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Mies tain ANALISE CRITICA AOS DETERMINANTES DAS EXPORTAGOES EM MOCAMBIQUE (1975-2002) Trabalho de Licenciatura Samuel Ermelinda Zita Universidade Eduardo Mondlane Faculdade de Economia Maputo DECLARAGAO Declaro que este trabalho ¢ da minha autoria ¢ resulta da minha investigagao. Esta 6a primeira vez que o submeto para obter um grau académico numa institui¢do ‘educacional. < Maputo, 22 ae Qulobto __se2004 Samud meade Qin. (Samuel Ermelinda Zita) APROVACAO DO JURI Este trabalho foi aprovado no dia2? de _aacy/hy2D__ de 2004 por nds, ‘membros do juiri examinador da Universidade Eduardo Mondlane com a classificagio final de AS valores. (0 Presidente) (O Arguente) Me, Hc (0 Supervisor) AGRADECIMENTOS ‘Ao longo do curso e aquando da realizagio do presente trabalho, muitas pessoas contribuiram directa ¢ indirectamente para que ele se tomasse uma realidade. A todos eles vao os meus sinceros agradecimentos. De forma especial, agradego ao meu supervisor Professor Doutor Carlos Nuno Castel-Branco que sempre esteve disposto a ajudar na forma de pensar, discutir ¢ analisar. Agradego também a atengio carinho que me foram dados pelos meus tios Fernando Baloi, Margarida Zita e Ana Maria Zita durante a minha formagio. ‘Aos meus amigos, pelos momentos que juntos partilhamos, pela camaradagem © compreensio que me ajudaram a crescer nomeadamente: Dr Anténio Matabele, dra Quelita Benjamim, dr Octavio Manhique, Julio Elias, Francisco Siuéia, David Mambo, Vania Magaua, Iveth Saloque, Ancha Maguele, Isabel Samo Gudo, Denilson Hamide, Raime Pachinuapa, Galbo Azize, Emilio Dava, Agnélio Pita, Baptista Guvande, Carlos Buvana e Hélder Buvana. A minha mae, Ermelinda Enoque Muchate, Pelo esforco, paciéncia e compreensio ‘Anilise critica a0s determinantes das exportagdes em Morambique (1975-2002) INDICE Dedicatéria Agradecimentos Lista de Abreviaturas... Lista de grificos ¢ tabelas, 1, Introdugao.. ll, Metodotogia... Ill. Enquadramento teérico .. 1. O.comércio intemacional ¢ os determinantes das exportagdes. 1a adele de Heche bln Samuelson (HOS) 8 vtgens comparatias determines pela abundincia de factores.. : 1.2, AS novas teorias do coméreio. sss 1.3 Estrutura e dinémicas do comércio extern... 1.4, O keynesianismo e as exportasics .. 2. Alindustializagio vs. Exportagdes.. IV. 0 Caso de Mogambique...... A base produtiva e suas implicagées para as exportagées ... 1. A sExportagBes em Mogambique... eens 2. A base produtiva ss: Conclusées VI. Recomendagées Vil, Referéncias bibliograficas.. VII, Anexos Samuel EZita LISTA DE ABREVIATURAS AGOA ~ African Growth Opportunity Act APE - Acordos de Parcerias Econdmicas BOP - Balange of Payments (Balanga de Pagamentos) CME ~ Complexo Mineral Energético EBA ~ Everything but Arms EPE — Estratégia de Promogao de Exportagdes ESI - Estratégia de Substituigdo de Importagdes EUA - Estados Unidos da América HOS - Hecksher - Ohlin - Samuelson IDE - Investimento Directo Estrangeiro INA ~ Instituto Nacional do Agticar IPEX - Instituto de Promogdo de Exportagées, OMC - Organizag#o Mundial do Comércio PIB — Produto Interno Bruto RSA - Repiblica Sul Africana SADC - Southem African Development Conference TOT - Terms of Trade (termos de troca) UE ~ Unio Europeia UNCTAD - United Nations Conference on Trade and Development UNDP - United Nations Development Program LISTA DE GRAFICOS E TABELAS Graficos Gréfico 1: As Exportagdes da Economia (% do PIB). Pagina 19 Gréfico 2: Estrutura das exportagdes. Pagina 21 Gréfico 3: O valor das exportagées por sectores, Pagina 21 Grifico 4: Estrutura de Manufacturas exportadas. Pagina 22 Grafico 5: Investimento na Manufactura (% Investimento total). Pagina 24 Grifico 6: Valor Acrescentado da Manufactura (%PIB). Pagina 24 Tabelas (Anexos) Tabela 1:A evolugo do peso da manufactura na economia Tabela 2: A composigo sectorial do valor da produgio manufactureira Tabela 3: A evolugto das exportagdes de Mogambique por produtos Andlise critica aos determinantes das exportagBes em Moambique (1975-2002) I. INTRODUCAO O presente trabalho tem como foco a analise critica aos determinantes das exportagdes ‘em Mogambique no periodo que vai de 1975 a 2002. Pretende-se analisar e discutir até que ponto as vis6es relacionadas ao comércio internacional (leorias neo-classicas, dindmicas do comércio extemo, visdes sobre a industrializagao, modelo keynesiano para uma economia aberta) explicam as exportagdes de Mosambique. Quais sao os principais determinantes das exportagdes em Mogambique no periodo em referencia? Outrossim, pretende-se ver em que medida a estrutura das, exportagdes mogambicanas é ou nao explicada pelas dindmicas produtivas ¢ do comércio externo ou pelas pressées sécio-econémicas. Que factor(es) foi (foram) mais preponderante(s)? O tema foi escolhido porque pretende-se incorporar no debate sobre os determinantes das exportagdes a componente da oferta, tomando-o mais abrangente ¢ realfstico. Por sua vez, a base produtiva, na literatura econémica, é tida como 0 motor de crescimento_pelas ligagdes que 6 capaz de gerar, razao pela qual sera feita a andlise da base produtiva em Mogambique e as suas implicagdes para as exportagies. Como forma de responder as questées da pesquisa, 0 trabalho contém trés secgdes nomeadamente: @ primeira, que faz a discussdo sobre os factores determinantes da exportagdes segundo visées sobre 0 comércio internacional, sobre a industrializacio outras formas de anélise dos determinantes das exportagdes; @ segunda, parte do quadro teérico, discute os principais determinantes das variages da estrutura das exportagdes focalizando as dindmicas da base produtiva ¢ do comércio externo bem como das, pressdes econdmicas ¢ ligagdes; a terceira ¢ tiltima parte, apresenta as conclusdes do trabalho apresentando as recomendagdes subsequentes. Samuel EZita ‘Analise critica a0s determinantes das exportagdes em Mogambique (1975-2002) Il, METODOLOGIA presente trabalho usa as teorias neoclissicas, as dindmicas do comércio externo, 0 modelo keynesiano para uma economia aberta ¢ as visdes sobre a industrializagto para analisar ¢ perceber 0s factores que podem explicar 0 comportamento das exportagdes mogambicanas no periodo em anélise, Faz-se uma discussdo critica das diferentes teorias (i) recorrendo-se a literatura existente sobre a matéria, (ii) procurando perceber como é que a teoria econémica explica e interpreta os factores determinantes das exportagies ¢ em fungo disso como é que a politica econémica pode ser construida. ‘A construgio da anilise foi feita utilizando-se uma metodologia eminentemente qualitativa partindo de elementos quantitativos existentes sobre o tipo de bens que a economia exporta, a distribuigo sectorial das exportagdes ¢ a estrutura das exportagdes de manufacturados. Posteriormente, fez-se a confrontago dos argumentos te6ricos com a evidéncia empfrica para ver como que as teorias explicam as variagdes da estrutura das exportagdes em Mogambique. As séries estatisticas sobre a producdo manufactureira, estrutura e valor das exportagées de manufacturados foram obtidas das estimativas feitas por Castel-Branco (2002a) ¢ de estatisticas produzidas pelo IPEX (2002). maior problema encontrado na discussio dos factores determinantes das exportagSes residiu em encontrar séries longas sobre os termos de troca internacionais como um elemento das dindmicas extemas que pode explicar a dindmica das exportagdes em Mogambique. Anilise critica ans determinantes das exportapBes em Morambigue (1975-2002) Ill. ENQUADRAMENTO TEORICO OS DETERMINANTES DAS EXPORTACOES Antes de discutir quais so os determinantes das exportagdes segundo a teoria econémica € importante saber qual & 0 papel das exportagdes numa economia como a de Mogambique. As exportagdes so importantes porque ajudam as economias a atingirem objectivos de crescimento econdmico, ajustamento e estabilizagdo, Esses objectivos so a obtengio de taxas de crescimento econémico consistentes com melhorias significativas no PLB per capita, o cumprimento de obrigagdes inerentes ao servigo da divida, 0 aumento do nivel das reservas externas bem como a reducdo dos niveis de dependéncia a ajuda externa (Castel-Branco,1997: 4). Ao analisar os determinantes das exportagdes, & crucial ver como é que as diferentes visBes sobre 0 comércio internacional e industrializago olham para as exportagdes, o que € que as determinam? 