante para o que você irá interpretar mais tarde. Suas observações formarão a
base de informações a partir da qual você construirá o significado do texto.
Neste primeiro contato com Daniel 1-2, invista o máximo de tempo que puder
respondendo as perguntas da leitura seletiva: Quem? O que? Onde? Quando? Por
quê? E qual a razão?
Contexto
Há uma canção de ritmo "spiritual" que diz:
O osso do joelho está ligado ao da coxa,
O da coxa está ligado ao do quadril,
O do quadril está ligado ao da cauda,
Agora ouça a palavra do Senhor!
CONTEXTO
O que quer dizer contexto? O contexto se refere ao que vem antes e ao que vem
depois de algo.
Suponho que qualquer pessoa que tenha tido de enfrentar a imprensa aprecie a
importância do contexto. Quando fui capelão do "Dallas Cowboys", visitei o local antigo
onde treinavam em Thousand Oaks, Califórnia. O zagueiro Roger Staubach havia con
cordado em ser entrevistado pela Sports Illustrated e eu fiquei na sala com ele durante a
sessão.
Ouvi cada palavra que Roger disse, mas quando li o artigo na publicação do mês
seguinte, não pude acreditar. Várias de suas declarações tinham sido arrancadas de seu
contexto e foram apresentadas de maneira que o significado original foi totalmente dis
torcido, fazendo parecer que Roger tivesse dito coisas que na verdade nunca disse.
A mesma coisa pode ser feita com a Palavra de Deus. Na verdade, todas as prin-
clpnlí» McItdM nAo (ormnclfln <1 purtir do umn vIolaçAo do princípio do contexto. Mencionei
on doiw homens que vieram me averiguar com sua persuasão religiosa (capitulo 31). Eles
estavam distorcendo o texto das Escrituras. Porém, uma boa parte desse tipo de erro
doutrinário poderia ser corrigida simplesmente pela pergunta: "Por favor, poderia ler os
versículos anteriores ou posteriores?"
Gostaria que tivesse sabido disso quando era menino. Eu costumava fazer visitas
na casa de uma garotinha com quem adorava brincar por se assustar muito facilmente.
(Meninos vibram ao assustar meninas.) Sua casa tinha um antigo salão, onde as cortinas
estavam sempre fechadas. A família raramente o usava, e eu gostava de me esconder ali,
especialmente atrás do sofá, enquanto ela me procurava. Quando finalmente entrava lá,
eu pulava e gritava: "Buuu!" e ela varava o teto de susto.
Mas enquanto estava escondido no salão, eu ocasionalmente esticava o pescoço
para dar uma olhada em volta. Lá na parede havia um cartaz com os dizeres: "Desenvol
vei a vossa salvação com temor e tremor". Eu tinha uma vaga impressão de que aquilo era
uma citação da Bíblia, mas morria de medo. Eu pensava: Se isso é verdade, não há esperança
para mint. Nunca conseguirei a salvação.
Eu estava certo em pensar que a frase vinha da Bíblia, é a última parte de Filipen-
ses 2:12; mas estava incorreto em meu entendimento de que a salvação seja basicamente
por obras. Infelizmente, muitas pessoas leem esse versículo da maneira como eu o li e
chegam à mesma conclusão errônea. Somente anos mais tarde, foi que vim a descobrir o
que o versículo seguinte diz: "Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade" (v. 13). Isso coloca no versículo 12 uma iluminação
totalmente diferente.
Semelhantemente, lembra-se de nossa observação de Atos 1:8? Passamos rapida
mente por um parágrafo no versículo 8, e porque o versículo começa com "mas", um
contraste, fomos obrigados a voltar ao contexto precedente. Então encontramos os discí
pulos, perguntando a Jesus sobre o reino. O versículo 8 tornou-se parte de Sua resposta.
Mas também descobrimos que imediatamente após o versículo 8 acontece a ascen
são. E isso causando profundo efeito ao versículo 8. O que Jesus disse ali tomou-se as
últimas palavras de Sua vida e, é claro, últimas palavras são palavras que permanecem.
Assim, dado o contexto, Seus ouvintes nunca haveríam de esquecer o que aconteceu e o
que Jesus disse. Suas palavras devem tê-los galvanizado na ação.
Assim, quando estudar um versículo, parágrafo, seção, ou até um livro inteiro —
consulte sempre os vizinhos daquele versículo, parágrafo, seção, ou livro. Quando se
perder, suba numa árvore contextual e ganhe visão.
Contexto histórico
Em outras palavras, quando o fato está acontecendo? Onde na história a passagem se
encaixa? O que está acontecendo no mundo na mesma época? Quais são as influências
sociais, políticas e tecnológicas sobre o autor e sobre aqueles para quem escreve?
Contexto cultural
A cultura tem poderosa influência sobre todas as formas de comunicação, e as culturas
nos tempos bíblicos tiveram profundo efeito na criação da Bíblia. Assim, quanto mais
você souber sobre culturas antigas, mais visão terá do texto. Porque isso é muito impor
tante, voltarei a falar sobre o assunto, bem como sobre a questão do contexto histórico,
no capítulo 33.
Contexto geográfico
Geografia é um assunto fascinante incrivelmente relevante à interpretação das Escrituras.
Por exemplo, em Marcos 4 vimos o milagre da tempestade acalmada. Destaquei as
características geográficas da região ao redor do Mar da Galileia que ocasionam tempes
tades como aquela. Saber disso presta tremenda relevância e realismo ao relato de Marcos
e ainda provê uma pista de quão violenta a tempestade deve ter sido; tendo aterrorizado
os pescadores que, durante toda uma vida, haviam visto tempestades naquele lago.
A investigação do contexto geográfico responde perguntas como: Como era o ter
reno? Que características topográficas faziam a região especial? Como era o clima? Qual
a distância entre essa cidade e os lugares mencionados no texto? Quais eram as rotas de
transporte para o povo? Qual o tamanho da cidade? Como era a planta da cidade? Por
que tipo de coisa o local era conhecido?
No capítulo 34 mencionarei alguns recursos, como atlas, que você pode consultar
quando verificar o contexto geográfico.
Contexto teológico
A questão aqui é, o que este autor sabia sobre Deus? Qual o relacionamento de seus
leitores com Deus? Como o povo O adorou na época? A que partes das Escrituras o escri
tor e sua audiência têm acesso? Que outras religiões e visões de mundo competem com
influência?
O problema central aqui é, onde a passagem se encaixa na expansão das Escrituras?
Você Mbc, a Bíblia nAo caio do càu como obra completa. Mllharc» de anos foram neees-
nArlos para formá-la. Durante cnnc tempo, Deus revelou mais e mais da Sua mensagem
aos autores.
Você já fez um "jantar progressivo" (muito popular nos Estados Unidos — nota
da tradulora) com um grupo de amigos? Você vai à casa de alguém para os aperitivos,
vai a outra casa para a salada, a outro lugar para o prato principal, e vai fazendo todo o
percurso at£ que tenha tido uma refeição completa. Bem, foi por este tipo de processo que
»1 Bíblia passou, mas o chamamos "revelação progressiva". Deus foi revelando vagarosa
mente, através dos anos, a verdade de Sua Palavra.
Por isso, é importante localizar a passagem no fluxo das Escrituras. Se você estiver
estudando Noé, em Gênesis, estará antes dos Dez Mandamentos, antes do Sermão da
Montanha e antes de João 3:16. Na verdade, Noé não tinha nenhum fragmento de texto
bíblico para consultar. O que isso lhe diz quando lê que "Noé achou graça diante do
Senhor" (Gênesis 6:8)?
Um dos úteis recursos que você vai querer utilizar quando investigar o contexto
teológico é o comentário. Direi mais sobre eles no capítulo 34.
Experimente
Comparação
Todos nós já ouvimos falar da Reforma Protestante. Um dos clamores do grupo era sola
scriptura — somente as Escrituras são autoridade final de fé e prática. Isso levou a um
desenvolvimento crucial na história do cristianismo, o direito à interpretação particular.
A Reforma, juntamente com a Bíblia de Gutenberg, levou as Escrituras de volta às mãos
de leigos. Entretanto, como afirma tão perceptivamente R. C. Sproul,
Como você pode evitar a distorção da mensagem de Deus? Já vimos duas chaves
que nos ajudam a abrir a porta do entendimento preciso — conteúdo e contexto. Agora
chegamos à terceira chave, que é talvez o melhor seguro contra a distorção:
COMPARAÇÃO
Nesta fase nós comparamos Escrituras com Escrituras. E isto nos provê uma grande
rede de segurança, porque o maior intérprete das Escrituras são as próprias Escrituras.
Donald Grey Bamhouse costumava afirmar claramente: "Muito raramente se tem
de sair da Bíblia para explicar algo que está na Bíblia". Tal afirmação nos instrui muito,
tendo partido de um indivíduo incrivelmente culto e que sabia como usar uma ampla
variedade de fontes secundárias. Ele entendia, contudo, a prioridade da Palavra de Deus.
R. C. Sproul, Knowing Scripture (Downers Grove, III.: InterVarsity, 1977), pp. 35-36.
líle linha coniidênda de qur quanto main m» compara liner! tu ran com Eacrltura», mais se
evidencia o .significado da Bíblia. Am parlei» adquirem significado à luz do todo.
Lembre-se, embora tenhamos por volta de quarenta diferentes autores humanos,
os sessenta e seis livros sAo definitivamente o resultado de um Autor primário, o Espírito
Santo, que coordenou a mensagem toda. Seu Livro é integrado. E unido.
"Crer”
A palavra crer é um dos mais determinantes termos na Bíblia. Mas é usada de variadas
maneiras. Se você a procurar em uma concordância, descobrirá que é cspecialmente pro
eminente no evangelho de João (veja pág. 241). Por exemplo, em João 2:23, lemos:
Como vê, eles "creram" superficialmente, com base nos milagres. Era óbvio que Ele
os tinha feito; os fatos eram conhecidos por todos. Mas fatos não salvam. Eles são a base
essencial para a salvação, mas é preciso crer, isto é, abraçar a verdade, usar os fatos numa
base pessoal.
Ilustrarei como João usa crer aqui. Suponha que você se aproxime de mim e diga:
"Professor, detesto dizê-lo, mas estou sofrendo de uma doença terminal".
Conversamos então sobre o assunto durante algum tempo, e depois de saber mais
sobre sua situação, digo: "Ei, tenho novidades fantásticas. Tenho um amigo médico em
Houston que acabou de descobrir uma cura comprovada para sua doença. Se você for
vê-lo, garanto que será totalmente curado".
Você diz: "Que maravilha!"
"Você ciê nisso?" Pergunto.
"Oh, claro."
Então estendo a mão para apertar a sua e digo: "Está curado".
Naturalmente, você me acharia um maluco. Nenhuma informação a respeito do
módico cm Houston, que tem n soluçAo para sua doença, fará alguma coisa para trazer a
cura para seu corpo. Você tem de ir até lá, tem de se submeter a seu tratamento, tem de se
beneficiar do medicamento que ele prescrever.
Esta é a conexão entre os fatos e a fé no evangelho de João. Jesus sabe disso, e é por
isso que João diz no versículo 24: "os conhecia a todos". Na verdade, João continua nos
capítulos 3 e 4, mencionando três interessantes exibições da onisciência do Senhor a res
peito do que há dentro do homem: "Nicodemos (3:1-21); a mulher na fonte em Samaria
(4:1-42); e o oficial do rei (4:46-54).
“Aperfeiçoamento”
A segunda ilustração do estudo bíblico comparativo vem de Efésios, que é um livro fas
cinante que nos diz como viver uma vida celestial em um mundo tão infernal. Quando
você ler o livro, irá deparar-se com dois notáveis versículos:
E Ele mesmo [o Cristo ressurreto, vv. 7-10] concedeu uns para apóstolos, ou
tros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres,
com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço,
para a edificação do corpo de Cristo." (4:11-12, itálico acrescido)
Moisés
O estudo comparativo vai além do estudo de termos. Suponhamos que você queira estu
dar um personagem das Escrituras. Eu recomendo altamente que o faça; o estudo biográ
fico é indescritivelmente fascinante. Digamos que você seja cativado pela vida de Moisés.
Sugiro que pegue uma concordância e o procure lá.
A primeira coisa que se faz óbvia é que a parte principal da história de sua vida pode
ser encontrada em Êxodo. Isso significa que você precisará fazer um estudo concentrado
do livro de Êxodo para descobrir como Moisés começou. Estude seus notáveis pais, que o
esconderam do rei, para que ele se tornasse definitivamente o líder aprimorado de Israel.
Você descobrirá também, através da concordância, que há informações sobre Moi
sés em Atos 7. Na verdade, você encontrará lá materiais que fornecem muita visão sobre
este homem, editado pelo Espírito. Assim, qualquer pessoa que queira estudar Moisés e
não leia Atos 7 estará realmente perdendo algo importante.
Pode-se encontrar Moisés também em Hebreus 11. Na verdade, ele ocupa mais es
paço na "galeria da fama" de Deus do que qualquer outro personagem. Sua vida foi des
crita da perspectiva de Deus nessa passagem. O que Deus pensa dele? O que considera
significativo em sua vida.
Falarei mais sobre concordâncias nos capítulos 34 e 35. Mas quando estudar a Pala
vra de Deus, use a chave da comparação. Continue ajuntando as partes de modo que você
adquira um entendimento global completo das Escrituras.
Experimente
Neste momento, você já deve ter verificado o conteúdo e o contexto de Daniel 1-2.
Está começando a ter uma idéia do que se passa na história? Que perguntas você
tem como resultado de seu estudo?
Talvez você responda algumas delas, fazendo uma pequena comparação do
texto com outras porções das Escrituras. Usando uma concordância, procure os
quatro itens que se seguem abaixo. Cada um deles é crucial para o entendimento
da passagem. Veja o quanto pode aprender sobre eles lendo outras partes das Es
crituras.
* Daniel * Babilônia
* Nabucodonosor * sonhos
A Vaca
Encontrei por acaso um tocante ensaio de uma aluna de dez anos de idade, o quai
continha algumas observações corretas, mas interpretação incorreta e também algu
mas interpretações corretas, com observação incorreta. Eis o que a criança escreveu:
Como pode notar, é preciso que sejamos muito precisos na maneira de agir neste
processo de interpretação. Devemos nos certificar de que nossas observações são
exatas para que tenhamos base para uma interpretação correta.
Cultura
Certa vez, fui hóspede de um homem que morava em São Francisco. Ele era importador
de uma finíssima renda oriental. Uma noite, quando estávamos satndo de sua casa, uma
mesinha de canto no vestíbulo perto da porta da frente chamou minha atenção. O que me
atraiu não foi a mesa, mas um pedaço de renda sobre ela.
Disse: "Puxa, que lindo!"
Meu anfitrião fez careta e gritou: "Isso é um lixo, vivo dizendo para minha esposa
tirar essa coisa daí".
Surpreso, perguntei: "Como você consegue distinguir a renda boa da ruim?"
Ele piscou para mim e disse: "Quando voltarmos eu lhe mostro".
Pode acreditar, não esqueci. Assim, quando voltamos, ele me levou a uma sala onde
havia uma grande mesa preta com uma forte luz sobre ela. Ele jogou um bom pedaço de
renda oriental sobre a mesa e prosseguiu, ensinando-me como distinguir renda fina de
material ruim. No processo, ele comentou: "Você nunca irá entender o requinte da boa
renda, a menos que a observe contra um fundo escuro com uma luz forte sobre ela".
Mais tarde pensei: Esta é uma pista para o estudo bíblico. Você tem de observá-la contra
o fundo certo, com a luz certa acesa sobre ela, para captar seu significado. No capítulo 31
vimos a importância do contexto em termos do texto das Escrituras — prestando atenção
no que vem antes e depois da passagem que se está estudando. Da mesma maneira, você
tem de prestar atenção no contexto cultural e histórico - nos fatores que levam à escrita
da passagem, as influências que tiveram sobre o texto e o que acontece como resultado
da mensagem. Esta é a quarta chave para se produzir uma interpretação precisa das Es
crituras:
CULTURA
Permita-me uma ilustração, com vários exemplos, daquilo que quero dizer com
contexto cultural.
Rute
O livro de Rute, no Antigo Testamento, por exemplo, é uma bela história de amor e cora
gem. Mas a maioria das pessoas não anotam o fato de que ela acontece durante o período
de Juizes, Idade das Trevas em Israel. É porque não observam Juizes 21:25, que forma o
contexto de Rute 1:1. Isso demonstra que a nação estava atolada num esgoto de iniquida
de. Era uma época da cultura, quando não se conseguia fazer diferença entre o perfume
Chanel nv 5 e o Gás de Esgoto nc 9. Lendo o relato, pergunta-se, existia alguém fiel a Deus
naquele período?
A resposta? Verifique no livro de Rute. Ele é um raio de luz no meio de um período
de trevas. É um lírio resplendente em um lago pútrido. Eis uma preciosa família, fiel a
Jeová, mesmo em meio à apostasia.
Ainda assim, por causa de alguns eventos na história, tenho ouvido pessoas faze
rem comentários maliciosos sobre ela. Um rapaz me disse com riso contido: "Ei, este livro
é meio picante, não é? Um pouco sexy."
Pensei: Meu antigo, este é uni comentário que diz mais respeito a você mesnto do que ao
livro de Rute.
Está vendo, aquele camarada estava se traindo. Estava me mostrando que não sabia
diferenciar o começo do fim, quanto ao que se refere à cultura da qual Rute é parte. Quan
do se volta no tempo para estudar os costumes envolvidos, descobre-se que, no contexto,
eles são do mais alto padrão moral. Nada há de vulgar neles. Este não é um romance bara
to, é a mais alta forma de literatura, tanto em termos de conteúdo quanto em moralidade.
Mas aqui, como em outros lugares, lemos a Bíblia de acordo com nossa própria cul
tura, através de um par de óculos que distorce o contexto. Não é de se admirar que não
consigamos fazer com que a passagem faça sentido.
A Última Ceia
Uma ilustração clássica desta tendência é a obra prima de Leonardo da Vinci, A Última
Ceia (veja página 201), que é sem dúvida, uma incrível obra de arte. Mas esta não seria
a obra indicada para se saber como a Última Ceia realmente foi. Ela nos traz uma figura
bastante distorcida do cenário — na realidade, uma interpretação do século XV da ceia.
Em primeiro lugar, Leonardo da Vinci coloca Jesus e Seus discípulos sentados à
mesa. As pessoas não se sentavam à mesa para comer nos tempos de Cristo; reclinavam.
Deitavam sobre uma mobília parecida com um sofá, apoiando-se sobre um dos cotovelos,
o que deixava a outra mão livre para comer. Isso é importante, porque lembra-se que Pe
dro perguntou a João: "Pergunta a quem ele se refere quando Jesus disse que um de nós
vai O trair" (João 13:24)? Os outros discípulos não ouviram Pedro. Por quê? Porque ele
podia ir para trás, João podia vir para frente, e os dois podiam se comunicar.
O pintor também os mostra todos sentados de um mesmo lado da mesa, como
numa mesa de orador. É um cuidadoso arranjo, como se alguém tivesse dito: "Ei, gente,
vamos nos juntar de um lado da mesa e tirar uma foto da companhia. Uma última foto
antes que o Senhor se vá". Mas, evidentemente, ao ler o relato, percebemos que aquela
não era a colocação dos discípulos.
Outra interessante característica de A Última Ceia é que Leonardo da Vinci pintou
um friso na parede de fundo, o que obviamente reflete a época dele, não o primeiro sé
culo. E se você observar cuidadosamente, irá notar que na pintura de Leonardo da Vinci,
é dia lá fora. Mas, de acordo com o relato bíblico, a verdadeira Última Ceia aconteceu à
noite, e provavelmente bem tarde.
Agora, não me entenda mal. Como pintura, A Última Ceia tem grande valor. A in
felicidade é que, olhando para uma linda peça de arte, as pessoas frequentemente obtêm
uma interpretação bastante falha de uma passagem das Escrituras. (Na verdade, se sou
bessem como observar arte, ganhariam mais visão sobre a situação. Esta é uma das mar
cas da boa arte.) A precisão exige que se volte ao período e à cultura para que se descubra
o que realmente estava acontecendo. A menos que você entenda o contexto original da
Última Ceia, não poderá apreciar totalmente a obra de arte de Leonardo da Vinci.
Salmo 24
Eis uma outra ilustração. Quando era pequeno, em Filadélfia, a escola permitia que lés
semos a Bíblia — mas somente cinco dos salmos. O salmo 24 era um deles. Ainda me
lembro das palavras:
Quando ouvia este salmo, pensava: Mas do que é que se está falando? Não fazia senti
do para mim. (E por isso que eles não se importavam que léssemos este salmo; ninguém
tinha a menor idéia do significado deles.)
Porém, anos mais tarde, eu estava estudando a vida de Davi e consultei um mapa
da Palestina. A história diz que antes que se tornasse rei, quando queria ir do sul do país
para o norte, ele tinha de passar por uma cidade chamada Jebus. Jebus era uma antiga
fortaleza — um ponto de reunião dos dias de Josué, quando os israelitas nunca tomaram
a Terra Prometida, como Deus havia comandado.
Assim, quando Davi passava por Jebus, os defensores da cidade apareciam no
muro e zombavam dele. "Ei, Davi", gritavam, "quando se tomar rei, não tente tomar este
lugar. Colocaremos aleijados no portão e cegos nas torres de vigia. Mas você ainda assim
não nos conquistará".
Quando Davi se tomou rei, ele não se esqueceu dessas palavras. Disse a seus guer
reiros: "A primeira coisas que faremos é limpar Jebus".
E é disso que o Salmo 24 fala. Davi derrotou Jebus e fez dela a capital (a que conhe
cemos como Jerusalém, 2 Samuel 5:3-10). Um de seus primeiros atos como rei era trazer
a Arca da Aliança a Jebus. O Salmo 24 é o hino processional que ele e o povo cantaram
enquanto traziam a arca para a cidade: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças! Derrubem
as paredes! Alarguem as brechas!"
E as paredes, como se partilhando da antiga antipatia de seus defensores, pergun
tam: "Quem é o rei que exige que alarguemos os portões?"
A resposta vem: "O Senhor dos exércitos. Ele é o Rei da Glória".
Como vimos, uma vez que se entenda o fundo histórico, o Salmo 24 repentinamente
toma vida.
