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Este livro foi publicado originalmente nos Estados Unidos por

Moody Publishers, 820 N. LaSalle Blvd., Chicago, IL 60610


com o título
LIVING BY THE BOOK
© Copyright, 1991, 2007 by
Howard G. Hendricks and William D. Hendricks

Traduzido e publicado com a devida autorização

Primeira impressão da 2à edição revisada - 2010

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meio - eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro - exceto
para citações resumidas com o propósito de rever ou comentar, sem prévia
autorização dos Editores.

Tradução: Talita Rose Baulé


Supervisão de produção: Edimilson L. dos Santos
Diagramação / Capa: Edvaldo C. Matos

ISBN 85-7414-004-X

EDITORA BATISTA REGULAR DO BRASIL


Rua Kansas, 770 - Brooklin - CF.P 04558-002 - São Paulo - SP
Telefone: (011) 5041-9137-Site: www.editorabatistaregular.com.br
Índice
Prefácio.................................................................................................................... 7
Prefácio da Segunda Edição.................................................................................. 9

1. Por que as pessoas não estudam a Bíblia?......................................................12


2. Por que estudar a Bíblia?................................................................................... 19
3. Como este livro poderá ajudá-lo...................................................................... 27
4. Uma revisão do processo................................................................................. 34

PRIMEIRO PASSO: OBSERVAÇÃO........................................................................43


5.0 valor da observação...................................................................................... 44
6. Comece com um versículo............................................................................... 49
7. Você deve aprender a ler.................................................................................. r'8

Dez estratégias para uma leitura de primeira ordem......................................... 67


8. Leia com atenção............................................................................................... 68
9. Leia repetidamente........................................................................................... 72
10. Leia pacientemente......................................................................................... 77
11. Leia seletivamente........................................................................................... H 1
12. Leia com oração............................................................................................... #6
13. Leia imaginativamente................................................................................... 91
14. Leia meditativamente..................................................................................... 96
15. Leia com propósito......................................................................................... 100
16. Leia aquisitivamente...................................................................................... 107
17. Leia telescópica mente.................................................................................... 110
18. Trabalhe com um parágrafo..........................................................................114

Seis coisas a se procurar....................................................................................... 123


19. Coisas que são enfatizadas........................................................................... I24
20. Coisas que são repetidas.............................................................................. 128
21. Coisas que são relacionadas..........................................................................132
22. Coisas que são semelhantes e diferentes......................................................116
23. Coisas que são da vida real........................................................................... 142
24. Considere o quadro geral..............................................................................146
25. Resuma suas observações.............................................................................134
26. "Fatos são coisas irrelevantes até que..."......................................................161
SEGUNDO PASSO: INTERPRETAÇÃO............................................................... 163
27. O valor da interpretação............................................................................... 164
28. Manuseie com cuidado!............................................................................... 170
29. Que tipo de literatura é esta?........................................................................ 176

Cinco Chaves Para a Interpretação..................................................................... 187


30. Conteúdo....................................................................................................... 188
31. Contexto......................................................................................................... 190
32. Comparação...................................................................................................194
33. Cultura........................................................................................................... 199
34. Consulta......................................................................................................... 204
35. Chegando a um acordo................................................................................ 210
36. Entendendo o sentido figurado.................................................................... 215
37. Juntando as partes......................................................................................... 224
38. Não pare agora!............................................................................................. 232

TERCEIRO PASSO: APLICAÇÃO........................................................................ 235


39. O valor da aplicação...................................................................................... 236
40. Verdade que Transforma............................................................................. 244
41. Um Povo Transformado............................................................................... 250
42. Quatro passos na aplicação.......................................................................... 259
43. Cristianismo Customizado.......................................................................... 268
44. Nove perguntas a se fazer............................................................................ 275
45. De vez em quando........................................................................................ 279
46. "O princípio da coisa".................................................................................. 286
47. O processo de mudança de vida.................................................................. 293
48. Três sugestões para se iniciar....................................................................... 299
Prefácio
IN<> início dos anos I960, quando concluía o primeiro ano no Seminário Teologia) Dallas,
fiz um curso ministrado por Dr. Howard Hendricks que marcaria para sempre a minha vida
e o meu ministério. Dia após dia, eu ouvia a sua apresentação, depois corria de volta para o
nosso pequeno apartamento no campus, estimulado e com ânimo renovado, e mergulha
va na tarefa de casa que nos era passada. Conforme as semanas foram se tomando meses,
a neblina que rondava as Escrituras começou a dissipar-se. Aquelas passagens confusas já
não pareciam tão intimidadoras. Com as partes maiores encaixadas em seus lugares, eu
me sentia cada vez mais confortável com a Palavra de Deus. Percebo agora que ela estava
se tornando "lâmpada para os meus pés...e luz, para os meus caminhos" (Salmo 119:105).
Em termos atuais, a Bíblia se tornou "amiga do usuário", graças ao curso que foi
destinado a mudar minha vida. Dr. Hendricks nos convenceu de que a Bíblia poderia
ser entendida. Infelizmente, ela sempre parece intimidadora para a média das pessoas; c
um livro longo com muitas letras pequenas e pouquíssimo estímulo visual. Ele ensinava
as técnicas que, quando aperfeiçoadas pela prática, desvendavam a Bíblia a seus alunos.
Antes que aquele ano passasse, o mistério se dissolveu, transformando-se em verdades
cheias de significado e lógica. Logo descobri que minha esposa, Cynthia, e eu não está
vamos meramente falando sobre o Livro de Deus, mas havíamos começado a viver Nele.
Durante os mais de trinta anos que se passaram desde que toda a minha perspectiva
mudou, eu sempre pensava como seria maravilhoso se todos pudessem fazer o mesmo
curso...se, de alguma forma, meu mentor pudesse tocar vidas de modo tão significativo
quando havia tocado a minha. Eu ponderava: "Que diferença faria se todo o povo de Deus
pudesse aprender as técnicas e os princípios necessários para o cultivo de sett próprio a/nnentii
espiritual".
Recentemente, soube que outras pessoas passariam de fato a ter o mesmo privilégio
que eu tive. Dr. Hendricks e seu filho Bill decidiram registrar neste livro os seus ensinos
sobre como estudar a Bíblia. Mal posso expressar o quanto vibrei ao ver que eles o fizeram.
Em minha opinião, o volume que você segura nas mãos agora tem o potencial de ser uma
virada espiritual para muitas pessoas.
De maneira simples, passo-a-passo, os autores explicam como colher verdade das
Escrituras. Eles usam palavras que qualquer pessoa pode entender. Estas 308 páginas u
guiarão pelo processo que removerá o pensamento de mistério; Deus deu a você uma
mente e conceitos de referência. É por isso que Vivendo na Palavra se faz tão útil - ele for*
nvce a v<K*ê uma on t rut ura para estudar a Bíblia cm seu próprio passo. f prático, de fácil
leitura e aplicável. Desconheço a existência de um livro assim nos dias de hoje.
Se você digerir estas páginas e colocar as sugestões lidas em uso, garanto que logo
irá começar a viver na Palavra, e nào apenas ouvir outras pessoas a ensiná-la.

CHUCK SWINDOLL
Pastor, Escritor, Professor da Radio Bible
Prefácio da
Segunda Edição
Por que uma revisão de Vivendo na Palavra? Meu filho Bill e eu produzimos a primeira
edição aproximadamente dezesseis anos atrás e, para minha felicidade, ela foi bem rece­
bida. Com o passar dos anos, o livro tornou-se referência em métodos de estudo bíblico.
Na verdade, muitas escolas, faculdades e seminários bíblicos o indicam como leitura obri­
gatória.
Então, qual é a razão para uma segunda edição? Mudamos nossa metodologia de
estudo da Palavra de Deus? Não, absolutamente. E certamente a própria Bíblia também
não mudou no decorrer desses anos.
Mas o mundo tem mudado dramaticamente desde 1991. A história avançou par.»
um novo milênio. Agora temos um meio totalmente novo de comunicação chamado In­
ternet. O mundo tem se tomado vastamente menor com o entretedmento das suas eco
nomias. E nós, nos Estados Unidos, descobrimos que compartilhamos este planeta com
muitas pessoas que creem e se comportam de maneiras bastante diferentes.
Como sempre, a Palavra de Deus fornece a Seu povo discernimento divino enquan­
to contendemos com os desafios deste novo mundo. Mas agora temos toda uma nova ge­
ração de jovens que precisam descobrir a alegria de mergulhar na Palavra por si mesmos.
Bill e eu sentimos que, atualizando o nosso livro, poderiamos tomá-lo mais fácil de ler
para esses novos leitores.
Suponho que alguns possam dizer que se realmente quiséssemos alcançar a próxi­
ma geração, deveriamos deixar o livro totalmente de lado e criar um Web site interativo
e sofisticado. Talvez isso ocorra um dia, mas provavelmente não no meu tempo. Náo
sou particularmente habilidoso ao computador, ainda que perceba o valor de um projeto
assim.
Contudo, tento ser biblicamente habilidoso, e este é o legado que quero deixar: uma
geração de estudantes da Bíblia armados com a habilidade de "manejajr] bem a palavra
da verdade" (2 Timóteo 2:15). Sei que a Bíblia é um livro, e livros agora são considerados
"tecnologia antiga". Mas isso só aumenta a necessidade existente de orientação em méto­
dos de estudo bíblico. Minha grande preocupação é que, em sua pressa de adotar nova»
tecnologias, as gerações vindouras se esqueçam de como acessar as tecnologias antiga»,
porque podem perder a habilidade de ler.
Daí a paixão de produzir um Vivendo na Palavra atualizado. Aprecio plenamenle o
fato de os jovens de hoje viverem em um mundo visual, direcionado à experiência. Eles
atribuem muito valor às coisas que são reais, que são "autênticas". E isto é fantástico! Mas
neste caso, é de suma importância que o entendimento que eles têm da Bíblia também
seja real e autêntico.
Hoje muitas pessoas fazem todo tipo de alegações sobre o que a Bíblia supostamen­
te ensina: alegações que simplesmente não são verdadeiras. Um exame mais minucioso
das Escrituras revela que a Bíblia, na verdade, não ensina o que dizem que ela ensina. Da
mesma forma, há muitas coisas que a Bíblia de fato ensina, as quais muitas pessoas nem
mesmo sabem, ou porque tais verdades não são enfatizadas ou porque são ignoradas por
completo.
O resultado é que muito de nossa cultura tem adotado o que pode ser chamado
religião popular: crendices populares baseadas em percepções e interpretações errôneas,
estereótipos, sentimentalismo e wishful thinking1 exagerado. E isto não é cristianismo au­
têntico.
E então, meu apelo a todo jovem que usa este livro é o seguinte: o único modo
seguro de experimentar o cristianismo autêntico é por meio do conhecimento direto, em
primeira mão, da Palavra de Deus. Não deixe que um amigo, um DVD ou um blog, sim­
plesmente, transmita a você o que a Bíblia fala, leia-a e estude-a por si mesmo. Se vocc o fizer,
ganhará autoridade vinda de seu domínio pessoal das Escrituras, a qual irá estabilizar e
dirigir a sua vida, mesmo que as pessoas a seu redor estejam perdidas em um nevoeiro
de confusão espiritual.
Aqueles que já conhecem Vivendo na Palavra irão perceber que, embora Bill e eu
tenhamos mantido o conteúdo anterior praticamente inalterado, fizemos alguns acrésci­
mos. Aumentamos particularmente a parte de Aplicações. Nós salientamos que, ao apli­
car as Escrituras, cada um de nós precisa levar em consideração como Deus nos formou
de maneira exclusiva e individual. Também precisamos ver que nossas vidas são rele­
vantes além de nossos interesses pessoais. O propósito de Deus é que nos tomemos Seus
agentes de transformação para o mundo à nossa volta.
O Rei Salomão tinha uma visão semelhante em mente quando, perto do fim da vida,
orou:

Tu me tens ensinado, ó Deus, desde a minha mocidade;


E até agora tenho anunciado as tuas maravilhas.
Não me desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cas;

1 Wishful thinking é uma expressão inglesa que por vezes se utiliza na língua portuguesa devido
ser de difícil tradução, e que significa tomar os desejos por realidades e tomar decisões, ou seguir
raciocínios, baseados nesses desejos em vez de em fatos ou na racionalidade. Pode ser traduzido
como otimismo exagerado. (Fonte: Wikipedia)
Até que »u tenha declarado h presente geração a tua força
e As vindouras o teu poder.
Salmo 71:17-18

É exatamente assim a minha oração para esta segunda edição de Vivendo na Palavra,
Há poder vivificador na Palavra de Deus, porque ela nos leva diretamcnte Àquele que é
o caminho, a verdade e a vida. Que este livro abra a porta do Seu Livro, tanto para cstâ
geração quanto para todas as que hão de vir.
Howard G. Hendricks
Por que as Pessoas
Não Estudam a Bíbeia
Logo após tomar-me cristão, alguém escreveu na folha em branco de minha Bíblia as
seguintes palavras: "Este livro te afastará do pecado ou o pecado te afastará deste livro".
Isto era verdade na época e ainda é hoje. Bíblias empoeiradas levam a vidas sujas. Na ver­
dade, ou você está na Palavra e a Palavra o está conformando à imagem de Jesus Cristo,
ou você está no mundo e o mundo o está pressionando a seus moldes.
Contudo, a grande tragédia entre os cristãos hoje é que muitos de nós estão debaixo
da Palavra de Deus, mas não nela por nós mesmos. Conhecí um homem certa vez, que
levou toda sua família ao outro lado do país para assistir a uma conferência bíblica.
Impressionado, perguntei a ele: "Por que veio de tão longe?"
"Porque queria me colocar debaixo da Palavra de Deus", ele disse.
A primeira instância, isto soou maravilhoso, porém, mais tarde, pensei: ali estava
um homem disposto a dirigir mil e novecentos quilômetros para se colocar sob a Palavra
de Deus; mas estaria igualmente disposto a atravessar a sala de sua própria casa para
pegar a Bíblia e examiná-la por si mesmo?
Como vemos, não há dúvidas de que crentes precisam se posicionar debaixo do
ensino da Palavra de Deus, mas isto deve ser um estímulo — não um substituto — a nos
colocarmos sob ele por nós mesmos.
Muito embora a Bíblia continue sendo o livro mais vendido no mundo, é também
um dos mais negligenciados.
Quem lê a Bíblia? De acordo com estudo realizado pelo Grupo Bama em 2006, apro­
ximadamente 47% dos americanos investigados disseram que liam a Bíblia algum dia da
semana (contra 31%, em 1995). Contudo, uma famosa pesquisa Gallup de alguns anos
atrás revelou que, embora 82% dos americanos alegassem crer que a Bíblia seja a Palavra
de Deus literal ou "inspirada", e mais da metade dissesse ler a Bíblia ao menos mensal­
mente, metade nâo comiegiilU sequer mencionar o nome de um doa quatro evangelho*
Mateus, Marcos, Lucas ou Jofio. E menos da metade sabia quem proferiu o Sermão d<
Monte.
Você já viu uma Bíblia "estacionada" no vidro traseiro de um carro? Isso é comí
no lugar de onde venho. Alguém sai da igreja, entra no carro, joga a Bíblia atrás e a del
lá até o domingo seguinte. Esta é uma declaração bastante notória do valor que tal pesa
dá à Palavra de Deus. Com efeito, quando se trata das Escrituras, ela é funcionalmei
analfabeta seis dos sete dias da semana.
A Bíblia tem dono, é lida em ocasiões, e é até levada à igreja — mas não é estudada
Por quê? Por que as pessoas não procuram as Escrituras por si mesmas, para entendê-
las e vê-las fazer diferença em suas vidas? Ouçamos a descrição das experiências de sei*
cristãos a esse respeito.

CARLOS: “PRECISO DE ALGO QUE FUNCIONE”.

HGH: Carlos, você é um executivo de muitas responsabilidades. Tem muita instrução. Sei
que você ama o Senhor. Qual o lugar que o estudo bíblico ocupa em sua vida?

Carlos: Quando meus filhos eram mais novos, costumávamos ler um versículo ou dob
todos os dias, enquanto tomávamos café da manhã, ou talvez na hora do jantar. Mas, nâi
diria que alguma vez tenhamos estudado a Bíblia. E evidentemente não é algo que se faç.
no trabalho.

HGH: Por que não?

Carlos: Bem, trabalho é trabalho. Você está ali para desempenhar uma tarefa. No trabnllu
penso sobre pagamentos, clientes, contas a pagar, o que nossos competidores estão fazen
do. A Bíblia é praticamente a última coisa que tenho em mente.
Não me entenda mal, não sou daquelas pessoas que agem de uma maneira na igrejí
e d<? outra no escritório. Mas, convenhamos, o mundo dos negócios não é uma classe dl
escola dominical. Você tem que enfrentar coisas que não são nem mencionadas na Bíblhí
Assim, ela não se aplica à situação do dia-a-dia.

HGH: Carlos, você apontou um problema de relevância, e esta pode ser a razão númen
um pela qual as pessoas não têm estudado a Palavra de Deus hoje. Pensam que ela é arcai
ca, desatualizada. Pode ser que teve algo a dizer a uma outra geração, mas questiona-a
seriamente se ela teria algo a dizer à nossa. Todavia, conforme veremos, a revelação d
Deus é tão viva hoje quanto foi quando primeiro proferida.
VANIAi “NÃO sii como*.

HGH: Passemos n Vânia, redatora de uma agência de propaganda. Vânia, você parece ter
muita energia e iniciativa. Eu poderia apostar que você se destacaria como uma notável
estudante da Bíblia.

Vânia: Na verdade, tentei, mas simplesmente não funcionou.

HGH: Como assim?

Vânia: Bem, passei por uma fase uma vez, quando decidi que real mente iria estudar a
Bíblia. Tinha ouvido alguém dizer em um seminário que é impossível conhecer a Deus
sem conhecer Sua Palavra. Eu sabia que queria me aproximar do Senhor, então decidi re­
almente penetrar nas Escrituras. Comprei todos aqueles livros sobre a Bíblia, vinha para
casa do trabalho todas as noites e passava uma hora ou mais, lendo e tentando entendê-la.
Porém, percebi que não sabia grego ou hebraico e havia muitas coisas que as pes­
soas diziam sobre diferentes passagens que não faziam o menor sentido para mim. Quer
dizer, eu lia o que alguém tinha a dizer sobre um texto, e então lia o texto, mas não
conseguia entender como as pessoas tiravam aquelas conclusões. Finalmente, fiquei tão
confusa que desisti.

HGH: Ah! Então foi problema de técnica. É comum para muitas pessoas hoje. Ficam re­
lutantes em pular na água porque sabem que não conseguem nadar. Nossa cultura não
ajuda muito. Com a televisão, computadores, etc., nos tomamos visualmente orientados,
e francamente, estamos perdendo a habilidade de ler. É por isso que uma das coisas que
faremos na próxima seção é recuperar as habilidades de como ler algo como a Bíblia.

EDUARDO: “SOU APENAS UM LEIGO”.

HGH: Pois bem, vejamos Eduardo agora. Ele é o homem que você precisa quando tem
uma piscina suja. Ele sabe como manter a água clara como cristal. Além disso, ele aplica
uma ética incrivelmente forte ao trabalho, e acho que sua fé tem muito a ver com isso.
Eduardo, algo me diz que você presta muita atenção em sua Bíblia.

Eduardo: Bem, coloquemos assim — presto atenção no que entendo da Bíblia. Os dez
mandamentos, a Lei Áurea, "O Senhor é meu Pastor", este tipo de coisa. O resto, deixo
para meu pastor. Quer dizer, ele entende tudo aquilo, e se eu algum dia tiver um proble­
ma, posso simplesmente falar com ele. Ele parece saber o que tudo significa, enquanto eu,
tento viver da melhor forma possível.
HCH: luto é encorajador. Você aatA tentando praticar a vtrdadeque entende. Mas, Eduar­
do, ouço você dizer o que milhares de cristãos estão dizendo hoje: "Sou apenas um leigo",
ou "sou apenas uma dona-de-casa. Não sou um profissional. Você nào pode esperar que
eu, um indivíduo sem treinamento teológico, que talvez nem tenha terminado a faculda-
de, estude um livro como este".
Foi assim que me senti quando comecei como novo crente. Alguém me disse: "I Io-
wie, você precisa gastar tempo na Palavra".
Pensei, "Como é que vou fazer isso? Nunca freqüentei o seminário, nào sou minis­
tro. Não consigo entender tudo isso".
Mas, como veremos, você na verdade não precisa de treinamento profissional para
entender a Bíblia. Você não tem que saber grego e hebraico. Contanto que saiba ler, v<x*ê
poderá se aprofundar nas Escrituras por si mesmo. Neste livro, quero ajudar-lhe a apren­
der como.
Não se sinta constrangido pela palavra "estudo". Gostaria que tivéssemos um ter­
mo melhor do que "estudo bíblico", porque para muitos de nós, "estudo" não traz cono­
tações muito boas. É como passar fio dental nos dentes... sabemos que temos que fazê-lo,
mas ... Na verdade, iremos descobrir que o estudo bíblico pode ser indizivelmente fasci­
nante, e até divertido. Portanto, aguarde.

LUANA: “MAS NÃO TENHO TEMPO”.

HCH: Mencionei donas-de-casa, e acho que isso descreve você, Luana. Você está em casa
o tempo todo com três crianças pequenas. Como vê o estudo bíblico?

Luana: Ah! Adoraria estudar a Bíblia. Mesmo! Como você diz, tenho três criancinhas pari
acompanhar e, às vezes, faria qualquer coisa para ter uma pausa. Meu marido trabalh.
dia e noite para que eu possa ficar em casa. Mas isso significa que fico com as criança?
o dia todo e tenho sorte quando consigo vinte minutos para mim mesma. Não se pode
estudar a Bíblia em vinte minutos. Mesmo que eu pudesse, normalmente estou apenn»
tentando recuperar meu fôlego; não teria energias.

HGH: Entendo exatamente o que está dizendo. Minha esposa Jeanne e eu criamos quatri
filhos. A paternidade foi um trabalho extremamente exigente. Para nós, era prioridade
Acho que o ponto que você está levantando é: onde o estudo bíblico se encaixa em minhi
lista de prioridades? Infelizmente, para muitos de nós, ele é número vinte numa lista d«
vinte e sete itens. É considerado bom, mas certamente não necessário. Lembre-se disso
porque no próximo capítulo iremos descobrir que o estudo da Palavra não é uma opçãc
— é essencial.
ANTÔNIOi “TiNHO MINHAS DÚVIDAS SOBRS A BlBLIA*.

HGH: Antônio, Estou ansioso por ouvir seus comentários. Você é estudante em um cam­
pus universitário. Ainda há lugar para se estudar as Escrituras em tal ambiente?

Antônio: Sim, acho que as pessoas deveríam ler a Bíblia. Há passagens muito inspirativas
nela. Nâo estou certo, porém, sobre alguns dos milagres, predições e coisas do gênero.
Quer dizer, Jonas e a baleia — nesse tipo de coisa é rcalmente difícil crer. Conheço pesso­
as que citam as Escrituras para dizer se algo está certo ou errado, mas parece que pode­
mos usar a Bíblia para fazê-la dizer quase tudo o que queremos que ela diga.
Então, acho que deve-se lê-la de vez em quando, mais para se ter uma idéia do que
há nela, ou talvez para o ajudar a se sentir melhor se não estiver bem. Mas estudá-la? Xi!
isso já não sei se devemos.

HGH: Certo, você levanta preocupações legítimas. É este livro confiável? É autoritário?
Podemos basear nossas vidas nele? Há credibilidade? Ou, quando o lemos, temos que
lançar fora nossa inteligência e, como alguém colocou, nos esforçarmos para crer naqui­
lo que sabemos, lá no fundo, ser totalmente absurdo? Vamos descobrir que este livro é
completamente digno de confiança, e que quanto mais o estudamos, mais consistente e
razoável ele se toma.

JORGE: “NÃO CONSIGO FAZÊ-LO INTERESSANTE9’.

HGH: Consideremos um último comentário. Jorge, seu interesse pela Palavra tem muito
a ver com o fato de você ensinar uma classe de adultos na escola dominical em sua igreja.

Jorge: Sim, acho que tenho mais motivo para estudar a Bíblia do que a maioria das pesso­
as. Quando leio uma passagem, sempre penso em meus alunos e em como vou ensiná-la
a eles. Mas, vou ser honesto, é difícil fazer com que as pessoas se interessem pela Bíblia.
Parece que preferem falar sobre esportes ou o que está acontecendo no trabalho a falar
das grandes doutrinas da fé.
Não espero que alguém se tome um grande teólogo, mas 2 Timóteo 3:16 diz que a
Bíblia é útil para o ensino, e parece-me que muitos dos problemas dos quais as pessoas
reclamam poderiam ser remediados se elas prestassem um pouquinho mais de atenção
ao que a Bíblia tem a dizer.

HGH: Acho que você está descobrindo o que toda pessoa que deseja comunicar verdades
espirituais enfrenta: é muito difícil fazer com que as pessoas se entusiasmem com a visão
pessoal que alguém tenha da Palavra. A menos que estejam fazendo suas próprias des­
cobertas em tópicos diretamente relacionados a suas experiências, o estudo da Bíblia os
<*nf<idnrá trcmencUmrntr. EIan não ne sentirão motivada* a Invwrtlr tempo nelr. Arnilm,
é renlmenle seu desafio como professor oferecer a elas um processo pelo qual possam
revelar verdades espirituais por si mesmas. Espero que você aprenda algumas maneiras
de fazê-lo através deste livro.
Uma das maneiras de não fazê-lo é através da culpa. A culpa é um motivador fraco.
É muito poderosa, mas também venenosa para o processo de aprendizagem. Ela mata a
alegria que deve marcar os primeiros contatos de familiarização com a Palavra. A culpa
afasta as pessoas das Escrituras mais do que as atrai.

E VOCÊ?

Bem, temos visto várias razões pelas quais as pessoas não estudam a Bíblia. Qual delas se
aplica a você? Você questiona a relevância da Bíblia nos assuntos da vida real? Está fora
do processo por falta de técnica e habilidades básicas? Está convencido de que este Livro
é somente para profissionais, não para leigos, e de que é necessário treinamento especial
para entendê-lo? O estudo bíblico é prioridade baixa (ou não é prioridade) com tantas
outras exigências suplicando seu tempo? Você questiona a confiabilidade da Bíblia, não
sabe se realmente pode determinar o seu significado? Você considera o estudo bíblico
horrivelmente maçante ou não digno de sua atenção?
Se você se identifica com qualquer dessas razões, então este livro é para você. Irei
mencionar todos estes obstáculos e mais. Cada um deles pode ser superado.
Antes porém, tendo visto o lado negativo — por que as pessoas não estudam a
Bíblia — perguntemos: "Por que devemos estudar a Bíblia?" No próximo capítulo, darei
três razões importantes pelas quais o estudo bíblico não é uma opção, mas um imperativo.
E Você?

A grande tragédia entre os cristãos hoje é que muitos de nós estão sob a
Palavra de Deus, mas nào a estudamos por nós mesmos.

E você? Lê e estuda regularmente a Bíblia por si mesmo ou faz parte da maioria das
pessoas que raramente, se alguma vez, abrem a Bíblia por si mesmas? Eis um exercí­
cio simples para ajudá-lo a avaliar seus hábitos de leitura da Bíblia.

Com que freqüência você lê a Bíblia? (circule uma alternativa)

NUNCA UMA VEZ AO MÊS UMA VEZ DUAS OU TRÊS TODOS


POR SEMANA VEZES POR SEMANA OS DIAS

Quando a lê, quanto tempo passa lendo?

5 MIN. 15 MIN. 30 MIN. 45 MIN. 1 HORA OU MAIS


OU MENOS

Eis algumas razões pelas quais as pessoas alegam que não leem a Bíblia. Assinale
aquelas que expressam por que você não lê a Bíblia mais do que o faz.

___ A Bíblia parece não ser relevante em minha vida.


___ A Bíblia parece confusa e difícil de ser entendida. Não sei como fazer com que
faça sentido.
___ Eu lia a Bíblia e isso me fazia bem; mas, depois de algum tempo, não parecia ter
o mesmo impacto. Então, final mente acabei desistindo.
___ Sinto-me culpado(a) quando leio a Bíblia.
___ A Bíblia é irremediavelmente desatualizada. Ela pode conter algumas histórias
interessantes, mas tem pouco significado na vida de hoje.
___ Confio em meu pastor ou ministro para explicar a Bíblia para mim. Se precisar
saber de algo, ele me dirá.
___ Tenho dúvidas quanto à confiabilidade da Bíblia.
___ Não tenho tempo. Sou muito ocupado(a).
___ A Bíblia parece me enfadar.
___ Não tenho Bíblia.
___ A Bíblia está cheia de mitos e meias-verdades. Por que estudar algo que não tem
credibilidade?
___ Não leio, é só! Não se trata só da Bíblia, não leio nada.
Por que Estudar
a Bíblia?

No último capítulo vimos seis razões comuns alegadas pelas pessoas que nào mergu­
lham nas Escrituras por si mesmas. Permita-me acrescentar uma sétima: Ninguém nunca
contou a elas o que ganhariam com isso. Quais os benefícios do estudo bíblico? O que há
nele para mim? Se eu investir meu tempo nisso, que vantagem terei? Que diferença isso
fará em minha vida?
Quero sugerir três benefícios que você pode esperar quando investe no estudo da
Palavra de Deus, os quais não se encontram em nenhum outro lugar. E francamente, não
são luxúrias, mas necessidades. Vejamos três passagens que conspiram para edificar um
caso convincente pelo qual devemos estudar a Bíblia. Não é uma opção — é essencial.

O ESTUDO BÍBLICO É ESSENCIAL PARA O CRESCIMENTO

A primeira passagem encontra-se em 1 Pedro 2:2:

"Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiri­


tual, para que por ele vos seja dado crescimento para salvação."

Permita-me mencionar três palavras para revelar a verdade contida aqui. Escreva-
as na margem de sua Bíblia, perto deste versículo. A primeira é atitude. Pedro está des­
crevendo a atitude de uma criança recém-nascida. Assim como o bebê "avança" na ma-
madeira, você "avança" no Livro. O bebê tem que tomar leite para o sustento de sua vida
física; você tem que ler as Escrituras para o sustento de sua vida espiritual.
Jeanne e eu tivemos quatro filhos e aprendi logo que existe um despertador dentro
do bebê que toca a cada três ou quatro horas — e não se atreva a ignorá-lo. Você tem que
trazer umn mnmndclra de leite I med lata mente. Awlrn que você o faz, há grande calma.
Pedro coHNidera essa expressiva figura e diz. que esta tem que ser a sua atitude com rela­
ção às Escrituras.
Mas ele também fala sobre seu apetite pela Palavra. Você deve desejá-la "ardente­
mente". Você tem que ansiar pelo leite espiritual da Palavra de Deus.
Agora, para ser honesto, este é um hábito a ser cultivado. De vez em quando al­
guém me diz: "Sabe, professor Hendricks, na verdade não estou tirando muito proveito
da Bíblia". Mas este comentário diz mais respeito à pessoa do que ao Livro.
O Salmo 19:10 diz que as Escrituras são mais doces do que o mel, mas você nunca
o diria julgando por alguns crentes. Há três tipos de estudantes da Bíblia. Há o tipo "óleo
de rícino", para quem a Palavra é amarga — iac! — mas boa para o que os aflige. E o tipo
"trigo esfacelado", para quem as Escrituras são nutritivas, mas secas. É como comer um
balde de feno.
O terceiro tipo, porém, é o que chamo de os "morango com chantilly". Nunca es­
tão satisfeitos. Como adquiriram o gosto? Festejando na Palavra. Cultivaram aquilo que
Pedro descreve aqui — um insaciável apetite pela verdade espiritual. Qual dos três tipos
você é?
Há um propósito para tudo isso, o que nos traz à terceira palavra: objetivo. Qual
o objetivo da Bíblia? O texto nos diz: "para que por ele vos seja dado crescimento para
salvação". Por favor, note, não é para que você saiba. Certamente não se pode crescer
sem saber, mas você pode saber e não crescer. A Bíblia não foi escrita para satisfazer a sua
curiosidade, mas para o ajudar a se conformar à imagem de Cristo. Não para fazê-lo um
pecador mais esperto, mas para faze-lo como o Salvador. Não para preencher sua mente
com uma coleção de fatos bíblicos, mas para transformar sua vida.
Quando meus filhos eram pequenos, fiz um gráfico de crescimento atrás da porta
do armário. Conforme cresciam, eles me imploravam para medir quanto tinham crescido
e marcar no gráfico. Não importava quão pequeno o aumento fosse; eles pulavam de
alegria por verem o progresso.
Uma vez, após ter medido minha filha, ela mc fez uma pergunta do tipo daquelas
que você deseja que as crianças não façam: "Papai, por que gente grande pára de crescer?"
Como poderia explicar que gente grande não pára de crescer — simplesmente cres­
cemos em outra direção! Não sei o que disse a ela, mas até hoje o Senhor tem me pergun­
tado: "Hendricks, você está envelhecendo ou crescendo?"
E você? Há quantos anos é cristão? Nove meses? Sete ou oito anos? Trinta e nove
anos? A questão é: quanto tem crescido? Suba no gráfico de crescimento de Deus e meça
seu progresso. Isso é o que esta passagem está ensinando.
Assim, a primeira razão para se estudar as Escrituras é que este é um meio de cres­
cimento espiritual. Não há crescimento fora da Palavra. Ela é o instrumento primário de
Deus para o desenvolver como indivíduo.
O ESTUDO BÍBLICO í ESSENCIAL A MATURIDADE ESPIRITUAL

A segunda passagem que precisamos checar é Hebreus 5:11-14:

"A esse respeito temos muitas cousas que dizer, e difíceis de explicar/por­
quanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efeito, quando devíeis
ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente necessidade
de alguém que vos ensine de novo quais são os princípios elementares dos
oráculos de Deus; assim vos tornastes como necessitados de leite, e não de
alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, é inexperiente na
palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos,
para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discer­
nir não somente o bem, mas também o mal."

Esta é uma passagem instrutiva em termos de estudo das Escrituras. O escritor diz
que tem muito a dizer, mas é "difícil de explicar". Por quê? Seria dificuldade na revela­
ção? Não, é a densidade da recepção. Há uma desabilidade no aprendizado: "vos tendes
tornado tardios em ouvir", isto é, "sois vagarosos em aprender".
A palavra chave nesta passagem é tempo. Sublinhe-a em sua Bíblia. O escritor diz
a seus ouvintes: quando por virtude do passar do tempo você deveria estar indo para a
faculdade, você tem que voltar ao jardim da infância e aprender o abecedário todo nova­
mente. Quando deveria estar comunicando a verdade a outros, você precisa ter alguém
que comunique a verdade a você.
Na verdade, ele diz, você ainda precisa de leite, não de alimento sólido. O alimento
sólido é para os maduros. Quem são os maduros? Aqueles que vão para o seminário? O
que pode derrotar qualquer um num duelo teológico? Quem sabe mais versículos bíbli­
cos?
Não; diz o autor que você é maduro se treinou a si mesmo através do uso constante
das Escrituras para distinguir o bem do mal. A marca da maturidade espiritual não é o
quanto você entende, mas o quanto você usa. Na esfera espiritual, o oposto de ignorância
não é sabedoria, mas obediência.
Assim, esta é a segunda razão pela qual o estudo bíblico é essencial. A Bíblia é o
meio divino de desenvolver a maturidade espiritual. Não há outra maneira.

O ESTUDO BÍBLICO É ESSENCIAL À EFICÁCIA ESPIRITUAL

Há uma terceira passagem, 2 Timóteo 3:16-17. Jorge se aludiu a ela no capítulo I:

"Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus
Mt’jfl perfeito e perícltamente habilitado para toda boa obra."

"Toda Escritura", isto inclui 2 Crônicas. Disse isso uma vez a uma audiência e um
rapaz comentou: "Eu nem mesmo sabia que havia uma primeira".
E Deuteronômio? Você consegue achar este livro em sua Bíblia? Já fez devocional
nele? Quando Jesus foi tentado no deserto (Mateus 4:1-11), Ele derrotou o diabo três ve­
zes, dizendo: "Está escrito". Todas as três são citações do livro de Deuteronômio. Muitas
vezes pensei: Se minha vida espiritual dependesse de meu conhecimento de Deuteronômio, como
seria?
Paulo diz que toda Escritura é útil. Mas útil para quê? Ele menciona quatro coisas:
primeira, doutrina ou ensino. Isto é, ela irá estruturar seu pensamento. Isto é crucial por­
que se você não estiver pensando corretamente, não estará vivendo corretamente. Aquilo
em que você acredita determina seu comportamento.
Ele também diz que a Bíblia é útil para repreensão. Isto é, ela dirá onde você está
fora dos limites. É como um árbitro que grita: "Falta" ou "Cesta!" Ela mostra o que é pe­
cado. Mostra o que Deus quer para sua vida. Ele provê seus padrões.
Terceiro, é útil para correção. Você tem um armário onde põe tudo aquilo para qual
não consegue mais achar espaço em lugar algum? Você abarrota tudo lá e, um dia se es­
quece e abre a porta...brum! — cai tudo. "Puxa vida", você diz, "tenho que arrumar isso
aqui". A Bíblia é assim. Ela abre as portas de sua vida e provê uma dinamite purificadora
para o ajudar a limpar o pecado e a aprender a se conformar à vontade de Deus.
Uma quarta vantagem da Bíblia é que ela é útil no treinamento para uma vida de
justiça. Deus a usa para mostrar como se deve viver. Tendo-o corrigido nos aspectos ne­
gativos, Ele dá a você orientação positiva a se seguir na vida.
Qual o propósito global da Bíblia? Equipar-nos para toda boa obra. Você alguma
vez já disse: "Gostaria que minha vida fosse mais eficaz para Jesus Cristo"? Se já, o que
tem feito para se equipar? O estudo bíblico é um meio primário pelo qual podemos nos
tornar servos eficazes de Jesus Cristo.
Uma vez perguntei a um grupo de homens de negócios: "Se vocês não soubessem
sobre seu negócio ou profissão, mais do que sabem sobre cristianismo, após o mesmo
período de tempo de contato, o que aconteceria?"
Um deles falou sem pensar: "Eles me mandariam embora".
Eu disse: "Obrigado, senhor, pela honestidade".
Ele estava certo, sabemos. Deus talvez não possa usá-lo mais do que Ele quer por­
que pode bem ser que você não esteja preparado. Talvez você tenha frequentado igreja
por cinco, dez, até vinte anos, mas nunca abriu a Bíblia para preparar-se para a eficácia
como Seu instrumento. Você esteve debaixo da Palavra, mas não a estudou por si mesmo.
Agora é a sua vez; Deus quer Se comunicar com você no século vinte. Ele escreveu
Sua mensagem em um Livro e pede que você venha e estude este Livro por três razões
que nos impelem: É essencial ao crescimento. É essencial à maturidade. É essencial para
equipá-lo e treiná-lo a fim do que você possa ser um instrumento disponível, limpo <•
preciso nas mãos dlilc, para cumprir os Seus propósitos.
Então, a pergunta que fica para você agora é: "Como você pode deixar de estudar a
Bíblia, diante do que foi exposto?"

Podemos Confiar na Bíblia?

.Após cativar uma audiência na Universidade de Yale, um repórter perguntou à


recente romancista Ayn Rand: "O que há de errado com o mundo moderno?"
Sem um momento de hesitação, ela respondeu: "O mundo nunca esteve an­
tes tão desesperadamente à procura de respostas para perguntas cruciais, e também
nunca esteve antes tão freneticamente comprometido à ideia de que encontrar res­
postas é impossível. Parafraseando a Bíblia, a atitude moderna é: 'Pai, perdoe-nos,
pois não sabemos o que fazemos — e, por favor, não nos diga!"'
Seu comentário foi muito perceptivo para uma agnóstica. Muitos de nós que­
rem uma palavra de Deus, mas não queremos a Palavra de Deus. Sabemos o bastante
para possuirmos uma Bíblia, mas não o bastante para deixarmos que ela nos possua.
Prestamos serviço labial à Bíblia, mas falhamos em dar a ela "serviço de vida". Num
mundo onde o único absoluto é que não há absolutos, há pouco espaço restante para
a autoritária Palavra de Deus, como está revelada na Bíblia.
A questão é: podemos confiar na Bíblia? É digna de crédito? E confiável? E
determinante para a vida hoje em dia? Considere o que as Escrituras dizem sobre si
mesmas.
A BÍBLIA É UMA UNIDADE

Se você já estudou algum assunto complexo ou controvertido a fundo, conhece


a frustração de se tentar encontrar duas ou três autoridades que concordem em qual-
quei e ludus us pontos. Basicamente, isso nunca acontece.
A Bíblia situa-se em destacado contraste. É exclusiva por suas partes conspira­
rem para formar um todo unificado. Como observamos, a Bíblia não é somente um
Livro, mas sessenta e seis livros coletados em um volume. Estes sessenta e seis docu­
mentos separados foram escritos num período de mais de mil e seiscentos anos, por
mais de quarenta autores humanos originários de uma ampla variedade de culturas.
Contudo, a Bíblia é uma só unidade, ligada pelo tema: Deus e Seu relaciona­
mento com a humanidade. Cada livro, seção, parágrafo e versículo opera juntamente
com os outros para revelar a verdade de Deus. E por isso que as Escrituras são enten­
didas de forma melhor, relacionando-se suas partes individuais ao todo integrado.
A BiBLIA t A RBVBLAÇAO DE DEUS

A Bíblia se apresenta como a verdade revelada de Deus. A palavra que ela


usa para "revelação" na verdade significa "desvelar", como abrir uma cortina para
revelar o que está por detrás dela. Nas Escrituras, Deus revelou coisas que de outra
maneira nâo seriam jamais conhecidas. Ele desvelou aquilo que é absolutamente ver­
dadeiro — não especulado, conjecturado ou hipotetizado. É a verdade totalmente
consistente — nunca controvertida, comprometida ou contradita por outras partes
da revelação.

A BÍBLIA É INSPIRADA POR DEUS

O grande teólogo B. B. Warfield disse: "A Bíblia é a Palavra de Deus de tal ma­
neira que quando a Bíblia fala, Deus fala". Esta é uma boa descrição de inspiração.
Chamamos a Bíblia de Palavra de Deus porque ela é realmente as próprias palavras
que Deus queria comunicar.
Evidentemente, alguns têm barreiras quanto a este conceito porque a Bíblia foi
redigida por autores humanos. Se eles eram "inspirados", o mesmo acontece com
grandes artistas que produzem grandes obras.
Porém, isto não é o que a Bíblia quer dizer com inspiração. Lembra-se de 2
Timóteo 3:16-17? "Toda Escritura é inspirada por Deus". A palavra traduzida por
"inspirada" significa "soprada por Deus", transmite a ideia de Deus "exalando" as
Escrituras. E, uma vez que a palavra "hálito" pode também ser traduzida por "espí­
rito", podemos facilmente ver a obra do Espírito Santo, superintendendo a escrita.
Então, que papel fizeram os autores humanos? Deus os usou sobrcnaturalmen-
te para escrever as palavras, sem comprometer a perfeição, a integridade ou a pureza
do produto final. É um caso de dupla autoria. Como coloca Charles Ryrie, "Deus
superintendeu os autores humanos de modo que, usando suas próprias personalida­
des individuais, compuseram e registraram, sem erro, a Sua revelação ao homem nas
palavras do manuscrito original".
Pedro usou uma brilhante figura de linguagem para descrever este acordo
quando escreveu que "homens (santos) falaram da parte de Deus movidos pelo Espí­
rito Santo" (2 Pedro 1:21). A palavra movidos é a mesma palavra usada para descrever
um navio se movendo sob o poder de um vento forte. Os autores bíblicos foram
guiados em sua escrita para ir aonde Deus queria que fossem e para produzir o que
Deus queria que produzissem. Sem dúvida suas personalidades, estilos de escrita,
perspectivas e distinções se refletem em suas palavras; mas seus relatos são mais do
que palavras de homens, são a Palavra de Deus.
Você já ouviu falar sobre o Projeto Jesus? Certos eruditos duvidam da confiabi­
lidade das palavras dv )<mun registradas nos quatro evangelhos. Por Isno, a cada ano,
encontram-se para discutir os textos. Para cada declaração atribuída a Cristo, votam
nos méritos relativos a se Jesus realmente disse aquelas palavras ou se os escritores
do Novo Testamento as colocaram em Sua boca.
O voto pode ir em quatro direções: o grupo pode decidir que as palavras de
Jesus são "vermelhas", indicando que Ele defínitivamente as disse. Por outro lado,
os eruditos podem rotulá-las "pretas" se acreditarem que Ele definitivamente não
as disse. No meio estão "rosa" (Jesus provavelmente as disse, embora haja alguma
dúvida), e "cinza" (Jesus provavelmente não as disse, embora seja possível que a»
tenha dito).
Qual o propósito de tal exercício? Um porta-voz diz que o grupo quer reforçar
a fé das pessoas, permitindo que elas saibam o que é confiável e o que não é.
Não sei como você reage a tal projeto, mas a mim parece ridículo — para não
dizer perigoso. Como é que um comitê de céticos, vivendo dois mil anos após o fato,
pode se sentir qualificado a julgar a autoridade das Escrituras? Acho que eles apro­
vam a "inspiração por consenso".
Prefiro a inspiração pelo Espírito Santo. O texto da Bíblia não é a contemplação
dos homens, mas um produto sobrenatural, a própria Palavra de Deus.

A BÍBLIA É INERRANTE

Para ser autoritária, a Bíblia tem que ser verdadeira, isto é, sem erro. Como
alguém notou, "Ou a Bíblia não contém erros no todo, ou é toda cheia de erros". Real­
mente não há meio termo. Uma Bíblia "parcialmente inerrante" é uma Bíblia errante.
"Inerrância" significa sem erro — sem falhas ou erros na escrita original, e sem
erros em qualquer área que seja. Este é um conceito difícil para nossa geração. Nossa
tendência e sermos relativistas, para nós nada pode ser verdadeiro num sentido ab­
soluto. Além disso, nossa cultura nos induz a pensar que a ciência moderna deixou
a Bíblia para trás.
A realidade é que as Escrituras têm resistido ao teste da ciência pura. Na ver­
dade, muitos dos mais eminentes e doutos cientistas de nossos dias estão dando uma
"terceira" olhada nas Escrituras à luz de seus avanços e descobertas.
Crer em uma Bíblia sem erros não significa tomar cada declaração de uma ma­
neira rija ou rigidamente literal. Como constataremos, as Escrituras frequentemente
falam através de linguagem figurativa. Além disso, aceitamos que tenha havido erros
na transmissão da Bíblia de cópia para cópia através dos anos (embora sejam surpre­
endentemente poucos).
Contudo, a Bíblia dá testemunho a sua própria inerrância. A testemunha mais
poderosa é o próprio Senhor Jesus. Em Mateus 4:1-11, Ele enfatiza que pode-se con-
flftr em cada palavra escrita, nfio apenas nas Idelas contidas nelas. Hm Mateus M7«
18, Ele expande a confiabilidade absoluta do texto até as letras individuais, e até Al
partes das letras.
Nos evangelhos, Jesus se referiu a porções das Escrituras que hoje em dia sâo
questionadas por algumas "autoridades". Não há neles a menor insinuação de que
Ele as considerava qualquer outra coisa senão precisas, confiáveis e verdadeiras. (Só
em Mateus, veja 8:4; 10:15; 12:17,40; 19:3-5 e 24:38-39.)
Inerrância significa que temos uma Bíblia completamente fidedigna, confiável
e sem erro em sua forma original. Conforme a estudamos, podemos avidamente an­
tecipar respostas às questões que são essenciais.
Como Este Eivro
Poderá Ajudá-lo
Espero que você esteja, agora, convencido da necessidade, bem como do valor de se
envolver com a Bíblia de uma maneira direta. Sou cristão há cinco décadas e posso asse
gurar: ler a Palavra de Deus fez toda diferença em minha experiência cristã.
O mesmo acontecerá com você. A Palavra de Deus revolucionará sua vida. Como
vimos no último capítulo, ela é a chave do crescimento espiritual, da maturidade e da
eficácia.
Mas, por favor, note: o estudo bíblico efetivo requer um método. Não se ensina um.i
criança a nadar, jogando-a na parte funda de uma piscina e dizendo: "Tudo bem, agora
nade".
Começa-se devagar, mostrando como flutuar, como mergulhar a cabeça, como ba
ter os pés e como nadar estilo cachorrinho. Você dá à criança a direção e um processo para
que gradualmente ela vá desenvolvendo as habilidades necessárias.
O mesmo é verdade no aprendizado do estudo da Bíblia. Assim, neste e nos próxi
mns capítulos, quero apresentar um método de acesso à Palavra de Deus.
Por "método" quero dizer uma estratégia, um plano de ataque, que produzirá rr
sultados máximos para seu investimento de tempo e esforço. Se não houver um método,
você pode ficar frustrado muito rapidamente; foi o que Vânia descobriu, no capítulo 1
Você pode também morrer no fundo da piscina, em termos de interpretação e aplicação
Esta foi a reclamação de Antônio, você se lembra.

O QUE SE PODE ESPERAR DESTE LIVRO

Este livro apresenta o método mencionado acima. Quero contar-lhe antes de mah
nada quais os custos e benefícios do uso deste método. Primeiramente, os benefídoN
Baseado em mais de quarenta anoa de ensino dente material descobri pelo menos quatro
principais vantagens para esta abordagem.

1. Voei encontrará um processo simples e provado.


Como vimos no capítulo 1, uma das principais razões que as pessoas alegam para não se
envolverem com a Bíblia é que pensam que ela é muito difícil. "Não sou treinado", dizem.
"Não sei grego nem hebraico. Sou apenas um leigo. Não sou suficientemente esperto."
Todos os tipos de desculpas. Mas a verdade da questão é que estão fazendo o estudo
bíblico mais difícil do que ele realmente precisa ser.
O processo apresentado neste livro é do tipo que qualquer pessoa pode usar, não
importando seu nível de maturidade espiritual ou instrução. Não importa se você nasceu
na fé há cinco semanas ou cinco décadas — os princípios permanecem os mesmos; se
souber ler, poderá estudar a Bíblia. Não estou dizendo que não terá vantagens se souber
alguma coisa sobre as línguas originais; mas, com todos os recursos disponíveis a nós
hoje, você não leva grandes desvantagens sem elas.
Uma outra vantagem deste processo é que ele pode ser expandido de acordo com a
habilidade do estudante. Em outras palavras, conforme você for crescendo em conheci­
mento e discernimento da Palavra, este método o acompanhará. Você nunca o superará;
eu ainda o estou usando após todos esses anos. E claro que acrescentei perícia aqui ou
ali, e faço algumas coisas muito melhor agora do que quando comecei, mas a abordagem
básica permanece a mesma. É como um conjunto de ferramentas que aumentam em sua
utilidade conforme aumenta a habilidade do artesão.

2. Você ganhará um valioso senso de autoconfiança em sua habilidade de manu­


sear as Escrituras.
Não há nada como a auto-segurança que vem de um conhecimento direto da Bíblia. Ela
lhe provê da confiança necessária para pensar por si mesmo. A maioria das pessoas não
pensa — simplesmente rearranja seus preconceitos. Porém, tudo é muito diferente quan­
do se conhece o que a Bíblia diz, onde o diz e o que significa o que foi dito. Este tipo de
domínio pessoal da verdade espiritual o liberta das amarras da opinião popular.
Além disso, o estudo bíblico direto o capacita a avaliar os pensamentos de outros.
Suponha que eu me depare com um problema em uma determinada passagem. Vou en­
tão, a um comentário para descobrir o que ela significa. Leio o comentário "A" e acho uma
resposta. Que bom! Mas aí decido compará-lo com o comentário "B", e acabo descobrin­
do que o "B" é diametralmente oposto ao "A". O que faço então? Estava confuso antes;
agora estou mais. Devo aceitar "A" ou "B"? Daí, decido ler um outro ... e fico realmente
em apuros. Um terceiro concorda com "A" em alguns aspectos, mas não em outros, e
discorda totalmente com "B". O que faço? Decido na cara ou coroa?
Bem, é impressionante ver como as Escrituras elucidam os comentários. Se tenho
um método que me ajuda a trabalhar com o texto bíblico e a entender o que o texto diz,
tntào quando vou a um comentário, tenho bane para avaliar o que rxtá nendo dito.

3. Você experimentará a alegria da descoberta pessoal.


Pomo assegurar-lhe, nào há alegria comparável à que vem do estudo direto das Escritura».
Descobrir por si mesmo o que Deus revelou nelas o fará saltar de contentamento! Ainda
assim, muitas pessoas não ficam animadas pela verdade — são embalsamadas por ela.
Ensinei uma classe de homens e mulheres profissionais. Havia nela um médico
de quem jamais esquecerei. Ele vinha até mim após a aula, Bíblia na mão, e dizia:
"Hendricks, deixe-me mostrar a você o que encontrei nesta passagem". Ele nào cabia cm
si de entusiasmo.
Sabe o que ele estava dizendo? "Aposto que João Calvino nunca viu isso. Aposto
que Martinho Lutero nunca ouviu isso". E, embora ele nunca tenha dito: "I lendricka,
aposto que você não viu isso também".
Encontrei a esposa dele no estacionamento da igreja um dia, e ela me disse: "O quê
o senhor está fazendo com meu marido?"
"Por quê? Qual o problema?", perguntei.
"Tenho que arrumar o despertador para lembrar este homem a que horas tem que
ir para a cama à noite. Ele não pára de ler a Bíblia".
Agora há uma novidade! Mas foi um resultado daquele homem fazer suas próprias
descobertas na Palavra. Espero que você pegue a mesma doença enquanto mergulha no
processo descrito neste livro.

4. Você irá aprofundar seu relacionamento com Deus.


O benefício máximo do estudo bíblico direto é que você se apaixonará pelo Autor. É, v
difícil se apaixonar por procuração. Sermões, livros, comentários, e assim por diante
podem ser maravilhosos recursos para o crescimento espiritual, mas são todos indiretos.
Se você quer conhecer a Deus diretamente, precisa deparar-se diretamente com a Sua
Palavra.
Ainda assim, o estudo bíblico pode se tornar um fim em si mesmo, se você deixar
que isso aconteça. Um dos grandes problemas que os crentes têm hoje em dia é que ire-
qüentemente sabemos mais das Escrituras do que sobre o Deus das Escrituras. Mas a Bí­
blia me diz: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração
humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Co. 2:9).
Deus tem preparado coisas incríveis para você e as Escrituras são o meio apontado
por Ele para trazê-las a você.

CUSTOS

Todavia, há custos envolvidos. As riquezas de Deus são gratuitas, mas não sào bara­
tas. O estudo bíblico deposita muitas expectativas sobre você. Permita-me mencionar lnê».
Abertura para eatudar
An liNcrltuniN nAo dAo hvu.h írutoN ao preguiçoso. Como qualquer outra dIMvlplina da vida,
o estudo da Bíblia compensa na proporção de nosso esforço. Quanto maior o investimen­
to, maior a recompensa.
Obviamente, o processo leva tempo, que é a questão que Linda, a dona de casa,
levantou no capítulo 1. Mas se seu estudo da Bíblia é produtivo, se você estiver desco­
brindo coisas incríveis que jamais soube que existiam, e se o processo estiver fazendo real
diferença em sua vida, você provavelmente encontrará tempo para ele. Estou esperando
que este livro o ajude a iniciar um esforço produtivo para que o tempo se torne um preço
que você pague com satisfação à luz dos benefícios.

Abertura a Deus
Como disse antes, o propósito máximo do estudo bíblico é o conhecimento de Deus. A
questão é, você quer conhecê-LO intimamente? É isso que está procurando? Se é, Ele pro­
mete honrar sua diligência na Palavra.
Por exemplo, observe o que Salmo 1:2 diz sobre a pessoa que deseja ser "abençoa­
da" por Deus: "Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de
noite". Todos querem a bênção de Deus, mas o nosso "prazer" está na Sua Palavra e nós
a tornamos o foco central de nossa mente "de dia e de noite"?

Abertura à mudança
A Bíblia não foi escrita para ser estudada, mas para mudar nossas vidas. Mudança de
vida é o produto que procuramos. O coração humano não resiste a nada mais que à mu­
dança, mas o crescimento espiritual é um comprometimento à mudança.
Romanos 8:29, por exemplo, diz que Deus pretende conformá-lo à imagem de Jesus
Cristo — em outras palavras, fazê-lo como Cristo. Se isto é verdade, quanta mudança
você acha que pode esperar? Você está aberto para tal? Está desejoso de que Deus invada
seu caráter e conduta com a Sua verdade?

Iniciando
Estamos quase prontos para o lançamento no processo. No próximo capítulo, farei uma
revisão do que vem a ser método no estudo bíblico. Mas antes de chegarmos lá, permita-
me fazer duas sugestões.
Primeiro, estabeleça alguns alvos. O que você pretende com este processo? Que
necessidades precisam ser tratadas em sua vida? Há relacionamentos que necessitam ser
curados, cultivados ou alterados? Há atitudes que precisam ser mudadas ou reforçadas?
Há hábitos que você precisa quebrar ou estabelecer? Questões como estas podem ajudá-
lo a formar objetivos para guiá-lo em seu estudo bíblico.
Segundo, ajuste suas expectativas. Seja realista. Você pode ser um tigre pronto para
dar o bote, mal pode esperar para começar. Isso é fantástico! Mas lembre-se, você não vai
dominar o processo da nolle para o dia. Isso leva tempo. Por outro Indo, você pode sc
sentir como uma tartaruga: que nunca chegará lá; é difícil demais. Neste caso, anime-se, a
questáo no estudo bíblico não é velocidade, mas direção. O que importa não é quão longe
você vá, mas se persiste e mantém progresso. Diligência é a chave.
Você está pronto para começar? Então me acompanhe ao próximo capítulo, e come­
cemos por obter um panorama do que é o estudo bíblico.

Os Livros da Bíblia

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Como Escolher Uma Bíblia

A ferramenta mais importante que você precisa para se envolver com • Palavra de
Deus por si mesmo é uma Bíblia de estudo. Se você não tem, adquira uma. Será um
bom investimento. Use-a para começar a aplicar os princípios cobertos por este livro.
Há muitas excelentes Bíblias no mercado. Algumas são até chamadas "Bíblias
de estudo", como "A Bíblia Anotada" na versão Revista e Atualizada, da Editora
Mundo Cristão ou a "Bíblia de Referência Thompson" da Editora Vida. Quando co­
mecei a vida cristã, alguém me deu uma Bíblia com referências Scofield — aquela
com a declaração na folha de abertura que mencionei no primeiro capítulo: "Este
livro o afastará do pecado ou o pecado o afastará deste livro".
Entretanto, quando falo em Bíblia de estudo, penso em uma que tenha as se­
guintes características ideais:

Letras grandes
Conveniência é o apelido de nossa cultura. Para as Bíblias, isso significa letras peque­
nas, uma vez que letras pequenas produzem Bíblias pequenas que são mais fáceis de
se carregar. Mas estudar uma Bíblia com letras pequenas pode ser quase impossível.
Ela não somente força a vista, como dificulta a escrita no texto e ao redor dele. Esco­
lha uma edição com letras grandes o suficiente para ler e fazer anotações facilmente.

Margens grandes
Se puder, encontre uma assim. Desta maneira, você terá muito espaço para registrar
suas observações e pontos de vista.

Sem notas
Quando você está estudando a Palavra, é bom que venha a um texto sem preconcei­
tos, sem qualquer comentário alheio competindo para a sua atenção. Idealisticamen-
te, quer-se o texto bíblico, tão-somente o texto bíblico.
Sem subtítulos
Isto é de menor importância, mas uma Bíblia de estudo ideal teria indicações de ca­
pítulo e versículo, mas não títulos editorializados para parágrafos e seções como "A
Oração do Pai Nosso" e "A Grande Comissão", por exemplo. Tais títulos podem ser
úteis para localizar o material no texto, mas tendem a influenciar o leitor.

Referências cruzadas
Elas podem ser úteis na comparação de Escritura com Escritura.

Qualidade de papel e encadernação


Se estudar as Escrituras da maneira sugerida neste livro, você dará muito movimento
à sua Bíblia. Estará virando de passagem para passagem, escrevendo nas margens,
UMndo on mapa» nan últimos páginas, e indo c vindo da Bíblia para as fônica iwcun-
dáriiiH. Assim, você precisará de uma edição resistente a tanto uso. Isto significa um
papel de alta qualidade e uma encadernação que não soltará a capa. Na livraria, peça
explicação a alguém que conheça a manufatura dos livros sobre o tipo de acabamento
utilizado na Bíblia que você está considerando.

Concordância (ou Chave Bíblica) no fim


Concordância é uma lista de palavras no texto, com referências onde encontrá-las.
Falarei mais sobre concordâncias nos capítulos 34 e 35. Uma pequena concordância
no fim de sua Bíblia pode ser bastante útil.

Mapas
Para o estudo sério da Bíblia, você precisará de um atlas, o qual também descreverei
posteriormente. Todavia, alguns mapas no final de sua Bíblia de estudo podem aju­
dar no caso de consulta rápida. É sempre crucial considerar o lugar onde os evento*
das Escrituras aconteceram.
Certifique-se de adquirir uma Bíblia completa, com o Velho e o Novo Testamen­
to. Se você usar somente o Novo Testamento, não poderá voltar para verificar as pau-
sagens do Velho Testamento que irradiam luz sobre o Novo. Você também se sentirá
tentado a tomar-se cristão de um só testamento. Lembre-se, ambos os testamentos
são a Palavra de Deus; ambos são inspirados; todos os sessenta e seis livros são úteis
(2 Timóteo 3:16). Em Hebreus 4:12, o escritor chama as Escrituras de espada de dois
gumes. Mas algumas pessoas tentam trabalhar apenas com um pequeno testamento
de bolso, que reduz a espada do Espírito a um canivete.
Você provavelmente desejará trabalhar com as versões em português, é claro,
a menos que saiba grego ou hebraico. Há várias delas disponíveis. Todas têm seus
pontos fortes e fracos e servem a diferentes propósitos. Por um bom tempo em minha
vida, usei a versão em inglês New American Standard Bible (NASB). E uma das mais
precisas, embora um tanto rija às vezes. E muito útil, porém.
Algumas outras traduções contemporâneas para o português são: as Edições
Revista e Atualizada e Revista e Corrigida, Bíblia Trinitariana, e a Nova Versão Inter­
nacional. Estas são traduções verdadeiras, diferentes das paráfrases como a Bíblia na
Linguagem de Hoje, a Bíblia Viva, ou as Cartas para Hoje de J.B. Phillips. Qualquer
que seja a tradução escolhida por você, certifique-se de que irá adquirir uma boa Bí­
blia de estudo, conforme descrita acima.
Finalmente, não hesite em escrever em sua Bíblia. Alguns dizem: "Não quero
bagunçá-la". Bem, eu já diria "bagunce-a", se é assim que você chama o ato de escre­
ver na Bíblia. Escreva nela toda! Você deverá percorrer uma Bíblia toda a cada dois ou
três anos, se for diligente em seu estudo. Então, poderá adquirir outra. É maravilhoso
poder olhar para as Bíblias antigas e ver o progresso que fez em sua vida espiritual.
Uma Revisão
do Processo
Jeanne e eu estávamos em férias na Costa Oeste dos Estados Unidos, alguns anos atrás,
com nosso filho Bill. Tínhamos um amigo lá que possuia um avião, e um dia ele per­
guntou se queríamos voar com ele para a Ilha de Santa Catalina. Aceitamos, e na manhã
seguinte, zunimos pela pista de decolagem, rumando direto às alturas, cortando os céus
de Orange County, Califórnia.
Depois de nivelarmos sobre o Pacífico, nosso amigo dirigiu-se a Bill, que estava no
assento de co-piloto, e gritou, sobressaindo ao ruído do motor, "Que tal experimentar
suas mãos num avião em wo?"
Sempre pronto para aventuras, ele respondeu: "Claro". Bill nunca tinha pilotado
um avião em sua vida — mas, que diferença isso fazia?
Nosso amigo deu a ele algumas breves instruções na arte de voar — quase que um
"curso de choque", pode-se dizer. Então, entregou os controles, e Bill passou ao coman­
do. Nada aconteceu enquanto voávamos sempre em frente, mas após alguns minutos, o
piloto gritou: "Por que não tenta uma curva?"
Bill fez inclinação para a esquerda, e, de repente, comecei a me sentir um pouco
tonto. Um segundo depois, nosso amigo disse: "Muito bem, tente para o outro lado",
e o avião se inclinou para a direita. Agora, eu e Jeanne estávamos tontos. Ficamos bem
aliviados em ver o piloto eventualmente colocar as mãos nos controles e nos nivelar antes
de assumir novamente.
"Não está mal", gritou para Bill, que sorria como um Top Gun. "Só descemos uns
trezentos metros".
Obviamente, não se ensina alguém a voar simplesmente entregando os controles à
pessoa interessada e gritando: "Divirta-se". Voar exige habilidades que levam anos para
serem totalmente desenvolvidas. Não adquirindo tal experiência, você coloca sua vida
MM rim.
< I iMiludti ild I’nliivni di* I )i*um nAo é diferente. Aprender fl fazê-lo ê um processo que
|HhIm acontecer dfl nolle paro o dlo. Todavia, isto é exatamente o que fazemos com
HHVi» i rentes quando dizemos a eles que se envolvam nas Escrituras, entregamos a eles
HHM Hlbllfl e esperamos que prossigam daí. Nào se admira que tantos crentes desistam
Irusllfldos.
Neste capitulo, desejo fazer uma revisão do processo de estudo bíblico. Primeiro
quem definir o que um método de estudo bíblico envolve. Daí, mostrarei o quadro geral
Rim u destino do processo e onde você chegará se o seguir.

HÁ UM MÉTODO NESTA LOUCURA

Comecemos com uma definição. Defino método no estudo bíblico com ties afirma­
tivas. Primeira, Método é “ntelodicidade". Isto é, envolve dar certos passos em uma certa
ordem para garantir um certo resultado. Não somente qualquer passo; não somente qual*
quvr ordem; não somente qualquer resultado.
O resultado governa tudo. Qual o produto do estudo bíblico metódico? O que você
i após ele? Tenho dito o tempo todo que o estudo bíblico pessoal tem um objetivo muito
Hpecíflco — a saber, mudança de vida.
Então como chegar lá? Que processo levará a tal resultado? Proponho uma aborda­
gem di* tiês passos que garantirá mudança de vida — três passos cruciais executados em
uma ordem específica.

1. Observação
Neste passo, você pergunta e responde a questão: O que vejo? No momento em que você
Vfli As Escrituras, pergunta: quais são os fatos? — assumindo o papel de detetive bíblico
procurando pistas. Nenhum detalhe é trivial. Isso leva ao segundo passo.

1. Interpretação
Aqui você pergunta e responde a questão: O que isto significa? Sua busca é por significado.
Iníelizmente, demasiados estudos bíblicos começam com a interpretação; e além disso,
normalmente terminam com ela. Mas mostrarei a você que ele não começa aí. Antes que
entenda, você tem que aprender a ver. O estudo também não termina aqui, porque o
terceiro passo é...

3. Aplicação
Aqui você pergunta e responde a questão: Como isto funciona?, e não: Funciona? As pesso­
as dizem que irão fazer a Bíblia "relevante", mas se a Bíblia ainda não for relevante, nada
que você ou eu façamos fará diferença. A Bíblia é relevante porque é revelada; é sempre
um retomo à realidade. E para aqueles que a lêem e a consideram, ela muda suas vida».
t PRECISO TER CONHECIMENTO DIRETO

Método é metodicidade, mas permita-me acrescentar uma segunda afirmativa à


definição: Método é metodicidade, com perspectiva de se tornar receptivo e reprodutivo.
Você quer causar impacto em sua sociedade? Primeiro, as Escrituras têm que causar
impacto em você. É a analogia do espermatozóide e do óvulo. Nem o espermatozóide
masculino nem o óvulo feminino é capaz de reprodução. Somente quando o esperma
impacta e é envolto pelo óvulo há concepção e reprodução.
Assim é a esfera espiritual. Quando a Palavra de Deus e um indivíduo receptivo e
obediente se juntam, atenção! Esta é uma combinação que pode transformar a sociedade.
E para isso que o estudo bíblico pessoal foi designado — para transformar sua vida, e
como resultado, transformar seu mundo.
Uma terceira afirmativa completa nossa definição: Método é metodicidade, com pers­
pectiva de se tornar receptivo e reprodutivo, por meio de contato direto com a Palavra.
Uma vez mais, não há nada que supere a exposição pessoal prolongada à Bíblia.
É vital. Sem ela, você nunca estará diretamente envolvido com o que Deus tem a dizer.
Você terá sempre que depender de um intermediário. Imagine um relacionamento com
um cônjuge nesta base. Quanto tempo você acha que tal casamento duraria? O mesmo é
verdade com Deus; não há substituto para a exposição direta à Sua Palavra.

COMECE COM OBSERVAÇÃO

Agora que você sabe aonde está indo, observe melhor a maneira como vai chegar lá,
o processo em si mesmo. Lembre-se de que o primeiro passo é a Observação. É onde você
pergunta e responde a questão: "O que vejo?" Você precisa procurar quatro coisas.

1. Termos
Um termo é mais do que simplesmente uma palavra. É a palavra chave que é crucial
àquilo que o autor tem a dizer. Por exemplo, no evangelho de João, a palavra crer aparece
não menos que setenta e nove vezes, sempre como verbo e nunca como substantivo. In­
vestigue, e descobrirá que João usa crer muito propositadamente. É um termo que revela
seu significado. Na verdade, o livro seria completamente diferente sem ele.
O mesmo princípio se aplica a todo livro na Bíblia. São todos repletos de termos.
Você tem que aprender a reconhecê-los e prestar muita atenção, porque eles são os tijolos
com que se constroem o significado.

2. Estrutura
Ao contrário da opinião popular, a Bíblia não é uma coleção de ditados casuais e histórias
que por acaso foram unidas de qualquer jeito. Pelo contrário, é uma livraria cujos livros
foram cuidadosamente edificados, e que exibem — para aqueles que os procuram — dois
Upon básicos de estrutura,
Primeiro, a estrutura gramatical. Posso quase ouvir as reclamações: " lemos que
voltar a isso? Desisti dela na sétima série". Mas, se quiser aprender como estudar as Es­
crituras efetivamente, deve aprender a lê-las com a gramática em mente. Qual o sujeito
da sentença? Qual o objeto? Qual é o verbo principal? Quanto mais souber de gramática,
mais proveito obterá de uma passagem.
Há também a estrutura literária. Há perguntas e respostas, clímax e resolução, cau­
sa e efeito. Mostrarei uma variedade de maneiras pelas quais os autores estruturaram
suas obras.

3. Forma literária
É impressionante como as pessoas ignoram o estilo quando se deparam com os livros da
Bíblia. Tratam-nos todos do mesmo modo.
Porém, há uma vasta diferença entre a poesia hebraica dos Salmos e as logicamen­
te argumentadas epístolas de Paulo; entre a grande e majestosa narrativa de Gênesis c
Êxodo, e as histórias simples e tocantes das parábolas. Há poesias de alegoria e de amor,
satíricas e apocalípticas, comédia e tragédia, e muito mais. O Espírito Santo usou cada
uma dessas formas para comunicar Sua mensagem; assim, se você quer compreender
essa mensagem, deve ler cada tipo de acordo com suas próprias "regras". Mostrarei a
você como fazê-lo nos outros capítulos.

4. Atmosfera
Ler a atmosfera envolve captar os cenários e sentimentos do texto bíblico. Como seria
estar no lugar do autor? Por exemplo, Paulo diz: "Alegrai-vos sempre no Senhor; outra
vez digo, alegrai-vos." (Filipenses 4:4)... muito bonito; mas, onde estava ele? No Othon
Palace? Não, não era bem lá; ele estava numa malcheirosa prisão romana. E a vida parece
bem diferente por detrás das grades.
É preciso transportar seus sentidos para a passagem. Se há um pôr-de-sol, veja-o. Sc
há odor, sinta-o. Se há um grito de angústia, ouça-o. Está estudando a carta aos Efésios?
Então una-se à igreja em Éfeso e preste atenção em Paulo, quando ele dobra os joelhos
para orar (Efésios 3:14-21). Este é um exercido para a imaginação, não somente para o
intelecto. Não é preciso treinamento profissional para recapturar a atmosfera de uma
passagem das Escrituras.

VÁ À INTERPRETAÇÃO

A observação leva ao segundo passo: interpretação. Aqui, você pergunta e respon­


de a questão: "O que isto significa?". Lembre-se, sua busca principal é por significado.
Quero sugerir três coisas que o ajudarão a encontrar o significado de uma passagem das
Escrituras.
1. Perguntas
Sc» você quer entender um texto bíblico, tem que bombardeá-lo com perguntai). A Bíblia
nunca fica embaraçada com perguntas. Isto não significa que responderá a Iodas. Mas,
você ainda precisa perguntá-las para determinar se podem ser respondidas. Darei uma
série de perguntas para você lançar ao texto, ajudando-o na busca do significado.

2. Respostas
Obviamente, se você irá fazer perguntas, tem que procurar também as respostas. Onde
as encontrará? No texto. A observação o proverá dos tijolos dos quais você construirá o
significado da passagem. As respostas às suas perguntas virão diretamente do processo
de observação.
É por isso que digo, quanto mais tempo passar na Observação, menos tempo preci­
sará gastar na Interpretação, e mais precisos serão seus resultados. Quanto menos tempo
passar na Observação, mais tempo precisará gastar na Interpretação, e menos precisos
serão seus resultados.

3. Integração
Você deve não só fazer perguntas ao texto e procurar respostas, mas deve também juntar
as respostas num todo significativo. Caso contrário, acaba obtendo nada mais que cestos
de fragmentos.
Uma vez pediram-me que falasse em uma igreja: "Pregue sobre o que quiser", dis­
seram, "exceto Efésios".
Isto me pareceu um pedido estranho, até que explicaram o porquê: "Nosso prega­
dor passou três anos em Efésios, e estamos apenas no segundo capítulo".
Saí para almoçar com algumas daquelas pessoas, e perguntei a elas: "Qual o tema
do livro de Efésios?"
Não tinham a menor ideia. Sabiam todos os tipos de pequenos detalhes, mas o pas­
tor nunca havia reunido as informações num todo significativo. Resultado: apesar de três
anos de ensino, sua congregação nunca descobriu o significado de Efésios.
A integração é o estágio onde se reconstrói o significado de uma passagem após o
desmanche para examinar os detalhes.
Leia, Registre, Reflita
Você gostaria de começar a aproveitar melhor o seu tempo nas Escrituras? A seguir
estão três hábitos que, cultivados, irão aumentar sua produtividade. Use-os todas as
vezes que abrir sua Bíblia.

LEIA - Isto pode parecer óbvio, mas, muitos "leitores" são


apenas folheadores. Viram as páginas da mesma maneira
com que trocam os canais no aparelho de televisão, pro­
curando algo que lhes desperte o interesse. A Palavra não
se presta a esse tipo de abordagem. Ela requer um esforço
consciente e concentrado. Sendo assim, leia as mesmas porções da Bíblia repetidas
vezes. Quanto mais você as ler, mais claras se tomarão. Certifique-se de ler os capítu­
los 8-10 deste livro, onde alistei dez estratégias para uma leitura de primeira ordem.

REGISTRE - Em outras palavras, faça algumas anotações.


Anote o que vê no texto. Mantenha um registro de suas opi­
niões e dúvidas. Não sei quantas vezes alguém me disse:
"Professor, o que tenho a escrever não é muito bom". Mas,
o fato é, você não pode construir sobre algo que não tem.
Então, comece onde está, mesmo com as coisas mais ele­
mentares. Todo mundo começa no mesmo lugar. Mas certifique-se de escrever. Use
um bloquinho ou caderno para registrar o que vê. Em suas próprias palavras, resuma
suas observações e opiniões para que mais tarde venham à sua mente. Isso o ajudará
a lembrar-se do que descobriu e a usá-lo.

REFLITA-Istoé, reserve algum tempo para pensar sobre


o que viu. Pergunte a si mesmo: O que está acontecendo
nesta passagem? O que ela está me dizendo sobre Deus? So­
bre mim mesmo? O que preciso fazer, baseado no que estou
lendo? Como veremos, a reflexão, ou meditação, é vital para
entender e aplicar a Palavra de Deus.

PARTINDO PARA A APLICAÇÃO

A Observação e a Interpretação conduzem ao terceiro passo do processo, o passo


crucial da Aplicação. Na aplicação, você pergunta e responde a questão: "Como funcio­
na?" Repito, não: "Isso funciona?", mas "Como funciona?" Há duas áreas a considerar.
1. Como funciono poro mim?
Esta pode ner uma pergunta muito condcnatória. Como Jorge, o proleimor de rucola do­
minical para adultos, nos contou no capítulo 1, é fácil estudar a Bíblia c dizer: "Uau! É
isso mesmo que minha classe precisa ouvir. Mal posso esperar para chegar lá e contar
tudo a eles". Mas, fazendo este tipo de abordagem, pode-se ignorar a pergunta mais pes­
soal: "O que isso tem a dizer a mim? Como funcionaria em minha vida? Porque, se não
estiver funcionando em minha vida, então que autoridade tenho para compartilhar com
alguém? Tenho uma lacuna de credibilidade.

2. Como funciona para outras pessoas?


A Bíblia tem implicações para os outros, é claro. E é legítimo perguntar: Como ela trans­
formaria a vida deles? Seu casamento e família? Seu negócio e ocupação? Cada área da
vida? Destacarei algumas maneiras de se fazer aplicação das Escrituras a outras pessoas
em sua esfera de influência.

MANTENHA SEMPRE UM QUADRO GERAL

Então, isto é uma revisão de para onde estamos indo e como chegaremos lá. Toda
vez que você se aproximar de uma porção da Palavra de Deus, aborde-a em termos ge­
rais:

Observação: O que vejo?


Interpretação: O que significa?
Aplicação: Como funciona?

Este é o destino. Iniciemos a emocionante jornada.


Encontrando-se na Bíblia
Você alguma vez já se sentiu perdido quando um pregador ou professor da Bíblia
lhe disse para abrir em uma passagem específica das Escrituras? Talvez tenha sido
um daqueles livros de nome esquisito do Antigo Testamento, como Naum, Sofonias
ou Ageu. Você tentou desajeitadamente por uns instantes, tentando agir como se
soubesse aonde ir. Eventualmente virou para o índice e se achou, mas na hora em
que chegou na passagem indicada, o pregador já havia prosseguido, e você estava
perdido de novo.
Não saber como encontrar uma passagem nas Escrituras pode ser tão frustrante
quanto vagar por uma estrada campestre sem mapa. No entanto, há duas maneiras
de se superar tal problema.

Memorize os nomes dos livros da Bíblia


Isto não é tão difícil quanto você pode imaginar. Olhe para os sessenta e seis livros
alistados por categorias na página 29. É mais fácil memorizá-los por grupos, e você
pode fazê-lo em apenas duas semanas.

