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Roger E. Backhouse Ticulo original: The Penguin History of Economies Copyright © | Roger Backhouse, 2002, Penguin Books Ltd, Reino Unido, 2002 Copyright © Editora Estagio Liberdade, 2007, Revisdo Assiséncia editorial Edigao final de texto Projeto gnifico Composigao Capa Mustragiéo da capa para esta tradugio Graziela Costa Pinto, Ricardo Jensen André Reinach Angel Bojads Edilberto Fer omoe Moroizumi indo Verza Johannes C. Bergmann / Estagio Liberdade Nuno Bittencourt / Letra 8 Imagem Antonio ‘analetto. I Campo di Rialo ‘© BPK, Berlim, Dist RMN / © Jorg P. Anders Alemanha, Berlim, Gemildegalerie A editora agradece a Claudia Pavani pela consultoria téc) CIP BRASIL — CATALOGAGAO NA FONTE Sindicato Nacional dos Editores de Liveos, i) 7) lia es Backhouse, Roger, 1951- Historia da economi ttadugio Celso Mauro Pa Liberdade, 2007 432 p. Tradusio de: “The Pen, Apéndice Inclui bibliogeafia ISBN 978-85-7448.127-2 |. Historia econémica I Titulo, Buin history of economics 07-261) CDD 330.09 DU 330091) ee DU 33 _ Taddos os direitos reservados t Bditora Bstagio Liberdade Ltda. Ri Dona Elisa, 116 | 0155-030 | So Paulo-SP Tels (11) 3661 2881 | Fax: (11) 3825 4239 wwwestacaoliberdade.com.br SUMARIO. AGRADECIMENTOS PROLOGO, A historia da economia O que é economia? Observando o passado pela dtica do presente A historia contada aqui O MUNDO ANTIGO Homero e Hesfodo Administragao patrimonial — Oikonomikos (O econémico) de Xenofonte O Estado ideal de Platao Aristdteles sobre justiga e troca Aristételes e a aquisigao da riqueza Roma Conclus6es A IDADE MEDIA A decadéncia de Roma O judaismo O cristianismo primitivo O islamismo De Carlos Martel a peste negra ay 34 38 40 4B 45 47 49 56 on O Renascimento do século XIl e a economia nas universidades Nicole Oresme e a teoria do dinheiro Conclusdes O SURGIMENTO DA VISAO DE MUNDO. MODERNO — O SECULO XVI O Renascimento ¢ 0 surgimento da ciéncia moderna A Reforma A ascensao do Estado-nagao europeu O mercantilismo Maquiavel A Escola de Salamanca e€ 0 tesouro americano A Inglaterra dos Tudor A economia no século XVI CIENCIA, POLITICA E COMERCIO NA INGLATERRA DO SECULO XVII Antecedentes Ciéncia e cientistas na Royal Society Fermento politico Problemas econémicos — 0 poderio comercial holandés e a crise dos anos 1620 A doutrina da balanga comercial A taxa de juro e 0 caso do livre-comércio A crise das moedas recunhadas dos anos 1690 A economia na Inglaterra do século XVII ABSOL UTISMO E ILUMINISMO NA FRANCA DO SECULO XVIII Problemas do Estado absolutista 58 65 68 87 87 87 94 98 100 102 107 V1 Criticos do mercantilismo no inicio do século XVIII Cantillon sobre a natureza do comércio em geral O Hluminismo A fisiocracia Turgot O pensamento econdmico no Ancien Régime O ILUMINISMO ESCOCES DO SECULO XVIII Antecedentes Hutcheson Hume Sir James Steuart Adam Smith Divisao de trabalho e mercado Acumulagao de capital Smith e 0 [aissez-faire O pensamento econdmico no fim do século XVUL A ECONOMIA POLITICA CLASSICA, 1790-1870. Da filosofia moral 4 economia politica O utilitarismo e os radicais filosGficos A economia ricardiana Alternativas 4 economia ricardiana Politica governamental ¢ 0 papel do Estado Dinheiro John Stuart Mill Karl Marx Conclusées 115 118 124 125 130 135 161 161 165 167 171 179 182 185 189 198 8 ASEPARACAO E! 10 NTRE HISTORIA ETEORIA NA EUROPA, 1870-1914 A profissionalizagao daeconomia Jevons, Walras € a economia matematica ae na Austria A economia na Alemanh. | arshalliana A economia histérica € a escola m: na Gra-Bretanha A teoria econémica europea, 1900-1914 A ASCENSAO DA ECONOMIA NORTE-AMERICANA, 1870-1939 A economia norte-americana no fim do século XIX John Bates Clark A economia matematica Thorstein Veblen John R. Commons Pluralismo no entre-guerras Estudos sobre competigao no entre-guerras A migracao de académicos europeus A economia norte-americana em meados do século XX DINHEIRO E CICLO ECONOMICO, 1898-1939 O processo acumulativo de Wicksell O ambiente econdmico modificado As teorias austriacas © suecas do ciclo econdmico Gra-Bretanha: de Marshall a Keynes A tradigao norte-americana A Teoria geral de Keynes A revolucao keynesiana A transigao da macroeconomia do entre-guerras para a do pés-Segunda Guerra Mundial 10 201 201 203 208 214 219 223 223 226 229 234 238 240 242 247 251 251 254 257 260 2606 271 274 278 11 ECONOMETRIA E ECONOMIA MATEMATICA, DE 1930 ATE O PRESENTE 281 A matematizagao da economia 281 A revolugao na contabilidade da renda nacional 284 A Sociedade Econométrica e as origens da econometria moderna 290 Frisch, Tinbergen e a Comissao Cowles 293 A Segunda Guerra Mundial 298 Teoria do equilibrio geral 301 Teoria dos jogos 309 A matematizagao da economia (de novo) 313 12) ECONOMIA DO BEM-ESTAR E SOCIALISMO, “DE 1870 ATE O PRESENTE 317 Socialismo e marginalismo 317 O Estado e 0 bem-estar social 319 A Escola de Lausanne 322 O debate do calculo socialista 324 Economia do bem-estar, 1930-1960 328 Fracasso do mercado e fracasso do governo 332 Conclusoes 334 13, OS ECONOMISTAS EA POLITICA, DE 1939 ATE O PRESENTE 339! O papel crescente da profissao de economista 339 Economia keynesiana e planejamento macroeconémico 341 Inflacdio ¢ monetarismo 346 A nova macroeconomia classica 350 Economia do desenvolvimento 354 Conclusées 360 1 14 EXPANDINDO A DISCIPLINA, DE 1960 ATE O PRESENTE Economia aplicada Imperialismo econdmico A economia heterodoxa Novos conceitos e novas técnicas Os estudos econdmicos no século XX EPILOGO: OS ECONOMISTAS E SUA HISTORIA NOTA SOBRE A LITERATURA REFERENCIAS INDICE REMISSIVO 363 363 365 368 371 377 381 385 403 All AGRADECIMENTOS, Boa parte deste livro foi escrita durante meu periodo de Leitorado de Pesquisa na British Academy de 1998 a 2000. Sou grato a British Academy por seu apoio aos muitos colegas que leram varios esbogos ¢ cujos comentirios detalhados ajudaram me a eliminar muitos erros ¢ melhorar a argumentagio. Sio cles Mark Blaug, Anthony Brewer, Bob Coats, Mary Morgan, Denis O'Brien, Mark Perlman, Geert Reuten ¢ Robert Swanson ps assinantes da lista de ¢ Gostaria de agradecer também onomics Society que atenderam a meus mail da History of F pedidos de pequenas informagées (geralmente datas) que nio nd revelou-se consegui descobrir por conta propria (Bob Dima uma mina de informagées). Sou muito grato também a Fatima Brandio e Anténio Amoldovar por me convidarem a ministrar um curso na Universidade do Porto que me ajudou a selecionar idéias sobre como organizar o material na segunda metade do livro. Stefan McGrath, da Penguin Books, encorajou-me a em-= siente quando estourei em muito barear neste projeto e foi p © prazo inicial. Ele também me fornceeu sugestOes preciosas, xto no esbogo assim como Bob Davenport, cuja edigio de t final foi exemplar ¢ me poupou muitos erros. Nenhuma dessas pessoas, é claro, tem responsabilidade por algum erro que possa persistir. Por Gltimo, mas seguramente néo menos importante, gostaria de agradecer a minha familia; Alison, Robert e Ann 13, PROLOGO A hist6ria da economia Este livro aborda a histéria das tentativas de compreender menos econémicos. Ele tata do que foi distintamente deserito das idéias como a historia do pensamento econdmico, a histor econémicas, a hist6ria da andlise econémica e a historia das dou- trinas econdmicas. Ele nio se interessa, sendo incidentalmente, pelos fendmenos econémicos em si, mas sim pela mancira como as pessoas tentaram entendé-los. Tal como a histéria da filosofia 1 intelectual, ow a historia da ciéncia, esta € um ramo da histér' Para ilustrar esse ponto, 0 assunto do livro nio é a Revolugio Industrial, a ascensio da grande empresa ou a Grande Depressio - & como pessoas como Adam Smith, Karl Marx, John Maynard s menos conhecidas pereeberam e analisaram Keynes e muitas figur © mundo econémico. econdmicas demanda a tessi- Escrever a histéria das idéi: tura de muitas historias diferentes. Exige, evidentemente, narrar a histéria das pessoas que estavam produzindo as idéias — os s. Exige também cobrir a hist6ria econd: emplo, que a proprios economis mica. Os cientistas naturais podem imaginar, por e> estrutura do dtomo ¢ a estrutura molecular do DNA sio hoje as io podem mesmas que no tempo de Aristételes. Economistas 1 fazer suposigdes compariveis. O mundo que se Thes apresenta mudou radicalmente, mesmo ao longo do tiltimo século, (Talvez haja algum sentido em que a“natureza humana” tenha sido sempre ‘0 nio sio a mesma, mas a importincia e 0 significado precisos dit claros.) A histéria politica também é importante, pois os aconte- cimentos politicos ¢ econdmicos estio inextricavelmente ligados 15 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL © 0s economistas tém-se envolvido ou nao, com igual freqiiéncia, direta ou indiretamente, na politica. Eles tentaram influenciar a politica, ¢ as preocupagées politicas os influenciaram. Por fim, é preciso considerar as transformagées em disciplinas afins e no clima intelectual subjacente. Os preconccitos e os modos de pensar dos economistas sao inevitavelmente formados pela cultura em que eles produzem. A histéria da economia precisa, portanto, mencionar , da filosofia, da matemiatic: da ciéneia, além da economia e da politica. as histé da religiio, da teolog e Dificulta a questio o fato de que as relagdes entre essas varias historias nao sao simples, Nio se justifica alegar, por exemplo, que as conexoes se em exclusivamente da histéria econdmica ou As idéias econdmicas se alimen- politica para as idéias econémi tam da politica ¢ influenciam © que acontece em economia (nao neces: iamente do modo como seus inventores pretendiam); os trés tipos de hist6ria sio interdependentes. O mesmo vale para a relagdo entre a historia da economia ¢ a histéria intelectual em geral. Os economistas tentaram aplicar em sua propria disciplina as ligdes aprendidas da ciéncia — fosse cla a ciéncia de Aristoteles, de Newton ou de Darwin, Eles sio influenciados por movimentos filosdficos como 0 Iluminismo, 0 positivismo ou o pd -moder- nismo, ¢ por influéncias de que nio temos a menor consciénci Mas as conexdes também se fazem na dire’ io oposta. A teoria de seleco natural de Darwin, por exemplo, foi fortemente in- fluenciada pelas idéias econdmicas de Malthus im suma, as idéias econémicas sio um elemento integrante da cultura Um fator que contribui para a interdependéneia da economia © outras disciplinas e a vida intelectual emi geral 6 que, ao menos até recentemente, a economia nao era uma atividade exercida por um grupo de especialistas chamados “economistas”. As fronteiras disciplinares modernas simplesmente no existiam; além disso, 0 Papel das universidades na sociedade mudou de maneira radical. Entre os responsiveis pelo desenvolvimento de idéias econdmicas estavam tedlogos, advogados, fildsofos, empresirios e funcionarios piiblicos, Alguns tinham cargos académicos, mas muitos outros nao. Adam Smith, por exemplo, era um fildsofo moral, € suas 16 PROLOGO social mui- idéias econdmicas integravam um sistema de ciéncis to mais amplo radicado na filosofia moral. Além disso, as pessoas gue escreveram 0 cinone convencional da literatura econémica ocuparam diversas posigdes nas sociedades em que viveram, razio por que as comparagSes entre tempos diferentes devem ser muito cautelosas. Quando o autor do século XIITomas de Chobham escrevent sobre comércio ¢ finangas, ele estava oferecendo um guia para padres confessores. O equivalente atual de sua obra talvez devesse ser buscado nao na moderna economia academics mas nas enciclicas pontificias. Gerard Malynes ¢ ‘Thomas Mun, que escreveram na Inglaterra do século XVID ¢ sao considerados contribuintes para a nossa compreensio das taxas de cimbio ¢ do cométcio exterior, cram, respectivamente, funcionario pablico mereador.Talvez devessem ser considerados precursores de pessoas como