1 Coríntios 8
Uma última ilustração vem de 1 Coríntios 8, onde Paulo discute o problema de comer
carne oferecida a ídolos — não exatamente um dos problemas críticos que enfrentamos
hoje. Mas quando saí do seminário, acho que sabia mais sobre Corinto e sobre comer
carne oferecida a ídolos do que qualquer outro ser humano. Hoje, após quarenta anos de
ensino, ainda estou a procura de alguém que tenha este problema. Se um dia o encontrar,
acredite, ficarei bem pronto para resolver seu problema.
Isso faz 1 Coríntios 8 irrelevante para os dias de hoje? Sim, se você não fizer ideia do
contexto cultural envolvido. Note o versículo 1: "No que se refere às cousas sacrificadas
a ídolo*, reconheccmo* <|uo Indo* aomon wnhores do uber". Novamente, no vendculo 4,
civ cNcrvvv: "No tocante à comida nacrl ficada a ídolos, sabemos que o ídolo de si mesmo
nada é no mundo".
Mas o versículo 7 declara: "Nào há esse conhecimento em todos". Então Paulo ad
verte que tem-se de tomar muito cuidado nessa questão. Por quê? É aqui que o contexto
cultural entra em ação. Um pouquinho de pesquisa revela que a melhor carne da cidade
era reservada para oferecimento aos ídolos. E não surpreende o fato de os melhores mer
cados e restaurantes de carne serem localizados bem próximos ao templo. Assim, se você
quisesse levar alguém para um churrasco, o levaria lá.
Suponha porém, que a pessoa fosse recém-convertida, e que tivesse vindo de um
contexto pagão de sacrifícios c de alimentação com carnes sacrificadas a ídolos. E agora
você estava pedindo a ela que comesse a mesma carne — fazendo-a com efeito, voltar aos
dias em que não era cristã. Como ela se sentiría?
Paulo diz claramente que "sabemos que o ídolo de si mesmo nada é", isto é, que
ídolos não têm poder real; são falsos deuses. Mas esta não é a questão. A questão é fazer o
que é melhor para um irmão ou irmã em Cristo. Até práticas inofensivas podem ser uma
fonte de ofensa para um irmão mais fraco que ainda tenha uma consciência deseducada.
Dada a perspectiva cultural, 1 Coríntios 8 tem algo a nos dizer hoje? Bem, há áreas
indefinidas na vida moderna? Há assuntos de consciência que alguns cristãos praticam
livremente, enquanto outros são ofendidos? Deixarei que você mesmo responda. Mas, se
quiser meu conselho, 1 Coríntios 8 deve constar em sua lista de leitura obrigatória.
Quando estudar esta, ou qualquer outra porção da Palavra de Deus, certifique-se
em verificar o pano de fundo. Recrie a cultura, porque assim, e só assim, o texto passará
a ter vida.
Experimente
^Zoniu está indo seu estudo de Daniel 1-2? Aprendeu alguma coisa útil sobre O
pano de fundo em seu estudo com concordância de Daniel, Nabucosonosor, Babi
lônia e sonhos?
Agora você está pronto para fazer uso de outros recursos além do texto bíbli
co, como dicionários e manuais da Bíblia. Pode ser que você tenha de verificar se os
encontra na biblioteca de sua igreja ou comunidade. Vários deles constam na lista,
no final deste livro, em "Recursos Adicionais".
Usando qualquer dessas ferramentas, procure os quatro itens que já estudou
dentro do texto bíblico — Daniel, Nabucodonosor, Babilônia e sonhos. Veja que
outras informações encontradas podem trazer luz a Daniel 1-2.
Consulta
Tenho um bom amigo que é carpinteiro. Ele é, na verdade, um artesão, incrivelmente
dotado para trabalhar com madeira. Gosto de brincar com ele quando vem à minha casa,
porque sempre traz uma porção de ferramentas.
Um dia, quando estava brincando com ele, ele reagiu: "Bem, você sabe professor,
quanto mais ferramentas se tem, melhor carpinteiro se poderá ser".
A mesma coisa acontece no estudo bíblico. Pode-se descobrir muito apenas com
seus próprios olhos e o texto em português. Mas pode-se ir muito além se você acrescen
tar ferramentas ao processo. É por isso que a quinta e última chave para a interpretação é:
CONSULTA
A consulta envolve o uso de recursos secundários Eles podem trazer luz ao texto.
Isso o ajudará a entender melhor o sentido daquilo que está lendo.
Como vê, nosso desejo nunca é nos tomarmos arrogantes no processo de estudo,
pensando que temos todas as respostas, que o Espírito Santo fala conosco, e nunca falou
a mais ninguém. A verdade da questão é que milhares de pessoas trilharam o mesmo
caminho antes de nós. Algumas delas deixaram para trás ajudas valiosas. São como es-
caladores de montanhas, que deixam seus ganchos cunhados na pedra, para que outros
possam subir após eles. Usando fontes secundárias, você pode avançar usando as contri
buições dos outros.
Mas uma palavra de cautela: nunca se esqueça da ordem. Primeiro vem o texto das
Escrituras; então as fontes secundárias. Ir para as fontes secundárias sem nem mesmo
consultar o texto deixa pouco espaço para a Palavra de Deus. É por isso que a primeira
coisa que você precisa, antes de obter qualquer recurso mencionado abaixo, é de uma
boa Bíblia de estudo (veja "Como Escolher uma Bíblia", páginas 32-33). Comece por ela.
Depois, enquanto for prosseguindo, poderá acrescentar mais livros à sua biblioteca.
I lá cinco íerramenlrt» ftprdaliiwnto útd* que quero descrever. Muitas outras po
deríam ser mencionada*. Mas estas cinco servirão para o início da construção de uma
valiosa caixa de ferramentas para você usar no trabalho de interpretação.
Dicionários bíblicos
Fico impressionado com o número de pessoas que usam o dicionário para procurar pa
lavras de um livro ou artigo de revista, mas nunca sonham em consultar um dicionário
bíblico quando se deparam com uma palavra estranha na Bíblia. Os dicionários bíblicos
contêm muita informação útil sobre os assuntos do texto. E há dicionários excelentes no
mercado.
Nos últimos anos, muita luz tem sido lançada aos estudos bíblicos, particularmente
como resultado de descobertas arqueológicas. Na verdade, sabemos mais sobre a Bíblia
agora do que em toda história da interpretação. Boa parte dessa sabedoria está disponível
a você nos dicionários bíblicos.
Um cIAmmIco é o Dicionário da Riblia por John D. Davi* (Juvrp). Graça* «t rlc, você não
tem de saber grego para estudar o Novo Testamento, porque ele provê o pano de fundo
das palavras; o que significam, como eram usadas e todas as suas variações.
Outro trabalho mais recente, que uso extensivamente, é o Novo Dicionário da Riblia,
em dois volumes, editado por J. D. Douglas (Edições Vida Nova). Este está abarrotado de
material útil. Suponha que encontre o termo "Babilônia", e não saiba nada sobre a Babilô-
nia. Procuro a palavra e encontro todo tipo de informação. O livro tem até uma ilustração
de um "ziggurat", que era um centro de adoração. Tem também um mapa de ruas, que
mostra como a cidade era. Esse tipo de informação se torna tremendamente valioso na
interpretação de passagens como Gênesis 11 (a Torre de Babel), e livros como Neemias,
Daniel e Apocalipse.
Suponha agora, que eu leia o termo "Arca da Aliança". O que era isso? Consultan
do o dicionário bíblico, aprendo que era uma caixa usada na adoração hebraica, em um
lugar chamado Santo dos Santos. Há muito mais que isso na história. Mas o termo "arca"
é também usado para a arca de Noé, a embarcação que abrigou Noé e sua família e todos
os animais durante o dilúvio. Mesmo assim, tenho visto pessoas olharem para a figura
da caixa — a Arca da Aliança — e dizerem: "De jeito nenhum, todos aqueles animais não
caberíam nessa coisa". Mas se procurassem a palavra, saberíam que existiam dois tipos
diferentes de arcas.
Manuais bíblicos
Um recurso relacionado com o dicionário da Bíblia é o manual bíblico, que é um tipo de
enciclopédia em um só volume.
Uso frequentemente o Manual Bíblico, de Henry Halley (Edições Vida Nova). É mui
to bem feito, contém fotografias e engloba mais de trezentos importantes eventos bíblicos.
Menciona livro por livro de toda a Bíblia, provendo todos os tipos de material de pano
de fundo.
Por exemplo, talvez você queira saber algo sobre moedas e dinheiro. O texto bíblico
menciona a dracma c o denário. O que eram essas unidades de troca? Você pode procurar
pelas palavras e descobrir seus equivalentes modernos.
Talvez você queira saber sobre vestuário e calçados. O que os personagens bíblicos
usavam? Como eram suas roupas? De que eram feitas? Você pode consultar o Manual de
Tempos e Costumes Bíblicos (Betânia) ou o Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos (Editora Vida).
Também pode consultar a Enciclopédia Ilustrada da Bíblia (Edições Paulinas) e descobrir.
E a comida? Há muitas passagens nas quais a comida é mencionada, mas esse era
algo totalmente diferente do alimento que temos hoje. Você pode encontrar uma seção
toda sobre comida e bebida, alimentos e seu preparo.
Após consultar um recurso como este e obter o pano de fundo, você começa a des
cobrir todos os tipos de conceitos que o eludiam antes. Este tipo de detalhe faz com que
a Palavra de Deus tome vida.
Atlas
Geografia é uma dan ciência* mala úívín ao estudo bíblico. Mesmo assim a maioria das
pessoas ignora completamentv o significado do lugar do relato. Por exemplo, as cidades
que Paulo visitou — Antioquia, Corinto, Éfeso e Roma — sào, para a maioria dos leitores,
apenas pequenos pontos colocados na página. Mas esses eram importantes centros urba
nos com populações de centenas de milhares, tão cosmopolitanos e sofisticados quanto
algumas cidades de nosso país hoje.
Falei recentemente com um professor de uma escola americana de alta categoria.
"O que você ensina?" Perguntei.
"Literatura inglesa."
"Fantástico", disse, "Como está indo?"
Ele disse: "É a pior tarefa que já tive".
"Porquê?"
"Porque meus alunos nào sabem nada sobre a Bíblia", ele explicou. "Como é que
_e pode estudar literatura inglesa sem que se tenha uma base de conhecimento da Bíblia
inglesa?"
Esta é uma boa pergunta. Numa geração anterior, isso era considerado conheci
mento básico. Hoje, nào o possuímos, e é por isso que precisamos ter um bom atlas. Ele
completa a história por detrás dos lugares mencionados nas Escrituras.
Um de meus preferidos é o Atlas da Bíblia (Edições Paulinas), que tem uma bo
nita apresentação, com figuras e diagramas. Traz informações sobre coisas como tipos
de pedras preciosas e solos encontrados na Palestina, e dá uma ideia da topografia. Por
exemplo, quando vimos a tempestade acalmada em Marcos 4, dissemos que o Mar da
Galileia estava a 200 metros ou mais abaixo do nível do mar. Onde se aprende isso? Em
um recurso como o Atlas da Bíblia.
Outro atlas bastante útil é o Pequeno Atlas Bíblico, por Dr. Tim Dowley (Mundo Cris
tão). Contém mapas que acrescentam informações à geografia básica.
Uma boa Bíblia de estudo terá mapas incluídos no final. Mas se você realmente quer
investigar o contexto geográfico, invista em um atlas completo.
Comentários bíblicos
Você já ouviu alguém que domine uma porção das Escrituras e pensou: Puxa, gostaria de
tê-lo a meu lado na próxima vez que abrir as Escrituras? . Bem, um comentário faz essencial
mente isso: oferece a você opiniões de alguém que tenha passado talvez sua vida inteira
estudando o texto. Um comentário não faz o estudo por você, mas cerlamente é um exce
lente meio de avaliar seu próprio estudo.
Há uma infinidade de comentários disponíveis, especialmente sobre livros popula
res como Salmos, os Evangelhos, Romanos, e assim por diante. A questão é: como saber
por onde começar? Sugiro que, se você está apenas começando o processo e a formação
de sua biblioteca de ferramentas, adquira um bom comentário geral de um só volume —
um que abranja um ou ambos os testamentos cm um, ou no máximo, dota volume?*.
Conheço um bem útil, o Bible Knowledge Commentary, (cm espanhol, porém não lol
traduzido para o português), produzido por vários membros do corpo docente do Se
minário Teológico de Dallas, onde ensino. Em dois volumes, um do Antigo Testamento,
outro do Novo, ele abrange todos os livros da Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. Em cada
livro, apresenta o pano de fundo em termos de autor e propósito, perfil e discussão do
texto, especialmente das passagens difíceis.
Além de um comentário geral, você pode querer consultar um comentário espe
cífico sobre determinado personagem da Bíblia. Por exemplo, uma série chamada Série
Cultura Bíblica (Edições Vida e Mundo Cristão) inclui um volume de Eclesiastes. Você
já ficou em apuros por causa deste livro? Talvez tenham pedido para você o ensinar,
mas você não sabia o suficiente para ensiná-lo. Um pequeno comentário como esse pode
ajudá-lo a se orientar.
Ou talvez você esteja pronto para algo mais profundo, com um pouco mais de de
talhes. Tente, então, o Comentário Bíblico Moody, em 2 volumes (Editora Batista Regular),
ou o Comentário Bíblico Broadman, em 12 volumes (Juerp). Você pode começar com um
volume que supra as necessidades de seus estudos no momento e então acrescentar mais
à coleção, enquanto for prosseguindo pelos livros da Bíblia.
Comentários podem ser uma bênção ou uma maldição. O lado negativo é começar
a depender deles, ao invés de se familiarizar com o texto bíblico. Não há nada de errado
com os comentários, mas lembre-se de que eles são, definitivamente, a opinião de apenas
uma pessoa e certamente não são inspirados.
Ao mesmo tempo, um erudito que passou sua vida inteira investigando o texto bíbli
co poderá, na maioria das vezes, fazer com que você supere as barreiras do entendimento.
Seus comentários podem também ajudar você a avaliar seu próprio estudo pessoal.
Recursos adicionais
Eu poderia continuar mencionando uma lista enorme de recursos secundários e fontes
de ajuda ao estudo. Há também alguns periódicos disponíveis sobre teologia, como Vox
Scripturae, Revista Teológica (Seminário Presbiteriano do Sul) ou Estudos Teológicos (Igreja
Evangélica Luterana), com nível popular de escrita e informações inestimáveis sobre pes
quisas que afetam estudos bíblicos.
Outra área frutífera de estudo secundário é a vasta coleção de literaturas que so
brevive da era bíblica. Histórias contemporâneas, teoria política, lei, poesia e drama pre
enchem muitos detalhes das culturas daquela época. Em conexão, você pode também
querer consultar estudos históricos de eruditos mais recentes, como o História de Israel
no Antigo Testamento, por Shultz (Edições Vida Nova), ou livros sobre a história da antiga
Grécia e Roma.
COMEÇANDO
Há uma montanha de recursos valiosos disponível a você. Então, por onde come
çar? Quais deve obter primeiro?
Sugiro que comece com uma boa Bíblia de estudo e uma concordância, que são cru
ciais. Se isso fosse tudo o que tivesse, você já estaria bem. Você tem o texto das Escrituras
e uma lista de todas as palavras, pode navegar livremente pelas passagens, usando as
habilidades aprendidas na Observação e na Interpretação.
Então, se obtivesse um bom dicionário da Bíblia, um manual bíblico, um atlas e um
comentário simples de um só volume, estaria muito bem. Teria as ferramentas básicas,
uma biblioteca básica para trabalhar. Poderia ir acrescentando mais a ela, pouco a pouco.
Pelo menos teria bons recursos para começar. O Pequena Enciclopédia Bíblica, de O.S. Boyer
(Edições Vida Nova), reúne em um só volume uma enciclopédia, um dicionário, um atlas,
uma chave bíblica e uma concordância.
Todavia, há uma palavra de advertência quando puser essas ferramentas para fun
cionar: cuidado para não confiar demais nas informações de segunda mão. O uso de
recursos extrabíblicos nunca deve ser um substituto do estudo pessoal da Bíblia, mas um
estímulo a ele. A ordem é sempre a mesma: primeiro a Palavra de Deus; depois as fontes
secundárias.
Experimente
Chegando a um
Acordo
Em um dos desenhos de Far Side, de Gary Larson, um trompista está sentado no meio
de uma orquestra sinfônica durante um concerto. Apontando para a partitura na estante,
ele diz: "Puxa, olha aquele monte de pontinhos pretos!"
As palavras do texto bíblico são apenas pontinhos pretos na página para muitos lei
tores, estranhos hieróglifos que permanecem inescrutáveis. Essas pessoas podem possuir
uma Bíblia, mas não possuem as palavras da Bíblia porque não sabem como determinar
seu significado. Tragicamente, estão perdendo as próprias palavras de vida que Deus
pronunciou.
Mas este não precisa ser o seu caso. Se você tem praticado o processo delineado nes
te livro, já descobriu várias estratégias que trazem à tona o significado das Escrituras. O
mais importante que aprendeu a fazer foi procurar termos. Neste capítulo, quero ajudá-lo
a pesquisar termos bíblicos para discernir seu significado.
Um "termo" é uma palavra ou expressão que um autor usa para enfatizar algo.
Ele pode usar a palavra repetidamente para enfocá-la. Pode expô-la em algum versículo
proeminente. Pode construir uma história em torno dela para ilustrar seu significado. Ou
pode colocá-la na boca de um personagem central em sua narrativa. Seja qual for a manei
ra que ele as destaca, um autor quer que prestemos atenção em seus termos, porque eles
estão carregados de significado. A menos que você "chegue a um acordo com os termos",
nunca entenderá sua mensagem.
Dois recursos secundários mencionados no último capítulo são especialmente úteis
neste processo — a concordância e o dicionário da Bíblia. Permita-me mostrar como usá-
los para sua vantagem.
USANDO UMA CONCORDÂNCIA NO ESTUDO DE UMA PALAVRA
Digamos que você rc depare com a palavra alegria na carta de Paulo aos Filipenses.
Alegria e regozijo aparecem como termos chaves nesse livro. Abra, então, sua concordância
e procure alegria.
A primeira coisa que notamos é que há muitas referências tanto no Antigo quan
to no Novo Testamento. Isso é significativo: alegria não é um termo obscuro; é muito
comum. Se você quiser ser arrojado e iniciar um estudo exaustivo do termo, precisará
procurar cada passagem onde ele é usado para avaliar que luz os vários contextos dão ao
significado de alegria.
Mas, já que você está se concentrando em Filipenses, preste atenção especial no uso
do termo no próprio livro. Eis o que mostra uma lista:
A palavra alegria aparece muitas vezes na carta. É preciso fazer observações para
comparar e contrastar esses diferentes usos. Você pode até querer expandir seus estudos
para o uso de alegria nas outras cartas de Paulo.
Não se deve deixar de notar o pequeno número à direita de cada entrada em algu
mas concordâncias. Tais números referem-se às palavras gregas traduzidas por "alegria".
No final da concordância, você descobrirá que em alguns versículos, "alegria" é a palavra
chara, que significa "alegria" ou "deleite", e vem do verbo grego chairo, "regozijar" ou
"estar alegre".
Em outros versículos é a palavra suchairo — obviamente relacionada a chairo, mas
com o prefixo sug, que transforma o significado. A concordância nos diz que sugchairo
significa "regozijar-se com". Assim, nos dois exemplos de alegria em Filipenses 2:17-18,
Paulo fala sobre uma experiência compartilhada. Isso é bastante óbvio no texto. Mas uma
boa concordância o ajudará quando algo não for tão óbvio. Assim, mesmo que você não
conheça as línguas originais, não tem de ficar em desvantagem.
USANDO A CONCORDÂNCIA PARA ESTUDAR PALAVRAS OBSCURAS
Outro uso de uma concordância é esclarecer referências obscuras. Por exemplo, su
ponha que esteja estudando os livros de 1 e 2 Reis, e se depare com o nome Moloque em
1 Reis 11:7:
Quem ou o quê era Moloque? O texto diz que era um ídolo detestável a quem Sa
lomão estava aparentemente construindo um centro de adoração. Mas você decide fazer
um pequeno estudo comparativo. Procura então, Moloque na concordância e descobre
que o mesmo nome aparece oito vezes no Antigo Testamento e uma no Novo. Isso nos diz
algo sobre o tempo de Moloque.
Você nota também que, das oito referências, cinco estão em Levítico, uma em 1 Reis,
uma em 2 Reis e mais uma em Jeremias. Isso deve voltar sua atenção a Levítico. Verifican
do as entradas da concordância, você lê em quatro dos cinco casos sobre a descendência
sendo oferecida a Moloque. Assim você tem uma pista da razão porque o autor chama
Moloque de "o ídolo detestável". As pessoas sacrificavam seus próprios filhos a ele. lí
aparentemente, Salomão estava começando a se envolver com isso.
De todas as ferramentas do estudo bíblico, a concordância é aquela que você irá
usar mais freqüentemente. Ela é ideal para estudos de palavras porque localiza termos
no texto. Também lhe dará um bom início na tarefa de comparação de Escrituras com Es
crituras, que é a melhor maneira de se entender o significado de termos bíblicos. Se você
adquirir apenas um recurso secundário para o programa de estudo da Bíblia, certifique-
se de que é uma concordância completa da tradução de sua Bíblia. O investimento valerá
a pena muitas vezes.
"Mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios; pois fez saber
ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e
as visões da tua cabeça quando estavas no teu leito são estas" (itálico
acrescido).
Use uma concordância para localizar outros usos destas palavras na Bíblia.
O que você pode aprender com estes textos adicionais? Então procure contaminar e
últimos dias no dicionário bíblico para ver o que mais você pode descobrir sobre o
significado destes termos.
Entendendo o
Sentido Figurado
Um homem bastante velho sentou-se diante de seus doze filhos. Seus olhos haviam
enfraquecido, mas sua visão não. Sabendo que sua hora estava chegando, ele desejou pro
nunciar sua visão do futuro de cada homem. Eles ficaram esperando, com respeito, em
•ilêncio. Finalmente o ancião falou: "Aproximem-se, meus filhos. Prestem bem atenção no
que seu pai lhes vai dizer".
Os sucessores reunidos se aproximaram, esforçando-se para ouvir. Roberto, o mais
velho, ocupava uma posição no centro deles. Foi a ele que a ofegante voz falou primeiro.