1, © comércio internacional e os determinantes das exportagdes Do ponto de vista do comércio internacional distinguem-se duas visdes: uma, que olha para as exportagdes como sendo determinadas pelas vantagens comparativas ¢ a outra, ‘que incorpora outros factores que podem afectar as exportagdes. Ambas, stio na esséncia, neoclassicas. 1.1. O modelo de Hecksher-Oblin-Samuelson (HOS) e as vantagens comparativas determinadas pela abundancia de factores Este modelo é neoclassico, Segundo 0 mesmo, as exportagdes sto determinadas pela oferta, dada pelas vantagens comparativas estimuladas pelo incentivo econémico que é 0 prego; a procura é tida como mais ou menos elistica, As vantagens comparativas sto Samuel E Analise critica aos determinantes das exportapdes em Mogambique (1975-2002) determinadas pela abundancia relativa de factores que so reveladas se os mercados forem livres, ou seja, se os pregos prevalescentes reflectirem os custos econémicos dos factores. Isto forga a economia a especializar-se nas suas vantagens comparativas por acco racional dos seus agentes maximizadores de lucros, que optam pelas vias mais cficientes de produzir bens ¢ servigos. Especializando-se nas suas vantagens comparativas, a economia produz e exporta mais os bens ou servigos em que possuir vantagens comparativas e importa mais aqueles bens ou servigos em que nao tem vantagens comparativas, porque dispde de mais recursos ¢ importa mais barato (Krugman etal, 2001). As exportagdes so determinadas pela especializagdo nas vantagens comparativas dada a procura mundial que é assumida mais ou menos infinita para economies pequenas. Dai que mercados livres so determinantes das exportagdes porque revelam vantagens comparativas, permitem especializaco, aumentam o bem estar e a longo prazo conduzem a igualdade de racios de factores e de pregos ¢ estruturas econémicas ¢ produtivas. © modelo de Hecksher-Ohlin-Samuelson argumenta que os retornos decrescentes a escala dos factores tém lugar, dai que prevé que o capital flua dos paises ricos para os paises pobres dado que nos paises pobres os retomos de capital sfo maiores por este factor ser escasso. EB dentro deste quadro que os fluxos de Investimento Directo estrangeiro tém lugar. Porém, se se deixar 0 mercado funcionar livremente pode ocorrer que se reproduza a produgao assente na fora de trabalho qualificada ou no capital intensivo ou entio a reprodugao da produgao assente na forga de trabalho nao qualificada (como no caso dos produtos primarios de exportago) implicando relagdes desiguais e perpétuas entre o capital e o trabalho. Nestas condigdes, 0 facto de o mercado por si sd, ser o melhor alocador de recursos na economia toma-se questionavel. Dai que ao Estado cabe o papel de garante do funcionamento da economia nfo s6 através da provistio de um ambiente legal € de estabilidade em que 0 desenvolvimento ocorra mas sobretudo formulando Samuel E.Zita Analise critica a0s determinantes dss exportagdes em Mosambique (1975-2002) politica econémica (¢ comercial). capaz de influenciar positivamente as vantagens comparativas da economia em particular nas actividades ou produtos de exportagao. Dai que outros modelos de comércio externo com autores como Krugman (1984,1986), Grossman & Helpman (1991) dentre outros, incorporam outros elementos na visio neoclissica. Esse novo pacote de modelos formam as novas teorias de comércio, que sio revistas a seguir. 1.2, As novas teorias do comércio ‘As novas teorias do comércio tém essa designaco porque lidam com um conjunto mais vasto de factores do que aqueles discutidos pelo modelo de HOS: imperfeigdes de mercado, comportamento estratégico, a nova teoria do crescimento e os argumentos de economia politica; estes argumentos dao um papel mais activo do Estado na economia € dessa forma, tém efeitos na politica comercial a ser formulada. Lucas (1988), Bardhan (1995) e Ruttan (1998) foram alguns dos primeiros autores a estudarem a relevancia das novas teorias comerciais para os paises em desenvolvimento. A eficiéncia alocativa por via do mecanismo de mercado é questionada pelas novas teorias porque o mercado possui imperfeigdes que tomam os pressupostos sobre a tecnologia e informagio irreais e podem afectar as vantagens comparativas nos produtos de exportagio. Coe et al (1995), Lee (1995) e Pissarides (1997), argumentam que as importagdes de bens de capital incorporam informagao sobre as novas tecnologias € os produtos que estio expostos a esta informagio sto tidos como os mais provaveis a inovar. Romer (1992), chama a este fenémeno, “using ideas” oposto a “producing ideas”. Se tal acontecer, as economias importadoras de bens de capital como Mogambiquie, tem condigdes para a promogao do crescimento se fizerem o “using ideas” para o desenvolvimento da produgo © exportagdes assentes em tecnologia local. Assumem que ao importar bens de Samuel EZita Analise critica aos determinantes das exportagdes em Mogambique (1975-2002) capital, as economias absorvem a informagio contida nesses bens e posteriormente adaptam-na para criar as suas proprias tecnologias. © acesso a tecnologia na visio neocléssica é um dado € & facilmente acessivel transferivel. Se este pressuposto for verdade significa que as economias possuem uma capacidade absorptiva forte © que nao é necessariamente verdade (Keller, 1996). Ser eficiente requer capacidade tecnolégica ¢ a sua aquisigo por um lado, esté assente nos principos de tecnologia como black box (mercados abertos permitem aceder ao stock internacional de tecnologia, acelerar a sua absorgio, inovagdo e crescimento). Por outro lado h4 0 argumento de que a tecnologia tem uma alta componente ticita, que justifica tanto a protecglo da industria nascente como a promogao do Investimento Directo Estrangeiro. Segundo a abordagem das habilidades, as vantagens comparativas dependem da capacidade local de gerir e usar tecnologias do que simplesmente de doptagdes factoriais (Courakis & Roque,1992). Grossman & Helpman (1991), argumentam que a pesquisa ¢ desenvolvimento podem elevar © crescimento da economia pelas extemalidades que geram na economia; transmitem informagao tecnolégica, aumentam a competigdo e o esforgo empresarial € expandem o tamanho do mercado no qual firmas inovativas produzem ¢ exportam. 1ss0 implica um papel mais interventivo do Estado na promosao de actividades de pesquisa tecnolégica nio s6 em prol das actividades ou firmas exportadoras ou que exportam, mas mais importante ainda, para as firmas ou actividades que queiram produzir mais a custos relativamente baixos na economia, aumentando desse modo a sua competititividade nos mercados nacional e de exportagio. Igualmente, é preciso assegurar o investimento no capital humano para aumentar a sua capacidade de absorver teenologias importadas ¢ adapti-las ‘as condigdes especificas da economia local ou mesmo de criar tecnologias. Por exemplo, Suiga possui os melhores chocolates do mundo mas importa o cacau da Costa do Marfim. © Japio, possui uma das melhores indéstrias electrénicas do mundo apesar de importar a totalidade da sua matéria-prima, Estes sucessos sio devidos ao forte investimento daquelas economias no Samuel EZita Anilise critica 20s determinantes das exportagdes em Mogambique (1975-2002) capital human. Consequentemente, tornam-se Iideres tecnolégicos dos seus produtos como tal figuram nos lugares cimeiros nas exportagdes mundiais dos seus produtos Na visio neoclassica, a informacdo encontra-se disponivel