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EBD 10/07/2022 LOUVOR E ADORAÇÃO

TEMA: Modismos na adoração e no louvor


2 Pedro 2.1,13-19.
1 — E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão
encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina
perdição.
13 — recebendo o galardão da injustiça; pois que tais homens têm prazer nos deleites cotidianos; nódoas são eles
e máculas, deleitando-se em seus enganos, quando se banqueteiam convosco;
14 — tendo os olhos cheios de adultério e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o
coração exercitado na avareza, filhos de maldição;
15 — os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor, que amou o
prêmio da injustiça.
16 — Mas teve a repreensão da sua transgressão; o mudo jumento, falando com voz humana, impediu a loucura
do profeta.
17 — Estes são fontes sem água, nuvens levadas pela força do vento, para os quais a escuridão das trevas
eternamente se reserva;
18 — porque, falando coisas mui arrogantes de vaidades, engodam com as concupiscências da carne e com
dissoluções aqueles que se estavam afastando dos que andam em erro,
19 — prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do
tal faz-se também servo.

INTRODUÇÃO
Vivemos numa sociedade fluida. Prega-se que ao invés de valores e princípios — fixos e tradicionais — deve-se
optar por tendências e modas — efêmeras e midiáticas. Essa tendência que se instaurou na sociedade contemporânea
tem forte repercussão no campo religioso, especialmente quanto ao desenvolvimento do louvor e da adoração. A
lógica do “faça rápido”, do “quem não aparece não é lembrando”, do “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”
invadiu o território sagrado da espiritualidade, transformando nossos adoradores em pop-stars e os cultos em
“agendas” comerciais. A simplicidade e discrição, própria do cristianismo, foi substituída pelo glamour e pela
midiaticidade. Todos querem ser notícia, cantar a música do momento, ir ao show de um ídolo. Parece que a mesma
máquina de fazer dinheiro que impera no meio artístico de um modo geral, invadiu o segmento “gospel”. Em nome
de Mamom, Jesus é preterido.
I. A DENÚNCIA DE PEDRO COMO ALERTA PARA NOSSOS DIAS
1. Os falsos profetas. A preocupação de Pedro, que em grande parte é a preocupação de vários profetas ainda no
Antigo Testamento, era a de que uma falsa liderança se levantasse sobre o povo de Deus distorcendo os
ensinamentos de Cristo (Dt 13.1-18; Jr 23.9-15; Ez 12.21-28). As pessoas que Pedro denunciava, já naquela época,
possuem, ainda hoje, uma série de características perigosas e identificadoras de suas más intenções: São avarentos
e gananciosos (2Pe 2.3). Desejam fazer do povo de Deus mercadoria para negócio; são rebeldes e incapazes de
obedecer às autoridades (v.10); são irracionalmente pragmáticos (vv.12,13), só pensam nos resultados imediatos,
ainda que para isso acabem com princípios espirituais; são cheios de pecados sexuais, a mente, o coração e os olhos
deles são dominados por adultérios (vv.14,15).
2. O culto defendido pelos falsos doutores em 2 Pedro. Segundo os falsos mestres que Pedro denuncia, a vida do
cristão não precisa ter grandes mudanças, libertação de pecados. Basta que ele permaneça como está, pois isso é ser
livre. Mas como Pedro denuncia, esse discurso de falsa liberdade é a fonte de escravidão e dissolução daqueles que
deveriam afastar-se do mal (vv.18,19). Seguindo a retórica falaciosa do princípio de que é “Proibido proibir!”,
aquilo que deveria ser adoração torna-se profanação, e o que deveria ser louvor constitui-se escândalo. A
promiscuidade é travestida de liberdade, e assim permite-se tudo para manter um grupo frequentando a igreja (Gl
5.13). O Evangelho é emudecido e só há espaço para discursos de autojustificação dos excentrismos, dos pecados
e da falta de transformação.
3. Este “evangelho” mudou tanto que não muda ninguém! Pedro, como verdadeiro profeta, já denunciava há
quase dois mil anos que em tempos de crise desenvolver-se-ia um tipo de cristianismo que, de tão similar às práticas
pecaminosas da sociedade sem Deus, não faria diferença alguma na vida das pessoas. A metáfora que o apóstolo
usa no versículo 22 é extraída de Provérbios 26.11, e tem como finalidade demonstrar a ineficácia de uma
espiritualidade que não liberta as pessoas. Esse tipo de “evangelho” é uma farsa, não transforma vidas, apenas as
“embeleza” exteriormente para que mais tarde elas voltem a pecar, e mais uma vez retornem para a farsa religiosa,
sem arrependimentos, apenas com culpas. Essa é a lógica perversa do “cristianismo sem Cristo”, um ciclo de
pecado, falso perdão, novo pecado, novo falso perdão... Seguir a Cristo é um processo de escolha, renúncia e
perseverança (Mt 16.24).
II. MODISMOS NA ADORAÇÃO