"Roberto, você foi o primeiro, meu orgulho e alegria. Mas você é muito explosivo,
não mais será o primeiro".
O semblante do filho caiu, relutando com vergonha e furor, mas não ousava respon
der. O velho continuava sem interrupção.
"Estêvão e Lourenço. Vocês são ladrões e assassinos. Para vocês, não tenho bênção,
apenas uma maldição.
"João, você é um filhote de leão, portanto, governará. Mas um dia lavará suas rou
pas em vinho.
"Zacarias é um porto marítimo onde navios encontrarão ancoradouro."
"Ivan não passa de uma mula selvagem. Satisfeito com qualquer um que o alimen
te, passará seus dias em trabalho forçado."
"Daniel, você é uma cobra na estrada. Atacará seus irmãos e será seu juiz."
"Jorge, você é um bandido. Roubará e será roubado. Viverá na incerteza."
"Arlindo adora as melhores carnes, mas passará a vida cozinhando, não comendo."
"Natanael é um cervo correndo. Suas palavras saltarão e dançarão."
"Jônatas, você é minha árvore plantada na margem fresca do rio. Crescerá, prospe
rará e dará sombra a todos os seus irmãos. A você virão as bênçãos dv meus pais c alia vês
de você passarei as bênçãos a meus descendentes."
"Bradley, meu último, é um lobo vicioso, faminto e selvagem. Matará o dia todo,
devorará a noite toda."
Ele terminou abruptamente, e nada se pode ouvir a não ser o zumbido de moscas.
Ninguém se moveu. Cada filho meditava nas palavras proferidas a si. Não notaram que a
cabeça do tagarela patriarca, suas palavras terminando, havia caído em seu peito e dado
seu último suspiro.
O que devemos fazer com este conto bíblico? Ah, esqueci de contar a você? Esta e
uma reconstrução livre de Gênesis 49, onde Jacó convoca seus doze filhos e profetiza o
futuro da linhagem de cada um.
Se você leu o relato, irá notar as bizarras descrições atribuídas a muitos deles: Judá
é chamado "leãozinho" (v. 9); Zebulom é um "porto de navios" (v. 13); Issacaré "jumento
de fortes ossos" (v. 14); Dã é uma "víbora junto à vereda" (v. 17); Naftali é uma "gazela
solta" (v. 21); José é um "ramo frutífero" (v. 22) e Benjamim é um "lobo que despedaça"
(v. 27).
Novamente pergunto: o que fazer dessas descrições? Poderiamos esperar que Noé
falasse a seus filhos assim após terem sido confinados na arca, mas o que estas palavras
estão fazendo na boca de Jacó? Devemos considerá-las literalmente? Se não, por que não?
Como saber quando as Escrituras estão realmente apresentando uma realidade e quando
estão meramente descrevendo a realidade?
O problema aqui é a linguagem figurada. Todos conhecemos as figuras de lingua
gem. Nós as usamos o tempo todo: "poderia ter morrido de vergonha", "acho que não
vai dar para fugir da raia", "fulano está zangado como um touro", "ele quase morreu de
tédio", "não abra o bico", "ela tem uma estrela na testa".
Os escritores e personagens bíblicos não eram diferentes. Eles entreteciam seu ma
terial com imagens vividas e maneiras peculiares de falar. Davi diz que a pessoa que
segue a Palavra de Deus será como uma árvore, mas o ímpio é como a palha (Salmo 1:3-4).
A noiva em Cantares de Salomão 2:1 diz que é a "rosa de Sarom, o lírio dos vales". Ela
chama seu amante de gamo ou filho da gazela, "galgando os montes, pulando sobre os
outeiros" (2:8-9). Jesus chamou Herodes de raposa (Lucas 13:32), os fariseus de sepulcros
caiados (Mateus 23:27), e Tiago e João de Filhos do Trovão (Marcos 3:17). Paulo chamou
os falsos mestres de cães (Filipenses 3:2).
Evidentemente, a linguagem figurativa da Bíblia pode ser muito mais elaborada, e
ir até além da palavra falada, em lições de objeto gráfico. Deus disse a Jeremias que com
prasse um jarro de barro, o levasse aos líderes, profetizasse contra eles e então quebrasse
o jarro como uma figura daquilo que Deus ia fazer à nação (Jeremias 19). Disse também
<1 (Isolan que mo cannsno rom umn adúltera como símbolo do amor fiel de Dchin pelo Seu
povo e de sua infidelidade a l(le (Onelas 1:2-9; 3:1-5).
Quando chegamos ao Apocalipse de João, nos deparamos com uma linguagem bas
tante incomum. Uma potestade do céu aparece como uma pedra de jaspe rodeada por um
arco-íris (4:3). Ele vê um cordeiro com sete chifres e sete olhos (5:6), e também uma besta
se levantando do mar, com dez chifres e sete cabeças (13:1). No final do livro, uma cidade
toda, com mais de três milhões de quilômetros quadrados, cai do céu (21:16).
Estas coisas contribuem para uma leitura interessante. Mas o que querem dizer?
Como interpretá-las em nosso processo de estudo bíblico? Como saber quando ler a Bí
blia literalmente e quando figurativamente?
Falarei sobre dez princípios de como entender o figurativo. Mas antes, certifique-
mo-nos de que entendemos a diferença entre "literal" e "figurativo". As pessoas falam
sobre uma "interpretação literal das Escrituras". Mas isso significa que em Gênesis 49,
veem Judá como um verdadeiro filhote de leão vivo? Ou José na beira de um riacho com
raízes fincadas no solo? Ou Benjamim como um tipo de lobisomem incontrolável? Se é
assim, tenho um bom psiquiatra a quem posso recomendar.
Quando falamos em "interpretação literal", queremos dizer que aceitamos a lingua
gem em seu uso normal, aceitando-a em seu significado normal, como se o escritor esti
vesse comunicando da maneira com que as pessoas normalmente se comunicam. Como
uma pessoa colocou: "Quando o senso claro das Escrituras faz bom senso, não procure
outro sentido".
Assim, de acordo com este princípio, quando Jesus nos diz para "dar a César o que
é de César" (Lucas 20:25), não precisamos procurar por algum significado escondido ou
interpretação elaborada. Está bastante claro que Ele está falando para pagarmos nossos
impostos. Por outro lado, quando Ele chama Herodes de raposa, obviamente não está
dizendo que o homem é um carnívoro vagante. Está falando figuradamente, comparando
Herodes a uma criatura astuciosa como a raposa.
ENTENDENDO O FIGURATIVO
O que acontece quando o "senso claro" não faz bom senso? Há regras que gover
nam quando devemos interpretar expressões bizarras figuradamente e quando devemos
tomá-las literalmente? Temo que não haja meios a prova de erros para isso, mas eis dez
princípios que o manterão livre dos tipos mais graves de problemas.
1. Use o sentido literal a menos que haja uma boa razão para não fazê-lo
Isso está claro pelo que acabamos de falar. Ao ler a Bíblia, temos de assumir que os es
critores eram pessoas normais e racionais que se comunicavam das mesmas maneiras
básicas que nós. Mas muitas e muitas vezes, as pessoas tentam "espiritualizar" o texto,
tentando fazê-lo dizer tudo, menos o que claramente diz.
Uma ilustração clássica é Cantares de Salomão. Por anos, os Intérprete# disseram
que o livro é uma alegoria do relacionamento entre Cristo e a Sua igreja. Mas como isso
pode possivelmente concordar com o texto, sendo que o poema foi escrito séculos antes
de Cristo? Cantares tem uma forma lírica definida e precisa ser lido de acordo com as
convenções de seu gênero. Além disso, há uma interpretação mais simples e mais sensata:
este é um livro que celebra o amor erótico no casamento, como Deus pretendeu que fosse.
2. Use o sentido figurado quando a passagem indicar que assim se deve fazer
Algumas passagens deixam claro logo de início que envolvem imagens figurativas. Por
exemplo, quando você se deparar com um sonho ou visão, pode esperar encontrar lin
guagem simbólica, porque esta é a linguagem dos sonhos. Em Gênesis 37, fica claro pelo
contexto, que os sonhos de José são a respeito das coisas que irão acontecer no futuro. O
mesmo acontece quanto aos sonhos de Faraó, em Gênesis 41 e com as visões proféticas,
em Daniel 7-12.
Esta é, no mínimo, uma maneira estranha de se falar. Estaria Ele sugerindo que
Seus seguidores se tornassem canibais? Nâo, isso seria uma repulsiva violação da lei do
Antigo Testamento. E nenhum de Seus ouvintes considerou desta maneira o que Ele dis
se. Embora, com certeza, tenham ficado confusos com as Suas palavras: "Como pode
este dar- nos a comer a sua própria carne?" gritaram os fariseus (6:52). Como podemos
ver, eles estavam lutando corpo a corpo com o problema da interpretação. Alguns outros
disseram: "Duro é este discurso, quem o pode ouvir?" (6:60). Mas reconheceram que o
Senhor estava falando figuradamente.
Deus nunca viola Seu caráter. Desde que baseia Sua Palavra em Seu caráter, pode
mos saber que Seus mandamentos são consistentes com quem Ele é. Ele nunca nos pede
para fazermos algo que Ele não faria ou que já não tenha feito.
10. Use sentido figurado se uma interpretação literal envolve uma contradição
doutrinária
Isso é conseqüente do ponto que acabamos de frisar. Precisamos ser consistentes em nossa
interpretação das Escrituras e nos sistemas de fé que construímos, usando as Escrituras.
Em 1 Coríntios 3:16-17, Paulo escreve:
"Não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em
vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o san
tuário de Deus, que sois vós, é sagrado."
Esta linguagem é bastante severa. O que Paulo quis dizer por: "Se alguém destruir o
santuário de Deus, Deus o destruirá?" Isso é uma ameaça de que se uma pessoa cometer
suicídio, será privada de sua salvação? Alguns pensam assim. Mas isso não só compro
mete o contexto, também é conflitante com a doutrina da segurança eterna, o ensino que
Deus preservará Seus filhos. Além disso, Paulo nos encoraja a ler esta passagem e seu
contexto figuradamente (4:6). Uma interpretação literal não faria sentido.
Experimente
Eis uma chance de você mesmo tentar "entender o figurativo". Leia e estude o
Salmo 139, um dos mais profundos e íntimos de todos os salmos. Ele está repleto de
linguagem figurada. Use os princípios abordados neste capítulo para interpretar o
que Davi está dizendo. Consulte a lista de "Figuras de Linguagem" na página se
guinte, mais um auxílio no reconhecimento e entendimento da imaginação de Davi.
(Aliás, não se esqueça de começar pelo passo da Observação.)
Figuras dií Linguagem
Antropomorflsmo
Atribuição de características ou ações humanas a Deus.
"Eis que a mão do Senhor não está encolhida para que não possa salvar;
nem surdo o seu ouvido para não poder ouvir" (Isaías 59:1).
Apóstrofe
Referencia a uma coisa como se fosse uma pessoa, ou a uma pessoa ausente ou ima
ginária como se estivesse presente.
"Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?"
(1 Coríntios 15:55).
Eufemismo
Uso de uma expressão menos ofensiva para indicar uma mais ofensiva.
Hipérbole
Exagero em dizer mais do que o significado literal.
Hlpocatástase
Comparação na qual a semelhança é implícita, não diretamente declarada.
Idioma
Expressão peculiar de um povo.
Merismo
Substituição de duas partes contrastantes ou opostas pelo todo.
Paradoxo
Declaração que parece absurda, autocontraditória ou contrária ao pensamento ló
gico.
Personificação
Atribuição de características ou ações humanas a objetos inanimados ou animais.
Pergunta retórica
Pergunta que não requer resposta, mas obriga a responder mentalmente e a consi
derar suas ramificações.
Símile
Comparação usando "como" ou "tal".
Dissemos que a primeira chave para a interpretação precisa das Escrituras é o con
teúdo. Isso tem base na observação do texto. Comecemos com ela.
A primeira coisa que me chama a atenção neste texto é seu senso de urgência. "Ro
go-vos", começa o versículo 1, "suplico", "imploro". Gosto da colocação de J. B. Phillips:
"Com os olhos bem abertos para as misericórdias de Deus". Assim, Paulo se aproxima de
seus leitores com um senso de urgência.
Uma das primeiras palavras do parágrafo é a palavra chave pois. Isso é essencial.
Lembre-se de nosso lema: quando vir um pois (ou portanto), pare para ver por que se en
contra na frase. Aqui, "pois" nos compele a voltar e verificar o contexto precedente. Então
aceitemos a sugestão do escritor e voltemos no texto para formar a idéia geral de Romanos.
Utnn pVNquiM rcvolrt qut* o trmd do livro de Romnnof» encontra-w no capítulo I,
versículo 17, onde o eNcritor now diz que está falando sobre a "justiça de Deus" — não a
noNsa própria justiça, mas aquela que Ele provê.
Além disso, há tiês principais divisões no livro. Os primeiros oito capítulos lidam
com a justiça que Deus revelou mas que nós devemos receber. Nos capítulos 9-11, o assun
to é Israel. Paulo fala que a justiça de Deus foi rejeitada pelo Seu povo. Finalmente, come
çando o capítulo 12 (onde temos nossa passagem, com "pois" no primeiro versículo), che
gamos à seção prática do livro, que fala sobre uma justiça reproduzida na vida do crente.
Portanto, a partir de um conectivo, já obtivemos uma boa visão geral do livro.
Mas há uma outra expressão que nos obriga a ver a conexão: "pelas misericórdias
de Deus". Em outras palavras, as misericórdias de Deus se tomam a base do apelo urgen
te de Paulo. Com efeito esta expressão resume os primeiros onze capítulos do livro. Paulo
está dizendo, essencialmente: "Com base no que Deus fez por você, quero que você faça
alguma coisa". Isto é uma verdade espiritual importante. Deus nunca nos pede para fazer
nada para Ele até que nos informe completamente o que Ele tem feito por nós.
O que Ele quer que façamos? O versículo 1 o diz claramente: "que apresenteis os
vossos corpos". O que isso significa? A palavra apresentar é um termo chave, e precisamos
fazer um esforço para entendê-la. Na verdade, ela é um termo técnico, é usado na apre
sentação de um sacrifício a Deus no Templo no Antigo Testamento. Tem a idéia de ceder
algo para alguém, abdicar da posse de algo. "Apresentar" significa que você não pode
ceder algo e tomá-lo de volta. Há um elemento de resolução.
"Passados os dias da purificação deles [de Maria e José] segundo a lei de Moi
sés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor." (itálico acrescido)
Então Jesus foi apresentado a Deus no Templo por Seus pais. Isso nos dá um pouco
de visão da vida de nosso Senhor, dado o significado de apresentar, seus pais O estavam
dando a Deus, sem pensar em pegá-LO de volta.
A concordância também nos diz que a palavra apresentar é usada em outro lugar no
livro de Romanos. Isso ajuda, já que o mesmo termo usado pelo mesmo autor no mesmo
livro nos provê muita visão do texto. É como ter irmãos e irmãs na mesma cidade, em opo
sição a ter parentes distantes, morando longe. Eis o que encontramos em Romanos 6:13:
Em outras palavras, ele está dando uma opção a você: ou apresenta seu corpo como
instrumento de justiça, ou pode apresentá-lo como instrumento de pecado.
Permita-me ilustrar. Considere o bisturi de um cirurgião. É mais afiado do que uma
lâmina, leve ao toque e estéril. Resumindo, é perfeito para o propósito para o qual foi
designado, mas o problema é, em que mãos é colocado. Em minhas mãos, seria carnifici
na, mas nas mãos de um habilidoso cirurgião, traz cura e saúde ao paciente. Isso é o que
Paulo descreve em Romanos 6: apresente seu corpo às mãos certas, à Pessoa que irá usá-lo
habilidosamente para realizar Seus propósitos.
Mas note: Paulo está falando sobre a apresentação de seu corpo — o mesmo como
em Romanos 12. O que é "o corpo"? Um estudo da palavra revela que a palavra se refere
à pessoa total, ao ser total. Também representa o instrumento de sacrifício. Na verdade,
este é o único instrumento de sacrifício que temos, a única coisa que podemos dar a Deus.
(Você encontrará dois outros usos de apresentar na mesma seção de Romanos [6:16 e 19].
Deixarei que você mesmo os investigue.)
Apresentar também aparece em Efésios 5, na passagem sobre maridos e esposas:
Qual foi o propósito de Paulo ao falar às vidas de outras pessoas? Apresentar cada
uma delas ao Senhor, para que pudessem chegar à maturidade completa.
fazê-la, então Ele a faz por nós. Há alguma coisa que possamos fazer? Sim, podemos
renovar nossas mentes; esta é nossa tarefa. Na verdade, o recondicionamento de nosso
pensamento é o que permite que Deus efetue a transformação.
Nos meus primeiros anos como crente, fui grandemente influenciado por Donald
Grey Bamhouse, o pastor da Décima Igreja Presbiteriana em Filadélfia. Com efeito, ele
serviu como mentor para mim. Passei muito tempo com ele, e lembro-me de ter pergun
tado uma vez: "Dr. B., como posso descobrir qual a vontade de Deus?"
Jamais me esquecerei de sua resposta. Em seu jeito tipicamente brusco, ele virou e
disse: "Hendricks, noventa porcento da vontade de Deus se encontrará na parte locali
zada acima de seu pescoço!" Ele deu meia volta e foi embora. Eu fiquei um pouco ator
doado. Mas de repente comecei a compreender por que foi que o Dr. Bamhouse passara
tanto tempo, fazendo uma "lavagem cerebral" em minha mente com a Palavra de Deus.
É aí que Deus começa a fazer o Seu trabalho de conformação de minha pessoa a Cristo —
em minha mente.
Infelizmente, a maioria de nós está conformada com este mundo. A maior parte das
vezes não gastamos tempo pensando em todas as opções para tomarmos uma decisão
informada. Simplesmente agimos, porque nossa cultura o faz. Nossa sociedade nos es
preme dentro de nou molde. Como? Trabalhando em nossas montra, ft por isso que ó tAo
perigoso colocar nossas mentes em ponto morto e seguir o fluxo da maioria.
Qual o propósito da obra transformadora de Deus? O que ela fará por nós? Paulo
escreve: "Para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus".
O estudo de palavras revela que experimentar significa testar ou provar. Por exemplo, uma
pessoa leva uma peça de joalheria a um avaliador, que a avalia e apreça seu valor. "Isto é
prata genuína", diz, "e vale tanto". Da mesma maneira, Paulo diz que nós iremos provar
três coisas sobre a vontade de Deus.
Primeira, iremos apreçá-la como "boa". O termo boa tem sido desvalorizado por
nossa cultura. Suponha que eu anuncie um carro para venda, e um provável comprador
pergunte: "Qual a condição do carro?"
"É boa", digo.
Sua tendência será indagar: "qual o problema com ele? Corrompemos tanto a pala
vra boa que, a menos que algo seja "fantástico", pensamos que é uma porcaria.
Mas a palavra usada em Romanos 12 é a mesma palavra usada em relação a Deus
em outro lugar nas Escrituras. Quer saber quão "boa" ela é? É tão boa quanto Deus.
Tema/(1:17)
Urgência,! /
1 “Rogo-vos, (pois?) irmãos,
, , . . ....................... , _ Bose^ - Romanos' copy. 1 -11
pelas misericórdias de Deus,
que apresenteis os vossos corpos cap. 6:13 e,L<y. 2:22ftf. 5:25-27
can(radiçã<y?
contra<lóção? 6:16,19
por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus, chaw
O tninãno-que,
que é o vosso culto racional podvtnoy (cMfre*-!
2
zE não vos conformeis com este século,
contraste/ passivo
mas transformai-vos Metamorfose/
atíVO ---------
pela renovação da vossaímente^) vem/dc/dentro
Testar / Provar
para aue|experimenteis qual seja
propósito a^boa, Tàa-boa/qaa4atcrVea^
'Peripectíva,
z agradável Retrospectiva
e3perfeita vontade de Deus”.
r quanto Deus^f
Além Jíhno, Paulo <11/ que ria é "agradável", não somente em perspectiva, mas cm
retrospecto. Nào poderiamos adicionar nada à vontade de Deus que de alguma maneira
a melhorasse. Nem poderiamos tirar algo dela e fazê-la melhor. Sua vontade é totalmente,
absolutamente agradável.
Se isso só já não basta, a vontade de Deus também é "perfeita". E novamente, é tão
perfeita quanto Deus. Combina com Seu caráter, com Sua santidade.
Assim é a vontade de Deus. É isso que Ele quer que testemos em nossas vidas. In-
felizmente, a maioria das pessoas passa a maior parte de suas vidas tentando descobrir
qual a vontade de Deus, sem nunca ter apresentado seus corpos por sacrifício vivo.
Outra descoberta que fazemos no comentário é que o verbo nesta passagem, "apre
sentar", está em uma forma chamada tempo "aoristo". A forma aorista deste verbo indica
determinação. Esta é uma divisão importante em nossas vidas, um ponto no qual nos
apresentamos a Deus, assim como Jesus foi apresentado. Não há retorno. O verbo descre
ve um compromisso total com Deus, para que Ele faça conosco aquilo que desejar.
Imagine que você tenha um caderno cheio de páginas, representando a vontade de
Deus em aspectos específicos de sua vida. Você diz a Deus: "Esta é minha vida como está
agora, conforme tenho conhecimento. Quero apresentar tudo que sou a Ti". E dá a Deus
o caderno; apresentando-o a Ele em um ato de completo e total compromisso.
Porém, mais tarde um dia, você descobre outras coisas que não foi capaz de incluir
no caderno originalmente. E aí? Bem, você já sabe onde o caderno está — você o deu a
Deus; sua vida pertence a Ele. Assim, quando se deparar com novas áreas em sua vida,
pode apresentá-las a Deus da mesma forma.
Obviamente, você não pode apresentar sua esposa a Deus se for solteiro. Nem saber
quantos filhos terá. Mas, no momento em que Deus lhe concede um casamento ou filhos,
você já sabe exatamente qual o lugar deles em termos da vontade de Deus. Vão no mesmo
caderno que apresentou a Deus cm primeiro lugar.
Esta é a idéia de "apresentar" no tempo aoristo, conforme aparece nesta passagem.
Volte agora a Romanos 12:1-2 conforme discutimos neste capítulo. Veja se isso não
"engorda" alguns dos princípios de interpretação já colocados. Primeiro observamos o
conteúdo do texto, que nos provê dados para o entendimento da mensagem de Paulo.
