Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Carmen Brunelli de Moura
M929s
ISBN 978-85-515-0451-2
CDD 001
Impresso por:
Apresentação
A área de estudos da linguagem tem ampliado suas fronteiras na
busca de dar uma visibilidade maior ao seu objeto de estudo. A Semântica, a
Pragmática e a Estilística são disciplinas que procuram delimitar seu espaço,
isso se deve principalmente à própria definição de significado, sentido e
estilo. Ambas foram deixadas por um tempo às margens da Linguística, por
estarem atreladas ao contexto filosófico e literário.
III
Esperamos que as reflexões propostas, os exemplos, as atividades,
as dicas e as orientações de leitura permitam dinamizar seus saberes com
relação a estas disciplinas para subsidiar suas pesquisas na vida acadêmica
e profissional.
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
IV
UNI
V
VI
LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
VII
VIII
Sumário
UNIDADE 1 – A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS...............1
IX
3 O SIGNIFICADO NO SISTEMA DE ESCOLHA E COESÃO DISCURSIVA...........................94
3.1 RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS.....................................................................................................95
3.2 RELAÇÕES PARADIGMÁTICAS..................................................................................................99
4 ATOS DE FALA E USO DA LÍNGUA ............................................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................113
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................221
X
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
O CAMPO DE ESTUDOS DA
SEMÂNTICA
1 INTRODUÇÃO
O que é significado? O que é sentido? Será que temos duas expressões
sinônimas ou vamos encontrar uma multiplicidade de respostas que serão
divergentes, diversificadas e imprecisas? E o que falar sobre Semântica? Ou seria,
Semânticas?
São essas mudanças semânticas que podem se dar por causas históricas,
linguísticas e sociais, que vamos observar nas palavras a partir de uma
transferência ou ajustamento dos sentidos que possibilitará a compreensão de
novos enunciados em contextos distintos. É no discurso, ou seja, no uso que o
sujeito faz das palavras ou expressões que seus sentidos se atualizam e passam
a ser definidos. Não podemos construir sentidos partindo apenas das palavras,
mas das ideias que elas expressam.
E
IMPORTANT
3
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
NOTA
O sentido novo, qualquer que seja ele, não acaba com o antigo. Ambos
existem um ao lado do outro. O mesmo termo pode empregar-se
alternativamente no sentido próprio ou no sentido metafórico, no
sentido restrito ou no sentido amplo, no sentido abstrato ou no sentido
concreto (BRÉAL, 1992, p. 103).
4
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
ATENCAO
Katz (1972) traz para sua fala a heterogeneidade semântica ao justificar que
o significado é linguístico. Bréal (1992), em seu Ensaio de Semântica, afirma, sob o
ponto de vista linguístico, que as mudanças sincrônicas sofridas pelas palavras
se constituíam em objeto da Semântica e que as respostas aos significados só
5
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
DICAS
NOTA
John Lyons (1932), linguista britânico, ficou famoso por seu trabalho com
a Semântica ao publicar Structural Semantics (1963), Semantics (1977) e Lingua(gem) e
Linguística – uma introdução, obra que aborda uma introdução geral à linguística e ao
estudo da linguagem.
6
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
7
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
DICAS
DICAS
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/ab/Ludwig_
Wittgenstein.jpg/410px-Ludwig_Wittgenstein.jpg>. Acesso em: 1o nov. 2019.
• https://www.youtube.com/watch?v=lQksIdBy7xc;
• https://www.youtube.com/watch?v=ZQi_gQHZnx0.
8
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
E
IMPORTANT
Você acompanhou o exemplo que demos sobre o uso das palavras “inegociável”
e “invendável” e a renovação dos significados na fala de Vicente Matheus.
Agora é a sua vez! Imagine que você irá apresentar um seminário e terá de discutir
acerca de palavras que tiveram seus significados renovados para atender às necessidades
do usuário da Língua Portuguesa.
Não é uma tarefa complexa, sugerimos que pesquise entre amigos, familiares, no
seu ambiente de trabalho e em suas práticas cotidianas.
Vamos tentar?
Essa ideia será questionada séculos mais tarde por John Locke, filósofo
inglês. Ele afirmava, no século XVII, que seria um tanto simplista unir o nome à
coisa e, se isso fosse possível, teríamos apenas uma língua. A noção de convenção
reduz as incertezas e promove a concordância entre os usuários de uma língua,
necessária à comunicação. Em vista dessa harmonia social, Hermógenes afirmava
que “[...] a relação nomes e coisas não era apenas [...] uma porção da voz humana
a qual os homens concordam em usar” (PLATÃO, 2014, p. 1), mas eram artefatos
sociais desenvolvidos entre usuários e para usuários. Marques (2001) também
questiona e admite que as palavras são convenções estabelecidas entre os usuários
de uma língua.
9
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
NOTA
Crátilo: sobre a justeza dos nomes, de Platão, é uma obra para a compreensão
da discussão entre Crátilo, Hermógenes e Sócrates acerca do significado, no nome e das
coisas. Hermógenes para Sócrates, ao discordar de Crátilo: este nosso Crátilo, Sócrates,
opina que existe, naturalmente, uma designação justa para cada um dos seres; e que o
seu nome não é aquele por que alguns convencionalmente os designam, servindo-se de
uma parcela de sua linguagem; ao contrário, segundo ele, existe naturalmente, tanto para
Gregos como para Bárbaros, uma justeza de designação idêntica pra todos.
Para uma leitura aprofundada sobre este conflito linguístico, leia a obra de Platão,
Crátilo: ou sobre a correção dos nomes.
FONTE: PLATÃO. Crátilo: ou sobre a correção dos nomes. São Paulo: Paulus, 2014.
10
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
conceitos da Física, campo que transporta energia. Vemos que o contexto é uma
garantia para o funcionamento desses significados. Quanto à homonímia, como
se constrói o significado das palavras?
DICAS
11
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
DICAS
12
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
E
IMPORTANT
E
IMPORTANT
13
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
NOTA
FONTE: <http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/blog/mao-na-roda/post/termi
nologia-no-tratamento-da-pessoa-com-deficiencia.html>. Acesso em: 20 jun. 2019.
14
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
4.1 LINGUÍSTICAS
As mudanças linguísticas nem sempre são percebidas, pois elas ocorrem de
forma lenta e não atingem a língua em sua totalidade, mas pequenas partes. É um
jogo de mudanças e estabilidade. Esta harmonia é adquirida pelo desenvolvimento
de uma língua padrão, geralmente, presente nas gramáticas, que freia as
transformações na língua. Uma maneira prática de observar essas mudanças é na
leitura de um texto escrito em português no século XIII.
(3) Vejamos uma estrofe de uma composição poética extraída de Faraco (2005, p. 17).
15
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
4.2 HISTÓRICAS
Muitas vezes, um referente sofre uma evolução e se transforma, mas
a palavra que o designa continua a mesma. Nesse caso, houve uma mudança
semântica que foi provocada por fatores extralinguísticos os quais, muitas vezes,
nem percebemos. Para Ullmann (1964), as coisas, as instituições e as ideias se
transformam sem que seja preciso trocar seus nomes. O mesmo vocábulo pode
ser empregado a vários objetos ou ideias que apresentem uma relação entre si no
uso, utilidade e/ou função. Algumas palavras vão exemplificar essa relação entre
mudança no significado e o conservadorismo no nome.
16
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
4.3 SOCIAIS
A estratificação social é uma causa frequente das mudanças semânticas,
pois se fôssemos uma nação homogênea, certamente, essa característica não se
daria na língua e as palavras teriam a mesma significação. Essa heterogeneidade é
constituída pelos diversos grupos profissionais, religiosos, comerciários, militares,
escolares, universitários e outros. Assim, as trocas sociais podem produzir trocas
linguísticas. Sendo assim, como se dão essas alterações na significação das
palavras?
17
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
DICAS
FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4116720/mod_resource/content/1/Lehmann
%20-%2013%20-%20Mudan%C3%A7a%20sem%C3%A2ntica%20e%20lexical%202%28rev%29.
pdf>. Acesso em: 1o nov. 2019.
18
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
NTE
INTERESSA
5 TRANSFERÊNCIA DE SIGNIFICADO
Uma língua é uma instituição social; assim, a variação e a mudança são
inerentes à trajetória de uso por uma comunidade. As transformações operadas
na língua não são efeitos do acaso, mas de um princípio criativo, adaptativo,
associativo, presentes nas regras de transferência do significado substituído e do
novo. Como determinar o tipo de associação entre as palavras? Só essa relação
seria necessária para definir a transferência de significado nas palavras?
Transferência semântica
Associação lexical Associação semântica
Eu demoli o prédio (derrubei). Eu demoli seus argumentos.
Encontre a melhor viagem (passeio). A vida é uma viagem.
O guia (direção) da viagem chegou. As mães são guias da vida.
Ele embarcou (entrou) no navio. Ele embarcou em nova carreira.
FONTE: A autora
19
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
5.1 METÁFORA
A relevância da metáfora para a linguagem e para a literatura vem sendo
discutida por muitos estudiosos como uma força criadora da linguagem, como
originalidade dos poetas e como um feitiço no estilo do autor. A metáfora também
está entrelaçada ao discurso por motivações subjetivas, artifícios expressivos,
sinonímia, polissemia, abrandamento de emoções intensas, preenchimento de
lacunas no enunciado e muitos outros, uma vez que seu estudo é recente. Em
vista de seu uso significativo, a metáfora é muito comum entre os usuários de
uma língua.
(5) Vejamos esta tirinha do personagem Armandinho, de Alexandre Beck, que foi
adaptada da peça A segunda vinda de Francisco de Assis, de José Saramago.
FONTE: <https://www.facebook.com/tirasarmandinho/photos/a.488361671209144/2394739603
904665/?type=3&theater>. Acesso em: 5 ago. 2019.