Aprenda como funcionam as referências das Escrituras


Uma referência bíblica e como um endereço; ela diz onde o versículo "mora" na Bí­
blia. É melhor do que localizar pelo número de página porque versões diferentes da
Bíblia trazem o texto em páginas diferentes.
Por exemplo, considere a referência João 8:32. Lê-se "João oito trinta e dois".
"João" é o nome do livro, o evangelho de João no Novo Testamento. O "8" refere-se
ao oitavo capítulo do livro. O número do versículo é "32". E isso é tudo.
Ou considere 1 Coríntios 4:2. Lê-se "primeira Coríntios quatro dois". (Algumas
tradições de igrejas dizem "um Coríntios quatro dois".) O livro é 1 Coríntios, "4" é o
capítulo, e "2" é o versículo.
Ocasionalmente, você poderá se deparar com uma referência como: João 8:32
ou São João 8:32, usando algarismos romanos para os capítulos e um ponto ao invés
de dois pontos para separar capítulo de versículo. Esta é uma forma mais antiga de
referência, encontrada particularmente dentre as obras publicadas na Europa, mas o
sistema é o mesmo.
Nos versículos múltiplos você encontrará um hífen, conectando o primeiro e o
último versículos da referência. João 8:32-42 indica a seção de João 8 do versículo 32
ao versículo 42. Se houverem apenas dois versículos envolvidos, o escritor os sepa­
rará com uma vírgula, como em João 8:32, 42. Ele poderá também separar dois ver­
sículos consecutivos com uma virgula, ao invés de um hífen, como em João 8:32, 33.
Uma refefênda pode também indicar uma acção que entende ac p«»r doia ou
mala capítulos. Se você vir João 8:32-9:12, significa que a seção começa no versículo
32 de Joào 8, e continua até o versículo 12 de João 9. Se a referência é para capítulos
inteiros e não houver necessidade de se indicar números de versículos, você poderá
ver algo como João 8-9.
Suponha entretanto, que a referência seja a um livro com apenas um capítulo,
como Obadias, Filemom ou Judas. Nesse caso, a referência menciona apenas o nome
do livro e o número do versículo. Por exemplo, Filemom 21 refere-se ao versículo
vinte e um de Filemom.
As vezes, um escritor pode querer indicar apenas parte de um versículo, ao
invés do versículo todo. Nesse caso, ele poderá usar uma letra menor a ou b (ou às
vezes até um c, se o versículo for longo) para especificar mais o versículo. Romanos
12:1a, por exemplo, refere-se à primeira metade de Romanos 12:1. Isaías 40:8b refere-
se à segunda metade do versículo.
E as referencias múltiplas, indicando mais de uma passagem? As convenções
variam, mas é comum mostrar uma lista de referências na ordem na qual aparecem
na Bíblia, separadas por ponto e vírgula e mostrar nomes de livros apenas uma vez.
Por exemplo: Gênesis 3:17-19; Salmo 8:3-8; Eclesiastes 3:12-13; 5:18; Efésios 4:28; 6:5-9
e Colossenses 3:22-4:1.
Uma nota final: Quando se referir a um capítulo específico em Salmos, use o
singular, "salmo", como no Salmo 23 — não Salmos 23.0 livro de Salmos é uma co­
leção de salmos (plural); cada capítulo individual é um salmo (singular).
Primeiro Passo

Observação
O que vejo?
O Valor da
Observação
o primeiro passo para o estudo bíblico é a Observação, onde perguntamos e responde­
mos a questão: "O que vejo?" Quando o salmista orou: "Desvenda os meus olhos, para que
eu contemple as maravilhas da tua lei" (Salmo 119:18), ele estava orando pelos poderes
da observação. Estava pedindo ao Espírito de Deus que rasgasse as bandagens de seus
olhos para que pudesse ver com visão e discernimento a verdade que Deus revelara.
O que faz uma pessoa ser melhor estudante da Bíblia do que outra? Ela consegue
ver mais, é só. A mesma verdade está disponível a ambas no texto. A única diferença en­
tre elas é o que cada uma consegue ver em um espaço de 30 centímetros cúbicos.
Você alguma vez já foi a um estudo bíblico ou ouviu uma mensagem pregada em
uma igreja local sobre uma passagem que já havia lido e estudado — talvez até ensina­
do — mas depois ficou pensando: "Estamos estudando a mesma passagem?" Você foi
forçado a perguntar: "Por que ele consegue ver mais do que eu? Como conseguiu tirar
tanto proveito do texto?"
A diferença entre vocês é a diferença que Sherlock Holmes tanto gostava de apon­
tar: "Você vê, mas não observa."
A habilidade de ver é um processo desenvolvido. Uma pergunta foi feita certa vez
a Louis Agassiz, o naturalista de renome de Harvard do século dezenove: "Qual foi sua
maior contribuição, cientificamente falando?
Sua resposta: "Ensinei homens c mulheres a observarem".
E ele usava um processo fascinante para fazer isso; colocava um peixe malcheiroso
numa bandeja de dissecação, o enfiava debaixo do nariz de um novato, e ordenava: "Ob­
serve esta espccic, e escreva tudo o que vê".
O estudante começava entusiasmado, escrevendo vinte ou trinta coisas. Enquanto
isso, o professor desaparecia até o dia seguinte, quando, ao retornar, perguntava: "Como
Indo?"
"Oh! Vi trinta e sete coisas", o estudante se gabava.
"Maravilhoso", o mestre gritava. "Continue a observar".
E o estudante pensava: Puxa! Vi tudo o que havia para ser visto naquele peixe! Mas já
que o professor lhe dissera que continuasse, ele voltava e olhava mais.
Este processo continuaria por duas semanas. Nada a nào ser olhar para o peixe.
Como vemos, a genialidade do professor era a sua consciência de que a base da inquirição
científica é o processo de ver. E o mesmo é verdade para o bom estudo bíblico.
Nas páginas a seguir, darei várias sugestões sobre como você pode aumentar seu
poder de observação quando lê as Escrituras. Você terá também várias oportunidades
para testar suas habilidades em várias porções da Palavra. Mas por hora, eis um pequeno
exercício para termos certeza de que ver não é o mesmo que observar. Responda as se­
guintes questões de memória; depois, descubra se suas percepções estão corretas:

1. Pense numa escada para um edifício que você usa regularmente. Quantos de­
graus há?

2. Quantos semáforos você passa no caminho para o trabalho?

3. Quais das seguintes inscrições não se encontram na nota de cinco reais?


(a) Em Deus confiamos
(b) Deus seja louvado
(c) Departamento do Tesouro, 1789
(d) Banco Central do Brasil

4. Pense em alguém próximo a você, com quem mora ou trabalha. Descreva em


detalhes o que esta pessoa estava usando na última vez que a viu.
Sem levantar a caneta do papel, desenhe quatro linhas retas ligadas que passem por

cada ponto apenas uma vez. Após tentar de duas maneiras diferentes, considere que
restrições você pode estar estabelecendo para si mesmo na resolução deste problema.

• • • • • •
• • • • • •
• • • • • •

• • • • • •
• • • • • •
• • • • • •

Ç)uantos quadrados você vê abaixo?


5. Com uma margem de erro de dez páginas, quanta» páginas você acha que há
neste livro?

6. Qual foi o título exato do sermão de seu pastor no último domingo? Qual foi o
texto, que ele usou?

7. Sua mãe é destra ou canhota? E seu pai?

8. Se é casado: por qual lado da face seu marido começa a se barbear primeiro? Ou,
por qual lado da face sua esposa começa a se maquiar primeiro?

9. Com uma margem de erro de 1.000 quilômetros, há quantos quilômetros você


não troca o óleo de seu carro? Quantos quilômetros faz desde que colocou pneus
novos? Quantos quilômetros faz desde que regulou o motor?

10. De que fase a lua estava mais próxima na noite passada: minguante, crescente,
cheia ou nova?

Como foi? Você tem olhos de águia para detalhes ou é cego como um morcego? E
claro que nenhum dos itens nas dez questões acima é assunto de vida ou morte (exceto
talvez o óleo do carro).
Mesmo assim, é engraçado como frequentemente pequenas coisas fazem toda a di­
ferença tanto em um mistério fictício como numa investigação policial na vida real. Tudo
se faz claro num detalhe de "menor" importância, como a cor dos olhos de um suspeito,
a hora do dia, uma palavra mal pronunciada. Os fatos estão lá para qualquer um ver, mas
somente o detetive mestre os nota. "Você vê, mas não observa".
Permita-me dar-lhe uma chance de começar a observar as Escrituras. No próximo
capítulo consideraremos um versículo e faremos a simples pergunta: "O que vejo?" Você
pode se surpreender com o resultado.
Experimente

A Obucrvação é uma das habilidades mais úteis que você pode adquirir. Pode
ser atê mesmo muito divertida. Eis aqui um exercício para se tentar com jovens. Irá
desenvolver o poder de observação deles e ensinar muito a você sobre o processo
observacional.
Longe da presença dos jovens, organize um grupo de objetos numa mesa como,
por exemplo:

uma pedra
um livro de brochura
uma caneta
duas ou três conchas do mar
um carrinho de brinquedo
cinco lápis de cera
um bloco para construção de brinquedo
uma folha de árvore
um ímã em forma de número ou letra
um lenço de várias cores
uma gravata
uma escova de dentes

Não importa muito o que você selecione para colocar na mesa, mas certifique-
se de que os jovens reconhecerão todas as coisas. Escolha objetos de características
distintas e interessantes, como de formas e cores exclusivas.
Uma vez organizados os objetos na mesa, cubra-os com um lençol ou toalha de
mesa. Então chame os participantes à sala e dê a cada um lápis e papel. Diga-lhes que
escrevam o que veem na mesa. Tire o lençol e descubra os objetos por aproximada­
mente sessenta segundos. Daí, cubra-os novamente.
Peça aos jovens que descrevam o que viram - ou o que acham que viram. Peça
que descrevam detalhes específicos como tamanho, cor, marcas, e assim por diante.
Faça uma lista de suas observações. Então descubra os objetos e mostre-os ao grupo.
Todos ficarão impressionados com o que foi e não foi observado. Perceberão que há
uma vasta diferença entre simplesmente ver e observar cuidadosamente.
Comece com
Um Versícueo
Você está pronto para se envolver com as Escrituras por iniciativa própria? Espero que
sim. Neste capítulo quero começar com pouco, observando apenas um versículo: Atos 1:8.
Demonstrarei o processo de observação para que você possa vê-lo em ação. Siga em sua
Bíblia enquanto faço perguntas sobre o texto (em negrito, abaixo), para ver o que posso
descobrir. Lembre-se de que a preocupação principal na observação é: O que vejo?
Você notará nas páginas seguintes que reescrevi o texto de maneira que facilite o
processo. Esclarece não apenas a gramática, mas também as idéias que o autor quer nos
comunicar.

COMECE COM OS TERMOS

Dissemos no capítulo 4 que, quando observamos, precisamos começar procurando


por certos termos. Qual é o termo mais importante neste versículo? É a primeira palavra
que vejo, mas. Marque esta palavra em sua Bíblia.
A palavra mas indica um contraste. (Mais tarde vamos ver que contrastes sempre
são importantes nas Escrituras. Eles indicam uma mudança de direção.) Aqui, o que a
palavra mas me obriga a fazer? Ir para o contexto precedente, um outro aspecto crucial
do estudo bíblico que iremos falar. Estou invadindo o capítulo no versículo 8. E nunca
devemos estudar algo que esteja isolado, mas sempre em relação a outras coisas. Já que
estamos tão próximos do início do livro de Atos, voltemos para captar o contexto desde
o começo.
O versículo 1 começa mencionando "o primeiro livro", que sob investigação, vem
a ser o evangelho de Lucas. Assim, logo de princípio, descubro que Atos é do mesmo
autor, o Dr. Lucas. (Uma pergunta importante que farei, mas deixarei que você responda
Mas recebereis poder,

ao descer sobre vós o Espírito Santo;

e sereis minhas testemunhas

tanto em Jerusalém,

como em toda a Judeia

e Samaria,

e até aos confins da terra.

é: Quem era Lucas? Faça uma lista de tudo o que pode descobrir sobre ele.) Lucas-Atos
formam um conjunto de dois volumes. O evangelho de Lucas inicia a história; Atos é a
continuação.
Além disso, descubro que Lucas e Atos têm o mesmo assunto: "tudo o que Jesus
começou a fazer e ensinar". Esta é uma dica de que Atos vai me dar uma continuação do
ministério de Cristo através de Seus apóstolos.
Lucas e Atos não somente têm o mesmo assunto, como também são dirigidos ao
mesmo leitor, um homem chamado Teófilo. Quem era Teófilo? Se voltar para Lucas 1:3,
descubro que ele é chamado "excelentíssimo Teófilo", o que pode indicar que ele tinha
um título e posição de grande proeminência na sociedade romana. Mas aqui ele é cha­
mado apenas Teófilo. Talvez no intervalo entre a escrita de Lucas e Atos, ele tenha vindo
a conhecer Cristo e perdido sua posição. Ou talvez Lucas use somente a forma abreviada
por causa de uma maior familiaridade. De qualquer maneira, Lucas tinha um indivíduo
em particular em mente quando escreveu.
O livro de Atos começa com uma discussão. No versículo 6, encontro o Senhor e
Seus discípulos falando sobre o Reino de Deus. O texto diz: "Então os que estavam reu­
nidos lhe perguntavam". A primeira coisa que fazem é levantar uma questão: "É isso
mesmo?" É isso o quê? "Será este o tempo em que restaures o reino a Israel?"
Jesus responde a pergunta deles. Primeiro responde negativamente, dizendo, com
efeito: "Não vos compete" (v. 7). Depois positivamente (v. 8) — e eis onde a palavra wws
figura tão proeminentemente — "Mas esta é a sua responsabilidade". O versículo 8 é en­
tão, parte de um diálogo no qual os discípulos fazem perguntas e o Senhor as responde.
Este é o contexto precedente. Consideremos também os fatos que se seguem nos
versículos 9-11, porque relatam a ascensão de nosso Senhor. Lembre-se que, em adição aos
termos, você deve investigar a atmosfera. Estes versículos criam uma tremenda atmosfera
porque» we entn é a aacenifc, rntâo am palavras de Jesus no versículo 8 sAo Suas últimas
palavras aos Seus discípulos. Com efeito, Ele está dando a eles ordem de marchar: "Agora
o trabalho é de vocês", está dizendo. Então, enquanto estão olhando, Ele sobe aos céus.
Ele Me vai — e eles entram em ação.
Quando estudar qualquer versículo das Escrituras, certifique-se de colocá-lo em seu
contexto. Considere-o tanto nos termos que vêm antes, como nos que vêm depois.

Mas recebereis poder,

ao descer sobre vós o Espírito Santo;

e sereis minhas testemunhas

tanto em Jerusalém,

como em toda a Judeia

e Samaria,

e até aos confins da terra.

QUEM SÃO AS PESSOAS ENVOLVIDAS?

Tendo feito isto, voltemos ao versículo 8. Notei a importância de mas como con­
traste. Há um segundo termo chave a se notar; qual é? A palavra vós. Observe que ela é
repetida: "recebereis poder ... e sereis minhas testemunhas".
Isto levanta uma questão: Quem são estas pessoas? O contexto me diz que sao os
apóstolos (v. 2). A partir daí, poderia fazer uma lista de informação geral que já sei sobre
estes indivíduos. Por exemplo:

1. Andaram com Jesus por aproximadamente três anos durante o Seu ministério.
2. Jesus os escolheu.
3. Eles estão ansiosos, provável razão por que fazem a pergunta sobre o reino.
4. São todos judeus.
5. Muitos deles são, ou foram, pescadores.

Eu poderia acrescentar mais à minha lista. O ponto é, quando se deparar com algo
«Mim, iwri# «rm nua mente quem •> peeaoM do. Neete caio, tio peeenai que tinham ou«
vido o enulnanwnto, vhto o» milagres e passado multo tempo com o Senhor, Agora viva
têm a oportunidade de fazvr-Lhe a pergunta mais crucial de suas vida*.
Uma outra questão ó: Qual o verbo principal deste versículo? Aqui, é "recebereis".
Em que tempo está? No futuro. Aponta para algo que vai acontecer mais tarde.
O que irão receber? "Poder". Esta palavra poderia ser traduzida — e em algumas
traduções você a verá desta maneira — por "habilidade". Jesus não está falando de po­
der físico; está falando sobre a habilidade dos apóstolos de realizar o que Ele quer que
realizem.

ATENTE PARA RELAÇÕES DE CAUSA E EFEITO

A seguir vem uma frase crudal: "Ao descer sobre vós o Espírito Santo". O que isso
acrescenta ao versículo? Primeiro, indica uma relação de causa e efeito. O poder não virá
até que venha o Espírito Santo. Segundo, responde a questão de tempo. Diz-nos que o
recebimento do poder acontecerá quando o Espírito Santo vier sobre eles.
Observei anteriormente que a palavra vós indica os apóstolos. Aqui, deparo-me
com outra pessoa: o Espírito Santo. Quem é Ele? Novamente poderia gerar uma lista do
que sei sobre Ele. Para começar, Ele é a terceira Pessoa da Trindade; é sobrenatural. E é a
Pessoa ligada ao poder. Assim, estamos falando de poder sobrenatural.

Contejcto-
Perguntas Negativas

/ /
Diálogo- Keipoitus
ContKaitE/ Positivas
Quem? futuro-
Mas recebereis poder, habilidades
Tempo- des foras iobrenaturab
ao descer sobre vós o Espirito Santo;
w.s.
(Notes bem> as ordem)
e sereis minhas testemunhas

tanto em Jerusalém,

como em toda a Judeia

e Samaria,

e até aos confins da terra.


(9 11) Atcewão
Attnoifèras - ultímavpaLavrav
On Apóstolos prcclNAVrtm d I mo? Definitivamente sim. A última coisa que fizeram
foi decepcionar o Senhor deles na crucificação, na hora crucial. Portanto, precisavam da
habilidade — o poder — que somente o Espírito Santo poderia dar.
Note que Jesus diz que o Espírito descería "sobre" eles. O poder não existe denlro
deles, mas virá de fora. Haverá uma invasão de habilidade sobrenatural sobre os, em
oposição, ordinários seres humanos. Isso diz muito sobre a tarefa para a qual Jesus os
está chamando.
Um momento atrás vimos uma relação de causa e efeito em termos de tempo. Aqui
quero que você veja uma em termos de duas afirmativas: "E recebereis poder" e a frase
seguinte: "E sereis minhas testemunhas". Os apóstolos irão receber poder; esta é a causa.
O efeito é que eles vão ser algo — "testemunhas".
Noto que o versículo está também no futuro, o que se torna muito significativo. O
texto não diz: "Vós sereis testemunhas e então recebereis poder", mas o contrário: "Vós
recebereis poder, e como resultado disso, sereis testemunhas".
Este é um ponto interessante, porque frequentemente gastamos muito tempo, ten­
tando encorajar as pessoas a testemunhar sobre a fé. Porém, nada dentro delas jamais
garantiría que o fizessem. Não têm nada a compartilhar e, se tentassem, nada estariam
fazendo senão representando.
Em contraste, suponha que uma de minhas alunas do seminário fique noiva duran­
te o verão. Depois das férias, ela entra na classe e a primeira coisa que vejo é ela, acenando
com a mão da aliança bem na minha frente. Nunca tenho que implorar que me mostre sua
aliança. Não, há algo dentro dela que a compele a tomar iniciativa. Ela está apaixonada
por um homem e tem que contar aos outros. Não consegue ficar calada.
Este é o tipo de dinâmica que Lucas quer que notemos na passagem. Como resul­
tado daquilo que os apóstolos recebem, serão testemunhas. Mas testemunhas de quem?
De Cristo; d Ele por identificação pessoal. Eles O representarão.

DEFINA OS TERMOS

O que é uma "testemunha"? Uma definição simples seria alguém que viu c pode
contar aos outros sobre um evento, pessoa ou circunstância. Uma testemunha é alguém
que experimentou algo. Isto é exatamente o que estes apóstolos vão ser. Por exatamente
três anos e meio, eles viveram intimamente com o Salvador. Agora, como resultado do
contato deles com o Espírito Santo e a provisão de Seu poder, vão ser pessoas totalmente
diferentes.
Até agora, viveram basicamente por sua própria força. Na verdade, a atuação deles
não tem sido muito destacada, se você ler os evangelhos. Fracassam repetidas vezes, es­
pecialmente em momentos críticos. Agora porém, que o Espírito vai lhes dar poder, serão
as testemunhas do Salvador.
Com que se inicia a frase seguinte? "Tanto em Jerusalém". Quando digo "tanto" eu
quanto voc$ vrtino» A cidade, prcMumc-xv que hA Juan p<*nno<in envolvida». Man hA main
do que dutiM coínun aqui. Na verdade, há quatro diferentes lugares mencionados. Isto é
peculiar. Moil vo para olhar esta passagem em um comentário cujo autor conheça grego e
explique por que Lucas usa tal expressão.

Contexto-

Controíte/ POHttVO/

Quem? futuro
. Mas recebereis poder,
' Tempa de/forco sobrenatural/
Coajo/ /
ao descer sobre vós o Espírito Santo;
tfeita \ futura de/ Crista M.&.
\ (Mofe/ benv cv ordem)
\ e sereis minhas testemunhas
1
tanto em Jerusalém, inicia^ uma/séríe/
2
como em toda a Judeia
3
e Samaria,
4
e até aos confins da terra.
(9 11)
Atmosfera' - última*palavra*

Falarei mais sobre comentários no Segundo Passo: Interpretação.


Pesquisei e descobri que a palavra traduzida por "tanto" é um termo interessante.
Indica o início de uma série que pode envolver tanto duas coisas, como vinte e duas. Há
somente quatro aqui. "Tanto" inicia uma série de quatro lugares onde os apóstolos vão
ser testemunhas por Cristo.

A IMPORTÂNCIA DO LUGAR

O primeiro é Jerusalém. O que sei sobre Jerusalém? Comecemos uma lista:

1. É uma cidade.

2. O templo fica nela.

3. E onde estão no presente momento.


4. Tomou-ai* Inmbém o hr deles. Vào começar testemunhando em casa. Lugar íá-
cil para se Iniciar, certo? Nào exatamente! Você já tentou compartilhar sua fé
com alguém em seu lar? Uma coisa é sair de casa e contar a um estranho, que
você nem mesmo conhece, sobre Jesus Cristo. Mas tente fazê-lo com seus filhos,
pais ou alguém que conheça bem. É provável que reajam, dizendo: "Não jogue
seu laço religioso em mim". Entretanto, Jesus diz aos apóstolos que vão começar
ali mesmo, em Jerusalém, que é particularmente interessante por causa de um
quinto ponto:

5. E onde a crucificação aconteceu. Eles são conhecidos ali. Um ambiente tão hostil
deve ser o ponto de partida para o evangelismo.

Tendo começado em Jerusalém, porém, vão à Judeia. Como posso relacionar Jeru­
salém e Judeia? Uma olhada em um bom atlas me mostra que Jerusalém é para Judeia o
que uma cidade é para um estado, como São Paulo, SP ou Porto Alegre, RS. Jerusalém era
a cidade dentro da maior província chamada Judeia. Assim, o Senhor está Se movendo
da cidade para a província.
Três províncias eram centrais no pensamento dos apóstolos: Judeia ao sul; Galileia
ao norte e Samaria entre uma e outra. Havia também uma quarta a leste do Rio Jordão,
chamada Pereia. Jesus diz que comecem em Jerusalém e vão à Judeia.
Mas, note a pequena conjunção "e", que os traz ao terceiro lugar — Samaria. Eles
amam Samaria, certo? De modo algum.
Lembra-se da mulher junto à fonte, em João 4? O texto diz que Jesus tinha que
passar por Samaria (v. 4). Ele estava no sul e queria ir à Galileia, no norte. Os judeus
teriam dito: "Não, você não pode ir por Samaria". Ao invés disso, O fariam ir pelo leste,
atravessando o Rio Jordão, subindo pela margem direita, e eventualmente retornando
para o oeste em direção à Galileia. Para retomar, Ele teria que fazer o mesmo caminho
ao contrário. Em outras palavras, Ele teria que seguir pelo caminho mais longo. Por quê?
João 4:9 explica: "porque os judeus não se dão com os samaritanos".
Mas em Atos 1:8, Jesus diz que deseja que os apóstolos invadam a própria área
que normalmente evitariam. "Vão ao lugar fora de seus limites, onde não se vai, à área
evitada".
A próxima frase nos diz aonde mais eles têm que ir: "até aos confins da terra". Jesus
usa uma palavra para "terra" que significa terra habitada. Consultando um dicionário
bíblico, descobri que são usadas no Novo Testamento várias palavras para "terra". Pos­
teriormente mostrarei como procurar palavras e descobrir significados e diferenças entre
elas.
Aqui, Jesus está falando sobre a terra habitada. Ele não está dizendo que vão a todos
os lugares do mundo, mas a todos os lugares onde há pessoas.
( OKÍVKÍn
Pergunta, Ne^ottvcv

/
Quem-? futurü-
Rej/Wtív

/ poUttva/

habilidade/
Mas recebereis poder, iobreriataral
COO4CV
e/
Tempo de^/braz
Efeito- ao descer sobre vós o Espírito Santo;
futuro de/ Crlito N.B.
(KM&betn/O/ordenv)
e sereis minhas testemunhas
1 I nício/ tuna terie/
tanto em Jerusalém,
2
Ejboço-?
(perfil) como em 3toda a Judeia ligado*, aiuabnerde/
béparado*, verJoão- 4:9
e Samaria,
4
e até aos confins da terra.
(9 11) Aíce*uào
Atmoifera/ - ãltUnca-palcarca

RELACIONE O VERSÍCULO AO LIVRO COMO UM TODO

Digamos que esta é a primeira vez que estudo este versículo. O que descobri? Bem,
que duas coisas que sào normalmente separadas — Judeia e Samaria — na verdade são
unidas. Também vi que os apóstolos não poderão parar até que vão à última parte de
terra habitada. E notei que estas são as últimas palavras do Senhor.
Então a pergunta que faço é: É possível que este versículo seja de alguma maneira
um perfil do livro? Os apóstolos realmente seguem este padrão? Quando estudo o livro
como um todo, descubro que a resposta a ambas as perguntas é sim. F.les começaram em
Jerusalém? Atos 2 mostra que começaram. Foram então à Judeia? Exatamente — mas não
por escolha própria. A perseguição fez com que iniciassem a viagem exterior (8:1) e até
o fim do livro estão indo bem no caminho em direção ao mundo habitado de seus dias.

NÃO HÁ LIMITES À OBSERVAÇÃO

Note agora tudo que observamos neste exercício. Conte e descobrirá que extraí pelo
menos trinta observações de Atos 1:8. (E é apenas um versículo. Não estudei um pará­
grafo, capítulo ou mesmo o livro de Atos — apenas um versículo.) Ainda assim, cada vez
que volto a ele, vejo mais. Na verdade, uma tarefa que peço a meus alunos no seminário
é nllMnr o máximo dv obxervnçôcM que puderem extrair dexte único vernículo. Alé agora,
ele» têm encontrado malw de NeimentaN obxcrvaçõc» diferentes.
Imagine quão divertido seria ver seiscentos observações nesta passagem. Gostaria
de ver as Escrituras com olhos assim? Posso ajudar-lhe a adquirir esta habilidade. Esteja
certo de que este é o primeiro passo essencial no método de estudo bíblico. Acompanhe-
me aos próximos capítulos onde indicarei algumas maneiras de aumentar seus poderes
de observação.

Experimente
Agora que me viu observar Atos 1:8, tente o processo sozinho. Observe a seguinte
passagem: Josué 1:8:

Não cesses de falar deste livro da lei;

antes
medita nele dia e noite,

para que
tenhas cuidado de fazer
segundo a tudo quanto nele está escrito;

então
farás prosperar o teu caminho
e
serás bem sucedido.

Lembre-se, na Observação, sua preocupação principal é "o que vejo?" Preste


especial atenção nos termos e na estrutura gramatical. Considere também o contexto.
Use uma caneta ou lápis para registrar suas observações no texto e ao redor dele. Veja
o que pode encontrar nesta fascinante passagem.
Você Devê
Aprender a Ler
Você alguma vez já fechou sua Bíblia, frustrado, perguntando a si mesmo por que não
aproveita mais seu estudo bíblico? No capítulo 1, Vânia nos contou que esta era a sua ex­
periência. Como ela, você talvez tenha feito um honesto esforço em alguma época de sua
vida para sentar-se e estudar a Palavra de Deus. Ouviu as pessoas falarem sobre minas e
riquezas contidas ali, e quis agarrar algumas pepitas para si mesmo. Mas, após despejar
muito tempo e energia no processo, as coisas simplesmente não deram resultado. Então
no final, você se afastou do estudo bíblico ... talvez outros tenham lucrado com isso, mas
você não.
Posso sugerir duas razões pelas quais você falhou em achar ouro valioso: Primeira,
você não sabia ler. Segunda, não sabia o que procurar.
Não pretendo insultar você, mas realmente instruir. Nossa cultura fez uma mu­
dança radical no último século, de uma sociedade de leitores baseada na letra para uma
sociedade de expectadores baseada na imagem. A mídia de nossa era é a televisão, não o
livro. Como resultado, ao contrário de nossos antepassados, poucas gerações atrás, não
sabemos ler. Em giaude extensão, perdemos esta arte.
E a Bíblia é um livro, o que significa que deve ser lido e apreciado. Temos que re­
capturar as habilidades de leitura se quisermos nos tomar estudantes efetivos da Bíblia.
Assim, neste e nos próximos capítulos, quero dar instruções de como ler. Então falarei
daquilo que você deve procurar na leitura.
Em onze diferentes ocasiões, Jesus disse às pessoas que mais liam em Sua época:
"Nunca lestes?" É claro que tinham lido; passavam suas vidas lendo. Porém, não enten­
diam o que liam.
Eram como o estudante que vi um dia na biblioteca, que dormia profundamente
em frente ao livro que lia. Pensei em me divertir um pouco com ele, então baixei minha
cabeça para bem perto de neu ouvido e dlase: "Bu!" Rio quane atravessou o teto de susto.
“Afinal, que livro ó que você está lendo?" perguntei a ele, depois que se recompôs.
"Se é assim tão interessante, vou ter que designá-lo como tarefa em uma de minhas au­
las".
Ele riu.
"Isso é engraçado?" perguntei.
"É trágico", ele respondeu.
"Como assim?"
"Bem, acabo de perceber que estou na página trinta e sete, e não tenho a menor
Ideia do que estou lendo."
Ele está certo: é uma tragédia. Se você não entende o que lê, então não está lendo
— está perdendo seu tempo. Receio que muitas pessoas fecham a Palavra, tendo basica­
mente perdido tempo, porque se suas vidas dependessem disso, não conseguiríam dizer
sobre o que leram.
E este o seu caso? Se é, permita-me dar três sugestões para ajudá-lo a aprender a ler.

APRENDA A LER MELHOR E MAIS RÁPIDO

Há uma correlação direta entre a habilidade de observar as Escrituras e a habilidade


de ler. Assim, tudo que puder fazer para melhorar suas habilidades de leitura será um
bom salto em direção à melhora de suas habilidades de observação como estudante da
Bíblia.
Descobri que um número crescente de alunos formados nas escolas e faculdades
dos Estados Unidos têm muita dificuldade em ler. Na verdade, perguntei a uma de mi­
nhas classes de seminário: "Se vocês se formarem na universidade e não souberem ler,
nem escrever, nem pensar, o que irão fazer?"
Um engraçadinho gritou: "Assistir televisão!"
É triste, mas verdade. Um de meus filhos estava na metade do primeiro ano, quan­
do eu percebi que não o estavam ensinando a ler. Fui então reclamar com a professora.
"O senhor não entende, Sr. Hendricks", ela me disse, "O importante não c que seu
filho aprenda a ler, e sim, que seja feliz."
Contra o meu melhor julgamento, decidi esquecer isso por uns tempos. Mas, no
final do ano, descobri que meu filho estava repulsivamente feliz, e não sabia ler. Na ver­
dade, voltei à professora e disse: "Já lhe ocorreu que as crianças poderíam ser mais felizes
se soubessem ler?"
Custou-me um mês de salário colocar meu garoto num programa terapêutico de
leitura, mas foi um dos melhores investimentos que já fiz. Hoje ele lê melhor e mais rápi­
do do que eu, isto é, muito rápido e razoavelmente bem. É por esta razão que creio que
uma das coisas mais importantes que se pode fazer pelas pessoas é ajudá-las no processo
de leitura.
Suponhrt quo quvlrn vnludar o livro de EíóhIon, ituin scjn um lollor viigtirono r lew
mein horn porn ler on seis capítulos inteiros. Mas suponha que lenha aprendido a lor cm
quinze minutos e também a dobrar sua compreensão. Assim, pelo mesmo tempo — meia
hora - você aumentaria sua efetividade quatro vezes. Isto vale o investimento.
Gostaria de recomendar um livro que o irá ajudar neste processo. É o livro que
mudou todo o curso de minha vida, o clássico de Mortimer J. Adler e Charles Van Doren
chamado A Arte de Ler, da Editora Agir. Agora disponível em brochura é um instrumento
imperdível, que revolucionará sua vida.
Formei-me com honras no colegial. Até recebi prêmio em inglês. Então fui para a
faculdade - uma daquelas estranhas escolas onde se esperava que estudássemos. Infe-
lizmente, eu nunca tinha estudado durante o ginásio e o colegial, nem mesmo levava os
livros para casa. Assim, após minha chegada no campus, fiz um teste de aptidão e fui
colocado na seção de inglês de nível mais baixo da escola. Isso, apesar do prêmio em in­
glês ... humilhante. (O que acabou sendo a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois
deram a nós, estudantes em terapia, o melhor professor do local.)
Bem, tudo que fiz pelas primeiras seis semanas foi estudar. Nada de encontros,
nada de esportes. Mesmo assim, consegui levar bomba em três matérias. Isso consegue
despertar nossa atenção. Pensei: "Nunca vou conseguir".
Então fui falar com meu professor, que foi muito direto comigo: "Howie, seu pro­
blema é que você não sabe ler", e me apresentou o livro de Mortimer Adler. Eu o li e
minhas habilidades de estudo foram transformadas. Na verdade, o curso de minha vida
mudou. Isso é o que um livro de leitura dinâmica poderá fazer por você em termos de
estudo bíblico.
Adler cobre habilidades práticas como: como classificar livros, como descobrir as
intenções do autor, como resumir um livro e como achar os termos chaves. Ele fala so­
bre as quatro perguntas que todo leitor deve fazer, qual a diferença entre sentenças e
preposições e o que bons livros podem fazer por você. Ele diz como ler livros práticos,
imaginativos, históricos e mais, até inclui uma lista de leitura recomendável com grandes
livros que valem a pena ser lidos. Resumindo, mesmo que este seja um livro sobre livros
em geral, é um importante recurso para o estudo bíblico porque ensina como ler.

APRENDA A LER COMO DA PRIMEIRA VEZ

Frequentemente diz-se que a familiaridade produz desrespeito. Bem, outra coisa


que produz é ignorância. No momento em que se aproxima de uma passagem das Escri­
turas e diz: "Ah, já conheço esta", você está em apuros. O que precisa é vir a cada texto
como se nunca o tivesse visto antes na vida. Isto exige muita disciplina. Envolve o cultivo
de uma mentalidade, uma atitude em relação à Palavra.
O que ajuda também é ler a Bíblia em diferentes versões. Se você tem lido a mesma
tradução por anos, tente algo novo e contemporâneo para variar, como a Bíblia de ].B.
Phillipa (Cartan para llo/e da Editora Vida Nova) ott a Hlhlia Viva. Por outro Indo, mc você não
conhece a versAo cIAanIca da Edição Rcviula e Atualizada ou Revitda e Corrigida, você deve a
mI mesmo o lê-la. Ler uina versAo desconhecida "sacode" a sua atenção, de maneira que
você passa a ver a Bíblia com outros olhos.
O ponto é, faça o que íor preciso para se aproximar da Palavra com uma perspectiva
renovada. Uma das grandes assassinas do estudo bíblico é a declaração: "Já sei isso".

Teste Suas Habilidades de Leitura


Como estão suas habilidades de leitura? Eis um exercício para testá-las. Em noven­
ta segundos ou menos, leia o seguinte material e marque verdadeiro ou falso (V ou
F) para cada afirmativa (sem voltar ao artigo). Arrume um despertador ou peça que
alguém o chame em exatamente noventa segundos. Páre quando o tempo esgotar,
tendo acabado ou não.

GELO SECO

Você pode imaginar um gelo que não derrete e não é molhado? Então pode
imaginar o gelo seco. O gelo seco é feito congelando-se um gás chamado dióxido de
carbono. O gelo seco é bastante diferente do gelo comum, que é simplesmente água
congelada.
O gelo seco foi produzido primeiramente em 1925. Desde então, tem satisfeito
as mais profundas esperanças de seu inventor. Ele pode ser usado na produção de
neblina artificial em filmes (quando a fumaça passa pelo gelo seco, levanta-se um
vapor muito denso), e na eliminação de insetos dos suprimentos de grãos. É mais
prático do que o gelo comum porque ocupa menos espaço e é 61 graus mais frio. Já
que evapora ao invés de derreter, seu uso é mais limpo. Por essas razões, é extrema­
mente popular, e muitas pessoas o preferem ao gelo comum.
O gelo seco é tão frio que, se você o tocar com o dedo desprotegido, o queimará.

Responda
1. O gelo seco é feito de água, mas porque
é especialmente tratado, não derrete. V F
2. O primeiro gelo seco foi manufaturado na
década de 1950. V F
3. O gelo seco tem mais usos do que o gelo comum. V F
4. O gelo seco não é tão frio quanto o gelo comum. V F
5. A neblina artificial pode ser feita
passando-se fumaça sobre o gelo seco. V F
Conncgulu fazê-lo cm noventa uegundos? Se não, não nc ninfa annlomí você
wfa apenou no Início da prática em leitura rápida e resposta precisa. Seu objetivo é
I
melhorar gradual e garantidamente, nào se tornar um expert de uma hora para outra.

(As respostas corretas para as cinco perguntas são: 1.F; 2.F; 3.V; 4.F; 5.V.)
De Norman Lewis, How to Read Better and Faster (Como Ler Melhor e Mais Rápido),
4U ed. (New York: Harper & Row, 1978), pp. 14-15.

LEIA A BÍBLIA COMO UMA CARTA DE AMOR

Você já se apaixonou? Espero que sim. Apaixonei-me pela mulher que se tornou
minha esposa, Jeanne, através de um namoro por correspondência. Por cinco anos tentei
escolher uma esposa até que, finalmente, ela me escolheu.
Assim, adivinhe o que eu fazia quando chegava uma carta dela? Resmungava: "Ó,
não, mais uma carta da Jeanne (suspiro). Acho que vou ter que lê-la"? Sentava-me, lia o
primeiro parágrafo e então dizia: "Bem, por hoje é só. Posso riscar este item de minha
lista"?
De modo algum! Lia cada uma de suas cartas quatro ou cinco vezes. Ficava na fila
do refeitório da faculdade, lendo as suas cartas ali. À noite, eu as lia antes de dormir,
colocando-as debaixo do travesseiro para que, se acordasse no meio da noite, as pudesse
pegar e ler mais uma vez. Por quê? Porque estava apaixonado pela pessoa que as escrevia.
Esta é a maneira de ir à Palavra de Deus. Leia-a como se fosse uma carta de amor
dEle a você.
Logo que o livro de Mortimer Adler foi lançado, seu anúncio no jornal The New York
Times dizia: "Como Ler uma Carta de Amor". Uma foto mostrava um adolescente confu­
so lendo cuidadosamente uma carta, com a seguinte cópia abaixo:

Este jovem acaba de receber sua primeira carta de amor. Ele poderá tê-la
lido três ou quatro vezes, mas está apenas começando. Lê-la da maneira tão
precisa quanto ele quer, requerería vários dicionários e uns bons dias de tra­
balho pesado com alguns experts em etmologia e filologia.
Entretanto, ele passará bem sem isso.
Ele irá ponderar sobre a exata graduação de significado de cada palavra,
de cada vírgula. Ela iniciou a carta: "Querido John". Pergunta-se a si mesmo,
qual é o exato significado destas palavras. Ela teria se abstido de dizer: "Que-
ridíssimo" por ser retraída? "Meu Caro" teria soado formal demais?
Oras talvez ela dissesse: "Querido Fulano de Tal" a qualquer pessoa.
Uma ruga de preocupação agora aparece em seu rosto; mas desaparece
tão logo começa a pensar na primeira frase. Ela certamente não teria escrito
aquilo a qualquer um!
Assim ele traça wu raminho pela carta, num momento, flutuando |ubl-
losamvnte numa nuvem, no seguinte, miseravelmente em apuros. Causa mil
dúvidas em sua mente, Hle a poderia citar de cor. Na verdade, ele o irá fazer
— para si mesmo — pelas semanas a seguir.

Então, o anúncio concluía,

Se as pessoas lessem livros com um quinto da mesma concentração, serí­


amos uma raça de gigantes mentais.1

Da mesma maneira, se as pessoas lessem as Escrituras com um quinto da mesma


concentração, seríamos uma raça de gigantes espirituais.
Se você quer entender a Bíblia, tem que aprender a ler — melhor e mais rápido,
como da primeira vez, e como se estivesse lendo uma carta de amor. Apenas pense nisso:
Deus queria Se comunicar com você no século vinte — e escreveu Sua mensagem em um
Livro.*

De Robert A. Traina, Estudo Bíblico Metódico: Uma Nova Abordagem à Hermenêutica (Wilmore,
Ky.: Robert A. Traina, 1952) pp. 97-98.
Três Versões de I Coríntios 13

EDIÇÃO REVISTA E ATUALIZADA

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei
como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a
ciência; ainda que eu tenha tamanha fé ao ponto de transportar montes, se não tiver
amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que en­
tregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me
aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde ein ciúmes, não se ufana, não
se ensoberbece,
Não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se
exaspera, não se ressente do mal;
Não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, passará;
Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos.
Quando, porém, vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava
como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino.
Porque agora vemos como em espelho, obscura mente, então veremos face a
face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior
destes é o amor.
EDIÇÃO REVISTA E CORRIGIDA

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade,
seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda
a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e
não tivesse caridade, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso
me aproveitaria.
A caridade ó sofredora, é benigna: a caridade nâo ó invejosa: a caridade nâo
trata com leviandade, nâo hc ensoberbece,
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, náo se irrita, não
suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
A caridade nunca falha: mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria
como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face:
agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três, mas a maior
destas é a caridade.
CARTAS PARA HOJE
(J.B. Phillips - Ed. Vida Nova)

Se eu falar com a eloquência de homens e de anjos, mas não tiver amor, não
passarei de instrumentos musicais como metais estridentes ou pratos estrondosos.
Se tiver o dom de predizer o futuro e retiver na mente não só todo o conhecimento
humano, mas até os segredos de Deus, e se tiver também aquela fé absoluta capaz de
mover montanhas, mas não tiver amor, não terei valor algum. Se eu me desfizer de
tudo o que possuo, se chegar a oferecer meu próprio corpo para ser queimado, mas
não tiver amor, não obterei absolutamente nada.
Este amor de que estou falando demora a perder a paciência — ele busca um
modo de ser construtivo. Não é possessivo, não está preocupado em impressionar
nem acalenta idéias exageradas sobre sua própria importância.
O amor comporta-se bem e não busca vantagem própria. Não é melindroso.
Não guarda ressentimento nem se alegra com a infelicidade das outras pessoas. Pelo
contrário, participa da alegria dos que vivem de acordo com a verdade.
O amor não conhece limites para sua paciência, fim para sua confiança nem
enfraquecimento de sua esperança; ele é capaz de superar tudo. O amor jamais acaba.
Havendo profecias, serão cumpridas e desaparecerão; havendo "línguas", a ne­
cessidade delas acabará; havendo conhecimento, na verdade ele sumirá. Pois nosso
conhecimento e nossa profecia são sempre incompletos; quando vier o que é comple­
to, chegará ao fim o incompleto.
Quando eu era criança, falava, sentia e pensava como criança. Agora que sou
adulto, deixei as coisas próprias de criança.
No momento, somos homens que olham para imagens confusas refletidas num
espelho. Chegará a hora em que veremos a realidade por inteiro, face a face! No mo­
mento, tudo o que conheço é uma pequena fração da verdade, mas chegará a hora em
que a conhecerei de modo tão completo quanto Deus me conhece!
Nesta vida temos três qualidades permanentes — a fé, a esperança e o amor.
Mas a maior delas é o amor.
DEZ ESTRATÉGIAS PARA UMA LEITURA
DE PRIMEIRA ORDEM

Leia com atenção


Leia repetidamente
Leia pacientemente
Leia seletivamente
Leia com oração
Leia imaginativamente
Leia meditativamente
Leia com propósito
Leia aquisitivamente
Leia telescopicamente
Leia Com Atenção
o passo da observação requer que você assuma o papel de detetive bíblico, procurando
pistas quanto ao significado do texto. Mas, como qualquer detetive o dirá, há mais de
uma maneira de se resolver um caso.
Sherlock Holmes, o detetive mestre, é encontrado, às vezes, engatinhando, inspe­
cionando o chão à procura de cinzas de charuto ou pegadas. Outras vezes, medita por
horas, repassando repetidas vezes as coisas em sua mente, esforçando-se para achar res­
postas. Assume disfarces, aparenta doenças, conduz experimentos — o que for preciso
para solver o mistério.
Do mesmo modo, achar pistas no texto bíblico requer mais do que uma abordagem.
A Bíblia deve ser lida para ser entendida. Mas há mais de uma maneira de lê-la. Sugerirei
dez estratégias que podem transformá-lo num leitor de primeira ordem. Cada uma dá
diferentes pistas sobre o que o texto significa. A primeira é:

LEIA A BÍBLIA COM ATENÇÃO

A leitura atenta envolve estudo. Não fastio, longe disso. Quando você se aproxima
da Bíblia, concentre-se totalmente. Não coloque sua mente em ponto morto. Aplique a
mesma disciplina mental que aplicaria a qualquer assunto pelo qual tem interesse vital.
Você é corretor da Bolsa? Use a mesma intensidade mental que usaria para estudar A Ga­
zeta Mercantil para estudar as Escrituras. É piloto? Preste tanta atenção à Palavra quanto
prestaria a um plano de vôo ou à previsão do tempo. É enfermeira? Procure pelos "sinais
vitais" no texto bíblico da mesma maneira como faria com qualquer paciente. A Bíblia
não produz seu fruto ao preguiçoso.
Provérbios 2:4 faz um apanhado interessante das riquezas da Palavra de Deus, as­
semelhando a sabedoria bíblica a minérios preciosos, não encontrados na superfície, mas
num nível mais profundo. Uma boa analogia para nossos dias seriam os muitos depósi­
tos de petróleo sob os desertos secos do Oriente Médio. Durante milênios, vagou-se por
nquelrt» dvNtrilhddaN lerrmi va/hut, m*m «abcr que apcnn» a poucos milhares de quilôme­
tros adiante jaziam recursos dü inimaginável valor.
Assim é com as Escrituras. A própria verdade de Deus está lá, capaz de transformar
sua vida; mas você tem que aprofundar-se por ela. Tem que penetrar a superfície com
mais do que uma simples olhada apressada. Em outras palavras, você tem que pensar.
Para mudar a metáfora, seu objetivo precisa ser o desenvolver de uma "rapadura"
espiritual para que tenha algo sobre o que pensar, algo para mastigar. Com efeito, você
precisa programar sua mente com a verdade de Deus.

O LIVRO QUE RECUSOU SER ESCRITO

Um dos melhores exemplos que conheço de leitura atenta da Bíblia é a história de


Frank Morison, um jornalista inglês da virada do século, que tinha a intenção de refutar
a ressurreição de Jesus Cristo:

Quando, enquanto muito jovem, comecei a estudar seriamente a vida de


Cristo, o fiz com um sentimento bem definido de que, se eu assim puder colo­
car, Sua história se baseava em fundações muito inseguras.1

Morison havia sido grandemente influenciado por certos eruditos de sua época,
cuja intenção era desmascarar a narrativa bíblica e destruir a credibilidade das Escrituras.
Além disso, a ciência parecia minar as Escrituras em vários pontos.

Foi por essa época — mais por causa de minha própria paz de consciência
do que pela publicação — que concebi a ideia de escrever uma curta mono­
grafia sobre o que me pareceu ser a mais suprema e importante fase crítica na
vida de Cristo — os últimos sete dias...

Pareceu-me que se pudesse chegar à verdade do porquê esse homem teve


uma morte cruel nas mãos do Poder Romano, como Ele próprio considerava
a questão, e especialmente como Ele se comportou sob o teste, deveria estar
bem próximo à verdadeira solução do problema.2

O "problema" que Morison pretendia resolver era o problema que muitas pessoas
hoje têm: Como crer nos milagres sobrenaturais, quando o mundo é obviamente gover­
nado por leis e forças naturais? O milagre supremo das Escrituras é a ressurreição de
Cristo. Se alguém puder explicá-lo, os outros certamente se desvanecerão com ele.*
3

1 Frank Morison, Who Moved the Stone? (London: Faber and Faber, 1930), p. 9.
3 Morison, p. 11
A tentativa do Morison de refutar a ressurreição o levou direlninvnt* «os quatro
evangelhos. Ele estudou a vida de Cristo em detalhes extraordinários, preMando espe­
cial atenção nos sete dias finais, antes de Sua crucificação. Ele analisou o julgamento de
Jesus diante dos líderes judeus e diante do governador romano, Pi latos. Avaliou o tempo
dos eventos e o espaço físico no qual ocorreram. Considerou os fatores psicológicos por
detrás do comportamento de Pilatos e sua esposa Cláudia. Comparou o comportamento
daqueles que desertaram Cristo com aqueles que permaneceram a Seu lado.
Morison também fez uma preeminente pergunta: O que fez com que a totalidade
dos seguidores de Cristo clamasse rápida e unanimemente que Ele havia ressurgido dos
mortos? Ele analisou dois dos discípulos em detalhe: Pedro e Tiago, irmão de Jesus. Tam­
bém examinou a conversão e convicção de Saulo de Tarso.
Resumindo,

tive a oportunidade de estudar a vida de Cristo como há muito tempo desejava


estudá-la, para investigar as origens de sua literatura, para examinar minuciosa­
mente algumas das evidências em primeira mão, e para formar meu próprio
julgamento sobre o problema que ela apresenta. Direi somente que ela produ­
ziu uma revolução em meus pensamentos. Coisas surgiram daquela história do
mundo antigo que anteriormente devia ter considerado impossíveis. Vaga­
rosamente, mas muito definitivamente, aumentou minha convicção de que o
drama daquelas inesquecíveis semanas da história humana foi mais estranho
e profundo do que parecia. Foi a estranheza de muitos notáveis fatores na
história que primeiro detiveram e mantiveram meu interesse. Somente mais
tarde, a irresistível lógica de seu significado foi contemplada.3

Percebe quão envolvida a mente de Morison estava nesse processo de estudo bíbli­
co? Ali estava um homem que lia atentamente. O mesmo processo mental que aplicava a
seu jornalismo, estava aplicando a seu estudo do Novo Testamento.
Resultado: o livro que começou a escrever acabou se tomando "o livro que recusou
ser escrito". Ao invés dele, sua integridade exigiu que escrevesse Who Moved the Stone?
(Quem Moveu a Pedra?) que, publicado em 1930, é ainda uma das melhores defesas da
ressurreição de Cristo já produzidas. É na realidade, a história da conversão de Morison
ao cristianismo, e uma ilustração da quinta-essência da primeira estratégia de leitura bí­
blica: leia atentamente.3

3 Morison, pp.11-12, (itálicos acrescidos)


Experimente

o projeto a seguir o ajudará a cultivar a habilidade de ler as Escrituras atentamente


e envolverá o curto livro de Filemom, no Novo Testamento, com apenas vinte e cinco
versículos. Filemom registra o conselho de Paulo a um velho amigo cujo escravo,
Onésimo, havia fugido. Onésimo encontrou-se com Paulo em Roma, tornou-se cris­
tão e agora Paulo o envia de volta a seu mestre com a carta em mãos.
Leia Filemom aplicando os princípios da leitura atenta. Bombardeie o texto
com perguntas. O que é possível descobrir sobre os relacionamentos entre Paulo,
Filemom e Onésimo? Reconstrua a situação. Que sentimentos estavam envolvidos?
Que considerações práticas? Que perguntas permanecem sem respostas conforme
você lê a carta? Que problemas isto gera? Sobre quais questões fala? Por que você
acha que a carta é significativa o suficiente para ser incluída na Bíblia? Como você
comunicaria a alguém este livro e as perspectivas que ganhou dele?
Leia Repetidamente
Anos atrás li um livro no qual o autor escreveu: "Quando li esta passagem pela centési­
ma vez, a seguinte ideia me ocorreu..."
Pensei: deve estar brincando! Naqueles dias, se eu lesse uma porção das Escrituras
duas vezes, seria incrível. Se a lesse três ou quatro vezes, seria um milagre. Mas ali estava
aquele grande aprimorado estudante da Bíblia, me dizendo que eu precisava lê-la vez
após vez após vez — não apenas uma ou duas, mas cem vezes se necessário, para adquirir
perspectiva.
Hoje noto que ele estava praticando sabiamente a segunda estratégia para a leitura
bíblica de primeira ordem:

LEIA A BÍBLIA REPETIDAMENTE

A genialidade da Palavra de Deus é que ela tem poder sustentador, podendo resis­
tir a exposição repetida. Na verdade, é por isso que difere de qualquer outro livro. Se você
é um expert em determinada área, ler um livro de sua área duas ou três vezes será sufi­
ciente. Poderá colocá- lo na estante e prosseguir para outro livro. Mas isso nunca acontece
com a Bíblia. Leia-a repetidas veze6, e ainda verá coisas que não tinha visto antes.
Permita-me sugerir várias idéias para o ajudar neste processo.

Leia livros inteiros de uma só vez


Sei o que está pensando. Está pensando em livros como Isaías e Jeremias, e dizendo: "Ei,
eu morrería antes que os lesse por inteiro". Porém, quero lembrar-lhe de que o tamanho
dos livros das Escrituras não é maior do que duas ou ties colunas normais de um jornal.
Mesmo os livros mais longos da Bíblia são mais curtos do que a maioria dos romances.
Assim, vá adiante e leia livros da Bíblia de uma só vez.
O valor aqui é que você será capaz de apreciar a unidade de cada livro. Isto é o que
a maioria das pessoas perde quando pulam de passagem para passagem: nunca conse-
gut’in obler um Avnm» do Iodo, Consequentemente, aua prrcepçllo ó írngmenlndn. E como
mudar de canal para canal na televisão, vislumbrando algumas cenas ou pedaços de diá­
logos, mas nunca assistindo a um programa inteiro.
I .embro-me de uma vez, quando estava estudando o livro de Mateus. Havia estuda­
do v até ensinado o livro antes, mas francamente, nunca havia compreendido realmente
aonde o autor estava se dirigindo. Então arrumei um tempinho numa manhã de sábado
e li os vinte e oito capítulos inteiros. Pela primeira vez em minha vida, finalmente co­
mecei n entender o que Mateus estava tentando comunicar em seu livro.
O mesmo é verdade para o restante dos livros. Cada um foi escrito como uma unidade
que somente permanece unida quando lida em sua totalidade. Ler de uma só vez o aju­
dará a compreender o quadro geral do livro.

Comece pelo início do livro


Frequentemente leitores mergulham no meio de um livro da Bíblia, e não conseguem
imaginar por que o texto não faz sentido. Não pensariam em começar a ler um romance
no quinto capítulo e depois condená-lo de maçante e desinteressante. Pegam uma passa­
gem, arrancam-na de seu contexto até que ela virtualmente grite, e então se perguntam
por que não conseguem entendê-la.
Lembra-se de nosso estudo de Atos 1:8? Felizmente, a primeira palavra "mas" nos
Advertiu a voltarmos e checarmos o contexto. Já que estávamos apenas no oitavo versí­
culo do livro, não houve problema em captar a narrativa desde o começo. Fazê-lo nos
Ajudou a descobrir coisas fascinantes sobre o propósito do livro, o escritor, o homem para
quem foi escrito e as circunstâncias nas quais o versículo 8 ocorre.
Mas suponha que tivéssemos escolhido estudar Atos 2:8, 8:8 ou 28:8. Esses versícu­
los sozinhos fazem pouco sentido. Só adquirem significado depois que os relacionamos
Aos parágrafos vizinhos, esses parágrafos às seções vizinhas, e essas seções ao livro todo
de Atos.
Assim, voltamos à mesma questão: os livros da Bíblia foram escritos como unida­
des. Se você os corta em algum ponto, sangram. Então, se o capítulo 7 está com sarampo,
esteja certo de que os capítulos 6 e 8 estão com a mesma doença.

Leia a Bíblia em diferentes traduções


O perigo de se ler repetidamente é a familiarização com o texto. Depois de algum tempo,
você fica com sono. Uma maneira de se evitar que isso aconteça é usar várias traduções
para que, uma vez que haja intimidade com os termos de uma, você possa experimentar
uma outra. Isso mantém a experiência viva, e você estará fadado a notar coisas novas.

Ouça fitas das Escrituras


Um dos desenvolvimentos mais interessantes dos últimos anos é a proliferação de audio-
cassetes da Bíblia. Você pode obter quase todas as traduções que desejar. Gosto de ouvi-
las no carro, mas não há nada que o impeça de ouvi-las enquanto trabalha no quintal,
pintando a garagem, tomando sol na praia ou fazendo cooper na rua.
Os valores deste hábito são muitos. Primeiro, você muda a experiência sensória de
visual para auditiva. Em muitas porções das Escrituras, isso está mais próximo ao modo
como o material foi originalmente apresentado em sua época do que em sua forma escrita
atual. Por exemplo, todos os ensinamentos de Jesus, inclusive as parábolas e o Sermão do
Monte, foram apresentados verbalmente. O livro de Jó foi provavelmente recitado muito
tempo antes de ter sido escrito. Os Salmos foram cantados em sua maioria, não lidos.
Ouvir as palavras é uma experiência muito mais envolvente do que lê-las.
A voz do leitor ajuda também. Duas pessoas não leem as Escrituras da mesma ma­
neira. Assim, ouvir as fitas é como descobrir uma nova tradução; as palavras podem ser
as mesmas, mas a ênfase é diferente. Além disso, se o leitor souber o que está fazendo,
pode trazer vida ao texto de modo atraente.
Um benefício final das Escrituras em fitas cassete é que você pode tocá-las repetidas
vezes para lucrar com a repetição. Mencionei um homem que havia lido uma certa passa­
gem pelo menos cem vezes. Imagine ouvir uma passagem cem vezes. Você acha que pode
lembrar-se de algo da verdade naquela passagem?

Leia a Bíblia em voz alta


Isto segue o exemplo de tudo o que tenho dito. Não há nada como o som de sua própria
voz para envolvê-lo com as Escrituras. Ler em voz alta o força a prestar atenção em cada
palavra.
Além disso, há na verdade um precedente bíblico para fazê-lo. Deuteronômio 6:7
instrui os pais, especialmente o pai: "as inculcarás (as palavras das Escrituras) a teus
filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao
levantar-te". Em outras palavras, a Palavra de Deus deve ser parte e parcela de sua con­
versação no lar. A luz desse princípio pergunto: quando foi a última vez que seus filhos o
ouviram, lendo a Bíblia para eles?
Na realidade, encorajo-o a fazer com que sua família toda se envolva no ato. Faça
seus filhos lerem para você, leiá para eles, trace seu caminho pelos evangelhos, pelas
histórias do Velho Testamento, ou talvez por uma das epístolas. Use uma tradução que
seja de fácil leitura. Garanto que você levará a verdade bíblica para onde ela deve ficar
— sua memória.

Estipule uma agenda para a leitura biblica


Esta ideia tem sido praticada há anos, e por uma boa razão: muitos de nós ficamos exaus­
tos só em olhar para a Bíblia. Calculamos que estaremos de barbas brancas quando con­
seguirmos lê-la em sua totalidade. Mas a verdade é que é possível ler o Livro todo em
um ano, se lermos alguns capítulos por dia. Muitas Bíblias têm até uma agenda para isso
no final.
Imagine w’gulr um programa como cate, ano apóa ano. Nâo levaria muito tempo
para ler cada versículo dez, vinte ou mesmo trinta vezes.
Evidentemente, você não tem que adotar uma abordagem "leia a Bíblia em um
Uno". Poderia tentar ler um salmo de manhã e um salmo à noite. Assim, percorrería o
livro inteiro de Salmos quase cinco vezes em um ano. Ou ler um capítulo de Provérbios
Iodos os dias — o livro inteiro todos os meses. Ou concentrar-se em um livro por um mês:
Um capítulo de Efésios ou Gaiatas todos os dias de segunda a sábado, quatro vezes; ou
um capítulo de 1 João todos os dias por trinta dias.
Você pode criar sua própria agenda para completar estes livros ou inventar um
plano próprio. O ponto é, planeje um modo de ajudá-lo a marcar seu progresso. Se você
é uma pessoa que precisa de estrutura ou que gosta de atingir metas, esta é uma ótima
maneira de se ler as Escrituras repetidamente.

Experimente
Está convencido do valor da leitura repetida da Bíblia? Eis um exercício que irá dis­
persar qualquer dúvida que ainda permaneça: leia o livro inteiro de Ester, no Velho
Testamento, uma vez ao dia por sete dias seguidos. Deve levar meia hora por dia,
aproximadamente. Use algumas das sugestões deste capítulo, como ler em voz alta
ou talvez até ouvir fitas das Escrituras. É claro, você deve também usar as outras
habilidades de Observação mencionadas anteriormente. Veja quantas coisas novas
pode ver em cada dia sucessivo. Faça uma lista de suas observações, ou registre-as
em sua Bíblia. No fim da semana, veja se pode reconstruir a história clara e precisa­
mente, contando-a a alguém. Que perspectivas ganhou da história?
I Samuel
Leia Pacientemente
H á um velho ditado que diz que nada bom acontece rápido. Não sei se é totalmente
verdadeiro, mas realmente se aplica ao estudo bíblico. A menos que você tenha hábitos de
leitura altamente desenvolvidos, é improvável que você possa simplesmente mergulhar
na Palavra de Deus por cinco minutos e sair dela com muito significado. Na verdade, lei­
tores altamente habilitados devotam muito mais de cinco minutos à tarefa. Aprenderam
a abordar as Escrituras usando a terceira estratégia da leitura de primeira ordem:

LEIA A BÍBLIA PACIENTEMENTE

Esta é uma tarefa difícil para a maioria de nós. Vivemos numa sociedade instantâ­
nea. As coisas que costumavamos querer para amanhã, hoje queremos agora. Aquilo de
que precisavamos imediatamente, hoje precisamos para ontem. Assim, não é surpresa
que, se decidimos abrir nossas Bíblias, esperemos resultados instantaneamente e sem es­
forço. Se não ganhamos o prêmio logo, é possível que fiquemos bastante frustrados muito
rapidamente.
Mas o fruto da Palavra leva tempo para amadurecer. Se você é um pouquinho im­
paciente que seja, é provável que desista cedo e perca uma rica colheita. Muitas pessoas
fazem isso; se desiludem com o processo. Talvez estejam procurando um passatempo ao
invés de esclarecimento. Dizem-me: "Olhe, tentei ler a Bíblia, mas é como arar concreto".
Outros desistem do texto bíblico e se voltam para fontes secundárias. No momento
em que acham que estão afundados, dão um louco salto a um comentário para descobrir
o que outro santo significativo tem a dizer sobre a passagem. No processo, arruinam a
experiência porque desistem cedo demais. Estão normalmente prestes a achar minério
quando partem para as fontes secundárias. Não há nada de errado com o uso de fontes
secundárias — depois que você embebeu sua mente no que o texto bíblico diz.
NO JOGO PARA GANHAR

Quando estava na faculdade, fazia atletismo. Saltava obstáculos baixos, o que faz
mais sentido, já que minha estatura é mais próxima do chão. Naqueles dias, um homem
chamado Gil Dodds era o campeão de milha coberta do mundo. Ele costumava vir muito
à escola, e desenvolvemos uma amizade bastante próxima.
Jamais me esquecerei da primeira vez em que o encontrei. Estávamos na trilha
quando ele me deu um tapinha e disse: "Vamos lá, Howie. Vamos dar uma volta". Dispa­
rei e percebi-me alguns passos à frente dele, o que me intrigou. Pensei: Se vocêé o campeão
de milha coberta, por que não corre um pouquinho mais?
O que não percebi foi que ele estava planejando dar outra volta. Eu estava correndo
o mais rápido que podia. Mas quando eu finalmente dei a volta toda, ele me deu outro
tapinha e gritou: "Vamos lá, Howie. Só faltam três".
Pensei: Tchati mesmo, vou morrer bem aqui!
Como vê, há uma enorme diferença entre correr raso (um pequeno percurso) e fazer
crosscountry ou maratona. Para fazer o último, é preciso desenvolver os seus pulmões.
Você tem que se preparar para a longa distância. Assim é também com a leitura bíblica pa­
ciente. Você tem que desenvolver persistência, poder de resistência para insistir com um
texto até que comece a fazer progresso. Permita-me sugerir algumas coisas para ajudar.

Trabalhe com um livro por um mês


Creio que há um ritmo para a vida, e para muitos de nós, o ciclo leva de quatro a seis se­
manas. Podemos persistir em algo por aproximadamente este tempo, mas aí precisamos
de uma mudança de passo.
No estudo bíblico, cinco semanas com um livro é normalmente tempo suficiente
para se ter um avanço significativo. Em cinco semanas você pode ler o livro todo várias
vezes. Pode também observar sua estrutura, identificar os termos chaves, investigar os
personagens centrais, fazer trabalho de pano de fundo com fontes secundárias e decidir
formas práticas de aplicar as verdades do livro à sua vida. Discutirei todas estas tarefas
nos capítulos posteriores.
O ponto é que em um mês, você pode começar a exercer domínio sobre um livro
da Bíblia. Um livro pode não parecer muito, mas pode ser mais do que você atualmente
entende. Em um ano, você pode ter doze livros sob seu controle; em cinco anos e meio,
sessenta e seis. Acredita que você pode estar a menos de seis anos de ter uma compreen­
são de primeira mão da Bíblia inteira?
Qualquer livro se encaixará em um plano de estudo de cinco ou seis semanas, mas
algumas sugestões para começar poderíam ser: Neemias, Jonas, o evangelho de Marcos,
1 Coríntios, Filipenses, Tiago ou 1 Pedro. Neemias, Jonas e Marcos são narrativas fáceis
de se ler, com enredo e caracterização. Os quatro outros livros mencionados são cartas
curtas e práticas a cristãos. Você não terá muito problema em entender o que os escritores
milân tentando dizer.

Aproximação e afastamento
Um mês parece ser muito tempo para se passar em um único livro, mas na verdade não
«V l.lma vez que há tanto para se considerar em qualquer passagem (lembre-se, identi­
ficamos nada menos que trinta observações só em Atos 1:8), você tem que estabelecer
objetivos limitados.
Uma estratégia é usar uma lente de zoom em sua abordagem. Comece com um ân­
gulo amplo. Afaste-se e visualize o quadro geral, lendo o livro em sua totalidade. Veja
•e consegue detectar um fluxo no material, uma progressão de eventos ou idéias. Então
aproxime-se de algo que pareça proeminente. Se você usar a abordagem de um mês, pas-
M» uma semana aproximadamente naquele evento ou ideia.
Por exemplo, em Gênesis, os primeiros onze capítulos abrangem a criação do uni­
verso, o Dilúvio e a confusão de línguas em Babel. Os próximos trinta e nove capítulos
cobrem apenas quatro gerações, lideradas por quatro homens — Abraão, Isaque, Jacó e
José. Este é o quadro geral de Gênesis. Mas alguns eventos dignos de aproximação são
n narrativa da criação (capítulos 1 e 2), o Dilúvio (capítulos 6-10), o sacrifício de Isaque
(capítulo 22) e a profecia de Jacó sobre seus filhos (capítulo 49).
Uma vez que você passe tempo em um desses eventos menores, pode fazer zoowí
ainda mais e estudar uma característica específica em detalhe. Por exemplo, na narrativa
da criação, Deus estabelece o casamento (2:18-25). Esta é uma passagem digna de estudo
Intenso porque os princípios estabelecidos aqui prevalecem por todas as Escrituras. Jesus
reíere-Se a esta passagem (Mateus 19:4-6), e também Paulo (Efé-sios 5:31). Sua presença
aqui também nos obriga a perguntar que lugar o casamento ocupa em Gênesis.
Depois de ter feito zoom para estudar um evento, conceito ou palavra específica,
certifique-se de afastar-se novamente para lembrar-se do quadro geral. E lembre-se, não é
bom terminar com uma porção de fragmentos disconectados, mas com um todo unifica­
do no qual todos os detalhes se encaixem com a mensagem global do livro.

Altere sua abordagem


Como vemos, há mais do que uma maneira de se estudar as Escrituras. Quanto mais
estratégias você usar, mais perspectiva ganhará. A maneira de resistir firme na longa dis­
tância do estudo bíblico é variar sua abordagem, assim como os corredores variam seus
passos. Nos capítulos subseqüentes, falaremos sobre algumas técnicas que você pode
usar com diferentes tipos de materiais.

DOIS PRINCÍPIOS da paciência

As chaves para a leitura bíblica são: seja paciente com o texto e consigo mesmo. Su­
geri algumas maneiras de ser paciente com o texto para dar a ele uma chance de revelar
sua mensagem.
Talvez um princípio mais difícil, especialmente para o estudante Inexperiente da
Bíblia, seja ser paciente consigo mesmo. Muitas vezes uma pessoa íreqüenta um culto em
uma igreja ou uma conferência bíblica onde ouve o pregador fazer uma incrível exposição
da Palavra. Em reação, ele se torna tão ansioso que não pode esperar para ir ao texto. Ele
fica tão motivado a descobrir verdades por si mesmo que não consegue ver adiante. Isso
é maravilhoso.
Mas o que ele esquece é que o pregador tem estudado as Escrituras diligentemente
por anos. Não há meio pelo qual um novato possa começar já neste nível. Lembra-se de
minha "corrida" com Gil Dodds? Comecei como um relâmpago, mas o campeão sabia o
que era preciso para percorrer a distância. Eu não.
Assim, quando mergulhar na Palavra por si mesmo, relaxe e aproveite a experiên­
cia. A verdade de Deus está lá, e você a encontrará se tão-somente der tempo a si mesmo
para ler pacientemente.
I

Leia Seletivamente
Meus filhos lhe dirão que não sou grande pescador. Gosto muito de pescar, mas não
pcNCO muitos peixes. Nossa família costumava tirar férias em Colorado, e pescar numa
pequena lagoa que tinha truta quase do tamanho da metade de uma canoa! Mas será que
podia fisgar um daqueles peixes? De jeito nenhum!
Tentei todos os truques que as lojas de pesca tinham a vender. Sem sorte. Aqueles
peixes chegavam até a beira da lagoa e eu balançava a isca bem na frente das suas bocas.
No final apanhei muito pouco.
A coisa mais frustrante foi que, descendo a beira da lagoa a pouca distância estavam
dois homens que pareciam desajeitados com duas ou três varas. Estes não conseguiram
dar conta do trabalho. Mal dava tempo de tirar um peixe de uma vara e já havia outra
vara com peixe fisgado.
Qual foi o segredo deles? Não somente conheciam a lagoa e as trutas, mas sabiam
qual isca usar.
Eles ilustram a quarta estratégia de leitura bíblica da primeira ordem.

LEIA A BÍBLIA SELETIVAMENTE

Ler a Bíblia seletivamente envolve usar a isca certa quando pescar as Escrituras.
Aqui estão seis "iscas" que pode usar com qualquer texto, seis perguntas a fazer a qual­
quer passagem das Escrituras.

Quem?
Quem são as pessoas no texto? Responder esta pergunta é muito fácil. Simplesmente
leia o texto. Mas uma vez que você identifique quem está na passagem, sugiro que você
procure duas coisas.
Primeira, o que se diz a respeito da pessoa ou pessoas? Por exemplo, Josué 2:1 apre­
senta Raabe, mas a Identifica como uma "prostituta, cujo nome era Raalw*'. Dal em diante
é conhecida como a prostituta Raabe. Que tal este título em volta de seu pescoço? Ela
nunca aparece novamente na narrativa sem este título completo.
E André, irmão de Simão Pedro; você conhece alguém que tenha um irmão, irmã,
mãe ou pai famoso? Toda vez que é apresentado dizem: "Este é André. Você sabe, irmão
de Pedro". É como se não tivesse identidade própria nenhuma. Esta era a condição de
André. O ponto é: note bem cada vez que se diz algo sobre uma pessoa.
Certifique-se de consultar outras passagens para aprender tudo que puder sobre a
pessoa. Por exemplo, o prefácio do salmo 88 nos diz que o salmo é um "Salmo didático de
Hemã, ezraíta" (e estas notas de prefácio são consideradas parte do texto bíblico). Quem
no mundo era Hemã, ezraíta? O salmo não diz. É preciso que se volte aos livros históricos
para descobrir. Quando o fazemos, podemos começar a unir as peças de um fascinante
retrato que explica porque o salmo 88 é tão escuro e conturbado.
Considere Hebreus 11, passagem que alista mais de uma dúzia de personagens do
Velho Testamento. Mas, a menos que se volte ao Velho Testamento e se estude o que foi
dito sobre eles lá, você nunca apreciará a contribuição de Hebreus.
Uma segunda coisa a se notar seria o que a pessoa diz. Considere Pedro no monte
da transfiguração (Mateus 17:1-8). Ali está ele, passando por uma das mais incríveis ex­
periências já confiadas ao ser humano. O que ele diz? "Senhor, bom é estarmos aqui".
(Esta deve ser a declaração mais incompleta do primeiro século.) "Se queres farei aqui
três tendas, e ficaremos e perpetuaremos o momento". Como vemos, Pedro era o tipo de
homem cujo lema era: não fique aí parado, diga alguma coisa.
Você pode estar se perguntando por que Deus desordena o texto bíblico com este
tipo de coisa. Por que tantos comentários e detalhes vazios e sem sentido? A razão é
porque Ele quer que você veja o processo pelo qual as pessoas passaram para chegar às
conclusões que chegaram.

O quê?
Uma segunda pergunta seria: O que está acontecendo neste texto? Quais são os eventos?
Em que ordem ocorrem? O que acontece com as personagens? Ou, se for uma passagem
que discute um ponto: qual o argumento? Qual o ponto? O que o escritor está tentando
comunicar?
Outra pergunta "o quê?" seria: O que está errado nesta situação? Há várias destas
situações no Velho Testamento. Por exemplo, o rei Saul faz guerra contra os amalequitas
em 1 Samuel 15. Ele os extermina, captura seu rei, saqueia seus despojos e se prepara para
louvar a Deus com sacrifícios. Mas o que está errado aqui? Samuel coloca seu dedo no
problema (15:19): "Por que, pois, não atentaste à voz do Senhor?" Saul havia obedecido,
mas não completamente. E na economia de Deus, obediência parcial é desobediência.
Onde?
KmIa pergunta lhe fornece o local. Onde fl narrativa está acontecendo? Onde estão as pes-
•imm na história? De onde então vindo? Para onde vào? Onde está o escritor? Onde esta­
vam os leitores originais do texto?
A pergunta "onde?" é uma razão para se ler um conjunto de mapas ou um atlas por
perto quando estudar a Bíblia. É por isso que no final de muitas Bíblias há vários mapas.
NAo é porque os publicadores não conseguiram se localizar. E para mostrar a você onde
os eventos bíblicos aconteceram.
Você está estudando uma viagem? Então, trace-a no mapa. Está estudando 1 Co-
ríntios? Ache Corinto no mapa. Está em Atos 8 com Filipe e o eunuco etíope? Investigue
Nobre a estrada do sul de Jerusalém a Gaza e por que tipo de terreno o oficial estava
viajando.
1 lavia em minha classe certa vez, uma mulher que tinha vários diplomas de cursos
avançados. Bem no meio de uma das seções ela levantou a mão c perguntou: "Dr. Hen­
dricks, em que parte da América do Sul isso está acontecendo? " Estávamos estudando o
evangelho de Marcos.
Ali estava uma pessoa obviamente inteligente c informada; mas eu tinha feito vista
grossa ao fato de que ela não sabia nada sobre geografia do Novo Testamento. E ela não
vntá só. Este se tornou um ponto cego em nossa cultura. Quando ler sobre lugares na Bí­
blia, não presuma nada; você raramente ficará desapontado. A maioria das pessoas não
tem a menor idéia de onde os eventos bíblicos aconteceram.

Quando?
Esta é a pergunta que indica tempo. Quando os eventos do texto aconteceram? Quando
ocorreram em relação a outros eventos nas Escrituras? Quando o escritor estava escre­
vendo?
Resumindo, determine sempre o tempo. Por exemplo, em Marcos 1:35, lemos: "Ten­
do-se (Jesus) levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto e ali orava". É
muito fácil dizer quando isto aconteceu: "alta madrugada". Mas que madrugada? Na
madrugada após o dia mais ocupado na vida de nosso Senhor de que temos registro. Há
aomente cinquenta e dois deles nos evangelhos. Aquele dia específico foi abarrotado com
milagres, ensinamentos e curas.
Permite-me dizer reverentemente? Jesus tinha todos os motivos para dormir aquela
manhã. Ele até poderia ter usado a desculpa de que estava trabalhando para o Pai. Mas
Sua comunhão com o infinito Deus era prioridade tão alta, que Ele Se levantou muito
antes do amanhecer e foi a um lugar solitário para orar. Agora, se Jesus Cristo, que tinha
comunhão ininterrupta com o Pai, precisava orar, qual deve ser a minha necessidade?
Qual será a sua necessidade?
Aprendemos este tipo de coisa, fazendo uma pergunta simples: Quando isso acon­
teceu?
Por quê?
Há uma infinidade de perguntas “por que" a se fazer ao texto bíblico. Por que isso
foi incluído? Por que foi colocado aqui? Por que vem depois daquilo? Por que precede
aquilo? Por que esta pessoa diz isso? Por que aquela pessoa não diz nada? "Por que" é
uma pergunta que busca por significado.
Por exemplo, a parábola do filho pródigo é encontrada somente no evangelho de
Lucas, não está em Mateus, Marcos ou João. Por quê? Por que somente Lucas registra esta
poderosa parábola?
Ou, lemos o livro de Atos, e francamente, não há final. Paulo está em Roma, ensi­
nando e pregando. Mas nunca descobrimos o que acontece com ele, ou com a igreja pri­
mitiva, ou com o resto dos apóstolos. Por quê? Por que Lucas não continuou a narrativa?
Por que ninguém continua de onde ele parou?
A questão "por quê?" investiga o texto mais do que qualquer outra. Fazê-la, inevi­
tavelmente o conduzirá a novas perspectivas.

Para quê?
Gosto de parafrasear esta pergunta: e daí? Que diferença isso faria se eu fosse aplicar esta
verdade?
Para quê? é a pergunta que nos faz começar a praticar algo sobre o qual lemos.
Lembre-se, a Palavra de Deus não foi escrita para satisfazer nossa curiosidade; mas para
mudar nossas vidas. Assim, em qualquer passagem das Escrituras, precisamos pergun­
tar: e daí? Quando chegarmos ao passo da Aplicação, mostrarei várias maneiras de se
responder esta pergunta.

LEITURA SELETIVA A NOVE MIL METROS

Estas seis perguntas podem realmente desvendar a Bíblia para você? Afinal, são
na verdade muito simples. Repórteres as têm usado por anos para obter fatos para suas
histórias. Então, quão poderosas podem ser?
Uma vez, estava voando do Dallas para São Francisco num avião 747. Havia oito
passageiros e quinze comissários de too. Após a decolagem, estava lendo meu Novo Tes­
tamento, quando uma das comissárias desceu o corredor. Quando ela me viu com a Bíblia
aberta, parou e perguntou: "Ah, você é crente?"
"Certamente que sim", disse. "E você?"
"Sim, também sou", ela respondeu, com um sorriso.
Começamos a conversar sobre coisas espirituais. Finalmente, eu disse: "Você se im­
portaria se eu lhe fizesse uma pergunta?"
"Claro que não."
"Você tem um programa regular de estudo bíblico?"
"Não, senhor, temo que não."
"Porque nâo?"
Eln disse: "Nâo sei como fazê-lo, nem sei por onde começar."
Então perguntei: "Contaria de aprender?"
"Adoraria."
"Tem tempo?"
Ela tinha tempo para gastar naquele voo; então peguei um daqueles sacos de enjôo
(que fazem ótimos blocos de anotação) e escrevi nele as seis perguntas mencionadas aci­
ma: quem?, o quê?, quando?, por quê?, para quê?
Então vimos Marcos 4:35-41, a tempestade apaziguada. Pedi que ela lesse a passa­
gem e depois fizemos as perguntas: quem são as pessoas envolvidas? O que estã aconte-
çrndo neste parágrafo? Onde está acontecendo? Quando está acontecendo? Por que você
ficha que Deus incluiu isso na narrativa? Que diferença isso faria em sua vida?
Tenho visto poucas pessoas mais animadas. Quando terminamos, ela me pergun­
tou: "Como é que tenho sido cristã há sete anos e ninguém nunca me ensinou como
vatudar a Bíblia?"
Esta é uma boa pergunta. Mas é realmente uma tragédia! A igreja hoje tem conduzi­
do pessoas a Cristo mas, às vezes, ficam por dez, quinze, até vinte anos na fé sem aprender
como estudar a Bíblia. A razão? Não sabem por onde começar. Não sabem como fazê-lo.
Estas pessoas são muito parecidas comigo naquele lago em Colorado — olhando
para os peixes, mas incapaz de apanhar qualquer um deles por mim mesmo. Não tem
importância quando se está em férias, mas quando você está morrendo de fome espiritu-
nlmente — e a maioria das pessoas está — precisa aprender a pescar.
Sugiro que você experimente as seis iscas da leitura bíblica seletiva que mencionei.
Elas ajudarão qualquer pessoa a pegar alguns peixes grandes.

Experimente
As seis perguntas da leitura bíblica seletiva são especialmente divertidas quando se
estudam as histórias das Escrituras. Lucas 24:13-35 registra uma das mais fascinantes
— a narrativa de Jesus, encontrando dois de Seus discípulos na estrada para Emaús
após Sua ressurreição. Leia este trecho duas ou três vezes, e então investigue-o com
as seis perguntas apresentadas neste capítulo. Não se esqueça de escrever suas ob­
servações.
Leia com Oração
Uma quinta estratégia para se desvendar as Escrituras é:

LEIA A BÍBLIA COM ORAÇÃO

Nossa tendência é pensar que o estudo bíblico e a oração são duas disciplinas sepa­
radas, mas o fato é que elas estão integralmente relacionadas. A oração é realmente uma
chave para o estudo bíblico efetivo. Aprenda a orar antes, durante e após a leitura das
Escrituras.
A oração é particularmente crucial quando se chega em um lugar no estudo onde
se está perdido e confuso. Este é um bom momento de parar e levar uma conversa com
Deus. “Senhor, não consigo fazer com que esta passagem faça sentido. Não a entendo.
Dê-me discernimento. Ajude-me a descobrir a Sua verdade".
Entretanto, a maioria de nós luta quando se trata de oração. E você? Quer aprender
a orar? Eis algumas sugestões — o que evitar e o que fazer.

