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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 5

2 BACTERIOLOGIA .............................................................................. 6

2.1 Morfologia bacteriana .................................................................. 7

2.2 Organização do material genético bacteriano ............................. 8

2.3 Citologia .................................................................................... 12

3 CRESCIMENTOS BACTERIANO .................................................... 14

3.1 Fatores ambientais que afetam o crescimento bacteriano ........ 16

4 PATOGENICIDADE BACTERIANA ................................................. 18

4.1 Microbiota normal ...................................................................... 19

4.2 Propriedades patogênicas dos microrganismos ........................ 21

4.3 Penetração dos agentes patógenos .......................................... 22

4.4 Danos às células do hospedeiro ............................................... 24

5 BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS ................ 26

5.1 Gram-negativos fermentadores ................................................. 28

5.2 Patologias e sintomatologia associadas aos bacilos


fermentadores............................................................................................... 29

6 COLORAÇÃO DE GRAM ................................................................ 31

7 COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN ............................................... 33

8 ENTEROBACTÉRIAS ...................................................................... 35

8.1 Isolamento ................................................................................. 36

8.2 Cocos Gram-positivos ............................................................... 37

9 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS ......................... 38

9.1 Prova da catalase ...................................................................... 41

9.2 Prova da coagulase ................................................................... 41

9.3 Teste da novobiocina ................................................................ 42

9.4 Teste da bacitracina .................................................................. 42

2
9.5 Teste da optoquina .................................................................... 42

9.6 Ágar bile-esculina ...................................................................... 43

9.7 Ágar citrato Simmons ................................................................ 43

9.8 Produção de sulfeto de hidrogênio (H2S).................................. 43

9.9 Fermentação de carboidratos .................................................... 43

9.10 Descarboxilação de lisina e ornitina ....................................... 44

9.11 Produção de indol .................................................................. 44

9.12 Teste de motilidade ................................................................ 45

9.13 Fenilalanina desaminase ....................................................... 45

9.14 Prova de oxidase ................................................................... 45

9.15 Prova de urease ..................................................................... 45

10 UROCULTURA ............................................................................. 46

11 HEMOCULTURA .......................................................................... 48

11.1 Procedimentos e técnicas de hemocultura............................. 49

11.2 Método de lise-centrifugação ................................................. 51

11.3 Método semiautomatizado ..................................................... 51

11.4 Método automatizado ............................................................. 52

12 CULTURA DE PONTA DE CATETER .......................................... 53

13 ANTIMICROBIANOS .................................................................... 54

13.1 Inibidores da síntese de parede celular ................................. 55

13.2 Inibidores da síntese proteica ................................................ 57

13.3 Inibição da síntese de ácidos nucleicos ................................. 57

13.4 Danos à membrana plasmática.............................................. 58

13.5 Inibição da síntese de metabolitos essenciais ....................... 58

13.6 Resistência bacteriana ........................................................... 58

13.7 Mecanismos de resistência .................................................... 59

13.8 Inativação enzimática do fármaco .......................................... 60

3
13.9 Modificação do sítio alvo do fármaco ..................................... 60

13.10 Efluxo do antibiótico ............................................................... 61

13.11 Redução na permeabilidade do antibiótico ............................ 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 62

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1 INTRODUÇÃO

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é


semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase
improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao
professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre
o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para
todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa.
Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo
de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 BACTERIOLOGIA

Fonte: biologo.com.br

Uma das primeiras hipóteses, associadas a Bacteriologia, de que se tem


notícia foi postulada no século XIII, por Roger Bacon, que sugeriu que as
doenças eram produzidas por seres vivos invisíveis. Foram requeridos os
esforços de vários químicos e biólogos para provar que as bactérias, como todos
os organismos vivos, só surgiam de outros organismos semelhantes. Este fato
fundamental foi finalmente estabelecido em 1860, pelo cientista Francis Louis
Pasteur (1822-1895). (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)
Em 1840, depois dos primeiros trabalhos de Pasteur, Friedrich Gustav
Jacob Henle (1809-1885), em uma notável publicação, expôs as suas ideias,
estabelecendo condições básicas para que um agente microscópico particular
pudesse ser considerado causador de uma doença infecciosa ou
infectocontagiosa. Estas condições correspondem aos postulados de Henle:
(NOGUEIRA; SOUZA, 2009)
 O agente causador da infeção deve ser encontrado com constância
no corpo do doente
 Deve ser possível isolá-lo e, com tal agente isolado, reproduzir
experimentalmente a doenças.

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Os dois postulados citados seriam aperfeiçoados e mais tarde impostos
aos bacteriologistas pelos trabalhos de Robert Koch (primeiro a isolar o M.
tuberculosis):
 Um microrganismo específico pode sempre ser encontrado em
associação com uma dada doença.
 O organismo pode ser isolado e cultivado, em cultura pura, no laboratório
 A cultura pura produzirá a doença quando inoculada em animal sensíveis
 É possível recuperar o microrganismo, em cultura pura, dos animais
experimentalmente infectados.

As bactérias e os microrganismos procariontes estão amplamente


espalhados nos mais variados tipos de ambiente, seja em alimentos, animais ou,
até mesmo, em humanos. Existem inúmeras espécies bacterianas, cada uma
com suas próprias características. (SOUZA, 2019)
As bactérias se diferenciam das células que têm estrutura mais complexa,
como as que vivem no nosso organismo. As diferenças importantes estão na
parede celular, bem como na organização do material genético entre procariotos
e eucariotos. (SOUZA, 2019)

2.1 Morfologia bacteriana

Fonte: microbiologia3bio

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Há diferentes tamanhos e formas para as bactérias. A maioria varia de 0,2
a 2,0 µm de diâmetro e de 2 a 8 µm de comprimento e apresenta algumas formas
básicas, como esféricas, cilíndricas e espiraladas: (SPOLIDORIO; DUQUE;
PÓVOA, 2013)
• células esféricas – denominadas cocos, são geralmente arredondadas;
• células cilíndricas ou em forma de bastão – chamadas de bacilos;
• células espiraladas ou helicoidais – chamadas de espirilos.
Quanto ao arranjo, pode-se observar que algumas espécies de bactérias
estão frequentemente aderidas umas às outras, enquanto outras espécies
possuem a forma espiralada e normalmente são únicas.
As bactérias que estão aderidas podem crescer em arranjos dependendo do
plano de divisão celular; por exemplo, os cocos podem ser:
• diplococos (duas células ligadas);
• estreptococos (formando cadeia); ou
• estafilococos (divisão em três planos com agrupamento na forma de
cacho de uva).
Os bacilos em sua maioria se apresentam isolados. Os diplobacilos aparecem
em pares após a divisão, e os estreptobacilos, em cadeias.
As formas espiraladas possuem uma ou mais curvaturas, podendo ser
denominadas:
• vibriões (forma de vírgula);
• espirilos (forma helicoidal, espiralada e rígida);
• espiroquetas (forma helicoidal e flexível).

O mecanismo de adesão bacteriana às superfícies ou a outras bactérias


constitui o passo inicial da colonização e da patogênese nos quadros de diversas
doenças, já que microrganismos que não são retidos rapidamente são
eliminados. (SPOLIDORIO; DUQUE; PÓVOA, 2013)

2.2 Organização do material genético bacteriano

O genoma procariótico bacteriano carrega toda a informação hereditária


da bactéria, ou seja, é nele que estão armazenadas as informações genéticas

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que se expressam em diferentes funções estruturais e fisiológicas e que podem
ser transmitidas para as gerações seguintes, sendo o DNA o elemento
fundamental de hereditariedade. O genoma procariótico é constituído pelo
conjunto de todos os genes da bactéria que podem estar presentes em seu
cromossomo ou em elementos genéticos extracromossômicos (plasmídeos,
bacteriófagos e transposons). Em sua grande maioria, as bactérias são
haploides, isto é, elas têm apenas um cromossomo (consequentemente, cada
gene tem apenas uma cópia), o qual está organizado em uma única molécula de
DNA circular (MURRAY et al., 2004).
O DNA está normalmente organizado em fita dupla, que se pareia
complementarmente por meio de bases nitrogenadas adenina (A) e timina (T) e
guanina (G) e citosina (C), respectivamente (A-T; G-C), por intermédio de pontes
de hidrogênio (dupla e tripla ligação, respectivamente). Além das bases
nitrogenadas o DNA ainda é constituído pela pentose desoxirribose e pelo fosfato
(sendo o conjunto desses três compostos chamados de nucleotídeo). Os
nucleotídeos ligam-se à fosfo-2’-desoxirribose (ligação fosfodiéster), formando
um esqueleto de DNA (BROOKS et al., 2014).
A reprodução das bactérias é assexuada por fissão simples, e cada célula-
filha recebe uma cópia do cromossomo. Elas são monoploides, mas
“multinucleadas”, ou seja, a célula geralmente contém duas ou mais cópias
idênticas do cromossomo. Os cromossomos de bactérias não passam pelos
ciclos de condensação mitótica e meiótica que ocorrem durante a divisão celular
e a gametogênese em eucariotos. (SNUSTAD; SIMMONS, 2017)
Portanto, os processos de recombinação – distribuição independente e
crossing over meiótico – que ocorrem durante a reprodução sexuada em
eucariotos não ocorrem em bactérias. Todavia, a recombinação foi tão
importante na evolução de bactérias quanto na evolução de eucariotos. Na
verdade, processos semelhantes à reprodução sexuada – processos
parassexuados – ocorrem em bactérias. (SNUSTAD; SIMMONS, 2017)

1) Recombinação genética
A recombinação genética é o fenômeno no qual ocorre troca de genes
entre duas moléculas de DNA, formando novas combinações de genes em um
cromossomo. É possível classificar essa recombinação em dois tipos:

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recombinação homóloga, que acontece quando os dois segmentos de DNA
pareados têm sequências praticamente idênticas, ou recombinação não
homóloga, quando as sequências do DNA são diferentes, requerendo que sejam
catalisadas por enzimas especializadas em recombinação (BROOKS et al.,
2014; LEVINSON, 2016).