20
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
21
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
5.2 METONÍMIA
Assim como a metáfora, a relevância da metonímia está na compreensão
da linguagem e do mundo. Ullmann (1964, p. 252) declarou que “[...] uma língua
sem metáfora e sem metonímia é inconcebível: essas duas forças são inerentes à
estrutura básica da fala humana”. Ullmann (1964) acrescenta que o processo de
transferência do significado na metonímia é muito importante para a história do
léxico, pois, no plano discursivo, é utilizado para fornecer novos significados que
estão baseados em relações de espaço e tempo, assim como a causa pelo efeito, o
efeito pela causa, o nome pela coisa, a bandeira pela pátria, entre outros.
Diferente da metáfora e sua relação com dois domínios que não são
parte de um mesmo domínio-matriz, a metonímia envolve mais que o processo
puramente linguístico. Esse fenômeno metonímico se dá apenas em um domínio,
ou seja, há uma parte relevante que se destaca e coloca em evidência a informação
mais relevante.
22
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
23
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
E
IMPORTANT
Faça uma listagem dessas construções semânticas e observe como são relevantes
para estruturar nossos pensamentos e ações.
24
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
Ullmann (1964) afirma que existem poucas palavras que são completamente
sinônimas e cita a linguagem técnico-científica que não pode ter ambiguidade ou
os sinônimos absolutos quando as palavras podem ser intercambiáveis em todo
contexto, como no exemplo adaptado de Ilari e Geraldi (2006):
25
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
FIGURA 3 – CHARGE
FONTE: <http://www.cljornal.com.br/wp-content/uploads/2015/04/jp-nReal7af6e19fe3962470f
c508d931ed6f28c.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2019.
26
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
27
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
A temperatura a que o técnico, no texto (18) se referia era 28 oC, que para
o Brasil não é uma temperatura quente, mas para o time da Islândia, acostumado
à temperatura média de 10 oC, estava quente. Nesse caso de antonímia, a relação
vai do mais quente ao mais frio, passando por outros valores que podem ser
combinados com muito quente, meio frio e um pouco quente.
28
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
FONTE: <https://www.facebook.com/PublicitariosCriativos/photos/a.585164194835486/692135
317471706/?type=3&theater>. Acesso em: 11 ago. 2019.
29
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
(21) Vejamos nesses exemplos ilustrativos a palavra à vista, a vista, avista que
precisam ser contextualizadas para a compreensão de seu sentido.
(22) a. O celular, embora nem sempre realize todas as suas tarefas, tornou-se um
aliado do homem.
(22) b. O celular se tornou um grande aliado do homem, que nem sempre realiza
todas as suas tarefas.
— Vivi, Rajneesh ligou. Disse que não vem trabalhar hoje porque não está
se sentindo bem.
— É mesmo? O que é que ele tem?
— Ô, Fia. Muita coca no aniversário ontem.
— Mentira, Lu!
— Sério, na moral!
30
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
DICAS
UM ESTUDO DE CASO
[...]
31
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
Por meio da fonte metonímica estereótipo social, o juiz prototípico é aquele que
rouba, sintetizado pela figura do árbitro Edilson.
Constata-se, ainda, no texto, outra metonímia interessante: “A descoberta da máfia
do apito ganhou manchetes de jornais do mundo inteiro” (FONTENELLE, 2005, p. 92), em que
apito, enquanto instrumento de trabalho, é tido como ponto de referência cognitivo usado
para fazer referência à classe de árbitro de futebol. Verifica-se por meio do texto, uma relação
conceptual de base metonímica, que se configura por objeto usado pelo usuário. [...]
32
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
33
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com Meillet (2016, p. 75), “na maior parte dos casos, é somente a
partir de hipóteses que podemos traçar a curva seguida pelo sentido de uma
palavra em via de transformação”. Acerca dessa transformação semântica,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.
34
3 De acordo com Ferrari (2011, p. 103), a metonímia coloca em proeminência a
informação relevante da caracterização enciclopédica do domínio-matriz em
um determinado contexto”. Discuta esta afirmação na propaganda da Subaru.
FONTE: <https://carsale.uol.com.br/wp-content/uploads/2017/06/subaruvolvo.jpg>.
Acesso em: 12 ago. 2019.
35
36
UNIDADE 1
TÓPICO 2
A HETEROGENEIDADE
SEMÂNTICA
1 INTRODUÇÃO
Por que insistimos em falar da heterogeneidade da Semântica? Por que
este campo de estudos da linguagem tem seu contorno um tanto movediço? Como
estudar os fenômenos semânticos a partir desta heterogeneidade? Significado
e sentido têm o mesmo significado? Será possível delimitar essa diversidade
semântica no estudo dos significados?
(25) a. Deve ser difícil ser professor de natação. Você ensina, ensina e o aluno nada.
b. Você não merece palmas, merece o Tocantins inteiro!
c. SP terá postos de vacinação contra o sarampo no Metrô e na CPTM.
d. Tom Cavalcante apresenta o espetáculo 'Todos os Toms' em Natal.
37
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
da linguagem, Borges Neto (2004, p. 69) argumenta que “[...] toda tentativa de
construir um objeto teórico que apanhe todos os aspectos possíveis do domínio –
algo como uma teoria ‘integral’ da linguagem – está fadada ao fracasso”.
(28) Hagar
FIGURA 5 – HAGAR
FONTE: <https://static.portugues.com.br/conteudo/images/hagar-o-horrivel.jpg>.
Acesso em: 11 ago. 2019.
38
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
39
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
NOTA
“O significado [...] não tem nada a ver com a relação de pareamento entre
linguagem e mundo [...] o significado é uma questão da cognição em geral, e não um
fenômeno pura ou prioritariamente linguístico” (OLIVEIRA, 2001, p. 34-35).
40
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
(30) Armandinho
FONTE: <https://files.nsctotal.com.br/cdn-cgi/image/w=750,q=75/styles/paragraph_image_
style/s3/imagesrc/23633618.jpg?_WEWp5XRUbE1QAzc409sXP6YJedtz39c&itok=3_ItEkxL>.
Acesso em: 10 ago. 2019.
41
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
DICAS
3 ABORDAGENS TEÓRICAS
Como já apontamos em outro momento deste estudo, tratamos das
semânticas não da semântica. Por isso, de forma sucinta, vamos apresentar as
principais abordagens teóricas, apontando pontos relevantes que singularizam
cada uma delas. Uma dessas abordagens é a referencial que tem em Frege (1978)
seu principal representante. Essa abordagem tem se constituído em uma base
para as outras abordagens, embora exista uma certa negação dessa filiação. Sua
contribuição está presente na relação referência e sentido que contribui para o
entendimento de que é possível falar de algo de várias maneiras.
42
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
43
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
DICAS
44
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Aqui teríamos uma mesma referência com relação a (33), pois seria
possível alcançar uma mesma referência por diferentes sentidos, por caminhos
distintos. Em (33), aprendemos algo novo acerca de Arthur Zanetti: ele é um
campeão olímpico e é um ginasta da modalidade das argolas. Então, de acordo
com Oliveira (2001, p. 95), “[...] o sentido é o caminho que nos leva à referência”
e, nesse caso, temos dois caminhos para uma referência.
Mari (2005) aponta vários caminhos para falar do algarismo “3” e que vão
garantir a referência desse algarismo. São modos de apresentar uma referência,
são paráfrases, são relações semânticas entre expressões de uma língua. Para
chegar à referência, é preciso que tenhamos apreendido o sentido da expressão
que ouvimos e possamos comunicar ao outro sobre os vários sentidos para se
chegar ao algarismo “3”. Assim, o significado de uma mesma referência pode ser
alcançado por diferentes sentidos.
}
País do Carnaval
País da diversidade
País das belezas naturais BRASIL
País do futebol
País multiétnico
45
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
O próprio Frege (1978) nos dá uma explicação bem prática acerca desses
conceitos. Ele toma a lua vista por algumas pessoas a partir de um telescópio.
A lua seria a referência; a imagem projetada pelo telescópio, utilizada pelos
observadores, seria o sentido e a imagem que se projeta na retina de cada
observador seria a representação.
• Há várias palavras que não têm referente no mundo real, como “fadas,
unicórnios, anjos” assim como palavras, como “de, e, com” e, por isso, não têm
significado, devendo ser excluídas de um modelo de descrição da linguagem.
Sabemos que isso precisa ser superado, uma vez que sabemos o quanto a
conjunção “e” tem significado.
• Para uma teoria que explica o significado como referência, expressões sinônimas
em que uma delas não tenha referente no mundo real é considerada nula em
seu significado. Essa classificação precisa ser revisada.
• Com relação aos nomes próprios, considerados de excelência na referência e
semelhantes a outras classes gramaticais, deve ser questionada esta semelhança
com nomes comuns, adjetivos e outras classes.
3.1.2 Implicações
• Acarretamento
46
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
}
Gato
Cachorro
Coelho ANIMAL
Papagaio
Zebra
47
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
• Pressuposição
48
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
49
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
expressa por a’, a’’, a’’’, toma a sentença (41b). A pressuposição atua sobre o
enunciado e o falante quer direcionar a conversa, fazendo com que seu interlocutor
crie expectativas com relação a (41b).
50
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
51
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
QUADRO 3 – POLISSEMIA
PALAVRAS SENTIDOS
Bigodão, barrigão Tamanho maior, avantajado
Sopão, pratão Quantidade de comida
Abração, tapão Intensidade
Resmungão, pidão Iteratividade / pejoratividade
Solzão, filmão Avaliação positiva
52
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Podemos perceber, então, que para cada verbo teremos diferentes papéis
temáticos, pois as informações que estarão associadas aos verbos fazem parte dos
nossos conhecimentos semânticos de nossa língua. Ou seja, vamos construindo
essas informações e saberemos que o verbo "morrer" está associado à paciente,
pois sofre a ação; da mesma forma, saberemos que "matar" implica um agente
e um paciente, ou seja, aquele que desencadeia a ação, que tem tudo sob seu
controle e o outro que vai sofrer os efeitos dessa ação.