Não tente imitar outros cristãos


Se você prestar muita atenção às orações de outros crentes, irá apenas pegar todos os
clichês, os jargões, todas as senhas usadas por eles. Não há dúvida de que cristãos devem
orar em conjunto, mas isto não significa que devem orar de modo idêntico.
Descobri que os dois grupos de pessoas que mais podem ensiná-lo sobre a oração
são: primeiro: as crianças. São reanimadoras e realistas. Quantas igrejas você supõe reci­
tam a Oração do Pai Nosso semana após semana? E semana após semana é a mesma coisa
— as mesmas palavras, o mesmo ritmo, o mesmo murmúrio corpóreo. Mas que diferença
quando uma criança de quatro anos lança uma simples e eloqüente versão antes do jantar
ou na hora de dormir.
O outro grupo a m» ouvir mAo on novos convertido», Ainda nâo aprenderam todow
tM jargòvN. Um homem em nomia igreja veio a Cristo e decidiu aparecer para um culto
de oração c estudo bíblico quarta à noite. Tivemos o estudo, e então nos separamos em
grupo» para oração.
"Ill, Howie, aonde vamos?" perguntou-me quando nos dirigimos para o hall.
"Vamos descer para orar", disse.
"ôpa, tenho um problema", ele exclamou.
"Que problema?"
"Nào sei orar. Quer dizer, não sei orar do jeito que vocês oram."
Eu disse: "Amigo, isto não é problema. Dê graças a Deus por isso."
Assim começamos a orar. Eu sabia que ele queria participar, mas estava um pouco
hvNilante. Finalmente, toquei-o e o encorajei a ir em frente. Daria qualquer coisa para ter
Uliiti gravação do que aconteceu depois.
lile disse: "Senhor, aqui é o Jim, aquele que O encontrou quinta-feira passada, lem­
bra?" (pensei que fosse dar a Deus o número de seu RG.) "Desculpe, não sei orar do jeito
doutas pessoas aqui, mas eu realmente O amo. Honestamente O amo. E espero, depois de
l) conhecer há mais tempo, poder orar muito melhor. Muito obrigado. Até mais tarde."
Sabe o que aquele homem fez? Ele iniciou um culto de oração. O restante de nós
VNtava dizendo orações. Como sempre, estávamos revendo nossa teologia, viajando pelo
campo missionário, esmiuçando a Via Láctea. Aquele homem estava orando. Apenas fa­
lando com Deus. Sem perceber, ele estava muito além do resto de nós porque era honesto
diante de Seu Pai celestial. A única coisa que O move é nosso coração.

Transforme Escritura em oração


Deus ama ser lembrado daquilo que prometeu. Então faça-o, lembre-O, reclame Suas
promessas.
Permita-me dar uma bonita ilustração disso em Neemias. Voltaremos a este homem
no capítulo 18, quando veremos como estudar um parágrafo. Agora, quero que você veja
Como Neemias se volta para a Palavra de Deus em oração. Se quiser aprender a orar, estu­
de sua oração; é um clássico (Encontra-se nas páginas 124 a 125, ou em Neemias 1-4-11 )
No contexto temos Neemias, oficial judaico altamente posicionado na corte babi-
lônica. Mensageiros chegam para dizer-lhe que sua cidade natal, Jerusalém, passa por
terrível dificuldade. Suas muralhas ruíram, e o povo está em aflição.
Então Neemias se põe de joelhos; sua reação instintiva é orar. Há uma lição nisso.
Quando ora, a primeira coisa que faz é adorar a Deus:

E eu disse: "Ah! Senhor Deus dos céus, Deus grande e temível! que guardas
a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus
mandamentos". (1:5)
Podemos colocar um rótulo de "adoração" próximo a ente versículo, Antes de men­
cionar qualquer outra coisa, Neemias ocupa-se com quem é Deus.
É assim que oramos? Não, é mais provável que digamos: "Ó Senhor, estou sempre
em apuros. Por favor, me livre". Focalizamos a atenção em nós mesmos.
Mas as orações da Bíblia têm uma característica em comum: sempre focalizam a
Pessoa a quem a oração é dirigida. Quando fazemos um cheque, primeiro precisamos
perguntar quanto temos no banco. Isso é também o que precisamos fazer em termos de
oração. Com aquilo de que precisamos em mente, devemos saber perguntar: Com quem
estamos falando? Que tipo de Pessoa Ele é. Neemias preenche sua mente com quem é
aquela Pessoa.
Daí, ele muda sua oração. Tendo-se ocupado com Deus, seu próximo passo é con­
fessar seu pecado bem como o pecado do povo:

Eu e a casa de meu pai temos pecado. Temos procedido de todo corruptamen­


te contra ti, não temos guardado os mandamentos, nem os estatutos, nem os
juízos, que ordenaste a Moisés teu servo. (1:6-7)

Podemos colocar um segundo rótulo próximo a estes versículos: "confissão". A ora­


ção é agora focalizada no pecado — não apenas no pecado das pessoas, mas no de Nee­
mias também. Se você tem filhos, provavelmente sabe que eles são inclinados a confessar
os pecados de seus irmãos. Mas Neemias estabelece um padrão diferente. Diz, com efeito:
"A primeira coisa que quero que o Senhor saiba é que pecamos". Não são só aqueles pe­
cadores lá fora, mas nós aqui dentro também.
Você nota uma conexão entre o foco de Neemias sobre o pecado, logo após seu
foco em Deus? É bastante claro, não? O reconhecimento de nossa pecaminosidade sem­
pre segue a percepção da santidade de Deus. Como vê, a razão de nos considerarmos
indivíduos tão capazes é por não percebermos, na verdade, a que tipo de Deus estamos
relacionados. Porém, quando preenchemos nossa mente com quem é Deus, então nossa
verdadeira condição vem à luz.
Preste muita atenção nos próximos versículos porque eles destacam com precisão a
oração toda. Neemias começou com adoração, focalizando em quem é Deus. Passou para
a confissão, e agora conclui, clamando pelas promessas de Deus:

Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo, e à
dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem
sucedido hoje o teu servo, e dá-lhe mercê perante este homem. (1:11)

Neemias segue ao que chama "petição". Seu foco está nas necessidades de seu povo.
Ao fazer seu pedido, apoia-se nas promessas de Deus. É óbvio que ele era um bom es­
tudante da Bíblia, porque nos versículos 8-9, ele recorda várias passagens dos primeiros
cinco livrou da Bíblia, onde Ihm» havia eMnbelocido condiçôcn para bênçAo ou punlçAo,
bancado na fidelidade ou infidelidade de Seu povo. Neemias parece lembrá-LO dizendo:
wE»lá bem, Senhor, lembra-Se do que prometeu? Bem, estou pedindo que o cumpra".
I lá uma grande liçào nisso. Ore sempre com base nas promessas de Deus. Afinal, o
ponto chave em qualquer promessa é quem a fez. Posso dizer a você: "João, vou dar um
milhão de dólares à sua causa". Promessa excelente. Mas, quem a fez? Um homem que
provavelmente tem apenas uns dez dólares agora. Quando alguém faz uma promessa,
pergunte sempre quem está fazendo a promessa.
Quer saber orar? Neemias mostra como: Comece com adoração, ocupe-se com
quem é Deus. Isto o conduzirá à confissão porque você se verá pela perspectiva adequa­
da. Então estará pronto para pedir a Deus o que precisa.
Aliás, tente um estudo de comparação de passagens como Êxodo 3 e Isaías 6. Você
encontrará este mesmo padrão de oração de Gênesis a Apocalipse.

UM SALMO DE ESTUDO BÍBLICO COM ORAÇÃO

Há um poderoso precedente, ao estudo bíblico com oração, no Salmo 119. Significa­


tivamente, este é o salmo mais longo da Bíblia. Na verdade, tem mais versículos (176) do
que qualquer outro capítulo no cânon. E cada um deles tem algo a dizer sobre a Palavra
de Deus — seu propósito, seus benefícios, seu valor. Recomendo muito o estudo deste
Halmo em detalhes.
Muitos versículos se referem especificamente à leitura das Escrituras acompanhada
de oração. Por exemplo, o salmista usa a Palavra para louvar a Deus (v. 12); pede a Deus
que o ajude a se tornar um leitor observador (v. 18); ora por entendimento da verdade
de Deus (vv. 27, 34); pede ajuda para aplicar a verdade à sua vida (vv. 33, 35-36, 133);
menciona que a lei de Deus está sendo quebrada; portanto, é hora de Deus agir (v. 126).
Ele ora por misericórdia com base no caráter de Deus (v. 132), baseia suas petições nas
promessas de Deus (vv. 169-170) e ora por perdão após refletir nos mandamentos de
Deus (v. 176).
Que exemplo brilhante de estudo bíblico com oração! Imagine o que pode acontecer
se cristãos hoje abordarem a Palavra desta maneira!
Experimente

De todas as estratégias para uma leitura bíblica de primeira ordem, a leitura


com oração é provavelmente a que requer mais cultivo. Apresentarei três projetos
para o ajudar a começar:

Salmo 23
O Salmo 23 talvez seja a passagem mais conhecida das Escrituras, e por uma boa ra­
zão: pinta um belo quadro do temo relacionamento entre Deus e um de Seus filhos.
Você pode transformar este salmo numa oração pessoal inserindo seu nome onde
vir pronomes na primeira pessoa do singular, "meu", "a mim", ou "eu".

Isaías 40:28-31
Eis outra passagem que pode tornar-se sua oração. Considere as tremendas pro­
messas de Deus neste texto! Você precisa que Ele derrame em sua experiência aqui­
lo que oferece aqui? Transforme esta passagem em sua própria oração, pedindo a
Deus que o faça.

Filipenses 4:8-9
Aqui está um outro conjunto de promessas — e condições — que você pode ler e
estudar em forma de oração. Reveja a lista de qualidades de Paulo e pergunte-se
a si mesmo: que ilustrações disso têm na minha vida? Então com base no versículo
8: o que preciso começar a praticar para conhecer a paz de Deus? Fale com Deus
sobre as coisas mencionadas nestes versículos e sua reação a eles. Em que áreas
Deus precisa mudar seu ser? Você precisa de Sua ajuda para cultivar que atitudes
e pensamentos?
Leia Imaginativamente
z
E triste, mas verdade, que uma pessoa comum pense em ler a Bíblia como algo terri­
velmente enfadonho e que a única coisa mais enfadonha realmente seria ouvir alguém
ensinar a Bíblia. Porém, estou convencido de que a razão pela qual as Escrituras parecem
desinteressantes para muitas pessoas é que vimos a elas desinteressados. Quão diferen­
tes seriam as coisas se empregássemos a sexta estratégia para a leitura bíblica de primeira
ordem:

LEIA A BÍBLIA IMAGINATIVENTE

"Por que você não lê a Bíblia?" pergunto às pessoas.


"A Bíblia?" respondem incredulamente. "Veja bem, tenho coisas melhores para fa­
zer com meu tempo". Tem-se a impressão de que se desse a eles uma Bíblia, parariam
para soprar a poeira dela antes que a abrissem.
E não é para menos. Freqüentemente quando vimos às Escrituras, usamos as menos
imaginativas e mais saturadas abordagens possíveis. Por exemplo, quantas vezes você
esteve em um grupo onde o líder disse: "Abramos todos na passagem tal"? Espera-se um
pouco e todos acham o lugar. Isto leva um tempo para acontecer.
Então o líder prossegue: "Está bem, leremos esta passagem juntos. Jaime, que tal
você começar com o versículo 1? Então Susana, você lê o versículo 2 e seguimos lendo na
sequência".
Assim, Jaime começa. Infelizmente, ele não sabe ler muito bem e trouxe uma ver­
são antiga com toda aquela linguagem antiquada. Ele tropeça pelo texto todo, tentando
trazer sentido às palavras arcaicas. No momento em que termina, todos os demais estão
desligados.
Então é a vez de Susana, com uma exótica tradução moderna, e ninguém consegue
acompanhar. A catástrofe se consuma quando a pessoa seguinte lê o versículo 3 — mas o
versículo 3 de um outro capítulo. E assim vai. No fim, ninguém tem a mrnor Idela do que
a passagem realmente diz. Mas não importa — a maioria jã "se desligou" mentalmenle.
Por outro lado, nossa igreja tinha um pastor que era mestre em apresentações dra­
máticas das Escrituras. Ele tinha uma formação em teatro, a qual usava com vantagem.
Frequentemente assumia o papel de um personagem bíblico em frente à congregação;
com maquilagem e fantasia. Fazia todo tipo de estudo do pano de fundo para nos dar
uma ideia do contexto cultural. Então contava a história do personagem em primeira
pessoa, usando linguagem simples, do dia-a-dia.
Como resultado, no momento em que terminava, não tínhamos simplesmente nos
divertido, mas estávamos instruídos. Nossa imaginação engrenava e entravamos no texto.
Entendíamos como a verdade bíblica e a experiência humana poderíam se mesclar.
Uma das coisas que gostaria de ver mais pessoas fazendo quando estudam a Bíblia
é esta simples oração: "Senhor, veste os fatos de fascínio. Ajuda-me a entrar na pele destas
pessoas — a ver através de seus olhos, sentir com seus dedos, entender com seus corações
e saber com suas mentes". Então a Palavra de Deus revivería.
Eis uma série de sugestões de como ler imaginativamente.

Use diferentes traduções e paráfrases


Mencionarei repetidas vezes. Ler diferentes versões da Bíblia é uma excelente maneira de
estimular sua imaginação.
Somos incrivelmente abençoados por termos tamanha variedade de traduções hoje.
Até recentemente, os cristãos tinham basicamente uma versão em português para ler.
Mas, graças a grandes desenvolvimentos em nossos conhecimentos dos antigos hebrai­
co e grego, temos agora traduções extraordinariamente precisas, bem como algumas de
leitura muito fácil.
Uma das melhores é a Nova Versão Internacional. Esta versão tem um estilo fluente
que cumpre de maneira excelente a função de captar a atmosfera do texto. Por exemplo,
comparemos como a NVI coloca o encontro de Paulo com os filósofos de Atenas em Atos
17:16-21, em contraste com a Bíblia Revista e Atualizada.

Aqui está a versão Atualizada;

Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava, em face


da idolatria dominante na cidade. Por isso dissertava na sinagoga entre os
judeus e os gentios piedosos; também na praça todos os dias, entre os que se
encontravam ali. E alguns dos filósofos epicureus e estoicos contendiam com
ele, havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? e outros: Pare­
ce pregador de estranhos deuses, pois pregava a Jesus e a ressurreição. Então,
tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que
nova doutrina é essa que ensinas? Posto que nos trazes aos ouvidos cousas
estranhas, queremos saber que vem a ser isso. Pois todos os de Atenas, e os
cNtnmgeiroK di* outrn coum nAo cuidnvam nvnAo dixer ou ouvir an
últimas novidades,

Compare, agora, com a Nova Versão Internacional:

Enquanto esperava por eles em Atenas, Paulo ficou profundamente indigna­


do ao ver que a cidade estava cheia de ídolos. Por isso, discutia na sinagoga
com judeus e com gregos tementes a Deus, bem como na praça principal,
todos os dias, com aqueles que por ali se encontravam. Alguns filósofos epi-
cureus e estóicos começaram a discutir com ele. Alguns perguntavam: "O
que está tentando dizer esse tagarela?" Outros diziam: "Parece que ele está
anunciando deuses estrangeiros", pois Paulo estava pregando as boas novas a
respeito de Jesus e da ressurreição. Então o tomaram e o levaram a uma reu­
nião do Areópago, onde lhe perguntaram: "Podemos saber que novo ensino
é esse que você está anunciando? Você está nos apresentando algumas idéias
estranhas, e queremos saber o que elas significam". (Todos os atenienses e
estrangeiros que ali viviam não cuidavam de outra coisa senão falar ou ouvir
as últimas novidades.)

Reescreva o texto em sua própria paráfrase


Isto é uma extensão do que acabamos de ver. Os tradutores têm que usar muita imagina­
ção para traduzir o texto original das Escrituras para o português. Da mesma maneira,
ele desafiará sua imaginação a reescrever o texto em português em palavras que façam
sentido para você.
Por exemplo, na versão Revista e Atualizada de Atos 17:16, os tradutores descre­
vem os sentimentos de Paulo concernente aos ídolos com as palavras: "o seu espírito se
revoltava". A Nova Versão Internacional diz: "Paulo ficou profundamente indignado".
O que você diria? Que Paulo "estava realmente perturbado"? "nervoso"? "indignado"?
"cha-teado"?
Tente reescrever Atos 17:16-21 em suas próprias palavras. Veja se isso não desperta
sua criatividade e interesse pelo texto.

Leia as Escrituras em uma língua diferente


Se você conhece outra língua além do português, leia uma tradução da Bíblia nessa lín­
gua. Você fará todo tipo de descoberta no texto. Esta abordagem tem as mesmas vanta­
gens do uso de várias traduções e paráfrases.

Peça que alguém leia o texto em voz alta


Mencionei num dos capítulos anteriores que a voz humana tem poder de trazer vida às
palavras no papel. Certifique-se de deixar que seus filhos leiam as histórias das Escrituras
em voz alta. Sc» você conhecí? algum CNtudnnto estrangeiro ou outra peaaoa que lenha
crescido cm uma cultura diferente da sua, convide-a(o) para uma visita e poça que ele ou
ela leia o texto para você. O sotaque dará à passagem uma outra roupagem lotalmente
diferente, para sua enorme vantagem.

Varie seu ambiente


Acredito firmemente no valor de se ter uma hora e local especiais para o estudo das
Escrituras. Mas se você quer reacender as brasas de sua imaginação, explore diferentes
ambientes onde ler a Palavra.
Por exemplo, muitas das parábolas de Jesus foram dadas junto ao Mar da Galiléia.
Assim, se você mora perto de um lago ou praia, considere levar sua Bíblia até lá para ler
e refletir nos ensinamentos do Senhor. Semelhantemente, muitos dos salmos foram com­
postos por Davi quando ele era um pastor nos campos. Você pode ir até o campo para
passar algum tempo, estudando essas passagens.
A idéia aqui é fazer tudo o que for preciso para ver a Palavra de uma perspectiva
diferente. Se sempre lemos as Escrituras da mesma maneira e no mesmo lugar vez após
vez, corremos o risco de tomá-la um exercício rotineiro de pouco interesse ou estímulo.
Que tragédia, especialmente quando consideramos que as grandes obras de arte e música
na história foram criadas por pessoas que aprenderam a ler a Bíblia imaginativamente.
Eh uma chance de alongar sua criatividade. Veja o que pode fazer com estes pro-
|etos na leitura imaginativa da Bíblia.

Atos 16:16-40
Esta é uma vivida narrativa de Paulo e Silas em Filipos. Leia cuidadosamente e
observe os eventos que ocorrem nesta seção, e então dramatize-os com família ou
amigos.

Salmo 19
Este salmo exalta as obras e a Palavra de Deus. Observe-o cuidadosamente, e então
tente recscrcve-lo para uma aula de física ou filosofia de universidade.

1 Samuel 17
Esta é uma narrativa épica de Davi e Golias. Entretanto, apesar da maioria das pes­
soas saberem desta história, conhecem pouco do que realmente acontece nela. Leia
o capítulo cuidadosamente, então reescrcva-o de modo que se refira a uma gangue
de adolescentes das ruas da cidade.

Atos 15:22-29
Lucas reimprime uma carta que o conselho de Jerusalém enviou aos novos crentes
em Fenícia e Samaria. Estude o contexto cuidadosamente, então reescreva esta pas­
sagem como um fax para uma reunião de um novo grupo de crentes no centro da
cidade.
Leia Telescopicamente
A décima e última estratégia para o desenvolvimento da habilidade de primeira ordem
como estudante das Escrituras é:

LEIA A BÍBLIA TELESCOPICAMENTE

Ler telescopicamente significa ter uma visão das partes à luz do todo.
Quando o presidente da Sony, Akio Morita, veio ao Texas recentemente para res­
ponder a pergunta: Por que os japoneses estão relutantes em desenvolver produtos para
o consumidor nos Estados Unidos? Sua resposta: Porque não encontram peças america­
nas que satisfaçam seus padrões de controle de qualidade.
Considere a filmadora Sony, explicou. A Sony tem um padrão de produção que to­
lera que apenas uma em cem apresente falhas. Parece um padrão fácil de se atingir — até
que se perceba que o aparelho é composto de duas mil partes componentes. Com tantas
partes, cada uma tem de funcionar perfeitamente — uma falha em cem mil, ou mesmo
um milhão — para que a unidade toda satisfaça o padrão. O todo é muito maior do que
a soma das partes.
Assim é com a Bíblia. Ela não é simplesmente uma coleção de partes. É uma men­
sagem integrada na qual o todo é maior do que a soma de suas partes. Matematicamente
está errado, mas metodicamente está correto. Mesmo assim, o que acontece muitas vezes
em estudos e no ensino da Bíblia é que a avariamos constantemente, até que não reste
nada a não ser cestos de fragmentos. O que precisamos hoje são pessoas que possam jun­
tar as partes novamente, formando um todo significativo e poderoso.
Assim, toda vez que lê e analisa as Escrituras, toda vez que a divide em partes, re­
conhece que fez somente metade do trabalho. Sua próxima tarefa é juntá-las novamente.
Como você consegue fazer isto?
Procure a* conjunções
Nu capítulo 15 vimos o poder dns pequenas palavras mau, r c portanto. Estas e outras
palavras são "conectivos" pois têm a função de unir o texto. São pinos de engate num
Irem de palavras associadas que trabalham juntas para comunicar significado. A leitura
telesctSpica requer que você preste atenção nestes elos, para que a mensagem do autor
esteja toda ligada em sua mente.

Preste atenção no contexto


Vimos o quanto o contexto pode ser importante quando estudamos Atos 1:8. Voltaremos
«o assunto em detalhes quando chegarmos ao Segundo Passo, Interpretação. Mas o prin­
cipio a se lembrar é: quando você estudar um versículo ou parágrafo, consulte sempre os
vizinhos daquele versículo ou parágrafo para descobrir qual é o contexto mais amplo. A
leitura telescópica está baseada neste princípio. Nunca aceita somente "close-ups"; sem­
pre requer a lente de ângulo largo de perspectiva. Sempre faz a pergunta: qual o quadro
geral?

Avalie a passagem à luz do livro como um todo


Esta é a máxima extensão da checagem do contexto. É como sobrevoar uma terra num
avião para avaliar distâncias e relacionamentos.
Por exemplo, se você fosse percorrer a passos lentos, versículo por versículo o livro
de Marcos, você provavelmente gostaria da narrativa, mas perdería a mensagem do au­
tor. Obviamente, a história é sobre Jesus. Mas também o são três outros livros do Novo
Testamento. O que faz este destacar-se?
A menos que se recue e se avalie o livro como um todo, não se descobre que Marcos
divide a sua narrativa em duas seções principais. De 1:1 a 8:26, temos a Pessoa de Cristo;
de 8:31 a 16:20, o propósito de Cristo. O ponto principal (o pivô) do livro é 8:27-30, onde
Ele faz a pergunta crucial: "Quem dizem os homens que sou eu?" Todos os tipos de opi­
niões emanam desta estrutura. Mas é algo que se pode detectar somente pelo exame de
uma foto por satélite do livro.

Considere o contexto histórico do livro


Acontece que eu considero a história uma das matérias mais fascinantes que existem. A
história empresta relevância a detalhes insignificantes sob outros aspectos. Por exemplo,
todos conhecemos a história do Natal, a qual começa: "Naqueles dias foi publicado um
decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se"
(Lucas 2:1).
Entretanto, quantos de nós avaliamos o fato de que César Augusto era o primeiro
imperador de Roma? Como isso aconteceu? Talvez você tenha visto ou lido a tragédia
Júlio César de Shakespeare e saiba que César foi assassinado no ano 44 a.C. Ele havia se
tornado um ditador, mas Roma havia sido uma república anteriormente, muito parecida
com on F.nUuIon Unidos. Uma batalha de poder teve como conwqüêncla a morte de César,
e um homem chamado Octavius emergiu como o vencedor. Apenas trinta anos antes de
Cristo, Octavius foi nomeado imperador e assumiu o título de César Augusto.
Outro fato interessante é que Roma anexou a Judéia — o local de nascimento de
Cristo — no ano 6 a.C.
Assim, quando Lucas abre o capítulo 2, fazendo referência a César Augusto, ele está
relembrando o leitor das extraordinárias mudanças políticas ocorridas naquela época.
Isso tem qualquer importância em seu relato? Nos dá qualquer perspectiva das circuns­
tâncias que rodeavam a vida e a morte de Jesus? Isso ilumina a narrativa de Atos, a qual
é a continuação da história? Nos dá dicas de para quem Lucas estava escrevendo, e o que
pode ter sido importante para o camarada a quem chama Teófilo em Lucas 1:3 e Atos 1:1?
Quando você se aproxima de um livro da Bíblia, pergunte: Onde, historicamente, o
livro se encaixa? Quando foi escrito? Quando os eventos aconteceram? O que acontecia
nos outros lugares do mundo na época?
Pergunte também: Onde o livro se encaixa na seqüência bíblica? Se aconteceu antes,
durante ou depois de Cristo? Quão completa a Bíblia estava quando o material foi escri­
to? Em outras palavras, quanto o escritor e as pessoas no livro sabiam sobre Deus.
Você provavelmente terá de usar fontes secundárias para descobrir o contexto his­
tórico dos livros bíblicos. Falarei sobre alguns deles no capítulo 34. Agora, tenha em men­
te que Deus é o Deus da história. Ele opera em e através de pessoas reais num mundo real
para realizar Seus propósitos. Você pode descobrir muito sobre esses propósitos se ler a
Sua Palavra telescopicamente.
Expirimiínti:
Para ler um livro da Bíblia telescopicamente, você precisa ter o quadro geral do
livro. Tem de começar lendo sinteticamente, não analiticamente. Isto é, examine o
terreno antes de cavar qualquer buraco. Tenha uma idéia geral sobre o que o escri­
tor trata e especifica men te quanto espaço ele dedica a cada assunto.
Um bom livro para se estudar dessa maneira é Juizes. O livro trata do período
após a morte de Josué. Antes de Israel ter um rei, Deus levantou líderes individuais,
chamados juizes, para liderar o povo enquanto este se estabelecia na Terra Prome­
tida.
Para ganhar uma ampla perspectiva, leia o livro todo de uma só vez e faça
uma lista de quem eram os principais personagens — os juizes — e onde começa­
ram a aparecer no texto. (Uma frase chave é "Fizeram os filhos de Israel o que era
mau perante o Senhor").
A seguir, crie um gráfico que mostre onde cada um aparece no livro e quanto
espaço é dedicado a ele ou ela. (Veja exemplos de diferentes tipos de gráficos no
capítulo 25. Recomendo que você desenvolva algo como o quadro de Lucas, na
página 157).
Quando completar este exercício, você terá um excelente início de leitura te­
lescópica do livro de Juizes. Você terá um quadro geral para que, quando ler as
histórias dos juizes individuais, tenha um contexto no qual colocá-los.
Outros livros do Antigo Testamento que podem ser lidos desta maneira são 1
e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas.
Trabalhe com
um Parágrafo
Comecei nossa discussão de Observação focalizando um versículo, Atos 1:8. Agora que­
ro avançar para um parágrafo. O parágrafo é a unidade básica de estudo - não o versículo,
nem o capítulo. Certamente um parágrafo pode ser tão curto quanto um versículo ou
abranger um capítulo inteiro. De qualquer modo, o parágrafo representa um pensamento
completo. É um grupo de sentenças e declarações relacionadas que lidam com uma idéia
ou tópico principal. Isso o faz ideal para o estudo observacional.
Aliás, as Escrituras não eram originalmente divididas em capítulos, parágrafos e
versículos. Eram passagens longas e ininterruptas (veja página 132). Mil e duzentos anos
depois de Cristo, eruditos começaram a entalhá-las nas divisões que temos hoje. Eles o
fizeram para intensificar o estudo bíblico, mas seus esforços não foram de maneira algu­
ma inspirados pelo Espírito Santo. Na verdade, muitas das interrupções são impostas
artificialmente ao texto. Assim, algumas vezes temos de ignorá-las para lermos os livros
da maneira devida.

A ORAÇAO DE NEEMIAS

O parágrafo que iremos estudar é Neemias 1:4-11. Sugiro que você abra sua própria
Bíblia, mas aqui está o parágrafo:

"4Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns


dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus.
5 E disse: Ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande c temível! que guardas a
aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus
mandamentos;
•<*Rtt*|«m, pola, ntrnlnn on Ihum ouvIdoN, e on ttnm olhou aberto*, para acudires
«i oração do teu nervo, que ho|e faço à tua presença, dia e noite, pelos filhos
de Israel, teus servos; e laço confissão pelos pecados dos filhos de Israel, que
temos .cometido contra ti; pois eu e a casa de meu pai temos pecado.
7 Temos procedido de todo corruptamente contra ti, nào temos guardado os
mandamentos, nem os estatutos, nem os juízos, que ordenaste a Moisés teu
servo.
9 Lembra-te da palavra que ordenaste a Moisés teu servo, dizendo: Se trans­
gredires, eu vos espalharei por entre os povos;
9 mas se vos converterdes a mim e guardardes os meus mandamentos, e os
cumprirdes, entào, ainda que os vossos rejeitados estejam pelas extremas do
céu, de lá os ajuntarei e os trarei para o lugar que tenho escolhido para ali
fazer habitar o meu nome.
10 Estes ainda são teus servos e o teu povo que resgataste com teu grande
poder, e com tua mão poderosa.
11 Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo, e
à dos teus servos que se agradam de temer o teu nome; concede que seja bem
sucedido hoje o teu servo, e dá-lhe mercê perante este homem. Nesse tempo
eu era copeiro do rei."

Enquanto discuto este parágrafo, destacarei as perguntas que faço ao texto, em ne­
grito, como fiz no capítulo 6.

CHEQUE O CONTEXTO

O versículo 4 começa: "Tendo eu ouvido estas palavras". Qual o significado das


palavras tendo ouvido? Elas unem este parágrafo a uma outra coisa. Além disso, a frase
estas palavras me compele a perguntar que palavras? Assim, ambas as perguntas me for­
çam a voltar ao início do livro para verificar o contexto.
O início do versículo 1 me provê uma introdução ao livro. O que encontro ali? Três
dicas muito importantes — dicas que a maioria das pessoas ignora. Primeiramente descu­
bro algo sobre a natureza ou conteúdo do livro — que são as palavras de um homem em
particular. Então descubro quem é este homem — Neemias. Por último, aprendo sobre a
família da qual Neemias veio, o que é especialmente útil porque o nome Neemias aparece
em outros trechos; mas é um outro Neemias.
O que noto na segunda parte do primeiro versículo? Três frases com preposições:
"no mês de quisleu, no ano vigésimo, estando eu na cidadela de Susã". Então pergunto: a
que isso se refere? que palavra eu poderia colocar ao lado das duas primeiras declara­
ções? Tempo, porque elas me dizem o mês e o ano.
1a
1b As palavras de Neemias, filho de Hacalias
no mês de quisleu
no ano vigésimo
na cidadela de Susã,
veio Hanani...então lhes perguntei
pelos judeus
e sobre Jerusalém
Disseram-me: os restantes...em grande
miséria e desprezo
os muros de Jerusalém...derribados
e as suas portas...queimadas a fogo
3
4 Tendo eu ouvido estas palavras,
assentei-me e chorei
lamentei
jejuando
orando
5 E disse
Ah! Senhor, Deus dos céus,
Deus grande e temível!
11a

O dicionário da Bíblia pode me ajudar a descobrir que mês é quisleu. Descubro que
os antigos hebreus tinham um calendário totalmente diferente do nosso. Para eles não
havia janeiro, fevereiro, março, e assim por diante. Quisleu era o nono mês, começando
em novembro, se estendendo até dezembro. Assumindo que os eventos nesta narrativa
estão acontecendo no hemisfério norte, a época é princípio do inverno.
I X'wcubro tnmbém quu o c«ilfndrtrlo hebraico diferia do calendário persa, lato que se
lurna bastante significativo quando descubro que Neemias era um exilado na Pérsia. Na
Verdade, ele tinha uma posiçAo multo alta no governo. Mas, usava o calendário judaico
para marcar o tempo.
A seguir, ele destaca que isso está acontecendo "no ano vigésimo". O que me obriga
a perguntar: ano vigésimo de quê? Não posso responder agora. A informação não me é
fornecida até que chegue ao princípio do capítulo 2.
Finalmente, que informação a "cidadela de Susã" me traz? Esta responde a per­
gunta: onde?, mas ainda tenho de ficar indagando: "O que é a cidadela de Susã? Quando
consulto um dicionário bíblico, descubro que haviam dois palácios naquele reino. Susã
ern o palácio de inverno. (Lembre-se, isso está acontecendo em novembro/dezembro.)

13 Conteúdo/ Autor / fcuníLiO' Introd'.

1b As palavras de Neemias, filho de Hacalias


1. (no) mês de quisleu q ceando-? tempo- - Nov./Ve^.
quo ano? cf. 2:1
2. (no) ano vigésimo onde? - lugar

3. (na)cidadela de Susã,

veio Hanani...então lhes perguntei


pelos judeus
e sobre Jerusalém
Disseram-me: os restantes...em grande
miséria e desprezo
os muros de Jerusalém...derribados
e as suas portas...queimadas a fogo

4 Tendo eu ouvido estas palavras, qu&pcOavra*?

assentei-me e chorei
lamentei
jejuando
orando
Havia um palácio de verão também, em Ek-batana. Mas Neemias c*»lava naquele em Susft
— e não era uma choupana! Na verdade, o palácio cobria mais de 2000 hectares, e era
extremamente luxuoso.
Assim, eis um homem que vivia em situação luxuosa e privilegiada. Ele recebe
um relatório (v.2): Hanani vem a ele. O que faz Neemias? Pergunta algo. Quais as duas
coisas que pergunta? Primeiramente, "sobre os judeus". Isso tem a ver com o seu povo.
Então, "sobre Jerusalém". Isso tem a ver com o lugar, com o seu lar.
O versículo 3 dá a resposta de Hanani. Então, noto aqui um diálogo, uma sessão de
perguntas e respostas. Que relação tem a resposta com a pergunta? Neemias pergunta
sobre o povo e o lugar. Os irmãos fornecem uma resposta com três partes: (1) "Os res­
tantes estão em grande miséria e desprezo" (isso tem a ver com o povo); (2) "os muros
de Jerusalém estão derribados" (sobre o lugar); e (3) "suas portas queimadas a fogo"
(também sobre o lugar).
A ordem da resposta é exatamente a mesma da pergunta: primeiro o povo, então o
lugar. Acho que isso diz algo sobre Neemias. Sua primeira preocupação era com pessoas,
não com lugares. Mais tarde, descubro o quanto isso representa no que acontece no livro.
Assim, a ordem da resposta é exatamente a mesma que a ordem da pergunta: as
pessoas primeiro, depois o lugar. Acho que isso diz algo sobre Neemias. Sua primeira
preocupação eram as pessoas, e não os lugares. Mais tarde, descubro o quanto isso conta
na história.

ROTULE SUAS OBSERVAÇÕES

Tudo certo, o contexto foi inserido. Agora chego ao parágrafo no versículo 4. Uma
vez que ouve sobre o povo e o lugar, o que faz Neemias? Quatro coisas: chora, lamenta,
jejua e ora.
Há um meio de se unir as quatro coisas? Bem, chorar e lamentar têm a ver com
emoções. Que tal jejum e oração? Eles indicam uma reação espiritual.
Uma das coisas que você precisa fazer em seu estudo bíblico é colocar alguns rótu­
los sobre suas observações. Eles o ajudarão como instrumento de manuseio do material
Por exemplo, ao lado do versículo II? posso colocar relato. Se você preferir uma palavra
diferente, use-a, mas escolha algo que resuma o conteúdo para você.
Se o versículo lb é o relato, o versículo 4 é a "reação". Neemias tem uma reação
total, emocional e espiritual, ao relato.
Passando ao versículo 5, encontro uma oração; poderia rotulá-la "o pedido que
Neemias fez". Já vimos esta oração no capítulo 12. Lembra-se do padrão? Neemias
começa com adoração (v. 5), louvando a Deus por Seu constante amor. Então, passa à
confissão (vv. 6-7). Ver Deus como Ele realmente é sempre nos ajuda a nos vermos como
realmente somos — pecadores necessitados de Sua misericórdia. Daí, após confessar o
seu pecado e o pecado de seu povo, Neemias começa a fazer petições a Deus com base
win SihiN proincNMiiN.

A orriçAo de NrrmhiN é um modelo de como podemos nos aproximar de Dens.


Mas, olhando para ela ein sou contexto, noto como ela está diretamcnte ligada ao relato
dv I lanani e os irmãos. Eles vôm e dizem: "O povo está em grande miséria e desprezo, e
Os muros derribados". A reação imediata de Neemias é a oração, mas oração baseada na
Palavra de Deus. Deus havia prometido que se Israel O desobedecesse, Ele os dispersaria;
mas se voltassem a Ele, Ele restauraria a sua terra (w. 8-9). Neemias ouve o relato, revv a
Palavra de Deus e então cai de joelhos em oração.

1 a Conteúdo/ Autor / famúúv Introd/.

1b As palavras de Neemias, filho de Hacalias


1. mês de quisleu quando? tempo - Mov./De^.
quo ano? cf. 2 :1
2. (no) ano vigésimo <md&? - lugw

3. (na)cidadela de Susâ,

p. veio Hanani...então lhes perguntei


i pelos judeus Po**

2. e sobre Jerusalém

R- Disseram-me: os restantes...em grande


miséria e desprezo
os muros de Jerusalém...derribados
tu^ar
e as suas portas...queimadas a fogo
3
4 Tendo eu ouvido estas palavras, Reação
„ . qa&pcda^ra^?
assentei-me e ~ 1- chorei \

I 2. lamentei '

| 3.jejuando^eípir
4. orando /
NENHUM DETALHE É TRIVIAL

listed o fim do parágrafo? Não. O que devo notar na última parte do versículo II?
Neemias acrescenta um detalhe interessante: "Nesse tempo eu era copeiro do rei". Isto é
terrivelmente importante. Ainda assim, muitas pessoas passam "por cima" desta decla­
ração crucial. Todavia, no passo da observação, pergunto: o que vejo? Assumo o papel de
detetive bíblico — e nenhum detalhe deixa de ter importância.
O que era um copeiro? Descobri que a maioria das pessoas imagina que fosse um
rapaz que ficava andando, levando copos de um lado para outro, como se não tivesse
nada melhor a fazer. Mas aqui, novamente, é onde um bom dicionário da Bíblia ajudará.
Procurando a palavra "copeiro", encontro que seu título deriva do fato de que ele era
responsável pela experimentação dos vinhos do rei. Como você pode imaginar, aquela
era uma época de intrigas e constantes atentados para se eliminar as pessoas. Assim, os
governantes não confiavam em ninguém — exceto o copeiro.
O copeiro era virtualmente o primeiro ministro, a segunda pessoa no comando. Ele
tinha uma conta pessoal de despesas e acesso direto ao rei.
Então, o Espírito Santo inclui este detalhe sobre Neemias para mostrar-me como
Deus realizou o Seu propósito. Mais tarde no livro, descubro que foi justamente por Nee­
mias ser o copeiro, que o rei lhe deu permissão para voltar à terra e reconstruir os muros
e a cidade. Deus tinha seu homem em posição estratégica. Neemias foi capaz de usar da
influência de sua posição para cumprir os propósitos de Deus.
Você alguma vez já se perguntou onde Deus o tem colocado? Talvez você seja pro­
fessor, enfermeira, especialista em computadores, carpinteiro ou médico. Qualquer que
seja a sua situação, que oportunidade Deus tem lhe dado de cumprir os Seus propósitos?
Garanto que Ele coloca cada um de Seus filhos em uma posição estratégica. Ele quer usar
você para Sua honra e glória.

“NÃO SEI POR ONDE COMEÇAR”

Há muitas outras observações a se fazer sobre este parágrafo. Na verdade, este livro
é um dos mais fascinantes que já estudei na Palavra de Deus. Mas não comecei, vendo
coisas no texto da maneira como vejo agora. Longe disso.
Não muito tempo depois que me tornei cristão, alguém me encorajou: "Agora que
você veio para a fé, precisa se envolver com a Palavra".
"Maravilhoso", disse. "Por onde começo?"
"Comece em qualquer lugar, irmão. Tudo tem proveito."
Assim, fui para casa e abri minha Bíblia — pousei em Ezequiel. Bem no meio dos
rolos. Lutei com aquela passagem por um tempo, até que pensei: Esta tem de ser uma exce­
ção. Então tentei o outro extremo da Bíblia — Apocalipse. Taças e selos me confundiram
completa mente. Assim, me envergonho em dizer, mas fechei o Livro por um ano sólido.
va convencido dc que «quilo que ou padrrN haviam nu» enainado era verdade — você
tirvi ÍN«va de um "intérprvle proll»»NÍon<il" para dispensar a Palavra.

1 a Conteodo / A cUx>r / Fcundícu Introds.

1b As palavras de Neemias, filho de Hacalias


1. (no)mês de quisleu quando? tempo - Mov./De^.
quo ano? cf. 2.1
2. (no)ano vigésimo - onde? - lu^or

3. (na)cidadela de Susã,

P. veio Hanani...então lhes perguntei


i pelos judeus
2. e sobre Jerusalém

K- Disseram-me: os restantes...em grande


miséria e desprezo
os muros de Jerusalém...derribados
Lu^ur
e as suas portas...queimadas a fogo
3
4 Tendo eu ouvido estas palavras, ■Reação
, qu& palavra*?
assentei-me e 1. chorei \ entoo.
2. lamentei '

3. jejuando^

4. orando '

5 E disse Pedíd<r
Ah! Senhor, Deus dos céus,
adoração fv. 5)
Deus grande e temível! confíMão (\&- 6 7)
petição (vy. 8 -11?

11a Copeiro'
Pela graça de Deun, alguém apareceu e perguntou: "I lei, I lendrlcka, vot’d eMá lendo
as Escrituras?"
"Não, para falar a verdade, não estou", contei a ele.
"Como assim?"
Minha resposta veio direta: "Não sei como. Não sei por onde começar."
Agora você sabe infinitamente mais do que eu sabia quando comecei a estudar a
Palavra de Deus por mim mesmo. Você viu como observar um versículo, e agora um pa­
rágrafo. Também descobriu que tem que aprender a ler melhor e mais rápido, como pela
primeira vez, e assim como lería uma carta de amor. E foi exposto a dez estratégias que
garantem que você se torne um leitor de primeira ordem da Bíblia.
Entretanto, você não só deve aprender a ler, mas deve saber o que procurar. Nos
próximos capítulos, darei seis dicas que o ajudarão a desvendar o texto bíblico.

Experimente
Neste capítulo, trabalhei com um parágrafo, observando como Neemias reagiu
ao relato de Hanani e os irmãos. Agora é a sua vez. Abaixo você encontrará um
parágrafo da carta de Paulo a Tito, que era um pastor do primeiro século na ilha de
Creta, no Mediterrâneo.
Leia o parágrafo cuidadosamente, usando as dez estratégias de leitura de pri­
meira ordem e prestando atenção nos termos e na estrutura gramatical. Veja o que
pode descobrir aqui sobre o estilo de vida que deveria caracterizar todos os crentes,
especialmente os líderes.

"Por esta causa te deixei em Creta para que pusesses em ordem as cou-
sas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, con­
forme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só
mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução,
nem são insubordinados. Porque é indispensável que o bispo seja irre­
preensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não
dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância, antes
hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, piedoso, que tenha domínio
de si, apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que
tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como para convencer
os que contradizem." (Tito 1:5-9)
SEIS COISAS A SE PROCURAR

Coisas que são enfatizadas


Coisas que são repetidas
Coisas que são relacionadas
Coisas que são semelhantes
Coisas que são diferentes
Coisas que são da vida real
Coisas que são
Enfatizadas
A/"ocê já foi ao médico com dor de garganta? A primeira coisa que ele pede é que voa*
ponha a língua para fora. Ele olha bem lá dentro da sua garganta e diz: "Ah!". Só de olhar,
ele sabe o que está errado. Eu poderia olhar sua boca de agora até a eternidade, mas de
nada adiantaria porque eu não sabería o que procurar.
O mesmo princípio se aplica ao estudo da Bíblia. Você pode passar horas, folhean­
do a Palavra, mas será total perda de tempo se você não souber o que está procurando. É
por isso que, na Observação se pergunta e responde à questão: o que vejo? Você assume
o papel de detetive bíblico, a procura de pistas, e nenhum detalhe é trivial.
Há seis pistas a se observar nas Escrituras. Você acha uma mina toda vez que as
nota. E Deus proveu uma excelente ferramenta para ajudá-lo a se lembrar delas — sua
mão. Há uma pista para cada um dos dedos, e uma para a palma da mão. Neste e nos
próximos quatro capítulos, mostrarei como reconhecer estas seis pistas importantes.
Comece com o polegar. A primeira pista a se procurar é:

COISAS QUE SÃO ENFATIZADAS

A Bíblia usa várias maneiras de enfatizar material. Citarei quatro dessas ferramentas.

Quantidade de espaço utilizado


Um livro pode enfatizar algo, dedicando uma grande porção de espaço ao que se deseja
enfatizar. Vimos isso em Gênesis. O livro tem cinquenta capítulos. Os primeiros onze
cobrem a Criação, a Queda, o Dilúvio, a torre de Babel e outros detalhes. Todos esses
principais eventos são comprimidos em apenas onze capítulos. Em contraste, o escritor
devota os capítulos de 12 a 50 às vidas de quatro indivíduos: Abraão, Isaque, Jacó e José.
PROCURE POR COISAS QUE SAO ...

Através desta ênfase, o Espírito de Deus nos está ensinando que o mais importante no
livro é a família que Deus escolheu para ser o Seu povo.
O mesmo acontece quando consideramos os evangelhos. Por exemplo, dos 1062
versículos de Mateus, pelo menos 342 — 1/3 do livro — apresentam discursos do Salva­
dor. Isto tem muito a ver no desenvolvimento do propósito do livro. Semelhantemente,
alguns evangelhos tomam muito mais espaço para cobrir a crucificação do que para ou­
tros eventos da vida de Cristo.
Nas epístolas de Paulo, frequentemente encontramos uma seção de doutrina se­
guida por aplicações práticas baseadas na mesma doutrina. Por exemplo, o trecho de
Efésios 1-3 nos diz o que Deus fez por nós. Efésios 4-6 nos diz o que precisamos fazer
como resultado. Este é um intrigante equilíbrio entre teologia e prática. O mesmo padrão
é encontrado em Colossenses. Entretanto, em Romanos, a proporção é de onze capítulos
de doutrina por cinco de aplicações, o que nos dá uma idéia da ênfase que Paulo quer
fazer ali.
Assim, quando observar uma porção das Escrituras, pergunte: quanto espaço é de­
dicado a este assunto? O que o escritor está enfatizando?

Propósito expresso
Uma outra maneira pela qual escritores bíblicos podem enfatizar seus pontos é contando-
nos diretamente o que pretendem. Lembre-se, vimos um exemplo fundamental em João
20:30,31:

"Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão
escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus
é o Cristo o Filho de Deus, e para que, crendo tenhais vida em seu nome."

Conforme destaquei no capítulo 15, João apresenta na narrativa sete sinais cuidado
samente selecionados para cumprir seu propósito — mostrar que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e que Ele é, portanto, digno da confiança de uma pessoa.
Ou considere Provérbios. Salomão lança aquela fascinante coleção de dizeres de
sabedoria, dizendo ao leitor por que ele tem de ler o livro:

"Para aprender a sabedoria, e o ensino;


Para entender as palavras de inteligência;
Para obter o ensino do bom proceder,
A justiça,'o juízo, e a eqüidade;
Para dar aos símplices a prudência,
E aos jovens conhecimento e bom siso:
Ouça o sábio e cresça em prudência,
E o entendido adquira habilidade
Para entender provérbios e parábolas,
As palavras e enigmas dos sábios." (Provérbios 1:2-6)
i
Estesjsão benefícios magníficos. E o restante de Provérbios segue fielmente a estas
promessas, ^eclarando seu propósito no início, o escritor emoldura o pensamento do
leitor conforme este se aproxima do material. O que quer que seja que se espere de Pro­
vérbios, já se sabe que ele irá enfatizar a sabedoria.

Ordem
Uma terceira maneira de se enfatizar algo é a colocação estratégica no material daquilo
que se deseja enfatizar. Isto vem antes daquilo; ou isso depois aquilo.
Por exemplo, em Gênesis 2, Deus coloca Adão e Eva num jardim "para o cultivar
e o guardar", diz o texto (2:15). Então, no capítulo 3, o casal peca, Deus os lança fora do
Jardim e amaldiçoa a terra (3:17-24). Esta ordem toma-se importante quando se fala sobre
trabalho, porque algumas pessoas ciêem que o trabalho seja uma parte da maldição. Mas
a ordem dos eventos em Gênesis não permite tal interpretação.
Uma outra ilustração vem da vida de Cristo. Em Lucas 3, temos o batismo do Sal­
vador; em Lucas 4, a tentação. Note a ordem: no batismo, Ele é aprovado por Deus; na
tentação, é testado por Satanás. A ordem é significativa.
Considere uma terceira ilustração, também de Lucas. O capítulo 6, versículos 14 a
16, narra a escolha dos doze. Observe cuidadosamente a ordem: Simão Pedro e André;
Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago filho de Alfeu e Simão zelote;
Judas filho de Tiago; e Judas Iscariotes. Quem é mencionado primeiramente? Ao lado de
quem? Quem é o último?
IVLi mcolhA dr onde colocar an pvNBoan, on evenloN, an IJcIan r awilm por diante,
Uin I’Mcrllor podc chninar *1 rttençfto para algo. Assim, atente para a ordem dada. Ela pode
írvrhir importantes critérios no texto.

Movimento do menor para o maior, e vice-versa


puir* nAo casos realmente especiais do que acabamos de ver em termos de ordem. Um es­
critor Irá frequentemente desenvolver o texto até chegar ao clímax, onde apresenta infor­
mações chaves. O trecho de 2 Samuel 11-12 registra o que são provavelmente os eventos
maiw cruciais da vida de Davi — o assassinato de Urias e seu pecado com Bate-Seba. Esses
Capítulos formam um tipo de pivô do livro. Todos os acontecimentos anteriores levam a
flex, c todos os posteriores giram em torno deles.
Considere Atos 2. Quando se estuda o livro de Atos, descobre-se que o capítulo 2 é
O pivô. É o capítulo sem o qual o livro não poderia existir. Tudo se desenvolve a partir do
que acontece nele. É a maneira de Lucas enfatizar este material.
Assim, a primeira pista a se procurar quando abrir as Escrituras é aquilo que é enfa­
tizado. Os escritores tiveram muito trabalho para pendurar uma placa dizendo: "Ei! isso
é Importante, preste atenção". Procure pelos quatro tipos de ênfase que mencionei, e você
Irá rapidamente perceber o que é importante no texto.

Experimente
Eis duas seções das Escrituras em que você pode observar coisas enfatizadas.

1 e 2 Samuel
Desenvolva um quadro genérico destes dois livros, mostrando o espaço relativo
dedicado aos personagens fundamentais: Samuel, Saul e Davi. (Você deve ter de­
senvolvido um quadro semelhante no final do capítulo 17, página 123. Há um bom
exemplo do tipo de quadro que menciono no final da página 176.) Que personagem
era o mais importante para o escritor? O que isso diz sobre o propósito de 1 e 7
Samuel?

Atos 1:8
Qual a ordem dos locais mencionados? Que relação estes lugares têm uns com os
outros? (Vimos isto no capítulo 6.) Como se pode comparar a ordem desses lugares
em Atos 1:8 com a expansão do evangelho no resto do livro de Atos? Veja se con­
segue determinar a quantidade relativa de espaço que o Dr. Lucas dedica a cada
um destes lugares, e o tempo que os apóstolos dão a cada um. Que significado isso
pode ter para o propósito de Atos?
capitulo 20

Coisas que são


Repetidas
X
E provável que nâo haja ferramenta de ensino mais poderosa do que a repetição. Se que­
ro ter certeza de que você irá entender aquilo que tenho a dizer, repetirei muitas e muitas
vezes. A repetição reforça. É por isso que a segunda pista a se procurar no texto bíblico é:

COISAS QUE SÃO REPETIDAS

Você já notou a frequência com que Jesus repete as coisas aos Seus discípulos? Os
evangelhos registram que Ele disse: "Aquele que tem ouvidos, ouça", pelo menos nove
vezes. E quando João estava registrando Apocalipse, o que você supõe que o Senhor te­
nha dito a ele que escrevesse às sete igrejas? Certo: "Aquele que tem ouvidos, ouça".
Isto é muita ênfase. Tem-se a impressão de que Jesus queria que Seus discípulos
(e nós) prestassem atenção àquilo que Ele tinha a dizer. Usando constantemente esta
fórmula para grifar Suas palavras, Ele deu a Seus ouvintes pistas sobre o significado de
Seu ensino.
Permita-me mencionar algumas categorias de repetição a se procurar.

Termos, expressões e orações


As Escrituras constantemente repetem termos, expressões e orações para enfatizar sua
importância. Por exemplo, no Salmo 136 lemos:

"Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom.


porque a sua misericórdia dura para sempre.
Rendei graças ao Deus dos deuses,
porque a sua misericórdia dura para sempre." (vv.1-2)
O Níilmhtn repete: "Porque a nua misericórdia dura para wmpre" nada menoâ que
Vtnle e nvín vvzcn neste walmo. Por quê? Ele não tinha nada mais a dizer? Não, ele estava
»lilrttl/ando o fato da misericórdia de Deus durar para sempre. Depois de ler o salmo
|0do, você conhece o alicerce: "Porque a sua misericórdia dura para sempre". Com efeito,
0 Nrtlmista está dizendo: "o que mais você precisa saber?"
Considere Hebreus 11, os heróis da fé — ou a galeria da fé. A expressão "pela fé...",
*|H’la fé...", "pela fé..." aparece dezoito vezes. O escritor fala sobre pessoas diferentes,
Vivendo em épocas diferentes, sob circunstâncias diferentes. Mas todos eles tiveram o
nu*Nino estilo de vida "pela fé".
Novamente, observe quão importante a pequena palavra se é para 1 Coríntios 15.
Pau Io a usa sete vezes nos versículos 12-38, onde fala sobre a importância crítica da res­
surreição de Cristo para nossa fé. "Se" enfatiza o fato de tudo que cremos ser condiciona­
do â ressurreição. Se ela for inválida, tudo se invalida.

Personagens
Expressões e termos não são as únicas coisas que um escritor repete para enfatizar algo.
An vezes, um personagem reaparece.
Barnabé é um bom exemplo. Realmente não sabemos muito sobre este homem. Seu
primeiro nome era José, mas os apóstolos o chamavam Barnabé, que significa Filho de
Exortação (Atos 4:36). E isso é realmente o mais importante sobre ele: era um homem de
•xortação. Quando alguém na igreja primitiva precisava de ajuda, lá surgia Barnabé para
Ajudar: Saulo (Atos 9:27); os gentios que creram em Antioquia (Atos 11:22); e João Marcos
(Atos 15:36-39). Lucas traz Barnabé à história em pontos estratégicos como modelo de
mentor espiritual.

PROCURE POR COISAS QUE SÃO ...


Incidentes • circunstância»
Algumas vcz.cn um escritor enfatiza determinado ponto pela repetição de um incidenlv
específico ou série de circunstâncias.
No livro de Juizes, por exemplo, o escritor começa cada seção com as palavras;
"Fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor". Este refrão estabelece a
situação na qual Deus levanta juizes que normalmente fazem com que o povo se volte
para Deus — mas nunca permanentemente. Mais cedo ou mais tarde eles caem, e o ciclo
se repete até o fim do livro, onde o centro do problema é atingido: "Naqueles dias não
havia rei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto" (21:25).
Outro exemplo de circunstâncias repetidas ocorre em Mateus. No decorrer de seu
evangelho, o autor desenvolve uma tensão entre Jesus e os fariseus. Repetidamente, o
Senhor faz ou diz algo que ofende a esses líderes. Mateus usa tais incidentes para chamar
a atenção para a luta pelo poder que acontecia entre o antigo sistema de legalismo auto-
justificado e o novo caminho de salvação em Cristo.

Padrões
Uma situação relacionada é a criação de um padrão que se repete. Estudantes da Bíblia
têm há muito tempo reconhecido os paralelos entre a vida de José e a vida de nosso Se­
nhor. Semelhantemente, há paralelos entre a experiência de Israel e a de Jesus.
Ou considere Saul e Davi em 1 e 2 Samuel: tudo o que Saul faz errado Davi faz certo.
O autor usa justaposições para mostrar que, embora Deus tenha aquiescido aos clamores
do povo por um rei ao designar Saul, seria Davi, posteriormente, quem refletiría o "pró­
prio coração" de Deus (1 Samuel 13:11-14).

O uso de passagens do Antigo Testamento no Novo Testamento


Um caso final e óbvio de repetição é a citação de Escrituras do Antigo Testamento pelo
Novo. Esta, por si só, já é um estudo fascinante. Obviamente, se o Espírito de Deus com­
pele um escritor do Novo Testamento a recordar uma passagem do Antigo Testamento, é
provável que seja porque Ele quer enfatizar aquela porção da Palavra de Deus.
Considere a história de Jonas. Nos primórdios da fé, algumas pessoas não queriam
que ela fosse incluída no cãnon das Escrituras. Mas, Jesus Se referiu a ela de uma maneira
que a faz indispensável à revelação divina (Mateus 12:39-41).
Ou veja Hebreus. Seria difícil imaginar o que esse livro teria a dizer se não fosse por
sua grande dependência nas Escrituras do Antigo Testamento.
Resumindo, quando estudar a Bíblia e notar que algo é repetido — dito mais de
uma vez — tome nota. Não é porque os escritores não conseguiam pensar em mais nada
para dizer. E a maneira que usam para apontar material de importância crucial.
Experimente

A repetição é um dos meios de dar ênfase mais frequentemente usados na Bíblia.


Permita-me sugerir vários projetos que o ajudarão a revelar porções da Palavra,
procurando por coisas repetidas.

Salmo 119
Neste salmo, Davi se refere à Palavra de Deus em todos os versículos. Observe o
salmo cuidadosamente, e catalogue todas as coisas que Davi diz sobre as Escrituras.

Mateus 5:17-48
Observe como Jesus usa a fórmula "Ouvistes o que foi dito... Eu, porém, vos digo..."
nesta porção do Sermão do Monte. Que estrutura esta expressão dá à passagem?
Por que é significante que Jesus diga isso?

Aritmética em Atos
Use uma concordância para procurar todas as expressões "aritméticas" no livro de
Atos — números de pessoas sendo "acrescentados" à igreja, os crentes se "multipli­
cando". Há até mesmo algumas "divisões" e "subtrações". Você pode encontrá-las?
Como Lucas usa tais termos para descrever o crescimento da igreja primitiva?

1 Coríntlos 15:12-19
Investigue a importância da pequena palavra se para o argumento de Paulo.
Leia Meditativamente
A sétima estratégia para se tomar um leitor da Bíblia de primeira ordem é difícil para
a maioria de nós:

LEIA A BÍBLIA MEDITATIVAMENTE

Em outras palavras, aprenda a refletir nela. Isso é difícil porque muitos de nós estão
vivendo na "via expressa". Nos tempos antigos, se as pessoas perdessem o trem, diziam:
"Tudo bem, o pegamos na semana que vem". Hoje, se alguém perde um degrau da esca­
da rolante, tem uma crise nervosa.
Como resultado disso, a leitura meditativa da Bíblia tem sido desfavorecida. Lem­
bro-me de um hino que costumavamos cantar: "Tempo de Ser Santo". Mas não o tenho
ouvido muito mais e entendo o por quê. Tempo é exatamente o que tornar-se santo re­
quer. Não podemos ser santos com pressa. No entanto, vivemos numa sociedade instan­
tânea. Quer ver televisão? E só apertar o botão, e você tem cor e som instantaneamente.
Quer café? E só dissolver alguns granulados de café em água fervente, e tem café instan­
tâneo. Mas não existe espiritualidade instantânea.
E por isso que as Escrituras falam tão frequentemente sobre meditação. Quero su­
gerir cinco passagens para estimular seu apetite a este respeito.

Josué 1:8
"Não cesses de falar deste livro da lei; antes medita nele [quando?] dia e noite
[por favor, note] para que tenhas cuidado de fazer [não saber; fazer] segundo
a tudo quanto nele está escrito; então farás prosperar o teu caminho e serás
bem sucedido." (itálico acrescido)

Esse versículo mostra que há uma íntima conexão entre a meditação na Palavra de
Dim» v d flçAo por chi. Ihmo wcrA A chrtve quando chegarmos ao terceiro passo: Aplicação.
Aqui, quero destacar a írvqüôocin com a qual a verdade bíblica deve permear sua mente:
“dia c noite". Isso me leva a perguntar-me, em que porção das Escrituras estava pensan­
do esta manhã quando iniciei meu dia. Enquanto estava trabalhando? No caminho para
casa? Quanto a isso, quando foi a última vez que refleti conscientemente nas verdades e
princípios bíblicos?

Provérbios 23:7
Um dia estava lendo Provérbios, quando uma frase saltou da página aos meus olhos:
"Porque, como [alguém] imagina em sua alma, assim ele é". Isso realmente me desper­
tou, talvez porque eu tivesse acabado de ver uma placa no escritório de alguém, que
dizia: "Você não é o que pensa que é. O que você pensa, você é." As Escrituras ensinam
o princípio básico que você se torna aquilo que pensa. Assim, tome cuidado com o que
pensa.

Salmo 1:1-2
O primeiro salmo tem uma mensagem semelhante:

"Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios,


não se detém no caminho dos pecadores,
nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Antes o seu prazer está na lei do Senhor,
e na sua lei medita de dia e de noite." (itálico acrescido)

Há um padrão dia-e-noite novamente. Isso é típico de meditação. Não é um exerci­


do que você pratica por alguns minutos e risca de sua lista de afazeres. E uma disciplina
mental que você pratica por todo o seu dia. É uma mentalidade e um estilo de vida no
qual a Palavra percorre sua mente.
Isso é o que faz da meditação bíblica diferir totalmente da meditação conhecida por
nossa sociedade. A meditação popularmente ensinada pelas filosofias orientais mandam
esvaziar a mente - exatamente ao contrário do que as Escrituras dizem. Meditar na Bíblia
significa preencher a mente com a verdade que Deus revelou.

Salmo 119:97
O Salmo 119 reforça essa idéia, como clama o salmista:

Quanto amo a tua lei!


É a minha meditação todo o dia. (itálico acrescido)

Você já observou que a maioria de nós desperdiça um tempo enorme? Coisas roti­
neiras que consomem tempo: esperar ao telefone, entrar em filas, dirigir até o trabalho.
Perguntei n urn amigo em Loa Angele* quanto tempo gnatava diariamente para ir ao tra­
balho. "Uma hora e meia para ir, uma hora e meia para voltar do trabalho", dianc* -me,
Sào três horas todos os dias, cinco, às vezes seis dias por semana - uma quantidade de
tempo muito grande. Milhões de pessoas gastam isso ou até mais tempo, indo e vindo
do trabalho.
A questão é: o que ocupa suas mentes durante esse tempo? Suspeito que a maioria
faça o percurso com suas mentes em "ponto morto", ouvindo rádio e ficando nervoso com
todos os motoristas a sua volta. Mas que oportunidade ótima para se "engatar" a mente.
É por isso que comecei a ouvir fitas das Escrituras enquanto estou nas ruas, confor­
me mencionei no capítulo 9. É inacreditável o que o ouvir a Palavra de Deus faz por mim,
especialmente para me preparar para as atividades do dia. Isso permite que a verdade
envolva meu coração.

Salmo 19
O Salmo 19 sugere uma profunda compreensão das Escrituras. Você tem que estudar esta
passagem. Ela enfoca a Palavra de Deus, dizendo-lhe quais são as suas características:
"A lei do Senhor é perfeita... O testemunho do Senhor é fiel...Os preceitos do Senhor são
retos", e assim por diante (vv. 7-8).
O Salmo também nos conta quais são os efeitos da Palavra. Por exemplo, ela "res­
taura a alma". Já se sentiu sem energia? A Palavra de Deus pode lhe revigorar. Ela tam­
bém "dá sabedoria aos símplices". Não importa se você foi para a faculdade ou não, ou
qual o seu Q.I. O que importa é quão "ensinável" você é, quão desejoso está de programar
sua mente com a sabedoria que as Escrituras provêem.
Como um clímax para o salmo, o salmista ora:

"As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na
tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!" (v. 14, itálico acrescido)

Esta é uma oração reveladora. Mostra que o salmista considerava a meditação como
necessidade absoluta para sua vida espiritual. Mas se este era o caso para ele em sua
época, quanto mais essencial deve ser para nós, que vivemos nesta geração, enfrentando
as pressões de nossa sociedade. Precisamos banhar nossas mentes nas águas da Palavra
para que nossas palavras e pensamentos se tomem agradáveis aos olhos de Deus.
Use seu tempo — no começo do dia, na pausa para o café, durante o período de al­
moço, voltando para casa do trabalho, antes de dormir à noite — para refletir na verdade
que você estuda.
Para ser honesto, as maiores mudanças que Deus operou em minha vida vieram
através do processo de meditação — apenas permitindo que a Palavra de Deus se infil­
trasse e permeasse minha mente e em minha vida. Aprendi que a leitura bíblica de pri­
meira ordem não requer disparos instantâneos, mas exposições ao tempo.
Experimente

Sv você nào tem o hábito de ler a Bíblia meditativamente, eis uma sugestão para
iniciar: separe um dia em que possa sair da rotina — sem trabalho, interrupções ou
compromissos. Talvez você tenha um lugar favorito no campo ou na praia. Onde
quer que seja, encontre um lugar em que possa passar várias horas sozinho.
Devote seu tempo à meditação em João 4:1-42, o relato em que Jesus visita
Samaria. Comece pedindo a Deus que o ajude a ganhar penetração na Sua Palavra
e que mostre como aplicá-la. Então leia a passagem várias vezes. Use as sugestões
para leitura bíblica repetitiva no capítulo 9.
Examine as seções antes e depois de João 4 para estabelecer o contexto. Daí
observe cuidadosamente a passagem para responder a questões como: Quem são as
pessoas nesta história? Quem são os samaritanos? Por que era fora do comum para
Jesus conversar com tal mulher? Qual foi a reação dos vizinhos dela? E a dos dis­
cípulos? O que Jesus diz a eles quando retomam? Que lições esta passagem ensina
sobre contar a história do evangelho aos outros?
Depois de ter tido uma compreensão da história, pense sobre que implicações
ela pode ter para você. Por exemplo, que tipos de pessoas você normalmente evita?
Por quê? Como estas pessoas reagiríam ao Evangelho? Há alguma coisa que você
poderia fazer ou dizer que as ajudaria a se aproximarem de Cristo e a confiarem
nEle definitivamente? Quando se trata de evangelismo, você é semeador ou ceifeiro
(vv. 36-38)? Ou nenhum dos dois? Com qual dos personagens da história você se
identifica mais? Por quê?
Como você veio a crer em Cristo? Quem falou de Jesus a você? Qual foi a sua
reação? Para quem você falou sobre Jesus? O que você disse? Qual foi a resposta?
Há princípios nesta história que você poderia usar na próxima vez em que falar a
alguém sobre Jesus?
Você pode fazer perguntas adicionais. O objetivo é mastigar a Palavra, pro­
curando por esclarecimentos, e examinar a si mesmo, procurando por maneiras de
aplicar as Escrituras. Certifique-se de escrever tudo o que observar na passagem,
bem como suas conclusões. E passe tempo em oração. Com base no que estudou e
meditou, o que Deus está lhe dizendo? O que você precisa dizer a Ele? Em que área
você precisa de Seus recursos e ajuda? Que oportunidades de evangelismo gostaria
que Ele abrisse para você?
capítulo 1 5

Leia com Propósito


Lembra-se de 2 Timóteo 3:16-17, uma passagem que vimos no capítulo 2? Diz que toda
Escritura é dada por inspiração divina e é "útil". Em outras palavras, serve a um propó­
sito — a quatro propósitos, para falar a verdade: ensino, repreensão, correção e instrução
para uma vida de justiça. Isso sugere uma oitava estratégia para uma leitura bíblica de
primeira ordem:

LEIA A BÍBLIA COM UM PROPÓSITO

Leitura propositada é aquela que procura pelo objetivo do autor. Não há um ver­
sículo das Escrituras que tenha sido lançado nelas por acidente. Toda palavra contribui
para o significado. Seu desafio como leitor é discernir tal significado.
Como fazê-lo? Uma das chaves é atentar para a estrutura. Todo livro da Bíblia tem
estrutura tanto gramatical quanto literária. Vejamos tais estruturas em ação e considere­
mos como contribuem para o significado.

PROPÓSITO ATRAVÉS DA ESTRUTURA GRAMATICAL

Muitos autores bíblicos comunicam o que pensam através de gramática cuidadosa­


mente selecionada. Sei que há uma crescente tendência hoje, de tratar a gramática como o
grande "bicho de sete cabeças". Mas a Bíblia não é tão desdenhosa em sua escolha de pa­
lavras e ordem. Na verdade, a gramática é determinante na doutrina. Assim, precisamos
prestar cuidadosa atenção nos seguintes aspectos gramaticais do texto.

Verbos
Verbos são críticos. São as palavras de ação que nos dizem quem está fazendo o quê. Por
exemplo, em Efésios 5:18, Paulo escreve: "Enchei-vos do Espírito", verbo que no original
está nA íorma panmíva, "wd<’ rhrltwi do Itapirlto", nAo "cnclwl-vos a vón menrniM com o
Espirito". Ele nos desafia a nos abrirmos ao controle do Espírito, a nos rendermos à Sua
vontade. Esta é uma observação Importante porque Efésios nos diz o que é a vida no
Espírito na igreja.
Outro interessante uso de um verbo se encontra em Gênesis 22:10, onde Abraão
leva seu filho Isaque ao monte Moriá para oferecê-lo como sacrifício: "e, estendendo a
mão, tomou o cutelo para imolar o filho".
Nào se pode detectá-lo na tradução em português, mas um comentário dirá que os
verbos aqui indicam um ato completo, como se Abraão realmente imolasse seu filho. Em
sua mente, a ação é cumprida; ele obedeceu a Deus ao máximo. Isso é crucial ao entendi­
mento do propósito do escritor. Ele está nos mostrando a fé de Abraão — fé ilustrada por
obediência total. Como Paulo diz posteriormente em Romanos, a confiança de Abraão em
Deus era tal que, se ele sacrificasse seu filho, Deus poderia levantá-lo dos mortos para que
o herdeiro fosse preservado (4:16-21; Hb. 11:17-19).

Sujeito e Objeto
O sujeito de uma sentença executa a ação e o objeto sofre a ação. E importante não con­
fundi-los. Filipenses 2:3 nos exorta: "considerando cada um os outros superiores a si mes­
mo". A ordem é crucial. "Considerar" é o verbo, "cada um" é o sujeito; "os outros" é o
objeto. Paulo está escrevendo palavras desafiadoras sobre a humildade de Cristo que
deve marcar os relacionamentos entre os crentes.
Um versículo relacionado é Gálatas 6:4: "Mas prove cada um o seu labor, e então
terá motivo de gloriar-se unicamente em si e não em outro". Este é o "versículo do inspe­
tor de fruto (sif)", porque muitos de nós têm a tendência de inspecionar o fruto espiritual
das outras pes-soas, quando precisamos prestar mais atenção em nosso próprio.
Novamente o verbo é "provar"; o sujeito é "cada um", e por inferência, "cada um
de vocês, crentes"; o objeto é "o seu labor". Assim, Paulo está argumentando por auto-
reflexão, o que tem uma importante relação com esta porção de Gálatas. Ele está falando
sobre crentes intervindo com outros crentes em caso de pecado.

Modificadores
Modificadores são palavras descritivas como os adjetivos e advérbios. Eles ampliam o
significado das palavras que modificam e muito freqüentemente fazem toda a diferença.
Por exemplo, em Filipenses 4, Paulo agradece aos filipenses por um presente que envia­
ram a ele. Não sabemos exatamente qual era o presente, mas Paulo encoraja aqueles que
o enviaram com a promessa muitas vezes repetida: "O meu Deus, segundo a sua riqueza
em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades" (v. 19).
Rotineiramente se retira este versículo de seu contexto, fazendo-o parecer como se
Deus prometesse suprir todos os nossos desejos ao invés de todas as nossas necessidades.
Mas ele nunca pretendeu estimular o materialismo. Pelo contrário, esta é a declaração
de confiança de Paulo na provhAo de Dem». QuAo confiante eral A enpreiKtAo "cadn uma
de" é decisiva: "meu Deus há de suprir cada uma de vossas necessidades", literalmente,
"todas as vossas necessidades". Ele nào nos deírauda. Ele nâo apenas supre o que neces­
sitamos, Ele supre tudo o que necessitamos.

Frases Preposicionais
Preposições são pequenas palavras que nos dizem onde a ação acontece: em, sobre, atra­
vés, para, e assim por diante. Considere algumas das muitas frases preposicionais que
aparecem nas Escrituras e verá quão importante é marcá-las quando as vê: "em Cristo",
"no princípio", "pelo Espírito", "na carne", "sob a lei", "pela fé", "de acordo com a Pala­
vra do Senhor".

Conjunções
Duas das palavras mais poderosas na Bíblia são e e mas (porém). Vimos quão crucial mas
era em Atos 1:8. Examine Números 13:31, II Samuel 11:1 e Lucas 22:26 e verá mais ilus­
trações de seu poder.
E é tão crucial também: "Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do teu co­
ração" (Salmo 37:4); "Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós" (João 15:4); Paulo
e Barnabé (Atos 13:42-43); "Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros" (Tiago 4:8).
Uma outra importante conjunção é portanto. Quando vir a palavra portanto, volte e
veja por que motivo foi colocada ali. Romanos está repleto de portantos, enquanto Paulo
se esforça em produzir um argumento rigorosamente estruturado. Os profetas do Antigo
Testamento usam portanto extensivamente. Muitas e muitas vezes expressam sua causa
contra o povo, então proclamam: "Portanto, assim diz o Senhor".

PROPÓSITO NA ESTRUTURA LITERÁRIA

Além de dispositivos gramaticais, os escritores bíblicos comunicam seu propósito


através da estrutura literária. Mesmo que você seja inexperiente como leitor, provavel­
mente conhece estrutura literária. Os roteiros de televisão usam-na vez após vez.
Por exemplo, pense em quantos programas de mistério e aventuras de ação usam
esta estrutura: (1) introdução de personagens e cenário; (2) cometimento do crime, nor­
malmente assassinato ou roubo; (3) investigação pelo protagonista; (4) evasão pelo(s)
criminoso(s); (5) crise, como perseguição de carros ou tiroteio; e (6) resolução, como quan­
do os perpetrantes são levados algemados e o protagonista fica com a garota. Esta é uma
estrutura comum para roteiros.
A Bíblia também tem estrutura literária, embora normalmente seja mais sofisticada.
Quando chegarmos ao Segundo Passo: Interpretação, veremos como tipos diferentes de
literatura utilizam vários tipos de estrutura literária. Por enquanto, eis cinco tipos a serem
procurados.
Estrutura biográfica
Comumvnte encontrada non livro* narrativos, a estrutura biográfica se baseia nas pessoas
chaves da história. Conforme destaque!, Gênesis 12-50 focaliza as experiências de quatro
patriarcas: Abraão, Isaque, Jacó e José. Juizes se estrutura em redor dos líderes de Israel
no período entre Josué e Saul, o primeiro rei da nação. Em 1 e 2 Samuel, a narrativa se
move de Samuel a Saul e a Davi. Em Atos, o apóstolo Paulo comanda a ação nas porções
finais do livro.

Estrutura geográfica
Aqui a chave é o lugar. A estrutura de Êxodo depende grandemente dos lugares que
Israel visita no caminho do Egito para a Terra Prometida.

Estrutura histórica
Eventos chaves são a base da estrutura histórica. O livro de Josué é um bom exemplo. O
livro começa com Josué, recebendo sua incumbência do Senhor. Então o povo atravessa
o Jordão. Daí toma Jerico e enfrenta a derrota em Ai. E assim pelo livro todo, enquanto o
povo prossegue e possui a terra.
O livro de João também usa estrutura histórica para marcar seu objetivo. O evange­
lho apresenta sete milagres principais que promovem um propósito central:

"Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não es­
tão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Je­
sus é o Cristo o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome"
(20:30-31, itálicos acrescidos)

Um dos usos mais interessantes da estrutura histórica ocorre em Apocalipse. João


nos conta, no princípio, que o livro registra uma visão que Deus lhe deu após ter sido
banido para a ilha de Patmos. Na visão, eventos alarmantes de proporção global aconte­
cem, e a narrativa progride de incidente a incidente até que atinge um clímax no capítulo
21, com a apresentação dc um novo ccu c uma nova terra.

Estrutura cronológica
Proximamente relacionada à estrutura histórica está a estrutura cronológica, onde o au­
tor organiza material com base em tempos chaves. Existe progressão temporal; os eventos
da história acontecem sequencialmente. 1 e 2 Samuel usam estrutura biográfica, confor­
me destacado, mas também empregam estrutura cronológica. A narrativa segue como
um diário dos primeiros tempos do reino de Israel. Incidente após incidente começa com
a palavra: "Então...", "Então...", "Então..."
O mesmo acontece com boa parte do relato de Lucas e Atos.
Estrutura Ideológica
A maioria das carias de Paulo às igrejas são estruturadas em redor de Idüian e conceitos.
Romanos é um clássico nesse respeito. Argumenta enérgica e abrangentemente por uma
idéia principal, conforme resumido em 1:16: o evangelho é o poder de Deus para a salva­
ção. Ao apresentar sua causa, Paulo toca em conceitos tais como o pecado, a lei, fé, graça
e vida no Espírito.
A estrutura ideológica facilita a sumarização de um livro. Uma vez que você enten­
da o tema e o propósito centrais, você pode determinar como cada parte contribui para o
entendimento dos mesmos: tema e propósito.

A BUSCA POR SIGNIFICADO

O detectar da estrutura é um passo crítico no processo de estudo bíblico. Quando


entrarmos na Interpretação, perguntaremos: o que este texto quer dizer? Mas nunca sere­
mos capazes de responder precisamente até que respondamos a pergunta observacional:
o que vejo? A estrutura é a porta para o entendimento do propósito de um autor.
As Li is pa Estrutura

LEI DESCRIÇÃO EXEMPLOS

Causa e efeito Um evento, conceito ou ação que causa Marcos 11:27 — 12:44
outro (termos chaves: portanto, então, Romanos 1:24-32;
assim, resultado) 8:18-30

Climax Uma progressão de eventos ou idéias que Êx. 40:34-35


atingem um certo ponto alto antes de 2 Samuel 11
regredir Marcos 4:35 — 5:43

Comparação Dois ou mais elementos que são seme­ Salmo 1:3-4


lhantes ou parecidos (termos chaves: como, João 3:8,12,14
assim como, também, de igual maneira) Hebreus 5:1-10

Contraste Dois ou mais elementos que são seme­ Salmo 73


lhantes ou dissimilares (termos chaves: Atos 4:32 - 5:11
mas, ainda) Gálatas 5:19-23

Explicação ou Apresentação de uma idéia ou evento Daniel 2,4,5, 7-9


razão seguida por sua interpretação Marcos 4:13-20
Atos 11:1-18

Intercâmbio Quando a ação, conversação ou conceito Gênesis 37-39


muda para outro, então volta novamente 1 Samuel 1-3
Lucas 1-2

Introdução e Observação na abertura ou conclusões Gênesis 2:4-25; 3


resumo sobre um assunto nu situação Josué 12
Mateus 6:1

"Pivô" ou Mudança súbita de direção ou fluxo do 2 Samuel 11-12


eixo contexto; um clímax menor Mateus 12
Atos 2

Proporção Ênfase indicada pela quantidade de Gênesis 1-11; 12-50


espaço que o escritor dedica a um assunto Lucas 9:51 - 19:27
Efésios 5:21 -6:4
LBI DESCRIÇÃO EXDMMOB

Propósito Declaração das intenções do autor João 20:30-31


Atos 1:8
Tito 1:1

Pergunta e Uso de perguntas ou perguntas e Malaquias


resposta respostas Marcos 11:27 — 12:44
Lucas 11:1-13

Repetição Termos ou frases usados duas ou mais Salmo 136


vezes Mateus 5:21-48
Hebreus 11

Específico Progressão de pensamento de um único Mateus 6:1-18


para geral, exemplo para um princípio geral, ou Atos 1:8
geral para vice-versa Tiago 2
específico

Adaptado do quadro não publicado por John Hansel. Usado com permissão.

Experimente
O s livros da Bíblia estão repletos de declarações que expressam o propósito dos
escritores. João 20:30-31 é uma das mais diretas. Outras são menos óbvias, mas um
leitor observador normalmente poderá encontrá-las. Eis abaixo algumas declarações
de propósito. Leia cada uma cuidadosamente, depois folheie o restante do livro no
qual se encontra. Veja como o escritor cumpre o seu propósito na maneira em que
apresenta seu material.