2) Transferência de DNA em bactérias


Constantemente, as bactérias trocam genes entre si, aumentando
notavelmente as diversidades genética e metabólica e o surgimento de novas
cepas. A transferência de DNA em bactérias pode trazer inúmeras vantagens
adaptativas, como resistência a antibióticos, por exemplo. O DNA pode ser
integrado ao cromossomo da bactéria receptora ou mantido como um elemento
extracromossômico independente. A transferência de DNA dentro das células
bacterianas pode ocorrer por plasmídeos, bacteriófagos, transposons e por
rearranjos programados (MADIGAN et al., 2016; MURRAY et al., 2004).
As bactérias podem transmitir o DNA para os seus descendentes,
fenômeno chamado de transferência vertical de genes, ou lateralmente para
outras bactérias que não são descendentes diretas (transferência horizontal de
genes). A transferência horizontal de DNA entre bactérias pode ocorrer por três
mecanismos: conjugação, transformação e transdução (MADIGAN et al., 2016).
Transformação: é o mecanismo em que a bactéria capta DNA livre
(desnudo) estranho ou exógeno, proveniente de outra bactéria, incorporando
novos marcadores genéticos em seu genoma. Esse processo pode ocorrer
naturalmente em algumas espécies (p.ex., Acinetobacter, Bacillus, Haemophilus,
Neisseria e algumas linhagens de Staphylococcus e Streptococcus), apesar de
a maioria das linhagens e espécies bacterianas não ser capaz de realizar
transformação de forma natural ou poder ser induzida em laboratórios por
métodos químicos ou eletroporação (uso de pulsos de alta voltagem), sendo a
incorporação de plasmídeos extracelulares induzida em laboratório fundamental
na engenharia genética (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al., 2016).
Transdução: é o mecanismo em que o DNA de uma bactéria (doadora)
é transferido para outra (receptora) por meio de um bacteriófago. Caso o
bacteriófago incorpore acidentalmente em seu capsídeo, sendo o DNA da
bactéria doadora proveniente de uma região genômica qualquer, dá-se o nome,

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a esse processo, de transdução generalizada. Agora, se o bacteriófago
incorporar genes específicos da bactéria doadora, chama-se de transdução
especializada (MADIGAN et al., 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Conjugação: considerado um acasalamento bacteriano, este é o
mecanismo de troca de material genético (transferência de plasmídeo ou de
cromossomo) de uma bactéria para outra por intermédio da formação do pílus
sexual. É necessário que haja contato direto entre uma bactéria doadora e uma
bactéria receptora, sendo que a primeira tem o plasmídeo de fertilidade (p.ex.,
plasmídeo F produzido pela bactéria Escherichia coli que está relacionado com
a formação do pílus sexual) e a segunda não (MADIGAN et al., 2016; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017).

Fonte: Madigan et al. (2016, p. 300).

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2.3 Citologia

As bactérias são seres procarióticos, ou seja, desprovidos de membrana


nuclear (também chamada de carioteca). Elas não possuem todas as estruturas
internas das células eucarióticas, sendo mais simples em todos os níveis, menos
no seu envoltório celular. (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)
Estruturas da célula bacteriana:
Glicocálice: O glicocálice bacteriano é um polímero viscoso e gelatinoso que
circunda as células, composto por polissacarídeo, polipeptídeo ou ambos. É
produzido dentro da célula e secretado para a superfície celular. Essa estrutura
apresenta diversas funções, como proteção contra o dessecamento e
reservatório de alimentos. Dependendo da espécie bacteriana, a aderência e
a virulência são as principais funções, e frequentemente protegem as bactérias
da fagocitose pelas células do hospedeiro, aumentando a oportunidade de
infecção por Streptococcus pneumoniae, por exemplo, que, quando
capsulado, causa pneumonia. (SPOLIDORIO; DUQUE; PÓVOA, 2013)
Parede celular: Responsável pela forma, rigidez bacteriana, divisão celular e
muitas vezes manutenção osmótica, com uma espessura de
aproximadamente 10 a 20 mm é formada, entre outras substâncias, por um
complexo macromolecular, conhecido como mucocomplexo (também
chamado de peptidoglicano, mureína, mucopeptídio ou glicopeptídio), de
importância prática na taxonomia bacteriana. (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)
Gram-negativas: nessas bactérias, este complexo representa uma fração
menor do total da parede em relação às Gram-positivas. A parede celular nas
bactérias Gram-negativas é quimicamente mais complexa, possuindo maior
quantidade de aminoácidos e de lipídeos.
Gram-positivas: Gram positivas possuem como porção característica os
ácidos teicoicos.

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Fonte: arca.fiocruz.br

Membrana celular ou membrana citoplasmática bacteriana: Também


chamada de membrana plasmática não constituída de fosfolipídios e
proteínas, sua estrutura é semelhante à dos organismos não procarióticos,
todavia, com exceção dos grupos bacterianos dos micoplasmas, não possuem
esteróis. Trata-se de uma membrana semipermeável, seletiva, sede de várias
enzimas, que limita o citoplasma. Importante, não só para o transporte de íons
e metabólitos (ex.: enzimas permeases e porinas), ela também atua em
numerosos processos biossintéticos. (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)
Citoplasma: A célula bacteriana apresenta no seu citoplasma diferentes
regiões, que podem ser divididas didaticamente. Uma área chamada
citoplasmática, de aparência granular e rica em RNA, uma área chamada de
cromatínica ou nuclear, rica em DNA, e uma porção fluída, com nutrientes
dissolvidos. Na área chamada citoplasmática, temos, juntamente com o RNA,
partículas proteicas, formando corpúsculos com cerca de 20 nm de diâmetro,
chamados ribossomas. Estes possuem enzimas que atuam na biossíntese da
célula (são responsáveis pela síntese proteica, possuindo em sua composição,
aproximadamente, 60% de RNA e 40% de proteínas). (NOGUEIRA; SOUZA,
2009)

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3 CRESCIMENTOS BACTERIANO

Fonte: pt.dreamstime.com

O crescimento bacteriano não é o aumento de tamanho celular,


mas, sim, o aumento do número de células, as quais se acumulam em colônias,
que podem ser visualizadas em meios de cultura mesmo sem o uso de
microscópio. O crescimento começa pelo aumento da soma de todos os
componentes celulares, que culmina na divisão celular (reprodução), gerando
duas células-filha a partir de uma célula-mãe — processo chamado de fissão
binária (ou divisão binária). Para crescerem, as bactérias necessitam de fatores
físicos (temperatura, pH e pressão osmótica) e químicos (fontes de carbono,
nitrogênio, enxofre, fósforo, oxigênio, elementos-traço e fatores orgânicos de
crescimento) adequados, sendo que as condições ótimas de crescimento variam
entre as espécies (TRABULSI; ALTERTHUM, 2008; MADIGAN et al., 2016).
Pelo processo de fissão binária, uma célula bacteriana origina duas
células- -filha, dessa forma, a cada geração, uma célula-filha recém gerada vai
formando mais duas, o que caracteriza um crescimento exponencial ou
crescimento logarítmico. (SOUZA, 2019)
É possível representar graficamente o crescimento de bactérias
inoculadas em meio de cultura líquido de composição adequada e incubadas em
temperaturas ideais por intermédio da curva de crescimento exponencial

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bacteriano, sendo necessário fazer a contagem em intervalos regulares. O ciclo
de crescimento das bactérias apresenta quatro fases distintas:

Fase de latência ou fase lag: período em que as bactérias estão se


adaptando ao novo ambiente e ocorre intensa atividade metabólica (produção
de enzimas e outras moléculas). Nesse período, porém, há pouca ou nenhuma
divisão celular. O tempo de latência pode variar e, às vezes, nem existir,
dependendo de alguns fatores, como condições de crescimento, se o inóculo
provém de uma cultura velha ou de um meio totalmente diferente (TRABULSI
ALTERTHUM, 2008 TORTORA FUNKE CASE, 2017).
Fase exponencial ou fase log: período em que ocorre intensa divisão
celular, com crescimento exponencial e tempo de geração (velocidade)
constante. Este é o período de maior atividade metabólica (TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008 TORTORA FUNKE CASE, 2017).
Fase estacionária: fase em que a velocidade de crescimento diminui
gradualmente, já que, com o intenso crescimento celular da fase exponencial,
os nutrientes vão se esgotando, ocasionando o acúmulo de resíduos tóxicos,
a mudança de pH e a ausência de O2. Dessa forma, há a diminuição do
crescimento bacteriano e um equilíbrio entre células novas e células mortas,

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mantendo o número de bactérias constante (TRABULSI ALTERTHUM, 2008
TORTORA FUNKE CASE, 2017).
Fase de morte ou fase logarítmica de declínio: fase em que o número de
células mortas é superior ao das células vivas, ocorrendo, portanto, um
declínio no número de bactérias viáveis (vivas), até que a maioria das células,
ou todas, morra (BROOKS et al., 2014 TRABULSI ALTERTHUM, 2008).

O crescimento bacteriano pode ser medido por diversos métodos (diretos


ou indiretos), como: contagens microscópicas das células, contagem em placas
(ou contagem de células viáveis), espectrofotometria, filtração, método do
número mais provável e turbidimetria (TORTORA; FUNKE; CASE, 2017 apud
SOUZA, 2019).

3.1 Fatores ambientais que afetam o crescimento bacteriano

1. Temperatura - Temperatura Ótima de crescimento:


É a temperatura de incubação, que possibilita o mais rápido crescimento,
durante menor tempo de acordo com o período de geração de cada gênero
bacteriano (12 a 24 horas, para a maioria das bactérias comuns). A temperatura
ótima de crescimento pode não ser a temperatura ótima de outras atividades
celulares. Estes valores podem ser diferentes, dependendo dos autores
consultados, porém, em média, obedecem ao critério: (NOGUEIRA; SOUZA,
2009)
Bactérias psicrófilas: São capazes de crescer a 0°C ou menos, embora seu
crescimento ótimo esteja em temperaturas mais elevadas, 12°C ou 20°C.
Diversas espécies de bactérias isoladas na Antártica podem crescer a -7°C,
mas seu desenvolvimento ótimo ocorre entre 20°C a 30°C.
Bactérias mesófilas: Crescem melhor de 25°C a 40°C. Neste grupo está a
maioria dos patógenos bacterianos de importância clínica, já que esta
temperatura coincide com a do nosso corpo.
Bactérias termófilas: Crescem melhor de 45°C a 60°C. O limite de
crescimento de algumas bactérias termófilas se estende para a região
mesófila, recebendo a designação de termófilas facultativas ou euritermófilas.

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Outras espécies do grupo termófilo se desenvolvem melhor em temperaturas
acima de 60°C, não se desenvolvendo na faixa mesófila. São chamadas
bactérias termófilas verdadeiras, obrigatórias ou estenotermófilas.

