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; PSICANAUISE £ PSICOTERAPIA DE ORIENTACAO ANALITICA: RAIZES ~ HISTORICAS ESITUAGAO ATUAL Em 1995, publiquei um livro, The Talking Cures: the psychoanalyses and the psychothe- rapies (As curas pela conversa: as psicandlises € as psicoterapias).! As diversas énfases, no plural, no titulo refletiam dois temas prin- cipais desse livro: 1, aevolugao da psicanilise, como teoria e como terapia, a partir da estrutura uni- Uéria criada e proposta incansavelmente por Freud, durante toda a sua vida, até ‘mundo metapsicologicamente plura- listico no qual vivemos 2. o desenvolvimento da psicoterapia psi- canalitica ~a partir de sua origem te6- rica, a psicanélise -, inicialmente como uma adaptagao distinta e coerente dos conceitos psicanaliticos as exigéncias clinicas de pacientes nao considera dos indicados para a psicandlise, mas atualmente evoluindo para um campo de relacionamentos multifacetados (e problematicos) com seu ancestral psicanalitico Antes disso (em 1989), eu havia pu- blicado um artigo, Psicandlise e psicotera- pia: uma perspectiva histérica? no qual ex- Cem punha as principais linhas do argumento, depois elaboradas com mais detalhes em meu livro de 1995. Aqui, de forma altamente conden- sada, apresentarei as principais teses des- sa histéria evolutiva complexa, vista sob uma perspectiva atual, e encaminharei o leitor as minhas contribuigdes anteriores para a completa exposicao de meus pontos de vista. Inicio com Freud e 0 nascimento: da psicanélise, por ele desenvolvida como um produto purificado do amontoado de abordagens terapéuticas em voga naquela época e introduzida experimentalmente com 0 auxilio de seu primeiro colabora- dor, Breuer. Ela logo se tornou a psicologia cientifica e a psicoterapia cientifica. CC eae cee Tc POU RCC UR On) Psicandlise, como uma teoria da vida mental e uma terapia sistematica de seus transtornos, TET See Tec Ee CMCC eae A Ce SCC 20 Cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) EOE Ure ene Te ee ticas que seus colegas sem formagao analiti- ec) Esta visio — a de que a psicanalise propriamente dita era a unica psicoterapia verdadeiramente curativa e cientifica dis- pontvel — permeou todo o periodo da vida de Freud, Ela marcou a era da pré-historia da psicoterapia dentro da psicanilise, a primeira sendo, agora, considerada mais especificamente uma outra psicoterapia além da propria psicandlise. Freud fez sua propria diferenciagao entre a psican considerada uma terapia etioldgica, e os demais esforgos psicoterapéuticos, que via como meras espécies obsoletas de sugestao, possivelmente superadas pela psicanélise Sua observagdo mais aguda a respeito foi a famosa citacao de sua conferéncia de 1918, em Budapeste, na qual previa: ise, ] que © desenvolvimento em lar- ga escala de nossa terapia nos forcara a amalgamar ouro puro da anilise com o cobre da sugestao direta [mas que] seus ingredientes mais efetivos ¢ mais importantes certamente con- tinuarao sendo aqueles tomados em- prestados da psicaniseestrita e nto tendenciosa. Freud foi vigorosamente apoiado nesse seu ponto de vista por Ernest Jones ¢ Edward Glover, sendo que este iltimo le- vou essa visdo ao extremo. A tese de Glover era a de que todas as outras terapias, que n Pee ee occ) apenas variedades de sugestao, porque esta- Tou luirinterpretagdes de conflitos incon: foram totalmente analisados em suas See que n in COO RCC das na forte autoridade transferencial POR mcr Tenia Além disso, Glover! declarou, ainda em 1954, que [..] caso as interpretages do analista fossem consistentemente incorretas, entdo muito provavelmente ele esta- ria praticando uma forma de suges- tao, seja qual for o nome que desse a la. Dai decorre que, quando analistas diferem radicalmente quanto a etiolo- gia ou a estrutura de um caso — como hoje acontece cada vez com mais fre- quéncia—um lado ou 0 outro deve es- tar praticando sugestao. Nao que Glover jé nao tivesse tentado atenuar essa afirmagio radical: “a m4 and- lise pode, concebivelmente, ser boa suges- tao”.S E facil perceber o tipo de raciocinio estreito — isto é, o de que deve haver apenas uma linha interpretativa “correta” em cada situagao analitica e de que qualquer desvio dela, baseado em inexatidao, ignorancia, contratransferéncia ou qualquer outro as pecto, deve, portanto, ser apenas sugestao ~ que levou Glover, baseando-se em Freud, a essa aguda dicotomizagao da psicoterapia entre apenas a psicandlise, por um lado, e simplesmente variagdes de sugestio, por outro. Com isso, Glover e Freud, antes de- le, prestaram um desservigo involuntério ao futuro desenvolvimento de uma psico- terapia dinamica — assentada firmemente na base tedrica da psicologia psicanaliti- ca — ao obscurecerem as complexidades envolvidas nos conceitos e nas praticas da psicoterapia psicanaliticamente informada, incluindo-a sob a rubrica excessivamente abrangente da sugestao, a qual é usada para encobrir (e desse modo embagar) uma di- versidade de principios e praticas distintas da psicandlise. Cen cae Pe Re Cea Pee Ue eee da pela descrigao da psicandlise como uma Se Ce er ee rie definida de principios e praticas acordados de modo consensual, sendo tudo 0 mais - para eee eon orn) Pen eR goria mal definida e abrangente da sugesta Por uma variedade de razées parti- culares a0 desenvolvimento histérico da psicandlise em relacdo a psiquiatria nos Estados Unidos, 0 desenvolvimento origi- nal da psicoterapia psicodinamica’ foi um fendmeno tipicamente americano. Ela sur- giu da confluéncia de intimeras tendéncias sociais e intelectuais nos Estados Unidos: da tentativa consciente da psicandlise de ” A psicoterapia psicodindmica 6, na verdade, a Gnica contribuigdo caracteristicamente americana paraapré- ‘ica psiquidtrica moderna, embora uma contribuiglo sloriosa. A psicandlise foi criada por Freud, na Austria; anosologia descritiva dos transtornos mentais maiores fj trabalho de Kraepelin ¢ sua escola, na Alemanha, ainda que depois desenvolvida incomensura pelos modernos arguitetos norte-americanos do do DSM-I, DSM-IV e DSM-5. A eletroconvulsoterapia {oj inaugurada por Cerlettie Bini, na Ilia; o coma in- sulinico, por Sakel, um polonés trabalhando em Viena; a desastrada operacao de lobotomia, por Egas Moniz, ‘em Portugal; o conceito da comunidade terapéutica foi desenvolvido por Maxwell Jones, na Inglaterra; a era moderna das drogas psicoativas foi inaugurada ra Suica, com o Largactil, mais tarde trazido para a América como Thorazina (clorpromazina), embora novamente desenvolvida de forma exponencial na ‘América; eo litio foi empregado pela primeira vez.com sucesso por Cade, na Australia. mente a 21 Psicoterapia de orentagdo analit aliar-se A psiquiatria ¢ 4 medicina organi- zadas ¢ de “cooptar” a psiquiatria para as ideias psicanaliticas; da ampla aceitagao, na