53
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
Com relação aos tipos de papéis temáticos, Cançado (2012) afirma que
não é possível elencar todos os papéis e alguns sintagmas podem ser preenchidos
com mais de um papel temático. Jackendoff (1972 apud Cançado, 2012), propõe,
nesse caso, dois planos: o temático (relações espaciais) e de ação (agente-paciente)
como em Vera beijou Fred e ficaria assim:
54
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
• A viagem
As pessoas são viajantes de si mesmas.
O professor está embarcando em uma outra carreira.
55
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
(45) a. Maria é uma pessoa fria quando toma suas decisões (temperatura).
b. Ultimamente, ela está muito distante do grupo (distância espacial).
c. Seu argumento não se sustenta (prédio).
d. Esses argumentos nos levam a pensar na metáfora de outra forma (jornada).
e. Eles precisam acompanhar meus argumentos com atenção (seguir alguém).
f. Eu nunca venci seus argumentos (guerra).
E
IMPORTANT
56
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
NOTA
57
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
(46) Hagar
FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-BWt2r704rpg/VlW11p8iG7I/AAAAAAAAEKk/Kcu0LoxPNlA/
s280/hagar_28-06-07_pt.gif>. Acesso em: 8 ago. 2019.
DICAS
58
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
3.3.1 Inferências
Fica evidente que, quando se trabalha com um campo tão heterogêneo
quanto o da Semântica, definir algumas noções parece ser uma tarefa um tanto
trabalhosa. A noção de inferência passa ser uma delas, uma vez que pode ser
considerada operação cognitiva para descrever tanto elementos presentes no
texto, quanto aqueles que apontam para o uso do enunciado em determinado
contexto.
59
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
Para Austin (1990), essas informações não estão apenas nas palavras e
estruturas gramaticais, mas também nas ações e no dizer, que alteram os sentidos.
A língua não é virtual, mas realização colocada em prática por atos individuais
de uso, por exemplo, alguém está saindo da casa de uma amiga e enuncia:
NOTA
60
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
61
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
62
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
(50) Mafalda
FONTE: <https://www.espacoeducar.net/2012/07/muitas-tirinhas-da-mafalda-para.html>.
Acesso em: 4 nov. 2019.
63
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
(51) Armandinho
FONTE: <https://www.facebook.com/tirasarmandinho/photos/np.1439422149118354.10000506
5987619/1025154594196513/>. Acesso em: 4 nov. 2019.
(53) Descreva o seu dia perfeito quando você não está modelando.
— Acordar, aconchegar com os meus filhos, tomar café da manhã e passar o dia
fora, pé descalço, jogada na natureza.
FONTE: <https://vogue.globo.com/moda/moda-news/noticia/2015/10/30-perguntas-para-
gisele-bundchen-entrevista-da-top-para-vogue-paris.html>. Acesso em: 10 ago. 2019.
65
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
LEITURA COMPLEMENTAR
ANÁLISE DE CORPUS
VIOLAÇÃO DA QUANTIDADE
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/_bNFAovzuykE/TIU5jaPG2mI/AAAAAAAAAV0/XQrCW70ol4o/
s640/ga060120.png>. Acesso em: 4 nov. 2019.
66
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
VIOLAÇÃO DA QUALIDADE
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/_bNFAovzuykE/TEy5lmGgAlI/AAAAAAAAAUE/HNr6triR-kc/
s640/ga080327.jpg>. Acesso em: 4 nov. 2019.
67
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
VIOLAÇÃO DA RELAÇÃO
[...]
68
TÓPICO 2 | A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
VIOLAÇÃO DO MODO
A fala de Mafalda parece faltar com a máxima do modo, pois não segue a
proposição "seja claro", principalmente no que diz respeito a evitar ambiguidades.
O uso da fita métrica por Mafalda para medir a circunferência do globo terrestre,
seguido do termo regime, remete ao sentido de dieta, redução alimentar com
fins de emagrecimento. No entanto, a relação entre regime e o planeta Terra, por
outro lado, se refere não à forma física do planeta, mas sim às formas de governo
existentes ao redor do mundo.
69
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
70
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
71
AUTOATIVIDADE
FONTE: <https://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2019/08/13/pompeia-objetos-
encontrados-nas-ruinas-poderiam-ser-tesouro-oculto-de-feiticeira.ghtml>. Acesso em: 13
ago. 2019.
72
3 As metáforas, na abordagem mentalista, permitem entender um domínio
de experiência em termos de outro. Ou seja, há uma transferência das
semelhanças de um conceito para a compreensão dos significados de outro.
Analise as metáforas em destaque nas sentenças e demonstre sua relevância
para a linguagem cotidiana.
73
74
UNIDADE 2
HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
75
76
UNIDADE 2
TÓPICO 1
SIGNIFICADO E USO
1 INTRODUÇÃO
Para iniciarmos esta unidade, precisamos retomar algumas concepções
trabalhadas na Unidade 1 e que serão imprescindíveis para compreendermos
como se amplia a visão de linguagem a partir da relação dos significados e do
seu uso na abordagem pragmática. Por isso, quando falamos em uso, a ideia é
de língua além de sistema, de estrutura e de independência contextual. É preciso
entender que os significados não se atualizam na autonomia da língua, mas nas
situações comunicativas, na vinculação entre língua e práticas sociais.
77
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
REFERENTE SENTIDOS
1. Macaxeira
Planta 2. Mandioca
3. Aipim
78
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
NOTA
AUTOATIVIDADE
FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/30_letras_
portugues_licenciatura.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2020.
FONTE: ENADE. Letras Português Licenciatura. 2014, p 16. Disponível em: http://download.
inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2014/30_letras_portugues_licenciatura.pdf.
Acesso em: 4 fev. 2020.
a) ( ) "Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena
ter nascido" (Fernando Pessoa).
b) ( ) "Aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica
com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver pra
sempre tão boba e perdida teria sido fatal" (Tati Bernardi).
79
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
c) ( ) "E pra deixar acontecer/ A pena tem que valer /Tem que ser com você"
(Jorge e Mateus).
d) ( ) "A primeira imagem que surge quando o assunto é pena são os pássaros"
(Arte no Corpo).
e) ( ) "De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que
compus; a minha língua é como a pena de habilidoso escritor" (Bíblia
Sagrada- Salmo 45).
SIGNO
Significante Significado
"toco" ?????
80
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
Semântica Pragmática
Estuda a relação entre as expressões Estuda as intenções dos interlocutores, o
linguísticas e seu significado, mas as intenções contexto e o quanto ele pode influenciar na
do interlocutor não são consideradas. compreensão de enunciados linguísticos.
81
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
82
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
Por que, então, nomear este item de “jogos de linguagem”? Qual a relação
dos jogos de linguagem com a problematização desses aspectos na análise da língua?
DICAS
Do final do século XIX até os anos 1960, a Pragmática ainda não era
considerada uma disciplina, pois havia uma indefinição do objeto de estudo e as
bases teóricas vinham de ciências como a Biologia, Psicologia, Física e Ciências
Sociais. Entretanto, já era reconhecida por vários autores como Peirce (1878),
Bühler (1934 apud Blühdorn, 1997) Morris (1976), Carnap, Hahn e Naurath (1986),
Frege (1978) e Wittgenstein (1999). Morris reconheceu que era preciso estabelecer
os limites dos fenômenos pragmáticos e as concepções a serem utilizadas para
analisar a linguagem em uso. Bühler (1934 apud Blühdorn, 1997), em seu modelo,
apresentou a Pragmática como fundamento para a Semântica e as duas como
base para a Sintaxe.
83
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
(3) Entrevista
DIMENSÃO RELAÇÃO
SINTÁTICA SIGNO SIGNO
SEMÂNTICA SIGNO OBJETO
PRAGMÁTICA SIGNO USUÁRIO
84
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
NOTA
FONTE: SANTAELLA, L. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
Morris (1976) afirma que colocar em prática essas três noções exige alguns
termos específicos como “implica”, na Sintaxe, na Semântica, “designa”, “denota”
e na Pragmática, “expressa”. Na relação triádica da semiose, como essas noções
se fazem presentes? Por que Morris (1976) elege esses termos para singularizar
cada ciência? Vejamos.
85
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
NOTA
NOTA
FONTE: MORRIS, W. C. Fundamentos da teoria dos signos. Rio de Janeiro: Eldorado, 1976.
(4) Armandinho
FONTE: <https://files.nsctotal.com.br/styles/paragraph_image_style/s3/imagesrc/23794138.jpg?
EceWK.66sGYRmwEAgQx5OyhI01CtyjuO&itok=2_U42DoR&width=750>. Acesso em: 15 jan. 2020.
87
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
88
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
89
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Ilari (2000) afirma, ainda, que essa tripartição de Morris (1976) apresenta
alguns problemas como a falta da inclusão de estudos lexicológicos na Semântica e
a relevância dada à Pragmática que inclui a Semântica e essa, a Sintaxe, dificultando
a análise dessas disciplinas “menos relevantes”. Ilari (2000) acrescenta, ainda, que
Morris constrói uma história da Pragmática com os “problemas” que a Semântica
não abordava de forma satisfatória.