Jacques Polak, do Fundo Monetirio Internacional, ou 0 financista James Goldsmith. ‘Ao escrevermos uma histéria da economia cobrindo qualquer perfodo mais extenso que o século passado, néio temos outra escolha senio selecionar uma grande variedade de literatura escrita por stincias diferentes. pessoas diferentes para fins diferentes em circum Alias, uma das coisas mais interessantes em histria é observar 0 as por que aconteceu com as idéias quando elas foram consider das para diferentes fins, Isso significa que & ado como se diferentes autores eu preciso ter 0 cuidado de nio tratar escritores do pas fossem economistas académicos modernos. O que é economia? Até aqui, a discussio se apoiou no pressuposto de sabermos 0 que sio economia € fendmenos econdmicos, mas é fato sabido que economia é um termo dificil de definir. A definigio mais amplamente usada do tema talvez seja a de Lionel Robins: “Beonomia é a ciéncia que estuda © comportamento humano os que tém usos alterna- (prego, dinheiro, como relagio entre fins ¢ meios es tivos2”! Os fendmenos que associamos 4 economia 17 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL produgio, mercado, barganha) podem ser vistos ora como conse- giiéneias da escassez, ora como maneiras pelas quais as pessoa ez. A definigio de Robbins tentam superar 0 problema da es percorre um longo caminho para captar as caracteristicas communs 4 todos os problemas econdmicos, mas ela representa uma vis 0 muito especifica e limitada da natureza desses problemas. Por que, por exemplo, as operagdes de empresas multinacionais em pat sem desenvolvimento ou o planejamento de uma politica para reduzir o desemprego em massa deveriam ser vistos como algo que envolve escolhas sobre 0 uso de recursos limitados? irénico, talvez, que a definigio de Robbins seja de 1932, nas profundezas da Grande Depressio, quando o principal problema econdmico mundial era a ociosidade de recursos imensos de capital e trabalho. Un toriano Alfred Marshall, que definiu economia como o estudo da humanidade nos negécios ordinarios da vida.? Sabemos o que ele quer dizer com isso, e é dificil discordar, embora sua definicio seja muito imprecisa. Ela poderia ser precisada dizendo-se que a economia trata de produgio, distribuigio e consumo da riqueza ‘ande economista vi- definigao mais natural é a do g ou, com mais precisio ainda, trata de como a produgio é orga~ nizada para satisfazer necessidades humanas. Outras definigdes incluem as que definem economia como logica da escolha ou como estudo de mercados. Talvez seja tio importante o que esas definigdes dizem inido quanto 0 que nio dizem. O tema da economia nao é de como a compra e venda de bens, 0s mercados, a organizacio de empresas, a bolsa de valores ou mesmo o dinheiro. ‘Todos esses sio fenémenos econdmicos, mas em algumas sociedades eles 1ii0 ocorrem. Por exemplo, pode haver sociedades em que 0 dinheito nio exista (ou cumpra uma fungio apenas cerimonial), em que a produgio nio seja realizada por empresas, ou em que as transaces sejam realizadas sem mercados. Bssas sociedades enfientam proble~ mas econdmicos — como produzir bens, como distribui-los, ete. — apesar de os fendmenos que normalmente associamos a vida econémica estarem ausentes. Fendmenos como empresas, bolsa de valores, dinheiro, et .sio mais bem apreciados como instituigs: 18 PROLOGO que surgiram para solucionar problemas econdmicos mais funda- mentais, comuns a todas as sociedades. B preferivel definir a econo- mia, portanto, em relagio a esses problemas mais fndamentais do que em relagio a instituigdes que existem em algumas soc iedades, s nio em outras. Quem quiser escrever uma obra sistematica sobre “princi pios de economia” teri de se decidir por uma definigie especi fica do tema e trabalhar dentro dela, mas o historiador nao preeis: agir assim. Ele pode partir das idéias que compoent a economia contemporinea — idéias que sio encontradas no ensino de eco as por pessoas reconheciday como nomia ¢ estio sendo desenvolvic | porém, nio oferecem uma definigio exata porque as fronteiras da disciplina Académicos, jor- nalistas, autoridades puiblicas, politicos ¢ outros autores (inclusive romancistas) desenvolvem e trabalham com idéias econdmicas. As fronteiras do que constitui a economia sio ainda mais confin- didas porque as questées econdmicas sio analisadas no s6 por “economistas”, mas também por historiadores, ge6grafos, ecolo- gistas, cientistas de gestio e engenhcire s. (Esses textos podem nao ser 0 que economistas profissionais considerariam ty “boa” ou “séria”, e podem estar civados de argumentos falaciosos, mas essa € outra questio — ainda tratam de economia.) Abordar o tema com esse vies pragmitico pode parecer menos desejavel do sssunto, Na pritica, porém, economistas. » impreci economia que definir economia em termos do s uma abordagem operivel e, provavelmente, corresponde ao que a maioria dos historiadores realmente faz, ainda que professem trabalhar dentro de uma definigao analitica estrita do tema. onomia contempo- Uma vez decidido © que constitui a e rinea, pode-se trabalhar da frente para tris, investigando as raizes das idéias encontradas até onde se estiver decidido a chegar. Al- nizes claramente levario para fora do tema (por gumas dess exemplo, para a mecinica newtoniana ou a Reforma), € 0 histo- sque riador da economia nao ira além, Outras conduzirio a idéia © historiador decidird se ainda contam como economia, apesar de sna apresentagio ¢ de seu contetido poderem ser diferentes dos encontrados na moderna economia, ¢ essas serio incluidas 19 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL escolha € que, quanto mais longe nais discutivel sera se algumas idéias eenecondmicas” ou nao, Quando as pessoas declaram, como fazem, que determinado individuo ou grupo éo “fundador” da economia, elas autores mais antigos nao considerados economistas. as questées importantes sobre a escritura da O resultado de na histori retrocedermos na historia sto declarando que devem ser Isso suse histéria da economi: a do passado nfo estard ita du; a, Onde cla deve comegar? E a nossa perspec- ti distorcida por ter sido obtida na otica da economia atual? ‘Alguns historiadores defenderam que a economia pro- priamente dita 56 comegou depois de ingressarmos no mundo moderno (digamos, no século XV ou XVI), ou até mesmo no século XVII, quando Adam Smith sistematizou uma parte vel do trabalho de seus predecessores. A economia, jisar © comportamento hu- considera ade ar prossegue 0 raciocinio, t interagem por intermédio dos biente econdmico. mano ¢ a maneira como as pessoas mercados © reagem as mudangas no seu aml Os primeiros autores, afirma, tinham preocupagées muito dife~ ais & teoldgicas, sobre a justiga do rentes, como as questdes mo: mereado ou sobre emprestar com juros, ¢ sua obra no deveria ser classificada de economia H4 um grande problema nesse raciocinio, porén mente nao é possivel tragar uma clara linha diviséria entre © que imples Constitui anilise ccondmica e 6 que no, ou entre o que constitui © 0 que nao. Por exemplo, a justi¢a de atividades co- economia “real” ou “propriamente dita” os argumentos teolégicos ¢ morais sobre Jo de como opera a economia rr meio oculto ou mereiais pressupdem uma compreens O contetido econdmico dessa escrita pode es » subjacente neste livro & que as idéin obscuro, mas esti li. A visa econémicas estio presentes também na Antigiiidade, ¢ que e Jo relevantes na tentativa de identificar as origens ,até mesmo no século presente, a8 idéias antigas da economia moderna, Mais ainda normiativas (quest6es sobre 0 que jelas as tratadas pelos antigos. a economia trata de questde deve ser feito), algumas delas pa Os economistas discutem cternamente se esta ou aquela politic: PROLOGO melhorara o bem-estar da sociedade, Pode estar fora de moda pens: que isso envolve ética ou moralidade, mas os pressupostos éticos subjazem 4 economia moderna tal como acontecia no pensamento de Aristételes sobre o mercado. OVelho Testamento, contém muitas idéias econdmicas, bem como a poesia de Homero, Numa hist6ria ge textos, mas eles fazem parte da histori al da economia, talvez nao seja preciso se debrugar sobre esses Minha argumentagio pode ser resumida dizendo que a eco nomia nfo tem um come¢o ou um “fandador” as pessoas sempre pensaram em questées que hoje consideramos parte da economia, Neste livro, comega-se com a Grécia antiga ¢ 0 mundo de Velho ‘Testamento, pois & preciso comegar em algtim higar, mas eles nde representam 0 comego dos estudos econdmicos ‘a do presente Observando o passado pela oti 1 no que tem sido chamado de moda, Numa ca A abordagem esbogada acima, centr de “filiagao de idéias econdmicas”, hoje esti for sociedade pos-moderna,a moda é destacar a relatividade histori ias passadas das idéias © desacreditar qualquer tentativa de ver idé da perspectiva do presente, Mas quem escrever uma hist6ria do nente vera o passado, até certo ponto, da perspectiva do presente. O simples fo fas segundo uma categoria ‘aria pensamento econdmico neces: ar em idéias “eco- ndmicas” implica selecionar idéias pas Por mais que tentemos, jamais conseguiremos escapar ddos ais perguntas a modert por completo de nossos conceitos prévios associa que estamos tentando responder. &: melhor declarar esses conceitos o mais explicitamente possivel do que fingir que cles no existem. © objetivo deste livro é explicar como a economia chegou a0 que ela é hoje, neste inicio de século XXI. Uma abordagem comum é escrever uma historia cobrindo © cinone aceito de textos “importantes” sobre economia. Mas isso significa apenas apoiar-se nos juizos que outros fizeram no passado ais influenciada Nio evita o problema da escolha pessoal de mater almente acontece é que os pelos proprios interesses. O que ge’ 21 HisrOria DA ECONOMIA MUNDIAL i e ci ional — uma historiadores principiam com um cinone convencional — ‘ ; ‘ e sd0 CI siderados Iista de obras, personagens ou movimentos que 6 considerad economia do pasado. Bles, entio, modifica indo em outros, idéncias que 1 com as representantes da aumentando a énfa questoes se em alguns lugares, reduz gue Ihes interessam € as ev mudou, 0 mesmo acontece © cinone apropriado. iva do presente pode resultar, ias muito pouco convin~ resso dos primérdios ntemporineos isso, em resposta 4 am, Se a economua encontt: visdes sobre o que constitul ‘Abordar o passado na perspect m, em relatos que formam hist6r! "Quando 0 caso relatado & de prog “yerdade” alcangada pelos amigos, co ‘ou outros herdis do historiador, 0 resultado € o que veio a ser conforme os whigs” do século XIX chamado de “historia whig” im a historia da Gra-Bretanha dessa maneira, € 0s suia desconfianga. Mas a atitude whig é alguns dos quais escreveram poré cente toscos 4 que contara leitores estio certos em partilhada por muitos economistas Eles acham dificil aceitar que as teorias as quais eles proprios historias da economia e as téenicas de sua propria geragio (pars contribuiram) possam nio ser superiores as de geragGes ante riores. Os criticos de tal obra estio certos quando argumen- bordagem nao compreende questdes historicas ricatura do que real- tam que e importantes ¢ resulta, muitas vezes, numa C mente aconteceu Analisar o passado para compreender 0 presente nao precisa significar, porém, conta fosse de progresso. As razdes por que as idé incluirao acidentes historicos, interes incompreensdes, erros ¢ toda sorte de coisas que nio se encaixam ‘© pode envolver algumas linhas de a historia como se s evoluiram do jeito que evoluiram es adquiridos, preconceitos, em causas do progresso. O re investigagio desaparecendo ou se afastando do que hoje se consi- dera economia. Pode-se descobrir, olhando para tras, que geragdes tavam fazendo perguntas diferentes — talvez, até anteriores es Membros do partido liberal-conservador que surgiu depois da ‘revolugio de 1688 © que pretendia subordinar © poder da Coroa ao Parlamento in= elds. [NT] v 8 PROLOGO. mesmo, perguntas que achamos dificeis de entender —, resultando em uma nogio problemiatica de progresso. A histéria contada aqui A historia relatada neste livro reflete claramente algumas vi sdes convencionais sobre o que constitu’ economia — alguns tapicos sio incluidos porque & “Sbvio” que deveriam estar 14 O editor (para nio mencionar muitos leitores) ficaria chateado se 6 texto nfo trouxesse nada sobre Adam Smith, David Ricardo, Je & perceptivelmente uma Karl Marx ou John Maynard Keynes. 