para todos. Mas no mundo real, os agentes econémicos tomam decisdes erradas por falta de informagao sobre a existéncia de potenciais mercados externos ¢ que tipo de bens oferecer. No caso vertente dos modelos baseados no comportamento estratégico, argumentam ‘que acgdes em prol das exportagSes em particular e da politica comercial em geral devem ser seguidas devendo ser complementadas por outras formas de politica como politicas que visem a organizagio da produgo de acordo com os padrdes requeridos, a penetragao nos mercados, a mobilizagao de recursos, dentre outras. Destes novos modelos, depreende-se que ja milo so apenas as vantagens comparativas estiticas que determinam o crescimento mas sim as vantagen comparativas dinimicas, fruto da combinago entre qualidade e produtividade dos factores. Os retornos dos factores produtivos passam a estar associados com a qualidade dos factores do que simplesmente com a quantidade. Essa qualidade dos factores esta positivamente associada a capacidade tecnolégica e com 0 seu dominio. As capacidades tecnolégicas passam a ficar positivamente relacionadas com o esforgo da economia em inovar. Ha um factor adicional que se discute na literatura econémica e que pode influenciar as exportagdes. Esse factor tem a ver com os argumentos de economia politica. Se dentro da economia existirem grupos de pressio ¢ de interesses muito forte (com alguns grupos a pertencerem ao sector ou actividades exportadoras) ¢ como tal possuirem um poder de influencia muito forte nos processos de formulagio da politica econémica (e comercial), pode ser que a politica comercial a ser formulada e implementada seja feita em fungao da necessidade de satisfagdo desses grupos de interesse (Fine e Deraniyagala, 2003). Como © Estado no é auténomo na sua actuagdo, todos os interesses que actuam ¢ influenciam © mercado também influenciam o Estado. Significa que se os interesses que actuam e influenciam o Estado, forem contra exportagdes é possivel que as exportagdes respondam Samuel EZita 9 WEN, ‘Anilise critica aos determinantes das exportagbes em Mogambique (1975-2002) ao sinal dessas pressdes. Todavia, Chang (1994), que afirma que o Estado é auténomo; dai que quando os fortes grupos de interesse determinam ou podem determinar 0 resultado do processo econémico e competitive, o Estado pode intervir para que as estratégias prosseguidas estejam em linha com os interesses nacionais. Estes novos modelos de comércio, apesar de introduzirem novas abordagens na visio neoclassica pecam porque apresentam como proposta de solugio a liberalizaglo que também é a recomendagao mais sonante dos defensores do neoliberalismo tais como Krugman. Mesmo nas economias mais economicamente avangadas e que hoje sto os maiores defensores do liberalismo (tais como os EUA ¢ 0 Reino Unido), 0 seu desenvolvimento nao foi feito inteiramente ‘a custa da liberalizag3o, Pelo contrério, esas ‘economias promoveram as suas indistrias pela via de medidas proteccionistas (tarifas, subsidios ¢ outras medidas) no seus estagios iniciais de desenvolvimento das suas industrias. Paradoxalmente, ainda advogam mais liberalizagao para as economias nao desenvolvidas € pouco industrializadas para promoverem as suas industrias sob 0 argumento de que os beneficios obtidos no passado com esse tipo de politicas nao mais slo possiveis actualmente simplesmente porque os tempos mudaram. Casos tipicos de sucessos econémicos gragas a politicas comerciais ¢ industriais intervencionistas sio os do Japao e do sudeste asidtico (Chang, 2003) Seja qual o caso, em defesa da politica comercial do estado ou do mercado livre estas teorias olha para as exportagSes como uma fungao da abordagem (ou politica) comercial m que 0 interesses dos agentes econémicos e as dindmicas entre agentes e ligagdes tém pouco significado para além do caso especial que é 0 oligopdlio de Krugman. 1.3 Estrutura e dinamicas do comércio externo Ha trés elementos importantes tigados as dindmicas do comércio extemo que tém impacto nas exportag6es: (i) os fermos de troca internacionais, (ii) 0 tipo de comércio e (iii) 0s acordos comerciais com os diferentes tipos de restrigées. Samuel E.Zita [Anilise critica aos determinantes das exportagBes em Mocambique (1975-2002) i, Os termos de troca internacionais Os Termos de troca intemacionais so a razdo entre os pregos de exportagdo € os de importagio (TOT=P1/Pm), onde Px e Pm sio os pregos das exportagdes ¢ importagdes respectivamente. O desempenho das exportagdes depende no s6 do seu volume mas também do prego pago por elas. Se 0 prego das exportagdes baixa, implica que ¢ necessirio um maior volume das exportagdes para manter os ganhos das exportagdes aos niveis anteriores a variago de pregos Segundo Prebish e Singer, os termos de troca intemacionais se deterioram devido 20 elevado grau de concentragao na exportagZo de produtos primérios (com excepgao do petréleo) pelas economias em desenvolvimento, Esses produtos, no mercado internacional, possuem elasticidades rendimento e prego da procura internacional muito baixas porque os seus mercados sto lentos ¢ ainda devido a existéncia de substitutos (sintécticos) (Todaro, 2000:467). Neste aspecto, entram para o debate questdes como a relagio entre a composicio das exportagdes eo scu desempenho, distinguindo-se assim, a desconcentragao (a diminuigao do peso ou dominio de um produto ou alguns produtos nas exportagdes totais) da diversificagdo (a introdugao de novos produtos de exportagdo numa escala notével). A visio convencional na literatura empirica é que a concentragao é um impedimento ao crescimento dos ganhos das exportagdes. O principio das vantagens comparativas sugere que a composigao das exportagdes deveria ser determinada pelas ofertas relativas de factores ou pelas diferengas tecnolégicas. Isto pode significar uma grande concentragdo de exportagdes para os paises de tecnologia no sofisticada onde a mao ~ de — obra nao qualificada ¢ um ou poucos recursos naturais so as maiores dotagdes factoriais. A diversificago das exportagdes, para além de fazer face a deteriorago dos termos de troca intemacionais, ao introduzir novos produtos com pregos favordveis ao desenvolvimento, pode elevar, cereris paribus, as receitas das exportagdes. [gualmente, ela tem o aspecto da inovag8io que cria oportunidades ¢ capacidades de responder aos desafios de novos mercados ¢ permite ajustar a novas condigdes choques macroeconémicos. ‘Anilise critica aos determinantes das exportagBes em Mogambique (1975-2002) valor, volume e estrutura do comércio extemo registaram algumas mudangas nas liltimas quatro décadas. De uma forma geral, quer em termos reais como nominais, 0 valor das exportagdes dos paises em desenvolvimento aumentou. O peso das exportagdes dos Paises em Desenvolvimento tem vindo a crescer devido em grande parte a contribuigao das exportagdes dos novos paises industrializadoss. Aquclas economias investiram muito na manufactura ¢ exportaram parte significativa desses manufacturados que por seu turno, acrescentaram muito valor as suas economias. Logo, se os ‘manufacturados acrescentam um valor significativo 4 economia, significa que o prego das suas exportagdes no mercado intemacional é elevado o suficiente para compensar o prego das importagdes, fazendo com que aquelas economias tenham termos de troca internacionais a elas favoraveis. ii, Tipo de Coméreio O nivel de reservas internacionais de uma economia depende nao s6 da balanga da conta corrente mas também da balanga da conta capital (fluxos liquidos de recursos financeiros piiblicos © ou privados). Uma vez que parte significativa das economias em desenvolvimento incorrem em défices na sua conta corrente, os influxos continuos de recursos finaneeiros externos sio uma forma importante do desenvolvimento de estratégias de médio e longo prazos, incluindo o desenvolvimento da capacidade produtiva que determina as as exportagdes. Uma das formas