Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Artigo Sobre Barreiras Técnicas
Artigo Sobre Barreiras Técnicas
Resumo
Este artigo procura analisar as razões para a baixa participação de produtos industrializados na
pauta de exportações do Mercosul à União Europeia, pois mesmo com tarifas aduaneiras
reduzidas e o benefício do Sistema Geral de Preferencias (SGP), somente em torno de 15% do
total exportado pode ser classificado como produto industrializado.
Palavras-chave
Summary
This article analyzes the reasons for the low participation of manufactures in total exports
from Mercosur to the EU, as even with reduced import duties and the benefit of the
Generalized System of Preferences (GSP), only around 15% of the total exports can be
classified as manufactured product.
Keywords
Problematização
Com a criação do GATT1 logo após a 2ª grande Guerra os países passaram a usufruir
de um ambiente propício ao comércio de mercadorias, o que resultou em um comércio
mundial ampliado em 275 vezes entre 1950 e 20092.
1
GATT: General Agreement on Tariff and Trade: Acordo Geral de Tarifas e Comércio: conjunto de normas e
concessões tarifárias criado para impulsionar a liberalização comercial, combater o protecionismo e regular,
provisoriamente, as relações comerciais internacionais. Vigeu entre 1947 e 1994, sendo que neste período
ocorreram 8 rodadas de negociação multilaterais e uma queda da tarifa aduaneira média de 40 para 5% .
2
Site do MDIC, com dados da OMC.
1
O objetivo do GATT nas primeiras rodadas era facilitar somente o comércio de
produtos industrializados, pois não havia consenso entre os Estados Unidos e a Comunidade
Econômica Europeia sobre o tema comércio e redução de subsídios agrícolas.
3
International Trade Statistics – World Trade Organization, 2009 – disponível para acesso em:
http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2009_e/its2009_e.pdf
4
Barreiras que não se referem ao pagamento de tributos sobre importação e exportação, mas sim de
exigências relativas a requisitos técnicos ou administrativos.
5
Rodada que ocorreu entre 1973 e 1979
6
No Brasil esta tarefa ficou a cargo do INMETRO
2
harmonização das exigências técnicas entre os países-membros, incentivo para a participação
em organizações internacionais de normalização e para o aceite de procedimentos técnicos de
outros países. Além disso, cada país deveria estabelecer centros de informação – pontos focais
para disponibilizar aos demais projetos de novas regulamentações, alcance, concessão de
prazos e críticas de partes interessadas. O TBT considera que um regulamento técnico
adotado por um determinado país será uma barreira técnica se divergir de uma norma técnica
internacional existente, bem como se procedimentos de avaliação forem não-transparentes ou
demasiadamente custosos. No âmbito deste acordo os países são impedidos de regulamentar
Métodos e Processos de Produção não relacionados às características do produto, no entanto
existe uma preocupação quanto à preservação do meio ambiente e, ao mesmo tempo, a
necessidade de adequação de métodos e processos aos padrões dos países mais desenvolvidos
(Alves, 2007). Uma solução para este problema seria a implementação de programas
voluntários de certificação, porém a regulamentação generalizada destes resulta em
impeditivo, e não facilitador do comércio.
Com 15 artigos e diversos anexos que se desdobram, o Acordo TBT, juntamente com
7
o SPS , deveria reduzir em grande parte o problema das barreiras não-tarifárias. Apesar de
avanços, entretanto, é possível observar uma evolução na criação de novas barreiras
principalmente no âmbito privado, o que dificulta o combate das mesmas.
