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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO:
CONHECIMENTO E INCLUSÃO SOCIAL
Belo Horizonte
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO:
CONHECIMENTO E INCLUSÃO SOCIAL
Belo Horizonte
2016
Dedico este trabalho
à minha mãe, Ana Maria da Silva Oliveira,
pelo amor e apoio essenciais nessa jornada,
ao meu pai, Edson Ferry Oliveira Filho (in memoriam),
à minha irmã, Josiane da Silva Ferry,
e à minha sobrinha, “princesa do meu coração”,
Ana Clara da Silva Ferry Pereira.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me concedido, através de sua misericórdia e amor infinitos, saúde e
capacidade para concretizar mais uma conquista em minha vida profissional e acadêmica.
Ao meu orientador e professor, Helder de Figueiredo e Paula, pela acolhida, por sua
generosidade, por seus conhecimentos compartilhados e pelo auxílio durante essa jornada.
Ao Prof. Dr. Ronaldo Luiz Nagem pela parceria, apoio e incentivo desde o período do
mestrado.
Aos meus parceiros de doutorado, Renato Pontone e Vanessa Cappelle, pelos valiosos
momentos de cooperação e produção acadêmica.
Aos professores que tive a oportunidade de conviver e com os quais pude aprender
durante as disciplinas que cursei na Faculdade de Educação da UFMG: Profª. Drª. Danusa
Munford, Prof. Dr. Eduardo Mortimer, Prof. Dr. Francisco Coutinho, Profª. Drª. Marina Tavares,
Profª Drª. Paula Mendonça, Prof. Dr. Orlando Aguiar e Profª. Drª. Rosária Justi.
“Sem dúvida, seria mais simples ensinar só o
resultado. Mas o ensino dos resultados da ciência
nunca é um ensino científico. Se não for explicada a
linha de produção espiritual que levou ao resultado,
pode-se ter certeza de que o aluno vai associar o
resultado a suas imagens mais conhecidas”.
RESUMO
Esta pesquisa está inserida tanto entre os estudos sobre o uso de analogias na Educação em
Ciências, quanto entre aquelesque investigam as interações entre professores e estudantes
como eventos multimodais, sob a orientação da Semiótica Social. O problema que nos orientou
foi: quais são as relações entre as características das analogias construídas por um professor de
Química experiente e os recursos expressivospor ele utilizados?Em acordo com a Teoria do
Mapeamento Estrutural das analogias, de Dedre Gentner, bem como com a Multiconstraint
theory de Keith Holyoak e Paul Thagard, nós concebemos as analogias como comparações
relacionais, ou seja, como um tipo de comparação cujo foco é o estabelecimento de
correspondências entre as relações presentes em um domínio base, ou familiar, que é utilizado
como fonte de conhecimentos, e aquelas existentes em um domínio desconhecido ou pouco
familiar, que se apresenta como alvo de um processo de compreensão. Em acordo com a
Semiótica Social nós presumimos que a construção de analogias nas salas de aula de Ciências
envolveria a orquestração de múltiplos modos de comunicação. Os dados que constituem o
corpus da pesquisa foram gerados a partir de gravações em áudio e vídeo de aulas ocorridas em
uma instituição privada de ensino superior em Belo Horizonte, durante o primeiro semestre
letivo do ano de 2014. Nossa análise evidenciou: (i) a complexidade das relações estabelecidas
no interior das analogias e a forma como elas são preparadas a partir de comparações menos
complexas; (ii) o potencial do mapeamento estrutural de comparações como ferramenta para a
análise do uso desse recurso discursivo como uma mediação no ensino de Química; (iii) a
importância da orquestração de múltiplos modos de comunicação como um aspecto central dos
processos de estabelecimento de correspondências que constituem as analogias.Em síntese,
nossa unidade de análise nos permitiu compreender a articulação entre aspectos estruturais e
expressivos do processo de construção de analogias em sala de aula.
Palavras chave: Analogias, Multimodalidade, Ensino de Química
FERRY, Alexandre da Silva. Análise Estrutural e Multimodal de Analogias em uma Sala de Aula de
Química. Orientador: Helder de Figueirêdo e Paula. 2016. 170 f. Tese (Doutorado em Educação).
Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte.
ABSTRACT
This research is among studies about the use of analogies in Science Education and also among
those investigating the interactions between teachers and students as multimodal events, under
the guidance of Social Semiotics. Our research problem was: what are the relations between the
characteristics of the analogies built by a seasoned Chemistry teacher and the expressive
resources used by him? According to Dedre Gentner’s Structure-Mapping Theory of Analogies,
as well as the Keith Holyoack's and Paul Thagard’s Multiconstraint theory, we conceive analogies
as relational comparisons, that is, a kind of comparison in which the focus is the establishment of
correspondences between the relations in a base domain (or a familiar domain) used as a source
of knowledge, and those existent in a unknown domain, or a less familiar one, that is the target
of a comprehension process. According to Social Semiotics we presume that the construction of
analogies in Science classrooms involves the orchestration of multiple modes of communication.
We generated our data from audio and video recordings of Chemistry Classes. These classes
occurred in a private institution of higher education in Belo Horizonte city, during the first
semester of 2014. Our analysis showed: (i) the complexity of the established relations inside
analogies and the way they are prepared from less complex comparisons; (ii) the potential of
structural mapping of the comparisons as a tool for understanding this discursive resource as a
mediator for Chemistry teaching; (iii) the importance of the orchestration of multiple modes of
communication as a central aspect of the establishment of correspondences that compounds
analogies. In summary, our unit of analysis allowed us to understand the articulation between
structural and expressive aspects of the construction proccess of analogies in a classroom.
FIGURA 3 – CONDIÇÕES BÁSICAS DE ISOMORFISMO EM UMA ANALOGIA PARA HOLYOAK & THAGARD (1989) 60
FIGURA 5 – DOIS CASOS DE COMPARAÇÕES ENVOLVENDO SIMILARIDADES SEMÂNTICAS DISTINTAS: (1º) ALTA
SIMILARIDADE SEMÂNTICA; (2º) BAIXA SIMILARIDADE SEMÂNTICA.................................................... 61
FIGURA 6 – DIAGRAMA DAS FUNÇÕES DOS GESTOS SEGUNDO A TEORIA DE KENDON (2004). ............................ 73
FIGURA 7 – REFERENCIAIS TEÓRICOS E CONCEITOS ESTRUTURANTES A PARTIR DOS QUAIS NÓS A CONSTRUÍMOS
NOSSA UNIDADE DE ANÁLISE. ...................................................................................................................... 74
FIGURA 11 – LINHA DO TEMPO DA AULA SOBRE CINÉTICA QUÍMICA DO ENCONTRO OCORRIDO NO DIA
07/05/14, COM IDENTIFICAÇÃO DAS 13 COMPARAÇÕES ENUNCIADAS, POR MEIO DE LETRAS. .... 92
FIGURA 12 – APARÊNCIA FINAL DOS GRÁFICOS CONSTRUÍDOS NA LOUSA PELO PROFESSOR. .............................109
FIGURA 17 – DIVERSIDADE DOS MODOS GESTUAIS E ACIONAIS EMPREGADOS PELO PROFESSOR PARA
CONSTRUIR AS ANALOGIAS I E M...............................................................................................................134
FIGURA 18 – IMAGENS CAPTURADAS DO REGISTRO EM VÍDEO DOS MODOS 18A, 19A, 20A E 20B, CONFORME OS
CÓDIGOS DOS QUADROS 36 E 38...............................................................................................................138
FIGURA 19 – IMAGENS CAPTURADAS DO REGISTRO EM VÍDEO DOS MODOS CODIFICADOS NOS QUADROS 36 E 38
COMO 31B, 32A, 32B, 33A, 34A E 35A. .................................................................................................140
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 –EXPRESSÕES BOOLEANAS E NÚMEROS DE ARTIGOS SOBRE ANALOGIAS NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS
ENCONTRADOS NA BASE ERIC PROQUEST A PARTIR DE 1983. ........................................................... 27
QUADRO 3 –EXPRESSÕES BOOLEANAS E NÚMERO DE ARTIGOS ENCONTRADOS NA BASE WILEY ONLINE LIBRARY
SOBRE ANALOGIAS NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS A PARTIR DE 1983. .................................................. 29
QUADRO 4 –EXPRESSÕES BOOLEANAS E NÚMERO DE ARTIGOS ENCONTRADOS NA BASE WILEY ONLINE LIBRARY
SOBRE MULTIMODALIDADE NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS A PARTIR DE 1990. ......... 30
QUADRO 8 – SÍNTESE DOS ASPECTOS DISCUTIDOS POR FERRAZ E TERRAZZAN (2002) EM SUA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA SOBRE O USO DE ANALOGIAS POR PROFESSORES.......................................................... 39
QUADRO 9 – RESULTADOS DAS BUSCAS EM TRÊS BASES POR MEIO DA ASSOCIAÇÃO DE DESCRITORES DOS
CAMPOS DA ANALOGIA E DA MULTIMODALIDADE NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS. ................................ 49
QUADRO 12 – PARALELO ENTRE OS TRÊS TIPOS DE RESTRIÇÕES DESCRITAS POR HOLYOAK & THAGARD
(1989) E OS TRÊS PRINCÍPIOS QUE CARACTERIZAM AS ANALOGIAS DE GENTNER & MARKMAN
(1997). .......................................................................................................................................................... 64
DA Domínio alvo
DB Domínio base
Rb Relação na base
m Mapeamento
/ Pausa breve
// Interrupção do discurso
Inscrição na lousa
Movimentos de cabeça
Direcionamento do olhar
Proxêmica
Manipulação de Objetos
5.4.3 - Descrições dos Modos usados pelo professor nas analogias I & M ...............124
Referências.......................................................................................................................................................150
Apêndices .........................................................................................................................................................163
Anexos................................................................................................................................................................170
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
CAPÍTULO 1 – I NTRODUÇÃO
A pesquisa apresentada nesta tese foi produzida a partir do seguinte problema: quais são
as relações entre as características das analogias construídas por um professor de Química
experiente e os recursos expressivos por ele utilizados?
O trabalho empírico foi desenvolvido, inicialmente, a partir de três questões: (1ª) que
características nos permitem identificar uma comparação estabelecida por um professor como
sendo uma analogia?; (2ª) como o professor articula comparações distintas, mas que tratam de
um mesmo tema, conceito ou modelo científico?; (3ª) como os modos de comunicação utilizados
na construção de analogias contribuem para o compartilhamento dos significados ideacionais,
interpessoais e textuais que constituem episódios de ensino mediados por analogias?
Iniciamos a resposta a essas questões por meio de uma análise estrutural das
comparações estabelecidas pelo professor, sujeito da nossa pesquisa, em uma das aulas na qual
ele construiu um maior número de analogias. Em seguida, realizamos uma análise com foco nos
aspectos multimodais da construção de duas das analogias que compuseram essa aula.
Nossa pesquisa está inserida na interseção entre os estudos sobre analogias na Educação
em Ciências e os estudos no campo da multimodalidade. Dessa forma, concebemos uma unidade
de análise constituída por duas dimensões, uma estrutural e outra expressiva. A dimensão
estrutural foi baseada, tanto na Teoria do Mapeamento Estrutural das Analogias de Gentner
(1983), quanto na Multiconstraint theory de Holyoak & Thagard (1989). Para conceber a
dimensão expressiva utilizamos como referência a Teoria Multimodal da Semiótica Social de
Kress et al (2001) e a descrição funcional dos gestos de Kendon (2004).
Os dados que constituem o corpus dessa pesquisa foram gerados a partir de gravações,
em áudio e vídeo, de aulas de um professor de Química ocorridas em uma instituição privada de
ensino superior em Belo Horizonte, durante o primeiro semestre letivo do ano de 2014.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Considerando o pesquisador um ser social que leva para a pesquisa tudo que o constitui
como sujeito em interação com o ambiente sócio-histórico em que vive, decidi apresentar um
breve histórico da minha trajetória de formação docente, a partir da qual me constituí como
professor e pesquisador na área de Educação em Ciências.
Há que se dizer, ainda, que, em fevereiro de 2014, eu iniciei a minha carreira como
professor efetivo do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no CEFET-MG, integrando o
Departamento de Química dessa instituição e atuando como coordenador de ensino de Química
para a formação geral de nível médio. A minha chegada no CEFET-MG como servidor público
permitiu o meu retorno às atividades do GEMATEC. Apesar das restrições que essa nova etapa
da minha carreira impôs ao tempo que pude dedicar à minha pesquisa de doutorado, a volta ao
GEMATEC favoreceu o contato com o estudo das analogias na Educação em Ciências.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
meu orientador, e Adelson Fernandes Moreira, meu colega de trabalho no CEFET-MG, promoveu
a minha aproximação com as concepções de multimodalidade e o papel dos gestos na
comunicação em sala de aula.
Em sua tese de doutorado, Mól (1999) constatou que o uso de analogias é uma prática
recorrente entre os professores de Química e parece estar associada à intenção de relacionar
conceitos científicos e situações do cotidiano. Nesse caso, o uso de analogias poderia ser
interpretado como uma resposta dos professores ao discurso pedagógico que demanda um
ensino “mais contextualizado”. De nosso ponto de vista, essa é uma perspectiva pobre ou
limitada de contextualização, mas representa um passo à frente da prática de utilizar situações
do cotidiano apenas ao final da exposição da teoria, com a intenção de introduzir exemplos ou
contextos de “aplicação” dos conceitos. No caso das analogias, o conhecimento do cotidiano é
usado como recurso para a compreensão dos conhecimentos das Ciências. Contudo, uma
perspectiva forte e mais adequada de contextualização seria aquela na qual os contextos
comparecem na condição não apenas de recursos, mas de objetos de estudo, o que levaria os
conceitos, modelos e teorias das Ciências à condição de recursos para a problematização e
compreensão do cotidiano.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
conhecida a outra menos conhecida. Assim, diferentemente do que indica o sentido matemático,
a analogia não pressupõe a existência de uma igualdade simétrica, mas antes de uma relação que
é colocada em correspondência com outra relação, para esclarecer, estruturar e avaliar o
desconhecido a partir do que se conhece.
Glynn (1991) afirma que, em uma analogia, a comparação entre estruturas ou domínios
diferentes deve ser explícita. Para Duit (1991), Treagust et al (1992) e Mól (1999) semelhanças
entre os domínios devem ser, também, estruturais, na medida em que uma analogia indica uma
relação entre partes correspondentes de duas estruturas. Mozzer & Justi (2013) dizem algo
semelhante ao adotar a concepção de Gentner (1983), na qual o mapeamento do domínio
conhecido para o desconhecido envolve predicados relacionais1 ao invés de meros atributos de
elementos. Segundo Gentner (idem), as analogias são diferentes de meros jogos de aparência,
como o que se estabelece, por exemplo, em frases como “a pirita é como o ouro”. O trabalho de
Gentner será apresentado com mais detalhes e profundidade na subseção 3.1 já que constitui um
dos referenciais teóricos da pesquisa aqui apresentada.
1O termo predicados relacionais será retomado e explicado na seção 3.1, no contexto da teoria do
mapeamento estrutural das comparações.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
como esses modos são orquestrados ou, em outras palavras, utilizados de forma coordenada.
Para esses autores: (i) a orquestração dos modos produz seus próprios significados; (ii) os
professores contribuem para que os estudantes tenham acesso aos conceitos e à cultura das
Ciências, a partir do uso integrado de imagens, ações, manipulação de objetos, fala e assim por
diante.
A resposta de Kress para essas três perguntas é “sim!”. Tendo elegido, previamente, esse
conjunto de questões como uma condição necessária e suficiente para designar um conjunto de
recursos semióticos como um modo de comunicação, o autor, então, conclui que o Layout é sim
um modo de comunicação visual.
Cappelle & Paula (2013) nos dão um exemplo do uso de modos acionais empregados por
uma professora de Biologia durante um episódio de gestão de sala de aula. Esse ato
comunicativo foi marcado por um conjunto de ações da professora: deslocamento pela sala
(comportamento proxêmico), manipulação de um objeto (o livro didático), mudança de postura
corporal, movimentos de cabeça e direcionamento do olhar.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
mantém relações sociais específicas entre os sujeitos em interação; (iii) elas constroem um texto
internamente coerente e contextualmente adequado.
Goldin-Meadow & Wagner (2005) analisaram a coordenação entre gestos e fala ou a falta
dela com o objetivo de compreender como certos aspectos do pensamento das crianças são
revelados por meio da fala. Ao fazer isso, eles oferecem um exemplo do uso de gestos como um
modo de comunicação. As crianças que participaram da pesquisa foram questionadas sobre a
conservação da quantidade de água vertida de um recipiente alto e estreito para outro recipiente
baixo e largo. Uma criança que disse ser diferente a quantidade de água no segundo recipiente,
explicou sua resposta centrando-se na altura da água, tanto por meio da fala, quanto por meio
dos gestos. Outra, que também afirmou ser diferente a quantidade de água no segundo
recipiente, explicou, por meio da fala, que as alturas eram diferentes, mas, por meio dos gestos,
sinalizou para a existência de uma diferença simultânea nas larguras dos recipientes que, como
sabemos, é uma condição para a criança compreender que a quantidade de líquido se conserva.
Esse “descompasso” entre fala e gestos mostra como informações distintas, e parcialmente
conflituosas, podem ser apresentadas, simultaneamente, por dois modos de comunicação.
1.4. JUSTIFICATIVA
A partir dos estudos a que tivemos acesso no campo da comunicação multimodal nós
assumimos que a aprendizagem em Ciências não consiste em uma realização meramente
linguística, mas envolve a interação de estudantes e professores por meio da orquestração de
múltiplos modos de comunicação que incluem, dentre outros, proxêmica, gestos, manipulação de
objetos, interação com imagens, mudanças de postura corporal, alterações na entonação da voz e
movimentos da cabeça. Dentro dessa perspectiva, nós partimos da hipótese de que a análise de
processos de construção de analogias nas salas de aula de Ciências não deveria considerar
apenas o que é dito nessas ocasiões. Assim, criamos a expectativa de que aspectos importantes
fossem revelados por uma análise dos modos de comunicação usados pelo professor para
resgatar conhecimentos dos estudantes a partir de um domínio fonte e utilizar esses
conhecimentos para promover uma compreensão de um domínio alvo.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
No sexto capítulo, retomamos as questões de pesquisa à luz dos nossos resultados a fim
de responder nosso problema de pesquisa. Nesse último capítulo apresentamos também uma
síntese das principais contribuições e implicações para as pesquisas na Educação em Ciências e
as limitações do nosso trabalho.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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Duas questões orientaram a revisão bibliográfica que fizemos para situar o objeto da
nossa pesquisa na área das Analogias na Educação em Ciências e para dimensionar uma possível
contribuição nossa para a compreensão dos múltiplos modos de comunicação que podem ser
usados na construção de analogias nas sala de aula de Ciências: (1ª) como o uso de analogias e
de outros tipos de comparação tem sido tratado pela literatura?; (2ª) o que dizem os trabalhos
que estudam a comunicação multimodal no ensino de Ciências sobre o uso de analogias em sala
de aula?
Entre as bases de dados a que tivemos acesso no Portal de Periódicos CAPES/MEC, nós
escolhemos três para procedermos nossas buscas por artigos: (1ª) Educational Resources
Information Center (ERIC ProQuest2) – base patrocinada pelo Departamento de Educação dos
Estados Unidos com amplo acesso à literatura relacionada com a educação, com mais de 20.000
artigos indexados anualmente (SANTOS & SOUZA, 2010); (2ª) Wiley Online Library – base
multidisciplinar que oferece acesso a textos completos de artigos em diversos periódicos
relevantes da área de Educação em Ciências; (3ª) Scientific Electronic Library Online (SciELO) -
biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros,
proporcionando amplo acesso a coleções de periódicos como um todo, aos fascículos de cada
título de periódico, assim como aos textos completos dos artigos.
2A ProQuest é uma empresa que presta serviços de elaboração de ferramentas de buscas, manutenção de
bases de dados e indexação de publicações.