Consideramos também o contexto. A palavra "pois" nos levou a examinar o livro como
um todo. Fizemos algumas comparações de Escrituras com Escrituras, com o uso de uma
concordância. Deciframos os verbos "apresentar" e "ser conformado".
Então fizemos algumas consultas. Procuramos algumas coisas em um comentário.
Descobrimos que "apresentar7' indica um compromisso decisivo de nós mesmos com
Jesus Cristo. Descobrimos também o que a transformação envolve. Ela é algo que Deus
faz; a renovação de nossas mentes é algo que nós fazemos.
E assim, mesmo que tenhamos acabado de colocar um pé na porta da passagem,
conseguimos um entendimento preciso, perceptivo e bíblico daquilo que Deus quer que
nós façamos com nossos corpos, como Seu povo redimido.
Não Pare Agora!
V ivemos em uma sociedade que está afundando num mar de informações. Cada dia
que passa, a quantidade de informações disponíveis cresce exponencialmente. Esta abun
dância de dados propõe o dilema do benefício-malefício. Por um lado, nào temos que ser
escravizados à ignorância. Mencione qualquer assunto, e haverá uma boa probabilidade
de alguém, em algum lugar, já o ter investigado. Este tipo de proficiência abrangente pro
duz desenvolvimentos incríveis em campos como medicina, física, biotecnologia, agricul
tura, transportes e comunicações.
Este excesso de dados propõe um dilema de boa-má notícia. De um lado, não temos
de ser escravizados à ignorância. Mencione qualquer assunto, e há uma boa probabilida
de de alguém, em algum lugar, ter pesquisado sobre o tema. Esse tipo de especialidade
de linha ampla traz desenvolvimentos incríveis aos campos da medicina, física, biotecno
logia, agricultura e transporte.
Por outro lado, como encontrar a informação a qual procuramos? Não estamos
mais procurando pela agulha do provérbio num palheiro; estamos à procura de uma
agulha num palheiro feito de agulhas. Além disso, mesmo que tenhamos muitos dados,
muitos deles são de pouco uso prático. Não é este o verdadeiro problema? Como usar a
informação? Porém, parece que cada vez mais carreiras se formam à volta do acúmulo de
informações ao invés da produtividade de informações.
O mesmo fenômeno é real para o estudo bíblico. A maioria das pessoas que estuda
as Escrituras fica apinhada de informações no passo da interpretação. Em primeiro lugar,
começam por ele, o que é um grande erro; além disso, param nele, um erro ainda maior.
O resultado é que adquirem montanhas de informação sobre o texto e muita espe
culação sobre o que ele significa. Mas que diferença isso faz em suas vidas? A Bíblia se
toma pouco mais que uma coleção de quebra-cabeças teológicos, ao invés de um guia
para rumar a própria vida.
Que tragédia, pois a Palavra de Deus não produz fruto quando é entendida, apenas
quando é rtpllcrtdrt. Por Imo ó quo Tiago no» exorta: "acolhei com mnnsldfio a palavra cm
vós implantada" (1:21). Em outra* palavra», deixe a verdade de I )eus criar raizes em sua
vida. Como? Provando »er um praticante da palavra, nào mero ouvinte (v. 22).
Imagine-se arando um campo, semeando a terra, cuidando com dedicação das
plantas que crescem rapidamente, esperando pelas chuvas, e então, bem quando chega
a época da colheita, saindo para fazer outra coisa. Uma pessoa morrería de fome rapida
mente procedendo assim. É isso que acontece se você não for para o passo seguinte no
processo de estudo bíblico, a Aplicação. Você pode passar por todos os problemas do
preparo de uma rica colheita e ainda assim morrer de fome espiritualmente, deixando de
prosseguir até o fim.
Espero que agora você esteja faminto por ver resultados em sua vida. Se está, con-
vido-o a ir comigo para a próxima seção, onde exploraremos algumas maneiras de trans
formar investigações bíblicas em aplicações práticas.
O Valor da
Aplicação
Um repórter entrevistou o famoso psiquiatra Karl Menninger em uma conhecida clíni
ca em Topeka, em Kansas. Quando a conversa se voltou para o assunto da reforma nas
prisões, o médico entregou a seu ouvinte um livro que havia escrito sobre o assunto. O
repórter, educadamente, prometeu lê-lo.
"Não, você não o lerá", Dr. Menninger retrucou, com seu jeito áspero. "Além disso,
o que faria se o lesse? Deixaria o livro de lado e iria fazer outra coisa?"
É exatamente esta a situação que confronta as pessoas em termos de estudo bíblico.
Elas prometem pegar a Palavra, mas isso normalmente resulta em muito pouco. A verda
deira questão é: mesmo se lessem e estudassem a Palavra de Deus fielmente, o que fariam
a respeito? Que diferença prática deixariam que a Palavra fizesse em suas vidas?
Esta é uma questão que você precisa ponderar quando chegar no terceiro passo do
estudo bíblico. A aplicação é o estágio mais negligenciado, porém, o mais necessário do
processo. Muito estudo bíblico começa e termina no lugar errado: começa com a Inter
pretação e termina nela. Mas aprendemos que não se começa com a pergunta: o que sig
nifica?, mas com: o que diz o texto? Além disso, não se termina o processo, perguntando:
o que isso significa? mas: como funciona? Novamente digo, não "isso funciona?" mas
"como funciona?".
O entendimento então, é simplesmente um meio que leva a um fim maior — a
prática da verdade bíblica na vida diária. Observação mais interpretação sem aplicação
é igual a aborto. Em outras palavras, cada vez que você observa e interpreta, mas não
aplica, você faz um aborto das Escrituras em termos do seu propósito. A Bíblia não foi
escrita para satisfazer a sua curiosidade, foi escrita para transformar sua vida. O objetivo
máximo do estudo bíblico não é fazer algo para a Bíblia, mas sim, permitir que a Bíblia
faça algo a você, para que a verdade se tome real em sua vida.
Como pock ver, non Apronimumoti conMantrmcnte da Bíblia para mtudá-la, ensiná-
la, pregá-la, delineá-la ■ para tudo, exceto para sermos mudados por ela.
Tito 1:1 contém uma clara afirmação do propósito das Escrituras: Paulo as descreve
como a "verdade segundo a piedade". No capítulo 2, ele fornece um caso específico a
respeito.
"Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes aos seus próprios senho
res, dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo
contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as cousas,
a doutrina de Deus, nosso Salvador." (vv. 9-10, itálico acrescido)
Esta tradução diz "a fim de ornarem a doutrina de Deus", no sentido de vesti-la,
como se fosse um conjunto de roupas. A verdade bíblica é o guarda-roupa da alma, e ela
é muito mais exclusiva do que qualquer coisa que você possa comprar da Vila Romana,
está sempre no estilo, é completamente coordenada e é perenemente atraente.
A verdade atraente é a verdade aplicada. Um homem me disse uma vez: "Sabe,
irmão Hendricks, li a Bíblia doze vezes". Maravilhoso, mas o problema é quantas vezes
a Bíblia o envolveu?
Há um perigo inerente no estudo bíblico: pode degenerar num processo intelec
tualmente fascinante, mas espiritualmente frustrante. Você pode se entusiasmar com a
verdade, mas não ser moralmente mudado por ela. Se e quando isso acontecer, saiba que
deve haver algo errado com seu estudo da Bíblia.
Nossa tarefa então é dupla. Primeiramente, devemos nos envolver com a Palavra
de Deus por nós mesmos. Então devemos permitir que a Palavra nos envolva, para fazer
diferença permanente em nosso caráter e conduta.
Nesta seção final do livro, quero me aprofundar nesta terceira área do estudo bí
blico. Esta é muito condenatória. Aperte o cinto de segurança, porque há risco de turbu
lência à frente. Quero que este material o faça parar para pensar — não parar de pensar.
O que acontece quando você deixa de aplicar as Escrituras? Sugerirei quatro substi
tutos para a aplicação, quatro rotas as quais, infelizmente, muitos cristãos seguem em seu
estudo da Palavra. Todas elas são ruas sem saída.
Nós falamos, falamos e falamos, mas não andamos segundo aquilo que falamos.
Pensamos que, se podemos falar eloquentemente ou convincentemente sobre um ponto
das Escrituras, nos safamos. Saímos do "sufoco". Fizemos outros crerem que digerimos
a verdade bíblica. Mas a Deus não se engana. Ele conhece os nossos corações. Além dis
so, Ele conhece o nosso verdadeiro comportamento. E por isso que Ele disse a Samuel:
"O SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê [e atenta para] o exterior, porém
o SENHOR, vê [e atenta para] o coração" (1 Samuel 16:7). Semelhantemente, o autor de
Hebreus diz que "Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está des
coberto e exposto diante dos olhos daquele a quem havemos de prestar contas" (Hebreus
4:13 NVI).
O Rei Davi aprendeu tal verdade da maneira mais difícil. Lembre-se de que ele vio
lentou a mulher de Urias, Bate-Seba, e depois, quando ela ficou grávida de seu filho, fez
com que Urias fosse morto na batalha. Depois disso, encobriu seus pecados e prosseguiu
como se nada houvesse acontecido.
Até que um dia o profeta Natã fez uma visita a Davi. Lembre-se de que nos tempos
do Antigo Testamento, profetas falavam por Deus. Como tal, Natã representava a Pala
vra de Deus. Qual foi a palavra de Deus para Davi? Natã contou uma história sobre um
homem rico e poderoso que havia roubado o único bem de um homem pobre - sua única
ovelha - para alimentar um hóspede. Ao ouvir sobre tal injustiça, Davi explodiu em justa
indignação: "Tão certo como vive o SENHOR ]não é linda a forma como Davi invoca o
nome do Senhor, como quem sustenta a própria piedade pessoal?], o homem que fez isso
deve wr morto. E pela cordelrinha restituirá quatro vczcm, porqutf (<•/ tal couma e porque
nào se compadeceu" (2 Samuel 12:5-6).
Imagine se você estivesse ali, ouvindo Davi proferir tal discurso. Provavelmente tv
ria pensado: "Uau, Davi realmente está defendendo o homem pobre. Ele está advogando
justiça. Que líder fantástico. Não é para menos que Deus o tenha chamado homem segun
do o Seu próprio coração". Sem dúvida, as palavras de Davi foram muito convincentes.
Mas Deus não fica impressionado com nossas palavras tanto quanto as outras pes
soas podem ficar. "O SENHOR vê o coração." "Nada...está oculto aos olhos de Deus.
Tudo está descoberto e exposto." Foi por isso que Natã olhou para Davi nos olhos e foi
direto ao ponto ao declarar: "Tu és o homem" (v. 7).
A Palavra de Deus fará isto com você - se você permitir. Ela irá direto ao ponto. O
trecho de Hebreus que acaba de ser mencionado compara a Palavra a uma espada afiada
que pode penetrar fundo em nosso interior, onde "julga os pensamentos e intenções do
coração" (Hebreus 4:12 NVI). Este é o nível em que a transformação ocorre. Mas a trans
formação jamais ocorrerá se nos esquivarmos da cravejada condenatória das Escrituras
escondendo-nos atrás de nosso discurso.
UM OLHAR NO ESPELHO
O apóstolo Tiago faz uma pergunta penetrante no primeiro capítulo de seu livro: a
Palavra funciona? Resposta: sim, funciona, se for implantada (v. 21). Esta palavra interes
sante que ele usa significa basicamente colocar fora da porta de casa um tapete de boas-
vindas. Você dá boas-vindas à verdade em sua vida? Convida-a para entrar na sua vida e
deixa que ela faça a obra em você?
Quando saímos da igreja aos domingos de manhã, a questão não é o que o pregador
disse, mas o que você vai fazer como resultado do que ele disse. Frequentemente ouvi
mos um sermão ou vamos a um estudo bíblico e ouvimos uma tremenda lição — muito
convincente — e o que fazemos? Saímos de lá, dizendo: "quando é o próximo estudo
bíblico?"
Tiago diz: "Olha, você tem de abraçar a verdade bíblica". Ele nos dá uma interes
sante ilustração para enfatizar seu objetivo — a analogia do espelho (vv. 23-25). A maioria
de nós gasta um tempo considerável em frente ao espelho todos os dias, fazendo tudo o
que podemos daquilo com que temos de trabalhar. Tiago fala sobre uma pessoa que faz
exatamente o oposto.
"Puxa", diz um homem, olhando-se no espelho. "Preciso me barbear. Preciso rear-
ranjar meus cabelos remanescentes". Mas, após notar tudo isso, ele vai embora e não faz
nada.
Imagine que ele vá para o escritório, onde logo seu chefe entra, dá uma olhada nele
e diz: "Ei, o que acontece com você? Acabaram suas lâminas de barbear?".
"Não", o cara responde: "Na verdade, eu comprei um pacote novinho ontem".
"Bem, vocó vai ler de luMlrtn", o gerente avisa, "ou nâo irá ficar por multo tempo
empregado nesta empresa".
lista ó a situação que Tiago descreve. Toda vez que você estuda a Palavra de Deus,
mas não e mudado por ela, é como se você se olhasse no espelho e visse que está com
aspecto horrível, mas se afastasse e nada fizesse.
I lá uma alternativa: "Mas aquele que considera atentamente, na lei perfeita, lei da
liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse
será bem-aventurado no que realizar" (v. 25).
Todos nós desejamos ser abençoados por Deus. Mas estamos respondendo à reve
lação de Deus? Passe comigo ao próximo capítulo, e veremos de que forma a verdade de
Deus transforma as nossas vidas.
capitulo 40
Verdade que
Transforma
Terminei o capítulo anterior mencionando a analogia que Tiago faz de um espelho para
ilustrar como a Palavra de Deus opera cm nossas vidas. É uma imagem intrigante por
que espelhos têm um notável efeito sobre os seres humanos. Eles nos confrontam com a
realidade.
Na verdade, na literatura é comum os autores usarem espelhos para terem uma
nova visão das coisas. Lembra-se da Rainha Má de Branca de Neve? Todos os dias ela
para diante de seu espelho mágico e pergunta: "Espelho, espelho meu, existe no mundo
alguém mais bela do que eu?" Cedendo à vaidade da Rainha, o espelho sempre responde:
"Não." Mas quando Branca de Neve cresce, o espelho declara algo novo: "Rainha, tu és
bela com certeza, mas em Branca de Neve há muito mais beleza".
Ou considere, então, "Alice Através do Espelho" (Alice no País das Maravilhas), onde
o espelho abre a porta para um novo mundo. Semelhantemente, o espelho de Galadriel
na trilogia O Senhor dos Anéis "mostra coisas que foram, coisas que são e coisas que ainda
hão de vir". Na série Harry Potter, no Espelho de Ojesed há uma inscrição com as seguin
tes palavras: "Eu não mostro seu rosto, mas o desejo de seu coração". Claramente, espe
lhos estão associados a poder.
Assim acontece com o espelho da Palavra de Deus. Na verdade, a Palavra é o espe
lho supremo, porque é o espelho que tem poder para transformar. Ele não apenas revela
a verdade, mas ativa a verdade quando o Espírito Santo a usa nas vidas das pessoas. Se
você examinar a Palavra com sinceridade de coração e responder ao que ela lhe mostrar,
sua vida jamais será a mesma. Com o tempo, você será uma pessoa transformada.
Como isso ocorre? Quero sugerir quatro maneiras como a Palavra transforma as
noMNAN vklrtM. Som dúvida há mAh do quatro, maw estas lhe ajudarão a começar a entender
de quo forma a Bíblia revela verdade transformadora sobre Deus e sobre nós mesmos.
APROXIME-SE
A B
CORRETA INCORRETA
O ERRO DO GARFO
Resumindo, quanto melhor entender uma passagem, mais você será capaz de usá-
la. Ou, voltando à imagem no espelho, quanto mais convencido você estiver sobre o que
o espelho está mostrando a você, melhor poderá reagir ao que está vendo. Em outras
palavras, você se barbeia melhor se permitir que o espelho projete um reflexo preciso.
Mas isso não acontecerá se você se aproximar da Palavra e distorcer a mensagem, negli
genciando a observação cuidadosa e a interpretação precisa.
CONVENCIMENTO DO ERRO
CONVINCENTE
Felizmente, a Palavra faz mais do que simplesmente nos mostrar o que é negativo.
Ela também revela a provisão de Deus do que é bom, que cria motivação positiva que nos
convence a andar em novidade de vida. Segunda Timóteo 3:16 descreve esta direção posi
tiva como "treinamento na justiça". A Bíblia nos diz o que precisamos começar a fazer, e
em que direção precisamos começar a caminhar.
Os trechos de aplicação das cartas de Paulo são uma boa ilustração disto. Por exem
plo, Colossenses 3 descreve o estilo de vida de uma pessoa que está "oculta juntamente
com Cristo" (v. 3). A passagem convence plenamente do erro em áreas como imoralidade,
impureza, idolatria e engano. Mas seu clímax é uma visão positiva da vida transformada
que é muito convincente:
CONVERSÃO
Por fim, o espelho da Palavra de Deus produz conversão, o que significa que de fato
começamos a viver de forma diferente como consequência de nossa exposição à verdade.
Tal transformação começa no momento em que abraçamos a fé, que é a razão pela qual
non referlinoN a cnIv Imporlanlv aeon tod mento como conversão. Mun a verdadeira con
versão nào é evento de uma nó data; é um processo contínuo de se tornar cada vez mais
semelhante a Cristo. Tal processo nâo termina até que partamos desta vida para estar
com Cristo.
Permita-me dar uma ilustração pessoal. Filipenses 2:14 é um versículo aflitivamente
convincente: "Façam tudo sem queixas nem discussões" (NVI). Talvez isso não signifique
problema para você, mas para mim, o versículo é extremamente difícil. Na verdade, eu
poderia simplesmente pular do versículo 13 para o versículo 15. Mas há aquele pequeno
versículo convincente no meio.
Ora, há muitas áreas em minha vida onde me queixar e discutir não representam
problema algum. Por exemplo, ensinar. Amo ensinar. Vivo para ensinar. Para mim, a me
lhor coisa da vida é ensinar. Eu provavelmente até pagaria para ensinar. Mas o versículo
diz: "Façam tudo sem queixas nem discussões", não apenas ensinar.
Então "tudo" para mim inclui correspondência. Detesto escrever cartas com pra
ticamente a mesma paixão que amo ensinar. Mas eventualmente, a correspondência se
acumula e tenho pouca opção senão colocá-la em dia. Assim, esta é uma área onde posso
aplicar Filipenses 2:14. O versículo não diz que eu tenho que gostar de correspondência;
apenas diz que preciso aprender a fazer isso sem me queixar nem discutir. Para mim, isto
significa a conversão de minha atitude, de uma que não é muito cristã para uma que seja
cristã.
Trocar correspondência sem se queixar pode parecer não ter maiores consequências
para você. Mas eu não sou você. Quando me olhei no espelho de Filipenses 2:14, vi algo
que precisava mudar - e não pareceu trivial para mim. Então, o que você vê quando se
olha no espelho da Palavra? Que mudanças significativas tal espelho está desafiando você
a fazer, pela graça de Deus? Alguns exemplos que ouvi pessoas falarem incluem: decidir
dirigir fielmente dentro do limite de velocidade; encontrar ao menos uma coisa pela qual
ser grato todos os dias; deixar de beber; estabelecer um padrão regular para ofertar finan
ceiramente para a obra do Senhor; parar de trabalhar aos domingos a fim de descansar;
evitar olhar para pornografia; desligar a televisão à noite a fim de edificar relacionamen
tos com os familiares; controlar o peso; vender a coleção de arte por ela estar dominando
o coração. Poderia relacionar muitos outros. O ponto é que as pessoas começam a viver
de forma diferente quando passam a se comprometer com o estudo da Palavra de Deus -
e com isso permitem que a Palavra se comprometa com elas.
Mas, por favor, observe: essas pessoas não mudaram a fim de fazer com que Deus
as amasse mais. As mudanças nas vidas delas surgiram como resposta àquilo que Deus
mostrara a elas em Sua Palavra. Esta é a motivação da transformação genuína. A verda
deira conversão não é meramente uma mudança de comportamento; é uma mudança de
comportamento originada de uma mudança de coração.
Mas o que exatamente significa "mudança"? Que mudanças? Vejamos o assunto cm
mais detalhes no próximo capítulo.
capítulo 41
Um Povo
Transformado
Talvez você já tenha visto algum filme em que um personagem faça um trabalho árduo
e sujo - conduzindo o gadoz arando o campo, jogando futebol em um campo lamacento,
lutando na guerra. O suor brota de sua pele. Seu rosto tem traços de sujeira. Seu cabelo
está todo despenteado. Suas roupas estão rasgadas e esfarrapadas. Talvez ele até tenha
uma ou outra mancha de sangue. Ele simplesmente parece um trapo.
Mas na cena seguinte, ele se mostra limpo, barbeado, bem-penteado e elegante
mente vestido. E, assim que ele entra, outro personagem observa: "Nossa, e não é que
arrumado você fica bem?".
Até que esta seria uma boa analogia para o que acontece quando nos submetemos
ao processo de transformação resultante do estudo em primeira mão da Palavra de Deus.
Depois de nos olharmos no espelho da verdade bíblica, vemos o quanto realmente esta
mos esfarrapados. O Espírito de Deus, então, usa aquele quadro deprimente para nos
levar à confissão e ao arrependimento. Daí, temos uma mudança de coração para com
Deus. Depois o Espírito nos leva para um caminho positivo de vida e verdade e, ao come
çarmos a trilhá-lo, nossas atitudes e comportamentos começam a mudar. Outros poderão
ver tais mudanças e observar, dizendo, com efeito: "Nossa, e não é que arrumado você
fica bem?".
QUE MUDANÇAS?
Mas agora, o que exatamente mudou em nós? Falamos de alguém cuja vida Deus
transformou, e dizemos: "Uau, como ela mudou!". Ou digamos que um pródigo volte
a conviver com seus queridos após muitos anos de pecado e vergonha, mas agora Deus
realizou uma transformação em sua vida. Ele diz aos seus: "Não sou a mesma pessoa de
ante**. Eu mudei". O que lumi rvalnwntc* quer dizer?
lí importante deixar ente ponto cloro porque a verdade é que nem tudo a respeito
da pessoa muda como resultado do processo de santificação. As pessoas falam sobre uma
"transformação completa e total", o que parece maravilhoso. Mas não é exatamente assim
que tudo acontece, o que pode gerar mal entendidos.