psiquiatria americana, da doutrina psico- biolégica de Adolf Meyer, com sua énfase nos relatos de caso detalhados para mostrar as varias relagdes causais das experiéncias de vida; do crescimento do movimento de higiene mental, com suas exigéncias po- sitivas por intervengdes de satide mental mais orientadas; do impacto da educagao americana progressiva, sob a lideranga do filsofo-educador John Dewey; e de outras ideias pragmaticamente otimistas, como 0 “movimento de assentamento em lares’, voltado ao sofrimento dos desfavorecidos social e economicamente, langado por Jane Addams. Portanto, desde o inicio, os psicana- listas na América nao entregaram o ainda incipiente campo da psicoterapia aos nao analistas, nem o rejeitaram, considerando- -o a aplicagao benevolente da sugestao — se assim fosse, nao se justificaria qual- quer estudo ou treinamento especial para aprendé-la, Ao contrario, a psiquiatria (e a psicoterapia) psicodinamica, ao se desen- volver durante o periodo do fim da déca- da de 1930 até o inicio da década de 1950 — quando a psicanélise norte-americana cxesceu de forma significativa em mimero e se enriqueceu em prestigio pela absorsao da onda de psicanalistas europeus refu- giados de Hitler -, conseguiu “capturar”, com éxito, a psiquiatria norte-americana, torando-se, assim, a voz dominante em faculdades de medicina, hospitais-escola ¢ dlinicas psiquidtricas do pais. Uma conse- quéncia importante dessa conquista bem- -sucedida da psiquiatria norte-americana pela psicandlise foi a suposicdo, assumida por médicos e educadores psicanalistas, da responsabilidade pelo cuidado e pelo tratamento dos pacientes internados ¢ dos pacientes ambulatoriais mais gravemente 22 __Cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) sscolae doentes que buscavam os hospita as clinicas afiliados as universidades. Esses pacientes diferiam bastante dos pacientes ambulatoriais tipicamente neuréticos, dos principais centros psicanaliticos europeus, em torno dos quais os preceitos técnicos da psicandlise tinham sido criados ~ porque, ‘em suas primeiras décadas na Europa, a psi- canilise tinha sido excluida da universidade edo mundo médico académico ¢, portanto, negada aos portadores de transtornos men- tais e comportamentais mais graves. Oe eee a ROC ee ead pacientes mais doentes que os psicanalista Ce ae Tea ier Se eg CS ce Cre tes Foi esse desenvolvimento que re- sultou na psicoterapia psicanalitica, cujo principal pioneiro foi Robert Knight, da Fundagao Menninger ¢ depois do Centro Austen Riggs. Como lider na psicandlise norte-americana, as principais preocupa- es de Knight foram exatamente suas re- lagdes com a psiquiatria. Knight® declarou que, até o advento da psicanilise, “a psiquiatria ainda carecia de uma psicologia”. Ele se dedicou a arti- culagao do que chamou de “uma ciéncia basica da psicologia dinamica”:” [Juma ciéncia basica na qual toda psicoterapia competente deve basear- -se [e] para a qual as principais con- tribuigdes foram dadas pela psicané: lise.” Assim, Knight formulou, pela pri- meira vez, 0 que propés ser a diferenca fundamental, dentro do marco referencial psicanalitico, entre as abordagens psicote- rapéuticas de apoio e as expressivas: Das varias possiveis formas de clas- sificar as tentativas psicoterapéuti- cas [..], dois grandes grupos podem ser identificados — aqueles que visam primariamente ao apoio ao pacien- tc, com supressio dos sintomas e da manifestagao do material psicol6gico emergente associado, e aqueles que vi- sam primariamente a sua expressao.’ (grifo nosso) Ao mesmo tempo, o viés explicito em favor da abordagem mais expressiva foi anunciado: [..1] a psicoterapia de apoio [...] pode ser indicada [...] quando a avaliacao clinica do paciente levar & conclusio de que ele é muito frigil psicologica- mente para ser mais profundamente abordado, ou muito inflexivel para ser capaz de uma alteragao real da per- sonalidade, ou muito defensivo para ser capaz de aleangar o insight [..].A decisto de usar medidas supressivas 6 na verdade, tomada devido a con- traindicagdes ao uso de intervenes exploratérias.” Posteriormente, Knight® diferenciou ainda mais os objetivos das abordagens de apoio e expressiva e, em relagao a esta tlti- ma, os objetivos (e as indicagées) da pré- pria psicandlise Pelo termo “primariamente de apoio” entendo a intengdo de apoiar e re-~ construit os mecanismos de defesa ¢ métodos adaptativos que costumam ser utilizados pelo paciente antes de sua descompensacao, ¢ a implementa- Gao dessa intengao pelo uso de técni- cas de apoio explicitas. A seguir, descrevia uma série de tée- nicas de apoio, na verdade a primeira lista- gem desse tipo, em um artigo psicanalitico. Entre as formas expressivas, a propria psi- canilise seria, claramente, a de mais longo alcance: “A psicanilise tenta o maximo na investigagao, com um objetivo do maior autoconhecimento possivel ¢ da modifica- 40 estrutural da personalidade” § E a psicoterapia expressiva (derivada da psicandlise) é concedido um lugar niti- damente diferente: © maior campo [...] para a psicotera- pia exploratéria, que nao envolve os objetivos ambiciosos da psicanilise, reside naquelas condigoes clinicas que sao expressadas como descompensa- cies relativamente recentes, origina- das de experiencas de vida perturba- doras. een cre ae Te ee eC ec a Teen eR ieee Sem eau 0s painéis, dentro da Associagao Psicanalitc Pee ue Ce eu ec Pe Ce Cnet cu letivamente, eles sustentavam as CO eee Ree cee cue ee cary CONC Ee cay a deestabelecida diversidade de objetivo e de ST (eee eer ee ie Se eect va) dentro de uma unidade de teoria (a psica~ Tae eee ey tacos a partir das completas descrigdes desses manifestos de 1954 A confrontacao central na época era entre dois pontos de vista principais so- bre a natureza da relacéo entre psicotera- pia dinamica ¢ psicanilise. Basicamente, a 23 Psicoterapia de orientagdo analit © problema existia entre as visdes propos- tas por Alexander e French? e Fromm- -Reichmann!? (uma minoria), que viam a tendéncia histérica como obscurecendo, e até suprimindo, as diferenciagdes técnicas entre psicoterapia dinamica e psicanilise, € a visto defendida por analistas (a maioria), dos quais Bibring,"! Gill,!23 Rangell!* e Stone!56 foram os principais porta-vozes. Estes, seguindo Knight, entendiam o pro- blema como um esclarecimento mais ade- quado das distingdes conceituais e opera- cionais entre as duas. Esses pontos de vista opostos foram antiteticamente propostos de maneira muito intensa nos painéis pu- blicados em 1954. Aqueles que “borravam” as diferen- ciagdes entre psicoterapia dinamica e psi- canélise tomaram duas posigdes um pouco discrepantes. Alexander!” exigia a total in- tegragao da psicandlise na psiquiatria e na medicina: Ateoria psicanalitica [tornou-se] pro- priedade comum da psiquiatria como um todo e, por meio dos canais psi- cossométicos, da medicina como um. todo. Com essa “unificagao” da psicandlise com a psiquiatria, [..] uma nitida diferenga entre 0 tra- tamento psicanalitico e outros méto- dos psicoterapéuticos que se baseiam ras observagoes ¢ na teoria psicanalt- ticas esté se tornando cada vez mais di- ficl [..]