2. Oxigênio (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)


Bactérias aeróbias estritas - São aquelas que só crescem na presença
de oxigênio, por utilizarem este composto como receptor final de elétrons. Ex.:
Acinetobacter.
Bactérias anaeróbias facultativas ou apenas facultativas: Podem
crescer tanto em anaerobiose como em aerobiose. Ex.: E.coli.
Bactérias anaeróbias estritas: Só crescem em anaerobiose, sendo
inibidas ou mortas na presença de O2, que não é utilizado em seu metabolismo.
Ex.: Clostridium botulinum.
Bactérias microaerófilas: Só crescem em atmosfera contendo
concentrações de oxigênio menores que as encontradas no ar atmosférico.
Ex.: Campylobacter
No laboratório, é muito simples cultivar bactérias aeróbias ou facultativas,
visto que o oxigênio está sempre no ar, contudo, para a obtenção de atmosferas
isentas ou pobres de oxigênio, usamos métodos especiais.

3. PH (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)


A grande maioria das bactérias cresce bem em meios com pH ao redor
de 6,5 a 7,5, apesar de muitas espécies tolerarem variações de pH entre 4,0 e
9,0. Os meios de cultura são geralmente tamponados para evitar mudanças de
pH, decorrentes da excreção de produtos do próprio metabolismo bacteriano.
Os tampões são compostos que podem resistir as mudanças de pH. A
combinação de KH2 PO4 e K2HPO4 é largamente utilizada nos meios de cultivo,
mas alguns ingredientes nutrientes do meio, tais como as peptonas, também
possuem a capacidade de tamponamento.

4. Outros fatores (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)


Pressão osmótica: Meios de cultura com pressões osmóticas menores
que o interior da bactéria, geralmente não afetam sua viabilidade, uma vez que
a rigidez da parede celular impede a entrada excessiva de água. Todavia, meios
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de cultura com pressões osmóticas maiores que a encontrada no interior da
bactéria causam perda de água intracelular (efeito bacteriostático ou
bactericida).
Observação: Halofismo - Certas bactérias isoladas de salmouras,
pacotes de sal, alimentos e água do mar, chamadas bactérias halofílicas ou
halófitas obrigatórias, crescem apenas quando o meio contém uma
concentração inusitadamente elevada de sal (10% a 15%). Isto representa uma
resposta especial do microrganismo à pressão osmótica.
Luminosidade - Alguns organismos autotróficos fotossintéticos devem
ser expostos a uma fonte luminosa, pois a luz é sua fonte de energia. Outros
liberam pigmentos quando expostos a luz, o que facilita na sua taxonomia.

4 PATOGENICIDADE BACTERIANA

Fonte: dabioasces.webnode.com.br

O homem abriga em seu corpo uma variedade imensa e complexa de


microrganismos, os quais buscam benefícios, como alimentos e ambiente ideal
para o seu crescimento. Na maioria das vezes, esses microrganismos não
trazem qualquer prejuízo à saúde humana, podendo, inclusive, beneficiá-la,
como o fato de ajudar na proteção contra microrganismos patogênicos e na
estimulação do sistema imune. (SOUZA, 2019)

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A interação entre eles e os hospedeiros pode ser neutral, benéfica ou
patogênica. Neste último caso, os microrganismos utilizam estruturas
especializadas ou deficiências do hospedeiro para infectá-lo, causando danos
no seus tecidos e células. (SOSA, 2019)
Nosso corpo é formado por bilhões de células e, entre elas, temos
diferentes tipos, como neurônios, células musculares, epiteliais e do sangue.
Além delas, em nosso corpo, existe uma grande quantidade de células
exógenas, representada por microrganismos como fungos e bactérias. Existe,
assim, um equilíbrio entre os componentes, e a presença dos microrganismos é
fundamental para o bom funcionamento de alguns tecidos e órgãos (MADIGAN
et al., 2016 apud SOSA, 2019).
Em ocasiões, esse equilíbrio é quebrado, e agentes denominados
patógenos conseguem infectar o corpo, causando lesões. Esses microrganismos
podem utilizar estruturas especializadas, toxinas e enzimas para invadir ao
hospedeiro e, muitas vezes, aproveitam momentos de baixa imunidade do
indivíduo para atacar (são os chamados patógenos oportunistas) (MADIGAN et
al., 2016; LEVINSON, 2016 apud SOSA, 2019).

4.1 Microbiota normal

O ser humano convive com muitos microrganismos permanentemente em


seu corpo, desde o nascimento até a morte, sem que necessariamente causem
doenças. Eles estão presentes na pele, nas mucosas e em outros locais do corpo
humano, usufruindo dos nutrientes, da temperatura, da umidade, da pressão
osmótica e do pH do hospedeiro para utilizarem como fonte de energia e se
multiplicarem. (SOUZA, 2019)
Essa população de microrganismos são comensais (relação simbiótica),
pois colonizam o ser humano sadio de forma harmônica em busca de benefícios,
normalmente não trazendo problemas. Além disso, são denominados como
microbiota normal ou flora normal, fazendo parte milhares de espécies de
bactérias, arqueas, fungos, vírus e protozoários. (SOUZA, 2019)
Muitos deles podem, inclusive, trazer benefícios ao ser humano, como
proteção contra infecções causadas por organismos patogênicos, digestão de
alimentos, produção de vitaminas e estimulação da imunidade. Em termos

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evolutivos, os microrganismos que compõem a microbiota normal são mais
adaptados ao homem do que aqueles microrganismos extremamente
patogênicos, pois estes podem levar a óbito, o que não é vantajoso para o
microrganismo (MURRAY et al., 2004; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017 apud
SOUZA, 2019)
Além dos microrganismos que formam a microbiota normal (de forma
permanente), existem alguns que colonizam o homem de forma transitória
(permanecem por horas, dias ou semanas) e normalmente não são patogênicos,
os quais são chamados de microbiota transitória (BROOKS et al., 2014 apud
SOUZA, 2019).
Os microrganismos que vivem no corpo humano colonizam virtualmente
todas as superfícies expostas ao ambiente externo. A microbiota está presente
na boca, no estômago, no intestino, nos tratos genitourinário e respiratório, nos
olhos, na pele etc. Embora esta se distribua por todas as áreas de contato com
o exterior, a maior parte da colonização (cerca de 70%) ocorre no trato
gastrointestinal. (ANTUNES, 2014)
Além dessa variação no tempo, o conjunto de microrganismos também
exibe grandes diferenças espaciais. No trato gastrointestinal, por exemplo, cada
segmento do tubo digestivo tem micróbios relativamente específicos. No
estômago, são comuns bactérias dos gêneros Lactobacillus, Veillonella e
Helicobacter. No intestino delgado, predominam estreptococos, actinobactérias
e corinebactérias. No intestino grosso, algumas das bactérias mais abundantes
são os gêneros Bacteroides e Clostridium. (ANTUNES, 2014)

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4.2 Propriedades patogênicas dos microrganismos

Segundo Tortora, Funke e Case (2017 apud SOUZA,2019), a


patogenicidade é a capacidade que os microrganismos têm de causar doenças
ao superarem o sistema imunológico do hospedeiro, enquanto a virulência se
refere ao grau ou à extensão da patogenicidade (refere-se a uma capacidade
quantitativa). Existem algumas propriedades que indicam que um microrganismo
tem potencial de patogenicidade.
Adesão (ou aderência ou fixação)
É a capacidade de as bactérias se aderirem às células epiteliais do hospedeiro
ou a superfícies, formando biofilmes. Esta é uma etapa importante para causar
infecção, pois, caso contrário, a bactéria pode ser eliminada do organismo.

21
Existem alguns fatores de adesão que podem estar presentes na bactéria,
como proteínas de aderência, ácido lipoteicoico, cápsula, fímbrias, pili e
flagelos (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al., 2016 apud SOUZA,2019).
Invasão
É a capacidade que o microrganismo tem de penetrar nas células ou nos
tecidos do hospedeiro, de forma a permitir a sua disseminação e a propagação
da doença (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al., 2016 apud SOUZA,2019).
Toxicidade
É a capacidade que o microrganismo tem de produzir a toxina que causa
doença no hospedeiro. Os microrganismos podem produzir exotoxinas, que
são as proteínas tóxicas liberadas pelos patógenos enquanto eles crescem (p.
ex., enterotoxinas produzidas pelas bactérias Clostridium perfringens e
Bacillus cereus que causam intoxicação alimentar) ou podem produzir
endotoxinas — que são os lipopolissacarídeos (LPS) tóxicos que causam
febre, hipotensão e choque séptico —, as quais são produzidas somente pelas
bactérias gram-negativas, já que somente elas têm LPS em suas membranas
externas (BROOKS et al., 2014; MADIGAN et al., 2016 apud SOUZA,2019)
Resistência a antimicrobianos e a desinfetantes
Microrganismos com resistência a antimicrobianos e desinfetantes comumente
utilizados são mais virulentos e têm maior potencial de causar doença
(BROOKS et al., 2014 apud SOUZA,2019).

4.3 Penetração dos agentes patógenos

A adesão dos microrganismos às células do hospedeiro geralmente


envolve interações específicas. Alguns fatores de adesão são macromoléculas
que não estão covalentemente ligadas aos patógenos e revestem a superfície
da bactéria (glicocálix). Um exemplo de glicocálix é a cápsula de Bacillus
anthracis (causadora do antraz), formada por ácido D-glutâmico (MADIGAN et
al., 2016).
Além da participação das cápsulas na adesão celular, também podem
contribuir à evasão dos mecanismos de defesa do hospedeiro. Assim, por

22
exemplo, a cápsula de Neisseria meningitidis e de Streptococcus pneumoniae
evita que os fagócitos se liguem à bactéria. Outro tipo de fator antifagocitário são
as proteínas de parede celular de algumas bactérias, como a proteína A de
Staphylococcus aureus, que se liga à IgG, evitando a ativação do complemento
(LEVINSON, 2016).