FEITURA DE DEUS
Uma coisa que jamais muda sobre nós é a nossa pessoalidade essencial. Quem so
mos. O âmago de nossa identidade. Isto permanece o mesmo desde o berço até a sepultu
ra. Em Efésios 2:10, Paulo escreve: "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para
boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas".
Se submetermos este versículo a perguntas observacionais como quem, o quê, onde,
quando, por quê e por que motivo, descobriremos: quem somos ("feitura dele" (de Deus));
de onde viemos ("criados em Cristo Jesus"); por que somos ("para boas obras"); quando
fomos feitos ("as quais Deus de antemão preparou"); e por que motivo devemos viver,
isto é, que diferença tudo isto faz ("para que andássemos nelas", isto é, "andássemos" nas
"boas obras"). De forma bastante ciara, este versículo está dizendo algo muito essencial
sobre quem somos como pessoas.
Agora você já pode ver que há alguns termos-chave que precisam ser rastreados:
feitura, boas obras, de antemão e andássemos. Vamos fazer isso juntos.
"Feitura”
A palavra feitura refere-se a "coisa feita" ou "coisa artesanal". Davi, a obra-prima de
Michelangelo, é um exemplo do que a palavra feitura comunica. Ela se refere a algo que
um artesão cuidadosamente desenhou e moldou. Não algo que se formou por acidente
ou acaso, mas uma obra de arte intencional. Efésios 2:10 diz que cada um de nós é uma
obra-prima de Deus, uma criação intencional que o próprio Deus moldou.
Contudo, a palavra feitura não descreve apenas algo belamente formado, mas algo
útil também. Na verdade, o formato em si outorga à obra características que a capacitam a
servir a uma tarefa específica. Pense em um vaso de cerâmica, como uma urna grega, feito
por um artesão do primeiro século. Talvez ele seja formado de maneira que o torne ideal
para servir água. Talvez ele seja grande e forte, predisposto a armazenar grãos. Talvez
ele seja moldado para conter um receptáculo de óleo, de modo que funcione como uma
lamparina ideal que forneça luz. A palavra feitura também transmite a ideia de funciona
lidade, além de beleza.
“Boas Obras"
Isto nos remete ao próximo termo, boas obras. Podemos ser inclinados a pensar naquelas
boas obras "genéricas", como dar comida a moradores de rua ou ajudar velhinhas a atra-
veMarem a rua. Essas certamente sAo boas obras, e certamente devem ser feitas. Mas aqui
vemos um exemplo de como o contexto se torna crucial. À luz de nosso estudo da palavra
feitura, citada anteriormente no versículo, torna-se aparente que as "boas obras" de que
Paulo fala aqui estão relacionadas à natureza da feitura realizada por Deus. Em outras
palavras, cada peça de feitura tem boas obras específicas as quais foi formada para fazer.
Você percebe? Deus tem boas obras específicas que Ele planejou para você fazer -
existem tarefas por aí com o seu nome nelas. Pense em si mesmo como uma ferramenta
(esta é outra maneira de entender o termo feitura, algo feito artesanalmente cujo desenho
o toma adequado para uma tarefa específica). Uma ferramenta não é feita para realizar
simplesmente qualquer tarefa; é feita para realizar uma tarefa específica.
Por exemplo, uma chave de fenda foi feita para parafusar. Na verdade, foi feita
para parafusar tipos específicos de parafusos, dependendo de como a cabeça da chave de
fenda for talhada. Se você usar a chave de fenda para parafusar aqueles tipos de parafu
sos, ela funcionará perfeitamente. Ela cumpre a sua função. Você pode usá-la para fixar
pregos? Bem, pode. Mas ela não funcionará muito bem. Ela não fixará os pregos de forma
muito eficiente, e você poderá danificar a chave de fenda no processo. É melhor usar uma
ferramenta que seja projetada para parafusar pregos, se for isso o que você precisa fazer.
Deixe a chave de fenda fazer o que ela foi feita para fazer melhor.
Então, para fazer o quê melhor foi que Deus formou você? Quais são as boas obras
para as quais você foi criado em Cristo Jesus? Efésios 2:10 sugere que uma razão por que
muitos cristãos têm tanta dificuldade em entender o seu propósito na vida é que eles nào
entendem muito bem como foram formados. E alguns que de fato entendem algo de seu
formato, não o estão usando onde ele pode ser mais efetivo.
“De antemão”
Agora, há dois outros termos que não podem ser menosprezados. O primeiro é de ante
mão. Quando é isso? Antes que fôssemos salvos? Antes de nascermos? Antes que o mun
do fosse formado? Por meio de uma investigação do termo de antemão, descobrimos que
todas as três possibilidades estão certas. De antemão nos diz que em algum ponto antes
desses três eventos, o Deus eterno e trino determinou que queria que certas boas obras
fossem realizadas no século XXI. Para tal fim, Ele criou você. Ele planejou você. Ele in
ventou você e o fez em forma humana - perfeitamente adequado para as tarefas, as "boas
obras" para as quais Ele o fez.
“Andássemos”
Então, que diferença isto faz quanto à forma como você deve viver? Bem, o versículo res
ponde a pergunta explicitamente: você deve "andar" nessas boas obras. Andar significa
viver. O termo tem a ver com vida diária - no trabalho, em casa, em sua comunidade.
A passagem está dizendo que todos os dias você precisa buscar o propósito para o qual
Deus o colocou no planeta. Tal propósito não é algo especial para você fazer somente aos
domingo*, cm uma vlagrm miBiilonária ou durante uma temporada especifica da vida.
Não, Deus quer que você realize o Seu propósito para você todos os dias e nos eventos
diários da vida.
Agora então, tendo visto Efésios 2:10 com um pouco de detalhes, como o versículo
afeta o nosso entendimento do processo transformacional? Para começar, ele mostra que
nós não temos que "nos tornar" outra pessoa para que Deus opere em nossas vidas. Cla
ro, haverá mudanças em nossa vida. Mas nunca temos que mudar quem somos.
Esta notída virá como algo incrivelmente bom para algumas pessoas que leem este
livro. Muitos crentes têm a ideia equivocada de que eles têm que se tornar como algum
outro santo importante a fim de experimentar o melhor de Deus. "Predso aprender a
pensar como C. S. Lewis", alguém dirá após ler um de seus clássicos. "Preciso ser como
Billy Graham." "Preciso me tornar como meu pastor." Eu até já ouvi alunos do seminário
onde ensino dizerem: "Vou ser igualzinho ao Prof" (Prof é como eles me chamam lá).
Posso ser franco? Não! Jamais tente "se tornar" outra pessoa. Seja sempre quem
Deus fez você para ser. Aprenda com os outros. Adquira sabedoria baseado na forma
como vivem. Siga o exemplo deles se for bom. Mas fique com "quem você é". Jamais
tente mudar quem você fundamentalmente é. Se o fizer, você estará dizendo a Deus que
Ele cometeu um erro. E, de qualquer forma, você nunca será bem-sucedido porque como
Efésios 2:10 mostra, Deus determinou desde toda a eternidade quem você seria. Tal pro
jeto nunca mudará fundamentalmente no curso de sua vida. Você não é uma pessoa aos
seis anos de idade, depois outro ser humano totalmente diferente aos 16, ou aos 26, aos
56, ou mesmo aos 86. Você é o mesmo ser humano, com a mesma pessoalidade essencial,
todo o tempo.
Aqui desejo considerar novamente Efésios 2:10. Até este ponto, vimos o versículo
como se ele se aplicasse somente a pessoas, individualmente. E é verdade que Deus nos
fez como peças individuais de feitura. Mas observe a quem Paulo se dirige neste versí
culo: "Pois somos feitura dele...para que andássemos nelas". O apóstolo tem mais de uma
pessoa em mente, não tem?
Na verdade, ao verificarmos o contexto, descobriremos que Paulo tem a igreja toda
em mente - tanto a igreja local quanto a universal. Aprendemos que o cristianismo não
tem a ver com isolamento, mas com comunidade - a comunidade de crentes em Cristo,
bem como a comunidade daqueles que estão sendo transformados por Cristo.
Isso tem implicações significativas quando se trata de aplicar as Escrituras. Significa
que a Palavra de Deus vai além da minha felicidade, conforto ou conveniência pessoais.
Com certeza Deus se importa muito com minha situação particular. Jesus disse que nem
mesmo um fio de cabelo cai de minha cabeça que o Pai nào o perceba (Mateus 10:30).
Mas os propósitos de Deus são muito maiores do que meu cabelo, meu pequeno canto
do mundo.
TRANSFORMANDO O MUNDO
Qual, então, é o plano de Deus? Ele não o revelou totalmente. Mas conhecemos,
com base em Atos 1:8, parte do plano e nossa parte nesse plano: devemos ser testemunhas
de Cristo por todo o mundo. Nós, tanto individualmente, quanto coletivamente.
Isto nos leva ao diagrama da página 258. Você já se perguntou: Como posso produ
zir mudança em minha sociedade? Efésios 2:10 fornece uma resposta. Mudanças acontecem
quando a verdade de Deus transforma a minha vida, para que eu comece a cumprir os
propósitos de Deus para mim. Depois descubro que a verdade de Deus também está
transformando inúmeras outras pessoas ao redor do mundo. A esta comunidade de pes
soas transformadas chamamos Igreja. Individualmente e coletivamente, a Igreja envolve
o mundo e leva o poder transformador da Palavra de Deus a qualquer esfera de influência
que Deus abra para nós.
Realmente funciona assim? Com certeza. Considere a tribo Wadani, do Equador. Os
Wadani (anteriormente conhecidos como os Aucas) viveram por gerações em um ciclo in
finito de assassinato e vingança. Então, em 1956, cinco missionários e suas famílias foram
conduzidos por Deus a levar o evangelho àquela violenta cultura. Ao tentarem fazer con
tato, os cinco homens foram lanceados ate a morte. Senti tal perda pessoalmente, porque
um daqueles homens era Jim Elliot, que havia sido designado para ser meu "irmãozinho"
enquanto calouro na Wheaton College, onde eu era aluno dos anos mais avançados.
A morte de Jim e de seus companheiros poderia parecer uma derrota para o evan
gelho. Mas, ao invés disso, abriu as portas para as esposas e os filhos dos missionários
viverem entre os Wadani - e fazerem o quê? Sim, mostraram a eles o poder transformador
de Cristo. Com o tempo, vários dos Wadani começaram a se voltar para Cristo. Eventual
mente, as mortes cessaram. Uma igreja foi plantada. Aqueles que uma vez matavam seus
inimigos agora oravam por eles. Uma transformação havia acontecido.
Mas a história não termina aqui. Lembre-se de que Deus usa o Seu povo para pene
trar o mundo com Sua graça. Assim é com os Wadani. Em 2006, membros da tribo concor
daram cm participar de um grande filme: The End of the Spear (O Fim da Lança), que conta
a história da reconciliação entre Steve Saint, filho de um dos missionários, e Mincayani, o
guerreiro Wadani que matou o pai de Steve. Poucos filmes já comunicaram o evangelho
de maneira tão poderosa e convincente.
Mat eis o que você predta saber: os cristãos Wadanl decidiram fazer parte do filme
porque ouviram sobre alguns lugares dos Estados Unidos onde mortes por vingança mAo
a norma. Eles concluíram que se Deus pôde mudar a sociedade deles, talvez pudesse usar
a história deles para mudar a sociedade americana.
Isso sim é transformação! A Palavra de Deus cumprida em minha vida primeiro,
depois cumprida junto a outros crentes para que causemos impacto por Cristo em nosso
mundo.
Conheça o texto
No capítulo 4, sugeri uma definição para método de estudo bíblico. A primeira parte de
minha definição diz que método é " nietodicidadc". Isto é, você tem que dar determinados
passos em uma determinada ordem para garantir um determinado resultado. Não sim
plesmente quaisquer passos; não simplesmente em qualquer ordem; não simplesmente
para obter qualquer resultado.
Neste ponto, você já deve saber quais são os passos tão bem quanto sabe seu pró
prio nome: observação, interpretação, aplicação. Agora estamos considerando o passo
da aplicação, onde a mudança de vida ocorre. Mas deixe-me destacar mais uma vez que
a ordem dos passos é crucial. É crucial porque antes de aplicar a Palavra, você tem que
se familiarizar em primeira mão com o que ela ensina. Adquire-se tal conhecimento pri
meiro pela observação diligente, e depois, pela interpretação cuidadosa. Neste ponto,
somente neste ponto, você estará em posição de agir com base no que sabe.
Autoconheclmento
Você não só deve conhecer a interpretação, mas a si mesmo. Em I Timóteo 4:16, Paulo
adverte Timóteo: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina". Note a ordem: cuide de si
mesmo primeiro; então cuide da comunicação da verdade a outros. Por quê? Porque se
você não conhece a si mesmo, fica difícil ajudar outras pessoas a aplicarem a Bíblia em
suas vidas.
Na verdade, uma das principais razões pelas quais a aplicação não é mais efetiva
para muitas pessoas é que francamente, elas não conhecem a si mesmas. E você? Eis duas
perguntas: primeira: quais as suas habilidades? O que tem acontecido de bom em sua
vida? Pode escrever três principais habilidades em uma ficha agora mesmo? (Em minha
experiência, a maioria das pessoas têm problemas para fazer isso.) Segunda: quais as suas
deficiências? Quais as suas limitações? Qual o seu maior obstáculo ao crescimento?
Agora coloque estas duas perguntas juntas, e você verá o valor delas na aplicação.
Se conhecer suas habilidades, isso fará desenvolver sua confiança. Se conhecer suas de
ficiências, sua fé será desenvolvida. Suas vantagens mostram o que Deus tem feito por
você, e suas deficiências, mostram o que Deus precisa desenvolver em você. A razão pela
qual a maioria de nós não cresce mais é que não sabemos de que precisamos.
Romanos 12:3 nos dá visão a esse respeito: "Porque pela graça que me foi dada,
digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém, antes, pense
com moderação segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um". Às vezes, temos
uma opinião exagerada de nós mesmos. Outras vezes, uma opinião distorcida. Paulo diz:
"Não! Não tenha uma ideia vaidosa daquilo que você é. Mas também não vá se conside
rar um lixo". Toda vez que se considera lixo, está fazendo a obra do diabo — e ele não
precisa de sua ajuda. E especialista nisso.
A visão é, então o primeiro passo em direção ao crescimento espiritual — visão da
passagem, e visão de si mesmo.
Você quer aplicar a Palavra de Deus em sua vida? Comece, conhecendo a si mesmo.
Para o ajudar nisso, Doug Sherman, do Ministério de Impacto de Carreiras, desenvol
veu um inventário que revê seus hábitos e comportamentos à luz das expectativas de
Deus em pelo menos cinco amplas áreas da vida. Eis algumas perguntas a se consi
derar.
Em seu trabalho:
• Você dá um dia honesto de trabalho a seu empregador?
• Você cumpre os compromissos que faz com os clientes?
• Você lê ou se mantém atualizado sobre novos desenvolvimentos, idéias e méto
dos em seu campo?
• Na medida do possível, você mantém um emprego estável através do qual as suas
necessidades e as de sua família estejam sendo satisfeitas adequadamente?
• Você tem um orçamento familiar? Permanece sempre dentro dele?
Em sua comunidade:
• Você exercita regularmente seu direito e responsabilidade como cidadão de votar
conscientemente?
• Você paga sua porção justa de impostos?
• Quais as condições de seus registros no trânsito? Tem multas e infrações?
• Você mantém sua propriedade dentro dos estatutos de sua comunidade?
• Você está, de alguma maneira, consciente de e envolvido com a população carente
e suas necessidades?
Há um grande número de outras perguntas que poderíam ser feitas, mas o objetivo
de tal inventado é ajudá-lo na avaliação crítica de si mesmo para determinar as áre
as nas quais você precisa crescer espiritualmente. Todas essas aplicações específicas
brotam de passagens e princípios bíblicos.
Sugestão: peça a alguém a quem você conheça bem, como sua esposa ou um amigo
íntimo, que faça este inventário e dê sua própria avaliação de como acha que você se
sairía em cada área. Então compare suas respostas. Esta é uma ótima maneira de se
conseguir objetividade e fazer com que este exercício seja mais útil.
Adaptado de Doug Sherman e William Hendricks, Your Work Matters to Cod (Colorado Springs:
Navpress, 1987), pp. 232-33.
A Palavra qua Funciona
Uma vez que você perceba que Jesus Cristo quer impactar sua vida de maneira profunda,
você precisa procurar por áreas nas quais relacionar a Palavra à vida. Gosto de ver isso
em termos do que chamo a "Palavra que Funciona". Na Observação e na Interpretação,
surgem novas visões — coisas que você nunca tinha visto antes. F.stas novas visões pro
duzem uma série de novos relacionamentos.
Um novo relacionamento com Deus. Ele agora é seu Pai celestial. Você tem um
relacionamento pessoal e íntimo com Ele. Ele proveu Seu Filho para a sua salvação e o
Espírito Santo para ajudá-lo a crescer e cumprir Seus propósitos.
Um novo relacionamento consigo mesmo. Você desenvolve uma nova auto-ima-
gem. Afinal, se Deus o ama, se Cristo morreu por você, se o Espírito Santo lhe deu dons e
poder, isso significa que você tem tremendo valor e importância. Sua vida adquire novo
significado e propósito.
Um novo relacionamento com outras pessoas. Você descobre que as outras pessoas
nào são inimigos. Elas podem ser vítimas do inimigo, mas são pessoas que Deus colocou
em sua vida. Ele o chama para tratá-las de maneira cristã.
Um novo relacionamento com o inimigo. Por favor, note: Quando vem a Cristo,
você muda de lado na batalha. Antes, era apenas um joguete do inimigo, que o movia
para onde queria que fosse e você não fazia nem idéia de que era tapeado por ele. Agora
porém, você descobre que está do lado de Deus. Acredite, o inimigo não está nada feliz
com isso. É por isso que sua vida cristã será uma constante batalha.
As novas visões que você ganha das Escrituras precisam ser aplicadas em todas
essas áreas de relacionamentos. Note como isso acontece.
A Palavra expõe o seu pecado. Lembra-se de 2 Timóteo 3:16? As Escrituras têm
uma função reprovatória e corretiva. Elas falam quando você ultrapassa os limites com o
intuito de limpar o pecado de sua vida.
A Palavra lhe dá as promessas de Deus. Ela diz o que você pode esperar de Deus e
o que pode confiar que Ele fará. Isso é incrivelmente confortante quando você está enfren
tando circunstâncias que fogem de seu controle.
A Palavra lhe dá os mandamentos de Deus. Assim como há promessas nas Escritu
ras, há também condições a serem cumpridas. São estabelecidos mandamentos c princí
pios que nos levam em direção à saúde e à vida.
A Palavra lhe dá exemplos a serem seguidos. Gosto de estudar as biografias nas
Escrituras, as histórias de pessoas que viveram suas vidas diante de Deus. Nelas, as Es
crituras se tornam reais. Algumas nos dão um exemplo positivo, e são esses que quero
seguir. Outras apresentam um exemplo negativo, que preciso evitar.
Usando a Palavra que Funciona, Jesus Cristo produz mudança de vida naquele que
quer aplicar a verdade bíblica. Este é o seu caso? Um bom teste é: alguém que o conhece
muito bem há bastante tempo já lhe disse: "Ei, por que você está tão diferente? Conhecia-
o antes, mas você não é a mesma pessoa. Algo aconteceu em sua vida". Que explicação
poderia dar? Que Cristo tem agido em sua vida?
Resumindo, o que há em sua vida, que você não pode explicar de outra maneira se
não atribuindo ao sobrenatural?
Quando era jovem, cheguei em um ponto de minha vida, onde era o candidato mais
requintado à ala de psicopatas já visto. Os enfermeiros estavam quase me levando, quan
do um amigo meu, um executivo, soube de minha situação angustiosa.
Ele veio a Dallas por conta própria e passou três dias comigo. Tudo o que eu fazia,
ele fazia. Aonde eu ia, ele também ia. Prestava atenção em cada conversa, assistiu a cada
aula, até morou em minha casa. Finalmente, no final do período, ele me deu seu diagnós
tico: "Howie, seu problema é que você está com o pensamento atrasado".
Se eu tivesse dado a ele vinte mil dólares, acho que não o teria pago o suficiente por
aquela visão. O que ele estava me dizendo era que eu estava deixando que tantas coisas
ocupassem minha atenção, que não estava me permitindo reservar tempo para processar
tudo. Eventual mente, acabei dominado por isso.
O que meu amigo estava descrevendo é na verdade o hábito da meditação, que se
tomou uma arte perdida na sociedade contemporânea, exceto, é claro, dentre os adep
tos do misticismo oriental. Estou falando de algo completamente diferente da ginástica
mental que procura esvaziar a mente. A verdadeira meditação é ponderar a verdade, com
vistas a deixar que ela auxilie e reajuste nossas vidas. Já que muitos de nós somos ativos,
gente ocupada, é provável que concluamos que a meditação tenha sido algo bom para a
antiga geração de crentes, mas que realmente não tenha relevância em nossos dias e era.
Errado! Já vimos no capítulo 14 que a meditação é útil no passo da Observação, e
absolutamente essencial para o passo da Aplicação. Lembra-se de Josué 1:8 e Salmo 1:1-2?
Ambas as passagens falam que a chave para a prosperidade espiritual é a meditação na
Palavra de dia e de noite. Em outras palavras, devemos entrelaçar as Escrituras no tecido
da vida diária.
Minha esposa faz uma sopa a que mal posso resistir. Ela leva horas para fazê-la, co
meça pela manhã, e logo nossa casa fica cheia daquele delicioso aroma — e eu babo, pron
to para devorá-la. Mas ela diz: "Ainda não, espere até o jantar". Eu a chamo sua "sopa
entusiástica" — onde ela dá tudo o que tem de si — fazendo com que sopa comprada no
supermercado fique parecendo água de batata.
Como a sopa fica assim tão boa? Minha esposa a deixa no queimador de trás no
fogão, sobre chama baixa, até que todos os sabores comecem a se mesclar, fazendo-a um
deleite ao paladar. O que você tem no queimador de trás? O que tem cozinhado em sua
mente? Está tirando vantagem dos benefícios da meditação bíblica?
"Mas eu tenho dificuldades em pensar" alguém dirá.