. Na pritica [..], todos os psi- quiatras tornam-se cada vez.mais pare- cidos, mesmo que um possa praticar a psicanélise pura e 0 outro uma psico- terapia de orientagio psicanalitica.)” Assim, qualquer distingio entre a propria psicanilise e outros procedimentos expressivos foi declarada apenas “quantita- tiva”,!7 e, de fato, 24 Cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) Ja tinica solugdo légica [seria] iden- tificar como “psicanalitico” todos es- tes procedimentos relacionados que se baseiam essencialmente nos mes- ‘mos conceitos cientificos, observagdes ¢€ principios técnicos."7 (grifo nosso) No ponto maximo da posigao de Ale- xander,!” “a sinica diferenga realistica & (...] aquela entre os métodos primariamente de apoio e os primariamente expressivos” (gri- fo nosso). Sua proposigao seria a de colapsar todas as formas de tratamento expressivo (psicoterapia expressiva e a propria psica- nilise) dentro de uma tinica categoria de te- rapia psicanalitica. A partir disso, Alexander (como Knight) prenuncia uma lista de té- nicas diversificadas de apoio. No outro la- do, coloca todas as abordagens expressivas, a psicandlise incluida, as quais, segundo ele, variariam apenas em parimetros quantitati- vos, ¢ nado em parametros criticos. Fromm-Reichmann!® assumiu uma posigéo um pouco diferente: para tratar psicanaliticamente individuos borderline ef ou francamente psicéticos, seriam neces- sérias nao apenas modificagdes importan- tes da técnica psicanalitica (com as quais, naturalmente, todos concordariam) como também a revisio sistematica da teoria da “psicanilise cléssica”, em direcio a uma mais moderna “teoria da psiquiatria dina- micamente orientada”, tendo como base as concepgGes interpessoais de Harry Stack Sullivan. Isso ela defendia como uma ver- so mais atualizada da psicandlise e tratava de sustentar essa reivindicagao invocando a famosa maxima definidora de Freud,!? de que toda terapia que estivesse baseada nos conceitos de transferéncia e resisténcia po- deria denominar-se psicanilise. Apresentada dessa maneira, a psico- terapia dinamica de Fromm-Reichmann poderia simplesmente ser redefinida como psicandlise, de modo que, como com Ale- xander, psicanilise e psicoterapia analitica tornariam-se indistinguivelmente préxi- mas, em um continuum meramente quan- titative. No caso de Fromm-Reichmann, a psicanilise se veria assimilada pela nova teoria interpessoal da psiquiatria dinamica Ao contrario, Alexander considerava que a psicoterapia psicanalitica estaria fundida de maneira quase indistinta com a psicana lise. Porém, em qualquer direcio, as dife- rengas entre as duas ficavam obscurecidas, senao totalmente suprimidas. Ambos os pontos de vista tiveram, na época, algum apelo popular, embora refletissem uma distinta minoria na psica- nélise norte-americana. Desde entao, essas concepsées de Alexander foram essencial- mente retiradas do discurso psicanalitico Os pontos de vista de Fromm-Reichmann (mais propriamente suas técnicas) sobrevi- veram apenas dentro de um pequeno gru- po de colegas, trabalhando no campo em que essas nogées se enraizaram a principio, ou seja, na (modificada) terapia psicanali- tica de pacientes gravemente psicdticos, em geral nos ambientes institucionais. Em contraste, aqueles que se empe- nharam em “agudizar” as diferencas entre © alcance das diferentes psicoterapias de base psicanalitica objetivavam, em. seus planos de tratamento, selecionar a moda- lidade terapéutica mais adequada, a partir desse espectro diferenciado, para a estrutu- ra psicologica de cada paciente. Isso, natu- ralmente, era 0 oposto de “borrar” as di- ferengas, transformando toda psicoterapia em “psicanalise”, forgando os limites dessa “andlise” a sua extensao méxima, Tratava- -se de uma preocupagdo com 0 método de tratamento mais adequado para cada pa- ciente em particular (dentro da variedade de métodos terapéuticos psicanaliticos). problema inicial para aqueles que buscavam delinear com mais clareza as diferencas entre as varias terapias de base psicanalitica foi, naturalmente, de defi- nigao. Gill,!3 Rangell!* e Stone!> procu- raram comegar com uma definigao para psicanilise, considerada a matriz de todas as outras e cujas dimensOes eram mais cla- ramente conceitualizadas. Foi a proposi- 40 de Gill]? a que adquiriu mais ampla aceitagzo: Paicandlise € aquela técnica que, em- pregada por um analista neutro, resul- ta no desenvolvimento de uma neu- rose de transferéncia regressiva e na resolugao final dessa neurose por téc- nicas apenas interpretativas. A partir dela, Gill se estende por v4- rias paginas para explicar cada parte desse conceito em detalhes. Tal definigao deli- mitava a psicandlise de modo mais preciso do que a de Freud,!9 a qual estabelecia que qualquer terapia que apenas reconhecesse os dois fatos, da transferéncia ¢ da resis- téncia, e os tomasse como seu ponto de partida podia denominar-se psicanilise. Em contraposic¢ao a Freud, Gill!? tinha declarado anteriormente que: [..] a designagao “psicanélise” seria reservada para a técnica que analisa a transferéncia ¢ a resisténcia. Jé a psi- coterapia psicanalitica seria qualquer procedimento que reconhece a trans- feréncia e a resisténcia e utiliza racio- nalmente esse conhecimento na te- rapia, embora isso possa ser feito de muitas formas diferentes, e parte ou até toda a transferéncia possa nao ser analisada. Sao essas “muitas formas diferentes” de psicoterapia, nas quais “parte ou até to- daa transferéncia possa nao ser analisada”, que, naturalmente, representam as varias distingSes entre os métodos expressivos ¢ Psicoterapia de orientagao analitica 25) os de apoio que as psicoterapias psicana- Iiticas (que nao a psicandlise) poderiam utilizar, Também nesse primeiro ensaio, Gill? estabeleceu a principal linha de demarcagao entre os métodos expressivos € 08 de apoio: A decisao mais importante € se as de- fesas do ego devem ser fortalecidas ou, ao contrério, ultrapassadas, como ‘uma condigio preliminar em direga0 A reintegragio do ego [...]