3 O asterisco (*)é utilizado como caractere de truncamento ao termo analog e, com essa função, recupera
qualquer terminação até 10 caracteres após o truncamento, tal como analogue, analogy, analogies e
analogical.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
A partir dos resultados de busca, fizemos a leitura integral dos resumos e, em alguns
casos, uma “leitura flutuante”4 dos trabalhos encontrados em cada base, com ênfase para
identificação dos problemas e das questões de pesquisa, bem como dos referenciais teórico-
metodológicos. Nessa etapa, diversos artigos foram descartados da base que compõe nossa
revisão, uma vez que, embora o termo descritor aparecesse no título, no resumo ou entre as
palavras-chaves, as analogias ou a multimodalidade não compunham parte central dos objetos
de estudo, sendo abordados apenas perifericamente.
As buscas na base ERIC ProQuest foram realizadas por meio do formulário de busca
avançada. Entre os campos disponíveis nessa base, elaboramos expressões associando nossos
termos descritores ao campo “assunto principal” (su), “identificador” (palavras-chave – if),
“resumo” (ab) e “título do documento” (ti). No formul|rio de busca avançada dessa base
pudemos especificar três critérios de busca: (i) o tipo de documento – journal articles; (ii) a data
– após 19835; e (iii) os idiomas das publicações – Espanhol, Inglês e Português.
4Bardin, (1977 apud Martins & Pinhão, 2009) chamam de “leitura flutuante” o primeiro contato do
analista com os documentos a serem analisados, a fim de obter “impressões e orientações” a respeito dos
mesmos.
5Adotamos o ano de 1983 como referência de busca por ser o ano de publicação da Teoria do Mapeamento
palavras separadas. Por exemplo, ao realizar uma busca com a expressão booleanaab(Science*
N/1 education), poderão ser recuperados os artigos que contenham, no resumo, expressões
como Science education (educação científica), Science teacher education (formação de
professores de Ciências), e education in Sciences (educação em Ciências), entre outras
possibilidades. O uso das aspas ou do operador de proximidade PRE/n (ou P/n) pode restringir
os resultados de busca: assim, a expressão entre aspas (“Science education”) busca somente os
artigos que apresentam essa expressão nesta exata forma, enquanto o uso do operador P/n
(Science P/n education) busca somente os artigos que apresentam essas duas palavras nessa
ordem com um número n especificado de palavras antes do segundo termo. O quadro 1
apresenta as expressões booleanas elaboradas e os resultados das buscas realizadas na base
ERIC ProQuest.
Total: 32
Legenda: su – assunto principal; if – identificador (palavras-chave); ab – resumo.
Nota: (&) – Todos os artigos selecionados nas referidas buscas foram recuperados entre os 32 artigos
selecionados por meio da terceira expressão.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor. Atualização das buscas: Maio de 2016.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Total: 11
Legenda: su – assunto principal; if – identificador (palavras-chave); ab – resumo.
Nota: (&) – Entre os artigos selecionados, um já havia sido selecionado na busca anterior.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor. Atualização das buscas: Maio de 2016.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
elaboradas permitiram a recuperação de 11 artigos na base ERIC. Esse corpus foi posteriormente
confrontado com aquele constituído com as outras bases de dados.
As buscas na base Wiley Online Library também foram realizadas por meio do formulário
de busca avançada. Entre os campos disponíveis nessa base, elaboramos as expressões
associando nossos termos descritores ao campo “article titles”, “keywords”, “abstract”, e
“fullText”. No formul|rio de busca avançada dessa base pudemos especificar somente a data
como critério de busca: entre 1983 e 2016.
Diferentemente da base ERIC ProQuest, a base Wiley não permite o uso de operadores de
proximidade, tais como NEAR/n ou PRE/n. Dessa forma, os termos com duas ou mais palavras
foram inseridos nas expressões booleanas entre parênteses. O quadro 3 apresenta os resultados
das buscas e as quantidades de artigos selecionados após a leitura dos títulos e resumos.
Quadro 3–Expressões booleanas e número de artigos encontrados na base Wiley Online Library
sobre analogias na Educação em Ciências a partir de 1983.
Expressão booleana Resultados Selecionados
analog* in Article Titles AND ("science education" OR "science 72 56
teaching" OR "science class*") in FullText
analog* in Article Titles AND ("science education" OR "science 22 22&
teaching" OR "science class*") in Abstract
analog* in Keywords AND ("science education" OR "science 26 9&
teaching" OR "science class*") in FullText
analog* in Abstract AND ("science education" OR "science 180 -
teaching" OR "science class*") in FullText
Total: 56
Notas: (&) – Todos os artigos selecionados nas referidas buscas estão incluídos entre os 56 artigos
selecionados na primeira busca.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor. Atualização das buscas: Maio de 2016.
Na base Wiley Online Library, os resultados das buscas realizadas com os termos
descritores da Educação em Ciências vinculados ao campo FullText se mostraram mais
abrangentes e adequadas do que as buscas realizadas com esses termos vinculados ao campo
Abstract. Este último campo de busca também não se mostrou adequado para o termo analog*,
pois resultou em uma busca demasiadamente abrangente, o que impossibilitou a seleção. Para o
termo descritor das analogias (analog*) o campo de busca mais adequado foi o dos títulos dos
artigos (Article titles). Portanto, entre as expressões booleanas testadas, a que gerou um
resultado e uma seleção mais adequada para os propósitos da nossa revisão bibliográfica foi a da
primeira linha do quadro 3. Por meio dessa busca na base Wiley Online Library foi possível
compor um corpus constituído por 56 artigos sobre analogias na Educação em Ciências.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
expressões booleanas foram elaboradas da mesma forma como fizemos para os estudos sobre
analogias nessa base.
Quadro 4 –Expressões booleanas e número de artigos encontrados na base Wiley Online Library
sobre multimodalidade no contexto da Educação em Ciências a partir de 1990.
Expressão booleana Resultados Selecionados
multimodality in Article Titles AND ("science education" OR 3 0
"science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodality in Keywords AND ("science education" OR 3 1
"science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodality in Abstract AND ("science education" OR "science 4 1
teaching" OR "science class*") in FullText
multimodality in FullText AND "science education" OR "science 133 -
teaching" OR "science class*" in FullText
multimodal communication in Article Titles AND ("science 0 0
education" OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodal communication in Keywords AND ("science 0 0
education" OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodal communication in Abstract AND ("science 12 5
education" OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodal communication in FullText AND ("science 357 -
education" OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodal interactions in Article Titles AND ("science 1 1
education" OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodal interactions in Keywords AND ("science education" 0 0
OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodal interactions in Abstract AND ("science education" 3 1
OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
multimodal interactions in FullText AND ("science education" 387 -
OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
"modes of communication" in Article Titles AND ("science 0 0
education" OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
"modes of communication" in Keywords AND ("science 1 0
education" OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
"modes of communication" in Abstract AND ("science education" 16 2&
OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
"modes of communication" in FullText AND ("science education" 206 -
OR "science teaching" OR "science class*") in FullText
gestures in Article Titles AND "science education" OR "science 9 3
teaching" OR "science class*" in FullText
gestures in Keywords AND ("science education" OR "science 5 1&
teaching" OR "science class*") in FullText
gestures in Abstract AND ("science education" OR "science 28 4
teaching" OR "science class*") in FullText
gestures in FullText AND ("science education" OR "science 1025 -
teaching" OR "science class*") in FullText
Total: 16
Notas: (&) – Todos os artigos selecionados na referida busca estão incluídos entre os artigos
selecionados nas buscas anteriores.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor. Atualização das buscas: Maio de 2016.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
realizadas com os termos descritores principais neste campo geraram resultados extremamente
abrangentes, o que impossibilitou os procedimentos de seleção. O uso dos outros campos de
buscas, ao contrário, gerou resultados para os quais conseguimos proceder a seleção dos artigos.
Por meio das diferentes expressões booleanas elaboradas para as buscas na base Wiley, nós
conseguimos compor um corpus constituído por 16 artigos sobre multimodalidade.
As buscas na base SciELO Brasil também foram realizadas por meio do formulário de
busca avançada. Entre os campos de busca disponíveis nessa base, elaboramos expressões
associando nossos termos descritores principais ao campo das “palavras do título”, do “assunto”
e do “resumo”. No formulário de busca avançada dessa base não conseguimos associar os termos
principais aos termos complementares da Educação em Ciências. Qualquer tentativa de
associação gerava resultados limitados ou nenhum resultado. O mesmo ocorria quando
utilizávamos as expressões com os termos em inglês. Além disso, nessa base não foi possível
especificar nenhum outro critério de refinamento, como data ou tipo de publicação.
Diferentemente das outras bases consultadas, na base SciELO não conseguimos utilizar
truncamentos dos termos descritores. Dessa forma, tivemos que testar diferentes expressões
booleanas por meio de variações dos termos descritores entre português/inglês e
plural/singular. Apesar dos diferentes resultados gerados por meio dessas variações, em todos
os casos a quantidade de artigos selecionados sobre analogias no contexto da Educação em
Ciências foi igual a 13 (conforme a primeira linha do quadro 5).
31
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Total (multimodalidade): 6
Notas: (&) – Todos os artigos selecionados na referida busca estão incluídos entre os artigos
selecionados nas buscas anteriores.
(@) – Utilizamos o termo descritor ensino, vinculado ao campo resumo, na busca de artigos sobre o papel
dos gestos na comunicação em sala de aula.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor. Atualização das buscas: Maio de 2016.
De acordo com os dados do quadro 5, além dos 13 artigos sobre analogias, encontramos
6 artigos, em periódicos nacionais indexados na base SciELO que abordam aspectos da
multimodalidade no contexto da Educação em Ciências. Consideramos que essas quantidades
não refletiam adequadamente a produção acadêmica nacional nesses dois campos de estudos.
Portanto, decidimos continuar nossas buscas diretamente em portais de alguns periódicos
nacionais relevantes na área das pesquisas em Educação em Ciências.
32
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Ensino, segundo o Qualis 2014 da CAPES6, como A1, A2, B1 ou B2. Os periódicos com essa
classificação eram: o Caderno Brasileiro de Ensino de Física, a Ciência & Cognição (UFRJ), a
Ciência & Ensino (Unicamp), o Experiências em Ensino de Ciências (EENCI/UFMT), o
Investigações em Ensino de Ciências (IENCI/UFRGS), a Química Nova na Escola (QNEsc/SBQ) e a
Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (RBPEC/ABRAPEC).
A consulta direta nesses periódicos nos permitiu encontrar uma quantidade de artigos
consideravelmente maior que a busca na plataforma da base SciELO. O quadro 6 apresenta as
quantidades de artigos encontrados nos periódicos indicados e selecionados para a constituição
do nosso corpus.
ERIC ProQuest 23 7
9& 4&
Wiley Online Library 47 12
SciELO Brasil 13 6
Periódicos nacionais 32 11
TOTAIS: 124 40
Nota: (&) – Os números que aparecem a frente do símbolo & identificam as quantidades de artigos que
aparecem nas bases ERIC e Wiley.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor. Atualização das buscas: Maio de 2016.
Em sua revisão, Dagher (1995b) analisou uma amostra representativa de estudos que
abordaram a efetividade de analogias na aprendizagem de conceito científicos, fornecendo uma
síntese dos resultados e apresentando implicações para professores e pesquisadores em
Educação em Ciências. A autora destaca, entre alguns modelos de raciocínio analógico, os
trabalhos de Gentner (1983 & 1989) e sua teoria do mapeamento estrutural das analogias, bem
como o de Holyoak & Thagard (1989). Esses trabalhos estão apresentados com mais detalhes no
capítulo 3 desta tese, tendo sido adotados como parte do nosso referencial teórico.
Os 15 trabalhos que constituíram o corpus revisado por Dagher (1995b) eram oriundos,
tanto do campo da Educação em Ciências, quanto do campo da Psicologia Cognitiva. Entre esses
15 trabalhos, 9 eram estudos experimentais e 6 eram estudos descritivos. Esses estudos foram
agrupados pela autora em duas categorias: (1ª) trabalhos dedicados a estudar analogias
34
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
presentes em textos didáticos; (2ª) estudos dedicados a analisar analogias apresentadas por
professores. A autora organizou em cinco pontos os resultados e as implicações dos trabalhos
que revisou: natureza das analogias; diversidade das apresentações das analogias; estratégias de
ensino; métodos de avaliação; apontamentos para pesquisas futuras.
A revisão conduzida por Duarte (2005) destaca um número temático da revista Journal
of Research on Science Teaching, publicado em 1993. Com o título Special Issue: The Role of
Analogy in Science and Science Teaching, os trabalhos deste número trazem enfoques diversos
sobre a utilização das analogias. Duarte (idem) os agrupa em quatro linhas: (1ª) utilização e
exploração didática de analogias; (2ª) características das analogias em manuais escolares; (3ª)
presença das analogias na prática dos professores de Ciências; (4ª) concepções de professores
sobre o papel das analogias nos processos de ensino e de aprendizagem.
Em sua revisão, Duarte (idem) pretendia contribuir para uma melhor compreensão do
uso das analogias, bem como identificar as contribuições e os desafios que os trabalhos
revisados apresentavam para a investigação na área. A autora destaca as várias definições de
analogia, conforme as perspectivas teóricas dos autores consultados. Segundo ela, para alguns
autores, a analogia é um processo cognitivo que envolve uma comparação explícita de duas
“coisas”, uma definição de informação nova em termos já familiares, ou um processo através do
qual se identificam semelhanças entre diferentes conceitos, sendo um deles conhecido,familiar, e
o outro desconhecido (Glynn, 1991). Ainda segundo Duarte (idem), para outros autores, como
Duit (1991) e Treagust et al (1992), analogia é definida como uma comparação baseada em
similaridades entre estruturas de dois domínios diferentes, um conhecido e outro
desconhecido.Assim como Dagher (1995b), Duarte destaca o trabalho de Gentner (1983) que
diferencia as analogias de outros tipos de comparação.
A respeito dos contributos teóricos dos trabalhos revisados, Duarte (idem) aponta o
desenvolvimento das Ciências Cognitivas, como um campo multidisciplinar que integra
Psicologia, Filosofia da Ciência, Linguística, Neurociência e Inteligência Artificial. Para a autora
esse campo produziu diferentes abordagens para o estudo da analogia e de seu papel no
processo de aprendizagem. Nesse contexto, ela utiliza a revisão de literatura que realizou para
afirmar a emergência de uma concepção consensual da analogia como um conjunto de processos
cognitivos e interacionais que devem ser estudados em situações de uso como foco no
processamento mental e na experiência individual, social e cultural.
Entre os diversos estudos revisados por Duarte (idem), ela destaca aqueles conduzidos
por psicólogos sobre a relação das analogias com o desenvolvimento cognitivo dos indivíduos e,
mais especificamente,os estudos relativos: (i) aos processos analógicos envolvidos na
35
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
aprendizagem; (ii) às relações entre a analogia e o raciocínio analógico; (iii) às relações entre as
analogias e diversas competências cognitivas, como as relações entre analogia e percepção,
analogia e imaginação, analogia e criatividade, analogia e memória ou analogia e resolução de
problemas.
Ela também destaca os estudos realizados por linguistas com foco nos contextos de
produção das analogias e afirma a necessidade de aprofundar as pesquisas sobre os fatores
contextuais que podem favorecer ou impedir a utilização bem-sucedida de uma analogia.
Acreditamos que o nosso trabalho pode oferecer alguma contribuição a essa questão, pois nós
investigamos os processos de comunicação e compartilhamento de significados envolvidos na
construção de analogias em sala de aula.
A revisão bibliográfica de Mozzer & Justi (2015) foi conduzida com três objetivos:
(1º) diferenciar as analogias de outros tipos de similaridades e recursos didáticos
frequentemente confundidos com analogias por parte de professores, autores de livros e
pesquisadores; (2º) explicitar e discutir os fundamentos teóricos dos estudos sobre analogias e
sua utilização no ensino; (3º) discutir, criticamente, algumas das principais estratégias de uso
das analogias como ferramentas de ensino.
36
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Nós consideramos que Mozzer & Justi (2015) não realizam uma distinção adequada
entre os atributos e as relações que compõem cada domínio. Por exemplo, no mapeamento da
similaridade literal estabelecida entre a dissolução do açúcar e a dissolução do sal em água (p.
130) elas classificam o “desaparecimento” do soluto e a formação de uma solução líquida como
meros atributos. Primeiramente, elas não especificam a qual elemento esse atributo pertenceria.
Entretanto, a nosso ver, tanto a dissolução do soluto no solvente quanto a formação de uma
solução líquida não deveriam ser concebidas como atributos, mas como relações estabelecidas
entre os elementos constituintes de cada domínio. No primeiro caso, a dissolução é um processo
decorrente da interação entre o soluto e o solvente – uma relação do tipo causa e consequência
que envolve as duas substâncias, e não um atributo de um ou do outro componente. No segundo
caso, a classificação da formação de uma solução líquida como um atributo talvez tivesse ficado
mais clara se fosse redigida da seguinte forma: “a solução formada é líquida”.
Outra crítica que fazemos ao trabalho de Mozzer & Justi (idem) diz respeito ao
mapeamento que elas realizam na analogia entre a energia de ativação em uma reação química e
a condução de um carro ao longo de um morro ou aclive. Elas consideraram que a
correspondência entre a “altura do morro que o carro sobe” e a “altura da barreira de energia”
(p. 134) era uma correspondência entre relações. Contudo, a altura é um atributo,tanto na
situação em que o carro sobe um morro, quanto naquela em que uma “barreira de energia”
precisa ser superada para o início de uma reação química. Nessa mesma analogia, as autoras
apresentam outra correspondência interpretada de forma equivocada entre a “transposição da
barreira de energia pelos reagentes”, no domínio pouco conhecido, e a “direção do carro ao
longo do morro”, no domínio mais conhecido. A nosso ver, embora essa correspondência
estabeleça de fato uma ligação entre relações, a redação dessas relações parece comprometer a
compreensão do mapeamento.
Apesar de suas limitações, consideramos que o trabalho de revisão de Mozzer & Justi
(2015) contribui para a compreensão do papel das analogias na Educação em Ciências ao
37
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
apresentar, discutir e exemplificar o uso de analogias, tanto em livros didáticos, quanto nas
interações discursivas entre professores e estudantes. Nesse contexto, as autoras diferenciam
tipos de analogias (simples, enriquecidas e estendidas), formas de expressão das analogias
(verbal, verbal-visual, simulação, dramatização), processos que demandam o uso de analogias e
modelos ou estratégias de ensino mediadas por analogias. As autoras não utilizam conceitos do
campo da multimodalidade, que compõem nosso referencial teórico, embora demonstrem
preocupações comuns a esse campo. Isso ocorre quando elas afirmam, por exemplo, que a
analogia deve conter representações visuais do domínio base a serem exploradas por
professores ou textos didáticos.
Mozzer & Justi (2015) finalizam seu trabalho de revisão por meio de uma discussão geral
a respeito do potencial das analogias como ferramentas didáticas e investigativas que, segundo
as autoras, depende da compreensão da natureza das similaridades envolvidas, da explicitação
destas e do uso que se faz dessas comparações nos processos de ensino e aprendizagem. Nesse
contexto, elas afirmam que: (1º) é necessário compreender as analogias como comparações
relacionais em oposição às comparações entre atributos de objeto focadas em propriedades
descritivas; (2º) o mapeamento das analogias deve ser realizado e orientado de forma explícita;
(3º) é essencial garantir a participação ativa do estudante nos processos de negociação e
construção de significados que são mediados pelo professor.
Ferraz & Terrazzan (2002) fizeram uma ampla revisão de trabalhos dedicados ao uso de
analogias por professores de Ciências e nela apresentam uma breve descrição dos trabalhos
desenvolvidos por Tierney (1988), Treagust et al (1992), Thiele & Treagust (1994) e Dagher
(1995a), que nós reorganizamos para construir o quadro 8 apresentado a seguir. As duas
últimas referências dessa lista também fizeram parte de um estudo atento de nossa parte. Os
autores desses dois últimos trabalhos da lista classificaram os estudos sobre analogias em três
grupos: (1˚) os que se referem { avaliação de estratégias did|ticas para um uso efetivo de
analogias como recurso para a construção de conceitos científicos; (2˚) os que tratam das formas
como as analogias são apresentadas em textos did|ticos; (3˚) os dedicados ao modo como as
analogias são utilizadas por professores em sala de aula. Além disso, tanto Thiele & Treagust
(1994), quanto Dagher (1995a) reiteraram as afirmações de Glynn et al (1998) ao apontar que a
maioria dos professores e autores de textos didáticos usam analogias sem considerar suas
limitações ou problemas.