* Deuteronômio 1:1; 4:1; 32:44-47


* Provérbios 1:1-6
* Eclesiastes 1:1-2; 12:13-14
* Isaías 6:9-13
* Malaquias 4:4-6
* Lucas 1:1-4
* 2 Coríntios 1:8; 13:1-10
*Tito 1:5; 2:15
*2 Pedro 3:1-2
* 1 João 5:13
LEIA Aquisitivamente
Uma manhã, anos atrás, levantei-me, fui ao banheiro, enchi a pia com água e comecei
a me barbear. Mas, quando ia colocar a lâmina na água, descobri que não havia água ali.
Pensei: Bem, é um pouco cedo. Então, enchi a pia novamente e continuei a me barbear. Po­
rém, mais uma vez, a água escoou pelo ralo. Assim, decidi parar para observar um pouco.
Examinando a tampa, descobri que um de meus criativos filhos havia pego um furador
de gelo e perfurado nela cinco lindos buraquinhos — em forma de estrela.
Esta é uma boa ilustração do que tem acontecido a muitos de nós no processo de
educação. Foram feitos buracos em nossas mentes, e, como resultado, elas se tomaram
como peneiras. Elas não retêm muito — pelo menos, pouco que tenha valor. Lemos um
livro e, uma semana mais tarde, não conseguimos nos lembrar sobre o que era. Vamos
à aula e depois dela não temos a menor ideia do que o professor apresentou. Ouvimos
um sermão domingo de manhã, e domingo à noite nem mesmo nos recordamos de que
passagem era. É como se tivéssemos cérebros revestidos de teflon: nada adere.
Mas temos de aprender uma abordagem diferente se quisermos tomar posse da
verdade bíblica. Precisamos ler, empregando a nona estratégia para a leitura bíblica de
primeira ordem.

LEIA A BÍBLIA AQUISITIVAMENTE

Isto é, leia-a não apenas para receber informação, mas para reter; não meramente
para tomar conhecimento, mas para tomar posse. Reivindique os seus direitos sobre o
texto. Faça dele sua propriedade particular.
Como isso pode acontecer? A chave é o envolvimento pessoal e ativo no processo.
Há um antigo provérbio para tal efeito: "Quando ouço, esqueço. Quando vejo, lembro.
Quando faço, entendo".
Estudos da psicologia moderna comprovam isso com dados científicos: nos lembra­
mos no máximo de apenas 10% daquilo que ouvimos, 50% daquilo que vimos e ouvimos,
mM 90% daquilo que fazemos, vemos e ouvimos.
T por isso que nunca apliquei exames em nenhum dos cursos sobre métodos de
estudo bíblico durante os mais de quarenta anos de ensino dos mesmos. Os alunos não
acreditam (nem alguns outros professores), mas como sabe, é muito melhor fazer com
que os alunos se envolvam no processo de estudo das Escrituras, nào de estudo para um
exame. O que me importa se o aluno pode tirar 10 numa prova? O importante é se ele ou
ela sabe trabalhar com o texto da Palavra para entendê-lo, tomar posse dele e aplicá-lo.
Ao invés de exame final, peço a meus alunos que elaborem uma maneira criativa
de se apresentar uma passagem. Podem trabalhar separadamente ou em grupos, mas, no
último dia de aula, apresentam seus projetos ao grupo todo. Nunca fiquei desapontado
com os resultados.
Por exemplo, um grupo de seis rapazes apresentou uma pequena peça teatral ba­
seada em Atos 1:8, na qual fizeram o papel de três pares de pés, levando o evangelho aos
confins da terra. Usaram suas habilidades de escrita criativa para injetar humor, drama e
perspectiva à apresentação.
Outro grupo desenvolveu um show completo de marionetes para demonstrar prin­
cípios bíblicos. Tenho visto apresentações audio-visuais, shows de mágica, pinturas, e até
danças criativas. Já ouvi poemas, canções, leituras dramáticas e contos. Tudo baseado nas
Escrituras. Tudo precisamente fiel ao texto.
Mas por favor, note: nào se trata de jogos ou truques. Evidentemente, podemos
usá-los dessa maneira. Porém, para os estudantes envolvidos, estes foram exercícios de
estudo bíblico aquisitivo. Garanto que se você apurasse os resultados hoje, aqueles que
fizeram esforço real no cumprimento da tarefa ainda podem dizer não apenas o que fi­
zeram, mas o que aprenderam ao fazê-lo. (De quantas tarefas do colegial, faculdade ou
pós-graduação você se lembra?)

ENVOLVA-SE NO PROCESSO

Da mesma maneira, este livro terá valor à medida que fizer com que você se envol­
va no processo. Que diferença faz se você leu cada página e talvez até sublinhou partes do
texto, se ao final, você deixou sua Bíblia na estante e nunca a abriu por iniciativa própria?
Meu objetivo — e espero, seu também — é ver mudança de vida como resultado de sua
interação pessoal com a Palavra de Deus.
Que idéias podem surgir em sua mente para fazer permanente o trabalho com o
texto bíblico? Você está estudando Elias no monte Carmelo? Que tal dramatizar a história
com a família ou os amigos? Um grupo de conselheiros de um acampamento fez isso para
seus acampantes — completo, com fogo do céu. Aqueles jovens nunca se esqueceram.
Ou tente reescrever textos como Eclesiastes 3:1-8 ("Tudo tem o seu tempo determi­
nado"), Lucas 19:1-10 (Zaqueu), ou 1 Coríntios 13 (o capítulo do amor) em sua paráfrase
própria.
Ou trnle fazer um riludo biográfico concentrado, por um mên, de um personagem
específico das lÍNcrlturas. Procure todas as referências solue a pessoa no texto. Consulte
um dicionário bíblico e leia sobre o ambiente cultural e histórico no qual ele ou ela viveu
(leia o capítulo 34 para mais informações sobre dicionários da Bíblia). Localize em um
atlas os lugares onde a pessoa viveu e viajou.
Desenvolva também um perfil psicológico do personagem: Que tipo de pessoa era?
Quais atitudes e sentimentos teve? Quais preconceitos? Quais ambições? Qual era o am­
biente familiar? O que o motivou? Torne-se um especialista na vida do indivíduo, de
modo que se o encontrasse na rua, o reconhecería imediatamente.
Resumindo, faça o que for preciso para se tornar um leitor aquisitivo da Bíblia. Case
a verdade da Palavra com seus próprios interesses e experiência — através do envolvi­
mento pessoal com o processo — para que você não apenas se lembre das Escrituras —
mas se aproprie delas.

Experimente
Eis uma idéia para fazer com que você se aproprie de uma passagem das Escritu­
ras. Abra a Bíblia em Números 13, na história dos espias enviados por Moisés à Ter­
ra Prometida. Leia o relato cuidadosamente, usando todos os princípios cobertos
até aqui. Então, escreva sua paráfrase da história. Eis algumas sugestões:

1. Decida qual o ponto principal da história. O que acontece? Por que o incidente
tem significado?
2. Pense sobre quaisquer paralelos ao que acontece aqui na história de sua família,
igreja, nação ou sua própria vida.
3. Decida sobre o "ângulo" que quer usar. Por exemplo: o relatório de uma força
tarefa para Israel, Ltda. (ângulo de negócios); um concilio tribal (ângulo indíge­
na); um debate político entre duas facções (ângulo político ou governamental).
O ponto é, escolha algo que se adapte à situação e faça este incidente memorável
para você.
4. Reescreva a história de acordo com o ângulo escolhido. Utilize uma linguagem
condizente com o tema. Faça com que os personagens pareçam reais. Mude no­
mes e lugares para condizer com o estilo.
5. Quando terminar, leia sua paráfrase a um amigo ou parente.
Coisas que são
Relacionadas
Até aqui temos rotulado o polegar com coisas que são enfatizadas e o dedo indicador
com coisas que são repetidas. Agora a terceira pista que precisamos procurar — e isto vai
no seu dedo médio — é:

COISAS QUE SÃO RELACIONADAS

Por "relacionadas" quero dizer coisas que têm alguma conexão, ou interação umas
com as outras. Como sabe, o fato de duas coisas estarem próximas uma da outra não as
faz relacionadas. F.las têm de lidar uma com a outra de alguma maneira. Deve haver um
laço que de algum modo as una.
Procure por três tipos de relacionamentos em seu estudo das Escrituras.

Movimento do geral ao específico


Este é o relacionamento entre um todo e suas partes, entre uma categoria e seus membros
individuais, entre o quadro geral e os detalhes. Vimos este relacionamento algumas vezes
antes.
Permita-me dar uma ilustração de Mateus 6, uma parte do Sermão do Monte. O
capítulo começa assim:

"Guardai-vos de exercer a vossa "justiça" diante dos homens, com o fim de


serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai ce­
leste." (v. 1)
PROCURE POR COISAS QUE SAO ...

Você terá uma recompensa: quando fizer seus atos de justiça para serem vistos por
homens, esta será a sua recompensa. Mas não serão reconhecidos pelo Pai, Jesus diz.
Então Ele parte de um princípio geral para três ilustrações específicas. A primeira
na área de esmolas (vv. 2-4), depois na área da oração (vv. 5-15), e então na área do jejum
(vv. 16-18).
Um outro exemplo pode ser encontrado em Gênesis 1. O versículo 1 dá uma visão
geral: "No princípio criou Deus os céus e a terra".
Se a narrativa terminasse aqui, você não teria nenhum dos detalhes de como Ele
criou os céus e a terra. Você sabería apenas que Ele foi o Criador. Mas o restante do capí­
tulo provê informações específicas: no primeiro dia Ele criou a luz (vv. 3-5); no segundo
dia Ele separou a água dos céus (vv. 6-8); no terceiro dia Ele formou a terra seca e fez com
que a vegetação começasse a crescer (vv. 9-13); e assim por diante.
Quando você se deparar com uma declaração ampla e genérica nas Escrituras, pro­
cure perceber se o escritor prossegue com detalhes específicos que "colocam carne nos
ossos" de alguma maneira.

Perguntas e respostas
A pergunta é uma das ferramentas mais poderosas de comunicação. Se faço uma pergun­
ta a você, isso quase que o obriga a pensar, não é? Claro que sim! Mas é claro, se alguém
apenas faz perguntas e nunca provê as respostas, isso pode ser muito frustrante. Você
começa a se perguntar se a pessoa sabe mesmo sobre o que está falando. Descobriremos,
porém, que os escritores bíblicos empregam tanto perguntas estratégicas quanto respos­
tas úteis.
O livro dv Romano# é um exemplo cIArnIco. !•. escrito como um Iraliulo legal, como
se Paulo tosse um advogado. Aqui Paulo está constantemente levantando perguntas, res­
pondendo-as a seguir. Por exemplo, veja Romanos 6:1: "Que diremos, pois? Permanece­
remos no pecado, para que seja a graça mais abundante?" Então ele responde a pergunta:
"De modo nenhum".
No versículo 15 ele usa novamente uma pergunta retórica: "E daí? Havemos de
pecar porque não estamos debaixo da lei, e, sim, da graça?" Esta é a questão. Novamente
a resposta é: "De modo nenhum", e ele a explica com detalhes.
As vezes, a pergunta carrega em si mesma tanto peso que não necessita de resposta.
Você já olhou por sobre o montão de perguntas que Deus lança sobre Jó? "Cinge, pois, os
teus lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber" (Jó 38:3).
"Eu te perguntarei". Isso é sarcasmo. Deus lança uma enxurrada de perguntas que
continua por dois capítulos, até que Jó a interrompe brevemente (em 40:3-5). Então a tor­
rente reinicia. São perguntas que contêm suas próprias respostas.
E as perguntas penetrantes que nosso Senhor lança aos discípulos: "Qual de vós,
por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?" (Mateus 6:27).
Ou: "Por que sois assim tão tímidos? Como é que não tendes fé?" (Marcos 4:40). Ou que
tal: "Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?" (Mateus 26:40).
Perguntas e respostas requerem sua atenção. São chaves importantes que ajudam a
destravar o texto.

Causa e efeito
Este é o princípio do jogo de bilhar. Você arremessa a bola branca com o taco (esta é a cau­
sa) para empulsionar as bolas coloridas para os buracos (este é o efeito). Nas Escrituras
encontramos todos os tipos de relação causa-efeito ricocheteando pelo texto.
Quero destacar uma ilustração dinâmica disso em Atos 8:1: "Naquele dia levantou-
se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém". Somos levados a perguntar: que
dia? Checando o contexto, descobrimos que aquele foi o dia em que Estêvão foi martiriza-
do. Isso intensificou a perseguição, e todos os crentes, exceto os apóstolos, foram disper­
sos pela Judeia e Samaria. Porém, o versículo 4 diz: "Entrementes os que foram dispersos
iam por toda parte pregando a palavra".
Em outras palavras, a perseguição era a causa, e a pregação, o efeito. Os crentes
não ficaram parados ali, choramingando: "O que é que Deus está fazendo conosco agora?
Oramos para que Ele nos usasse, e agora tudo que temos é perseguição". Não, eles usa­
ram as pressões como alavanca para levar o evangelho aos confins da terra.
No capítulo 18 estudamos um parágrafo de Neemias 1. Lembra-se da oração de
Neemias? Ele fez recordar a Deus de Suas promessas feitas anteriormente, nos livros que
Moisés havia escrito. Deus havia dito que se o povo Lhe desobedecesse, Ele eventual­
mente os enviaria ao exílio. Com certeza, o povo desobedeceu (isso foi a causa), e Deus
manteve a Sua promessa, permitindo que os babilônios os levassem (isso foi o efeito).
AIIAn, NvemldM vNtdvo conflrtiulo na relação de cauMa-oívIto, porque Deu» também
havia prometido que »e o povo m* arrependesse (causa), Ele os faria retornar à terra (efei­
to). É por isso que Neemias estava lAo interessado na confissão do pecado. Deus respon­
deu? Sim, e usou Neemias para cumprir Sua promessa.
Em que promessas de Deus você tem confiado? Por exemplo, o Salmo 1 diz que a
pessoa que se planta no conselho da Palavra de Deus florescerá como uma árvore bem
Irrigada. Note, há um elo direto de causa-efeito entre as Escrituras e a bênção de Deus.
Você está experimentando este efeito? A verdadeira questão é, você tem ativado a causa,
deleitando-se e meditando, como o texto diz, no que Deus disse?
Enquanto o fizer, procure por coisas que são enfatizadas, repetidas, e, conforme
vimos neste capítulo, coisas que são relacionadas.

Experimente

Um dos principais objetivos da observação é perceber relações no texto bíblico.


Teste suas habilidades de observação nestas três passagens.

Mateus 1:1-18
A maioria das pessoas simplesmente deixa de ler as genealogias. Se enfada com a
monótona repetição de "Fulano de Tal gerou Fulano de Tal". Mas as genealogias
são, na verdade, importantes maneiras através das quais os escritores bíblicos co­
municam seu significado.
Leia a lista de nomes mencionados em Mateus 1. Que relação estas pessoas
têm com Jesus? E umas com as outras? Quais os quatro indivíduos que se sobressa­
em visivelmente? Por quê? O que se pode descobrir sobre as pessoas mencionadas
aqui? Compare esta lista com a genealogia que Lucas registra (Lucas 3:23-38). Qual
a diferença? Quais as semelhanças? O que você acha que a lista de Mateus tem a ver
com o propósito de seu livro?

Amós
Você irá precisar de um atlas para descobrir o significado das relações do livro de
Amós, no Antigo Testamento. Encontre todos os lugares mencionados nos capítulos
1-4. Onde o profeta finalmente chega no capítulo 5? Qual a relação? O que Amós
está fazendo ao mencionar esses lugares desse modo?
Coisas que são
Semelhantes e Diferentes
Tenho duas netas que são gêmeas idênticas. Na verdade, elas se parecem tanto que eu

não consigo diferenciar uma da outra. Nem o pai delas consegue, muitas vezes. Somente
a mãe parece ser capaz de distingui-las. Tenho estado com elas em público, e vejo estra­
nhos reagirem a elas como se estivessem vendo dobrado. Apontam e comentam: "Olhe!
Olhe! Gêmeas". Por que isso acontece? Porque no momento em que vemos duas coisas
semelhantes — especialmente quando menos esperamos — a semelhança imediatamente
nos chama a atenção.
O mesmo fenômeno acontece no estudo bíblico. As semelhanças se destacam. E
também os contrastes. E por isso que a quarta e a quinta pistas a se procurar enquanto
você observar as Escrituras são:

COISAS QUE SÃO SEMELHANTES E COISAS QUE SÃO DIFERENTES

Designamos coisas que são enfatizadas ao polegar, coisas repetidas ao dedo indica­
dor e coisas relacionadas ao dedo médio. Assim, coisas que são semelhantes podem ficar
com o dedo anular, e coisas diferentes com o mínimo.

Símiles
Os escritores bíblicos nos dão vários termos que identificam as semelhanças. Duas das
palavras mais comuns a se procurar são tão e como. Elas indicam uma figura de linguagem
chamada "símile", que é uma imagem de palavra que evoca uma comparação entre duas
coisas.
Por exemplo, o Salmo 42, que começa assim: ''Como suspira a corça pelas correntes
das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma" (v. 1, itálico acrescido). Esta é uma
ImAgein arrebatadora, nAo é? I'.Ia cria atmosfera. O aalmista compara seu desejo por Deus
<i lima corça sedenta no calor.
Pense novamente cm I Pedro 2:2, um versículo que analisamos quando lançamos
a questão: por que estudar a Bíblia por iniciativa própria? Pedro usa um símile: "Desejai
ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele
vos seja dado crescimento para salvação" (itálico acrescido). Ele evoca uma comparação
tocante entre o apetite de um bebê pelo leite de sua mãe e o apetite do crente pela nutrição
da Palavra de Deus.
Considere outra comparação — na verdade, uma comparação que não pode ser
feita. Em Isaías 44:6-7, o Senhor faz uma pergunta:

"Assim diz o Senhor,


Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos:
Eu sou o primeiro, e eu sou o último,
e além de mim não há ninguém.
Quem há, como eu?"
(itálico acrescido)

Resposta: ninguém. Somente Deus é Deus, o único supremo e soberano. Mas a pala­
vra como, que normalmente indica semelhança, neste caso intensifica o contraste.

Metáforas
Um mecanismo relacionado ao símile é a metáfora, onde a comparação é feita sem o uso
de tão ou como. Jesus diz: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor" (João

PROCURE POR COISAS QUE SÃO ...


1M). Elo cHtá obvinmente falando flguradanwnte, nâo literalnwntr. Enlâ pintando o qua
dro que ilustra o Seu relacionamento com o Pai, bem como com os crentes.
Jesus usa uma metáfora extensiva em João 3 quando fala com Nlcodemos. “Impor­
ta-vos nascer de novo", diz (vv. 3,5 e 7). Jesus faz uma comparação. “Assim como nasceu
fisicamente, Nicodemos, e foi equipado para esta vida, é necessário nascer de novo espi­
ritualmente e ser equipado para a vida eterna".
Nicodemos ficou perplexo. Ele não era, de modo algum insensível, mas estava pen­
sando somente a nível humano. Então perguntou: “Como posso passar pelo processo
de nascimento outra vez? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda
vez? (v. 4). Como ve, ele não havia entendido o uso da metáfora de Jesus. Por isso é que
o Senhor respondeu: “Você tem de nascer do alto, Nicodemos, ou jamais poderá entrar no
reino" (vv. 5-6).
Então Jesus empregou um símile: “E do modo por que Moisés levantou a serpente no
deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado" (v. 14, itálico acrescido).
Agora Ele estava pisando no terreno de Nicodemos. Nicodemos era um fariseu e sabia
melhor do que ninguém o significado da serpente de bronze no deserto (Números 21:4-9).
Jesus estava criando uma comparação entre aquele incidente e Sua própria crucificação
por acontecer.
O uso da comparação por Jesus foi efetivo? Aparentemente sim; mais tarde no livro,
Nicodemos ajuda a colocar Seu corpo no sepulcro (João 19:39) — um perigoso curso de
ação, sob aquelas circunstâncias, que demonstrou sua fé no Salvador.
Falaremos sobre metáforas novamente mais tarde. Por enquanto, lembre-se de que
as semelhanças têm uma maneira de atrair a atenção para si.
Todavia, adquira o hábito de procurar por elas. Você as encontrará especialmen­
te na literatura de sabedoria, particularmente nos salmos. Quando encontrar alguma,
grife-a. O escritor está tentando se comunicar com você através da efetiva ferramenta da
comparação.

COISAS QUE SÃO DIFERENTES

O lado oposto da comparação é o contraste — coisas que são diferentes. Podemos


dizer que no estudo bíblico, assim como no amor, os opostos se atraem. Pelo menos,
atraem os olhos do leitor observador. Há várias maneiras pelas quais escritores bíblicos
indicam contraste.

O uso de mas e porém


A palavra mas ou porém é uma pista que indica que uma mudança de direção está para
acontecer. Já vimos quão crucial este termo é para várias passagens. No Sermão do Mon­
te, Jesus diz repetidamente: “Ouviste o que foi dito ... Eu, porém, vos digo..." (Mateus 5,
itálico acrescido).
Km <Minta» 5, Paula cucrovr "Ora, ns obras da carne são conhecidas" (v. 19), e nos
dá uma lista delas, Então, no versículo 22, em oposição, diz: "Mas o fruto do Espírito é:..."
v o alista. Assim ele estabelece um contraste entre o que a carne produz e o que o Espírito
produz.
Atos 1:8, um versículo que observamos em detalhes, começa com "Mas". Lembra-se
como isso nos levou a voltarmos e considerarmos o contexto, onde descobrimos o Senhor
•m uma discussão com os apóstolos? Eles queriam saber se Ele estava prestes a estabele­
cer o reino. Ele respondeu que não competia a eles saber a hora em que isso acontecesse.
Mns ... e então vem tudo o que vimos no versículo 8.
Mais tarde em Atos, Filipe começa uma cruzada evangelística na cidade de Samaria,
com grande sucesso (8:5-8). Na verdade, a reação é tão esmagadora que os apóstolos em
Jerusalém enviam Pedro e João em uma missão investigadora para averiguar os fatos.
Depois que terminam e estão voltando para casa,o versículo 26 diz: "(MflS)Um anjo do
benhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para a banda do sul, no caminho que desce
de Jerusalém a Gaza: este se acha deserto" (itálico acrescido).
Novamente, houve mudança de direção. Há um contraste entre Pedro e João, mu­
dando de rumo, de uma cidade para outra, e Filipe, que de repente se encontra comissio­
nado a um ministério no deserto.
É como se eu estivesse pregando em São Paulo com a equipe de Billy Graham, onde
pessoas estivessem vindo a Cristo, o Espírito estivesse operando e a cidade estivesse sen­
do virada de cabeça para baixo com o evangelho. Então uma noite o Senhor me dissesse:
"Hendricks, tome um ônibus e vá para o oeste do estado. Direi onde descer". Sabe, eu me
■entiria como se fosse rebaixado. Toda aquela agitação acontecendo na cidade grande, e
eu sendo enviado para um lugar de menos importância.
Mas Filipe não. Ele obedeceu, e o Espírito o trouxe a um oficial da Etiópia. Ele levou
aquele homem a Cristo e o evangelho foi espalhado pela África. O contraste definido no
versículo 26 monta toda esta situação.
A palavra mas é uma das mais importantes que você irá ver em seu estudo das Es­
crituras. Quando a vir, sempre pare e pergunte que contraste está sendo feito.

Metáforas
Assim como as coisas que são semelhantes podem ser mostradas através de metáforas,
também o podem as coisas que são diferentes.
Lembra-se da parábola do juiz iníquo em Lucas 18? Uma viúva pobre clamava a um
juiz de pouca integridade dia após dia, pedindo a ele que lhe fizesse justiça. Mas ele não
a queria atender. Finalmente, porém, a persistência da mulher o leva a agir em seu favor.
O que devemos entender desta história? Afinal, o juiz iníquo está na posição que
Deus está. Isso faz sentido? Bem, a chave é notar que Jesus está estabelecendo um con­
traste efetivo. Ele está dizendo, com efeito: "Se um juiz humano corrupto e indiferente
finalmente cede à súplica persistente de uma viúva, quanto mais responderá o Pai celestial
òn petlçftcM dv Scun filhos?" A parábola toda npola^r no uno habilldOMí do contraste. (Fa­
larei sobre parábolas quando lidarmos com linguagem figurada, no capítulo 36.)

Ironia
Permita-me mostrar a você mais um importante caso de contraste, também encontrado
no evangelho de Lucas. No capítulo 8, Jesus está viajando pela região da Galileia, ensi­
nando e curando. Multidões enormes O seguem. Na verdade, Lucas faz questão de mos­
trar quantas pessoas O cercam: os doze estão ali (v. 1); um grupo de mulheres O apoia
financeiramente (vv. 2-3); e uma "grande multidão" O segue (v. 4).
Jesus deixa a multidão por um tempo e vai à terra dos Gerasenos, onde expulsa
legião de demônios (vv. 26-39). Mas, tão logo volta, todos estão ali, esperando por Ele
(v. 40).
O ritmo acelera neste ponto, quando um oficial chamado Jairo surge e faz uma
chamada de emergência para Jesus: "Senhor, venha logo! É minha filha. Ela está muito
doente. Na verdade irá morrer a menos que o Senhor chegue lá rápido".
Isso lança a multidão num frenesi. É uma situação de vida ou morte, envolvendo
uma menina pequena. Jesus chegará lá a tempo? Todos querem saber, e Lucas é cuida­
doso em nos contar no versículo 42 que "enquanto ele ia, as multidões o apertavam".
Perseguidores de ambulância?
Neste momento, um contraste irônico acontece. Uma mulher com um problema crô­
nico de hemorragia — talvez uma enfermidade ginecológica, talvez outra coisa; o texto
não nos diz — de alguma maneira consegue abrir caminho pela multidão e aparece atrás
dEle. Ao tocá-LO, fica curada. De repente, Jesus pára, e o fluxo da multidão pára. Ele
pergunta: "Quem me tocou?" (v. 45).
A pergunta é quase cômica. Na verdade, é divertido ver qual é a reação dos discí­
pulos: "Quem Te tocou? Senhor, as pessoas têm Te tocado desde que saímos do barco".
Mas Jesus havia sentido o toque de fé. E este é o contraste que Lucas quer que
vejamos: no meio de uma crise, em meio a uma multidão, uma mulher desconhecida se
aproxima privativa e quietamente em fé — e Ele reconhece isso. Ela se destaca na multi­
dão por causa de sua fé. Lucas monta o fato para que a notemos e nos beneficiemos pelo
seu exemplo.
As coisas que são semelhantes e as que são diferentes fazem uso da forte tendência
humana de comparar e contrastar. Conforme você estudar as Escrituras, atente para a voz
dentro de sua mente, que diz: "Ei! isto é igual à passagem que li ontem" ou "Esta parte
é diferente de tudo neste livro". Esses são claros sinais de que o autor está usando coisas
semelhantes e diferentes para comunicar a sua mensagem.
Experimente

João 11:1 -46 traz um importante estudo em comparação e contraste. É a história da


ressurreição de Lázaro, mas ele é na verdade, apenas um personagem secundário.
João focaliza suas lentes nas duas irmãs de Lázaro: Marta e Maria.
Leia o relato cuidadosamente, e considere perguntas como: qual o relacio­
namento entre Jesus e estas duas mulheres? há outros textos que dão luz a esta
pergunta? como as irmãs se aproximam de Jesus? como Ele reage a elas? o que Ele
diz? Compare e contraste a fé destas duas mulheres. Como elas se comparam aos
discípulos e às pessoas que observavam o incidente?
i capítulo 23

Coisas que são


da Vida Reai
H á dois componentes essenciais à observação de qualidade. Primeiro, você tem de
aprender a ler. Segundo, você tem de saber o que procurar no texto. Vimos cinco pistas
a se procurar quando se abre a Palavra de Deus. A sexta e última pista vai na palma de
sua mão:

COISAS QUE SÃO DA VIDA REAL

A questão aqui é autenticidade: O que a passagem diz sobre a realidade? Que as­
pectos do texto se repercutem em sua experiência?
Aqui é onde você precisa usar sua imaginação santificada. Você tem de procurar
por princípios (falarei mais sobre isso no capítulo 43). Obviamente vivemos em uma
cultura dramaticamente diferente das culturas da época bíblica. Mas as mesmas coisas
que os personagens bíblicos experimentaram, nós experimentamos. Sentimos as mesmas
emoções que sentiram. Temos as mesmas dúvidas que tinham. Eles eram reais, pessoas
vivas que enfrentavam as mesmas lutas, os mesmos problemas e as mesmas tentações
que você e eu enfrentamos.
Assim, quando leio sobre eles nas Escrituras, preciso perguntar: Quais eram as am­
bições desta pessoa? Quais os seu objetivos? Que problemas estava enfrentando? Como
se sentia? Qual a sua reação? Qual seria a minha reação?
Frequentemente estudamos ou ensinamos as Escrituras como se fosse uma lição
acadêmica, e não vida real. Não se admira que tantos de nós nos sintamos entediados
com nossas Bíblias. Estamos perdendo as melhores lições da Palavra de Deus quando
deixamos de considerar as experiências de pessoas nela.
Deixe-me mencionar alguns indivíduos que penso nos ajudam ver a verdade em
termos realistas. O que eu gosto sobre a Bíblia é que ela sempre me leva de volta para a
PROCURE POR COISAS QUE SAO ...

realidade. Ela nunca pinta os caracteres com cal. Pelo contrário, os mostra como são na
verdade, com suas qualidades boas e más.

Abraão
Em Gênesis 22:2, Deus disse a Abraão, "Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem
amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto". Então Abraão começa a
subir o Monte Moriá com seu filho, Isaque, que tem cerca de vinte e dois anos. Isaque diz
para ele, "Ei!, papai! temos a madeira, temos o fogo, mas onde está o sacrifício?" Abraão
sabe que seu filho deve ser o sacrifício. Como você acha que ele se sentiu? Como você se
sentiría?

Moisés
Moisés foi um líder incrível, provavelmente o líder mais aprimorado de todos os tempos.
Mas ele nunca chegou a entrar na Terra Prometida. Por quê? Porque ele bateu na rocha
duas vezes (Números 20:1-13). Um ato de perder a calma, foi excluído de entrar na Terra
Prometida. Como esta punição o afetou? Como Moisés se sentiu para com Deus? Para
com a vida? (Veja Salmo 90.) Como é que eu respondo às conseqüências do meu próprio
pecado?

Noé
Noé era um homem de grande justiça. Numa geração totalmente tomada pelo pecado, ele
obedeceu a Deus e por isso salvou a sua família do Dilúvio. Mesmo assim o registro conta
que ele ficou totalmente bêbado (Gênesis 9:20,21). Eu penso, Como foi possível isto? Bem, as
Escrituras o descreve não como um indivíduo perfeito, mas como umn pessoa real. Junto?
Honrado por Deus? Absolutamente que sim. Mas também falho, fraco e pecaminoso.
Quais as implicações que isto tem para mim?

Davi
De todos os personagens bíblicos, o Rei Davi é provavelmente o meu favorito para estu­
dar. Ele é brilhante e dotado em muitas áreas. Ele é um indivíduo totalmente competente.
Eu não sei de você, mas quando estudo o personagem, eu quase me sinto inferior. Nào
somente ele é um grande soldado, não somente ele é um grande atleta, não somente ele
é um grande poeta e músico, mas também ele é um grande líder. Ele parece ter todas as
capacidades. Ele é a única pessoa na Escritura que Deus descreve como "um homem que
lhe agrada" (I Samuel 13:14)
Mesmo assim este homem é derrubado um dia, quando está em casa em vez do
campo de batalha com suas tropas. Bastou apenas uma mulher para acabar com ele. O
que o Espírito de Deus está nos dizendo por incluir esta tragédia na narrativa? Qual é o
aviso dado para nós? O que destaca sobre nossa humanidade?

Pedro
A razão por que a maioria gosta de Pedro é que ele nos faz lembrar a nós mesmos. Cada
vez que queremos esquecê-lo, nos reconhecemos: "Puxa, ele está dizendo ou fazendo
exatamente o que eu teria dito ou feito". Por exemplo, ele está pronto a atacar sozinho os
homens que queriam prender o Senhor (João 18:10). Mas uma jovem aparece e diz: "Ei!
você não era um de Seus discípulos?"
Ele continua repetindo: "Quem, eu?"
"Sei que você era um deles", insiste.
"Suma mulher", ele diz a ela. "Não faço ideia do que esteja falando".
Então finalmcnte ela diz: "Reconheço o sotaque. É galileu. Era um dos discípulos,
não era?"
E Pedro começa a xingar e amaldiçoar a moça.
Quando voltamos e olhamos para o incidente, indagamos: Quem está dizendo isso?
Bem, é o homem que disse a Jesus: "pode contar comigo". Mas, no momento de crise ele
falhou — assim como você ou eu poderiamos ter falhado. Pedro era humano.

João Marcos
João Marcos é um daqueles personagens que você está sujeito a esquecer porque muito
pouco é falado sobre ele. Ele começa com Paulo e Barnabé, na primeira viagem missio­
nária. Navegam da costa da Palestina a Chipre e eventualmente, à Ásia Menor. Tão logo
atingem terra firme, João Marcos volta para casa (Atos 13:13).
Mais tarde, Paulo e Barnabé decidem viajar novamente e Barnabé sugere que levem
João Marcos. Paulo, porém diz: "De modo nenhum. Não o levaremos. Ele nos abandonou
tin última vez, v nào quero correr o rluco de novo". O texto diz que eles tiveram tamanho
desentendimento (não o laça mais brando!) que se separaram (Atos 15:36-39).
Somente já no final da vida de Paulo, é que ele escreve: "Toma contigo a Marcos e
traze-o, pois me é útil para o ministério" (2 Timóteo 4:11). Como foi que João Marcos se
tornou útil? Certamente não foi através de Paulo. Foi Barnabé quem o levou e o desenvol­
veu até que se tornasse uma pessoa a quem Deus poderia usar.
Há um toque de autenticidade nos relatos de todas essas pessoas. Mas é fácil deixar
de percebê-lo se seus olhos não estiverem procurando por coisas que são da vida real.
Quando estudar a Palavra de Deus, certifique-se de "ligá-la" à vida real. Assim, você
descobrirá que as pessoas na narrativa bíblica são exatamente como você e eu. Elas são
cortadas do mesmo rolo de tecido humano.

Bem, eis o que temos: seis pistas a se procurar cada vez que abrir a sua Bíblia.

1. Que coisas são enfatizadas? (polegar)


2. Que coisas são repetidas? (indicador)
3. Que coisas são relacionadas? (dedo médio)
4. Que coisas são semelhantes? (anelar)
5. Que coisas são diferentes? (mínimo)
6. Que coisas são da vida real? (palma da mão)

Há precedente bíblico para tais perguntas? Penso que sim. Considere Provérbios
20:12. É a passagem mais "audiovisual" da Bíblia: "O ouvido que ouve [que é o compo­
nente áudio] e o olho que vê [o componente visual], o Senhor os fez assim um como o
outro".
Deste modo, sua tarefa está evidente: Aprender a ouvir. Aprender a ver.
Considere o
Quadro Geral
Neste capítulo, chegamos ao departamento da faculdade na escola da Observação.
Lembre-se de que começamos com um versículo: Atos 1:8. Foi muito fácil. Daí, partimos
para um parágrafo: Neemias 1:4-11, onde observamos uma coleção de versículos revol­
vendo à volta de um tema comum: a oração de Neemias.
Agora iremos ver o que chamamos segmento, uma coleção de parágrafos unidos
por um tema comum. Primeiramente estudarei uma seção que mostrará a você como é a
observação naquela escala. Então, alistarei algumas sugestões específicas para o ajudar a
observar seções bíblicas por si mesmo.

COMECE COM UMA VISÃO GERAL

A seção que iremos estudar é Marcos 4-5. Encorajo-o a abrir sua Bíblia, já que a pas­
sagem é muito extensa para ser reproduzida aqui. Pare por alguns minutos agora, para
ler estes dois capítulos antes de prosseguir.

Dois segmentos
Na verdade, temos dois segmentos nesta porção. Marcos 4:1-34 contém o que chamo de
segmento parábola. Note que o capítulo 4 começa com Jesus ensinando próximo ao Mar
da Galiléia. O versículo 2 nos diz: “Assim lhes ensinava muitas cousas por parábolas".
Esta é uma situação de ensino e as parábolas são o principal meio de comunicação. Na
verdade, nos versículos 33-34, lemos:

"E com muitas parábolas semelhantes lhes expunha a palavra, conforme o


permitia a capacidade dos ouvintes. E sem parábolas não lhes falava; tudo,
porém, explicava em particular aos seus próprios discípulos."
lint Ao, no trecho que vonwçrt em 4:35 e continua até 5:43, lemos um segmento de
milagres, que envolve uma wérlv de quatro milagres: o milagre da tempestade (4:35-41); o
milagre do endemoninhado (5:1-20); o milagre da mulher com um fluxo de sangue (5:23-
34) e o milagre da filha de Jairo (5:21-24, 35-43). O que podemos observar sobre a ordem
na qual Marcos os relatou? Note que eles estão arranjados gradativamente
Examinando agora as parábolas, que expressão chave se repete? "Quem tem ou­
vidos para ouvir, ouça" (4:9, 23). Ainda me lembro da primeira vez que a li. Pensei, o
que será que isso significa? Afinal, o que mais se pode fazer com as orelhas? Desde então
descobri que as pessoas fazem todo o tipo de coisa com suas orelhas — colocam brincos,
acumulam cera, tudo, menos ouvir.
Deixarei que você examine este primeiro segmento em detalhes sozinho.
Após terminar o ensino, Jesus passa aos testes. Como vê, Jesus era um ótimo pro­
fessor: dava testes. Mas não do tipo que damos em escolas de hoje, para ver o quanto um
aluno pode apinhar em seu crânio para depois despejar no exame. Quando Jesus dava
testes, eram testes a nível de realidade, de experiência de vida. Então podemos dizer que
os primeiros trinta e quatro versículos do capítulo 4 representam a preleção; daí as coisas
vão para o laboratório. Jesus sabia que você aprende a fé, não numa preleção, mas no
laboratório da vida.
Quero focalizar os quatro milagres e quero fazê-lo de maneira bastante especial.
Você fará muitas descobertas na fase da Observação em seu estudo bíblico. Mas isso apre­
senta um problema: como organizar o material para fazer uso eficiente dele? Sugiro uma
estratégia chamada quadro de divisões, mostrado na próxima página. Quando temos mui­
tos parágrafos e muito material, como acontece neste caso, um quadro assim pode nos
ajudar a resumir tudo de maneira manejável.
Alistei os quatro milagres na coluna do lado esquerdo. Comparemos os milagres
em cinco áreas, conforme o alistado na parte de cima do quadro: Qual a esfera no qual o
milagre aconteceu? Quem eram as pessoas envolvidas? Que meio Cristo usou para efetu­
ar o milagre? qual foi o resultado? E finalmente — e mais importante à luz da seção das
parábolas — qual era o componente da fé?

A Esfera
Comecemos com a tempestade acalmada (4:35-41). Evidentemente, isso acontece no reino
físico. Assim, podemos escrevê-lo no quadro. Eles estão no lago quando uma tremenda
tempestade surge, e Jesus a acalma.
E o endemoninhado? Este é um pouco mais difícil de se dizer. Sem dúvida ele es­
tava possuído por demônios, o que é basicamente um problema espiritual. Mas acho que
a maioria das pessoas diria que como resultado ele era mentalmente perturbado e tinha
um problema psicológico.
E a mulher com hemorragia? Ela tinha uma óbvia aflição física. Mas após ter, por
doze anos, tentado encontrar alguém que lhe ajudasse, havia provavelmente uma neces­
sidade emocional também.
Marcos 4:35 - 5:42
Milagre Esfera Pessoas Meio Resultados Fé

E a ressurreição da filha de Jairo? Esta realmente envolve os três aspectos — físico,


emocional e espiritual. É importante observar isto. Por este motivo, o milagre é o clímax
da seção.
Alguém poderia dizer que a tempestade acalmada foi apenas uma fascinante coinci­
dência, ou que o endemoninhado teria vivido antes que houvesse assistência psiquiátrica,
que poderiamos ter resolvido o seu problema se ele vivesse nos dias de hoje. Do mesmo
modo, podem dizer que tudo de que a mulher precisava era um bom ginecologista. Mas,
o que dizer sobre a ressurreição da filha de Jairo? Quem poderia resolver tal problema
hoje? Não vejo pessoas no cemitério local, trazendo mortos de volta à vida.
Assim, os milagres foram arranjados gradativamente: Jesus não somente tinha po­
der sobre as esferas mental, psicológica e física; Ele também tinha poder sobre a morte.

As Pessoas
Prossigamos para as pessoas envolvidas. Note quem experimentou o milagre da tempes­
tade acalmada — os discípulos. Vários deles haviam sido pescadores. É muito importante
notar a conexão entre a esfera do milagre e as pessoas envolvidas nele. Aquele não era um
grupo de professores de seminário, morrendo de medo porque o barco estava afundan­
do. Era um grupo de pescadores profissionais. Eles tinham vivido naquele lago e visto
tempestades antes.
Na região da Galileia, ventos predominantes vêm do oeste, e descem aos vales, que
agem como funis. O lago está a 210 metros abaixo do nível do mar, por isso há tremendos
deslocamentos de ar. O fenômeno existe até hoje. Na verdade, da última vez que visitei o
Mar da Galileia, vi uma violenta tempestade se formar em menos de dez minutos.
Aquele* homen* Iwvtam panurtdo por tempestades durante a vida toda, mas nunca
por algo como aquilo.
Note quem mais está lá: Jesus, em profundo sono.
Vejamos o endemoninhado. Certa mente Jesus estava envolvido. Mas o óbvio é o
próprio homem. Sua história é interessante. Outras pessoas sempre tentaram resolver o
seu problema, sem sucesso.
Há outro grupo — a população do município. Eles me fascinam. Há um pobre ho­
mem possuído pelos demônios, e todos o conhecem. "Cuidado com ele", gritavam. "Co-
loquem-no em correntes. Mantenham-no longe da sociedade respeitável". Então, um dia
ele é curado, e pensaríamos que todos diriam: "Puxa! Que história! Publiquem na CNN".
Mas as pessoas sentem tudo, menos entusiasmo — particularmente quando desco­
brem que os demônios tinham entrado em seus porcos, fazendo-os cair num abismo e se
afogar. Como resultado, perdem todo o investimento econômico e ficam "uma fera"! Pre­
ocupam-se mais com a economia local do que com a cura de um ser humano como eles.

Marcos 4:35 - 5:42


Milagre Esfera Pessoas Meio Resultados Fé

acalmozia/

nhado-

Mulher
amv/Uw
de-jangue'

filha'
de'
Jairo-

E a mulher com hemorragia? Nós a vimos no capítulo 22. Aqui os discípulos se tor­
nam muito importantes. Eles criam a atmosfera no versículo 31: "O Senhor vê a multidão
Lhe pressionando e diz: 'Quem me tocou?"' Em outras palavras, "Como vamos saber
quem foi que Te tocou?" É claro, também há a mulher. O texto diz que ela tinha estado
doente por doze anos. É muito tempo e indica que o problema é sério. Há também Jesus.
Prossigamos para a filha de Jairo. Estão presentes Jairo, sua filha e a mãe. Também
Cristo, que toma Pedro, Tiago e João. Isto é instrutivo. Há também uma coleção de pran-
teadores profissionais. Não é fascinante? Jesus entra em cena e declara: "Ela não está
morta. Apenas dorme". E eles dão risada dEle. Era provavelmente a primeira vez que
riam em um funeral.

Os Meios
Ao observemos o meio que Jesus usa em cada um dos milagres. I lá coisas fenomenais
acontecendo. Na tempestade, tudo o que Ele faz é falar. "Acalma-te, emudece!", diz. Ou,
pode-se traduzir: "Sê amordaçada". E a tempestade cessa. O mar se toma completamente
calmo.
Com o endemoninhado, novamente Ele precisa só falar. Com a mulher, Ele nem
mesmo precisa de palavras. Ele usa o toque; na verdade, ela O toca.
Então temos a experiência de Jairo, onde Ele usa tanto toque, quanto palavras. Ele
toma a menina pela mão e também a chama por nome.

Os Resultados
Agora ligaremos os meios com os resultados. O resultado na tempestade acalmada foi
uma "grande bonança", diz o texto. Não sei se você já esteve em uma tempestade no mar.
Mas todo pescador e marinheiro sabe que não é pelo fato da tempestade parar, que o
mar também se acalma. Ele revolve, às vezes por dias a seguir. Mas este foi um milagre,
e houve uma calma imediata.
Com o endemoninhado, os espíritos saem e o homem retorna à normalidade. Na
verdade, o texto diz que ele estava sentado, "vestido, em perfeito juízo". Ele não o fazia
antes do milagre.
Para a mulher com o sangramento, o resultado do toque em Jesus é a cura imediata.
Isto é significativo porque seu problema durou doze anos. Mas não leva doze dias, nem
mesmo doze minutos para que ela se recupere.
Finalmente, a filha de Jairo. Ela se levanta imediatamente, o que indica restauração
instantânea. Ela também começa a andar e comer.


O componente da fé é crítico em cada um destes milagres. Na tempestade, os discípulos
perdem toda a fé. Ficam morrendo de medo. Mesmo após Jesus acalmar as coisas, eles
ainda sentem medo. Não há fé, mas há muito medo.
E os discípulos tinham acabado de ouvir os sermões de Jesus sobre fé, na primeira
parte do capítulo 4. Haviam sentado para ouvir o maior Professor do mundo. Mas quan­
do passam por um exame no lago, seus boletins vêm com um enorme e redondo "zero".
Foram reprovados. Na verdade, Jesus pergunta a eles: "Como é que [de todas as pessoas,
vós!] não tendes fé?" (v. 40).
Quanto ao endemoninhado, sua fé começa com o reconhecimento de quem Jesus é.
Ele tinha vindo à Pessoa certa. E queria segui-LO — expressão clara de comprometimen­
to. Mas Jesus diz: "Não, você precisa ir para casa e dar seu testemunho".
A mulher é talvez, a estrela desta seção no que se relaciona a fé. Ela toma iniciativa
com bane no que tinha ouvido nobre Jesus. E Jesus diz que a sua fé a curara. É impressio­
nante!
Jairo demonstra fé em Cristo através de um processo de dois está-gios. Primeiro ele
vem e diz: "Minha filha esta à morte". É um começo. Mas então seus amigos vêm com
pressa e dizem que sua garotinha havia morrido. Pode imaginar seus sentimentos? En­
quanto há vida, há esperança; mas uma vez morta, tenho certeza de que ele queria apenas
desistir. Deve ter ficado arrasado.
Mas Jesus disse: "Não temas, cri? somente". E ele o faz. Não somente começa em
fé, mas prossegue com ela. E adivinhe quem vê isso? Os discípulos. Lembra, aqueles que
não tinham fé? Eles estão bem ali, vendo este homem que não tem mais razão alguma
para esperar. Ele não tinha estado lá para ouvir os sermões. Mas, tem grande fé porque o
Senhor dissera: "Continue assim. Confie em Mim. Siga-Me". E ele o faz.

Marcos 4:35 - 5:42


Milagre Esfera Pessoas Meio Resultados Fé

Tempestade- Díscipulos-
acalmado/ FíSÍCO/ Jesus-

Jesus
Endemoni­ H ornem/
nhado Mental/
população-

Mulher Jesus
FUíca// Mulher
COlH, fluxO Emocional/
de sangue- Discípulos

pdha/ Física// Jesus


de Emocional// Filha deJairo
Jairo Viscípulos
Espiritual/ Pranteadores

Observe o quadro com as divisões. Conseguimos um incrível volume de material,


mas tudo está resumido de maneira que possamos entender. Podemos estudar o quadro
de dois modos. Primeiro, podemos estudá-lo com posta men te, indo da esquerda para a
direita; isto é, podemos considerar cada um dos milagres e avaliá-los em termos de esfera,
das pessoas, dos meios, do resultado e do elemento da fé.
Por outro lado, podemos estudá-lo comparativamente pelo movimento de cima
para baixo. Por exemplo: Que tipo de fé os discípulos tinham? que tipo de fé o endemoni­
nhado tinha? que tipo de fé a mulher tinha? e que tipo de fé Jairo tinha?
Um quadro como este tem valor inestimável porque provê o máximo retorno de seu
investimento no processo de estudo bíblico. Toda vez que você voltar a esta passagem,
poderá se dirigir ao quadro e brevemente rever o conteúdo da seção. Você não tem de
começar do zero a cada vez. Nem tem de confiarem sua memória. Na verdade, fazendo
quadros é tão valioso ao passo de observação que iremos analisá-lo com mais detalhes no
próximo capítulo.

COMO ESTUDAR UMA SEÇÃO

Permita-me porém, fazer primeiramente algumas sugestões sobre como compilar o


máximo de uma seção das Escrituras.

1. Leia a seção toda completamente. Aliás, tente lê-la duas ou três vezes, talvez em
diferentes traduções, se possível.

2. Identifique os parágrafos e ponha um rótulo ou título em cada um deles. Na


seção que verificamos acima, rotulei os quatro milagres conforme demonstrado
na coluna da esquerda no quadro. Lembre-se de que o parágrafo é a unidade
básica do estudo. Por isso, é importante entender a ideia ou tema principal de
cada parágrafo, e então expressá-la em uma ou duas palavras.

3. Avalie cada parágrafo à luz de outros parágrafos. Use as seis pistas para procu­
rar relacionamentos que dei anteriormente no livro. No quadro de divisões aci­
ma, comparei e contrastei os quatro milagres de acordo com a esfera, as pessoas,
os meios, o resultado e o elemento da fé.

4. Avalie como a seção como um todo se relaciona com o restante do livro, usando
os mesmos princípios (coisas enfatizadas, repetidas, e assim por diante).

5. Tente expressar o ponto principal da seção. Veja se consegue reduzi-lo a uma pa­
lavra ou frase pequena que resume o conteúdo. Por exemplo, eu poderia chamar
Marcos 4-5 "os sermões e o laboratório da fé".

6. Mantenha uma lista de observações na seção. Melhor ainda, registre-as em sua


Bíblia, usando palavras breves e descritivas.

7. Estude as pessoas e os lugares mencionados. Veja o que pode aprender sobre


eles que possa dar luz à seção como um todo.

8. Mantenha uma lista de perguntas não respondidas e de problemas não resolvi­


dos. Estes se tornam avenidas para investigações adicionais.

9. Pergunte-se: o que vi nesta seção que desafia meu modo de viver? Que questões
práticas se refere a passagem? Que mudança preciso considerar à luz deste estu­
do? Que oração preciso fazer como resultado do que estudei?

10. Compartilhe os resultados de seu estudo com alguém.


Marcos 4:35 - 5:42
Milagre Esfera Pessoas Meio Resultados Fé

hwtpeitode Dúcipuloy Fala/ grander Sem fé


acalmada/ Fúnxxv bcrrumça/ Só medo-

Jew Reconheci­
l ndetnonv- Homem (sentado, mento-
it/uulo Mental/ Fala
■vestido, e»n- Desejo-de
População-
perfeitojui%o) seguir

Mulher Jcsus-
FitiCO-/ Mother Cara Sua-fe
com/fluxo- Emocional/ Toque a/curou/
de sangue ‘Discípulos- imediata-

Filha- Eiiica// Jesus- Fica em pé-,


Toque Grande
de Emocional// Filha-dejalro andae
Discípulos- Fala/ Fó
Jairo- Espiritual/ come
Pranteadore*

Experimente
Tenho uma passagem para você experimentar, agora que mostrei como observar
uma seção. E a parábola do semeador, em Mateus 13:1-23. Abaixo há um quadro
de divisões para o ajudar a começar, o qual considera quatro questões para cada
um dos quatro tipos de solo: como Jesus descreve o solo? que tipo de crescimento
acontece? quais os obstáculos ao crescimento? qual a consequência ou resultado do
ato de plantar?

SOLOS DESCRIÇÃO CRESCIMENTO OBSTÁCULOS RESULTADOS


capítulo 25

Resuma Suas
Observações
Um dos desenvolvimentos mais significativos de nossa era desde a publicação da pri­
meira edição de Vivendo na Palavra foi o surgimento da Internet. Hojez é provável que não
exista nenhum tópico de interesse aos seres humanos para o qual não haja um website em
algum lugar. Uma boa parte dessas informações on-line está baseada em textos. Mas, por
virtude de suas capacidades de vídeo, a Internet demanda, de uma forma ou de outra, a
sumarização das informações de modo que contribua particularmente para a leitura rápi­
da. Usuários querem ir direto ao assunto o mais rápido possível, e gráficos convincentes
são o principal meio para tal fim. Na verdade, a Internet, juntamente com a televisão e o
cinema, tem como que redefinido a forma de nos comunicarmos hoje em dia: tornou-se
mais importante mostrar do que dizer.
Há uma lição aqui para o estudante das Escrituras. O estudo bíblico é intensivo no
que tange a informações. Se fizer a tarefa de Observação conforme descreví nos capítulos
anteriores, você obterá mais dados do que poderá manusear. E isso é um problema, por­
que que benefício há na informação que não pode ser acessada? Uma solução é a estra­
tégia da Internet: Mostrar em vez de dizer. Resuma suas descobertas de maneira gráfica.
Um quadro é particularmente eficiente.

O VALOR DOS QUADROS

Um quadro é para o estudante da Bíblia o que um mapa é para o marinheiro. Ajuda-


o na navegação do oceano de palavras, páginas, livros, idéias, personagens e outras infor­
mações. Sem um quadro ou dispositivo semelhante, ele estará sujeito a afundar nas águas
rasas da sobrecarga mental. Há detalhes demais para se manter controle.
Entretanto, um bom quadro pode mantê-lo na rota de várias maneiras. Primeira, o
qumlro uma o poder dn HiiNtrAçAo. Into ó partlculnrmvnte úlll em noiwn cultura. Confor»
nw doMnquei nnteriormcnti' em um capítulo, vivemos wn uma sociedade visualmente
liHvntada. Hoje preíere-ne imagens a textos. Os quadros íazem uso disso. Eles podem
mostrar os relacionamentos entre versículos, parágrafos, seções e até livros. Com o uso
de um quadro, você poderá compreender o propósito e a estrutura de uma porção das
Kscrituras num relance.
Um quadro bem formulado também tende a ser memorável. Novamente, esta é
grandemente a função de seu apelo visual. Por exemplo, suponha que você nunca tenha
memorizado os nomes dos livros da Bíblia. Se eu lhe desse uma lista deles, você prova­
velmente levaria algum tempo para memorizá-la perfeitamente. Mas se eu lhe mostrasse
um quadro dos livros organizados em categorias, você poderia memorizar seus nomes
muito mais rapidamente. (Veja página 29.) Isto ocorre porque um quadro lhe dá alguns
pontos de referências visuais.
Um último benefício digno de menção é a maneira com que um quadro pode ilustrar
NUaN observações. Por exemplo, mencionei as seis pistas a se procurar: coisas enfatizadas,
repetidas, relacionadas, e assim por diante. Um quadro pode mostrar tais descobertas. Pode
Ilustrar as partes à luz do todo. Pode salientar idéias ou personagens importantes. Pode
demonstrar contrastes e comparações. Pode destacar termos e expressões chaves. Mais im­
portante, pode trazer um esboço da estrutura, que é crucial para o propósito do autor.

A ARTE DO QUADRO

O quadro é uma ferramenta incrivelmente útil para o estudo bíblico, mas lembre-se
de que é apenas um meio para se chegar a um fim. Seu objetivo final ao estudar a Palavra
de Deus não é produzir um quadro, mas produzir mudança em sua vida. O quadro é
simplesmente um modo de manusear a informação que você seleciona do texto.
Permita-me discutir os exemplos de quadros mostrados aqui e então alistarei algu­
mas sugestões de como começar a produzir quadros efetivos.

O Evangelho de Marcos
"Veto para Servir" "Dara Sua Vida"
e
PRÓLOGO SERVIÇO SACRIFÍCIO EPÍLOGO

Quem
Jesus Quem dizem Para Jesus...
Veio é que onde recebido
sou? Vai? no céu
Ele?

1:1-45 2:1 8:26 8:27 30 8:31 15:47 16:1-20

Sua Pessoa e Seu Propósito


Marcos
O primeiro quadro (na página seguinte) mostra o evangelho de Marcou; o livro todo num
relance, em um único pedaço de papel. A pessoa que o fez observou que o versículo cha­
ve, aquele que realmente resume a estrutura do livro, é 10:45: "Pois o próprio filho do ho­
mem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos".
Isso o ajudou a observar que o livro é dividido em duas porções principais: a pri­
meira metade lida com o serviço de Jesus, e a última, com o Seu sacrifício. Pode-se ver
como ele expôs no quadro estas c outras observações, para que pudesse entender tanto
visual quanto verbalmente o livro num relance.
Particularmente, gosto deste quadro porque é simples. Se o aumentássemos para o
tamanho de uma página, poderiamos acrescentar todo tipo de detalhe. Mas assim como
é, temos o básico. Sabemos imediatamente do que se trata o evangelho de Marcos.

1 Pedro
O quadro da próxima página é aquele que desenvolví para 1 Pedro, o livro a que chamo
uma "Apostila para Santos Sofredores". (Segunda Pedro é a "Apostila para Santos Signi­
ficativos".)
Conforme estudei I Pedro, notei que há três divisões principais no livro, três princi­
pais assuntos mencionados: salvação, submissão e sofrimento. E interessante pensar ne­
les em ordem inversa: o sofrimento nunca fará sentido até que haja submissão à vontade

1 PEDRO
Apostila para Santos Sofredores
Como prosseguir - Não Parar
SALVAÇÃO SUBMISSÃO SOFRIMENTO

privilégios da salvação no estado como cidadão


1:2-12 2:13-17; civil 3:13-4:6
produtos da salvação no lar como santo
1:13-25 2:18-25: social 4:7-19
processo de salvação na família como pastor
2:1-10 3:1-7; doméstica 5:1-7
como soldado
5:8-11

A DOUTRINA É 0 ESTILO DE VIDA 0 FORMÃO PARA


DINÂMICA! DO CRISTÃO! ENTALHAR A ALMA!

1:3 2:10 2:11 3:12 3:13 5:11

O DESTINO do 0 DEVER do A DISCIPLINA do


Cristão Cristão Cristão
do Prti; v Nubmlmi&o nunca fnrA wnlldo ntó que w entenda o que ê a mIvaçAo. I;. assim que
o escritor desdobra seu argumento pelos cinco capítulos do livro.

MALAQUIAS
"O Lamento do Amor Ferido"

REPREENSÃO REPREENSÃO APELO

Sacerdotes Acusação Reação


Intro. 1:6-2:9 2:17 3:7-18 Concl.
1:1-5 4:4-6
Povo Anúncio Razão
2:10-16 2:17 3:6 3:7 4:3

1:6 2:16 2:17 3:6 3:7 4:3

Malaquias
O próximo exemplo mostra Malaquias. Entitulei-o "O Lamento do Amor Ferido". Quer
estudar um livro do Antigo Testamento? Este é o indicado. Lembra-se de que falamos
sobre o uso da abordagem pergunta-e-resposta (capítulo 11)? Bem, Malaquias era o pro­
feta cuja mente era ocupada por um ponto de interrogação. Vez após vez, ele pergunta:
"quem, eu?"
Como vemos em Malaquias, Deus repreende a nação de Israel por seus pecados.
Cada vez que Ele o faz, o povo responde: "prove". São como uma criancinha com a mão
no pote de biscoitos, cheia de farelos em sua roupa. A mãe diz: "Filho, eu disse para você
não pegar os biscoitos".

LUCAS
Lei de Proporção
cf.
A criança diz: "que biscoitos?"
Isto é exatamente o que temos neste livro.

Lucas
Você precisa pensar nos quadros como mais do que simplesmente um produto final, poli­
do de seu estudo. Eles são, na verdade, ferramentas poderosas para o ajudar a investigar
o texto.
Por exemplo, eis uma visão geral do evangelho de Lucas que mostra o que chamo
de lei de proporção. Falamos sobre procurar por coisas que são enfatizadas pela quan­
tidade de espaço dedicada a elas. A lei de proporção diz que a importância do material
para a intenção de um autor é proporcionalmente direta à quantidade de espaço que ele
dá ao material. Um quadro como este ilustra este princípio.

Efésios
Note o quadro de divisões de Efésios na próxima página. Lembre-se, usei um quadro de
divisões no último capítulo para estudar Marcos 4-5.
Digamos que eu tenha observado a epístola aos Efésios, e noto que há quatro temas
que aparecem várias vezes: a graça de Deus, a atividade de Satanás, o estilo de vida ou
o "andar" do crente, e oração. Assim, preciso perguntar: Há alguma relação entre estes
temas? Um é mais dominante que outro? Quanto espaço é dedicado a cada um? Como se
relacionam com o tema e a estrutura gerais do livro?
Um quadro de divisões pode me ajudar a perceber estes quatro temas pela carta
para que, quando terminar, possa enxergar estas relações.

EFÉSIOS

Oração
Amor
() quadro abaixo, é diíetvnlv d<m outros. líle resume um estudo tópico sobre o amor.
b.Ntudos tópicos são fascinantes porque consideram um assunto que aparece em várias
passagens, e então correlacionam os resultados. Aqui, o estudo revelou que duas passa­
gens chaves em Mateus são textos centrais no assunto do amor. Uma fornece o padrão
para o amor, que é o amor de Deus, e a outra descreve o processo do amor, que é amar aos
outros como a si mesmo. Note que o texto alternativo é 1 Coríntios 13, o capítulo do amor.
O estudo também revelou que quando se trata da prática do amor, há três campos
de ação — amor a Deus, amor a nós mesmos e amor ao próximo. Em cada caso, há uma
verdade revelada a se considerar e uma resposta a ela.
Há obviamente outras maneiras de se organizar este material e mostrar as relações.
O que importa é que o quadro faz sentido para a pessoa que o monta. O quadro precisa
mostrar o que ele, ou ela, descobriu no texto, e é a sua ferramenta, seu modo de se apro­
priar do texto.

AMOR: Uma Série Introdutória

Mt. 5:43-48 - Padrão < Revelação


Resposta

<
Dinâmico
Introd.
Mt. 22:37-40 - Processo
Deus
Dimensional
Nós mesmos
Alternar - 1 Co. 13 Próximo

Próximo Nós mesmos Deus


Revelaçao Revelaçao Revelaçao
1 João 4:7-11,16 Rm. 8:31-39 João 3:16; 16:27
João 17:23-24 Hb. 12:6-11
Resposta
Rm. 5:5-8
João 13:34-35 Resposta
Ef. 2:4-5
Rm. 12:9-13 2 Co. 5:14-15
Rm. 13:8-10 Resposta
Gl. 5:13-15 João 21:15-17

Concl. Cl. 3:14


COMO COMEÇAR A FAZER QUADROS

Você está pronto para pôr mãos a obra, fazendo um quadro? Permita-me algumas
sugestões.
1. Quando estudar um texto, atribua ao conteúdo títulos e rótulos que resumam
o material. Seja criativo. Falei sobre leitura bíblica aquisitiva, em que você se
apropria do texto. Colocar seus próprios títulos nos versículos, parágrafos, se­
ções e livros da Bíblia é uma maneira de fazer isso. Eles o ajudam a reter suas
opiniões em pacotes organizados.
2. Enquanto visualizar seu quadro, pergunte: Quais são os relacionamentos? O
que estou tentando mostrar? Sobre o que é este quadro? Quando o terminar,
como o usarei?
3. Mantenha seus quadros simples. Você sempre poderá acrescentar detalhes; o
desafio é eliminar a desordem. Que idéias, personagens, temas, versículos, ter­
mos e outros dados chaves do texto devem ter prioridade? Qual é a ideia geral?
Que estrutura precisa ser mostrada? Que material você quer ver num relance?
4. Se você achar que tem muito material para incluir num quadro, divida-o e faça
vários quadros. Aliás, muitos dados sem relação são um bom indício de que
você precisa voltar ao texto e fazer mais observações.
5. Mostrei apenas um punhado de possibilidades acima. Há dúzias de outras ma­
neiras de se mostrar relacionamentos no texto. Solte sua imaginação. Desenhe
ilustrações ou símbolos, se isso ajudar. É o seu quadro, faça-o trabalhar por você.
6. Revise seus quadros à luz de seu estudo. Nenhum quadro pode resumir tudo.
Enquanto continuar a estudar a passagem, você ganhará novas percepções que
devem fazer com que você revise ou mesmo refaça seu quadro. Lembre-se, qua­
dros são um meio para se chegar a um fim, não um fim em si mesmos. São úteis
na proporção em que representarem precisamente o que está contido no texto
bíblico.

Experimente
A.gora que você viu várias ilustrações de como fazer um quadro, tente construir
o seu próprio, do livro de Atos, usando as sugestões dadas neste capítulo. Para
começar, reveja o capítulo 6, onde observamos Atos 1:8. Destaquei que os quatro
lugares mencionados — Jerusalém, Judeia, Samaria e os confins da terra — formam
um perfil do livro. Se desejar, você pode usar essa observação já feita, na organiza­
ção de seu material. Ou usar sua própria visão geral. Mas desenvolva um quadro
que resuma o relato de modo que o ajude a entender rapidamente o que acontece
no livro de Atos.
"Fatos
Coisas são
Irrelevantes Até que. .
Lembra-se da história de Louis Agassiz e seu método de ensinar a observar os peixes?

Ele deixou seus alunos em frente a suas espécies por dias e semanas, dando a eles uma
única instrução: "Olhem! olhem! olhem!"
Se eu pudesse dar aos estudantes das Escrituras apenas uma instrução, usaria a
mesma: "Olhem! olhem! olhem!" A verdade de Deus está na Bíblia, mas a maioria das
pessoas não a encontra principalmente porque não a procura. Nunca investem o tempo
e esforço necessários para se responder a pergunta fundamental da Observação: o que
vejo? Como resultado, não têm base para entender o que Deus revelou.
Nesta seção do livro, dei uma introdução ao processo de visão. Conforme desta-
quei, a Observação é somente o primeiro passo no método de estudo bíblico. Mas é um
passo absolutamente crítico, e infelizmente, é aquele a que a maioria das pessoas presta
pouca atenção.
Vimos que, para que se observe as Escrituras, devemos primeiramente aprender a
ler. Temos de aprender a ler melhor e mais rápido, como pela primeira vez, e como se a
Bíblia fosse uma carta de amor. Vimos também dez estratégias que podem nos ajudar a
nos tornarmos leitores da Palavra de Deus de primeira ordem.
Então aprendemos o que devemos procurar no registro bíblico. Descobrimos as seis
pistas que abrem o texto para nosso entendimento: coisas enfatizadas, repetidas, relacio­
nadas, semelhantes, diferentes e coisas da vida real.
Praticamos estas habilidades em três tipos de materiais bíblicos — um versículo,
um parágrafo e uma seção. Vimos que a quantidade de detalhes que o observador pode
descobrir é infinita. E tudo isso conduz a uma maior percepção.
Finalmente, vimos o valor que os quadros têm no resumo dos frutos de nosso estu­
do. Vimos que quadros são ferramentas eficientes para a visualização de dados, permitin­
do que oh utilizemos para o entendimento do texto.
Agora precisamos prosseguir no processo. O professor Agassi/ treinou seus alunos
no método de descoberta de fatos e sua organização metódica, mas nunca ficou satisfeito
em parar por aí. "Fatos são coisas irrelevantes", ele diria, "até que sejam trazidos a uma
conexão com uma lei geral".
Isso nos traz ao segundo passo do método de estudo bíblico. Uma vez tendo visto
o que o texto diz, estamos prontos para a pergunta: o que significa? Assim, passemos à
segunda marcha e vejamos o segundo estágio do processo, a Interpretação.

Experimente

Um de meus alunos me mostrou o exercício a seguir ao observar o relato da


Queda, em Gênesis 3:1-7, o qual é uma excelente oportunidade de usar todas as
habilidades que você aprendeu nesta seção.

Segunda
Leia Gênesis 3:1-7 da perspectiva do Pai celestial testemunhando do céu o pecado
de Seus filhos.

Terça
Leia o relato com o objetivo de achar o versículo mais importante do parágrafo.

Quarta
Leia-o da perspectiva de Satanás quando tenta os filhos de Deus.

Quinta
Leia com o objetivo de determinar como esta passagem afeta seu entendimento do
que Jesus fez na cruz.

Sexta
Leia da perspectiva de Adão e Eva quando estão pecando. O que se passava em
suas mentes?

Sábado
Leia da perspectiva de alguém que não saiba nada sobre a Bíblia ou coisas "religio­
sas", e que esteja lendo esta passagem pela primeira vez.
Segundo Passo

Interpretação
O que quer dizer?
capítulo 27

O Valor da
Interpretação
Certa vez ouvi um orador fazer uma excelente apresentação de uma passagem das Es­
crituras. Na saída do auditório, ouvi sem querer duas pessoas conversando.
"Bem", uma delas perguntava, "o que achou?"
A outra pessoa ergueu os ombros com desdcm. "Não achei muita coisa. Ele nâo fez
coisa nenhuma a não ser explicar a Bíblia".
Nada, a não ser explicar a Bíblia? Ora, este é o maior elogio que posso imaginar.
Afinal, a tarefa primária de qualquer professor das Escrituras é explicar o que o texto quer
dizer. Você sabe, é impossível aplicar a Palavra de Deus a menos que a entendamos. Na
verdade, quanto melhor você a entende, melhor a aplica. Foi por isso que Davi orou: "Dá-
me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo o coração a cumprirei" (Salmo 119:34).
Agir de acordo com o que Deus disse indica que se entende aquilo que Ele disse.
E por isso que o segundo passo mais importante do estudo bíblico de primeira mão é a
interpretação. Aqui você procura a resposta para a pergunta: o que significa?

“VOCÊ ENTENDE O QUE ESTÁ LENDO?”

Atos 8 registra a história de Filipe. Filipe era um dos maiores evangelistas de sua
época. Pregou o evangelho em Samaria e a região inteira reagiu positivamente. Um dia,
porém, o Espírito de Deus disse a ele: "Dispõe-te e vai para a banda do sul, no caminho
que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto".
"O quê?" ele poderia ter argumentado. "Sou um homem metropolitano. Só faço
grandes cruzadas, não entro em negócio de evangelismo pessoal".
Mas ao invés disso, ele se dirige ao sul e, no caminho encontra um homem, um eu-
nuco etíope. Na realidade, o homem é secretário do tesouro de seu país. Eles se envolvem
numa convvmaçAo. (.) oficial vinha lendo uma pamingem das Escriturai».
Então Filipe pergunta: "Você entende o que lê?"
Imagine-se dentro de um avião, sentado perto de alguém que está lendo a revista
Veja. Você pergunta: "Ei, você entende o que está lendo?" Acho que a pessoa lhe diria
coisas que você não gostaria de ouvir.
Mas Filipe devia saber como fazer aquela pergunta, porque o homem responde:
"Bem, como poderei, se alguém nào me explicar?" (v. 31).
Guarde bem: este homem tinha uma cópia das Escrituras, mas precisava de ajuda
para entendê-la. Ele estava profundamente envolvido no processo de Interpretação. Isso
fica claro por causa da pergunta perceptiva que faz após ler a passagem: "Peço-te que me
expliques a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro?" (v. 34).
Filipe ajudou o homem a ganhar percepção naquilo que o texto queria dizer. E
depois de ter entendido, ele foi capaz de reagir em fé. O versículo 39 diz que ele foi para
casa cheio de júbilo. Assim, o passo da Interpretação ajudou literalmente a abrir a Africa
para o evangelho.

O QUE QUER DIZER INTERPRETAÇÃO?

Todo livro das Escrituras tem uma mensagem, e toda mensagem pode ser entendi­
da. Você não se pergunta, às vezes, se a Bíblia não é apenas um gigantesco enigma? Deus
pretendeu que Ela fosse uma revelação. Segunda Timóteo 3:16 diz: "Toda Escritura é útil"
(itálico acrescido); isto é, tem propósito e significado. Deus não está brincando de esconde-
esconde com você. Ele não o convida para ler a Sua Palavra só para lhe embaraçar e con­
fundir. Ele está muito mais interessado em que você entenda do que você mesmo está.
Mas o ponto é, o que quer dizer "significado"? Permita-me dar uma ilustração.
Sou parcialmente daltônico, portanto, não consigo distinguir entre a cor verde e a azul.
Suponha que você me tenha mostrado um suéter e dito: "Professor, gosto muito deste
suéter azul". Estaríamos ambos olhando para o mesmo suéter, mas a cor que você veria
não seria a mesma cor que eu vejo.
Isso acontece o tempo todo na interpretação bíblica. Duas pessoas lêem o mesmo
versículo e surgem duas interpretações completamente diferentes. Na verdade, elas po­
dem ser interpretações opostas. Mas, poderíam as duas estar corretas? Não se as leis da
lógica se aplicam às Escrituras.
Infelizmente, porém, muitas pessoas hoje decidiram que as leis da lógica não se
aplicam às Escrituras. Para elas, não importa se você vê o texto azul e eu verde. Na rea­
lidade, não importa nem de que cor o texto realmente é. Para elas, o significado do texto
não está no texto, mas em suas reações ao texto. E todos são livres para ter suas próprias
reações. O significado se torna puramente subjetivo.
Por outro lado, há boas razões pelas quais cristãos podem discordar na interpre­
tação de uma passagem. Voltaremos a isso no próximo capítulo. Mas, se temos de ter
qualquer esperança de interpretar precisamente n Palavra de Dvun, temos de começar
com uma premissa fundamental: "significado" nào é nosso pensamento lido no texto,
mas a verdade objetiva de Deus lida do texto. Como alguém disse, e bem, o alvo do estu­
do bíblico é "pensar os pensamentos de Deus de acordo com Ele". Ele tem uma mente e
a revelou em Sua Palavra.
O milagre é que Ele usou autores humanos para o fazer. Operando através de suas
personalidades, suas circunstâncias e suas preocupações, o Espírito Santo superintendeu
a manufatura de um documento, e cada um dos autores humanos — podemos chamá-los
co-autores de Deus — teve uma mensagem específica em mente quando registrou sua
porção do texto.
E por isso que gosto de me referir ao passo da Interpretação como o processo de
recriação. Tentamos nos colocar no lugar do autor e recriar a sua experiência — pensar
como ele pensava, sentir como ele sentia e decidir como ele decidia. Perguntamos: o que
isso significava para ele? antes de perguntarmos: o que isso significa para nós?

A CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO

Sendo assim, como a Interpretação se relaciona com a Observação? Lembre-se de


que na Observação, fizemos e respondemos a pergunta: o que vejo? Esta foi a fase do
alicerce do estudo bíblico, a colocação da pedra angular. Tendo feito isso, precisamos
prosseguir para a Interpretação, onde desenvolvemos a superestrutura.
Na Observação, escavamos. Na Interpretação, erigimos. Os prédios são sempre de­
terminados por suas fundações. Quanto mais substancial a fundação, mais substancial a
superestrutura.
Imagine que fomos ao centro da cidade e vimos trabalhadores, cavando uma fun­
dação. Na realidade, eles têm feito isso por dois anos e meio. Então, põem uma laje nela e
convidam o público para a cerimônia de dedicação. Nós comparecemos — para encontrar
apenas uma "coisinha de nada" bem no meio da laje. Perguntamos automaticamente:
"para quê isso? tamanha fundação para um prediozinho tão minúsculo?"
Da mesma maneira, a qualidade de sua interpretação sempre dependerá da quali­
dade de sua observação. E impossível entender o que um escritor quer dizer até que se
note o que ele diz. Portanto, observar bem é interpretar bem. Você sempre precisa obser­
var com vistas à interpretação (e eventualmente à aplicação) das Escrituras. A Observação
jamais é um fim em si mesma, mas sempre um meio a se chegar ao fim.

POR QUE INTERPRETAÇÃO?

A questão permanece: por que temos de interpretar as Escrituras? Por que não po­
demos simplesmente abrir a Palavra, ler o que temos de ler e então praticá-la? Por que
temos de passar por tantos problemas para entender o texto? A resposta é que o tempo
e d dlntAncía lançaram barrtMran entre* nó» e os escritores bíblicos, o que bloqueia nosso
entendimento. Precisamos avaliar o que são tais barricadas; elas nào sào intransponíveis,
mas substanciais. Vejamos alguns deles.

Barreiras de linguagem
Você já estudou uma língua estrangeira? Se já, sabe que aprender as palavras nào é sufi­
ciente. Temos de aprender a disposição mental, a cultura, a visão de mundo daqueles que
falam a língua, se realmente quisermos entender o que estão dizendo.
Da mesma maneira, quando se trata da Bíblia, temos excelentes traduções das lín­
guas hebraica, grega e aramaica, nas quais foi originalmente escrita. Mesmo assim, o
texto em português nos deixa muito longe de um entendimento completo. E por isso que
o processo de Interpretação envolve o uso de um dicionário da Bíblia e recursos seme­
lhantes. Temos de voltar e recuperar as nuanças de significado que as palavras traduzidas
sozinhas não podem transmitir.

Barreiras culturais
Estas estão intimamente relacionadas com os problemas de linguagem porque linguagem
é sempre restrita à cultura. A Bíblia é o produto e a apresentação de culturas que são
dramaticamente diferentes da nossa — e também divergem entre si. Para que se aprecie
o que acontece nas Escrituras, temos de reconstruir o contexto cultural nas áreas da co­
municação, transporte, comércio, agricultura, profissões, religião, percepções de tempo
e assim por diante.
É aqui onde a arqueologia se faz muito útil. Sugerirei algumas fontes de consulta
no capítulo 34.

Barreiras literárias
Outro problema com que nos deparamos na interpretação das Escrituras é a variedade de
terrenos. Se fossem todos montanhosos, desérticos ou oceanos, poderiamos nos equipar
apropriadamente e ir ao ataque. Mas os gêneros literários da Bíblia são bastante diversos
e exigem abordagens vastamente diferentes. Não podemos ler Cantares de Salomão com
a mesma lógica fria que trazemos a Romanos. Não conseguiremos captar o ponto das pa­
rábolas através dos mesmos exaustivos estudos de palavras que podem revelar verdades
em Gálatas.
No capítulo 29, falarei sobre os diferentes tipos de literatura na Bíblia, com suges­
tões para a interpretação de cada um.

Barreiras de comunicação
Talvez você já tenha visto o desenho "Far Side" no qual o primeiro painel mostra um
homem, dando uma bronca em seu cão, dizendo: "Ok, Ginger! Basta! Fique longe do lixo!
Entendeu, Ginger? Fique longe do lixo, ou então...!" A legenda diz: "O que as pessoas
dizem". () painel seguinte mostra n situaçAo do ponto de vista do cAo, legendado: "O que
os cAes ouvem. Blá, blá, blá, blá...!"
As vezes, sinto-me assim como professor. Pergunto-me o que meus alunos estão
ouvindo, e francamente, eles estão provavelmente se perguntando do que é que estou
falando.
E o antigo problema da comunicação. Mesmo que o próprio Deus esteja falando
através das Escrituras, devemos contender com colapsos no processo de comunicação.
Como criaturas finitas, nunca poderemos saber completamente o que se passa na mente
de outra pessoa. Como resultado disso, temos de estabelecer objetivos limitados em nossa
interpretação das Escrituras.
Mas, podemos interpretar alguma coisa? É possível interpretar a Bíblia? É claro que
sim. Mas você precisa saber que sempre irá encontrar problemas. Você nunca poderá
responder todas as perguntas — como percebeu sabiamente um maduro pregador. Ele
estava jantando em um restaurante quando o ateu local entrou, pensando em se divertir
um pouco com ele. O cético sentou-se, apontou para a Bíblia do ministro e perguntou:
"Reverendo, o senhor ainda crê nesse livro?"
"Evidentemente", respondeu o velho cavalheiro.
"O senhor quer dizer que acredita em tudo nele?"
"Em cada palavra."
"Bem", disse, "há alguma coisa que o senhor não possa explicar?"
"Oh, sim, há muitas coisas que não posso explicar", respondeu o pregador. Abriu
sua Bíblia e mostrou ao camarada todos os pontos de interrogação que havia anotado nas
margens.
Surpreso, o homem perguntou: "Bem, o que faz com todas as coisas que não sabe
explicar?"
Ele disse: "Muito simples. Faço o mesmo que faço com o peixe que estou comendo.
Como a carne e coloco todas as espinhas de lado no prato, e então deixo os tolos se en­
gasgarem com elas".
Todos os dias me deparo com pessoas que ficam realmente pasmadas pelo fato de
eu e outros profissionais, professores de um seminário teológico, não podermos explicar
tudo que está na Bíblia. Assim, normalmente provoco o pensamento delas com uma per­
gunta: Realmente te incomoda que eu, como pessoa finita, não consiga entender comple­
tamente uma Pessoa infinita? Incomoda? Me incomodaria mais se eu conseguisse, porque
então eu não precisaria de Deus. Seria tão sábio quanto Ele.
Não se enrosque em nós por causa de problemas e perguntas irrespondíveis que
surgem em seu estudo bíblico. O milagre está em que você consiga entender todas as coi­
sas essenciais que Deus quer que entenda para sua salvação eterna e para sua vida diária.
Isso nos traz ao que é realmente uma quinta barreira ao entendimento do texto
bíblico — o problema da interpretação falha. Quero advertir-lhe de alguns perigos no
próximo capítulo.
NAo Si i Grego nem Hebraico!"

'Você já se sentiu impedido de entender a Bíblia por nào conhecer as línguas nas
quais foi originalmente escrita? Você não precisa mais sentir-se assim, graças aos
muitos recursos extrabíblicos que têm sido desenvolvidos nos últimos anos. Dis­
cutirei alguns deles no capítulo 34. Mas eis uma prévia daquilo que há disponível
para o ajudar a interpretar as Escrituras de maneira precisa.

