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MANUAL MSD
Versão para Profissionais de Saúde
O diabetes mellitus envolve a ausência da secreção de insulina (tipo 1) e resistência periférica à insulina (tipo 2),
causando hiperglicemia. Os sintomas iniciais estão relacionados à hiperglicemia e incluem polidipsia, polifagia, poliúria
e perda ponderal. O diagnóstico é medindo os níveis plasmáticos de glicose. O tratamento depende do tipo, mas inclui
fármacos que reduzem os níveis de glicose no sangue, dieta e exercícios.
Os tipos de diabetes mellitus em crianças são semelhantes àqueles em adultos, mas os problemas psicossociais são
diferentes e podem complicar o tratamento.
Diabetes tipo 1 é o tipo mais comum em crianças, sendo responsável por dois terços dos novos casos em crianças
de todos os grupos étnicos. É uma das doenças infantis crônicas mais comuns, ocorrendo em 1 entre 350 crianças
de até 18 anos de idade; a incidência aumentou recentemente, sobretudo em crianças < 5 anos. Embora o tipo 1
possa ocorrer em qualquer idade, é mais comum aos 4 e 6 anos ou entre os 10 e 14 anos de idade.
A frequência do diabetes tipo 2, uma vez raro em crianças, aumentou correspondentemente ao incremento da
obesidade infantil (ver também obesidade em crianças). Ele normalmente se manifesta após a puberdade, com a
taxa mais alta dos 15 aos 19 anos de idade (ver Obesidade em adolescentes).
Formas monogênicas do diabetes, anteriormente denominado diabetes da maturidade com início na juventude
(DMIJ), não são consideradas do tipo 1 ou tipo 2 (embora às vezes sejam confundidas com eles) e são pouco
frequentes (1 a 4% dos casos).
Pré-diabetes é a regulação da glicose prejudicada resultando em níveis de glicose intermediários que são muito
elevados para serem normais, mas não atendem os critérios para diabetes. Em adolescentes obesos, o pré-diabetes
pode ser transitório (com reversão para normal em 2 anos em 60%) ou progride para diabetes, especialmente em
adolescentes que ganham peso persistentemente. Pré-diabetes está associado à síndrome metabólica
(comprometimento da regulação da glicose, dislipidemia, hipertensão, obesidade).
No diabetes tipo 1, o pâncreas não produz insulina por causa da destruição autoimune das células
betapancreáticas, possivelmente desencadeada por exposição ambiental em indivíduos geneticamente suscetíveis.
Parentes próximos têm maior risco de diabetes (cerca de 15 vezes mais do que o risco da população em geral), com
incidência geral de 4 a 8% (30 a 50% em gêmeos monozigóticos). Crianças com diabetes tipo 1 têm maior risco de
outras doenças autoimunes, particularmente doenças da tireoide e doença celíaca. A susceptibilidade hereditária
para o diabetes tipo 1 é determinada por vários genes (> 60 locais de risco foram identificados). Os genes de
suscetibilidade são mais comuns em algumas populações do que em outras, o que explica prevalências mais
elevadas de diabetes mellitus tipo 1 em certos grupos étnicos (p. ex., escandinavos, sardos).
No diabetes tipo 2, o pâncreas produz insulina, mas existem graus variados de resistência à insulina e a secreção
de insulina é insuficiente para atender o aumento na demanda causado pela resistência à insulina (não há
deficiência relativa de insulina). O início muitas vezes coincide com o pico de resistência à insulina da puberdade
fisiológica, o que pode levar a sintomas de hiperglicemia em adolescentes previamente compensados. A causa não
é a destruição autoimune das células beta, mas uma complexa interação entre muitos genes e fatores ambientais,
que diferem entre diferentes populações e pacientes. Os fatores de risco incluem
Obesidade
Herança em norte-americanos nativos, negros, hispânicos, americanos de origem asiática e das Ilhas do
Pacífico
História familiar positiva (60 a 90% têm um parente de 1º ou 2ª grau com diabetes tipo 2)
Formas monogênicas do diabetes são causadas por defeitos genéticos herdados em um padrão autossômico
dominante, assim os pacientes geralmente têm um ou mais familiares afetados. Não há resistência à insulina nem
destruição autoimune das células beta. O início geralmente ocorre antes dos 25 anos de idade.