1 histéria da economia, tal como o termo é normahmente entendido 4 importincia Contudo, ele parte do cinone convencional tanto 1 relativa que atribui a figuras diferentes como em muitos dos t6picos num contexto que contém. Ele também procura situar as pessoas historico apropriado — um que elas poderiam ter reconhecido O livro nao esti organizado em torno das “grandes figuras” do passado, como jé foi comum. Os capitulos comegam tipi- camente com uma discussie do contexto histérico © seguem 5 idéias econdmicas que surgiram. A énfase na histéria politica e na intelectual varia ao longo do livro, dali para a ccondmic m1 mas em geral é menos destaca A tavio principal disso que, quando se diseutem perfodos em que daa medida que a historia avan a economia se distinguia menos claramente de outras disciplinas, mais importante discutir as idéias fora da economia, A medids éria académica que a economia foi-se desenvolvendo numa n a0 longo do século XIX, os problemas que os economistas en= ingiam dentro da frentavam passaram a ser, cada vez mais, os que s disciplina. Por todo o livro, também, a énfase & dada as comunidades s surgiram idéias econdmicas, em vez de r frouxamente chamado © circunstineias das q -Ja em individuos: no que poder centr de sociologia da profissio econdmica. A posigio dos economis (ou, mais precisamente, a posi¢io de pessoas que refletem sobre na sociedade mudou, e isso influenciou assuntos econdmicos maneira como as idéias se desenvolveram. Os capitulos que tratam 23 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL js antigos, portanto, contém muita historia geral. A é as idéias econdmicas historia se desenvolve, porém. ntes ea historia geral passa a de XX, quando a economia de materi medida que a tornam-se muito mais proemine sempenhar um papel menor. No século non huvia-se tornado uma disciplina predominantemente a adémica, ty idéias econémicas estavam-se transformando por razdes subs- tancialmente internas 4 disciplina. O livro cobre 0 cénone conve muitas manciras, © mundo islimico penetra a histori medieval. A filosofia politica ¢ 0 desafio hobbesiano sio elemen- tos importantes no capitulo sobre a Inglaterra do século XVIT mo um filésofo moral e colocado no contexto és, Malthus é retratado nao s6 como econo- fo, mas como alguém que contribui para tedricas de ‘e & questio~ ncional, mas nado de Smith é visto cor do Iuminismo esco mista puro ou demégra debates politicos contemporineos. As contribui¢ée franceses ¢ alemies do come¢o do século XIX sio co- as, Chamberlin é autore Jocadas ao lado das de suas contrapartes ingle: discutido no contexto da economia industrial norte-americana, 2 sobre custo. A lista poderia con- tiva, porém, é que o século XX britini © nio no da polémic tinuar. A mudanga mais signific constitui uma parte primordial do relato (quase metade do livro). Ao cobri-lo, procurei dar um quadro 0 mais amplo possivel do assunto. Com © objetivo central de explicar como a disciplina mente os desdo- chegou ao seu estado presente, destaquei clar bramentos no interior de seu “nticleo” teérico, No entanto, nio oa histéria toda, Ao contar essa histéria, apoiei-me inevitavelmente em frios periodos cobertos grafo anterior sio historias eseritas por especialistas nos pelo livro. As “inovagdes” mencionadas no 7 O nimero de pontos em que pude todas extraidas dessas obr me afastar da histéria convencional reflete, ao menos em parte, 0 acervo de obras recentes sobre a histéria do pensamento econd- mico — e isso é particularmente verdadeiro para o século XX. Minhas dividas principais foram levadas em conta nas sugestdes de leitura no final do volume. O MUNDO ANTIGO Homero e Hesiodo Grécia com poemas épicos . Nos papiros Pla que forneceram 0s valores que deveriam nortea literarios encontrados no Egito, os pergaminhos homéricos sio mais numerosos que os de todos os outros autores reunidos. Até hoje, as histérias de Heitor, Aquiles,'Irdia e das viagens de Ulisses sio parte da cultura ocidental. Nio esti claro se a Ifada ea Odisséia devem ser as de um {nico individuo ou compilagées da obra mas,seja como for, elas representam a transcrigio D sugere que Homero educou consideradas ob: de muitos poetas eserita, em algun momento entre 750 € 725 a.C., de uma longa Al. Os épicos homéricos, juntamente com os poemas de antigo a que nos tradigao o1 Hesiodo (ca. 700 a.C.), constituem © ponto ma conduzem os registros escritos na Europa. A sociedade deserita na Ilada ¢ na Odisséia provavelmente reflete, em parte, o mundo micénico (Idade do Bronze) de Trdia em torno de 1400-1100 a.C. e, em parte, a época do proprio Homero. Ele era organizado e¢ hierirquico, baseado nio em re Jo de riqueza por meio de lagdes de mercado, mas na distribuig mios em competigdes, pilhagens de guerra e presentes, roubos, pr tributos pagos por cidades derrotadas a seus conquistadores. Trdia 4 se sugeriu, se 0 exército poderia ter c gr comércio um meio secundério ¢ inferior de enriquecimento. Os ‘iticos, premiados estritamente de aido mais cedo, como j ado na pilhagem. Homero via no go ndo estivesse tio inter herdis & acordo com a sua posigdo social. Os presentes eram regidos por nee am guerreiros aristoc um cédigo estrito de reciprocidade segundo o qual era import: que, quando fossem trocados, os envolvidos deviam conservar a py R HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL Os hospedeiros eram obriga- hospitalidade e presentes a seus héspedes, que, Por * obrigagio de oferecer presentes a familias dos ta posterior. a familia, compreen dos os escravos que deviam trabalhar lado ultado de se pertencer 2 tro lado, o excesso de cas, mas niio ricas (sabemos, Por je seus saques mesma posigio de antes da tro¢ dos a oferecer sua vez, tinham vez, numa da dida como 0 trabalhavam a lado. hospedeiros dessa economia era A base proprietirio rural, sua familia e to} fuma propriedade. Donos ¢ escravos Homero via a prosperidade como 0 res ¢ bem organizada. Por ow 9 —as familias deviam ser 0 antes @ artesaos uma familia rica riqueza era suspeit ais. Decerto havia comer que trocavam 0 fruto d ram trazidos para executar cert as eles eram menos importantes a liberdade, dem leituras, de soldados gregos por provisdes, ¢ artesios que © tarefi ais), que as propriedades rurais. Mesmo que conquistasse rece seu Itigar numa propriedade rural podia or via do comércio s em propriedades rura tm eseravo que perdi “A aquisigao de riqueza p perder a segurang ramente inferior A sua obteng era considerada cla Jo pela agricultura ou por proczas militares. sé buidos a Hesiodo, Os trabalhos ¢ os dia mais substancial. a conhecida Dos dois poemas atri considerado aquele cujo contedido econdmico € sobre a criagio. Uma é 1, certamente influenciada por Hle comega com duas versoes historia da caixa de Pandora. A outr lendas da criaciio mesopotimicas, fala de «dos imortais,“‘distantes de males,sem trabalhos a qual trabalhos drduos ¢ sofrimentos seus leitores com muitos uma descida da idade de our uma linhagem de ferro p lidades cotidianas. Hesiodo brinda ssas condigdes. Os trabalhios ¢ sabedoria a vida ne conselhos sobre como leva os dias sto tum poema dentro da tradigdo da literatura de s que hoje oriental, transitando livremente entre recomendagde seriam vistas como ritualisticas ou astrolégicas e conselhos priticos s para nao se perder gricultura sobre quando igar as vela nbora se enquadrem na mesma tradi¢ao, as narrativas de sobre no mar. F Hesi « 5 i Ie fodo (c »mo as de Homero) sio comparativamente seculares em relacao As lendas babilénicas ¢ hebraicas da criagio. E Zeus que ere eri i hele erg jue confere prosperidade, ¢, para Hesiodo, a moralidade e agradar 26 © MUNDO ANTIGO a Zeus sio os maiores desafios com que se defrontam os homens, mas as narrativas sio 0 produto da propria curiosidade do autor, e nio um trabalho de sacerdote. Hesfodo pode ser lido como alguém que via o problema aos econémico bisico como de escassez de recursos. A razio homens trabalharem é que “os deuses mantém o alimento escondide dos homens: caso contririo se trabalharia facilmente em um dia o fo resto do ano sem trabalhar’." suficiente para se prover p: (ode ser feitas entre o trabalho (que conduy a Escolhas teri riqueza) e o lazer, Hesiodo chega a sugerir que a competicio pode estimular a produgio, pois ela fari os artesios imitarent-se uns aes mente presentes em outros. Mas, embora essas idéias estejam clan Os trabalhos ¢ 0s dias, elas nao esto expressas em nada que se pares a esses termos abstratos, Hesfodo se desereve como um agricultor ¢ diz que seu pai foi obrigado a emigrar por causa da pobreza. As virtudes que ao sex ver conduzem a prosperidade sio, pois —sem Seu ideal é a auto- surpresa —, trabalho duro, honestidade e paz suficitneia agricola sem guerras que possam destruir © produto do agricultor, Isso esti muito longe da depreciagio do trabalho ¢ do adas em Homero, endosso as virtudes marciais aristocraticas encon' mas os dois poetas compartilham a idéia de que a seguranga esti inseparavelmente ligada a terra A poesia de Hesiodo oferece uma boa ilustra » dos pri- meiros textos sobre questes econdmicas, Percepgdes econdmicas estio 4, mas nada é muito desenvolvido ¢ é dificil saber que a atribuir a elas importinei Administragao patrimonial — Oikonomikos (O econémico) de Xenofonte © periodo que vai do sétimo ao quarto século a.C. presenciou grandes conquistas literirias, cientificas e filosbfieas. Tales (ca. 624. 546 a.C.) propésa idéia de que a Agua era a substincia primordial nogio de que a’Terra era gua. Anaximandro (ca, 610-¢a. 546 a.C.) existente em todas as formas de vida e a um disco flutuando sobre 27 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL desenhou 0 primeiro mapa do mundo conhecido ¢ compos que se ito em prosa, Conhecemos redita ser o primeiro tratado esc pouco de seus pensamentos porque restou muito pouco do que eles vam tentando racioci Mais para o fim do século VI, Pitégoras (a, 570-ca, 490 a.C,) usow teoria ‘screveram, mas O importante é que esta sobre a natureza do mundo, libertando-se da mitologia. © contemplagio como meios para purificar a alma, Conquanto estivesse envolvido no que hoje veriamos como uma forma de inisticismo numérico, em que ntimeros e relagdes tém propriedades nisticas, ele © seus seguidores fizeram contribuigées importantes para a filosofia © a matemitica. O século V viu o surgimento de [’squilo (ca, 525-456 a.C.), Sdfocles (ca, 495-406 a.C.) ‘uripides (ca. 480-406 a.C.), ¢ de historiadores como Herddoto (ca, 485-ca, 425 a.C.) e'Tucidides (ca. 460-ca, 400 a.C.) Esses desdobramentos formam 0 pano de fundo do mundo de Xenofonte (ca, 430-354 a.C.) ¢ Platiio (ca, 429-347 a.C.) Nio ha virtualmente nenhum dado econdmico desse periodo. dramaturgos, ‘i Nosso conhecimento dele provém exclusivamente, portanto, da hist6ria politica. Mas sabemos que a economia do periodo ainda era baseada na agricultura como no tempo de Homero © que as propriedades rurais eram a principal fonte de riqueza. No entanto, ocorreram mudangas econdmicas ¢ politicas enor mes nos séculos intermédios. Entre as mais importantes estio as reformas introduzidas em Atenas por Sélon, nomeado arconte, ow chefe de Estado civil, em 594 a.C. Blas reduziram 0 poder da aristocracia ¢ assentaram os fundamentos de um regime de- mocritico baseado na elei¢io, pelas classes proprietérias, de um conselho de quatrocentos membros. A terra foi redistribuida, leis foram codificadas e uma moeda de prata foi estabelecida. A frota mercante ateniense foi ampliada e o comércio se expanditt. Desenvolveu-se uma agricultura especializada 4 medida que Atenas exportava bens — especialmente azeite de oliva — em troca de Bros. O velho ideal da auto-suficiéncia comegara a ruir. Conquanto pensadas para trazer estabilidade, as reformas de Sélon resultaram em divisdes de classe e revoltas politicas. Atenas ¢ as outras cidades gregas envolveram-se também numa série 28 © MUNDO ANTIGO. de guerr $s com os persas, Em 480 a.C., a propria Atenas cai nas s dos persas, mas a frota persa foi derrotada em Salamina, No ano seguinte, 0 exército persa foi derrotado pelos espartanos em Platéia © as hostilidades terminaram. O legado da vitoria naval grega foi que Atenas se tornou lider de uma alianga maritima de Estados gregos dos quais cobrava tributos. Por conseqiiéncia, Atenas tornou-se 0 centro de um império tendo Esparta como a grande rival. As forgas parta de Atenas eram o comércio © 0 poderio naval; a forga de apoiava-se n: guerra agricultura e no exército. Eclodiu finalmente uma entre os dois Estados em 431 a.C.