DICAS
90
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
DICAS
91
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Temos alguém que produz para alguém um enunciado, neste caso, Ana
diz para Bia que o céu está escuro após olhar pela janela e notar que o tempo se
prepara para uma chuva. Esse enunciado permite pensarmos os atos de fala a
partir do raciocínio de Ana em seu ato de pronunciar a sentença, conforme regras
gramaticais, com certo significado e conteúdo informacional. Ao proferir tal
enunciado, Ana realiza determinada ação com uma intenção que deve corresponder
aos efeitos esperados em Bia, ou seja, Ana espera que Bia tenha determinada ação
e que, segundo Bühler (1934 apud Blühdorn, 1997), deveria ser, prontamente,
compreendida por Bia, pois os conhecimento linguísticos de Bia deveriam bastar
para que ela apreendesse o sentido pretendido por Ana: não sair de casa.
Nesse caso, a reação de Bia não é a prevista por Ana que espera que ela
não saia de casa. Então, por que a comunicação não alcança sucesso? O que faz Bia
agir de forma diferente do esperado por Ana? De acordo com Bühler (1934 apud
Blühdorn, 1997), Ana deveria ter compreendido a fala de Bia, pois a linguagem
é vista como um instrumento de comunicação. Contudo, não é mais possível
analisar a linguagem desse ponto de vista. A linguagem é uma prática social
interativa e não uma transmissão de mensagens de um emissor a um receptor. Os
usuários da língua se envolvem interativamente quando utilizam a língua.
Será que essa partição proposta por Morris (1976) e Bühler (1934 apud
Blühdorn, 1997) se justifica na contemporaneidade? A relevância dada à
Pragmática seria suficiente à compreensão das proposições e dos contextos em
92
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
O que vai nos interessar agora é demonstrar que os limites entre a Semântica
e a Pragmática devem ser repensados, como argumenta Cançado (2012, p.19-20):
E
IMPORTANT
Faça uma listagem dessas construções semânticas e observe como elas trazem
ecos de outras enunciações.
93
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
94
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
95
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
96
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
A noção de sintagma
Nesta seção, vamos jogar com nossa intuição para tomar pé da noção
de sintagma [...]. Para tanto, consideremos (1) perguntando se aquela ré culpada
é um sintagma e, supondo que seu núcleo possa ser o nome, se é um sintagma
nominal:
Se a resposta for sim, ela vai ser válida e representamos aquela ré culpada
entre colchetes com o rótulo SN (sintagma nominal), como em (2a); mas se a
resposta for não, ela também vai ser válida e nesse caso representamos apenas
aquela ré entre os colchetes, como em (2b):
97
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Tanto (2a) como (2b) são estruturas que confirmam que em (1) há uma
ambiguidade cujos efeitos são os seguintes: por um lado, quando o adjetivo
culpada não se combina com aquela ré, como em (2b), isto é, quando não pertence
ao mesmo sintagma nominal, ele representa o veredicto do juiz, que é a culpa
da ré; por outro lado, quando é combinado com aquela ré, como em (2a), ele
pertence ao sintagma nominal e o veredicto do juiz não é expresso na sentença.
Assim, o fato sintático de a sequência em (1) tolerar mais de uma estrutura
espelha a ambiguidade de que ela exibe: nesta sequência, não fica claro se
culpada pertence ou não ao sintagma nominal. Se qualquer indício deixasse
claro qual é a estrutura de aquela ré culpada, a ambiguidade não se instauraria.
FONTE: Adaptado de MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. Novo manual de sintaxe. São Paulo:
Contexto, 2013. pp. 47 – 49.
98
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
Relações Sintagmáticas
99
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
100
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
101
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
E
IMPORTANT
FONTE: A autora
102
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
103
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
104
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
FONTE: A autora
105
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
FONTE: A autora
Austin (1990) observou que muitos enunciados não são realizados, pois
as condições em que são enunciados são inadequadas. Para que um enunciado
seja efetivamente realizado, é preciso que o falante tenha autoridade para realizar
o ato de fala e a linguagem deve se constituir em uma ação que seja capaz de
produzir efeitos de sentido sobre o seu interlocutor.
NOTA
106
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
(15) Juiz de paz surpreende noivos com promessa durante os votos no interior de
São Paulo: “Prometo não agredi-la” (http://twixar.me/pFM1).
107
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
FONTE: A autora
108
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
(18) Armandinho
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/d9/11/d8/d911d8db05345928ac7914fce015eae6--ski.jpg>.
Acesso em: 15 jan. 2020.
109
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
DICAS
[...]
É preciso observar mais uma coisa sobre os performativos: para que a ação
correspondente a um performativo seja de fato realizada, é preciso não somente que ele
seja enunciado, mas também que as circunstâncias de enunciação sejam adequadas. Um
performativo pronunciado em circunstâncias inadequadas não é falso, mas nulo, ele fracassou.
Assim, por exemplo, se o irmão da noiva e não o noivo diz aceito, na cerimônia
de casamento, o performativo é nulo, porque quem realizou o performativo não é aquele
que, nessa circunstância de enunciação, deve realizá-lo. Por isso, Austin vai estudar as
condições de felicidade (sucesso) e fracasso dos performativos, ou seja, as circunstâncias de
enunciação que fazem com que um performativo seja efetivamente realizado. As principais
condições de sucesso de um performativo são:
110
TÓPICO 1 | SIGNIFICADO E USO
FONTE: FIORIN, J. L. A linguagem em uso. In: Introdução à Linguística. São Paulo: Contexto,
2004.
111
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
112
AUTOATIVIDADE
2 De acordo com Fiorin (2013, p. 52), “falar consiste em encadear sons, enquanto
compreender uma sequência fônica implica em segmentá-la em unidades
de sentido. [...] Os obstáculos ao entendimento residem no fato de que os
sons se juntam sem qualquer separação e, nesse processo, existem quedas
de sons [...]” e outros fenômenos que levam o falante a selecionar e combinar
elementos na produção de seus enunciados. O que o autor procura definir
está relacionado ao paradigma e sintagma, eixos presentes na língua. Sobre o
paradigmático, assinale a alternativa CORRETA:
3 Austin (1990) afirmava em sua obra Quando dizer é fazer que o dizer não é
apenas a transmissão de informações, mas também uma maneira de agir
sobre o outro e sobre o mundo. Levando em consideração essa afirmação,
discuta a força enunciativa de “Um dia, eu quero chegar lá. Mas quero
chegar linda”, presente na propaganda.
113
FONTE: <http://ig-wp-colunistas.s3.amazonaws.com/consumoepropaganda/wp-content/
uploads/2011/04/Dupla_Beleza_01-652x429.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2020.
114
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
De acordo com Wittgenstein (1999, p. 43), “[...] o significado de uma
palavra é o seu uso na linguagem”, ou seja, o sentido só é construído nos jogos
de linguagem, no emprego da língua em situações sociodiscursivas. Temos
discutido ao longo desta unidade o quanto é preciso pensar de outra forma a
respeito da linguagem e ultrapassar a ideia de que as condições de verdade de
uma sentença são suficientes para a compreensão dos significados. Essa recusa
da lógica pela linguagem ordinária, considerada heterogênea, incerta, opaca e
subjetiva tem levado muitos linguistas a não perceberem que a linguagem deve
ser compreendida como uma forma de interação social na qual os sentidos se
atualizam a cada relação intersubjetiva.
115
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
(19) Armandinho
FONTE: <http://40.media.tumblr.com/bee5ca5cdd01c12a968d1295763d4958/tumblr_
nq2016ffJw1u1iysqo1_500.png>. Acesso em: 15 jan. 2020.
Evidencia-se uma cena entre a “mãe” e o filho. Está muito frio e Armandinho
se recusa a sair debaixo do cobertor, cena típica do sul do país, local em que essas
tirinhas são produzidas e retratam a região. No primeiro quadrinho, infere-se que
a mãe já tenha chamado o filho para fazer algo sem fazer referência à sobremesa.
A mãe, no segundo quadrinho, diz a Armandinho que não reprova sua recusa
em ir até ela, “Tudo bem”. No entanto, uma outra ação, que não era esperada por
Armandinho e que se traduz em “Eu como a sobremesa”, enunciada pela mãe,
muda a cena toda.
116
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
2 RELAÇÕES DE SENTIDO
Na Figura 7, foi possível evidenciar que os falantes, Armandinho e a
mãe, não escolheram previamente as palavras que iriam usar para produzir
determinados sentidos. As palavras não estão com seus sentidos prontos e
acabados para serem utilizados em determinada interação entre os usuários. Os
sentidos das escolhas lexicais e sintáticas dos enunciados emergem do momento
de fala, sem nada acertado previamente e sujeitos a todos os desdobramentos da
situação de comunicação.
(20) Notícia
117
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
118
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
E
IMPORTANT
Antes de iniciarmos nossa discussão acerca dos níveis linguísticos, vamos construir
nossas observações acerca do sentido literal das palavras que utilizamos ou lemos em
diversos textos presentes em jornais, revistas, mídia.
119
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
NOTA
FONTE: <https://www.rumo.com.br/lojas/00034487/images/Autores/sirio-possenti.jpg>.
Acesso em: 16 jan. 2020.
É preciso ressaltar que essas palavras são sinônimas, mas não são perfeitas,
pois não encaminham para os mesmos sentidos. Em (21a), o jornal utiliza uma
linguagem mais formal, “embriagado”, expressão também presente em textos
120
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
jurídicos. Já, em (21b), o uso de “bêbado” é mais informal e utilizado com o sentido
de viciado, de alguém que usa a bebida com frequência. Além dessas expressões,
os jornais se utilizam de “confusão” e “briga”. Na expressão “confusão” em (21a)
está implícita a ideia de briga, mas em “briga”, palavra utilizada em (21b) não é
possível recuperar “confusão”, uma vez que os sentidos apontam para conflitos,
embates entre pessoas.
