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A Simbologia maçónica

(Tema simbólico: A simbologia maçónica como guia na


transformação da Humanidade)

Depois de ter sido recebida e integrada no DH, referi esse facto a algumas
(poucas) pessoas. Ao ouvirem a palavra “Maçonaria” todas tiveram a mesma
reação. Primeiro, um silêncio. Eu conseguia sentir o entrechocar de
pensamentos, desde as dúvidas temerosas de “onde é que ela se foi meter?”
até à curiosidade interrogativa “o que terá ela visto na Maçonaria?”.

E finalmente formulavam a pergunta: “o que é que se faz na Maçonaria?”.

E a minha resposta a todas elas foi a mesma: “Desenvolvimento pessoal”.

Todas essas pessoas conheciam o meu percurso de vida, algumas delas tinham
sido minhas companheiras de descoberta e sentiram alguma estupefação por
eu inesperadamente ter tomado um caminho de que nunca tinha falado.

Na verdade, nunca tinha falado porque o segredo maçónico já estava em mim,


embora eu não tivesse disso consciência. Os livros sobre Maçonaria que tinha
ido comprando não os havia partilhado com ninguém.

Quando a Maçonaria veio ter comigo não hesitei em aderir, e a venda que me
foi colocada apenas reforçou o sentimento de ter aderido de olhos fechados,
com a total confiança de que nada de mal me aconteceria.

Quando na audição sob venda me perguntaram se eu era livre e de bons


costumes confesso que achei graça à expressão. Não hesitei em responder que
sim, pois livre de apegos ou fanatismos havia sido sempre o meu ideal de vida
e me considerava uma pessoa sem vícios.

E depois veio a descoberta dum mundo novo.

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O estudo da simbologia maçónica tornou-se a minha descoberta diária. Quanto
mais avançava, mais descobertas ia fazendo, mais ligações com outras linhas
de conhecimento ia estabelecendo.

Assim, a minha resposta de “Desenvolvimento pessoal”, que saiu espontânea


da primeira vez, foi-se tornando cada vez mais segura, mais assimilada e mais
sentida como certa.

A simbologia maçónica é duma enorme riqueza, e quando a trabalhamos,


primeiro no sentido do seu entendimento, a seguir no sentido de
incorporar os símbolos no quotidiano e finalmente na interiorização
que une o sentir ao espiritualmente consciente, então estamos realmente
na via do desenvolvimento pessoal.

Cada pessoa tem o seu próprio caminho, à medida do seu ritmo e das suas
escolhas, mas quando faz este trabalho com o desejo de crescer em
Conhecimento, acaba por crescer também em Sabedoria.

O início do Percurso foi a pedra bruta.

Confesso que me chocou ao sentir-me comparada com uma pedra informe,


grosseira e dura. Custou-me sobretudo, confesso, assumir humildemente que
tinha muito que trabalhar em mim própria.

Confinada ao silêncio durante as sessões, continuei o caminho da humildade.


Tinham-me tirado a venda dos olhos, mas de algum modo tinham-me
amordaçado. Todavia, em breve percebi que o primeiro passo do Caminho é
calar, observar e escutar. E assim fiz durante um ano. O valor do silêncio é
incomensurável, é a grande oportunidade que temos de criar o nosso ritmo
interior, de escutar o bater do nosso coração. O primeiro aprendizado do
emudecimento já havia sido na Câmara de reflexão, lugar difícil de suportar
para quem não compreende o poder do silêncio.

Aí o mergulho no interior da Terra, representado no misterioso acrónimo


VITRIOL, abre as portas para a Alquimia interior e para o despertar consciente
simbolizado pelo cantar do galo.

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E a ampulheta, inexorável como a vida no deslizar da areia, levou a reflexões
sobre como usar utilmente o tempo de que dispomos ao longo da nossa
existência e inevitavelmente à aceitação da finitude como seres humanos
simbolizada na caveira que me espreitava com as suas órbitas vazias.

Mas a luz que me iluminava remetia para a convicção de que a ressurreição é


sempre possível após as mortes simbólicas que atravessamos ao longo da vida.