— 0 inicio da Guerra do Pel : Peloponeso, que se encerrou com a derrota de Atenas, emt 404a.C., © a dissolugio da liga naval Nos cingjienta anos desde o fim das Guerras Persas ao ini cio da Guerra do Peloponeso, Atenas viveu basicamente em paz. © resultado foi um periodo de grande prosperidade conhecido como a eta de Péricles, que liderou o partido democritico de 461 2430 a.C.A pi ¥ Coméreio floresceu ¢ a agricultura ¢ a manufatura comerciais das a a foi eliminada do Mediterraneo oriental, se desenvolveram ao lado de muitas atividades hoje associa uma sociedade comercial: atividades bancirias, crédito, cambio, especulagio com mercadorias ¢ monopélio comercial. Um bis~ toriador esereveu que Atenas era “um centro comercial com um complexo de atividades econdmicas que s6 seria ultrapassado na Europa pés-renascentista”." A prosperidade resultante foi a base de grande projetos de construgio, como o Parthenon A democracia ateniense era direta, envolvendo todos os cidadios — isto é, homens adultos com ascendéncia ateniense. Os tribunais do jtiri podiam envolver centenas de cidadios, ¢ 0 gosto dos atenienses por litigios — em que requerentes ¢ réus tinham de falar em propria — significava que era impor- ‘ausa tante que as pessoas pudessem defender os proprios interesses € argiiirem seus casos. Existia, portanto, uma demanda para o treinamento em retérica oferecido pelos sofistas. Os sofistas eram itinerantes, viajando de cidade em cidade, ¢, embora © principal requisito fosse a habilidade de falar em pablico, muitos deles acre- dita’ s descobertas m que seus alunos deviam conhecer as tiltim 29 jusTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL 1, portanto, os primeiros ores, antes de haver goras (ca em todos os campos. Os sofistas foram intelectuais profissionais da Grécia — profess universidades.' O primeiro e maior dos sofistas foi Pro ‘ 490-420 a.C.), que ensinou com sucesso durante quarenta anos até ser banido por causa de seu ceticismo sobre os deus Sécrates (469-399 a C.) surgiu nesse cenirio de “intelec— tuais profissionais”. Como viajavam, eles conseguis se esquivar das leis ¢ dos costumes de cada cidade, Fles se envolviam com “ batrato ¢, embora muitos respeitassem os deuses, nao religiosas para os fendm obressai em Sécrates € isso que atraiv- pa nite, Ele foi, pore eu questionamento a ovio é ridicularizado. 0 conhecimento sobretudo, dos fiar bastante em fio quais idéias © pensamento buscavam explicagdes vavam 4 sua volta. O que s enos que obser o seu método: ra ele alunos perguntar incansavelmente. Foi n, 0 alvo tio capazes quanto Platio ¢ Xenofo da satita de Aristéfanes As nuvens, em que s responsabilidade dos deuses pela chuva ¢ 0 t Como ele proprio nao deixou nada escrito, 10s de Sécrates provém somente de Aristéfanes ¢, didlogos de Platio ¢ de Xenofonte. Podemos con é dificil saber com exatid ates ¢ quais eram de Xeno- seus relatos, mas as veze devem ser atribuidas a0 proprio Séct Jo, que © usavam como porta-Vvor. nienses e, como todos Jes (ligadas, fonte ou Pla Xenofonte procedia das classes altas ate! tes, era rico. Por algum: tes, que foi julgado e executado em 40] a.C.,integrou uma 0 Mogo, a os discipulos de Séc talvez, a sua associagdo com Séc em 399 a.C,), ele abandonou Atenas expedigio militar 4 Pérsia na tentativa de ajudar Cito, sou, e Xenofonte, a tomar © trono de seu irmao. A tentativa frac se aereditar no relato que fez do acontecimente, foi re pela condu tropas de volta 4 Grécia. De 399 a 394.a.C., ele lutou por Esparta, depois do que viveu sob prote¢io espartana, numa a Atenas em 365 a.C. A maioria de sponsivel alo da propriedade rural, até retor1 -ritos foi feita nesse periodo mais pacifico de sua vida ondmico), titulo da obra de Xenofonte, é a seus es Oikonomikos (E origem das palavras “economista” e “economia”. Ele é mais bem traduzido, porém, como O administrador da casa ou Administragao da casa, Literalmente, significa Admit i éstic “oi asa. Literalmente, significa Adiinistragdo doméstica, sendo “oikos' 30 © MUNDO ANTIGO. palavra grega para “easa” (lugar onde se vive), mas, por extensio, palavra era usada para se referir a uma propriedade rural, ¢ 0 Oiko- nomikos de Xenofonte 6, de fato, um tratado sobre a administragio soeraticos familiares como a de uma propriedade agricola.‘Tem énfase na autodisciplina ¢ © treinamento de pessoas para exercer autoridade sio encontrados no livro, mas seu asstinto principal é a organizagio eficiente, Dada a énfase grega no elemento humano da producao (caracteristica, talvez, de uma sociedade escravista), uma administragao eficiente se traduzia numa lideranga cficiente: © principal requisito para um lider ser cficiente era ser instruido no campo pertinente, fosse ele a guerra ou a agricul tura, Os homens seguiriam aquele que vissen como o lider a obediéncia voluntiria valia Embora ilustrasse isso superior, afirmava Xenofonte, bem mais que a obediéncia fore com exemplos tirados da guerra, Xenofonte considerava que 68 mesmos prineipios eram aplicaveis a qualquer atividade © outro requisito para a eficiéncia era a ordem, Xenofonte usou © exemplo de uma trirreme (navio impelido por trés pavimentos de remos) fenicia em que tudo estava tio bem acondicionado que o encarregado sabia onde estava cada coisa mesmo quan- do nfo estava presente. Era assim que uma casa eficiente devia dos ¢ funcionar — com depésitos eficientemente organi pessoas responsiveis por eles, Era crenga comum que uma boa organizagio poderia dobrar a produtividade. énfase de Xenofonte na eficiéncia Vista dessa perspectiva, a parece mero exercicio de administragio aplicado a uma pro- priedade agricola em vez de o sera uma empresa moderna. Sua concepgio da “arte administrativa”®, porém, era muito mais ampla do que isso, estendendo-se 4 alocagio de recursos no Estado como um todo. Ele deixa isso claro quando discute 0 modo como Ciro, © Grande, organizou seu império, com um funciondrio encar- populagio de ataques € outro encarregado, regado de proteger de melhorar a terra. Se um deles no fizesse seu trab ho com ua ciéncia, o outro perceberia, pois nenhum poderia realizar tarefa da maneira adequada se 0 outro nao o fizesse também. Sem defesa, os frutos da agricultura se perderiam, E sem produgio 31 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL os fun- isava se defender. Embo' nante pr agricola suficiente 0 pais no poderia ciondrios recebessem os incentivos certos, o gove se interessar por todos os assuntos do Estado — pela agricultu ‘A autoridade administrativa, ¢ nfio o mecanisme s recursos seriam alocados ¢ pela defe ado, era o método pelo qual a produtividade, maximizada, Gao de economistas ¢ historiadores posteriores, é preciso mencionar também a explicagio de Xenofonte para a divisio de trabalho. Ele observa que, numa cidade pequenty? ena trabalhador pode ser levado a fabricar cadeiras, portas,arados o em todas essas atividades. Em do mer com eficiéneia ¢ Por ter merecido grande aten e mesas, mas ele no pode ser deste ; grandes, porém,a demandh é tio grande que homens podem mais eficientes do trabalho cidade jizar em cada uma dessas tarefas, tornando se especi Voltando a casa, Xenofonte argumenta que essa divisao na cozinha e qualquer coisa que for preparada pode ser pratica puma tal cozinha seria superior 4 comida preparada numa cozinha s tarefas. menor onde uma pessoa tem de realizar todas © modelo de Xenofonte é 0 de homens interagindo com a natureza — e ndo com outros homens por intermédio de administrar 0 uso de mercados. A eficiéncia produtiva implica recursos naturais de forma a obter o maximo deles. O seu é um mundo estitico em que é dado como certo que a natureza é conhecida ¢ compreendida. Comércio ¢ mercados siio periféricos Como desenvolvimento dos negdcios e do comércio na Atenas talvez cause daquel: gum espanto que as propriedades époes de econdmica rurais fossem io importantes na visio de ativic de Xenofonte quanto eram na de Homero, Isso pode ser expli- cado por sua condigao de soldado ¢, durante trinta anos, como proprictirio rural sob protegio espartana. Para a Iguns contem- poraneos seus, essas explicagdes sio menos defensiveis. O Estado ideal de Platio pana de 5 i pano de fundo para a Reptiblica, de Platio, que tenta oferecer um plano para um Estado ideal, 6 aa gitacio politica que engolfou 32 © MUNDO ANTIGO s cidades-Estado gregas nos séculos Ve IV a.C. Platio que nem a democracia nem a Atenas e as outr A experiéncia ensinara tirania poderiam conduzir a uma sociedade estivel. Os lideres, m seu eargo ‘0 fariam 0 que era justo € usar numa democracia, ni para ganhar apoio. Os tiranos, por sua vez, usariam o poder par istado como um todo defender os proprios interesses, e nao 0s do de alguma lideranga criaria o caos. A solugao de Mas a inexisténci Platio para esse impasse foi criar uma classe de reis-filsolos —~ os que governariam © Fstado no interesse de toda guardifes” — sociedade. Eley nomeariam a si proprios, pois seriam ox tinicos nder como a sociedade devia ser oryanizada capazes de compre No Estado ideal, toda a sua educagio ¢ seu modo de vidi direcionados para treiné-los para seu papel © garantir que eles 0 cumprissem da maneira apropriada, Para assegurar que os guardiaes seriam nao se tornassem corruptos, buscando os proprios interesses, el dle ou até mesmo de manu- ficariam proibidos de possuir proprieda Bles receberiam 0 que precisavam para vive de um salitio. Diferentemente dos es do Estado em primeiro lugar, do sear ouro e prata resto da comunidade, na for: tiranos, teriam de pdr os inter A visio de Platio dizia respeito 4 organizagio eficiente da sociedade —a uma sociedade justa organizada sobre principios r ciomais. Como outros autores gregos, ele considerava que a eficiéncia envolvia o elemento humano na produgio. Os homens deviam se especializar n: 1 as quais fossem naturalmente dotados atividades p © deviam ser treinados de acordo com isso. Aliés, a origem das ci- dades (Estados) est pessoas. Ele dava por certos os dotes fisicos de recursos e tecnologia especializagio ena dependéncia miitua das O seu era um mundo estitico em que cada pessoa ocupava um lugar fixo mantido pela administragao eficiente exerci Embora vise um papel para 0 comércio, o papel dos ‘stado ideal era muito limitado, Os bens de con- por governantes imparciai ados em seu sumo poderiam ser compmados ¢ vendidos, mas a propriedade devia adequadamente (segundo principios matemiticos) aos mel ser alocadh cidadios, Nao haveria lucro nem pagamento de juros. 