A seleção lexical não é uma tarefa para ser decidida em uma interação
face a face de forma unilateral. A compreensão de uma conversa, por exemplo,
é uma atividade em que os interlocutores compartilham sentidos. Por isso, os
sentidos não são “desempacotados” pelo interlocutor ao serem enviados pelo
falante que orienta os sentidos para que o ouvinte siga as “instruções” e construa
os sentidos, como podemos observar na tirinha (22) de Armandinho em que
os sentidos não estão no texto, mas na enunciação. Como se dá a construção
interativa dos sentidos?
(22) Armandinho
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/78/ea/6d/78ea6d23299f3f7b0d61fcb3bff7c353--cartoons-
rotary.jpg>. Acesso em: 16 jan. 2020.
121
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
122
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
(24) Brumadinho
a. Impacto ambiental da tragédia de Brumadinho ‘será sentido por anos’, diz
WWF (REVISTA ISTO É ON-LINE. Disponível em: http://twixar.me/brQ1.
Acesso em: 29 jan. 2019).
123
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Já, em (24c), por ser uma instituição em que a pesquisa, com a extensão e
o ensino, é um dos pilares da universidade, a expressão “impactos ambientais”
aponta, semanticamente, atrelado à expressão “entenda”, para estudos,
experts que se distanciam da área jornalística e fazem emergir um discurso
de autoridade. Diferente das notícias, a Universidade não se utiliza de marcas
de subjetividade que, no caso dos veículos de comunicação, trazem a voz dos
especialistas de outra instituição.
124
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
A paráfrase, isso pôde ser apontado nesses enunciados, toma como base
a semelhança de significação lexical ou de construções gramaticais, mas elas
nunca são completas, uma vez que não há uma identidade absoluta de sentidos.
Margotti (2003, p. 31, grifos do autor) acrescenta:
125
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
E
IMPORTANT
FONTE: FLÔRES, O. C. Parafrasear: por quê? Para quê? Letrônica, Porto Alegre, v. 9, n. 2,
p. 253-263, jul.-dez. 2016. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/
letronica/article/view/23314/15316. Acesso em: 21 jan. 2020.
NOTA
OPACIDADE DA LINGUAGEM
126
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
127
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
ações outras se somam, mas os valores dessas são diferentes. O uso de “reforçar”
e “forçar” evidenciam um conflito na identidade de um primeiro-ministro da
“paz”. Os efeitos dessas duas ações, tensão étnica e violência contra as pessoas,
reafirmam que a paz e a democracia ainda estão longe da Etiópia.
128
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
DICAS
POSSENTI, S. Os limites do discurso: ensaios sobre discurso e sujeito. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009.
(26) Carnaval
a. Cartaz ONU
129
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
b. Cartaz Skol
130
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
o direcionamento é para os homens nos termos “tire o seu time”, ou seja, homens,
deixem de constranger as mulheres, e “respeite” que traz implícita a ação dos
homens de respeitarem as mulheres.
Nos textos em análise, vamos pensar, então, qual a relação entre as formas
lexicais e a discursividade? A partir de uma seleção sistemática configurada em
uma estrutura sintática como observamos em (26a) e (26b), materializa-se o
discurso conforme a situação em que é abordado, nesse caso, o respeito pelas
mulheres no carnaval. O discurso acerca do respeito é veiculado nos cartazes
pela seleção lexical que o produtor dos cartazes realiza. Como já enfatizamos
anteriormente, a partir dessas escolhas foi possível evidenciar para quem era
dirigido cada um dos textos.
131
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
NOTA
FONTE: CAREL, M. A polifonia linguística. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 46, n. 1, p. 27-36,
jan./mar. 2011.
132
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
Por isso, é relevante conceituar discurso, uma vez que o discurso reúne não
só os enunciados, como também a enunciação, o acontecimento, a singularidade
do texto, o material linguístico, traduzido em blocos semânticos (DUCROT,
1972). Por blocos semânticos podemos entender o encadeamento de duas
sequências ligadas por um conectivo que passam a ser uma unidade semântica
concreta: o texto. Esses blocos semânticos são atualizados pelos encadeamentos
argumentativos.
NOTA
FONTE: AZEVEDO, T. M. de. Discurso didático: um modelo para descrição do sentido pela
semântica argumentativa. Conjectura, Caxias do Sul, v. 16, n. 2, maio/ago. 2011.
133
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Por isso, texto e discurso são muito complexos de serem definidos, pois há
uma rede de relações que os constituem e conferem a essas unidades linguísticas
o caráter de unidade de sentido, reconhecida e produzida pelos falantes. Como
reconhecer esta unidade de sentido? Como o encadeamento argumentativo dá
suporte à produção de sentidos? O texto seria responsável pelos sentidos na
realização dos blocos semânticos?
(28) De acordo com Cappelo, o convite ao cantor foi feito pelo próprio maestro
Nelson Neves, baseado em seu estilo peculiar. “O maestro já havia
presenciado um show meu e, portanto, ele conhece o estilo que costumo
cantar <http://twixar.me/BKC1>.
134
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
E
IMPORTANT
135
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
LEITURA COMPLEMENTAR
Seja o discurso D:
136
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
137
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Em (3), L aceita E14, E15, E16, E17, E18, E19, E20, E21, E22 e E23, rejeita E24
e assume E25. Assim, o encadeamento argumentativo que manifesta a posição de
L em (3) é deixar o papel higiênico longe dos banheiros DC neg-aprendizagem a partir
dos problemas do cotidiano escolar.
Por fim, o EA3 relaciona, mais uma vez sob o aspecto normativo, ausência
de papel e ausência de aprendizagem, que formam o bloco semântico ausência de
papel-ausência de aprendizagem, cuja atualização poderia ser um enunciado como:
se não há papel, não há aprendizagem.
138
TÓPICO 2 | O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS
Já para SE2, diremos que se constitui pela relação argumentativa entre EA2
e EA3. EA2 relaciona os conceitos de pedido e exposição, ao passo que EA3 relaciona
ausência de papel à ausência de aprendizagem. Assim, a relação argumentativa dos
dois encadeamentos constitui-se sob o aspecto normativo: exposição DC ausência de
aprendizagem, que pode ser atualizado por um enunciado como a exposição (gerada
pelo pedido em decorrência da ausência de papel) não proporciona aprendizagem.
139
UNIDADE 2 | HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
140
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
141
AUTOATIVIDADE
2 Texto e discurso são constituídos por uma rede de relações que confere a
essas unidades linguísticas o caráter de unidade de sentido, reconhecida
e produzida pelos falantes. A partir dessa afirmação e da imagem, aponte
como se dá a construção de sentidos na fala das mães.
FONTE: http://3.bp.blogspot.com/-duSrBDvss-A/TtLFdgg4AZI/AAAAAAAAASE/eYm5ykiGsRQ/
s400/charge.jpg>. Acesso em: 10 set. 2018.
142
3 Para a compreensão do texto como uma unidade de sentido, é preciso
considerar os blocos semânticos construídos a partir dos enunciados
presentes no discurso e resultantes do encadeamento argumentativo. Para
isso, siga as orientações:
143
144
UNIDADE 3
A ESTILÍSTICA: DISCURSO E
SUBJETIVIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
145
146
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Estamos iniciando mais uma unidade da disciplina Semântica e Estilística.
Nas Unidades 1 e 2, tratamos, respectivamente, da heterogeneidade dos campos
de estudos semânticos e dos limites tênues dos aspectos semânticos e pragmáticos
da língua. Nesta unidade, vamos ampliar esses estudos, abordando a Estilística
e as implicações das escolhas realizadas pelo usuário da língua na produção de
certos efeitos de sentido em relação a outros.
147
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
(1) — Só eu sei o quanto trabalhei com meus guias. Eu estou muito feliz. É meu
primeiro título, em meu primeiro Mundial. Eu estava com essa vitória entalada
na garganta, porque fui mal no Parapan de Lima <http://twixar.me/wrKT>.
1.a. Eu estava com essa vitória entalada na garganta, porque fui mal no Parapan
de Lima.
1.b. Eu estava com essa vitória entalada na garganta, uma vez que fui mal no
Parapan de Lima (adaptado).
1.c. A vitória estava entalada em minha garganta: fora mal no Parapan de Lima
(adaptado).
Tomando a discussão realizada por Bakhtin com seus alunos, será possível
avaliar esses três enunciados (1.a, 1.b, 1.c) como gramática e estilisticamente
corretos. Em 1.a e 1.b, temos enunciados compostos pelas conjunções “porque”
e “uma vez que” e, em 1.c, não temos conjunção. Como podemos evidenciar
nesses enunciados, a expressividade é diferente. Como argumenta Bakhtin
(2013), as conjunções, em 1.a e 1.b, carregam estilisticamente um volume
excessivo e uma sonoridade desagradável, ou seja, são pesadas, sem harmonia,
frias e sem alma.
148
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
Ao propor aos alunos esse trabalho com enunciados vivos, Bakhtin (2013)
destaca um trabalho estilístico que não se afasta da língua, mas se manifesta nos
processos de escolha e de estruturação diferente da linguagem. As discussões
propostas, nesta unidade, serão encaminhadas a partir de uma discussão sobre
a questão de estilo, tentando evidenciar que estilo está atrelado a escolhas e que
estilo se aprende a partir de uma multiplicidade de práticas.
2 ESTILO E ESTILÍSTICA
O que é estilo? Como definir o estilo? O estilo é apreensível a partir de
palavras que fogem à norma? Estilo é desvio ou estilo é um trabalho de escolhas? O
que considerar sobre norma? E desvio? E trabalho? O crítico literário e o linguista
compartilham da mesma concepção de estilo? Quando entramos no campo da
Estilística, tudo é um tanto impreciso, questionável e ambíguo. Pode até parecer,
mas precisamos entender, inicialmente, de que não há uma dicotomia entre a
Literatura e a Linguística quando abordamos a estilística e o estilo.