de investir por via de fluxos financeiros externos ¢ 0 Investimento Directo Estrangeiro (IDE). O IDE a nivel mundial é feito por firmas ~ corporagdes transnacionais ou multinacionais. Estas por sua vez, conduzem ¢ controlam as actividades produtivas em mais de um pais. Controlam mais de 40% do comércio mundial dominando os processos de produgao, distribuigdo e a venda de muitos bens do desenvolvimento como por exemplo 0 tabaco € os téxteis. Segundo a UNCTAD (2001) no seu World Investment Report, o IDE a nivel mundial tem vindo a crescer nas iltimas duas décadas. Todavia, os grandes destinos por ordem dscrescente sto a Unitio Europeia, a América do Norte, a Asia e Pacifico ea Africa. $6 Samuel EZita ‘Anilis critica 20s determinantes das exportages em Mogambique (1975-2002) em 2000, a Africa recebeu apenas 1% do total do IDE mundial, continuando os paises desenvolvidos a serem os maiores destinos do IDE. Significa que a teoria neoclissica nto se aplica, Nao é s6 a quantidade de factores que ¢ importante mas sim a sa qualidade ¢ produtividade. De facto, os maiores destinos do IDE séo aqueles onde os factores produtivos no s6 so abundantes como também sio de levada qualidade. Ao investirem nesses locais, as multinacionais garantem o retomno dos seus investimentos - 0 seu objectivo € o lucro. Quase um quarto do comércio internacional envolve relagdes comerciais intrafirmas (multinacionais) de bens ou equipamentos intermédios de uma economia subsididria & outra (UNDP, 1997). Dentro deste quadro de fluxos de investimentos das corporagées transnacionais pode-se concluir que os interesses pelos quais elas séo movidas (que incluem os padrées de Investimento, expansao e acumulagdo) sé irdo afectar a estrutura das exportagdes das economias onde elas se instalam se parte ou a totalidade desses investimentos for virada as exportagdes sem que isso tenha nada a ver com estratégias especificas de promogao de exportagées. ili, Acordos comerciais ¢ suas restrigdes 5 acordos de parcerias econémicas (APE’s) so formas encontradas entre as economias ricas ¢ as pobres de modo a que nagbes ndo ricas penetrem nos mercados das economias ricas dentro de regimes preferenciais. Neste quadro, tais acordos colocam pressdes nas capacidades negociais das economias pelo que a capacidade de negociagdo ganha relevncia, A questo que se coloca é: porqué promover os APE’s (a0 nivel da OMC, da SADC eda UE)? Castel-Branco (2004), citando argumentos da Unido Europeia, as APE’s sio promovidas devido (i) a0 fracasso das preferéncias de Lomé na promogio de exportagées & integragao, (ji) ‘a crenga no impacto positivo da imtegragao regional e abertura comercial. Outros argumentos estio ligados a objectivos mercantilistas que tm a ver com objectivos 1B Anilise critica aos determinantes das exportagBes em Mogambique (1975-2002) de expansdo dos mercados bem como devido ao fracasso das negociagdes multilaterais. Olhando para 0 caso especifico da iniciativa Everything But Arms — EBA (2001) 20 abrigo da qual economias cm desenvolvimento podem exportar produtos como pescado para a UE mas em regimes preferenciais e, do African Growth Opportunity Act - AGOA (2000), segundo a qual paises africanos podem exportar dentre outros produtos, téxteis para o mercado norte ~ americano com a redugio de tarifas, pode se dizer que hi oportunidades para que a economia exporte mais. O problema que se levanta é que estas iniciativas por si s6 niio podem ser uma fonte de aumento das exportagdes. Elas sto tomadas dentro de um quadro de liberalizago comercial ignorando em grande medida as estruturas produtivas reais ¢ locais. Para economias em desenvolvimento, 0 mais importante nfo so redugdes tarifarias mas sim a criago de capacidades industriais incluindo qualidade © extemnalidades tecnolégicas), a mobilizago de recursos ¢ a standartizago da produgdo para penetrar nos mercados extemnos. 1.4. O keynesianismo e as exportagdes No modelo keynesiano da Balanga de Pagamentos (BOP)! para uma economia aberta (onde as exportagdes sio uma varidvel endégena), a procura de exportagdes € influenciada pelo (i) rendimento das economias externas (Y"), no sentido de que quanto maior cle for, 08 produtos domésticos so cada vez mais procurados; (ji) pela taxa de cambio real efectiva (TCRE), sob 0 argumento de que quanto maior ela for, 0 prego dos produtos domésticos em termos de moeda estrangeita toma-se barato, 0 que pode aumentar a procura de produtos de exportagao. Simbolicamente, tem-se: X = f (Y;,, TCRE,, Uj) onde, U; significa o termo erro que incorpora outras variaveis nao inclusas no modelo. ' Segundo o modelo keynesiano, a Balanca de Pagamentos (BOP) = f (X, M, F, R) onde X, M, Fe R sto as ‘exportagBes, importagdes, os fluxos de fundos liquidos direccionados a obtengio de activos liquides externos e Transferéncias liquidas para o exterior, respectivamente Samuel E.Zita Anilseeitica as determinantes das exportagSes em Mogambigque (1975-2002) 2. A Industrializagdo vs. Exportacies As divisas sto geradas através das exportagdes. Significa que as exportagdes dentro do processo de industrializagao, nio sendo um foco em sf, so determinadas pelos ganhos de produtividade (e competitividade) dos bens dentro duma estratégia mais ampla de desenvolvimento, onde o foco é a indistria da economia. Na aborgagem sobre a industrializagto o debate feito em termos de orientagdes comerciais: Estratégia de Substituig’o de Importagdes (ESI) vs. Estratégia de Promogio de exportagdes (EPE), viradas para dentro (e sob protecgdo) ¢ para o exterior (via exportagbes). Na ESI, argumenta-se que as economias que queiram industrializar-se tem de substituir a produgo de bens domésticos importades pela produgio doméstica de manufacturados sofisticados sob protecco de altas tarifas e quotas. No longo prazo, esta estratégia leva a diversificagio da produgdo industrial ¢ a uma maior habilidade de exportar manufacturados outrora protegidos bem como a economias de escala, custos de trabalho mais baixos ¢ externalidades positivas do learning by doing. Os pregos domésticos ficam mais competitivos relativamente aos intemacionais. 5 ciclos de negécios vio desde a importagdo de bens intermédios, a experimentagio, a aquisigio de capacidades e por fim ‘as exportagdes e, a economia pode importar continuamente, Logo, 0 debate em termos de ESI ou EPE perde relevincia como estratégia de industrializago que influencie a base produtiva que determina a estrutura de exportagdes pois, cada uma daquelas orientagdes no é uma estratégia em si, clas complementam-se. Por exemplo, a partir de meados da década 70, a EPE foi adoptada por economias como a Coréia do Sul, o Taiwan, a Singapura e o Hong-Kong aos quais so juntaram mais tarde 0 Brazil, o México ¢ a Turquia. Todas estas economias partiram de ESI’s de forma selectiva e sequenciada de algumas indiistrias (Todaro,2000) Samuel E.Zita Anise criti aos determinantes das exportagdes em Mogambique (1975-2002) Mais uma vez 0 foco reside na criagao de capacidades industriais que afectem a estrutura de exportagdes e, essas capacidades so endégenas a politicas industriais, ou seja, conseguem-se formando, organizando e fazendo politicas industriais Relativamente a estrutura tecnolégica, a abordagem das habilidades argumenta que as vantagens comparativas dependem mais da habilidade nacional de as economias criarem @ gerirem tecnologias (com ou sem Investimento Directo Estrangeiro) do que simplesmente das suas doptagdes factoriais. Assim, as exportagdes poderdo ter um bom desempenho (podendo mesmo serem sustentveis). Diferentes estruturas tecnolégicas das exportagdes tendem a ter diferentes implicagdes para a indistria e 0 crescimento: estruturas intensivas em capital tendem a oferecer melhores perspectivas de crescimento das exportagdes porque os seus produtos tendem a acelerar com 0 comércio porque criam nova demanda, suas rendas so perfeitamente elisticas ¢ sto substitutos perfeitos