Não, o problema é que você está deixando seu cérebro morrer de fome. Não o está
provendo de nenhum combustível. Como vê, há uma ligação direta entre a meditação
e a memória. A memória provê a mente do combustível de que ela precisa para fazer a
meditação útil.
Uma das coisas da qual me arrependo quando reflito em minha jornada espiritual,
é não ter memorizado Escrituras enquanto jovem. Eventualmente, porém, me envolvi no
"Sistema Tópico de Memória", um conjunto de cartões de memória produzidos pelos
Navigators, que está disponível em qualquer tradução (em inglês). O programa ajuda na
memorização de dois versículos por semana. Isso não é muito, mas pare para pensar: se
fizer isso por cinquenta semanas durante um ano, terá cem versículos das Escrituras sob
seu domínio.
Isso pode fazer diferença em sua vida? Não muito tempo atrás, comecei um pro
grama de memorização da Bíblia, quando tive de me submeter a uma cirurgia. A cirurgia
foi bem, mas contraí uma infecção depois, e era o tipo de coisa que eu não tinha certeza
se iria viver ou morrer, mas quase quis falecer. Descobri que havia apenas uma coisa me
sustendo durante aquele período — a Palavra de Deus que eu havia decorado. Aquela
experiência me convenceu de que a memória é a chave para a meditação. E a meditação a
chave para a mudança de meu ponto de vista.
Experimente
Nossa Ênfase
Um de meus melhores amigos, Trevor Mabery, era otorrinolaringologista. O Senhor o
levou há vários anos, mas, quando vivo e praticante da medicina em Dallas, Trevor cos
tumava me convidar para ir caçar com ele em East Texas. Era uma de minhas atividades
favoritas. Não que eu fosse bom caçador, mas eu adorava ver Trevor, que dominava a
vida ao ar livre.
Um dos grandes bens de Trevor era sua vista. Podíamos estar sentados no carro,
olhando através dos campos, com uma fileira de árvores talvez a mais de 8(X) m de distân
cia e, de repente, Trevor apontava e exclamava: "Olhe ali, Howie, um falcão de ombros
vermelhos. Está vendo?". Eu então procurava bastante, apertava os olhos, esfregava-os,
mas tudo o que conseguia ver era uma fileira de árvores. Depois, sempre, se esperásse
mos o suficiente, um par de asas se elevava e um lindo pássaro subia ao céu. Eu ficava
maravilhado de ver como Trevor podia distinguir tal criatura.
Mas a habilidade de Trevor de reconhecer a vida selvagem em meio a seus arredo
res ilustra outro aspecto de como as nossas diferenças pessoais nos capacitam a apreen
der a Palavra de Deus de modo diferente: tipos diferentes de habilidades enfatizam coisas
diferentes.
Por exemplo, uma pessoa que seja naturalmente motivada a planejar as coisas ten
derá a perceber e a responder às porções da Palavra que contenham discussões de planos.
A pessoa que gosta de conceitos tenderá a enfocar os vários conceitos inclusos nas Escri-
timiN. Aquvlr quo InHlinllvrtmrnlv percebe MNtenw o redes perceberá on muitos NiNlenw
e rcdet» mencionado» ii.in F.ni illuniN Nlntemas de governo, de cidades, de comércio, de
relacionamentos. Quem tiver uma compreensão intuitiva de como as pessoas funcionam
enfatizará a dinâmica humana e as emoções de uma passagem.
Esta é outra razão por que é tão importante estudarmos as Escrituras corporativa
mente, não apenas individualmente. Se ficarmos isolados, só teremos os nossos próprios
dons para trabalhar. Nossos dons têm valor, mas até um limite. Precisamos da perspecti
va de outros crentes para enriquecer e complementar nossas próprias descobertas.
É por isso que eu costumava gostar muito quando Trevor, o homem que descreví
há pouco, reunia um grupo de amigos médicos e me pedia para ir estudar a Palavra com
eles. Permita-me dizer, é uma experiência totalmente diferente falar sobre uma passagem
das Escrituras que lide com questões médicas - como a mulher que sofria de hemorragia
(Marcos 5:25-34), o homem que nasceu cego (João 9) ou a crucificação - com peritos em
corpo humano. Quando as pessoas trazem em uma conversa as habilidades que Deus
lhes deu, obtemos o melhor que elas têm a oferecer. Elas enfatizam coisas que você ou
eu deixaríamos passar, porque têm um instinto inato para procurar certas coisas que são
importantes para elas.
Nossa Execução
Falando de grupos com quem gosto de estudar a Palavra, passei praticamente oito anos
como uma espécie de capelão para o Dallas Cowboys, na época de Tom Landry. Tive a
honra de acompanhá-los em dois Super Bowls5. Costumávamos ter um estudo bíblico
do time toda quinta-feira à noite. Era voluntário, às vezes só dois deles e suas esposas
apareciam, outras vezes, vinham quarenta e dois. Qualquer que fosse a frequência, era
sempre muito bom. Como você pode imaginar, aqueles caras tinham uma inclinação pelo
prático. Sim, eles toleravam um pouco de instrução teórica, quando absolutamente neces
sário. Mas sempre queriam que a verdade fosse trazida a algo que eles soubessem fazer.
Bloqueios, passes e dribles espirituais, pode-se dizer. Em essência, eles estavam pergun
tando: "Qual é a jogada, Prof?".
Jogadores de bola têm que memorizar várias jogadas. E o que aqueles Cowboys
faziam na prática. Executavam suas jogadas repetidamente até que seus movimentos fos
sem automáticos. O interessante é que, uma vez que Roger Staubach ditasse a jogada e
recebesse a bola, todos faziam algo diferente. Mesma jogada, diferentes tarefas. Os caras
na linha bloqueavam, mas cada um tinha uma tática de bloqueio diferente. Outros caras
saiam da linha para correr e fazer as jogadas planejadas - novamente, cada homem cm
5 Super Bowl como é conhecido o jogo final da liga de Futebol Americano (NFL) nos Estados Unidos.
O Dallas é popularmente chamado de "America's Team" e é um dos times mais tradicionais da NFL.
Nascido em 1960, tiveram como principal técnico Tom Landry, que com os Cowboys ganhou 2 Super
Bowls e teve um retrospecto de 270 vitórias, 178 derrotas e 6 empates. (Fonte: Wikipedia)
BUü própria rota. Até oh homens do fundo do campo tinham movimentou dlívrenten a
executar, dependendo da jogada.
Esta é uma boa analogia do que acontece - ou deveria acontecer - quando um grupo
de cristãos depara com uma exortação específica das Escrituras. Por exemplo, as últimas
palavras de Jesus em Mateus 28:19 não poderíam ser mais claras: "Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações". Esta é a ordem à qual todo crente precisa obedecer. Mas
observe: a maneira de cada crente "fazer discípulos" será diferente, por virtude de como
Deus nos formou. A habilidade de cada pessoa funcionará de acordo com a sua natureza.
Na verdade, este é o intento de Deus. Foi por isso que Ele fez cada um de nós de forma
diferente - para que reuníssemos uma variedade de pontos fortes para realizar a Sua
vontade. Para a mesma ordem, existem várias formas de execução.
Assim, quando se tratar de "fazer discípulos", certas pessoas o farão ensinando,
porque ensinar é o que fazem melhor. Alguns o farão sendo exemplos e mentores por ser
isto o que melhor conseguem fazer. Alguns têm habilidade de influenciar pessoas, então
focam na proclamação do evangelho de maneira muito franca e impactante, porque é
assim que são mais eficientes. Alguns caminharão ao lado de descrentes, desenvolvendo
relacionamentos e praticando o evangelho, para que, ao longo do tempo, estimulem a
curiosidade quanto ao que os faz ser diferentes. Alguns usarão o método que André usou
com seu irmão Simão Pedro (1 João 1:40-42): trarão amigos a pessoas que têm habilidade
de explicar o evangelho de forma muito mais eficiente do que eles. Outros participarão de
equipes que viajam o mundo para realizar projetos específicos com o objetivo de ganhar
pessoas para Jesus. Pessoas que têm talento para contar histórias escreverão livros nos
quais relatem suas próprias jornadas de fé de maneira muito convincente para o leitor
não salvo.
Como vemos, há quase tantos modos de aplicar a ordem "ide...e fazei discípulos"
quanto há crentes no mundo. A interpretação é uma, mas as aplicações são muitas. O jogo
é o mesmo, mas as tarefas são diferentes. O motivo é que cada "jogador" tem diferentes
pontos fortes a serem usados por Deus no cumprimento da Sua vontade. É por isso que
é tão importante que você identifique os pontos fortes que Deus lhe deu. Ele tem "boas
obras" específicas designadas a você, e os pontos fortes que Ele designou a você lhe dirão
muito sobre qual é a sua atribuição.
Nossa Excelência
Isto nos traz a uma quarta maneira como as diferenças individuais afetam significativa
mente a nossa aplicação das Escrituras. Tenderemos a sobressair nas áreas em que somos
fortes, mas teremos dificuldades em áreas em que precisemos de força.
Por exemplo, se relacionar-se e lidar com os outros for algo natural para uma pes
soa, ela não terá problemas em se mostrar à altura do desafio de 1 Pedro 3:8: "Finalmen
te, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos,
humildes". Este é um versículo que a pessoa assim foi feita para aplicar. Sim, inevitável
mente eh terá que lidar com problema» de relacionamento, como qualquer ner humano
teria. Mas Deus a dotou com o equipamento perfeito para a tarefa. Assim, presumindo
que o seu andar com Cristo seja sólido, é provável que ela faça um excelente trabalho ao
praticar a verdade de 1 Pedro 3:8.
Por outro lado, digamos que uma pessoa seja, por natureza, reservada, quieta, tal
vez até absorta. Ela foi abençoada com uma mente brilhantemente analítica capaz de se
aprofundar no mundo das informações, dados e fatos. Assim sendo, talvez seja um gran
de profissional da área de engenharia de software, precisamente porque pode se esconder
por horas em seu cubículo, analisando códigos. Isso faz todo sentido do mundo para ela.
Pessoas, ao contrário, sâo muito mais difíceis para ela compreender. É lógico, então, que
ela poderá ter dificuldades para se relacionar. Termos como de igual ânimo, compadecidos,
fraternalmente amigos, misericordiosos podem ser estranhos porque ela não aprecia instin-
tivamente as pessoas e as suas necessidades. Obviamente, ela ainda terá que aplicar 1
Pedro 3:8. Mas sejamos justos e reconheçamos que ela o fará com certo grau de limitação.
A presença ou ausência de pontos fortes essenciais e motivados influi em como
ensinamos e em como esperamos que as pessoas reajam à Palavra. Primeiramente, pre
cisamos reconhecer que um comportamento que é fácil para um professor, por causa de
sua habilidade, pode ser bastante difícil para um aluno, por causa de sua habilidade. Nós,
professores, precisamos aceitar tais diferenças, para não sugerir que o nosso é o único
modo de aplicar as Escrituras.
Por exemplo, você já ouviu alguma mensagem contagiante de um orador cristão
entusiasmado, alegando que a chave para a sua vida espiritual é a memorização das Es
crituras? Eu já, e acho fantástico. Na verdade, eu mesmo fiz declarações semelhantes, de
púlpito. Creio de todo o coração na memorização bíblica. Já disse o mesmo neste livro.
Mas para mim, a memorização acontece de forma bastante natural.
E aqueles para quem memorizar não é tão natural? Precisamos ter cuidado com o
que comunicamos. A memorização bíblica é algo bom, quer o indivíduo seja habilitado
para a tarefa ou não. Mas se alguém não tiver tal habilidade, evitemos fazer com que se
sinta culpado, insinuando que há algo de errado com ele caso tenha dificuldades para
memorizar as Escrituras. Ao contrário, aceitemos que, para ele, a memorização é algo
"possível de se realizar", e não "gostoso de se realizar". Assim, quando ele conseguir me
morizar um único versículo, como João 3:16, vamos elogiá-lo pelo feito, e não desmerecer
seus esforços dizendo: "é só isso?".
Professores da Palavra tendem a exortar os outros nas áreas em que têm pontos
fortes essenciais. Por exemplo, se eles sobressaem em relacionamentos, exortam os outros
a desenvolver relacionamentos. Caso sobressaiam em um método específico de evange
lismo, encorajam os outros a adotar o mesmo método. Se forem cristãos no mundo dos
negócios que descobriram um princípio específico de fazer negócios a fim de ser útil,
tenderão a incitar os outros a praticar o mesmo princípio. Se a solidão é uma disciplina
espiritual que se ajusta especialmente bem com seu sistema, eles promovem a solidão
comu caminho para o crescimento espiritual.
De várias maneiras, a tendência é como deve ser. E melhor ensinar algo que real
mente sabemos e praticamos do que algo sobre o qual não tenhamos noção. Mas conside
remos que a razão porque uma maneira específica de praticar a fé funcione bem para nós
seja o fato de se ajustar à forma específica como Deus nos fez. As outras pessoas, que têm
formato diferente, podem (e talvez devam) abordar uma mesma área de outra maneira,
em virtude da forma como Deus as fez. Meu conselho seria sempre destacar uma verdade
essencial, depois usar um exemplo como ilustração de como tal verdade tem sido aplica
da em minha vida ou na vida de outra pessoa. Mas sempre deixe opções quando se tratar
de aplicação. Lembre-se, há uma só interpretação, mas várias aplicações.
CRISTIANISMO CUSTOMIZADO
A elasticidade com que a verdade bíblica pode ser aplicada a tantas pessoas diferen
tes que enfrentam tantas circunstâncias diferentes é um tributo à sabedoria de Deus. Só
Deus poderia proferir verdade de alcance tão amplo, e ainda assim, tão imutável.
Tal habilidade que a Palavra tem de se encaixar nas variáveis das vidas de todas
as pessoas nos permite "customizar" o cristianismo - torná-lo nosso, torná-lo pessoal.
Significa que nao temos que nos conformar com trivialidades vagas e generalizadas que
não têm penetração, profundidade, nem relevância para nossa situação individual. E isto
significa que não temos que tentar nos espremer em uma abordagem "tamanho único"
que funciona realmente bem para poucos, mas deixa o restante de nós com uma experi
ência medíocre da fé.
Por favor, entenda, ao "customizar" a verdade da Palavra, não estamos acomodan
do a verdade a nossas próprias opiniões e preferências. Fazê-lo seria distorcer o texto,
que é um dos riscos da Interpretação que dissemos, no Capítulo 28, que deve ser evitado.
Mas quando se trata de Aplicação, devemos reconhecer que cada um de nós traz pontos
fortes e limitações únicos para a tarefa, por virtude da maneira como Deus nos formou.
Se aceitarmos nosso formato e cooperarmos com o modo como ele funciona, é mais pro
vável que pratiquemos a Palavra de Deus da maneira específica que Ele pretende que ela
se aplique a nós.
Nove Perguntas
a se Fazer
A.nteriormente, quando estudamos o passo da Observação, eu disse que uma das coisas
a se fazer com qualquer passagem das Escrituras é bombardear o texto com perguntas.
O mesmo acontece quando se trata da Aplicação. Assim, eis nove perguntas de aplicação
que você pode fazer quando abrir a Palavra:
5. Há um mandamento a se obedecer?
A Bíblia está repleta de mandamentos potentes e nítidos. Há cinquenta e quatro deles
somente no livro de Tiago. Semelhantemente, as seções "aplicacionais" das epístolas de
Paulo — Romanos 12-15, Gaiatas 5-6, Efésios 4-6, Colossenses 3-4 — são primordialmente
exortações.
Certo vez perguntoram n um velho e sábio erudilo como determinar a vontade de
I )eu». Sua resposta foi simples: "Os mandamentos das Escrituras revelam noventa e cinco
porcento da vontade de Deus. Se você passar seu tempo cumprindo-os, não terá muito
problema em descobrir os outros cinco porcento".
7. Há um versículo a se memorizar?
Obviamente, qualquer versículo das Escrituras pode ser memorizado, mas alguns terão
mais significado para você do que outros. E por isso que recomendo muito que você se
lance a um programa de memorização da Bíblia. Depois de completá-lo, poderá desen
volver sua própria lista de versículos que se tomaram pessoais e significativos para você.
Eu o encorajo também a memorizar porções maiores da Palavra. Quando meus fi
lhos eram pequenos, tiveram um professor de escola dominical que reconhecia o valor da
memorização bíblica. Ele costumava promover concursos para ver o quanto das Escritu
ras eram capazes de memorizar. Eventualmente eles memorizariam capítulos inteiros da
Bíblia, como Salmo 1, Isaías 53 e até João 14. Perfeitamente, palavra por palavra também.
Portanto, isso é possível e os benefícios são imensuráveis.
8. Há um erro a se notar?
Um dos desenvolvimentos positivos que tenho observado dentre os cristãos durante mi
nha vida toda tem sido uma renovada ênfase nas pessoas e seus relacionamentos. Isso é
o que a verdade bíblica deveria produzir — amor e interesse pelas pessoas e suas neces
sidades.
Entretanto, durante o mesmo período, tenho observado uma desastrosa perda de
conhecimento de teologia básica e doutrinária. Muitos cristãos têm pensamentos obs
curos quando se trata de tijolos fundamentais para edificar a fé, como a ressurreição, o
nascimento virginal, a inerrância das Escrituras e o ministério do Espírito Santo. Como
resultado disso, são muito propensas ao erro teológico.
O estudo bíblico pessoal pode ajudar a reverter este quadro. Quando investigar a
Palavra de Deus, pergunte-se: Que doutrinas e verdades esta passagem está ensinando? Que
erros teológicos expõe? E depois: Que mudanças de pensamento preciso fazer para conformá-lo ao
que as Escrituras ensinam?
0. Hâ um desafio a se enfrentar?
Você já leu uma porção da Bíblia e se sentiu convencido da necessidade de agir com base
naquilo que leu? O Espírito de Deus o induzirá a isso. Quando ler a Palavra, Ele o desa
fiará a reagir em alguma área de sua vida, ou em alguma situação que esteja enfrentando.
Talvez seja um relacionamento que precise ser restaurado. Talvez um pedido de perdão
que precise ser feito. Talvez você precise abandonar algo que o esteja distanciando de
Deus. Ou talvez haja um hábito que precise começar a cultivar. O que quer que seja, o
Espírito usa as Escrituras para promover mudanças em sua vida.
A questão é, você está aberto para tal mudança? Está preparado para enfrentar os
Seus desafios? Garanto que se você abordar a Palavra com qualquer grau de honestidade
e educabilidade, o Espírito não o deixará desapontado.
Experimente
As nove perguntas alistadas neste capítulo são aquelas das quais você deve fazer
um hábito, cada vez que abrir a Palavra de Deus. Mas quero propiciar a você um
pouco de prática em usá-las numa seção longa do evangelho de Lucas.
Começando em 14:25 e continuando até 17:10, Jesus menciona uma série de
parábolas e instruções. A chave para o entendimento do contexto é observar que
há três grupos de pessoas ouvindo Jesus — grandes multidões (14:25) que incluem
numerosos "perversos" (15:1), os discípulos (16:1; 17:1) e os fariseus (16:14). Use as
habilidades de Observação e Interpretação estudadas para entender esta porção do
Novo Testamento. Então, baseado no texto, responda estas nove perguntas:
1. Há um exemplo a seguir?
2. Há um pecado a se evitar?
3. Há uma promessa a se reivindicar?
4. Há uma oração a se repetir?
5. Há um mandamento a ser obedecido?
6. Há uma condição a ser atendida?
7. Há um versículo a se memorizar?
8. Há um erro a se notar?
9. Há um desafio a se enfrentar?
De Vez em Quando
Lembra-se de Carlos, no capítulo 1? Ele tinha a maior consideração possível pela Bíblia.
Se perguntássemos a ele se Ela é a Palavra de Deus revelada, ele diria: "Claro". E autori
dade de fé e prática? "Sem dúvida".
Mas adivinhe o que acontece quando Carlos vai para o trabalho? Ele deixa a Palavra
em casa — não apenas fisicamente, mas mentalmente. Sua intenção não é desconsiderar
as Escrituras, mas a verdade é que nunca ocorreu a ele que elas podem ter algo a dizer
sobre a maneira com que ele dirige seu negócio. Por quê? Porque ele considera a Bíblia
como sendo irrelevante naquele contexto. "O mundo dos negócios não é uma aula de
escola dominical", ele me disse. "Você tem de enfrentar coisas que não são nem mesmo
mencionadas na Bíblia. Assim, ela não se aplica exatamente à situação do dia-a-dia".
Carlos não está sozinho. George Gallup Jr., conhecido condutor de investigação da
opinião pública, descobriu que hoje, 57% dos americanos creem que a "religião pode ser
a resposta para os problemas atuais". Esta é uma queda de 81% em relação a 1957. Ao
mesmo tempo, o número daqueles que pensam que religião está irremediavelmente fora
de moda aumentaram de 7 para 20%. Não se admira que uma outra pesquisa de opinião
Gallup conclua que não há "diferença significativa" entre frequentadores e não frequen
tadores de igreja no que diz respeito a ética e valores no trabalho.
E você? Sente que sua fé é quase tão relevante quanto um hinário quando se trata de
trabalho e outras questões da vida diária? Ou você está entre os muitos que gostariam de
aplicar sua fé aos assuntos de hoje mas não imaginam como fazê-lo? Afinal, os "quentes"
tópicos de nossa sociedade não se encontram nas antigas páginas das Escrituras. Então,
como fazer a conexão?
Sugiro que se comece pelo contexto — tanto o contexto original das Escrituras quan
to o contexto contemporâneo no qual vivemos. O contexto faz uma profunda diferença na
maneira como a verdade bíblica é aplicada.
A VIRDADE QUE NUNCA MUDA EM UM MUNDO QUE SEMPRE MUDA
"Por isso deixará o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os
dois uma só carne."
Como teria sido o casamento de Adão e Eva antes da queda? Imagine o nível de
comunicação, confiança, companheirismo e intimidade que devem ter experimentado.
Mas então, eles pecaram. Agora têm um novo conjunto de dinâmica para contender —
desconfiança, egoísmo, orgulho e luxúria. Porém, Deus deixa intacta a expectativa de
vida em uma só carne. Este é um contexto totalmente novo.
Passe para Moisés, quando ele menciona o relato de Gênesis ao povo de Israel. Eles
estão saindo do Egito, onde a poligamia é comum. A esse respeito, até os próprios pa
triarcas de Israel tinham concubinas. O que era um relacionamento numa só carne, dado
aquele legado? Novamente o contexto sofre uma mudança.