. A decisio de fortalecer as defesas € tomada em casos nos quis isso é tudo o que é ne- cessério, ou naqueles nos quais isso é ‘tudo 0 que é possivel fazer com segu- ranca, O autor prossegue até aumentar a so- fisticagio da conceitualizagio das técnicas de apoio, por meio de uma elaboragao de- talhada das maneiras de se fortalecerem as defesas. Stone! também tentou listar os principios que operariam diferencialmen- te na psicoterapia, em oposicao a psica- nilise, mas, para isso, misturou as abor- dagens de apoio ¢ as expressivas (apenas diferenciando-as da prépria psicanilise). Ele elaborou sua listagem de oito diferen- tes indicagdes para psicoterapia, em vez de psicanilise (a mais elaborada até aque- le momento), mas nao tentou separar que indicagoes seriam mais adequadas a abor- dagens expressivas ¢ quais as abordagens de apoio. A lista de Stone, entretanto, de- finiu a base para a afirmagao de Gill!? com relacdo as indicagoes para psicandlise: Aanilise, entao, éclaramente o proce- dimento para um grupo intermedié- rio (de gravidade), no qual o ego esté suficientemente danificado para que ‘um extensivo reparo seja necessério, ‘mas que ainda ¢ suficientemente forte ara suportar a pressio. 26 Cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) A partir disso, o restante segue de modo natural. Uma psicoterapia primaria- mente de apoio torna-se a forma preferida para aqueles pacientes cujo equilibrio psi- quico enfraquecido deve ser restaurado pe- lo “fortalecimento das defesas”, por meio de todas aquelas técnicas detalhadas por Knight, Alexander, Stone, Gill, entre ou- tros, Poderiamos considerar esses pacientes ‘como “muito doentes” para serem tratados pela psicandlise. Gill, inclusive, refere os perigos da psicandlise para uma “personali- dade precariamente equilibrada”. Uma psi- coterapia primariamente expressiva torna- -se, por sua vez, a forma preferida aqueles com transtornos reativos agudos ou em estados transicionais de ajustamento, cujos egos nao estdo excessivamente danificados ¢ que podem tolerar o esforgo de “analisar as defesas” na extensio necesséria, pelos métodos de interpretagao e elaborasao, chegando aos insights eas resolucées reque- ridos. Estes podem ser considerados os pa- cientes que esto “bem demais” para fazer psicanilise, no sentido de nao necessitarem ‘ou de ndo se justificar sua entrada em um tratamento tao ambicioso e¢ extenso. Essa forma de conceitualizar a na- tureza dos diferentes métodos terapéuti- cos e de suas diferentes indicagdes coloca a psicoterapia expressiva em uma posi¢o “intermediria” — certamente na técnica — entre a terapia de apoio, de um lado, e a psicandlise, de outro. Gill! chamava-a de um “tipo intermediétio de psicoterapia”. Ele foi adiante: Esta €a psicoterapia[...] cujos objeti- vos sao intermediarios entre a resolu- sao répida dos sintomas [ie., psicote- rapia de apoio] e a alteragao de caréter {ie., psicandlise], na qual as técnicas sao, de certo modo, também interme- diérias — por exemplo, relativa neutra- lidade e inatividade; manejo da trans- feréncia, embora ndo uma neurose de transferéncia regressiva total; inter pretagao como o veiculo principal do comportamento do terapeuta ~ e, eu sugiro, na qual os resultados sao igual- mente intermediérios.!3 Diz ainda: {..] nfo quero ser mal interpretado, pois nao estou sugerindo que a psico- terapia possa fazer 0 que a psicandli- se faz; mas estou sugerindo que uma descrigéo dos resultados da psicotera- pia intensiva [ele quer dizer expressi- va] pode ser feita nao meramente em termos de mudancas de defesas, mas também em termos de outras altera- ‘es intraego.!? No geral, Gill!? havia afirmado ante- riormente: Na psicoterapia, o objetivo pode ser qualquer coisa, que vai do alivio de um sintoma o mais répido possfvel, com a restauragao da capacidade in- tegrativa prévia do ego, passando por uma ampla variedade de objetivos mais ambiciosos, até a psicanélise, 0 mais ambicioso de todos. A escolha da terapia pode ser dividida entre aque- la que determina o mfnimo necessé- rio para restaurar o funcionamento do ego e aquela que se empenha pela mudanga maxima possivel. Isso esté estreitamente relacionado a outra questao que também nao foi de to- do resolvida naqueles debates da década de 1950: trata-se dos graus de diferenciacio real entre essa série de abordagens terapéu- ticas psicanaliticas, que iria da psicoterapia de apoio até a psicoterapia expressiva (a forma “intermediaria”) ¢, finalmente, até a psicandlise. Seriam clas realmente dife- rentes qualitativamente, ou apenas pontos nodais cristalizados ao longo de um con- tinuum? Ou seriam menos distinguiveis ainda entre si, por serem essencialmente apenas um continuum (quantitativamente varidvel)? Isto é permanecia a discusséo entre o “obscurecimento” das diferengas versus seu “agucamento”, o que sempre es- teve no centro daqueles debates. Rangell!4 talvez tenha expressado me- Ihor o grau de consenso alcangado dentro da posigao da maioria, que rotulei como aquela dos que buscavam agugar as dife- rengas: Neste ponto de vista, as duas discipli- nas [psicanilise e psicoterapia psica- nalitica], nos extremos opostos de um espectro, sao qualitativamente dife- rentes entre si, embora haja uma fai- xa fronteirica de casos entre elas. Uma comparacao andloga pode ser feita com 0 fato de que o consciente ¢ dife- rente do inconsciente, embora exista uum pré-consciente e diferentes graus de consciéncia. O dia é diferente da noite, embora haja o crepiisculo en- tue eles; € 0 preto do branco, embora haaja o cinza A maior contribuisao de Rangell aos debates publicados em 1954 foi seu esforso em estabelecer as principais semelhangas ¢ diferengas entre psicandlise e psicoterapia dinamica. Ele apresentava cada uma sob dois tépicos, Em relagao as semelhangas, afirmava que ambas sao tratamentos psi- colégicos que influenciam outros seres hu- manos por meio do discurso verbal, bem como tratamentos racionais, construidos sobre uma metapsicologia idéntica. Em re- lacao as diferencas, dizia estarem nas técni- cas e nos objetivos. Quanto a técnica, Rangell!* conside- rava que “o ponto diferencial crucial diz respeito ao papel e A posicao do terapeu- ta”, Usando uma analogia, alirmou que, na psicandlise, o terapeuta est na periferia Psicoterapia de orientagao analitica 27 do campo magnético do paciente, nao re- agindo, portanto, com seu préprio campo magnético, ou se comporta como 0 juiz em uma partida de ténis.!* J4 na psicoterapia, © terapeuta, em vez de estar na cadeira do juiz, movimenta-se na quadra, junto com 0 paciente, estando os dois campos magnéti- cos entrelacados.!4 Em relacao as diferen- ‘¢as nos objetivos, Rangell evidenciou outra analogia, emprestada de Gitelson, em que comparou © processo terapéutico a uma reagéo quimica complicada que, uma vez iniciada, poderia ser levada a uma resolu- 40 final (ie., 0 objetivo da psicanélise) ou interrompida em algum ponto intermedié- rio de estabilidade, como no caso da psico- terapia dinamica (ver Rangell!