TIPO DE DESCRIÇÃO USE-O PARA


RECURSO SUPERAR...

Atlas Coleção de mapas que mos­ Barreiras geográficas


tram lugares mencionados
no texto, e talvez descrição de
sua história e significado

Dicionários Explicam origem, significado Barreiras linguísticas


bíblicos e uso de palavras e termos
chaves no texto

Manuais Apresentam informação útil Barreiras culturais


bíblicos sobre assuntos do texto

Comentários Apresentam o estudo de um Barreiras linguísticas,


erudito bíblico culturais e literárias

Textos Traduções com o texto grego Barreiras linguísticas


interlineares ou hebraico posicionado
entre as linhas para comparação
capítulo 28

Manuseie com
Cuidado!
Uma manhã de domingo eu estava em casa me recuperando de uma cirurgia, quando
dois homens apareceram, um mais velho, outro mais novo, ambos bem vestidos. "Esta­
mos fazendo visitas em seu bairro hoje para falar às pessoas sobre Deus e religião", me
disseram. "Podemos entrar?"
Curioso para ver como isso terminaria, eu disse: "Claro, entrem! Eu adoraria con­
versar".
Assim, começamos a conversar. Eles falavam sempre de uma mesma passagem es­
pecífica, e eu dizia: "Mas isto não é o que a Bíblia diz".
"Ah, é sim", o mais jovem insistia. "É em grego". Ele não sabia que eu ensinava no
seminário.
Então perguntei: "O que grego tem a ver com isso?"
"Bem, Sr. Hendricks, aparentemente o senhor não sabe que o Novo Testamento foi
escrito em grego."
"Na verdade", respondí, "isso me fascina. Você estuda grego?"
Ele disse: "Sim, é uma parte de nosso programa de treinamento".
"Bom", respondi, e dei a ele meu Novo Testamento em grego. Daria qualquer coisa
para ter registrado em fita o que aconteceu a seguir. Ele manuseou desajeitadamente o
texto, tentando fazer com que fizesse sentido. O homem mais velho adiantou-se para
tentar salvá-lo. Finalmente, eu disse: "Esperem um momento", e li a passagem para eles,
primeiro em grego, depois em inglês e disse: "Como vêem, o texto não diz isso. E não
quer dizer isso".
O mais novo achou aquilo muito interessante, mas seu companheiro mais velho
o apressou para sair dali. (Nunca mais fui visitado por aquele grupo. Sem dúvida eles
fizeram de tudo para ficar longe de Hendricks.) Mas o que aconteceu continua a cada dia
<ln mini, <* por todo o mundo, () problema nào eutá com a Palavra dr Drus, maa com a
má interpretação do texto.

RISCOS A SE EVITAR

Permita-me mencionar seis armadilhas de interpretação. Cuidado com elas quando


vatudar as Escrituras.

MA leitura do texto
Você jamais adquirirá entendimento adequado das Escrituras se não ler ou não souber
ler o texto apropriadamente. Se Jesus diz "Eu sou o caminho" (João 14:6), mas você lê:
"Eu sou um caminho", não está lendo o texto corretamente. Se Paulo escreve: "Porque
o amor do dinheiro é raiz de todos os males" (1 Timóteo 6:10), mas você o lê como: "O
dinheiro é a raiz de todo o mal", não está lendo o texto corretamente. Se o salmista clama:
"Agrada-te do Senhor, e ele satisfará aos desejos do teu coração" (Salmo 37:4), mas toda a
nua atenção se concentra em "Ele satisfará aos desejos do teu coração", está lendo o texto
Incorretamente.
Por isso é que eu disse, no começo deste livro, que se você quiser estudar a Palavra
de Deus, tem de aprender a ler. Não há outra maneira. A ignorância do que o texto diz é
pecado imperdoável de interpretação. Demonstra que você realmente não fez sua lição de
casa. Pulou o primeiro passo do método de estudo bíblico — a Observação.

Distorção do texto
Os dois homens que me visitaram naquela manhã de domingo eram culpados de distor­
ção do texto. Estavam fazendo com que o texto dissesse aquilo que queriam, não o que
realmente dizia.
Aparentemente Pedro encontrou o mesmo problema na igreja primitiva, porque
em 2 Pedro 3:16, escreve: "há certas coisas difíceis de entender [nas cartas de Paulo]"
(Phillips). (Isso sempre me consolou muito. Se Pedro não podia entendê-las, creio que não
estou tão mal assim.) "Que os ignorantes e instáveis deturpam como também deturpam
as demais Escrituras, para a própria destruição deles."
Uma coisa é lutarmos com as dificuldades de interpretação; outra, é distorcer o signi­
ficado da Palavra de Deus. Isso é sério, e é algo que Ele trará a julgamento, portanto preci­
samos tomar cuidado e aprender a interpretar as Escrituras de modo preciso, prático e útil.

Contradição do texto
Contradizer o texto é pior ainda do que distorcê-lo. Equivale a chamar Deus de mentiro­
so. A ilustração clássica é Satanás no jardim do Éden:

"Disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do
jardim?
Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das Arvores do jardim podemos co­
mer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele nâo
comereis, nem tocareis nele, para que não morrais.
Então a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis"
(Gênesis 3:1-4).

Esta é uma contradição direta da Palavra de Deus expressa (Gênesis 2:16-17). Não
se admira que Jesus tenha chamado Satanás de mentiroso e pai da mentira (João 8:44).
Satanás mentiu desde o princípio da história, e ainda mente hoje, encorajando pessoas a
contradizerem o texto bíblico.
Uma de suas estratégias favoritas é o uso das palavras de Deus para autorizar uma
crença ou prática que contrarie o caráter de Deus. Por acaso é Deus um desmancha-pra­
zeres que se deleita na culpa e auto-flagelação dos seres humanos? Ou recompensa a fé e
o bom comportamento com prosperidade material? É a favor de orgias sexuais selvagens
e imoralidades semelhantes? E a favor do genocídio de negros, judeus, orientais, ameri­
canos nativos, muçulmanos, dos idosos, dos que nâo nasceram ainda, dos insanos, dos
deficientes mentais, ou dos "geneticamente inferiores"? É evidente que não. Mas há pes­
soas que têm usado as Escrituras para argumentar exatamente a favor desse tipo de coisa.

Subjetivismo
Muitos cristãos toleram uma forma de misticismo ao lerem a Bíblia, a qual não tolerariam
em nenhum outro reino. Violam cada princípio de razão e bom senso. Seu estudo bíblico
é totalmente subjetivo. Passeiam pelas Escrituras, esperando que um "tremor no fígado"
lhes diga se encontraram minério precioso.
Não há nada errado em se ter uma reação emocional à Palavra de Deus. Mas, como
mencionei no último capítulo, o significado do texto está no texto, não em nossa resposta
subjetiva ao texto.
No clássico de Lewis Carrol, a segunda parte de "Alice no País das Maravilhas", a
Rainha Branca envolve Alice em um instrutivo diálogo:

"Quantos anos você tem?"


"Exatamente sete anos e meio."
"Você não precisa dizer 'exatamente"', observou a Rainha: "Acredito no
que disse. Agora direi algo para você acreditar. Tenho precisamente cento e
um anos, cinco meses e um dia".
"Não posso acreditar nisso", disse Alice.
"Não?" a Rainha disse, em tom de piedade. "Tente novamente: respire
bem fundo e feche os olhos".
Alice riu. "Não adianta tentar", ela disse: "não dá para acreditar em coisas
impossíveis".
"Eu d Iria que você nAo lem tido multi» prática", diam* a Rainha. "Quando
ou tinha a mia idade, fazia im»o meia hora por dia. Ora, às vezes tinha acredi­
tado em seis coisas impossíveis antes do café da manhã".

Temo que esta seja a condição de muitas pessoas hoje. Acham que nossa fé significa
respirar fundo, fechar os olhos e crer naquilo que, lá no fundo, sabemos ser absolutamen-
te inacreditável. O cristianismo tem sido caricaturado como a religião de homens que não
pensam.
Mas nada poderia estar mais longe da verdade. Jesus disse que o maior mandamen­
to é amar o Senhor de todo seu coração, alma e mente. Quando se torna cristão, você não
põe o cérebro em ponto morto. Não enfia a cabeça num balde de água e dispara um .45
nela! Não comete suicídio intelectual.
Então permita-me uma pergunta: você ama o Senhor com toda a sua mente? No
passo da interpretação, posso assegurar-lhe de que, se quiser interpretar as Escrituras
precisa e perceptivamente, terá de usar a mente. Como disse anteriormente, a Bíblia não
entrega seu fruto ao preguiçoso — e isso inclui o intelectualmente preguiçoso. Assim,
prepare-se para exercitar alguns músculos mentais.

Relativismo
Algumas pessoas abordam as Escrituras presumindo, que a Bíblia mude de significado
de acordo com a época. O texto significava uma coisa quando foi escrito, mas hoje signi­
fica algo diferente. Seu significado é relativo.
Considere a ressurreição de Jesus. Conforme Frank Morison averiguou (capítulo 8),
não há outra explicação digna de crédito para o comportamento dos discípulos de Jesus
após Sua partida além da que eles creram sinceramente em uma ressurreição corpórea.
É a respeito disso que Paulo fala em 1 Coríntios 15. Iloje porém, alguns professores têm
mudado o que Paulo quis dizer. Sim, ele está falando sobre uma ressurreição, dizem; mas
agora trata-se de uma ressurreição espiritual, uma "novidade de vida". Para eles, não
importa se Jesus realmente levantou-Se e saiu da sepultura — contanto que Ele "viva em
seu coração". Esta é uma interpretação relativista das Escrituras.
Quando chegarmos na Aplicação, veremos que uma passagem pode ter muitas im­
plicações práticas. Mas pode ter apenas uma interpretação correta, um significado — de­
finitivamente, o significado que teve para o escritor original. Temos que reconstruir sua
mensagem se desejarmos um entendimento preciso.

1 Lewis Carroll, Alice in Wonderland - Alice no País das Maravilhas (Philadelphia, Pennsylvania: The
John C. Winston, Company, 1923,198.
Confiança exceaalva
No estudo bíblico, bem como na vida, o orgulho antecede a queda. Quando você achar
que domina uma porção das Escrituras, estará propenso a levar um tombo. Por quê? Por­
que a sabedoria envaidece (1 Coríntios 8:1). Pode fazê-lo arrogante e resistente ao ensino.
Alguns dos piores abusos de doutrina ocorrem quando alguém tem pretensões a ser a
autoridade máxima sobre o texto.
Alguns de nós temos estudado as Escrituras por toda a vida. Ainda assim, nenhum
ser humano poderá jamais dominar mais do que um livro da Bíblia, mesmo durante uma
vida inteira de estudo em tempo integral. Então não pense que, quando estudar a Bíblia
por meia hora ou quarenta e cinco minutos, sairá com as respostas definitivas.
Isto não significa que você não deva chegar a conclusões sobre o significado do
texto, ou que não possa sentir-se confiante naquilo que crê. Apenas lembre-se de que a In­
terpretação nunca termina. Você jamais poderá chegar ao término de seu estudo e dizer:
"Bem, terminei, agora conheço a passagem".

O DIREITO DE DISCORDAR

A luz de todos estes perigos, é realmente possível chegar a uma interpretação pre­
cisa do texto bíblico? Sim, é. Nos próximos capítulos, mostrarei como.
Mas deixe-me enfatizar um último ponto antes de nos lançarmos ao processo. Mes­
mo que uma passagem bíblica tenha definitivamente uma única interpretação correta,
você sempre irá encontrar dois cristãos que discordam sobre qual determinada interpre­
tação deva ser. Isso pode se tornar frustrante, mas é inevitável. Duas pessoas podem ob­
servar o mesmo assalto a banco, mas no tribunal o descreverão em termos completamente
diferentes.
Diferenças de interpretação são aceitáveis, contanto que mantenhamos em mente
que o conflito não está no texto, mas em nosso entendimento limitado do texto. Deus não
fica confuso sobre o que disse, mesmo que nós fiquemos.
Precisamos também preservar o direito de discordar uns dos outros, juntamente
com a responsabilidade de sermos tão fiéis e precisos ao texto quanto pudermos. Em 2 Ti­
móteo 2:15, Paulo nos encoraja, dizendo: "Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade".
Este versículo é como uma grande placa pendurada na Bíblia, dizendo: "Manuseie
com cuidado!" Este é um bom lema para o passo da Interpretação. Então, comecemos.
Quero mostrar a você como evitar armadilhas e como colher os benefícios de um enten­
dimento preciso da Palavra de Deus.
O que a Bíbija Realmente diz?

Çjuase toda grande heresia começa com uma má leitura do texto bíblico. Eis algu­
mas afirmações errôneas comuns, e o que a Bíblia realmente diz.

O QUE ALGUMAS O QUE A BÍBLIA DIZ


PESSOAS DIZEM

"O dinheiro é a raiz "O amor do dinheiro é raiz


de todo o mal." de todos os males" (1 Timóteo 6:10).

"Jesus nunca disse "Também dizia [Jesus] que Deus


que era Deus." era seu próprio Pai, fazendo-se
igual a Deus" (João 5:18).
"Eu e o Pai somos um" (João 10:30).

"Somos todos deuses "O Senhor é Deus; nenhum outro


ou parte de Deus." há senão ele" (Deuteronômio 4:35).
"Há outro Deus além de mim? Não,
não há outra Rocha que eu conheça"
(Isaías 44:8).

"Jesus era apenas um "Estes, porém, foram registrados


grande mestre moral." para que creiais que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus" (João 20:31).

"A Bíblia diz que os "Exorta aos ricos...que não sejam


cristãos devem dar orgulhosos, nem depositem a sua es­
seus pertences." perança na instabilidade da riqueza,
mas em Deus" (1 Timóteo 6:17).
"Trabalhar com as próprias mãos...
de modo que...de nada venhais a pre­
cisar (1 Tessalonicenses 4-11-12).

"A Bíblia diz que o "Maldita é a terra" (Gênesis 3:17).


trabalho é uma mal­ "Tudo quanto fizerdes, fazei-o de
dição." coração...a Cristo, o Senhor é que
estais servindo" (Colossenses 3:23-24).

"Todas as religiões "Não há salvação em nenhum outro"


levam ao mesmo fim. (Atos 4:12).
Não existe apenas uma
religião certa".
Que Tipo de
Literatura é Esta?
Em Prefácio ao Paraíso Perdido, C. S. Lewis escreve:
A primeira qualificação para o julgamento de qualquer trabalho, desde um
saca-rolha até uma catedral, é saber o que é — o que se pretendia que ele fi­
zesse e como deveria ser usado. Após estas descobertas, o reformador da liga
antialcoólica pode decidir que o saca-rolha foi feito com um mal propósito,
e o comunista pode pensar o mesmo sobre a catedral. Mas tais questões vêm
mais tarde. A primeira coisa a se fazer é entender o objeto diante de você: en­
quanto se pensar que o saca-rolhas foi feito para abrir latas ou a catedral para
entreter turistas, não se pode dizer nada sobre o propósito deles. A primeira
coisa que o leitor precisa saber sobre o Paraíso Perdido é o que Milton pretendia
que ele fosse.1

O mesmo poderia ser dito sobre a Palavra de Deus. Antes de nos lançarmos ao
estudo de um livro da Bíblia, a primeira coisa que um leitor precisa saber é o que o autor
do livro pretendia que ele fosse. Em outras palavras, que tipo de literatura ele estava es­
crevendo? Que forma literária empregou?
Como vê, o gênero literário é crucial à interpretação. Suponha que eu escolha um
texto das Escrituras ao acaso: "Tomara, ó Deus, desses cabo do perverso" (Salmo 139:19);
ou, "Que pensais vós contra o Senhor? Ele mesmo vos consumirá de todo" (Naum 1:9); ou

1 C.S. Lewis, A Preface to Paradise Lost - Prefácio para o Paraíso Perdido (Londres: Oxford University
Press, 1942), 1.
"Pai AbrnAo, tem mlncrlcórdln de mim! r mando a Lázaro..." (Lucas 16:24); ou: "Depois
destiiN cousas olhei, e eis nAo somente uma porta aberta no céu..." (Apocalipse 4:1). A me­
nos que você saiba de que tipos de literatura foram retirados, não é possível determinar
0 significado deles.

GÊNEROS BÍBLICOS

Neste capítulo, quero fazer uma breve introdução a seis tipos de escritas que apare­
cem na Bíblia, e como elas influenciam o nosso entendimento. Observe que isto é apenas
uma introdução. Nós mal "pincelaremos" o assunto de estilo literário, que é absoluta­
mente fascinante. Carreiras inteiras têm sido baseadas em aprender a fundo as especifica­
ções dos vários gêneros bíblicos, isso sem mencionar seus subconjuntos.
Então, permita-me contextualizar este capítulo por meio de uma analogia. Supo­
nha que este livro falasse sobre o aprendizado da leitura musical c não da leitura bíblica.
Como um aluno principiante de música, você precisaria conhecer o básico sobre as notas
v escalas, armações de clave e outros rudimentos da leitura de partituras. O objetivo seria
dar uma iniciação a você. Com algum conhecimento fundamental e habilidades (e prá­
tica), você seria capaz de ler todos os tipos de composições musicais, de 23"iMary Had a
Little Lamb" passando por ’"Climb Every Mountain" até chegar a 4"Rock of Ages".
Com o progresso de sua habilidade, um mundo todo novo se revelaria a você. Na
verdade, você descobriría que há todos os tipos de música que soam muito diferentes,
Bão tocadas de forma bastante distinta, e têm efeitos diversos sobre as pessoas: sinfonias,
concertos, poemas sinfônicos, música de época, música incidental, música de câmara,
marchas, cânticos litúrgicos, hinos, folk music, blues, improvisação jazzística, country
and western, country swing, boogie woogie, reggae, hip-hop - a variedade é infinita.
Cada uma dessas classificações tem seu próprio estilo, ou "regras", se preferir cha­
mar assim, às quais a música deve se conformar. É isso que o gênero é: um estilo que carac­
teriza um grupo de composições. Quanto mais você entende sobre um dado gênero mu­
sical, mais é capaz de apreciar a música daquele gênero. Mas observe: qualquer que seja
o gênero a que a música se conforme, ela ainda dependerá de padrões básicos de notas e
escalas, armações de clave e assim por diante. Na verdade, é difícil apreciar plenamente
um dado gênero se você não conta com o benefício de conhecer o básico.
Há uma situação semelhante no estudo da Bíblia. Este livro fornece a você algumas
informações básicas, a sua iniciação. Mas quanto mais experiência ganhar, mais você des­
cobrirá que há diferentes estilos de Escrituras: todos inspirados por Deus, com certeza,
mas distintos em termos de estilo literário. Quanto mais você entende sobre determinado

2 Música estadunidense para crianças do século XIX. Melodia de execução musical muito simples.
3 Música que compõe o musical "Sound of Music". Musicalmente complexa.
4 “Rock of Ages" c um hino cristão popular de autoria do Reverendo Augustus Montague Toplady.
Foi escrito em 1763 e primeiramente publicado na The Gospel Magazine, em 1775. (Fonte: Wikipedia)
estilo, mais consegue interpreter as Escrituras.
Não corra para sair do básico em um esforço mal orientado para c hegar ao “creme"
de imediato. Estudantes da Bíblia iniciantes precisam de um método que funcione com
todo gênero antes aprenderem os passos especiais necessários para o trabalho avançado.
Não importa se você está estudando a linda poesia do Salmo 23, o argumento constru­
ído de forma lógica de Romanos, a sabedoria enigmática de Eclesiastes ou as terríveis
advertências de Judas. A metodologia básica se aplica a tudo. Primeiro você observa a
passagem usando princípios básicos da observação. Depois interpreta a passagem usan­
do princípios básicos de interpretação. Então, você aplica a passagem usando princípios
básicos de aplicação. Assim como na leitura musical, as habilidades avançadas de leitura
precisa das Escrituras dependem do domínio de alguns fundamentos essenciais.
Todos nós podemos ser melhores alunos da Bíblia se aprendermos mais sobre esti­
los literários. Fazer isso aguçará as nossas observações, tomando-nos mais cientes do que
procurar. Isto refinará as nossas interpretações, conferindo perspectiva e insight de como
o autor bíblico escolheu comunicar. E isso fortalecerá nossas aplicações dando-nos mais
confiança de que encontramos o autor em seus próprios termos, em seu próprio mundo,
a fim de que o entendamos bem o suficiente para coletar verdades que transformarão o
nosso mundo, mesmo que muitos séculos nos separem.
Eis, então, seis dos principais gêneros literários que Deus usou para comunicar a
Sua mensagem.

Exposição
Exposição é um argumento ou explicação direta da parte principal de uma verdade obje­
tiva. É uma forma de escrita que apela basicamente à mente. O argumento normalmente
tem uma estrutura rígida que vai de ponto a ponto de modo lógico.
As cartas de Paulo são exemplos destacados da forma expositiva nas Escrituras. O
livro de Romanos é uma explicação rigorosamente fundamentada do evangelho. Paulo
argumenta como um advogado que apresenta um caso diante do tribunal, fato que não
surpreende, porque sabemos que quando jovem, Paulo teve treinamento rabínico exten­
sivo, inclusive artes oratórias.
Por exemplo, ele une parágrafos e capítulos com palavras de transição, ou conecti-
vas, como pois, portanto, e, e mas. Faz amplo uso da questão retórica (por exemplo, 2:17-21,
26; 3:1,3,5; 4:1,3,9), e usa sentenças longas e elaboradas (por exemplo, 1:28-32; 9:3-5). Por
outro lado, ele também emprega passagens curtas e rápidas que golpeiam a mente (por
exemplo, 7:7-25; 12:9-21).
Se você está apenas começando a estudar a Bíblia, os livros expositivos são ideais. O
significado deles encontra-se perto da superfície. Eles apelam à preferência de uma pes­
soa comum pela lógica, estrutura e ordem. E seus propósitos são facilmente entendidos;
pois praticamente se esboçam sozinhos. Por outro lado, também contribuem para uma
estimulante análise em profundidade porque suas verdades são inesgotáveis.
A chave para o vnlvndimvnto dv um trabalho de exposição é prestar atenção em
nua estrutura e nos termos que emprega. Veremos um exemplo em Romanos quando
chegarmos ao capítulo 37.

Narrativa e biografia
Narrativa significa história. A Bíblia está cheia de histórias, o que é uma das razões pelas
quais é tão popular.
Por exemplo, Gênesis relata a história da criação do mundo, a história do dilúvio,
a história da torre de Babel e a história dos patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e José. Êxodo
continua a história, relatando a saída de Israel do Egito, conduzido por Moisés. Rute con­
ta a história de Rute, a bisavó do rei Davi.
No Novo Testamento, os quatro evangelhos contam a história de Jesus de quatro
pontos de vista diferentes. Um deles, Lucas, continua a narrativa em Atos dos Apóstolos,
conforme já vimos. Dentre os relatos de Jesus, encontramos histórias que Ele contou a
Seus seguidores (falarei mais sobre isso em breve).
A Bíblia é densamente composta de histórias. Isso contribui para que a leitura seja
interessante, mas também para que a interpretação seja interessante. O que devemos fa­
zer com as histórias da Bíblia? Como determinamos seu significado e importância?
"Não há método exceto ser muito inteligente", observou T. S. Eliot. Talvez, mas
permita-me sugerir três coisas a se prestar atenção.
Primeira, qual é o enredo? Em outras palavras, que movimento há na história? Este
pode ser físico, como no caso dos israelitas, atravessando a península do Sinai em Êxodo;
poderia ser espiritual, como no caso de Sansào em Juizes, ou Jonas no livro de Jonas; po­
deria ser também relacionai, como em Rute, ou político, como em 1 e 2 Reis. A pergunta
é, que desenvolvimento há na história? O que modifica no fim do livro, e por quê?
Outra coisa a se estudar é a caracterização. Quem está no elenco de personagens?
Como são apresentados? Que papéis fazem? Que decisões tomam? Como se relacionam
entre si e com Deus? Que progresso ou regresso fazem? Eles falham? Se sim, por quê? Por
que estão na história? De que maneiras são indivíduos, e de que maneiras representativas
de outras pessoas? O que gostamos ou não gostamos neles? O que faríamos em lugar
deles?
Um terceiro elemento a se considerar é, de que maneiras a história se aplica à vida
real? Lembre-se, esta foi uma das pistas a se procurar durante a Observação, e é também
um caminho para o entendimento. As histórias das Escrituras nos mostram a vida con­
forme Deus quer que a vejamos. Podemos perguntar: Que questões esta história levanta?
Com que problemas os personagens têm de lidar? Que lições aprendem, ou deixam de
aprender? Que coisas enfrentam, as quais devemos com certeza evitar? Ou como lidam
com coisas inevitáveis da vida? O que descobrem sobre Deus?
Há muito mais a se notar nas narrativas das Escrituras. Mas se você começar fa­
zendo a si mesmo perguntas desse tipo, percorrerá uma longa distância em direção ao
entendimento daquilo que as histórias querem dizer.

Parábolas
Intimamente relacionadas com a narrativa estão a parábola e sua prima, a alegoria. Uma
parábola é um breve conto que ilustra um princípio moral. A maioria das parábolas nas
Escrituras vêm do ensino de Jesus. Na verdade, podemos inferir do relato de Mateus que
a parábola pode ter sido o Seu método preferido de comunicação (Mateus 13:34).
É fácil ver por quê. Parábolas são simples, memoráveis e interessantes. A maioria c
de fácil entendimento. Elas lidam com assuntos da vida diária como lavoura, pesca, via­
gens, finanças e relacionamentos humanos. E parábolas normalmente têm como objetivo
causar profundo impacto. Elas remetem o ouvinte à consciência usando princípios éticos
básicos como certo e errado (o semeador e os três tipos de sementes), amor e compaixão
(o filho pródigo, o bom samaritano) e justiça e misericórdia (o Fariseu e o cobrador de
impostos).
É importante notar que as parábolas são uma forma de ficção. Mas isso de modo
algum implica que elas não transmitam verdade. Elas comunicam verdades que não po­
dem ser comunicadas de outra forma. A parábola "meio" que pega de surpresa o ponto
cego das pessoas, afastando as defesas e apelando à imaginação e ao coração. Ela compele
as pessoas a enxergarem algum aspecto da vida de maneira totalmente nova. Se você de­
seja ver um exemplo poderoso disso em ação, leia a parábola de Natã sobre a ovelha do
homem pobre, em 2 Samuel 12:1-10.

Poesia
A Bíblia contém algumas das mais refinadas linhas de versos já compostas. Na reali­
dade, algumas se tornaram ícones em nossa cultura: "O Senhor é o meu pastor:/ nada
me faltará" (Salmo 23:1); "Deus é o nosso refúgio e fortaleza,/ socorro bem presente nas
tribulações" (Salmo 46:1); "Tudo tem o seu tempo determinado,/ e há tempo para todo
propósito debaixo do céu" (Eclesiastes 3:1); "Pai nosso que estás nos céus, santificado seja
o teu nome" (Mateus 6:9).
A característica distintiva de poesia é seu apelo às emoções, bem como à imagi­
nação. É por isso que os salmos são tão populares. Eles expressam os mais profundos
sentimentos, desejos, êxtase e dor do coração humano.
Mas quando estudar um verso bíblico, certifique-se de entender a dinâmica da poe­
sia hebraica. Em primeiro lugar, a maioria dos salmos foram feitos para serem cantados,
e não lidos. Foram compostos para o louvor e muitos incluem notas de prefácio sobre que
tipos de instrumentos deveríam acompanhá-los. Assim, mesmo que não tenhamos mais
a música com a qual eram cantados, você ainda deve prestar atenção em como eles soam
(o que é verdade para toda poesia).
Uma das principais características da poesia hebraica é seu uso extensivo de "pa-
ralelismos". Se você der uma olhada pelos salmos, por exemplo, notará que a maioria
doa versou têm duna llnhdw, An duna linhas «e independem uma da outra para comunicar
Nignificado. Àa vezes, a segunda linha reforça o que a primeira linha diz, repetindo seu
pensamento. Por exemplo, o Salmo 103:15 diz:

"Quanto ao homem, seus dias são como a relva;


como a flor do campo, assim ele floresce."

Algumas vezes ela estenderá o pensamento, acrescentando novas informações,


como no Salmo 32:2:

"Bem aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniqüidade,


e em cujo espírito não há dolo."

E às vezes, a segunda linha se opõe à primeira com um pensamento alternativo:

"Bem aventurado o homem que põe no Senhor a sua confiança,


e não pende para os arrogantes, nem para os afeiçoados à mentira."
(Salmo 40:4)

Outra chave para a apreciação da poesia hebraica é o reconhecimento da "hipér-


bole", linguagem extrema ou exagerada que chega a seu objetivo através do excesso.
Anteriormente citei uma linha do Salmo 139. Eis um contexto maior:

"Tomara, ó Deus, desses cabo do perverso;


apartai-vos, pois, de mim, homens de sangue.
Eles se rebelam insidiosamente contra ti,
e como teus inimigos falam malícia.
Não aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem?
e não abomino os que contra ti se levantam?
Aborreço-os com ódio consumado:
para mim são inimigos de fato."
(vv. 19-22)

Esta é uma linguagem estranha para se encontrar na Bíblia. O que acontece aqui?
A resposta é notar de quem Davi está falando — dos "perversos", pessoas que haviam
derramado sangue, falado contra Deus, tomado o Seu nome em vão (violações dos Dez
Mandamentos), e sob outros aspectos, demonstrado que odeiam o Senhor. Ao se toma­
rem inimigos de Deus, tomaram-se inimigos de Davi. De maneira formal e ritualizada,
ele os denuncia com a linguagem mais forte que encontra.
Eis outras questões interpretativas a se considerar enquanto abordar a poesia da
Bíblia: Quem compôs o material? Dá para determinar por quê? Qual o tema central do
poema? Que emoções o verso transmite, e que reação produz? Que |x*rguntas faz? Quais
reponde, e quais deixa sem resposta? O que o poema diz sobre Deus? li sobre as pessoas?
Que imagens o poeta usa para acender a imaginação? Há referências a pessoas, lugares
ou eventos que você não conhece? Se sim, o que é possível descobrir sobre eles em outras
passagens das Escrituras ou através de fontes secundárias?

Provérbios e a literatura de sabedoria


Uma das pedreiras mais ricas a se minerar no material bíblico é a ampla categoria co­
nhecida como literatura de sabedoria. Neste gênero, o escritor assume o papel de um
enrugado veterano de vida preparado para compartilhar suas percepções com um leitor
mais jovem, inexperiente, porém desejoso de aprender.
O livro de Provérbios obviamente pertence a esta categoria. Um provérbio é uma
pepita de verdade, pequena e comovente, tipicamente prática, e freqüentemente preocu­
pada com as conseqüências do rumo de um comportamento. Como a poesia dos salmos
que vimos acima, os provérbios fazem uso estratégico de paralelismos, especialmente o
parceiramento de opostos. Por exemplo, Provérbios 15:27:

"O que é ávido por lucro desonesto transtorna a sua casa,


mas o que odeia o suborno, esse viverá." (itálico acrescido)

E Provérbios 20:3:

"Honroso é para o homem o desviar-se de contendas,


mas todo insensato se mete em rixas." (itálico acrescido)

Os provérbios vão direto ao assunto. De todo o material bíblico, eles são talvez os
mais fáceis de se entender, embora algumas vezes os mais difíceis de se aplicar. Se você
precisar de uma "vitamina espiritual" para reanimar seu modo de vida, alimente-se de
Provérbios. Será uma festa para sua alma.
Uma palavra de cautela, entretanto: provérbios contêm princípios, não promessas.
Provérbios nos dizem: é assim que a vida funciona, basicamente. O que deixa de ser men­
cionado é o qualificador: a vida nem sempre, 100% das vezes, funciona desta maneira.
Considere Provérbios 21:17 como um caso neste ponto:

Quem ama os prazeres empobrecerá,


Quem ama o vinho e o azeite jamais enriquecerá.

A ideia é que, em geral, esbanjar tempo, energia e recursos em prazeres e vida fácil
eventualmente leva à pobreza. Pense no filho pródigo. Assim, se o objetivo é aumentar
as riquezas, um princípio geral seria: aplique-se ao trabalho honesto e tenha um estilo de
vida disciplinado.
() provérbio cwlá gfiraHtlniln que o trabalho árduo e o estilo disciplinado de vida irão
levar à riqueza? Não. A vida não funciona assim. I lá fatores demais que contribuem para
a criação da riqueza para dizer que o trabalho árduo e a disciplina, somente, sejam tudo o
que é necessário. Inúmeras pessoas no mundo trabalham muito arduamente e mantêm há­
bitos pessoais impecáveis, mas mesmo assim não têm resultados, financeiramente falando.
Isso não nega o princípio do provérbio, simplesmente mostra que o objetivo do princípio é
nos apontar a direção certa, não nos carregar pelo caminho todo até o nosso destino.
Mais problemáticos são os casos que aparecem para negar o provérbio. Assim como
sabemos de trabalhadores árduos que não são ricos, também sabemos de pessoas que
passam a vida sem fazer nada a não ser comer, beber e se alegrar, e mesmo assim acon­
tece de serem bastante ricas. Na verdade, algumas delas ficam ricas tendo um estilo de
vida hedonista. Isso não contradiz a verdade de Provérbios 21:17? Certamente contradiz
a advertência do autor, mas, ao fazê-lo, na verdade, estabelece, ao invés de anular, o que
o autor quer dizer. Claro, vários fatores (como o declínio moral da sociedade) podem
recompensar uma pessoa por nada buscar a não ser o prazer. Mas isso é uma aberração, e
não o curso normal das coisas. Em geral, as pessoas que vivem somente para o prazer vão
à falência. Em geral, as pessoas que brincam com fósforos eventualmente se queimam.

Profecia e literatura apocalíptica


O último e talvez mais desafiador tipo de literatura na Bíblia é o profético. Nossa ten­
dência é pensar em profecia como previsão do futuro, e certamente os livros proféticos
falam do que está por vir; mas uma característica mais notável é o tom de advertência e
julgamento, e o uso de uma fórmula para denotar palavras diretas de Deus: "Assim diz
o Senhor!"
O papel de um profeta nas Escrituras não era prever futuros, mas proclamar as
palavras de Deus; não adiantar, mas "passar adiante", como alguém bem colocou. Deus
levantou profetas em Israel quando ficou claro que o povo estava determinado a resistir a
Ele. A ingrata tarefa deles era advertir a nação das terríveis consequências da desobediên­
cia contínua, na esperança de causar arrependimento e volta do povo ao Senhor.
Ao ler os profetas, é crítico que você recrie a situação. É absolutamente essencial que
você bombardeie o texto com as seis perguntas da leitura bíblica seletiva — quem, o quê,
onde, quando, por quê e qual a razão. As respostas lhe darão uma inestimável base de
informações para se considerar as seguintes questões adicionais: Qual o problema princi­
pal, ao qual o profeta se refere? Que imagens ele usa para descrevê-lo? Qual a reação do
povo? O que a mensagem deste profeta lhe diz sobre Deus? O que acontece depois que
o profeta pronuncia a sua mensagem? Por que você acha que Deus incluiu este livro em
Sua Palavra?
Uma categoria especial de literatura profética é a apocalíptica, da qual Apocalipse
é o primeiro exemplo. Como o termo implica, a literatura apocalíptica lida com eventos
cataclísmicos de proporções globais relativos ao fim do mundo. A linguagem da literatu-
rn apocalíptica é altamente aimbólica, c o» evento» desabrocham em v»|WtAculo» de luz,
som e poder.
Isso faz do gênero um fértil solo para especulação e interpretação subjetiva. Para
que se evite isso, sugiro que quando você estudar Apocalipse, preste muita atenção na
estrutura do livro. Que movimento há do começo ao fim? Que mudanças acontecem?
Também, para quem o material é escrito? Em que contexto histórico e cultural o escritor
trabalhou? Como isso pode ter influenciado seu método de comunicação? Em termos de
entendimento dos símbolos do livro, observe cuidadosa mente o Antigo Testamento para
obter percepções sobre o que o autor está descrevendo. Ao invés de se preocupar com
uma linha de tempo para eventos futuros, pergunte que implicações este livro teria tido
para os cristãos da igreja primitiva.

Gêneros Literários da Bíblia

GÊNERO CARACTERÍSTICAS LIVROS BÍBLICOS


E EXEMPLOS

Apocalíptico Material dramático, altamente Apocalipse


simbólico; imagens mentais
vividas; contrastes perfeitos;
eventos acontecem em escala global;
narrado frequentemente em primeira
pessoa como testemunha ocular;
retrata luta cósmica entre o bem e o mal.

Biografia Visão de perto da vida de um indivíduo; Abraão, Isaque


sujeito frequentemente retratado em Jacó, José,
contraste com outra pessoa; eventos Moisés, Saul,
selecionados revelam desenvolvimento Davi, Eliseu
do personagem, quer positiva Jesus
(comédia) ou negativamente (tragédia).

Encômio Presta alto louvor a alguém ou 1 Samuel 2:1-10


alguma coisa; recita em brilhantes Salmo 19
termos as origens, atos, atributos ou Salmo 119
superioridade do sujeito; exorta o leitor Provérbios 8:22-36
a incorporar os mesmos traços à sua Provérbios 31:10-31
própria vida. Cantares de Salomão
João 1:1-18
1 Coríntios. 13
Colossenses 1:15-20
Hebreus 1-3
GÊNERO CARACTERÍSTICAS LIVROS BÍBLICOS
E EXEMPLOS

Exposição Argumento ou explicação cuidado­ Cartas de Paulo


samente fundamentada; bem organizada; Hebreus
fluxo lógico; termos são cruciais; se Tiago
desenvolve até um clímax lógico 1 e 2 Pedro
e constrangedor; o objetivo é 1, 2 e 3 João
concordância e ação. Judas

Narrativa Categoria ampla na qual a história Gênesis


é proeminente; inclui relatos históricos; Os evangelhos
estrutura transmitida por enredo; Atos
personagens se submetem a
desenvolvimento psicológico e espiritual;
eventos selecionados para transmitir
significado; eventos justapostos
para contraste e comparação.

Oratória Apresentação oral estilizada de um João 13-17


argumento; usa convenções formais de Atos 7
retórica e oratória; cita frequentemente Atos 17:22-31
autoridades bem conhecidas pelos Atos 22:1-21
ouvintes; normalmente pretende Atos 24:10-21
exortar e persuadir. Atos 26:1-23

Parábola Breve história oral ilustrando moral; a 2 Samuel 12:1-6


verdade conta frequentemente com Eclesiastes 9:14-16
personagens de repertório e estereótipos; Mateus 13:1-53
apresenta cenas e atividades comuns à Marcos 4:1-34
vida diária; estimula a reflexão Lucas 15:1-16:31
e auto-avaliação.

Pastoral Literatura que lida com temas rurais Salmo 23


e rústicos, especialmente pastores; Isaías 40:11
densamente descritiva, pouca ação;- João 10:1-18
trequentemente meditativa e calma; com
ênfase no laço entre pastor e suas ovelhas;
apresentação idealizada da vida distante
dos males urbanos.

Poesia Verso escrito para ser declamado ou Jó


cantado, em vez de lido; ênfase na cadência Salmos
e os sons de palavras; imagens e símbolos Provérbios
vividos; apela às emoções; pode empregar Eclesiastes
características de encômio, pastoral e Cantares de
outros estilos literários; no V.T., denso Salomão
uso de paralelismos.
GÊNERO CARACTERÍSTICAS LIVROS BÍBLICOS
E EXEMPLOS

Profecia Apresentação estridente c autoritária Isaías


da vontade e das palavras de Deus; com Malaquias
frequente intenção de correção; escrito
para motivar mudança através de avisos;
prevê os planos de Deus em resposta às
escolhas humanas.

Provérbio Declaração curta e substanciosa de uma Provérbios


verdade moral; reduz a vida a categorias
branco-e-preto; dirige-se frequentemente
a jovens; emprega paralelismos
constantemente; direciona os leitores
ao que é correto e distante do mal;
uso denso de metáforas e símiles.

Sátira Expõe e ridiculariza o vício e a insensatez Provérbios 24:30-34


humana; é empregada por vários estilos Ezequiel 34
literários, especialmente narrativa, Lucas 18:1-8
biografia e provérbio; adverte os leitores 2 Coríntios 11:1-12:1
através de um exemplo negativo.

Tragédia Relata a queda de uma pessoa; usa even­ Ló


tos selecionados para mostrar o caminho Sansão
à ruína; problemas normalmente Saul
revolvem em torno de uma falha crítica no Atos 5:1-11
caráter e escolhas morais da pessoa;
adverte aos leitores através do exemplo
negativo.

Literatura Ampla categoria na qual uma pessoa Jó


de Sabedoria mais velha e amadurecida narra a sabe­ Provérbios
doria a uma mais jovem; pode usar pa­ Salmo 37
rábolas; provê observações em áreas Salmo 90
fundamentais da vida, como nascimento, Eclesiastes
morte, trabalho, dinheiro, poder, tempo,
a terra, e assim por diante; apelo com
base na experiência humana.

Consulte o excelente livro de Leland Ryken, The Literature of the Bible (Grand Rapids: Zonder-
van) para mais auxílio nos tipos de literatura da Bíblia.
CINCO CHAVES PARA A
INTERPRETAÇÃO

Conteúdo
Contexto
Comparação
Cultura
Consulta
Conteúdo
ÇJuando o salmista orou a Deus: "Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei; de todo
o coração a cumprirei" (Salmo 119:34), ele estava batendo à porta da interpretação. Ele
sabia que, sem entendimento do significado do texto, não poderia haver aplicação da
Palavra em sua vida. Por outro lado, uma vez que o Espírito abrisse a porta da percepção,
ele estaria preparado para agir de acordo com o que Deus havia dito.
E você? Qual o seu alvo ao abrir as Escrituras? Mudança de vida? Se é, então pre-
pare-se para a ação, porque Deus sempre abre a porta àquele que bate com essa intenção.
Neste capítulo, quero falar sobre as cinco chaves que o ajudarão a abrir o texto bíbli­
co, cinco princípios básicos de Interpretação. A primeira chave você já tem:

CONTEÚDO

Há uma relação direta de causa e efeito entre o conteúdo e o significado. O con­


teúdo de uma passagem é a matéria prima, a base de informações, com a qual você irá
interpretar o texto. Por causa de seu trabalho na Observação, você já sabe bastante sobre
como determinar o conteúdo de uma passagem.
Lembre-se, procuramos por termos, estrutura, forma literária e atmosfera. Fizemos
uma série de perguntas penetrantes, como: quem, o que, onde, quando, por quê, e qual a
razão. Procuramos por coisas enfatizadas, repetidas, relacionadas, semelhantes, diferen­
tes e da vida real.
Resumindo, obstruímos o texto com várias estratégias que visavam responder a
pergunta: o que vejo? Se você fez bem sua lição de casa, descobriu o conteúdo da passa­
gem. Em outras palavras, respondeu a pergunta; sabe o que o autor está dizendo.
Por isso digo: quanto mais tempo você passar na Observação, menos tempo terá
de gastar com a Interpretação, e mais preciso será seu resultado. Quanto menos tempo
passar na Observação, mais tempo terá de gastar na Interpretação e menos preciso será
seu resultado.
Awim, tudo o que fizer nn Obm*rv<içAo proverá o conteúdo bânlco a partir do qual
você interpretará o signiílcado do texto.
Mas, nào pare aí. Deu# proveu mais quatro chaves para o ajudar a revelar a Sua
Palavra.

Experimente
Neste capítulo, vimos a primeira das cinco chaves da interpretação, o conteúdo.
Quero que você comece um estudo interpretativo que irá prosseguir pelos próxi­
mos cinco capítulos. A seção que quero que considere é Daniel 1-2, uma das passa­
gens mais instrutivas para o crente de hoje, especialmente para o que trabalha no
mercado.
Comece observando o conteúdo de Daniel 1-2. Use todas as ferramentas dis­
cutidas anteriormente no livro. Lembre-se de que seu trabalho neste estágio é de­
terminante para o que você irá interpretar mais tarde. Suas observações formarão a
base de informações a partir da qual você construirá o significado do texto.
Neste primeiro contato com Daniel 1-2, invista o máximo de tempo que puder
respondendo as perguntas da leitura seletiva: Quem? O que? Onde? Quando? Por
quê? E qual a razão?
Contexto
Há uma canção de ritmo "spiritual" que diz:
O osso do joelho está ligado ao da coxa,
O da coxa está ligado ao do quadril,
O do quadril está ligado ao da cauda,
Agora ouça a palavra do Senhor!

A fisiologia é primitiva mas a metodologia é boa, pois reconhece as conexões do


corpo, que tudo permanece unido. Existe unidade.
Assim são as Escrituras. A Bíblia e uma coleção de sessenta e seis livros, unidos em
um só Livro. É um todo unificado, e este é o princípio do qual a segunda chave da inter­
pretação bíblica depende, o:

CONTEXTO

O que quer dizer contexto? O contexto se refere ao que vem antes e ao que vem
depois de algo.
Suponho que qualquer pessoa que tenha tido de enfrentar a imprensa aprecie a
importância do contexto. Quando fui capelão do "Dallas Cowboys", visitei o local antigo
onde treinavam em Thousand Oaks, Califórnia. O zagueiro Roger Staubach havia con­
cordado em ser entrevistado pela Sports Illustrated e eu fiquei na sala com ele durante a
sessão.
Ouvi cada palavra que Roger disse, mas quando li o artigo na publicação do mês
seguinte, não pude acreditar. Várias de suas declarações tinham sido arrancadas de seu
contexto e foram apresentadas de maneira que o significado original foi totalmente dis­
torcido, fazendo parecer que Roger tivesse dito coisas que na verdade nunca disse.
A mesma coisa pode ser feita com a Palavra de Deus. Na verdade, todas as prin-
clpnlí» McItdM nAo (ormnclfln <1 purtir do umn vIolaçAo do princípio do contexto. Mencionei
on doiw homens que vieram me averiguar com sua persuasão religiosa (capitulo 31). Eles
estavam distorcendo o texto das Escrituras. Porém, uma boa parte desse tipo de erro
doutrinário poderia ser corrigida simplesmente pela pergunta: "Por favor, poderia ler os
versículos anteriores ou posteriores?"
Gostaria que tivesse sabido disso quando era menino. Eu costumava fazer visitas
na casa de uma garotinha com quem adorava brincar por se assustar muito facilmente.
(Meninos vibram ao assustar meninas.) Sua casa tinha um antigo salão, onde as cortinas
estavam sempre fechadas. A família raramente o usava, e eu gostava de me esconder ali,
especialmente atrás do sofá, enquanto ela me procurava. Quando finalmente entrava lá,
eu pulava e gritava: "Buuu!" e ela varava o teto de susto.
Mas enquanto estava escondido no salão, eu ocasionalmente esticava o pescoço
para dar uma olhada em volta. Lá na parede havia um cartaz com os dizeres: "Desenvol­
vei a vossa salvação com temor e tremor". Eu tinha uma vaga impressão de que aquilo era
uma citação da Bíblia, mas morria de medo. Eu pensava: Se isso é verdade, não há esperança
para mint. Nunca conseguirei a salvação.
Eu estava certo em pensar que a frase vinha da Bíblia, é a última parte de Filipen-
ses 2:12; mas estava incorreto em meu entendimento de que a salvação seja basicamente
por obras. Infelizmente, muitas pessoas leem esse versículo da maneira como eu o li e
chegam à mesma conclusão errônea. Somente anos mais tarde, foi que vim a descobrir o
que o versículo seguinte diz: "Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade" (v. 13). Isso coloca no versículo 12 uma iluminação
totalmente diferente.
Semelhantemente, lembra-se de nossa observação de Atos 1:8? Passamos rapida­
mente por um parágrafo no versículo 8, e porque o versículo começa com "mas", um
contraste, fomos obrigados a voltar ao contexto precedente. Então encontramos os discí­
pulos, perguntando a Jesus sobre o reino. O versículo 8 tornou-se parte de Sua resposta.
Mas também descobrimos que imediatamente após o versículo 8 acontece a ascen­
são. E isso causando profundo efeito ao versículo 8. O que Jesus disse ali tomou-se as
últimas palavras de Sua vida e, é claro, últimas palavras são palavras que permanecem.
Assim, dado o contexto, Seus ouvintes nunca haveríam de esquecer o que aconteceu e o
que Jesus disse. Suas palavras devem tê-los galvanizado na ação.
Assim, quando estudar um versículo, parágrafo, seção, ou até um livro inteiro —
consulte sempre os vizinhos daquele versículo, parágrafo, seção, ou livro. Quando se
perder, suba numa árvore contextual e ganhe visão.

VÁRIOS TIPOS DE CONTEXTO

Há vários tipos de contexto. Cada um expressa um ponto de vista diferente sobre a


passagem que se está considerando.
Contexto literário
No exemplo de Atos 1:8, no capitulo 6, vimos uma ilustração de contexto literário, Isto
é, as palavras colocadas antes e depois do versículo 8. O contexto literário de qualquer
versículo é o parágrafo do qual faz parte, a seção da qual o parágrafo é parte, e o livro do
qual a seção é parte. E devido à unidade das Escrituras, o contexto definitivo de qualquer
livro é a Bíblia toda.

Contexto histórico
Em outras palavras, quando o fato está acontecendo? Onde na história a passagem se
encaixa? O que está acontecendo no mundo na mesma época? Quais são as influências
sociais, políticas e tecnológicas sobre o autor e sobre aqueles para quem escreve?

Contexto cultural
A cultura tem poderosa influência sobre todas as formas de comunicação, e as culturas
nos tempos bíblicos tiveram profundo efeito na criação da Bíblia. Assim, quanto mais
você souber sobre culturas antigas, mais visão terá do texto. Porque isso é muito impor­
tante, voltarei a falar sobre o assunto, bem como sobre a questão do contexto histórico,
no capítulo 33.

Contexto geográfico
Geografia é um assunto fascinante incrivelmente relevante à interpretação das Escrituras.
Por exemplo, em Marcos 4 vimos o milagre da tempestade acalmada. Destaquei as
características geográficas da região ao redor do Mar da Galileia que ocasionam tempes­
tades como aquela. Saber disso presta tremenda relevância e realismo ao relato de Marcos
e ainda provê uma pista de quão violenta a tempestade deve ter sido; tendo aterrorizado
os pescadores que, durante toda uma vida, haviam visto tempestades naquele lago.
A investigação do contexto geográfico responde perguntas como: Como era o ter­
reno? Que características topográficas faziam a região especial? Como era o clima? Qual
a distância entre essa cidade e os lugares mencionados no texto? Quais eram as rotas de
transporte para o povo? Qual o tamanho da cidade? Como era a planta da cidade? Por
que tipo de coisa o local era conhecido?
No capítulo 34 mencionarei alguns recursos, como atlas, que você pode consultar
quando verificar o contexto geográfico.

Contexto teológico
A questão aqui é, o que este autor sabia sobre Deus? Qual o relacionamento de seus
leitores com Deus? Como o povo O adorou na época? A que partes das Escrituras o escri­
tor e sua audiência têm acesso? Que outras religiões e visões de mundo competem com
influência?
O problema central aqui é, onde a passagem se encaixa na expansão das Escrituras?
Você Mbc, a Bíblia nAo caio do càu como obra completa. Mllharc» de anos foram neees-
nArlos para formá-la. Durante cnnc tempo, Deus revelou mais e mais da Sua mensagem
aos autores.
Você já fez um "jantar progressivo" (muito popular nos Estados Unidos — nota
da tradulora) com um grupo de amigos? Você vai à casa de alguém para os aperitivos,
vai a outra casa para a salada, a outro lugar para o prato principal, e vai fazendo todo o
percurso at£ que tenha tido uma refeição completa. Bem, foi por este tipo de processo que
»1 Bíblia passou, mas o chamamos "revelação progressiva". Deus foi revelando vagarosa­
mente, através dos anos, a verdade de Sua Palavra.
Por isso, é importante localizar a passagem no fluxo das Escrituras. Se você estiver
estudando Noé, em Gênesis, estará antes dos Dez Mandamentos, antes do Sermão da
Montanha e antes de João 3:16. Na verdade, Noé não tinha nenhum fragmento de texto
bíblico para consultar. O que isso lhe diz quando lê que "Noé achou graça diante do
Senhor" (Gênesis 6:8)?
Um dos úteis recursos que você vai querer utilizar quando investigar o contexto
teológico é o comentário. Direi mais sobre eles no capítulo 34.

Experimente

No último capítulo você começou um estudo de Daniel 1-2, observando o


conteúdo e prestando particular atenção nas perguntas: quem? o quê? onde? por
quê? e qual a razão? Suas observações desse exercício lhe darão uma base de infor­
mações. A partir delas, você será capaz de interpretar o texto.
Agora é hora de prosseguirmos para o contexto. Uma vez que Daniel 1 inicia
o livro, você terá de voltar e ler 2 Reis 24-25 e 2 Crônicas 36 para obter o contexto
precedente. Daí, verifique os capítulos posteriores de Daniel para ver o que vem
depois desta seção.
capitulo 32

Comparação
Todos nós já ouvimos falar da Reforma Protestante. Um dos clamores do grupo era sola
scriptura — somente as Escrituras são autoridade final de fé e prática. Isso levou a um
desenvolvimento crucial na história do cristianismo, o direito à interpretação particular.
A Reforma, juntamente com a Bíblia de Gutenberg, levou as Escrituras de volta às mãos
de leigos. Entretanto, como afirma tão perceptivamente R. C. Sproul,

"O objetivo da interpretação particular nunca foi dar às pessoas o direito de


distorcer as Escrituras. Com o direito de interpretação particular vem a solene
responsabilidade da interpretação precisa. A interpretação particular nos dá
licença para interpretar, não para distorcer."

Como você pode evitar a distorção da mensagem de Deus? Já vimos duas chaves
que nos ajudam a abrir a porta do entendimento preciso — conteúdo e contexto. Agora
chegamos à terceira chave, que é talvez o melhor seguro contra a distorção:

COMPARAÇÃO

Nesta fase nós comparamos Escrituras com Escrituras. E isto nos provê uma grande
rede de segurança, porque o maior intérprete das Escrituras são as próprias Escrituras.
Donald Grey Bamhouse costumava afirmar claramente: "Muito raramente se tem
de sair da Bíblia para explicar algo que está na Bíblia". Tal afirmação nos instrui muito,
tendo partido de um indivíduo incrivelmente culto e que sabia como usar uma ampla
variedade de fontes secundárias. Ele entendia, contudo, a prioridade da Palavra de Deus.

R. C. Sproul, Knowing Scripture (Downers Grove, III.: InterVarsity, 1977), pp. 35-36.
líle linha coniidênda de qur quanto main m» compara liner! tu ran com Eacrltura», mais se
evidencia o .significado da Bíblia. Am parlei» adquirem significado à luz do todo.
Lembre-se, embora tenhamos por volta de quarenta diferentes autores humanos,
os sessenta e seis livros sAo definitivamente o resultado de um Autor primário, o Espírito
Santo, que coordenou a mensagem toda. Seu Livro é integrado. E unido.

O VALOR DE UMA CONCORDÂNCIA

A comparação destaca a grande necessidade de se ter uma concordância. Uma con­


cordância é uma ferramenta que nos capacita a "perseguir" termos e conceitos de um
livro da Bíblia para o seguinte. Com o uso de uma concordância, pode-se unir coisas que
pareciam isoladas no texto; e elas assumem maior significado em relação umas com as
outras. Permita-me dar várias ilustrações.

"Crer”
A palavra crer é um dos mais determinantes termos na Bíblia. Mas é usada de variadas
maneiras. Se você a procurar em uma concordância, descobrirá que é cspecialmente pro­
eminente no evangelho de João (veja pág. 241). Por exemplo, em João 2:23, lemos:

"Estando ele [Jesus] cm Jerusalém, durante a festa da páscoa, muitos, vendo


os sinais que ele fazia, creram no seu nome; mas o próprio Jesus não se confia­
va [ou cria neles] a eles, porque os conhecia a todos. E não precisava de que
alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia
o que era a natureza humana." (itálicos acrescidos)

Como vê, eles "creram" superficialmente, com base nos milagres. Era óbvio que Ele
os tinha feito; os fatos eram conhecidos por todos. Mas fatos não salvam. Eles são a base
essencial para a salvação, mas é preciso crer, isto é, abraçar a verdade, usar os fatos numa
base pessoal.
Ilustrarei como João usa crer aqui. Suponha que você se aproxime de mim e diga:
"Professor, detesto dizê-lo, mas estou sofrendo de uma doença terminal".
Conversamos então sobre o assunto durante algum tempo, e depois de saber mais
sobre sua situação, digo: "Ei, tenho novidades fantásticas. Tenho um amigo médico em
Houston que acabou de descobrir uma cura comprovada para sua doença. Se você for
vê-lo, garanto que será totalmente curado".
Você diz: "Que maravilha!"
"Você ciê nisso?" Pergunto.
"Oh, claro."
Então estendo a mão para apertar a sua e digo: "Está curado".
Naturalmente, você me acharia um maluco. Nenhuma informação a respeito do
módico cm Houston, que tem n soluçAo para sua doença, fará alguma coisa para trazer a
cura para seu corpo. Você tem de ir até lá, tem de se submeter a seu tratamento, tem de se
beneficiar do medicamento que ele prescrever.
Esta é a conexão entre os fatos e a fé no evangelho de João. Jesus sabe disso, e é por
isso que João diz no versículo 24: "os conhecia a todos". Na verdade, João continua nos
capítulos 3 e 4, mencionando três interessantes exibições da onisciência do Senhor a res­
peito do que há dentro do homem: "Nicodemos (3:1-21); a mulher na fonte em Samaria
(4:1-42); e o oficial do rei (4:46-54).

“Aperfeiçoamento”
A segunda ilustração do estudo bíblico comparativo vem de Efésios, que é um livro fas­
cinante que nos diz como viver uma vida celestial em um mundo tão infernal. Quando
você ler o livro, irá deparar-se com dois notáveis versículos:

E Ele mesmo [o Cristo ressurreto, vv. 7-10] concedeu uns para apóstolos, ou­
tros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres,
com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço,
para a edificação do corpo de Cristo." (4:11-12, itálico acrescido)

Há termos a se procurar nesta passagem? Sim, há um termo crucial: aperfeiçoamen­


to. Como é usado? Novamente abra sua concordância e procure-o; você descobrirá três
coisas.
Primeira, a palavra aperfeiçoamento é usada no sentido de "equipar" no conserto
de redes rompidas. Os pescadores como os discípulos ficavam fora o dia todo pescan­
do, e suas redes rasgavam e rompiam. Assim, à noite, eles as reparavam (literalmente
"equipavam" ou "aperfeiçoavam"), para que na manhã seguinte estivessem prontos para
sair ao trabalho. Que expressão bonita daquilo que um pastor-mestre é chamado a fazer.
Vivendo neste mundo, as redes das pessoas se rompem. O trabalho do pastor é ajudar a
repará-las, equipá-las, ou "aperfeiçoá-las".
Mas a mesma palavra é usada no conserto de ossos quebrados. É um termo médico.
Quando dois ossos saem da junta, o que faz o médico? Ele os endireita, os conserta, os
"equipa" ou "aperfeiçoa". Ele os une novamente para que possam sarar e voltar a ter a
força antiga. Novamente, é exatamente isso que acontece na vida. Não há como viver
neste mundo sem ser "quebrado"; nossa sociedade é uma sociedade "quebrada". Assim,
precisamos estar sob a Palavra de Deus com alguém que nos esteja "equipando", "aper­
feiçoando", sarando os ossos quebrados.
Terceira, a palavra é também usada no aparelhamento de um navio para uma via­
gem. Imagine um barco sendo preparado para atravessar o Mediterrâneo. Não há "shop­
ping centers" lá. A tripulação tem de trazer à bordo tudo o que necessitar para a viagem
até que cheguem ao destino. Esta imagem chama minha atenção, porque a boa pregação
<• d bom vnulno dn Pn lavra devem aparelhar ah pessoas para a viagem da vida. Devem
"equipá-laN" para que, quando estiverem aí íora, numa crise, quando realmente precisa­
rem conhecer a mente de Deus, possam conhecê-la. Alguém já as "equipou", ou "aperfei­
çoou" para serem c fazerem o que Deus quer.

Moisés
O estudo comparativo vai além do estudo de termos. Suponhamos que você queira estu­
dar um personagem das Escrituras. Eu recomendo altamente que o faça; o estudo biográ­
fico é indescritivelmente fascinante. Digamos que você seja cativado pela vida de Moisés.
Sugiro que pegue uma concordância e o procure lá.
A primeira coisa que se faz óbvia é que a parte principal da história de sua vida pode
ser encontrada em Êxodo. Isso significa que você precisará fazer um estudo concentrado
do livro de Êxodo para descobrir como Moisés começou. Estude seus notáveis pais, que o
esconderam do rei, para que ele se tornasse definitivamente o líder aprimorado de Israel.
Você descobrirá também, através da concordância, que há informações sobre Moi­
sés em Atos 7. Na verdade, você encontrará lá materiais que fornecem muita visão sobre
este homem, editado pelo Espírito. Assim, qualquer pessoa que queira estudar Moisés e
não leia Atos 7 estará realmente perdendo algo importante.
Pode-se encontrar Moisés também em Hebreus 11. Na verdade, ele ocupa mais es­
paço na "galeria da fama" de Deus do que qualquer outro personagem. Sua vida foi des­
crita da perspectiva de Deus nessa passagem. O que Deus pensa dele? O que considera
significativo em sua vida.
Falarei mais sobre concordâncias nos capítulos 34 e 35. Mas quando estudar a Pala­
vra de Deus, use a chave da comparação. Continue ajuntando as partes de modo que você
adquira um entendimento global completo das Escrituras.

Experimente
Neste momento, você já deve ter verificado o conteúdo e o contexto de Daniel 1-2.
Está começando a ter uma idéia do que se passa na história? Que perguntas você
tem como resultado de seu estudo?
Talvez você responda algumas delas, fazendo uma pequena comparação do
texto com outras porções das Escrituras. Usando uma concordância, procure os
quatro itens que se seguem abaixo. Cada um deles é crucial para o entendimento
da passagem. Veja o quanto pode aprender sobre eles lendo outras partes das Es­
crituras.
* Daniel * Babilônia
* Nabucodonosor * sonhos
A Vaca
Encontrei por acaso um tocante ensaio de uma aluna de dez anos de idade, o quai
continha algumas observações corretas, mas interpretação incorreta e também algu­
mas interpretações corretas, com observação incorreta. Eis o que a criança escreveu:

"A vaca é um mamífero. Tem seis lados. Direito, esquerdo, superior e


inferior. Atrás tem um rabo com um espanador pendurado. Com ele, a
vaca espanta as moscas para não caírem no leite. A cabeça serve para os
chifres crescerem e também é onde a boca fica. Os chifres são para dar
chifradas e a boca é para fazer 'muuu'. Debaixo da vaca fica pendurado
o leite. Foi posto lá para ser tirado. Quando as pessoas tiram o leite, o lei­
te vem e o fornecimento nunca acaba. Como a vaca faz isso, eu não per­
cebí ainda, mas ela faz mais e mais leite. A vaca homem se chama boi.
Não é mamífero. A vaca não come muito, mas o que come, come duas
vezes para ficar bem satisfeita. Quando está com fome, ela faz 'muuu' e
quando não diz nada é porque dentro dela está cheio de capim."

Como pode notar, é preciso que sejamos muito precisos na maneira de agir neste
processo de interpretação. Devemos nos certificar de que nossas observações são
exatas para que tenhamos base para uma interpretação correta.
Cultura
Certa vez, fui hóspede de um homem que morava em São Francisco. Ele era importador
de uma finíssima renda oriental. Uma noite, quando estávamos satndo de sua casa, uma
mesinha de canto no vestíbulo perto da porta da frente chamou minha atenção. O que me
atraiu não foi a mesa, mas um pedaço de renda sobre ela.
Disse: "Puxa, que lindo!"
Meu anfitrião fez careta e gritou: "Isso é um lixo, vivo dizendo para minha esposa
tirar essa coisa daí".
Surpreso, perguntei: "Como você consegue distinguir a renda boa da ruim?"
Ele piscou para mim e disse: "Quando voltarmos eu lhe mostro".
Pode acreditar, não esqueci. Assim, quando voltamos, ele me levou a uma sala onde
havia uma grande mesa preta com uma forte luz sobre ela. Ele jogou um bom pedaço de
renda oriental sobre a mesa e prosseguiu, ensinando-me como distinguir renda fina de
material ruim. No processo, ele comentou: "Você nunca irá entender o requinte da boa
renda, a menos que a observe contra um fundo escuro com uma luz forte sobre ela".
Mais tarde pensei: Esta é uma pista para o estudo bíblico. Você tem de observá-la contra
o fundo certo, com a luz certa acesa sobre ela, para captar seu significado. No capítulo 31
vimos a importância do contexto em termos do texto das Escrituras — prestando atenção
no que vem antes e depois da passagem que se está estudando. Da mesma maneira, você
tem de prestar atenção no contexto cultural e histórico - nos fatores que levam à escrita
da passagem, as influências que tiveram sobre o texto e o que acontece como resultado
da mensagem. Esta é a quarta chave para se produzir uma interpretação precisa das Es­
crituras:

CULTURA

Permita-me uma ilustração, com vários exemplos, daquilo que quero dizer com
contexto cultural.
Rute
O livro de Rute, no Antigo Testamento, por exemplo, é uma bela história de amor e cora­
gem. Mas a maioria das pessoas não anotam o fato de que ela acontece durante o período
de Juizes, Idade das Trevas em Israel. É porque não observam Juizes 21:25, que forma o
contexto de Rute 1:1. Isso demonstra que a nação estava atolada num esgoto de iniquida­
de. Era uma época da cultura, quando não se conseguia fazer diferença entre o perfume
Chanel nv 5 e o Gás de Esgoto nc 9. Lendo o relato, pergunta-se, existia alguém fiel a Deus
naquele período?
A resposta? Verifique no livro de Rute. Ele é um raio de luz no meio de um período
de trevas. É um lírio resplendente em um lago pútrido. Eis uma preciosa família, fiel a
Jeová, mesmo em meio à apostasia.
Ainda assim, por causa de alguns eventos na história, tenho ouvido pessoas faze­
rem comentários maliciosos sobre ela. Um rapaz me disse com riso contido: "Ei, este livro
é meio picante, não é? Um pouco sexy."
Pensei: Meu antigo, este é uni comentário que diz mais respeito a você mesnto do que ao
livro de Rute.
Está vendo, aquele camarada estava se traindo. Estava me mostrando que não sabia
diferenciar o começo do fim, quanto ao que se refere à cultura da qual Rute é parte. Quan­
do se volta no tempo para estudar os costumes envolvidos, descobre-se que, no contexto,
eles são do mais alto padrão moral. Nada há de vulgar neles. Este não é um romance bara­
to, é a mais alta forma de literatura, tanto em termos de conteúdo quanto em moralidade.
Mas aqui, como em outros lugares, lemos a Bíblia de acordo com nossa própria cul­
tura, através de um par de óculos que distorce o contexto. Não é de se admirar que não
consigamos fazer com que a passagem faça sentido.

A Última Ceia
Uma ilustração clássica desta tendência é a obra prima de Leonardo da Vinci, A Última
Ceia (veja página 201), que é sem dúvida, uma incrível obra de arte. Mas esta não seria
a obra indicada para se saber como a Última Ceia realmente foi. Ela nos traz uma figura
bastante distorcida do cenário — na realidade, uma interpretação do século XV da ceia.
Em primeiro lugar, Leonardo da Vinci coloca Jesus e Seus discípulos sentados à
mesa. As pessoas não se sentavam à mesa para comer nos tempos de Cristo; reclinavam.
Deitavam sobre uma mobília parecida com um sofá, apoiando-se sobre um dos cotovelos,
o que deixava a outra mão livre para comer. Isso é importante, porque lembra-se que Pe­
dro perguntou a João: "Pergunta a quem ele se refere quando Jesus disse que um de nós
vai O trair" (João 13:24)? Os outros discípulos não ouviram Pedro. Por quê? Porque ele
podia ir para trás, João podia vir para frente, e os dois podiam se comunicar.
O pintor também os mostra todos sentados de um mesmo lado da mesa, como
numa mesa de orador. É um cuidadoso arranjo, como se alguém tivesse dito: "Ei, gente,
vamos nos juntar de um lado da mesa e tirar uma foto da companhia. Uma última foto
antes que o Senhor se vá". Mas, evidentemente, ao ler o relato, percebemos que aquela
não era a colocação dos discípulos.
Outra interessante característica de A Última Ceia é que Leonardo da Vinci pintou
um friso na parede de fundo, o que obviamente reflete a época dele, não o primeiro sé­
culo. E se você observar cuidadosamente, irá notar que na pintura de Leonardo da Vinci,
é dia lá fora. Mas, de acordo com o relato bíblico, a verdadeira Última Ceia aconteceu à
noite, e provavelmente bem tarde.
Agora, não me entenda mal. Como pintura, A Última Ceia tem grande valor. A in­
felicidade é que, olhando para uma linda peça de arte, as pessoas frequentemente obtêm
uma interpretação bastante falha de uma passagem das Escrituras. (Na verdade, se sou­
bessem como observar arte, ganhariam mais visão sobre a situação. Esta é uma das mar­
cas da boa arte.) A precisão exige que se volte ao período e à cultura para que se descubra
o que realmente estava acontecendo. A menos que você entenda o contexto original da
Última Ceia, não poderá apreciar totalmente a obra de arte de Leonardo da Vinci.

Salmo 24
Eis uma outra ilustração. Quando era pequeno, em Filadélfia, a escola permitia que lés­
semos a Bíblia — mas somente cinco dos salmos. O salmo 24 era um deles. Ainda me
lembro das palavras:

"Levantai, ó portas, as vossas cabeças;


levantai-vos, ó portais eternos,
para que entre o Rei da Glória.
Quem é o Rei da Glória?
O Senhor, forte e poderoso,
o Senhor, poderoso nas batalhas.
Levantai, ó porlaw, nu voam cabeças;
levantai-vos, ó portais eternos.
Quem é esse Rei da Glória?
O Senhor dos Exércitos,
ele é o Rei da Glória." (w. 7-10)

Quando ouvia este salmo, pensava: Mas do que é que se está falando? Não fazia senti­
do para mim. (E por isso que eles não se importavam que léssemos este salmo; ninguém
tinha a menor idéia do significado deles.)
Porém, anos mais tarde, eu estava estudando a vida de Davi e consultei um mapa
da Palestina. A história diz que antes que se tornasse rei, quando queria ir do sul do país
para o norte, ele tinha de passar por uma cidade chamada Jebus. Jebus era uma antiga
fortaleza — um ponto de reunião dos dias de Josué, quando os israelitas nunca tomaram
a Terra Prometida, como Deus havia comandado.
Assim, quando Davi passava por Jebus, os defensores da cidade apareciam no
muro e zombavam dele. "Ei, Davi", gritavam, "quando se tomar rei, não tente tomar este
lugar. Colocaremos aleijados no portão e cegos nas torres de vigia. Mas você ainda assim
não nos conquistará".
Quando Davi se tomou rei, ele não se esqueceu dessas palavras. Disse a seus guer­
reiros: "A primeira coisas que faremos é limpar Jebus".
E é disso que o Salmo 24 fala. Davi derrotou Jebus e fez dela a capital (a que conhe­
cemos como Jerusalém, 2 Samuel 5:3-10). Um de seus primeiros atos como rei era trazer
a Arca da Aliança a Jebus. O Salmo 24 é o hino processional que ele e o povo cantaram
enquanto traziam a arca para a cidade: "Levantai, ó portas, as vossas cabeças! Derrubem
as paredes! Alarguem as brechas!"
E as paredes, como se partilhando da antiga antipatia de seus defensores, pergun­
tam: "Quem é o rei que exige que alarguemos os portões?"
A resposta vem: "O Senhor dos exércitos. Ele é o Rei da Glória".
Como vimos, uma vez que se entenda o fundo histórico, o Salmo 24 repentinamente
toma vida.

1 Coríntios 8
Uma última ilustração vem de 1 Coríntios 8, onde Paulo discute o problema de comer
carne oferecida a ídolos — não exatamente um dos problemas críticos que enfrentamos
hoje. Mas quando saí do seminário, acho que sabia mais sobre Corinto e sobre comer
carne oferecida a ídolos do que qualquer outro ser humano. Hoje, após quarenta anos de
ensino, ainda estou a procura de alguém que tenha este problema. Se um dia o encontrar,
acredite, ficarei bem pronto para resolver seu problema.
Isso faz 1 Coríntios 8 irrelevante para os dias de hoje? Sim, se você não fizer ideia do
contexto cultural envolvido. Note o versículo 1: "No que se refere às cousas sacrificadas
a ídolo*, reconheccmo* <|uo Indo* aomon wnhores do uber". Novamente, no vendculo 4,
civ cNcrvvv: "No tocante à comida nacrl ficada a ídolos, sabemos que o ídolo de si mesmo
nada é no mundo".
Mas o versículo 7 declara: "Nào há esse conhecimento em todos". Então Paulo ad­
verte que tem-se de tomar muito cuidado nessa questão. Por quê? É aqui que o contexto
cultural entra em ação. Um pouquinho de pesquisa revela que a melhor carne da cidade
era reservada para oferecimento aos ídolos. E não surpreende o fato de os melhores mer­
cados e restaurantes de carne serem localizados bem próximos ao templo. Assim, se você
quisesse levar alguém para um churrasco, o levaria lá.
Suponha porém, que a pessoa fosse recém-convertida, e que tivesse vindo de um
contexto pagão de sacrifícios c de alimentação com carnes sacrificadas a ídolos. E agora
você estava pedindo a ela que comesse a mesma carne — fazendo-a com efeito, voltar aos
dias em que não era cristã. Como ela se sentiría?
Paulo diz claramente que "sabemos que o ídolo de si mesmo nada é", isto é, que
ídolos não têm poder real; são falsos deuses. Mas esta não é a questão. A questão é fazer o
que é melhor para um irmão ou irmã em Cristo. Até práticas inofensivas podem ser uma
fonte de ofensa para um irmão mais fraco que ainda tenha uma consciência deseducada.
Dada a perspectiva cultural, 1 Coríntios 8 tem algo a nos dizer hoje? Bem, há áreas
indefinidas na vida moderna? Há assuntos de consciência que alguns cristãos praticam
livremente, enquanto outros são ofendidos? Deixarei que você mesmo responda. Mas, se
quiser meu conselho, 1 Coríntios 8 deve constar em sua lista de leitura obrigatória.
Quando estudar esta, ou qualquer outra porção da Palavra de Deus, certifique-se
em verificar o pano de fundo. Recrie a cultura, porque assim, e só assim, o texto passará
a ter vida.

Experimente

^Zoniu está indo seu estudo de Daniel 1-2? Aprendeu alguma coisa útil sobre O
pano de fundo em seu estudo com concordância de Daniel, Nabucosonosor, Babi­
lônia e sonhos?
Agora você está pronto para fazer uso de outros recursos além do texto bíbli­
co, como dicionários e manuais da Bíblia. Pode ser que você tenha de verificar se os
encontra na biblioteca de sua igreja ou comunidade. Vários deles constam na lista,
no final deste livro, em "Recursos Adicionais".
Usando qualquer dessas ferramentas, procure os quatro itens que já estudou
dentro do texto bíblico — Daniel, Nabucodonosor, Babilônia e sonhos. Veja que
outras informações encontradas podem trazer luz a Daniel 1-2.
Consulta
Tenho um bom amigo que é carpinteiro. Ele é, na verdade, um artesão, incrivelmente

dotado para trabalhar com madeira. Gosto de brincar com ele quando vem à minha casa,
porque sempre traz uma porção de ferramentas.
Um dia, quando estava brincando com ele, ele reagiu: "Bem, você sabe professor,
quanto mais ferramentas se tem, melhor carpinteiro se poderá ser".
A mesma coisa acontece no estudo bíblico. Pode-se descobrir muito apenas com
seus próprios olhos e o texto em português. Mas pode-se ir muito além se você acrescen­
tar ferramentas ao processo. É por isso que a quinta e última chave para a interpretação é:

CONSULTA

A consulta envolve o uso de recursos secundários Eles podem trazer luz ao texto.
Isso o ajudará a entender melhor o sentido daquilo que está lendo.
Como vê, nosso desejo nunca é nos tomarmos arrogantes no processo de estudo,
pensando que temos todas as respostas, que o Espírito Santo fala conosco, e nunca falou
a mais ninguém. A verdade da questão é que milhares de pessoas trilharam o mesmo
caminho antes de nós. Algumas delas deixaram para trás ajudas valiosas. São como es-
caladores de montanhas, que deixam seus ganchos cunhados na pedra, para que outros
possam subir após eles. Usando fontes secundárias, você pode avançar usando as contri­
buições dos outros.
Mas uma palavra de cautela: nunca se esqueça da ordem. Primeiro vem o texto das
Escrituras; então as fontes secundárias. Ir para as fontes secundárias sem nem mesmo
consultar o texto deixa pouco espaço para a Palavra de Deus. É por isso que a primeira
coisa que você precisa, antes de obter qualquer recurso mencionado abaixo, é de uma
boa Bíblia de estudo (veja "Como Escolher uma Bíblia", páginas 32-33). Comece por ela.
Depois, enquanto for prosseguindo, poderá acrescentar mais livros à sua biblioteca.
I lá cinco íerramenlrt» ftprdaliiwnto útd* que quero descrever. Muitas outras po­
deríam ser mencionada*. Mas estas cinco servirão para o início da construção de uma
valiosa caixa de ferramentas para você usar no trabalho de interpretação.

Concordâncias (Chave Biblica)


Já mencionei concordâncias várias vezes. Depois da Bíblia de estudo, esta é a ferramenta
sem a qual nào se pode ficar. Uma concordância é como um índice da Bíblia. Ela alista to­
das as palavras do texto alfabeticamente, com as referências de onde aparecem, e algumas
palavras ao redor delas para prover um pouco do contexto.
Há muitos usos proveitosos de uma concordância. Um muito comum é o estudo
de palavras. Vimos um pouco desse quando falamos sobre comparação, no capítulo 32, e
veremos mais no próximo capítulo.
A concordância também pode ajudar você a localizar uma passagem quando não se
lembrar da referência. Isso acontece o tempo todo. Digamos que você esteja estudando 1
Pedro e leia: "Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes
ao Pastor e Bispo das vossas almas" (2:25). Esta é uma óbvia referência a Cristo e, em al­
gum lugar de seu cérebro, você tem registrado que Jesus foi chamado o Bom Pastor, mas
não sabe em que versículo. Então, você procura "pastor" em sua concordância e encontra
a referência João 10:11, "Eu sou o bom pastor". Bingo! Eis a sua passagem.
Adquira uma concordância completa, nào uma resumida. Uma que tenha uma lista
com cada uma das vezes que cada uma das palavras apareça no texto. Toda principal tra­
dução da Bíblia tem sua própria concordância, adquira uma que corresponda à sua tradu­
ção, como a Concordância Bíblica da Sociedade Bíblica do Brasil na tradução de Almeida
na versão Revista e Atualizada, ou a Concordância da Sociedade Bíblica Trinitariana na
versão Revista e Corrigida (em disquete). De outra maneira, estará procurando palavras
que foram traduzidas de maneira um pouco diferente das de sua Bíblia.
A concordância é provavelmente a ferramenta mais essencial ao estudo bíblico.
Mesmo que não venha a ter mais nada, adquira uma concordância. É um bom investi­
mento.

Dicionários bíblicos
Fico impressionado com o número de pessoas que usam o dicionário para procurar pa­
lavras de um livro ou artigo de revista, mas nunca sonham em consultar um dicionário
bíblico quando se deparam com uma palavra estranha na Bíblia. Os dicionários bíblicos
contêm muita informação útil sobre os assuntos do texto. E há dicionários excelentes no
mercado.
Nos últimos anos, muita luz tem sido lançada aos estudos bíblicos, particularmente
como resultado de descobertas arqueológicas. Na verdade, sabemos mais sobre a Bíblia
agora do que em toda história da interpretação. Boa parte dessa sabedoria está disponível
a você nos dicionários bíblicos.
Um cIAmmIco é o Dicionário da Riblia por John D. Davi* (Juvrp). Graça* «t rlc, você não
tem de saber grego para estudar o Novo Testamento, porque ele provê o pano de fundo
das palavras; o que significam, como eram usadas e todas as suas variações.
Outro trabalho mais recente, que uso extensivamente, é o Novo Dicionário da Riblia,
em dois volumes, editado por J. D. Douglas (Edições Vida Nova). Este está abarrotado de
material útil. Suponha que encontre o termo "Babilônia", e não saiba nada sobre a Babilô-
nia. Procuro a palavra e encontro todo tipo de informação. O livro tem até uma ilustração
de um "ziggurat", que era um centro de adoração. Tem também um mapa de ruas, que
mostra como a cidade era. Esse tipo de informação se torna tremendamente valioso na
interpretação de passagens como Gênesis 11 (a Torre de Babel), e livros como Neemias,
Daniel e Apocalipse.
Suponha agora, que eu leia o termo "Arca da Aliança". O que era isso? Consultan­
do o dicionário bíblico, aprendo que era uma caixa usada na adoração hebraica, em um
lugar chamado Santo dos Santos. Há muito mais que isso na história. Mas o termo "arca"
é também usado para a arca de Noé, a embarcação que abrigou Noé e sua família e todos
os animais durante o dilúvio. Mesmo assim, tenho visto pessoas olharem para a figura
da caixa — a Arca da Aliança — e dizerem: "De jeito nenhum, todos aqueles animais não
caberíam nessa coisa". Mas se procurassem a palavra, saberíam que existiam dois tipos
diferentes de arcas.