149
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
150
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
AUTOATIVIDADE
Para Bally (1952 apud MOREJÓN; MARTINS, 1967, p. 159), "a linguagem
expressa sentimentos e ideias além de refratar a realidade impondo-lhe
deformidades que são da natureza do sujeito". Por isso, a sensibilidade na
estilística é traduzida nos recursos que expressam afetividade, julgamentos,
emoções, presentes no enunciado, e que afetam o outro de forma persuasiva.
Bally se dedicou a estudar a língua francesa com relação aos aspectos estilísticos e
didáticos e apontou dois efeitos estilísticos: a palavra provoca (expressa) emoção e
a palavra evoca um contexto de uso. Para compreender esses efeitos das palavras,
tomamos o exemplo de Lapa (1998) exposto em (2):
151
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
NOTA
FONTE: <https://alchetron.com/cdn/charles-bally-da8ace51-a973-435a-b4d3-
af4cc1387d7-resize-750.jpeg>. Acesso em: 13 nov. 2019.
152
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
Para Bally (1951 apud POSSENTI, 2001, p. 252), estilo é o “estudo efetivo
dos fatos de expressão na linguagem organizada”, ou seja, um sistema no qual
estão relacionadas à afetividade e à subjetividade no uso da língua. Ao criar a
Estilística da língua, Bally fundamenta seu aparato teórico na enunciação que
é o ato de construção do enunciado e suas ideias serão significativas para a
Estilística/Linguística da Enunciação, uma vez que, em 1932, o linguista traz
um capítulo intitulado Teoria geral da enunciação em seu livro Linguistique générale
et linguistique française.
NOTA
Para uma maior discussão acerca dos trabalhos de Bally e Benveniste sobre a enunciação,
ver: Aspectos da teoria enunciativa de Charles Bally (CREMONESE; FLORES, 2010); Por que
gosto de Benveniste? (FLORES, 2005); Introdução à Linguística da Enunciação (FLORES;
TEIXEIRA, 2013).
153
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
154
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
FONTE: A autora
155
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
DICAS
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=175&v=RP77PkL5TMg
&feature=emb_title>. Acesso em: 17 nov. 2019.
NOTA
FONTE: <https://i.pinimg.com/originals/a2/1c/fb/a21cfbae53d5a30591aa542e8faa6a03.jpg>.
Acesso em: 22 jan. 2020.
156
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
157
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
NOTA
FONTE: <https://i.warosu.org/data/lit/thumb/0062/52/1426035478278s.jpg>.
Acesso em: 13 nov. 2019.
158
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
AUTOATIVIDADE
Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a Chica, Tomezinho.
Sorriu para Tio Terêz: —“Tio Terêz, o senhor parece com Pai...” Todos
choravam. O doutor limpou a goela, disse: —“Não sei, quando eu tiro
esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d’água...”Miguilim
entregou a ele os óculos outra vez. Um soluçozinho veio. Dito e a
CucaPingodeOuro. E o Pai. Sempre alegre, Miguilim... Sempre alegre,
Miguilim... Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o beijava. A
Rosa punhalhe docesdeleite nas algibeiras, para a viagem. Papacoo
Paco falava, alto, falava (ROSA, 2001).
FONTE: ROSA, J. G. Campo Geral. In: Manuelzão e Miguelim. 11. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001.
160
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
3 CONCEPÇÃO DE ESTILO
Temos sinalizado o quanto a Estilística é uma ciência jovem e seu objeto,
métodos e conceito de estilo precisam ainda ser melhor definidos. Abordar a
questão do estilo, na literatura ou na linguística, é um desafio, especialmente
quando consideramos que muitos estudos têm deixado de lado esse conceito. Nos
anos 1990, o estilo retorna à cena das pesquisas, mas está longe de uma definição
única, pois não é um conceito puro; é complexo, ambíguo, múltiplo, pois houve
um acúmulo de concepções: desvio, ornamento, trabalho, cultura.
161
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
Erros e desvios podem ser tratados da mesma forma? Qual a relação entre
erro, desvio e norma? O desvio rompe com a norma ou com o código linguístico?
O que determina a norma? Norma e desvio estabelecem uma relação biunívoca
com gramática e estilo? Qual a relação entre desvio, escolha e estilo?
162
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
NOTA
Para Brito (1995), o desvio poderá ser um erro se infringir uma regra
invariante. Ou, não ser um erro se implicar uma regra variante. Em (4), não há
erro. Então o que distingue um enunciado do outro? Em (4.a) há um desvio,
pois, sua construção é uma variante coloquial com relação ao registro culto da
língua em (4.b). É no campo da Estilística, principalmente, nos trabalhos de
Pierre Guiraud (1970), que vamos encontrar uma discussão mais aprofundada
acerca dos desvios linguísticos, quase sempre inconscientes, que correspondem
às nuances do sentimento e da ideia.
• Não há apenas uma norma, mas várias que dependem dos ambientes
socioculturais, ou seja, traços de uma região podem não ser aceitos em outra.
• O desvio só se materializa a partir do registro linguístico como no cordel em
que a norma se constitui o desvio. A linguagem dos românticos é desvio em
relação aos clássicos.
163
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
Vamos observar em (5) como o autor José J. Veiga constrói seu texto e
como se configura o desvio como estilo.
(5) “De repente os muros, esses muros. Da noite para o dia eles brotaram
assim retos, curvos, quebrados, descendo, subindo, dividindo as ruas ao
meio conforme o traçado, separando amigos, tapando vistas, escurecendo,
abafando. Até hoje não sabemos se eles foram construídos aí mesmo nos
lugares ou trazidos de longe já prontos e fincados aí” (VEIGA, 2001, p. 30).
164
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
AUTOATIVIDADE
Vamos fazer mais uma parada nesse assunto e realizar uma reflexão
sobre desvios linguísticos que dão a dimensão da proposta aqui estudada.
Observe os efeitos de sentido desses clichês, recursos considerados desvios
com relação à norma.
“comer o pão que o diabo amassou” passar por grande sofrimento, privações.
“meter o rabo entre as pernas” ficar calado, amedrontado, culpado.
“estar com a faca e o queijo na mão” impor a vontade, ter poder.
Agora é sua vez! Pesquise sobre outros clichês do nosso cotidiano para
compreender os efeitos de sentidos em tais desvios estilísticos.
165
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
6.a. “Não sei como esse escritório funcionaria sem você! Mas a partir de segunda-
feira, eu vou descobrir”, conta Tracey Bryan.
6.b. "Eu tive que dar um tiro em outro refém hoje. O resto da equipe estava
começando a ficar relaxada", relata Richard Brasser.
6.c. "Nós decidimos que seu perfil e seus talentos são ideais para o setor de
freelancers", conta John Bagnall.
166
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
É por isso que a forma deve ser considerada muito significativa nessa
concepção de estilo, pois é por meio da multiplicidade de recursos expressivos
disponíveis, que o enunciador se singulariza e constrói uma maneira de se distinguir
e criar uma identidade. Forma e conteúdo são inseparáveis, são complementares,
embora a forma suscite vários efeitos de sentido conforme o contexto.
NOTA
167
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
(8) a. Número de mortos em erupção de vulcão na Nova Zelândia sobe para seis
(G1. 2019.< http://twixar.me/g3gT>. Acesso em: 22 jan. 2020).
b. Vulcão surpreende turistas e mata 5 na Nova Zelândia (FOLHA. 2019.
<http://twixar.me/w3gT>. Acesso em: 22 jan. 2020).
c. Sobe para seis o número de mortos na erupção de vulcão na Nova Zelândia
(R7. 2019. http://twixar.me/J3gT>. Acesso em: 22 jan. 2020).
d. Erupção de vulcão faz cinco mortos na Nova Zelândia (CORREIO DA
MANHÃ. 2019. <http://twixar.me/y3gT>. Acesso em: 22 jan. 2020).
168
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
FONTE: A autora
(9) E a moda
da menina muda
da menina trombuda
que muda de modos
e dá medo. [...]
(A menina amada!)
(10) a. Enem 2019 para pessoas “privadas de liberdade” será aplicado nesta terça
e quarta (G1. 2019. <http://twixar.me/83gT>. Acesso em: 22 jan. 2020).
b. Enem 2019: mais de 1,4 mil “presos” no DF fazem provas nesta terça e
quarta (G1. 2019. <http://twixar.me/B3gT>. Acesso em: 22 jan. 2020).
c. Enem: “Detentos” fazem provas do Enem nesta terça e quarta (UOL. 2019.
<http://twixar.me/R3gT>. Acesso em: 22 jan. 2020).
169
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
(11) [...]
Sonho risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho
seria o rebanho?
[...]
(12) “Viver é muito perigoso; e não é não. Nem sei explicar estas coisas. Um sentir
é o do sentente, mas outro é o do sentidor”.
• Algumas regras da sintaxe podem receber um novo papel cuja função não é
prevista, mas pode ser cumprida em (13).
170
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
171
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
AUTOATIVIDADE
4 ESTILO E RETÓRICA
Já discorremos acerca da retórica quando situamos a Estilística em seu
panorama evolutivo. Vamos, agora, demonstrar que a retórica não é uma disciplina
confinada à antiguidade e nem a termos como, “epanortose, hipotipose, tapinose”
que não cabem mais em nosso vocabulário. A retórica que tratava o discurso
apenas como algo pomposo e formal dá lugar às retóricas, pois não é mais possível
trabalhar o discurso apenas de uma perspectiva e de um reducionismo teórico.
172
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
NOTA
173
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
A questão nessa figura retórica não está apenas em repetir palavras que
poderiam ser substituídas por um sinônimo. O que cria o estilo do autor é o modo
como é utilizada a repetição ou qualquer outra figura de retórica que modifica
o uso normal e lógico da língua. Ou seja, o estilo do autor é constituído pelas
escolhas dos meios expressivos e determinados pela intenção de quem fala e
escreve, nesse caso, do Padre Antônio Vieira.