A invasão ao hospedeiro não seria possível sem a participação de


enzimas produzidas pelos patógenos. Entre elas, temos coagulase, colagenase,
hialuronidase, protease de IgA e leucocidinas. A coagulase favorece a formação
de um coágulo de fibrina que isola ao patógeno e oferece proteção da fagocitose
(um bom exemplo é Staphylococcus aureus). As enzimas hialuronidase e
colagenase permitem a invasão do tecido subcutâneo ao degradar ácido
hialurônico e colágeno, respectivamente, e foram associadas à formação de
celulite causada pela bactéria Streptococcus pyogenes. As proteases de
imunoglobulina A podem degradar IgA, favorecendo a adesão com as

23
membranas mucosas. Por sua parte, as leucocidinas ajudam no combate a
macrófagos e neutrófilos (LEVINSON, 2016 apud SOSA, 2019).
Alguns microrganismos são capazes de sobreviver dentro da célula
hospedeira e são denominados patógenos intracelulares. Dentro das bactérias
mais representativas desse grupo, temos Brucella, Listeria e Mycobacterium e,
em relação aos fungos, um exemplo conhecido é Histoplasma. O fato de
permanecer dentro da célula hospedeira favorece sua proteção contra
mecanismos de defesa extracelulares, como neutrófilos e anticorpos. Para poder
sobreviver intracelularmente, esses patógenos possuem vários mecanismos de
defesa, como (LEVINSON, 2016 apud SOSA, 2019):
 Impedir a fusão do fagossomo com o lisossomo, evitando enzimas
de degradação;
 Inibir a acidificação do fagossomo, diminuindo a eficácia de
enzimas degradativas;
 Fugir do fagossomo para o citoplasma

Para invadir o hospedeiro, as bactérias utilizam estruturas proteicas


denominadas “invasinas”, que interagem especificamente com receptores
celulares da família das integrinas. Depois de entrar na célula, as bactérias
podem ficar no citoplasma ou dentro de vacuólos (como fagossomos). Outra
alternativa é migrar para células vizinhas por meio da formação de túneis de
actina. Dessa forma, patógenos como Listeria monocytogenes conseguem
invadir células vizinhas, evitando mecanismos de defesa (LEVINSON, 2016
apud SOSA, 2019).

4.4 Danos às células do hospedeiro

As bactérias podem causar doenças por meio de dois mecanismos:


produção de toxinas e invasão e inflamação. As toxinas podem ser divididas em
exotoxinas, quando são liberadas pela bactéria, e endotoxinas, não liberadas e
geralmente formadas por lipopolissacarídeos da parede celular (LEVINSON,
2016).

24
25
5 BACTÉRIAS GRAM-POSITIVAS E GRAM-NEGATIVAS

Fonte: infoescola.com

As bactérias podem ser classificadas como gram-positivas ou gram-


negativas. Essa classificação é feita de acordo com a resposta à coloração de
Gram em diferenças estruturais nas paredes celulares (TORTORA; FUNKE;
CASE, 2017)

Fonte: Adaptada de Designua/Shutterstock.com

Bactérias gram-negativas
As paredes celulares das bactérias gram-negativas têm uma ou poucas
camadas de peptidoglicano, mas são mais complexas estrutural e
quimicamente em relação às gram-positivas. Somente as gram-negativas têm

26
uma membrana externa, que é constituída de LPSs, lipoproteínas e
fosfolipídios.
As funções da membrana externa incluem manter a estrutura bacteriana,
conferir defesa celular e funcionar como uma barreira de permeabilidade a
grandes moléculas (por exemplo, metais pesados, enzimas digestórias, como
a lisozima, e antibióticos) e moléculas hidrofóbicas (por exemplo, detergentes).
A membrana externa, porém, permite uma permeabilidade seletiva por
intermédio das proteínas da membrana — chamadas de porinas —, as quais
formam canais que permitem a passagem de determinadas moléculas, como
nucleotídeos, dissacarídeos, peptídeos, aminoácidos, vitamina B12 e ferro
(SOUZA, 2019).
Algumas espécies de bactérias gram-negativas têm enzimas β-
lactamases no espaço periplásmico, que degradam antibióticos da classe β-
lactâmicos, como, por exemplo, a penicilina, podendo ser, portanto,
naturalmente resistentes a essa classe de antibióticos.
O LPS, constituinte da membrana externa, é uma molécula grande,
anfipática (extremidades hidrofóbicas e hidrofílicas) e complexa. O LPS é uma
endotoxina extremamente tóxica, sendo considerado um potente estimulador
de respostas imunológicas no hospedeiro, podendo causar febre, choque e
outros sintomas graves (SOUZA, 2019). O LPS é constituído por três unidades
distintas:
Lipídio A — responsável pelos efeitos tóxicos;
• cerne polissacarídeo — formado por cinco açúcares ligados ao lipídio
A, tem a função estrutural de estabilidade;
• polissacarídeo O (ou antígeno O) — composto por moléculas de
açúcar, tem a função de antígeno, sendo útil para diferenciar espécies
bacterianas gram-negativas, já que existe grande variabilidade entre espécies
e cepas bacterianas

Algumas bactérias gram-negativas, como Neisseria meningitidis, N.


gonorrhoeae, Haemophilus influenzae e H. ducreyi, não têm LPS na membrana
externa, mas têm uma molécula semelhante, o lipo-oligossacarídeo, que é um
importante fator de virulência causador de febre e outros sintomas. Outros
exemplos de bactérias gram-negativas são Escherichia coli, Salmonella enterica

27
e Pseudomonas aeruginosa (BROOKS et al., 2014; LEVINSON, 2016; MURRAY
et al., 2004; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).
Bactérias gram-positivas
As paredes celulares das bactérias gram-positivas são mais espessas e
rígidas em comparação às das gram-negativas, pois têm várias camadas de
peptidoglicano. O espaço periplásmico também está presente, porém, nas
bactérias gram- -positivas, há uma camada granular composta por ácido
lipoteicoico (SOUZA, 2019).
Apenas as bactérias gram-positivas contêm ácidos teicoicos (presente
na maioria das espécies de bactérias gram-positivas), que são polímeros
hidrossolúveis de poliol fosfatos situados na camada externa da parede
celular. Quando estão ligados à camada de peptidoglicano, são classificados
como ácidos teicoicos da parede, porém, quando atravessam a camada de
peptidoglicano, ligando- -se aos lipídios da membrana citoplasmática, são
classificados como ácidos lipoteicoicos (têm um ácido graxo).
Os ácidos teicoicos são antígenos de superfície das bactérias gram-
positivas que favorecem a ligação com outras bactérias e receptores
específicos de células de mamíferos (fenômeno patogênico chamado de
aderência), podendo ser utilizados na diferenciação de sorotipos bacterianos.
Além disso, os ácidos teicoicos são importantes fatores de virulência,
pois são capazes de induzir choque séptico no hospedeiro. Alguns exemplos
de bactérias gram-positivas são: Streptococcus agalactiae, Staphylococcus
aureus, Corynebacterium diphtheriae e Bacillus anthracis (BROOKS et al.,
2014; LEVINSON, 2016; MURRAY et al., 2004; TORTORA; FUNKE; CASE,
2017).

5.1 Gram-negativos fermentadores

Os bacilos gram-negativos fermentadores de glicose são constituídos por


42 gêneros e mais de 100 espécies. Algumas dessas espécies são patogênicas,
causando infecções tanto no homem quanto nos animais, outras são patógenos
oportunistas. As enterobactérias podem ser diferenciadas com base em suas
características bioquímicas: (SPLENDORE,2018)
 São bacilos gram-negativos.
28
 Fermentam a glicose com ou sem produção de gás.
 São aeróbios e anaeróbios facultativos.
 A maioria reduz nitrato a nitrito.
 A maioria é oxidase negativa e catalase positiva.
 Podem ser móveis por flagelos peritríquios ou imóveis.
 Crescem bem em meios comuns de cultura, como ágar
MacConkey
São encontradas no trato gastrintestinal de animais e seres humanos. As
principais enterobactérias de importância clínica são: Escherichia coli, Klebsiella
spp., Enterobacter spp., Proteus spp., Providencia spp., Morganella spp.,
Citrobacter spp., Salmonella spp., Shigella spp., Serratia spp.

5.2 Patologias e sintomatologia associadas aos bacilos fermentadores

As enterobacteriaceaes podem causar infecções intestinais e


extraintestinais. As infecções extraintestinais podem ser localizadas ou
sistêmicas. As infecções localizadas mais frequentes são as das vias urinárias,
dos pulmões, do sistema nervoso central, da pele e de feridas. As infecções,
tanto intestinais como extraintestinais, podem permanecer localizadas ou se
transformarem em infecções sistêmicas, como as bacteremias. Esta
transformação se dá em consequência da translocação das enterobactérias
presentes no intestino para a corrente sanguínea. Vários fatores podem
favorecer essa translocação. Todos os representantes das enterobactérias, por
serem organismos gram-negativos, contêm endotoxina na parede celular. Além
disso, várias exotoxinas são produzidas causando diarreia. (SPLENDORE,2018)

29
Fonte: SPLENDORE,2018

30
6 COLORAÇÃO DE GRAM

Fonte: fcav.unesp.br

Desenvolvida pelo médico dinamarquês Hans Christian Joachim Gram,


em 1884. Tem como fundamento o fato de que as bactérias, quando coradas por
derivados próximos da rosanilina (violeta genciana, cristal-violeta, metilvioleta,
etc.) e depois de tratadas pelo iodo (solução iodo-iodetada, conhecida como
lugol), formam um composto de coloração escura, entre o iodo e o corante,
chamado iodopararosanilina. Este composto, nas bactérias Gram-positivas, é
fortemente retido e não pode ser facilmente removível pelo tratamento posterior
com o álcool, ao passo que nas Gram-negativas este composto é facilmente
descorado pelo álcool. (NOGUEIRA; SOUZA, 2009)
Durante as primeiras etapas da coloração o corante cristal de violeta e o
iodo são incorporados ao citoplasma das bactérias, entretanto, ao adicionar um
descorante, algumas bactérias se tornam incolores, sendo então denominadas
gram-negativas, enquanto outras permanecem coradas de azul/púrpura, sendo
estas chamadas de gram-positivas. Tendo em vista que as bactérias gram-
negativas se tornam incolores depois da descoloração, é necessário que elas
sejam, então, coradas para que possam ser visualizadas no microscópio de
campo claro, para isto, utilizam-se os corantes vermelho safranina ou fucsina
(TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

31
A retenção, ou não do corante cristal de violeta é explicada devido a
algumas diferenças estruturais das paredes celulares das bactérias gram-
positivas e gram-negativas. As bactérias gram-positivas têm uma parede celular
mais espessa em relação às gram-negativas, a qual é composta por várias
camadas de peptidoglicano, enquanto somente as bactérias gram-negativas têm
LPSs na parede celular. O cristal de violeta e o iodo penetram facilmente nas
células das bactérias, formando um complexo insolúvel de cristal violeta-iodo,
que é maior do que a molécula de cristal que entrou na célula (TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017). Quando as células são lavadas com álcool ou solução
álcool-acetona podem ocorrer duas situações:
 As bactérias gram-negativas conseguem eliminar o complexo cristal
violeta-iodo, que atravessa uma camada fina de peptidoglicano, uma vez
que o álcool penetra e rompe a camada externa de LPSs;
 As bactérias gram-positivas retêm o complexo cristal violeta-iodo, já que
esse complexo não consegue ultrapassar a espessa camada de
peptidoglicano.
A coloração de Gram é, portanto, considerada uma técnica diferencial,
haja vista que as bactérias gram-positivas são coradas de azul/púrpura,
enquanto as gram-negativas ficam na tonalidade rosa/vermelho (LEVINSON,
2016; MADIGAN et al., 2016).