38
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Quadro 8 – Síntese dos aspectos discutidos por Ferraz e Terrazzan (2002) em sua revisão
bibliográfica sobre o uso de analogias por professores.
Quantidade de Quantidade
Pesquisador Disciplina
professores de aulas Aspectos ressaltados
(ano) escolar
observados observadas
A maneira limitada com que as
comparações são realizadas e ausência
Tierney (1988) 4 Estudos Sociais 20
de controle a respeito de como os alunos
as interpretam.
Encontraram poucas indicações claras do
uso de analogias pelos professores.
Treagust et al Sugerem que o uso seria efetivo se
7 Ciências (4 semanas)
(1992) estivessem baseados em um repertório
bem preparado de analogias, elaboradas
para conteúdos e contextos específicos.
Detectaram 45 analogias nas aulas
observadas. Os professores utilizavam
analogias quando consideravam que os
alunos não conseguiam compreender a
explicação inicial. Para os autores, as
Thiele &
4 Química 43 analogias apareciam de forma
Treagust (1994)
espontânea na hora da explicação, ou
seja, sem planejamento. Os professores
teriam um “repertório mental” de
analogias, baseado em sua experiência
profissional.
Entre os 20 professores observados,
somente 11 professores usaram
analogias. A análise tinha como
pressuposto o caráter singular de cada
analogia, em seus aspectos estruturais e
funcionais, dependentes do contexto. Os
autores concluíram que os professores:
Dagher (1995a) 20 Ciências -
tecem analogias naturalmente; as
desenvolvem com mais ou menos
extensão, dependendo de sua percepção
acerca da importância do assunto
tratado; não se detêm para considerar
em que medida as analogias são
compreendidas pelos alunos.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor.
Além desse trabalho de revisão, Ferraz & Terrazzan (2002) apresentaram os resultados
da observação das aulas de seis professoras de Biologia em três escolas públicas. Esses
resultados estão comentados mais à frente.
39
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Consideramos que nossa pesquisa se enquadra no 1º enfoque, uma vez que investigamos
os processos de comunicação na construção de analogias na sala de aula. Dessa forma,
consideramos pertinente abordar com mais detalhes os trabalhos identificados com esse
enfoque e assim, responder à nossa primeira questão norteadora: como o uso de analogias e
outros tipos de comparação em sala de aula de Ciências tem sido tratado pela literatura?
Os principais resultados dos trabalhos de Thiele & Treagust (1994) e de Dagher (1995a)
já foram comentados no quadro 8 da subseção 2.2.4. No entanto, devido à forte relação com o
objeto da nossa pesquisa, achamos importante destacar o conceito de analogias pictóricas 7
utilizado no trabalho de Thiele & Treagust. Esses autores mostram que esse tipo de analogia foi
7A primeira menção a esse termo – pictorial analogies, foi feita por Curtis & Reigeluth (1984, p.108). Esse
termo surgiu como categoria emergente durante a análise que esses autores fizeram de 216 comparações
encontradas em 26 livros didáticos, ao considerar o formato da apresentação das analogias. Eles as
agruparam em duas categorias: (i) analogias verbais – comparações apresentadas apenas com palavras, e
(ii) analogias pictórica-verbais – comparações apresentadas com palavras e reforçadas por imagens do
domínio base.
41
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
frequentemente usado nas 43 aulas dos quatro professores que eles observaram. Entre as 45
analogias identificadas nas aulas desses professores, 19 foram apresentadas a partir de uma
imagem desenhada na lousa da sala de aula. Umas das professoras observadas, ao ser
questionada sobre o uso de desenhos na construção de algumas analogias, comentou que ela fez
desenhos como uma ajuda à imaginação dos estudantes e porque esses desenhos a ajudavam a
expressar o que ela tinha em sua própria mente.
Outro professor observado elaborou esquemas que relacionavam informações dos dois
domínios de uma analogia para inferir conclusões a respeito do domínio alvo. Na construção
dessa analogia, o professor utilizou diferentes cores para inscrever no quadro os atributos de
cada domínio, que foram separados por meio de uma linha vertical. Os dados sobre o domínio
base foram inscritos do lado esquerdo da lousa, enquanto as informações correspondentes do
domínio alvo foram colocadas no lado direito. Embora Thiele & Treagust (1994) não estivessem
preocupados com a expressividade dos professores na construção das analogias, consideramos
que essas observações podem ser compreendidas, sob a perspectiva da Semiótica Social, como
exemplos do caráter multimodal desse processo de mediação. Nesse último exemplo, podemos
dizer que o professor articulou o modo verbal oral e o modo verbal escrito com outros modos de
comunicação que serão caracterizados ao longo desta tese: o modo visual layout das inscrições
na lousa e o modo acional interação com imagens.
Quanto aos outros trabalhos realizados na década seguinte, podemos dizer que os três
artigos de Ferraz & Terrazan foram produzidos com propósitos complementares, pois foram
realizados a partir de uma mesma pesquisa de mestrado. Nessa pesquisa, os autores observaram
a prática pedagógica de 6 professoras de Biologia para investigar as formas de utilização de
analogias e/ou metáforas por professores do Ensino Médio. As seis professoras observadas eram
de escolas da rede estadual do Rio Grande do Sul. As observações foram realizadas em dois
períodos distintos – de setembro a dezembro do ano 2000 (65 aulas), e de março a junho de
2001 (87 aulas). Nestes dois períodos foram identificadas, respectivamente, 56 e 52 ocorrências
de analogias, totalizando 108 episódios de uso. Consideramos que este número representa uma
quantidade razoável para evidenciar o quanto as analogias estão presentes no processo de
ensino.
No trabalho publicado em 2002, Ferraz & Terrazan identificaram qual era a origem das
analogias usadas pelas professoras (livros didáticos, repertório proveniente da experiência,
etc.). No artigo de 2003, eles contrastaram os procedimentos de uso de analogias pelas
professoras com os passos propostos pela metodologia de ensino conhecida como Teaching with
Analogies, (HARRISON & TREAGUST, 1994).
e como ferramentas de uso frequente em sala de aula. Esse entendimento sobre o papel das
analogias parte do pressuposto de que o raciocínio analógico contribui para que os estudantes
compreendam o conhecimento científico, na medida em que os auxilia a usar conhecimentos de
domínios que lhes são mais familiares (domínios base) no tratamento de domínios menos
familiares (domínios alvo).
Em Bozelli & Nardi (2006) a analogia, assim como a metáfora, é considerada uma figura
de linguagem usada como recurso mediador dos processos de ensino e aprendizagem. Os
autores consideram as analogias como fundamentais para o tratamento de temas complexos,
visto que elas permitem relacionar atributos e relações constitutivas dos domínios familiares e
não familiares. Para produzir esse trabalho, os dois autores interpretaram o discurso de um
professor de Física, a fim de identificar as situações que criavam a necessidade de produzir e
utilizar analogias. Nessa mesma linha, Bozelli & Nardi (2012) analisaram a elaboração, utilização
e exploração de analogias durante processos de interação discursiva em uma sala de aula.
Bozelli & Nardi (2006) concluem que o raciocínio analógico parece ser a fonte da
compreensão dos estudantes com relação ao entendimento dos conceitos teóricos. Dessa forma,
a utilização de analogias pelo professor é entendida como eficaz porque, supostamente,
promoveria a “visualização” do conceito alvo. Por isso, segundo os autores, a elaboração de
analogias requer, por parte do professor, o exercício de uma função de mediação, no sentido de
direcionar a atenção dos alunos para os aspectos mais relevantes da comparação, o que inclui
assinalar, tanto as similaridades, quanto as diferenças entre os domínios familiar e não-familiar.
No trabalho de 2012, Bozelli & Nardi apontam para a necessidade de discussões mais
amplas sobre o uso de analogias no ensino, na formação inicial dos professores, sobre as funções
desse tipo de comparação, as vantagens ou desvantagens de sua utilização e sobre formas mais
efetivas de explorar as analogias.
Entre as conclusões de Ferraz & Terrazzan (2001, 2002 e 2003) destaca-se a constatação
de que a frequência de utilização de analogias está relacionada com o conteúdo específico a ser
ensinado. Segundo esses autores, existem algumas formas mais ou menos estruturadas de
utilização das analogias em sala de aula que se mostram mais eficientes. Se não for dada a devida
atenção durante o uso de analogias, corre-se o risco de se promover um número maior de
concepções alternativas e indesejáveis entre os estudantes, o que não permitiria aos professores
alcançar os objetivos propostos para a atividade de ensino. Ferraz & Terrazzan (2002)
ressaltam, a esse respeito, que um professor deve possuir conhecimentos didáticos específicos
para saber usar esse tipo de recurso.
43
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
outros tipos de comparações no trabalho de Thiele & Treagust (1994), em nenhum dos trabalhos
de Ferraz & Terrazzan (2001, 2002 e 2003), nem tampouco nos artigos publicados por Bozelli &
Nardi (2006 e 2012). Mozzer & Justi (2015) identificam essa mesma lacuna em sete outros
trabalhos nacionais do campo de estudos das analogias no ensino de Ciências. Considerando a
relevância desse critério para a investigação que nós conduzimos, no capítulo 3, nós
apresentamos um conjunto de critérios extraídos da teoria que nos permitiu diferenciar as
comparações estabelecidas pelo professor sujeito da nossa pesquisa.
Tendo em vista nossa decisão de aderir à Teoria Multimodal da Semiótica Social, que
será apresentada no 3º capítulo desta tese, nós priorizamos na revisão trabalhos que adotassem
esse referencial ou que pudessem ser reinterpretados a partir dele. Dentre os trabalhos reunidos
na revisão de literatura apresentada neste segundo capítulo da tese e que podem ser
caracterizados dessa maneira, podemos citar os de Piccinini & Martins (2004), Márquez,
Izquierdo & Espinet, (2006), Pozzer-Ardenghi et al. (2007), Barbosa et al. (2009), Padilha &
Carvalho (2011), Tang (2013), Souza et al. (2014), Mortimer et al. (2014), Pereira et al. (2015),
Moro et al. (2015) e Zhang (2016). A premissa da maioria desses trabalhos é a de que linguagem
verbal não é o único recurso de expressão que deve ser considerado nos estudos dos processos
de comunicação que medeiam o ensino e a aprendizagem das Ciências. Há, portanto, um
consenso de que professores e estudantes interagem por meio de diversos modos de
comunicação incluindo gestos, movimentos do corpo, imagens, manipulação de objetos, dentre
outros.
O trabalho de Piccinini & Martins (2004) foi um dos primeiros na literatura nacional a
abordar aspectos da comunicação multimodal nas aulas de Ciências. Nele,as autoras fazem uma
análise das interações discursivas em eventos de comunicação multimodal em uma sala de aula
de Ciências. Os resultados dessa pesquisa mostram que ações, gestos e linguagem verbal foram
mobilizados em contextos específicos, valorizados pelos interlocutores e tornados legítimos
44
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
para efeito da comunicação pretendida naquela situação social. As autoras destacaram também a
sensibilidade da professora observada que, à época, tinha 15 anos de experiência, na
orquestração retórica do processo de construção de explicações coletivas pelos estudantes.
Os trabalhos de Laburú e colaboradores (LABURÚ & SILVA, 2011a e 2011b; ZOMPERO &
LABURÚ, 2011; GOYA & LABURÚ, 2014) se enquadram entre aqueles que apenas tangenciam os
conceitos mais tipicamente usados no campo dos estudos de multimodalidade estruturados em
torno da Semiótica Social. Esses autores reconhecem a variedade de representações da
linguagem científica e a diversidade de modos discursivos utilizados para comunicá-la e para
isso utilizam os conceitos de “múltiplas representações” e “multimodalidade representacional”.
O primeiro designa a prática de representar um mesmo conceito ou processo científico de
diferentes maneiras. O segundo se refere aos diversos meios ou recursos perceptivos associados
a diferentes formas de representação concebidas e comunicadas (LABURÚ & SILVA, 2011b, p.
724).
46
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
A nossa escolha pela teoria de Kendon (2004) para análise dos gestos ocorre a despeito
da existência de outros autores que estudam os gestos como modo de comunicação dentro do
escopo da Semiótica Social que faz parte do nosso referencial teórico-metodológico. Há trechos
específicos nos trabalhos desse autor que apoiam a nossa escolha em usar sua teoria juntamente
com a Semiótica Social8. Assim, por exemplo, Kendon (1985) define os gestos como formas
silenciosas de mover partes do corpo no espaço-tempo. Por causa dessa característica dos
gestos, a percepção fisiológica deles não compete com a percepção da fala. Na perspectiva da
Semiótica Social, isto significa dizer que os meios usados pelos modos verbais e pelos gestuais
são diferentes e não compete um com o outro quando usados simultaneamente em um ato de
comunicação. Em outro estudo, Kendon (1997, p. 115) afirma que a pesquisa precisa nos ajudar
a entender melhor como os vários recursos de expressão são articulados uns com os outros. Nos
termos da Semiótica Social, isto é equivalente a dizer que é importante compreender como
enunciadores orquestram vários modos de comunicação nos atos de comunicação. No capítulo 3
nós apresentamos os principais conceitos da sua teoria que fundamentam a nossa análise.
Retomando o trabalho de Moro et al (2015), vimos que esses autores citam um estudo
realizado com professores universitários que mostrou que quanto mais expressivos são os
professores, mais gestos e expressões faciais eles realizam. O trabalho de Barbosa et al (2009)
também investigou aspectos relacionados à expressividade de professores do Ensino Superior,
analisando elementos relacionados à expressividade verbal, como a acústica e os padrões de
fluência da fala, e à expressividade não verbal, como a ocorrência de gestos e as expressões
faciais. Nessa análise, os autores destacaram a influência das emoções tanto na fluência da fala
quanto nos parâmetros não verbais analisados.
Entre outros trabalhos dedicados a analisar o papel desempenhado pelos gestos no plano
social das salas de aula de Ciências, destacamos ainda o de Giordan et al(2015), cujo objetivo era
o de discutir o uso de representações estruturais no ensino de Química por meio da relação
entre gestos e determinadas operações epistêmicas (definição, descrição, descrição molecular,
generalização, explicação, exemplificação e comparação). Giordan et al (2015) analisaram
episódios de ensino, abordaram a teoria de Kendon (2004), mas adotaram como referencial para
análise as categorias gestuais de McNeill (2005). Percebemos que a comparação, compreendida
como uma operação epistêmica no trabalho de Giordan et al, não implica necessariamente em
analogias. A respeito dessa operação epistêmica, os autores não conseguiram estabelecer
qualquer relação entre os gestos dos professores e o estabelecimento de comparações. No
entanto, nas discussões de seus resultados de pesquisa, os autores apresentam a combinação
entre categorias gestuais e operações epistêmicas como uma metodologia capaz de mapear
8CAPPELLE, V.; PAULA, H. F. Gestures, actions and words in a Biology Classroom. Belo Horizonte, 2015. 26 p.
Não publicado.
47
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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processos cognitivos em sala de aula. Consideram também que essa combinação pode promover
reflexões sobre como os significados são construídos nas salas de aula de Ciências.
De modo geral, nos trabalhos encontrados em nossa revisão sobre os múltiplos modos de
comunicação envolvidos nos processos de construção e compartilhamento de significados na
Educação em Ciências, não encontramos nenhum que tivesse abordado o uso de analogias sob
essa perspectiva. Ou seja, como já havíamos indicado no primeiro capítulo desta tese, as
maneiras pelas quais professores de Ciências constroem analogias em sala de aula e o uso de
múltiplos modos de comunicação que eles utilizam com essa finalidade parece não terem sido
investigadas até o presente momento.
Optamos por apresentar os dados dessas buscas bibliográficas nesta seção. O quadro 9
apresenta os resultados das buscas realizadas nas três bases de dados (ERIC, Wiley Online
Library e SciELO Brasil) consultadas para a composição do corpus da nossa revisão bibliográfica.
Esses últimos procedimentos de busca foram realizados com expressões booleanas elaboradas
com os principais termos descritores dos dois campos de interesse para a nossa pesquisa – o
campo de estudos sobre as analogias e o da multimodalidade, ambos no contexto da Educação
em Ciências. As expressões booleanas com associação desses termos foram definidas a partir das
expressões apresentadas nos quadros anteriores (quadros de 1 a 5). Para tanto, nós partimos
das expressões que geraram os resultados mais abrangentes, com quantidades de artigos
adequadas para os procedimentos de seleção.
48
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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Quadro 9– Resultados das buscas em três bases por meio da associação de descritores dos
campos da analogia e da multimodalidade na Educação em Ciências.
Base Expressão booleana Resultados Selecionados
su(analog*) AND ab(((science NEAR/1 education OR
science NEAR/1 class* OR science NEAR/1 teaching))) 0 0
AND ab((multimodality OR gesture*))
Tendo em vista essa aparente lacuna na literatura referente aos aspectos comunicativos
da construção das analogias no ensino de Ciências, acreditamos que a nossa investigação poderá
contribuir para um novo tipo de análise potencialmente promissor: as relações entre as
características das analogias e os recursos expressivos que constituem sua construção em sala
de aula.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
De acordo com essa teoria, a especificidade das analogias em relação aos outros tipos de
comparação pode ser identificada por meio de um mapeamento das similaridades postuladas
entre relações existentes no domínio familiar e no domínio pouco conhecido, que também são
conhecidos, respectivamente, como domínios base e alvo. Gentner (1983, p. 156) afirma que
esses domínios são sistemas que incluem elementos (objetos, estados ou processos), atributos
(características dos elementos) e relações tanto entre os elementos, quanto entre os atributos
dos elementos.
Além das analogias, Gentner (idem) propõe a existência de outros dois tipos de
comparação denominadas similaridades de mera aparência e similaridades literais. Nas
comparações de mera aparência as similaridades são estabelecidas, predominantemente, entre
atributos de elementos pertencentes ao domínio base (DB) e atributos de elementos
pertencentes ao domínio alvo (DA). Assim, por exemplo, pode-se dizer que um gráfico de uma
distribuição de Gauss, ou gaussiana, tem aparência similar ao do sino de uma igreja. De modo
geral, esse tipo de comparação tem foco em propriedades descritivas de elementos pertencentes
aos dois domínios, tais como a forma, a cor, o tamanho, etc.
50
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Além das similaridades de mera aparência, das analogias e das similaridades literais,
Gentner (idem) fala de um quarto tipo de comparação denominada Anomalia, na qual o
mapeamento das similaridades entre os dois domínios comparados não encontra
correspondências, nem entre atributos dos elementos, nem, tampouco, entre as relações que os
elementos exibem em cada domínio. O quadro 11, a seguir, sintetiza as diferenças entre os tipos
de comparações identificadas por Gentner (1983).
51
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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(*) Gentner (1983) não distingue a similaridade de mera aparência de outros tipos de comparação por
meio de uma tabela, embora a caracterize de forma clara no seu artigo.
Fonte: Produzido pelo autor e inspirado em Gentner (1983).
Distinguir as comparações com base nos predicados mapeados nos dois domínios, como
faz a síntese apresentada no Quadro 11, é uma escolha claramente vinculada à Psicologia
Cognitiva. Tal distinção desconsidera aspectos discursivos importantes que devem ser levados
em consideração quando investigamos os efeitos de sentido que uma comparação pode
apresentar em um contexto sócio histórico específico. Desde esse ponto de vista, a distinção
entre comparações não pode ser realizada, apenas, por critérios lógicos e quantitativos.
Assim, por exemplo, mesmo que uma analogia possa ter, do ponto de vista lógico, muitas
relações potencialmente mapeáveis entre o DB e o DA, nada garante que todas essas relações
serão compreendidas pelos estudantes e compartilhadas no plano social da sala de aula. Em
outras palavras, dependendo da capacidade retórica do professor e dos conhecimentos prévios
dos estudantes, uma comparação potencialmente analógica pode se configurar como uma
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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comparação por mera aparência ou até mesmo como uma anomalia. Assim também uma
anomalia pode ser equivocadamente considerada como uma analogia.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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Por meio da figura 01, Gentner & Markman (1997) apresentam dois tipos de metáforas: as
metáforas relacionais (relational metaphors), baseadas em relações, e as atribute metaphors, isto
é, metáforas baseadas em atributos. As diferenças entre as metáforas relacionais e as baseadas
em atributos são como as diferenças apresentadas pelos autores entre analogias e similaridades
de mera aparência.