*). Duas outras contribuigdes importan- tes dos debates de 1954 —a de Bibring ea discusséo entre Leo Stone e Anna Freud — deem ser mencionadas. Bibring descreveu cinco principios terapéuticos basicos, os quais, pela selecao e pela combinagio dife- rencial, deveriam ser capazes de caracteri- zar todas as terapias psicanaliticas, da psi- canélise 4 psicoterapia de apoio. Os cinco princfpios basicos, cada um visando a seu objetivo particular, foram denominados de: 1. sugestao catarse 3. _manipulacao (no sentido de redirecio- nar sistemas emocionais existentes no paciente ou expé-lo a novas experién- cias) insight por meio do esclarecimento 5. insight por meio da interpretagao Todas as psicoterapias, nao apenas aquelas baseadas na teoria psicanalitica, poderiam ser classificadas, de acordo com Bibring, conforme as diferentes selegdes ¢ combinagGes desses cinco principios tera- 28 Cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) péuticos centrais na condugio da terapia A classificagao de Bibring continuou sendo usada até quase os dias de hoje. A outra contribuigao igualmente in- fluente daqueles debates foi a discussao de Stone!® sobre o que ele chamou de “a cres- cente ampliagdo do campo de indicagdes para psicandlise” para quase toda doenca ou problema que tivesse um componente emocional significative em sua etiologia — muito além, portanto, das cléssicas psi- coneuroses consideradas por Freud como adequadas A psicandlise. Stone aceitava essa tendéncia com cautela e ceticismo — naturalmente, retornava-se a discus- so sobre (a) estender a aplicabilidade da verdadeira (ou melhor) psicoterapia exis- tente, a psicanélise, até os limites de suas possiveis indicagdes, em oposicao a (b) adequar abordagens psicoterapéuticas di- ferenciadas & natureza e as necessidades de cada paciente. A avaliagao final de Stone!® foia de quea [...] abrangéncia da terapia psicana- Itica foi ampliada a partir das psico- neuroses transferenciais, para incluir praticamente todas as categorias no- sologicas psicogénicas. As neuroses de transferéncia ¢ os transtornos de caré- ter de grau de psicopatologia equiva- lente continuam sendo as indicagoes gerais ideais para o método classico. Embora as dificuldades aumentem ¢ as expectativas de sucesso diminuam de uma maneira geral, & medida que nos aproximamos da periferia nosolé- gica, néo ha [uma] barreira absoluta [para o método psicanalitico]. Em sua discussto do trabalho de Sto- ne, Anna Freud?” escolheu essa unica ques- tao para indicar que suas préprias predile- oes opunham-se a tais sentimentos. Sem desejar “subestimar os beneficios resultan- tes aos pacientes” do que Stone declarara, ela, nao obstante, expressava suas objegdes: Se toda habilidade, conhecimento e esforgos pioneiros que foram gastos para ampliar a abrangéncia da psica- nilise tivessem sido empregados, em ‘vez. disso, na intensificagao ¢ melho- ra de nossas técnicas no campo ori- ginal [os transtornos histéricos, f6- bicos e compulsivos], eu no posso deixar de sentir que, neste momento, estariamos achando que o tratamen- to das neuroses comuns seria quase uma “brincadeira de crianga’, em vez de seguirmos lutando com os proble- mas técnicos que encontramos, como continuamos fazend Esse era, de fato, um apelo a limitagao das indicacdes para a psicandlise, uma po- siggo a qual Anna Freud aderiu firmemen- te durante toda a sua vida, contra todas as tendéncias mais “populares” entre os ana- listas da época. Um iltimo comentirio em relagao a essa cristalizaco, em 1954, do que cha- mei de “a segunda era” na historia da psi- coterapia psicanalitica, a era do consenso. O Projeto de Pesquisa de Psicoterapia da Fundacao Menninger, criado por alguns de nés no inicio da década de 1950, foi um estudo dos mais ambiciosos e abrangentes do seguimento dos tratamentos e das vidas subsequentes de uma coorte de 42 pacien- tes tratados, metade por psicanilise e meta- de por psicoterapia psicanalitica. O Projeto foi concebido e conceitualizado segundo os marcos referenciais de como eram en- tendidas essas modalidades de tratamento, na perspectiva da maioria dos psicanalistas daquela era de consenso. Uma descrigao completa do trabalho ¢ dos resultados conclusées desse longo estudo de 30 anos, realizado 4 luz daqueles entendimentos, foi publicada em meu livro de 1986, Quarenta e duas vidas em tratamento21 Enfatizei o quanto esse desabrochar da psicoterapia dinamica foi particular- mente norte-americano, sendo ela con- cebida como distinta da psicandlise, mas inextricavelmente ligada a esta, constituin- do-se como o veiculo principal da “coop- tagao” da psiquiatria norte-americana pelo ideal psicanalitico. Isso nao quer dizer, no entanto, que essas concepgdes permanece- ram restritas ao cendrio norte-americano. Ideias compardveis logo criaram raizes em outros lugares, a principio na Inglaterra ¢ no norte da Europa, ¢ depois pelo resto da Europa e na América Latina. E, em 1969 — uma década e meia apés as publicagbes de 1954 na América do Norte -, a Internacio- nal Psychoanalytic Association (IPA), pela primeira vez, dedicou um painel importan- te em seu Congreso de Roma para “A re- lagdo entre psicanilise ¢ psicoterapia”. Em minha apresentacao de abertura, como co- ordenador daquela mesa-redonda,”? iniciei declarando que isso marcava ] a crescente preocupagao, den- tro da familia mundial da psicandli- se, com o que por muito tempo pare- cera uma criagao peculiarmente nor- te-americana, 0 corpo da teoria e da pritica da psicoterapia psicanalitica ou psicodinamica, em toda a sua com- plexa relacdo com sua linhagem psi- canalitica, Estabeleci a estrutura para o painel de 1969, expondo 0 que eu acreditava se- rem as questdes cientificas mais impor- tantes dentro da relagao da psicoterapia com a psicanilise. Propus uma sequéncia de nove perguntas, com um breve sum- rio apés cada uma delas, relacionando-as com as principais posigdes, frequentemen- te dicotomizadas, que eram assumidas por proponentes ilustres dos varios pontos de vista, O que se tornou claro, a partir da minha listagem, foi que as questoes ¢ as controvérsias que tinham caracterizado os relatérios daquela mesa-redonda de uma década ¢ meia antes ainda estavam entre Psicoterapia de orientagao analitica 29 nés, sem terem sido essencialmente mo- dificadas, muito menos resolvidas, ape- sar da experiéncia clinica acumulada e do crescente conhecimento tedrico adquirido durante esse periodo. Nem poderiamos dizer que essa avaliagao foi, de alguma forma, modificada pelas_consideragdes daquele painel internacional, do ponto de vista mais amplo das varias experiéncias da psicanélise nos diversos centros nacionais ¢ regionais de trabalho psicanalitico, com todos os seus diferentes desenvolvimentos histéricos e distintos contextos ecoldgicos. Contudo, apenas uma década mais tarde, em 1979, quando as Sociedades Psicanaliticas Regionais Meridionais pa- trocinaram um Simpésio em Atlanta, no qual trés dos protagonistas das discussoes publicadas em 1954, Gill, Rangell ¢ Stone, foram convidados a atualizar suas visdes sobre “Psicandlise ¢ psicoterapia, seme- Ihangas e