174
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
1. Conveniência Adaptar o estilo ao assunto (gênero) para comover, informar, explicar e agradar
2. Clareza Adaptar o estilo ao público, pois o que é claro para um grupo não o é para outro.
Observar regras de estilo como a seleção, ritmo, brevidade de palavras a fim de
3. Vivacidade
o orador parecer dinâmico, engraçado, imprevisto.
4. Brevidade Evitar a redundância, fazer-se ver no discurso como autor.
5 FIGURAS RETÓRICAS
As figuras sempre estiveram presentes no campo da retórica e tiveram
uma relevância muito grande a ponto de ser estudada de modo exclusivo. Isso
levou os estudiosos a se distanciarem do campo discursivo e a se voltarem apenas
para o texto literário. Assim, era preciso retomar os estudos que Aristóteles
desenvolveu no campo da retórica e da poética quando tratava da metáfora.
Para Reboul (2004, p. 66), “[...] a figura eficaz pode ser definida como
algo que se desvia da expressão banal, mais precisamente por ser mais rica, mais
expressiva, mais eloquente, mais adaptada, numa palavra mais justa do que
tudo que a poderia substituir”. Vejamos esta campanha, na Figura 1, da FIESC
ao distribuir este outdoor no estado para levar informação a trabalhadores e
comunidade sobre a dengue e a zika.
175
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
NOTA
176
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
Para Reboul (2004, p. 113), uma figura é um [...] recurso de estilo que
permite expressar-se de modo simultaneamente livre e codificado”. Livre
porque o autor não se vê na obrigação de utilizar uma figura para comunicar-
se, e codificado porque as figuras possuem uma estrutura manifesta, repetível,
transmissível que objetiva se adequar ao enunciado e imprimir uma força
estilística à enunciação. Para Fiorin (2014, p. 28), “[...] a figura é um desvio,
que incide sobre a palavra, a frase ou o discurso. Além disso, é uma construção
livre, que está no lugar de outra”.
177
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
FONTE: A autora
178
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
E
IMPORTANT
Vogais /a/ /ã/ /e/ /o/ /u/... bala, campo, belo, saudade...
Consoantes /b/ /c/ /d/ /k/ /m/... Bola, cola, dente, casa, mala...
179
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
FIGURA 2 – ALITERAÇÃO
FIGURA 3 – ASSONÂNCIA
FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/d8/4b/a5/d84ba5749efb11ff76af127de2951d80.jpg>.
Acesso em: 22 jan. 2020.
FIGURA 4 – ONOMATOPEIA
AUTOATIVIDADE
• Metonímia: figura retórica na qual um elemento fonte passa a ser utilizado para
designar uma realidade por contiguidade (semelhança) produzindo efeitos de
sentido no interlocutor. A força argumentativa dessa figura está na familiaridade
entre o que é dito e como é aceito pelo outro. Ou seja, ao utilizar uma palavra
para se referir a outra ou a um fato é preciso que seja compreendido pelo outro
para que os sentidos tenham o efeito pretendido pelo autor do enunciado.
A metonímia cria símbolos em uma cultura que produz, cognitivamente,
determinados sentidos, condensando um argumento muito forte como em
“suor” associado a trabalho, “lágrimas” associada à tristeza, sofrimento.
FIGURA 5 – METONÍMIA
FONTE: <http://luciocunha.com.br/wp-content/uploads/2018/02/hondamotossobrenatural2_
fbiz-1024x637.jpg>. Acesso em: 4 dez. 2019.
182
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
FIGURA 6 – METONÍMIA
FONTE: <https://pt-static.z-dn.net/files/d74/9487db0f86aa7484a8e18c3603d54451.jpg>.
Acesso em: 4 dez. 2019.
FIGURA 7 – SINÉDOQUE
FONTE: <http://blogs.diariodonordeste.com.br/target/wp-content/uploads/2014/02/paz.jpg>.
Acesso em: 4 dez. 2019.
183
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
(17) “Confira 6 sucessos do Rei do Pop, que completaria 60 anos hoje” <http://
twixar.me/zLgT>.
FIGURA 8 – ANTONOMÁSIA
FONTE: <https://www.livrariadoteatro.com.br/upload/produtos/big/PantojaAntonio_
Margarida_20151210112313.jpg>. Acesso em: 5 dez. 2019.
• Metáfora: figura que estabelece uma relação entre dois elementos heterogêneos,
ressaltando um elemento comum entre eles e mascarando outros. É muito
utilizada no cotidiano e se baseia em uma comparação implícita, ou seja,
sugere o “como” ou “tal que” que introduz uma característica atribuída a algo.
Os efeitos de sentido se dão pelo jogo de palavras no enunciado que funciona
como uma estratégia estilística-argumentativa.
184
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
FIGURA 9 – METÁFORA
(19) “Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro
que lês” (QUINTANA, 1980).
FONTE: A autora
185
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
Em (20), temos trechos das músicas “Eu quero apenas” e “Podres poderes”
que apresentam hipérbole e evidenciam sua força argumentativa em “milhão de
vezes” e “setecentas mil vezes. Se trocássemos essas expressões por “muitos
amigos” e “gritar várias vezes”, esse poder de argumentação seria minimizado
ou desapareceria, dependendo do contexto em que fosse enunciado.
FIGURA 10 – HIPÉRBOLE
FONTE: <https://alehand.files.wordpress.com/2009/09/niquel1.gif?w=500&h=160>.
Acesso em: 6 dez. 2019.
186
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
• Oxímoro ou paradoxo: é uma figura que, na produção do texto, une dois termos
de sentidos incompatíveis, contraditórios em uma mesma unidade de sentido.
Em um enunciado paradoxal, um mesmo referente é construído a partir de
noções excludentes que são colocadas em relação. Na música de Caetano
Veloso, “Tiranizar”, em (20), a ideia construída é de oposição com as palavras
“prender” e “soltar”, ou seja, os sentidos dessa relação excludente apontam
para que a “prisão” funcione, é preciso que a liberdade caminhe junto.
(20) “Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar” (Tiranizar – Caetano
Veloso).
FONTE: <https://wordsofleisure.files.wordpress.com/2015/01/img_0134.jpg?w=740>.
Acesso em: 10 dez. 2019.
187
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
FIGURA 12 – ELIPSE
(21) a. “Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado, se quiser
voar. Pra lua, a taxa é alta. Pro sol: identidade” (Carimbador Maluco de Raul
Seixas).
b. “Era impossível saber onde se fixava o olho de padre Inácio, duro, de vidro,
imóvel na órbita escura. Ninguém me viu. Fiquei num canto, roendo as
unhas, olhando os pés do finado, compridos, chatos, amarelos” (Angústia
de Graciliano Ramos).
188
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
FIGURA 13 – APOSIOPESE
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/_bKkQu_ToTM8/TUi-MFpjBkI/AAAAAAAAASg/23m3kCqovyY/
s1600/An%25C3%25BAncio%252BB...jpg>. Acesso em: 10 dez. 2019.
FIGURA 14 – ANTÍTESE
FONTE: <https://mir-s3-cdn-cf.behance.net/project_modules/max_1200/
f8bf4f12852545.5626e25c20aa1.jpg>. Acesso em: 11 dez. 2019.
189
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
FONTE: A autora
FIGURA 15 – ANACOLUTO
FONTE: <http://www.pulsarpropaganda.com.br/wp-content/uploads/2012/12/banner_
facebook_0412121-520x346.jpg>. Acesso em: 11 dez. 2019.
190
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
191
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-BWRNaBOkToA/VpOkd9p-RVI/AAAAAAAADKs/
MRYfnEPLpZw/s640/whatsapp-prof.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2019.
Sutil, dissimulada,
Ironia
fingida, implícita, crítica.
https://www.todamateria.com.br/sarcasmo-e-ironia/
Malicioso, provocativo,
Sarcasmo
explícito, maldoso
https://www.todamateria.com.br/sarcasmo-e-ironia/
192
TÓPICO 1 | NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO
AUTOATIVIDADE
FIGURA 17 – TIRINHA
FONTE: <http://bp0.blogger.com/_VET6g5Bb-KU/R_N_WM5nWHI/AAAAAAAAAKA/R4l1fG5KIKs/
s400/tvdecachorro.jpg>. Acesso em: 10 dez. 2019.
193
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
E
IMPORTANT
Beth Brait
Ainda que o termo não se restrinja necessariamente às artes, ele sempre diz respeito
às idiossincrasias, e à maneira de se expressar de uma determinada pessoa, sugerindo
uma estreita e exclusiva relação entre estilo e personalidade, estilo e individualidade. Na
melhor das hipóteses e de um ponto de vista dos estudos linguísticos mais recentes, o
estilo pode estar pensado em função do texto e de suas formas de organização em relação
às possibilidades oferecidas pela língua, estendendo-se a textos não necessariamente
literários ou poéticos.
[...]
[...]
194
RESUMO DO TÓPICO 1
195
AUTOATIVIDADE
2 Canção
FONTE: MEIRELES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993, p. 118.
196
Com base no poema Canção, assinale a alternativa CORRETA no que diz
respeito à especificidade da linguagem literária.
3 O estilo como desvio se dá com relação a sua construção como uma variante
do registro culto da língua e se caracteriza pelos seus efeitos expressivos.
Com base nesta afirmação, analise os enunciados:
I- Não há apenas uma norma, mas várias que dependem dos ambientes
socioculturais como em “peses” e “Prinspe” utilizados pelos poetas.
II- A expressividade da língua nem sempre está no desvio, mas no uso, na
recriação como em “prostrado” mais expressivo que “abatido”.