Segundo Mozzer & Justi (2015), as metáforas podem ser convertidas em analogias. A esse
respeito, as autoras, que também adotaram a teoria do mapeamento estrutural das comparações
como seu referencial teórico, disseram:
A respeito das analogias, Gentner & Markman (1997) afirmam que as correspondências
estabelecidas supõem a existência de um alinhamento estrutural entre os domínios comparados.
O método de análise para a realização de um mapeamento de similaridades consiste em
identificar:(i) os elementos colocados em correspondência; (ii) os atributos ou características
desses elementos que são relevantes para a comparação; (iii) as relações que, dentro de cada
domínio, são estabelecidas entre elementos, atributos ou outras relações “de ordem inferior” ou,
em outras palavras, menos complexas do que aquelas identificadas no mapeamento de
similaridades feito pelo analista.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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contribuição, e o de Mozzer & Justi (2015) porque, como nós, essas autoras também adotaram a
teoria do mapeamento estrutural das analogias como referencial teórico.
Segundo Mozzer & Justi (2015), as limitações de uma analogia podem ser compreendidas
como sendo as “características e propriedades não compartilhadas entre o análogo e o alvo e/ou
as condições nas quais a analogia não se aplica” (p. 125).
Entre os autores que chamam a atenção tanto para as potencialidades, quanto para os
problemas do uso de analogias na Educação em Ciências, Duarte (2005) destaca as contribuições
de Duit (1991) e Treagust et al. (1992). Entre os problemas, a autora destaca a possibilidade dos
estudantes centrarem-se somente nos “aspectos positivos” das analogias e desvalorizar suas
limitações. De modo similar, Mozzer & Justi (2015) dizem que o “problema” não é a existência de
limitações inerentes a qualquer comparação, mas a não explicitação das mesmas. Nesse sentido,
essas autoras reiteram as orientações de Glynn (1991), e Thiele & Treagust (1994) ao afirmar
que: “as limitações das analogias devem ser exploradas com os estudantes” (MOZZER & JUSTI,
2015, p. 137).
Segundo Gentner & Markman (1997), há três restrições a serem observadas para
identificar uma comparação como sendo uma analogia. Paráfrases dessas restrições são
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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apresentadas a seguir, pois nós as adaptamos ao interesse e ao objeto da nossa pesquisa. A esse
respeito vale lembrar, como já salientamos, que a Teoria do Mapeamento Estrutural provém da
Psicologia Cognitiva e que nossa pesquisa investiga o uso de comparações, em sala de aula, por
um professor cujo objetivo é ensinar Química. Sendo assim, nossos dados revelam escolhas
discursivas do professor, ao invés de buscar ou postular, como faz a Psicologia Cognitiva,
eventuais operações cognitivas realizadas por esse sujeito durante as comparações que
compõem o seu discurso.
A segunda restrição para que uma comparação seja considerada uma analogia é o foco
relacional. Em outras palavras, as analogias diferem de outras formas de comparação em virtude
do foco que nelas se estabelece entre relações supostamente existentes entre os elementos do
DB e outras postuladas para os elementos do DA.
Uma consequência do que Gentner & Markman (1997, p.47) chamam de foco relacional e
de princípio da sistematicidade é a compreensão de que nas analogias há um aumento da
quantidade e da complexidade das similaridades estabelecidas entre relações existentes em cada
domínio. Por conseguinte, do ponto de vista discursivo, a teoria proposta por Gentner nos
permite considerar contextualmente adequada a escolha pelo uso das analogias como forma de
enriquecer os sentidos em circulação e aumentar as chances de compartilhamento de
significados entre o professor e os estudantes.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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Mapeamento Estrutural
Por meio da expressão 1, a autora representa uma correspondência entre atributos, isto é,
entre um atributo (A) de algum elemento do domínio base (bi) para um atributo de algum
elemento do domínio alvo (target – ti).
Nessa segunda expressão, haveria uma correspondência entre uma relação entre os
elementos bi e bj, pertencentes ao domínio base, e uma relação entre os elementos ti e tj do
domínio alvo. Por se tratar de uma relação entre elementos, ou até mesmo entre atributos
desses elementos, esse tipo de correspondência é concebida como uma similaridade entre
relações de primeira ordem. Já a expressão 3 representa outro tipo de correspondência:
Nessa terceira expressão, dizemos que R’ representa uma relação entre relações, isto é,
uma relação entre as relações menos complexas R1 e R2. Portanto, de acordo com a teoria, a
relação R’ encontrada em cada domínio é entendida como uma relação de ordem superior
(higher-order relation).
No contexto da teoria do mapeamento estrutural das comparações, uma analogia pode ser
compreendida como um mapeamento entre dois domínios de conhecimento nos quais uma
estrutura relacional comum pode ser alinhada (GENTNER & KURTZ, 2006, p. 610). A efetividade
de uma relação analógica depende, principalmente, do tamanho e da profundidade de sua
estrutura relacional comum (GENTNER, 1983; GENTNER & MARKMAN, 1997; GENTNER &
KURTZ, 2006).
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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Embora o conceito de estrutura relacional de uma analogia seja um dos principais termos
usados nos trabalhos de Gentner e seus colaboradores, a definição desse termo não aparece
formalmente nos vários trabalhos aos quais tivemos acesso. No entanto, Gentner (1983) nos dá
alguns exemplos elucidativos para entendermos o conceito e, ademais, afirma que uma analogia
pode ser representada por uma “estrutura na qual um predicado relacional de ordem superior
rege as conexões entre os predicados de ordem inferior” (p. 162). Essa afirmação aliada {s três
restrições anteriormente apresentadas – a consistência estrutural, o foco relacional e a
sistematicidade – nos autoriza a entender o conceito de estrutura relacional comum como um
conjunto de relações concatenadas que, uma vez presentes nos dois domínios, representa a
estrutura de uma analogia.
Um dos exemplos apresentados por Gentner (1983) que elucida o significado do conceito
de estrutura relacional comum é a comparação entre o modelo atômico de Rutherford e o
sistema solar. Nessa analogia, a estrutura relacional presente no domínio base (o sistema solar)
também pode ser mapeada no domínio alvo (o modelo atômico). Além das correspondências
estruturais óbvias, tais como Sol/núcleo e planeta/elétron, Gentner (idem) mapeou dois outros
tipos de relações em cada domínio ao elaborar esse exemplo. O primeiro tipo é composto por
relações de primeira ordem, cuja expressão verbal seria: assim como os planetas giram ao redor
do Sol, os elétrons giram ao redor do núcleo. A outra é uma relação de segunda ordem do tipo
causa-efeito, cuja expressão verbal seria: assim como os planetas giram ao redor do Sol devido à
atração que essa estrela exerce sobre eles, os elétrons giram ao redor do núcleo devido à atração
que essa estrutura do átomo exerce sobre eles.
A partir desse exemplo, nós elaboramos uma ilustração (figura 02) para evidenciar uma
expressão de concatenamento que constitui a estrutura relacional comum dessa analogia. Nessa
figura, a letra r (minúscula) representa relações de primeira ordem, enquanto a letra R
(maiúscula) representa a relação de segunda ordem. Os dois elementos colocados em relação em
cada domínio foram representados pela letra E, seguida de um índice numérico (1 ou 2).
Estrutura relacional do DA: CAUSA ATRAÇÃO (elétrons, núcleo); GIRO AO REDOR (elétrons, núcleo)]
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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A figura 2 apresenta uma possível estrutura relacional para a analogia entre o modelo
atômico de Rutherford (DA) e o sistema solar (DB). Nessa figura, demos destaque ao que nós
estamos chamando de expressão de concatenamento das relações. Tal expressão, em termos
algébricos, será a partir de agora escrita como R [ r2 (E2, E1), r1 (E2, E1)]. É importante dizer que a
estrutura relacional mostrada na figura 02 não esgota todas as possibilidades de mapeamento
da analogia que lhe deu origem. Como esclarece a própria Gentner (idem), há outras relações
mapeáveis9 entre o sistema solar e o átomo de Rutherford. Eis dois exemplos: É MAIS MASSIVO
QUE (Sol e planetas, no DB) & (núcleo e elétrons, no DA); ESTÃO MUITO DISTANTES UM DO OUTRO
(Sol e planetas, no DB) & (núcleo e elétrons, no DA). Os exemplos adicionais sugerem que a
estrutura relacional de uma analogia pode ser identificada por meio de uma ou mais de uma
expressão de concatenamento, bem como que a atribuição de uma estrutura relacional de uma
analogia deva ser identificada a partir das escolhas efetivamente realizadas por quem construiu
esse tipo de comparação em um contexto sócio histórico específico.
Holyoak & Thagard (idem) consideram útil estudar a construção das analogias como
sendo constituída por quatro processos: (i) a recuperação ou a seleção de um domínio base;
(ii) o mapeamento das correspondências entre DB e DA; (iii) a produção de inferências sobre o
DA a partir do conhecimento disponível sobre o DB, um processo que os autores chamam de
transferência analógica; (iv) o uso da transferência analógica e a aprendizagem dela resultante.
Para os autores, o núcleo lógico de uma analogia é a fase dois, isto é, o processo de mapeamento.
No entanto, do ponto de vista pragmático, os processos associados às fases (iii) e (iv) são
também considerados essenciais, pois somente eles nos permitem avaliar a utilidade pedagógica
e heurística de uma analogia.
De acordo com esses autores, uma analogia deve satisfazer a três restrições
fundamentais para ter utilidade pedagógica e heurística: (1ª) ser estruturalmente consistente
9 Gentner (1983) apresenta também outras relações não mapeáveis, como HOTTER THAN (sun, planets).
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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ou, em outras palavras, apresentar certo isomorfismo entre DB e DA; (2ª) garantir certa
similaridade semântica entre os elementos que constituem o DB e aqueles que compõem o DA;
(3ª) estar em acordo com as intenções ou os propósitos a partir dos quais foi construída.
Considerando a primeira dessas três restrições, os autores elaboraram a figura 03 apresentada a
seguir, na qual a letra m substitui a palavra mapeamento e a letra O a palavra objeto.
Figura 3– Condições básicas de isomorfismo em uma analogia para Holyoak & Thagard (1989)
Rb
Domínio base Ob1 Ob2
m m
Rt
Domínio alvo Ot1 Ot2
m m
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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correspondente na fonte (e vice-versa). Pequenas violações a esse requisito não impediriam que
uma analogia fosse potencialmente útil.
Holyoak & Thagard (idem) afirmam que no primeiro caso apresentado na figura 05 a
comparação apresenta claro isomorfismo, o que nos permite estabelecer um paralelismo
estrutural entre elementos e relações dos dois domínios. Além disso, nesse primeiro caso, existe
uma elevada similaridade semântica entre os elementos dos dois domínios (três homens no DB e
três mulheres no DA) e entre relações (“é mais alto que” no DB e “é mais pesada que” no DA).
Afinal, as duas relações estão baseadas em uma única medida (estatura no DB e massa corporal
no DA). Por conseguinte, nesse primeiro caso, as relações e os elementos mapeados possuem
significados semelhantes. Sendo assim, de acordo com a restrição denominada similaridade
semântica nós podemos dizer que se trata de uma boa analogia.
Figura 5 – Dois casos de comparações envolvendo similaridades semânticas distintas: (1º) alta
similaridade semântica; (2º) baixa similaridade semântica.
Assim como “João é mais alto que Pedro que é mais alto que José”, DOMÍNIO BASE
Rb1 Rb2
m m m
“Maria é mais pesada que Ana que é mais pesada que Eva”. DOMÍNIO ALVO
Rt1 Rt2
(1º caso)
DOMÍNIO BASE
Assim como “João é maior que Pedro que é maior que José”,
Rb1 Rb2
m m m
“a distribuição de riqueza no Socialismo é maior que na Social-Democracia que é maior que no Neoliberalismo”
Rt1 Rt2
(2º caso) DOMÍNIO ALVO
Fonte: Modificado por nós a partir de exemplos apresentados por Holyoak & Thagard (1989).
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Usando a teoria proposta por Gentner (1983) também podemos chegar à conclusão de
que no segundo caso de comparação apresentado na figura 05, nós não estamos diante de uma
analogia, mas sim de uma anomalia. Afinal, por um lado, parece absurdo estabelecer
correspondências entre o atributo estatura de um ser humano e o atributo distribuição de
riquezas em sistemas político-econômicos. Ademais, a relação de estatura é estabelecida a partir
de uma única medida (dada em metros, por exemplo), o que não acontece com a relação
estabelecida entre a distribuição de riquezas. A esse respeito, vale lembrar que o conceito de
distribuição de riquezas é bastante complexo e pressupõe a consideração simultânea de um
grande número de diferentes parâmetros, tanto materiais, quanto imateriais.
A fim de ilustrar, mais uma vez, o papel desse tipo de restrição no estabelecimento das
analogias, nós elaboramos outra comparação. Dizer que “uma molécula é constituída por
|tomos, assim como uma mão é constituída por dedos” coloca em correspondência relações do
tipo parte-todo com significados similares, diferente do que ocorre na comparação que diz “uma
molécula é constituída por |tomos, assim como uma casa contém móveis”. Nesta última
comparação a relação parte-todo existente entre átomos e moléculas é semanticamente distinta
da relação de contenção estabelecida entre uma casa e seus móveis.
A centralidade pragmática, que é a terceira restrição da teoria, atua como uma pressão
que favorece o estabelecimento de correspondências importantes para quem faz e para quem
usa a analogia. Os fatores pragmáticos implicam que a construção da analogia é guiada pelos
objetivos de quem a elabora, ou seja, por aquilo que o sujeito pretende alcançar com esse tipo de
comparação (MOZZER, 2008).
Para exemplificar essa terceira restrição podemos resgatar duas comparações muito
usadas no ensino do modelo atômico de Bohr em ambientes escolares: (1ª) a que compara o
átomo de Bohr com o sistema solar; (2ª) a que compara o átomo de Bohr com uma escada. A
primeira comparação tem o propósito de descrever a disposição espacial das partículas que
constituem o átomo, bem como o movimento relativo dos elétrons e do núcleo atômico. No
entanto, essa analogia não é efetiva para explicar como o átomo recebe e libera energia do
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ambiente a sua volta. A comparação entre o átomo de Bohr e a escada tem essa finalidade, pois
destaca a impossibilidade de uma pessoa ficar estacionada entre dois degraus de uma escada,
impossibilidade essa que é análoga àquela que impede um elétron de permanecer situado entre
dois níveis de energia permitidos no poço de potencial que é criado pela interação entre o núcleo
atômico e os elétrons.
De acordo com Holyoak & Thagard (1989), diferentes estudos sobre o raciocínio
analógico compartilham a ideia de que o sujeito que constrói a analogia utiliza conhecimentos
explícitos ou implícitos sobre o seu propósito, no sentido de direcionar o processo de
mapeamento (p. 302). Os autores afirmam que as considerações pragmáticas têm forte
influência sobre os dois processos que cercam o mapeamento durante a construção de uma
analogia: a seleção do domínio base e da elaboração de inferências sobre o domínio alvo. Assim,
as analogias sempre são utilizadas para servir a um propósito específico que, ao fim e ao cabo,
orienta a seleção do domínio base (p. 297). Como exemplo, os autores apresentam a seguinte
situação: se alguém for solicitado a comparar todos os aspectos econômicos, culturais e sociais
na Nicarágua e em Cuba, à princípio, todos os elementos que caracterizam esses aspectos nos
dois “domínios” ou países seriam relevantes. Mas, se alguém for solicitado a avaliar a política
atual na Nicarágua por analogia àquela encontrada em Cuba, somente um subconjunto de
conhecimentos sobre os sistemas políticos dos dois países precisaria ser mapeado.
No contexto do presente trabalho, nos parece ser coerente e adequado promover uma
aproximação entre o conceito de centralidade pragmática das analogias e o conceito de intenção
retórica que apresentaremos na seção 3.4 deste capítulo.
3.3 - UM REFERENCIAL PARA A DIMENSÃO ESTRUTURAL DA ANÁLISE
Na análise que fizemos das analogias construídas na sala de aula pelo sujeito da nossa
pesquisa nós decidimos reunir as contribuições dos autores mencionados nas seções 3.1 e 3.2
deste capítulo. Assim, pudemos realizar uma análise unificada da dimensão estrutural do
processo de construção das analogias, ao invés de realizar uma análise, ora orientada pelo
referencial de Gentner e colaboradores, ora orientada pelas contribuições de Holyoak & Thagard
(1989).
Nós consideramos que a teoria das múltiplas restrições de Holyoak & Thagard (1989)
converge com a teoria do mapeamento estrutural de Gentner (1983) e colaboradores,
principalmente com relação à restrição do isomorfismo e à consistência estrutural. Segundo
essas duas abordagens teóricas, a consistência estrutural da relação é crucial para garantir a
plausibilidade da analogia. No entanto, Holyoak & Thagard acrescentam duas novas condições
para o sucesso da relação analógica, ou seja, para um mapeamento adequado das
correspondências entre os domínios da comparação: as restrições pragmáticas e semânticas. O
quadro 12 apresenta um paralelo entre as múltiplas restrições de Holyoak & Thagard (1989) e
os três princípios que caracterizam as analogias, distinguindo-as de outros tipos de comparações
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Nos trabalhos de autoria ou coautoria de Gunther Kress, uma série recorrente de quatro
conceitos-chave é usada para caracterizar um modo de comunicação: meio, materialidade,
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mesmas significativas e nos permitem identificar um, ou mais de um significado textual em uma
enunciação, discurso ou ato comunicativo realizado em um determinado contexto sócio-
histórico.
Investigações a respeito dos gestos são comuns na Psicologia (p.ex. MCNEILL, 1992,
2005; GOLDIN-MEADOW, 2000) e Antropologia (p. ex. GOODWIN, 1995; KENDON, 1997).
Estudos dos gestos como modos de comunicação orquestrados com outros modos nas
interações entre estudantes e professores em salas de aula são um campo de pesquisa
relativamente novo. Os autores mais usados para os estudos dos gestos nas pesquisas na
Educação em Ciências são David McNeill e Adam Kendon.
Kendon (1985) define os gestos como formas silenciosas de mover partes do corpo no
espaço-tempo. Por causa dessa caraterística dos gestos, a percepção fisiológica deles não
compete com a percepção da fala. Na perspectiva da Semiótica Social, isto significa dizer que os
meios usados pelos modos verbais e pelos gestuais são diferentes e não competem um com o
outro quando usados simultaneamente em um ato de comunicação.
Kendon (2004, p. 107) argumenta que não é possível estabelecer um sistema universal
de classificação dos gestos que seja igualmente útil para todas as investigações. Ele também diz
que qualquer categoria utilizada para classificar gestos é um recurso temporário utilizado
localmente e dependente dos propósitos do pesquisador.
Por meio de uma extensa e detalhada exemplificação das funções dos gestos nas
interações sociais, Kendon (2004) nos fornece um sistema para compreender as funções
atribuídas aos gestos. De acordo com esse autor, devemos considerar as categorias que ele
propõe como relacionadas às funções dos gestos e não como um sistema para classificá-los
diretamente.
A primeira distinção importante feita por Kendon (2004) entre as funções de gestos nas
interações humanas separa as funções pragmáticas e as referenciais. A noção de pragmática
usada nessa distinção é similar ao que nós encontramos na divisão clássica dos três campos da
linguística: sintaxe, semântica e pragmática.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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De acordo com essa divisão da linguística, a sintaxe diz respeito à relação dos signos com
outros signos na composição de sentenças ou frases. A semântica diz respeito às relações dos
signos com a realidade que eles representam. Finalmente, a pragmática lida com as relações dos
signos com os efeitos de sentido que um determinado enunciado produz em certos sujeitos e em
um contexto específico.
Kendon (2004) relaciona as funções pragmáticas dos gestos com a capacidade desse
modo de expressão em especificar o sentido que o enunciador dá aos signos que ele usa em sua
enunciação. A primeira função pragmática destacada por Kendon é conhecida na linguística
como função modal. Gestos modalizadores, que Kendon chama de operators, indicam, por
exemplo, o grau de certeza do enunciador acerca daquilo que ele está dizendo ou seu grau de
concordância com o aquilo que diz.
De acordo com Castilho & Castilho (1992), a modalização é uma ação através da qual o
enunciador indica intenções, sentimentos e atitudes em relação ao conteúdo do enunciado. A
modalização é importante na análise de enunciados porque para entender um discurso
precisamos ter em conta o posicionamento do enunciador sobre aquilo que ele está dizendo.