Manuais bíblicos
Um recurso relacionado com o dicionário da Bíblia é o manual bíblico, que é um tipo de
enciclopédia em um só volume.
Uso frequentemente o Manual Bíblico, de Henry Halley (Edições Vida Nova). É mui­
to bem feito, contém fotografias e engloba mais de trezentos importantes eventos bíblicos.
Menciona livro por livro de toda a Bíblia, provendo todos os tipos de material de pano
de fundo.
Por exemplo, talvez você queira saber algo sobre moedas e dinheiro. O texto bíblico
menciona a dracma c o denário. O que eram essas unidades de troca? Você pode procurar
pelas palavras e descobrir seus equivalentes modernos.
Talvez você queira saber sobre vestuário e calçados. O que os personagens bíblicos
usavam? Como eram suas roupas? De que eram feitas? Você pode consultar o Manual de
Tempos e Costumes Bíblicos (Betânia) ou o Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos (Editora Vida).
Também pode consultar a Enciclopédia Ilustrada da Bíblia (Edições Paulinas) e descobrir.
E a comida? Há muitas passagens nas quais a comida é mencionada, mas esse era
algo totalmente diferente do alimento que temos hoje. Você pode encontrar uma seção
toda sobre comida e bebida, alimentos e seu preparo.
Após consultar um recurso como este e obter o pano de fundo, você começa a des­
cobrir todos os tipos de conceitos que o eludiam antes. Este tipo de detalhe faz com que
a Palavra de Deus tome vida.
Atlas
Geografia é uma dan ciência* mala úívín ao estudo bíblico. Mesmo assim a maioria das
pessoas ignora completamentv o significado do lugar do relato. Por exemplo, as cidades
que Paulo visitou — Antioquia, Corinto, Éfeso e Roma — sào, para a maioria dos leitores,
apenas pequenos pontos colocados na página. Mas esses eram importantes centros urba­
nos com populações de centenas de milhares, tão cosmopolitanos e sofisticados quanto
algumas cidades de nosso país hoje.
Falei recentemente com um professor de uma escola americana de alta categoria.
"O que você ensina?" Perguntei.
"Literatura inglesa."
"Fantástico", disse, "Como está indo?"
Ele disse: "É a pior tarefa que já tive".
"Porquê?"
"Porque meus alunos nào sabem nada sobre a Bíblia", ele explicou. "Como é que
_e pode estudar literatura inglesa sem que se tenha uma base de conhecimento da Bíblia
inglesa?"
Esta é uma boa pergunta. Numa geração anterior, isso era considerado conheci­
mento básico. Hoje, nào o possuímos, e é por isso que precisamos ter um bom atlas. Ele
completa a história por detrás dos lugares mencionados nas Escrituras.
Um de meus preferidos é o Atlas da Bíblia (Edições Paulinas), que tem uma bo­
nita apresentação, com figuras e diagramas. Traz informações sobre coisas como tipos
de pedras preciosas e solos encontrados na Palestina, e dá uma ideia da topografia. Por
exemplo, quando vimos a tempestade acalmada em Marcos 4, dissemos que o Mar da
Galileia estava a 200 metros ou mais abaixo do nível do mar. Onde se aprende isso? Em
um recurso como o Atlas da Bíblia.
Outro atlas bastante útil é o Pequeno Atlas Bíblico, por Dr. Tim Dowley (Mundo Cris­
tão). Contém mapas que acrescentam informações à geografia básica.
Uma boa Bíblia de estudo terá mapas incluídos no final. Mas se você realmente quer
investigar o contexto geográfico, invista em um atlas completo.

Comentários bíblicos
Você já ouviu alguém que domine uma porção das Escrituras e pensou: Puxa, gostaria de
tê-lo a meu lado na próxima vez que abrir as Escrituras? . Bem, um comentário faz essencial­
mente isso: oferece a você opiniões de alguém que tenha passado talvez sua vida inteira
estudando o texto. Um comentário não faz o estudo por você, mas cerlamente é um exce­
lente meio de avaliar seu próprio estudo.
Há uma infinidade de comentários disponíveis, especialmente sobre livros popula­
res como Salmos, os Evangelhos, Romanos, e assim por diante. A questão é: como saber
por onde começar? Sugiro que, se você está apenas começando o processo e a formação
de sua biblioteca de ferramentas, adquira um bom comentário geral de um só volume —
um que abranja um ou ambos os testamentos cm um, ou no máximo, dota volume?*.
Conheço um bem útil, o Bible Knowledge Commentary, (cm espanhol, porém não lol
traduzido para o português), produzido por vários membros do corpo docente do Se­
minário Teológico de Dallas, onde ensino. Em dois volumes, um do Antigo Testamento,
outro do Novo, ele abrange todos os livros da Bíblia, de Gênesis a Apocalipse. Em cada
livro, apresenta o pano de fundo em termos de autor e propósito, perfil e discussão do
texto, especialmente das passagens difíceis.
Além de um comentário geral, você pode querer consultar um comentário espe­
cífico sobre determinado personagem da Bíblia. Por exemplo, uma série chamada Série
Cultura Bíblica (Edições Vida e Mundo Cristão) inclui um volume de Eclesiastes. Você
já ficou em apuros por causa deste livro? Talvez tenham pedido para você o ensinar,
mas você não sabia o suficiente para ensiná-lo. Um pequeno comentário como esse pode
ajudá-lo a se orientar.
Ou talvez você esteja pronto para algo mais profundo, com um pouco mais de de­
talhes. Tente, então, o Comentário Bíblico Moody, em 2 volumes (Editora Batista Regular),
ou o Comentário Bíblico Broadman, em 12 volumes (Juerp). Você pode começar com um
volume que supra as necessidades de seus estudos no momento e então acrescentar mais
à coleção, enquanto for prosseguindo pelos livros da Bíblia.
Comentários podem ser uma bênção ou uma maldição. O lado negativo é começar
a depender deles, ao invés de se familiarizar com o texto bíblico. Não há nada de errado
com os comentários, mas lembre-se de que eles são, definitivamente, a opinião de apenas
uma pessoa e certamente não são inspirados.
Ao mesmo tempo, um erudito que passou sua vida inteira investigando o texto bíbli­
co poderá, na maioria das vezes, fazer com que você supere as barreiras do entendimento.
Seus comentários podem também ajudar você a avaliar seu próprio estudo pessoal.

Recursos adicionais
Eu poderia continuar mencionando uma lista enorme de recursos secundários e fontes
de ajuda ao estudo. Há também alguns periódicos disponíveis sobre teologia, como Vox
Scripturae, Revista Teológica (Seminário Presbiteriano do Sul) ou Estudos Teológicos (Igreja
Evangélica Luterana), com nível popular de escrita e informações inestimáveis sobre pes­
quisas que afetam estudos bíblicos.
Outra área frutífera de estudo secundário é a vasta coleção de literaturas que so­
brevive da era bíblica. Histórias contemporâneas, teoria política, lei, poesia e drama pre­
enchem muitos detalhes das culturas daquela época. Em conexão, você pode também
querer consultar estudos históricos de eruditos mais recentes, como o História de Israel
no Antigo Testamento, por Shultz (Edições Vida Nova), ou livros sobre a história da antiga
Grécia e Roma.
COMEÇANDO

Há uma montanha de recursos valiosos disponível a você. Então, por onde come­
çar? Quais deve obter primeiro?
Sugiro que comece com uma boa Bíblia de estudo e uma concordância, que são cru­
ciais. Se isso fosse tudo o que tivesse, você já estaria bem. Você tem o texto das Escrituras
e uma lista de todas as palavras, pode navegar livremente pelas passagens, usando as
habilidades aprendidas na Observação e na Interpretação.
Então, se obtivesse um bom dicionário da Bíblia, um manual bíblico, um atlas e um
comentário simples de um só volume, estaria muito bem. Teria as ferramentas básicas,
uma biblioteca básica para trabalhar. Poderia ir acrescentando mais a ela, pouco a pouco.
Pelo menos teria bons recursos para começar. O Pequena Enciclopédia Bíblica, de O.S. Boyer
(Edições Vida Nova), reúne em um só volume uma enciclopédia, um dicionário, um atlas,
uma chave bíblica e uma concordância.
Todavia, há uma palavra de advertência quando puser essas ferramentas para fun­
cionar: cuidado para não confiar demais nas informações de segunda mão. O uso de
recursos extrabíblicos nunca deve ser um substituto do estudo pessoal da Bíblia, mas um
estímulo a ele. A ordem é sempre a mesma: primeiro a Palavra de Deus; depois as fontes
secundárias.

Experimente

Você trabalhou anteriormente com uma concordância no estudo de Daniel 1-2; e na


última parte, você consultou um dicionário da Bíblia e um manual bíblico. Agora
você tem dois recursos adicionais a considerar — atlas e comentários.
Consulte um atlas que mostre a Babilônia nos tempos de Nabucodonosor.
Qual era a sua relação com Israel? Que país ocupa aquela área hoje em dia?
Consulte também um comentário geral do Antigo Testamento e talvez um
comentário de um só volume sobre o livro de Daniel. Que perguntas estas fontes
respondem para você? Que informações adicionam?
Aliás, pode ser também que você queira voltar ao dicionário da Bíblia e ao
manual bíblico para procurar outros itens relacionados ao texto, como: o governo
na Babilônia, os caldeus, "ziggurats", Ciro e comidas no mundo antigo.
capitulo 35

Chegando a um
Acordo
Em um dos desenhos de Far Side, de Gary Larson, um trompista está sentado no meio
de uma orquestra sinfônica durante um concerto. Apontando para a partitura na estante,
ele diz: "Puxa, olha aquele monte de pontinhos pretos!"
As palavras do texto bíblico são apenas pontinhos pretos na página para muitos lei­
tores, estranhos hieróglifos que permanecem inescrutáveis. Essas pessoas podem possuir
uma Bíblia, mas não possuem as palavras da Bíblia porque não sabem como determinar
seu significado. Tragicamente, estão perdendo as próprias palavras de vida que Deus
pronunciou.
Mas este não precisa ser o seu caso. Se você tem praticado o processo delineado nes­
te livro, já descobriu várias estratégias que trazem à tona o significado das Escrituras. O
mais importante que aprendeu a fazer foi procurar termos. Neste capítulo, quero ajudá-lo
a pesquisar termos bíblicos para discernir seu significado.
Um "termo" é uma palavra ou expressão que um autor usa para enfatizar algo.
Ele pode usar a palavra repetidamente para enfocá-la. Pode expô-la em algum versículo
proeminente. Pode construir uma história em torno dela para ilustrar seu significado. Ou
pode colocá-la na boca de um personagem central em sua narrativa. Seja qual for a manei­
ra que ele as destaca, um autor quer que prestemos atenção em seus termos, porque eles
estão carregados de significado. A menos que você "chegue a um acordo com os termos",
nunca entenderá sua mensagem.
Dois recursos secundários mencionados no último capítulo são especialmente úteis
neste processo — a concordância e o dicionário da Bíblia. Permita-me mostrar como usá-
los para sua vantagem.
USANDO UMA CONCORDÂNCIA NO ESTUDO DE UMA PALAVRA

Digamos que você rc depare com a palavra alegria na carta de Paulo aos Filipenses.
Alegria e regozijo aparecem como termos chaves nesse livro. Abra, então, sua concordância
e procure alegria.
A primeira coisa que notamos é que há muitas referências tanto no Antigo quan­
to no Novo Testamento. Isso é significativo: alegria não é um termo obscuro; é muito
comum. Se você quiser ser arrojado e iniciar um estudo exaustivo do termo, precisará
procurar cada passagem onde ele é usado para avaliar que luz os vários contextos dão ao
significado de alegria.
Mas, já que você está se concentrando em Filipenses, preste atenção especial no uso
do termo no próprio livro. Eis o que mostra uma lista:

fazendo sempre, com a, súplicas por Fp. 1:4


completai a minha a de modo que Fp. 2:2
sacrifício e serviço da vossa fé, a Fp. 2:17
pela mesma razão, a e congratulai-vos Fp. 2:18
vendo-o novamente, vos a Fp. 2:28
Recebei-o, pois, no Senhor, com toda a a Fp. 2:29
Quanto ao mais irmãos meus, a Fp. 3:1
meus irmãos, amados e mui saudosos, minha a Fp. 4:1
Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, a Fp. 4:4
a sobremaneira no Senhor Fp. 4:10

A palavra alegria aparece muitas vezes na carta. É preciso fazer observações para
comparar e contrastar esses diferentes usos. Você pode até querer expandir seus estudos
para o uso de alegria nas outras cartas de Paulo.
Não se deve deixar de notar o pequeno número à direita de cada entrada em algu­
mas concordâncias. Tais números referem-se às palavras gregas traduzidas por "alegria".
No final da concordância, você descobrirá que em alguns versículos, "alegria" é a palavra
chara, que significa "alegria" ou "deleite", e vem do verbo grego chairo, "regozijar" ou
"estar alegre".
Em outros versículos é a palavra suchairo — obviamente relacionada a chairo, mas
com o prefixo sug, que transforma o significado. A concordância nos diz que sugchairo
significa "regozijar-se com". Assim, nos dois exemplos de alegria em Filipenses 2:17-18,
Paulo fala sobre uma experiência compartilhada. Isso é bastante óbvio no texto. Mas uma
boa concordância o ajudará quando algo não for tão óbvio. Assim, mesmo que você não
conheça as línguas originais, não tem de ficar em desvantagem.
USANDO A CONCORDÂNCIA PARA ESTUDAR PALAVRAS OBSCURAS

Outro uso de uma concordância é esclarecer referências obscuras. Por exemplo, su­
ponha que esteja estudando os livros de 1 e 2 Reis, e se depare com o nome Moloque em
1 Reis 11:7:

"Nesse tempo edificou Salomão um santuário a Camos, abominação de Moa-


be, sobre o monte fronteiro a Jerusalém, e a Moloque, abominação dos filhos
de Amom."

Quem ou o quê era Moloque? O texto diz que era um ídolo detestável a quem Sa­
lomão estava aparentemente construindo um centro de adoração. Mas você decide fazer
um pequeno estudo comparativo. Procura então, Moloque na concordância e descobre
que o mesmo nome aparece oito vezes no Antigo Testamento e uma no Novo. Isso nos diz
algo sobre o tempo de Moloque.
Você nota também que, das oito referências, cinco estão em Levítico, uma em 1 Reis,
uma em 2 Reis e mais uma em Jeremias. Isso deve voltar sua atenção a Levítico. Verifican­
do as entradas da concordância, você lê em quatro dos cinco casos sobre a descendência
sendo oferecida a Moloque. Assim você tem uma pista da razão porque o autor chama
Moloque de "o ídolo detestável". As pessoas sacrificavam seus próprios filhos a ele. lí
aparentemente, Salomão estava começando a se envolver com isso.
De todas as ferramentas do estudo bíblico, a concordância é aquela que você irá
usar mais freqüentemente. Ela é ideal para estudos de palavras porque localiza termos
no texto. Também lhe dará um bom início na tarefa de comparação de Escrituras com Es­
crituras, que é a melhor maneira de se entender o significado de termos bíblicos. Se você
adquirir apenas um recurso secundário para o programa de estudo da Bíblia, certifique-
se de que é uma concordância completa da tradução de sua Bíblia. O investimento valerá
a pena muitas vezes.

USANDO O DICIONÁRIO BÍBLICO

A outra ferramenta para uso na investigação de termos nas Escrituras é o dicionário


bíblico. O Dicionário Expositivo de Palavras do Novo Testamento de Vine é um que lida com
as traduções da língua grega, mas os Dicionários de Davis ou Douglas mencionados an­
teriormente também servem. Vamos usá-lo para averiguar a palavra terra.
Lembra-se de nossa observação de Atos 1:8 (capítulo 6)? Jesus disse aos apóstolos
que eles deviam levar o evangelho "até às partes mais remotas do mundo". Eu disse que
a palavra terra significa a terra habitada. Como eu soube disso? Procurei no dicionário de
Vine.
Vine nos dá uma visão geral abrangente da palavra terra. Ele mostra que existiam
churn palavra* grega* comumenle tradu/ldai» por "term": x<‘ (pronunciada "guê") e oikou-
unite (pronunciada "oi-ku-nwnê").
G? era usada para descrever cinco principais idéias: a terra como terra arável; a terra
como um todo, o mundo (palavra oposta a "céus"); a terra habitada; um país ou território;
o chão e o terreno. Baseado em seu extenso conhecimento de grego antigo, Vine alista ver­
sículos do Novo Testamento para cada um desses usos. Atos 1:8 é alistado com o terceiro
significado, "a terra habitada"
E interessante notar que todas as referências de Lucas e Atos estão sob este terceiro
significado, e nenhuma sob as outras cinco. Das nove referências alistadas com "terra
habitada", seis são do livro de Atos. Assim, terra é um termo crucial para Lucas. Todas as
vezes que ele o usa, está se referindo à "terra habitada". Sua proeminência em Atos acres­
centa peso à nossa conjectura de que Atos 1:8 é como um perfil do livro. Jesus diz para
Seus seguidores irem à terra habitada, e é exatamente para lá que vão.
Outra informação que Vine nos dá é que a outra palavra para terra, oikouméne, tam­
bém denota a terra habitada e acrescenta a seguinte nota (itálico acrescido): "A palavra
é traduzida por 'mundo' em qualquer lugar onde tem esse significado, exceto em Lucas
21:26...onde é traduzida 'terra'". (Na maioria das traduções brasileiras, a palavra oikouméne
em Lucas 21:26 foi traduzida por mundo). Muito interessante. Uma vez mais, Lucas tem
em mente a terra habitada. O que você supõe que isso sugira sobre o propósito do relato
dos dois volumes dele?
Palavras são blocos básicos na construção da linguagem. Para entender qualquer
tipo de literatura, é preciso que se chegue a um acordo com o autor; temos de interpre­
tar as suas palavras. Concordâncias e dicionários bíblicos são de inestimável valor para
ajudá-lo a fazer isso. Entretanto, algumas palavras tem um significado que se posiciona
abaixo da superfície. A estas chamamos figuras de linguagem, veremos como funcionam
no próximo capítulo.
Experimente
Nesta última parte do estudo de Daniel 1-2, quero que você faça dois estudoM
de palavras que têm importantes implicações na interpretação desta passagem. A
primeira palavra é "contaminar", em Daniel 1:8:

"Resolveu Daniel firmemente não contaminar-se com as finas iguarias


do rei, nem com o vinho que ele bebia; então pediu ao chefe dos eunucos
que lhe permitisse não contaminar-se. " (itálicos acrescidos)

O segundo termo é últimos dias, em Daniel 2:28:

"Mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios; pois fez saber
ao rei Nabucodonosor o que há de ser nos últimos dias. O teu sonho e
as visões da tua cabeça quando estavas no teu leito são estas" (itálico
acrescido).

Use uma concordância para localizar outros usos destas palavras na Bíblia.
O que você pode aprender com estes textos adicionais? Então procure contaminar e
últimos dias no dicionário bíblico para ver o que mais você pode descobrir sobre o
significado destes termos.
Entendendo o
Sentido Figurado
Um homem bastante velho sentou-se diante de seus doze filhos. Seus olhos haviam
enfraquecido, mas sua visão não. Sabendo que sua hora estava chegando, ele desejou pro­
nunciar sua visão do futuro de cada homem. Eles ficaram esperando, com respeito, em
•ilêncio. Finalmente o ancião falou: "Aproximem-se, meus filhos. Prestem bem atenção no
que seu pai lhes vai dizer".
Os sucessores reunidos se aproximaram, esforçando-se para ouvir. Roberto, o mais
velho, ocupava uma posição no centro deles. Foi a ele que a ofegante voz falou primeiro.
"Roberto, você foi o primeiro, meu orgulho e alegria. Mas você é muito explosivo,
não mais será o primeiro".
O semblante do filho caiu, relutando com vergonha e furor, mas não ousava respon­
der. O velho continuava sem interrupção.
"Estêvão e Lourenço. Vocês são ladrões e assassinos. Para vocês, não tenho bênção,
apenas uma maldição.
"João, você é um filhote de leão, portanto, governará. Mas um dia lavará suas rou­
pas em vinho.
"Zacarias é um porto marítimo onde navios encontrarão ancoradouro."
"Ivan não passa de uma mula selvagem. Satisfeito com qualquer um que o alimen­
te, passará seus dias em trabalho forçado."
"Daniel, você é uma cobra na estrada. Atacará seus irmãos e será seu juiz."
"Jorge, você é um bandido. Roubará e será roubado. Viverá na incerteza."
"Arlindo adora as melhores carnes, mas passará a vida cozinhando, não comendo."
"Natanael é um cervo correndo. Suas palavras saltarão e dançarão."
"Jônatas, você é minha árvore plantada na margem fresca do rio. Crescerá, prospe­
rará e dará sombra a todos os seus irmãos. A você virão as bênçãos dv meus pais c alia vês
de você passarei as bênçãos a meus descendentes."
"Bradley, meu último, é um lobo vicioso, faminto e selvagem. Matará o dia todo,
devorará a noite toda."
Ele terminou abruptamente, e nada se pode ouvir a não ser o zumbido de moscas.
Ninguém se moveu. Cada filho meditava nas palavras proferidas a si. Não notaram que a
cabeça do tagarela patriarca, suas palavras terminando, havia caído em seu peito e dado
seu último suspiro.

UMA MANEIRA DE DIZER

O que devemos fazer com este conto bíblico? Ah, esqueci de contar a você? Esta e
uma reconstrução livre de Gênesis 49, onde Jacó convoca seus doze filhos e profetiza o
futuro da linhagem de cada um.
Se você leu o relato, irá notar as bizarras descrições atribuídas a muitos deles: Judá
é chamado "leãozinho" (v. 9); Zebulom é um "porto de navios" (v. 13); Issacaré "jumento
de fortes ossos" (v. 14); Dã é uma "víbora junto à vereda" (v. 17); Naftali é uma "gazela
solta" (v. 21); José é um "ramo frutífero" (v. 22) e Benjamim é um "lobo que despedaça"
(v. 27).
Novamente pergunto: o que fazer dessas descrições? Poderiamos esperar que Noé
falasse a seus filhos assim após terem sido confinados na arca, mas o que estas palavras
estão fazendo na boca de Jacó? Devemos considerá-las literalmente? Se não, por que não?
Como saber quando as Escrituras estão realmente apresentando uma realidade e quando
estão meramente descrevendo a realidade?
O problema aqui é a linguagem figurada. Todos conhecemos as figuras de lingua­
gem. Nós as usamos o tempo todo: "poderia ter morrido de vergonha", "acho que não
vai dar para fugir da raia", "fulano está zangado como um touro", "ele quase morreu de
tédio", "não abra o bico", "ela tem uma estrela na testa".
Os escritores e personagens bíblicos não eram diferentes. Eles entreteciam seu ma­
terial com imagens vividas e maneiras peculiares de falar. Davi diz que a pessoa que
segue a Palavra de Deus será como uma árvore, mas o ímpio é como a palha (Salmo 1:3-4).
A noiva em Cantares de Salomão 2:1 diz que é a "rosa de Sarom, o lírio dos vales". Ela
chama seu amante de gamo ou filho da gazela, "galgando os montes, pulando sobre os
outeiros" (2:8-9). Jesus chamou Herodes de raposa (Lucas 13:32), os fariseus de sepulcros
caiados (Mateus 23:27), e Tiago e João de Filhos do Trovão (Marcos 3:17). Paulo chamou
os falsos mestres de cães (Filipenses 3:2).
Evidentemente, a linguagem figurativa da Bíblia pode ser muito mais elaborada, e
ir até além da palavra falada, em lições de objeto gráfico. Deus disse a Jeremias que com­
prasse um jarro de barro, o levasse aos líderes, profetizasse contra eles e então quebrasse
o jarro como uma figura daquilo que Deus ia fazer à nação (Jeremias 19). Disse também
<1 (Isolan que mo cannsno rom umn adúltera como símbolo do amor fiel de Dchin pelo Seu
povo e de sua infidelidade a l(le (Onelas 1:2-9; 3:1-5).
Quando chegamos ao Apocalipse de João, nos deparamos com uma linguagem bas­
tante incomum. Uma potestade do céu aparece como uma pedra de jaspe rodeada por um
arco-íris (4:3). Ele vê um cordeiro com sete chifres e sete olhos (5:6), e também uma besta
se levantando do mar, com dez chifres e sete cabeças (13:1). No final do livro, uma cidade
toda, com mais de três milhões de quilômetros quadrados, cai do céu (21:16).
Estas coisas contribuem para uma leitura interessante. Mas o que querem dizer?
Como interpretá-las em nosso processo de estudo bíblico? Como saber quando ler a Bí­
blia literalmente e quando figurativamente?
Falarei sobre dez princípios de como entender o figurativo. Mas antes, certifique-
mo-nos de que entendemos a diferença entre "literal" e "figurativo". As pessoas falam
sobre uma "interpretação literal das Escrituras". Mas isso significa que em Gênesis 49,
veem Judá como um verdadeiro filhote de leão vivo? Ou José na beira de um riacho com
raízes fincadas no solo? Ou Benjamim como um tipo de lobisomem incontrolável? Se é
assim, tenho um bom psiquiatra a quem posso recomendar.
Quando falamos em "interpretação literal", queremos dizer que aceitamos a lingua­
gem em seu uso normal, aceitando-a em seu significado normal, como se o escritor esti­
vesse comunicando da maneira com que as pessoas normalmente se comunicam. Como
uma pessoa colocou: "Quando o senso claro das Escrituras faz bom senso, não procure
outro sentido".
Assim, de acordo com este princípio, quando Jesus nos diz para "dar a César o que
é de César" (Lucas 20:25), não precisamos procurar por algum significado escondido ou
interpretação elaborada. Está bastante claro que Ele está falando para pagarmos nossos
impostos. Por outro lado, quando Ele chama Herodes de raposa, obviamente não está
dizendo que o homem é um carnívoro vagante. Está falando figuradamente, comparando
Herodes a uma criatura astuciosa como a raposa.

ENTENDENDO O FIGURATIVO

O que acontece quando o "senso claro" não faz bom senso? Há regras que gover­
nam quando devemos interpretar expressões bizarras figuradamente e quando devemos
tomá-las literalmente? Temo que não haja meios a prova de erros para isso, mas eis dez
princípios que o manterão livre dos tipos mais graves de problemas.

1. Use o sentido literal a menos que haja uma boa razão para não fazê-lo
Isso está claro pelo que acabamos de falar. Ao ler a Bíblia, temos de assumir que os es­
critores eram pessoas normais e racionais que se comunicavam das mesmas maneiras
básicas que nós. Mas muitas e muitas vezes, as pessoas tentam "espiritualizar" o texto,
tentando fazê-lo dizer tudo, menos o que claramente diz.
Uma ilustração clássica é Cantares de Salomão. Por anos, os Intérprete# disseram
que o livro é uma alegoria do relacionamento entre Cristo e a Sua igreja. Mas como isso
pode possivelmente concordar com o texto, sendo que o poema foi escrito séculos antes
de Cristo? Cantares tem uma forma lírica definida e precisa ser lido de acordo com as
convenções de seu gênero. Além disso, há uma interpretação mais simples e mais sensata:
este é um livro que celebra o amor erótico no casamento, como Deus pretendeu que fosse.

2. Use o sentido figurado quando a passagem indicar que assim se deve fazer
Algumas passagens deixam claro logo de início que envolvem imagens figurativas. Por
exemplo, quando você se deparar com um sonho ou visão, pode esperar encontrar lin­
guagem simbólica, porque esta é a linguagem dos sonhos. Em Gênesis 37, fica claro pelo
contexto, que os sonhos de José são a respeito das coisas que irão acontecer no futuro. O
mesmo acontece quanto aos sonhos de Faraó, em Gênesis 41 e com as visões proféticas,
em Daniel 7-12.

3. Use o sentido figurado se o sentido literal for impossível ou absurdo


É aqui que precisamos ter bom senso santificado. Deus não Se esconde em misticismo im­
penetrável. Quando Ele quer nos dizer algo, nos diz. Ele não nos confunde com bobagens.
Por outro lado, Ele Se usa frequentemente de simbolismo para mostrar o Seu objetivo.
Mesmo assim espera que os leiamos como símbolos, não como absurdos.
Considere Apocalipse 1:16, onde o Senhor aparece: "da boca saía- lhe uma afiada
espada de dois gumes". O que significa isso? Que provavelmente nosso Senhor tinha uma
espada literal, saindo de Sua boca? Duvido. A explicação mais provável é figurada; assim,
precisamos pesquisar o texto para saber o que esta figura representa.
Provavelmente não é o que você pensa. Você pode estar pensando em Hebreus 4:12,
que diz que a Palavra de Deus é "mais cortante do que qualquer espada de dois gumes".
Com base nisso, pode presumir que a imagem de Apocalipse seja sobre Cristo e Sua Pala­
vra. Mas um estudo de termos nos leva a uma outra direção.
A palavra usada para "espada" em Apocalipse 1:16 não é a mesma palavra de He­
breus 4:12. Em Hebreus, a espada é pequena, de lula, como aquelas usadas pelos solda­
dos romanos. Mas a espada de Apocalipse é uma espada grande e cerimonial de vitória
e julgamento que, levada por um rei conquistador, seria usada para executar o derrotado
após procissão triunfal. Veja como isso se encaixa com o tema e imagens de Apocalipse.
Portanto, a linguagem figurada pode ser tanto descritiva quanto precisa.

4. Use o sentido figurado se um significado literal envolvería algo imoral


Em João 6:53-55, Jesus confunde certos judeus que se opuseram a Ele com as seguintes
palavras:

"Em verdade, em verdade, vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do


I iomem e nflo beberdmi o wu Mnguv, nâo tende» vida em vó» menmoM. Quern
comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressusci­
tarei no último dia, Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue
é verdadeira bebida."

Esta é, no mínimo, uma maneira estranha de se falar. Estaria Ele sugerindo que
Seus seguidores se tornassem canibais? Nâo, isso seria uma repulsiva violação da lei do
Antigo Testamento. E nenhum de Seus ouvintes considerou desta maneira o que Ele dis­
se. Embora, com certeza, tenham ficado confusos com as Suas palavras: "Como pode
este dar- nos a comer a sua própria carne?" gritaram os fariseus (6:52). Como podemos
ver, eles estavam lutando corpo a corpo com o problema da interpretação. Alguns outros
disseram: "Duro é este discurso, quem o pode ouvir?" (6:60). Mas reconheceram que o
Senhor estava falando figuradamente.
Deus nunca viola Seu caráter. Desde que baseia Sua Palavra em Seu caráter, pode­
mos saber que Seus mandamentos são consistentes com quem Ele é. Ele nunca nos pede
para fazermos algo que Ele não faria ou que já não tenha feito.

5. Use sentido figurado se a expressão for obviamente uma figura de linguagem


O texto bíblico frequentemente faz notar o seu uso de figuras de linguagem. As símiles,
por exemplo, usam as palavras como e tal para fazer comparações: "Como jóia de ouro em
focinho de porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição" (Provérbios 11:22, itáli­
co acrescido). "Ele [o Senhor] os faz saltar como um bezerro" (Salmo 29:6, itálico acrescido).
As Escrituras usam outras figuras de linguagem que somente fazem sentido quan­
do lidas figuradamente. Quando Isaías prediz que "A lua se envergonhará, e o sol se con­
fundirá" (24:23), está obviamente usando uma personificação. Quando Paulo cita Oseias
"Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?" (1 Coríntios 15:55),
ele está usando uma forma chamada apóstrofe, dirigindo-se a uma coisa como se fosse
uma pessoa. Expressões como "ele foi unido a seu povo", um homem "conheceu" sua
esposa, o Senhor entregou o povo "às mãos de seus inimigos, ou alguém "dormiu" são
cufcmismos e expressões comuns.

6. Use sentido figurado se uma interpretação literal contraria o contexto e a esfera


de ação da passagem
Apocalipse 5:1-5 descreve uma cena fascinante diante do trono de Deus. Lemos sobre "o
Leão da tribo de Judá". O escritor está falando sobre um animal literal? Obviamente não,
isso não faria o menor sentido no contexto. Um pouco de estudo comparativo mostra
que ele está usando um título dado ao Messias. Precisamos determinar o que tal título
representa e por que ele o usa.
Lembre-se de que ao tentar entender o figurativo, um de seus melhores guias é o
contexto.
7. Use sentido figurado se uma Interpretação literal contraria o caráter geral e o
estilo do livro
Esta é na verdade uma extensão do que acabamos de ver. Lembre-se, o contexto de qual­
quer versículo é o parágrafo, a seção, e finalmente o livro do qual é parte.
Este princípio se aplica especialmente a dois tipos de literatura: a profética, que
muitas vezes faz sentido somente se lida figuradamente; e a poética, que emprega lingua­
gem imaginativa rotineiramente.
Por exemplo, o salmista diz: "À sombra das tuas asas eu canto jubiloso" (Salmo
63:7). Isso não significa que Deus tenha penas, mas que Ele realmente protege Seus filhos
com o mesmo cuidado alerta com que a águia mãe protege seus filhotes pipilantes. Esta
imagem se encaixa na atmosfera e no estilo geral do salmo.

8. Use sentido figurado se uma interpretação literal contraria o plano e propósito


do autor
Novamente, o contexto é crucial. Você já ouviu alguém fazer uma interpretação de um
versículo que soa plausível isoladamente, mas herética em comparação com os versículos
vizinhos? É como o caso do patinho feio. Não se encaixa. Alguma coisa está fora de lugar.
Na verdade, um bom hábito a se adquirir quando interpretar uma passagem é voltar,
verificar a interpretação e fazer a pergunta: o que há de errado com este quadro? Ou será
que tudo se encaixa?
Vimos no Salmo 1 que a pessoa que se agrada da lei de Deus será como a árvore
bem regada. O versículo 3 acrescenta: "tudo quanto ele faz será bem sucedido". Algumas
pessoas, porém, ao lerem o versículo, clamam que ele garante prosperidade material a
todo crente fiel. Mas isso realmente se encaixa no contexto ou no propósito do autor?
Dificilmente. Verificando-se o Salmo 1 e o restante dos salmos, fica claro que os sal-
mistas estavam muito mais preocupados com o andar das pessoas com Deus do que com
seu bem-estar financeiro. Salmo 1:3 faz mais sentido se entendermos que ele descreve a
qualidade do fim de uma pessoa, não a quantidade de bênçãos que desfruta.

9. Use sentido figurado se uma interpretação literal onvolve uma contradição de


outras partes das Escrituras
O maior intérprete das Escrituras são as próprias Escrituras. A Bíblia é unificada em sua
mensagem. Embora ela, às vezes, nos apresente paradoxos, nunca nos confunde com
contradições.
Jesus disse a Seus seguidores: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma
agulha, do que entrar um rico no reino de Deus" (Marcos 10:25). Que imagem intrigante
... As pessoas têm ido tão longe para tentar explicar o que Jesus está falando.
Mas uma coisa é certa: Ele não está dizendo que não pode haver salvação para o
rico. Isso é o que os discípulos perguntaram (v. 26). Não só Ele responde a pergunta deles
(v. 27), mas o restante das Escrituras ensinam algo diferente. Por exemplo, Paulo adverte
conlrn on perigos da rlque/n (I TImòleo 6:17-19), maw nunca diz que on ricos eslAo cntcgo*
ricamente excluídos do reino.
Assim, se Marcos 10 Íohnc tudo o que tivéssemos sobre o assunto, poderiamos ter
razão para dúvidas como os discípulos tiveram. Mas pela comparação de Escrituras com
Escrituras, podemos estabelecer uma perspectiva.

10. Use sentido figurado se uma interpretação literal envolve uma contradição
doutrinária
Isso é conseqüente do ponto que acabamos de frisar. Precisamos ser consistentes em nossa
interpretação das Escrituras e nos sistemas de fé que construímos, usando as Escrituras.
Em 1 Coríntios 3:16-17, Paulo escreve:

"Não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em
vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o san­
tuário de Deus, que sois vós, é sagrado."

Esta linguagem é bastante severa. O que Paulo quis dizer por: "Se alguém destruir o
santuário de Deus, Deus o destruirá?" Isso é uma ameaça de que se uma pessoa cometer
suicídio, será privada de sua salvação? Alguns pensam assim. Mas isso não só compro­
mete o contexto, também é conflitante com a doutrina da segurança eterna, o ensino que
Deus preservará Seus filhos. Além disso, Paulo nos encoraja a ler esta passagem e seu
contexto figuradamente (4:6). Uma interpretação literal não faria sentido.

Experimente
Eis uma chance de você mesmo tentar "entender o figurativo". Leia e estude o
Salmo 139, um dos mais profundos e íntimos de todos os salmos. Ele está repleto de
linguagem figurada. Use os princípios abordados neste capítulo para interpretar o
que Davi está dizendo. Consulte a lista de "Figuras de Linguagem" na página se­
guinte, mais um auxílio no reconhecimento e entendimento da imaginação de Davi.
(Aliás, não se esqueça de começar pelo passo da Observação.)
Figuras dií Linguagem

Antropomorflsmo
Atribuição de características ou ações humanas a Deus.

"Eis que a mão do Senhor não está encolhida para que não possa salvar;
nem surdo o seu ouvido para não poder ouvir" (Isaías 59:1).

Apóstrofe
Referencia a uma coisa como se fosse uma pessoa, ou a uma pessoa ausente ou ima­
ginária como se estivesse presente.

"Onde está, ó morte, a tua vitória? onde está, ó morte, o teu aguilhão?"
(1 Coríntios 15:55).

Eufemismo
Uso de uma expressão menos ofensiva para indicar uma mais ofensiva.

"Oxalá até se mutilassem os que vos incitam à rebeldia" (Gálatas 5:12).

Hipérbole
Exagero em dizer mais do que o significado literal.

"Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder sendr" (2


Coríntios 11:8).

Hlpocatástase
Comparação na qual a semelhança é implícita, não diretamente declarada.

"Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia" (Lucas 12:1).

Idioma
Expressão peculiar de um povo.

"Entrarei [Sansão] na câmara de minha mulher" (Juizes 15:1).

Merismo
Substituição de duas partes contrastantes ou opostas pelo todo.

Sabes quando me assento e quando me levanto" (Salmo 139:2).


Metáfora
Comparação na qual uma coisa representa outra.

"Vós sois a luz do mundo" (Mateus 5:14).

Paradoxo
Declaração que parece absurda, autocontraditória ou contrária ao pensamento ló­
gico.

"Portanto, quem quiser salvar a sua vida, perde-la-á; e quem perder a


vida por minha causa acha-la-á" (Mateus 16:25).

Personificação
Atribuição de características ou ações humanas a objetos inanimados ou animais.

"A lua se envergonhará, e o sol se confundirá" (Isaías 24:23).

Pergunta retórica
Pergunta que não requer resposta, mas obriga a responder mentalmente e a consi­
derar suas ramificações.

"Neste Deus ponho a minha confiança e nada temerei. Que pode me


fazer o homem?" (Salmo 56:11).

Símile
Comparação usando "como" ou "tal".

"Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas" (Salmo 1:3).


Juntando as Partes
A.té aqui nesta seção, muita informação sobre a interpretação das Escrituras foi provida.
Destaquei alguns obstáculos ao entendimento do texto, bem como alguns perigos a se­
rem evitados. Discuti a importância do gênero e sua influência sobre o que lemos. Foram
dadas também cinco chaves que revelam o significado do texto — conteúdo, contexto,
comparação, cultura e consulta.
Em termos de consulta, revi alguns dos vários tipos de fontes secundárias que po­
dem auxiliar no processo. Então, focalizei o uso da concordância na investigação de ter­
mos, e finalmente alistei os dez princípios para se entender passagens figuradas no relato
bíblico.
Agora vamos nos envolver mais. Neste capítulo quero demonstrar como juntar es­
tas partes do processo, analisando uma passagem específica, os primeiros dois versículos
de Romanos 12. Eles formam um parágrafo, o que ajuda. Lembre-se de que o parágrafo
forma a unidade básica do estudo bíblico. (Veja página 268, recriação textual.)

POR QUE A PALAVRA "POIS” FOI COLOCADA ALI?

Dissemos que a primeira chave para a interpretação precisa das Escrituras é o con­
teúdo. Isso tem base na observação do texto. Comecemos com ela.
A primeira coisa que me chama a atenção neste texto é seu senso de urgência. "Ro­
go-vos", começa o versículo 1, "suplico", "imploro". Gosto da colocação de J. B. Phillips:
"Com os olhos bem abertos para as misericórdias de Deus". Assim, Paulo se aproxima de
seus leitores com um senso de urgência.
Uma das primeiras palavras do parágrafo é a palavra chave pois. Isso é essencial.
Lembre-se de nosso lema: quando vir um pois (ou portanto), pare para ver por que se en­
contra na frase. Aqui, "pois" nos compele a voltar e verificar o contexto precedente. Então
aceitemos a sugestão do escritor e voltemos no texto para formar a idéia geral de Romanos.
Utnn pVNquiM rcvolrt qut* o trmd do livro de Romnnof» encontra-w no capítulo I,
versículo 17, onde o eNcritor now diz que está falando sobre a "justiça de Deus" — não a
noNsa própria justiça, mas aquela que Ele provê.
Além disso, há tiês principais divisões no livro. Os primeiros oito capítulos lidam
com a justiça que Deus revelou mas que nós devemos receber. Nos capítulos 9-11, o assun­
to é Israel. Paulo fala que a justiça de Deus foi rejeitada pelo Seu povo. Finalmente, come­
çando o capítulo 12 (onde temos nossa passagem, com "pois" no primeiro versículo), che­
gamos à seção prática do livro, que fala sobre uma justiça reproduzida na vida do crente.
Portanto, a partir de um conectivo, já obtivemos uma boa visão geral do livro.
Mas há uma outra expressão que nos obriga a ver a conexão: "pelas misericórdias
de Deus". Em outras palavras, as misericórdias de Deus se tomam a base do apelo urgen­
te de Paulo. Com efeito esta expressão resume os primeiros onze capítulos do livro. Paulo
está dizendo, essencialmente: "Com base no que Deus fez por você, quero que você faça
alguma coisa". Isto é uma verdade espiritual importante. Deus nunca nos pede para fazer
nada para Ele até que nos informe completamente o que Ele tem feito por nós.
O que Ele quer que façamos? O versículo 1 o diz claramente: "que apresenteis os
vossos corpos". O que isso significa? A palavra apresentar é um termo chave, e precisamos
fazer um esforço para entendê-la. Na verdade, ela é um termo técnico, é usado na apre­
sentação de um sacrifício a Deus no Templo no Antigo Testamento. Tem a idéia de ceder
algo para alguém, abdicar da posse de algo. "Apresentar" significa que você não pode
ceder algo e tomá-lo de volta. Há um elemento de resolução.

1 “Rogo-vos, pois, irmãos,


pelas misericórdias de Deus,
que apresenteis os vossos corpos
por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus,
que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos
pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja
a boa,
agradável
e perfeita vontade de Deus”.
INVESTIGAÇÃO DE TERMOS

Agora, como já vimos, quando encontrarmos um termo como esse, precisaremos Ia


zer uso intensivo da concordância. Assim faremos. A concordância nos diz que a mesma
palavra, apresentar, é usada em Lucas 2:22:

"Passados os dias da purificação deles [de Maria e José] segundo a lei de Moi­
sés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor." (itálico acrescido)

Então Jesus foi apresentado a Deus no Templo por Seus pais. Isso nos dá um pouco
de visão da vida de nosso Senhor, dado o significado de apresentar, seus pais O estavam
dando a Deus, sem pensar em pegá-LO de volta.
A concordância também nos diz que a palavra apresentar é usada em outro lugar no
livro de Romanos. Isso ajuda, já que o mesmo termo usado pelo mesmo autor no mesmo
livro nos provê muita visão do texto. É como ter irmãos e irmãs na mesma cidade, em opo­
sição a ter parentes distantes, morando longe. Eis o que encontramos em Romanos 6:13:

"Nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como instru­


mentos de iniqüidade: mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os
mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça." (itálico
acrescido)

Em outras palavras, ele está dando uma opção a você: ou apresenta seu corpo como
instrumento de justiça, ou pode apresentá-lo como instrumento de pecado.
Permita-me ilustrar. Considere o bisturi de um cirurgião. É mais afiado do que uma
lâmina, leve ao toque e estéril. Resumindo, é perfeito para o propósito para o qual foi
designado, mas o problema é, em que mãos é colocado. Em minhas mãos, seria carnifici­
na, mas nas mãos de um habilidoso cirurgião, traz cura e saúde ao paciente. Isso é o que
Paulo descreve em Romanos 6: apresente seu corpo às mãos certas, à Pessoa que irá usá-lo
habilidosamente para realizar Seus propósitos.
Mas note: Paulo está falando sobre a apresentação de seu corpo — o mesmo como
em Romanos 12. O que é "o corpo"? Um estudo da palavra revela que a palavra se refere
à pessoa total, ao ser total. Também representa o instrumento de sacrifício. Na verdade,
este é o único instrumento de sacrifício que temos, a única coisa que podemos dar a Deus.
(Você encontrará dois outros usos de apresentar na mesma seção de Romanos [6:16 e 19].
Deixarei que você mesmo os investigue.)
Apresentar também aparece em Efésios 5, na passagem sobre maridos e esposas:

"Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si


mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por
melo da lavagem de Agua pela palavra, para a apresentar a hí mesmo igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém, santa e sem
defeito/' (vv. 25-27, itálico acrescido)

Novamente, encontramos a mesma palavra. Se você é marido, a Bíblia cobra de


você a responsabilidade de apresentar sua esposa a Deus. Você é responsável pelo seu
relacionamento com a mulher que Deus lhe deu.
Há várias outras passagens que poderiamos analisar, mas consideremos apenas
uma delas, Colossenses 1:28:

"O qual nós anunciamos [Cristo], advertindo a todo homem e ensinando a


todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem
perfeito em Cristo." (Itálico acrescido)

Qual foi o propósito de Paulo ao falar às vidas de outras pessoas? Apresentar cada
uma delas ao Senhor, para que pudessem chegar à maturidade completa.

BctíC' - Kotrumoycopií 1-11


deeviã^r pelas misericórdias de Deus,
que apresenteis os vossos corpos
por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus,
que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este século,

mas transform ai-vos


pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja
a boa,
agradável
e perfeita vontade de Deus”.
ADQUIRA VISÃO ATRAVÉS DA CONSULTA

Em Romanos 12, precisamos notar várias coisas a respeito da apresentação de nos­


sos corpos a Deus. Primeira, estamos apresentando um "sacrifício vivo". Isto é uma con­
tradição em termos — exceto no reino espiritual. Não estamos falando sobre o ofereci­
mento de um corpo morto, mas de um corpo muito vivo. Deverá ser sacrificado a Deus.
E tem que ser tanto santo quanto agradável.
Paulo dá uma conclusão sobre esta atitude na expressão: "que é o vosso culto ra­
cional". O que isso transmite? Isso mostra a expectativa de que apresentar-nos a Deus é
realmente o mínimo que podemos fazer, a coisa mais lógica que poderiamos fazer, à luz
do que Ele fez por nós.
Agora chegamos no versículo 2: "E não vos conformeis com este século". Usamos o
princípio da interpretação de comparação de Escrituras com Escrituras para investigar o
significado de apresentar. Aqui podemos usá-lo para aprender algo sobre ser "conforma­
do" com o mundo.
Se procurarmos conformar em um dicionário bíblico, descobriremos que a palavra
tem a idéia de despejar algo em um molde. Conhecemos o processo de dissolver gelatina
em água fervente e despejá-la em uma forma própria. Quando ela esfria, retém o formato
do molde.
Esta é a idéia que Paulo usa aqui. "Não permitam que o mundo ao redor os force
a se encaixarem em seus moldes", parafraseia Phillips. Não adquira a forma do mundo,
não permita que o mundo faça o oposto do que Deus quer fazer.
Como podemos ver, de acordo com esta passagem, temos uma opção. A pequena
palavra mas indica um contraste, e aprendemos que devemos prestar muita atenção em
coisas que são opostas. Nossa opção — a alternativa de se conformar com o padrão do
mundo — é "ser transformado". Este também é um termo chamativo. Indica uma me­
tamorfose, uma transformação completa. É como a pequena lagarta que faz para si um
casulo. Depois de algum tempo, começa a manear e vai gradualmente saindo dele, reve­
lando uma forma completamente transformada em borboleta.
Mas note: a transformação da pupa acontece de dentro para fora. Assim é Romanos
8, como indica Paulo, quando diz: "Transformai-vos pela renovação da vossa mente".
Outro princípio que vimos foi o de consulta. Isto é, feito nosso próprio estudo
exaustivo do texto, podemos então ir às fontes secundá-rias, talvez a um comentário, para
descobrir que tipo de luz ele lançaria sobre a passagem. Consultando um comentário
sobre esta passagem, ganhamos profunda visão dela. Aprendemos que a palavra usada
para "ser transformado" está, na verdade, na forma passiva do verbo, enquanto a palavra
para "renovação" é ativa.
Neste ponto, pode ser que tenhamos de voltar ao ginásio e espanar as teias de ara­
nha de nossa mente. Tudo o que é passivo sofre a ação; o ativo pratica a ação. Assim sen­
do, Paulo está dizendo que nós não fazemos a transformação; Deus a faz. Não podemos
/"tu* (1:17)
1 8/9 11/12 16.
1 “Rogo-vos, (bois?) irmãos,
. . . , Sa4€" ■ 'Roma^voi'copy. 1-11
pelas misericórdias de Deus,
que apresenteis os vossos corpos cap. 6:13 &La 2:22/Ef. 5:25-27
-----------------------
-------------- cont)'adóç<xo? 6:16,19
por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus, chaA,e/
(9 Fnónúno-que-
que é o vosso culto racional.
yE não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos Metzunorfbse/
pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja
a boa,
agradável
e perfeita vontade de Deus”.

fazê-la, então Ele a faz por nós. Há alguma coisa que possamos fazer? Sim, podemos
renovar nossas mentes; esta é nossa tarefa. Na verdade, o recondicionamento de nosso
pensamento é o que permite que Deus efetue a transformação.
Nos meus primeiros anos como crente, fui grandemente influenciado por Donald
Grey Bamhouse, o pastor da Décima Igreja Presbiteriana em Filadélfia. Com efeito, ele
serviu como mentor para mim. Passei muito tempo com ele, e lembro-me de ter pergun­
tado uma vez: "Dr. B., como posso descobrir qual a vontade de Deus?"
Jamais me esquecerei de sua resposta. Em seu jeito tipicamente brusco, ele virou e
disse: "Hendricks, noventa porcento da vontade de Deus se encontrará na parte locali­
zada acima de seu pescoço!" Ele deu meia volta e foi embora. Eu fiquei um pouco ator­
doado. Mas de repente comecei a compreender por que foi que o Dr. Bamhouse passara
tanto tempo, fazendo uma "lavagem cerebral" em minha mente com a Palavra de Deus.
É aí que Deus começa a fazer o Seu trabalho de conformação de minha pessoa a Cristo —
em minha mente.
Infelizmente, a maioria de nós está conformada com este mundo. A maior parte das
vezes não gastamos tempo pensando em todas as opções para tomarmos uma decisão
informada. Simplesmente agimos, porque nossa cultura o faz. Nossa sociedade nos es­
preme dentro de nou molde. Como? Trabalhando em nossas montra, ft por isso que ó tAo
perigoso colocar nossas mentes em ponto morto e seguir o fluxo da maioria.

“PROVANDO” A VONTADE DE DEUS

Qual o propósito da obra transformadora de Deus? O que ela fará por nós? Paulo
escreve: "Para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus".
O estudo de palavras revela que experimentar significa testar ou provar. Por exemplo, uma
pessoa leva uma peça de joalheria a um avaliador, que a avalia e apreça seu valor. "Isto é
prata genuína", diz, "e vale tanto". Da mesma maneira, Paulo diz que nós iremos provar
três coisas sobre a vontade de Deus.
Primeira, iremos apreçá-la como "boa". O termo boa tem sido desvalorizado por
nossa cultura. Suponha que eu anuncie um carro para venda, e um provável comprador
pergunte: "Qual a condição do carro?"
"É boa", digo.
Sua tendência será indagar: "qual o problema com ele? Corrompemos tanto a pala­
vra boa que, a menos que algo seja "fantástico", pensamos que é uma porcaria.
Mas a palavra usada em Romanos 12 é a mesma palavra usada em relação a Deus
em outro lugar nas Escrituras. Quer saber quão "boa" ela é? É tão boa quanto Deus.

Tema/(1:17)
Urgência,! /
1 “Rogo-vos, (pois?) irmãos,
, , . . ....................... , _ Bose^ - Romanos' copy. 1 -11
pelas misericórdias de Deus,
que apresenteis os vossos corpos cap. 6:13 e,L<y. 2:22ftf. 5:25-27
can(radiçã<y?
contra<lóção? 6:16,19
por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus, chaw
O tninãno-que,
que é o vosso culto racional podvtnoy (cMfre*-!
2
zE não vos conformeis com este século,
contraste/ passivo
mas transformai-vos Metamorfose/
atíVO ---------
pela renovação da vossaímente^) vem/dc/dentro
Testar / Provar
para aue|experimenteis qual seja
propósito a^boa, Tàa-boa/qaa4atcrVea^
'Peripectíva,
z agradável Retrospectiva
e3perfeita vontade de Deus”.
r quanto Deus^f
Além Jíhno, Paulo <11/ que ria é "agradável", não somente em perspectiva, mas cm
retrospecto. Nào poderiamos adicionar nada à vontade de Deus que de alguma maneira
a melhorasse. Nem poderiamos tirar algo dela e fazê-la melhor. Sua vontade é totalmente,
absolutamente agradável.
Se isso só já não basta, a vontade de Deus também é "perfeita". E novamente, é tão
perfeita quanto Deus. Combina com Seu caráter, com Sua santidade.
Assim é a vontade de Deus. É isso que Ele quer que testemos em nossas vidas. In-
felizmente, a maioria das pessoas passa a maior parte de suas vidas tentando descobrir
qual a vontade de Deus, sem nunca ter apresentado seus corpos por sacrifício vivo.
Outra descoberta que fazemos no comentário é que o verbo nesta passagem, "apre­
sentar", está em uma forma chamada tempo "aoristo". A forma aorista deste verbo indica
determinação. Esta é uma divisão importante em nossas vidas, um ponto no qual nos
apresentamos a Deus, assim como Jesus foi apresentado. Não há retorno. O verbo descre­
ve um compromisso total com Deus, para que Ele faça conosco aquilo que desejar.
Imagine que você tenha um caderno cheio de páginas, representando a vontade de
Deus em aspectos específicos de sua vida. Você diz a Deus: "Esta é minha vida como está
agora, conforme tenho conhecimento. Quero apresentar tudo que sou a Ti". E dá a Deus
o caderno; apresentando-o a Ele em um ato de completo e total compromisso.
Porém, mais tarde um dia, você descobre outras coisas que não foi capaz de incluir
no caderno originalmente. E aí? Bem, você já sabe onde o caderno está — você o deu a
Deus; sua vida pertence a Ele. Assim, quando se deparar com novas áreas em sua vida,
pode apresentá-las a Deus da mesma forma.
Obviamente, você não pode apresentar sua esposa a Deus se for solteiro. Nem saber
quantos filhos terá. Mas, no momento em que Deus lhe concede um casamento ou filhos,
você já sabe exatamente qual o lugar deles em termos da vontade de Deus. Vão no mesmo
caderno que apresentou a Deus cm primeiro lugar.
Esta é a idéia de "apresentar" no tempo aoristo, conforme aparece nesta passagem.
Volte agora a Romanos 12:1-2 conforme discutimos neste capítulo. Veja se isso não
"engorda" alguns dos princípios de interpretação já colocados. Primeiro observamos o
conteúdo do texto, que nos provê dados para o entendimento da mensagem de Paulo.
Consideramos também o contexto. A palavra "pois" nos levou a examinar o livro como
um todo. Fizemos algumas comparações de Escrituras com Escrituras, com o uso de uma
concordância. Deciframos os verbos "apresentar" e "ser conformado".
Então fizemos algumas consultas. Procuramos algumas coisas em um comentário.
Descobrimos que "apresentar7' indica um compromisso decisivo de nós mesmos com
Jesus Cristo. Descobrimos também o que a transformação envolve. Ela é algo que Deus
faz; a renovação de nossas mentes é algo que nós fazemos.
E assim, mesmo que tenhamos acabado de colocar um pé na porta da passagem,
conseguimos um entendimento preciso, perceptivo e bíblico daquilo que Deus quer que
nós façamos com nossos corpos, como Seu povo redimido.
Não Pare Agora!
V ivemos em uma sociedade que está afundando num mar de informações. Cada dia
que passa, a quantidade de informações disponíveis cresce exponencialmente. Esta abun­
dância de dados propõe o dilema do benefício-malefício. Por um lado, nào temos que ser
escravizados à ignorância. Mencione qualquer assunto, e haverá uma boa probabilidade
de alguém, em algum lugar, já o ter investigado. Este tipo de proficiência abrangente pro­
duz desenvolvimentos incríveis em campos como medicina, física, biotecnologia, agricul­
tura, transportes e comunicações.
Este excesso de dados propõe um dilema de boa-má notícia. De um lado, não temos
de ser escravizados à ignorância. Mencione qualquer assunto, e há uma boa probabilida­
de de alguém, em algum lugar, ter pesquisado sobre o tema. Esse tipo de especialidade
de linha ampla traz desenvolvimentos incríveis aos campos da medicina, física, biotecno­
logia, agricultura e transporte.
Por outro lado, como encontrar a informação a qual procuramos? Não estamos
mais procurando pela agulha do provérbio num palheiro; estamos à procura de uma
agulha num palheiro feito de agulhas. Além disso, mesmo que tenhamos muitos dados,
muitos deles são de pouco uso prático. Não é este o verdadeiro problema? Como usar a
informação? Porém, parece que cada vez mais carreiras se formam à volta do acúmulo de
informações ao invés da produtividade de informações.
O mesmo fenômeno é real para o estudo bíblico. A maioria das pessoas que estuda
as Escrituras fica apinhada de informações no passo da interpretação. Em primeiro lugar,
começam por ele, o que é um grande erro; além disso, param nele, um erro ainda maior.
O resultado é que adquirem montanhas de informação sobre o texto e muita espe­
culação sobre o que ele significa. Mas que diferença isso faz em suas vidas? A Bíblia se
toma pouco mais que uma coleção de quebra-cabeças teológicos, ao invés de um guia
para rumar a própria vida.
Que tragédia, pois a Palavra de Deus não produz fruto quando é entendida, apenas
quando é rtpllcrtdrt. Por Imo ó quo Tiago no» exorta: "acolhei com mnnsldfio a palavra cm
vós implantada" (1:21). Em outra* palavra», deixe a verdade de I )eus criar raizes em sua
vida. Como? Provando »er um praticante da palavra, nào mero ouvinte (v. 22).
Imagine-se arando um campo, semeando a terra, cuidando com dedicação das
plantas que crescem rapidamente, esperando pelas chuvas, e então, bem quando chega
a época da colheita, saindo para fazer outra coisa. Uma pessoa morrería de fome rapida­
mente procedendo assim. É isso que acontece se você não for para o passo seguinte no
processo de estudo bíblico, a Aplicação. Você pode passar por todos os problemas do
preparo de uma rica colheita e ainda assim morrer de fome espiritualmente, deixando de
prosseguir até o fim.
Espero que agora você esteja faminto por ver resultados em sua vida. Se está, con-
vido-o a ir comigo para a próxima seção, onde exploraremos algumas maneiras de trans­
formar investigações bíblicas em aplicações práticas.
O Valor da
Aplicação
Um repórter entrevistou o famoso psiquiatra Karl Menninger em uma conhecida clíni­
ca em Topeka, em Kansas. Quando a conversa se voltou para o assunto da reforma nas
prisões, o médico entregou a seu ouvinte um livro que havia escrito sobre o assunto. O
repórter, educadamente, prometeu lê-lo.
"Não, você não o lerá", Dr. Menninger retrucou, com seu jeito áspero. "Além disso,
o que faria se o lesse? Deixaria o livro de lado e iria fazer outra coisa?"
É exatamente esta a situação que confronta as pessoas em termos de estudo bíblico.
Elas prometem pegar a Palavra, mas isso normalmente resulta em muito pouco. A verda­
deira questão é: mesmo se lessem e estudassem a Palavra de Deus fielmente, o que fariam
a respeito? Que diferença prática deixariam que a Palavra fizesse em suas vidas?
Esta é uma questão que você precisa ponderar quando chegar no terceiro passo do
estudo bíblico. A aplicação é o estágio mais negligenciado, porém, o mais necessário do
processo. Muito estudo bíblico começa e termina no lugar errado: começa com a Inter­
pretação e termina nela. Mas aprendemos que não se começa com a pergunta: o que sig­
nifica?, mas com: o que diz o texto? Além disso, não se termina o processo, perguntando:
o que isso significa? mas: como funciona? Novamente digo, não "isso funciona?" mas
"como funciona?".
O entendimento então, é simplesmente um meio que leva a um fim maior — a
prática da verdade bíblica na vida diária. Observação mais interpretação sem aplicação
é igual a aborto. Em outras palavras, cada vez que você observa e interpreta, mas não
aplica, você faz um aborto das Escrituras em termos do seu propósito. A Bíblia não foi
escrita para satisfazer a sua curiosidade, foi escrita para transformar sua vida. O objetivo
máximo do estudo bíblico não é fazer algo para a Bíblia, mas sim, permitir que a Bíblia
faça algo a você, para que a verdade se tome real em sua vida.
Como pock ver, non Apronimumoti conMantrmcnte da Bíblia para mtudá-la, ensiná-
la, pregá-la, delineá-la ■ para tudo, exceto para sermos mudados por ela.

FAÇA A VERDADE ATRAENTE

Tito 1:1 contém uma clara afirmação do propósito das Escrituras: Paulo as descreve
como a "verdade segundo a piedade". No capítulo 2, ele fornece um caso específico a
respeito.

"Quanto aos servos, que sejam, em tudo, obedientes aos seus próprios senho­
res, dando-lhes motivo de satisfação; não sejam respondões, não furtem; pelo
contrário, dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as cousas,
a doutrina de Deus, nosso Salvador." (vv. 9-10, itálico acrescido)

Esta tradução diz "a fim de ornarem a doutrina de Deus", no sentido de vesti-la,
como se fosse um conjunto de roupas. A verdade bíblica é o guarda-roupa da alma, e ela
é muito mais exclusiva do que qualquer coisa que você possa comprar da Vila Romana,
está sempre no estilo, é completamente coordenada e é perenemente atraente.
A verdade atraente é a verdade aplicada. Um homem me disse uma vez: "Sabe,
irmão Hendricks, li a Bíblia doze vezes". Maravilhoso, mas o problema é quantas vezes
a Bíblia o envolveu?
Há um perigo inerente no estudo bíblico: pode degenerar num processo intelec­
tualmente fascinante, mas espiritualmente frustrante. Você pode se entusiasmar com a
verdade, mas não ser moralmente mudado por ela. Se e quando isso acontecer, saiba que
deve haver algo errado com seu estudo da Bíblia.
Nossa tarefa então é dupla. Primeiramente, devemos nos envolver com a Palavra
de Deus por nós mesmos. Então devemos permitir que a Palavra nos envolva, para fazer
diferença permanente em nosso caráter e conduta.
Nesta seção final do livro, quero me aprofundar nesta terceira área do estudo bí­
blico. Esta é muito condenatória. Aperte o cinto de segurança, porque há risco de turbu­
lência à frente. Quero que este material o faça parar para pensar — não parar de pensar.

CINCO SUBSTITUTOS PARA A APLICAÇÃO

O que acontece quando você deixa de aplicar as Escrituras? Sugerirei quatro substi­
tutos para a aplicação, quatro rotas as quais, infelizmente, muitos cristãos seguem em seu
estudo da Palavra. Todas elas são ruas sem saída.

Substituímos a aplicação pela interpretação


E muito fácil ficar contente com o conhecimento, em vez da experiência. Se você já assistiu
a muitos sermões, provavelmente já ouviu o clichê: "Que o Senhor abençoe seu coração
com esta verdade". Como alguém que trabalha, ensinando ppNNiuin a pregar, descobri que
isso frequentemente significa: "não faço ideia de como esta passagem possa ser prática
em sua vida".
Isto é um ultraje porque, de acordo com a Bíblia, saber e não fazer é absolutamente
não saber.
Lembra-se da trágica história de Kitty Genovese? Era uma jovem que foi brutalmen­
te atacada, espancada, violentada e finalmente morta em um bairro elegante da cidade
de Nova Iorque. Na averiguação do crime, repórteres entrevistaram inúmeros vizinhos
para descobrir se alguém tinha alguma pista. Inacreditavelmente, souberam que trinta v
oito pessoas haviam ouvido os gritos de Kitty. Na verdade, muitas delas haviam testemu­
nhado o ataque. Mas ninguém foi socorrê-la. Apenas uma pessoa chamou a polícia, e isso
somente após o terceiro ataque, fatal.
O assassinato de Kitty Genovese foi um "banho de água fria" na cultura americana,
um evento no qual sociologistas sempre refletiram: como fomos capazes de desenvolver
uma sociedade na qual o ser humano possa ser tão viciosa e repetidamente atacado, com
conhecimento do público, e ainda assim sem que ninguém reaja em socorro? Esta é <1
tragédia do conhecimento que não produz responsabilidade.
Falta de envolvimento não é a perspectiva das Escrituras. De capa a capa, a Bíblia
ensina que a partir do momento em que conhece a verdade de Deus, você é responsável
por colocá-la em ação. Por isso Jesus dizia sempre que a quem muito é dado, muito será
exigido (Mateus 13:12; Lucas 12:48). E dizia a Seus discípulos: "Por que me chamais Se­
nhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?" (Lucas 6:46). Implicação: pare de me cha­
mar "Senhor", ou comece a fazer o que digo.
Em outra ocasião, Jesus disse: "Muitos naquele dia [referindo-se ao juízo final] hão
de dizer-me: Senhor, Senhor! [note a terminologia precisa] porventura ... e em teu nome
não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?" (Mateus 7:22).
Jesus nunca negou que eles o tivessem feito, mas Ele os rejeita mesmo assim: "Nunca vos
conheci. Apartai-vos de mim".
O que isso significa? Ele nunca os conheceu cognitivamente? Não, isso seria here­
sia. Jesus Cristo era onisciente; sabia de tudo que acontecia Ele estava falando sobre o
conhecimento relacionai: "nunca vos conheci em termos de um relacionamento pessoal".
A ilustração clássica da interpretação sem aplicação são os escribas e fariseus. Esses
religiosos tinham todos os dados. Dominavam o Antigo Testamento, mas nunca foram
dominados pela verdade. Sabiam com certeza onde o Messias nascería. Eram autoridades
nisso: Belém da Judeia, é claro. Mas quando a notícia chegou, foram verificar os fatos?
Não, nem mesmo na cidade que ficava a menos de dez quilômetros de onde estavam.
Infelizmente, seu conhecimento não produziu responsabilidade dentro deles. Não
se admira que Jesus tenha dito em Mateus 5:20: "se a vossa justiça não exceder em muito
a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus". Por que não? Porque toda
justiça deles era exterior, baseada em fatos. Nunca os levou a uma reação pessoal.
Acho que o perigo eutá bom expresso em Tiago 4:17: "Aquele que sabe que deve
lazer o bem e nâo o faz, nisso eslã pecando". Como isso lhe atinge? A pessoa que conhece
a verdade mas não age nela não está simplesmente cometendo um erro — fazendo um
julgamento falho — está pecando. Na mente de Deus, conhecimento sem obediência é
pecado.

Substituímos mudança substancial de vida por obediência superficial


liste é até mais comum do que o problema que acabamos de ver. Consegue identificá-lo?
Aqui, aplicamos a verdade bíblica a áreas onde já a estamos aplicando, não em novas áre­
as onde não a aplicamos. Resultado: nenhuma mudança digna de nota em nossas vidas.
Por exemplo, digamos que um homem no mundo dos negócios leia Efésios 4:25,
que lida com a questão da honestidade: "Por isso, deixando a mentira, fale cada um a
verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros".
Versículo bastante claro, não? O que faz então? Ele pensa em todas as áreas onde
já é honesto. Por exemplo, é honesto com sua esposa; nem pensaria em mentir para ela.
Semelhantemente, é sempre honesto com seus filhos; eles podem sempre contar com o
papai para lhes contar a verdade. E honesto com seus associados no trabalho; as pessoas
confiam nele. Quando lê Efésios 4:25, pensa em todas essas áreas nas quais já tem obede­
cido a verdade e dá um tapinha de aprovação em suas próprias costas. "Estou falando a
verdade com as pessoas?" pergunta a si mesmo. "Sem dúvida!"
Mas enquanto isso, ele faz vista grossa ao fato de que está sendo apenas parcial­
mente honesto com seus concorrentes. Nem mesmo pensa nessa área, que permanece
um ponto cego para ele, e o resultado é que a verdade nunca afeta esta parte de sua vida.
O que aconteceria se ele alguma vez avaliasse sua honestidade naquele aspecto?
Provavelmente pegaria a terceira rota...

Substituímos arrependimento por racionalização


A maioria de nós tem um sistema embutido de aviso antecipado contra mudança espiri­
tual. No momento em que a verdade chega perto demais, condenatória demais, um alar­
me soa, e começamos a nos defender. Nossa estratégia favorita é racionalizar o pecado ao
invés de nos arrepender.
Como isso funcionaria no caso do homem de negócios em luta com a questão da
honestidade? Bem, ele racionaliza sua falta de integridade. Não pode evitar a realidade
de mentir para progredir, então diz: "Está bem, admito que camuflo algumas áreas por
causa de meus concorrentes. Mas você tem de entender. Nenhum deles é cristão. Todos
mentem. Quer dizer, não se pode esperar que eu seja puro como uma flor quando tenho
de competir com um grupo assim. Tenho de trabalhar no mundo real. Acho que temos de
ser tão honestos quanto possível, mas encare os fatos — esta é apenas a maneira como o
jogo é feito". Em suma, ele não muda. Pior de tudo, ele se sente muito bem assim.
Como sei? Sei porque uma vez um homem me convidou para jantar em sua casa e
■r gabou — na presença dos filhos, infrli/mrntv — de como tinha sonegado quinhentos
dólares de impostos do governo americano. É claro que ele nâo conseguiu de mim a re­
ação que esperava. Então lançou mão de um artigo que havia recortado do jornal sobre
como o governo havia perdido cinco milhões de dólares num fiasco em Oklahoma.
"Imagine, cinco milhões de dólares!", ele disse. "Quando o governo parar de gastar
dinheiro assim, vou começar a pagar meus quinhentos extra".
Mas aquilo não me convenceu. Então ele mudou sua abordagem. "Dei todo o di­
nheiro para missões", ele disse em tom bastante piedoso.
Pensei: Tenho certeza que Deus deve estar impressionado.
Isso é o que chamo um sistema de racionalização tramado sofisticadamente.
Quanto mais velho se fica, mais experiente fica em fazer isso. Constrói-se um re­
servatório de respostas para que, quando a verdade se tomar muito condenatória, você
tenha dezesseis razões pelas quais ela se aplica a todo mundo, menos a você.

Substituímos uma decisão volitiva por uma experiência emocional


Em outras palavras, estudamos a Palavra de Deus, nos emocionamos com o impacto, mas
nenhuma mudança real acontece. Não há nada de errado em reagir emocionalmente à
verdade espiritual. Na verdade, crentes poderíam ser muito mais tolerantes a esse res­
peito hoje. Mas se esta for nossa única reação — se tudo o que fazemos é molhar nossos
lenços e soluçar orações pesarosas, daí seguimos contentes o nosso caminho sem que haja
a mínima alteração em nosso comportamento — então nossa espiritualidade é reduzida a
nada mais do que uma experiência emocional insípida.
Quando falo a uma igreja, frequentemente tenho de aguentar ao que chamo cerimô­
nia da "glorificação do verme". E o que acontece na porta da igreja após o culto. As pes­
soas vêm apertar minha mão e dizer: "Ó, irmão Hendricks, que sermão lindo! Foi como
ouvir o próprio Paulo falando". Tenho visto pessoas se aproximarem, com lágrimas no
rosto, dizendo: "Você realmente me tocou hoje. Realmente agradeço, muito obrigado".
Estão quebrados, mas o que fazem? Vão para casa assistir ao jogo. Não há mudança.
O ponto é que tiveram uma reação emocional a um sermão. Mas algum dia terão
uma reação volitiva à verdade de Deus? Farão decisões substanciais, fundamentais de
mudança de vida baseadas no que as Escrituras dizem?
Felizmente, de vez em quando acontece um raro fenômeno — mudança genuína em
reação à verdade bíblica. Quando isso acontece, nunca esqueço.
Estava pregando certa vez sobre a importância do evangelismo na esfera de influên­
cia de cada um — desenvolvendo relacionamentos, amizades, obtendo atenção. Depois,
quando fui para o corredor da igreja, ouvi todo o habitual palavrório gentil. Mas por fim,
um jovem casal se aproximou, e eu soube que estavam sendo sinceros. Apertaram minha
mão calorosamente e disseram: "Obrigado. Muito obrigado. Jamais seremos os mesmos
de novo. Obrigado por ter sido o instrumento que o Espírito Santo usou".
Foram para casa, deram almoço às crianças, puseram-nas para dormir, foram até
a mIa, abriram muon Bíblia» na pawingcm que eu havia exposto aquela manhã, leram-na
novamente, pensaram nela toda em termos de implicações em suas vidas, ajoelharam e
começaram a orar: "Senhor, dá-nos um peso de responsabilidade por nossos vizinhos".
Quando se levantaram, olharam pela janela da frente e viram o vizinho, cortando
a grama, indo para frente e para trás com sua máquina de cortar grama. O marido olhou
para a esposa e disse: "Você está recebendo o mesmo recado que eu?
"Sim", disse ela, "realmente precisamos conhecer essas pessoas".
Assim, o marido foi até o vizinho e começou a conversar com ele. Finalmente suge­
riu: "Ei, que tal vir a minha casa para jantar esta semana? Quarta-feira está bem?"
"Claro", o vizinho disse, surpreso. "Eu adoraria".
E foi isso que fizeram. Na verdade, eles iniciaram um processo que continua até
hoje: uma sucessão constante de homens, mulheres e jovens tem vindo a Cristo através
dos relacionamentos e do impacto daquele casal. Eles não ficaram satisfeitos com a mera
exposição à verdade de Deus, ou a convicção por ela, mas foram mudados por ela. Fi­
zeram uma decisão volitiva em reação ao que ouviram de Deus. E aí que a verdadeira
mudança sempre começa — na vontade.

SUBSTITUÍMOS COMUNICAÇÃO POR TRANSFORMAÇÃO

Nós falamos, falamos e falamos, mas não andamos segundo aquilo que falamos.
Pensamos que, se podemos falar eloquentemente ou convincentemente sobre um ponto
das Escrituras, nos safamos. Saímos do "sufoco". Fizemos outros crerem que digerimos
a verdade bíblica. Mas a Deus não se engana. Ele conhece os nossos corações. Além dis­
so, Ele conhece o nosso verdadeiro comportamento. E por isso que Ele disse a Samuel:
"O SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê [e atenta para] o exterior, porém
o SENHOR, vê [e atenta para] o coração" (1 Samuel 16:7). Semelhantemente, o autor de
Hebreus diz que "Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está des­
coberto e exposto diante dos olhos daquele a quem havemos de prestar contas" (Hebreus
4:13 NVI).
O Rei Davi aprendeu tal verdade da maneira mais difícil. Lembre-se de que ele vio­
lentou a mulher de Urias, Bate-Seba, e depois, quando ela ficou grávida de seu filho, fez
com que Urias fosse morto na batalha. Depois disso, encobriu seus pecados e prosseguiu
como se nada houvesse acontecido.
Até que um dia o profeta Natã fez uma visita a Davi. Lembre-se de que nos tempos
do Antigo Testamento, profetas falavam por Deus. Como tal, Natã representava a Pala­
vra de Deus. Qual foi a palavra de Deus para Davi? Natã contou uma história sobre um
homem rico e poderoso que havia roubado o único bem de um homem pobre - sua única
ovelha - para alimentar um hóspede. Ao ouvir sobre tal injustiça, Davi explodiu em justa
indignação: "Tão certo como vive o SENHOR ]não é linda a forma como Davi invoca o
nome do Senhor, como quem sustenta a própria piedade pessoal?], o homem que fez isso
deve wr morto. E pela cordelrinha restituirá quatro vczcm, porqutf (<•/ tal couma e porque
nào se compadeceu" (2 Samuel 12:5-6).
Imagine se você estivesse ali, ouvindo Davi proferir tal discurso. Provavelmente tv
ria pensado: "Uau, Davi realmente está defendendo o homem pobre. Ele está advogando
justiça. Que líder fantástico. Não é para menos que Deus o tenha chamado homem segun­
do o Seu próprio coração". Sem dúvida, as palavras de Davi foram muito convincentes.
Mas Deus não fica impressionado com nossas palavras tanto quanto as outras pes­
soas podem ficar. "O SENHOR vê o coração." "Nada...está oculto aos olhos de Deus.
Tudo está descoberto e exposto." Foi por isso que Natã olhou para Davi nos olhos e foi
direto ao ponto ao declarar: "Tu és o homem" (v. 7).
A Palavra de Deus fará isto com você - se você permitir. Ela irá direto ao ponto. O
trecho de Hebreus que acaba de ser mencionado compara a Palavra a uma espada afiada
que pode penetrar fundo em nosso interior, onde "julga os pensamentos e intenções do
coração" (Hebreus 4:12 NVI). Este é o nível em que a transformação ocorre. Mas a trans­
formação jamais ocorrerá se nos esquivarmos da cravejada condenatória das Escrituras
escondendo-nos atrás de nosso discurso.

UM OLHAR NO ESPELHO

O apóstolo Tiago faz uma pergunta penetrante no primeiro capítulo de seu livro: a
Palavra funciona? Resposta: sim, funciona, se for implantada (v. 21). Esta palavra interes­
sante que ele usa significa basicamente colocar fora da porta de casa um tapete de boas-
vindas. Você dá boas-vindas à verdade em sua vida? Convida-a para entrar na sua vida e
deixa que ela faça a obra em você?
Quando saímos da igreja aos domingos de manhã, a questão não é o que o pregador
disse, mas o que você vai fazer como resultado do que ele disse. Frequentemente ouvi­
mos um sermão ou vamos a um estudo bíblico e ouvimos uma tremenda lição — muito
convincente — e o que fazemos? Saímos de lá, dizendo: "quando é o próximo estudo
bíblico?"
Tiago diz: "Olha, você tem de abraçar a verdade bíblica". Ele nos dá uma interes­
sante ilustração para enfatizar seu objetivo — a analogia do espelho (vv. 23-25). A maioria
de nós gasta um tempo considerável em frente ao espelho todos os dias, fazendo tudo o
que podemos daquilo com que temos de trabalhar. Tiago fala sobre uma pessoa que faz
exatamente o oposto.
"Puxa", diz um homem, olhando-se no espelho. "Preciso me barbear. Preciso rear-
ranjar meus cabelos remanescentes". Mas, após notar tudo isso, ele vai embora e não faz
nada.
Imagine que ele vá para o escritório, onde logo seu chefe entra, dá uma olhada nele
e diz: "Ei, o que acontece com você? Acabaram suas lâminas de barbear?".
"Não", o cara responde: "Na verdade, eu comprei um pacote novinho ontem".
"Bem, vocó vai ler de luMlrtn", o gerente avisa, "ou nâo irá ficar por multo tempo
empregado nesta empresa".
lista ó a situação que Tiago descreve. Toda vez que você estuda a Palavra de Deus,
mas não e mudado por ela, é como se você se olhasse no espelho e visse que está com
aspecto horrível, mas se afastasse e nada fizesse.
I lá uma alternativa: "Mas aquele que considera atentamente, na lei perfeita, lei da
liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse
será bem-aventurado no que realizar" (v. 25).
Todos nós desejamos ser abençoados por Deus. Mas estamos respondendo à reve­
lação de Deus? Passe comigo ao próximo capítulo, e veremos de que forma a verdade de
Deus transforma as nossas vidas.
capitulo 40

Verdade que
Transforma
Terminei o capítulo anterior mencionando a analogia que Tiago faz de um espelho para
ilustrar como a Palavra de Deus opera cm nossas vidas. É uma imagem intrigante por­
que espelhos têm um notável efeito sobre os seres humanos. Eles nos confrontam com a
realidade.
Na verdade, na literatura é comum os autores usarem espelhos para terem uma
nova visão das coisas. Lembra-se da Rainha Má de Branca de Neve? Todos os dias ela
para diante de seu espelho mágico e pergunta: "Espelho, espelho meu, existe no mundo
alguém mais bela do que eu?" Cedendo à vaidade da Rainha, o espelho sempre responde:
"Não." Mas quando Branca de Neve cresce, o espelho declara algo novo: "Rainha, tu és
bela com certeza, mas em Branca de Neve há muito mais beleza".
Ou considere, então, "Alice Através do Espelho" (Alice no País das Maravilhas), onde
o espelho abre a porta para um novo mundo. Semelhantemente, o espelho de Galadriel
na trilogia O Senhor dos Anéis "mostra coisas que foram, coisas que são e coisas que ainda
hão de vir". Na série Harry Potter, no Espelho de Ojesed há uma inscrição com as seguin­
tes palavras: "Eu não mostro seu rosto, mas o desejo de seu coração". Claramente, espe­
lhos estão associados a poder.
Assim acontece com o espelho da Palavra de Deus. Na verdade, a Palavra é o espe­
lho supremo, porque é o espelho que tem poder para transformar. Ele não apenas revela
a verdade, mas ativa a verdade quando o Espírito Santo a usa nas vidas das pessoas. Se
você examinar a Palavra com sinceridade de coração e responder ao que ela lhe mostrar,
sua vida jamais será a mesma. Com o tempo, você será uma pessoa transformada.

