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O Cordel na Amazônia

Por Autor Externo - 19 de agosto de 2012

Walmir de Albuquerque Barbosa*

Embora o elemento colonizador fosse o mesmo, a língua e os costumes iguais, a


expressão literária, oral ou escrita, na Amazônia, é bem diversa da expressão literária do
Nordeste. Acreditamos que tais diferenças podem ser creditadas às condições
ambientais; às relações de produção; ao fechamento a outras culturas que não a
portuguesa, à expressão numérica e qualitativa do colonizador luso; à mediterraneidade,
ao lado da forte presença da cultura indígena, esta exclusivamente oral.

Continuador de uma tradição ibérica, a expressão poética que irá servir de matriz para a
literatura de cordel não se impôs na Amazônia da mesma forma como no Nordeste. No
que diz respeito à literatura popular em verso, os registros são poucos: trovas,
“romanzas”, chulas, lundus, modinhas fazem parte do repertório de que se utilizam os
locais. “A Lira das Selvas”, de Severino Bezerra de Albuquerque, livro muito difundido,
espécie de cartilha manual dos “cantadores e declamadores habituais”, aparece na
relação de livros existentes na Biblioteca Pública de Manaus no ano de 1887. (Monteiro,
1976, p. 34)

Considerando-se que somente nas últimas décadas do século XIX é que se consolida
uma literatura popular no Brasil e que, neste exato momento, está ocorrendo a
imigração nordestina para a Amazônia, achamos mais válido considerar que o cordel
chega com o imigrante.

A produção e o consumo do cordel propriamente dito, na Amazônia, são fruto de um


transplante cultural, operado pelos imigrantes nordestinos. São eles que vão constituir o
grande mercado consumidor, disseminar o gosto entre os locais por essa nova literatura
acessível ao povo. Papel muito importante exerceram os cantadores nordestinos que
faziam excursões pelas capitais (Belém e Manaus) e pelas principais cidades do interior.

O desenvolvimento da urbanização trouxe os intermediários entre os cantadores e seus


públicos. A penetração do cordel para o interior, no beiradão, fica a cargo do regatão e
até mesmo dos agentes nos barracões dos seringais, que o acrescentaram como mais
um item entre as mercadorias. O regatão, no entanto, era o maior agente, como o foi,
desde antes, o disseminador das obras literárias, dos almanaques e demais publicações
durante o ciclo do cacau. (Barbosa, 1980)

Passa a ser tão grande o interesse pelo cordel que o crescimento da vendagem e da
produção é semelhante ao verificado, no mesmo período no Nordeste, guardadas as
devidas proporções. A atividade editorial, localizada na própria região, vai ser o suporte
necessário ao desenvolvimento da criação e difusão do cordel. Isso ocorre na segunda
década do nosso século com o aparecimento de uma editora especializada em
publicações ligadas à cultura popular.

*Walmir de Albuquerque Barbosa é doutor em Ciências da Comunicação, ex-reitor da


UFAM (1997-2001) e professor da UEA. Nasceu em Itacoatiara em 1949. Texto do livro
“O cordel na Amazônia”, de sua autoria, editado pela UFAM, Manaus, 1996.

Autor Externo
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