Trata-se de toda e qualquer dificuldade ao livre comércio entre países que não seja
oriunda de pagamentos sobre importação/exportação. Algumas barreiras são visíveis por
estarem explícitas na legislação do país, como cotas de importação ou exigência de bandeira
em transporte naval, por exemplo. Já outras são informais e advêm da estrutura de mercado,
das instituições políticas, sociais e culturais. Os impedimentos ao comércio associados às
barreiras informais podem ser resultado de um esforço consciente do governo em favor dos
interesses domésticos, ou o subproduto de práticas ou políticas enraizadas nas instituições
domésticas. Dentre as BNT mais frequentemente utilizadas estão as barreiras técnicas, que
advém de regulamentos, normas ou avaliações de conformidade. Segundo as regras
estipuladas pela OMC, definem-se como:
“Barreiras comerciais derivadas da utilização de normas ou regulamentos técnicos não transparentes ou que
não se baseiem em normas internacionalmente aceitas ou, ainda, decorrentes da adoção de procedimentos de
avaliação da conformidade não transparentes e/ou demasiadamente dispendiosos, bem como de inspeções
excessivamente rigorosas”. (www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas)
Importante observar que as barreiras técnicas podem ser superadas e que nem todas são
ilegítimas. Dividem-se em:
Um produto que não cumpra as especificações da regulamentação técnica pertinente terá sua
venda proibida; no entanto, o não cumprimento de uma norma poderá diminuir sua
participação no mercado, apesar de não inviabilizar a venda. De qualquer modo, a
multiplicidade de exigências gera custos adicionais, prejudicando a competitividade até o
ponto que inviabilize o acesso. Em que pese os acordos internacionais firmados pelo
Inmetro8, estes têm como escopo o reconhecimento mútuo de regulamentos entre Estados, não
alcançando normas privadas.
8
Autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e que tem,
dentre outras funções, fortalecer a participação do País nas atividades internacionais relacionadas com
metrologia e qualidade, além de promover o intercâmbio com entidades e organismos estrangeiros e
internacionais.
9
SISBATEC: Sistema de Informações sobre Barreiras Técnicas
10
American Society for Testing and Materials.
11
Underwriters Laboratories Inc.
4
Internacionais: Estabelecidas por um Organismo Internacional de Normalização para
aplicação em escala mundial. Exemplos: ISO ou a ITU-T – União Internacional de
Telecomunicações.
La Sentencia del Tribunal de Justicia de las Comunidades Europeas (TJCE) de 20 de febrero de 1979,
denominada Cassis de Dijon definió por primera vez «el principio de reconocimiento mutuo», al establecer que
cualquier producto fabricado y comercializado en un Estado miembro, y conforme a las normas de ese Estado,
debe ser admitido, en principio, en cualquier otro Estado miembro.
12
Informações sobre o caso em http://eur-lex.europa.eu/smartapi/
cgi/sga_doc?smartapi!celexplus!prod!CELEXnumdoc&lg=en&numdoc=61978J0120
5
França, a retomada das negociações comerciais para a assinatura de um acordo de livre
comércio com o Mercosul.
Importante observar que o comércio exterior, ainda que relevante para países
europeus, está fortemente centrado no intercâmbio de produtos intrabloco. Apesar da
relevância de países como China e Estados Unidos para o comércio mundial, 63,7% do
comércio exterior europeu em 2010 teve como origem e destino países do próprio bloco
econômico.
13
(HS-Code), que é o padrão mundial para classificação de mercadorias comercializadas internacionalmente.
14
A BEC é uma classificação internacional construída para atender à necessidade de estatísticas comerciais
internacionais analisadas segundo categorias econômicas amplas, servindo, ainda, de orientação para a
elaboração das classificações nacionais. Compreende todos os produtos/mercadorias transportáveis. Classificar
produtos por categorias de uso implica em identificar corretamente o uso desse produto. A dificuldade em se
determinar precisamente o uso final dos produtos (bem de consumo ou bem intermediário, por ex.) levou a
BEC a adotar como critério básico incluir os produtos nas categorias que atendessem ao uso final principal.
Assim, observando-se este critério, pode-se considerar que um dos objetivos importantes da BEC é apresentar
categorias que, na medida do possível, ajustem-se às classes básicas dos Sistemas de Contas Nacionais: bens de
capital, bens intermediários e bens de consumo. Mais informações em http://unstats.un.org.
6
Fig 2 – Exportações totais do Mercosul para a UE conforme classificação BEC.