Mais tarde, encontramos Jesus discutindo sobre o casamento com os fariseus (Ma
teus 19:1-9). Naquela época, o divórcio já havia se tomado comum. A pergunta urgente
era como um homem poderia desfazer, e não preservar, seu casamento. Todavia, Jesus
cita Gênesis 2 para reforçar a santidade dos laços do casamento. Aparentemente Suas
palavras chocaram os ouvintes. "Se é essa a condição do homem relativamente à sua mu
lher, não convém casar", disseram os discípulos, incredulamente. Era a mesma verdade
bíblica, mas um contexto totalmente diferente.
Posteriormente, Paulo escreve aos efésios. Talvez a mais rica das cidades romanas,
Éfeso era a São Paulo de seus dias, a capital do turismo do mundo do primeiro século.
No momento em que Paulo entra em cena (Atos 19), o casamento havia caído num estado
lamentável, especialmente entre os ricos. Comentando sobre as mulheres de seu dia, o fi
lósofo Seneca gracejou: "Elas divorciam para casar de novo e casam para divorciar". Seu
filho, igualmente cínico, definiu uma mulher casada, fiel, como aquela que tinha apenas
dois amantes.
Paulo já havia causado um tumulto em primeira escala em Éfeso com seus novos
e estranhos ensinamentos (Atos 19:23-41). Agora ele estarrece os jovens crentes de Éfeso
com sua carta. Como Jesus, ele cita Gênesis 2:24 e então diz: "[Maridos] cada um de per
si, também ame a sua própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite a seu marido"
1 Carcopino, Jérôme, Daily Life In Ancient Rome: The People and the City At the Height of the Empire (A
Vida Diária na Roma Antiga: O Povo e a Cidade no Auge do Império) (New Haven, Conn.: Yale
University Press, 1940) 100.
2 Durant, Will, Caesar and Christ: A History of Roman Civilization and of Christianityfrom their beginnings
to AD 325, (César e Cristo: História da Civilização e do Cristianismo desde os seus primórdios até 325
d.C.) (New York: Simon and Schuster, 1944) 370.
(5:33). Como um cahaI buNCA um relacionamento em uma só carne no contexto de Itíeso
do primeiro século?
Sobre isso, como será o casamento bíblico no contexto do século XX? Mais da meta
de de todos os novos casamentos estão terminando em divórcio hoje em dia. A infideli
dade sexual está aumentando, apesar da crescente AIDS e de outras doenças sexualmente
transmissíveis. Dois terços dos casais casados com filhos têm um acordo de renda dupla,
com todas as exigências que isso impõe ao seu tempo e energias emocionais. Cada vez
mais pessoas se encontram com famílias misturadas e a peculiar dinâmica relacionai que
criam. Como um casal pratica o casamento em uma só carne no clima cultural de hoje?
O ponto é que a Palavra de Deus é eterna e imutável, mas nosso mundo nào é. Por
tanto, para vivenciar a verdade de Deus é preciso que a conectemos ao nosso conjunto
particular de circunstâncias. Mas por favor, note: não mudamos a verdade para adaptá-
la à nossa agenda cultural, mas mudamos nossa aplicação da verdade à luz de nossas
necessidades.
Como pode isso acontecer? Como considerar uma mensagem escrita no ano 100
d.C. ou antes, e fazer uso dela no ano 2010 d. C. e depois? A chave é o contexto. Qual era
o contexto então? Qual é o contexto agora?
Vimos a importância do contexto na Interpretação. Agora descobrimos sua impor
tância para a Aplicação. Precisamos entender a cultura antiga. Quanto mais soubermos
sobre a cultura na qual uma determinada passagem foi escrita e à qual foi originalmente
aplicada, mais preciso será nosso entendimento e mais capazes seremos de fazer uso dela
em nosso próprio contexto cultural.
Mas isso não é tudo. Devemos também entender nossa própria cultura. Assim como
buscamos uma visão do contexto antigo, precisamos buscar visão de nosso próprio con
texto. Onde estão os pontos de urgência? Onde estamos especialmente necessitados da
verdade bíblica? Quais as dinâmicas culturais que fazem a prática da verdade difícil, e
às vezes, aparentemente impossível? O que influencia nossas atitudes e comportamento
espirituais? O que os apóstolos nos diríam se estivessem escrevendo para nossas igrejas
hoje? Onde Cristo seria ativo se andasse entre nós atualmente?
E interessante que quando Davi estava reunindo seu exército para estabelecer o
reino, recrutou os filhos de Issacar. O texto os descreve como "conhecedores da época,
para saberem o que Israel devia fazer" (1 Crônicas 12:32). Poderiamos usar muito mais os
filhos de Issacar no Corpo de Cristo hoje — aquelas pessoas que entendem tanto a Palavra
quanto o mundo, que sabem o que Deus quer que seja feito em sua sociedade, pessoas
que não são apenas bíblicas, mas contemporâneas também.
Aliás, hoje em dia, para "entender os tempos" é preciso ser ágil. Nosso mundo
muda tão rapidamente e as formas de cultura se alteram com tanta velocidade, que temos
qu* cmtâr sempre vigilantes se pretendemos estnr informados. I'ntrolanlo, no “estar infor
mado", existe o risco de fazermos do “novo" um ídolo. Se algo é novo, achamos que deve
ser importante e merece a nossa atenção. Mas talvez não. A coisa “nova" mais importante
que sempre merecerá a nossa atenção é a pergunta: Onde Deus está operando hoje, e como eu
posso me envolver nisso?
ESTUDANDO A CULTURA
Entender nossa cultura não é tão fácil quanto se pode pensar. O fato de vivermos
nesta sociedade não significa que estamos cientes de como ela funciona. Na verdade, a
maioria de nós vive a vida sem notar as forças que nos influenciam. Poderiamos consi
derar fazer um estudo de nossa cultura assim como estudamos as culturas do mundo
bíblico.
Assim, quero sugerir perguntas para você fazer enquanto avaliar o contexto cultu
ral de hoje. São pouco mais do que as seis chaves para a observação vistas anteriormente:
Quem? O quê? Onde? Quando? Por quê? Qual a razão? Vimos como usá-las no estudo
das sociedades do mundo antigo, mas elas também se aplicam à situação moderna.
Evidentemente, o problema ao fazermos essas perguntas sobre nosso próprio con
texto é a tendência de ficarmos satisfeitos com respostas superficiais. Lembre-se, um dos
assassinos do estudo bíblico é a atitude: “Já sei isso. Já vi aquilo. Domino esta parte". O
mesmo acontece quando se faz um estudo da própria sociedade. Nunca pense que você
entende completamente o mundo em que vive.
Mencionarei alguns pontos dignos de consideração. Muitos outros também pode
ríam ser citados, mas estes já serão um bom início.
Poder
Onde estão os centros de poder? Quem está no comando? Como adquirem o controle?
Como mantêm o domínio? Qual a sua efetividade em manter controle? Onde estão os
desafios à sua autoridade? Quem faz as decisões por nossa sociedade como um todo?
Quem faz decisões a nível local e individual? Quem exerce influência quer esteja ou não
no poder?
Comunicação
Quais os meios de comunicação? Como as notícias e as informações são distribuídas?
Quem tem acesso a elas? Quem tem acesso à mídia? Como nossa sociedade determina a
credibilidade e a confiabilidade das informações? Como os meios de comunicação mol
dam as mensagens que são comunicadas?
Dinheiro e finanças
Que lugar o dinheiro ocupa nos valores culturais? Por quê? Como as pessoas ganham a
vida? Com quem a moi li’drtdi* mmercirtll/rt? Que brnn mAo comercinlizadoN? Qual* nAo om
meios de transporte? Como am ppMboaM vAo de um lugar a outro? Que recurnoN a Nocicdn-
de tem? Que recursos ela nAo tem? Quais são os avanços tecnológicos? Quantas pessoas
vivem na pobreza? Qual o tamanho da classe média? Qual é a disparidade entre ricos e
pobres? Como isso influencia a cultura?
Etnia
Que pessoas compõem nossa cultura? De onde vêm? Que história e valores trazem? Coin<»
nossa sociedade é organizada socialmente? Como é estratificada? Como é determinado o
status? Quem está no topo da pirâmide? Quem está na base da pirâmide? Por quê? Quais
as barreiras e os problemas raciais com que as pessoas têm de contender? Como isso afeta
nossa vida diária? Que tradições e valores caracterizam as várias subcultures?
Sexos
Qual o papel do homem e da mulher? Como os sexos se relacionam? Que problema*
confrontam cada um dos sexos? Por quê?
Gerações
Que valor a cultura dá à família? Como as famílias sâo estruturadas? Quem são as famí
lias-chave? Onde elas moram? Qual é a história delas? Como elas mantêm a influência?
Como o poder é passado de geração a geração? Como os jovens são educados e socia
lizados? O que é ensinado a eles? Quem ensina? Como uma pessoa se torna adulta na
cultura? Quanto tempo dura a adolescência? O que acontece com os idosos?
Artes
Que tipo de arte nossa cultura produz? O que a arte nos diz sobre nós mesmos? E sobre o
mundo? Que lugar damos ao artista em nossa sociedade?
História e tempo
Que lendas e mitos foram transmitidos? Que histórias são contadas repetidamente?
Quem escreve nossa história? Que histórias não foram contadas? Qual o ritmo de vida de
nossa sociedade? Como as pessoas medem o tempo? Que lugar damos aos idosos? O que
as crianças representam? Quem representa as crianças dentro do que elas representam?
Lugar
Onde noHMi cultura está situada geograficamente? Que fatores topográficos v climáti
co» Influenciam nosso dia-a-dia? Quão versáteis somos em relação a outras sociedades?
Quanto tempo as famílias moram em um lugar? Que terra é transmitida pelas gerações?
Que pessoas foram deslocadas? Que lugares têm caracterizado proeminentemente a his
tória de nossa cultura? Onde as guerras foram travadas? Onde foram feitas as celebra
ções? Que monumentos e memoriais se encontram no local?
Recursos
Que recursos naturais (por exemplo, água, petróleo, gás natural, madeira) a sociedade
possui? Em que quantidade? Quem tem acesso e controla tais recursos? Que itens a socie
dade tem que importar? Que parcela da sociedade tem acesso à eletricidade? Ao serviço
de telefonia? Internet? Quais são as propriedades geográficas da cultura (por exemplo,
portos marítimos, cordilheiras, solo fértil).
Se você responder diligentemente perguntas como estas sobre o mundo a seu redor,
desenvolverá profundas visões sobre como nossa sociedade opera. Mas como amarrar
estes dados à verdade das Escrituras? Como aplicar a Palavra de Deus ao contexto da sua
própria situação? Afinal, não há correspondência direta entre os versículos da Bíblia e a
vida diária. Como fazer a conexão? Descubramos no próximo capítulo.
EXPERIMENT!*
Uma das questões urgentes para os cristãos do primeiro século era se podiam co
mer carne sacrificada a ídolos ou não (veja cap. 33). Paulo devota um capítulo inteiro
a este tópico em Romanos 14. Mas, a menos que entendamos o contexto cultural e
por que esta questão era tão controversa, nunca entenderemos ou aplicaremos esta
porção das Escrituras. Assim, quero sugerir um projeto para você desenvolver suas
habilidades a esse respeito. Uma vez que tenha entendido o que estava acontecendo
em Roma no primeiro século, você irá valorizar o motivo por que Paulo incluiu o
material e que significado ele tem para nós hoje.
Comece lendo e estudando Romanos 14. Use todas as ferramentas de obser
vação mencionadas anteriormente. Não passe para a interpretação até que tenha
bombardeado o texto com uma barragem de perguntas observacionais.
Quando estiver pronto para começar a interpretar, os dois exercícios mais úteis
serão provavelmente a comparação e a consulta. Compare Romanos 14 com outras
passagens da Bíblia que lidem com o mesmo assunto, como 1 Coríntios 8. Use uma
concordância para descobrir tudo que puder sobre o lugar que os ídolos ocupavam
nas mentes destes primeiros cristãos.
Para a consulta, você precisará encontrar um bom resumo sobre religião roma
na e culto de deuses e deusas. O historiador Will Durant dá uma visão geral concisa
da vida no Império Romano em Caesar and Christ (New York: Simon and Schuster,
1944). Sua biblioteca local deverá ter outras sugestões de fontes adicionais.
Enquanto trabalha com o texto bíblico e as fontes secundárias, construa uma
base de informações sobre a cultura romana do primeiro século, usando os tipos
de perguntas alistados neste capítulo. Se você fizer um estudo completo, de manei
ra que possa visitar Roma no ano 60 d. C. e sentir-se bem a vontade, verá porque
a questão da carne sacrificada a ídolos causou tanto problema na igreja primitiva.
Você também será capaz de reconhecer os paralelos de nossa própria cultura, e onde
Romanos 14 pode se aplicar hoje.
"O Princípio da Coisa"
o que a Bíblia tem a dizer sobre engenharia genética, chuva ácida e energia nuclear?
Sobre aborto, controle da natalidade e eutanásia? Sobre influência em negócios, contratos
falsos e gerenciamento para produtividade? Há alguma coisa sobre educação pública,
reforma nas prisões ou seguro de saúde universal? Abririamos a Bíblia para tentar so
lucionar problemas de transporte, moradia ou disposição de lixo? Podemos encontrar
versículos sobre a AIDS, artrite, ou doença de Alzheimer?
Não estou dizendo tolices. Se vamos ler com a Bíblia numa mão e o jornal na outra,
temos de encarar estes tipos de problemas. Temos de perguntar qual a conexão existente
entre a verdade revelada da Palavra e o mundo atual. De outro modo, estaremos no di
lema de Carlos, achando que a Bíblia tem relevância apenas como guia devocional; sem
propósito nos assuntos práticos da vida.
Entretanto, qualquer leitor sensato reconhecerá imediatamente um problema deste
tipo. Não há correspondência direta entre os versículos da Bíblia e os assuntos da vida
contemporânea. Nào podemos simplesmente "ligar os textos bíblicos na tomada" para
obter respostas às necessidades e problemas que enfrentamos. A vida é muito mais com
plexa que isso.
A Bíblia não foi escrita com esse propósito. Ela não é um texto de biologia, negócios,
economia ou mesmo de história. Quando fala sobre tais áreas, a Bíblia o faz verdadeira
mente mas não compreensivamente. O assunto principal da Bíblia é Deus e Seu relacio
namento com a humanidade; e é nossa grande responsabilidade praticar as implicações
disso na vida diária. Temos de pensar nelas e fazer escolhas — escolhas biblicamente
informadas.
Isso nos faz voltar ao dito mencionado anteriormente: uma interpretação, várias apli-
Crtçflen. Sem duvida, há várlim problema» r»pccífico» que a Bíblia nunca menciona, cnlaaa
que nem mesmo eram problema» na época em que foi escrita. Mas isso nâo significa que
nâo tenha nada a dizer sobre ele». IVio contrário, ela nos fala sobre verdades ou princípios
fundamentais que Deus quer que apliquemos, englobando toda extensão da necessidade
humana.
O que quero dizer com "princípio"? Um princípio é uma declaração sucinta de
uma verdade universal. Quando falamos sobre princípios, partimos do específico para o
geral. Por exemplo, Provérbios 20:2, que diz: "Como o bramido do leão é o terror do rei;
o que lhe provoca a ira peca contra a sua própria vida".
Tecnicamente falando, pode-se argumentar que esse versículo não se aplica a nós,
que vivemos em uma república democrática e não em uma monarquia autoritária. NAo
temos um rei, então não temos de nos preocupar com sua ira. Mas esta seria uma leitura
limitada da passagem. E também uma má leitura do gênero, que é o provérbio. Os pro
vérbios invariavelmente declaram verdades gerais através de casos específicos. Aqui, o
problema é o relacionamento de uma pessoa com o governo. O princípio é respeitar a
autoridade e o poder governamentais.
Isso inclui toda contingência com respeito ao governo? É claro que não. Nem deve
riamos esperar por isso. Nem mesmo as bibliotecas legais, com quilômetros de livros, o
poderíam fazer. Mas o princípio realmente nos faz iniciar na direção certa. Ele nos revela
a atitude básica que deve caracterizar nosso relacionamento com o governo. Nosso com
portamento específico pode variar de situação para situação, mas em cada caso, devemos
mostrar respeito pelas autoridades civis que Deus coloca sobre nós.
Vimos um outro exemplo da necessidade de se enxergar princípios gerais em 1
Coríntios 8. O problema ali é a carne oferecida a ídolos. Isso não faz mais parte de nossa
sociedade. Suspeito que isso seja um motivo de preocupação hoje para cristãos em cultu
ras onde a idolatria prevalece. Mas para nós, é inconsequente. Isso faz 1 Coríntios 8 irre
levante? Não, porque o capítulo nos traz princípios ligados a problemas maiores, como
os de consciência, tolerância, respeito por outros crentes e sensibilidade a sua maneira de
vida no passado. Estes certamente não são irrelevantes.
Mas suponha que estejamos lendo uma biografia, como a vida de Daniel I .embre-íu»
que dissemos que uma das coisas a se procurar é aquilo que é da vida real. Assim, o que
ressoa com a vida real na experiência de Daniel? Um dos fatos mais notáveis é que esse»
homem piedoso agia em ambientes incrivelmente perversos. Na verdade, um painel de
"experts" designado a verificar seu dossiê não pôde descobrir uma partícula de evidência
condenatória quando eles quiseram se opor a ele (Daniel 6:1-5).
Portanto, que diferença Daniel faz hoje? Bem, que tipo de ambiente de trabalho é o
seu? Não será tão corrompido quanto a Babilônia antiga, certamente. Mas talvez você sai
ba de decepção e fraude em sua empresa. Talvez você tenha sido alvo político de alguém
que queria seu emprego. Talvez alguém esteja dificultando sua vida por causa da sua
posição em Cristo. Você acha que a história de Daniel pode conter alguns princípios que
Apliquem A nua «lluação? Acha que pode aprender com a maneira que ele lidou com o
dcMiillo que o confrontava? Acha que podem existir lições a se aprender sobre viver como
filho de Deus em um sistema secular, até mesmo mal?
Se você consegue discernir princípios em seu estudo das Escrituras, terá poderosas
ferramentas para ajudá-lo a aplicar a verdade bíblica. Construirá uma ponte entre o mun
do antigo e sua própria situação com a verdade eterna da Palavra de Deus. Mas como de
terminar se sua percepção é correta? O que o guardará do erro e do extremismo quando
generalizar o texto? O que garantirá sua permanência na prática? Não há garantias, mas
eis três coisas a se considerar.
MULTIPLICANDO A VERDADE
Experimente
Agora use estas perguntas para declarar princípios de aplicação em três pas
sagens das Escrituras: Provérbios 24:30-34; João 13:1-17 e Hebreus 10:19-25.
capítulo 47
O Processo de
Mudança de Vi da
o retiro da igreja terminou. Os participantes colocam as malas nos carros e se despe
dem uns dos outros. Que fim de semana importante tiveram, com muita diversão, boa
comida e um precioso tempo de estudo do livro de Filipenses. O Pastor Jonas abria um
largo sorriso quando recebia palavras de gratidão e apreciação dos membros.
Luís, um membro da congregação se aproximou e disse: "Pastor, esse fim de sema
na foi... bem, ele realmente mudou minha vida. Jamais serei o mesmo".
"Fico feliz em ouvir isso, Luís", respondeu o ministro. "Diga-me, o que foi o mais
significante?"
"Bem, não sei. Na verdade, tudo". Ele riu. "Percebi que tenho tanto a aprender ...
Quando chegar em casa vou começar a ler mais a Bíblia c vou realmente mudar a maneira
com que trato as pessoas. Acho que vou me voluntariar para ajudar na escola dominical.
Acho também que preciso rever minhas ofertas, fui realmente tocado por sua mensagem
sobre missões".
"Parece que você aproveitou bem este retiro", o pastor Jonas disse, entusiasmado.
"Estarei orando por você". Os dois homens apertaram as mãos e foram embora.
Superficialmente, esta troca parece maravilhosa. Com base no ensino que o Pastor
Jonas ministrou em Filipenses, Luís identificou algumas áreas específicas de crescimento
espiritual e ação. Isso é ótimo. Mas, o quadro brilhante ofusca um pouco quando desco
brimos que Luís esteve pelo menos em uma dúzia de retiros como aquele por anos e fez
comentários semelhantes depois de cada um. Mas ele mudou? Nem um pouquinho. Ele
se motiva pelo entusiasmo do momento, mas quando chega em casa, suas boas intenções
evaporam e ele nunca começa o processo de mudança.
POR ONDE COMEÇAR?
1. Decida mudar
Em outras palavras, faça uma decisão. Determine que tipo de mudança você precisa fa
zer, e então escolha buscá-la. Esta é basicamente uma questão de se estabelecer objetivos. Isto
é, que diferença você apresentará como resultado da operação de tal mudança? Como
você será ao final do processo?
Robert Mager, um especialista em aprendizado e educação, diz que um objetivo
bem estabelecido descreve o que uma pessoa estará fazendo uma vez que atinja o resulta
do pretendido. Por exemplo, o objetivo deste livro é ajudá-lo a fazer perguntas observa-
cionais ao texto bíblico, explicar o que a passagem significa e descrever maneiras práticas
de usar o que aprendeu na vida diária. Esta declaração aponta para comportamentos
específicos que poderíam ser avaliados se quiséssemos saber se temos cumprido nossos
objetivou. Por exemplo, |HKlrrlnmo» prestar atenção em você, Investigando o texto com
perguntas, poderiamos ler uma interpretação escrita por você, ou poderiamos verificar
sua agenda para checar se você está tomando atitudes.
Que objetivos você está preparado para estabelecer na realização de mudança? Des
creva o que estará fazendo quando atingir o objetivo. Quer se tomar um pai melhor?
Como essa área lhe parece? Você pode declará-la em termos de comportamentos notá
veis ou avaliáveis? Por exemplo, "ser um pai melhor" pode envolver passar mais tempo
com seus filhos se você é pai, e pode significar organização e manejamento da agenda de
família se você for mãe. Podemos avaliar tais comportamentos e podemos usá-los para
planejar (veja abaixo).
