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Rodrigo carneiro:

NOTA DO EDITOR: 

“Aguirre – A Cólera dos Deuses” (Aguirre, der Zorn Gottes, Alemanha, 1972) é
provavelmente o épico mais barato de toda a história do cinema: custou apenas US$ 380
mil. Foi feito com apenas uma câmera de 35mm, que o cineasta Werner Herzog
literalmente roubou da escola de cinema que freqüentou, na Alemanha. A produção em
si foi um caos, como sempre acontece nos casos de filmagens realizadas na selva –
“Aguirre” foi feito na parte peruana da floresta amazônica. Durante algumas semanas,
Herzog chegou a pensar que havia perdido o filme, pois a transportadora encarregada de
enviar os rolos para a Alemanha não o fez, perdendo-os em um depósito local.

Toda essa confusão não impediu “Aguirre” de se transformar em um dos filmes mais
cultuados nos círculos de cinéfilos internacionais. Não é um fenômeno alemão, nem
mesmo europeu. Nos EUA, os leitores da revista Entertainment Weekly o votaram em
46º, entre os mais importantes cult movies da história. Não é pouco, especialmente se
for levado em consideração que Herzog é o mais hermético e o menos conhecido dos
realizadores alemães que surgiram na década de 1970. A geração dele, com Rainer
Werner Fassbinder e Wim Wenders, foi a mais talentosa a surgir após a época de ouro
do cinema europeu (Fellini, Bergman, Antonioni).

A tomada de abertura de “Aguirre” resume não apenas o enredo do filme, mas


principalmente a temática central da obra de Herzog: a vastidão, o mistério e o fascínio
da natureza, em contraponto contra a pequeneza do ser humano. Em pouco mais de dois
minutos, sem cortes, o espectador vê uma paisagem de tirar o fôlego: a encosta de uma
alta montanha, com neblina no topo e mata fechada na base. A câmera então se
aproxima lentamente, o suficiente para que a platéia perceba uma fileira de homens que
descem a montanha. É uma enorme fileira; eles parecem formigas diante da enormidade
da imponente montanha. A imagem então se afasta um pouco, e revela que a procissão
tem milhares e homens, e se estende por diversos quilômetros. Alguns deles aparecem
logo depois, em primeiro plano, diante da câmera, e então jogam a paisagem para
segundo plano. É uma seqüência magistral.

A fileira de homens é formada por exploradores espanhóis e escravos índios. O filme se


passa no século XVI e narra a lendária expedição empreendida por Francisco Pizarro,
em busca da mítica cidade de El Dorado, um suposto vilarejo construído de ouro puro,
encravado na floresta. Os espanhóis estão aonde a civilização nunca chegou. À medida
que se embrenham na floresta, aexpedição perde homens. Índios morrem de inanição,
guerreiros de doenças. Quando percebe o erro, Pizarro volta e nomeia um pequeno
grupo de homens para ir em frente. É uma espécie de pelotão suicida, pago para
desbravar o desconhecido. Entre eles está o nobre Dom Lope de Aguirre (Klaus Kinski),
um homem cuja ambição o deixa à beira da loucura. As condições estão, portanto,
propícias para que Aguirre desenvolva seus delírios de grandeza. E ele o faz.

Klaus Kinski, no papel do lorde delirante, é a alma do filme. Seus olhos insanos e sua
expressão pétrea dão a mistura perfeita de tenacidade e coragem que os integrantes da
expedição – e também a platéia – necessitam para acreditar na jornada impossível. Se
em algum ponto o véu da cobiça desce sobre os olhos, ninguém percebe – até que seja
tarde demais. O Aguirre de Kinski é um homem mirrado, que se move de lado, como se
rastejasse. Possui a ameaça de uma cobra. Ele funciona como se fosse um corcunda ou
um aleijado – um Ricardo III perdido nas selvas da Amazônia. Shakespeare teria se
orgulhado.

A expedição viaja de barco. É uma espécie de enorme jangada construída


artesanalmente, que luta contra a forte correnteza do rio Amazonas e também contra
índios que a platéia jamais vê – as flechas, no entanto, reduzem o grupo de guerreiros a
cada investida. Nada disso, porém, impede que Aguirre conduza seus homens até o final
da jornada, em busca de ouro, riqueza e poder. “Aguirre”, como fica claro, tem
semelhanças incríveis com “Apocalypse Now”, que Coppola faria alguns anos depois.
Mas não denuncia os horrores da guerra; é, sim, um dos grandes filmes sobre a cobiça
(ao lado de “O Tesouro de Sierra Madre”) que já foram feitos. A majestosa seqüência
final, que envolve Aguirre, um grupo de macacos e a força do rio, encerra o filme como
uma nota grave.