No diabetes tipo 2, geralmente há função da insulina suficiente para evitar a cetoacidose diabética no momento do
diagnóstico, mas as crianças podem, às vezes, apresentar cetoacidose diabética (até 25%) ou, menos comumente,
estado hiperosmolar hiperglicêmico (EHH), em que ocorre desidratação hiperosmolar grave. A maior parte do
estado hiperglicêmico hiperosmolar ocorre durante períodos de estresse ou infecção com a não aderência ao
tratamento ou quando o metabolismo da glicose é prejudicado ainda mais por causa de fármacos (p. ex.,
corticoides). Outras perturbações metabólicas associadas à resistência à insulina podem estar presentes no
diagnóstico do diabetes tipo 2 e incluem
Hipertensão
Nas formas monogênicas do diabetes, o defeito subjacente depende do tipo. Os tipos mais comuns são causados
por defeitos em fatores de transcrição que regulam a função pancreática das células beta (p. ex., fator nuclear 4-alfa
hepático [HNF-4-alfa] e fator nuclear 1-alfa hepático [HNF-1-alfa]). Nesses tipos, a secreção de insulina é
prejudicada, mas não ausente, não há resistência à insulina e a hiperglicemia piora com a idade. Outro tipo de
diabetes monogênico é causado por um defeito no sensor de glicose, a glicoquinase. Nos defeitos da glicoquinase, a
secreção de insulina é normal, mas os níveis de glicose são regulados em um ponto de ajuste mais alto, causando
hiperglicemia em jejum que piora minimamente com a idade.
Dicas e conselhos
Apesar do conceito errôneo
comum, a cetoacidose
diabética pode ocorrer em
crianças com diabetes tipo 2.
No diabetes tipo 2, as crianças geralmente são assintomáticas e a sua doença só pode ser detectada por exames
de rotina. No entanto, algumas crianças apresentam hiperglicemia sintomática, do estado hiperglicêmico
hiperosmolar ou, apesar do equívoco comum, cetoacidose diabética.
Problemas psicossociais são muito comuns entre crianças com diabetes e suas famílias. Até metade das crianças
desenvolvem depressão, ansiedade ou outros problemas psicológicos. Distúrbios alimentares são um problema
grave em adolescentes, que às vezes também pulam as doses de insulina em um esforço para controlar o peso.
Problemas psicossociais também podem resultar em controle glicêmico inadequado afetando a capacidade da
criança de aderir aos seus regimes dietéticos e/ou farmacológicos. Assistentes sociais e profissionais de saúde
mental (como parte de uma equipe multidisciplinar) podem ajudar a identificar e aliviar as causas psicossociais do
controle glicêmico inadequado.
É raro quecomplicações vasculares sejam clinicamente evidentes na infância. Entretanto, alterações patológicas e
anormalidades funcionais precoces podem estar presentes alguns anos após o início da doença no diabetes tipo 1;
controle glicêmico inadequado prolongado é o maior fator de risco para o desenvolvimento de complicações
vasculares. As complicações microvasculares incluem nefropatia diabética, retinopatia e neuropatia. As
complicações microvasculares são mais comuns em crianças com diabetes tipo 2 do que as do tipo 1 e no diabetes
tipo 2 podem estar presentes no diagnóstico ou início do curso da doença. Embora a neuropatia seja mais comum
em crianças que tiveram diabetes por um longo período de tempo (≥ 5 anos) e com baixo controle (hemoglobina
glicosilada [HbA1c] > 10%), ela pode acontecer em crianças que tiveram diabetes por um curto período e bom
controle. Complicações macrovasculares incluem doença coronariana, doença vascular periférica e acidente
vascular encefálico.
Nível plasmático de glicose em jejum > 126 mg/dL (> 7,0 mmol/L)
Um teste de tolerância oral à glicose não é necessário e não deve ser feito se for possível diagnosticar o diabetes
por outros critérios. Quando necessário, o teste deve ser feito usando glicose, 1,75 g/kg (máximo de 75 g) dissolvida
em água. O teste pode ser útil em crianças sem sintomas ou com sintomas leves ou atípicos e pode ser útil em
casos suspeitos de diabetes tipo 2 ou diabetes monogênico. O critério para HbA1c normalmente é mais útil para
diagnosticar o diabetes tipo 2, e deve-se confirmar se há hiperglicemia.