Quanto mais claros e demonstráveis forem seus objetivos, mais provável será o
cumprimento dos mesmos. Objetivos imprecisos levam a resultados obscuros. Se você
disser que vai "evangelizar mais", terá dificuldades em saber quando evangelizou mais,
mas se disser que irá começar a conversar sobre Cristo com seus vizinhos, João e Maria,
saberá exatamente quando e se cumpriu a tarefa.
Se isso lhe parecer muito rígido, muito restrito, sugiro que você esteja estabelecendo
uma forma aguada de cristianismo — aquela que promete não mantê-lo acordado à noite.
Você sabe, Deus nào nos dá a Sua Palavra para nos tranquilizar, mas para nos conformar
ao caráter de Cristo. E isso vai além de sentimentos piedosos e boas intenções; penetrando
ao nível de nossos horários e talões de cheques, amizades, trabalho e família. Se nossa fé
não faz diferença prática nessas áreas, então que diferença faz tê-la?
Objetivos claramente definidos nos ajudam a ver a verdade através de ações, nào
de abstrações. Semelhantemente, eles mantêm nossas expectativas realistas, atingíveis. Se
seu alvo é desenvolver a compaixão de uma Madre Teresa, maravilhoso. Mas não faça
disso o seu objetivo. É melhor começar servindo uma sopa aos necessitados em sua pró
pria comunidade. Determine maneiras práticas de suprir necessidades. Isso é atingível; é
algo que você pode fazer agora mesmo. Este é um passo realista na direção certa.
2. Estabeleça um plano
Este é o passo onde se pergunta como. Como vou cumprir a tarefa? Se você estabeleceu
bem seus objetivos, isso deve ser relativamente fácil de responder. Se nào, você pode ter
de voltar e revisar seus objetivos, fazendo-os mais claros e mais viáveis.
Um plano é um curso específico de ação de como você vai atingir seus objetivos —
e digo, bem específico. Pense novamente em termos de tudo o que será necessário para
fazer o que você pretende. Quem são as pessoas envolvidas? Que recursos serão necessá
rios? Para quando irá agendá-lo? Qual o melhor dia?
Por exemplo, suponha que seu objetivo seja se tomar um pai melhor, passando
mais tempo com seus filhos. Como irá fazê-lo? Talvez isso signifique levar seu filho para
comer pizza e falar a ele sobre como foi a sua própria infância, o que poderia ser um ex
celente plano. Mas o que será necessário para realizá-lo? Para quando irá agendá-lo? Seu
filho concorda com ele? Qual aerln o melhor dia? Quanto tempo pretende gastar? Que
local eacolherdo para que possam conversar? O que dirá?
Suponha que você seja a màe para quem "ser melhor para seus filhos" signifique
organizar e manejar a agenda familiar. Como irá fazê-lo? Talvez tenha de pendurar um
calendário na cozinha. Então, quando irá comprar um calendário? De que tamanho pre
cisará ser? Onde irá colocá-lo? Com quanta freqüência irá atualizá-lo? Como saberá o que
colocar nele?
Novamente, suponha que você decida que precisa envolver seus vizinhos João e
Maria em uma conversa sobre Cristo. Você sabe que eles têm dúvidas a esse respeito.
Como poderá começar? Uma maneira pode ser dando a eles uma cópia de Cristianismo
Básico, de C. S. Lewis, como meio de estimular uma discussão. Se o fizer, quando obterá
a cópia para dar a eles? Quando irá entregá-la a eles? Como planeja fazer o acompanha
mento? Você os convidaria para a sobremesa uma noite para falar sobre o assunto? Se
convidaria, que dia seria? Eles concordam?
Planejar um curso de ação significa pensar em meios específicos de se atingir um
objetivo e então considerar o que é preciso para praticar o plano. Isso requer nomes,
datas, horários e lugares para suas intenções. Quanto mais específico for seu plano, mais
provável será o seu sucesso.
3. Vá até o fim
Em outras palavras, comece. Seu plano começa com um telefonema? Então, pegue o tele
fone. Começará por pedir à sua secretária que modifique seus horários? Então peça a ela
que o faça. Você planeja avaliar seus hábitos de ofertar, à luz de seu orçamento? Então,
sente-se e atualize seu orçamento para que tenha a informação necessária.
O primeiro passo é sempre o mais difícil. Mas tome-o. Não o adie. Se você chegou
até aqui no processo, recompense seus esforços com uma sólida caminhada até o fim. Dê
a si mesmo o respeito de realizar seus compromissos.
Tiês estratégias podem ajudá-lo neste processo. Primeira, considere o uso de uma
lista de checagem, especialmente se seu plano requer atividades repetitivas ou passos
progressivos. Por exemplo, se você planeja memorizar as Escrituras, deve ser sábio e alis
tar todos os versículos que pretende memorizar e as datas em que planeja tê-los memori
zados. Então, quando decorar os versículos, poderá riscá-los de sua lista. Com o tempo,
você poderá ver e celebrar o seu progresso, o que o impulsionará em seus esforços.
Uma segunda estratégia é estabelecer alguns relacionamentos de responsabilidade,
que podem ser formais ou informais. A responsabilidade informal pode envolver falar a
seu cônjuge ou a um amigo próximo sobre o que planeja fazer. Enquanto progredir no
processo, você poderá mantê-lo (a) ciente de seu progresso, de suas lutas e vitórias.
Entretanto, para um crescimento espiritual a longo prazo, recomendo uma respon
sabilidade formal em grupo. Minha esposa Jeanne e eu temos feito parte de um grupo
assim por anos e não o trocaríamos por nada. Um grupo de pessoas comprometidas umas
com ah outran traz vncornjnmcnto e sabedoria ao processo de crescimento. Além disso, a
dinâmica do grupo ajuda as pessoas a cumprirem seus compromissos.
Uma terceira maneira de garantir a realização de seus planos é avaliando seu pro
gresso. A manutenção de um diário é a forma ideal de fazê-lo. Quando estabelecer seus
objetivos e os cumprir, tome nota do processo. Registre por que quis fazer mudanças, por
que optou pelo curso de ação e o que aprendeu enquanto ocupou-sc com ele. Mais tarde
poderá reler e rever seus caminhos, podendo notar em que áreas progrediu e onde ainda
precisa crescer.
Outra maneira de se fazer isso é ter um tempo periódico de reflexão pessoal e ava
liação. Pegue seu diário, sua Bíblia, seu calendário e qualquer outro registro daquilo que
tem feito durante os últimos meses. Faça perguntas a si mesmo: Quais tem sido os tiês
maiores desafios em minha caminhada com o Senhor nesse período? Como reagi? Que
vitórias tenho a celebrar? Que derrotas preciso considerar? De que respostas específicas a
orações posso me lembrar? Mudei para melhor ou para pior? De que maneiras? Em que
gastei meu tempo? Meu dinheiro? O que aconteceu em meus relacionamentos?
Uma palavra de cautela se faz necessária, entretanto, a respeito do autoexame: não
desanime por não ter avançado mais. O avanço na jornada da fé é sempre gradual. Mas
todo avanço deve ser valorizado, não importa quão pequenos sejam os passos dados.
Todo passo é necessário. Talvez o que importe mais não seja o tamanho dos passos de
alguém, mas a direção em que são dados.
Pense na época da Segunda Guerra Mundial. A invasão da Normandia, em 6 de
junho de 1944, talvez seja a maior ofensiva já intentada por uma força militar. A luta foi
terrivelmente violenta. Milhares de homens morreram, de ambos os lados. Durante boa
parte daquele dia, o resultado se manteve incerto. A vitória podia ser de qualquer dos la
dos. Contudo, antes do final do dia, os aliados haviam estabelecido uma cabeça de ponte
na França. Seria aquele o fim da guerra, então? De modo algum. Levou mais 11 meses
até que os nazistas fossem derrotados e cessassem as hostilidades na Europa. Muitas
das batalhas travadas no caminho de Berlin foram tão atrozes quanto as da Normandia.
O avanço às vezes pareceu gradual. Às vezes, os Aliados enfrentaram derrotas. Mas o
inimigo já estava dominado, e com cada palmo de território recapturado, a vitória se fez
muito mais próxima.
Assim ocorre na vida espiritual. Deus estabeleceu uma cabeça de ponte em seu
coração quando você se entregou a Cristo. Em Cristo, a vitória está garantida. O inimigo
foi dominado. Porém, as batalhas não terminaram, e em alguns dias, o avanço pode pare
cer mais com regresso. Mas não deixe que isso o dissuada de perseverar. Crie formas de
medir realisticamente o seu progresso ao trilhar o caminho da vida. Conheça a si mesmo
e as maneiras como Deus tem agido em sua experiência.
DEUS TRABALHA EM VOCÊ
Num capítulo anterior, mencionei o medo que a última parte de Filipenses 2:12 me
causava quando eu era pequeno: "Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor".
O processo de planejamento descrito neste capítulo é uma forma de "desenvolver a sua
salvação". Você tem de assumir a responsabilidade de fazer escolhas e tomar atitudes
para crescer como crente.
Porém, nunca esqueça o outro lado: "Porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (2:13). Enquanto estabelece objeti
vos, faz planos e os realiza, Deus está bem junto a você. Isso é o que nos encoraja na vida
espiritual — nunca estamos sozinhos. Deus provê Seus recursos para nos ajudar no pro
cesso. Ele não toma decisões por nós nem faz aquilo que podemos fazer, mas Ele trabalha
de maneiras conhecidas e ocultas para nos ajudar a nos tornarmos como Cristo.
Experimente
Permita-me fazer uma pergunta proposta no começo deste capítulo. Talvez você
lenha identificado áreas de sua vida que precisem de uma mudança substancial. Tal
vez você até saiba que passos precisa dar, mas a questão é: Por onde começar? Como
traduzir boas intenções em ação de mudança de vida?
Quero desafiá-lo a identificar um aspecto de sua vida que precise de mudança,
baseado em seu estudo da Palavra de Deus. Então percorra o processo de três passos
delineado neste capítulo para estabelecer um plano de ação para a mudança.
Como digo, este é meu desafio pessoal a você. Lembre-se de que o alvo do
estudo bíblico é produzir mudança em sua vida, para uma maior semelhança com
Cristo. É neste ponto que ela deve acontecer. Se você chegou até aqui, prossiga com
a aplicação da Palavra em sua vida. Permita que ela faça a diferença.
Três Sugestões
Para se Iniciar
A.W. Tozer, por muitos anos um "tavão" espiritual para o Corpo de Cristo, deu-me um
"pontapé" mental com as seguintes palavras:
Vi uma vez um pôster que me fascinou: "Daqui a vinte anos, o que você desejará
que tivesse feito hoje?" Sob esta pergunta, em letras grandes e destacadas, estava escrito:
"Faça-o agora". Suspeito que daqui a vinte anos você desejará que tivesse começado um
programa pessoal de estudo bíblico. Então, por que não começa agora mesmo?
Estabeleça um horário
A terceira coisa de que precisa é uma agenda. Isso envolve a pergunta: Que meios posso em
pregar para manter minhas prioridades e cumprir meus objetivos? Infelizmente para a maioria
das pessoas as agendas trazem à mente um demônio que as acompanha, alguém olhando
por detrás de seus ombros, sempre pronto para bater em sua mão e gritar: "Ei, pare com
isso", ou "Agora é hora de fazer isso?". Mas na verdade, uma agenda é apenas um instru
mento para realizar o que você decidiu realizar e está disposto a pagar o preço para isso.
Desenvolva a disciplina
A quarta coisa necessária é a disciplina. Esta é definitivamente um fruto do Espírito. Ele
pode prover a dinâmica através da qual você irá manter seu horário, guardar suas prio
ridades e realizar seus objetivos. Mas frequentemente as pessoas me dizem: "Claro que
gostaria de estudar a Palavra, aô não mi»I se tenho tempo". Respondo que se lem lodo o
tempo do mundo para lazer o que ê essencial. A questão é, você determinou que o estudo
bíblico é essencial? Fez dele o seu objetivo? E está disposto a pagar o preço?
Lembro-me de uma dona de casa com quem falei uma vez. Ela tinha cinco filhos —
nào era exatamente alguém que estava procurando algo para fazer. Ela queria começar
seu próprio programa de estudo bíblico. "Daria tudo se tivesse tempo", disse-me.
Eu disse: "Veja se consegue separar quinze minutos por dia".
"Não sei se tenho todo esse tempo", ela respondeu.
Mas não esqueceu o assunto, um dia ela veio a mim e disse: "Adivinhe o que acon
teceu? Descobri um tempo quando todos os meus filhos estão ou na escola ou dormindo
— e consegui vinte minutos".
Conheci um homem de negócios que era o cabeça de três corporações internacio
nais. Ele obviamente também não estava a procura de algo para fazer. Assim como a
dona-de-casa, ele me disse: "Hendricks, adoraria ter meu próprio estudo bíblico, mas não
tenho tempo".
Disse: "Deixe-me fazer uma proposta. Você gostaria de orar para que Deus lhe des
se algum tempo? E se Ele lhe desse, você o usaria para estudar a Sua Palavra?"
"Bem", admitiu, "acho que não ia poder escapar dessa".
Assim, um dia ele estava indo lentamente por uma via expressa em Dallas, des
perdiçando tempo juntamente com as outras pessoas em uma fila enorme de carros. De
repente, ele disse a si mesmo: Mas o que é que estou fazendo aqui? Sou o presidente desta or
ganização. Deveria determinar meu horário de entrada e saída. Assim, ele mudou seu horário.
Passou a vir meia hora antes de manhã e a ir para casa meia hora mais cedo à tarde.
Como resultado disso, ele ganhou vinte minutos em sua viagem de ida para o traba
lho e vinte minutos à tarde. Então me telefonou e disse: "Hendricks, consegui". Primeiro,
pensei que ele tinha tido algum tipo de revelação. Ele estava empolgado porque tinha
achado tempo, e manteve a sua palavra: começou imediatamente a ler as Escrituras sozi
nho, para seu grande benefício.
Quando eu era estudante, um escolhido homem de Deus chamado Harry Ironside
costumava vir ao seminário e ensinar. Lembro-me de uma ocasião em que alguém se
aproximou e disse: "Dr. Ironside, entendo que o senhor se levante cedo todas as manhãs
para ler e estudar a Bíblia".
"Ah", disse, "tenho feito isso por toda minha vida".
"Bem, como consegue fazê-lo?" perguntou o inquiridor. "O senhor ora por isso?"
"Não", respondeu, "levanto".
Como vemos, muitos de nós estamos esperando que Deus faça o que Ele está espe
rando que nós façamos. Posso garantir que Deus não irá fazer de você uma exceção. Você
tem de decidir se realmente quer se envolver com a Palavra, e se quer, quando.
Definitivamente, o que importa não é quando você faz o estudo bíblico, mas o fato
de o fazer, e de o fazer regular e consistentemente.
Man, uma palavra de precaução: saiba que se fizer tal comprumlwo, Satanás Irá
la/vr qualquer coisa para mudar seus horários. Ele usará cada truque de i*vu livro. Assim,
sua pergunta terá de ser: Onde está meu coração? Qual o meu objetivo? Qual a minha
prioridade? Assim, se você sair de sua rotina, não será tentado a pensar que perdeu a
salvação. No dia seguinte poderá voltar ao caminho normal.
Começando
Agora que você decidiu começar um programa regular de estudo bíblico, você precisa
responder à pergunta: Por onde começo? Um bom lugar para se começar é num livro
bem pequeno. Assim você pode evitar de se atolar. As vezes, pode-se ficar entusiasmado
demais. "Vou começar por Jeremias", dizem. Eu não o recomendaria.
Sugiro que você comece com um livro do Novo Testamento, como o livro de Fili-
penses, que tem quatro capítulos e 104 versículos, ou talvez o livro de Tiago; com cinco
capítulos e 108 versículos. Você pode colocar pequenos livros como estes em sua agenda
e, num período de tempo relativamente curto, estará fazendo progresso.
Então, se quiser prosseguir com algo de mais peso, vá ao Antigo Testamento e ex
perimente o livro de Jonas. É uma bonita narrativa com uma linha de história fácil de se
seguir, e com apenas quatro capítulos. Dessa maneira, você pode trilhar gradualmente o
seu caminho até poder "atacar" algo mais longo e difícil.
Mas suponha que você diga: "Puxa, eu realmente quero entrar para valer". Tudo
bem. Tente o livro de Neemias, especialmente se você é ligado à área de negócios ou
está interessado em liderar. Neemias tem mais princípios práticos para organização e
administração do que dez livros da lista de best sellers da atualidade. Se você está apenas
começando, selecione um livro que seja orientado para a realidade, como este.
Faça o que fizer, mantenha um caderno. "Mas o que descobri não é muito impor
tante", você pode contestar. Mas a questão é: o Espírito Santo lhe deu visão? Se deu, não
a menospreze. Todos nós começamos no mesmo lugar, no nível zero. O expositor mais
famoso de todos os tempos teve de começar no mesmo lugar que o restante de nós — no
ABC, no material de começo. É um bom hábito escrever o que Deus lhe mostrar. Registre
tudo e procure uma oportunidade de compartilhar com alguém, porque assim você rete
rá o que aprendeu.
Sc você planeja começar um grupo de estudo bíblico, eis abaixo algumas sugestões:
1. Liderança é a chave
Se há um fator determinante em um grupo pequeno de estudo bíblico, este é o lí
der. Líderes de estudos bíblicos devem ser pessoas que gostam de fazer com que
os outros se envolvam em um processo, não dominantes com suas próprias idéias.
Devem ser dignos de confiança, organizados, capazes de manter o assunto durante a
discussão e devem estar desejosos de se preparar para a reunião do grupo. Precisam
ser pessoas calmas e confiantes em sua habilidade de manejar as Escrituras. Ajuda se
puderem pensar por si mesmos também, e é claro, os líderes devem ser pessoas que
amam a Palavra de Deus.
5. Encoraje a discussão
O formato mais efetivo para um grupo pequeno de estudo bíblico é a discussão, não
a palestra. Todos precisam ter uma chance de falar. O líder pode facilitar isso, prepa
rando uma folha de discussão simples e bem organizada. Você pode escrever o texto
no topo da página (para que todos usem a mesma tradução) e algumas perguntas
abaixo. Desenvolva a arte de fazer perguntas "abertas", o tipo que não tem nenhuma
resposta "correta" em especial.
6. Permaneça na Biblla
Esta é parcialmentv uma questão de manter o assunto da discussão. Os participantes
terão perguntas legítimas que requerem digressão, mas você nunca deve sair demais
do assunto da passagem. Se as pessoas comparecem, esperando um estudo bíblico,
devem ser recompensadas com um tempo rico nas Escrituras, nào um debate teoló
gico.
7. Demonstre entusiasmo
Uma das melhores maneiras de se motivar as pessoas no estudo bíblico pessoal e
celebrar as suas descobertas. Demonstre animação com as perspectivas delas, não
importa quão simples sejam.
Há cinco palavras que você pode escrever sobre o processo apresentado neste livro:
"Use-me ou me perderá". A melhor maneira de guardar o que aprendeu através deste
material é passá-lo adiante. Se ele significou alguma coisa para você, então é bom demais
para retê-lo só para si. Você tem um débito, tem de compartilhá-lo com alguém. E nada
mais estimulante do que fazer com que outras pessoas se envolvam com a Palavra por si
mesmas.
Há algumas maneiras de se compartilhar o fruto de seu estudo bíblico. Primeira,
você o pode compartilhar ensinando. Pode ser em uma aula de escola dominical, de evan
gelismo de crianças ou um estudo bíblico em casa.
Talvez você deva pensar em termos de um estudo bíblico no seu local de trabalho.
Se você é advogado ou médico ou atua no mundo dos negócios, por que não reúne um
grupo de ndvogAdon, medicou ou pemioai de negócio# e diz: "Teremo# um pequeno gru
po de estudo da Bíblia Iodas as quartas-feiras ao meio dia. Traga seu almoço e estudare
mos a Bíblia. Apenas o seu texto; não falaremos sobre religião, assuntos controversos ou
política. Falaremos apenas sobre as Escrituras. O que a Bíblia diz?"
Uma outra maneira de compartilhar seus resultados — na verdade a maneira de
finitiva — é vivendo-os. O maior impacto que poderá causar em outras pessoas virá de
uma vida transformada. Impressão sem expressão resulta em depressão.
Walt Disney foi um dos gênios mais criativos deste século. Depois de sua morte,
um desenho bastante simples do Mickey Mouse e do Pato Donald chorando apareceu no
jornal Dallas Morning News. Nele não havia legenda, as palavras eram desnecessárias. O
desenho sozinho já dizia tudo.
E você? Sua vida diz às pessoas tudo que precisam saber sobre seu compromisso
com Cristo, sobre seus valores e fé? Acho que a maior necessidade dentre o povo de Deus
hoje é o envolvimento pessoal com as Escrituras. E porque isso não tem acontecido, as
pessoas estão perdendo a "efervescência" da vida espiritual. Estão estáticas e mornas.
Nada é mais repulsivo. As pessoas estão saturadas de palavras, mas extremamente fa
mintas por autenticidade.
Como disse o capelão do Senado, Richard Halverson, "As pessoas não estão par
ticularmente interessadas em nossas idéias, mas em nossas experiências; não estão em
busca de teorias, mas de convicções, e querem penetrar em nossa retórica para descobrir
a realidade de nossas vidas".
Em Esdras 7:10, temos um modelo do valor do estudo bíblico pessoal. O texto diz:
"Porque Esdras tinha disposto o coração para [três coisas] buscar a lei do Senhor e para
a cumprir e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos". Oxalá houvessem
mais cristãos como ele.
Você Está Pronto Para Fazer
Um Compromisso?
Bo.in intenções não farão com que você comece um estudo bíblico pessoal. É neces
usando a versão_______________________________________________________ .
(VERSÃO DA BÍBLIA)
ASSINATURA
DATA
HOWARD G. HENDRICKS é urn
nome bastmite conhecido no mundo
cristão, e em sens mais de cinquenta
anos de ministério, ele tem tocado
milhões de vidas, direta ou indireta
mente. Integrante do corpo docente do
Seminário Teológico de Dallas desde
1951, Dr. Hendricks vê os filhos
adultos de ex-alunos frequentarem
agora as suas aulas. Atualmente,
ainda mantém um esquema rigoroso
de viagens e tem ministrado em mais
de oitenta países por meio de palestras,
rádio, livros, fitas efilmes. Ele também
é ex-professor da Bíblia e capelão do
Dallas Cowboys, time de futebol
americano.