3 s cidades permaneceriam visio do Estado presumia que pequenas. Numa obra posterior, Plato argumentou que 0 niimero s [ISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL 40. A razio dese namero € ros inteiros €, COM 1880, de unidades admi- wiam permanecer pequenas as, limitadas que s. étimo de familias num: cidade era 5.0: pelos primeiros dez nfime que ele é divisivel 6 em um niimero 6timo comportava a divi nistrativas.A idéia de que era consistente com a experi eram pela disponibilidade de a,a cidade organi’ e tornaria uma nova Fasas colonias, que s cidades que as Jiterrineo, especial- as cidades de &ncia das cidades greg: og natu pedigio cidade terras agricolas € recurs ava uma &} Quando a populagio eresci para fiundar uma colonia. B onde o modo de vida grego seria preservado- se tornaram independentes originaram, eran encontradas por todo o Me ‘lia, na Sicilia e no norte da Africa. envolvido nos assuntos pablicos campanhas militares. Quando sa colénia s freqiientemente mente no sul da It Platao foi um aristo atenienses que lutou em muil jovem, ele viajou muito, tendo visitado comunidades pitago- Vicas na Italia, das quais provavelmente adquiriu seu inkeressé pela matemiética, Na Sicilia, envolveu-se com © governante de Siracusa, tentando, sem sucesso, educar Dionisio I para sai, Dionisio I, em 367 a.C. Jemia (no bosque consi- lideranga depois da morte de seu f Por volta de 375 a.C., fundou sua A ao herdi Academus, nos arredores de Atenas) para treinar arem filésofos. Diferentemente da escola tes, que enfatizava 0 ensino ante ensinat grado ase te estidista pa fundada alguns anos antes pe "Plato acreditava que era mais impor boa governanga, Muitos alunos seus se tornaram de sua Academia r Iséer de retérica principios de povernantes (tiranos), ¢ Platio via Como de aconselhamento dessas pessoas. Pelo menos em um tarefa caso, um titano teria moderado seu governo em conseqiténcia dos ensinamentos de P) Aristételes sobre justiga e troca Aristételes (384-322 a.C.) era filho de um médico ¢ foi aluno de Platao, Ele entrou na Academia aos dezessete anos ¢ ali permaneceu até a morte de Plato, vinte anos depois. 34 © MUNDO ANTICO A influéncia de Aristoteles nas gerages posteriores foi tal que, para muitos, ele foi simplesmente “o fil6sofo"”. Seus escritos abarcaram filosofia, politica, ética, ci¢ncia natural, medicina e vir- tualmente todos os outros campos da investigagio, e dominaram © pensamento nessas dreas por quase 2.000 anos. Sua contribuigio para as questées que sio hoje consideradas econdmicas esti em duas obras: © Livro V da Ltier a Niedmaco ¢ 0 Livro 1 da Politica Na primeira, ele analisa 0 conceito de justiga ena tltima, se in t ureza da familia ¢ do Estado. ssa pela 1 No sistema legal ateniense, os homens que estivessem ent litigio compareciam primeiramente diante de um arbitro que tentaria conseguir um acordo justo ou eqiiitativo. Somente qu ando a decisio do Arbitro era inaceitavel para uma das partes, a disputa al teria de decidir sobre iri para o tribunal, caso em que 0 tribu um acordo entre 0s limites estabelecidos pelas reivindic duas partes, ou entre 0 estabelecido pelo Arbitro ¢ o reclamado pela parte ofendida, No LivroV da tia a Nicémaco, Aristételes considera plicados nessas disputas oes das 05 principios da justica que deviam ser a Essa perspectiva é importante porque estabelece imediatamente que ele estava pensando em principios que deveriam ser aplica~ dos em decisées judiciais ¢ que estava tratando de casos de troc isolada (em que compradores ¢ vendedores individuais negociam atando da troca entre si sobre bens especificos). Ele nao estava t em mercados organizados, competitivos. Na verdade, embora o comércio fosse bastante desenvolvido na Atenas do século TV a.C, & bem provivel que os mercados competitivos fossem raros. Hi evidéncias consideriveis de que os precos das mereadorias conmuns cram regulados (até mesmo o prego de cantores era regulado —se a demanda pelos servigos de determinados cantores era alta 1 qualidade dos pro- demais, eles eram alocados por votagio), © dutos manufaturados era provavelmente bastante variada para o preco de cada item ter de ser negociado de maneira individual, como na troca isolada. Ao tratar de troca e distribuigao de bens, Aristételes distin- guia trés tipos de justiga. O primeiro era a justiga distributiva, Ela dispunha que os bens (ou honrarias, o que for que estivesse sendo 35 {sTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL jo do mérito {is pessoas na propore n fe Aristoteles, mum nos tempos ribuida pelo Estado —~ © muitos outros jo) fossem distribuides distribuid ra um problema co’ destas. Esse ¢ parte das coisas era dis ta,a prata das minas de Laurium ¢ a de Aristoteles era uma © de justiga distributiv: definido de maneira pois o mérito pode ser e diversos. Depois de uma batalha,o mero © dos soldados para a vit6ria- os bens fossem divididos disso, cti- o: numa pois uma boa butim de guer bens. © conceit nogio muito elistica, diferentes em ambient podia ser medido pela contribui Numa sociedade, a justiga exigiria que na proporgio do capital investido pelas pessoas. Além ering diferentes podem ser usados para avaliar © mérit de supor que todos 08 cidadios deviam receber enquanto numa oligarquia os oligarcas seriam que a dos outros © demoerac uma parte igual, considerados merecedores de uma parte maio} cidadios. © segundo tipo de justiga é a justica rigir injustigas anteriores compensando os que tenh Por diltimo vem a justi¢a Se duas pessoas trocam 2? Uma maneira, tal é argumentar corretiva — COr- am perdido. A justica corretiva restaura a igualdade reeiproca (ou comutativa), OW Wroea just bens, como avaliarmos se a transagao é justa como era comumente entendida na Grécia anuga é voluntaria, ela deve ser justa. Xenofonte men- que, se a troca um alto, com uma tinica m cionou o exemplo de deis meninos curta, 6 outro baixo, com uma ttinica comprida — que trocar as Winicas. A opiniao convencional era que essa era uma troca just | Aristételes admitia, nio determina um prego Gni- siveis entre o prego mais © que © vendedor esti disposto a aceitar e © prego mais alto ji que os dois meninos ganharam com ela porém, que nessas trocas a justi co, mas yenas uma faixa de pregos po: baix que © comprador esti disposto a pagar. Ainda ha espago, portanto, sa fais E para uma norma determinar o prego justo dentro de Sua re : é énica dos a ape era a média harménica dos dois pregos extremos. A média harmonica te : nda fesse tem a propriedade de que, se 0 prego justo for, por exemplo, 40% superior ao prego m v aceitara, ele & também 40% infer ee : m 40% inferior ao prego mais alto que o comprador estari disposto a pagar. Justiga diz respeito a encontrar uma média entre extremos, nenhum deles justo : “ 36 (© MUNDO ANTIGO © prinefpio de que 3 justiga importa encontrar uma mé- 5 formas de justiga dia adequada se aplica também 3s duas outr A justiga distributiva envolve proporcionalidade, ou proporyio a i média geométriea. (A média geo- e esta associ: geométri métrica de duas quantidades é encontr niz quadrada do resultado.) A justiga ia multiplicando-se uma pela outra ¢ extraindo-se a corretiva envolve a proporgio aritmética (a compensagaio deve igualar o que foi perdido). Percebe-se, portanto, que Aristoteles tipos de justiga aos és tipos de média que The relacionou os t as médias geométrica, ariumética © harmonica a fortement eram conhecid: io foi acidental. Aristotele: como Platio, Isso r influenciado pelos pitag6ricos, que elaboraram a relagio mrate~ mitiea entre notas musicais. Acreditava-se que relagdes © har- n explicar outros fendmenos, ¢ nio monias semelhantes podi surpreende, portanto, que fossem feitos paralelos diretos entre a teoria da justiga de Aristoteles ¢ a matemiatica das proporgdes ¢ harmonias. A influéncia da matemitica pita Aristételes para a troca vai mais longe. Na época de Aristateles, era fato amplamente aceito que todas as coisas eram constituidas por gorica na explicagio de unidades comuns (atomismo).A geometria era baseada em pontos, aaritmética no nimero 1,¢ assim por diante, até 0 mundo fisico. O significado que se atribufa a isso era que fendmenos diferentes cram comensuriveis, no sentido de que também poderiam se expressos como telagées entre ntimeros inteiros, Por isso, foi um grande golpe para os pitagéricos descobrir que havia ntimeros irracionais como mt ou ¥2 que nao podiam ser expressos como razdes. A troca de um bem por outro era importante porque tornava os bens comensuraveis — sapatos poderiam ser medidos em termos de trigo. Mas, se 0 sapateiro nio quisesse trigo ou 0 agricultor nao quisesse sapatos,a troca nio aconteceria, tornando impossivel a comparagio entre os dois bens. Como esse problema foi resolvido? A resposta de Aristételes foi o dinheiro. O sapateiro © 0 agricultor poderiam nio querer o produto um do outro, mas ambos venderiam seu produto por dinheiro, significando que sa- er comparados pela relagio de seus pregos patos e trigo podiam s aS HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL ns comensuraveis, € © em dinheiro. fa demanda que torna os bel dinheiro atua como representante da demanda Aristoteles e a aquisigao da riqueza nsa- ntretanto, embora o dinheiro fosse fundamental para © Pe 1 em limites claros para 0 papel © se baseava num} O primeito er: 1 devia saber lucrativa ou mento de Aristoteles, ele acredita tividade comercial. Seu raciocini legitimo da distingao entre dois tipos de aquisigio de rique parte da administragio da propriedade. Um homer coisas como que tipo de criagdo de animais seria mais se devia plantar trigo ou criar abelhas, Esses eram mieios naturais de adquirir riqueza. Por contraste, 0 segundo tipo — enriquecer © era natural, pois envolvia obter um ganho pela tro nj custa de outra pessoa. Os meios naio-naturais de adquirir riqueza incluiam o comércio € a usura (emprestar dinheiro a juros). Em +s, vinham atividades como a minera' dio. ‘Ao e Aris- algum ponto entre ess Os fildsofos socraticos, entre cles Xenofonte, Pla .sustentavam que os cidadios deviam almejar uma vida boa era a vida da polis, ou cidade-Hstado independente onde os cidadaos tomavam parte ativa na vida civica. Para isso, eles preci- savami dos recursos materiais proporcionados por sua propriedade rura cios 7 i i tral. Os meios naturais de aquisigio de riqueza eram aqueles que aumentavam © estoque de bens neces boa, E: ios para viver uma vida : a aaa Embora a administragio da propricdade fosse fundamental, 0 aotntiratorsaricisteriee 5 méscia pa obter bens que nfo podiam ser produzidos em casa ea tro: r roca dos produtos excedentes por algo de que se tinha maior necessidade eram perfeitamente natur: 1 s. Mas tum elemento im- portante desse tipo de vida era o eariter limitado das necessidades, e, tio logo um homem adquirisse riquez ue x 1 suficiente para viver da aneira certa, ele nao teria a menor nec erreatt i ssidade de acumular mais Saakijeratans de consumo nao faviam parte da vida boa. favia um limite, portanto, para a aquisig¢ao natural de riqueza © que incomodava Aristdtel oferec: $ NO comércio era que este cumulagao ilimitada de riqueza. Os a perspectiva de um 38 © MUNDO ANTIGO atenienses tinham plena consciéncia disso, pois, embora a cidade- Estado auto-suficiente fosse 0 ideal, a ci crises fora obrigada a levantar dinheiro com os comerciantes am cidadios, por isso, levantar Je enfrentara varias Tipicamente, os mercadores nio ¢ dinheiro dessa mancita signifieava sair da polis. O enigma era que, apesar de nao fazerem nada de Gtil, os comerciantes e exspeculadores que podiam ajudar cidades em conseguiam criar tamanha riqu tempos de crise. Como era possivel isso? A resposta de Aristételes foi que os bens podiam ser usados ou trocados. Desses, 0 primeito era um procedimento correto, natural, assim como a troca entre pessoas que necessitam de bens diferentes dos que possuem, Por idade de ganhar dinheiro é ati- outro lado, a troca com a fin: natural, pois os bens nfo estio sendo usados para sua finalidade ividades é revelado em que apropriada. © carter antinatural das io de riqueza pela troca sugere que a algo que Aristteles considerava impos- riqueza poderia ser a cri acumulada sem limite sivel. Os homens podiam ser ricos em dinheiro, argumentava, mas morrerem de inanigio por falta de comi A vis Fiqueza, € 0 uso da troca meramente para ganl caixava na teoria da justi¢a de Aristoteles. A esséneia da aquisi¢ao natural de propriedade é que ela permite que homens vivant uma vida boa na polis. Ela tem um objetivo claro, ¢ no esti sendo a forma, quando se debrugou juisigio correta de ‘0 era que existem limites par dinheiro se en buscada pelo que ela é Da mest fica a Nicdmaco, Aristételes estaya zum tipo particular de sobre a questio da justiga na Ti tratando da injustig¢a que resulta “nio de al rdia, ira, mau humor ou perversidade, como auto-indulgéncia, cov: is o motivo maldade, mas simplesmente de atividades p: & © prarer que surge do ganho”.’ Com essa distingo, pode-se ver Aristételes destacando uma esfera de vida — que é tentador descrever como “econémica” —, ganhar dinheiro. F significativo, 2 esfera como algo que cobria a as qu porém, que Aristételes nao via e maior parte dessas atividades que hoje consideramos econémica importantes de comércio estavam. pois a produgio e os tipos mai exclufdos. Mais significativo ainda, ele nfo via mercados e atividades lucrativas como provedores de um mecanismo capaz de regular a 39 INSTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL sociedad. A ordem era criada ndo por individuos que persegam tragio eficiente, seus proprios fins, mas por uma adminis Tal como Platio, Aristételes foi professor. Em 342 a.C., ele foi nomeado tutor de Alex: ndre,o Grande, e, em 335 a.C., voltou 4 Atenas para fmdar stia propria escola, 0 Liceu. Foi Alexandre que ado gregas enfraquecid destruiu a independéncia das cidades-E: 4 do Peloponeso quando expandiu seu Império Mace- pela Guerr Uonio para incluir nio s6 o resto da Grécia, mas também o Egite e boa parte do Império Persa, até a india. Embora o império de ‘Alexandre tivesse durado muito pouco, desintegrando-se depois de sua morte, em 323 a.C., sua principal conseqiiéncia foi difun- -ultura grega por todo o mundo antigo. A era das cidades- jo do Império foi dir a Estado independentes terminara, ¢ a adininistra conduzida seguindo as linhas dos impérios persa ¢ egipcio que © 1 e era amplamente precederam. O grego se tornou lingua ofic Filado nas cidades (mas nao no campo), ¢ a matemitica, a cién- cia, a medicina ¢ a filosofia gregas floresceram em cidades como Alexandria, no Egito. Os escritos dos filésofos gregos, embor: radicados na cidade-Estado greg atingiram um piiblico muito mais amplo. Roma Wa Na época da morte de Alexandre, a repiblica romana contre apenas uma pequena regido na costa ocidental da peninsula italiana. Nos trés séculos seguintes, ela cresceu para se transformar num império que cobria a maior parte da Europa e do norte da Afric Por ocasiio da morte de Augusto (14 d.C estendia da Espanha 4 Siria ¢ da Rend maior extensio no rei ), 0 Império Romano se 2 ao Egito. Ele atingiu sua eee : do de ‘Trajano (98-117) e, embora tivesse Perdido territorios, em especial para as tribos francas no norte, conservou aproximada < ra aproximadamente as mesmas fronteiras até o fim do século str, cidades ¢ tibli V. Estradas, cidades © outras obras pablicas importantes fo- ram. construidas numa esca sem precedentes. Roma era,sem sombra > que o mundo Ocidental j4 conhecera de divida,a maior civilizag’ 40, © MUNDO ANTIGO Roma criou exércitos que conquistaram o mundo © uma arqnitetura que produziu um sentimento de admiragio em todos que mais tarde observaram suas rufnas. O latim tornou-se a lingua oficial das classes instruidas da Europa, mas o centro do Império esteve sempre no Oriente. Roma dependia do suprimento de grios do Fgito. As maiores cidades ¢ boa parte da populagio do Império estavam nas provincias orientais da Asia Menor © Império ocidental, ao contririo, continuow sendo predomi nantemente rural, O centro cultural do Impérie era também © Império oriental — as cidades helenizadas como AntiSquia © Alexandria, onde os gregos continuavam fazendo progresses Os eseritores romanos reconheceram em ciéncia e filosof prontamente sua divida para com os gregos, com o resultado de nos contribuiram pouce pa ‘a roma se acreditar que os proprios economia, Eles sio considerados homens mais de agio que de .Contudo, embora pensamento — mais engenheiros que cientista nio tenham feito contribuigées comparaveis is de Platio ¢ Aris- autores romanos io pode toteles, essa visio esti longe de se justificar, Os fizeram um tipo diferente de contribuigio, cuja explicag ser encontrada na estrutura da sociedade romana. A Constituigio romana vinculava 0 poder politico a pro- priedade da terra ¢ ao servigo militar, Guerra ¢ conquista eram as principais fontes de riqueza, ¢ 0s soldados eram recompensados associadas ao poder politico, Esperava-se com concessdes de terras, dos romanos a disposigao de suportar as privagSes € 08 riscos da a para preservar sua riqueza, Seguia-se que 0s Ticos, que pos- guer sufam mais riquezas para preservar, deviam enfrentar os maiores riscos. Os pobres ganhavam pouco com a guerra ¢, portanto, nio deveriam pagar impostos nem serem obrigados a lutar. O coméreio era um caminho para a riqueza, mas essa riqueza tinha de se converter em terra para render poder politico. A terr: era, pois, a forma superior de riqueza. As filosofias que conquistaram o maior ntimero de adeptos em Roma, especialmente entre as classes superiores, originaram- se ambas na Grécia; 0 cinismo, fundado por Diégenes de Sinope (ca. 410-ca. 320 a.C.), e seu rebento, o estoicismo, fundado por 41 jsTOIiA BA ECONOMIA MUNDIAL 263 aC). O iiltimo grande expoente ‘Aurélio, imperador romano de 1614 ‘como os ensinamentos posteriores Zenio de Citio (ca. 335 do estoicismo foi Marco 180 d.C, O cinismo, assim 270 a.C.), enfariza’ \ aleangada pela redugao das necessidades a0 1 o aqui e agora. A liber~ spicuro (ca. 341 > da miséria ser nunimo, vivendo-se no que os homens comuns considerariam um estado de pobr resuiltava nao das posses materiais, mas da era o anico bemi, com o que alguém que tivess rada a lamentar.Tanto cinicos como esticos za. Os estoicos acreditavam que 4 felicidade virtude.A virtude mo al > feito o melhor ao seu alcance nao teria nD schavam que a vittude implicava seguir a natureza Foram eles, portanto, os responsiveis pela idéia de lei natural, segundo a qual | instituigdes humanas poderiam ser julgadas. i totalidade da as leis € © conceito de leis naturais, aplicando- base para 0 campo em que os Tomanos para o pensamento humanidade, forneceu talvez tenham feito sua maior contribuigio social — a jurisprudéncia.A lei romana exerceu enorm® influéncia veteriores. Mais importante, mutitas idéias nos sistemas legais p< na legislagio comercial econdmicas significativas foram articulads romana, Os romanos tinham grande respeito pela propriedade, & guardar a propriedade: a lei continha niuitas provisdes para sal A iddéin de corporagio com existéncia independente dos individuos que a integram remonta a lei romana, A Tei sobre contrat: permitia tit a existencia da propriedade e permitiu que ela © COMErCIO, Ba fosse transferida, Contudo, embora o comércio fosse permitido, riqueza adquirida no coméreio continuava sendo mais controvers que a riqueza proveniente das propriedades rurais. Persistia um sentimento de que a riqueza advinda do coméreio, que parecia quase surgir do nada, era maculada de ama forma que nio acon- tecia com aquela proveniente da terra, As idéias estéicas foram a origem do conceito de racionalidade boa parte da legislagio come: Uina idé toteles, foi a de que les, foi a de que, se todas as partes acertassem voluntariamente um contrato, esse Para um contrato ser ato, contrato devia ser a usto. Para valido, bastava que a wee como ele aparece em cia a de particular importine que remonta a Ari nT Len EVERRER Gl partes tivessem consentido com ele ¢ nio © MUNDO ANTIGO que um particular ritual ou formula tivesse sido obedecido. Isso contrava a atengdo nas circunstincias em que uma ago fora volun- tiria — no ponto em que a coercio tornava uma acio involunti- ca s6 poderia ria, Em geral, porém, sustentava-se que una amea invalidar um contrato se ela fosse suficiente para amedrontar um vir constans: um homem de cariter firme.’Teria de envolver, hormalmente, mas nem sempre, uma ameaga de violéneia fisiea A necessidade de consentimento era a razio por que a fraude la invalidava um contrato. Por exemplo, alguém mio delibera concordara verdadeiramente com tm contralto se Lvesse sido enganado sobre a qualidade do bem que estava sendo oferccido. A barganha normal quanto a um contrate era permitida, porém. Conclusées O mundo da Grécia antiga ¢ até mesmo o de Roma podem parecer muito remotos, mas as idéias neles desenvolvidas sio mais importantes que sua antigiiidade poderia sugerit.A filosofia grega mento ocidental, e 6 pensa- exerceu profinda influéncia no pen mento econdmico discutide neste livro faz parte dessa tradicio mais ampla, Nossa maneira de raciocinar remonta a Platio ¢ Aristoteles. Platio defendia a existéncia de universais — formas puras, ideais, que s6 seriam compreendidas pelo pensamento abstrato; Arist6- teles, ao contrario, via os fatos concretos como fundamentais, ¢ os principios gerais tinham de ser derivados deles por um processo de indugio. Essas duas atitudes diferentes ainda assediam a economia moderna. A lei romana também tem sido influente. Além disso, os clissicos constituiram uma parte importante na formagio de as, ao menos até o século XX, com o resultado muitos economi: de que muitos autores discutidos nos proximos capitulos terio sido diretamente influenciados por cles O mundo antigo era dominado pela auto-suficiéncia ea troca Como os termos dessas trocas eram claramente algo sobre © qual os homens tinham controle, era natural que grande atencio isolad; ce tivesse sido dada a sua justeza, Entretanto, embora no houves 43, HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL uma economia de mercado no sentido moderne, a atividade co- mercial era suficientemente desenvolvida ¢ suficientemente forte ante, No conjunto, 0s pensadores para representar um desafio import ‘0 conhecidas (temos menos evidéne ites viam as coisas) desconfiavam do comércio. is de como. cuyjas vis6es nos s 0s proprios comere Esses dois temas — justiga e moralidade do comércio — domi- naram as discusses das questées econdmicas até o século XVII, @poca em que a existéncia de uma economia de mercado e uma mentalidade comercial veio a ser aceita. 