32
7 COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN

Fonte: tede.ufam.edu.br

Também chamada de pesquisa de BAAR (bacilo álcool-ácido resistente),


baciloscopia ou BK. A coloração de Ziehl-Neelsen é utilizada basicamente para
micobactérias, cuja parede celular constituída por ácidos micólicos é resistente
à descoloração por álcool-ácido, preservando a cor do corante inicial, fucsina
concentrada. Por essa razão, os bacilos apresentam uma coloração vermelha
ao final do procedimento. Essa coloração é o método mais rápido para detecção
de micobactérias em amostras clínicas com suspeita de tuberculose ou
hanseníase. (HOLANDA, 2017)
A pesquisa de micobatérias por baciloscopia pode ser realizada em
amostras de escarro, lavado brônquico, lavado gástrico, linfa de lóbulo da orelha
(hanseníase), urina, líquor, líquido pleural, biópsias e secreções. A amostra
utilizada com maior frequência para realização de esfregaços para baciloscopia
é o escarro.
O diagnóstico deve ser feito a partir de duas amostras: a primeira coletada
no momento da consulta e, a segunda, no dia seguinte logo após acordar. É
extremamente importante que o laboratório ou o médico orientem bem o paciente
quanto à coleta da amostra, que deve ser feita em frasco de boca larga,
descartável, estéril, transparente, com capacidade de 35-50 ml, com tampa de

33
rosca. As amostras devem ser enviadas ao laboratório o mais rápido possível,
transportadas sob refrigeração e acondicionadas deforma que não haja risco de
derramamento. (HOLANDA, 2017)

34
Fonte: Adaptado de Tortora, Funke e Case (2017).

8 ENTEROBACTÉRIAS

Fonte: microbiologybook.org

35
A família das Enterobacteriaceae compreende um largo número de
espécies bacterianas de importância médica. Estas espécies respondem por
mais de 70% dos isolados bacterianos na rotina do laboratório clínico, são
responsáveis por diferentes agravos infectocontagiosos como gastroenterites,
bacteremias, infecções urinárias, infecções de feridas, meningites etc. Estão
intimamente associadas a diferentes mecanismos de resistência bacteriana,
sobretudo, no ambiente hospitalar. (HOLANDA, 2017)
Membros desta família são as principais causas de infecções oportunistas
(incluindo septicemias, pneumonia, meningite e infecções do trato urinário).
Exemplos do gênero que causa infecções oportunistas são: Citrobacte
Enterobacter Escherichia, Hafnia, Morganella Providencia e Serratia. A seleção
de terapia por antibiótico é complexa devido à diversidade de organismos. (FOX,
2009)
A infecção urinária (“ascendente”) mais comumente adquirida de forma
comunitária é causada por E. coli. A grande maioria das infecções do trato
urinária é ascendente, frequentemente de contaminação fecal. Proteus é outra
causa comum de infecção do trato urinário; os organismos produzem
uma urease que degrada oreia produzindo uma urina alcalina. (FOX, 2009)

8.1 Isolamento

A primeira etapa para a identificação de uma enterobactéria patogênica é


o semeio da amostra em um meio de cultura seletivo e diferencial. Os meios
mais utilizados para essa finalidade são: ágar Eosina Azul de Metileno (ágar
EMB, também chamado de ágar Teague), ágar McConkey, ágar
SalmonellaShigella (ágar SS), ágar Xilose-Lisina-Desoxicolato (XLD) e o ágar
entérico Hektoen (HE). (HOLANDA, 2017)
Ágar BEM: Nesse meio, os típicos fermentadores da lactose, especialmente
a Escherichia coli, produzem colônias de coloração escura, apresentando um
brilho metálico de tom esverdeado (devido à alta produção de ácidos)
Produtores mais fracos de ácido (Klebsiella; Enterobacter; Serratia) formam
colônias geralmente acinzentadas. Os não fermentadores de lactose (Shigella
e Salmonella, por exemplo) produzem colônias transparentes.

36
Ágar McConkey (MC): A presença de cristal violeta na constituição desse
meio impede o crescimento de bactérias Gram-positivas, especialmente
estafilococos e enterococos. Os típicos fermentadores de lactose formam
colônias cor de rosa/vermelha, as amostras lactose negativas apresentam-se
incolores ou transparente
Ágar Salmonela-Shigella (SS): Os meios SS, XLD e HE são empregados no
laboratório clínico, geralmente, para o isolamento de espécies de Salmonella
e Shigella, a partir de amostras de fezes diarreicas, ou em laboratórios de
saúde pública para investigar uma possível contaminação fecal de alimentos
e reservatórios de água. A incorporação de lactose ao meio SS permite
diferenciar entre bactérias fermentadoras de lactose e não fermentadoras. As
primeiras formam colônias de aspecto avermelhado, já as que não fermentam
lactose geram colônias transparentes.
Ágar Hektoen (HE): Meio seletivo e diferencial para isolamento de espécimes
enteropatogênicos de Salmonella e Shigella. Os carboidratos presentes nesse
meio incluem a lactose, a sacarose e a salicina. As bactérias fermentadoras
desses carboidratos produzem colônias amarelas; as assacarolíticas
produzem colônias translúcidas ou verde-claras. As bactérias lactose e
sacarose negativas, que acidificam a salicina, podem produzir colônias
alaranjadas. O HE contém sais férricos; por conseguinte, as colônias
produtoras de sulfeto de hidrogênio apresentam pigmentação negra. Pode-se
suspeitar da presença de espécies de Salmonella spp. nesses meios, devido
à presença de colônias com brilho negro
Ágar XLD: Esse meio contém lactose, sacarose e xilose; as bactérias que
fermentam esses carboidratos formam colônias amarelas. As bactérias que
não fermentam esses carboidratos não produzem ácidos e formam colônias
incolores. Os microrganismos produtores de H2 S formam pigmento negro, a
exemplo do que acontece no ágar SS. As colônias negras sem halo rosado
são mais sugestivas de cepas de Proteus spp. produtoras de H2 S

8.2 Cocos Gram-positivos

Isolamento:

37
Os cocos Gram-positivos são exemplos de bactérias frequentemente
isoladas de amostras clínicas. Por essa razão, dependendo do quadro clínico do
paciente, meios como ágar sangue e ágar manitol salgado (em caso de suspeita
de Staphylococcus aureus) são muito utilizados para o semeio primário de
amostras. (HOLANDA, 2017)
Ágar Sangue: Meio enriquecido com 5% de sangue de carneiro. Além de ser
altamente nutritivo, propiciando o crescimento da maioria das bactérias de
interesse clínico, o ágar sangue também tem uma característica diferencial. A
conservação das hemácias íntegras favorece a formação de halos de hemólise
nítidos, úteis para a escolha dos testes complementares e diferenciais do
gênero Streptococcus
Ágar Manitol: Salgado Meio seletivo para o isolamento e identificação de
estafilococos patogênicos a partir de amostras clínicas, alimentos e triagem de
portadores nasais de Staphylococcus aureus. A elevada concentração de sal
nesse meio (7,5%) inibe o crescimento de outras bactérias, com exceção dos
enterococos. A degradação do manitol com formação de ácido está
correlacionada com a patogenicidade do gênero em questão e serve como
indicador presuntivo da presença de Staphylococcus aureus.
Entretanto, outras espécies de estafilococos isoladas com pouca frequência
também podem fermentar o manitol; sendo assim, as bactérias manitol-
positivas isoladas nesse meio devem ser repicadas em ágar sangue e
avaliadas quanto à produção de coagulase.

9 MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS

Existem outros meios de cultura utilizados na realização de provas


bioquímicas (também chamados de testes bioquímicos), os quais permitem
identificar as espécies bacterianas pela pesquisa das enzimas metabolizadoras,
dos produtos metabólicos e catabólicos e da sensibilidade a diferentes
compostos, haja vista que cada bactéria tem um perfil bioquímico único.

38
39
40
9.1 Prova da catalase

Essa prova é utilizada na diferenciação entre estreptococos (catalase


negativas) e estafilococos (catalase positivas). A enzima catalase decompõe o
peróxido de hidrogênio (água oxigenada) em água. Em uma lâmina
microscópica, deve-se fazer um esfregaço com as colônias bacterianas e aplicar
água oxigenada. Caso o resultado seja positivo (estafilococos), há liberação de
oxigênio e formação de bolhas (BROOKS et al., 2014).

9.2 Prova da coagulase

A prova da coagulase é utilizada para diferenciar a Staphylococcus aureus


(coagulase positiva) de outras espécies de estafilococos (coagulase negativas).
A S. aureus contém uma enzima coagulase em sua parede celular, que coagula
o fibrinogênio do plasma, convertendo-o em fibrina. Essa prova pode ser
realizada em lâmina (adiciona-se a colônia emulsionada em solução salina na
lâmina, em seguida, coloca-se uma gota de plasma e se aguarda o período de
10 s) ou em tubo de ensaio (incuba-se por uma noite a colônia suspeita em tubo
de ensaio contendo BHI (caldo infusão cérebro coração, do inglês brain heart
infusion broth) e plasma, depois, é incubado a 35ºC por 4 h), sendo o resultado

41
positivo para S. aureus se houver formação de coágulo (BRASIL, 2004b;
BROOKS et al., 2014).

9.3 Teste da novobiocina

Prova utilizada para diferenciar a bactéria Staphylococcus saprophyticus


de outros estafilococos coagulase negativos. A S. saprophyticus é resistente ao
antibiótico novobiocina, enquanto os outros estafilococos coagulase negativos
são sensíveis. O teste de resistência é feito ao adicionar um disco de papel
impregnado com 5 µg de novobiocina em placa de Petri contendo ágar Mueller
Hinton. Halos de 6 a 12 mm são resistentes (positivo para S. saprophyticus),
enquanto halos de 16 mm ou mais são sensíveis (BRASIL, 2004b; TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008).