A última das três funções pragmáticas indicadas por Kendon é a função de partição (ou
de marcação) da estrutura do discurso em que os gestos permitem que um enunciador mostre
para o destinatário do enunciado diferentes componentes lógicos do discurso. Apesar de sua
inclusão por Kendon (2004) entre as funções pragmáticas, a função de partição tem alguma
relação com o que a linguística chama de sintaxe. Afinal, a sintaxe trata das relações dos signos
com outros signos na composição de sentenças ou frases.
A fim de exemplificar essas três funções pragmáticas indicadas por Kendon (idem),
considere um episódio de ensino no qual um professor projeta no quadro um gráfico sobre
variações de entalpia ocorridas durante uma reação química. Se, ao se dirigir à projeção, com o
antebraço supinado e a palma da mão voltada para cima, o professor executar um movimento
dessa mão em direção ao seu rosto, sinalizando um convite aos seus alunos para que direcionem
o olhar e a atenção à projeção do referente gráfico no quadro, podemos entender que esse
professor está realizando um gesto com uma função pragmática performativa. Imagine agora
que esse professor, a fim de evidenciar três importantes pontos na curva (a entalpia dos
reagentes, a do complexo ativado e a entalpia dos produtos), volta-se para seus alunos, ergue
uma mão fechada e, na medida em que menciona cada um desses pontos, primeiro abre e ergue
o dedo indicador ao falar da entalpia dos reagentes, em seguida abre e ergue o dedo médio ao se
69
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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referir à entalpia do complexo ativado e, por último, abre e ergue o dedo anelar, mantendo-o
assim junto com os dois primeiros, para falar da entalpia dos produtos. Podemos dizer que nesse
segundo caso, com esses três movimentos o professor pontuou sua fala mostrando seus
diferentes componentes lógicos. De acordo com Kendon, esse gesto apresenta uma função
pragmática de partição.
Os gestos que McNeill (1992) classifica como beats também tem a função de partição da
estrutura do discurso. Estes gestos marcam a prosódia do enunciado e são um recurso para
reiterar, visualmente, o ritmo, a entonação, o tom ea intensidade de palavras ou frases que
compõem um discurso.
Para recapitular, o primeiro grupo de funções dos gestos nas interações humanas é
composto das funções pragmáticas que são a modalização, a função performativa e a função de
partição da estrutura do discurso. O segundo grupo de funções que apresentaremos nos
parágrafos a seguir consiste nas funções referenciais. Todas as funções incluídas neste segundo
grupo podem ser compreendidas a partir da perspectiva de um dos campos clássicos da
linguística: a semântica.
A primeira função referencial indicada por Kendon é a função dêitica. Gestos com esta
função servem para a localização de objetos e eventos no espaço e no tempo. Além da função
dêitica, o grupo de funções referenciais inclui três formas de representação de objetos e eventos:
a descrição de ações, a criação de ícones (modelagem), e a descrição figurativa.
70
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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átomos ligantes. No segundo, a professora segura um modelo molecular tridimensional com uma
das mãos e gira a outra mão para indicar o sentido de giro dos grupos ligantes em relação ao
centro estereogênico.
gesto é a recuperação (recovery) e nela a parte do corpo utilizada na execução do golpe retorna à
posição de conforto.
Kendon (2004, p. 111) chama de unidade gestual (gesture unit)a série de movimentos
realizados entre a preparação do golpe e o retorno da parte do corpo utilizada na execução dos
gestos para a posição de conforto (a recuperação). Com vários exemplos, ele nos mostra que
muitos golpes, com ou sem sustentação, podem ocorrer no intervalo de tempo de uma unidade
gestual. Como o golpe é a fase expressiva de um gesto,e como cada golpe ocorre,
necessariamente, após um movimento de preparação, Kendon criou o conceito de frase gestual
(gesture phrase). Uma frase gestual é formada apenas pela preparação e pelo golpe. Uma
unidade gestual, por sua vez, pode conter uma ou mais frases gestuais.
Na análise que faremos de gestos feitos pelo professor na sala de aula que investigamos,
vamos mostrar algumas situações em que ele mantém ou sustenta as fases mais significativos
dos gestos por um longo tempo. Em outras situações, o golpe gestual ocorre em um curto
período de tempo e dá origem, rapidamente, a preparação de um novo golpe sem que o
professor retorne seu corpo para a posição de conforto. O padrão de transcrição das interações
mediadas por gestos adaptado para os propósitos de nossa análise será apresentado na
subseção 4.3.4 do capítulo da metodologia.
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Figura 6– Diagrama das funções dos gestos segundo a teoria de Kendon (2004).
Fonte: Diagrama elaborado pelo nosso grupo de pesquisa (Mediação Pedagógica no Ensino de Ciências).
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Figura 7 – Referenciais teóricos e conceitos estruturantes a partir dos quais nós a construímos
nossa unidade de análise.
- Mapeamento das correspondências
entre elementos, atributos e relações Intenção retórica
dos domínios base e alvo; Modos verbais, visuais, acionais e
- Limitações e diferenças alinháveis; gestuais: (a) Materialidade, (b) meio,
- Estrutura relacional comum; (c) especialização funcional,
- Consistência estrutural, (d) significados ideacional,
Foco relacional, interpessoal e textual
Sistematicidade.
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10Entrevista concedida a um canal de comunicação via satélite para uma rede privada de ensino na qual o
professor, sujeito da nossa pesquisa, atuava como coordenador pedagógico para o ensino de ciências.
11Os termos de consentimentos livres e esclarecidos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, de acordo com o Parecer nº 555100/2014
(Anexo A).
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para a prática pedagógica de outros professores ou para desnudar aspectos a serem levados em
consideração na formação inicial de professores, no que diz respeito ao uso de comparações nas
salas de aula de Ciências.
O nosso primeiro contato com o professor para apresentar a proposta de pesquisa, fazer
o convite e solicitar sua permissão para que pudéssemos acompanhar e filmar suas aulas
ocorreu na segunda semana do semestre letivo, isto é, no segundo encontro semanal. Após a
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comentários que explicitam a forma como nós interpretamos aquilo que transcrevemos;
reticências ... indicam situações em que um sujeito não completou sua enunciação; reticências
colocadas entre colchetes [...] indicam trechos de fala não transcritos (trechos inaudíveis ou não
analisados na pesquisa); pontos de exclamação (!) e interrogação (?) indicam, respectivamente,
mudanças de entonação associadas a afirmações enfáticas e perguntas. Com o negrito nós
destacamos enunciados que faziam menção ao DB de uma comparação e com o sublinhado os
enunciados associados ao DA.
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associados. Por exemplo, o código r1(E2, E1) indica uma relação de primeira ordem entre o
segundo e o primeiro elemento que foram mapeados tanto no DB, quanto no DA para, então,
serem colocados em correspondência. Da mesma forma, o código r2(A2, A1) indica uma relação
de primeira ordem que, todavia, tem como foco dois atributos cuja correspondência foi mapeada
nos dois domínios. Já o código R1(r2, r1) indica uma relação de segunda ordem, ou seja, uma
relação entre as relações r2 e r1 que foram mapeadas nos dois domínios.
O padrão que criamos para representar a estrutura de uma comparação, embora seja
diferente daquele usado por Gentner (1983), atende ao requisito de identificar não somente
elementos ou atributos similares em cada domínio, mas também as relações estabelecidas entre
eles, bem como as relações de ordem superior postuladas entre relações de primeira ordem.
Nosso padrão nos parece mais amigável que o padrão usado por Gentner, no sentido de que é
menos dependente de notações tipicamente utilizadas na álgebra e que são menos legíveis aos
não iniciados nessa disciplina.
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{~~~~~~~~~|ÍCONE***/**********|-.-.-.-.-.-}
{preparação| GOLPE / sustentação| retorno}
{...............FRASE GESTUAL.............}
{.................UNIDADE GESTUAL...................}
Fonte: Diagrama elaborado pelo grupo de pesquisa MPEC e baseado em Kendon (2004).
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Gestos dêiticos
Inscrição na lousa
Movimentos de cabeça
Direcionamento do olhar
Proxêmica
Manipulação de Objetos
Fonte:Elaborado pelo nosso grupo de pesquisa – MPEC.
Na elaboração das transcrições multimodais, cada ícone possui um código composto por
um número correspondente a numeração da linha e por uma letra. Os códigos criados para os
ícones nos permitiram identificá-los mais facilmente durante a análise das transcrições a
discussão dos resultados da pesquisa.
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12A certeza a respeito da diversidade de tipos de comparações somente poderia ser dada após uma
análise mais criteriosa por meio do mapeamento estrutural de cada comparação. No entanto, a nossa
observação atenta e o nosso conhecimento do contexto sociocultural a respeito dos temas abordados
durante as aulas assistidas nos permitiram fazer uma prévia avaliação das comparações estabelecidas
pelo professor. Ou seja, se, a princípio, tratavam-se de analogias ou se configuravam-se como qualquer
outro tipo de comparação.
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Figura 9 – Exemplo de representação da orquestração entre o modo verbal oral e outros modos.
{
(a) (b)
Fonte: Elaborado pelo grupo de pesquisa – MPEC. Legenda: ícone (a) indica a orquestração entre o modo verbal oral,
gestual e acional; (b) indica ausência de outros modos além do modo verbal na enunciação.
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As aulas expositivas dos sete encontros semanais que nós acompanhamos eram
caracterizadas, em sua maioria, por discursos centrados na fala do professor, não sendo
observadas interações discursivas iniciadas por iniciativa dos estudantes. As poucas falas dos
estudantes ocorreram como respostas a demandas apresentadas pelo professor, inclusive nos
episódios nos quais ele estabeleceu comparações.
Entre os recursos mobilizados pelo professor nas aulas expositivas, destaca-se o quadro
branco e os pincéis de diferentes cores utilizados para fazer desenhos, esquemas, gráficos,
representações de estruturas químicas e para escrever sínteses do que ele acabara de dizer aos
estudantes. Com menor frequência, o professor também utilizou slides projetados por data show
e manipulou modelos tridimensionais de estruturas moleculares.
Cada encontro semanal era iniciado por uma apresentação da agenda de atividades
previstas para a semana e, às vezes, para as semanas seguintes. Essa apresentação era seguida
pela leitura da lista de chamada e de uma breve recapitulação dos principais conceitos
abordados na semana anterior. Os exercícios propostos compunham, geralmente, esse momento
de recapitulação. Após a realização dos exercícios, o professor introduzia o tema da aula do dia.
Interpretamos esse conjunto de procedimentos como um esforço do professor para explicitar
relações entre os temas já estudados e o novo tópico a ser abordado.
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O quadro 17 apresenta os domínios das comparações estabelecidas pelo professor nos encontros que observamos, bem como os tópicos do
conteúdo programático nos quais essas comparações ocorreram.
Quadro 17 – Domínios e propósitos das comparações estabelecidas pelo professor.
Encontro Tópico de conteúdo Comparação
Data Propósito da comparação
semanal (Duração do registro) Domínio Base Domínio Alvo
Distinguir a polaridade das moléculas de HBr
Modelos de interações Estrutura molecular do H2 Estrutura molecular do HBr
da polaridade das moléculas de H2.
1º 19/03 intermoleculares
(79’ 23”) Distinguir as intensidades de interações
Interações interatômicas Interações intermoleculares
intermoleculares e ligações químicas.
Modelos de Interações
Modelo de moda (desfile de Explicar a ideia e o papel de um modelo na
2º 26/03 intermoleculares Modelo de gás
roupas) Ciência.
(119’ 15”)
Destacar a “falsa semelhança” entre as
Geometria molecular do BH3 Geometria molecular do NH3 moléculas da amônia (NH3) e do hidreto de
Geometria de moléculas
boro (BH3).
3º 09/04 poliatômicas
A disposição espacial dos
(144’ 24”) Descrever a geometria piramidal da molécula
A forma de um tripé átomos da molécula da
da amônia.
amônia
Molécula do ácido sulfídrico Descrever a geometria e outras características
Geometria, polaridade e Molécula da água (H2O)
(H2S) da molécula do ácido sulfídrico (H2S).
interações
A disposição espacial dos Descrever a geometria de moléculas
intermoleculares A forma de um tripé e de uma
átomos da molécula da constituídas por quatro átomos, sendo o átomo
4º 16/04 (78’ 45”) pirâmide
amônia central um elemento da família 5.
Introdução à Explicar o significado dos sinais positivo e
termodinâmica Fluxo de dinheiro Fluxo de energia negativo nos cálculos de variação de energia
(47’ 21”) interna em um sistema.
Velocidade de uma reação Introduzir a ideia de velocidade de um
Cinética química. Velocidade de um carro
química processo.
Velocidade de reações
Introduzir a ideia de “velocidade global” das
5º 07/05 químicas. Teoria das
Velocidade de diferentes Velocidade de consumo e de reações químicas, para em seguida, explicar
colisões
partes de um carro produção de substâncias como deve ser o cálculo dessa velocidade a
(141’ 10”)
partir das velocidades de consumo dos
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reagentes ou de produção das novas
substâncias.
Abordar a função de proteção de uma camada
Camada de tinta sobre uma
Pele sobre o corpo humano de tinta sobre uma superfície metálica ao
superfície metálica
evitar a sua oxidação.
Brincadeira com uma bola Responder, retoricamente, que a maioria das
Colisões entre partículas
sendo jogada contra uma colisões entre as partículas não provoca
durante uma reação química
parede alterações nos materiais.
Criar uma representação para as moléculas em
Esferas Moléculas “monoatômicas”
colisão durante o processo reacional.
Introduzir duas condições necessárias para
Situações em um jogo de Situações previstas pela
que uma colisão entre moléculas seja eficaz: a
sinuca teoria das colisões
geometria e a energia envolvida no choque.
Dizer que o momento do choque entre as
Acidentes de trânsito Choques entre moléculas moléculas numa colisão efetiva é o momento
que envolve a maior quantidade de energia.
Representação gráfica da Explicar como que diferentes valores de
Deslocamento de um veículo
energia de ativação de uma energia de ativação podem influenciar na
em um aclive
reação química velocidade das reações químicas.
Relacionar o conceito de temperatura com a
Notas obtidas por estudantes Movimentação de moléculas
distribuição da energia cinética entre as
em uma avaliação em um sistema
moléculas que constituem o sistema reacional.
Introduzir a influência do aumento da
Aumento da quantidade de Aumento da quantidade de
temperatura do sistema reacional sobre a
acidentes nas estradas choques entre moléculas
velocidade das reações químicas.
Dizer que a redução da temperatura de um
Função de uma máquina do sistema reacional apenas diminui a velocidade
Função de uma geladeira
tempo da reação química, mas não inverte o seu
sentido.
Apresentar a forma característica de uma
Forma de um gráfico
Forma de um sino curva gaussiana, uma distribuição
(curva gaussiana)
estatisticamente normal.
Explicar um gráfico que trata do efeito da
Distribuição da energia
Distribuição das notas dos temperatura sobre a distribuição da energia
cinética de moléculas em
alunos em uma prova cinética entre moléculas em um sistema
reação química
reacional.
Cinética Química: Breve retomada de uma comparação
Situações em um jogo de Situações previstas pela
6º 14/05 fatores que interferem estabelecida na semana anterior com a
sinuca teoria das colisões
na velocidade das intenção de fazer uma síntese das principais
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reações químicas ideias abordadas sobre a teoria das colisões.
(74’ 06”) Abertura de um túnel em um
Representação gráfica da Explicar como que o novo mecanismo
morro oferecendo um
redução da energia de reacional com menor energia de ativação,
caminho mais curto e mais
ativação promovida pelo uso favorecido pelo uso de catalisadores, acelera
fácil para o deslocamento de
de catalisadores uma reação química.
um veículo automotivo
Relação químico-estrutural
Relação de encaixe entre estabelecida entre enzimas e Descrever o mecanismo de ação das enzimas
fechadura e chave substratos nos processos nas transformações dos substratos.
bioquímicos
Distinguir as características de um equilíbrio
Exemplo de situação de Exemplo de situação de
dinâmico das características de um equilíbrio
equilíbrio estático equilíbrio dinâmico
estático.
Entrada e saída de água em
Dinâmica de duas reações
um tanque com uma torneira
químicas em equilíbrio, Mostrar as características de uma situação de
capaz de enchê-lo, na parte
sendo uma o inverso da equilíbrio químico.
superior, e furos capazes de
Dinâmica das reações outra
esvaziá-lo, na parte inferior
7º 21/05 em equilíbrio químico
Implicações de uma Dinâmica de duas reações
(138’ 08”)
brincadeira envolvendo a químicas, em equilíbrio, Mostrar as características de uma situação de
troca de cadeiras entre duas sendo uma o inverso da equilíbrio químico.
salas de aula outra
Situações de Inscrição na lousa:
reestabelecimento de “Equilíbrio se desloca
Introduzir o Princípio de Le Chatelier.
equilíbrio por uma pessoa em sempre no sentido contrário
uma corda bamba da ação empreendida”
Fonte: Quadro produzido pelo autor.
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De acordo com os dados apresentados no quadro 17, vemos que o professor estabeleceu
apenas oito comparações nos quatros primeiros encontros: duas no 1º, uma no 2º, duas no 3º e
mais três no 4º. Essas comparações se caracterizaram, em sua maioria, por serem menos
complexas do que aquelas que serão analisadas nas seções deste capítulo, pois foram baseadas,
predominantemente, em atributos de elementos do DB e do DA.
Uma observação atenta dos vídeos dessas aulas também nos permitiu constatar que em
quatro dessas oito comparações as correspondências abrangeram elementos, atributos e
relações constituintes de domínios pertencentes a uma mesma área de conhecimento. Por
exemplo, quando o professor comparou a estrutura molecular da amônia (NH3) com a estrutura
molecular do hidreto de boro (BH3), ele estava estabelecendo correspondências entre entidades
similares: a quantidade de ligações químicas, as características dos átomos centrais e a
geometria das moléculas.
Nós orientamos nosso interesse por comparações entre domínios pertencentes a áreas
de conhecimento de naturezas distintas. Essa escolha se baseou na expectativa de que elas
fossem mais sofisticadas, na medida em que impõem o estabelecimento de relações e não apenas
de elementos ou atributos do DB e do DA.
Considerando, ademais, os critérios apresentados na seção 4.4 para a escolha das aulas a
serem analisadas, os dados apresentados no quadro 17 nos permitiram selecionar o 5º encontro
semanal como foco da nossa análise. Como indica esse quadro, nesse encontro, o professor
estabeleceu 13 comparações. Os domínios e os propósitos das comparações apresentados no
quadro 17 sugerem que entre as mesmas há comparações simples, menos complexas, baseadas
em atributos, mas que predominam comparações mais complexas e analogias verdadeiras,
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segundo os critérios advindos do nosso referencial teórico. Além disso, conforme será
apresentado mais detalhadamente na próxima subseção, algumas comparações registradas nas
aulas do 5º encontro estão orientadas ao mesmo domínio alvo. Por isso, a análise das mesmas
poderia nos ajudar a entender como o professor articula comparações distintas, mas vinculadas
a um mesmo tema.
No 5º encontro o professor abordou ideias centrais da teoria das colisões para as reações
químicas e destacou a temperatura como um fator capaz de provocar alterações na taxa de
reação. Nesse contexto, o professor construiu 13 comparações. A figura 11 apresenta uma linha
do tempo que nós construímos com a finalidade de localizar sequencialmente as comparações
enunciadas pelo professor durante o encontro. Nessa figura, as 13 comparações foram
identificadas por letras do alfabeto grafadas em maiúsculo. No quadro 18, nós usamos as
mesmas letras para descrever cada comparação, por meio da identificação do intervalo de tempo
gasto pelo professor em cada uma delas, da explicitação de seus domínios base e alvo, bem como
do propósitoe do contexto a partir dos quais elas foram realizadas.
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Figura 11 – Linha do tempo da aula sobre Cinética Química do encontro ocorrido no dia 07/05/14, com identificação das 13 comparações
enunciadas, por meio de letras.