O ESPELHO DA PALAVRA DE DEUS

Como isso ocorre? Quero sugerir quatro maneiras como a Palavra transforma as
noMNAN vklrtM. Som dúvida há mAh do quatro, maw estas lhe ajudarão a começar a entender
de quo forma a Bíblia revela verdade transformadora sobre Deus e sobre nós mesmos.

APROXIME-SE

Primeiro, nos aproximamos da Palavra, assim como uma pessoa se aproxima de


um espelho. Vimos à Palavra por meio dos dois primeiros passos de nosso método de
estudo bíblico: Observação e Interpretação. Olhamos para a Palavra e perguntamos: ()
que ela diz? Então perguntamos: O que isso significa? É por meio destes dois passos que
examinamos a Palavra.
Agora deve estar claro que é impossível aplicar a Palavra sem completar estes dois
passos. A aplicação se baseia na Interpretação, que por sua vez, se baseia na Observação.
Então, se você não observou uma passagem por completo, provavelmente não a interpre­
tará de maneira correta. E se sua interpretação for errônea, sua aplicação provavelmente
será errônea. Inversamente, se você fez todo o trabalho de observação de uma passagem,
sua interpretação provavelmente estará correta. Neste caso, há uma possibilidade maior
de que a sua aplicação seja correta.
Aliás, quando falo em aplicação correta, não estou dizendo que há apenas uma ma­
neira de aplicar determinada passagem das Escrituras. Ao contrário. Na verdade, quero
que você tenha clara em seu pensamento a seguinte afirmação: Há apenas uma interpreta­
ção, mas várias aplicações. Há somente uma interpretação definitiva para as passagens das
Escrituras. O texto não significa uma coisa hoje, outra amanhã. Seu significado hoje será
o mesmo para sempre. Mas o processo de aplicação daquela verdade à sua vida jamais
cessa. Implicação: Cuidado como interpreta! Seus erros se multiplicarão, caso comece
com uma interpretação imperfeita.
Certa vez, um amigo se ofereceu para me levar ao Canadá no jato de sua empresa.
Eu tinha pressa e ele queria me levar. Então, eu subi na cabine e, claro, antes que pudésse­
mos decolar, tivemos que programar todos os instrumentos, especialmente o nosso plano
de voo.
Perguntei a ele: "O que acontece se você sair da rota alguns graus?"
Ele disse: "Lembra-se do 007 da Korean Airlines?" Eu assenti enquanto me lembra­
va daquele horripilante incidente. Em 1983, um jumbo voou centenas de milhas fora de
sua rota, violando o espaço aéreo soviético. Um caça soviético o interceptou e derrubou.
"Isso é o que acontece", meu amigo piloto disse implacavelmente. "Alguns graus fora
aqui podem nos colocar a milhas de nosso destino".
O mesmo ocorre no estudo bíblico. É o que chamo de "erro do garfo". Suponhamos
que você esteja indo pela via da interpretação bíblica e chegue a um espinhoso proble­
ma de interpretação. Só para ilustrar, digamos que há duas possíveis interpretações: a
interpretação A e a interpretação B. Suponha que a A seja de fato a correta, mas que você
escolha a B. Daí, quanto mais longe você vai por aquela via, mais divergente da verdade
bíblica ho torna a sun aplicação.

A B
CORRETA INCORRETA

O ERRO DO GARFO

Resumindo, quanto melhor entender uma passagem, mais você será capaz de usá-
la. Ou, voltando à imagem no espelho, quanto mais convencido você estiver sobre o que
o espelho está mostrando a você, melhor poderá reagir ao que está vendo. Em outras
palavras, você se barbeia melhor se permitir que o espelho projete um reflexo preciso.
Mas isso não acontecerá se você se aproximar da Palavra e distorcer a mensagem, negli­
genciando a observação cuidadosa e a interpretação precisa.

CONVENCIMENTO DO ERRO

Tendo nos aproximado da Palavra e a examinado, seremos então convencidos do erro


pela Palavra. Ou, para usar os termos de 2 Timóteo 3:16, seremos reprovados e corrigi­
dos pela verdade revelada. Isto é, as Escrituras refletem para nós uma imagem de nós
mesmos e, invariavelmente, a imagem inicial é negativa. Isto porque a Palavra destaca o
nosso pecado e o que precisamos parar de fazer.
Esta é uma razão, aliás, por que muitas pessoas fazem qualquer coisa para não es­
tudar a Bíblia. Elas instintivamente sabem que estudá-la irá apontar as áreas onde estão
fora dos limites.
Certa vez, na época da faculdade, quando jantava com um grupo de amigos, Bill
começou a ler uma porção das Escrituras em resposta a uma pergunta feita por um deles.
Ele mal havia começado, quando um dos rapazes da mesa deu um salto e saiu da sala.
Mais tarde, Bill o procurou e perguntou por que ele agira assim.
"Porque você começou a ler a Bíblia", ele disse. "Não sou bom o suficiente para
ouvir esse tipo de coisa". O companheiro cria sinceramente que a Bíblia era apenas para
as pessoas "boas", e ele já sabia que não era uma delas. Bill teve oportunidade de explicar
que a Bíblia, na verdade, foi escrita para pecadores que necessitam de um Salvador.
Abra a Bíblia em qiiAlquw parto o comece a ler. Não levará muito (empo até você
encontrar alguém sendo confrontado com seu pecado. Seria porque Deus tem prazer em
expor nossa pecaminosidade? De forma alguma. É porque diagnosticar a doença é o pri­
meiro estágio da cura. Você nào pode ser transformado a menos que entenda primeiro
que necessita de transformação.
Mas aquele raio-X espiritual nunca é uma figura bonita. Anteriormente, mencionei
Davi, que não só cometeu adultério, mas também assassinato. Um homem assim pode ser
transformado? Sim, pela graça de Deus - mas não sem primeiro romper a sua fachada de
farisaísmo. Davi teve que ser convencido de seu pecado antes de poder ser libertado dele.
Que processo doloroso! Leia Salmo 38, onde Davi agoniza por seu pecado, como se esti­
vesse prestes a morrer por causa dele. "Não há saúde nos meus ossos, por causa do meu
pecado" (v. 3). "Ando de luto o dia todo" (v. 6). "Dou gemidos por efeito do desassossego
do meu coração" (v. 8) "Confesso a minha iniqüidade; suporto tristeza por causa do meu
pecado" (v. 18). Ele termina o salmo clamando a Deus que restaure a Sua presença e lhe
traga salvação.
E certo que nem todos os nossos pecados provocarão angústia tão profunda. Mas
não é emoção o que Deus busca. Ele quer arrependimento - uma mudança do coração. Ao
lançar luz sobre nosso pecado, as Escrituras nos levam a tal arrependimento.

CONVINCENTE

Felizmente, a Palavra faz mais do que simplesmente nos mostrar o que é negativo.
Ela também revela a provisão de Deus do que é bom, que cria motivação positiva que nos
convence a andar em novidade de vida. Segunda Timóteo 3:16 descreve esta direção posi­
tiva como "treinamento na justiça". A Bíblia nos diz o que precisamos começar a fazer, e
em que direção precisamos começar a caminhar.
Os trechos de aplicação das cartas de Paulo são uma boa ilustração disto. Por exem­
plo, Colossenses 3 descreve o estilo de vida de uma pessoa que está "oculta juntamente
com Cristo" (v. 3). A passagem convence plenamente do erro em áreas como imoralidade,
impureza, idolatria e engano. Mas seu clímax é uma visão positiva da vida transformada
que é muito convincente:

"Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos


de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.
Suportai-vos uns aos outros...acima de tudo isto, porém, esteja o amor...Seja a
paz de Cristo o árbitro em vosso coração...Habite, ricamente, em vós a palavra
de Cristo...E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em
nome do Senhor Jesus..." (vv. 12-17)

Quem não desejaria viver assim?


Àt* vezes, as Escritura nos convencem da verdade por melo de exemplo, e nfio por
exortação. Por exemplo, quando abrimos o livro de I Samuel, descobrimos que a vida
espiritual de Israel na época era tão fragrante quanto uma fossa aberta. A nação eslava
no final do período dos juizes, quando todos faziam o que achavam certo a seus próprios
olhos (Juizes 21:25).
Por que as coisas haviam chegado a estado tão lastimável? Os primeiros três ca­
pítulos de 1 Samuel nos dão uma pista: havia absoluta falta de liderança. Em Siloé, por
exemplo, havia um sacerdote ineficaz chamado Eli. A espantosa fraqueza de Eli como líder
se evidenciava na total falta de responsabilidade de seus dois filhos, Hofni e Fineias. Eles
tratavam o sistema sacrificial como se fosse sua conta de despesas pessoais, levando dele
seus melhores cortes de carnes e outras ofertas. O que é pior, eles estavam bebendo em
trabalho e cometendo imoralidade sexual com as atendentes do tabemáculo. Ainda assim,
quando o pai ancião deles os desafiou nesses aspectos, eles simplesmente o ignoraram.
Àquele lamaçal moral Deus traz um menininho chamado Samuel. Seu nascimento
acontece de forma milagrosa. Depois Deus o coloca bem na casa do sacerdote Eli. Daí
você começa a indagar: O que Deus estava pensando? Mas se observar e depois interpretar I
Samuel, você começará a ver o princípio do contraste que mencionei várias vezes. O autor
está estabelecendo um vivido contraste entre os dois filhos maus de Eli por um lado, e o
inocente e justo menino Samuel, por outro. Os dois são marcados pela morte e o menino
leva o povo a um futuro mais promissor, que culmina na escolha divina de Davi como rei.
Talvez o ponto crucial deste contraste esteja em 1 Samuel 3, em que Samuel está
dormindo uma noite e ouve uma voz a chamá-lo. Por três vezes ele confunde a voz com
a de Eli. Mas na vez seguinte, o pequeno Samuel clama: "Fala, porque o teu servo ouve"
(v.10). Que lampejo de luz em um relato tão sombrio! Finalmente alguém ouve a Deus,
em vez de escarnecer Dele.
O exemplo de Samuel é muito atraente, não é? Só ler o relato já nos faz querer
imitá-lo. Pessoas como Samuel seriam úteis hoje? Com certeza. Nosso mundo não é mui­
to diferente do dele, em termos espirituais. Há pessoas que zombam da fé em troca de
ganho pessoal e oportunidade. E certamente temos uma geração de pessoas que estão
simplesmente fazendo o que é certo a seus próprios olhos. "Quem precisa de Deus?",
sempre parecem estar dizendo.
Mas ler sobre Samuel nos inspira a nos apartar e buscar ativamente a voz de Deus:
"Fala, porque o teu servo ouve". Se estivermos abertos, as Escrituras nos convencerão a
buscar novos caminhos mostrando-nos modelos como Samuel.

CONVERSÃO

Por fim, o espelho da Palavra de Deus produz conversão, o que significa que de fato
começamos a viver de forma diferente como consequência de nossa exposição à verdade.
Tal transformação começa no momento em que abraçamos a fé, que é a razão pela qual
non referlinoN a cnIv Imporlanlv aeon tod mento como conversão. Mun a verdadeira con­
versão nào é evento de uma nó data; é um processo contínuo de se tornar cada vez mais
semelhante a Cristo. Tal processo nâo termina até que partamos desta vida para estar
com Cristo.
Permita-me dar uma ilustração pessoal. Filipenses 2:14 é um versículo aflitivamente
convincente: "Façam tudo sem queixas nem discussões" (NVI). Talvez isso não signifique
problema para você, mas para mim, o versículo é extremamente difícil. Na verdade, eu
poderia simplesmente pular do versículo 13 para o versículo 15. Mas há aquele pequeno
versículo convincente no meio.
Ora, há muitas áreas em minha vida onde me queixar e discutir não representam
problema algum. Por exemplo, ensinar. Amo ensinar. Vivo para ensinar. Para mim, a me­
lhor coisa da vida é ensinar. Eu provavelmente até pagaria para ensinar. Mas o versículo
diz: "Façam tudo sem queixas nem discussões", não apenas ensinar.
Então "tudo" para mim inclui correspondência. Detesto escrever cartas com pra­
ticamente a mesma paixão que amo ensinar. Mas eventualmente, a correspondência se
acumula e tenho pouca opção senão colocá-la em dia. Assim, esta é uma área onde posso
aplicar Filipenses 2:14. O versículo não diz que eu tenho que gostar de correspondência;
apenas diz que preciso aprender a fazer isso sem me queixar nem discutir. Para mim, isto
significa a conversão de minha atitude, de uma que não é muito cristã para uma que seja
cristã.
Trocar correspondência sem se queixar pode parecer não ter maiores consequências
para você. Mas eu não sou você. Quando me olhei no espelho de Filipenses 2:14, vi algo
que precisava mudar - e não pareceu trivial para mim. Então, o que você vê quando se
olha no espelho da Palavra? Que mudanças significativas tal espelho está desafiando você
a fazer, pela graça de Deus? Alguns exemplos que ouvi pessoas falarem incluem: decidir
dirigir fielmente dentro do limite de velocidade; encontrar ao menos uma coisa pela qual
ser grato todos os dias; deixar de beber; estabelecer um padrão regular para ofertar finan­
ceiramente para a obra do Senhor; parar de trabalhar aos domingos a fim de descansar;
evitar olhar para pornografia; desligar a televisão à noite a fim de edificar relacionamen­
tos com os familiares; controlar o peso; vender a coleção de arte por ela estar dominando
o coração. Poderia relacionar muitos outros. O ponto é que as pessoas começam a viver
de forma diferente quando passam a se comprometer com o estudo da Palavra de Deus -
e com isso permitem que a Palavra se comprometa com elas.
Mas, por favor, observe: essas pessoas não mudaram a fim de fazer com que Deus
as amasse mais. As mudanças nas vidas delas surgiram como resposta àquilo que Deus
mostrara a elas em Sua Palavra. Esta é a motivação da transformação genuína. A verda­
deira conversão não é meramente uma mudança de comportamento; é uma mudança de
comportamento originada de uma mudança de coração.
Mas o que exatamente significa "mudança"? Que mudanças? Vejamos o assunto cm
mais detalhes no próximo capítulo.
capítulo 41

Um Povo
Transformado
Talvez você já tenha visto algum filme em que um personagem faça um trabalho árduo
e sujo - conduzindo o gadoz arando o campo, jogando futebol em um campo lamacento,
lutando na guerra. O suor brota de sua pele. Seu rosto tem traços de sujeira. Seu cabelo
está todo despenteado. Suas roupas estão rasgadas e esfarrapadas. Talvez ele até tenha
uma ou outra mancha de sangue. Ele simplesmente parece um trapo.
Mas na cena seguinte, ele se mostra limpo, barbeado, bem-penteado e elegante­
mente vestido. E, assim que ele entra, outro personagem observa: "Nossa, e não é que
arrumado você fica bem?".
Até que esta seria uma boa analogia para o que acontece quando nos submetemos
ao processo de transformação resultante do estudo em primeira mão da Palavra de Deus.
Depois de nos olharmos no espelho da verdade bíblica, vemos o quanto realmente esta­
mos esfarrapados. O Espírito de Deus, então, usa aquele quadro deprimente para nos
levar à confissão e ao arrependimento. Daí, temos uma mudança de coração para com
Deus. Depois o Espírito nos leva para um caminho positivo de vida e verdade e, ao come­
çarmos a trilhá-lo, nossas atitudes e comportamentos começam a mudar. Outros poderão
ver tais mudanças e observar, dizendo, com efeito: "Nossa, e não é que arrumado você
fica bem?".

QUE MUDANÇAS?

Mas agora, o que exatamente mudou em nós? Falamos de alguém cuja vida Deus
transformou, e dizemos: "Uau, como ela mudou!". Ou digamos que um pródigo volte
a conviver com seus queridos após muitos anos de pecado e vergonha, mas agora Deus
realizou uma transformação em sua vida. Ele diz aos seus: "Não sou a mesma pessoa de
ante**. Eu mudei". O que lumi rvalnwntc* quer dizer?
lí importante deixar ente ponto cloro porque a verdade é que nem tudo a respeito
da pessoa muda como resultado do processo de santificação. As pessoas falam sobre uma
"transformação completa e total", o que parece maravilhoso. Mas não é exatamente assim
que tudo acontece, o que pode gerar mal entendidos.

FEITURA DE DEUS

Uma coisa que jamais muda sobre nós é a nossa pessoalidade essencial. Quem so­
mos. O âmago de nossa identidade. Isto permanece o mesmo desde o berço até a sepultu­
ra. Em Efésios 2:10, Paulo escreve: "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para
boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas".
Se submetermos este versículo a perguntas observacionais como quem, o quê, onde,
quando, por quê e por que motivo, descobriremos: quem somos ("feitura dele" (de Deus));
de onde viemos ("criados em Cristo Jesus"); por que somos ("para boas obras"); quando
fomos feitos ("as quais Deus de antemão preparou"); e por que motivo devemos viver,
isto é, que diferença tudo isto faz ("para que andássemos nelas", isto é, "andássemos" nas
"boas obras"). De forma bastante ciara, este versículo está dizendo algo muito essencial
sobre quem somos como pessoas.
Agora você já pode ver que há alguns termos-chave que precisam ser rastreados:
feitura, boas obras, de antemão e andássemos. Vamos fazer isso juntos.

"Feitura”
A palavra feitura refere-se a "coisa feita" ou "coisa artesanal". Davi, a obra-prima de
Michelangelo, é um exemplo do que a palavra feitura comunica. Ela se refere a algo que
um artesão cuidadosamente desenhou e moldou. Não algo que se formou por acidente
ou acaso, mas uma obra de arte intencional. Efésios 2:10 diz que cada um de nós é uma
obra-prima de Deus, uma criação intencional que o próprio Deus moldou.
Contudo, a palavra feitura não descreve apenas algo belamente formado, mas algo
útil também. Na verdade, o formato em si outorga à obra características que a capacitam a
servir a uma tarefa específica. Pense em um vaso de cerâmica, como uma urna grega, feito
por um artesão do primeiro século. Talvez ele seja formado de maneira que o torne ideal
para servir água. Talvez ele seja grande e forte, predisposto a armazenar grãos. Talvez
ele seja moldado para conter um receptáculo de óleo, de modo que funcione como uma
lamparina ideal que forneça luz. A palavra feitura também transmite a ideia de funciona­
lidade, além de beleza.

“Boas Obras"
Isto nos remete ao próximo termo, boas obras. Podemos ser inclinados a pensar naquelas
boas obras "genéricas", como dar comida a moradores de rua ou ajudar velhinhas a atra-
veMarem a rua. Essas certamente sAo boas obras, e certamente devem ser feitas. Mas aqui
vemos um exemplo de como o contexto se torna crucial. À luz de nosso estudo da palavra
feitura, citada anteriormente no versículo, torna-se aparente que as "boas obras" de que
Paulo fala aqui estão relacionadas à natureza da feitura realizada por Deus. Em outras
palavras, cada peça de feitura tem boas obras específicas as quais foi formada para fazer.
Você percebe? Deus tem boas obras específicas que Ele planejou para você fazer -
existem tarefas por aí com o seu nome nelas. Pense em si mesmo como uma ferramenta
(esta é outra maneira de entender o termo feitura, algo feito artesanalmente cujo desenho
o toma adequado para uma tarefa específica). Uma ferramenta não é feita para realizar
simplesmente qualquer tarefa; é feita para realizar uma tarefa específica.
Por exemplo, uma chave de fenda foi feita para parafusar. Na verdade, foi feita
para parafusar tipos específicos de parafusos, dependendo de como a cabeça da chave de
fenda for talhada. Se você usar a chave de fenda para parafusar aqueles tipos de parafu­
sos, ela funcionará perfeitamente. Ela cumpre a sua função. Você pode usá-la para fixar
pregos? Bem, pode. Mas ela não funcionará muito bem. Ela não fixará os pregos de forma
muito eficiente, e você poderá danificar a chave de fenda no processo. É melhor usar uma
ferramenta que seja projetada para parafusar pregos, se for isso o que você precisa fazer.
Deixe a chave de fenda fazer o que ela foi feita para fazer melhor.
Então, para fazer o quê melhor foi que Deus formou você? Quais são as boas obras
para as quais você foi criado em Cristo Jesus? Efésios 2:10 sugere que uma razão por que
muitos cristãos têm tanta dificuldade em entender o seu propósito na vida é que eles nào
entendem muito bem como foram formados. E alguns que de fato entendem algo de seu
formato, não o estão usando onde ele pode ser mais efetivo.

“De antemão”
Agora, há dois outros termos que não podem ser menosprezados. O primeiro é de ante­
mão. Quando é isso? Antes que fôssemos salvos? Antes de nascermos? Antes que o mun­
do fosse formado? Por meio de uma investigação do termo de antemão, descobrimos que
todas as três possibilidades estão certas. De antemão nos diz que em algum ponto antes
desses três eventos, o Deus eterno e trino determinou que queria que certas boas obras
fossem realizadas no século XXI. Para tal fim, Ele criou você. Ele planejou você. Ele in­
ventou você e o fez em forma humana - perfeitamente adequado para as tarefas, as "boas
obras" para as quais Ele o fez.

“Andássemos”
Então, que diferença isto faz quanto à forma como você deve viver? Bem, o versículo res­
ponde a pergunta explicitamente: você deve "andar" nessas boas obras. Andar significa
viver. O termo tem a ver com vida diária - no trabalho, em casa, em sua comunidade.
A passagem está dizendo que todos os dias você precisa buscar o propósito para o qual
Deus o colocou no planeta. Tal propósito não é algo especial para você fazer somente aos
domingo*, cm uma vlagrm miBiilonária ou durante uma temporada especifica da vida.
Não, Deus quer que você realize o Seu propósito para você todos os dias e nos eventos
diários da vida.

SEJA QUEM VOCÊ É

Agora então, tendo visto Efésios 2:10 com um pouco de detalhes, como o versículo
afeta o nosso entendimento do processo transformacional? Para começar, ele mostra que
nós não temos que "nos tornar" outra pessoa para que Deus opere em nossas vidas. Cla­
ro, haverá mudanças em nossa vida. Mas nunca temos que mudar quem somos.
Esta notída virá como algo incrivelmente bom para algumas pessoas que leem este
livro. Muitos crentes têm a ideia equivocada de que eles têm que se tornar como algum
outro santo importante a fim de experimentar o melhor de Deus. "Predso aprender a
pensar como C. S. Lewis", alguém dirá após ler um de seus clássicos. "Preciso ser como
Billy Graham." "Preciso me tornar como meu pastor." Eu até já ouvi alunos do seminário
onde ensino dizerem: "Vou ser igualzinho ao Prof" (Prof é como eles me chamam lá).
Posso ser franco? Não! Jamais tente "se tornar" outra pessoa. Seja sempre quem
Deus fez você para ser. Aprenda com os outros. Adquira sabedoria baseado na forma
como vivem. Siga o exemplo deles se for bom. Mas fique com "quem você é". Jamais
tente mudar quem você fundamentalmente é. Se o fizer, você estará dizendo a Deus que
Ele cometeu um erro. E, de qualquer forma, você nunca será bem-sucedido porque como
Efésios 2:10 mostra, Deus determinou desde toda a eternidade quem você seria. Tal pro­
jeto nunca mudará fundamentalmente no curso de sua vida. Você não é uma pessoa aos
seis anos de idade, depois outro ser humano totalmente diferente aos 16, ou aos 26, aos
56, ou mesmo aos 86. Você é o mesmo ser humano, com a mesma pessoalidade essencial,
todo o tempo.

Antigo versus Novo


Então, o que muda? O que fazer diante de uma passagem como 2 Coríntios 5:17, que de­
clara: "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram;
eis que se fizeram novas". Esta certamente parece sugerir uma transformação completa
e total.
E sugere, mas transformação não significa aniquilação. Se significasse, "a transfor­
mação completa e total" de um elefante significaria que não mais teríamos um elefante;
mas uma girafa, macaco, ou mesmo uma torre de perfuração de petróleo? O elefante seria
aniquilado. Cessaria de existir, e outra coisa existiría em seu lugar.
Mas não é isso que acontece quando somos unidos com Cristo na salvação. Não
paramos de existir. Se a transformação significasse que nos tornamos alguém "completa
e totalmente" diferente, então Efésios 2:10 (dentre outras passagens) não faria sentido
algum. Teríamos que perguntar: O que houve com a feitura (a pessoa) que Deus fez desde
toda a eternidade para realizar boas obras específicas neste mundo?
Na verdade, nem mesmo 2 Coríntios 5:17 ensina que nos tornamos "completa <» lo­
tai mente" diferentes em consequência de nossa salvação. Em primeiro lugar, o versículo
diz: "se alguém está em Cristo", o que implica que podemos apontar para alguém específi­
co que nào estava anteriormente em Cristo, mas agora está. É a mesma pessoa. O versículo
nos diz que a mesma pessoa é uma "nova criatura". Isto indica mudança. E de fato há
mudança. Mas observe que, embora uma pessoa em Cristo se torne nova criatura, ela não
se toma outra criatura. Se passo por um transplante de coração, ganho um novo coração,
mas não me tomo outro homem. Sou o mesmo homem, mas com um coração novo.
Então, o que muda? Observe que Paulo estabelece um contraste entre as "coisas
antigas" e as "novas". As coisas antigas "passaram; eis que se fizeram novas". Usando a
técnica da comparação (capítulo 32), descobrimos que o contraste antigo-ucrsws-novo é
comum nos escritos de Paulo (por exemplo, Romanos 6:1-23; Efésios 4:17-24 e Colossen-
ses 3:1-17).
Quais são as coisas antigas? São os estilos de vida antigos que as pessoas separadas
de Cristo vivem. Antigas convicções. Antigos valores. Antigos comportamentos. Antigos
hábitos. Antigos relacionamentos. Um antigo ponto de vista. Antigos sonhos. Um antigo
propósito. Um antigo ambiente. Um antigo emprego. Antigos planos de carreira. Um
antigo caráter. Uma antiga ética. Antigos desejos e paixões. Antigas maneiras de se co­
municar. Antiga linguagem.
Aliás, algumas dessas coisas antigas não são inerentemente más. Por exemplo, a
pessoa separada de Cristo que trabalha em um emprego, fornecendo um serviço útil e
sustentando a família. Isto é ruim? Claro que não. Na verdade, ela pode ser uma pessoa
bastante honesta. Muitas pessoas separadas de Cristo são honestas. Talvez até mais do
que alguns de nós, que estamos em Cristo. Mas a honestidade delas não muda o fato de
estarem separadas de Cristo. Elas não têm vida em si mesmas. Estão, como Efésios 2:1
coloca, mortas em seus delitos e pecados. Elas são pecadoras sob o juízo de Deus. Preci­
sam do evangelho.
Então o que acontece quando alguém lhes fala sobre o evangelho e, respondendo
em fé, elas se voltam para Cristo? O versículo diz que elas se tomam "nova criatura", e
uma transformação acontece (na verdade, a transformação começa a acontecer, mas a lin­
guagem do versículo a trata como fato consumado, porque a transformação irá, de fato,
se tomar completa quando Cristo concluir a Sua obra nelas).
O que é tal transformação? Bem, a mesma pessoa que anteriormente tinha uma ma­
neira antiga de viver agora tem um novo relacionamento com Cristo, e isto afeta tudo o
que está relacionado a ela. Ela tem uma nova posição perante Deus, um novo coração, um
novo poder delegado pelo Espírito Santo, uma nova capacidade de entender a Palavra
de Deus, e um novo destino. Não é de admirar que ela passe a viver de forma diferente.
Assim, enquanto antes de Cristo ela tinha convicções, valores, comportamento e as­
sim por diante, que não eram afetados por Cristo, agora, com o tempo, o Espírito a ajuda
a substituir aquela antiga maneira de viver por novas convicções, novos valores, novos
comportamentos, novo* h^bilon. novo® relacionamento®, um novo ponto de vlat®, novo»
sonho», um novo propósito, um novo ambiente, talvez um novo emprego (certamente
uma nova maneira de realizar seu antigo trabalho), novos planos de carreira, um novo
caráter, uma nova ética, novos desejos e paixões, novas maneiras de se comunicar e até
uma nova linguagem. Ela é a mesma pessoa, mas uma criatura diferente no todo. Ela é
como a lagarta de que falamos no Capítulo 37, que se transforma em borboleta.
Santificação é o processo pelo qual Deus nos "arruma bem". Remove o nosso pe­
cado. Renova os nossos corações. Redireciona o nosso caminho. "Nos re-forma" até que
fiquemos como Cristo. Somos a mesma pessoa, mas em nova versão. Em vez do mesmo
antigo eu, Deus está formando um "mesmo novo eu". Ele não está nos transformando em
outra pessoa. Ele está nos transformando naquilo que quis que fôssemos quando origi­
nalmente nos inventou; Sua feitura, Sua obra-prima.

INTRODUÇÃO DA VERDADE BÍBLICA

PESSOA MESMA PESSOA

• Antigas convicções 1 • Novas convicções


• Antigos valores R • Novos valores
• Antigos comportamentos A • Novos comportamentos
• Antigos hábitos N • Novos hábitos
• Antigos relacionamentos S • Novos relacionamentos
• Antigo ponto de vista p • Novo ponto de vista
• Antigos sonhos q • Novos sonhos
• Antigo propósito p • Novo propósito
• Antigo ambiente M • Novo ambiente
• Antigo emprego/planos de carreira • Novo emprego/planos de carreira
• Antigo caráter • Novo caráter
• Antiga ética • Nova ética
• Antigos desejos/paixoes • Novos desejos/paixões
• Antiga comunicação/linguagem • Nova comunicação/linguagem

A COMUNIDADE DE PESSOAS TRANSFORMADAS

Aqui desejo considerar novamente Efésios 2:10. Até este ponto, vimos o versículo
como se ele se aplicasse somente a pessoas, individualmente. E é verdade que Deus nos
fez como peças individuais de feitura. Mas observe a quem Paulo se dirige neste versí­
culo: "Pois somos feitura dele...para que andássemos nelas". O apóstolo tem mais de uma
pessoa em mente, não tem?
Na verdade, ao verificarmos o contexto, descobriremos que Paulo tem a igreja toda
em mente - tanto a igreja local quanto a universal. Aprendemos que o cristianismo não
tem a ver com isolamento, mas com comunidade - a comunidade de crentes em Cristo,
bem como a comunidade daqueles que estão sendo transformados por Cristo.
Isso tem implicações significativas quando se trata de aplicar as Escrituras. Significa
que a Palavra de Deus vai além da minha felicidade, conforto ou conveniência pessoais.
Com certeza Deus se importa muito com minha situação particular. Jesus disse que nem
mesmo um fio de cabelo cai de minha cabeça que o Pai nào o perceba (Mateus 10:30).
Mas os propósitos de Deus são muito maiores do que meu cabelo, meu pequeno canto
do mundo.

“É Tudo para Mim”


Destaco este aspecto porque vivemos cm uma época de desenfreado individualismo. O
lema de hoje é: "É tudo para mim". Minha vida. Meu emprego. Minha família. Meus pla­
nos. Meus direitos. Minha felicidade. Tudo eu, eu, eu. Esta mentalidade tem uma maneira
de invadir tanto a forma de lermos a Palavra quanto de aplicarmos. Achamos que a Bíblia
é toda para mim.
Por exemplo, suponhamos que uma senhora cristã sincera esteja dirigindo pelo
estacionamento de um shopping center em pleno pico de Natal, desesperada para en­
contrar uma vaga. Ela estudou o livro de Filipenses, e lembra que Paulo escreveu: "Meu
Deus suprirá todas as vossas necessidades". (4:19). Então ela ora: "Senhor, eu realmente
preciso achar um lugar para estacionar. Por favor, ajude-me a encontrar uma vaga agora
mesmo".
Não sei como reagir a uma oração assim. Na verdade, eu já orei da mesma forma.
Então não pretendo ser rigoroso. Certamente fico feliz por a mulher ter recorrido ao Se­
nhor em meio a sua crise pessoal. Mas pergunto: é isto de fato o que Paulo tinha em mente
quando escreveu Filipenses?
Se examinarmos a carta, descobriremos que Paulo estava escrevendo de uma prisão
romana - não exatamente de um resort. Além do mais, o contexto imediato do capítulo 4
mostra que os crentes de Filipos haviam enviado a Paulo um presente que, ao que parece,
incluía dinheiro, talvez em consequência do compromisso que tinham com Cristo. Isto
impressiona, já que é provável que os próprios filipenses fossem paupérrimos. Mesmo
assim, a preocupação deles com seu pai espiritual pesou mais do que o sacrifício pesso­
al. Por esta razão, o apóstolo agradeceu o presente, e depois garantiu a eles que "o meu
Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas
em Cristo Jesus" (NVI).
Considerando tal pano de fundo, acho que é justo fazer uma pergunta dura: se
estou dirigindo o meu próprio carro na época do Natal, na América do século XXI, eu
realmente "preciso" que Deus me supra uma vaga para estacionar? Esta é realmente a
coisa mais importante pela qual eu poderia orar? Quero dizer, se tenho a meu dispor um
carro, urn «hopping center v um cartão de crédito, o que Imo diz a renpelto de mim «e
catou implorando que l)<*u« nw «Irva com uma vaga também? A vontade de quem estou
pedindo que o Senhor realize?
Sejamos claros, a Palavra se aplica a mim, mas a Palavra não está centrada em mim.
Jesus ensinou Seus discípulos a orar: "Venha o teu reino; faça-se a tua vontade" (Mateus
6:10, itálico acrescido). Não tem a ver comigo. Tem a ver com Deus. Efésios 2:10 mostra
que eu fui feito para me encaixar no plano de Deus, não o contrário.

TRANSFORMANDO O MUNDO

Qual, então, é o plano de Deus? Ele não o revelou totalmente. Mas conhecemos,
com base em Atos 1:8, parte do plano e nossa parte nesse plano: devemos ser testemunhas
de Cristo por todo o mundo. Nós, tanto individualmente, quanto coletivamente.
Isto nos leva ao diagrama da página 258. Você já se perguntou: Como posso produ­
zir mudança em minha sociedade? Efésios 2:10 fornece uma resposta. Mudanças acontecem
quando a verdade de Deus transforma a minha vida, para que eu comece a cumprir os
propósitos de Deus para mim. Depois descubro que a verdade de Deus também está
transformando inúmeras outras pessoas ao redor do mundo. A esta comunidade de pes­
soas transformadas chamamos Igreja. Individualmente e coletivamente, a Igreja envolve
o mundo e leva o poder transformador da Palavra de Deus a qualquer esfera de influência
que Deus abra para nós.
Realmente funciona assim? Com certeza. Considere a tribo Wadani, do Equador. Os
Wadani (anteriormente conhecidos como os Aucas) viveram por gerações em um ciclo in­
finito de assassinato e vingança. Então, em 1956, cinco missionários e suas famílias foram
conduzidos por Deus a levar o evangelho àquela violenta cultura. Ao tentarem fazer con­
tato, os cinco homens foram lanceados ate a morte. Senti tal perda pessoalmente, porque
um daqueles homens era Jim Elliot, que havia sido designado para ser meu "irmãozinho"
enquanto calouro na Wheaton College, onde eu era aluno dos anos mais avançados.
A morte de Jim e de seus companheiros poderia parecer uma derrota para o evan­
gelho. Mas, ao invés disso, abriu as portas para as esposas e os filhos dos missionários
viverem entre os Wadani - e fazerem o quê? Sim, mostraram a eles o poder transformador
de Cristo. Com o tempo, vários dos Wadani começaram a se voltar para Cristo. Eventual­
mente, as mortes cessaram. Uma igreja foi plantada. Aqueles que uma vez matavam seus
inimigos agora oravam por eles. Uma transformação havia acontecido.
Mas a história não termina aqui. Lembre-se de que Deus usa o Seu povo para pene­
trar o mundo com Sua graça. Assim é com os Wadani. Em 2006, membros da tribo concor­
daram cm participar de um grande filme: The End of the Spear (O Fim da Lança), que conta
a história da reconciliação entre Steve Saint, filho de um dos missionários, e Mincayani, o
guerreiro Wadani que matou o pai de Steve. Poucos filmes já comunicaram o evangelho
de maneira tão poderosa e convincente.
Mat eis o que você predta saber: os cristãos Wadanl decidiram fazer parte do filme
porque ouviram sobre alguns lugares dos Estados Unidos onde mortes por vingança mAo
a norma. Eles concluíram que se Deus pôde mudar a sociedade deles, talvez pudesse usar
a história deles para mudar a sociedade americana.
Isso sim é transformação! A Palavra de Deus cumprida em minha vida primeiro,
depois cumprida junto a outros crentes para que causemos impacto por Cristo em nosso
mundo.

O que é o processo de mudança de vida? Ele começa com a Palavra de Deus. A


Bíblia é o meio divino usado para causar mudança em nossas vidas. Mas observe,
a Palavra deve primeiro mudar a minha vida. Depois ela pode começar a mudar
o meu mundo. É assim: quando a verdade de Deus muda a minha vida, posso me
tomar um elemento de mudança cm minha esfera de influência. Você já se pergun­
tou como pode produzir mudança em sua sociedade? A única maneira de produzir
mudança permanente e significativa é mudando indivíduos.
Quatro Passos
na Aplicação
Muitos cristãos são como fotografias ruins - exagerados na exposição e deficientes na
revelação. Têm plena exposição à luz da Palavra de Deus. Contudo, que diferença isso faz
em suas vidas?
O problema não está nas Escrituras. Como vimos no capítulo anterior, as Escrituras
podem nos transformar. Mas se isto é verdade, então o crescimento espiritual é um com­
promisso com a mudança. E aí reside o problema: não há nada a que o coração humano
resista mais fortemente do que à mudança. Fazemos tudo para evitá-la.

PRIMEIRO PASSO: CONHEÇA

Se quiser aplicar a Bíblia, você precisará ter conhecimento de duas coisas:

Conheça o texto
No capítulo 4, sugeri uma definição para método de estudo bíblico. A primeira parte de
minha definição diz que método é " nietodicidadc". Isto é, você tem que dar determinados
passos em uma determinada ordem para garantir um determinado resultado. Não sim­
plesmente quaisquer passos; não simplesmente em qualquer ordem; não simplesmente
para obter qualquer resultado.
Neste ponto, você já deve saber quais são os passos tão bem quanto sabe seu pró­
prio nome: observação, interpretação, aplicação. Agora estamos considerando o passo
da aplicação, onde a mudança de vida ocorre. Mas deixe-me destacar mais uma vez que
a ordem dos passos é crucial. É crucial porque antes de aplicar a Palavra, você tem que
se familiarizar em primeira mão com o que ela ensina. Adquire-se tal conhecimento pri­
meiro pela observação diligente, e depois, pela interpretação cuidadosa. Neste ponto,
somente neste ponto, você estará em posição de agir com base no que sabe.
Autoconheclmento
Você não só deve conhecer a interpretação, mas a si mesmo. Em I Timóteo 4:16, Paulo
adverte Timóteo: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina". Note a ordem: cuide de si
mesmo primeiro; então cuide da comunicação da verdade a outros. Por quê? Porque se
você não conhece a si mesmo, fica difícil ajudar outras pessoas a aplicarem a Bíblia em
suas vidas.
Na verdade, uma das principais razões pelas quais a aplicação não é mais efetiva
para muitas pessoas é que francamente, elas não conhecem a si mesmas. E você? Eis duas
perguntas: primeira: quais as suas habilidades? O que tem acontecido de bom em sua
vida? Pode escrever três principais habilidades em uma ficha agora mesmo? (Em minha
experiência, a maioria das pessoas têm problemas para fazer isso.) Segunda: quais as suas
deficiências? Quais as suas limitações? Qual o seu maior obstáculo ao crescimento?
Agora coloque estas duas perguntas juntas, e você verá o valor delas na aplicação.
Se conhecer suas habilidades, isso fará desenvolver sua confiança. Se conhecer suas de­
ficiências, sua fé será desenvolvida. Suas vantagens mostram o que Deus tem feito por
você, e suas deficiências, mostram o que Deus precisa desenvolver em você. A razão pela
qual a maioria de nós não cresce mais é que não sabemos de que precisamos.
Romanos 12:3 nos dá visão a esse respeito: "Porque pela graça que me foi dada,
digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém, antes, pense
com moderação segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um". Às vezes, temos
uma opinião exagerada de nós mesmos. Outras vezes, uma opinião distorcida. Paulo diz:
"Não! Não tenha uma ideia vaidosa daquilo que você é. Mas também não vá se conside­
rar um lixo". Toda vez que se considera lixo, está fazendo a obra do diabo — e ele não
precisa de sua ajuda. E especialista nisso.
A visão é, então o primeiro passo em direção ao crescimento espiritual — visão da
passagem, e visão de si mesmo.

SEGUNDO PASSO: RELACIONE

Uma vez que conhecemos a verdade da Palavra de Deus, devemos relacioná-la à


nossa própria experiência. Na verdade, entende-se melhor o cristianismo como sendo
uma série de novos relacionamentos. O padrão bíblico para isso é 2 Coríntios 5:17: "E
assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que
se fizeram novas".
Quando você se torna cristão, Jesus Cristo entra em sua vida — e bem no centro
dela. Uma vez ali, Ele afeta todas as áreas. Ele melhora sua vida no lar; você se toma mais
sensível como parceiro, como pai, como pessoa. Ele fortalece sua vida de pensamento:
sua mente habita em coisas construtivas, você desenvolve interesses mais amplos e culti­
va valores mais piedosos. Ele renova sua vida social: seus relacionamentos com amigos e
associados mudam conforme você começa a tratá-los de maneira cristã.
Crhto afeta até menino nua vida sexual. Como sabemos, a maioria das pessoas está
bem longe de pensar que Deus tenha criado o sexo, o que faz com que Ele seja o único
conhecedor de suas funções. Alguns podem se sentir embaraçados em falar sobre isso,
mas Ele nào ficou embaraçado ao criá-lo. Ele quer proporcionar uma intimidade saudável
em sua vida, fazê-la nova, limpa e honrosa a Deus.
O que dizer sobre sua vida de negócios, sua vida vocacional? Ouço falar sobre "ho­
mens de negócio cristãos". Não, não são homens de negócio cristãos; são homens de
negócio que por acaso são cristãos. Infelizmente, muitos nunca relacionaram a verdade
bíblica a suas vidas no local de trabalho.
Jesus Cristo quer renovar cada área de sua vida. Por isso o crescimento cristão é
um processo — um processo dinâmico. Todos os dias, levanto e percebo que ainda há
áreas em minha vida sobre as quais o Senhor não tem controle. Assim, o cristão é uma
pessoa mal-ajustada ao "status quo" (o que tem sido bem definido como "a bagunça em
que vivemos"). Deste modo, tenho de recorrer à Palavra de Deus por toda minha vida.
O crescimento espiritual é um processo a longo prazo e, a menos que eu considere cui­
dadosamente a Palavra de Deus, nunca chegarei ao objetivo de semelhança com Cristo.

Faça um Inventário Espiritual

Você quer aplicar a Palavra de Deus em sua vida? Comece, conhecendo a si mesmo.
Para o ajudar nisso, Doug Sherman, do Ministério de Impacto de Carreiras, desenvol­
veu um inventário que revê seus hábitos e comportamentos à luz das expectativas de
Deus em pelo menos cinco amplas áreas da vida. Eis algumas perguntas a se consi­
derar.

Em sua vida pessoal:


• Quais as condições de suas disciplinas espirituais — disciplinas conhecidas por se
relacionarem com o crescimento espiritual, como o estudo bíblico, memorização das
Escrituras, oração ou leitura de literatura devocional?
• E sua condição física, hábitos alimentares, exercícios, sono e descanso?
• Que comportamentos você deseja especialmente superar: seu.gênio, uma decepção
ou uma luxúria sexual?
• Que comportamentos você deseja especialmente estabelecer: paciência, hospitalida­
de ou perseverança?

Em sua vida familiar:


• Você tem um horário fixo para chegar em casa, de modo que sua família possa sem­
pre contar com sua presença na hora marcada para sua chegada?
• Você "namora" sua esposa regularmente?
• Você se desprende emocionalmente de seu trabalho e afazeres para que possa pas­
sar um tempo desempedido envolvido com seus filhos?
• Você tem preservado suas responsabilidades para com seus pais? Para com os pais
de sua esposa? Para com outros parentes?

Em sua vida na igreja:

• Com que freqüência você se coloca sob a instrução das Escrituras?


• Você doa dinheiro para a causa de Cristo fiel, generosa e alegremente?
• Tem orado regularmente por seu pastor e outros líderes da igreja?
• Você sabe qual é seu dom espiritual e o tem usado?

Em seu trabalho:
• Você dá um dia honesto de trabalho a seu empregador?
• Você cumpre os compromissos que faz com os clientes?
• Você lê ou se mantém atualizado sobre novos desenvolvimentos, idéias e méto­
dos em seu campo?
• Na medida do possível, você mantém um emprego estável através do qual as suas
necessidades e as de sua família estejam sendo satisfeitas adequadamente?
• Você tem um orçamento familiar? Permanece sempre dentro dele?

Em sua comunidade:
• Você exercita regularmente seu direito e responsabilidade como cidadão de votar
conscientemente?
• Você paga sua porção justa de impostos?
• Quais as condições de seus registros no trânsito? Tem multas e infrações?
• Você mantém sua propriedade dentro dos estatutos de sua comunidade?
• Você está, de alguma maneira, consciente de e envolvido com a população carente
e suas necessidades?

Há um grande número de outras perguntas que poderíam ser feitas, mas o objetivo
de tal inventado é ajudá-lo na avaliação crítica de si mesmo para determinar as áre­
as nas quais você precisa crescer espiritualmente. Todas essas aplicações específicas
brotam de passagens e princípios bíblicos.

Sugestão: peça a alguém a quem você conheça bem, como sua esposa ou um amigo
íntimo, que faça este inventário e dê sua própria avaliação de como acha que você se
sairía em cada área. Então compare suas respostas. Esta é uma ótima maneira de se
conseguir objetividade e fazer com que este exercício seja mais útil.
Adaptado de Doug Sherman e William Hendricks, Your Work Matters to Cod (Colorado Springs:
Navpress, 1987), pp. 232-33.
A Palavra qua Funciona
Uma vez que você perceba que Jesus Cristo quer impactar sua vida de maneira profunda,
você precisa procurar por áreas nas quais relacionar a Palavra à vida. Gosto de ver isso
em termos do que chamo a "Palavra que Funciona". Na Observação e na Interpretação,
surgem novas visões — coisas que você nunca tinha visto antes. F.stas novas visões pro­
duzem uma série de novos relacionamentos.
Um novo relacionamento com Deus. Ele agora é seu Pai celestial. Você tem um
relacionamento pessoal e íntimo com Ele. Ele proveu Seu Filho para a sua salvação e o
Espírito Santo para ajudá-lo a crescer e cumprir Seus propósitos.
Um novo relacionamento consigo mesmo. Você desenvolve uma nova auto-ima-
gem. Afinal, se Deus o ama, se Cristo morreu por você, se o Espírito Santo lhe deu dons e
poder, isso significa que você tem tremendo valor e importância. Sua vida adquire novo
significado e propósito.
Um novo relacionamento com outras pessoas. Você descobre que as outras pessoas
nào são inimigos. Elas podem ser vítimas do inimigo, mas são pessoas que Deus colocou
em sua vida. Ele o chama para tratá-las de maneira cristã.
Um novo relacionamento com o inimigo. Por favor, note: Quando vem a Cristo,
você muda de lado na batalha. Antes, era apenas um joguete do inimigo, que o movia
para onde queria que fosse e você não fazia nem idéia de que era tapeado por ele. Agora
porém, você descobre que está do lado de Deus. Acredite, o inimigo não está nada feliz
com isso. É por isso que sua vida cristã será uma constante batalha.
As novas visões que você ganha das Escrituras precisam ser aplicadas em todas
essas áreas de relacionamentos. Note como isso acontece.
A Palavra expõe o seu pecado. Lembra-se de 2 Timóteo 3:16? As Escrituras têm
uma função reprovatória e corretiva. Elas falam quando você ultrapassa os limites com o
intuito de limpar o pecado de sua vida.
A Palavra lhe dá as promessas de Deus. Ela diz o que você pode esperar de Deus e
o que pode confiar que Ele fará. Isso é incrivelmente confortante quando você está enfren­
tando circunstâncias que fogem de seu controle.
A Palavra lhe dá os mandamentos de Deus. Assim como há promessas nas Escritu­
ras, há também condições a serem cumpridas. São estabelecidos mandamentos c princí­
pios que nos levam em direção à saúde e à vida.
A Palavra lhe dá exemplos a serem seguidos. Gosto de estudar as biografias nas
Escrituras, as histórias de pessoas que viveram suas vidas diante de Deus. Nelas, as Es­
crituras se tornam reais. Algumas nos dão um exemplo positivo, e são esses que quero
seguir. Outras apresentam um exemplo negativo, que preciso evitar.
Usando a Palavra que Funciona, Jesus Cristo produz mudança de vida naquele que
quer aplicar a verdade bíblica. Este é o seu caso? Um bom teste é: alguém que o conhece
muito bem há bastante tempo já lhe disse: "Ei, por que você está tão diferente? Conhecia-
o antes, mas você não é a mesma pessoa. Algo aconteceu em sua vida". Que explicação
poderia dar? Que Cristo tem agido em sua vida?
Resumindo, o que há em sua vida, que você não pode explicar de outra maneira se
não atribuindo ao sobrenatural?

TERCEIRO PASSO: MEDITE

Quando era jovem, cheguei em um ponto de minha vida, onde era o candidato mais
requintado à ala de psicopatas já visto. Os enfermeiros estavam quase me levando, quan­
do um amigo meu, um executivo, soube de minha situação angustiosa.
Ele veio a Dallas por conta própria e passou três dias comigo. Tudo o que eu fazia,
ele fazia. Aonde eu ia, ele também ia. Prestava atenção em cada conversa, assistiu a cada
aula, até morou em minha casa. Finalmente, no final do período, ele me deu seu diagnós­
tico: "Howie, seu problema é que você está com o pensamento atrasado".
Se eu tivesse dado a ele vinte mil dólares, acho que não o teria pago o suficiente por
aquela visão. O que ele estava me dizendo era que eu estava deixando que tantas coisas
ocupassem minha atenção, que não estava me permitindo reservar tempo para processar
tudo. Eventual mente, acabei dominado por isso.
O que meu amigo estava descrevendo é na verdade o hábito da meditação, que se
tomou uma arte perdida na sociedade contemporânea, exceto, é claro, dentre os adep­
tos do misticismo oriental. Estou falando de algo completamente diferente da ginástica
mental que procura esvaziar a mente. A verdadeira meditação é ponderar a verdade, com
vistas a deixar que ela auxilie e reajuste nossas vidas. Já que muitos de nós somos ativos,
gente ocupada, é provável que concluamos que a meditação tenha sido algo bom para a
antiga geração de crentes, mas que realmente não tenha relevância em nossos dias e era.
Errado! Já vimos no capítulo 14 que a meditação é útil no passo da Observação, e
absolutamente essencial para o passo da Aplicação. Lembra-se de Josué 1:8 e Salmo 1:1-2?
Ambas as passagens falam que a chave para a prosperidade espiritual é a meditação na
Palavra de dia e de noite. Em outras palavras, devemos entrelaçar as Escrituras no tecido
da vida diária.
Minha esposa faz uma sopa a que mal posso resistir. Ela leva horas para fazê-la, co­
meça pela manhã, e logo nossa casa fica cheia daquele delicioso aroma — e eu babo, pron­
to para devorá-la. Mas ela diz: "Ainda não, espere até o jantar". Eu a chamo sua "sopa
entusiástica" — onde ela dá tudo o que tem de si — fazendo com que sopa comprada no
supermercado fique parecendo água de batata.
Como a sopa fica assim tão boa? Minha esposa a deixa no queimador de trás no
fogão, sobre chama baixa, até que todos os sabores comecem a se mesclar, fazendo-a um
deleite ao paladar. O que você tem no queimador de trás? O que tem cozinhado em sua
mente? Está tirando vantagem dos benefícios da meditação bíblica?
"Mas eu tenho dificuldades em pensar" alguém dirá.
Não, o problema é que você está deixando seu cérebro morrer de fome. Não o está
provendo de nenhum combustível. Como vê, há uma ligação direta entre a meditação
e a memória. A memória provê a mente do combustível de que ela precisa para fazer a
meditação útil.
Uma das coisas da qual me arrependo quando reflito em minha jornada espiritual,
é não ter memorizado Escrituras enquanto jovem. Eventualmente, porém, me envolvi no
"Sistema Tópico de Memória", um conjunto de cartões de memória produzidos pelos
Navigators, que está disponível em qualquer tradução (em inglês). O programa ajuda na
memorização de dois versículos por semana. Isso não é muito, mas pare para pensar: se
fizer isso por cinquenta semanas durante um ano, terá cem versículos das Escrituras sob
seu domínio.
Isso pode fazer diferença em sua vida? Não muito tempo atrás, comecei um pro­
grama de memorização da Bíblia, quando tive de me submeter a uma cirurgia. A cirurgia
foi bem, mas contraí uma infecção depois, e era o tipo de coisa que eu não tinha certeza
se iria viver ou morrer, mas quase quis falecer. Descobri que havia apenas uma coisa me
sustendo durante aquele período — a Palavra de Deus que eu havia decorado. Aquela
experiência me convenceu de que a memória é a chave para a meditação. E a meditação a
chave para a mudança de meu ponto de vista.

QUARTO PASSO: PRATIQUE

O objetivo definitivo do estudo bíblico é a prática da verdade. As Escrituras foram


escritas não para engordar gansos, mas para treinar atletas e equipar soldados para as re­
alidades da vida. "Corra para vencer'', "lute para vencer". Esta é a mensagem da Palavra.
Você não pode conscientemente aplicar toda verdade que encontrarem seu estudo,
mas pode consistentemente aplicar algo. Assim, sempre perguntará: Existe alguma área de
minha vida na qual esta verdade se faz necessária?
Uma forma de responder a pergunta acima é fazendo uso de uma lista espiritual
detalhada. Incluí uma neste capítulo, disposta como barra lateral. A ideia é refletir com
oração sobre sua verdadeira condição nas várias áreas de sua vida. Peça a Deus que colo­
que o dedo em um lugar onde você saiba que precisa aplicar a verdade que está coletando
de Sua Palavra. Depois, por fé e cm obediência, comece a agir com base na verdade da
maneira que parecer melhor para a área em que você precisa crescer.
Posso assegurar que sua fome da Palavra será diretamcnte proporcional a sua obe­
diência a ela. Na verdade, é um ciclo: quanto mais você a entende, mais a usa; e quanto
mais a usa, mais deseja entendê-la. Ambas as coisas são necessárias.
Assim, "tudo", para mim, inclui a correspondência. Detesto escrever cartas na mes­
ma intensidade que amo ensinar, mas eventualmente a correspondência acumula e tenho
pouca escolha senão resolver o assunto. Esta é então, uma área onde posso aplicar Fili­
penses 2:14. O versículo não diz que tenho de gostar de escrever cartas; diz apenas que
preciso aprender a fazê-lo sem murmurações nem contendas.
Pode ser que íhno pareça algo Inconsequente, mas náo há nada Inconsequente nas
mudanças que Deus quer operar na sua vida, e na minha. Ele nos deu a Palavra para
transformar nossa experiência e eu garanto a você que sua fome por esta Palavra existirá
em proporção à sua obediência a ela. Na verdade, há um ciclo: quanto mais você a enten­
de, mais a usa; e quanto mais a usa, mais quer entendê-la. As duas coisas são necessárias.
Ao final, você sempre encontrará dois lados na vida cristã: você precisa de alimento
e de exercício. Comida demais leva à obesidade. Pouca comida faz desenvolver anemia.
Mas o alimento é transformado em energia, e a energia o capacita a fazer aquilo que Deus
quer que faça. Porém no processo, você fica exausto e cansado. Perde a perspectiva. Então
tem de voltar para a Palavra de Deus para ser revigorado. Lembre-se que a Palavra de
Deus experimentada é a Palavra de Deus desfrutada.

Experimente

Há uma correlação direta entre a meditação e a memorização. Quanto mais Escri­


turas você memoriza, mais material terá para meditar.
Infelizmente, a idéia da memorização bíblica tem freqüentemente sofrido pres­
são negativa. Na verdade, a própria memorização tem recebido pressão negativa.
Muitos de nós se lembram da escola primária, onde fomos forçados a memorizar fa­
tos insensatos e números em matérias como história e aritmética. Uma vez formados
nesse exercício, juramos nunca mais fazê-lo!
Mas se Deus promete abençoar nossas vidas como resultado da meditação (Jo­
sué 1:8; Salmo 1), e se a meditação depende da memorização, então talvez devésse­
mos reconsiderar a idéia. Eis um pequeno exercício para sua iniciação. Memorize o
Salmo 100:
Salmo de ações de graça

Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras.


2
Servi ao Senhor com alegria,
apresentai-vos diante dele com cântico.
3
Sabei que o Senhor é Deus;
foi ele quem nos fez e dele somos;
somos o seu povo, e rebanho do seu pastoreio.
4
Entrai por suas portas com ações de graça,
e nos seus átrios com hinos de louvor;
rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome.
5 Porque o Senhor é bom,
a sua misericórdia dura para sempre,
e de geração em geração a sua fidelidade.”
Este salmo só tem cinco versículos e é um ótimo salmo para se meditar porque
eleva o coração em alegria diante do Senhor. Ele afirma confiantemente o caráter fiel
de Deus. Eis algumas sugestões:

1. Leia e estude o salmo, usando Observação e Interpretação.


2. Leia o salmo repetidamente.
3. Concentre-se na memorização de um versículo por vez, em vários dias. Por
exemplo, no primeiro dia, memorize o versículo 1. Leia-o várias vezes, daí
repita-o para si mesmo várias vezes. Mais ou menos uma hora depois, veja
se consegue lembrá-lo. Continue a revisá-lo no decorrer do dia. Então, no
dia seguinte, "ataque" o versículo 2 da mesma maneira, mas repita o ver­
sículo 1 em adição ao 2. Continue acrescentando versículos no decorrer da
semana.
4. Repita o que você memorizou em voz alta para um amigo ou membro da
família. Peça que confira a passagem na Bíblia para ter certeza de que você
a sabe perfeitamente, palavra por palavra.
5. Se tiver talento para tal, coloque música no salmo e cante-o. (A maioria dos
salmos foram originalmente cantados, não lidos.)
6. Continue revisando o salmo mentalmente durante as semanas seguintes,
até que tenha certeza de que está alojado em seu cérebro.
Cristianismo
Customizado
Num capítulo anterior, propus o princípio de que há uma só interpretação, mas muitas
aplicações. Isto é, há apenas uma interpretação definitiva para uma passagem das Escri­
turas. Mas a mesma passagem pode ser aplicada de diferentes maneiras a diferentes si­
tuações. Em outras palavras, a verdade da Palavra de Deus é adaptável, pois a mesma
verdade se refere a várias circunstâncias. A verdade não muda, as circunstâncias sim.
Mas há outro aspecto em que há uma só interpretação, mas muitas aplicações. As­
sim como as circunstâncias, as pessoas também variam. Como vimos anteriormente, cada
um de nós é um ser único. Exclusivo. Cada um de nós é uma peça de feitura, feita artesa-
nalmente pelo Criador do universo, uma obra-prima formada com um propósito muito
especial em mente. De tal exclusividade brotam enormes ramificações de como aplicamos
a Palavra de Deus. Isso significa que a maneira como você aplica as Escrituras provavel­
mente será um pouco diferente da maneira como eu as aplicaria. A verdade é a mesma,
mas há diferentes modos de aplicá-la. Não porque um de nós seja melhor do que o outro,
mas porque somos diferentes uns dos outros.
Permita-me ser claro. Não estou dizendo que você pode aplicar as Escrituras como
quiser, e que eu posso aplicá-la da maneira que bem desejar. Nem estou dizendo que
qualquer um de nós pode aplicar as Escrituras seletivamente, praticando aquilo que gos­
tamos, mas negligenciando aquilo que não gostamos. Não, os preceitos da Palavra de
Deus se aplicam universal mente a todo crente. Por exemplo, todos nós devemos viver
pelo Espírito, de modo que manifestemos o fruto do Espírito (Gaiatas 5:16, 22-23). Uma
marca de autenticidaoe de tal fruto é a alegria: a alegria deve caracterizar todo crente.
Mas a maneira como você expressa alegria em sua vida provavelmente será um tanto
diferente da maneira como eu a expresso em minha vida.
Considere então o crescimento espiritual que deve ocorrer quando somos alimen-
Indo» pela Palavra de Devia. Primeira Pedro 2:2 fala de maneira bastante vivida que de­
vemos ser como bebês recém-nascidos que choram pelo leite espiritual. Chamo tal pas­
sagem de Escada do Crescimento de Pedro porque, ao ingerirmos aquele leite, damos
passos de fé e obediência que nos levam a níveis mais altos de maturidade. Espera-se
que todo crente apresente esse crescimento. Mas a maneira específica como você cresce e
amadurece provavelmente irá diferir um pouco da maneira como eu cresço e amadureço.
Esta diferença tem a ver com a forma exclusiva com que Deus nos fez.
A seguir, sugerirei ao menos quatro maneiras como nossa individualidade afeta a
Aplicação.

Nosso Grau de Instrução


Tendo dado aulas em uma instituição acadêmica por mais de cinquenta anos, posso asse­
gurar com absoluta certeza que cada pessoa aprende de um modo. Aprender não é uma
função da inteligência das pessoas, mas da habilidade delas.
Por exemplo, algumas pessoas aprendem melhor lendo, memorizando e fazendo
provas. Obviamente, estas são as pessoas que tendem a se sair melhor em ambientes for­
mais de sala de aula onde a instrução é passada por meio de livros, exercícios de memória
e exames. Outras pessoas aprendem melhor fazendo e tentando. Elas têm que colocar as
"mãos na massa" para tudo o que precisam aprender. Outras requerem participação em
algum tipo de grupo a fim de obter bons resultados do processo de aprendizado. Outras,
ainda, precisam de um tutor, mentor ou treinador que possa prover feedback imediato,
encorajamento e senso de responsabilidade. Outras se saem melhor quando podem ab­
sorver o material e depois se afastar para pensar nele sozinhas por um tempo.
Eu poderia prosseguir descrevendo vários estilos de aprendizado. O ponto é que
todas as pessoas são únicas na forma como aprendem, o que significa que quando se
trata de estudar a Bíblia, cada uma percebe c recebe a verdade da Palavra de Deus à sua
própria maneira.
Temos uma ótima ilustração disso no Novo testamento com Simão Pedro e Paulo.
Simão Pedro parece ter aprendido melhor quando pôde experimentar algo em primeira
mão. Por exemplo, Lucas 5 nos fala que a primeira vez em que Jesus apareceu na vila
de pesca de Simão, o Senhor o persuadiu a levá-Lo um pouco além da praia para que
pudesse ensinar o povo. Com Jesus sentado na parte traseira do barco, Simão tinha que
ter ouvido o ensino, mas o texto sugere que ele estava preocupado em limpar suas redes.
Depois da lição, contudo, Jesus virou-Se e incitou Simão a ir para a parte onde as
águas eram mais profundas e lançar redes. O texto diz o que Simão falou em resposta
à sugestão e não o que ele pensou. Mas posso imaginar que seu pensamento tenha sido
algo como: "Veja bem, companheiro, você pode ser perito na Lei e em religião, mas eu
sou o perito quando o assunto é pesca. Fiquei aqui a noite toda e estou aqui para dizer
a você que os peixes não estão mordendo!". Entretanto, Simão cedeu, e o resultado foi
uma pesca milagrosa, a melhor de sua vida. Quem sabe se Simão ouviu alguma coisa que
JcNUN disse em Seu discurso? O que fica claro é que experimentando o poder de Jesus em
primeira mào foi como Simão começou a aprender quem era o professor.
Paulo aprendia de forma muito diferente. Ele havia sido educado formalmente por
um tutor chamado Gamaliel (Atos 22:3) e treinado como Fariseu (23:6; 26:5), o que envol­
via muita leitura e estudo. Paulo diz, ainda, que, quanto ao judaísmo, ele se avantajava a
muitos de seus companheiros (Gaiatas 1:14). É fácil crer nisto. Hoje em dia, muitos alunos
de seminário têm dificuldades em aprender hebraico básico para poderem ler o Antigo
Testamento. Paulo, ao contrário, memorizou boa parte do Antigo Testamento - em he­
braico. E mais, escreveu praticamente a metade do Novo Testamento - em grego. Que
intelecto!
Assim, vemos uma considerável diferença de estilo de aprendizado entre Pedro
e Paulo. Nao é de surpreender, pois, que mais tarde em sua vida, Pedro tenha dito que
certas cartas de Paulo "contêm algumas coisas difíceis de entender" (2 Pedro 3:16 NV1).
Eu sempre me consolo muito com isso. Se Pedro tinha dificuldades para entender Paulo,
acho que é aceitável se o mesmo ocorre com você e comigo, hoje.
Então, como você aprende? Quais são as condições ideais para você adquirir novos
conhecimentos, informações ou habilidades? Preste atenção a isso ao interagir com as
Escrituras. Tirando vantagem de seu estilo de aprendizado natural, você irá muito mais
longe, muito mais rápido, e com muito mais satisfação, no processo de crescimento.

Nossa Ênfase
Um de meus melhores amigos, Trevor Mabery, era otorrinolaringologista. O Senhor o
levou há vários anos, mas, quando vivo e praticante da medicina em Dallas, Trevor cos­
tumava me convidar para ir caçar com ele em East Texas. Era uma de minhas atividades
favoritas. Não que eu fosse bom caçador, mas eu adorava ver Trevor, que dominava a
vida ao ar livre.
Um dos grandes bens de Trevor era sua vista. Podíamos estar sentados no carro,
olhando através dos campos, com uma fileira de árvores talvez a mais de 8(X) m de distân­
cia e, de repente, Trevor apontava e exclamava: "Olhe ali, Howie, um falcão de ombros
vermelhos. Está vendo?". Eu então procurava bastante, apertava os olhos, esfregava-os,
mas tudo o que conseguia ver era uma fileira de árvores. Depois, sempre, se esperásse­
mos o suficiente, um par de asas se elevava e um lindo pássaro subia ao céu. Eu ficava
maravilhado de ver como Trevor podia distinguir tal criatura.
Mas a habilidade de Trevor de reconhecer a vida selvagem em meio a seus arredo­
res ilustra outro aspecto de como as nossas diferenças pessoais nos capacitam a apreen­
der a Palavra de Deus de modo diferente: tipos diferentes de habilidades enfatizam coisas
diferentes.
Por exemplo, uma pessoa que seja naturalmente motivada a planejar as coisas ten­
derá a perceber e a responder às porções da Palavra que contenham discussões de planos.
A pessoa que gosta de conceitos tenderá a enfocar os vários conceitos inclusos nas Escri-
timiN. Aquvlr quo InHlinllvrtmrnlv percebe MNtenw o redes perceberá on muitos NiNlenw
e rcdet» mencionado» ii.in F.ni illuniN Nlntemas de governo, de cidades, de comércio, de
relacionamentos. Quem tiver uma compreensão intuitiva de como as pessoas funcionam
enfatizará a dinâmica humana e as emoções de uma passagem.
Esta é outra razão por que é tão importante estudarmos as Escrituras corporativa­
mente, não apenas individualmente. Se ficarmos isolados, só teremos os nossos próprios
dons para trabalhar. Nossos dons têm valor, mas até um limite. Precisamos da perspecti­
va de outros crentes para enriquecer e complementar nossas próprias descobertas.
É por isso que eu costumava gostar muito quando Trevor, o homem que descreví
há pouco, reunia um grupo de amigos médicos e me pedia para ir estudar a Palavra com
eles. Permita-me dizer, é uma experiência totalmente diferente falar sobre uma passagem
das Escrituras que lide com questões médicas - como a mulher que sofria de hemorragia
(Marcos 5:25-34), o homem que nasceu cego (João 9) ou a crucificação - com peritos em
corpo humano. Quando as pessoas trazem em uma conversa as habilidades que Deus
lhes deu, obtemos o melhor que elas têm a oferecer. Elas enfatizam coisas que você ou
eu deixaríamos passar, porque têm um instinto inato para procurar certas coisas que são
importantes para elas.

Nossa Execução
Falando de grupos com quem gosto de estudar a Palavra, passei praticamente oito anos
como uma espécie de capelão para o Dallas Cowboys, na época de Tom Landry. Tive a
honra de acompanhá-los em dois Super Bowls5. Costumávamos ter um estudo bíblico
do time toda quinta-feira à noite. Era voluntário, às vezes só dois deles e suas esposas
apareciam, outras vezes, vinham quarenta e dois. Qualquer que fosse a frequência, era
sempre muito bom. Como você pode imaginar, aqueles caras tinham uma inclinação pelo
prático. Sim, eles toleravam um pouco de instrução teórica, quando absolutamente neces­
sário. Mas sempre queriam que a verdade fosse trazida a algo que eles soubessem fazer.
Bloqueios, passes e dribles espirituais, pode-se dizer. Em essência, eles estavam pergun­
tando: "Qual é a jogada, Prof?".
Jogadores de bola têm que memorizar várias jogadas. E o que aqueles Cowboys
faziam na prática. Executavam suas jogadas repetidamente até que seus movimentos fos­
sem automáticos. O interessante é que, uma vez que Roger Staubach ditasse a jogada e
recebesse a bola, todos faziam algo diferente. Mesma jogada, diferentes tarefas. Os caras
na linha bloqueavam, mas cada um tinha uma tática de bloqueio diferente. Outros caras
saiam da linha para correr e fazer as jogadas planejadas - novamente, cada homem cm

5 Super Bowl como é conhecido o jogo final da liga de Futebol Americano (NFL) nos Estados Unidos.
O Dallas é popularmente chamado de "America's Team" e é um dos times mais tradicionais da NFL.
Nascido em 1960, tiveram como principal técnico Tom Landry, que com os Cowboys ganhou 2 Super
Bowls e teve um retrospecto de 270 vitórias, 178 derrotas e 6 empates. (Fonte: Wikipedia)
BUü própria rota. Até oh homens do fundo do campo tinham movimentou dlívrenten a
executar, dependendo da jogada.
Esta é uma boa analogia do que acontece - ou deveria acontecer - quando um grupo
de cristãos depara com uma exortação específica das Escrituras. Por exemplo, as últimas
palavras de Jesus em Mateus 28:19 não poderíam ser mais claras: "Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações". Esta é a ordem à qual todo crente precisa obedecer. Mas
observe: a maneira de cada crente "fazer discípulos" será diferente, por virtude de como
Deus nos formou. A habilidade de cada pessoa funcionará de acordo com a sua natureza.
Na verdade, este é o intento de Deus. Foi por isso que Ele fez cada um de nós de forma
diferente - para que reuníssemos uma variedade de pontos fortes para realizar a Sua
vontade. Para a mesma ordem, existem várias formas de execução.
Assim, quando se tratar de "fazer discípulos", certas pessoas o farão ensinando,
porque ensinar é o que fazem melhor. Alguns o farão sendo exemplos e mentores por ser
isto o que melhor conseguem fazer. Alguns têm habilidade de influenciar pessoas, então
focam na proclamação do evangelho de maneira muito franca e impactante, porque é
assim que são mais eficientes. Alguns caminharão ao lado de descrentes, desenvolvendo
relacionamentos e praticando o evangelho, para que, ao longo do tempo, estimulem a
curiosidade quanto ao que os faz ser diferentes. Alguns usarão o método que André usou
com seu irmão Simão Pedro (1 João 1:40-42): trarão amigos a pessoas que têm habilidade
de explicar o evangelho de forma muito mais eficiente do que eles. Outros participarão de
equipes que viajam o mundo para realizar projetos específicos com o objetivo de ganhar
pessoas para Jesus. Pessoas que têm talento para contar histórias escreverão livros nos
quais relatem suas próprias jornadas de fé de maneira muito convincente para o leitor
não salvo.
Como vemos, há quase tantos modos de aplicar a ordem "ide...e fazei discípulos"
quanto há crentes no mundo. A interpretação é uma, mas as aplicações são muitas. O jogo
é o mesmo, mas as tarefas são diferentes. O motivo é que cada "jogador" tem diferentes
pontos fortes a serem usados por Deus no cumprimento da Sua vontade. É por isso que
é tão importante que você identifique os pontos fortes que Deus lhe deu. Ele tem "boas
obras" específicas designadas a você, e os pontos fortes que Ele designou a você lhe dirão
muito sobre qual é a sua atribuição.

Nossa Excelência
Isto nos traz a uma quarta maneira como as diferenças individuais afetam significativa­
mente a nossa aplicação das Escrituras. Tenderemos a sobressair nas áreas em que somos
fortes, mas teremos dificuldades em áreas em que precisemos de força.
Por exemplo, se relacionar-se e lidar com os outros for algo natural para uma pes­
soa, ela não terá problemas em se mostrar à altura do desafio de 1 Pedro 3:8: "Finalmen­
te, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos,
humildes". Este é um versículo que a pessoa assim foi feita para aplicar. Sim, inevitável­
mente eh terá que lidar com problema» de relacionamento, como qualquer ner humano
teria. Mas Deus a dotou com o equipamento perfeito para a tarefa. Assim, presumindo
que o seu andar com Cristo seja sólido, é provável que ela faça um excelente trabalho ao
praticar a verdade de 1 Pedro 3:8.
Por outro lado, digamos que uma pessoa seja, por natureza, reservada, quieta, tal­
vez até absorta. Ela foi abençoada com uma mente brilhantemente analítica capaz de se
aprofundar no mundo das informações, dados e fatos. Assim sendo, talvez seja um gran­
de profissional da área de engenharia de software, precisamente porque pode se esconder
por horas em seu cubículo, analisando códigos. Isso faz todo sentido do mundo para ela.
Pessoas, ao contrário, sâo muito mais difíceis para ela compreender. É lógico, então, que
ela poderá ter dificuldades para se relacionar. Termos como de igual ânimo, compadecidos,
fraternalmente amigos, misericordiosos podem ser estranhos porque ela não aprecia instin-
tivamente as pessoas e as suas necessidades. Obviamente, ela ainda terá que aplicar 1
Pedro 3:8. Mas sejamos justos e reconheçamos que ela o fará com certo grau de limitação.
A presença ou ausência de pontos fortes essenciais e motivados influi em como
ensinamos e em como esperamos que as pessoas reajam à Palavra. Primeiramente, pre­
cisamos reconhecer que um comportamento que é fácil para um professor, por causa de
sua habilidade, pode ser bastante difícil para um aluno, por causa de sua habilidade. Nós,
professores, precisamos aceitar tais diferenças, para não sugerir que o nosso é o único
modo de aplicar as Escrituras.
Por exemplo, você já ouviu alguma mensagem contagiante de um orador cristão
entusiasmado, alegando que a chave para a sua vida espiritual é a memorização das Es­
crituras? Eu já, e acho fantástico. Na verdade, eu mesmo fiz declarações semelhantes, de
púlpito. Creio de todo o coração na memorização bíblica. Já disse o mesmo neste livro.
Mas para mim, a memorização acontece de forma bastante natural.
E aqueles para quem memorizar não é tão natural? Precisamos ter cuidado com o
que comunicamos. A memorização bíblica é algo bom, quer o indivíduo seja habilitado
para a tarefa ou não. Mas se alguém não tiver tal habilidade, evitemos fazer com que se
sinta culpado, insinuando que há algo de errado com ele caso tenha dificuldades para
memorizar as Escrituras. Ao contrário, aceitemos que, para ele, a memorização é algo
"possível de se realizar", e não "gostoso de se realizar". Assim, quando ele conseguir me­
morizar um único versículo, como João 3:16, vamos elogiá-lo pelo feito, e não desmerecer
seus esforços dizendo: "é só isso?".
Professores da Palavra tendem a exortar os outros nas áreas em que têm pontos
fortes essenciais. Por exemplo, se eles sobressaem em relacionamentos, exortam os outros
a desenvolver relacionamentos. Caso sobressaiam em um método específico de evange­
lismo, encorajam os outros a adotar o mesmo método. Se forem cristãos no mundo dos
negócios que descobriram um princípio específico de fazer negócios a fim de ser útil,
tenderão a incitar os outros a praticar o mesmo princípio. Se a solidão é uma disciplina
espiritual que se ajusta especialmente bem com seu sistema, eles promovem a solidão
comu caminho para o crescimento espiritual.
De várias maneiras, a tendência é como deve ser. E melhor ensinar algo que real
mente sabemos e praticamos do que algo sobre o qual não tenhamos noção. Mas conside­
remos que a razão porque uma maneira específica de praticar a fé funcione bem para nós
seja o fato de se ajustar à forma específica como Deus nos fez. As outras pessoas, que têm
formato diferente, podem (e talvez devam) abordar uma mesma área de outra maneira,
em virtude da forma como Deus as fez. Meu conselho seria sempre destacar uma verdade
essencial, depois usar um exemplo como ilustração de como tal verdade tem sido aplica­
da em minha vida ou na vida de outra pessoa. Mas sempre deixe opções quando se tratar
de aplicação. Lembre-se, há uma só interpretação, mas várias aplicações.

CRISTIANISMO CUSTOMIZADO

A elasticidade com que a verdade bíblica pode ser aplicada a tantas pessoas diferen­
tes que enfrentam tantas circunstâncias diferentes é um tributo à sabedoria de Deus. Só
Deus poderia proferir verdade de alcance tão amplo, e ainda assim, tão imutável.
Tal habilidade que a Palavra tem de se encaixar nas variáveis das vidas de todas
as pessoas nos permite "customizar" o cristianismo - torná-lo nosso, torná-lo pessoal.
Significa que nao temos que nos conformar com trivialidades vagas e generalizadas que
não têm penetração, profundidade, nem relevância para nossa situação individual. E isto
significa que não temos que tentar nos espremer em uma abordagem "tamanho único"
que funciona realmente bem para poucos, mas deixa o restante de nós com uma experi­
ência medíocre da fé.
Por favor, entenda, ao "customizar" a verdade da Palavra, não estamos acomodan­
do a verdade a nossas próprias opiniões e preferências. Fazê-lo seria distorcer o texto,
que é um dos riscos da Interpretação que dissemos, no Capítulo 28, que deve ser evitado.
Mas quando se trata de Aplicação, devemos reconhecer que cada um de nós traz pontos
fortes e limitações únicos para a tarefa, por virtude da maneira como Deus nos formou.
Se aceitarmos nosso formato e cooperarmos com o modo como ele funciona, é mais pro­
vável que pratiquemos a Palavra de Deus da maneira específica que Ele pretende que ela
se aplique a nós.
Nove Perguntas
a se Fazer
A.nteriormente, quando estudamos o passo da Observação, eu disse que uma das coisas
a se fazer com qualquer passagem das Escrituras é bombardear o texto com perguntas.
O mesmo acontece quando se trata da Aplicação. Assim, eis nove perguntas de aplicação
que você pode fazer quando abrir a Palavra:

1. Há um exemplo a ser seguido?


Você já notou quanto da Bíblia é biográfico? Isso não é um acidente; é proposital. Deus
preenche Sua Palavra com pessoas porque nada ajuda a verdade a se tornar viva como
as pessoas.
O desafio é traçar paralelos entre a sua situação e a do personagem que está estu­
dando. Considere Abraão em Gênesis 18.0 Senhor revela a ele que está prestes a destruir
Sodoma e Gomorra, onde o sobrinho de Abraão, Ló, mora com sua família. Abraão então
implora ao Senhor que não destrua Sodoma, se ele conseguir achar um número suficiente
de pessoas justas, morando ali.
Ninguém até hoje veio dizer: "Hendricks, Deus me disse que irá destruir tal cidade
a menos que possamos encontrar dez pessoas justas morando lá". Se isso tivesse aconte­
cido, eu estaria indagando de que cela de malucos ele teria escapado.
Então, isso significa que não há nada em Gênesis 18 que eu possa aplicar? Pelo
contrário, em Abraão temos um importante modelo de oração compassiva em favor dos
maus. Ele se coloca de joelhos e implora ao Senhor que os livre do julgamento. Sendo
assim, tenho de perguntar: este é o tipo de oração que estou fazendo pelas pessoas a meu
redor? Ou estou esperando que Deus remova todos aqueles "pagãos perversos" de perto
de mim?
2. Hâ um pecado a se evitar?
Um dos valores da Palavra de Deus <5 que ela nos desperta a consciência a respeito das
questões morais. Antes de me tornar crente, eu fazia coisas que, se alguém me tivesse dito
que era pecado, eu teria dito: "Você deve estar brincando". Eu tinha um padrão totalmen­
te diferente do que era certo e errado.
Foi somente quando vim a Cristo e comecei a ler as Escrituras, que aprendi o que
o pecado realmente é. Aconteceu como a meu amigo, que me contou: "Eu nem sequer
sabia que meu casamento estava ruim até que me tornei cristão. Pensava que todo mundo
vivia como eu. Então, li Efésios 5 e comecei a perceber quão imprestável meu casamento
realmente estava".