dos produtos antigos. Contrariamente, estruturas tecnolégicas simples tendem a ter mercados que crescem muito lentamente, um potencial de aprendizagem muito limitado ¢ geram menos externalidades no resto da economia, A estrutura tecnolégica esta intimamente ligada a relago entre o capital e o trabalho, 0 montante do capital usado em relagao 20 trabalho, afecta a produtividade e a qualidade do produto ¢ como resultado, a capacidade de competir intema c externamente. Entio, a estrutura tecnolégica deve ser fruto de longos processos cumulativos de aprendizagem, desenvolvimento institucional ¢ da cultura do negécio para que a economia se mova de uma fraca estrutura teonolégica para uma elevada estrutura tecnologica. Essa transigo ¢ complexa e como tal requer politicas de intervengao selectivas e cuidadosas (Lall, 2000:6) Estudos recentes efectuados na RSA e na Tanzania, encontram os seguintes factores como determinantes das exportagdes a0 nivel das firmas: (i) 0 sector em que a firma se encontra, Existem bens nao transaccionaveis ¢ bens transacciondveis, de tal sorte que 0 sector pode afectar a decisio de quanto exportar; (ii) a localizagdo da firma pode afectar a decisto de exportar pela facilidade de acesso as infra-estruturas ¢ aos servigos de apoio a0 comércio; (iii) a maturidade da firma que pode estar aliada ao tempo de existéncia da firma no mercado 0 que pode ditar a reputagao de que a firma possa gozar no mercado de Anilise eritca aos determinantes das exportages em Mogambigue (1975-2002) exportago e, (iv) a propriedade da firma (Naudé et al., 2000). As firmas privadas que exportam sfo grandes ¢ simultaneamente financiadas pelos seus accionistas ou por via de empréstimos. Soderling (2000), no seu estudo sobre a “dinimica das exportagdes, da produtividade e da taxa de cAmbio real efectiva nos Camardes”, conclui que as grandes firmas que sio mais provaveis de exportar so aquelas que sto de mais capital intensivo por possuirem uma rede muito forte de compradores ¢ fomnecedores gozarem de reputagdo no mercado intemacional, Por seu tumo, as grandes empresas estatais conseguem sustentar os seus niveis de investimento e de exportagdes exactamente porque tém facilidades de crédito, A componente mais importante quando se pretende discutir e compreender os determinantes das exportagées é a natureza da estrutura produtiva ou da manufactura. Esta componente esta contida no lado da oferta da economia. Todaro(2000), argumenta que na década 90 assistiu-se a um crescimento acentuado do valor das exportagdes dos paises em vias de desenvolvimento devido em grande parte a contribuigdo dos novos paises industrializados (Coreia do Sul, Singapura, Taiwan e Hong Kong). Essas economias viram as suas exportagdes a duplicarem porque apostaram na indistria de manufacturados e exportaram muito dessa manufactura fazendo com que a sua quota de exportagdes no terceiro mundo passasse de 30.8% (1965) para 82.8%(1990).. Quais foram as dindmicas da base produtiva em Mogambique apés a independéncia quais foram as implicagSes disso para as exportagdes. Até que ponto as dinimicas ¢ estrutura do comércio extemo, pressdes econémicas ¢ ligagdes terdo influenciado o comportamento das exportagdes no mesmo periodo? Seré que as exportagdes mogambicanas acontecem ou nao dentro dos parametros teéricos? E o que sera discutido no capitulo a seguir. Samuel EZita Anilise critica aos determinantes das exportardes em Morambique (1975-2002) IV. CASO DE MOCAMBIQUE ABASE PRODUTIVA E SUAS IMPLICACOES PARA AS EXPORTACOES O principal elemento a ter em conta na andlise dos factores determinantes da estrutura das exportagées é a forma como a base produtiva esté composta ‘As vantagens comparativas sao importantes, Contudo, elas terlio maior expresstio relevincia se « economia for industializando: tanto mais oportunidades e capacidades de produzir e exportar numa base larga e sustentivel a economia ter’. Se isso no ovorrer, mais concentrada sera a estrutura das exportagdes em tomo de certos produtos, 0 que significa que havera uma fraca capacidade de a economia fazer face a choques macrocondmicos (devido a sua dependéncia ¢ vulnerabilidade), a ajustar-se a novos mercados, incluindo a diminuigdo da fungdo tradicional das receitas exportagdes (gerago de reservas externas, pagamento de obrigagées inerentes ao servigo da divida). Como & que a estrutura da indistria manufactureira afectou as exportagdes de Mogambique? Que factores adicionais concorreram ou tem concorrido para o comportamento das exportagdes? 1. As Exportagdes em Mocambique Mogambique registou dois momentos de crescimento das exportagées de bens na sua histéria pés-independéncia: nos primérdios da década 80 (devido ao aumento do prego do petréleo no mercado internacional que clevou as receitas de derivados de petréleo) ¢ depois de 1999 com as exportagbes da Mozal. Olhando para estes factores, nada aponta para uma poss{vel existéncia de politicas promotoras de exportagdes (a Mozal esta ligada a0 complexo mineral energético sul-africano) mas sim de dindmicas intemacionais que afectaram a economia por um lado, ¢ da estratégia especifica de expansdo de uma firma (ver grafico 1). Somuel E.Zita ‘Antlise critica aos detrminantes das exportagdes em Mopambique (1975-2002) Grafico 1. Exportacoes (PIB) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 00 ELSE EPP IIIS EPIL S Fonte: Dados extraidos e adaptados livremente de Castel-Branco(2002a) No que concemne ‘a distribuigdo das exportagdes por tipos, entre 1975 - 1999, predominaram na economia as exportagdes de servigos relativamente as de bens, embora estes ultimos estejam a registar uma tendéncia crescente nos dltimos anos. A predomindncia dos servigos foi devida ao sistema de transportes que liga Mogambique e a RSA. Esse sistema foi concebido ‘a volta do complexo mineral energético sul-africano. Por um lado, foi construido para transportar milhares de mineiros mogambicanos recrutados para as minas da RSA. Por outro lado e mais recentemente, devido as receitas dos servigos de transporte oferecidos pelos corredores de desenvolvimento, dada a posigdo estratégica do pais ao nivel da regio austral ( ver grafico 2 na pégina 21). No mesmo periodo, relativamente a distribuigdo scctorial das exportagdes de bens hi basicamente trés que as tém dinamizado: a manufacturados, bens agricolas ea pescado As exportagdes de bens manufacturados depois de passarem por decréscimos acentuados logo apés a independéncia fruto de desinvestimentos feitos no contexto do fim da era ‘Analise critica 20s determinantes das exportagdes em Morambique (1975-2002) instabilidade da suas exportagdes também tem vindo a ganhar espago no conjunto das exportagdes totais da economia, Estes aumentos das exportagdes (manufacturados ¢ produtos agricolas), tem contribuido para a redugo do peso das exportagdes de pescado (ver grafico 3 pagina 21). Samuel EZita Andlisecritca-aos determinantes das exportagdes em Mogumbique (1975-2002) om CSE PEEP PEEPLES Fonte: Extraido e Adaptada livremente de Castel-Branco (2002a).Tabela A.3.3 ‘Grafco 3 Valor dus oxportacoos por eoctor(1975-1998) Sea R9 RS S2F8F Fonte: Extraido e Adaptado livremente de Castel-Branco (20029). Tabela A.3.4 Samuel E.Zita Analise critica aos determinantes das exportagbes em Mogambique (1975-2002) Othando especificamente para a manufactura até 1999, segundo Castel-Branco (2002), as ‘suas exportagdes foram dominadas pelo algodao, castanha e améndoa de cajé, o agicar, a copra, 0 sisal, 0 cimento, derivados de petréleo ¢ outros. Porém, depois de 1999 com as exportagies de aluminio da Mozal 0 cendrio mudou: as exportagdes da Mozal, passaram a representar 75% das exportagdes de manufacturados ¢ 60% das exportagties de bens e 42% do total das exportagdes da economia, como ilustra 0 grafico a seguir. Grafico 4.Estrutura do manutacturas exportadas (1975-2001) EES ELOEEPEERS Fonte: Extraido e Adaptado Livremente de Castel-Branco (2002);IPEX (2004) ‘Anélise critica a0 determinantes das exportaes em Mogambique (1975-2002) 2. A base produtiva A base produtiva das economias é a sua indistria, devido a sua capacidade de gerar Tigagdes que induzem 0 crescimento das economias. Em Mogambique, a indiistria, bem como as exportagées tem vindo a registar um crescimento. Contudo, esse crescimento tem sido instével a0 longo das ultimas décadas devido a factores conjunturais (guerra, calamidades naturais, pregos do petréleo) mas sobretudo devido a estrutura e dindmica de desenvolvimento da economia mogambicana. Olhando para o investimento na manufactura em Mogambique bem como ao scu peso no total do investimento na economia tem estado a crescer com destaque para 0 periodo a seguir a 1999 com o investimento feito na Mozal. O peso dos dez. principais produtos industriais da produgio industrial” aumentou: passou de 50% no fim da década 50 para 80% no fim do ano 2001(Castel-Branco, 2002). Isto revela um grau altamente concentrado da produgdo industrial. No mesmo periodo, indiistrias importantes como a do processamento da castanha de caji desapareceram surgindo 0 aluminio como o novo produto industrial e com um peso significativo, 48% do produto industrial. Do conjunto dos dez principais produtos industriais, retirando o Aluminio, 0 que sobra como exportagdes € apenas moagem de cereais, cimento e produtos quimicos (em pequena escala), algodio e téxteis. Estes produtos exportados, so primérios, possuem uma clasticidade-preco ¢ elasticidade-renda da procura rigidas no mercado internacional, 2 estrutura tecnolégica que elas comportam € fraca, ndo tém 0 aspecto da inovagao que pode criar oportunidades para responder aos desafios de novos mercados nem de reduzir a sua vulnerabilidade a choques macroeconémicos. © mercado deste tipo de bens é extremamente lento. Logo, estes produtos nao criam muito valor a economia dai que a tendéncia do valor acrescentado do investimento na manufactura tem crescido lentamente na economia (ver grificos 5 e 6 na pagina 24) ® Aluminio, moagem de cereais, produtos quimicos de consumo corrente, descerogamento e fiaglo de algodio, cerveja, refrigerantes, pedra para construsdo, equipamento de transporte ¢ téxteis. Samuel EZita Andlige ertica aos determinants das exportagdes em Mosambique (1975-2002) Grafleo 5: OInvestimonto na manufactura (% Investimento total) Fonte: Projecedes feta com base nos dados da tabela 1 em anexo Gréfico 6: Valor Acroscentado da Manufactura ( “PIB ) 12 0.10 0.08 0.08 0.04 0.02 0.00 ELF LSE EPI EE EEPS Fonte: Projecedes feitas com base nos dados da tabela I em anexo Samuel E.Zita Anilise critica aos determinantes das exportages em Mogambique (1975-2002) Mogambique, esté a verificar um processo de excessiva concentragao do tecido industrial devido ao efeito dos megaprojectos nas tendéncias de crescimento. Segundo Castel- Branco (2003), a Mozal ¢ a industria alimentar e de tabacos representam mais de 80 por cento do produto industrial. As indtistrias de tecnologia, engenharia, criadoras de capacidade tecnolégica e promotoras de ligagdes dinamicas ( metalomecdnicas, quimica ¢ de materiais), representam apenas 7% do produto industrial exceptuando metais bésicos. Tendo em conta este conjunto de produtos industriais, ¢ pouco provavel que as ligagdes intra e inter industriais se estejam a desenvolver dado que as indistrias mais importantes silo pouco relacionadas ¢ na sua maioria s6 fazem 0 processamento das matérias-primas, O estudo da KPMG (2001) confirma o grau de concentragio da actividade econémica em Mogambique. © volume de negécios das 100 maiores empresas no pais comesponde a metade do Produto Intemo Bruto ¢ mais de metade desse volume de negécios corresponde a meia diizia de empresas relacionadas com 0 complexo mineral energético sul-afticano (energia eléotrica, combustiveis e Mozal). Apenas 25 firmas daquele universo siio empresas do sector produtivo metade dos quais da industria. Excepcionalmente, a contribuigdo da Mozal nas exportagdes de 1999 a 2002, passou de 200.4 milhdes de délares para cerca de 711 milhdes de délares, representando um peso de cerca de 57 por cento no total das exportagdes da economia, o que também da uma clara indicagao da fraca ¢ limitada base de exportagao da economia. A visio neoclissica pugna que a concentragdo industrial se deve A especializagio motivada pelas vantagens comparativas pelo que & a favor dessa concentragio. O problema é que elas esto em conflito com a evidéncia, a qual ¢ marcada pela falta de competitividade tecnolégica, baixa produtividade e incapacidade de mudar o tecido industrial. Mesmo a teoria das vantagens comparativas prevé mudangas na estrutura de produgdio de acordo com a mudanga da intensidade com que os factores so usados na economia, 0 que nao esta a acontecer em Mocambique. ‘Anélise critica aos determinantes das exportagbes em Mogambique (1975-2002) A concentrago da produgio industrial em Mogambique, para além de nao contribuir para a redugo da dependéncia que a actividade econdmica possui face as importagdes faz com que as exportagdes dessa produgdo nfo cresgam numa base sustentavel. A economia, dada a estrutura tecnolégica desse tipo de exportagdes s6 Ihe restam as exportagdes de produtos primarios cujos padrées produtivos oferecem pouco espago para a inovagio. As dinamicas negativas destes produtos estio associadas a elasticidade-renda da procura dos mesmos produtos € a0 alto grau de substituigio dos produtos primérios pelos manufacturados. A estrutura tecnologica esta ligada a relagio entre 0 capital € trabalho no seio das economias. Estimar essa relagio é uma tarefa complexa sobretudo porque as estatisticas, sobre 0 stock de capital e o factor trabalho em Mogambique nao sio homogéneas. Na tentativa de estimar a funglo de produgio nacional, Sulemane (2001:15), determina a relago capital — trabalho (1980-1996). Othando para sua tendéncia, verifica-se um pendor crescente do capital face ao trabalho. Em termos de ganhos de produtividade e competitividade para a economia como um todo pode ser um factor positivo no caso dos produtos de capital ~ intensivo (e exportados), que a economia por sua vez, ndo produz muitos (& excepgdo dos casos da Mozal, HCB e Sasol). Todavia, se a economia é de trabalho — intensivo, o incremento do ricio capital-trabalho, apesar dos ganhos que eventualmente possam ser gerados, s6 beneficiard a mio de obra de forma pouco expressiva (por via da remuneragio), Entre 1974/86, 0 récio capital - trabalho em Mogambique diminuiu em média em cerca de 5 % e dai até 1996 teve um aumento na mesma proporgdo. De 1996 - 2002 espera-se que tenha aumentado sobretudo devido a contribuigfo da Mozal e da Sasol, que sfo firmas de capital — intensivo ¢ viradas essencialmente a exportagio. Samuel E.Zita ‘Andliseeritca aos determinantes das exportagdes em Mogambique (1975-2002) Pode ser apontado um conjunto de outros factores que tem influenciado as dindmicas produtivas que influenciam a estrutura das exportagées. As presses econémicas ¢ as ligacdes existentes ‘a volta da economia. Por exemplo, as, ligagdes econémicas entre Mogambique ¢ RSA, foram criadas e desenvolvidas pelos seguintes factores dindmicos: a fraqueza da economia face as forcas do capital na regio austral de Africa; o fortalecimento regional de corporagdes sul-africanas desenvolvidas a volta do complexo mineral energético; a fraqueza internacional da economia sul-africana 0 desejo de expandir o seu capital dentro e fora da regio austral (Castel-Branco, 2004). Estes factores foram importantes de tal modo que desenvolveram ligagdes econémicas ‘a volta do trabalho migratério, servigos de transporte ¢ mais recentemente no desenvolvimento de ligagdes ‘a volta do IDE sul-africano, Este processo de ligagdes com a RSA implicou para Mogambque, exportagdes tradicionais e altamente concentradas de lagosta € derivados de petréleo ¢ a importagZo de equipamento, matéria-primas, pegas