Tempo (minutos)
A B C E G 100’ H J L 140’
0’ 20’ 40’ 60’ 80’ 120’
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5.2.1 - COMPARAÇÃO A
Transcrição do episódio
((54'35")) [...] então agora nós vamos estudar o que nós chamamos de cinética química / cine significa
movimento / (1s) / como é a transformação química no tempo / (1s) / é lógico que quando a gente fala em
movimento / qual é a medida que nos dá a dimensão do movimento? / qual é / vamos dizer assim / o fator
físico que eu possa medir / que me mostre se a reação é rápida ou se a reação é lenta? / qual é o conceito que
nós aplicamos pra poder medir essa dinâmica? / (1s) / bom / toda vez que eu quero estudar movimento / o
conceito que nós trabalhamos é o conceito de... velocidade / (2s) / o que é velocidade? / uma taxa pelo tempo
/ (1s) / ((COMPARAÇÃO A - 55'27")) / andei tantos quilômetros... em meia hora / ou em uma hora /
ou em dez horas / dependendo de quanto tempo eu levei para andar aquela distância / eu vou ter a
noção da minha velocidade / se eu fui rápido ou se eu fui lento / (1s) / geralmente quando a gente
tem uma disputa / por exemplo uma corrida de carros / onde o percurso eu já sei o tamanho dele
((gesticula modelando o circuito da corrida)) / é igual pra todos / nos interessa só controlar o... tempo
/ aquele que tiver menor tempo é porque foi mais... veloz / aquele que tem maior tempo é porque foi
mais lento / bom / ((o professor se dirige em direção ao quadro)) / então quando nós estudamos
velocidade / nós estamos estudando / uma taxa de variação pelo tempo / (10s) / bom / mas um carro / eu
acho que é fácil pra gente compreender a noção de velocidade / mas uma reação acontece num
recipiente / num tubo de ensaio / o tubo de ensaio não está correndo pelo laboratório / ele está paradinho lá
/ lá no suporte de tubos de ensaio né/ ora / o que é que nós estamos falando? / de que velocidade nós
estamos falando? / qual é a transformação que eu quero medir? / ((o professor retorna ao quadro para
escrever)) / eu quero medir como o reagente se transforma em... / produto / é isso que me interessa / (1s) /
não é se o tubo de ensaio tá se movendo / eu quero saber em quanto tempo os reagentes se transformam em
produtos / (1s) / então / no caso do carro / a gente estuda a variação de espaço pelo tempo em que
aconteceu o movimento / no nosso caso aqui / nós vamos pegar uma taxa / mas na verdade / nós vamos
medir / uma taxa / que é a variação da concentração / ou do reagente pelo tempo / (1s) / ou a variação da
concentração do produto / pelo tempo / (5s) / porque vejam / o tubo não está andando/ ((gesticula ao se
referir a esse improvável movimento do tubo de ensaio)) / o reagente não está mudando de lugar / tá no
mesmo recipiente / então o que a gente pode medir / é quanto eu tenho de reagente / quanto eu tenho no
produto / ((58'02")) [...]
95
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5.2.2 - COMPARAÇÃO B
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introduzir a ideia de velocidade global das reações químicas, seguida do quadro 20 que sintetiza
o mapeamento estrutural dessa comparação.
Transcrição do episódio
((76'45")) [...] bom / calcular a velocidade / desde que eu tenha os valores é muito fácil / eu pego a variação
e divido pela variação de tempo / é uma velocidade média / mas tem um incômodo aí / ((COMPARAÇÃO B -
77'00")) imagina a gente pensar um carro / onde o banco da frente / quando o carro tá em
movimento / tem uma velocidade / o banco de trás tem outra / né / uma roda tem uma velocidade /
uma outra roda tem outra / fica uma coisa estranha! / o quê que a gente imagina? / que o objeto
como um todo tenha... uma velocidade / e aqui / nós tivemos um valor para o nitrogênio / tivemos um
valor para o hidrogênio / e tivemos outro valor para a amônia! / (2s) / a ideia / é que a velocidade da reação
/ fosse um único valor / independente de qual substância eu levaria em consideração / (2s) / então vejam o
meu problema aqui / eu tenho que transformar isso / num único valor / como fazer isso? / (4s) / ora /
alguém pode sugerir assim / vamos fazer a média / mas não tem sentido / porque cada substância tem sua
dinâmica / nós temos que pensar assim / o quê que fez cada substância ter uma velocidade diferente?
/((78’05”)) / o que levou / cada uma / ser modificada / ou para mais ou para menos / se era produto ou
reagente / de uma maneira diferente? / (3s) / não foi os coeficientes do balaceamento? /((78’20”)) [...]
Quadro 20 – Mapeamento estrutural da comparação B.
DOMÍNIO BASE CORRESPONDÊNCIAS DOMÍNIO ALVO
5.2.3 - COMPARAÇÃO C
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Transcrição do episódio
((87’00”)) [...] essa estrutura metálica / que é de aço / que protege aqui o projetor / ((o professor aponta
para o projetor instalado no teto da sala de aula)) / ((COMPARAÇÃO C – 87’05”))por que nós pintamos
passando uma camada de tinta? / ((alguns alunos respondem mas a câmera não capta o áudio)) / pra não
enferrujar / e por que não enferruja? / (1s) / o quê que é enferrujar? / é o oxigênio entrando em contato com
o aço / com o ferro do aço / então é a colisão do oxigênio com o ferro do aço / e nessa colisão o oxigênio
arranca elétrons do ferro / aí o ferro vira um cátion e o oxigênio vira um ânion e forma uma substância
iônica que é o óxido de ferro / e na hora que eu pinto / passo uma camada / uma película / ((87’42”))ponho
uma pele sobre o ferro/ o oxigênio consegue bater no ferro? / se não tem o oxigênio colidindo com o ferro /
se não há colisão entre os reagentes / não há reação / por isso a pintura((87’58”)) […]
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relação de primeira ordem (r1) e de ter como foco uma relação de segunda ordem (R1),ambas
mapeadas no quadro 21.
Transcrição do episódio
((88’50”)) [...]então veja bem / nós temos um primeiro ponto importante / nós acreditamos que toda a
matéria é formada por átomos e / no caso mais importante as moléculas / essas moléculas estão em
movimento e o que vai explicar as transformações dos materiais é que as moléculas... colidem entre si / (2s) /
mas será que qualquer colisão vai levar a uma transformação? / será que qualquer colisão vai levar o
reagente a virar produto? / não / colisões vão acontecer /((COMPARAÇÃO D))/a maioria das colisões não
altera os materiais / é como uma bola que a gente joga na parede / bate na parede / mas a parede
continua parede e a bola continua... bola ((89’33”))/ na verdade / a colisão que leva à reação é chamada
de colisão eficaz ou também chamada de colisão efetiva / (3s) / acontece toda sorte de colisões quando os
reagentes estão em contato / particularmente... ((expressão não compreendida)) / mas / (2s) / não é toda
colisão que vai levar a transformação / é uma colisão bem especial / essa colisão é chamada de colisão eficaz
colisão efetiva / e aí nós vamos ver que condições são necessárias para que essa colisão seja eficaz / essa
colisão seja efetiva / (1s) / geralmente / quando nós queremos enxergar / quando nós queremos visualizar o
que tá acontecendo / nós trabalhamos com a noção de modelo / o nosso modelo é o modelo cinético-
molecular / ((COMPARAÇÃO E - 90'42"))nós estamos imaginando as moléculas / vamos imaginar
moléculas monoatômicas pra facilitar / como se fossem esferas / que na verdade estão colidindo
((90’51”))/ então / geralmente quando a gente quer dar uma dimensão de um choque eficaz / nós criamos
um modelo / ou seja / ((COMPARAÇÃO F - 91'00"))pra gente poder comparar / que é... / vamos dizer
assim... / no caso... é... / uma analogia / um modelo analógico / de algo que acontece por colisão / e
todo mundo conhece um jogo que a gente chama de bilhar ou sinuca / é um jogo que na verdade ele
funciona a base de uma colisão / uma bolinha branca que tem que colidir com outra bolinha / e essa
outra bolinha após a colisão tem que se dirigir a uma determinada caçapa / (1s) /então nós
comparamos de certa maneira a colisão eficaz a colisão efetiva com essa situação do jogo de bilhar / o quê
que é necessário para que a colisão seja efetiva? / no jogo de bilhar a colisão efetiva é aquela que a
bolinha vai pra caçapa / qualquer outra colisão que não fizer isso é uma colisão que... não tem
praticidade pro jogo / então nós vamos dizer o seguinte / a primeira coisa fundamental é que a geometria /
o momento do choque / seja uma geometria favorável/ (6s) /ou seja / se a gente pensar no jogo / não é
atoa que um jogador ele fica posicionando olhando o jogo / pensando na estratégia para fazer o
movimento / pra que a colisão da bola branca e a bola que ele quer colocar na caçapa tenha
geometria adequada / porque depois da colisão a bola tem que ir num determinado... / vamos dizer
assim / é... sentido / uma determinada orientação / que é exatamente o caminho da caçapa/ (2s) /
então a geometria / ou seja / o momento / a maneira como o choque se dá / tem que ser favorável para a
transformação / e a maioria dos choques não tem essa geometria favorável((92’56”)) / depois nós vamos
tentar entender isso melhor / (3s) / uma segunda situação aqui / uma condição que é necessária e
insuficiente / ou seja / uma sozinha não adianta / é que tenha uma energia mínima necessária / (14s)/
((continuação da COMPARAÇÃO F - 93'28'')) ora porque, pegando a situação do jogo / não adianta a
colisão ter sido numa geometria favorável se a bolinha parar no meio do caminho / (2s) / ela tem
que sair / não só na direção correta / mas com uma energia mínima pra chegar até a caçapa e
entrar dentro da caçapa / pode ter mais energia do que isso / o que não pode é ter... / [menos] /
menos / eu tenho que ter uma energia mínima necessário pra isso / (2s) / no nosso caso aqui / voltando
à reação / diferentemente do jogo / o jogo nos ajuda mas a situação aqui é bem distinta do jogo
((93'57'')) / nós temos uma situação que nós temos que entender o seguinte / ora /quando eu tenho uma
reação acontencendo / olha aí a ideia! / nós temos na verdade / antes de virar produto / nós temos aqui o
momento do choque / (2s) / entre os reagentes / e se o choque for um choque eficaz / eu vou ter os...
produtos / (3s) / qual a diferença entre reagentes e produtos? / ora / as ligações que eu tenho nos reagentes
99
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/ são diferentes das ligações que eu tenho nos produtos((94’42”)) / [...] ((neste intervalo o professor
desenhou representações de uma reação química no quadro)) / ((96’53”))no momento do choque / tem
que começar a quebrar a ligação dos reagentes e tem que começar a ter a formação das novas ligações que
estão nos produtos / então esse momento do choque / que é bom pensar que o choque é efetivo / tá certo? /
eu vou colocar aqui como um intermediário / se eu não tiver um choque efetivo volta a ser reagente / e não
vira produto / ((retomada da COMPARAÇÃO D – 97’20”))é a bolinha que bateu na parede e voltou /
então vamos imaginar um momento muito especial / que é o momento do choque / o hidrogênio ainda tá
ligado a hidrogênio / mas o cloro também tá ligado ao cloro / e nesse momento aqui / eles sofreram a colisão
/ é o momento do choque / (2s) /((COMPARAÇÃO G - 97'40"))repare que toda vez que tem um choque / o
momento do choque é o momento mais energético que a gente tem / quem já passou por um acidente sabe
disso! / na hora do choque a gente sente toda a energia que na verdade é maior do que eu tinha no
início e maior do que eu tinha no final((97’58”)) [...]
O quadro 22 apresenta o mapeamento estrutural da comparação D que está situada no
início do trecho de fala transcrito acima.
Quadro 22 – Mapeamento estrutural da comparação D.
DOMÍNIO BASE CORRESPONDÊNCIAS DOMÍNIO ALVO
100
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O mapeamento estrutural da comparação Eindica que lidamos, nesse caso, com uma
similaridade por mera aparência. Isso porque essa comparação está baseada,
predominantemente, na correspondência entre atributos dos dois domínios e não em relações.
101
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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A primeira parte dessa comparação pode ser compreendida como uma analogia
estruturalmente consistente, sistemática e com foco essencialmente relacional, tendo em vista as
cinco relações de ordem superior identificadas no quadro 24 pelos símbolos R1 a R5. Fazendo
uma análise dessas relações, pudemos notar que R1 e R2 são relações de segunda ordem
baseadas no atributo A1 e na relação de primeira ordem r1. Tanto R1 e R2 podem ser classificadas
como relações causais: R1 explica a diversidade das colisões possíveis e R2 a existência de
colisões efetivas ou não efetivas, segundo o critério pertinente a cada domínio (encaçapar a bola
no jogo de sinuca ou transformar reagente em produto na reação química). R3, R4 e R5 são três
relações de ordem superior: (i) R3 compara quantidades de choques com geometria favorável ou
desfavorável; (ii) R4 vincula a quantidade de choques com geometria desfavorável e a
quantidade de choques ineficazes; (iii) R5 descreve o resultado dos choques com geometria
favorável.
O quadro 25 apresenta o mapeamento estrutural das novas correspondências
estabelecidas na continuação da comparação F. Enquanto na primeira parte dessa comparação o
professor abordou o papel da geometria dos choques em uma transformação química, na
segunda parte o professor pôs em destaque a energia dos choques, segundo a teoria das colisões.
102
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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A relação de ordem superior R8, construída a partir do atributo A3 com a relação R7,
indica algo não compartilhado entre bolas de sinuca e moléculas: as últimas possuem átomos
agrupados em ligações químicas que são rompidas durante uma colisão efetiva; as primeiras são
esferas maciças e indivisíveis, tanto antes, quanto após as colisões. Essa limitação da analogia F,
presente em nosso mapeamento como uma diferença alinhável, não é explicitada pelo professor,
embora possamos entender que tenha sido sugerida por ele, quando ele diz que “voltando à
reação / diferentemente do jogo / o jogo nos ajuda ((a entender as reações químicas)), mas a
situação aqui é bem distinta do jogo”. A presença do sinal gr|fico“X” sobre as setas bidirecionais
que indicam as correspondências identificadas com o atributo A3 e com a relação de ordem
superior R8 indica essa diferença alinhável.
103
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Automóveis Moléculas
5.2.5 - COMPARAÇÃO H
Transcrição do episódio
((110’30”)) [...] os reagentes / colidem / e se a colisão for eficaz / vamos ter a formação dos... produtos / (1s)
/ repare / ((COMPARAÇÃO H - 110'47")) que a energia de ativação vai ser uma barreira pra reação / se
a energia de ativação for pequena / se o valor aqui for muito pequeno / vai ser mais fácil ou mais difícil pra
reação se processar? / [vai ser mais difícil]((alguns alunos respondem))se for pequena vai ser mais
difícil?![vai ser mais fácil]((outros alunos respondem)) / veja / ((o professor se dirige ao gráfico e aponta
para o segmento de reta que representa a energia de ativação))essa energia eu vou ter que fornecer / se
não chegar até aqui em cima / não tem reação / se o morrinho for menor aqui ((111'13")) / o quê que vai
acontecer? / é mais fácil de subir ((111'18")) / é uma energia pequena que eu tenho que fornecer / e se eu
tenho uma energia pequena / essa reação vai ser rápida / se a energia de ativação for muito grande/
((111'32")) vai ser muito difícil de subir / pra eu chegar do outro lado eu tenho que ir até lá em cima
/ o que vai acontecer com o tempo de ir até lá em cima e de chegar do outro lado? / vai ser maior
((111'43")) / se eu aumento o tempo o que acontece com a velocidade? /[diminui] ((alguns alunos
respondem)) diminui / então vejam / a velocidade de uma reação / é inversavemente proprocional / à
energia de ativação / quanto maior a energia de ativação / mais lenta é uma reação / quanto menor é a
energia de ativação / mais rápida é uma reação / (2s) /((112'14"))então a energia de ativação é como se
fosse uma... / barreira pra reação / eu tenho que vencer essaenergia de ativação pra que a reação se
processe mais rápido / ou se eu quiser que a reação demore mais / o quê que eu tenho que fazer? / aumentar
104
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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essa energia de ativação((112’33”)) / (2s) / bom / é um pouco o que nós vamos discutir sobre os fatores que
afetam a velocidade [...]
Quadro 27 – Mapeamento estrutural da comparação H.
DOMÍNIO BASE CORRESPONDÊNCIAS DOMÍNIO ALVO
105
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5.2.6 - COMPARAÇÃO I
Transcrição do episódio
((120'57")) [...] a temperatura / muitos acham que mede o calor / a temperatura não mede o calor! / a
temperatura mede o estado de agitação do sistema / a temperatura tá relacionada com a energia cinética
média / ((COMPARAÇÃO I - 121'11")) / porque as moléculas / mais ou menos / a gente pode pensar
estatisticamente / é que nem aluno no dia de prova / (1s) / tem moléculas que são rápidas/ (1s) / como
tem muitos alunos que tiram notas boas nas provas / mas tem moléculas que são lentas / como tem
alunos que tiram notas mais baixas nas provas / (2s) / ou todos alunos terão a mesma nota nas
provas? /((alguns alunos riem baixo)) / as moléculas não têm a mesma velocidade / as moléculas não se
movimentam da mesma maneira/ (1s) / então / a temperatura / ela está relacionada / com aquilo que nós
chamamos de energia cinética média / ((121’48”)) / ((nesse instante o professor escreve na lousa as letras
“Ec” e inscreve um traço acima dessas letras)) / quando eu faço esse traço em cima / nós estamos falando
da energia cinética média! / das moléculas / não de uma em particular / significa que tem moléculas que tem
energia maior do que a média / como também significa que tem moléculas que tem energia... / menor do que
a média / (1s) / mas a maioria das moléculas / ((o professor caminha em direção à inscrição feita no
quadro sobre a energia cinética média)) / estão próximas da... média ((o professor executa um gesto
referencial dêitico em direção à inscrição)) / por isso a temperatura é uma coisa... bastante importante / [...]
Quadro 28 – Mapeamento estrutural da comparação I.
DOMÍNIO BASE CORRESPONDÊNCIAS DOMÍNIO ALVO
Alunos Moléculas
Além disso, identificamos duas relações de ordem superior (R1 e R2) que conectam a
segunda relação de primeira ordem r2 ao único atributo relevante e à relação r1,
respectivamente. Essa característica da comparação I atende ao princípio de sistematicidade
estabelecido como uma marca das analogias por Gentner e colaboradores. Por fim, o
mapeamento estrutural da comparação mostra claramente que o foco do professor ao construí-
la foi, essencialmente, relacional. Em outras palavras, o professor se utilizou de relações que ele
explicitou no DB como um recurso discursivo para estabelecer relações correspondentes no DA.
5.2.7 - COMPARAÇÃO J
13Jacobus Henricus van't Hoff (1852 – 1911) foi um químico holandês e o primeiro vencedor do Prêmio
Nobel de Química, em 1901. Ele é mais conhecido por suas contribuições no campo da cinética química,
equilíbrio químico, pressão osmótica e estereoquímica.
107
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Pessoas/carros Moléculas
Acidentes Choques
Aceleração Aquecimento
5.2.8 - COMPARAÇÃO K
Transcrição do episódio
((127'45")) [...] a temperatura mexe muito com a velocidade / (2s) / e aí a pessoa geralmente né / abre
ainda o iogurte e deixa de lado né / e depois de uma hora volta / e continua a se alimentar né /
((COMPARAÇÃO K – 128’00”))e se eu colocar na geladeira a reação volta pra trás? / ela diminui / mas o
que já reagiu... / já reagiu / a geladeira não cuida disso / ((uma aluna faz uma pergunta que não pudemos
escutar)) / é / na verdade não é que não pode / ... não tem muito mais efeito / não vai adiantar nada / o que
é a ilusão que a pessoa tem / põe na geladeira e aí volta pra trás / como se fosse uma máquina do tempo
/ não é / geladeira é uma máquina de gelar / não é uma máquina do tempo / o que aconteceu / aconteceu
108
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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/ a geladeira não volta pra trás / é lógico que a partir daí / que pus na geladeira / a velocidade pode ser
mais lenta / mas o que já reagiu / já reagiu((129’42”)) [...]
Quadro 30 – Mapeamento estrutural da comparação K.
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Tempo Temperatura
O mapeamento de K mostra uma estrutura curta que nos permite dizer que essa é uma
comparação relativamente simples. Contudo, também mostra que o foco dessa comparação é
relacional. Por essa razão, podemos considerá-la como uma analogia. A comparação K enfatiza
uma diferença relacional entre os domínios e, nesse sentido, poderia ser classificada, segundo os
critérios de Ferry & Nagem (2008), como uma contra-analogia. Contra-analogias são
comparações com ênfase em diferenças alinháveis entre os dois domínios, sejam essas
diferenças associadas a relações ou atributos.