III- O contexto nunca pode determinar o que pode ou não ser considerado
norma e desvio como no caso da forma linguística “Prinspe” que se
configura um erro.
197
c) ( ) O trabalho estilístico se efetiva quando o enunciador escolhe a forma correta.
d) ( ) O trabalho estilístico está relacionado aos efeitos de sentido que só são
conseguidos com determinadas palavras.
e) ( ) O trabalho estilístico está associado à literatura, ao desvio e à expressão
pessoal.
198
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Temos desenvolvido esta disciplina com base na noção de estilo como
trabalho, ou seja, como as escolhas realizadas pelo autor produzem certos efeitos
de sentidos em relação a outros possíveis. A singularidade de um discurso
não está no fato de fugir ou não às normas de uso, mas de se constituir uma
enunciação. Por isso, o trabalho empreendido pelo autor com as palavras não
está nas rupturas, mas no posicionamento e na sua inscrição no texto. Vejamos
esta chamada para o Oscar 2020 <http://twixar.me/sKBT>.
199
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
2 AS ESTILÍSTICAS
Ao trabalhar o estilo, precisamos compreender que não há apenas uma
maneira de tratar o trabalho realizado pelo autor/sujeito de um texto. O trabalho
estilístico implica diferentes olhares e significativas abordagens. Entre elas,
podemos destacar quatro abordagens que vão definir as escolhas e as maneiras
de construir a subjetividade e os efeitos de sentidos: o som, a palavra, a frase e a
enunciação.
200
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
201
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
Essa é uma canção de Caetano Veloso que produz efeitos sensoriais pela
repetição dos fonemas /r/ e /i/. “Irene”, que dá título à música, é repetido sete
vezes e a palavra “ri”, seis vezes. Essa repetição poderia passar despercebida, mas
o compositor usa essa estratégia para sugerir uma risada [ri ri ri ri...], analisada
como uma onomatopeia, já estudada nas figuras de retórica.
Outra estratégia para sugerir essa risada é a terceira vogal na palavra “Irene”
que, na fala passa a representar o fonema /i/ em “Ireni”. A repetição desse som
vocálico /i/ é uma assonância e reforça, mais uma vez, a risada (ireniri ireniri ireniri).
Esse jogo sonoro se amplia no terceiro verso: [keroveirenidasuaaaarizaaaada]
com o prolongamento do fonema /a/, sugerindo, mais uma vez, a risada de Irene
[hahahaha...].
202
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
FONTE: <https://pbs.twimg.com/media/CqFZYwqWAAAfj6D?format=jpg&name=900x900>.
Acesso em: 10 dez. 2019.
203
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
204
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
(25) “Quando um locutor anunciava que “os atletas do Diabo Rubro adentram
o quadrilátero gramífero dos altos da Santa Cruz, banhado pelos raios do
Astro-Rei, numa canícula causticante não muito propícia para a prática do
esporte bretão”, você traduzia por “entra em campo o time do América, no
estádio que fica situado no bairro Santa Cruz, num calor de rachar, quase
matando os doidos que tinham que jogar futebol naquele horário” <https://
www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=346>.
205
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
FIGURA 20 – CROCOBEACH
206
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
NOTA
Frase: uma unidade de comunicação abstrata que não precisa ser uma oração
(sujeito e predicado). Pode ser declarativa, exclamativa, interrogativa ou imperativa. Exprime
um sentido e pode estar ligada a outras frases por conectivos e por um elo semântico.
• Estacionamento idoso.
• Tal pai, tal filho!
• Cuidado!
• E o menino?
207
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
Zandwais (2011) afirma que não pode haver fronteira entre enunciado
e enunciação, uma vez que é preciso se distanciar dos aspectos formais desses
limites. Além disso, o enunciado só pode ser compreendido por meio das vozes
que o compõem e por meio do acontecimento, ou seja, a enunciação é atravessada
por vozes que se mesclam e como algo que não se repete. Brandão (1998) também
se contrapõe às ideias de Benveniste e assegura que o autor, ao centralizar a
enunciação no “eu”, parece marcar, de forma acentuada, “[...] uma subjetividade
‘ego-cêntrica a reger o mecanismo da enunciação” (BRANDÃO, 1998, p. 49).
(26) a. “Eu estava passando pela vila e vi a loja, eu aprecio arte e resolvi entrar.
Achei os quadros bonitos, eu vou levar para mim e para dar de presente”,
falou o empresário Vinicius Martins, que é turista de São Paulo <http://
twixar.me/mlgT>.
208
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
209
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/_EJEc1ukjmGs/S5bIrpseYjI/AAAAAAAAAFU/Bem8D6qrT-Q/
s400/sarcasmoeestupidez.jpg>. Acesso em: 14 dez. 2019.
210
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
211
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
LEITURA COMPLEMENTAR
[...]
Texto 1
Troco um fusca branco
por um cavalo cor de vento
um cavalo mais veloz que o pensamento.
Quero que ele me leve para bem longe
e que galope ao deus-dará
que já me cansei desse engarrafamento...
Para isso, ela anuncia o produto que quer se desfazer (fusca) e manifesta o
seu objeto do desejo (cavalo cor de vento), que ultrapassa a condição de meio de
transporte, mas que representa uma alteração no processo da viagem: não é mais
ela quem conduzirá, é ele (o cavalo) que tem o poder de levá-la para bem longe.
É uma proposta inusitada de troca que contrasta o que é banal (fusca branco) e o
que é extraordinário (cavalo cor de vento).
212
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
Texto 2
Troca-se um homem aranha de mentira
por uma aranha de verdade.
Uma aranha competente
que teça belas teias transparentes,
que pegue moscas, mosquitos
e não entenda nada de bandidos.
Uma aranha que seja
uma aranha simplesmente.
213
UNIDADE 3 | A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE
[...] todo texto é um objeto heterogêneo, que revela uma relação radical
de seu interior com seu exterior; e, desse exterior, evidentemente,
fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o predeterminam,
com os quais dialoga, que retoma, a que alude, ou a que se opõe.
O artigo indefinido foi bem valorizado neste poema e tem forte valor
estilístico ao acompanhar o substantivo aranha. Como afirma Lapa (1945, p.
91), “A capacidade estilística do artigo indefinido está na imprecisão que dá
às representações. Serve para traduzir a imprecisão e o mistério”. Ele também
afirma que “a indeterminação e o mistério vão quase sempre acompanhados de
movimento de sensibilidade”.
214
TÓPICO 2 | CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO
O termo uma aranha ocorre cinco vezes no decorrer do texto. Essa repetição
– que não é comum no gênero classificados – deve ser reconhecida como recurso de
modalização que mobiliza o movimento do enunciador com a matéria anunciada.
Esse recurso estilístico, além de chamar atenção do receptor da mensagem pelo
artifício da repetição em si, acrescenta a ela um sentido suplementar de ênfase.
[...]
215
RESUMO DO TÓPICO 2
CHAMADA
216
AUTOATIVIDADE
217
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
FONTE: BOFF, L. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1997. p. 9.
PORQUE
218
II- No jornal 1, a escolha da palavra “inférteis” torna o enunciado neutro, ou
seja, menos expressivo.
III- No jornal 2, a escolha da palavra “arboviroses” expressa uma linguagem
coloquial, mais próxima de seu leitor.
a) O jogo será aproveitado por José Gomes para cimentar as ideias <http://
twixar.me/kQgT>.
b) Muitos especialistas acreditam no poder do pensamento positivo e sua
capacidade de varrer para longe as ideias negativas [...] <http://twixar.me/
qQgT>.
219
220
REFERÊNCIAS
ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 5. ed. Cotia:
Ateliê Editorial, 2006.
ALMEIDA, G. Hora de ter saudade. In: Poesia Vária. 1947. Disponível em: http://
www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet017.htm. Acesso em: 4 dez. 2019.
221
BANDEIRA, M. Antologia poética. 8. ed. Rio de Janeiro: J. Olympo, 1976.
222
CANÇADO, M. (Org.). Predicação, relações semânticas e papéis temáticos:
anotações de Carlos Franchi. Revista de Estudos da Linguagem, Minas Gerais,
v. 11, n. 2, 2003.
FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
223
FIORIN, J. L. Figuras de retórica. São Paulo: Contexto, 2014.
224
ILARI, R; GERALDI, J. W. Semântica. 11. ed. São Paulo: Ática, 2006.
KATZ, J. J. The scope of semantics. In: KATZ, J. J. Semantic theory. New York:
Harper & Row, 1972.
LAKOFF, G.; TURNER, M. More than cool reason: a field guide to poetic
metaphor. Chicago: The University of Chicago Press, 1989.
225
MARGOTTI, F. W. Sinonímia e paráfrase: algumas considerações a partir de
dados do atlas linguístico-etnográfico da região sul – ALERS. Linguagem em
(Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003.
MEIRELES, C. Moda da menina trombuda. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova
Aguiar, 1987.
MEIRELES, C. Sonhos de menina. In: Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1985.
226
OLIVEIRA, L. A. Os limites semânticos de Humpty Dumpty. A Cor das Letras
(UEFS), Feira de Santana, v. 5, p. 157, 2017.
PEIRCE, C. S. Como tornar nossas ideias claras. 1878. Disponível em: http://
www.bocc.ubi.pt/pag/fidalgo-peirce-how-to-make.pdf. Acesso em: 31 out 2019.
PLATÃO. Crátilo: ou sobre a correção dos nomes. São Paulo: Paulus, 2014.
POSSENTI, S. Questões para analistas do discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
227
SACCONI, L. A. Não erre mais! Português agradável e descomplicado. São
Paulo: Atual, 2005.
SPITZER, L. Três poemas sobre êxtase. Trad. Samuel T. Jr. São Paulo: Cosac &
Naify, 2003.
228