1. Como se formam os modismos no mundo gospel? Definimos como “modismo” todo tipo de comportamento
ou atitude que as pessoas simplesmente reproduzem, sem uma reflexão prévia. É “moda” porque faz sucesso, porque
chama a atenção. Na atualidade, boa parte dos modismos são reproduzidos por meio dos mecanismos de
comunicação em massa, especialmente pela internet e por seus sites ou aplicativos de compartilhamento de
informações. A força dos modismos está na falsa sensação de ineditismo que eles causam. Numa sociedade das
coisas supérfluas, as pessoas não gostam de repetir experiências, por isso, até em sua vida espiritual procuram
vivências novas, diferentes. Partindo deste princípio é que o modismo atinge outro ponto central para sua
reprodutibilidade: o narcisismo. Quem faz algo novo torna-se o centro das atenções, e infelizmente muitas pessoas
não estão em busca de uma adoração verdadeira, mas de tornarem-se celebridades.
2. As modas na adoração. Os modismos na adoração são cíclicos, vão e vêm sempre obedecendo ao princípio do
ineditismo que alimenta o narcisismo. Tais modismo, de um modo geral, tiram a glória que pertence a Deus e
direcionam a uma pessoa ou objeto (Êx 32.4; Ap 13.4). Daí temos as orações pelos copos com água ou pelas
Carteiras de Trabalho; os tapetes ungidos; as vigílias centradas no número sete, etc. Existe a moda dos
acontecimentos sobrenaturais no culto: todo culto alguém tem que cair; alguém rodopia; alguém marcha no poder.
Acontecimentos que, se fossem ações de fato espirituais, deveriam ser episódicos e não programados.
3. Os efeitos dos modismos na adoração. Os efeitos destes comportamentos são terríveis para o desenvolvimento
de uma igreja: as pessoas não amadurecem espiritualmente (Hb 5.12), há um excesso de meninices (1Co 14.20),
são facilmente enganadas por falsos obreiros (2Tm 3.13). É celebrado o culto, mas Cristo não é adorado (Mt 7.20-
23). O que se faz pode-se chamar de adoração extravagante — onde pessoas gritam, choram jogam-se ao chão —,
ou ainda de culto das primícias, do pentecostes — cheio de símbolos judaicos: shofar, candelabro, palavras em
hebraico e ofertas em dinheiro —, todavia não são momentos de adoração, pois o simples nome não define uma
celebração como verdadeira adoração. Pessoas que entram pelo caminho da falsa adoração enveredam por uma
trajetória de ilusão, sofrimento e frustração (Cl 2.4,8,16).
III. MODISMOS NO LOUVOR
1. Muita repetição e pouca música. O louvor é algo intimamente ligado a construção do povo de Deus. Os judeus
possuem uma vasta coletânea de salmos, já a Igreja Primitiva possuía um conjunto de hinos públicos. Para o
desenvolvimento deste repertório musical foi necessário muita inspiração e dedicação. Infelizmente hoje, uma parte
das canções que cantamos na Igreja são plágios explícitos de músicas seculares; outras canções, apesar de inéditas,
são compostas de tão poucos versos que é necessário repeti-la várias e várias vezes. Há ainda uma grave pobreza
de conteúdo, canções que falam apenas de vitória, depois de vitória e no fim de vitória; temas repetitivos, estruturas
poético-musicais paupérrimas. Quando lemos o Salmo 119, ou mesmo um cântico como o de Romanos 8.31-39,
pode-se perceber que a inspiração de Deus é infinita e a riqueza de temas e assuntos é inesgotável. Cabe àquele que
se dedica ao louvor que o faça com empenho e humildade.
2. A “indústria do louvor”. No final da década de 90 e início dos anos 2000, concretizou-se a guinada descendente
da indústria fonográfica. Com a popularização dos aparelhos de reprodução de CD's e da internet, os grandes selos
musicais entraram em decadência. Contudo, os empresários do entretenimento musical logo perceberam que o
segmento evangélico, por seus princípios éticos, continuava consumindo os CD's e DVD's de seus cantores. A
indústria da música passou a contratar e gravar música gospel, que antes era preterida. Nossos irmãos tornaram-se
artistas, suas músicas, as capas de seus CD's e seus shows tornaram-se plágios do mercado secular. Não houve
apenas uma profissionalização do louvor, desenvolveu-se uma mercantilização da fé. Hoje há artista gospel em
comícios de políticos, em programas de TV com baixa audiência, músicas como trilha sonora de novelas. E não foi
para a glória de Deus, e sim, para o enriquecimento de alguém.
CONCLUSÃO
Só existe oferta porque há mercado. Só existe artista porque há plateia. A adoração e o louvor obedecerão tanto
mais os modismos do entretenimento secular quanto nós, em nossas igrejas, aceitarmos, comprarmos e
reproduzirmos esses comportamentos decadentes. Só há um modo de retornarmos a essência da adoração:
apresentando nossa adoração como puro louvor, nosso louvor como desinteressada adoração.

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