9.4 Teste da bacitracina

Teste utilizado para a identificação presuntiva de estreptococos β-


hemolíticos do grupo A (S. pyogenes), já que estes são sensíveis ao antibiótico
bacitracina, enquanto os estreptococos β-hemolíticos do grupo B (S. agalactiae)
são resistentes. O teste de sensibilidade é feito ao adicionar um disco de papel
impregnado com 0,04 U de bacitracina em placa de Petri contendo ágar-sangue
e então é verificado o tamanho do halo (BRASIL, 2004a; TRABULSI;
ALTERTHUM, 2008).

9.5 Teste da optoquina

Teste utilizado para a diferenciação presuntiva entre Streptococcus


pneumoniae e outros estreptococos α-hemolíticos, já que a optoquina inibe o
crescimento da S. pneumoniae (i.e., é sensível à optoquina). O teste de
sensibilidade é feito ao colocar um disco de papel impregnado com 5 µg de
optoquina em placa de Petri contendo ágar-sangue. Em seguida, verifica-se o
tamanho do halo (halos maiores que 14 mm identificam S. pneumoniae (BRASIL,
2004b; TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

42
9.6 Ágar bile-esculina

O ágar bile-esculina é um meio sólido inclinado ou em placa utilizado na


identificação presuntiva de Streptococcus do grupo D (S. bovis e S. equinus) e
de espécies de Enterococcus bile-esculina positivas (por exemplo, E. faecalis).
Essas bactérias são capazes de hidrolisar a esculina (um derivado da cumarina
glicosídica) em presença de sais biliares, formando a esculetina, que reagem
com íons férricos do meio de modo a formar um complexo preto. Assim, os
resultados positivos são pretos, enquanto os resultados negativos permanecem
com a coloração original do meio (amarelo acinzentado) (BRASIL, 2004a).

9.7 Ágar citrato Simmons

O ágar citrato Simmons é um meio sólido inclinado ou em placa utilizado


na diferenciação de espécies de enterobactérias. O teste se baseia na
capacidade de algumas espécies de enterobactérias utilizarem o citrato como
única fonte de carbono para a obtenção de energia. O ágar é originalmente verde
e permanece dessa cor em caso de bactérias citrato-negativo (por exemplo, E.
coli), mas muda para a cor azul em caso de bactéria citrato-positivo (por
exemplo, Enterobacter e Klebsiella) (BRASIL, 2004a; TRABULSI; ALTERTHUM,
2008).

9.8 Produção de sulfeto de hidrogênio (H2S)

Esse teste se baseia na habilidade que algumas bactérias têm de produzir


H2S a partir de aminoácidos ou compostos que contenham enxofre. Meios de
cultura utilizam sais de sulfeto com metais pesados, geralmente o ferro. Em caso
positivo na formação de H2S, é gerada uma coloração negra no meio (BROOKS
et al., 2014).

9.9 Fermentação de carboidratos

Os testes de fermentação de carboidratos são baseados na capacidade


que algumas bactérias têm de produzir metabólitos ácidos a partir de

43
carboidratos por exemplo, glicose, lactose, sacarose, manitol, xilol, arabinose,
entre outros) em situações de anaerobiose (via fermentativa ou oxidativa). Com
a formação de ácidos orgânicos, há uma diminuição do pH, o que pode mudar a
coloração dos meios por intermédio de indicadores de pH (BRASIL, 2004a;
BROOKS et al., 2014; TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

9.10 Descarboxilação de lisina e ornitina

É um teste no qual se utiliza o caldo base de Moeller, sendo ele utilizado,


principalmente, para a identificação de enterobactérias. Esse teste se baseia na
capacidade de algumas bactérias descarboxilarem os aminoácidos lisina (por
exemplo, Klebsiella pneumoniae e Enterobacter aerogenes) e ornitina (por
exemplo, Enterobacter cloacae e Serratia marcescens) em meio anaeróbio,
formando os compostos aminas (alcalinos), cadaverina e putrescina,
respectivamente. É utilizado o indicador de pH púrpura de bromocresol, sendo a
cor original do meio púrpura. Dois tubos para reação são utilizados, sendo um
tubo controle (sem aminoácido) e o outro tubo com aminoácido. Caso o tubo
controle fique amarelo e turvo e o tubo com aminoácido fique púrpura e turvo, o
resultado é positivo para a descarboxilação, porém, se os dois tubos
permanecerem púrpura, o resultado é negativo (BRASIL, 2004a).

9.11 Produção de indol

O teste se baseia no fato de algumas bactérias terem a enzima


triptofanase, que metaboliza o aminoácido triptofano, produzindo indol
(benzopirrol), ácido pirúvico e amônia. Para isso, utiliza-se um o caldo triptona
(rico em triptofano) e se adiciona o reagente p-dimetilaminobenzaldeído
(reagente de Kovacs ou de Ehrlich). Caso ocorra a formação de indol, este reage
com o reagente de Kovacs ou de Ehrlich e forma uma coloração vermelha em
forma de anel na superfície (BROOKS et al., 2014; TRABULSI; ALTERTHUM,
2008).

44
9.12 Teste de motilidade

Teste realizado em meios semissólidos, visando a verificar se a bactéria


é móvel ou não. Deve-se fazer uma inoculação por picagem no meio
semissólido. Caso a motilidade seja positiva, as bactérias se difundem no meio
a partir da linha do inóculo, deixando o meio turvo. Porém, se a motilidade for
negativa, o meio continua límpido, sendo o crescimento bacteriano concentrado
na linha do inóculo (BRASIL, 2004a; TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

9.13 Fenilalanina desaminase

Teste utilizado na identificação das espécies Proteus, Morganella e


Providencia, pois, somente essas espécies, entre as enterobactérias, têm a
enzima fenilalanina desaminase, que converte a fenilalanina em ácido
fenilpirúvico. Utiliza-se, então, o Ágar Fenilalanina (meio sólido inclinado) e, caso
haja a formação do ácido fenilpirúvico (resultado positivo), a superfície do meio
(originalmente amarela) adquire uma coloração verde escura (BRASIL, 2004a;
TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

9.14 Prova de oxidase

Esse teste se baseia na detecção da enzima citocromo oxidase C


presente em algumas espécies bacterianas e pode ser realizado em tiras de
papel filtro impregnadas com o corante cloridrato de p-fenilenodiamina. Caso a
bactéria seja oxidase positiva (presença de citocromo oxidase), a reação fica
roxa, porém, se for negativa, não há mudança na cor do papel (reagente
permanece transparente) (BRASIL, 2004a; TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

9.15 Prova de urease

Teste que diferencia bactérias produtoras da enzima urease (por exemplo,


Proteus vulgaris) das não produtoras (por exemplo, E. coli) por meio do Ágar de
Christensen (meio sólido inclinado). A urease hidrolisa a ureia em amônia e
dióxido de carbono. Como a amônia é uma substância alcalina, ela eleva o pH

45
do meio de cultura, que contém um indicador de pH. Assim, em caso positivo, o
meio, originalmente amarelo, torna-se rosa pink. Resultados fracamente
positivos ficam com superfície do meio pink e o restante permanece amarelo
(BRASIL, 2004a; TRABULSI; ALTERTHUM, 2008).

10 UROCULTURA

Fonte: laboratoriocarloschagas.com.br

Infecções do trato urinário (ITUs) são síndromes infecciosas que


acometem tanto homens como mulheres, desde o recém-nascido até o idoso.
Elas ocorrem devido à ascensão da microbiota entérica normal da uretra para a
bexiga. As mulheres são mais afetadas por conta das condições anatômicas,
haja vista que têm a uretra mais curta e próxima à flora retal em comparação aos
homens (LEVINSON, 2016).
O diagnóstico das ITUs é realizado por meio de avaliação clínica e
solicitação de exames, como cultura de urina, ou urocultura, e exame qualitativo
de urina, ou exame simples de urina. A urocultura é o padrão ouro para a
avaliação da infecção e direciona a terapia antimicrobiana adequada.
O meio de escolha para o semeio de amostras de urina é o ágar CLED
(Cystine Lactose Electrolyte Deficient). O fato desse meio ser deficiente em
eletrólitos impede a formação do característico véu em amostras de Proteus sp.

46
O CLED tem uma coloração original azul-clara (esverdeada); nesse meio, as
colônias lactose positivas são amareladas e as lactose negativas têm cor azul.
A principal peculiaridade com relação ao exame microbiológico de urina está na
forma de semeio, a qual deve ser quantitativa utilizando alça calibrada.
(HOLANDA, 2017)

1. Microbiota comensal dos potenciais patógenos do sistema urinário


As ITUs são síndromes infecciosas que afetam pacientes da comunidade
e pacientes hospitalares, sendo a principal infecção de diagnóstico no laboratório
de microbiologia. De acordo com Tortora (2017), sua manifestação clínica é
classificada da seguinte maneira:
• uretrite — infecção da uretra;
• cistite — infecção da bexiga;
• ureterite — infecção dos ureteres;
• pielonefrite — infecção dos rins;
Os microrganismos responsáveis pelo processo de infecção são
encontrados na urina. Essa infecção ocorre pelo contato com a flora residente
da pele. No ambiente hospitalar, é possível desatacar as infecções ocasionadas
pela realização de procedimentos invasivos, como cateteres urinários, por
exemplo. Na comunidade, a infecção está relacionada, basicamente, à anatomia
humana. As bactérias intestinais são as principais responsáveis pelas ITUs
devido à proximidade com a flora retal. Isoladas de Escherichia coli, elas são
prevalentes no diagnóstico das infecções (TORTORA, 2017).
Os microrganismos entéricos atingem a bexiga por meio da ascensão pelo
canal da uretra. As mulheres são mais atingidas pelas infecções. Observe a
diferença anatômica nas Figuras 21 e 22. Por ter o canal da uretra mais curto, a
vagina também é colonizada por espécies de Lactobacillus e microrganismos
entéricos, como a E. coli. Uma vez que as bactérias penetram na bexiga, elas
são capazes de se reproduzir e desencadear uma resposta inflamatória,
resultando nos sintomas da infecção (LEVINSON, 2016).