Testes para autoanticorpos contra proteínas das células das ilhotas pancreáticas
Autoanticorpos incluem descarboxilase do ácido glutâmico, insulina, proteína associada a insulinoma e ZnT8, um
transportador de zinco. Mais de 90% dos pacientes com diagnóstico recente de diabetes tipo 1 têm ≥ 1 desses
autoanticorpos, enquanto a ausência de anticorpos sugere fortemente um diabetes tipo 2. Mas cerca de 10 a 20%
das crianças com o fenótipo do diabetes tipo 2 têm autoanticorpos e são reclassificadas como diabetes tipo 1,
porque é mais provável que essas crianças precisem de tratamento com insulina e tenham maior risco de
desenvolver outras doenças autoimunes.
É importante reconhecer o diabetes monogênico porque o tratamento difere do diabetes tipo 1 e do diabetes tipo
2. O diagnóstico deve ser considerado em crianças com forte história familiar de diabetes, mas que não têm
características típicas do diabetes tipo 2; isto é, elas só têm hiperglicemia leve pós-prandial ou em jejum (100 a 150
mg/dL [5,55 a 8,32 mmol/L]), são jovens e não obesas e não têm sinais de autoanticorpos ou resistência à insulina
(p. ex., acanthosis nigricans). Exames genéticos estão disponíveis para confirmar o diabetes monogênico. Esses
testes são importantes porque alguns tipos de diabetes monogênico podem progredir com a idade.
Pacientes com diabetes tipo 2 devem ser submetidos a testes hepáticos, perfil lipídico em jejum e proporção
microalbumina:creatinina urinária feitos no momento do diagnóstico, porque essas crianças (ao contrário daquelas
com diabetes tipo 1, nas quais as complicações se desenvolvem ao longo de muitos anos) muitas vezes têm
comorbidades como esteatose hepática hiperlipidemia e hipertensão no momento do diagnóstico Crianças com
comorbidades, como esteatose hepática, hiperlipidemia e hipertensão no momento do diagnóstico. Crianças com
achados clínicos sugestivos de complicações também devem ser testadas:
Hirsutismo, acne ou irregularidades menstruais: teste para a síndrome dos ovários policísticos
Crianças em risco incluem aquelas com excesso de peso (índice de massa corporal > percentil 85 para idade e
sexo, peso para altura > percentil 85) e que têm 2 dos seguintes:
Herança em norte-americanos nativos, negros, hispânicos, americanos de origem asiática e das Ilhas do
Pacífico
Sinais de resistência à insulina ou doenças associadas com a resistência à insulina (p. ex., acanthosis nigricans,
hipertensão, dislipidemia, síndrome dos ovários policísticos ou baixo peso ao nascer para a idade gestacional)
No diabetes tipo 1, a popularidade dos regimes de bólus basal e a utilização de contagem de carboidratos (os pais
estimam a quantidade de carboidratos na próxima refeição e usam essa quantidade para calcular a dose de insulina
pré-prandial) alterou as estratégias do planejamento de refeição. Nessa abordagem flexível, a ingestão de alimentos
não é rigidamente especificada. Em vez disso, os planos de refeição baseiam-se nos padrões alimentares habituais
da criança, em vez de em uma dieta teoricamente ideal à qual é improvável que a criança adira, e a dose de insulina
é pareada com a ingestão real de carboidratos. A relação entre insulina e carboidratos é individualizada, mas varia
de acordo com a idade, nível de atividades, estágio da puberdade e duração a partir do diagnóstico inicial. Uma boa
regra de ouro para a idade é
Eliminação de bebidas contendo açúcar e alimentos feitos de açúcares refinados e simples (p. ex., doces
processados e xaropes de milho com alto teor de frutose)
Limitar alimentos com alto teor de gorduras e alto teor calórico em casa
Os objetivos do tratamento devem ser individualizados com base na idade do paciente, duração do diabetes, acesso
a tecnologias para o diabetes (p. ex. bombas de insulina, sistemas de monitoramento contínuo), condições
comórbidas e circunstâncias psicossociais. Quando as crianças desconhecem o risco de hipoglicemia ou não têm a
maturidade para reconhecer os sintomas, tentativas agressivas para alcançar os objetivos do tratamento são menos
bem-sucedidas. Um nível alvo de HbA1c menos rigoroso (< 7,5%) deve ser considerado para esses pacientes, ao
passo que um nível alvo mais rigoroso (< 6,5%) deve ser reservado para pacientes específicos nos quais isso pode
ser alcançado sem hipoglicemia significativa e sem impacto negativo no bem-estar.
