Por uma Educação antirracista: a importância da Lei nº
10.639/03. Educação Pública, v. 19, nº 30, 19 de novembro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/30/por-uma-educacao-antirracista-a- importancia-da-lei-n-1063903 Pontos do artigo “Por uma educação antirracista”
Práxis pedagógica e educação antirracista: a prática pedagógica como possibilidade de
crítica ao social “O diálogo constante entre teoria e prática é primordial para a elaboração de propostas de trabalhos comprometidos com a transformação, pois “a prática docente crítica, [...] envolve movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar” (Freire, 2014, p. 38).” O que seria, nesse sentido, uma educação antirracista? “A educação antirracista efetiva-se quando a práxis pedagógica está comprometida no combate ou luta contra as desigualdades inerentes às relações étnico-raciais.” Lei nº 10.639 [2003]: obrigatoriedade de temas relacionados à História da África e História e Cultura Afro-Brasileira. Jurisprudências sobre a tematica étnico-racial “Todo sistema de educação é uma maneira política de manter ou modificar a apropriação dos discursos, com os saberes e os poderes que eles trazem consigo (Michel Foucault).” “Percebe-se que o Estado brasileiro, por meio da Constituição Federal, busca a promoção de uma sociedade antirracista, seja no âmbito do território nacional ou internacional.” “Considerando o contexto elucidado, observa-se que a Lei nº 10.639, de 2003, não é apenas mais um marco legal, mas um divisor de águas no processo de implementação de uma sociedade antirracista e, consequentemente, uma educação de mesma linha, uma vez que se caracteriza evidentemente a escola como foco para a sua promoção, estipulando a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino de todo o país, sejam eles públicos ou particulares.” “A Lei nº 10.639 oficializa e legitima a necessidade de construir uma mentalidade e uma postura de valorização em prol de relações étnico-raciais respeitosas. Para tanto, a práxis pedagógica precisa inserir conhecimentos sobre a matriz africana nos currículos escolares.” Essa tarefa não é fácil, sobretudo se considerarmos que “os livros didáticos, sobretudo os de História, ainda estão permeados por uma concepção positivista da historiografia brasileira, que primou pelo relato dos grandes fatos e feitos dos chamados “heróis nacionais”, geralmente brancos, escamoteando, assim, a participação de outros segmentos sociais no processo histórico do país. Na maioria deles, despreza-se a participação das minorias étnicas, especialmente índios e negros. Quando aparecem nos livros didáticos, seja através de textos ou de ilustrações, índios e negros são tratados de forma pejorativa, preconceituosa ou estereotipados. (ORIÁ, 2005, p. 380).” Lei e responsabilidade social no “fazer pedagógico” “Entende-se, assim, que a relação entre o pensar e o fazer do professor deve seguir um caminho consciente e sob a posse de um planejamento, não havendo espaço para fortuitos ao longo do caminho, uma vez que, não se trata apenas de “mudar um foco etnocêntrico ou marcadamente de raiz europeia por um africano, mas de ampliar o foco dos currículos escolares para a diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira” (Brasil, 2004, p. 503).” Papel social da escola de valorização e difusão de culturas plurais e diversas Vieses que envolvem a temática étnico-racial A ideia de raça como um instrumento de dominação Ideia de democracia racial “Ademais, segundo Guimarães (2001, p. 148), essa expressão emergiu possibilitando a “construção mítica de uma sociedade sem preconceitos e discriminações raciais”, ou seja, se já vivemos em uma democracia racial, não há, portanto, necessidade de promoção da equidade social, pois já a presenciamos no dia a dia.” “De acordo com Oliveira (2010, p. 188), socialização é o processo pelo qual o indivíduo se integra ao grupo ou à sociedade em que nasce, assimilando seus hábitos, valores, costumes, e outros traços culturais; é o ato de transmitir, de introjetar na mente do indivíduo os padrões culturais da sociedade; pela socialização o indivíduo torna-se social, isto é, capaz de viver em sociedade.” O preconceito como uma pré-concepção e um “falseamento da realidade”. O preconceito como derivativo de um “forte componente emocional” – não seria perigoso tal afirmação de Heler? “Os estigmas são os caracteres que retratam o estigmatizado numa dimensão supostamente real, concebendo-o como inferior, desprezível e imperfeito. Assim, a “estigmatização de membros de certos grupos raciais, religiosos ou étnicos tem funcionado, aparentemente, como um meio de afastar essas minorias de diversas vias de competição” (Goffman, 2004, p.118).” “A finalidade dos estigmas segue geralmente um modo de depreciação, possibilitando a formação de uma imagem estereotipada sobre o outro; entretanto, conforme observação de Goffman (2004, p. 6), “um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, portanto, ele não é, em si mesmo, nem horroroso nem desonroso”.” “[...] os estereótipos alimentam um processo de inferiorização e marginalização do outro, possibilitando sua discriminação, pois esta é a atitude e/ou ação concreta de distinguir. Assim, a discriminação como ato exige a presença do discriminador e do discriminado”. O preconceito é a base epistemológica na qual forma-se os estigmas que, por sua vez, formam os estereótipos e este conjunto gera a discriminação. “Os estigmas são construções sociais que se originam de atitudes carregadas de preconceitos de pessoas que se consideram pertencentes a um grupo superior sobre o outro, que o considera membro de outro grupo. A partir desse cenário, podem desenvolver relações xenófobas e racistas, na qual serão destacados elementos que diferenciam os grupos, reafirmando estereótipos, padronizando conceitos sobre um grupo, alimentando e/ou intensificando comportamentos discriminatórios. (Tella, 2008, p. 155).” Sociedades ocidentais e padrões sociais hegemônicos: masculinos, brancos e heterossexuais. “[...] preconceito, estigma, estereótipo e discriminação se entrelaçam e são indissociáveis; e se fundamentam em uma perspectiva essencialmente etnocêntrica, pois, conforme Munanga (2012, p. 27), “toda e qualquer diferença entre colonizador e colonizado foi interpretada em termos de superioridade e inferioridade”.” O etnocentrismo impede que a pluralidade se desenvolva e constitui preceitos que discriminam aquilo que é certo ou errado, de acordo com seus próprios padrões. O que é necessário para que uma educação antirracista seja efetiva? “[...] de acordo com Santos (2009, p. 24), para que ela obtenha êxito deve seguir três vertentes de intervenção: “a coordenação das relações cotidianas no âmbito escolar; a transversalização da temática racial pelas diferentes disciplinas, com a revisão de materiais didáticos; e a utilização de métodos e técnicas pedagógicas alternativas”. Papel do professor na educação antirracista e na transformação lenta das mentalidades e do cenário histórico, contemporâneo de marginalização da população negra e afrodescendente.