47
11 HEMOCULTURA

Fonte: ensino.einstein.br

O sangue circulante, em indivíduos sadios, normalmente se encontra


estéril. Embora alguns microrganismos que compõem a microbiota respiratória
ou gastrintestinal possam atingir o sangue, estes são rapidamente eliminados
pelo sistema reticulo endotelial (YOKOMIZO, 2019).
O termo bacteremia significa a presença de bactérias na corrente
sanguínea. Uma vez que é um sítio essencialmente estéril, a presença de
microrganismos viáveis em amostras de sangue tem alta relevância do ponto de
vista clínico. A determinação do agente etiológico associado a uma bacteremia
pode fazer toda a diferença no esquema terapêutico e, consequentemente, na
evolução clínica e prognóstico do paciente. Por essa razão, os cuidados para a
liberação de um resultado rápido e fidedigno devem ser tomados desde o
momento da coleta até a liberação do laudo.
A hemocultura, metodologia que emprega a cultura de uma amostra de
sangue em meios específicos, representa uma das ferramentas diagnósticas
mais utilizadas em casos de suspeita de bacteremia ou sepse por ser de fácil
execução e por fornecer informações altamente relevantes nesses casos. Por
intermédio da hemocultura, é possível identificar a presença de patógenos
viáveis no sangue, o que é de grande importância diagnóstica, já que estes

48
podem causar sepse e são responsáveis por uma alta taxa de mortalidade
(YOKOMIZO, 2019).
A hemocultura se torna mais importante em casos graves, nos quais o
paciente apresenta febre persistente, mas sem acusar infecção em outros
exames microbiológicos. Dos pacientes que chegam ao grau de sepse grave, 30
a 50% apresentam resultados positivos de hemocultura (YOKOMIZO, 2019).
A coleta de hemoculturas não é realizada em todos os quadros
infecciosos. Nos casos das infecções bacterianas mais comuns, por exemplo,
não é indicada a coleta de hemoculturas, pois a positividade dos exames é baixa,
gerando apenas aumento nos custos do tratamento e nenhum tipo de retorno.
Para infecções como sinusites, amigdalites, infecções de pele e tecido
subcutâneo, indica-se o tratamento com administração dos antibióticos descritos
na literatura e empiricamente eficazes contra os agentes etiológicos. A coleta de
sangue para hemocultura é indicada nos seguintes casos (YOKOMIZO, 2019):
• suspeita de endocardite;
• suspeita de sepse ou bacteremia;
• infecções hospitalares (antes ou após a troca de esquema de tratamento
por antibióticos);
• febre com origem desconhecida;
• infecções em pacientes imunodeprimidos;
• meningites (em conjunto com a coleta de líquor — líquido
cefalorraquidiano —, que é mais importante que a hemocultura nesses casos);
• pneumonias graves

11.1 Procedimentos e técnicas de hemocultura

Os materiais e equipamentos básicos para realizar a coleta do sangue são


(YOKOMIZO, 2019):
• seringas hipodérmicas descartáveis estéreis;
• gaze estéril;
• frascos de coleta para armazenar o sangue;
• agulhas hipodérmicas descartáveis estéreis e cateteres borboleta;
• álcool 70% (pode ser iodado ou não);
• estufa bacteriológica.

49
Alguns procedimentos são padrão para a rotina de coleta de sangue
(YOKOMIZO, 2019):
Realizar a coleta de sangue antes de iniciar qualquer terapia antimicrobiana;
Deve-se coletar o periférico, que é imediatamente transferido para os frascos
de hemocultura para evitar/mitigar a contaminação do sangue;
Manipular as amostras com extrema cautela, pois estão potencialmente
contaminadas e podem causar graves doenças infectocontagiosas;
Para descartar as amostras, estas devem ser primeiramente autoclavadas.

Os princípios da técnica são simples (YOKOMIZO, 2019):


 O frasco de hemocultura contendo amostra de sangue é incubado na
temperatura de 35 a 37°C por até sete dias (14 dias para casos de
suspeita de endocardite);
 Se houver crescimento no frasco, observado pela turvação e pelo
aumento do volume, o material é repicado em placas de petri que
contenham diferentes tipos de meio de cultura, os quais variam de
acordo com o agente etiológico;
 Na triagem, identifica-se o agente etiológico e se determina seu perfil de
acordo com a resposta a antibióticos e outros fármacos (YOKOMIZO,
2019).

Cada punção realizada em adultos é, geralmente, dividida em dois


frascos: um frasco para hemocultura de agentes aeróbios, como Neisseria spp.
ou Pseudomonas spp., e um frasco para agentes anaeróbios (enterobactérias
ou estafilococos, que são anaeróbios facultativos) (YOKOMIZO, 2019). Nas
crianças, esses volumes mudam em função do peso e da volemia (quantidade
de sangue circulante)

50
Fonte: Adaptado de Araujo (2012).

Para realizar a leitura/diagnóstico da hemocultura manual, segue-se um


protocolo de sete dias de incubação dos frascos, com agitação/inversão
periódica destes, sendo essa agitação um fator essencial para obter resultados
positivos. Durante esses sete dias, realizam-se subcultivos em placas e tanto os
frascos quanto esses subcultivos ficam mantidos a 35 ± 2°C (YOKOMIZO, 2019).

11.2 Método de lise-centrifugação

Esse sistema foi considerado o padrão-ouro para hemoculturas durante


muitos anos. Ele foi desenvolvido pelos laboratórios Wampole™ (sistema
Isolator®) e é constituído de tubo a vácuo para sangue pediátrico ou adulto. O
tubo contém uma substância hemolítica para leucócitos e hemácias, causando,
portanto, a liberação de microrganismos intracelulares. Depois disso, os tubos
são centrifugados e é desprezado o sobrenadante. O pellet formado, que
possivelmente contém o agente etiológico, é então utilizado para semear algum
meio em placa de cultura, incluindo-se meios para Legionella, micobactérias e
fungos (ARAUJO, 2012).

11.3 Método semiautomatizado

Nos sistemas semiautomatizados, os frascos de cultura são constituídos


de uma parte para laminocultivo com duas faces, que ficam acoplados à parte
superior de um recipiente plástico que contém TSB suplementado com extrato

51
de levedura e SPS, sendo possível acrescentar outras substâncias com a
finalidade de neutralizar agentes antimicrobianos. O laminocultivo contêm
diversos meios, como ágar Sabouraud, ágar MacConkey e ágar-chocolate. Os
frascos inferiores que ficam acoplados ao laminocultivo são alocados em estufa
específica que verte os caldos periodicamente sobre o laminocultivo por inversão
(YOKOMIZO, 2019).
No frasco, há também um indicador colorimétrico de CO2 que acusa a
positividade da cultura. Outros exames, como a identificação etiológica, o
antibiograma e a bacterioscopia, são realizados retirando colônias desenvolvidas
diretamente no laminocultivo, sem a necessidade de subcultivo (ARAUJO,
2012).

11.4 Método automatizado

A hemocultura automatizada requer um equipamento específico para a


incubação e a inversão dos frascos. Existem diversos equipamentos
automatizados no mercado, e as principais vantagens desse tipo de
hemocultura, quando comparada ao método manual, dizem respeito à
velocidade de obtenção de resultados e à menor necessidade de trabalho
laboratorial técnico (YOKOMIZO, 2019).
Grande parte dos protocolos recomenda cinco dias de incubação, no
entanto, os resultados positivos são obtidos, majoritariamente, nas primeiras 48
h de cultivo. Na maioria dos equipamentos automatizados, as metodologias têm
como princípio tecnológico a detecção fluorimétrica ou colorimétrica. Existem
outras diversas vantagens e benefícios ao usar essa metodologia, tais como
(YOKOMIZO, 2019):
• monitoramento contínuo (leituras intervaladas em minutos);
• maior sensibilidade e rapidez para detecção da positividade da amostra
(agitação);
• possibilidade de criação de um banco de dados contendo informações
dos patógenos isolados e a sua localização demográfica;
• mitigação do risco de contaminação;
• amostras negativas não são repicadas;
• economia de tempo (resultados mais rápidos) e de insumos;

52
• risco de contaminação durante a manipulação praticamente inexistente;
• como são usados frascos de plástico, estes são mais leves e oferecem
menor risco associado a acidentes.

12 CULTURA DE PONTA DE CATETER

Fonte: saudedireta.com.br

A patogenia da infecção de corrente sanguínea é multifatorial, podendo


ocorrer por contaminação da solução de infusão, nas conexões entre o cateter e
as linhas de infusão, no sítio de inserção e/ou por colonização endógena do
cateter. As hemoculturas, preferencialmente, não devem ser coletadas a partir
de cateter, a menos que para diagnóstico de infecção relacionada a esse
dispositivo. (HOLANDA, 2017)
As infecções relacionadas ao acesso vascular são de grande importância
clínica. No caso de pacientes internados que apresentem sinal de infecção, mas
ausência de qualquer foco infeccioso pode-se suspeitar de infecção do cateter.
Tipos de cateteres nos quais é possível realizar a cultura: central, periférico,
arterial, Swan-Ganz e Hickman. (HOLANDA, 2017)
A cultura semiquantitativa da superfície do cateter (Método de Maki) é o
método mais utilizado para determinar a relação entre colonização do cateter e
a infecção. No momento de remoção do cateter, os mesmos cuidados tomados

53
durante a inserção devem ser adotados. A pele em volta deve ser
cuidadosamente limpa com solução de iodo (PVPI), e o excesso removido com
álcool etílico a 70%. Um segmento distal (que estava inserido na pele do
paciente), de aproximadamente 5 cm é assepticamente cortado com tesoura
estéril, colocado em frasco seco e enviado ao laboratório à temperatura ambiente
(20 a 25ºC) no prazo de 1 hora ou até 12 horas, se refrigerado. (HOLANDA,
2017)

13 ANTIMICROBIANOS

Fonte: nexxto.com

Agentes antimicrobianos são fármacos ativos no tratamento de infecções


em razão de sua toxidade seletiva (destroem o microrganismo invasor sem afetar
as células do hospedeiro). Em muitos casos, a toxidade seletiva não é absoluta,
exigindo que a concentração do antimicrobiano seja controlada cuidadosamente,
de modo a afetar o microrganismo em níveis toleráveis para o hospedeiro. A
terapia seletiva com antimicrobianos usa como vantagem as diferenças
bioquímicas existentes entre os microrganismos e os seres humanos.
(NOGUEIRA; SOUZA, 2009)
A utilização de um antimicrobiano pode ter vários objetivos. Assim, como
há, ao longo dos anos, cada vez mais fármacos sendo desenvolvidos para o

54
tratamento das infecções, foi necessário criar uma classificação. A classificação
mais comum baseia-se no seu mecanismo de ação: (1) inibição da síntese da
parede celular; (2) inibição da síntese proteica; (3) inibição da replicação e
transcrição de ácidos nucléicos; (4) lesão da membrana citoplasmática; e (5)
inibição da síntese de metabolitos essenciais (TORTORA; FUNKE; CASE,
2017).