Níveis alvo de HbA1c para diabetes tipo 1 em crianças e adolescentes foram reduzidos ao longo do tempo em um
esforço para reduzir as complicações — níveis mais baixos de HbA1c durante a adolescência e idade adulta jovem
estão associados a um menor risco de complicações vasculares. Um nível alvo de HbA1c < 7% é apropriado para a
maioria das crianças, mas muitas crianças e adolescentes não alcançam esse alvo. Uma maior frequência de
automonitoramento dos níveis séricos de glicose (até 6 a 10 vezes por dia) ou o uso de um sistema de
monitoramento contínuo da glicose podem melhorar os níveis de HbA1c porque os pacientes são mais capazes de
ajustar a dose de insulina de acordo com as refeições, têm melhor capacidade de corrigir os valores hiperglicêmicos
e são potencialmente capazes de detectar a hipoglicemia precocemente, o que impede a sobrecorreção (ingestão
excessiva de carboidratos como tratamento da hipoglicemia, resultando em hiperglicemia). Os níveis de HbA1c
correlacionam-se bem com a porcentagem de tempo em que os níveis de glicose no sangue permanecem no
intervalo normal, denominada porcentagem de tempo dentro do intervalo. Uma variação de 10% no intervalo de
tempo corresponde a uma variação de cerca de 0,8 ponto percentual na HbA1c. Por exemplo, um intervalo de
tempo de 80% corresponde a um nível de HbA1c de 5,9%, 70% corresponde a 6,7%, 60% corresponde a 7,5% e 40%
corresponde a um nível de HbA1c de 9% (1).
Níveis alvo de HbA1c para diabetes tipo 2 em crianças e adolescentes são semelhantes aos alvos no diabetes tipo
1, i.e., < 7%. Semelhante ao diabetes tipo 1, os níveis alvo de glicose em jejum no diabetes tipo 2 devem ser < 130
mg/dL (7,2 mmol/L). Crianças que não conseguem alcançar os alvos de HbA1c e/ou de glicose em jejum são
candidatas à terapia intensificada (p. ex., com insulina, liraglutida). Pode-se considerar alvos mais rigorosos para a
HbA1c (< 6,5%) e a glicemia em jejum (< 110 mg/dL [6,1 mmol/L]) em pacientes com menor duração do diabetes e
naqueles tratados com intervenções no estilo de vida ou apenas metformina que alcançam perda de peso
significativa.
Esquemas de insulina para diabetes tipo 1
Insulina é a pedra angular do tratamento do diabetes tipo 1. As fórmulas de insulina disponíveis são semelhantes
às dos adultos (Início, pico e duração da ação das preparações de insulina humana*). Insulina deve ser dada antes
de uma refeição, exceto em crianças jovens cujo consumo é difícil de prever em uma dada refeição. Os requisitos de
dosagem variam de acordo com a idade, nível de atividade, estágio da puberdade e período de tempo desde o
diagnóstico inicial. Depois de algumas semanas do diagnóstico inicial, muitos pacientes têm uma redução
temporária nos requisitos de insulina por causa da função residual das células beta (fase de lua de mel). Essa fase
de lua de mel pode durar alguns meses a 2 anos; depois disso, os requisitos de insulina normalmente variam de 0,7
a 1 unidade/kg/dia. Durante a puberdade, os pacientes requerem doses mais elevadas (até 1,5 unidades/kg/dia)
para neutralizar a resistência à insulina causada pelo aumento nos níveis hormonais da puberdade.
Em geral, adota-se um esquema basal-bolus. Nesse regime, as crianças recebem uma dose diária basal de insulina
que é também complementada com doses de ação rápida de insulina antes de cada refeição de acordo com a
ingestão de carboidratos antecipada e níveis de glicose medidos. Pode-se administrar a dose basal como uma
injeção 1 vez/dia (às vezes a cada 12 h para crianças mais novas) de uma insulina de ação prolongada (glargina ou
detemir) ou como uma infusão contínua de insulina de ação rápida (geralmente asparte ou lispro). Injeções de
glargina ou detemir normalmente são administradas no jantar ou antes de dormir e não devem ser misturadas à
insulina de ação rápida. Um regime de bólus de base pode não ser uma opção se não houver supervisão adequada
disponível, especialmente um adulto para administrar as injeções durante o dia na escola ou creche.