Fonte: http://www.alicewebmercosul.mdic.gov.br/
Ainda que para a maioria dos produtos industriais o Imposto de Importação europeu seja
reduzido e o Mercosul conte com o benefício do SGP15, exporta-se basicamente insumos. O
caminho inverso – Importações do Mercosul provenientes da União Europeia, apresenta um
nível tarifário para produtos industrializados consideravelmente mais elevado, mas assim
mesmo somente 40% do valor total referem-se a produtos primários ou semielaborados.
15
O Sistema Geral de Preferencias foi idealizado para que mercadorias de países em desenvolvimento
pudessem ter um acesso privilegiado aos mercados dos países desenvolvidos, em bases não recíprocas,
superando-se, dessa forma, o problema da deterioração dos termos de troca e facilitando o avanço dos países
beneficiados nas etapas no processo de desenvolvimento. Fonte: MDIC
7
O quadro abaixo apresenta o imposto de importação para alguns dos principais produtos
manufaturados no Mercosul que tem como destino a Europa.
No Reino Unido, a empresa certificadora BSI foi fundada em 1903, e hoje detém um
índice de reconhecimento de 82% pelos seus cidadãos (fonte: www.bsigroup.com). Diante de
tamanha popularidade, a ausência de seu selo em um produto estrangeiro representa uma
desvantagem mercadológica.
16
Objetivo é discutir alternativas que não se restrinjam à questão cambial
17
Technischer Überwachungsverein: Associação de Inspeção Técnica
8
Certificações são bons instrumentos de apoio ao marketing. Entretanto, devido a
estratégias de global sourcing18 empregadas por grandes empresas, os produtos de exportação
são normalmente sujeitos a margens reduzidas, e a necessidade de atendimento a normas
técnicas em excesso constitui-se em barreira não tarifária. Este problema já era detectado
dentro da própria UE e, em 1992, um estudo visando quantificar o prejuízo ao comércio
intrabloco decorrente de normatizações foi realizado. Breulmann (1993) comenta que o
Relatório Cecchini baseou-se em entrevista com 11.000 empresas de toda a Europa, tendo
chegado à conclusão que seria economizado um valor de 163 bilhões de marcos (81,5 bilhões
de EUR a valores de 1992) com a eliminação efetiva das normas nacionais restritivas ao
comércio. Desde então avanços foram efetivados, tendo como resultado um grande fluxo de
mercadorias intrabloco; para produtos “overseas”, entretanto, as dificuldades permanecem.
Tomando-se como exemplo dois segmentos no mercado alemão: Móveis para exterior
e Produtos para escritório, é possível a identificação de um grande número de normas que,
apesar de não obrigatórias, contam com o prestígio das certificadoras privadas junto ao
consumidor a fim de torná-las uma necessidade.
Inspeção: Nível geral Acceptable Quality Level19 - AQL II para amostragem, conforme a
norma ISO 2859 - 1. Defeitos críticos: 0; defeitos maiores: 2,5 e defeitos menores: 4,0. O
procedimento de inspeção em nível II é considerado alto e custoso para este tipo de produto,
pois em um lote de 1.200 bancos de jardim, por exemplo, 125 peças escolhidas aleatoriamente
devem ser inspecionadas, e somente 14 defeitos maiores20 e 21 menores21 são permitidos.
18
Abastecimento global. Empresas utilizam-se de ferramentas de Tecnologia da Informação para buscar
fornecedores e comparar preços em nível mundial.
19
Nível de Qualidade Aceitável
20
Exemplo de defeito maior seria uma variação percentual de umidade acima de 15% e abaixo de 10%. Por se
tratar de madeira, um intervalo tão estreito exige equipamentos de secagem computadorizados. Outro
exemplo de defeito maior é uma marca na face visível do móvel.
21
Exemplo de defeito menor: marcas na madeira em partes não facilmente visíveis do móvel.
9
Meio ambiente: Certificação pela Forest Stewardship Council22 (FSC) para madeira originária
da América do Sul e Central, África e Ásia. Para as demais regiões a certificação FSC não é
exigida.
Reciclagem das embalagens utilizadas: Caixas de papelão, filmes PE, fitas de segurança e
materiais de preenchimento devem ser licenciados junto à Interseroh AG24.