3. Há uma promessa a se reivindicar?


A Palavra de Deus está repleta de promessas — promessas feitas pela Pessoa que não
mente e que é totalmente capaz de cumpri-las. Lembra-se de nosso estudo de Neemias
1? Ele reivindicou a promessa de Deus a respeito da restauração da terra, se o povo con­
fessasse e se arrependesse de seu pecado. Deus honrou Sua palavra e até usou Neemias
como parte da resposta à oração.
Evidentemente, nem todas as promessas das Escrituras são para você e eu. Algumas
promessas foram feitas por Deus a certos indivíduos, não às pessoas em geral; e outras a
grupos de pessoas, como a nação de Israel. Não podemos reivindicar promessas que não
foram feitas a nós, mas certamente podemos reivindicar as promessas feitas à igreja, bem
como aquelas feitas ao "justo" em Provérbios e outras porções da literatura de sabedoria.

4. Há uma oração a se repetir?


Abraão nos ensina algo sobre oração em Gênesis 18. Também o faz Neemias. Encorajo-o
a fazer um estudo das grandes orações nas Escrituras: por exemplo, a oração de confissão
de Davi no Salmo 51; a oração de agradecimento de Ana após o nascimento de Samuel
(1 Samuel 2:1-10); a oração que Jonas fez de dentro do ventre do peixe (Jonas 2); a oração
de Maria em Lucas 1:46-55; a oração de Paulo pelos efésios em Efésios 3:14-21; a oração
de Jesus no Jardim do Getsêmani (Mateus 26:36-46; Marcos 14:32-42; Lucas 22:39-46); e
a oração do Pai Nosso, que é na verdade a oração dos discípulos, e verdadeiramente a
nossa oração (Mateus 6:5-15).
Quando estudar estas passagens, pergunte-se: o que coutem estas orações, que eu pre­
ciso estar orando?

5. Há um mandamento a se obedecer?
A Bíblia está repleta de mandamentos potentes e nítidos. Há cinquenta e quatro deles
somente no livro de Tiago. Semelhantemente, as seções "aplicacionais" das epístolas de
Paulo — Romanos 12-15, Gaiatas 5-6, Efésios 4-6, Colossenses 3-4 — são primordialmente
exortações.
Certo vez perguntoram n um velho e sábio erudilo como determinar a vontade de
I )eu». Sua resposta foi simples: "Os mandamentos das Escrituras revelam noventa e cinco
porcento da vontade de Deus. Se você passar seu tempo cumprindo-os, não terá muito
problema em descobrir os outros cinco porcento".

6. Há uma condição a se atender?


Muitas das promessas de Deus são baseadas em condições estabelecidas no texto. Por
exemplo, Jesus disse: "Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem
em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito" (João 15:7). Percebe as condições? "Se
permanecerdes em Mim, e [se] as Minhas palavras permanecerem em vós". Jesus faz uma
incrível promessa: "Peça o que desejar, e Eu o farei por você". Mas as condições têm de
ser atendidas.

7. Há um versículo a se memorizar?
Obviamente, qualquer versículo das Escrituras pode ser memorizado, mas alguns terão
mais significado para você do que outros. E por isso que recomendo muito que você se
lance a um programa de memorização da Bíblia. Depois de completá-lo, poderá desen­
volver sua própria lista de versículos que se tomaram pessoais e significativos para você.
Eu o encorajo também a memorizar porções maiores da Palavra. Quando meus fi­
lhos eram pequenos, tiveram um professor de escola dominical que reconhecia o valor da
memorização bíblica. Ele costumava promover concursos para ver o quanto das Escritu­
ras eram capazes de memorizar. Eventualmente eles memorizariam capítulos inteiros da
Bíblia, como Salmo 1, Isaías 53 e até João 14. Perfeitamente, palavra por palavra também.
Portanto, isso é possível e os benefícios são imensuráveis.

8. Há um erro a se notar?
Um dos desenvolvimentos positivos que tenho observado dentre os cristãos durante mi­
nha vida toda tem sido uma renovada ênfase nas pessoas e seus relacionamentos. Isso é
o que a verdade bíblica deveria produzir — amor e interesse pelas pessoas e suas neces­
sidades.
Entretanto, durante o mesmo período, tenho observado uma desastrosa perda de
conhecimento de teologia básica e doutrinária. Muitos cristãos têm pensamentos obs­
curos quando se trata de tijolos fundamentais para edificar a fé, como a ressurreição, o
nascimento virginal, a inerrância das Escrituras e o ministério do Espírito Santo. Como
resultado disso, são muito propensas ao erro teológico.
O estudo bíblico pessoal pode ajudar a reverter este quadro. Quando investigar a
Palavra de Deus, pergunte-se: Que doutrinas e verdades esta passagem está ensinando? Que
erros teológicos expõe? E depois: Que mudanças de pensamento preciso fazer para conformá-lo ao
que as Escrituras ensinam?
0. Hâ um desafio a se enfrentar?
Você já leu uma porção da Bíblia e se sentiu convencido da necessidade de agir com base
naquilo que leu? O Espírito de Deus o induzirá a isso. Quando ler a Palavra, Ele o desa­
fiará a reagir em alguma área de sua vida, ou em alguma situação que esteja enfrentando.
Talvez seja um relacionamento que precise ser restaurado. Talvez um pedido de perdão
que precise ser feito. Talvez você precise abandonar algo que o esteja distanciando de
Deus. Ou talvez haja um hábito que precise começar a cultivar. O que quer que seja, o
Espírito usa as Escrituras para promover mudanças em sua vida.
A questão é, você está aberto para tal mudança? Está preparado para enfrentar os
Seus desafios? Garanto que se você abordar a Palavra com qualquer grau de honestidade
e educabilidade, o Espírito não o deixará desapontado.

Experimente
As nove perguntas alistadas neste capítulo são aquelas das quais você deve fazer
um hábito, cada vez que abrir a Palavra de Deus. Mas quero propiciar a você um
pouco de prática em usá-las numa seção longa do evangelho de Lucas.
Começando em 14:25 e continuando até 17:10, Jesus menciona uma série de
parábolas e instruções. A chave para o entendimento do contexto é observar que
há três grupos de pessoas ouvindo Jesus — grandes multidões (14:25) que incluem
numerosos "perversos" (15:1), os discípulos (16:1; 17:1) e os fariseus (16:14). Use as
habilidades de Observação e Interpretação estudadas para entender esta porção do
Novo Testamento. Então, baseado no texto, responda estas nove perguntas:

1. Há um exemplo a seguir?
2. Há um pecado a se evitar?
3. Há uma promessa a se reivindicar?
4. Há uma oração a se repetir?
5. Há um mandamento a ser obedecido?
6. Há uma condição a ser atendida?
7. Há um versículo a se memorizar?
8. Há um erro a se notar?
9. Há um desafio a se enfrentar?
De Vez em Quando
Lembra-se de Carlos, no capítulo 1? Ele tinha a maior consideração possível pela Bíblia.
Se perguntássemos a ele se Ela é a Palavra de Deus revelada, ele diria: "Claro". E autori­
dade de fé e prática? "Sem dúvida".
Mas adivinhe o que acontece quando Carlos vai para o trabalho? Ele deixa a Palavra
em casa — não apenas fisicamente, mas mentalmente. Sua intenção não é desconsiderar
as Escrituras, mas a verdade é que nunca ocorreu a ele que elas podem ter algo a dizer
sobre a maneira com que ele dirige seu negócio. Por quê? Porque ele considera a Bíblia
como sendo irrelevante naquele contexto. "O mundo dos negócios não é uma aula de
escola dominical", ele me disse. "Você tem de enfrentar coisas que não são nem mesmo
mencionadas na Bíblia. Assim, ela não se aplica exatamente à situação do dia-a-dia".
Carlos não está sozinho. George Gallup Jr., conhecido condutor de investigação da
opinião pública, descobriu que hoje, 57% dos americanos creem que a "religião pode ser
a resposta para os problemas atuais". Esta é uma queda de 81% em relação a 1957. Ao
mesmo tempo, o número daqueles que pensam que religião está irremediavelmente fora
de moda aumentaram de 7 para 20%. Não se admira que uma outra pesquisa de opinião
Gallup conclua que não há "diferença significativa" entre frequentadores e não frequen­
tadores de igreja no que diz respeito a ética e valores no trabalho.
E você? Sente que sua fé é quase tão relevante quanto um hinário quando se trata de
trabalho e outras questões da vida diária? Ou você está entre os muitos que gostariam de
aplicar sua fé aos assuntos de hoje mas não imaginam como fazê-lo? Afinal, os "quentes"
tópicos de nossa sociedade não se encontram nas antigas páginas das Escrituras. Então,
como fazer a conexão?
Sugiro que se comece pelo contexto — tanto o contexto original das Escrituras quan­
to o contexto contemporâneo no qual vivemos. O contexto faz uma profunda diferença na
maneira como a verdade bíblica é aplicada.
A VIRDADE QUE NUNCA MUDA EM UM MUNDO QUE SEMPRE MUDA

Lembra-se de Gênesis 2:24, onde Deus instituiu o casamento?

"Por isso deixará o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os
dois uma só carne."

Como teria sido o casamento de Adão e Eva antes da queda? Imagine o nível de
comunicação, confiança, companheirismo e intimidade que devem ter experimentado.
Mas então, eles pecaram. Agora têm um novo conjunto de dinâmica para contender —
desconfiança, egoísmo, orgulho e luxúria. Porém, Deus deixa intacta a expectativa de
vida em uma só carne. Este é um contexto totalmente novo.
Passe para Moisés, quando ele menciona o relato de Gênesis ao povo de Israel. Eles
estão saindo do Egito, onde a poligamia é comum. A esse respeito, até os próprios pa­
triarcas de Israel tinham concubinas. O que era um relacionamento numa só carne, dado
aquele legado? Novamente o contexto sofre uma mudança.
Mais tarde, encontramos Jesus discutindo sobre o casamento com os fariseus (Ma­
teus 19:1-9). Naquela época, o divórcio já havia se tomado comum. A pergunta urgente
era como um homem poderia desfazer, e não preservar, seu casamento. Todavia, Jesus
cita Gênesis 2 para reforçar a santidade dos laços do casamento. Aparentemente Suas
palavras chocaram os ouvintes. "Se é essa a condição do homem relativamente à sua mu­
lher, não convém casar", disseram os discípulos, incredulamente. Era a mesma verdade
bíblica, mas um contexto totalmente diferente.
Posteriormente, Paulo escreve aos efésios. Talvez a mais rica das cidades romanas,
Éfeso era a São Paulo de seus dias, a capital do turismo do mundo do primeiro século.
No momento em que Paulo entra em cena (Atos 19), o casamento havia caído num estado
lamentável, especialmente entre os ricos. Comentando sobre as mulheres de seu dia, o fi­
lósofo Seneca gracejou: "Elas divorciam para casar de novo e casam para divorciar". Seu
filho, igualmente cínico, definiu uma mulher casada, fiel, como aquela que tinha apenas
dois amantes.
Paulo já havia causado um tumulto em primeira escala em Éfeso com seus novos
e estranhos ensinamentos (Atos 19:23-41). Agora ele estarrece os jovens crentes de Éfeso
com sua carta. Como Jesus, ele cita Gênesis 2:24 e então diz: "[Maridos] cada um de per
si, também ame a sua própria esposa como a si mesmo, e a esposa respeite a seu marido"

1 Carcopino, Jérôme, Daily Life In Ancient Rome: The People and the City At the Height of the Empire (A
Vida Diária na Roma Antiga: O Povo e a Cidade no Auge do Império) (New Haven, Conn.: Yale
University Press, 1940) 100.
2 Durant, Will, Caesar and Christ: A History of Roman Civilization and of Christianityfrom their beginnings
to AD 325, (César e Cristo: História da Civilização e do Cristianismo desde os seus primórdios até 325
d.C.) (New York: Simon and Schuster, 1944) 370.
(5:33). Como um cahaI buNCA um relacionamento em uma só carne no contexto de Itíeso
do primeiro século?
Sobre isso, como será o casamento bíblico no contexto do século XX? Mais da meta­
de de todos os novos casamentos estão terminando em divórcio hoje em dia. A infideli­
dade sexual está aumentando, apesar da crescente AIDS e de outras doenças sexualmente
transmissíveis. Dois terços dos casais casados com filhos têm um acordo de renda dupla,
com todas as exigências que isso impõe ao seu tempo e energias emocionais. Cada vez
mais pessoas se encontram com famílias misturadas e a peculiar dinâmica relacionai que
criam. Como um casal pratica o casamento em uma só carne no clima cultural de hoje?
O ponto é que a Palavra de Deus é eterna e imutável, mas nosso mundo nào é. Por­
tanto, para vivenciar a verdade de Deus é preciso que a conectemos ao nosso conjunto
particular de circunstâncias. Mas por favor, note: não mudamos a verdade para adaptá-
la à nossa agenda cultural, mas mudamos nossa aplicação da verdade à luz de nossas
necessidades.

CONTEXTO, CONTEXTO, CONTEXTO

Como pode isso acontecer? Como considerar uma mensagem escrita no ano 100
d.C. ou antes, e fazer uso dela no ano 2010 d. C. e depois? A chave é o contexto. Qual era
o contexto então? Qual é o contexto agora?
Vimos a importância do contexto na Interpretação. Agora descobrimos sua impor­
tância para a Aplicação. Precisamos entender a cultura antiga. Quanto mais soubermos
sobre a cultura na qual uma determinada passagem foi escrita e à qual foi originalmente
aplicada, mais preciso será nosso entendimento e mais capazes seremos de fazer uso dela
em nosso próprio contexto cultural.
Mas isso não é tudo. Devemos também entender nossa própria cultura. Assim como
buscamos uma visão do contexto antigo, precisamos buscar visão de nosso próprio con­
texto. Onde estão os pontos de urgência? Onde estamos especialmente necessitados da
verdade bíblica? Quais as dinâmicas culturais que fazem a prática da verdade difícil, e
às vezes, aparentemente impossível? O que influencia nossas atitudes e comportamento
espirituais? O que os apóstolos nos diríam se estivessem escrevendo para nossas igrejas
hoje? Onde Cristo seria ativo se andasse entre nós atualmente?
E interessante que quando Davi estava reunindo seu exército para estabelecer o
reino, recrutou os filhos de Issacar. O texto os descreve como "conhecedores da época,
para saberem o que Israel devia fazer" (1 Crônicas 12:32). Poderiamos usar muito mais os
filhos de Issacar no Corpo de Cristo hoje — aquelas pessoas que entendem tanto a Palavra
quanto o mundo, que sabem o que Deus quer que seja feito em sua sociedade, pessoas
que não são apenas bíblicas, mas contemporâneas também.
Aliás, hoje em dia, para "entender os tempos" é preciso ser ágil. Nosso mundo
muda tão rapidamente e as formas de cultura se alteram com tanta velocidade, que temos
qu* cmtâr sempre vigilantes se pretendemos estnr informados. I'ntrolanlo, no “estar infor­
mado", existe o risco de fazermos do “novo" um ídolo. Se algo é novo, achamos que deve
ser importante e merece a nossa atenção. Mas talvez não. A coisa “nova" mais importante
que sempre merecerá a nossa atenção é a pergunta: Onde Deus está operando hoje, e como eu
posso me envolver nisso?

ESTUDANDO A CULTURA

Entender nossa cultura não é tão fácil quanto se pode pensar. O fato de vivermos
nesta sociedade não significa que estamos cientes de como ela funciona. Na verdade, a
maioria de nós vive a vida sem notar as forças que nos influenciam. Poderiamos consi­
derar fazer um estudo de nossa cultura assim como estudamos as culturas do mundo
bíblico.
Assim, quero sugerir perguntas para você fazer enquanto avaliar o contexto cultu­
ral de hoje. São pouco mais do que as seis chaves para a observação vistas anteriormente:
Quem? O quê? Onde? Quando? Por quê? Qual a razão? Vimos como usá-las no estudo
das sociedades do mundo antigo, mas elas também se aplicam à situação moderna.
Evidentemente, o problema ao fazermos essas perguntas sobre nosso próprio con­
texto é a tendência de ficarmos satisfeitos com respostas superficiais. Lembre-se, um dos
assassinos do estudo bíblico é a atitude: “Já sei isso. Já vi aquilo. Domino esta parte". O
mesmo acontece quando se faz um estudo da própria sociedade. Nunca pense que você
entende completamente o mundo em que vive.
Mencionarei alguns pontos dignos de consideração. Muitos outros também pode­
ríam ser citados, mas estes já serão um bom início.

Poder
Onde estão os centros de poder? Quem está no comando? Como adquirem o controle?
Como mantêm o domínio? Qual a sua efetividade em manter controle? Onde estão os
desafios à sua autoridade? Quem faz as decisões por nossa sociedade como um todo?
Quem faz decisões a nível local e individual? Quem exerce influência quer esteja ou não
no poder?

Comunicação
Quais os meios de comunicação? Como as notícias e as informações são distribuídas?
Quem tem acesso a elas? Quem tem acesso à mídia? Como nossa sociedade determina a
credibilidade e a confiabilidade das informações? Como os meios de comunicação mol­
dam as mensagens que são comunicadas?

Dinheiro e finanças
Que lugar o dinheiro ocupa nos valores culturais? Por quê? Como as pessoas ganham a
vida? Com quem a moi li’drtdi* mmercirtll/rt? Que brnn mAo comercinlizadoN? Qual* nAo om
meios de transporte? Como am ppMboaM vAo de um lugar a outro? Que recurnoN a Nocicdn-
de tem? Que recursos ela nAo tem? Quais são os avanços tecnológicos? Quantas pessoas
vivem na pobreza? Qual o tamanho da classe média? Qual é a disparidade entre ricos e
pobres? Como isso influencia a cultura?

Etnia
Que pessoas compõem nossa cultura? De onde vêm? Que história e valores trazem? Coin<»
nossa sociedade é organizada socialmente? Como é estratificada? Como é determinado o
status? Quem está no topo da pirâmide? Quem está na base da pirâmide? Por quê? Quais
as barreiras e os problemas raciais com que as pessoas têm de contender? Como isso afeta
nossa vida diária? Que tradições e valores caracterizam as várias subcultures?

Sexos
Qual o papel do homem e da mulher? Como os sexos se relacionam? Que problema*
confrontam cada um dos sexos? Por quê?

Gerações
Que valor a cultura dá à família? Como as famílias sâo estruturadas? Quem são as famí
lias-chave? Onde elas moram? Qual é a história delas? Como elas mantêm a influência?
Como o poder é passado de geração a geração? Como os jovens são educados e socia­
lizados? O que é ensinado a eles? Quem ensina? Como uma pessoa se torna adulta na
cultura? Quanto tempo dura a adolescência? O que acontece com os idosos?

Religião e visão de mundo


Quais as religiões dominantes? De onde vieram? Em que condição se encontram agora?
Quais as suas características? Que grupos estão crescendo mais rapidamente? Por quê?
A partir de que suposições filosóficas as pessoas agem? Que ponto de vista têm sobre o
mundo e a vida? Que exposição esta cultura teve ao evangelho? Qual tem sido sua rea­
ção?

Artes
Que tipo de arte nossa cultura produz? O que a arte nos diz sobre nós mesmos? E sobre o
mundo? Que lugar damos ao artista em nossa sociedade?

História e tempo
Que lendas e mitos foram transmitidos? Que histórias são contadas repetidamente?
Quem escreve nossa história? Que histórias não foram contadas? Qual o ritmo de vida de
nossa sociedade? Como as pessoas medem o tempo? Que lugar damos aos idosos? O que
as crianças representam? Quem representa as crianças dentro do que elas representam?
Lugar
Onde noHMi cultura está situada geograficamente? Que fatores topográficos v climáti­
co» Influenciam nosso dia-a-dia? Quão versáteis somos em relação a outras sociedades?
Quanto tempo as famílias moram em um lugar? Que terra é transmitida pelas gerações?
Que pessoas foram deslocadas? Que lugares têm caracterizado proeminentemente a his­
tória de nossa cultura? Onde as guerras foram travadas? Onde foram feitas as celebra­
ções? Que monumentos e memoriais se encontram no local?

Recursos
Que recursos naturais (por exemplo, água, petróleo, gás natural, madeira) a sociedade
possui? Em que quantidade? Quem tem acesso e controla tais recursos? Que itens a socie­
dade tem que importar? Que parcela da sociedade tem acesso à eletricidade? Ao serviço
de telefonia? Internet? Quais são as propriedades geográficas da cultura (por exemplo,
portos marítimos, cordilheiras, solo fértil).

UTILIZANDO SUAS INFORMAÇÕES

Se você responder diligentemente perguntas como estas sobre o mundo a seu redor,
desenvolverá profundas visões sobre como nossa sociedade opera. Mas como amarrar
estes dados à verdade das Escrituras? Como aplicar a Palavra de Deus ao contexto da sua
própria situação? Afinal, não há correspondência direta entre os versículos da Bíblia e a
vida diária. Como fazer a conexão? Descubramos no próximo capítulo.
EXPERIMENT!*

Uma das questões urgentes para os cristãos do primeiro século era se podiam co­
mer carne sacrificada a ídolos ou não (veja cap. 33). Paulo devota um capítulo inteiro
a este tópico em Romanos 14. Mas, a menos que entendamos o contexto cultural e
por que esta questão era tão controversa, nunca entenderemos ou aplicaremos esta
porção das Escrituras. Assim, quero sugerir um projeto para você desenvolver suas
habilidades a esse respeito. Uma vez que tenha entendido o que estava acontecendo
em Roma no primeiro século, você irá valorizar o motivo por que Paulo incluiu o
material e que significado ele tem para nós hoje.
Comece lendo e estudando Romanos 14. Use todas as ferramentas de obser­
vação mencionadas anteriormente. Não passe para a interpretação até que tenha
bombardeado o texto com uma barragem de perguntas observacionais.
Quando estiver pronto para começar a interpretar, os dois exercícios mais úteis
serão provavelmente a comparação e a consulta. Compare Romanos 14 com outras
passagens da Bíblia que lidem com o mesmo assunto, como 1 Coríntios 8. Use uma
concordância para descobrir tudo que puder sobre o lugar que os ídolos ocupavam
nas mentes destes primeiros cristãos.
Para a consulta, você precisará encontrar um bom resumo sobre religião roma­
na e culto de deuses e deusas. O historiador Will Durant dá uma visão geral concisa
da vida no Império Romano em Caesar and Christ (New York: Simon and Schuster,
1944). Sua biblioteca local deverá ter outras sugestões de fontes adicionais.
Enquanto trabalha com o texto bíblico e as fontes secundárias, construa uma
base de informações sobre a cultura romana do primeiro século, usando os tipos
de perguntas alistados neste capítulo. Se você fizer um estudo completo, de manei­
ra que possa visitar Roma no ano 60 d. C. e sentir-se bem a vontade, verá porque
a questão da carne sacrificada a ídolos causou tanto problema na igreja primitiva.
Você também será capaz de reconhecer os paralelos de nossa própria cultura, e onde
Romanos 14 pode se aplicar hoje.
"O Princípio da Coisa"
o que a Bíblia tem a dizer sobre engenharia genética, chuva ácida e energia nuclear?
Sobre aborto, controle da natalidade e eutanásia? Sobre influência em negócios, contratos
falsos e gerenciamento para produtividade? Há alguma coisa sobre educação pública,
reforma nas prisões ou seguro de saúde universal? Abririamos a Bíblia para tentar so­
lucionar problemas de transporte, moradia ou disposição de lixo? Podemos encontrar
versículos sobre a AIDS, artrite, ou doença de Alzheimer?
Não estou dizendo tolices. Se vamos ler com a Bíblia numa mão e o jornal na outra,
temos de encarar estes tipos de problemas. Temos de perguntar qual a conexão existente
entre a verdade revelada da Palavra e o mundo atual. De outro modo, estaremos no di­
lema de Carlos, achando que a Bíblia tem relevância apenas como guia devocional; sem
propósito nos assuntos práticos da vida.
Entretanto, qualquer leitor sensato reconhecerá imediatamente um problema deste
tipo. Não há correspondência direta entre os versículos da Bíblia e os assuntos da vida
contemporânea. Nào podemos simplesmente "ligar os textos bíblicos na tomada" para
obter respostas às necessidades e problemas que enfrentamos. A vida é muito mais com­
plexa que isso.
A Bíblia não foi escrita com esse propósito. Ela não é um texto de biologia, negócios,
economia ou mesmo de história. Quando fala sobre tais áreas, a Bíblia o faz verdadeira­
mente mas não compreensivamente. O assunto principal da Bíblia é Deus e Seu relacio­
namento com a humanidade; e é nossa grande responsabilidade praticar as implicações
disso na vida diária. Temos de pensar nelas e fazer escolhas — escolhas biblicamente
informadas.

A IMPORTÂNCIA DOS PRINCÍPIOS

Isso nos faz voltar ao dito mencionado anteriormente: uma interpretação, várias apli-
Crtçflen. Sem duvida, há várlim problema» r»pccífico» que a Bíblia nunca menciona, cnlaaa
que nem mesmo eram problema» na época em que foi escrita. Mas isso nâo significa que
nâo tenha nada a dizer sobre ele». IVio contrário, ela nos fala sobre verdades ou princípios
fundamentais que Deus quer que apliquemos, englobando toda extensão da necessidade
humana.
O que quero dizer com "princípio"? Um princípio é uma declaração sucinta de
uma verdade universal. Quando falamos sobre princípios, partimos do específico para o
geral. Por exemplo, Provérbios 20:2, que diz: "Como o bramido do leão é o terror do rei;
o que lhe provoca a ira peca contra a sua própria vida".
Tecnicamente falando, pode-se argumentar que esse versículo não se aplica a nós,
que vivemos em uma república democrática e não em uma monarquia autoritária. NAo
temos um rei, então não temos de nos preocupar com sua ira. Mas esta seria uma leitura
limitada da passagem. E também uma má leitura do gênero, que é o provérbio. Os pro­
vérbios invariavelmente declaram verdades gerais através de casos específicos. Aqui, o
problema é o relacionamento de uma pessoa com o governo. O princípio é respeitar a
autoridade e o poder governamentais.
Isso inclui toda contingência com respeito ao governo? É claro que não. Nem deve­
riamos esperar por isso. Nem mesmo as bibliotecas legais, com quilômetros de livros, o
poderíam fazer. Mas o princípio realmente nos faz iniciar na direção certa. Ele nos revela
a atitude básica que deve caracterizar nosso relacionamento com o governo. Nosso com­
portamento específico pode variar de situação para situação, mas em cada caso, devemos
mostrar respeito pelas autoridades civis que Deus coloca sobre nós.
Vimos um outro exemplo da necessidade de se enxergar princípios gerais em 1
Coríntios 8. O problema ali é a carne oferecida a ídolos. Isso não faz mais parte de nossa
sociedade. Suspeito que isso seja um motivo de preocupação hoje para cristãos em cultu­
ras onde a idolatria prevalece. Mas para nós, é inconsequente. Isso faz 1 Coríntios 8 irre­
levante? Não, porque o capítulo nos traz princípios ligados a problemas maiores, como
os de consciência, tolerância, respeito por outros crentes e sensibilidade a sua maneira de
vida no passado. Estes certamente não são irrelevantes.
Mas suponha que estejamos lendo uma biografia, como a vida de Daniel I .embre-íu»
que dissemos que uma das coisas a se procurar é aquilo que é da vida real. Assim, o que
ressoa com a vida real na experiência de Daniel? Um dos fatos mais notáveis é que esse»
homem piedoso agia em ambientes incrivelmente perversos. Na verdade, um painel de
"experts" designado a verificar seu dossiê não pôde descobrir uma partícula de evidência
condenatória quando eles quiseram se opor a ele (Daniel 6:1-5).
Portanto, que diferença Daniel faz hoje? Bem, que tipo de ambiente de trabalho é o
seu? Não será tão corrompido quanto a Babilônia antiga, certamente. Mas talvez você sai­
ba de decepção e fraude em sua empresa. Talvez você tenha sido alvo político de alguém
que queria seu emprego. Talvez alguém esteja dificultando sua vida por causa da sua
posição em Cristo. Você acha que a história de Daniel pode conter alguns princípios que
Apliquem A nua «lluação? Acha que pode aprender com a maneira que ele lidou com o
dcMiillo que o confrontava? Acha que podem existir lições a se aprender sobre viver como
filho de Deus em um sistema secular, até mesmo mal?

PRINCÍPIOS QUE GOVERNAM PRINCÍPIOS

Se você consegue discernir princípios em seu estudo das Escrituras, terá poderosas
ferramentas para ajudá-lo a aplicar a verdade bíblica. Construirá uma ponte entre o mun­
do antigo e sua própria situação com a verdade eterna da Palavra de Deus. Mas como de­
terminar se sua percepção é correta? O que o guardará do erro e do extremismo quando
generalizar o texto? O que garantirá sua permanência na prática? Não há garantias, mas
eis três coisas a se considerar.

1. Os princípios devem se correlacionar com o ensino geral das Escrituras


Isso nos traz de volta à prática de comparação de Escrituras com Escrituras. Quando
você declara um princípio de uma passagem específica, pense em outras passagens que
reforçam aquela verdade.
Por exemplo, generalizei Provérbios 20:2, dizendo que crentes devem mostrar res­
peito às autoridades governamentais. Se este fosse o único texto da Bíblia que falasse
sobre o assunto, eu precisaria tomar cuidado para não impor demais o ponto. Mas uma
concordância me diz que muitas outras passagens, como Romanos 13:1-7 e 1 Pedro 2:13-
17, reforçam esse princípio. Por isso, sinto-me confiante ao aplicar Provérbios 20:2 desta
maneira.
Semelhantemente, Paulo refere-se ao problema da carne sacrificada a ídolos em Ro­
manos 14. E Daniel tem contrapartes em José, Ester e Neemias, que também serviam a go­
vernos pagãos mas mantinham sua integridade e caráter piedoso. Assim, tenho bastante
base quando procuro fazer uma aplicação desses textos bíblicos.
As pessoas ficam em apuros quando tentam encontrar um "princípio" em um único
versículo e depois construir uma doutrina toda com base naquela referência.
Por pxpmpln, um jovpm insistiu pm dizer que Deus quer que as pessoas andem
descalças. Sua razão: Gênesis 3:22 diz que Deus usou peles de animais para fazer roupas
para Adão e Eva, mas o texto nunca menciona sandálias ou sapatos; portanto, fica claro
que Deus nunca pretendeu que as pessoas usassem sapatos feitos da pele de animais.
Este argumento não só é baseado no silêncio, como há outros textos que contradizem tal
aplicação (Marcos 6:8-9; João 1:27; Atos 12:8). Além de ser completamente tolo, faz pouco
sentido doutrinário ou prático.
Outro erro ocorre quando alguém usa as Escrituras para justificar o que as Escri­
turas claramente condenam. Uma vez um aluno disse que estava convencido de que de­
veria casar com uma certa mulher. "Deus me disse para casar com ela", explicou-me, e
citou um versículo.
live vário* prublmnAM t om lano, *em dizer que n mulher nào era crlatA. Ru dlaw:
“Se você escolher ca Mr com ela, a dvclaAo será sua. Mas nào coloque palavras na boca
de Deus. Ele disse claramente: 'NAo vos ponhais em jugo desigual', assim, é altamente
improvável que Ele lhe diga algo diferente".
Temos de tomar muito cuidado com generalizações das Escrituras. Não <5 que não
possamos aplicar a Palavra amplamente, mas devemos aplicá-la sensata e consistente»
mente.

2. Os princípios devem falar às necessidades, interesses, questões e problemas da vida


real de hoje
Verificar um princípio contra o modelo das Escrituras é apenas metade da batalha. Como
John Stott diz, não é difícil ser contemporâneo se você não se importa em ser bíblico, v
não é difícil ser bíblico se você não se importa em ser contemporâneo. Mas ser bíblico c
contemporâneo — isso é uma arte.
É aqui que o estudo de nossa cultura entra. Se você fez a lição de casa sobre socle*
dade, deve ter alguma ideia daquilo que é importante. Deve saber onde estão os pontos
luminosos, as feridas inflamadas, onde as quedas aconteceram, e onde a dor é maior.
Deve saber também quem é alienado de Deus, quem duvida d Ele, quem está bravo com
Ele e quem está enganado a Seu respeito. Você deve ter uma boa noção de onde o povo
de Deus está ativo hoje, onde tomaram iniciativas para suprir necessidades e onde "dei­
xaram a peteca cair".
Resumindo, se você se tornou um estudante perceptivo de sua cultura, deve saber
onde estão as necessidades e os problemas. E, sabendo isto, pode começar a procurar as
verdades gerais das Escrituras que possam se aplicar à situação contemporânea. Elas po­
dem ter sido usadas de maneira diferente pelas pessoas do mundo antigo; mas ainda são
verdades, e portanto, são aplicáveis aos problemas que enfrentamos hoje.
Por exemplo, um homem iniciou um estudo de Neemias. Uma das primeiras coisas
que encontrou foi a oração, no capítulo 1, aquela que vimos anteriormente. Ele notou que
Neemias estava falando com Deus sobre o sofrimento do povo em Jerusalém e começou
a compreender: "Quando foi a última vez que orei pelas pessoas em minha empresa?"
Ele era proprietário de uma pequena indústria manufatureira. Fez então uma lista
de seus funcionários e vendedores. Fez também uma lista de concorrentes. Então come­
çou a orar, falando com Deus sobre seu relacionamento com cada pessoa e mencionando
suas necessidades. Aquilo começou a se tornar uma prática regular que continua até hoje.
Mas tudo começou com um homem que reconheceu um simples princípio da Palavra
— que Deus quer que oremos pelas pessoas e os problemas ao nosso redor — c com a
aplicação daquele princípio à sua própria situação.

3. Os princípios devem indicar um curso de ação


O expert em gerenciamento Peter Drucker destaca que as melhorea Idela* do mundo «Ao
intitrÍM até que alguém aa coloque em prática. Maí» cedo ou mai» tarde lém de produzir
açâo. Into certamente acontece com relação aos princípios bíblicos. Para urrem eficazes,
tém de produzir ação.
É fácil permanecer hipotético, aplainar a Via Láctea com especulação teológica. Esse
foi um problema enfrentado por Paulo em Atenas (Atos 17:21). As pessoas ali adoravam
reunir-se para falar da corrente filosófica. Mas a Palavra de Deus não foi dada para agu­
çar nossa curiosidade, mas para transformar nossas vidas. Quando trazemos às claras
os princípios das Escrituras, precisamos constantemente perguntar o que vamos fazer em
relação à verdade encontrada? Onde, quando e como iremos aplicá-la.
Sugerirei um modelo simples para isso no próximo capítulo. Antes, contarei como
este funcionou na experiência de um homem. Lembro-me de um dos "Dallas Cowboys"
que frequentou um estudo bíblico do livro de Efésios, que eu liderava. Chegamos na pas­
sagem sobre casamento, no capítulo 5, a seção que mencionei no capítulo anterior. Nunca
me esquecerei da expressão de espanto daquele enorme e maciço companheiro, quando
finalmente entendeu o significado do que Paulo estava dizendo.
"Você quer dizer que tenho de amar minha esposa?" perguntou ele, incredulamen-
te. "Quer dizer que tenho de dizer a ela?"
Ele estava realmente conseguindo enxergar um nítido quadro da exortação de Paulo.
Não sei o que os homens de Éfeso fizeram do texto quando o leram pela primeira vez, mas
aquele rapaz estava extraindo dele um princípio básico sobre o casamento, e estava por
aplicar aquele princípio de maneira bastante específica em seu próprio relacionamento.
Ele foi para casa determinado a dizer à sua esposa que a amava. Nada mal para um
cara que nunca mais o fizera desde o dia de seu casamento. Hesitou a tarde toda, tentan­
do criar coragem para dizer-lhe e passou o jantar todo, engolindo as palavras. Finalmente
decidiu se arriscar. Levantou, deu a volta na mesa, agarrou sua esposa e literalmente le-
vantou-a da cadeira. (Ela me disse mais tarde, que pensou que ele tivesse enlouquecido.)
"Mulher", berrou, "Só quero dizer uma coisa...amo você", e deu nela um grande
beijo.
Isso pode não soar como grande coisa para você, mas para aquele homem, foi uma
experiência completamente nova. Representou significativa mudança de vida. F.Ip deu
um importante passo para o progresso de seu casamento, agindo em resposta a um prin­
cípio bíblico.

4. Princípios devem ser sustentados por outras pessoas piedosas.


Segunda Pedro 1:20 diz que "nenhuma profecia da Escritura provém de particular eluci­
dação". Em outras palavras, se você encontrar alguém com uma posição dominante sobre
a verdade, alegando que sua interpretação das Escrituras é a única correta - cuidado! É
alguém que está construindo um sistema de culto, não uma comunhão dos santos.
A sabedoria coletiva do povo de Deus é uma incrível repressão ao erro. É por isso
que os concílios das igrejas dos primeiros séculos depois de Cristo eram tão importantes.
Elen nem xem pre eram rtgMdá win, mu* rralmrnte conseguiam extirpar IwrvxitiN.
I loje, devemo* prvMai «»it*nçA<> àquela mesma comunidade de proteção. Ao formu­
larmos princípios com base na Palavra de Deus, devemos conferir a nossa vindo com
outros crentes que conheçam a Palavra e que estejam andando com Deus. Precisamos que
eles nâo simplesmente concordem com nosso princípio, mas que concordem que nosso
princípio é consistente com a verdade bíblica.
E devemos também conferir nossa visão com o que as pessoas piedosas da história
pensavam e diziam. Esta é uma grande proteção contra a "irrelevância de tentar ser re­
levante", de formular um princípio que só serve àquilo que é atual durante este dano se­
gundo em particular. Como escreveu C. S. Lewis, precisamos de conhecimento íntimo do
passado não porque o passado possua qualquer mágica, mas porque o passado nos Irt/
lembrar que tantas de nossas conclusões sobre "o jeito como o mundo é" são, na verdade,
simplesmente temporárias. "Um homem que viveu em muitos lugares provavelmente
não será enganado pelos erros locais do lugar onde nasceu; o erudito |ou seja, o estudante
do passado] viveu em muitas épocas e está, portanto, até certo ponto, imune às grandes
tempestades de bobagens que caem da mídia e do microfone de sua própria era".'

MULTIPLICANDO A VERDADE

Certa vez assistí a uma palestra do ex-Secretário de Estado, Henry Kissinger. Em


seus comentários, Kissinger falou sobre a natureza explosiva de eventos na arena global.
Tudo opera em crise, disse, o que evidentemente se constitui em um grave desafio aos
líderes. Como superá-lo? Ele explicou que as coisas acontecem tão rapidamente que não
se tem tempo para pensar, somente para reagir. Portanto, tem-se de operar em quaisquer
reservatórios de conhecimento e experiência que se traz para o trabalho. Não se pode
contar com o privilégio do estudo intensivo e desimpedido.
Creio que há uma lição nisso para viver a vida cristã. Certamente devemos investir
tempo no estudo intensivo da Palavra de Deus. Mas frequentemente lidamos com situ­
ações que não nos permitem o privilégio de refletir, apenas de reagir. Por exemplo, nos
encontramos em confronto com um colega de trabalho. Somos tentados a enganar um
cliente ou concorrente. Nossos filhos nos fazem uma pergunta penetrante, bem quando
os estamos deixando na escola. Recebemos um telefonema de um amigo que tem de fazer
uma decisão difícil e quer nosso parecer.
Numa situação assim, precisamos confiar nos reservatórios de conhecimento e ex­
periência que temos no momento. É claro, dado o devido tempo, poderiamos provavel­
mente dar uma resposta elegante e refinada. Mas a vida frequentemente nos nega tempo.

1 C. S. Lewis, "Learning in War-Time" (Aprendendo em Tempo de Guerra) em "The Weight of Gloiy


and Other Addresses (Peso de Glória), ed. rev. (Nova Iorque: Macmillan, 1980), 28-29.
I'.ntlo, rt qucMAo ó, quo iamllinridnde aim n Palavra, quo base do Informações bíblica*
Ira/vmon à situação? Nào temos tempo para um estudo intensivo. líntAo o que usaremos
no momento?
Se estocarmos princípios das Escrituras, teremos um poderoso conjunto de recursos
para lidar com praticamente todas as situações da vida. Como notamos, os princípios nos
capacitam a multiplicar a verdade. Uma interpretação; muitas aplicações. Podemos não
ter um versículo específico para ligar às circunstâncias do momento, mas ainda podemos
navegar por um caminho piedoso, extrapolando a verdade que já sabemos.

Experimente

A habilidade de declarar princípios das Escrituras é uma das habilidades mais


poderosas que se pode desenvolver em termos de Aplicação. Esta o capacitará a re­
lacionar a Palavra de Deus a qualquer situação que enfrentar. Entretanto, aprender
a fazê-lo requer um pouco de prática. Não se pode considerar algo que faça sentido
para você e abençoá-lo com o prefácio: "A Bíblia diz..."
Não, o manuseio de princípios úteis e precisos requer um entendimento exato
do texto e uma visão perceptiva de nosso próprio contexto. Abaixo estão várias per­
guntas que o ajudarão a desenvolver e aplicar biblicamente princípios sãos.

1. O que se pode descobrir sobre o contexto original no qual a passagem foi


escrita e aplicada?
2. Dado o contexto original, o que o texto significa?
3. Que verdades fundamentais e universais são apresentadas na passagem?
4. Pode-se declarar a verdade em uma ou duas sentenças simples, uma de­
claração que todos pudessem entender?
5. A que problemas de sua própria cultura e situação se refere esta verdade?
6. Quais as implicações deste princípio quando aplicado à sua vida e ao
mundo ao seu redor? Que mudanças ele requer? Que valores reforça? Que
diferença faz?

Agora use estas perguntas para declarar princípios de aplicação em três pas­
sagens das Escrituras: Provérbios 24:30-34; João 13:1-17 e Hebreus 10:19-25.
capítulo 47

O Processo de
Mudança de Vi da
o retiro da igreja terminou. Os participantes colocam as malas nos carros e se despe­
dem uns dos outros. Que fim de semana importante tiveram, com muita diversão, boa
comida e um precioso tempo de estudo do livro de Filipenses. O Pastor Jonas abria um
largo sorriso quando recebia palavras de gratidão e apreciação dos membros.
Luís, um membro da congregação se aproximou e disse: "Pastor, esse fim de sema­
na foi... bem, ele realmente mudou minha vida. Jamais serei o mesmo".
"Fico feliz em ouvir isso, Luís", respondeu o ministro. "Diga-me, o que foi o mais
significante?"
"Bem, não sei. Na verdade, tudo". Ele riu. "Percebi que tenho tanto a aprender ...
Quando chegar em casa vou começar a ler mais a Bíblia c vou realmente mudar a maneira
com que trato as pessoas. Acho que vou me voluntariar para ajudar na escola dominical.
Acho também que preciso rever minhas ofertas, fui realmente tocado por sua mensagem
sobre missões".
"Parece que você aproveitou bem este retiro", o pastor Jonas disse, entusiasmado.
"Estarei orando por você". Os dois homens apertaram as mãos e foram embora.
Superficialmente, esta troca parece maravilhosa. Com base no ensino que o Pastor
Jonas ministrou em Filipenses, Luís identificou algumas áreas específicas de crescimento
espiritual e ação. Isso é ótimo. Mas, o quadro brilhante ofusca um pouco quando desco­
brimos que Luís esteve pelo menos em uma dúzia de retiros como aquele por anos e fez
comentários semelhantes depois de cada um. Mas ele mudou? Nem um pouquinho. Ele
se motiva pelo entusiasmo do momento, mas quando chega em casa, suas boas intenções
evaporam e ele nunca começa o processo de mudança.
POR ONDE COMEÇAR?

O problema de Luís é o mesmo sofrido por inúmeras pessoas — a falta de planeja­


mento. Poderiamos declará-lo na forma de uma pergunta: Por onde começo? Esta pode
ser a pergunta mais determinante a se fazer na aplicação.
Qualquer pessoa pode apresentar um grandioso esquema de mudança. Uma pes­
soa diz que quer alcançar o mundo para Cristo. Outra quer estudar todos os livros da
Bíblia nos próximos cinco anos. Outra planeja memorizar cem versículos, e outra irá se
tornar um cônjuge semelhante a Cristo. Maravilhoso. Por onde começar?
Até que responda isso, tudo que você tem são boas intenções, e estas têm pratica­
mente o mesmo valor de um cheque sem fundo. Afinal, que bem faz sonhar em alcançar
o mundo com o evangelho se você não consegue falar de Cristo com a pessoa a seu lado
no escritório? Como irá estudar a Bíblia toda quando nem mesmo sabe que versículo
irá estudar amanhã? Como memorizar cem versículos quando você nunca tentou me­
morizar um? Ao invés de fantasiar sobre um casamento nos moldes de Cristo, por que
não começar com algo simples, como lavar a louça, se você é o marido, ou encorajar seu
marido, se é a esposa?
Muitas "aplicações" ficam no nível da boa intenção porque falamos sobre o fim
de uma jornada sem especificar quando, onde e como daremos o primeiro passo. Como
alguém bem disse, não planejamos falhar, falhamos por não planejar.
Quero sugerir a você uma estrutura simples para uso no planejamento de seu pró­
prio processo de mudança de vida. Ao fazê-lo, não quero simplificar demais as coisas.
Obviamente, a vida é complexa, e muitos elementos de crescimento não podem ser fa­
cilmente diagramados, mas também sei que muitos cristãos ficam estagnados em seu
desenvolvimento espiritual porque não sabem como começar. Sabem tudo sobre as glo­
riosas promessas que um dia serão deles, mas a questão é o que farão hoje para começar
a caminhar em direção a elas.
Eis três passos para traduzir boas intenções em ação de mudança de vida.

1. Decida mudar
Em outras palavras, faça uma decisão. Determine que tipo de mudança você precisa fa­
zer, e então escolha buscá-la. Esta é basicamente uma questão de se estabelecer objetivos. Isto
é, que diferença você apresentará como resultado da operação de tal mudança? Como
você será ao final do processo?
Robert Mager, um especialista em aprendizado e educação, diz que um objetivo
bem estabelecido descreve o que uma pessoa estará fazendo uma vez que atinja o resulta­
do pretendido. Por exemplo, o objetivo deste livro é ajudá-lo a fazer perguntas observa-
cionais ao texto bíblico, explicar o que a passagem significa e descrever maneiras práticas
de usar o que aprendeu na vida diária. Esta declaração aponta para comportamentos
específicos que poderíam ser avaliados se quiséssemos saber se temos cumprido nossos
objetivou. Por exemplo, |HKlrrlnmo» prestar atenção em você, Investigando o texto com
perguntas, poderiamos ler uma interpretação escrita por você, ou poderiamos verificar
sua agenda para checar se você está tomando atitudes.
Que objetivos você está preparado para estabelecer na realização de mudança? Des­
creva o que estará fazendo quando atingir o objetivo. Quer se tomar um pai melhor?
Como essa área lhe parece? Você pode declará-la em termos de comportamentos notá­
veis ou avaliáveis? Por exemplo, "ser um pai melhor" pode envolver passar mais tempo
com seus filhos se você é pai, e pode significar organização e manejamento da agenda de
família se você for mãe. Podemos avaliar tais comportamentos e podemos usá-los para
planejar (veja abaixo).
Quanto mais claros e demonstráveis forem seus objetivos, mais provável será o
cumprimento dos mesmos. Objetivos imprecisos levam a resultados obscuros. Se você
disser que vai "evangelizar mais", terá dificuldades em saber quando evangelizou mais,
mas se disser que irá começar a conversar sobre Cristo com seus vizinhos, João e Maria,
saberá exatamente quando e se cumpriu a tarefa.
Se isso lhe parecer muito rígido, muito restrito, sugiro que você esteja estabelecendo
uma forma aguada de cristianismo — aquela que promete não mantê-lo acordado à noite.
Você sabe, Deus nào nos dá a Sua Palavra para nos tranquilizar, mas para nos conformar
ao caráter de Cristo. E isso vai além de sentimentos piedosos e boas intenções; penetrando
ao nível de nossos horários e talões de cheques, amizades, trabalho e família. Se nossa fé
não faz diferença prática nessas áreas, então que diferença faz tê-la?
Objetivos claramente definidos nos ajudam a ver a verdade através de ações, nào
de abstrações. Semelhantemente, eles mantêm nossas expectativas realistas, atingíveis. Se
seu alvo é desenvolver a compaixão de uma Madre Teresa, maravilhoso. Mas não faça
disso o seu objetivo. É melhor começar servindo uma sopa aos necessitados em sua pró­
pria comunidade. Determine maneiras práticas de suprir necessidades. Isso é atingível; é
algo que você pode fazer agora mesmo. Este é um passo realista na direção certa.

2. Estabeleça um plano
Este é o passo onde se pergunta como. Como vou cumprir a tarefa? Se você estabeleceu
bem seus objetivos, isso deve ser relativamente fácil de responder. Se nào, você pode ter
de voltar e revisar seus objetivos, fazendo-os mais claros e mais viáveis.
Um plano é um curso específico de ação de como você vai atingir seus objetivos —
e digo, bem específico. Pense novamente em termos de tudo o que será necessário para
fazer o que você pretende. Quem são as pessoas envolvidas? Que recursos serão necessá­
rios? Para quando irá agendá-lo? Qual o melhor dia?
Por exemplo, suponha que seu objetivo seja se tomar um pai melhor, passando
mais tempo com seus filhos. Como irá fazê-lo? Talvez isso signifique levar seu filho para
comer pizza e falar a ele sobre como foi a sua própria infância, o que poderia ser um ex­
celente plano. Mas o que será necessário para realizá-lo? Para quando irá agendá-lo? Seu
filho concorda com ele? Qual aerln o melhor dia? Quanto tempo pretende gastar? Que
local eacolherdo para que possam conversar? O que dirá?
Suponha que você seja a màe para quem "ser melhor para seus filhos" signifique
organizar e manejar a agenda familiar. Como irá fazê-lo? Talvez tenha de pendurar um
calendário na cozinha. Então, quando irá comprar um calendário? De que tamanho pre­
cisará ser? Onde irá colocá-lo? Com quanta freqüência irá atualizá-lo? Como saberá o que
colocar nele?
Novamente, suponha que você decida que precisa envolver seus vizinhos João e
Maria em uma conversa sobre Cristo. Você sabe que eles têm dúvidas a esse respeito.
Como poderá começar? Uma maneira pode ser dando a eles uma cópia de Cristianismo
Básico, de C. S. Lewis, como meio de estimular uma discussão. Se o fizer, quando obterá
a cópia para dar a eles? Quando irá entregá-la a eles? Como planeja fazer o acompanha­
mento? Você os convidaria para a sobremesa uma noite para falar sobre o assunto? Se
convidaria, que dia seria? Eles concordam?
Planejar um curso de ação significa pensar em meios específicos de se atingir um
objetivo e então considerar o que é preciso para praticar o plano. Isso requer nomes,
datas, horários e lugares para suas intenções. Quanto mais específico for seu plano, mais
provável será o seu sucesso.

3. Vá até o fim
Em outras palavras, comece. Seu plano começa com um telefonema? Então, pegue o tele­
fone. Começará por pedir à sua secretária que modifique seus horários? Então peça a ela
que o faça. Você planeja avaliar seus hábitos de ofertar, à luz de seu orçamento? Então,
sente-se e atualize seu orçamento para que tenha a informação necessária.
O primeiro passo é sempre o mais difícil. Mas tome-o. Não o adie. Se você chegou
até aqui no processo, recompense seus esforços com uma sólida caminhada até o fim. Dê
a si mesmo o respeito de realizar seus compromissos.
Tiês estratégias podem ajudá-lo neste processo. Primeira, considere o uso de uma
lista de checagem, especialmente se seu plano requer atividades repetitivas ou passos
progressivos. Por exemplo, se você planeja memorizar as Escrituras, deve ser sábio e alis­
tar todos os versículos que pretende memorizar e as datas em que planeja tê-los memori­
zados. Então, quando decorar os versículos, poderá riscá-los de sua lista. Com o tempo,
você poderá ver e celebrar o seu progresso, o que o impulsionará em seus esforços.
Uma segunda estratégia é estabelecer alguns relacionamentos de responsabilidade,
que podem ser formais ou informais. A responsabilidade informal pode envolver falar a
seu cônjuge ou a um amigo próximo sobre o que planeja fazer. Enquanto progredir no
processo, você poderá mantê-lo (a) ciente de seu progresso, de suas lutas e vitórias.
Entretanto, para um crescimento espiritual a longo prazo, recomendo uma respon­
sabilidade formal em grupo. Minha esposa Jeanne e eu temos feito parte de um grupo
assim por anos e não o trocaríamos por nada. Um grupo de pessoas comprometidas umas
com ah outran traz vncornjnmcnto e sabedoria ao processo de crescimento. Além disso, a
dinâmica do grupo ajuda as pessoas a cumprirem seus compromissos.
Uma terceira maneira de garantir a realização de seus planos é avaliando seu pro
gresso. A manutenção de um diário é a forma ideal de fazê-lo. Quando estabelecer seus
objetivos e os cumprir, tome nota do processo. Registre por que quis fazer mudanças, por
que optou pelo curso de ação e o que aprendeu enquanto ocupou-sc com ele. Mais tarde
poderá reler e rever seus caminhos, podendo notar em que áreas progrediu e onde ainda
precisa crescer.
Outra maneira de se fazer isso é ter um tempo periódico de reflexão pessoal e ava­
liação. Pegue seu diário, sua Bíblia, seu calendário e qualquer outro registro daquilo que
tem feito durante os últimos meses. Faça perguntas a si mesmo: Quais tem sido os tiês
maiores desafios em minha caminhada com o Senhor nesse período? Como reagi? Que
vitórias tenho a celebrar? Que derrotas preciso considerar? De que respostas específicas a
orações posso me lembrar? Mudei para melhor ou para pior? De que maneiras? Em que
gastei meu tempo? Meu dinheiro? O que aconteceu em meus relacionamentos?
Uma palavra de cautela se faz necessária, entretanto, a respeito do autoexame: não
desanime por não ter avançado mais. O avanço na jornada da fé é sempre gradual. Mas
todo avanço deve ser valorizado, não importa quão pequenos sejam os passos dados.
Todo passo é necessário. Talvez o que importe mais não seja o tamanho dos passos de
alguém, mas a direção em que são dados.
Pense na época da Segunda Guerra Mundial. A invasão da Normandia, em 6 de
junho de 1944, talvez seja a maior ofensiva já intentada por uma força militar. A luta foi
terrivelmente violenta. Milhares de homens morreram, de ambos os lados. Durante boa
parte daquele dia, o resultado se manteve incerto. A vitória podia ser de qualquer dos la­
dos. Contudo, antes do final do dia, os aliados haviam estabelecido uma cabeça de ponte
na França. Seria aquele o fim da guerra, então? De modo algum. Levou mais 11 meses
até que os nazistas fossem derrotados e cessassem as hostilidades na Europa. Muitas
das batalhas travadas no caminho de Berlin foram tão atrozes quanto as da Normandia.
O avanço às vezes pareceu gradual. Às vezes, os Aliados enfrentaram derrotas. Mas o
inimigo já estava dominado, e com cada palmo de território recapturado, a vitória se fez
muito mais próxima.
Assim ocorre na vida espiritual. Deus estabeleceu uma cabeça de ponte em seu
coração quando você se entregou a Cristo. Em Cristo, a vitória está garantida. O inimigo
foi dominado. Porém, as batalhas não terminaram, e em alguns dias, o avanço pode pare­
cer mais com regresso. Mas não deixe que isso o dissuada de perseverar. Crie formas de
medir realisticamente o seu progresso ao trilhar o caminho da vida. Conheça a si mesmo
e as maneiras como Deus tem agido em sua experiência.
DEUS TRABALHA EM VOCÊ

Num capítulo anterior, mencionei o medo que a última parte de Filipenses 2:12 me
causava quando eu era pequeno: "Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor".
O processo de planejamento descrito neste capítulo é uma forma de "desenvolver a sua
salvação". Você tem de assumir a responsabilidade de fazer escolhas e tomar atitudes
para crescer como crente.
Porém, nunca esqueça o outro lado: "Porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (2:13). Enquanto estabelece objeti­
vos, faz planos e os realiza, Deus está bem junto a você. Isso é o que nos encoraja na vida
espiritual — nunca estamos sozinhos. Deus provê Seus recursos para nos ajudar no pro­
cesso. Ele não toma decisões por nós nem faz aquilo que podemos fazer, mas Ele trabalha
de maneiras conhecidas e ocultas para nos ajudar a nos tornarmos como Cristo.

Experimente

Permita-me fazer uma pergunta proposta no começo deste capítulo. Talvez você
lenha identificado áreas de sua vida que precisem de uma mudança substancial. Tal­
vez você até saiba que passos precisa dar, mas a questão é: Por onde começar? Como
traduzir boas intenções em ação de mudança de vida?
Quero desafiá-lo a identificar um aspecto de sua vida que precise de mudança,
baseado em seu estudo da Palavra de Deus. Então percorra o processo de três passos
delineado neste capítulo para estabelecer um plano de ação para a mudança.
Como digo, este é meu desafio pessoal a você. Lembre-se de que o alvo do
estudo bíblico é produzir mudança em sua vida, para uma maior semelhança com
Cristo. É neste ponto que ela deve acontecer. Se você chegou até aqui, prossiga com
a aplicação da Palavra em sua vida. Permita que ela faça a diferença.
Três Sugestões
Para se Iniciar
A.W. Tozer, por muitos anos um "tavão" espiritual para o Corpo de Cristo, deu-me um
"pontapé" mental com as seguintes palavras:

"Uma mentalidade religiosa, caracterizada pela timidez e falta de coragem


moral nos deu hoje um cristianismo débil, empobrecido intelectualmente,
maçante, repetitivo e para a grande maioria, absolutamente enfadonho. Este
é passado como a própria fé de nossos pais em linha direta descendente de
Cristo e dos apóstolos. Alimentamos às colheradas com este insípido pábulo
a nossa inquisitiva juventude e para acrescentar mais paladar, o temperamos
com diversões carnais arrebatadas do mundo incrédulo. É mais fácil entreter
do que instruir. E mais fácil seguir o gosto degenerado do público do que
pensar por si mesmo. Tantos de nossos líderes evangélicos permitem que suas
mentes atrofiem enquanto mantêm seus dedos ágeis, operando truques reli­
giosos para atrair a multidão curiosa."’

Temo que um número demasiado grande de frequentadores de igreja hoje estejam


prestando atenção na Palavra, mas não aprendendo. São expectadores, não alunos. São
passivos, nào participantes. Por quê? Porque nós, que ensinamos, frequentemente damos
a eles flores já cortadas, que facilmente enfraquecem e murcham, ao invés de mostrar a
eles como cultivar plantas por si mesmos — descobrindo em primeira mão a verdade que

1 A. W. Tozer, "We Need Sanctified Thinkers", Alliance Weekly, November 9, 1955, p. ?.


I )»ui» revelou em Sua Palavra.
lisle é o propósito deste livro, é claro, apresentar você à alegria de se envolver no
estudo bíblico por si mesmo. Posso assegurar-lhe que nós mal passamos da superfície a
esse respeito. Apenas chegamos na porta de uma casa muito grande. A questão agora é:
Como conservar os ganhos? Como fazer permanente aquilo que começamos a aprender
neste processo? Permita-me três sugestões para a construção sobre a fundação que este
livro busca estabelecer.

COMECE UM PROGRAMA DE ESTUDO BÍBLICO PESSOAL

Vi uma vez um pôster que me fascinou: "Daqui a vinte anos, o que você desejará
que tivesse feito hoje?" Sob esta pergunta, em letras grandes e destacadas, estava escrito:
"Faça-o agora". Suspeito que daqui a vinte anos você desejará que tivesse começado um
programa pessoal de estudo bíblico. Então, por que não começa agora mesmo?

Determine seus objetivos


Tudo que você tem a fazer é resolver quatro problemas. Primeiro, tem de determinar seus
objetivos. O que você deseja? Não só agora, mas ao final de sua vida? Muitas pessoas
acabam no topo do monte em seu campo, mas no fundo da vida, em termos de realização.
Pergunte-se: Desejo fazer um programa pessoal de estudo bíblico? Vi a necessidade crucial para
isso neste livro?

Estabeleça suas prioridades


Segundo, você tem de estabelecer suas prioridades; isto é, quão desejoso de fazê-lo você
está? Que preço está disposto a pagar? Há muitas coisas que eu gostaria de fazer, mas não
estou disposto a pagar o preço exigido para executá-las. Pergunte-se: Desejo desenvolver
uni programa de estudo bíblico pessoal? Se sim, que preço estou disposto a pagar?

Estabeleça um horário
A terceira coisa de que precisa é uma agenda. Isso envolve a pergunta: Que meios posso em­
pregar para manter minhas prioridades e cumprir meus objetivos? Infelizmente para a maioria
das pessoas as agendas trazem à mente um demônio que as acompanha, alguém olhando
por detrás de seus ombros, sempre pronto para bater em sua mão e gritar: "Ei, pare com
isso", ou "Agora é hora de fazer isso?". Mas na verdade, uma agenda é apenas um instru­
mento para realizar o que você decidiu realizar e está disposto a pagar o preço para isso.

Desenvolva a disciplina
A quarta coisa necessária é a disciplina. Esta é definitivamente um fruto do Espírito. Ele
pode prover a dinâmica através da qual você irá manter seu horário, guardar suas prio­
ridades e realizar seus objetivos. Mas frequentemente as pessoas me dizem: "Claro que
gostaria de estudar a Palavra, aô não mi»I se tenho tempo". Respondo que se lem lodo o
tempo do mundo para lazer o que ê essencial. A questão é, você determinou que o estudo
bíblico é essencial? Fez dele o seu objetivo? E está disposto a pagar o preço?
Lembro-me de uma dona de casa com quem falei uma vez. Ela tinha cinco filhos —
nào era exatamente alguém que estava procurando algo para fazer. Ela queria começar
seu próprio programa de estudo bíblico. "Daria tudo se tivesse tempo", disse-me.
Eu disse: "Veja se consegue separar quinze minutos por dia".
"Não sei se tenho todo esse tempo", ela respondeu.
Mas não esqueceu o assunto, um dia ela veio a mim e disse: "Adivinhe o que acon­
teceu? Descobri um tempo quando todos os meus filhos estão ou na escola ou dormindo
— e consegui vinte minutos".
Conheci um homem de negócios que era o cabeça de três corporações internacio­
nais. Ele obviamente também não estava a procura de algo para fazer. Assim como a
dona-de-casa, ele me disse: "Hendricks, adoraria ter meu próprio estudo bíblico, mas não
tenho tempo".
Disse: "Deixe-me fazer uma proposta. Você gostaria de orar para que Deus lhe des­
se algum tempo? E se Ele lhe desse, você o usaria para estudar a Sua Palavra?"
"Bem", admitiu, "acho que não ia poder escapar dessa".
Assim, um dia ele estava indo lentamente por uma via expressa em Dallas, des­
perdiçando tempo juntamente com as outras pessoas em uma fila enorme de carros. De
repente, ele disse a si mesmo: Mas o que é que estou fazendo aqui? Sou o presidente desta or­
ganização. Deveria determinar meu horário de entrada e saída. Assim, ele mudou seu horário.
Passou a vir meia hora antes de manhã e a ir para casa meia hora mais cedo à tarde.
Como resultado disso, ele ganhou vinte minutos em sua viagem de ida para o traba­
lho e vinte minutos à tarde. Então me telefonou e disse: "Hendricks, consegui". Primeiro,
pensei que ele tinha tido algum tipo de revelação. Ele estava empolgado porque tinha
achado tempo, e manteve a sua palavra: começou imediatamente a ler as Escrituras sozi­
nho, para seu grande benefício.
Quando eu era estudante, um escolhido homem de Deus chamado Harry Ironside
costumava vir ao seminário e ensinar. Lembro-me de uma ocasião em que alguém se
aproximou e disse: "Dr. Ironside, entendo que o senhor se levante cedo todas as manhãs
para ler e estudar a Bíblia".
"Ah", disse, "tenho feito isso por toda minha vida".
"Bem, como consegue fazê-lo?" perguntou o inquiridor. "O senhor ora por isso?"
"Não", respondeu, "levanto".
Como vemos, muitos de nós estamos esperando que Deus faça o que Ele está espe­
rando que nós façamos. Posso garantir que Deus não irá fazer de você uma exceção. Você
tem de decidir se realmente quer se envolver com a Palavra, e se quer, quando.
Definitivamente, o que importa não é quando você faz o estudo bíblico, mas o fato
de o fazer, e de o fazer regular e consistentemente.
Man, uma palavra de precaução: saiba que se fizer tal comprumlwo, Satanás Irá
la/vr qualquer coisa para mudar seus horários. Ele usará cada truque de i*vu livro. Assim,
sua pergunta terá de ser: Onde está meu coração? Qual o meu objetivo? Qual a minha
prioridade? Assim, se você sair de sua rotina, não será tentado a pensar que perdeu a
salvação. No dia seguinte poderá voltar ao caminho normal.

Começando
Agora que você decidiu começar um programa regular de estudo bíblico, você precisa
responder à pergunta: Por onde começo? Um bom lugar para se começar é num livro
bem pequeno. Assim você pode evitar de se atolar. As vezes, pode-se ficar entusiasmado
demais. "Vou começar por Jeremias", dizem. Eu não o recomendaria.
Sugiro que você comece com um livro do Novo Testamento, como o livro de Fili-
penses, que tem quatro capítulos e 104 versículos, ou talvez o livro de Tiago; com cinco
capítulos e 108 versículos. Você pode colocar pequenos livros como estes em sua agenda
e, num período de tempo relativamente curto, estará fazendo progresso.
Então, se quiser prosseguir com algo de mais peso, vá ao Antigo Testamento e ex­
perimente o livro de Jonas. É uma bonita narrativa com uma linha de história fácil de se
seguir, e com apenas quatro capítulos. Dessa maneira, você pode trilhar gradualmente o
seu caminho até poder "atacar" algo mais longo e difícil.
Mas suponha que você diga: "Puxa, eu realmente quero entrar para valer". Tudo
bem. Tente o livro de Neemias, especialmente se você é ligado à área de negócios ou
está interessado em liderar. Neemias tem mais princípios práticos para organização e
administração do que dez livros da lista de best sellers da atualidade. Se você está apenas
começando, selecione um livro que seja orientado para a realidade, como este.
Faça o que fizer, mantenha um caderno. "Mas o que descobri não é muito impor­
tante", você pode contestar. Mas a questão é: o Espírito Santo lhe deu visão? Se deu, não
a menospreze. Todos nós começamos no mesmo lugar, no nível zero. O expositor mais
famoso de todos os tempos teve de começar no mesmo lugar que o restante de nós — no
ABC, no material de começo. É um bom hábito escrever o que Deus lhe mostrar. Registre
tudo e procure uma oportunidade de compartilhar com alguém, porque assim você rete­
rá o que aprendeu.

FORME UM GRUPO PEQUENO DE ESTUDO BÍBLICO

Nos Estados Unidos, adoram elogiar o individualismo vigoroso e a auto-iniciativa.


Mas o fato é que a maioria de nós funciona mais efetivamente como parte de um time, do
que sozinhos. Este é certamente o caso do estudo bíblico.
O pequeno grupo de estudo bíblico é um tremendo motivador. Na verdade, aí pode
estar o seu maior valor. Muitos de nós morremos de medo de mergulhar na Palavra por
nós mesmos. "Não consigo", dizemos. Na verdade conseguimos, mas precisamos do en-
conijtimvnto que vem dr outro» que rnláo conosco no processo.
Nada motiva como a vmoçAo de compartilhar uma descoberta com um grupo e
ouvir alguém gritar: "Kl, isso é fantástico! Alguém mais viu isso?" Logo logo a pessoa
volta com mais. Fica fora de si com tanto ânimo e entusiasmo; e também estimula outros
a descobrirem coisas na Palavra.
Outro valor da discussão em grupos pequenos é que ela permite participação e en­
volvimento. É isso que me anima com relação a classes pequenas. No seminário, ensino
classes com cem ou duzentos alunos, mas francamente, prefiro sentar à mesa com seis ou
oito alunos e realmente me aprofundar na passagem. Dessa maneira, todos podem entrar
em ação e todos podem se beneficiar com o processo.
Esse tipo de aprendizado é menos ameaçador. Em um grupo grande, algumas das
pessoas que têm as melhores coisas a contribuir nunca dirão nada porque o tamanho do
grupo as intimida. Mas em um grupo pequeno, onde se sentem à vontade, participarão.
Aliás, quem foi que determinou que estudos bíblicos têm que ser segmentados por
idade e/ou demografia? Na média das igrejas, os adolescentes se encontram em um lugar,
os jovens casados, em outro, os homens de meia idade se reúnem para o café da manhã,
as mulheres tomam cafezinho juntas, os idosos têm seu próprio clube e assim por diante.
Por quê? Sim, consigo ver a lógica de colocar juntas pessoas com situações de vida seme­
lhantes. Mas quando se trata de estudo da Palavra de Deus, todo aluno tem algo a contri­
buir. Se só ficarmos com pessoas do "nosso tipo", correremos o risco de perder algumas
perspectivas de que tanto precisamos.
Pondere, alguns de nós, pessoas mais velhas, suportariam ficar perto do entusias­
mo de uma pessoa de vinte e poucos anos que realmente estivesse começando a tomar
conhecimento do que a Bíblia tem a dizer sobre algum tópico. Na verdade, o zelo de tal
pessoa às vezes nos incomoda - e isso pode não ser ruim. Semelhantemente, um aluno
de faculdade ou casal jovem poderia se beneficiar ao participar de estudos bíblicos com
alguém que tenha passado vinte, trinta ou até quarenta anos ou mais nas Escrituras. A
percepção amadurecida que uma pessoa assim tem da profundidade da Palavra de Deus
pode ser exatamente o corretivo necessário quando o grupo está com dificuldades para
interpretar uma passagem.
Então, qual é o tamanho ideal para um grupo de estudos? Creio que funcione me­
lhor entre seis e oito pessoas. Se o seu grupo tiver seis pessoas e você o considerar grande
demais, divida-o ao meio para parte da discussão. Depois reúna o grupo todo e deixe que
compartilhem suas descobertas.
Comece Um Grupo Pequeno

Sc você planeja começar um grupo de estudo bíblico, eis abaixo algumas sugestões:
1. Liderança é a chave
Se há um fator determinante em um grupo pequeno de estudo bíblico, este é o lí­
der. Líderes de estudos bíblicos devem ser pessoas que gostam de fazer com que
os outros se envolvam em um processo, não dominantes com suas próprias idéias.
Devem ser dignos de confiança, organizados, capazes de manter o assunto durante a
discussão e devem estar desejosos de se preparar para a reunião do grupo. Precisam
ser pessoas calmas e confiantes em sua habilidade de manejar as Escrituras. Ajuda se
puderem pensar por si mesmos também, e é claro, os líderes devem ser pessoas que
amam a Palavra de Deus.

2. Determine o propósito do grupo


Há vários motivos para os estudos bíblicos: a concentração em um entendimento
mais profundo do texto; a aplicação da verdade bíblica a necessidades detectadas e
questões atuais; o uso da Palavra como base para oração; a apresentação das Escritu­
ras aos descrentes. Seja qual for o propósito de seu grupo, certifique-se de expressá-
lo claramente a todos que recrutar.

3. Recrute pessoas que queiram estudar a Bíblia


O objetivo de recrutar pessoas não é lotar o grupo de corpos, mas produzir mudança
de vida nos participantes. Contacte candidatos que estejam genuinamente interes­
sados na Bíblia, não em um clube social ou em conferências teológicas. Em geral,
quanto mais homogêneo o grupo for, mais fácil será para as pessoas participarem.

4. Garanta a todos uma chance de participar


O objetivo do líder é fazer com que todos se envolvam com a Palavra e uns com os
outros. Deve-se evitar o perigo de deixar que alguém domine o processo — inclusive
o líder.

5. Encoraje a discussão
O formato mais efetivo para um grupo pequeno de estudo bíblico é a discussão, não
a palestra. Todos precisam ter uma chance de falar. O líder pode facilitar isso, prepa­
rando uma folha de discussão simples e bem organizada. Você pode escrever o texto
no topo da página (para que todos usem a mesma tradução) e algumas perguntas
abaixo. Desenvolva a arte de fazer perguntas "abertas", o tipo que não tem nenhuma
resposta "correta" em especial.
6. Permaneça na Biblla
Esta é parcialmentv uma questão de manter o assunto da discussão. Os participantes
terão perguntas legítimas que requerem digressão, mas você nunca deve sair demais
do assunto da passagem. Se as pessoas comparecem, esperando um estudo bíblico,
devem ser recompensadas com um tempo rico nas Escrituras, nào um debate teoló­
gico.

7. Demonstre entusiasmo
Uma das melhores maneiras de se motivar as pessoas no estudo bíblico pessoal e
celebrar as suas descobertas. Demonstre animação com as perspectivas delas, não
importa quão simples sejam.

8. Mantenha o grupo pequeno


Seis a oito pessoas é o tamanho ideal. Se seu grupo é maior, divida-o em grupos
menores. Lembre-se, o objetivo é 100% de participação e será difícil atingir isso se o
grupo ficar grande demais.

9. Divida o tempo entre Observação, Interpretação e Aplicação


Estudos em grupo tendem a sofrer o mesmo problema que o estudo individual da
Bíblia: gasta-se tempo demais na interpretação, negligenciando a Observação e a
Aplicação. Equilibre o tempo entre os três. Se você estiver no fim de uma reunião
e tiver de dizer "Bem, gente, teremos de falar sobre a diferença que isso faz na pró­
xima vez", este será um bom sinal de que provavelmente passou muito tempo na
Interpretação.

10. Cumpra seu compromisso ... quanto ao propósito e quanto ao tempo


Certifique-se de que o grupo permaneça em seu curso, cumprindo os objetivos pelos
quais foi formado. Quanto ao tempo, estabeleça um ritmo para as reuniões do grupo.
Comece e termine no horário em que você disse que ia começá-las e terminá-las. E,
ao organizar o grupo, determine um ponto de término, uma data para encerrar as
reuniões do grupo. As pessoas têm dificuldade em assumir compromissos sem uma
data de término estabelecida, e você terá uma reação melhor se der às pessoas uma
oportunidade de escolher se vão continuar ou não.
Liderança é a chave
Um grupo de estudo bíblico muito pequeno pode ser incrivelmente benéfico, mas a chave
ê sempre o líder. Como em qualquer time estabelecido, bons estudos bíblicos são o resul­
tado de uma boa liderança. Se você é o líder, permita-me dar uma sugestão: Não tenha
medo das perguntas difíceis.
Eu estava numa sala de aula estudando Marcos, quando uma senhora perguntou:
Quantos deuses há?" Tínhamos falado sobre Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo,
e ela estava confusa.
Pode imaginar o que teria acontecido na igreja se alguém se levantasse e fizesse tal
pergunta? Direi o que fizemos — fizemos dela uma heroína. "Fantástico, Marge, faça a
pergunta a nós novamente". Eis uma senhora que realmente estava travando uma luta
com as questões.
O que acontece quando você não sabe responder uma pergunta como esta? Simples:
diga à pessoa "eu não sei". Você nunca perderá a dignidade, agindo assim.
Fizeram ao melhor professor que já tive, um homem indizivelmente brilhante, uma
pergunta muito difícil, que ele não pôde responder. Ele disse ao aluno: "Jovem, esta é
uma das perguntas mais perceptíveis que já me fizeram. Minha resposta seria muito su­
perficial se eu a desse agora. Assim, pensarei e voltarei com uma resposta. Alguma outra
pergunta deste tipo?"
Vou lhe dizer, nossa opinião sobre aquele homem se elevou, porque todos nós tí­
nhamos tido professores (assim como você) que respondiam as perguntas difíceis com:
"Bem, visto que... enquanto que... por esta razão... consequentemente..." E percebíamos
que não sabiam a resposta.
Nunca se perde a dignidade por dizer às pessoas "Eu não sei, mas tentarei des­
cobrir". Escreva a pergunta e pense sobre o assunto mais tarde. Encoraje o restante do
grupo a fazer outras boas perguntas.

COMPARTILHE SEUS RESULTADOS COM OUTRAS PESSOAS

Há cinco palavras que você pode escrever sobre o processo apresentado neste livro:
"Use-me ou me perderá". A melhor maneira de guardar o que aprendeu através deste
material é passá-lo adiante. Se ele significou alguma coisa para você, então é bom demais
para retê-lo só para si. Você tem um débito, tem de compartilhá-lo com alguém. E nada
mais estimulante do que fazer com que outras pessoas se envolvam com a Palavra por si
mesmas.
Há algumas maneiras de se compartilhar o fruto de seu estudo bíblico. Primeira,
você o pode compartilhar ensinando. Pode ser em uma aula de escola dominical, de evan­
gelismo de crianças ou um estudo bíblico em casa.
Talvez você deva pensar em termos de um estudo bíblico no seu local de trabalho.
Se você é advogado ou médico ou atua no mundo dos negócios, por que não reúne um
grupo de ndvogAdon, medicou ou pemioai de negócio# e diz: "Teremo# um pequeno gru­
po de estudo da Bíblia Iodas as quartas-feiras ao meio dia. Traga seu almoço e estudare­
mos a Bíblia. Apenas o seu texto; não falaremos sobre religião, assuntos controversos ou
política. Falaremos apenas sobre as Escrituras. O que a Bíblia diz?"
Uma outra maneira de compartilhar seus resultados — na verdade a maneira de­
finitiva — é vivendo-os. O maior impacto que poderá causar em outras pessoas virá de
uma vida transformada. Impressão sem expressão resulta em depressão.
Walt Disney foi um dos gênios mais criativos deste século. Depois de sua morte,
um desenho bastante simples do Mickey Mouse e do Pato Donald chorando apareceu no
jornal Dallas Morning News. Nele não havia legenda, as palavras eram desnecessárias. O
desenho sozinho já dizia tudo.
E você? Sua vida diz às pessoas tudo que precisam saber sobre seu compromisso
com Cristo, sobre seus valores e fé? Acho que a maior necessidade dentre o povo de Deus
hoje é o envolvimento pessoal com as Escrituras. E porque isso não tem acontecido, as
pessoas estão perdendo a "efervescência" da vida espiritual. Estão estáticas e mornas.
Nada é mais repulsivo. As pessoas estão saturadas de palavras, mas extremamente fa­
mintas por autenticidade.
Como disse o capelão do Senado, Richard Halverson, "As pessoas não estão par­
ticularmente interessadas em nossas idéias, mas em nossas experiências; não estão em
busca de teorias, mas de convicções, e querem penetrar em nossa retórica para descobrir
a realidade de nossas vidas".
Em Esdras 7:10, temos um modelo do valor do estudo bíblico pessoal. O texto diz:
"Porque Esdras tinha disposto o coração para [três coisas] buscar a lei do Senhor e para
a cumprir e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos". Oxalá houvessem
mais cristãos como ele.
Você Está Pronto Para Fazer
Um Compromisso?
Bo.in intenções não farão com que você comece um estudo bíblico pessoal. É neces­

sário um compromisso voluntário de sua parte, seguido de ação decisiva.


Você pode achar útil formalizar seu compromisso, fazendo-o mais do que uma
mera nota mental. Eis uma declaração que o ajudará a pensar naquilo com que está
se comprometendo. Se concordar com os termos, assine seu nome como maneira for­
mal de declarar o compromisso. Você pode até fazer a oração abaixo, pedindo ajuda
a Deus para cumpri-lo.

Eu,_______________________________________________ , determinei iniciar um


(NOME)

programa regular de estudo bíblico pessoal. Irei começar no

dia______ de________________ às_______ horas, em________________________


(DATA) (HORÁRIO) (LOCAL)

A passagem das Escrituras que irei estudar primeiramente é,

(NOME DO LIVRO BÍBLICO OU REFERÊNCIA DAS ESCRITURAS)

usando a versão_______________________________________________________ .
(VERSÃO DA BÍBLIA)

Em meu estudo, usarei os passos de Observação, Interpretação e Aplicação, confor­


me delineados neste livro. Estou ciente de que os objetivos da leitura da Bíblia são
um relacionamento mais próximo de Deus e uma vida de mudança de acordo com a
Sua vontade e Palavra. Para este fim, comprometo-me a ler e obedecer a Bíblia, com
ajuda de Deus.

ASSINATURA

DATA
HOWARD G. HENDRICKS é urn
nome bastmite conhecido no mundo
cristão, e em sens mais de cinquenta
anos de ministério, ele tem tocado
milhões de vidas, direta ou indireta­
mente. Integrante do corpo docente do
Seminário Teológico de Dallas desde
1951, Dr. Hendricks vê os filhos
adultos de ex-alunos frequentarem
agora as suas aulas. Atualmente,
ainda mantém um esquema rigoroso
de viagens e tem ministrado em mais
de oitenta países por meio de palestras,
rádio, livros, fitas efilmes. Ele também
é ex-professor da Bíblia e capelão do
Dallas Cowboys, time de futebol
americano.

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