Pode-se considerar formas mais fixas dos esquemas MID se um esquema basal-bolus não é uma opção (p. ex.,
porque a família precisa de um esquema mais simples, a criança ou os pais têm fobia de agulhas, injeções na hora
do almoço não podem ser administradas na escola ou creche), mas são menos comumente usados. Nesse regime,
as crianças geralmente recebem insulina NPH (neutral protamine Hagedorn) antes do café da manhã, jantar e ao
deitar, e recebem insulina de ação rápida antes do café da manhã e do jantar. Como as insulinas NPH e de ação
rápida podem ser misturadas, esse esquema exige menos injeções do que o esquema basal-bolus. No entanto, esse
esquema fornece menos flexibilidade, requer um cronograma diário definido para refeições e lanches e foi
amplamente suplantado pelos análogos de insulina, glargina e detemir, por causa do menor risco de hipoglicemia.
Na terapia com bomba de insulina, a insulina basal é administrada a uma taxa fixa ou variável por uma infusão
subcutânea contínua de insulina de ação rápida (CSII) através de um cateter colocado sob a pele. Bolus durante
refeições e para correção também são administrados por meio da bomba de insulina. A dose basal ajuda a manter
os níveis séricos de glicose no intervalo entre as refeições e à noite. Usar uma bomba de insulina para fornecer a
dose basal permite flexibilidade máxima; a bomba pode ser programada para administrar taxas diferentes em
momentos distintos ao longo do dia e da noite.
Para algumas crianças, a bomba oferece um grau adicional de controle, enquanto outras acham o uso da bomba
inconveniente ou desenvolvem feridas ou infecções no local do cateter. Nas crianças, deve-se alternar os locais de
injeção e da bomba para evitar o desenvolvimento de lipo-hipertrofia. Lipo-hipertrofia é acúmulo de nódulos de
tecido adiposo sob a pele. Os nódulos ocorrem nos locais de injeção de insulina usados em excesso e podem causar
variação nos níveis de glicemia porque podem impedir a absorção consistente da insulina.
Regimes pré-misturados de insulina usam preparações de 70/30 (70% de protamina aspártica de insulina/30% de
insulina regular) ou 75/25 (75% de insulina lispro protamina/25% de insulina). Regimes pré-misturados não são uma
boa escolha, mas são mais simples e podem melhorar a adesão porque exigem menos injeções. As crianças
recebem doses fixas duas vezes/dia, com dois terços da dose diária total dada no café da manhã e um terço no
jantar. Mas os regimes pré-misturados têm muito menos flexibilidade em relação ao momento e à quantidade de
refeições e são menos precisos do que os outros regimes por causa das dosagens fixas.
Os médicos devem usar o programa de tratamento infantil mais intensivo e a família pode participar a fim de
maximizar o controle glicêmico e, assim, reduzir o risco de complicações vasculares a longo prazo.
Hipoglicemia grave, definida como um episódio que requer a ajuda de outra pessoa para administrar carboidratos
ou glucagon, ocorre em cerca de 30% das crianças a cada ano, e a maioria terá tido esse episódio até os 18 anos.
Carboidratos orais podem ser tentados, mas glucagon 1 mg IM geralmente é usado se sintomas neuroglicopênicos
(p. ex., alterações de comportamento, confusão mental, dificuldade para pensar) impedirem a ingestão de
alimentos ou bebidas. Se não tratada, a hipoglicemia grave pode causar convulsões ou mesmo coma ou morte.
Dispositivos de monitoramento contínuo e em tempo real da glicose podem ajudar as crianças com hipoglicemia
porque eles soam um alarme quando a glicose está abaixo de um intervalo especificado ou quando a glicose
declina em uma velocidade rápida (ver Monitoramento dos níveis de glicose e de HbA1C).
Cetonúria/cetonemia é mais frequentemente causada por doenças intercorrentes, mas também pode resultar da
quantidade insuficiente de insulina ou de pular uma dose e pode ser um alerta de cetoacidose diabética iminente.