Existem duas edições em DVD nacional, e elas são parecidas. A primeira é da Abril
DVD. Essa edição possui um comentário em áudio de Werner Herzog, em inglês (sem
legendas). O som do filme, remixado em Dolby Digital 5.1, também é ótimo; valoriza a
música etérea e evocativa do grupo Popol Vuhl e também amplifica os ruídos da selva,
que emprestam um senso de mistério ao longa-metragem. O som, aliás, é parte essencial
de “Aguirre”, porque evoca algo de divino, algo não traduzível em palavras. A versão
lançada pela Versátil não possui a trilha de comentário e o som é apenas DD 2.0, mas
compensa a falha trazendo um documentário (59 minutos) e um curta-metragem de
Herzog.

- Aguirre – A Cólera dos Deuses (Aguirre, der Zorn Gottes, Alemanha, 1972)
Direção: Werner Herzog
Elenco: Klaus Kinski, Daniel Ades, Ruy Guerra, Del Negro
Duração: 98 minutos

http://www.cinereporter.com.br/criticas/aguirre-a-colera-dos-deuses/

rogério silva

Um filme de guerra em que nada parece acontecer. O que talvez fosse algo antagônico e
impraticável no cinema se tornou uma obra-prima. Um clássico. Aguirre, der Zorn
Gottes, um dos grandes filmes da carreira do respeitado e premiado diretor
alemão Werner Herzog, conta a história de muitas guerras em um único episódio. O que
assistimos, de forma contemplativa, muitas vezes, é o combate de diferentes tipos de
civilizações e, mais do que isso, do homem contra a Natureza, contra sua própria
soberba e ganância. Nesta produção sobram os efeitos especiais e as câmeras velozes
em busca de ação. O que importa é a angústia do tempo que não passa e a certeza de que
a busca pelo poder e pela riqueza não valem nada em muitos lugares do mundo – talvez,
no mundo inteiro. Herzog nos apresenta aqui uma obra corajosa que continua
impactante mesmo 37 anos depois de seu lançamento nos cinemas.
A HISTÓRIA: Depois de terem sido invadidos e terem seus recursos usurpados pelos
colonizadores espanhóis, os incas criaram a lenda do Reino do Eldorado, um local
repleto de ouro e riquezas. Segundo os créditos iniciais do filme, ele conta, baseado no
diário do frei Gaspar de Carvajal (Del Negro), o que aconteceu com a primeira
expedição espanhola que buscou o Eldorado, em 1560. Liderados por Gonzalo Pizarro
(Alejandro Repulles), os espanhóis cruzaram os Andes peruanos e adentraram na
floresta atrás da lenda inca. Sentindo-se em uma encruzilhada na floresta, o grupo se
dividiu. Uma parte ficou acampada e a outra seguiu a procura do Eldorado. No seu
caminho, o grupo de exploradores deve enfrentar a resistência dos índios, as forças da
Natureza e a própria divisão interna.
VOLTANDO À CRÍTICA (SPOILER – aviso aos navegantes que boa parte do texto à
seguir conta momentos importantes do filme, por isso recomendo que só continue a ler
quem já assistiu a Aguirre, der Zorn Gottes): A primeira idéia que vem a cabeça de
qualquer pessoa que assiste a este filme é: O que aqueles espanhóis faziam ali? Como
eles pensavam em ter êxito se vestindo daquela forma, carregando canhões e seguindo
com seu modo de vida em um local tão oposto ao que eles estavam acostumados?
Incrível o retrato irônico daquela expedição “valente” e “pioneira” a partir dos primeiros
minutos do filme. Mérito, sem dúvida, do roteirista e diretor Werner Herzog,
merecidamente considerado um dos grandes nomes do cinema alemão de todos os
tempos.
Seguindo a tradição documental, Herzog nos conta uma história de semi-ficção de
maneira naturalista. Não existe pressa na narrativa. Para nossa sorte. Acredito que
poucos filmes mostram de maneira tão destacada a batalha entre o homem e a Natureza
em uma “guerra” – sim, porque a invasão espanhola foi uma guerra contra os nativos
indígenas. Talvez apenasApocalipse Now (filmado posteriormente, em 1979) foi tão
evidente nesta contraposição entre estas forças – a humana e a da Natureza, esta
segunda sempre na mira de ser “domada” pelos primeiros. Aguirre, der Zorn Gottes
deixa claro, sem pressa, que não existe a possibilidade do homem vencer a Natureza –
ainda mais quando ele segue a sua própria, ou seja, quando se deixa levar pela ganância,
pela ambição e por seu instinto assassino. Todas estas últimas características assumidas
pelo protagonista, Don Lope de Aguirre (o arrepianteKlaus Kinski).
Interessante o título original do filme, que considera Aguirre como o personagem que
incorpora a “cólera dos deuses”. Esta leitura sobre ele não deve ser vista apenas pelo
comentário de um dos indígenas que cruza o caminho da expedição e que afirma que