sobressalentes e acessérios e uma vasta gama de bens de consumo. Por outro lado, 0 IDE sul-africano em Mogambique, esta ligado aos seguintes factores: (i) a construgdo da HCB (governo sul afticano por da via Eskom); (ii) politicas de portas abertas ao IDE feita pelo governo colonial portugués devido a adopco de uma politica de austeridade financeira ¢ autonomia financeira de Mogambique com Portugal; (iii) a necessidade de expansto da produgio industrial como resultado de oportunidades e pressdes politicas. Com 0 fim do apartheid, as corporagdes sul-afticanas procuraram expandir-se ¢ como resultado, 0 IDE ¢ 0 comércio unilateral substituiram o trabalho migratério ¢ servigos como elo de ligagdes. O Complexo Mineral Energético (CME) da RSA tem conduzido 0 IDE em Mogambique juntamente com as indiistrias oligopolisticas ou monopolisticas como a cerveja, 0 agicar, a energia, a moagem de cereais ¢ 0 Turismo. Servigos ¢ capacidades produtivas relacionadas a0 CME e dependentes de importagdes desenvolveram-se. Todavia, essas capacidades ainda ndo estio a ser usadas para o desenvolvimento de outros sectores da economia e a auséncia dessas dinamicas em epUANOA 27 Ree. 29248 ° ‘Anélise critica aos determinantes das exportagBes em Mogambique (1975-2002) sectores como de exportagao, impede um maior desenvolvimento de ligagdes fruto dessas capacidades. ‘Segundo uma fonte do INA, em Mogambique, o agiicar (¢ um sector oligopolistico) esti, bem organizado, estruturado ¢ fortemente ligado ao sistema financeiro que 0 apoia na construgao da uma capacidade produtiva sélida e tem conseguido exportar a0 abrigo da iniciativa EBA. Tal acontece, nao por causa de tarifas baixas nos mercados externos ou sequer devido simplesmente a liberalizagao dos mercados mas sim porque os regimes preferenciais so aproveitados por um sector jé organizado e preparado para exportar. Todavia, a base de produgio e exportagao da economia como um todo é fraca € muito pouco diversificada ¢ como resultado disso a economia tira muito poucas vantagens das APE's embora estas possam ser aproveitadas para negociar estrategicamente, Em conformidade com a classificagdo feita pelo Banco de Mundial’, do ranking das 100 maiores empresas em Mogambique, do conjunto daquelas que exportam a maior parte, sto, Pequenas ¢ Medias Empresas, apesar do seu peso pouco significativo no total das ‘exportacoes. Em geral, as grandes firmas tendem a exportar mais do que as Pequenas @ Medias Empresas e hi evidéncias de que isso ocorra em firmas do sector ‘manufactureiro na vizinha RSA (Naude et al. 2000). No caso de Mogambique, apesar da forte presenca das Pequenas ¢ Medias Empresas no counjunto das que exportam, 0 seu eso no total das exportagdes da economia é pequeno; as firmas que mais exportam sio as grandes empresas (de capital intensivo) como sao os casos da Mozal, HCB, Sasol. A localizagdo da firma também afecta a decisio de exportar. De acordo com 0 Directorio do Exportador (2002), cerca de 76% de um total de 256 firmas exportadoras em 2002, concentram-se nas capitais regionais, quigé, por se beneficiarem de infra estruturas como portos e estradas internacionais com vista a acederem a mercados > Segundo a qual, uma firma que possui um méximo de 10 trabalhadores, considera-se micro; pequena, no ‘caso de possuir entre 10 - 50 trabalhadores e média, se possuir entre 50 ~ 300 trabalhadores. Samuel . Anilise critica 20s determinantes das exports em Mogambique (1975-2002) exteriores bem como a uma vasta gama de servigos de apoio 4s exportagdes (despachantes aduaneiros, certificagio do produto, dealers, entre outros). Segundo o IPEX (2004), alguns dos exportadores nacionais alegam problemas da demanda dos seus produtos no mercado internacional, que por vezes néo tem razo de ser a avaliar pelos seguintes constrangimentos: (i) os produtos nfo possuem padres internacionais de qualidade. Por exemplo, 0 amendoim, que & um produto potencial de exportago, no pode ser exportado devido aos problemas internos de pés-colheita (nto é devidamente acondicionado, acabando por humedecer); quantidades insignificantes de exportago de produtos como as oleaginosas (gergelim ¢ girassol) cuja produgo esti aquém da demanda mundial; (iii) custos relativos a demora na obtengo dos certificados fitossanitarios ¢ de origem dos produtos (caso da madeira). Dentro deste ambiente qual pode ser o papel do Estado na promogio e desenvolvimento das exportagdes? O Estado pode participar no processo através de seus organismos que no caso de Mogambique faz-se representar através do Instituto de Promogiio de Exportagdes (IPEX). A fungio deste tipo de instituiges ¢ a de proporcionar informagdes sobre mercados externos, incluindo estatisticas sobre 0 comércio exterior, produgio, consumo, pregos e margens de lucto, contactos € oportunidades comerciais, caracteristicas da demanda, canais de distribuigdo, exigéncias relativas a embalagem, etiquetagem ¢ qualidade, preparar estudos de mercado e realizar programas € treinamento para capacitar recursos humanos em técnicas de comércio internacional. Todavia, 0 problema que se coloca em Mosambique é que o IPEX tende a apoiar somente poucos exportadores escolhides com base nos levantamentos de oferta ¢ demanda de seus produtos; proporciona um pacote de insumos de assisténcia técnica a empresas que dispdem de produtos exportiveis esperando que 0 sucesso seja alcangado por outras ‘empresas do ramo. Somuel E.Zita ‘Anélise critica 20s determinantes das exportagbes em Mogambique (1975-2002) Se na economia predominam as pequenas € medias empresas, o foco do IPEX deve ser 0 desenvolvimento € a manutengdo da competitividade das pequenas € médias empresas; elas tém de adquirir ou criar activos que sejam especificos ‘a empresa ¢ a capacidade gerencial. Aqui, 0 apoio governamental ¢ em parceria com o sector privado ¢ importante, mesmo que posteriormente, a firma tenha de gerar recursos necessérios para pagar 0 apoio recebido (nas dreas de pesquisa, formagio de recursos humanos, de recursos financeiros para melhorar as instalagdes de produgao e promogio de exportagdes). ‘Nao ha evidéncias de que os factores do lado da procura(segundo o modelo keynesiano paa uma economia aberta) tenham afectado as exportagdes no periodo em anéilise de ‘forma significativa, contrapondo com o que é defendido pelo 0 modelo keynesiano para uma economia aberta. Nhabinde (1999), utilizando dados trimestrais das exportagdes para o periodo 1994-1998 conclui que elas responderam positivamente as variacoes da taxa de cambio real efectiva embora numa magnitude pouco significativa. Isso € devido ao facto de a economia ser fortemente dependente das exportagdes de produtos primérios pelo que sugere a existéncia de outras variaveis que possam explicar 0 comportamento das exportagdes tais como o rendimento das economias extemas. Segundo o autor, a correlagio entre as exportagies ¢ 05 seus precos ¢ fraca, o que significa que um aumento dos pregos das exportagdes teve pouco impacto no valor das exportagdes. Quando se fala do impacto da renda das economias externas nas exportagées, alude-se a sensibilidade da renda externa face as exportagdes, ou seja, como é que as exportagdes reagem as variagdes da renda extema - elasticidade renda da procura de produtos de exportagio. Como referido anteriormente, Mogambique, 4 semethanga de muitos paises da Africa Subsahariana, exporta por tradigao produtos primérios cuja elasticidade renda da procura no mercado intemacional é baixa (um aumento em 1% na renda externa, leva a um aumento menos do que proporcional na procura dos produtos primarios do que 0 Samuel EZita [Anilis eritca ans determinantes das exportages em Mogambique (1975-2002) aumento no seu PIB), 0 que se reflecte em taxas de crescimento da renda nacional muito baixas e fracamente previsiveis. Para uma economia pequena como a de Mocambique, influenciar a procura de seus exportaveis ¢ exportados