diferengas, uma perspectiva de 25 anos”, muita coisa tinha realmente mudado. Nos anos intermediarios, novas conceitualizagdes diagnésticas e terapéuti- cas tinham sido amplamente desenvolvidas em relagao as categorias dos pacientes bor- derline (como as abordagens psicanaliticas “modificadas” de Kernberg,”* e dos trans- tormos de cardter narcisista (introduzidas na 6rbita da psicanilise por Kohut,?425), Essas novas consideragées acrescentaram. urgéncia e convicsao aos esforgos psicanali- ticos de manter uma posicao firme sobre as caracteristicas proprias da psicanélise ¢ das psicoterapias psicanaliticas, com suas esfe- ras diferenciadas de aplicagao em relagio A diversidade das formagies psicopatolégicas. Isso, é dlaro, se tornou mais importante 4 medida que os quadros sintomiticos mais dlassicos, em toro dos quais as concepgdes psicanaliticas originais foram elaboradas, minguavam em nossos consultérios. Os trés escolhidos para esse Simpésio, Gill, Rangel ¢ Stone, tinham estado essen- BO cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) cialmente de acordo durante os debates do inicio da década de 1950, representativos da entao posigio “cléssica” da maioria (que se mantinha associada 4 concepgao de um espectro de psicoterapias, com uma cris- talizagao caracteristica de cada modalida- de terapéutica diferenciada ao longo dele, cada uma com sua aplicagio e indicagao especificas a determinado segmento de pacientes, nosologicamente coerente). Es- sa selecao de trés autores que, um quarto de século antes, tinham falado com tanta unidade tornou ainda mais impressionan- te a divergéncia de opinides — exatamente sobre as mesmas quest6es — que marcou seus discursos em 1979, Foi essa mudana, mais uma vez importante, que eu denomi- nei de “a terceira era” no desenvolvimen- to da psicoterapia psicanalitica dentro da psicanilise, a era atual, do “consenso frag- mentado”. © amplo consenso (a despeito dos desvios significativos de Alexander ¢ Fromm-Reichmann) que tinha caracteri- zado a corrente principal do pensamento psicanalitico nessa area por mais de duas décadas esta em um estado fragmentado que ainda persiste hoje, vinte anos depois. Na realidade, foram as concepgoes de Stone, as de nuangas mais sutis em 1954, que sobreviveram mais inalteradas no de- correr dos anos.2° Em suas concepsoes da maior orientagdo a realidade por parte do psicoterapeuta psicanalitico, das dife- rengas sutis entre a natureza do proceso interpretativo na psicandlise ¢ na psicote- rapia psicanalitica e das dificuldades em separar as abordagens mais interpretativas (expressivas) das menos interpretativas ou nao interpretativas (de apoio), Stone exi- biu uma notavel consisténcia de pontos de vista durante todo o intervalo de tempo de seus escritos sobre o tema, desde seu pri- meiro ensaio, de 1951, até o mais recente, de 1992. Bra uma constancia de perspectiva que contrastava nitidamente com as visoes significativamente modificadas dos outros dois protagonistas da mesa-redonda de 1979. Quem mudou mais radicalmente durante esse intervalo de tempo foi Gill, 0 qual, seguindo Knight, tinha sido o mais claro, no inicio da década de 1950, em seus distintos delineamentos de_ psicanilise, psicoterapia expressiva ¢ psicoterapia de apoio, cada uma com diferentes ténicas € objetivos ¢ indicada para um segmento diverso do espectro psicopatolégico. A mu- danga radical na percepsao de Gill foi uma consequéncia direta de sua preocupagao com a crescente diluicao da primazia da interpretasao transferencial como sendo © principal critério da psicandlise e do que era psicanalitico: a) a interpretacao mais precoce da trans- feréncia, incluindo a busca diligente de todas as possiveis alusbes implicitas a ela b) 0 foco no “aqui-e-agora”, em oposic¢a0 4 predominancia genética na interpretagao da transferéncia ©) a elaboracao mais completa de todas as implicagoes do que ele chamava de pers- pectiva de “duas pessoas”, em oposigao A perspectiva de “uma pessoa”, ou seja, das contribuisées para a transferéncia por parte dos dois participantes Aqui, quero apenas examinar as im- plicagées das mudangas de Gill sobre sua concepsao de transferéncia por concep ses (significativamente modificadas) sobre a natureza da psicandlise comparada com a psicoterapia. Ele tornou especificas essas implicagdes no Simpésio de Atlanta, em 1979, publicadas em uma versao revisada em 1984. Gil?” comesou revendo os “critérios intrinsecos” pelos quais a anilise costuma ser definida (“a centralidade da anilise da transferéncia, um analista neutro, a indu- a0 de uma neurose de transferéncia re- gressiva e a resolugdo dessa neurose por téenicas apenas interpretativas, ou pelo menos principalmente por interpretaca0”), bem como os “critérios extrinsecos” comu- mente indicados (“sessGes frequentes, 0 diva, um paciente relativamente bem in- tegrado ou que seja considerado analisével ¢ um psicanalista totalmente treinado”). A partir disso, Gill?” referiu seu ponto de partida: A questao da relagao entre psicandlise psicoterapia 6 ainda mais importan- tena pratica hoje do que era em 1954, devido as dificuldades priticas em mantet 0s critérios extrinsecos comu- mente aceitos da anilise (..]. A ques- tao se torna: o quanto o conjunto de critérios extrinsecos pode ser amplia- do antes que o analista possa decidir- -se por psicoterapia em ver de psica- nilise? Em resposta a essa pergunta, Gill?” declarou: diria que, com a definicao da técni- ca analitica 4 qual eu finalmente che- garei, esta técnica deverd ser ensinada 2 todos os psicoterapeutas. Se ela sera empregada com sucesso ou nao de- penderd do treinamento e do talento natural para o trabalho de cada um. Eaind: ] quero dizer que a técnica analiti- ca, da forma como a definirei, devera ser empregada tanto quanto possivel mesmo se o paciente vier com menos frequéncia do que 0 usual em psica~ nilise, usar a cadeira em ver. do diva, nao estiver necessariamente compro- metido com um tratamento mais lon- go. for mais doente do que o paciente considerado analisével e mesmo que o terapeuta seja relativamente inexpe- riente. Em outras palavras, recomen- Psicoterapia de orientagao analitica 31 darei que limitemos rigorosamente as indicacdes para psicoterapia psicanali- tica, ¢ (em vez disso] pratiquemos pri- ‘mariamente psicandlise como pretendo defini-la27 (grifo nosso) © que vemos aqui é uma proposta para assimilar psicandlise 0 que Gill, em 1954, esforcara-se para demarcar como separado, isto é, a psicoterapia expressiva, antes vista como uma 4rea relacionada 4 psicandlise, mas bem distinta dela; ou, em outras palavras, 0 autor propés borrar, ¢ talvez suprimir completamente, todas as diferengas cuja manutengao ele um dia acreditou ser vital. De fato, isso retomou a posigao de Alexander, a qual Gill outrora rejeitara. Ele evidentemente reconheceu a base