4 2 A IDADE MEDIA A decadéncia de Roma O fim do mundo antigo é convencionalmente assoeiado 4 queda de Roma e do Império Romano. Foi um processo muito rastado cujo fim é geralmente datado para a queda do Império do Ocidente em 476, embora o Império tenha continuado no © em Constantinopla (Bizincio) durante quase Oriente com t mil anos mais, Considera-se que 0 mundo moderno comegou no século XV, Este foi o século do Renascimento, quando a Euroy redescobriu 0 humanismo clissico ¢ exploradores portugueses m1 0 Novo Mundo e rotas maritimas para o Extremo n importante foi a da queda de Cons- descobrir: Oriente. Uma data simbéli tantinopla para os turcos, em 1453, Nesse meio-tempo, existiu a chamada Idade Médi Je Média abrange quase um Datada dessa maneir: milénio da hist6ria européia, durante o qual ocorreram mui is ¢ politicas profundas. A compreensio que ie gas econdmic s, socia s mudangas nio pode ser entendida em adogio os homens tiveram dessa separado da religidio. O acontecimento decisive aqui foi do cristiaismo como religiio do Império Romano. © imper dor Constantino (ca, 272/3-337) foi convertido ao cristianismo. em 312, ¢ sob Teodésio (ca. 346-395) © cristianismo tornou-se a o-cristiios ¢ here- religido oficial, originando a perseguigio de ges, Religiio e politica continuaram entrelagadas durante séculos, pois as pessoas que nao pertenciam A elite governante geralmente favoreciam verses nio-ortodoxas de cristianismo. Por exemplo, © cristianismo ariano (herético em relagio 4 religiio oficial do Império) era generalizado na érea rural. Depois da queda de Roma 45 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL mismo edo surgimento do isli, 0 conflito entre cristianismo ¢ is eclipsou as muitas disputas internas do crist Os problemas econémicos desempenharam wm papel impor- tante na queda do Império Romano, embora as ondas de invasoes barbaras sejam preferidas na explicagao popular do que aconteceu- Um periodo critico para 6 Império foi o século TI. Um tergo da populagio foi dizimado, em parte pela peste trazida por invasor do leste, O suprimento de ouro diminuiu, possivelmente pela falta de novas conquistas imperiais, uma importante fonte de oure no anismo. passado, Uma razio alternativa pode ser 0 mero enfraquecimento do comércio. Com a queda do suprimento de ouro, o comércio com 0 Oriente desmoronou. Além disso, como a unidade do In- pério fora mantida apenas pelo exército ¢ houvesse muitas pessoas io de nas cidades que precisavam ser aplacadas com a distribuiga alimentos, os tributos aumentaram. Muitas vezes as autoridades: precisaram requisitar comida diretamente para alimentar © exér- levantada pela moedas eram cito © os pobres. Parte do dinheiro necessirio e adulteragio do dinheiro. Na épaca de Angusto, a de prata pura, mas em 250 0 contetido de prata eaira para 40% e, em 270, para 4%, Apesar das tentativas de reforma financeira de uma série de imperadores, culminando com o famoso edito de Diocleciano de 301, em que ele tentou fixar pregos e¢ salirios, a inflagio persistia Uma mos anos do Império que se acentuou ainda mais durante a Idade Média foi a decadéncia das cidades. As cidades do Império do transformagio econdmica ¢ social importante nos tilti- Ocidente eram fundamentalmente cidades coloniais, enquanto as do Império do Oriente eram maiores ¢ produziam mais riquezas. Com a decadéncia do comércio, des tit também a situagio das cidades no Império do Ocidente, Blas sofreram uma debandada geral, simbolizada pelo fato de que, para ascetas cristios como Sio Jerénimo (ca, 347-420), abandonar as posses munda retira nas significava T-se para o deserto, > é é Para compreender o pensamento econdmico da Idade Média é preciso entender nao s6 idéias gregas e romanas discutidas no mbém dua capitulo anterior, mas s outras linhas de pensamento 46 A IDADE MEDIA (0 pede um retorno - 6 judafsmo e 0 cristianismo primitivos. I 4 época do Velho ‘Testamento. O judaismo © pensamento econdmico da Iyreja cristi primitive deve muito ao judafsmo, Na tradigio doVelho Testamento,restringiras necessidades das pessoas era uma mianeita importante de lidar con 6 problema da escassez, Como na Gréeia antiga, havia também muita desconti aga em relagio ao comércio ¢ uma grande hostilidade & cobranga de juros nos empréstimos. Os ensinamentos biblicos sobre economia tinham alguns tracos distintivos, porém. O homen era visto como um administrador com a responsabilidade de fazer 0 melhor uso possivel do que Deus Ihe confiara. O trabalho era considerado bom — uma parte dos designios divinos para a humanidade. Adio for ar € povoar a Tera, ¢, mesmo no Jardim instruido a se multipli do fiden, ele precisara trabalhar o solo cuidar dele.' Abraio foi ‘os podem ser amplamente recompensado por sua fe. ondmico — todos entendidos como favoraveis ao crescimento e que obedecessem ao Senhor acumulariam riquezas OVelho‘Testamento encerra também miuitas leis para regular aelitas a atividade econdmiea, Cobrar juros em empréstimos at 10s, os escravos deviam, era proibido. Depois de trabalharem sei ser libertados ¢ receber capital suficiente para um novo comego. Ainda mais radical, todas as dividas deviam ser canceladas a cada cada cingitenta anos (0 jubileu) todas as cus donos originais ado algum sete anos (0 sabatico), ¢ devolvidas ‘ais deviam. propriedades ru Nao ha evidéncias de que o jubileu tenha sido apli dia, e,com certeza, no tempo da monarquia (ca, 1000-900 a.C.), a desigualdade era consideravel, Esta se devia, em parte, a imposi¢io de tributos por parte dos reis, 4 requisi¢o de bens ¢ ao trabalho forcado. (A situagio dos pobres foi um tema importante nos escritos dos profetas.) No entanto, as provisdes da lei ajudaram a manter viva a idéia de que os homens eram apenas administradores, ¢ nio uas terras. proprietérios absolutos de 47 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL yeedida ao homem ada como algo que do bezerro de Embora a riqueza fosse a recompensa cor correto,a busea da riqueza individual era censur afastava as pessoas de Deus. Para Moisés,a adoragio do Joracio a Deus. Também quando el estar sendo povoado por estranges4s @ncia) en- ouro era incompativel com a Isafas escreveu sobre Isra © comerciantes, € (presumivelmente, como conseqiien a terra também estava obra do. chendo-se de oure e prata, observeu que am diante repleta de idolos que as pessoas se prostra m todo o Velho Testamento, ssociada a praticas comercius titude foi claramente busc: de suas proprias mac aumento da propria riqueza esté a desonestas © exploracio dos pobres. Essa expressa pelo profeta Amés (século VIII a.C.) Ouvi isto, vos que pisais os necessitados, ¢ destrufs os miserivets vendermos da terra, dizendo, “Quando passart a lua nova, pal © nosso grio? E © sibado, para expormos o trigo, diminuindo a medida, ¢ aumentando o pre b os necessitados por um par de sapatos, e para vendermos o refiigo do trigo?” co, ¢ procedendo dolosamente com langas enganadoras, para comprarmios os pobres por dinheito, ¢ ‘Também © comportamento dos prestamistas, assim como o de comerciantes © varejista jure s, era considerado injusto — cobrando diantados e privando as pessoas de bens essenciais como 0 manto de que precisavam para dormir." Havia uma clara distingao, portanto, entre a busca da rique que era condenada, ¢ a riqueza resultante da obediéncia aos mandamentos de Deus. Como a obediéncia aos mandamentos divinos pressupunha trabalhar e agir como um administrador responsavel, isso era muito diferente de condenar toda atividade econémica. A objecio era 4 riqueza praticas mas ¢ ndo A aquisigao de em si, Buscar a riqueza era errado porque encorajava essas priticas. Portanto, desde que cuidassem de sua gente € se comportassem com justiga, os israelitas eram encorajados ati- vidade comercial. O Belesidstico chega a estimular as pessoas a se engajarem no comércio exterior ¢ oferece conselhos sobre 48 AIDADE MEDIA assumir (e se proteger de) riscos:“Envia teu grio para além-nar, adoria em ¢ com 6 tempo receberas um retorno, Divide tua meri > sete empreendimentos, oito talvez, pois abes que desastres poderio ocorrer na terra.” © Velho ‘Testamento no trata de se retirar do mundo. O dinheiro s6 corrompe quando se torna a motivagio exclusiva das pessoas O cristianismo primitivo No Novo Testamento,a énfase é diferente, Jesus estava impregnado doVelho‘Testamento ¢ boa parte de seus ensinamentos seguia bem {bola dos 'Talentos, ele fala de de perto as leis do judaismo. Na Par capacidade de administragio ¢ assung justo sera premiado. Mas ele era um trabalhador; muitos de seus seguidores vinham das camadas mais pobres da sociedade judaica, ¢ ele nao tinha esperanga de provocar grande transformacio eco- de seus seguidores que Jo de riscos ¢ ysina que oO némica, social ou politica. Assim, exig desistissem de suas posses, advertia que o rico dificilmente encon- traria a salvagio e ensinava que os justos seriam recompensados no céu e no na terra Para os primeiros cristios, em especial Sie Paulo, que foi responsivel pela transformagio do cristianismo de heresia judaica a todas as ragas, era iminente a segunda vinda em religiio aber do Cristo, e, com ela, o fim do mundo existente, Com isso, abandonava-se a idéia de progresso econdmico encontrada no Velho Testamento. Mesmo a importancia da boa administragio dos recursos era desprezada, Paulo escreveu que os possuidores rva-las, ou mesmo ter de riquezas nao deviam contar com cons tempo de usi-las todas. Seu conselho era que as pessoas deviam continuar como estavam, pois, ante a iminéncia do fim do mundo, nao valia a pena comegar algo novo. Esse era um ambiente onde mento econdmico dificilmente poderia se desenvolver, © pens mas, quando ficou evidente que o fim do mundo nio acon- teceria no tempo de vida dos Apéstolos originais (acredita-se 5.d.C.), que Pedro morreu durante as perseguigées de Nero em 49 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL a [greja voltou a pensar em desenvolvimento econdmico. Indicios ! disso aparecem nos livros finais do Novo ‘Testamento, em espe! no Apocalipse de Joio. Os primitivos Pais da Igreja se defrontaram, portanto, com a tensio entre as visdes do Velho ¢ do Novo'Test amento. No conjun- to, eles optaram por se retirar do mundo, influenciados possive mente por seus contemporineos cinicos ¢ estdicos, Encorajam-se pobreza e o desprendimento das posses mundanas, ¢ hé exemplos de er poss mitas © santos que desistiram de tudo, retirando~ A imposigio do trabalho no Velho ‘Testamento e para uma vida de pobreza era invalidada pelo argumento de que o problema havia sido que a ociosidade levaria 4 corrupgao. O trabalho era desejavel porque impedia as pessoas de ficar ociosas, mas, se alguém conseguisse resistir 4 tentagio, isso seria melhor ainda A figura destacada desse periodo foi Santo Agostinho, bispo de Hipona, no norte da Africa (354-430). Sua obra Cidade de Deus foi escrita para refistar a acusagio de que a queda de Roma para Alarico e 0s godos, em 410, fora uma represilia porque o império mo. © livro é importante porque olha para a frente, para a possibilidade de criagdo de uma nova sociedade em vez de simplesmente olhar para tris, para preservar, ou recriar, 0 pasado, Diferentemente de Platio, Agostinho nao tentou esta belecer um projeto para uma nova sociedade, puis € impossivel criar uma sociedade perfeita sobre a Terra. Em vez disso, ele via © progresso como a tentativa de chegar cada vez mais perto de uma sociedade perfeita adotara o cristianis A riqueza, argumentava Agostinho, era um dom de Deus; mas, embora ela fosse boa, no era o bem supremo. Devia ser encarada como um meio, nao como um fim, Embora ele achasse melhor nao se ter propriedade alguma, Jmitia que nem todo mundo faria isso. A propriedade privada era absolutamente legitima para Agostinho, mas era importante que as pessoas se abstivessem do amor 4 propriedade (que a levaria a ser mal em- pregada). Da mesma maneira, Agostinho fazia distingao entre 0 comerciante e seu comércio: nio havia nada de errado no comér- cio em si, visto que ele poderia beneficiar as pessoas tornando os 50 AIDADE MEDIA bens disponiveis para os que, nao fosse isso, no os teriam, mas va no comerciante, ele estava exposto a abusos. O pecado e nio no comércio. Havia, porém, um conflito nio resolvido entre sse ensinamento sobre a legitimidade da propriedade privada e a doutrina de lei natural da propriedade comunal. A propriedade privada era uma criagao do Estado, que, portanto, tinha © direito de sea jar de propri Agostino tirou muitas idéias do pensamento grepe, mas seus horizontes foram incomparavelmente mais largos, Enquanto Xenofonte até mesmo Aristoteles se preocupavam coma polis on cidade-Hstado, Agostinho lidava com um povo definido, nao por nascimento ou localidade, mas por concordineia com una interesse natureza desse interesse compartilhado, a comum. A depender ci comunidade poderia progredir