afigura-se uma tarefa complexa. Entdo, onde ainda é possivel criar, conduzir e mesmo influenciar as suas dindmicas, é na capacidade produtiva. Samuel E.Zita ‘Andliseeritca aos determinantes das exportagBes em Mogambique (1975-2002) V. CONCLUSOES ‘Mogambique teve a sua estrutura de exportagdes determinada pelos seguintes factores: (i) a base produtiva muita fraca e pouco diversificada (sendo dominada pelo aluminio, moagem de trigo, produtos quimicos de consumo corrente, descarogamento e fiagio de algodio, cerveja, refrigerantes, pedra para construgdo, equipamento de transportes téxteis) que ‘a excepgo do aluminio, criam poucas ligagdes na economia. O grau elevado de concentrago da produgio industrial explica de certa forma a existéncia de vantagens comparativas estiticas da economia nesse conjunto de bens ao longo do periodo em andlise. Contudo, o tecido industrial ¢ marcado pela falta de competititividade tecnolégica e baixa produtividade (ji) exportagtio de produtos eminentemente primérios (cimento, téxteis, pescado e algodio) cujos mercados extemos crescem muito lentamente, no acrescentam valor significativo a economia, nfo tem a capacidade de ajustar ~ se a novas oportunidades mereados; (iii) 0 conjunto de pressdes econdmicas e ligagdes criadas pelas firmas associadas 20 complexo mineral energético sul-afticano mais do que a existéncia de estratégias especificas de promogdo de exportagdes numa base sustentvel; (iv) a existéncia de produtos de produtos potencialmente exportaveis como 0 amendoim que no sio exportados devido a ndo observancia dos padrdes intemacionais, de qualidade (caso especifico do amendoim); (v) a inexisténcia de estratégias industriais, que visem a aquisigao de capacidades industriais que possam influenciar a construgio da base produtiva que pudesse determinar a estrutura das exportagdes na economia ¢, a concentrago regional do tecido industrial nas capitais regionais da economia, como ilustram dados do IPEX (2002) Dentro deste contexto, cabe ao Estado um papel proactivo na promogio ¢ desenvolvimento das exportagies. Samuel EZita ‘Anilise critica aos determinantes das exportagBes em Mogambique (1975-2002) VI. RECOMENDACOES A economia poderé exportar mais se diversificar a sua base produtiva e de exportagao. De que forma? Deverias explicar porqué € como, mas nao fazes nem uma coisa nem a outra. Relativamente aos aspectos de politica comercial relevantes para a melhoria do desempenho das exportagdes, os policy-makers nao se devem ater & questo de construir uma politica na base dos argumentos neoclissicos ou sobre a industrializago como ferramentas valiosas para a promogio de exportagdes. A questo deve centrar-se em construir uma politica comercial que capte os factores dinamizadores do comércio em geral e das exportagdes em particular num contexto de globalizagdo ¢ liberalizagao das economias onde a construgo € 0 desenvolvimento de capacidades industriais que influenciam as exportagdes so 0 foco, sob o risco de as actividades de promogao ¢ desenvolvimento das exportagdes tomarem-se inadequadas para criarem e ou reforgarem ‘a competitividade das firmas orientadas A exportago ou que exportam. Os elementos para fortalecer a competitividade das empresas ndo deverio ser considerados em separado, pois o mais importante ¢ dominar ambos os processos de produgo e comercializagao. O financiamento ¢ a assisténcia técnica directa ¢ individual a pequenas e médias empresas que exportam deve ser cuidadosamente analisado de forma a evitar desperdicio de recursos téenicos financeiros, pelo que a assisténcia na promogio e desenvolvimento de exportagdes deve visar as pequenas ¢ médias empresas que tenham capacidade de produgo adequada e que como tal, possam tirar maior vantagem dos recursos técnicos ¢ financeiros disponiveis para 0 efeito. Deve ser dada a estratégia de promogao e desenvolvimento de exportagdes como um todo, uma atengao especial, integrando de forma apropriada aqueles elementos cruciais para fortalecer a competitividade das empresas. Neste proceso dever-se-& identificar ‘Anilise critica aos determinantes das exportagSes em Mogambique (1975-2002) firmas e produtos a serem contemplados pelos projectos de promogio desenvolvimento de exportagdes. As actividades de promogo ¢ desenvolvimento de exportagdes podem contribuir para a criag2o de tecnologia, Elas deverao incluir as dirigidas a identificacdo, selecgao ¢ captura de mercados para a tecnologia que + Mogambique —_possa_criar. Samuel E.Zita | ‘Analise critica aos determinantes das exportagdes em Mogambique (1975-2002) VII. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Alam, M. Shahid, 1999. Trade Orientation and Macroeconomic Performance in LCD's: An empirical study. In Economic Development & Cultural Change, vol. 39, The University of Chicago Press. April Bardhan, P.1995. The Contribution of Endogenous Growth Theory to the Analyses of Development Problems: An assessment, In Behrman and Srinivisan (eds). Bigsten et al., 1997a. Exports of African manufactures: macro policy and firm behaviour, Oxford: CSAE, mimeo, Castel-Branco, €.1994a. Problemas esiruurais da industrializagdo: a indtistria transformadora. In Perspectivas econdmicas, UEM & F.F. Ebert. Maputo Castel-Branco, C.1997. 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ANEXOS Tabela 1 A evolugao do peso da manufactura no PIB de Mocambique(valores em 106 milhdes de délares, 1996 = 100) Tors Tora Tors Tore Ta Tore Tare 2913 2767 2324 72092 2134 2242 58 nd 26 187 0.14 0.01 7987 1982 Zar8 2212 140 138, a7 Invest, Manuf.( % I. Total) 031 Invest. Manuf.( % PIB) \VA da Manuf. VA da Manuf.( % PIB ) Continuagao da tabela 1 ‘anos PIB Invest. Manuf. Invest. Total na Economia Invest. Manuf ( % I. Total) Invest. Manuf ( % PIB) VA da Manuf. VA(% PIB ) Continuagao da tabela 1 Invest. Manuf.( % I. Total) Invest. Manuf.( % PIB) VA da Manuf. VA (% PIB) Fonte: Castel-Branco, An Investigation into the poitical economy of industrial policy. The Mozambican Case , Unpublished PhD Thesis.London.2002 tabota2 ‘A compesigto sectorial do valor da produgdo manutacturaira {om 10"3 contos, a pregos de 1970) " ‘Bebidas, almentagao ——«txeis © Madera Grafica Quimicose __mineraisndo_-melais_——_—maquinase tot ‘oat etabaco confacgtes, der. Pet. melaicos __Basloos__tansp, de eau. (1046 sD) a 798 09ST 1435 “08 1182 a7 id nd 6 nd nd nd 0 3500 102 440 1081 197 ste ot 1029 337 1790 i 426 3122 1015 252 24 249 369 3i22 1321 231 2628 25 309 3250 148. 288 2389 238 27 3158 so12 478 3060 pal 367 3251 aw 428 2710 258 428 2618 1088 24 2555 245 1673 1190 250 173 185 175, 1237 308 748 138 ars 4113 304 458 108 1552 1049 333 480 oral 2583 1523 222 430 201 4100 2169 198 635 351 4896 29 218 1432 367 4236 123 207 1265 545 4251 1787 18 1305 ero 3680 1383 145 1225 718 3024 9 a7 1128 767 3037 608 9 9896 734 4509 395 131 933 ser 5062 368 87 1015 1153 867 ™ 122 1245, 1249 8561 672 139 1284 1388 10958 22 s21, 419 1097 1533. e218 7837 8266 3898 ‘9380 6555 4969 4224 AaRRAAARAARRASEORISSSSSS Ras i 2ageaezaazeaeas aaezeaezezaaaaaa Fonte: Castel-Branco, 20022, An Investigation into the political economy of Industrie! Policy. he mozambican case. Unpublished PhD thesis.London nd - no isponive! Tabola 3 ‘A evolugdo das exportagbes em Mogambique por produtos (em 10*3 USD) Miners de Tantalo Cimento Pneus @ Camaras de ar Sisal Cora (O60 de copra Melagos Ole0 de caja inquer Detivados de petrtteo Lagosta Energia Eléctica Produtos da Mazal Outros [rout Te ee ee eee eee ee ee eer seer “Armendoa do cao Castanha de cai ‘Camara Algodto fra ‘Agicar one Madeiras Canto Ciinos Minsrios de Tantato Cimento Pneus @ Camaras ‘Sisal Copa ‘Ote0 de copra Metacos Oreo de caja Giinquer Dervados de petitieo Lagosta Energia Eldctica Produtos do Mazal Outros Continuagso da tab. 3 ‘Amnendoa de colo Castanha de cali Camarto Algodo fora Agicar cna Madelras ‘Carvae Civinos Minérios de Tantalo Cimento

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