para essas posigdes radicalmente al- teradas: “A reconsideracao que estou pro- pondo € resultado de minhas dificadas sobre a transferéncia e sua anéli- 27 se Ges mo- Além disso, a centralidade da andli- se da transferéncia é [isoladamente] o aspecto mais caracteristico da psica- nélise, E o que a diferencia da psicote- rapia, Resta-me tentar mostrar que ela pode ser mantida mesmo em condi ses ampliadas de critérios externos.”” (grifo nosso) ill, entéo, desenvolveu suas ideias sobre como os critérios externos mencio- nados — frequéncia, diva, duragao ¢ in- determinacio do processo, entre outros = poderiam ser secundérios e dispensados dentro de um trabalho psicanalitico apro- priado. Declarou que, central a todas as visdes sobre as dimensoes externas da ex- periéncia psicanalitica, estava uma [...] suposigao implicita sobre 0 pro- cesso psicanalitico que gostaria de questionar. O de que a anilise seja uma proposiggo do tipo tudo-ou- 32 Cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) -nada, gerando seus resultados posi- tivos apenas se levada até o fim [...] Essa crenga costuma ser uma va ilu- so, Freud comparava a interrupgio de uma anilise com a interrupcao de uma cirurgia. Eu sugiro, ao contré- rio, que, na forma modificada de con- duzi-la que estou propondo, a andli- se possa ser um processo com bene- ficios progressivamente cumulativos, podendo ser interrompida em varios Pontos, sem a necesséria perda do que foi conquistado.”” Seguramente, estabelecer a psicané- lise como um empreendimento tudo-ou- -nada é, de certo modo, uma postura vazia, uma vez que a andlise pode ser interrom- pida em todos os seus estagios intermedid- rios, além do que, naturalmente em teoria, a anélise nunca est completa. Isso nao é, entretanto, 0 mesmo que amalgamar toda a psicoterapia expressiva com a psicandlise, como Gill agora faz, desde que atendida a exigéncia da completa primazia da inter- pretacao da transferéncia no aqui-e-agora, A tinica pergunta restante, entao, era © que, para Gill, constituiria a psicotera- pia que nao fosse anilise. Nesse ponto, ele propés o nome “psicoterapia psicanalitica”’ para designar toda aquela abordagem tera- péutica que nao interpretasse sistematica- mente a transferéncia, isto é, o que Knight, a principio, e Gill, depois dele, chamaram, nas décadas de 1940 e 1950, de “psicotera- pia de apoio de orientacao psicanalitica”. Houve, contudo, uma terceira posi- gdo no Simpésio de 1979, a de Rangell, in- termediéria entre a opiniao essencialmente inalterada de Stone ¢ 0 retorno radical, por parte de Gill, as concepgdes outrora rejeita- das de Alexander, as quais se sentiu atrai- do como uma consequéncia logica de suas préprias mudangas na concepsao essencial do empreendimento psicanalitico, A posi- 40 modificada de Rangell manteve a clare- za conceitual das diferengas entre anilise e psicoterapia analitica, embora reconhecen- do a “infiltracao” da psicandlise pelas té- nicas psicoterapéuticas. Rangell”® afirmou: Nao hé anilise sem alguns desses me- canismos [psicoterapéuticos][...]. Nao ha caso analitico tratado apenas por interpretacao [.... Se isso fosse um pré-requisito, nenbum tratamento qualificaria como analitico. Esse é o ponto crucial do argumento de Rangell,?# com base, segundo ele, em sua variada pratica clinica de tempo inte- gral, durante quase quatro décadas: Desde as comparagoes de 1954, a cres- cente experiéncia e a precisio téenica tém levado a uma diminuigao das di- ferencas entre as duas [psicanilise e psicoterapia dinamica] Concluindo, declarou: Como observagio empirica de longo alcance durante esses anos, hé, em mii- meros, uma grande zona de fronteira, na qual os procedimentos terapéuticos so praticados em uma rea cinzenta entre “psicandlise com parémetros” ¢ psicoterapia intensiva sistemética, mas que nao é verdadeiramente psicanéli- se, Minha crenga, hoje, é que ainda é possivel tragar uma linha entre as duas, embora também seja verdadeiro que, em muitos casos, essa linha seja dificil de definir.?* ee CUE Nac Pee eee nc ty Cee eee a sio de 19 cue een) Ce eee RnR ng Cec Ee Ce mei de “a terceira era” na historia dessa rela- POE CE Monnet Atualmente, mais de trés décadas de- pois do surgimento desse consenso frag- mentado, a natureza da psicoterapia psica- nalitica (0 que a define e a constitui, como serelaciona com, ou é diferenciada, da pré- pria psicanélise) — agora uma preocupagao universal, ¢ ndo mais caracteristicamente norte-americana — torna-se mais complexa ¢ até mais ambigua e problematica a medi- da que é debatida nos varios centros psica- naliticos ao redor do mundo, cada um com suas préprias pressdes socioeconémicas, sua histéria e ecologia psicanaliticas singu- lares, suas variadas lealdades teéricas (me- tapsicolégicas) e suas convengées linguisti- cas e suportes filosdficos (epistemolégicos) caracteristicos. Chamo isso, agora, de um mundo sem consenso. Duas tendéncias principais marcaram essa mudanga maciga, apro- fundada (¢ solidificada) nas mais de duas décadas desde o Simpésio de 1979, da luci- dez e aparentes certezas da década de 1950 para nosso mar contemporaneo de vozes divergentes, frequentemente discordantes, sobre essas questdes. Uma foi a elaboragao gradual, dentro da propria psicanilise, do papel do relacionamento psicanalitico (a parte ou além da interpretagao) como um determinante igual e interativo, junto com a interpretagao veridica, da ocorréncia do insight e da efetuagao de uma mudanga te- rapéutica; e a outra, obviamente relaciona- da, foi a crescente consciéncia e aceitacio, na América do Norte — 0 lar original do empreendimento da psicoterapia psicana- Iitica -, da diversidade teérica que passou a caracterizar a psicanilise desde os tempos de Freud. O crescente foco no relacionamento psicanalitico como fator principal na mu- danga da nossa compreensio sobre a pré- pria esséncia da terapia psicanalitica pode ser considerado, na América do Norte, sob uma variedade de rubricas Psicoterapia de orientagao analitica 33 o foco naalianga de tratamento (aalian- ga terapéutica de Zetzel?? ou a alianga de trabalho de Greenson*® como com- ponentes principais do relacionamento terapéutico—remontando diretamente a Sterba*!) o foco na natureza do relacionamento terapéutico, como incorporando a atitude médica humanizadora,2? e no papel da “nova experiéncia integra- dora”, permitida no relacionamento transferencial a0 “novo objeto” — remontando a Balint™ e, ainda mais anteriormente, aos muitos ensaios germinais de Ferenczi?