Fonte: Tortora, Funke e Case (2017)

13.1 Inibidores da síntese de parede celular

As bactérias possuem uma camada externa rígida, denominada parede


celular, a qual mantém o seu tamanho e a sua forma, e dentro dela há uma
elevada pressão osmótica. A lesão dessa parede celular ou a inibição da sua
formação podem levar à destruição da célula. Essa rede que existe para proteger
a camada da parede celular é chamada de peptideoglicano — vale lembrar que
ela somente é encontrada na parede celular das bactérias. As penicilinas e
cefalosporinas são os antibióticos mais clássicos; os novos fármacos são
carbapenens, carbacefens e os monobatânicos. Elas previnem a síntese de
peptideoglicanos; como consequência, a parede celular fica enfraquecida e a
célula acaba sofrendo lise. Fármacos de ação por esse mecanismo apresentam
pouca toxicidade para as células do hospedeiro (LEVINSON, 2016; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017).

55
As cefalosporinas de primeira geração apresentam atividade contra a
maioria das bactérias que colonizam a pele e infectam feridas. Elas também são
amplamente utilizadas para profilaxia antimicrobiana antes de uma cirurgia. Já
as de segunda geração são usadas para o tratamento de infecções causadas
por microrganismos sensíveis. Por exemplo, a cefoxitina apresenta boa atividade
contra anaeróbios, sendo útil no tratamento de profilaxia de infecções
abdominais inferiores e ginecológicas. Em virtude do seu amplo espectro de
atividade antibacteriana, as cefalosporinas de terceira geração são importantes
para tratar uma grande variedade de infecções, incluindo pneumonia, peritonite
e síndrome de sepse (DAL BERTO, 2019).
As penicilinas podem ser classificadas em quatro grupos: penicilinas
naturais, penicilinas antiestafilocócicas, aminopenicilinas e penicilinas
antipseudomonas

56
Fonte: Adaptado de Craig e Stitzel (2005).

13.2 Inibidores da síntese proteica

Diferentemente da inibição da síntese de parede celular, a síntese


proteica é uma característica comum para todas as células, tanto as eucariontes
quanto as de bactérias. No entanto, foi descoberta uma diferença estrutural nos
ribossomos: células eucariontes possuem ribossomos 80S, e células bacterianas
têm ribossomos 70S. Essa diferença é o que permite que os fármacos atinjam a
toxicidade seletiva. Contudo, as mitocôndrias (organelas eucarióticas) também
possuem na sua estrutura os ribossomos 70S. Portanto, antibióticos que afetam
os ribossomos 70S podem causar alguns efeitos adversos nas células do
hospedeiro (LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

13.3 Inibição da síntese de ácidos nucleicos

Os antimicrobianos que atuam por essa via apresentam utilização


limitada, pois vários fármacos interferem nos processos de replicação e
transcrição de DNA no microrganismo, seja diretamente sobre enzimas que
participam da replicação do ácido nucléico, seja interferindo na síntese de
precursores dos constituintes da molécula de DNA nos hospedeiros (LEVINSON,
2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017). Exemplos dessa classe são os
antivirais utilizados no tratamento contra o HIV.

57
13.4 Danos à membrana plasmática

Antimicrobianos compostos por polipeptídios provocam mudanças na


permeabilidade da membrana plasmática, resultando na perda de metabolitos
essenciais para a sobrevivência das células microbianas. Fármacos
antifúngicos, como anfotericina B, miconazol e cetoconazol, são bastante
eficientes contra doenças fúngicas. As suas características de ação são as
seguintes: o fármaco se liga aos esteróis da membrana plasmática fúngica e,
como consequência, a membrana acaba sendo danificada. Como a membrana
plasmática das bactérias não possui esteróis, os antibióticos não possuem ação
contra as bactérias (LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

13.5 Inibição da síntese de metabolitos essenciais

Atuam bloqueando a síntese de metabolitos que são essenciais para os


microrganismos, impedindo a duplicação do material genético e a divisão dos
patógenos. Um exemplo são as sulfonamidas, que são análogos do ácido
paraminobenzoico (PABA) — fator essencial para a síntese do ácido fólico pelas
células bacterianas. Quando esse antibiótico está presente, a enzima que se
ligaria ao substrato PABA na célula bacteriana passa a se ligar à sulfa. A sua
ligação ao antibiótico, em vez do PABA, não gera moléculas com atividade
funcional. Com isso, não há formação de ácido fólico, por competição dos
substratos ao sítio da enzima (LEVINSON, 2016; TORTORA; FUNKE; CASE,
2017).

13.6 Resistência bacteriana

Conhecer as características básicas dos antimicrobianos disponíveis,


incluindo os princípios gerais sobre o seu uso racional, é essencial para uma
escolha terapêutica adequada e para um tratamento eficaz. Um dos maiores
avanços da medicina moderna foi o desenvolvimento de antibióticos e outros
agentes antimicrobianos; no entanto, o desenvolvimento de resistência a eles é
uma preocupação crescente. O significado do conceito de “resistente” é quando
a bactéria tem a capacidade de se desenvolver in vitro na presença da mesma

58
concentração que o antibiótico atinge no sangue, ou seja, ele é dose-dependente
(BARROS; MACHADO; SPRINZ, 2013).
Há relatos frequentes de estafilococos que são resistentes a quase todos
os antibióticos disponíveis. Entre os exemplos estão as Methicillin Resistant
Staphylococcus aureus (MRSA) e as Vancomycin Resistant Staphylococcus
aureus (VRSA), cepas de Staphylococcus aureus que se tornaram resistentes
aos antibióticos meticilina e vancomicina. O termo “alto nível de resistência” é
utilizado nos casos em que o microrganismo não consegue ser superado mesmo
aumentando a dose de fármaco; nessas situações, o indicado é trocar por uma
classe diferente. (LEVINSON, 2016).
O termo “baixo nível de resistência” é utilizado quando a resistência
consegue ser superada aumentando a dose do antimicrobiano. Sabe-se que a
resistência ocorre, principalmente, em virtude do surgimento de mutações que
conferem às bactérias proteção contra os antibióticos. Essas mutações ocorrem
por diversos mecanismos, mas elas acontecem com maior frequência com o uso
incorreto de medicamentos, ou seja, nesse caso o processo torna-se acelerado
(LEVINSON, 2016).

13.7 Mecanismos de resistência

A resistência bacteriana pode ser dividida de duas formas: a natural ou a


adquirida. A resistência natural tem características das espécies bacterianas,
quando esses microrganismos são naturalmente resistentes a certos tipos de
antibióticos. Ela não necessita de estruturas de atuação de antimicrobianos ou
sua impermeabilidade. Diferentemente do natural, a resistência adquirida
acontece por meio de uma alteração em nível genético da célula, de natureza
cromossômica, pelos processos de mutação, transdução e transformação.
Nesse sentido, há alguns mecanismos principais de resistência adquirida
pelos quais as bactérias se tornam ineficazes aos antibióticos (BARROS;
MACHADO; SPRINZ, 2013; TORTORA; FUNKE; CASE, 2017), e nem todos
ainda foram completamente entendidos.

59
Fonte: Tortora, Funke e Case (2017, p. 570).

13.8 Inativação enzimática do fármaco

Esse é o principal mecanismo de resistência adquirida contra antibióticos,


e normalmente afeta antibióticos naturais. Os fármacos totalmente sintéticos,
como fluoroquinolonas, apresentam uma menor probabilidade de serem
afetados por esse mecanismo. As bactérias agem pela produção de enzimas
com grande potencial de inativar o fármaco. Exemplos de fármacos desse grupo
são os beta-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas, entre outros). Isso ocorre
porque as bactérias produzem enzimas beta-lactamase, que hidrolisa o anel
beta-lactâmico e inativa o agente agressor (o fármaco). Os fármacos ampicilina
e sulbactam foram desenvolvidos na busca de encontrar antibióticos beta-
lactâmicos mais resistentes à ação das beta-lactamases, sendo os mais
indicados para esse caso (BARROS; MACHADO; SPRINZ, 2013; TORTORA;
FUNKE; CASE, 2017).

13.9 Modificação do sítio alvo do fármaco

Outra forma de resistência bacteriana é pela modificação da molécula da


ação dos antibióticos. O sítio de ação no qual o antibiótico foi criado para atuar
pode ser modificado de maneira que a sua estrutura possa apresentar baixa ou

60
nenhuma afinidade pelo agente antibacteriano. Um exemplo clássico é a
alteração do sítio de ação nas espécies de estafilococos em relação à meticilina
ou à oxacilina. Os estafilococos possuem estruturas chamadas proteínas
ligantes de penicilina (PBP), associadas à síntese de peptideoglicano, cuja
função é inibida por esses antibióticos. No entanto, os estafilococos resistentes
sintetizam uma PBP adicional, que apresenta afinidade mais baixa aos
antibióticos do que as PBP normais (BARROS; MACHADO; SPRINZ, 2013;
TORTORA; FUNKE; CASE, 2017).

13.10 Efluxo do antibiótico

A característica desse mecanismo é que certas proteínas, na membrana


plasmática das bactérias gram-negativas, agem expelindo os antibióticos,
impedindo assim que eles alcancem a sua concentração efetiva. Esse
mecanismo é originalmente observado em tetraciclinas, mas também é
responsável pela resistência a praticamente todas as classes de antibióticos. As
bactérias que geralmente apresentam essa característica atuam como se
fossem bombas de efluxo para eliminar substâncias tóxicas (DAL BERTO, 2019).

13.11 Redução na permeabilidade do antibiótico

Geralmente as bactérias gram-negativas são mais resistentes a


antibióticos devido à natureza da sua parede celular. Elas são capazes de
restringir a absorção de muitas moléculas e o movimento das aberturas,
denominadas porinas. Por exemplo, a modificação das porinas pode reduzir a
quantidade de penicilina que entra na célula bacteriana, reduzindo assim o seu
efeito terapêutico (BARROS; MACHADO; SPRINZ, 2013; TORTORA; FUNKE;
CASE, 2017).

61
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