Como a detecção precoce das cetonas é crucial para prevenir a progressão para cetoacidose diabética e minimizar a
necessidade de ir ao pronto-socorro ou ser internado, as crianças e famílias devem aprender como verificar se há
cetonas na urina ou sangue capilar usando tiras de teste para cetona. Teste de cetona no sangue pode ser preferido
em crianças mais jovens, aquelas com cetoacidose diabética recorrente e usuários de bomba de insulina ou se é
difícil obter uma amostra de urina. O teste para cetona deve ser feito sempre que a criança ficar enferma
(independentemente do nível de glicose no sangue) ou quando a glicemia está alta (normalmente > 240 mg/dL [13,3
mmol/L]). A presença de níveis urinários de cetona moderados ou altos ou níveis plasmáticos de cetona > 1,5
mmol/L podem sugerir cetoacidose diabética, especialmente se as crianças também apresentarem dores
abdominais, vômitos, sonolência ou taquipneia. Níveis urinários de cetona baixos ou níveis plasmáticos de cetonas
de 0,6 a 1,5 mmol/L também devem ser abordados.
Quando há presença de cetonas, as crianças recebem insulina de ação rápida adicional, normalmente de 10 a 20%
da dose diária total, a cada 2 a 3 h, até que as cetonas desapareçam. Além disso, deve-se administrar líquidos
adicionais para evitar desidratação. Esse programa de medição de corpos cetônicos e administração de líquido
adicional e insulina durante a doença e/ou hiperglicemia é chamado controle de dia de doença. Os pais devem ser
instruídos a entrar em contato com seu médico ou ir ao pronto-socorro se as cetonas aumentarem ou não
desaparecerem após 4 a 6 h, ou se o estado clínico piorar (p. ex., se a criança apresentar dificuldade respiratória,
vômitos contínuos, alteração no estado mental).
Insulina é iniciada em crianças que apresentam diabetes mais graves (HbA1c > 9% ou com cetoacidose diabética);
glargina, detemir ou insulina pré-misturada podem ser utilizadas. Se não houver acidose, geralmente inicia-se
metformina ao mesmo tempo. Os requisitos de insulina podem diminuir rapidamente durante as semanas iniciais
do tratamento à medida que a secreção endógena de insulina aumenta; a insulina muitas vezes pode ser
interrompida várias semanas depois de um controle metabólico aceitável ser recuperado.
Metformina é um sensibilizador da insulina e o único fármaco anti-hiperglicêmico oral aprovado para pacientes <
18 anos. Outros fármacos orais utilizados em adultos podem beneficiar alguns adolescentes, mas esses fármacos
são mais caros, e há poucas evidências para a sua utilização em jovens. A metformina deve ser iniciada em uma
dose baixa e tomada com alimentos para prevenir náuseas e dor abdominal. A dose inicial típica é de 500 mg, uma
vez ao dia, por 1 semana, e é aumentada semanalmente para 500 mg durante 3 a 6 semanas até que seja alcançada
a dose alvo máxima de 1000 mg, por via oral 2 vezes ao dia. O objetivo do tratamento é um nível de HbA1c pelo
menos < 7%, preferencialmente < 6,5%. Se isso não for alcançado somente com metformina, deve-se introduzir
insulina ou liraglutida. Infelizmente, monoterapia com metformina não funciona em cerca de metade dos
adolescentes com diabetes tipo 2 e para eles insulina é necessária. Se os pacientes não conseguem alcançar os
alvos usando terapia dupla com metformina e insulina basal, pode-se adicionar também insulina prandial de ação
rápida.
Liraglutide, um agonista dos receptores análogos do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1), foi aprovado
para uso em crianças > 10 anos de idade com diabetes tipo 2 e pode ajudar a reduzir os níveis de HbA1c. Esse anti-
hiperglicêmico não insulina injetável aumenta a secreção de insulina dependente da glicose e desacelera o
esvaziamento gástrico. Inicia-se a liraglutida na dose de 0,6 mg por via subcutânea uma vez ao dia, e pode-se
aumentar 0,6 mg semanalmente até que o controle seja adequado, com dose máxima de 1,8 mg uma vez ao dia.
Também pode reduzir o apetite e promover a perda ponderal. Os efeitos adversos mais comuns dos agonistas do
GLP-1 são gastrointestinais, sobretudo náuseas e vômitos. Pode-se utilizar liraglutida se a metformina não for
tolerada ou pode-se adicioná-la se os níveis-alvo de HbA1c não forem alcançados em 3 meses utilizando apenas
metformina. Pode-se usar liraglutida em vez de, ou em combinação com, insulina como parte do tratamento
intensivo do diabetes tipo 2.