ou regredir de desenvolvimento do Velho Testamento para torni-ta relevante para a cristandade, © nao apenas para os israclitas, e ofereccu uma le alargou a nogio perspectiva sobre a histéria que se mostrou influente nas sociedades emergentes da Europa ocidental O islamismo © Império do Ocidente deixou de existir em 476. Ape desse fato, pouca coisa mudou. grande importancia simbélica Os reinos barbaros que surgiram na Europa ocidental ndo pre- tendiam destruir o Império Romano, mas sim se integrar a ele. Jor romano, embora esse impe- Eles ainda respeitavam o impe: rador estivesse entio em Constantinopla, nio em Roma. O fato marcante do fim do mundo antigo nao foi a queda de Roma, censio do isli ¢ a conquista mugulmana da Arabia, do Império Persa, do norte da Africa e de boa parte da Espanha O avango muculmano sobre a Europa s6 foi barrado em 732, por Carlos Martel, em Poitiers. Nesse periodo, a sociedade européia ficou isolada do Mediterrineo e precisou se reorganizar. Foi ai, por exemplo, ¢ nio com a queda do Império do Ocidente, mas a que os mercadores sfrios desapareceram da Europa ocidental, 51 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL Por contraste, o comércio floresceu e uma grande civilizagio se , absorvendo a cultura pei s mugulma sa beleceu nas terr: em adigao a cultura helenistica trazida por Alexandre. Centros de esta ensino foram estabelecidos em cidades como Bagda, Alexandria Cérdoba, ¢ neles o legado da Grécia foi preservado numa época Platio e Aristételes em que fora perdido no resto da Buropa entraram pela primeira vez no Ocidente latino pelas tradugdes do siriaco & do arab A literatura econdmica islimica desse periodo se divide em duas cateyorias:a literatura da“era de ouro” do dominio iskimico (750 a 1250) ¢ a dos anos de crise que se seguiram (1250 a 1500), ao fim dos quais os mouros foram expulsos da Espanha ¢ as nagdes curopéias embarcaram nas viagens dos descobrimentos. O pano de fundo dessa literatura foi o Alcorio. Como o Velho ¢ 0 Novo ica da Jo continha nenhuma exploragio sisten priticas, isoladas. ‘Testamento, ele Ele economia, mas discutia questdes econdmica dizia que renda e propriedade deviam ser tributadas para susten~ tar os pobres. A cobranga de juros nos empréstimos era proibida. des fossem A heranga era regulamentada para que as propried divididas em vez de serem transferidas a um tinico beneficiirio, Além disso, pouca coisa havia. Embora essas regras colocas em um desafio, considerando-se a civilizagao urbana altamente desenvol- vida que o isld assumira, a sociedade islimica era muito uadicional © 0 papel da economia, muito limitado. Na era de ouro islimica, dois tipos principais de literatur podem ser encontrados, Um é a chamada literatura de “modelos para principes", Os livros modelares eram cartas abertas, escrits geralmente por estudiosos e vizires, que apresentavam aos gover- nantes um modelo de governo justo ¢ eficiente ¢ recomendavam como 0 comércio e a Uministragio ptiblica poderiam ser m bem organizados. Um dos exemplos mais desenvolvidos do ponto de vista econdmico foi o de al-Dimashqi (no século TX), que explicava como o comerciante podia contribuir para o bem da comunidade interligando partes com excedente ou falta de deter- minados produtos. Ele argumentava, porém, que, para 0 mer beneficiar a sociedade, ele teria de refiear sua especulag ador 0 © seu 52 AIDADE MEDIA desejo de acumular riqueza. Ele poderia auferir um lucro normal, mas no mais. Outros tipos de texto tratavam da organizagio de Je ou de uma familia. Eles cram escritos por advogados Aveis uma ci as vezes, pelos xerifes respon: les analisavam © ¢ funcionsrios ptiblicos pelo funcionamento ordeiro dos mercados conflito entre mercados livres (apoiados no Aleorio) © © desejo de controle administrative de mercados ¢ pregos algo pant o que houve grande pression quando a escassez ameagou encareeet dem: 6s bens para a sobrevivéneia dos moradores urbanos pobres, Keses textos freqiientemente discutem problemas econdmicos. como fixagio de pregos, fator s que influenciam o consume 60 abastecimento de bens © conflito potencial entre a heranga grega © 0 pensa nico ¢ ilustrado por Averréis (Ibn Ruushd, 1126-98), © Gltimo de uma linhagem de filésofos mugulmanos notiveis ¢ mento is| que escreveu perto do fim da idade de ouro. Seu pai ¢ seu avo rdoba, em a. Parte de ocuparam o posto de chefe da magistratura em C 1109, ele foi nomeado para o mesmo posto em Sevill sua existéncia foi passada em Marrakesh, mesmo o periodo em va como médico principal que, ja com idade avangada, ele oper Avel que seus comentirios sobre Aristételes te~ do Emir. E pro nham sido escritos em Cordoba, na década de 1170, ¢ eles sto particularmente importantes porque foi por seu intermédio, em tradugio do drabe para o latim, que Aristételes veio a ser conhecido no Ocidente cristio, Emibora simpatizasse com o ideal de Platio de um governante forte, Averrdis seguiu Aristoteles na tentativa de estabelecer prin- cfpios éticos com argumentos racionais, Isso Ihe valeu um conflito com tradicionalistas religiosos aos quais nio agradava o modo como io com a ética revelada ele tentava conciliar a ética baseada na ra! pelo Alcorio. A certa altura, o emir o baniu de Marrakesh, ¢ seus muitos livros sobre filosofia grega foram queimado: © ponto em que Averrdis mais se afastou de Aristételes foi © tratamento do dinheiro. Aristételes reconhecera trés fungdes do dinheiro: meio de troca, medida de valor e estoque de valor acrescentou a de ser uma para transages futuras. A estas, Averrdis g 3 HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL reserva de poder de compra: diferentemente de outros bens que também poderiam servir de estoque de valor, o dinheiro podia ser gasto a qualquer momento sem a necessidade de ser primeiramente vendido, Ele também adotou uma visio diferente de Aristoteles a questio de © dinheiro ser uma mereadoria como qualquer outra. considerava as transagoes Escrevendo no século XI, Averrdis como um dado, 0 que nao ocorrera com Aristoteles: rsem ele. O dinheiro era, pois, monetiria 4 economia nao poderia fancion tinico, Além disso, 0 valor do dinheiro tinha de ser invariivel por duas razes, A primeira é que o dinheiro era usado para medir todas as coisas. Como Alf, também a medida de todas as coisas, ele devia ser imutivel. A segunda é que, se 0 dinheiro era usado como reserva de valor, as mudangas de seu valor eram injustas, O dinheiro que um governante fizesse reduzindo a quantidade de metal precioso nas moedas era puro lucro que ele nada fizera para ganhar, semelhante ao juro sobre um empréstimo, e, como tal, injustificivel, Averrdis rompia assim com a visio de Aristoteles de que valor do dinheiro é uma conven¢ao que 0 governante pode alterar 4 vontade. No século XIII, a situagio mudou. Depois do avanco mongol sobre a Europa, uma grande parte da Pérsia e da Asia Menor caiu nas maos dos turcos seljticidas. Os principes catélicos de Aragio, Castela, Navarra e Astirias conseguiram retomar a maior parte da Espanha dos mouros, Esse foi o cendrio dos escritos de Ibn Khaldun (1332-1406), que desc endia de uma familia mourisco- andaluza, mas migrara para a Africa do Norte depois da queda de Sevilha para os catolicos. Ele seguiu uma carrcira diversificada como funcionirio publico, jurista ¢ historiador — em certa altura, acompanhou 0 sultio do Egito para negociar um tratado de paz com 0 conquistador mongol Tamerlao. Ele era muito instruido na ciéncia e na filosofia de seu tempo, mas embora fosse membro da classe governante, com relagGes estreitas com emires ¢ sultdes, sua educagio espanhola lhe valeu a atitude de um estranho a civilizagio norte-africana. A principal obra de Ibn Khaldun é uma histéria a civilizagio que entretece transformagées econémicas, politicas ¢ sociais, Era 54 A IDADE MEDIA da cultura, cujo objetivo organizagio da uma obra de ciéncia social, ou ciéne produzir regras morais, mas explicar a rizado com a filosofia grega, mas ficou nio er. sociedade. Ele era cético sobre a teorizagao muito abstra 4 especulagio e & incapacidade de aprender com a experiéncia ra seus resultados amilia porque ela poderia levar passada. As investigagdes deviam ser exaustivas | nao serem enganosos. A civilizagao, segundo Ibn Khaldun, passara por una s¢ric de ciclos, Sua teoria assim foi sintetizada por um historiador: istir 6,4 medida que adquire forga, Uma nova dinastia comega a ex a area onde a ordem prevalece © a povoagao ¢ a civili- amp io humana podem florescer. © niimero de oficios aumenta ¢ ocorre uma maior divisio do trabalho, em parte porque a renda da pro- agregada aumenta, inchada pelo aumento da populagio dugio por trabalhador,¢ cria-se um mercado em expansio, do qual um segmento muito importante € aquele sustentado pelos gastos governamentais. © crescimento nao ¢ interrompido por una falta “08 de empenho ou por uma escassez de demanda; isso porge gostos mudam ea demanda aumenta a medida que a renda eresce, resultando numa demanda que acompanha o ritmo da oferta. © consumo de luxo e a vida confortivel servem, porém, para amolecer tanto a dinastia como a populagao, ¢ para desintegral mais firmes qualidades ¢ virtudes, O crescimento é interrompido pelo inevitivel enfraquecimento ¢ colapso da dinastia governante, geralmente depois de trés ou quatro geragdes, um processo que é acompanhado pela deterioragio das condigdes econdmicas, o declinio da complexidade da economia © 0 retorno a condigées mais primitivas.” Embora isso possa ser visto como uma teoria politica que explica a ascensio ¢ o declinio de dinastias, e considerasse que fatores sociolégicos (como o contraste entre os valores adquiridos na vida “rida” do beduino e a vida “sedentaria” do citadino) es- tavam na linha de frente da questio, os fatores econémicos sio, contudo, igualmente importantes. Mesmo nao sendo discutidos a HISTORIA DA ECONOMIA MUNDIAL em separado, conceitos como o efeito da divisio do trabalho na produtividade, a influéneia dos gostos na demanda, a escolha entre consumo e acumulagio de capital e 0 impacto do lucro (e, com ele, da tributagi Jo todos analisados como 3) sobre a produgio s parte do problema A explicagao de Ibn Khaldun para o processo de desen- volvimento econdmico & um feito admiravel. Tomada em mugulmana do perfodo, ela conjunto com o resto da literatura revela a grande compreensio dos fendmenos econdmicos exis- tente em certos circulos da sociedade islimica do século XIV, Comércio © ciéncia floresceram ambos no mundo islamico, ¢ homens como Ibn Khaldun, envolvidos nos sistemas juridico © administrativo, conseguiram usar a propria experiéncia ¢ as tradigdes que Thes foram transmitidas para reunir uma grande quantidade de conhecimento econémico.A obra de Ibn Khaldun teve pouca influéncia duradoura no mundo iskimico, porém. Foi na Europa ocidental, ¢ nZio no norte da Africa, que os grandes desenvolvimentos seguintes do pensamento econdmico have- riam de surgir. De Carlos Martel a peste negra A idade de ouro do isla foi a idade das trevas da Europa c ist, No sul, os muculmanos controlavam a maior parte da Espanha e estavam s portas de Constantinopla, enquanto no século [X 0s viquingues dominavam 0 norte. Os fluxos de ouro para boa parte da Europa cessaram e houve um hiato na auto-suficiéncia agricola. Mas a Europa cristi sobreviven gr 8, sobretudo, ao desenvolvimento de duas instituigSes. Uma foi a cela monastica, onde 0 cristianismo fora mantido vivo. Por volta do ano 700, os mosteiros beneditinos no resto da Europa tinham caido nas mos de invasores, mas 6 ensino cristio, incluindo 0 conhecimento de clissicos gregos ¢ latinos, foi mantido vivo na Irlanda e na Nortumberlindia, Na época em que estas foram saqueadas pelos viquingues, o cristianismo j4 se espalhara de volta até a Franga ea Alemanha. : 56

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