> os modelos hierérquico ¢ evolucions- rio, desenvolvidos diversamente por Gedo e Goldberg®® e por Tahka,>7 nos quais os parametros da prépria psicandlise, conforme originalmente conceitualizada para pacientes classi- camente neurdticos, estenderam-se, de forma gradual, para “além da inter- pretacdo”,*8 a medida que pacientes mais doentes ¢ mais desorganizados foram incluidos na esfera de agdo psi- canalftica — sendo bastante obscuro 0 ponto de cruzamento da fronteira da psicoterapia psicanalitica © desenvolvimento paralelo, na Gra- -Bretanha, por Suttie, Fairbairn, Gun- trip, Balint, Bowlby, Winnicott e seus muitos sucessores do Grupo Inter- mediério ou Independente, do foco (internalizado) objeto-relacional paralelamente a isso tudo, a atual “vi- rada relacional” na psicanélise norte- -americana, langada pelo influente livro de 1983, de Greenberg e Mitchell, remontando, em suas raizes, a “psiquia- tria interpessoal” de Sullivan, com seu foco desenvolvido sobre a interagao de duas subjetividades (do analista e do analisando), dentro da matriz trans- feréncia-contratransferéncia, como 34 Cinirk, Aguiar & Schestatsky (orgs.) a iniciadora de mudanga terapéutica (ie.,a mudanga da psicologia de “uma pessoa” para uma psicologia de “duas pessoas”) 6. ajacomentada descricao dos aparente- mente novos pacientes paradigmaticos de nosso tempo, os transtornos da personalidade narcisista e a psicologia do self2425 bem como a organizacio de personalidade borderline ea abordagem psicanalitica modificada (ego-estrutu- ral ¢ objeto-relacional amalgamadas) de Kernberg,”? ambas declaradas aplicagoes da propria psicandlise (ou psicanilise “modificada”, ou até pos- sivelmente psicoterapia psicanalitica?) aqueles pacientes com transtornos de ego mais extensos e profundos Todas essas formas de conceituali- zar 0 processo de mudanga na psicandlise que esto “além” da interpretagio, ou séo de outro tipo que nao a interpretacao, tor- naram progressivamente mais dificil tragar diferenciagoes entre a chamada psicandlise ¢ as variedades de psicoterapia psicanali- tica, O que ocasionou essas mudancas na conceitualizasao da teoria e da técnica do trabalho psicanalitico (e psicoterapéutico)? Para simplificar, 0 modelo austero da propria psicandlise e a demarcacao distinta das psicoterapias psicanaliticas expressivas e de apoio associadas nao funcionaram nem refletiram de modo adequado ¢ sufi- ciente os eventos do processo terapéutico e as influéncias transformadoras ¢ inte- rativas reconhecidas dentro dele. Isso foi claramente articulado por Rangell,?* em seu relato no Simpésio de 1979, discutin- do essas formulagées 25 anos mais tarde, ¢ por Wallerstein,” nos escritos detalha- dos de experiéncias e achados de 30 anos do Projeto de Pesquisa de Psicoterapia da Fundagdo Menninger. Essa falta de ajuste convincente entre 0 modelo e 0 processo € resultados terapéuticos tornou-se cada vez mais evidente nao apenas com os pacien- tes mais doentes, como com transtornos da personalidade narcisista e com organi- zagoes de personalidade borderline, como também com os pacientes “neurdticos nor- mais”, considerados classicamente os mais acessiveis & psicandlise nao modificada, OTe cue Ree Coe eee ce se-psicoterapia, e igualmente responsével pela Pee a ed (nas semelhangas e nas diferengas) sobre essa eee Oe Ce a IC ma metapsicol6gico da psicologia do e Can ec e PO eee ces Onn eu eo OC Cee eee Coen orca cnn ee lismo, como viemos a chamar), de muitas (e ni- tidamente diferentes) metapsicologias psica- Coe cee ee Ce cee Rca cc tanica, lacaniana (e francesa néo lacaniana), Peace ee Cee eee ea eee Ce CO Ne ce PO Re distingao global mais precisa entre psicandlise Brescis Minha propria perspectiva sobre 0 que, em face desse pluralismo teérico glo- bal dentro da psicanélise, ainda nos man- tém juntos, como partidérios comuns de uma ciéncia e profissao psicanalitica com- partilhadas, expliquei detalhadamente em ‘outros textos,41-43 Uma implicagao significativa desse mar de mudangas para as relagdes atuais entre as psicanélises e as psicoterapias psi- canaliticas € que o conceito familiar de “anilise selvagem”, articulado por Freud em 1910, atualmente perdeu seu significa- do e deve ser substituido pela oportuna su- gestio de Schafer,# de “anélise compara- tiva”. Nem “anilise selvagem” nem, muito menos, “psicoterapia selvagem’”, nesse sen- tido, tém qualquer sustentacao conceitual no mundo psicanalitico fluido dos dias de hoje. E evidente que todos os elementos do desenvolvimento conceitual, remontando em heranga a énfase original de Ferenczi sobre o relacionamento analitico, estavam consignados, antes do desenvolvimento de psicoterapias derivadas explicitas, a esfera das psicoterapias analiticas. Agora que es- sas influéncias foram reconceitualizadas como centrais a0 nosso entendimento do Psicoterapia de orientagao analitica 35 que € psicanalise e de como ela funciona, € muito mais dificil tracar linhas conceituais heuristicamente titeis entre a psicanilise, a psicanélise modificada e (apenas ou mera- mente) a psicoterapia psicanalitica. Depen- dendo da lealdade teérica do observador dinico ou do investigador-pesquisador, dentro da gama de perspectivas tedricas psicanaliticas, essas linhas demarcatérias sero tracadas de modos muito diferentes. Isso, em resumo, representa o estado dessas questdes hoje. ‘Assim, esta 6 uma descrigao bastan- te condensada da evolusao do relaciona- mento das psicoterapias psicanaliticas com sua matriz ¢ origem, a psicanilise, desde as primeiras elaboragdes que privilegia- vam apenas esta até o momento complexo. ¢ fragmentério da problemética ¢ muito contestada natureza do seu relacionamen- to atual, Dna DL} ‘Ao longo das décadas de relacionamento entre psicandlise e psicoterapia analitica, o primeito periodo considerava tudo o que nao fosse psicandlise como apenas sugestao. 0 segundo periodo foi o da estabelecida diversidade de objetivos e técnicas dentro de uma unidade de teoria Com o aprofundamento ¢ a clarficagao da natureza das psicoterapias analttcas e as pesquisas que evidenciavam crescentes éreas de superposigao, surgiu o periodo do consenso fragmentado. Mais recentemente, observa-se um periodo de nao consenso, em que cada vez mais hé uma nogao da dificuldade em estabelecer limites precisos entre as duas abordagens. Percebe-se que a apo terapéutica, as abordagens técnicas e mesmo os resultados das psiccterapias psicanaliticas mostram muito mais complexidade em sua correta avaliagao do que se supunha. Estu- dos clinicos comparados e pesquisas realizados em varios centros do mundo tém promovido discussoes, teGricas mais abertas e sem a pretensa certeza dos periodos iniciais. Wallerstein RS, Psychoanalysis and psycho- therapy: an historical perspective, Int J Psychoanal. 1989;70(Pt 4):563-91 REFERENCIAS 2 1, Wallerstein RS. The talking cures: the psy- choanalyses and the psychotherapies. New Haven: Yale University; 1995. p. 587. 3. Freud S. Lines of advance in psycho-analytic therapy. In: Freud $. The standard edition of the complete psychological works of Sig- 36 10, 1 12, 4 15, 16. 17. 18. 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