eles esperavam, um dia, a chegada dos “filhos do Sol” que viriam trazendo perigo. A
referência é muito anterior. Nos leva até o mito de Prometeu e à tradição literária que
nos acompanha desde a época de Homero. Fazendo um paralelo entre Prometeu e
Aguirre, percebemos que o personagem de Klaus Kinski seria aquele que “profanou” o
sagrado, que ousou roubar o que era essencial para a vida e que, até seu ato, era dado
sem a necessidade do roubo.
Acredito que não existe paralelo mais bonito e lírico com os abusos que foram feitos na
América Latina por portugueses e espanhóis e que, infelizmente, ainda é repetido hoje
em diferentes nações através das guerras que continuam com esses atos de roubo e de
escravização da vida humana – sagrada, por sua vez. Como bem explica este texto sobre
Prometeu, a cólera dos deuses se manifestou através de Pandora, que trouxe para a
humanidade, que até então vivia em um “mundo sem doenças ou sofrimentos” (imagem
que a História tem dos nativos da América), uma série de “malefícios”. Como aconteceu
com titã Prometeu, Aguirre ficou preso em seu próprio sofrimento – depois de perder a
filha, interpretada por uma jovenzinha Natassja Kinski, impossível de ser identificada.
Tecnicamente, o filme é muito bem feito para a sua época. Especialmente pelos desafios
que a equipe deve ter enfrentado no Peru, onde o filme foi rodado. Entre as locações
pelas quais a equipe passou estão a cidade de Cuzco, a cordilheira dos Andes, o vale de
Urubamba, os rios Huallage e Nanay e os territórios de Aguaruna e Lauramarca.
Imersos naquela realidade pitoresca, Werner Herzog e o diretor de fotografia Thomas
Mauch fizeram um trabalho exemplar de captura do cenário – que se transforma em um
elemento fundamental da narrativa. Acompanhando as cenas magistralmente planejadas,
temos a trilha sonora precisa na função de intensificar o drama daquela expedição
assinada por Popol Vuh.
Klaus Kinski, que se tornaria um dos atores preferidos de Herzog, está perfeitamente
assustador neste filme. Seu olhar perdido, estático em um horizonte dourado construído
por sua imaginação, arrepia. Cada vez que  o ator aparece mudo em cena, nos
preparamos para mais algum ato de traição. Nos preparamos para o pior. É como se
fosse a calmaria antes da tempestade que chega para dizimar o que aparece pela frente.
Em busca de poder, Aguirre não tem medida para sua loucura. (SPOILER – não leia se
você ainda não assistiu ao filme). Ao lado de Kinski, destaco a atuação do jovem Ruy
Guerra como Don Pedro de Ursua, o homem para quem foi confiada a expedição
espanhola e que acabou sendo traído por Aguirre. Para mim foi uma surpresa ler o nome
de Ruy Guerra, diretor moçambicano que acabou se radicando no Brasil, nos créditos
principais deste filme. O grande Ruy Guerra, ex-marido de Leila Diniz e de Claudia
Ohana e diretor de clássicos como Os Cafajestes, Ópera do Malandro e Estorvo, está ali,
entre os grandes nomes deste filme.
Além dos dois atores citados, vale comentar a interpretação sensível de Helena
Rojo como Inez, a fiel companheira de Don Pedro de Ursua que não abandona o marido
mesmo quando sua morte é inevitável. (SPOILER – não leia se você não assistiu ao
filme). A sua personagem, aliás, é a responsável por uma das cenas mais bonitas do
filme – quando ela sai andando para a floresta, em uma espécie de suicídio. Faz parte do
elenco ainda Peter Berling como Don Fernando de Guzman, usado como bode-
expiatório de Aguirre; Daniel Ades como Perucho; Edward Roland como Okello; e
Cecilia Rivera como Flores.
NOTA: 10.
OBS DE PÉ DE PÁGINA: Procurando mais informações sobre o filme, descobri algo
muito interessante: o diretor Werner Herzog mentiu nos créditos iniciais de Aguirre, der
Zorn Gottes. Segundo o site IMDb, o diário de Carvajal foi colocado na história para
dar mais credibilidade para a lenda do Eldorado, mas a verdade é que o religioso nunca
fez parte de nenhuma expedição espanhola para encontrar tal lugar. Ou seja: Carvajal
nunca viajou ao lado de Aguirre. O diário de Carvajal realmente existe, mas conta
outros fatos históricos.
As filmagens de Aguirre, der Zorn Gottes, foram bastante problemáticas. Reza a lenda
que, lá pelas tantas, o ator Klaus Kinski ameaçou abandonar as filmagens. O diretor
Werner Herzog teria o ameaçado de morte e dito que, depois de matá-lo, iria atirar
contra si mesmo. Em entrevistas coletivas, Kinski disse que o diretor chegou a apontar