E aquela que nos espera no final apenas nos diz que o importante é usar
sabiamente o tempo de que dispomos enquanto nos encontramos no plano
material.

Devido a toda esta extraordinária oportunidade de refletir sobre os símbolos


que se encontravam na escura câmara, aqueles de de falei e alguns outros, não
tinha pressa de sair de lá. Sabia que me esperavam provas talvez difíceis, mas
tudo na vida é fácil ou difícil conforme o espírito com que partimos para elas.

O medo.

O medo do desconhecido que se sente quando se vive enclausurado na cela


escura e não se procura a Luz do Conhecimento. Quando se vive vendado.

O simbólico tirar da venda representa a Alquimia da Luz.

Quem vive todo este processo não o esquece nunca mais. É impossível
esquecê-lo. E quem reflete sobre toda a simbologia aqui envolvida, aquilo de
que falei e muito mais neste quase infinito desvendar dos símbolos, neste
mergulhar na Terra interior, neste esgravatar na terra para chegar ao céu,
quem vive tudo isto não pode ficar igual ao que era antes.

Expliquei isto aos meus amigos que me questionaram sobre o que eu


encontrava na Maçonaria, mantendo o devido sigilo maçónico. E se bem que a
Maçonaria não seja o único caminho possível, o seu processo está certo.

E ao longo do meu percurso maçónico, o que constato é que o trabalho que


fazemos diariamente não é usar o maço e o cinzel para desbastar a pedra que
temos à nossa frente, é desbastar a pedra que somos. E com humildade e
amor nos desbastamos, nos reconstruímos dia a dia.

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O silêncio dos primeiros tempos, é como se regressássemos à infância de
quem não sabe ainda falar e tenta fazer-se entender. Mas é assim que
aprendemos a dar valor à palavra. E lentamente vamos também aprendendo
a ler e a escrever, deixando de apenas soletrar…

E quando já aprendemos tudo isso, podemos sair do silêncio e usar a


palavra.

Na dualidade silêncio-palavra encontramos as duas colunas do Templo entre


as quais decorre a nossa vida. É importante fazermos da nossa vida um lugar
sagrado, tal como sacralizamos o espaço simbólico do Templo onde decorre o
ritual.

E essa dualidade silêncio-palavra é algo que merece profunda reflexão.

As palavras que pronunciamos interligam todos os planos, desde os mais


densos aos mais subtis e por isso devem ser usadas com muita consciência.

Assim, quando tomamos a Palavra, deveremos fazê-lo com inteiro


discernimento do conteúdo e da vibração que imprimimos ao que dizemos.

Nos rituais maçónicos está claramente visível a importância que é dada à


Palavra e à forma como ela é usada. Este é um aprendizado para a vida em
todas as suas circunstâncias.

A simbologia maçónica representa uma Via de desenvolvimento pessoal. Eu


afirmei-o aos meus amigos e às minhas amigas com quem partilhei que me
encontrava neste percurso que iniciei há 5 anos atrás, e continuo a afirmá-lo
hoje.

Nenhuma dessas pessoas mostrou interesse em aderir à Maçonaria, o seu


interesse centrou-se em saber o que eu tinha aprendido e o que essa
aprendizagem trazia de importante para a minha vida.

Assim, nós, no mundo profano onde vivemos o dia a dia, apesar dos nossos
relógios não marcarem o dia do meio dia à meia noite, podemos e deveremos
praticar o que a simbologia maçónica nos trouxe de enriquecimento pessoal.

Assim se ensina, pois que ensinar é mostrar que é possível.

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Dessa forma não apenas trilhamos o Caminho da Sabedoria, constituído
pelas etapas que fomos experienciando: Calar, Escutar, Interiorizar, Praticar,
Ensinar, mas poderemos contribuir diretamente para o desenvolvimento pessoal
de quem está perto e indiretamente criar um movimento multiplicador que
amplia esse mesmo desenvolvimento pela rede que nos une.

Acreditemos que é possível, meus Irmãos e minhas Irmãs.

E façamo-lo.

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