5.2.9 - COMPARAÇÕES L E M
Transcrição do episódio
((130'07")) [...] pra vocês entenderem / o que tá acontecendo / eu preciso mostrar um gráfico um pouquinho
diferente / o gráfico aqui / é relacionar da seguinte maneira / é um gráfico onde eu tenho / o valor da
energia cinética / vamos pensar assim / pode ser entalpia / e aqui / o número de partículas que têm essa
energia (5s) / quando eu pego / um material que está a uma certa temperatura / o gráfico / mais ou menos
/ tem essa característica aqui oh (8s) /((o professor desenha no quadro uma curva de uma distribuição
normal, também conhecida como curva gaussiana)) /((COMPARAÇÃO L))/ vejam / essa curva que tem a
forma de sino (1s) / né / parece um sino (2s) / é uma curva que a gente chama Gauss / Gauss foi quem
estudou muito essa distribuição (1s) /((COMPARAÇÃO M – 131’04”))/ isso acontece nas provas também
/ quando vocês fazem provas / vocês vão ter alunos que tiraram notas menores / tem alunos que
tiraram notas maiores / mas a maioria dos alunos estão na média / se a gente for ver a média da
109
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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energia aqui oh / essa aqui seria a energia cinética média / é aonde eu tenho a maioria das moléculas (1s) /
o grande número de moléculas está próximo da média / um pouquinho antes / um pouquinho depois /
poucas moléculas estão com notas mais baixas / poucas estão com notas mais... altas / mas a maioria tá
muito próxima/ (3s) / só / que pra reagir / não é a energia cinética média / o quê que é / qual é a energia
que é necessária pra reagir? (2s) / qual o nome que nós damos à energia necessária pra reagir? ((alguns
alunos responderamenergia de ativação)) / energia de ativação / então quando a gente olha a energia de
ativação / vamos imaginar que nesse caso / a energia de ativação seja essa aqui oh/ (1s) / significa / que só
essas moléculas que estão pra cá / podem reagir / por que que essas moléculas podem reagir? / (3s) / porque
essas moléculas têm energia igual / ou superior à energia de / ativação/ (3s) / tá claro isso? / de todas essas
moléculas / só essas podem reagir / imagine o seguinte / imagine a seguinte situação / nós fizemos uma
prova / aqui na sala / (2s) / mas os alunos não tiveram um bom resultado / (1s) / a média da turma é
essa aqui ((o professor faz um gesto dêitico sobre um ponto do gráfico desenhado no quadro))/ mas a
média / que é considerada pra aprovação / é essa daqui ((novo gesto dêitico))/ então só esses alunos
daqui ((idem))/ que estão com nota igual ou superior à média / os sessenta porcento / (1s) / tá claro?
/ mas a média da turma / ficou bem abaixo / da média / que é a média de aprovação / (3s) / bom /
vamos imaginar agora que eu aumentei a temperatura / vamos imaginar então uma nova prova que os
alunos fizeram e foram melhor / (1s) / então o que acontece / então eu tenho aqui uma temperatura 1/ e
estou imaginando uma temperatura 1 / menor que uma temperatura 2 / então agora eu vou pegar essa
mesma curva / essa mesma distribuição / pra uma temperatura maior / quando eu tenho uma temperatura
maior / eu vou pôr em vermelho/ (3s) / eu vou ter essa situação aqui oh/ (5s) / olha o que acontece / eu
ainda tenho alunos que tiram nota baixa / mas é bem menor do que antes / mas a média da turma /
a média da turma / é essa aqui oh/essa é a energia cinética média / na temperatura 2 / essa aqui é na
temperatura 1/ aqui eu tenho a temperatura 2 / (5s) / só que a média da aprovação muda de uma prova
pra outra? /a energia de ativação de uma reação / é fixa / a energia de ativação ainda continua sendo essa
/ então agora nessa nova temperatura / quais moléculas é que podem reagir?/ (1s) / ora / são as moléculas
que têm energia igual / ou superior à energia de ativação / que não muda / isso aqui é fixo / não muda com
a temperatura / então todas essas moléculas aqui / toda essa região que eu vou marcar aqui de verde / tem
as moléculas que podem reagir/ (3s)/ então quando eu mudo a temperatura / eu não só aumento a
velocidade / tem um fator a mais / o quê que aumentou? / aumentou muito o número de moléculas / que têm
energia cinética igual ou superior à energia de... ativação / e se elas têm energia cinética igual ou maior que
a energia de ativação / elas podem... / ((alguns alunos responderam algo que não pudemos escutar))/ e
irão reagir / por isso / a velocidade que eu vou ter aqui na temperatura T2/ vai ser muito maior / que a
velocidade que eu tinha na temperatura... T1 / vocês estão entendendo o fenômeno? ((135'37")) [...]
Quadro 31 – Mapeamento estrutural da comparação L.
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Sino Gráfico
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Alunos Moléculas
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Nota: (*) No DB, a relação R9 não foi enunciada pelo professor, mas sua presença na comparação M pode ser
inferida. Trata-se do mesmo caso observado na relação R1 mencionada no quadro 22, na relação R3
mencionada no quadro 23, bem como no atributo A3 e na relação R8 mencionados no quadro 25.
Leg.: E = elementos; A = atributos; r = relações de primeira ordem; R = relações de ordem superior
Fonte: Quadro produzido pelo autor.
112
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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De acordo com os dados do quadro 33 e com discussões feitas após cada mapeamento,
podemos afirmar que, nas aulas sobre Cinética Química registradas no 5º encontro, o professor
construiu ao menos onze analogias. Entre as analogias construídas pelo professor, duas se
destacam como sendo comparações mais sofisticadas em termos da quantidade e da
complexidade das relações de ordem superior colocadas em correspondência: as analogias F e
M.
ANALOGIA I
*A analogia Ifoi construída para tratar da temperatura como uma medida relacionada à distribuição da energia
cinética entre moléculas de um sistema. Fonte: Elaborada pelo autor.
113
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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A figura 14 também nos auxiliou na análise dos fatores semânticos envolvidos entre os
elementos, atributos e relações colocados em correspondência na construção da analogia I, que
corresponde à segunda restrição apresentada por Holyoak & Thagard (1989). A análise do
contexto dessa analogia e dos significados das entidades mapeadas nos permite dizer que os
elementos alunos e moléculas são semanticamente similares, uma vez que ambos podem ser
compreendidos como entidades individuais caracterizadas por determinados atributos. Uma
segunda similaridade semântica pode ser notada entre os elementos nota e energia cinética, pois
ambos são entidades mensuráveis. Por fim, também há similaridade semântica entre a média
114
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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das notas obtidas por um conjunto de alunos em uma prova e a média dos valores de energia
cinética exibidos pelas moléculas em um sistema reacional.
Nem todos os alunos têm a mesma nota em uma prova – (r2 da base)
Nem todas as moléculas têm a mesma energia cinética em um sistema reacional – (r2 do alvo)
Há alunos com bom desempenho e alunos com mau desempenho – (R1 da base)
Há moléculas que se movimentam rapidamente e moléculas que se movimentam lentamente– (R1do alvo)
Entre os valores de energia cinética das moléculas há uma média– (R2do alvo)
ANALOGIA M
A partir dessas duas novas entidades introduzidas nos dois domínios (A2 e E4), o
professor, imediatamente, criou quatro novas relações de ordem superior: R3, R4, R5 e R6. A
correspondência R3 articulou a relação de ordem superior R1, que já tinha sido enunciada na
construção da analogia I, com o atributo A2 introduzido na construção da analogia M. A
correspondência R4 articulou o novo elemento E4 (primeira prova / primeira condição de
temperatura) com a relação R2 retomada da analogia I (a nota média dos estudantes / a energia
cinética média das moléculas). A correspondência R5 foi construída como uma relação entre R4 e
o atributo A2 (nota mínima necessária para aprovação / energia mínima necessária para
ocorrência da reação).
O professor construiu a relação R5 ao dizer: “mas a média da turma / ficou bem abaixo
/ da média / que é a média de aprovação”. Nesse contexto, diante do gráfico que ele havia
desenhado na lousa, o professor estabeleceu uma nova correspondência entre os domínios da
analogia ao destacar a pequena quantidade de alunos com nota igual ou superior à nota mínima
necessária para a aprovação, no DB. Essa correspondência, codificada como R6, articula a relação
de segunda ordem R1, que trata do desempenho dos estudantes, com o elemento E4 e o atributo
A2.
116
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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melhor”.
Outra correspondência, que nós codificamos como R8, foi estabelecida, logo em seguida,
pelo professor, quando ele disse: “mas a média da turma / a média da turma / é essa aqui oh
/essa é a energia cinética média / na temperatura 2 / essa aqui é na temperatura 1”. Essa oitava
relação de ordem superior apresenta argumentos semelhantes àquela que nós codificamos como
R4: enquanto R4 relaciona a relação de ordem superior R2 com o elemento E4, a R8 se refere a
uma relação entre R2 (que foi retomada da analogia I), com o elemento E5que foi introduzido
pelo professor durante a construção da analogia M.
O final da analogia M sugere que o professor começou a estabelecer uma décima relação
de ordem superior no DA que pudemos mapear a partir da seguinte paráfrase: o aumento da
quantidade de moléculas com energia cinética igual ou superior à energia de ativação (decorrente
do aumento da temperatura do sistema reacional) aumenta a velocidade da reação química. Essa
décima relação não gerou uma correspondência, tendo em vista que nós não encontramos a
elaboração de argumentos correspondentes no DB. A ausência dessa correspondência, a nosso
ver, não comprometeu a construção da analogia M.
correspondência “um a um” entre DB e DA. Verificamos também que ela é sistemática, pois
envolveu a construção de várias relações de ordem superior capazes de conectar as relações
enunciadas pelo professor.
(1ª expressão) – R9 {R8 [R2 (r1, r2), E5], R7 [R1 (r2, A1), R’2 (r1, r2), A2, E5], r3 (A2, E5)}
118
ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
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A respeito das múltiplas restrições enunciadas por Holyoak & Thagard (1989), chegamos
à conclusão de que, da mesma forma como ocorreu com a analogia I, a analogia M atende às
condições básicas de isomorfismo estrutural na medida em que: 1o_ cada elemento do seu
domínio alvo (moléculas / energia cinética / sistema reacional) corresponde a somente um
elemento do domínio base (alunos / notas / prova); 2o_ não há dois ou mais elementos do
domínio alvo que correspondam a um mesmo elemento do domínio base. Assim, por exemplo, a
média da energia cinética das moléculas em um sistema reacional corresponde única e
exclusivamente à média entre as notas obtidas por estudantes em uma prova, seja na primeira
condição de temperatura (na primeira prova aplicada) ou na segunda condição (na segunda
prova aplicada).
Aumento da temperatura do sistema como uma nova condição para ocorrência da reação – (E5 do alvo)
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Entendemos que o professor foi coerente com o propósito de M, quando ele disse: “então
quando eu mudo a temperatura / eu não só aumento a velocidade / tem um fator a mais / o quê
que aumentou? / aumentou muito o número de moléculas / que têm energia cinética igual ou
superior à energia de... ativação / e se elas têm energia cinética igual ou maior que a energia de
ativação / elas podem... / ((alguns alunos responderam algo que não pudemos escutar))/ e irão
reagir”. Dessa forma, ele terminou a construção da analogia M.
121
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-----------------------------------------------------------|--------------- ----------------
20 a energia de ativação seja essa aqui oh/ (1s) / significa / que só essas moléculas que estão pra cá /
---------------------------------------------| | |---------------------------- ---------------------------
21 podem reagir / por que que essas moléculas podem reagir?/ (3s) /
----------------}{ | ---------------------------------------------------}
22 porque essas moléculas têm energia igual / ou superior à energia de... ativação (3s) / tá claro isso? /
{ |~~~~~~~~~~~~~~~~| | |~~~~~~~ | /*********| ~~~| /****|-.-.|~~~| |-.-}
23 de todas essas moléculas / só essas podem reagir / imagine o seguinte / imagine a seguinte situação /
{ ~~~~~~~~~~~~~~| | /**********|-.-.}{ ~~~| /*************************
24 nós fizemos uma prova / aqui na sala /(2s) / mas os alunos não tiveram um bom resultado /(1s) /
*******************|.-.-.-.-.-.-.-.-| | |~~~~~~~~| | /*****|-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-}
25 a média da turma é essa aqui / mas a média / que é considerada pra aprovação / é essa daqui /
{ ~~~~~~~~~~~| | |~~| | ***/****************************************|
26 então só esses alunos daqui / que estão com nota igual ou superior à média / os sessenta porcento /(1s) /
~~~~~~~~~~~~~~~~| | |~~~~~~~~~~~| | |~~~| | |-.-.-.-.|~~~| /***|-.-.-.-.-}{~~~|
27 tá claro? / mas a média da turma / ficou bem abaixo / da média / que é a média de aprovação / (3s) /
|-.-}{~~~~| /********| ~~~~~~~~~| | /****************|-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.}{
28 bom / vamos imaginar agora que eu aumentei a temperatura /
~~~~~| /**************|~~~~~~| | ****************}
29 vamos imaginar então uma nova prova que os alunos fizeram e foram melhor / (1s) /
{~~~~| | /*******|~~~~| *****/********************|~~~| |-.-.-.-.}
30 então o que acontece / então eu tenho aqui uma temperatura 1 / e estou imaginando uma temperatura 1 /
{ | -------------|--------------------------------------------- ---------------------------------------------
31 menor que uma temperatura 2 / então agora eu vou pegar essa mesma curva / essa mesma distribuição /
------------------------------------}{ | ~~~~~~~~~~~~~~~~| /***************************|
32 pra uma temperatura maior / quando eu tenho uma temperatura maior / eu vou pôr em vermelho / (3s) /
-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.}{| ----------------------------------------------------------| | -----------------------
33 eu vou ter essa situação aqui oh (5s) / olha o que acontece /
----------------------------------------------}{ | | ---------------------
34 eu ainda tenho alunos que tiram nota baixa /(2s) / mas é bem menor do que antes /
{~~~| | /**************************************************|-.-.-.}
35 mas a média da turma / a média da turma / é essa aqui oh /essa é a energia cinética média /
{ | -------------------------------------------------------------------------------------------------
36 na temperatura 2 / essa aqui é na temperatura 1/ aqui eu tenho a temperatura 2 / (5s) /
-------------------------------------------------------| | |-------------------- ---------------| | }
37 só que a média da aprovação muda de uma prova pra outra?/(2s)a energia de ativação de uma reação /
{~~~~~~| |-.-.-.-.-.-|~~~| | **********|-.-.-.-.-.-.-.}{ ~~~| /**********************|
38 é fixa / a energia de ativação ainda continua sendo essa / ( 1s )/então agora nessa nova temperatura /
~~~| |-.-.-| | ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~| |-.-}{ | | |-.-.-.-.-| | ~~~~
39 quais moléculas é que podem reagir? (1s) / ora / são as moléculas que têm energia igual /
~| /*******|-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-}{ |---------------------------- --------------------
40 ou superior à energia de ativação / que não muda / isso aqui é fixo / não muda com a temperatura /
| | | /*******|-.-.-.-.| | | /***|----- ----| | -------------------}
41 então todas essas moléculas aqui / toda essa região que eu vou marcar aqui de verde /
{ | ----------------------------------------------------------------------------------------
42 tem as moléculas que podem reagir/ (3s) / então quando eu mudo a temperatura /
-------------------------------------------}{ | |~~~~~~~~~~~~~~| /*************|
43 eu não só aumento a velocidade / tem um fator a mais / o quê que aumentou? /
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5.4.3 - DESCRIÇÕES DOS MODOS USADOS PELO PROFESSOR NAS ANALOGIAS I & M
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O quadro 38 a seguir possui a mesma estrutura do quadro anterior e foi concebido para
que pudéssemos descrever modos de comunicação usados pelo professor durante a construção
da analogia M. Mais uma vez, a numeração dos ícones dispostos na primeira e na segunda coluna
do quadro acompanha aquela que compõe a transcrição multimodal do episódio apresentada na
seção 5.4.2 deste capítulo.
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{ / / }
{ / }
{ / / }
-
/ }
Fonte: Quadro produzido pelo autor.
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Fonte: Quadro produzido pelo autor.
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elementos e atributos, quanto a construção das novas relações de ordem superior na analogia M
envolveram a orquestração de múltiplos modos de comunicação. O mapeamento multimodal
dessa analogia evidencia a recorrência de determinados modos. O quadro 41 permite comparar
as duas analogias que nós analisamos quanto a frequência que determinados modos acionais e
gestuais foram usados pelo professor, em orquestração com o modo verbal oral.
Quadro 41– Número de vezes em que o professor utilizou modos gestuais e acionais na
construção das analogias I e M.
Inscrição na lousa 0 11
Movimentação da cabeça 3 0
de descrição figurativa 0 1
de partição 0 5
performativos 1 2
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Ao analisar os gráficos da figura 17, nós podemos constatar que a principal diferença
entre as analogias I e M não está na frequência de utilização dos modos de comunicação gestuais
e acionais, que a última linha do quadro 41 já mostrava ser similar. A diferença que fica evidente
diz respeito à diversidade dos tipos de gestos e ações utilizadas pelo professor.
ANALOGIA I
De acordo com o quadro 18, analogia I foi construída durante um episódio que durou 51
segundos. Durante esse episódio, o professor orquestrou a fala com sete gestos pragmáticos, um
gesto referencial, e várias movimentações com a cabeça. As mudanças de postura corporal e a
movimentação proxêmica ocorreram somente no início e no final do episódio.
A construção da analogia I foi marcada pela orquestração entre o modo verbal oral e os
modos gestuais com funções pragmáticas de modalização. O mapeamento multimodal dessa
analogia que apresentamos no quadro 39 evidencia a presença e a relevância dos gestos
pragmáticos de modalização no estabelecimento das correspondências entre as relações que
compõem a estrutura relacional comum, principalmente na construção das relações r2 e R1.
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As ações que seguiram esse gesto foram executadas em orquestração com uma fala
centrada no domínio alvo da analogia. Ou seja, a enunciação não fez referência direta à pergunta
recém apresentada, mas sim aos diferentes graus de agitação das moléculas no sistema. Com as
ações realizadas, ele poderia ter expressado o seu grau de concordância a respeito do
desempenho dos estudantes em provas, mas não o fez. O professor movimentou sua cabeça para
ambos os lados sinalizando seu grau de concordância sobre aquilo que ele estava dizendo a
respeito dos movimentos das moléculas. Entendemos que o professor agiu dessa forma,
provavelmente, por ter considerado que o seu propósito com a analogia foi alcançado com a
reação dos estudantes à pergunta que ele apresentara.
ANALOGIA M
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fase contempla, ainda, todas as relações que foram construídas após a introdução do elemento
E5.
A centralidade dada pelo professor à interação com o gráfico que foi realizada por meio
de gestos referenciais dêiticos, provavelmente, contribuiu não somente para a construção das
primeiras relações de ordem superior acerca das distribuições gaussianas, ora dos valores das
notas, ora dos valores de energia cinética, mas também para o estabelecimento das
correspondências entre essas relações, devido à coerência textual que caracterizou essa
interação comunicativa.
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de cabeça equivale a um gesto referencial dêitico que ele poderia ter feito com uma das mãos.
Esses vários modos orquestrados com a fala também contribuíram para o professor marcar a
introdução da energia de ativação como um importante atributo do domínio alvo. As imagens
capturadas do registro em vídeo ilustram a orquestração dos modos que compõem esse
momento da enunciação. A figura 18 resgata tal momento.
Figura 18 – Imagens capturadas do registro em vídeo dos modos 18a, 19a, 20a e 20b, conforme
os códigos dos quadros 36 e 38.
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possibilidade oferecida pelo meio material sobre o qual ele poderia: 1º- fazer inscrições, uma a
uma; 2º- interagir com as mesmas e complementá-las na medida em que introduzia novos
elementos, ora no domínio alvo, ora no domínio base da analogia. O quadro branco da sala de
aula pode ser compreendido como um meio moldado pela cultura escolar em uma forma
socialmente organizada, sobre o qual os sujeitos, professores e estudantes, interagem
orquestrando modos visuais (inscrições, projeções de imagens, layout, uso de cores) com os
modos verbais oral e escrito.