22
O Conselho de Manejo Florestal é uma ONG criada após a ECO-92 para promover o gerenciamento
responsável da cadeia produtiva. A ONG certifica empresas que irão inspecionar e credenciar desde florestas
até o produto final. Informações em www.fsc.org.
23
FEFCO é a Federação Europeia de Fabricantes de embalagem corrugada. Informações no site www.fefco.org
24
Empresa responsável pela reciclagem de embalagens. Informações no site www.interseroh.com
10
marcações pode ser substancial e tem crescido com o tempo. Como exemplo pode-se
observar a placa de identificação a seguir (de um monitor de vídeo atual e em 2004):
No que respeito à certificação, acreditação e verificação, estas são aplicáveis de acordo com o
Conselho alemão de Acreditação (Fonte: http://www.dar.bam.de/qm.html), e nas áreas onde
não existam leis da UE ou legislação nacional as atividades são controladas voluntariamente,
em uma base de confiança. Importante observar que Qualidade, por exemplo, não é um
conceito absoluto; assim, os critérios de avaliação de uma empresa certificadora são
determinados por grupos de interesse, e sua importância decorre da aceitação do mercado
(fonte: www.baua.de).
A seguir uma tabela com os principais selos atualmente existentes no mercado alemão para
produtos de escritório:
11
Segurança – VDE-Zeichen,
– ENEC-Zeichen,
– EMV-Zeichen,
– Internationale EMC-Zeichen,
– EMVU-Zeichen.
Segurança do trabalho – BG-PRÜFZERT,
/Ergonomia – TCO-Gütesiegel,
– TÜV Rheinland – Ergonomie geprüft,
– TÜVdotCOM-Zeichen
Meio-ambiente – Blauer Engel,
– ENERGY STAR®,
– EU-Label bzw. Eco-Label (Euroblume),
– GEEA- bzw. GED-Zeichen.
Quality Office – DIN, Deutsches Institut für Normung e.V.,
– VBG, Verwaltungsberufsgenossenschaft,
– BSO Büro, Sitz- und Objektmöbel e.V.,
– BAuA, Bundesanstalt für Arbeitsschutz und Arbeitsmedizin,
– INQA-Büro, Initiativkreis Neue Qualität der Büroarbeit
Outros selos STIFTUNG WARENTEST
Fonte: www.baua.de
Diante desta situação, e considerando que o Inmetro não possui o mesmo grau de
reconhecimento que as certificadoras europeias, o governo brasileiro decidiu recentemente
implantar por lei a necessidade de avaliação de conformidade. A Medida Provisória 541/11 -
de 3 de agosto de 2011 reformulou as atribuições da autarquia, que passou a se chamar
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Com a iniciativa o governo
pretende melhorar a atuação do órgão no apoio à inovação do setor produtivo e controlar a
entrada de produtos estrangeiros que não atendam aos requisitos técnicos determinados.
Acredita-se que com esta medida, em tese protecionista, inicie-se no âmbito das
negociações Mercosul – União Europeia tratativas para um acordo de reconhecimento mútuo
entre as certificadoras privadas europeias e o novo Inmetro.
Conclusão
12
Bibliografia
BOSSCHE, Peter Van den. The Law and Policy of the World Trade Organization: Text, cases
and materials. 2.ed. Cambridge, New York, Melbourne, Madrid, Cape Town, Singapore, São
Paulo, Delhi: Cambridge University Press, 2008.
INMETRO. Barreiras Técnicas à Exportação. Site Institucional. Abril 2009, 3a. edição.
http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/ Disponibilidade: 19/10/2011
MDIC, AEB, CNI. Barreiras Técnicas: Conceitos e Informações sobre como superá-las, 2002.
www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_1196785148.pdf. Disponibilidade: 16/10/2011.
WAQUIL, Paulo et ali, (2003). União Europeia e Mercosul: o setor agrícola no processo de
integração inter-blocos. [http://www.sober.org.br/palestra/12/03O167.pdf]. Disponibilidade:
06/06/2011.
13