Múltiplas verificações diárias de glicose por punção digital ou monitoramento contínuo da glicose
Os pais devem manter registros diários detalhados de todos os fatores que podem afetar o controle glicêmico,
incluindo os níveis de glicose no sangue; momento e quantidade das doses de insulina, ingestão de carboidratos e
atividade física; e quaisquer outros fatores relevantes (p. ex., doença, lanches tardios, dose de insulina que não foi
aplicada).
Pacientes com diabetes tipo 2 geralmente automonitoram os níveis de glicose no sangue com menos frequência
do que no diabetes tipo 1, mas a frequência varia de acordo com o tipo de tratamento farmacológico utilizado.
Crianças e adolescentes em uso de múltiplas injeções diárias de insulina, aqueles que estão enfermos e aqueles
com controle abaixo do ideal devem monitorar os níveis de glicose pelo menos 3 vezes ao dia. Naqueles em regimes
estáveis de metformina e que usam apenas insulina de ação prolongada, cujos alvos estão sendo alcançando sem
hipoglicemia, a frequência do monitoramento é menor, tipicamente duas vezes ao dia (em jejum e 2 horas pós-
prandial). Crianças e adolescentes com diabetes tipo 2 em regimes de insulina que incluem múltiplas injeções
diárias às vezes utilizam sistemas de monitoramento contínuo da glicose, mas isso é menos comum do que no
diabetes tipo 1.
Os sistemas de monitoramento contínuo da glicose (MCG) são uma abordagem mais sofisticada e eficaz para o
monitoramento que usa um sensor subcutâneo para medir os níveis de glicose no líquido intersticial a cada 1 a 5
minutos, detectando assim mais precisamente as flutuações na glicose que podem então ser manipuladas em
tempo real. Sistemas MCG transmitem os resultados por rede sem fio a um dispositivo de monitoramento e
visualização, que pode ser incorporado a uma bomba de insulina ou funcionar como um dispositivo autônomo.
Identificando os períodos de hiperglicemia consistente e os períodos de maior risco de hipoglicemia, os sistemas
MCG podem ajudar os pacientes com diabetes tipo 1 a alcançar as metas glicêmicas com mais segurança.
Dispositivos MCG apropriadamente calibrados estão agora aprovados para uso em tempo real e podem substituir o
automonitoramento rotineiro da glicemia em alguns pacientes. Entretanto, dependendo da tecnologia utilizada,
alguns resultados de MCG ainda devem ser confirmados por amostras periódicas obtidas por picada no dedo. Em
comparação ao monitoramento intermitente, os sistemas de monitoramento contínuo podem diminuir os níveis de
HbA1c, aumentar a porcentagem de tempo no intervalo adequado e diminuir o risco de hipoglicemia. O uso de MCG
em crianças aumentou nos EUA (de 4% em 2013 para cerca de 30% em 2017) e internacionalmente, e é provável
que continuará a aumentar.
Todos os dispositivos MCG permitem definir alvos; um alarme irá alertar o usuário quando os níveis de glicose estão
acima ou abaixo do alvo, e alguns sistemas MCG que podem ser integrados a uma bomba também podem
suspender a taxa basal por até 2 horas quando o nível de glicose cai abaixo de um limiar definido. Embora os
dispositivos MCG possam ser usados com qualquer regime de tratamento, eles normalmente não são usados por
usuários de bomba de insulina.
O assim chamado pâncreas artificial (um sistema de entrega de insulina em circuito fechado) está disponível para
pacientes ≥ 14 anos de idade. Esses sistemas automatizam o tratamento da glicemia por meio de algoritmos
sofisticados de computador que estão em um smartphone ou dispositivo similar. Sistemas de pâncreas artificial se
conectam a um sensor CGM e a uma bomba de insulina para determinar os níveis de glicose no sangue e controlar
o fornecimento de insulina. Esses sistemas ajudam a controlar mais rigidamente a dosagem de insulina e limitam os
episódios hiperglicêmicos e hipoglicêmicos.