A terceira fase da construção da analogia M foi iniciada quando o professor, após ter
construído a relação entre a nota média dos alunos na primeira prova aplicada e a nota mínima
necessária para aprovação, realizou um comportamento proxêmico e executou um gesto
pragmático performativo para, primeiro, convidar os estudantes a imaginarem uma nova
condição de temperatura do sistema reacional e, segundo, imaginarem uma nova prova em que
os estudantes tiveram um resultado melhor. Dessa forma, ele introduziu o elemento E 5 nos dois
domínios da analogia.
No início dessa terceira fase, além da interação com o gráfico por meio de gestos
referenciais dêiticos, outro modo marcou a construção das novas relações construídas a partir
do elemento E5, em ambos os domínios: as inscrições feitas sobre o gráfico. O professor não
somente desenhou com um pincel vermelho uma nova curva gaussiana deslocada para a direita
em relação à primeira curva, mas também fez uma série de inscrições sobre as duas curvas. A
figura 19 apresenta algumas imagens capturadas a partir do registro em vídeo que ilustram,
entre outros modos, algumas inscrições feitas pelo professor.
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Figura 19 – Imagens capturadas do registro em vídeo dos modos codificados nos quadros 36 e
38 como 31b, 32a, 32b, 33a, 34a e 35a.
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ANALOGIA I
Significado Ideacional
O significado ideacional da analogia I é constituído por um conjunto de ideias a serem
compartilhadas com os estudantes a respeito do domínio alvo da comparação: (i) consideradas
isoladamente as partículas não se movimentam com a mesma velocidade, nem apresentam a
mesma energia cinética;(ii) a temperatura de um sistema está relacionada ao “grau de agitação”
ou a energia cinética média das partículas.
Significado Interpessoal
O professor manteve o controle do discurso ocupando a frente da sala. Os papéis
normalmente atribuídos a professores e estudantes parecem ainda terem sido reforçadas pela
escolha da narrativa que constituiu o domínio base, na qual um professor aplica, corrige e atribui
notas a seus alunos.
Significado Textual
Textualmente, a construção da analogia I foi iniciada a partir de considerações a respeito
do conceito de temperatura, que foram desenvolvidas por meio da orquestração entre o modo
verbal oral e o comportamento proxêmico do professor diante dos alunos e de objetos
relevantes, tais como a lousa e a mesa disposta na frente da sala. Em seguida, parado em frente
aos alunos e orquestrando fala e gestos predominantemente pragmáticos, o professor
estabeleceu as correspondências entre as relações enunciadas em cada domínio. O término da
analogia também foi marcado por um comportamento proxêmico seguido por uma inscrição no
quadro. Ou seja, tanto o início quanto o final da construção da analogia I foram marcados pelo
comportamento proxêmico orquestrado com a fala do professor.
ANALOGIA M
Significado Ideacional
Na construção da analogia M, o professor buscou compartilhar significados mais amplos
que aqueles compartilhados na analogia anterior. Ao construir a analogia M a partir de um
gráfico desenhado no quadro da sala de aula, o professor compartilhou os seguintes significados
ideacionais: (i) em um sistema reacional há moléculas com diferentes energias cinéticas; (ii) os
valores de energia cinética das moléculas seguem uma distribuição normal que pode ser
representada graficamente por meio de uma curva gaussiana; (iii) em condições de baixa
temperatura, a energia cinética média das moléculas tende a ser menor que a energia de
ativação da reação química; (iv) somente moléculas com energia cinética igual ou maior que a
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energia de ativação podem participar da reação química; (v) a energia de ativação é uma
característica constante de uma reação química, que não depende da temperatura do sistema
reacional; (vi) o aumento da temperatura de um sistema reacional aumenta a quantidade de
moléculas com energia cinética igual ou superior à energia de ativação da reação; (vii) o
aumento da temperatura de um sistema reacional diminui a quantidade de moléculas com
energia inferior à energia de ativação; (viii) o aumento da temperatura de um sistema reacional
aumenta a velocidade das reações químicas.
Significado Interpessoal
Na construção da analogia M, assim como no episódio da analogia anterior, o discurso
permaneceu centrado na fala do professor. As falas dos alunos ocorreram somente em
momentos nos quais eles respondiam às perguntas feitas pelo professor.
Significado Textual
O início da construção da analogia M foi marcado pela orquestração entre fala,
comportamentos proxêmicos e interação com um gráfico por meio de gestos referenciais
dêiticos. As relações presentes na estrutura relacional comum dessa analogia foram construídas,
principalmente, nas ocasiões em que o professor interagia com o gráfico sobre a distribuição
normal da energia cinética das moléculas de um sistema reacional e nas ocasiões em que o
professor fazia inscrições sobre esse gráfico. Já a introdução de novos elementos em cada
domínio normalmente era realizada por meio de perguntas retóricas que envolviam a execução
de muitos gestos pragmáticos e alguns gestos referenciais. Esses gestos foram realizados
enquanto o professor se afastava do quadro e se aproximava dos estudantes com os quais
interagia.
De modo geral, podemos dizer que a coerência entre as relações enunciadas a respeito
do domínio alvo da analogia e as relações construídas no seu domínio base foi favorecida nas
ocasiões em que o professor interagia com o gráfico por meio de gestos dêiticos ou fazia
inscrições sobre esse gráfico. Por outro lado, a coerência dessas relações em correspondência
com o contexto no qual a interação aconteceu foi favorecida nas ocasiões em que o professor, a
fim de introduzir novos elementos e atributos relevantes para a construção dessa analogia,
normalmente orquestrava comportamentos proxêmicos e gestos pragmáticos enquanto
enunciava perguntas retóricas.
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No início dessas nossas considerações finais, iremos apresentar uma síntese das
respostas dadas às três questões que nortearam nosso trabalho empírico a partir da análise
apresentada no capítulo anterior: (1ª) que características nos permitem identificar uma
comparação estabelecida por um professor como sendo uma analogia?; (2ª) como o professor
articula comparações distintas, mas que tratam de um mesmo tema, conceito ou modelo
científico?; (3ª) como os modos de comunicação utilizados na construção de analogias contribuem
para o compartilhamento dos significados ideacionais, interpessoais e textuais que constituem
episódios de ensino mediados por analogias?
Considerando uma das duas dimensões que compuseram nossa unidade de análise – a
dimensão estrutural – foi possível mapear as correspondências estabelecidas entre os domínios
de cada comparação feita pelo professor, reconhecer diferenças estruturais entre a diversidade
de comparações enunciadas por ele e, principalmente, analisar e compreender a complexidade
das relações em correspondência no interior das analogias construídas. Nesse sentido, há que se
considerar que a teoria do mapeamento estrutural utilizada como uma das bases que
fundamentaram a construção do nosso referencial teórico nos forneceu uma ferramenta de
análise útil para alinhar os elementos e os atributos em correspondência e, principalmente, para
identificar as relações estabelecidas e estabelecer seu grau de complexidade. Dessa forma, na
seção 5.2 do capítulo anterior, acreditamos ter conseguido responder à nossa primeira questão
de pesquisa.
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relações R1 e R2 serviram para o professor colocar as diferentes energias cinéticas exibidas pelas
moléculas de um material em correspondência com as diferentes notas de alunos obtidas em
uma prova. Durante a comparação M, essas relações foram a base para a construção das outras
relações mais sofisticadas e complexas que permitiram ao professor explicar como o aumento da
temperatura eleva a quantidade de moléculas com energia cinética igual ou superior à energia
de ativação necessária a ocorrência de uma reação química.
Acreditamos ter respondido a nossa terceira questão de pesquisa, que trata dos modos
de comunicação utilizados pelo professor para construir as analogias analisadas, ao longo da
seção 5.4 do capítulo anterior. Para tanto: (i) identificamos as intenções retóricas que levaram o
professor a construir as duas analogias; (ii) fizemos a transcrição multimodal dos episódios nos
quais o professor as construiu; (iii) descrevemos cada um dos múltiplos modos semióticos
utilizados, tanto para introduzir elementos e atributos relevantes, quanto para construir e
colocar relações em correspondência; (iv) elaboramos mapeamentos multimodais das
correspondências e analisamos a construção das analogias por meio da orquestração
multimodal; (v) identificamos os significados ideacionais, interpessoais e textuais construídos e
potencialmente compartilhados pelo professor em sua interação com os estudantes.
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apresentamos para o fato de que a diversidade de gestos e ações com potencial comunicativo em
M foi bem maior do que na analogia I.
Podemos dizer também que as escolhas realizadas pelo professor por utilizar os modos
de comunicação que identificamos têm relação com os fatores pragmáticos da construção das
analogias, que por sua vez, se relacionam com a intenção retórica desse sujeito. Como dissemos
na apresentação dos nossos referenciais teóricos, as considerações pragmáticas têm forte
influência sobre a seleção do domínio base e a elaboração de inferências a respeito do domínio
alvo. Esses dois processos são intimamente relacionados ao estabelecimento de
correspondências durante a construção das analogias. Portanto, consideramos que as escolhas
de modos de comunicação adequados ao estabelecimento das correspondências de uma analogia
também são motivadas pelos fatores pragmáticos.
As observações das aulas e as nossas análises também nos permitem dizer que o
professor, por meio da orquestração de múltiplos modos de comunicação, construiu com
facilidade e naturalidade diferentes tipos de comparações – desde comparações de mera
aparência, como no caso da comparação L, até analogias estruturalmente consistentes,
sistemáticas e pragmaticamente adequadas, como a analogia M.
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Considerando todo o nosso esforço para revelar as estruturas relacionais das analogias
construídas pelo professor, bem como suas características semânticas, pragmáticas e de
sistematicidade, que foram apresentadas no capítulo anterior, esperamos ter oferecido uma
contribuição significativa para a compreensão das analogias e do seu papel na Educação em
Ciências. Da mesma forma, considerando nossa análise da orquestração multimodal dos
processos de construção dessas analogias, esperamos ter contribuído, tanto para reforçar a
importância do papel de múltiplos modos na comunicação em aulas de Ciências, quanto para
ampliar a compreensão do uso das analogias como recurso de mediação no ensino de Química.
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Nesse sentido, acreditamos que a nossa análise do uso de analogias sob a perspectiva da
multimodalidade pode oferecer diversas contribuições para a pesquisa e o ensino das Ciências
ao ampliar: (a) o foco dos trabalhos que, atualmente, têm se dedicado à avaliação das analogias
como recursos ou estratégias de ensino; (b) a compreensão da dinâmica das interações entre
professores e estudantes durante a construção de analogias nas salas de aula de Ciências;
(c) o entendimento dos fatores que contribuem para que os episódios de ensino centrados na
construção de analogias sejam contextualmente adequados; (d) a compreensão do papel dos
múltiplos modos de comunicação e de sua orquestração para a construção de analogias em aulas
de Química; (e) o escopo do conhecimento sobre as características e as estratégias de uso das
analogias que podem subsidiar os processos de formação inicial e continuada de professores.
Em síntese, avaliamos, tanto os dados que nós reunimos, quanto a análise que nós
empreendemos como uma importante contribuição para: 1º- a compreensão da estrutura das
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analogias; 2º- o debate sobre o papel desse tipo de comparação na Educação em Ciências; 3º- a
elucidação dos processos de construção das analogias em situações de sala de aula. Esperamos,
portanto, que o nosso trabalho seja integrado à literatura disponível sobre como e porque os
professores utilizam ou constroem analogias para ensinar Ciências.
Limitações da pesquisa
Quanto as descrições dos gestos, apesar da sua importância e do uso que fizemos como
suporte para a análise multimodal, ainda encontramos certa dificuldade em descrever
verbalmente a cinemática dos movimentos que os constituem, a ponto de justificar, em toda e
qualquer situação, a função que nós atribuímos a esses gestos ao interpretar a gravação em
vídeo dos movimentos. Essa dificuldade decorre da especialização funcional do modo verbal e da
dificuldade nele inerente para descrição pormenorizada de deslocamentos de muitos elementos
articulados (mãos, antebraços, braços, etc.) no tempo e no espaço.
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diversos modos de comunicação empregados pelo professor, incluindo sua proxêmica, e outra
para organizar e fazer anotações detalhadas dos instantes de interesse para a pesquisa, das
marcações que orientam a análise e transcrição de episódios e de outros aspectos do contexto da
aula que as câmeras não são capazes de registrar.
Em nossa análise multimodal, reconhecemos que alguns modos semióticos não foram
contemplados e descritos, como as expressões faciais do professor enquanto falava, gesticulava,
caminhava pela sala ou respondia alguma pergunta, e os elementos prosódicos presentes na fala
do professor. Entendemos que tanto as expressões faciais quanto a prosódia do discurso
acrescentariam riqueza à análise. No entanto, tínhamos a consciência que sua inclusão em nossa
pesquisa aumentaria demasiadamente a complexidade da nossa transcrição e exigiria um
esforço e dedicação muito maiores para a realização da análise multimodal. Consideramos que
esses aspectos poderão compor análises futuras desse complexo processo de construção de
analogias em aulas de Ciências.
Embora nosso trabalho tenha focado nas ações do professor ao construir analogias para
compartilhar significados ao ensinar Química, igualmente importante teria sido considerar as
interações multimodais em que os estudantes são protagonistas, seja na interpretação das
analogias propostas pelo professor, ou nas situações em que os próprios alunos criam suas
analogias ao interagirem com ele. Dessa maneira, é essencial investir no desenvolvimento de
metodologias para os desafios que se impõem nas pesquisas sobre multimodalidade e sobre o
processo de construção de analogias, para que possamos investigar, de maneira mais cuidadosa,
como as interações multimodais entre professores e estudantes ocorrem de forma a favorecer a
aprendizagem por meio desse e de outros tipos de comparação.
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A PÊNDICES
APÊNDICE A – CARTA DE ANUÊNCIA APRESENTADA À INSTITUIÇÃO DE ENSINO
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ALEXANDRE DA SILVA FERRY
Título do Projeto:“A construção de analogias em uma sala de aula de Química por meio de
múltiplos recursos de comunicação”
1. Esta seção fornece informações acerca do estudo para o qual você está sendo convidado
a participar:
A. Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa que irá investigar como você, na
condição de um professor experiente, constrói analogias para ensinar Química por meio de
múltiplos recursos de comunicação (fala, imagens, interação com objetos, movimentos
corporais, gestos, entre outros). Os resultados deste trabalho poderão contribuir para a
melhoria do ensino de Química mediante a ampliação do conhecimento atualmente
disponível sobre o papel das analogias no ensino e sobre a maneira como elas são usadas e
construídas em sala de aula.
B. Em caso de dúvida sobre a realização da pesquisa, você pode entrar em contato direto com os
pesquisadores responsáveis por meio dos telefones e endereços eletrônicos fornecidos neste
documento. Caso seja necessário obter esclarecimentos que não puderem ser fornecidos por
esses pesquisadores, você pode entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa (COEP)
da Universidade Federal de Minas Gerais pelo telefone (31) 3409-4592 ou pelo endereço:
Avenida Antônio Carlos, 6627 – Unidade Administrativa II – 2º andar, sala 2005 – Campus
Pampulha, Belo Horizonte, MG – CEP: 31270-901.
D. Se você concordar em participar deste estudo, um dos pesquisadores irá: (i) fazer cópias de
algumas atividades realizadas nas aulas; (ii) observar as aulas durante um período não
superior a três meses e fazer anotações em um caderno de campo durante este período;
(iii) registrar aulas em gravações de áudio e vídeo que ficarão sob a guarda dos
pesquisadores em um local seguro e de acesso restrito. Nós lhe garantimos que apenas esses
pesquisadores terão acesso a esses registros e que os mesmos serão destruídos, sem exceção,
após um período de 5 anos.
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
E. Esta pesquisa destina-se ao estudo do uso de analogias para ensinar Química e está orientada
para alterar, o mínimo possível, a rotina da sala de aula.
F. Em funções da garantia dada acima, os pesquisadores consideram que não há grandes riscos
associados a um eventual consentimento de sua parte em participar da pesquisa. Ou seja, não
há nenhum risco específico e facilmente identificável para a sua saúde física ou mental, além
daqueles encontrados normalmente no dia-a-dia.
G. A qualquer momento, você pode fazer perguntas aos pesquisadores, que têm a obrigação de
prestar os devidos esclarecimentos sobre a pesquisa.
H. A sua participação é voluntária. Você é livre para deixar de participar da pesquisa a qualquer
momento, sem necessidade de apresentar justificativas e sem qualquer chance de
constrangimento ou punição por parte do professor ou da escola onde você estuda.
3- Esta seção indica que você está dando seu consentimento para participar da pesquisa:
Nome legível:__________________________________________________________________
Assinatura:____________________________________________________________________
Pesquisadores:
Eu garanto que este termo de consentimento será seguido e que responderei, da melhor maneira
possível, a quaisquer questões que o(a) participante me apresentar.
_____________________________________ ______________________________________
Assinatura do Orientador da pesquisa Assinatura do Pesquisador co-responsável
Prof. Dr. Helder de Figueiredo e Paula (COLTEC/ Setor de Física) Alexandre da Silva Ferry
e-mail: helder100@gmail.com e-mail: alexandre_ferry@hotmail.com
fone: (31) XXXX-XXXX fone: (31) XXXX-XXXX
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
1. Esta seção fornece informações acerca do estudo para o qual você está sendo
convidado a participar:
A. Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa que irá investigar como um
professor experiente constrói analogias para ensinar Química por meio de múltiplos
recursos de comunicação (fala, imagens, interação com objetos, movimentos corporais,
gestos, entre outros). Os resultados deste trabalho poderão contribuir para a melhoria
do ensino de Química mediante a ampliação do conhecimento atualmente disponível
sobre o papel das analogias no ensino e sobre a maneira como elas são usadas e
construídas em sala de aula.
B. Em caso de dúvida sobre a realização da pesquisa, você pode entrar em contato direto
com os pesquisadores responsáveis por meio dos telefones e endereços eletrônicos
fornecidos neste documento. Caso seja necessário obter esclarecimentos que não
puderem ser fornecidos por esses pesquisadores, você pode entrar em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal de Minas Gerais pelo
telefone (31) 3409-4592 ou pelo endereço: Avenida Antônio Carlos, 6627 – Unidade
Administrativa II – 2º andar, sala 2005 – Campus Pampulha, Belo Horizonte, MG – CEP:
31270-901.
D. Se você concordar em participar deste estudo, um dos pesquisadores irá: (i) fazer
cópias de algumas atividades realizadas nas aulas; (ii) observar as aulas durante um
período não superior a três meses e fazer anotações em um caderno de campo durante
este período;
(iii) registrar aulas em gravações de áudio e vídeo que ficarão sob a guarda dos
pesquisadores em um local seguro e de acesso restrito. Nós lhe garantimos que apenas
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ANÁLISE ESTRUTURAL & MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
esses pesquisadores terão acesso a esses registros e que os mesmos serão destruídos,
sem exceção, após um período de 5 anos.
_____________________________________ ______________________________________
Assinatura do Orientador da pesquisa Assinatura do Pesquisador co-responsável
Prof. Dr. Helder de Figueiredo e Paula (COLTEC/ Setor de Física) Alexandre da Silva Ferry
e-mail: helder100@gmail.com e-mail: alexandre_ferry@hotmail.com
fone: (31) XXXX-XXXX fone: (31) XXXX-XXXX
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ALEXANDRE DA SILVA FERRY
3ª expressão: R5 {R2 [r1 (E3, E1), A1 (E3)], R1 [r1 (E3, E1), A1 (E3)]}
4ª expressão: R4 {R3 [R1 (r1(E3, E1), A1(E3)), R2(r1(E3, E1), A1(E3)), E2], R2 (r1(E3, E1), A1(E3))}
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ANÁLISE ESTRUTURAL E MULTIMODAL DE ANALOGIAS EM UMA SALA DE AULA DE QUÍMICA
ALEXANDRE DA SILVA FERRY
1ª expressão: R9 {R8 [R2 (r1(E2, E1, E3), r2(E1, E2, E3), E5], R7 [R1 (r2(E1, E2, E3), A1(E2)), R’2 (r1(E2,
E1, E3), r2(E1, E2, E3)), A2(E3), E5], r3[A2(E3), E5]}
3ª expressão: R5 {R4 [R2 (r1(E2, E1, E3), r2(E1, E2, E3)), E4], A2[E3]}
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A NEXOS
ANEXO A – PARECER EMITIDO PELO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFMG
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