uma arma para ele, para enfatizar a sua ameaça, mas Herzog desmente essa versão.
Mas os sustos do diretor não terminaram por aí. Depois que as filmagens tinham
terminado, Herzog pensou que os negativos tinham sido perdidos. Durante várias
semanas os rolos do filme não apareceram onde deveriam – o atraso ocorreu por
problemas no aeroporto de Lima, onde a papelada para o envio do filme foi feita, mas
ele deixou de ser expedido como era previsto.
Outra curiosidade do filme, segundo o IMDb, é que não existe uma divisão clara, no
filme, entre os momentos em que os atores estão realmente interpretando os seus papéis
ou apenas improvisando frente às condições que eles tinham ao seu redor. Um exemplo
disso pode ser visto pelo minuto 8:40 do filme, quando a carruagem em que está Inez
quase cai para a esquerda e, na direita do vídeo, podemos ver um braço ajudando a
segurá-la – este braço é do diretor Werner Herzog.
Aguirre, der Zorn Gottes figura na posição 46 da lista dos 50 melhores filmes “cult” de
todos os tempos publicada pela revista Entertainment Weekly’s.
Segundo Herzog, ele não desenhou nenhum storyboard para este filme. Tudo foi
filmado e enquadrado de maneira “improvisada”.
Pelo menos dois acidentes aconteceram durante as filmagens, ambos protagonizados por
Kinski. No primeiro, ele acertou com uma espada a cabeça de um companheiro de cena
na balsa. O homem só sobreviveu porque estava usando um capacete. O segundo
ocorreu na noite de um dia conturbado de filmagens. Kinski, endiabrado, começou a
atirar seguidamente com uma Winchester. Um dos tiros acertou o dedo de um figurante
não-identificado. A arma, reza a lenda, foi confiscada por Herzog, que acabou
guardando-a como souvenir.
No site IMDb o filme conquistou a nota 8. Os críticos que tem textos publicados
no Rotten Tomatoes dedicaram 29 textos positivos e apenas um negativo para o filme –
o que lhe garante uma aprovação de 97%.
Aguirre, der Zorn Gottes conquistou três prêmios na década de 1970: o de melhor filme
estrangeiro na opinião do Sindicato dos Críticos de Cinema Franceses (em 1976); e os
de melhor fotografia para Thomas Mauch no German Film Awards (1973) e pela
votação da National Society of Film Critics Awards dos Estados Unidos (1977). Aguirre
ainda concorreu ao César de melhor filme estrangeiro, mas perdeu aquele ano (1976)
para Profumo di Donna, de Dino Risi.
Para quem ficou interessado no mito de Prometeu, recomendo dois textos: este e este.
Sobre a presença da Cólera dos Deuses na literatura épica homérica,
recomendo este texto.
Para constar: este filme foi co-produzido pela Alemanha, pelo Peru e pelo México. As
filmagens teriam durado cinco semanas.
CONCLUSÃO: Considerada uma obra-prima do cinema mundial, Aguirre, der Zorn
Gottes marca o início de uma parceria de 15 anos entre o diretor Werner Herzog e o ator
Klaus Kinski. Perfeito na ousadia de misturar cinema com realidade, este filme traz
interpretações marcantes na mesma medida em que registra as reações dos atores e
figurantes à realidade selvagem na qual eles são imersos. A Natureza ganha
protagonismo nesta história, na qual o homem invasor é apenas um incoveniente a ser
absorvido a qualquer momento. Tratando de ambição, de política, de tradições e de
religião, este filme é um referencial para dramas históricos que questionam a eficácia
das guerras e a legitimidade das “grandes conquistas” que alguns países insistem em
ostentar em seu passado. Filmado de maneira contemplativa, talvez não agrade às
pessoas que estão condicionadas (e que necessitam) a um tipo de filme de guerra cheio
de tiroteios, bombardeios, sangue e câmera ligeira. Aguirre, der Zorn Gottes é tudo,
menos pirotecnia.
SUGESTÕES DE LEITORES: Este filme eu estava devendo há muito, muito tempo.
Peço mil desculpas para o Rogério, querido leitor deste blog, que sugeriu Aguirre, der
Zorn Gottes há séculos atrás. Rogério, finalmente assisti a este filmaço. Grande
recomendação, a sua. Como não poderia deixar de ser. Acrescento também este filme
dentro do balaio de “sugestões de leitores” chamado “cinema alemão”. Como muitos
que acompanham o blog estão cansados de saber, o cinema alemão venceu uma enquete
feita aqui no blog antes do Oscar. Desde aquele resultado, tenho o desafio de assistir a
bons filmes alemães e comentá-los por aqui. Pois bem, sigo com esse desafio até o fim
deste mês. Depois disto, vou retomar minhas escolhas 100% aleatórias de filmes para
assistir.

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