No diabetes tipo 2, deve-se medir regularmente a glicemia, mas geralmente com menos frequência do que no DM
tipo 1. A frequência do automonitoramento da glicose no sangue deve ser individualizada com base nos níveis de
glicose em jejum e pós-prandial do paciente, grau de controle glicêmico considerado possível e os recursos
disponíveis. A frequência do monitoramento deve ser maior se os alvos de controle glicêmico não forem
alcançados, durante a doença ou quando sintomas de hipoglicemia ou hiperglicemia são sentidos. Depois que os
alvos são alcançados, testes domiciliares limitam-se a algumas medições semanais dos níveis de glicose sérica em
jejum e pós-prandial.
Deve-se medir os níveis de HbA1c a cada 3 meses no diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2 se insulina é utilizada ou se o
controle metabólico está abaixo do ideal. Do contrário, no diabetes tipo 2, os níveis podem ser medidos duas vezes
por ano, embora o ideal seja a cada 3 meses.
Complicações detectadas no exame ou triagem são tratados primeiro com intervenções no estilo de vida: aumento
na prática de exercícios, mudanças na dieta (especialmente para limitar a ingestão de gordura saturada) e cessação
do tabagismo (se aplicável). Crianças com microalbuminúria (relação albumina/creatinina de 30 a 300 mg/g) em
amostras repetidas ou com leituras de pressão arterial persistentemente elevadas (> percentil 90 a 95 para a idade
ou > 130/80 mmHg para adolescentes) que não respondem a intervenções no estilo de vida normalmente requerem
terapia anti-hipertensiva, mais comumente usando um inibidor da enzima conversora de angiotensina (ECA). Para
crianças com dislipidemia, se o colesterol LDL permanecer > 160 mg/dL (4,14 mmol/L) ou > 130 mg/dL (3,37
mmol/L), além de um ou mais fatores de risco cardiovascular, apesar de intervenções no estilo de vida, estatinas
devem ser consideradas em crianças > 10 anos, embora a segurança a longo prazo não esteja estabelecida.
Referência sobre o tratamento
1. Vigersky RA, McMahon C: The relationship of hemoglobin A1C to time-in-range in patients with diabetes. Diabetes
Technol Ther 21(2):81–85, 2019. doi: 10.1089/dia.2018.0310
Pontos-chave
O diabetes tipo 1 é causado por uma crise autoimune nas células betapancreáticas, provocando total
falta de insulina; é responsável por dois terços dos novos casos em crianças e pode ocorrer em
qualquer idade.
O diabetes tipo 2 é causado por resistência à insulina e deficiência relativa de insulina decorrente de
uma complexa interação entre vários fatores genéticos e ambientais (especialmente obesidade); a
frequência desse tipo de diabetes está aumentando nas crianças e ocorre após a puberdade.
A maioria das crianças tem hiperglicemia sintomática sem acidose, com vários dias a semanas de
aumento na frequência urinária, polidipsia e poliúria; crianças com diabetes tipo 1 e raramente
diabetes tipo 2 podem apresentar cetoacidose diabética.
Todas as crianças com diabetes tipo 1 requerem tratamento com insulina; o controle glicêmico
intensivo ajuda a prevenir complicações a longo prazo, mas aumenta o risco de episódios de
hipoglicemia.
Crianças com diabetes tipo 2 são inicialmente tratadas com metformina e/ou insulina; embora a
maioria das crianças que precisam de insulina no momento do diagnóstico possam passar com
sucesso para a monoterapia com metformina, cerca de metade delas precisará de tratamento com
insulina com o tempo.
Pode-se usar liraglutida combinada com metformina para melhorar o controle glicêmico.
Problemas psicossociais podem levar ao controle glicêmico inadequado por falta de adesão a regimes
alimentares e medicamentosos.
As doses de insulina são ajustadas com base no monitoramento frequente da glicose e dos níveis
esperados de ingestão de carboidratos e atividade física.
Crianças têm risco de complicações microvasculares e macrovasculares por causa do diabetes; deve-
se procurar essas complicações utilizando testes de triagem regulares.
Informações adicionais
Os recursos em inglês a seguir podem ser úteis. Observe que O Manual não é responsável pelo conteúdo destes
recursos.
International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes (ISPAD): Clinical practice consensus guidelines for type 2
diabetes in children and adolescents (2018 update)
International Society for Pediatric and Adolescent Diabetes (ISPAD): Clinical practice consensus guideline for
glycemic control targets and glucose monitoring for children, adolescents, and young adults with diabetes (2018
update)
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